Discussão do papel de calculadoras rudimentares no aprendizado de logaritmos

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Neste trabalho, apresentamos os resultados da aplicação de uma oficina que utilizou comosubsídio principal “calculadoras rudimentares de logaritmos”. Este material concretoconstruído com papelão, canetinha e papel colorido, apresenta as bases dos logaritmoscomo fruto da relação entre duas sequências numéricas, sendo elas as conhecidasprogressões aritmética e geométrica, respectivamente. Para construir este subsídiopedagógico, grafamos as sequências supracitadas no papelão com canetinhas hidrográficase utilizamos tiras de papel colorido para destacar estas relações. A atividade aqui analisadafoi aplicada em duas turmas de segundo ano de uma escola estadual do Rio de Janeiro,escola essa localizada no bairro de Pedra de Guaratiba. Nesta vivência, observamos que autilização deste material específico apresentou um papel importante não só nacompreensão e no aprendizado desse tema, mas também na quebra do receio em relação aeste conteúdo, mostrando ser possível a compreensão de um conteúdo abstrato econsiderado difícil por muitos, de uma forma mais clara e significativa, evidenciando aimportância do uso de materiais concretos também no ensino médio.

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  • DISCUSSO DO PAPEL DO USO DE CALCULADORAS

    RUDIMENTARES NO APRENDIZADO DE LOGARITMOS

    Daniela Mendes Vieira da Silva

    Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro [email protected]

    Dora Soraia Kindel

    Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - [email protected]

    Bruno Gonalo Penedo Souza

    Universidade Estadual do Rio de Janeiro- [email protected]

    Darling Domingos Aquieres

    Secretaria Estadual de Educao do Estado do Rio de Janeiro - [email protected]

    Karina Costa do Nascimento

    Instituto Federal do Rio de Janeiro- [email protected]

    RESUMO:

    Neste trabalho, apresentamos os resultados da aplicao de uma oficina que utilizou como

    subsdio principal calculadoras rudimentares de logaritmos. Este material concreto construdo com papelo, canetinha e papel colorido, apresenta as bases dos logaritmos

    como fruto da relao entre duas sequncias numricas, sendo elas as conhecidas

    progresses aritmtica e geomtrica, respectivamente. Para construir este subsdio

    pedaggico, grafamos as sequncias supracitadas no papelo com canetinhas hidrogrficas

    e utilizamos tiras de papel colorido para destacar estas relaes. A atividade aqui analisada

    foi aplicada em duas turmas de segundo ano de uma escola estadual do Rio de Janeiro,

    escola essa localizada no bairro de Pedra de Guaratiba. Nesta vivncia, observamos que a

    utilizao deste material especfico apresentou um papel importante no s na

    compreenso e no aprendizado desse tema, mas tambm na quebra do receio em relao a

    este contedo, mostrando ser possvel a compreenso de um contedo abstrato e

    considerado difcil por muitos, de uma forma mais clara e significativa, evidenciando a

    importncia do uso de materiais concretos tambm no ensino mdio.

    Palavras Chave: Didtica, Materiais Concretos, Logaritmos.

  • 1 INTRODUO

    1.1 Medo de matemtica, causas e caminhos para super-lo

    A existncia do medo de matemtica de conhecimento no s de professores e

    alunos, mas tambm da sociedade como um todo, alis, o pavor em relao a essa

    disciplina uma instituio universal, salvo raras excees.

    Pesquisas apontam que o ensino tradicional desta cincia, abordagem

    pedaggica que predomina ainda hoje, tem sido o principal causador deste desconforto,

    por insistir em um modelo transmissivo de ensino: rido, mecnico, baseado em

    memorizao de frmulas, onde o aluno tem um papel passivo e desinteressante

    (FIORENTINI E MIORIM, 1996).

    Tal abordagem da disciplina distancia o aluno da mesma, se constituindo em uma forte

    barreira ao seu entendimento. Lorenzato (2010, p.34)) salienta e elucida esta percepo

    ao afirmar que Ningum ama o que no conhece, e este pensamento explica porque

    tantos alunos no gostam de matemtica. Se a eles no foi dado conhecer a matemtica,

    como podem vir a admir-la?

    Felizmente esse quadro est mudando, uma vez que a evoluo natural do

    mundo tem alavancado uma mudana de paradigma de aprendizagem, atravs da ainda

    recente educao matemtica, o que tem ensejado novas abordagens educacionais que

    diminuam este desconforto em relao matria (IMENES E LELLIS, 1997).

    1.2 A opo pela calculadora rudimentar de logaritmos

    A partir deste movimento pedaggico, passamos a buscar uma atividade na qual,

    apresentaramos os logaritmos de forma diferenciada aos alunos, com o objetivo de

    permitir e propiciar o nascimento da admirao por esse tema e pela matemtica por

    extenso.

