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Disciplina positiva na sala de aula Inclusiva e amiga da aprendizagem: um guia para professores e formadores de professores

Banguecoque: UNESCO Bangkok, 2006

(Na versão original, vi+110 páginas)

(Adotar a diversidade: Manual Especializado 1 de Ferramentas para criar ambientes inclusivos e amigos da aprendizagem)

1. Educação inclusiva. 2.Salas de Aula. 3.Guia para professores. 4.Castigo corporal. 5.Disciplina positiva.

ISBN 92-9223-086-7

© UNESCO 2006

Publicado por:

UNESCO Departamento Regional para a Ásia e Pacífico

920 Sukhumvit Rd., Prakanong,

Bangkok 10110, Tailândia

Impresso na Tailândia

As designações utilizadas e a apresentação do material ao longo da publicação não implicam, de modo algum, a expressão de qualquer opinião por parte da UNESCO sobre o estatuto jurídico de qualquer país, território, cidade ou área ou das suas autoridades ou sobre as suas fronteiras ou limites.

APL/06/OS/21-500

Texto traduzido do Inglês por Ana Cachado, Dinah Mendonça, Ana Maria Bénard e José Vaz Pinto

Revisão e arranjo gráfico de José Vaz Pinto

Capa de Valdemar Lopes

Associação Cidadãos do Mundo – Rede Inclusão - Portugal

Ano de 2013 - Maio

Adotar a diversidade: Ferramenta para criar

ambientes inclusivos e amigos da aprendizagem

Manual Especializado 1

A Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem Um guia para professores e formadores

de professores

“Este manual é dedicado ao trabalho do Secretário-geral das Nações Unidas sobre a Violência contra as Crianças (Resolução UNGA 57/190) que é baseado no direito humano das crianças à proteção face a todas as formas de violência. O Manual pretende promover ações que previnam e eliminem a violência contra as crianças nas escolas e ambientes educativos”

Prefácio

Para as crianças de muitos países, o castigo corporal faz parte da experiência quotidiana: é também uma forma de abuso da criança. O castigo corporal consiste em violência deliberadamente infligida às crianças e ocorre a uma escala gigantesca. Em muitos países do mundo ainda continuam a vigorar prerrogativas legais para os professores que batem nas crianças. Contudo, o castigo corporal não tem sido considerado eficaz, especialmente no longo prazo, e provoca na criança sentimentos de vergonha, culpa, ansiedade, agressão, falta de independência, e perda de estima pelos outros e, assim, maiores problemas para os professores, cuidadores/auxiliares e outras crianças.

Uma das maiores razões que faz com que persista o castigo corporal é os professores não compreenderem que ela é diferente de “disciplina”. Enquanto o castigo corporal procura fazer parar a criança de se comportar de determinado modo, as técnicas da disciplina positiva podem ser utilizadas para ensinar à criança comportamentos novos e corretos sem passar pelo medo da violência. Outra razão importante é que os professores geralmente não são sensibilizados para as razões das crianças se portam mal e como podem ser disciplinados de forma positiva partindo desses comportamentos. Muitas vezes, quando uma criança sente que as suas necessidades não estão a ser satisfeitas, como por exemplo a necessidade de atenção, ela ou ele porta-se mal. A frustração que o mau comportamento provoca, e a falta de competência para lidar com a situação, leva alguns professores a bater nas suas crianças e a usar o castigo corporal ou formas de humilhação de punição emocional.

Este guia para professores e formadores prolonga a publicação da UNESCO “Adotar a Diversidade: Ferramentas para Criar Ambientes Inclusivos e Amigos da Aprendizagem (Manuais AIAA). É um manual especializado cujo objetivo é ajudar os professores, gestores e responsáveis pela educação a lidar de forma correta com os alunos na sala de aula apontando caminhos não violentos par lidar com comportamentos disruptivos de forma positiva e proactiva. Apresenta ferramentas de disciplina positiva que serão alternativas concretas às práticas punitivas como reguadas, palmadas, beliscões, ameaças, discussões, subornos, gritos, prepotências, chamar nomes, trabalhos exagerados e outras ações ainda mais humilhantes.

Este Guia é realmente um produto coletivo. Primeiro, foi feito um rascunho; depois, este foi revisto por George Attig do Instituto de Nutrição, da Universidade de Mahidol, que também trabalhou como consultor para a UNESCO na inclusão educativa e o género, bem como consultor do Departamento Regional do UNICEF para a Ásia Oriental e Pacífico (EAPRO) e para o “Save the Children” no desenvolvimento de escolas amigas das crianças. Este Guia beneficiou também de comentários e sugestões de formadores de todo o mundo. A UNESCO Bangkok gostaria de agradecer a todos eles pelas suas contribuições. O mais simples contributo foi tido em conta e concorreu para o enriquecimento deste guia, bem como para o Manual AIAA. Ochirkhuyag Gankhuyag coordenou o projeto na qualidade de Assessor de Programas do Departamento Regional da UNESCO para a Ásia Oriental e Pacífico.

