Discutindo o Processo Decisório

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DISCUTINDO O PROCESSO DECISRIO - A CONTRIBUIO DOS PRINCIPAIS MODELOS DE ANLISEA tomada de decises, e os processos de tomada deciso, tm sido historicamente alvo de diversos estudos, tanto no contexto da administrao quanto fora deste. Diversos autores de diversas tendncias contriburam de maneira significativa para enriquecer as anlises sobre esta temtica.

Entre os diversos enfoques dados nos estudos de deciso e processos decisrios podem se destacar o comportamental que se contrape razo; o incremental que pretende ser mais plural e de mais fcil operacionalizao; e o da deciso poltica que considera as perspectivas de poder e influncia e a contraposio com a deciso meramente tcnica, entre outros que mais se complementam do que divergem entre si.

O objetivo , ento, o de analisar apenas de forma descritiva, alguns aspectos relevantes das abordagens racional, comportamental, incremental e poltica, sintetizando as idias centrais de cada uma, sob o ponto de vista modelos de anlises da deciso e dos processos decisrios.

A PERSPECTIVA DA RACIONALIDADE E O MODELO COMPORTAMENTAL DE TOMADA DE DECISOPara tratar a questo do processo decisrio preciso levar em conta os aspectos da racionalidade que o cercam. Dessa forma, as discusses que se seguem j pressupem a inexistncia do processo decisrio puramente racional, na forma de funcionamento estritamente uniforme. Isso se deve ao fato de o processo decisrio ser permeado de variveis abstratas, que podem levar decises semelhantes a produzirem resultados completamente diversos.

Uma teoria das decises administrativas ter, forosamente, que se preocupar de certa maneira com os aspectos racionais da escolha. Entretanto, mesmo na operacionalizao do processo decisrio racional, conforme se encontra teoricamente definido, o grau de racionalidade que o permeia pode ser relativizado por causa da introduo involuntria de aes comprovadamente comportamentais, por parte do tomador de decises, o que inerente prpria natureza humana.

A deciso sob a perspectiva da racionalidade, no mbito das organizaes, baseada no pressuposto de que o fluxo de produo e anlise de informaes "ocorrer num processo seqencial em que os participantes contribuiro eficientemente e desinteressadamente para o melhor desempenho organizacional".

Nesse sentido, o processo decisrio racional poder estar configurado da seguinte forma:

Deteco do problema - Efetuado atravs dos sensores que as organizaes possuem e que possibilitam aos administradores tomar conhecimento das disfunes organizacionais que as levam a caminhos diferentes dos planejados, comprometendo, assim, a consecuo de suas metas. Incio do fluxo de produo do processo decisrio:

Coleta de informaes - Representa a fase de diagnstico, que possibilita a reunio da maior quantidade de dados possveis, a partir dos quais os planos sero elaborados. Anlise criteriosa de informaes - Representa o estabelecimento de uma correlao das informaes coletadas com variveis presentes no ambiente, promovendo uma classificao e anlise das informaes, a fim de atribuir-lhes relevncia para serem utilizadas na soluo do problema. Identificao das alternativas - Deve-se buscar alternativas atravs do mais variados mecanismos: brainstorming, concursos, consultorias, benchmarking, etc. Deve-se eleger um critrio para julgamento das alternativas propostas, atravs de uma lista de quesitos com pesos e importncia para a organizao (ex.: custo, prazo, resultado). Opo pela melhor alternativa - Aplicado o critrio de seleo da melhor alternativa, segundo um mecanismo pr-definido por um grupo representativo, que possa assegurar a legitimidade da escolha, faz-se efetivamente a escolha. Consecuo dos objetivos organizacionais - Atravs da implementao da alternativa tida como sendo a melhor, espera-se que isso redunde na consecuo dos objetivos organizacionais no tempo previsto.

evidente que nas organizaes existem decises que podem ser tomadas segundo essa metodologia, esse tipo de deciso classificado como deciso computacional, requerendo para que sejam tratadas como tal, que os resultados e as relaes de causa e efeito sejam conhecidas com preciso j que essas so as decises que podem ser classificadas como programadas, porque so rotineiras e repetitivas.

Ao longo da histria da administrao, esse tipo de deciso j fora de responsabilidade do homem. Entretanto, com o advento de avanadas tecnologias de coleta, processamento e anlise de informaes (notadamente a automao e controle de processos, informtica e robtica, todos elementos componentes do que se convencionou denominar inteligncia artificial), essa tarefa foi transferida para as mquinas e sistemas, mais capacitados, inclusive, para conferir a preciso e rapidez em nveis que ao homem so impossveis.

