Discurso 2012

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    Sesso Pblica e Solene do Conselho Universitrio,

    especialmente convocada para outorga de grau de

    bacharel em Cincias Econmicas Turma 2011 do dia 17

    de fevereiro de 2012.

    DISCURSO DE ORADOR

    A destruio da memria histrica ou melhor, os

    mecanismos sociais que vinculam nossa experincia pessoal

    das geraes passadas um dos fenmenos mais

    caractersticos e lgubres do final do sculo XX. Quase todos

    os jovens de hoje crescem numa espcie de presente contnuo,

    sem qualquer relao orgnica com o passado pblico da

    poca em que vivem, assim escreveu o historiador ingls EricHobsbawn em seu Era dos Extremos o breve sculo XX.

    Sem a memria pblica no h a percepo do dever

    cvico, e a gama de sentimentos positivos a saudade da nossa

    UFPR tambm so dificultados. Sem o conhecimento dahistria permanecemos sempre na infncia intelectual e

    mesmo o nobre ttulo que hoje nos outorgado fica sem

    significado.

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    Portanto, nada mais adequado do que o exerccio de

    reavivar a memria histria pblica neste dia em que ao

    mesmo tempo em que colamos grau, nosso Setor de Cincias

    Sociais Aplicadas, neste exato 17 de fevereiro, completa hoje

    67 anos e neste ano em que nossa Universidade Federal do

    Paran completar seu centenrio.

    A chamada Universidade do Paran, em 1912, era

    inicialmente formada pelos cursos de Cincias Jurdicas e

    Sociais, Engenharia, Medicina e Cirurgia, Odontologia,

    Farmcia e Bioqumica e o de Comrcio, precursor do curso de

    Administrao e Finanas que, pelo Decreto-Lei n 7.988 de

    1945, extinto para dar lugar ao bacharelado em Cincias

    Econmicas, cujo grau nos outorgado hoje.

    O dia 19 de dezembro, mesma data da emancipao

    poltica do Paran, foi, segundo o prprio Vitor Ferreira do

    Amaral, rigorosamente escolhida para a fundao da UFPR

    com o intuito de mostrar que a emancipao poltica doEstado, devia tambm simbolizar a sua emancipao

    intelectual.

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    Sob nossos ombros todo esse peso histrico repousa e

    dessa histria fazemos parte! Por isso sempre cabe enfatizar

    nossos compromissos com esta instituio. Para que esses

    seus prximos 100 anos sejam ainda melhores est na hora de

    nos perguntarmos no somente pela Universidade que ns

    queremos, mas tambm pela Universidade que a sociedade

    brasileira precisa e merece, especialmente quando to

    arduamente financiou os nossos estudos.

    E esse no um comentrio trivial: ns, economistas,

    compreendemos a magnitude do rduo esforo material de

    uma sociedade submissa a uma escandalosa poltica tributria

    regressiva, que formada por 4,8 milhes de pessoas que tm

    renda nominal mensal domiciliar igual a zero e por 11,43milhes de pessoas que possuem renda de R$ 1 a R$ 70. Como

    compreender que a 6 maior economia do mundo ostenta

    tambm o ttulo infame de 13 mais desigual em termos e

    ocupa a 84 posio no ranking do IDH? Como justificar o

    dispndio em juros, refinanciamento e amortizao da dvidapblica de R$ 635 BI anuais ou 44% do oramento geral da

    Unio frente aos problemas cotidianos de infra-estrutura e

    falta de garantias humanas mnimas que enfrentamos?

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    So esses tipos de questionamentos que comearam a

    fazer parte das nossas vidas desde o primeiro instante na

    UFPR e hoje se confundem, ou melhor, fazem parte do que

    somos.

    Alis, somos caros, senhores pais e familiares, somos

    dispendiosos! Nossa execuo oramentria anual, a da UFPR,

    est perto de se aproximar da magnitude de R$ 1 BI. E para

    dar algum sentido a esse investimento social, caros colegas,

    temos que continuar a ter essa preocupao sobre os grandes

    temas e buscar sempre a excelncia do que fazemos at o final

    de nossas vidas, sob a pena da nossa universidade receber a

    no to distante pecha infame de elefante branco.

    justamente essa grandiosidade de temas, cujavariedade vai desde as condies materiais das pessoas e

    firmas at a das naes, que acaba conformando uma

    trajetria acadmica que demanda habilidades variadas com

    uma dificuldade sui generis que se reflete nas estatsticas do

    curso, que so cruis e no mentem.

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    Somando-se os turnos da manh e da noite, entram a

    cada ano pelo vestibular 170 estudantes e de um grupo

    originalmente composto de 44, colam grau aqui hoje 32 dos

    mais diversos anos de ingressos, de 2003 at 2008,

    perfazendo apenas 18,82% do total. Ainda, digno de nota

    que o nosso curso detm um dos mais altos ndices de

    reprovao, jubilamento e principalmente evaso da nossa

    UFPR, confirmando uma condio nacional, porm em maior

    magnitude.

    Se esses elementos conformam um cenrio no to

    desejvel, por outro lado corroboram, mesmo que de uma

    maneira um tanto dramtica, o mrito e os grandes esforos

    realizados para estarmos aqui hoje.

    O fato que a compreender a Economia em sua

    totalidade no fcil e isso se deve porque nasceu como

    Economia Poltica, e no como um conjunto harmnico de

    cincias, regras e tcnicas neutras, puras ou isentas: opensamento econmico muito mais caracterizado pelas suas

    grandes controvrsias e fenmenos paradoxais do que por

    concluses convenientes e consensos bem-comportados.

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    A Economia, dizem em tom de piada, o nico Prmio

    Nobel em que podem ser laureadas duas pessoas dizendo

    coisas completamente opostas! No toa que dizem as ms

    lnguas que, para se obter trs opinies divergentes sobre um

    mesmo tema, basta trancafiar dois economistas numa sala!

    Porm, por mais distintas que sejam nossas orientaes

    intelectuais, atravs de todas as divergncias ao menos um

    consenso moralmente hegemnico possvel: o significado de

    ser economista ultrapassa os limites do ofcio cotidiano, dos

    rtulos ou dos ttulos, trata-se de um estilo de vida cujo

    propsito fundamental o de, como enfatiza William Petty,

    fundador de nossa profisso, promover e garantir a paz

    social e abundncia material.

    Creio que, por fim, no h melhor maneira de

    presentearmos nosso Setor no dia do seu aniversrio e a

    nossa UFPR no ano do seu centenrio bem como tambm

    agradecermos pelo apoio de todos e todas vocs do que umapromessa, sincera e orgulhosa, de nosso comprometimento e

    engajamento nessa incessante busca pelas condies de

    materialidade e bem-estar de todos, como um dia foi mais

    caracterstico da nossa profisso.

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    E que os Egrgios Conselhos Superiores, nossos mestres,

    a comunidade universitria, nossos familiares, amigos, todos e

    todas vocs sejam testemunhas do nosso comprometimento

    com esses grandes temas e esse modo de vida.

    Muito obrigado!

    Guilherme Hideo Assaoka Hossaka

    Orador Turma de Bacharis em Cincias Econmicas 2011

    Ex-Conselheiro Titular (COORDECO, DEPECON e SCSA) CACE-UFPR

    Ex-Conselheiro Titular no COUN, COPLAD, CONCUR e CAEX DCE-UFPR