Sheldon Shaeffer

Diretor, Departamento Regional de Educação da UNESCO para a Ásia e Pacífico.

Índice

Visão global ................................................................................... 1

O NOSSO DESAFIO............................................................................................................................ 1 O QUE É UMA “SALA DE AULA INCLUSIVA E AMIGA DA APRENDIZAGEM”? ................ 2

PARA QUE SERVE ESTE DOCUMENTO ......................................................................................... 4

O QUE IRÁ APRENDER? .................................................................................................................... 5

Compreender o Castigo “versus” Disciplina ................................................. 8

PASSADO E PRESENTE DAS CRIANÇAS ..................................................................................... 8

O SIGNIFICADO DO CASTIGO (PUNIÇÃO) ............................................................................. 10

O SIGNIFICADO DE DISCIPLINA ............................................................................................... 21 DISCIPLINA POSITIVA NA SALA DE AULA ........................................................................... 26

EVITAR O DILEMA DA DISCIPLINA .......................................................................................... 31 Construindo relações positivas entre professor e aluno .................................. 34

AS BASES DA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO........................................................................ 34

PORQUE SE COMPORTAM ASSIM AS CRIANÇAS ................................................................. 35

PORQUE SE PORTAM MAL AS CRIANÇAS? ............................................................................. 38

APRENDER SOBRE OS SEUS ALUNOS ...................................................................................... 42

COMPREENDER O CONTEXTO DAS VIDAS DOS SEUS ALUNOS ..................................... 45

INVESTIGAÇÃO SOBRE AS FAMÍLIAS DOS ESTUDANTES ............................................. 53

COMUNICAÇÃO PAIS-PROFESSOR ............................................................................................ 57

ESTRATÉGIAS DE APOIO .............................................................................................................. 61 Criação de um Ambiente de Aprendizagem Positivo e com Apoios ....................... 63

GESTÃO DA AULA NUM SIAA ..................................................................................................... 63

TORNAR O AMBIENTE DE APRENDIZAGEM CONFORTÁVEL ............................................ 64

CRIAR ROTINAS NA AULA ........................................................................................................... 67

CRIAÇÃO DE REGRAS PARA A SALA DE AULA COM OS ALUNOS E OS PAIS .............. 69

NORMAS PARA O COMPORTAMENTO E BOA GESTÃO ........................................................ 73

OFERECER REFORÇO POSITIVO ................................................................................................. 79

Lidar com alunos problemáticos ............................................................ 83

MELHORAR A EFICÁCIA DAS TÉCNICAS DE DISCIPLINA POSITIVA .......................... 83

DICAS DISCIPLINARES POSITIVAS ........................................................................................ 84

DICAS POSITIVAS PARA O ENSINO NA SALA DE AULA .................................................. 88

UTILIZAR CONSEQUÊNCIAS ADEQUADAS, POSITIVAS OU NEGATIVAS ................ 90

CAUTELA NO USO DA “SAÍDA DA SALA DE AULA” .............................................................. 91 RESOLUÇÃO DE CONFLITOS ....................................................................................................... 93

ENSINO EM FUNÇÃO DA IDADE E DISCIPLINA POSITIVA ............................................ 95

APOIO A CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS ................................................... 100

Leituras aconselhadas .................................................................... 105

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 1

Visão global

O NOSSO DESAFIO

As crianças chegam a este mundo desprotegidas e incapazes de se desenvolveram adequadamente sem a nossa intervenção. Como professores, a nossa tarefa é criá-las e ensiná-las como viver. Não é uma tarefa fácil. Nuns dias, as nossas aulas são excitantes, divertidas, e espaços alegres para aprender para os nossos alunos e para nós próprios. Noutros dias, podemos sentir-nos tensos e inseguros sobre a nossa capacidade para realizar o nosso trabalho. Ser professor raramente é uma tarefa aborrecida; mas ser professor é também o trabalho mais importante alguma vez feito.

Sabemos quão difícil o ensino pode ser. Também sabemos quanto se interessa pelos seus alunos. Mas as crianças não trazem manual de instruções. Ao contrário dos pais, você é responsável por muitas crianças ao mesmo tempo, não apenas algumas, e todas são de algum modo únicas. Elas também nem sempre se comportam da forma que você queria. Parece que, o que você pensava que funcionava com dada turma, esses alunos desapareceram, substituídos por um novo conjunto de rostos com um novo conjunto de alegrias e desafios.