As decises no-programadas, que so definidas como sendo aquelas que podem ser determinantes dos resultados empresariais, so imprevisveis e o seu processo requer o uso da capacidade humana de anlise e sntese. No podem ser delegadas s mquinas, pois exigem tambm discernimento e criatividade. Essas decises podem ser classificadas como sendo do tipo por inspirao, j que so incertas tanto as preferncias sobre possveis resultados quanto as crenas sobre relao de causa e efeito.

Abaixo relacionamos algumas variveis tidas como restries ao alcance dos objetivos organizacionais atravs das decises baseadas na lgica da racionalidade:

Variveis humanas: motivao, conflito, personalidade Variveis polticas: auto-interesse e agrupagamento de poder Variveis sociais: grupos de referncia

Segundo os autores, uma ao no sentido de reduzir ou eliminar as restries a socializao do indivduo, buscando adequ-lo aos meios que levaro aos fins. Da no podermos explicar comportamento administrativo por variveis no organizacionais, isto , a postura do elemento na organizao deve ser analisada levando-se em considerao as variveis organizacionais, pois diferentemente disso, poder levar a resultados incompatveis com o perfil do empregado, e portanto, inexplicveis.

Uma das dificuldades de utilizao de processos decisrios genuinamente racionais a multiplicidade de tarefas desempenhadas pelo tomador de decises. Mintzberg afirma que os dirigentes gastam a maior parte do tempo freqentando e conduzindo reunies, realizando trabalho diversificado e intercalado com interrupes. As tcnicas analticas de deciso, aps serem recebidas com entusiasmo, so expulsas pelas portas dos fundos da empresa. Para ele, o que prevalece so aspectos ligados intuio no processo decisrio e que o trabalho do executivo mais diversificado do que se pode inferir a partir de modelos que mostram um indivduo voltado para formulao de polticas, planejamento e estratgias organizacionais.

Sendo assim, preciso que haja na organizao pessoas realmente intuitivas. A intuio vista como um impulso para a ao em que no se faz uso do raciocnio lgico e tida como altamente impregnada dos conhecimentos e experincias acumulados pelo indivduo.

Imaginem a seguinte situao: H um problema qualquer em uma linha de produo de uma determinada indstria. Se os executantes tiverem que aguardar a chegada de um superior ou a formao de um grupo de estudos para tomar uma deciso que vise solucionar o problema (Abordagem incremental), a empresa ter sua linha de produo paralisada e conseqentemente a reduo de seus lucros. Por outro lado se a organizao desenvolver competncias e habilidades nos indivduos, estes podem tomar aes que venham a solucionar o problema e manter a linha de produo operando.

Idias propostas pela psicologia contempornea de diviso do crebro em hemisfrio direito e hemisfrio esquerdo tm sido utilizadas para explicao do racional e no-racional na administrao. O hemisfrio esquerdo responsvel pelas funes lgicas, racionais e analticas; o direito, pelas no-lgicas, impulsivas, criativas e intuitivas. A partir disso, afirma-se que a intuio a chave que tem aberto espao para a aceitao de mulheres executivas em grandes organizaes, porque elas so consideradas intuitivas, e pessoas intuitivas fazem avaliaes dos negcios com mais facilidade.

Algumas consideraes buscando explicar a intuio como elemento do processo decisrio e as manifestaes nas aes das pessoas so apresentadas a seguir:

a) O homem considerado sujeito e objeto no processo, considerando que a informao vital no processo decisrio e que pode ser gerada pela via tecnolgica. Entretanto, o homem que cria e interage com o acervo tecnolgico.

b) O holograma: uma fotografia sem lentes. Quando o registro fotogrfico exposto a um feixe de luz coerente, como o laser, uma imagem tridimensional aparece. Bilhes de bits de informaes podem ser armazenados em espao diminuto. Qualquer pedao pode reconstruir a imagem inteira.

Sabido que a racionalidade uma forma de organizao do pensamento que no nica, logo existem vrias racionalidades e que sensaes, emoes e sentimentos interferem no processo decisrio, devemos crer que as habilidades do bom tomador de deciso segundo esse modelo, so naturais e independentes da formao intelectual do indivduo, embora esse ltimo quesito possa contribuir para a maximizao do uso de suas potencialidades e o processo decisrio baseado na intuio se d atravs do uso ativo dos instintos e percepes individuais. Isso produz a deciso que, apesar de intuitiva, no se baseia ou contradiz a lgica dos fatos conhecidos e sistematizados, porque esto sempre em conformidade com o senso comum, o juzo pessoal e pautada pela simplicidade.