  • Para alcanar tal intuito, adotamos uma postura diferenciada em sala de aula,

    postura esta ratificada e incentivada pelos parmetros curriculares nacionais para o

    ensino mdio, ao apresentar o papel do professor reflexivo, como aquele que alm do

    domnio do contedo, apresenta tambm grande preocupao com a promoo do

    aprendizado real de seus alunos e que portanto:

    [...] seleciona contedos instrucionais compatveis com os objetivos

    definidos no projeto pedaggico; problematiza tais contedos,

    promove e media o dilogo educativo; favorece o surgimento de

    condies para que os alunos assumam o centro da atividade

    educativa, tornando-se agentes do aprendizado; articula abstrato e

    concreto, assim como teoria e prtica; cuida da contnua adequao da

    linguagem, com a crescente capacidade do aluno, evitando a fala e os

    smbolos incompreensveis, assim como as repeties desnecessrias e

    desmotivantes. (BRASIL, p 51, 1999)

    Dentro desta orientao, optamos pela utilizao de um material concreto

    especfico para o estudo do tema (Figura 1), uma vez que entendemos ser importante a

    utilizao da experincia emprica para construir a abstrao, esta opo pedaggica se

    apoia em Lorenzato (2010), que afirma que a manipulao do material didtico permite

    e enseja reflexes profundas articulando concreto e abstrato, o que permite a

    formalizao de conceitos a partir de exemplos particulares.

    Figura 1: Calculadora rudimentar de logaritmos

  • 2. METODOLOGIA

    Para melhor nos acercar de nosso objeto, e embasados em Godoy (1995),

    optamos pela pesquisa qualitativa, pois ela melhor nos permitiria a obteno de dados

    descritivos sobre os sujeitos envolvidos e tambm a compreenso do processo de

    interao com o objeto estudado. Alm de possibilitar o nosso contato direto com os

    sujeitos da mesma, facilitando o nosso entendimento do fenmeno sob a perspectiva

    destes. Para alcanar tal objetivo, nos decidimos pela observao participativa.

  • Para a coleta dos dados, dividimos as atividades a serem vivenciadas nas turmas

    2001 e 20021, em duas aulas. Na primeira aula, optamos por aplicar a atividade no

    grupo2. Portanto, fizemos com os alunos, a ancoragem dos conceitos a serem utilizados

    no trabalho com as calculadoras rudimentares.

    Assim, a partir de exemplos do dia a dia, construmos a noo de progresso

    aritmtica e de progresso geomtrica, contedos fundamentais para a compreenso dos

    logaritmos.3, que nada mais so do que uma relao entre estas duas sequncias

    numricas. Tambm, nesta aula trabalhamos a potenciao relembrando os conceitos de

    base, expoente e potncia.

    Aps esta atividade disparadora, apresentamos aos alunos a calculadora

    rudimentar (fig. 1). Nosso objetivo aqui foi o de auxiliar na visualizao da existncia

    de uma base que, elevada ao termo da PA (Progresso aritmtica) fosse igual ao Termo

    da PG (Progresso Geomtrica), e que este expoente, ou seja, o Termo da PA o que

    conhecemos como logaritmo.

    Isto foi mostrado como vlido no exemplo particular grafado no objeto

    apresentado na figura 1, onde o aluno pode perceber facilmente que a base o nmero

    dois, j que o nmero dois elevado a qualquer termo da PA nesta calculadora resultar

    no termo da PG da mesma linha.

    Assim, os alunos puderam perceber, para este caso especfico, que a base do

    logaritmo de fato a mesma base que eles j haviam estudado no passado, por ocasio

    do aprendizado de potenciao4, este trabalho, construdo a partir do que o estudante j

    sabe, feito a partir das ideias de Ausubel (1982).

    Uma vez tendo construdo o conceito de logaritmo, a partir da compreenso de

    um exemplo particular, chegou o momento de ampliar e generalizar este entendimento.

    1 Turmas nas quais a autora deste artigo regente. 2 Organizao da turmas em um grande grupo na sala de aula. 3 Estratgia de ensino inspirada na reportagem da revista Clculo, n 33: A coisa sem sentido faz sentido h sculos. 4 Normalmente os currculos determinam o trabalho com este tema a partir do sexto ano do ensino fundamental.

  • Para tanto, na aula seguinte, vivenciamos uma oficina, na qual os alunos tiveram a

    oportunidade de construir as suas prprias calculadoras, variando as sequncias

    utilizadas, e com elas, compreendendo a variedade e a infinidade de bases possveis

    para os logaritmos, generalizando suas descobertas.