Todos os professores quererão o melhor para os seus alunos e estarão preocupados em fomentar a confiança nas suas capacidades e aumentar a sua autoestima. Mas quando os seus alunos não lhe prestam atenção, recusam fazer o que lhes pede, provocam-no ou ignoram-no, é fácil ficar aborrecido e frustrado. Quando isto acontece, ou melhor antes, volte-se para este documento de ajuda. Ele fornece-lhe formas de lidar com este desafio de forma positiva e proactiva, prevenindo o mau comportamento antes que ele comece, lidando eficazmente com desafios inesperados, e encorajando os seus alunos a ouvir e a cooperar numa sala de aula inclusiva e amiga da aprendizagem. As ferramentas da disciplina positiva aqui apresentadas são alternativas concretas às práticas punitivas como reguadas, palmadas, beliscões, ameaças, discussões, subornos, gritos, prepotências, chamar nomes, trabalhos exagerados e outras ações ainda mais humilhantes.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 2

O QUE É UMA “SALA DE AULA INCLUSIVA E AMIGA DA

APRENDIZAGEM”?

Quando entramos nas nossas salas, vemos os rostos das crianças que estamos a ensinar. Mas temos de nos lembrar que estas crianças poderão não ser todas aquelas que era suposto estarem na nossa aula. Poderá haver outras que não estão incluídas porque não são capazes de chegar até à escola. Outras, que estão fisicamente lá, mas que se sentem como não fazendo parte dela e realmente podem não “participar” na turma ou podem “portar-se mal”.

Uma sala de aula inclusiva e amiga da aprendizagem (SIAA) acolhe, apoia e educa todas as crianças independentemente do seu género, caraterísticas físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Poderão ser crianças sobredotadas, ou crianças com dificuldades físicas ou de aprendizagem. Poderão ser crianças de rua ou trabalhadoras, de minorias étnicas ou culturais, crianças infetadas com VIH/SIDA, ou crianças oriundas de áreas ou grupos desfavorecidos ou marginalizados.1 Uma SIAA é, assim, uma Sala de Aula na qual o professor apreende o valor desta diversidade da turma e toma medidas para assegurar que todas as meninas e rapazes estejam na escola.2

Mas trazer todas as crianças para as salas de aula é somente metade do desafio. A outra metade é satisfazer todas as suas diferentes necessidades de aprendizagem e comportamento para que eles queiram permanecer nas nossas turmas. Todas as turmas são diferentes tanto no tipo de crianças que ensinamos e nas formas como eles aprendem. Precisamos de ter em consideração o que cada criança necessita de aprender, como ele ou ela aprende melhor, e como nós - como professores - poderemos construir relações positivas com cada criança de forma a eles quererem ativamente aprender connosco. É igualmente importante que descubramos como pôr as crianças a querer aprender juntas.

As crianças comportam-se e aprendem de diferentes formas devido a fatores hereditários, ao ambiente em que vivem, ou às suas próprias

1 UNESCO. Apoiar a Diversidade: Manual para Criar Ambiente Inclusivos e Amigos da

Aprendizagem. Bangkok, 2004. 2 UNESCO. “Manual de Apoio 3: Conseguir que todas as crianças tenham acesso à escola e à educação. Apoiar a Diversidade: Ferramenta para Criar Ambientes Inclusivos e Amigos da Aprendizagem. Bangkok, 2004.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 3

necessidades pessoais ou psicológicas.3 Muitas vezes, quando a criança sente que as suas necessidades não estão a ser satisfeitas, tais como a necessidade de atenção, ela poderá “comportar-se mal”. Assim, precisamos de compreender porque a criança se comporta desse modo de forma a nós podermos tentar prevenir esse “mau comportamento” antes que ele apareça e utilizar diferentes meios para orientar o seu comportamento de uma forma positiva. As salas de aula podem, assim, tornar-se lugares inclusivos, acolhedores e agradáveis para todas as crianças poderem aprender e locais em que o mau comportamento seja raro. Poderemos assim ter mais tempo para ensinar e aprender com os nossos alunos.