A ABORDAGEM INCREMENTAL OU POR AMOSTRAGENSAssim como a teoria comportamental, os incrementalistas assumem que existem limitaes de natureza compreensiva na anlise de problemas. O tomador de deciso no alcana grau completo, ou mesmo, significativamente elevado de percepo, quer seja do universo de alternativas possveis, suas conseqncias, valores envolvidos, etc.

Dessa forma, a abordagem incremental tambm vem questionar os pressupostos da viso racional de deciso. A partir da constatao das limitaes inerentes ao processo em que se insere o agente de deciso e posio que ocupa, busca-se um mtodo de maior praticidade e capaz de reduzir a complexidade da realidade que o permeia.

Inseridos numa realidade social complexa e marcada pela diversidade de atores, o decisor no se isenta dos conflitos e discordncias em torno de objetivos e variveis relevantes. Tais conflitos se manifestam at mesmo a nvel individual e somam-se limitao de percepo quanto a multiplicidade de opinies e alternativas. Dessa forma, o processo decisrio acaba se realizando sem que ocorra uma clarificao prvia de todos os objetivos.

Sendo assim, os incrementalistas assumem que a seleo de valores e a anlise emprica no se realizam distintamente no tempo e sem influncia mtua. Ao contrrio, valores e polticas so escolhidos simultaneamente e num processo marcado pela interdependncia.

O tomador de deciso, mesmo de posse de um grupo de valores e objetivos amplamente aceitos e hierarquicamente bem definidos, concentrar sua ateno tambm em valores marginais. Os valores relevantes para sua escolha sero os incrementais e no os de formulao geral, visto que se constituiro naqueles atravs dos quais o decisor realizar a diferenciao entre duas ou mais alternativas de ao.

No modelo incremental uma poltica pode ser classificada como adequada ou no independentemente da existncia de concordncia entre os agentes decisores em termos de valores e objetivos, ao passo que no modelo racional no.

=> Os incrementalistas, procuram um mtodo capaz de descentralizar e democratizar decises. Percebe-se que tal enfoque permite a concordncia e mesmo a convivncia de diferentes ideologias dentro de um mesmo grupo social, visto que, ainda que existam divergncias de orientao e princpios, pode haver o consenso em torno da validade de propostas concretas especficas.

Alm disso, outra caracterstica do modelo incremental seria a elevada capacidade de aprimoramento e adaptao. Operando atravs de um processo de "ajustamento mtuo", as polticas seriam mais sensveis aos diversos grupos de interesse envolvidos. Esse ajuste recproco, mais penetrante e persistente que as formas de negociao entre grupos.

No entanto no se deve perder de vista que as decises tomadas iro refletir dentro do organismo social. Trabalhando com o curto-prazo e com um nmero limitado de variveis, o modelo incremental acaba por negligenciar "inovaes societrias bsicas", assumindo assim carter marcadamente conservador.

Ao concentrar sua anlise na esfera das variaes incrementais, o tomador de deciso consegue elevar sua capacidade de compreenso no apenas porque trabalha com um nmero menor de alternativas, mas tambm por conceber as polticas como um construto encadeado entre passado e presente, abrindo espao para o recurso a informaes e experincias acumuladas.

Alm disso, visualizado enquanto srie cronolgica, o processo de deciso incremental assume um carter de contnuo "fazer e refazer". As polticas passam a ser consideradas no como o passo final, mas uma aproximao sucessiva em direo ao objetivo almejado, o qual, por sua vez, tambm se transforma continuamente.

Nesse ponto, novamente as abordagens incremental e comportamental compartilham pressupostos na medida em que rompem com o paradigma racional da escolha "tima/mxima". Na primeira, no entanto, a opo pela escolha "satisfatria" assume um carter dinmico. Cabe ao decisor, ciente de que apenas parte do que deseja ser alcanado e de que conseqncias no antecipadas se produziro, promover continuamente mudanas/ajustes incrementais.