    Para esta atividade, o laboratrio de matemtica e fsica da unidade escolar na

    qual esta pesquisa foi aplicada, foi preparado para receber as turmas participantes. Cada

    uma, a seu turno, foi dividida em equipes que tiveram disposio, na bancada e na

    mesa da professora, o material da prtica (figura 2), que consistiu em sucata, fita

    adesiva colorida, palitos de picol colorido, canetinhas, tesouras e tambm uma ficha de

    laboratrio que nortearia as atividades do dia (figura 3),

    Figura 2 Laboratrio preparado para a atividade

    Figura 3: Ficha de laboratrio que norteou a atividade

  • Com o material e a ficha em mos, os alunos construram as suas prprias calculadoras

    (figura 3), as quais serviram de subsdio para a construo e entendimento das

    propriedades dos logaritmos, fechando a atividade.

    Figura 3: Alunos construindo suas prprias calculadoras rudimentares

  • Figura 4: Calculadoras Rudimentares elaboradas pelos alunos

  • 3. RESULTADOS E DISCUSSO

    Fizemos uma anlise baseada na observao dos sujeitos e no exame das fichas

    de laboratrio preenchidas pelas equipes, e inferimos que a construo conceitual a

    partir de atividades disparadoras, criou condies para ampliao do entendimento dos

    alunos atravs da construo do seu prprio material e da consulta ao material elaborado

    pelos demais grupos (figura 4), onde a maior parcela das duas turmas pode verificar por

    si mesma que a relao entre as sequncias numricas fossem elas quais fossem

    ocorriam sempre mesma maneira.

    Tambm observamos que, os participantes, em sua maior parte, perceberam a

    necessidade de suas sequncias iniciarem com nmeros especficos, sendo o zero para a

    PA e o um para a PG, ou seja, que sempre, existia uma base que elevada ao termo da

    PA seria igual ao termo da PG, desde que o primeiro termo da PA fosse zero e o

    primeiro termo da PG fosse 1, pois qualquer base elevada a zero igual a um,

    formalizando o conceito.

    Ns nos surpreendemos positivamente ao constatar que a maioria absoluta dos

    sujeitos foi alm, buscando escolher sequncias que resultassem em bases inteiras e que

    facilitassem seus clculos.

    Ao fazer a correlao entre potncias e logaritmos todos os alunos apresentaram

    entendimento de fato sobre o tema e embora alguns poucos sujeitos no tenham

    alcanado a construo da generalizao ao final do processo (figura 5), todos chegaram

    a compreenso geral do tema.

    Por exemplo, na turma 2001, os alunos N, B e E no conseguiram alcanar o

    resultado para log 100 na base 10 com uso da generalizao, porm ao ser refeita a

    pergunta para: que expoente o nmero dez precisa ter para se transformar no nmero

    100? Tanto os alunos que apresentaram a dificuldade com a frmula quanto todo

    restante da turma responderam em unssono: dois! Fato semelhante, ocorreu na turma

    2002 com os sujeitos P, D e E.

  • Com a compreenso do tema e com o apoio do material concreto, os alunos

    puderam inferir as propriedades dos logaritmos, encerrando a sequncia pedaggica

    pensada para a compreenso da matria.

    Figura 5: Generalizao dos logaritmos

    CONCLUSO

    Esta atividade auxiliou a quebra do paradigma de que logaritmos so de difcil

    compreenso, e tambm de que materiais concretos so teis apenas para auxiliar o

    entendimento de temas mais simples e mais ligados ao ensino fundamental, mostrando

    que a experincia emprica com um objeto concreto feito especificamente para o

    assunto em questo no s facilitou o entendimento de um tema mais complexo, mas

    tambm permitiu ao aluno formalizar este conhecimento, construindo, de fato, o seu

    aprendizado e rompendo, portanto, com o medo que normalmente acompanha este to

    temvel conceito matemtico chamado logaritmo.

    REFERNCIAS.

    AUSUBEL, D. P. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. So Paulo:

    Moraes, 1982.

    BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Mdia e

    Tecnolgica. Parmetros curriculares nacionais:ensino mdio. Braslia:

    MEC/SEMTEC, 1999. 4v.

  • CASTELNUOVO, E. Didatica de la Matemtica Moderna. Mxico: Trillas, 1970.

    FIORENTINI, Dario; MIORIM, Maria ngela. Uma reflexo sobre o uso de

    materiais concretos e jogos no ensino da Matemtica. Publicado no Boletim SBEM-

    SP. v. 4, n. 7, So Paulo: 1996.

    GODOY, Arilda Schimidt. Introduo pesquisa qualitativa e suas possibilidades.

    Revista de Administrao de Empresas. So Paulo, v.35, mar/ag. 1995.

    IMENES, L.M.P.; LELLIS,M. Matemtica. So Paulo. Scipione, 1997.

    INEP. Pisa. Disponvel em: . 07 mai. 2015

    LORENZATO, S. Laboratrio de ensino de matemtica e materiais didticos

    manipulveis.O Laboratrio de ensino de matemtica na formao de professores. 3 ed.

    Campinas, SP. Autores Associados, 2010.

    RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: mtodos e tcnicas. So Paulo: Atlas, 1989.