No início, isto pode ser uma ideia assustadora. Muitos de vós trabalharão com turmas numerosas, ou mesmo com alunos de anos diferentes e podem interrogar-se, “Como posso eu utilizar métodos diferentes de ensino e disciplina para os ajustar a cada criança em particular quando eu tenho mais de 60 crianças na minha turma? “ Na verdade, a frustração causada por esta situação e a nossa falta de competências para lidar com ela, pode levar alguns de nós a bater nos nossos alunos e a recorrer a castigos de forma a conter o mau comportamento, seja o recurso ao castigo corporal ou procedimentos humilhantes de punição emocional. Na nossa frustração, geralmente esquecemos que as crianças se portal mal por diversas razões. Algumas dessas razões podem ser pessoais; outras podem ser o resultado da forma como eles estão a ser ensinados, como no caso de eles se aborrecerem com as lições ou as longas palestras; outras, ainda, resultam de fatores externos associados com a família e a comunidade que podem provocar no aluno frustração e tristeza. Além disso, em alguns casos e particularmente entre os professores novos, um dado incidente pode ser interpretado como um problema de disciplina quando na verdade não o é; por exemplo, quando uma pergunta de um aluno é percebida como um desafio à nossa autoridade ou conhecimento, mas, de facto, a criança terá simplesmente dificuldade em apresentar a questão de forma adequada e delicada. Esta errada apreciação – ou equívoco – geralmente origina irritação entre os alunos, que causa um real problema de disciplina.4

3 UNESCO. “Booklet 4: Creating Inclusive, Learning-Friendly Classrooms”. Embracing Diversity: Toolkit for Creating Inclusive, Learning-Friendly Environments. Bangkok, 2004.

4 Know When to Discipline! Wire Side Chats. http://www.educationworld.com/a_issues/chat/chat020.shtml [acesso online em 10/4/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 4

Em todo o caso, a tentação existe sempre para optar pela “solução mais fácil” de utilizar uma severa punição para enfrentar e parar – mas não necessariamente corrigir – o mau comportamento da criança. Mas afortunadamente, o mau comportamento e o recurso ao castigo podem ser prevenidos quando você cria um ambiente de aprendizagem bem organizado no qual os seus alunos estão empenhados e ativos na sua aprendizagem.

O objetivo de uma sala de aula inclusiva e amiga da aprendizagem é estimular os alunos: Os alunos que participam ativamente e alegremente na aprendizagem na sala de aula têm poucos problemas de disciplina.5 Eles querem estar lá, e eles fazem o que for necessário para permanecer lá.

PARA QUE SERVE ESTE DOCUMENTO

O objetivo deste documento é ajudá-lo a conseguir a meta acima enunciada. Você poderá ser um professor experimentado que quer adotar práticas de disciplina positiva, mas que necessita de orientação sobre como o fazer. Você poderá ser um aluno de uma instituição de formação de professores e que está a estudar como lidar de forma eficiente com o comportamento dos alunos. Você poderá ser um professor que trabalha na formação de outros colegas e que está a ensinar disciplina positiva seja a futuros professores ou na formação em serviço. Este documento será especialmente útil para aqueles de vós que estão a trabalhar em escolas que estão a começar a evoluir para ambientes escolares mais centrados na criança e amigos da aprendizagem. Em muitos países, estas escolas são designadas por “Escolas Amigas das Crianças”, escolas essas em que a inclusão de todas as crianças na escola e a prevenção da violência para com elas são os princípios fundamentais de orientação, mas, em muitos casos, necessitam de apoio e reforço das técnicas para os desenvolver.

Alguns de vós poderão também trabalhar em salas de aula grandes com turmas numerosas. Uma turma é “grande” se você a sente como tal. Embora uma turma de mais de 50 alunos seja geralmente considerada uma turma numerosa, para os professores que geralmente trabalhem com 25 ou menos alunos, uma turma de 35 poderá ser considerada grande e assustadora. As ferramentas e recursos apresentados neste documento podem ajudá-lo a gerir de forma eficaz os seus alunos,

5 Caught in the Middle: A Perspective of Middle School Discipline. http://people.uncw.edu/fischettij/david.htm [acesso online em 10/6/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 5

independentemente do número de alunos que tenha nas suas turmas e da quantidade de problemas de comportamento.

Fundamentalmente, as ferramentas deste manual serão proveitosas para aqueles de vós que estejam a viver reformas de política introduzidas pelo Ministério da Educação e, especialmente, em países em que as políticas tenham sido implementadas, ou estejam a sê-lo, no sentido de condenar o uso do castigo corporal dos alunos. Em apoio destas políticas, existem muitas publicações que defendem a proibição do castigo corporal e os benefícios daí resultantes em termos de assegurar todos os direitos das crianças relativos a uma educação básica de qualidade em ambientes seguros, saudáveis e participativos, como refere a Convenção os Direitos da Criança (CDC), das Nações Unidas. Infelizmente, porém, muitos professores têm um acesso muito limitado aos recursos sobre como conseguir isso, ou seja, como disciplinar as crianças de forma positiva e dispensar a violência para com elas nas escolas e salas de aula. Para aqueles de vós envolvidos em processo de reforma, professores em início de carreira e seus formadores, ou aqueles que simplesmente queiram deixar de utilizar totalmente os castigos corporais, este documento será uma ferramenta muito útil na aprendizagem sobre como adotar uma disciplina positiva nas vossas salas de aula.