No entanto, nada diz priori que as medidas adotadas iro produzir frutos no sentido da acumulao, podendo ocorrer tanto um retorno ao ponto inicial quanto uma disperso de esforos. Alm disso, a circularidade no modelo incremental poderia advir de seu enfoque no curto-prazo: o que seria uma piora no tempo imediatamente presente, e com isso, opo descartvel pelos processos marginais, poderia se transformar num avano no longo-prazo.

O que se percebe que atravs do modelo incremental busca-se uma superao do modelo racional atravs de uma leitura mais pragmtica da realidade decisria. As mudanas incrementais tm um carter eminentemente prtico e extremamente til e sintonizado com a realidade em que se inserem os decisores pois as decises so sempre fundamentadas em fatos e dados claros comparados metas e objetivos predefinidos, deixando de lado os aspectos emocionais.

O MODELO POLTICO DE DECISO E UMA PERSPECTIVA DO PODEREm meio s discusses sobre uma srie de limitaes de modelos de processos decisrios sugere-se a necessidade de um modelo que permita analisar tanto a tomada de deciso quanto a no-deciso, levando-se em considerao aspectos como poder, fora, influncia e autoridade.

Com vistas a assentar as bases desse modelo, os autores buscam esclarecer que atributos dariam base para qualquer estudo de deciso/no-deciso e as diferenas essenciais entre os mesmos. Propem tambm uma demonstrao de como tais conceitos poderiam ser utilizados de forma sistemtica e eficiente.

Na busca de elucidar esta proposta, ento, os autores supem - e demonstram - que o poder no posse de algum, e sim relacional. Para que ele exista necessrio que haja um conflito de interesses entre duas ou mais pessoas ou grupos, e que um ou uma parte se curve aos interesses ou desejos da outra, mediante aplicao de sanes consideraremos sanses tanto as recompensas quanto as ameaas de penalidade.

necessrio ao resultado dessa sano que a pessoa em posio de subordinao tenha conscincia daquilo que se espera dela, e conhea as alternativas e resultados da obedincia e da desobedincia. Tambm necessrio que a pessoa perceba a sano como efetivamente ameaadora e esteja convencida de que ela no v: seria mesmo imposta no caso de desobedincia; e, finalmente, que a pessoa tenha mais estima pelo valor que seria sacrificado do que pelo valor que seria promovido no caso de desobedincia.

Os autores asseveram ainda a necessidade de se levar em considerao o peso do poder, ou seja, o grau em que os valores so afetados e sua amplitude, bem como o nmero de pessoas afetadas. O poder s exercido quando pode haver resistncia e ela no ocorre, de modo que, entrar por caminhos nos quais ela no exista, ou evit-la, no seria exerccio de poder.

Assim, ao invs de se preocuparem com os "poderosos", essa vertente se preocupa em: selecionar para estudo um certo nmero de decises polticas "chaves" - importantes - em oposio s "rotineiras" - no importantes; identificar as pessoas que tomam parte ativa na elaborao de decises; obter um relatrio completo de seu comportamento durante o perodo em que o conflito estava sendo resolvido; e determinar e analisar o resultado especfico desse conflito.

A primeira limitao desse modelo que no se oferece um critrio objetivo para a distino entre questes "importantes" e "no-importantes" surgidas na arena poltica. A segunda, que o modelo no considera o fato de que o poder pode ser exercido por meio da restrio de elaborao de decises a questes relativamente "seguras", que no ameace o prprio poder. Tambm nesse contexto est o fato de no se admitir espao para o exerccio do poder atravs da no-deciso.

Para se estudar o processo de deciso poltica se coloca que anlises tm sido procedidas verificando-se como surgem os problemas de deciso poltica, e como chegam agenda das autoridades governamentais; em seguida, como as pessoas formulam os temas da ao governamental, como se processa a subseqente ao legislativa, ou de outra natureza; como os administradores aplicam a poltica escolhida e, finalmente, no trmino do processo, como essa poltica pode ser avaliada.As anlises em torno desta proposta so reveladoras de uma srie de aspectos relevantes no processo poltico de deciso. Mas, o processo decisrio pode explicar em parte como os governos procuram atingir seus vrios objetivos polticos, mas no por que escolhem esses objetivos.Essa ordenao do processo em etapas bem definidas e a simplicidade aparente de que se reveste, no condiz com a realidade, tendo a deciso poltica um carter complexo e desordenado. Tambm a avaliao do processo, ou seja, de seus resultados, possui estas caractersticas de complexidade e desordenao.

O tema central discutido , ento: se o processo de deciso poltica deve estar permeado de poltica em sua essncia, ou se deve estar baseado em anlise tcnica de fatos e dados. Alm disso, discute-se a possibilidade de que haja um complemento entre poltica e anlise.