O QUE IRÁ APRENDER?

A experiência tem demonstrado que um dos maiores temas de preocupação para os professores é o seu sentimento de inadequação na gestão do comportamento dos alunos.6 E isto não é nada de espantar. Embora existam muitas orientações sobre o assunto, não existe uma fórmula mágica que lhe dê de forma automática as competências que você necessita par levar a cabo esta importante tarefa. Estas competências são aprendidas e desenvolvidas ao longo do tempo. Alem disso, cada professor sabe que as competências e estratégias corretas podem fazer a diferença entre uma sala de aula calma e uma sala de aula caótica. Os professores em SIAA (Salas de Aula Inclusivas e Amigas da Aprendizagem) bem organizadas, nas quais todas as crianças estão aprendendo ativamente e seguindo regras e rotinas claramente definidas, gastam menos tempo em tarefas disciplinadoras e mais em tempo de ensino.

6 Classroom Management, Management of Student Conduct, Effective Praise Guidelines, and a Few Things to Know About ESOL Thrown in for Good Measure. http://www.adprima.com/managing.htm [atualizado em Abril 3, 2005] [acesso online em 10/5/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 6

Este documento tem cinco partes principais. Cada uma apresenta ferramentas que pode utilizar para criar um ambiente de aprendizagem ativo e positivo para os seus alunos, no qual você orienta os seus comportamentos eficientemente, em vez de simplesmente reagir negativamente. Estas ferramentas foram desenvolvidas por professores e especialistas de educação com base na experiência e têm sido utilizadas atualmente com sucesso nos ambientes de aprendizagem tanto com alunos novos como mais velhos. Também o incentivamos a explorar as referências citadas neste documento para obter mais informação. Elas são recursos excelentes pelas ideias que proporcionam e aqui lhes deixamos o nosso agradecimento.

Nesta secção você pôde aprender sobre os desafios do ensino, o que é uma “sala de aula inclusiva e amiga da aprendizagem”, e qual é o seu objetivo. Nas secções seguintes, você vai aprofundar o processo da disciplina positiva. Este processo compreende quatro elementos essenciais e cada um constituirá o tema de cada uma das secções específicas seguintes deste documento.

(a) Compreensão da diferença entre castigo e disciplina. Nesta secção, irá aprender os verdadeiros significados de “castigo” e “disciplina”, a natureza e consequências do castigo corporal, e o poder da disciplina positiva.

(b) Uma relação positiva e de apoio entre o professor e o aluno, uma base para a compreensão e empatia. Nesta secção, aprenderá porque os alunos se comportam como tal e porque se portam mal. Aprenderá o que são os seus alunos pela perspetiva deles, como o contexto de que são oriundos pode afetar este comportamento e a sua interpretação dele, bem como a importância em envolver a família de cada criança no desenvolvimento do seu comportamento. Também aprenderá algumas estratégias de incentivo importantes.

(c) Criação de ambiente positivo e “apoiante” para os seus alunos e para si próprio. Devem desenvolver-se comportamentos apropriados nos ambientes de aprendizagem da sala de aula bem organizada e gerida. Nesta secção aprenderá sobre como gerir o ambiente físico da sua sala de aula, de forma a ser confortável para a aprendizagem e fomentadora de bom comportamento, mesmo se a sua turma tiver muitos alunos. Também aprenderá a importância de estabelecer rotinas e padrões de comportamento para os seus alunos, bem como o envolvimento dos pais na gestão do comportamento dos seus filhos. Uma vez que você é um modelo e exemplo importante para os seus alunos, você também irá descobrir coisas sobre o seu estilo de

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 7

gestão e como o melhorar, bem como formas de proporcionar reforços positivos para os seus alunos.

(d) Conhecimento de formas construtivas para parar comportamentos inadequados quando eles aparecem, bem como maneiras de os prevenir. Todos os alunos têm comportamentos inapropriados até certo ponto nalguma altura da sua vida escolar. Como forma de testar os seus limites, torna-se um elemento importante no desenvolvimento do seu autocontrolo. Nesta secção final do documento, você aprenderá diferentes formas de lidar com comportamentos provocantes, bem como forma de os prevenir e como resolver conflitos. Também aprenderá algumas técnicas específicas de disciplina positiva em função da idade, bem como as adequadas a crianças com necessidades especiais.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 8

Compreender o Castigo “versus”

Disciplina

O que vai aprender:

♦ O Passado e Presente das Crianças

♦ O que é o “Castigo”

♦ Os Perigos do Castigo Corporal

♦ O que é “Disciplina”

♦ Disciplina Positiva: O que é e Como Funciona

PASSADO E PRESENTE DAS CRIANÇAS

O Passado

“As crianças agora gostam do luxo, têm maus modos, desprezam a autoridade, expressam falta de respeito pelos mais velhos, e preferem conversar em vez de fazer exercício. As crianças agora são os tiranos, não os servidores dos seus lares. Já não se levantam quando os mais velhos entram na sala. Elas contradizem os seus pais, trocam mensagens em vez de conviver, devoram guloseimas à mesa, cruzam as pernas, e tiranizam os seus professores.”

Estas afirmações foram feitas por Sócrates, um filósofo Ateniense que viveu de 469 a 399 AC.7 Acha que, entretanto, mudou alguma coisa?

7 Classroom Management. http://www.temple.edu/CETP/temple_teach/cm-intro.html [acesso online em 10/20/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula I

O Presente: O Caso d

“Eu não vou às aulas deste homem! Eu não te

“Eu nem deveria estar nesta turma: a minha mãe diz que eu deveria estar numa escola de ensino especial. Eles dizem que eu tenho dificuldades de aprendizagem e tenho PHDA, ou que isso seja.” (PHDA é Perturbação de Hiperatividade com Défice

Ele corre pelo corredor batendo noutras crianças e professores, entra na sala de aula da manhã dizendo desde logo o que não vai fazer, e grita ou corre pela sala sempre que lhe apetece. Ele chama os seus colegas por “clube dos burros” e acusa outros seis colegas do sexto ano de cometerem atos de que eu nem sequer tinha ouvido falar até ao meu 3º ano de faculdade. …

Este é o aluno da minha turma, o “Ramon”. Sintocomportamento. Apeteceele, com a minha falta de competências, e o sistema. … Deixei a escola nesse dia em lágrimas, mal do meu estômago por causa desta criança.

O Que Você Faria?

O caso do Ramon, embora sendo uma situação de extrema gravidade, não é raro. Virtualmente todos nós já nos confrontámosa nossa autoridade ou que “destroçaram” as nossas aulas e perturbaram os nossos alunos de diversas formas. O Ramon necessita desesperadamente de disciplina, mas que alternativas existem?

Atividade de reflexão: Como

Pense no passado quando você estava na sua escola primária. Se você ou algum dos seus colegas se comportava mal como o Ramon, que métodos de disciplina teria, ou usou, o seu professor? Escreva esses métodos no quadro abaixo apresentado. Depois, escreva commétodos, bem como se pensou sobre se eles eram eficazes a longo prazo.

8 Este estudo de caso é adaptado do diário de linguagem em Turner Middle School, St. Louis, Missouri, USA. http://www.middleweb.com/msdiaries01/MSDiaryEllenB6.html [10/6/2005]

sitiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem

resente: O Caso de Ramon8

“Eu não vou às aulas deste homem! Eu não tenho de fazer o que dizes!”

“Eu nem deveria estar nesta turma: a minha mãe diz que eu deveria estar numa escola de ensino especial. Eles dizem que eu tenho dificuldades de aprendizagem e tenho PHDA, ou que isso seja.” (PHDA é Perturbação de

Défice de Atenção).

Ele corre pelo corredor batendo noutras crianças e professores, entra na sala de aula da manhã dizendo desde logo o que não vai fazer, e grita ou corre pela sala sempre que lhe apetece. Ele chama os seus colegas por “clube dos

” e acusa outros seis colegas do sexto ano de cometerem atos de que eu nem sequer tinha ouvido falar até ao meu 3º ano de faculdade. …

Este é o aluno da minha turma, o “Ramon”. Sinto-me irritado com este comportamento. Apetece-me odiá-lo, mas acima de tudo, estou frustrado com ele, com a minha falta de competências, e o sistema. … Deixei a escola nesse dia em lágrimas, mal do meu estômago por causa desta criança.

O caso do Ramon, embora sendo uma situação de extrema gravidade, não é ualmente todos nós já nos confrontámos com alunos que desafiaram

a nossa autoridade ou que “destroçaram” as nossas aulas e perturbaram os nossos alunos de diversas formas. O Ramon necessita desesperadamente de disciplina, mas que alternativas existem?