A anlise tcnica est presente em todos os sistemas polticos, de forma mais ou menos intensa e de acordo com caractersticas peculiares a tais sistemas. Embora as atividades de anlise tcnica - reunio de fatos, discusso racional de temas, etc. - possam ser amide apressadas ou apenas superficiais, e os resultados que delas surgem passem por contestaes, outras vezes por rejeies, elas nunca esto ausentes de todo.

Agentes de toda a sociedade freqentemente participam dos processos de deciso poltica, tendo sido chamados ou no essa participao. Em alguns pases esta prtica corriqueira e est arraigada no sistema, sem a qual as autoridades "se sentiriam desvalidas" diante do processo poltico. Em outros, cujo sistema poltico de cunho mais autoritrio, tal prtica menos utilizada.

Embora sejam bvios os mritos das anlises tcnicas, e suas contribuies a processos de deciso, refuta a insuficincia de anlises tradicionalmente alegada como explicao para a prevalncia da poltica em tais processos. Alguns dos motivos que levam supremacia da poltica sobre a tcnica so: as divergncias entre os prprios analistas e os resultados de anlises sobre o mesmo problema; a falibilidade do analista; o fato de que os resultados no agradam, portanto no convencem a todos por causa de seus valores e interesses diversos e adversos; o fato de a anlise ser lenta e custosa; e, por fim, o fato de que a anlise nem sempre pode determinar, de modo conclusivo, quais problemas precisam ser abordados.

Com estas limitaes da anlise, freqentemente as decises permanecem no mbito poltico, sem consideraes tcnico-analticas. No processo decisrio poltico a "interao" - que tem como exemplos mais comuns a votao, a negociao, o embate, etc. - teria plenas condies de substituir a anlise tcnica pura e com freqncia poderia atingir solues que essa anlise no alcanaria. Assim, a interao parece superar parte considervel das limitaes da anlise.

Desta forma, a anlise pode se tornar parcial e perder sua complexidade quando utilizada em detalhes parciais do processo decisrio, ou em polticas especficas. Ela pode ser, tambm, freqentemente utilizada como instrumento de persuaso pelos diversos atores sociais para se influenciarem mutuamente, buscando fazer prevalecer seus pontos de vistas, interesses e valores. Todas estas formas de utilizao da anlise levam-na a ser chamada de "anlise parcial", "partidria" ou ainda "sectria".

CONSIDERAES FINAISAs abordagens estudadas apresentam enfoques e nveis explicativos diferenciados, propondo reflexes sobre aspectos e variveis relevantes do processo de deciso. Antes de divergncias profundas, na maioria das vezes, verificam-se pontos de complementaridade entre as mesmas, cobrindo-se lacunas, explicando-se variaes e abrindo-se valiosas possibilidades de aplicaes prticas e tericas do conhecimento sobre a deciso e os processos decisrios. Tais conhecimentos oferecem grandes benefcios para as organizaes, sejam elas de produo, comrcio e prestao de servios, pblicas e privadas, polticas, comunitrias e grupos sociais diversos.

Percebe-se uma estreita relao entre estratgias ou mtodos de deciso e estruturas organizacionais. Sendo assim, deve ser relativizada a idia de um modelo ideal ou definitivo, vlido priori para qualquer contexto organizacional. Esse contexto deve ser entendido enquanto um construto social inacabado, no qual sua dinmica se desenrola atravs da contnua interao entre atores.

Ganha centralidade a figura do decisor. Seu comportamento acaba por definir variaes no processo de tomada de deciso, que se apresentam relacionadas tanto a limitaes cognitivas, quanto a condicionantes de natureza ideolgica e valorativa prprios ou de outros grupos/indivduos envolvidos. A comunicao e a articulao entre esses agentes assumem fundamental importncia. Dessa forma, tanto a perspectiva comportamental quanto a poltica devem ser consideradas nos processos decisrios.

Diante dessa realidade, que a cada dia se torna mais complexa e exige respostas mais rpidas, as organizaes precisam descobrir que o "tecnicismo" da anlise tcnica, ainda que importante, se mostra insuficiente para alcanar resultados satisfatrios quanto tomada de deciso. Antes de "timos" ou definitivos, eles se apresentam em contnua construo, no se encerrando em si mesmos. Isso exige um permanente pensar e repensar do processo decisrio na organizao.