Atividade de reflexão: Como foi a disciplina para SI

Pense no passado quando você estava na sua escola primária. Se você ou algum dos seus colegas se comportava mal como o Ramon, que métodos de disciplina teria, ou usou, o seu professor? Escreva esses métodos no quadro abaixo apresentado. Depois, escreva como se sentiu sobre a utilização destes métodos, bem como se pensou sobre se eles eram eficazes a longo prazo.

Este estudo de caso é adaptado do diário de Ellen Berg, uma professora de artes da Turner Middle School, St. Louis, Missouri, USA.

http://www.middleweb.com/msdiaries01/MSDiaryEllenB6.html [acesso online em

nclusiva e Amiga da Aprendizagem 9

nho de fazer o que dizes!”

“Eu nem deveria estar nesta turma: a minha mãe diz que eu deveria estar numa escola de ensino especial. Eles dizem que eu tenho dificuldades de aprendizagem e tenho PHDA, ou que isso seja.” (PHDA é Perturbação de

Ele corre pelo corredor batendo noutras crianças e professores, entra na sala de aula da manhã dizendo desde logo o que não vai fazer, e grita ou corre pela sala sempre que lhe apetece. Ele chama os seus colegas por “clube dos

” e acusa outros seis colegas do sexto ano de cometerem atos de que eu nem sequer tinha ouvido falar até ao meu 3º ano de faculdade. …

me irritado com este o, estou frustrado com

ele, com a minha falta de competências, e o sistema. … Deixei a escola nesse dia em lágrimas, mal do meu estômago por causa desta criança.

O caso do Ramon, embora sendo uma situação de extrema gravidade, não é com alunos que desafiaram

a nossa autoridade ou que “destroçaram” as nossas aulas e perturbaram os nossos alunos de diversas formas. O Ramon necessita desesperadamente de

foi a disciplina para SI?

Pense no passado quando você estava na sua escola primária. Se você ou algum dos seus colegas se comportava mal como o Ramon, que métodos de disciplina teria, ou usou, o seu professor? Escreva esses métodos no quadro abaixo

o se sentiu sobre a utilização destes métodos, bem como se pensou sobre se eles eram eficazes a longo prazo.

Ellen Berg, uma professora de artes da

acesso online em

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 10

Como pensa que a criança se sentiu? Observou ou sentiu uma alteração duradoura no comportamento?

Depois, pergunte-se a si próprio, “ Se tivesse um aluno como o Ramon, o que é que eu faria, e porquê?” Pensa que isso seria eficaz em prevenir maus comportamentos futuros? Escreva também abaixo os seus pensamentos. Os seus métodos são semelhantes aos dos seus professores?

Método disciplinar

Porque foi utilizado este método?

O método era sempre eficaz a longo prazo? Como se sentiu a criança?

As ações dos seus professores

As suas ações

Em muitos países e salas de aula, o Ramon seria fisicamente punido pelo seu mau comportamento, provavelmente seria açoitado com uma vara ou outro objeto do género. Que métodos teriam usado os vossos professores? E você que métodos teria usado?

Ao preencher a coluna “Porque foi utilizado este método?” do quadro acima, não será surpresa se muitas das vossas respostas forem “Punir a criança pelo seu mau comportamento” ou “parar o seu mau comportamento”. De igual forma, na última coluna em “O método era sempre eficaz a longo prazo?” muitos de vós – se refletiram algum tempo e seriamente - provavelmente reponderam “Não”. Mais cedo ou mais tarde, esta mesma criança repete o mau comportamento, geralmente do mesmo modo. Porquê? A resposta reside na diferença entre o castigo e a disciplina.

O SIGNIFICADO DO CASTIGO (PUNIÇÃO)

O castigo é uma ação (pena) que é imposta à pessoa por infringir uma regra ou exibir uma conduta inadequada. O castigo procura controlar o comportamento através de meios negativos. Geralmente são utilizados dois tipos de castigo com as crianças:

1. Castigo através de repreensões e censuras verbais negativas; este tipo de castigo é também designado por disciplina negativa.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 11

2. Castigo através da dor intensa física ou emocional, como no caso do

castigo corporal.

Infelizmente, os dois tipos de castigo centram-se no mau comportamento e pouco ou nada podem fazer para ajudar a criança a comportar-se melhor no futuro. Além disso, a criança aprende que o adulto é o que manda, e o uso da força – seja verbal, física ou emocional – é aceitável, especialmente sobre as pessoas mais novas e mais fracas. Este ensinamento pode conduzir a ocorrências de agressão entre pares bullying e violência na escola, onde as crianças mais velhas dominam as mais novas e forçam-nas a dar aos valentões dinheiro, comida, trabalhos de casa, ou outros artigos de valor.

Além disso, em vez de conduzir a criança a interiorizar o controlo, estes tipos de castigo fazem com que ela fique zangada, ressabiada e medrosa. Também causam vergonha, culpa, ansiedade, exacerbar da agressão, perda de independência e perda do carinho dos outros, e, assim, maiores problemas para os professores, prestadores de apoio e para as outras crianças.9

Castigo Verbal e Lidar com a Irritação

A disciplina negativa é uma forma de castigo destinada a controlar o comportamento do aluno, mas muitas vezes ela consiste em ordens ou declarações verbais curtas e não se traduz numa sanção, geralmente grave, como o ser sovado ou dolorosamente humilhado. Os professores que não recorrem ao castigo corporal poderão em sua vez recorrer a alguns tipos de disciplina negativa. Mas, tal como no castigo corporal, estes também pode provocar que as crianças fiquem irritadas e agressivas ou baixem a sua autoestima. Estas estratégias negativas compreendem:

Ordens – “Senta-te e fica quieto!” “Escreve 100 vezes, “Eu não irei desperdiçar o meu tempo em tarefas inúteis””.

Declarações de proibição – “Não faças isso!”.

Declarações repentistas e irritadas – “Estás mais lixado do que tu pensas”.

Declarações satirizantes – “Isto é o melhor que consegues fazer!”

9 Positive Guidance and Discipline. http://www.ces.ncsu.edu/depts/fcs/smp9/parent_education/guidance_discipline.htm [acesso online em 10/10/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula I

Declarações ameaçadoras diretor”.

Declarações de desprezo deve ser?”.

Muitas vezes, utilizamos estas estratégias negativas, bem como o castigo corporal, quando estamos zangados ou frustrados. Porém, existem diversas formas de lidar com a raiva e a frustração. Alguns professores dizem aos seus alunos, “Preciso de um tempmuito zangada”. Outros acalmamalguns minutos. Alguns professores revelam os seus sentimentos aos seus alunos para os ajudar a compreender o que os arrelia. As crianças, assim,aprendem o que não devem fazer e porquê. Poderão repetir o que não devem, mas eles são responsáveis pelas suas ações e têm de lidar com as consequências. O que resultará melhor consigo?

Atividade: “NÃO”

A maioria de nós dá ordens de “Não” aos alunos como forma de disciplina negativa: “Não fales na aula. Não te levantes da carteira.” Poderemos não nos aperceber da quantidade de vezes que utilizamos estas ordens negativas; elas saem naturalmente; mas os nossos alunos sabemvezes utiliza ordens “Não”, escolha um aluno da aula (ou peça a um outro professor para o ajudar) e dêum saco de pano ou plástico. Peça ao aluno para estar longo de uma semana. Peçaordem “Não”, tire uma pedrinha ou conchinha da caixa e a coloque no saco. No final da semana, conte as pe

Em vez de repetir constantemente ordens necessárias), aprenda a reformulaexpressar claramente qual o comportamencorras na sala de aula,“ por exemplo, tente dizer, “Anda na sala.” Isto define claramente a forma como você quer que os seus alunos se comportem. Por vezes pode acrescentar razões primeira vez. A explicação sala. Se correrem, poderão tropeçar numa cadeira e magoaremterão de ir ao médico.”

sitiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem

Declarações ameaçadoras – “Se não te calas, mando-te ao gabinete do

Declarações de desprezo – “Alguma vez aprenderás a escrever como

Muitas vezes, utilizamos estas estratégias negativas, bem como o castigo corporal, quando estamos zangados ou frustrados. Porém, existem diversas formas de lidar com a raiva e a frustração. Alguns professores dizem aos seus alunos, “Preciso de um tempo para me acalmar; neste momento estou muito zangada”. Outros acalmam-se contando até 10 ou saindo da sala por alguns minutos. Alguns professores revelam os seus sentimentos aos seus alunos para os ajudar a compreender o que os arrelia. As crianças, assim,aprendem o que não devem fazer e porquê. Poderão repetir o que não devem, mas eles são responsáveis pelas suas ações e têm de lidar com as consequências. O que resultará melhor consigo?

Atividade: “NÃO” – Qual o meu grau de negatividade?

dá ordens de “Não” aos alunos como forma de disciplina negativa: “Não fales na aula. Não te levantes da carteira.” Poderemos não nos aperceber da quantidade de vezes que utilizamos estas ordens negativas; elas saem naturalmente; mas os nossos alunos sabem. Se quiser saber quantas vezes utiliza ordens “Não”, escolha um aluno da aula (ou peça a um outro professor para o ajudar) e dê-lhe uma caixa com pedrinhas ou conchinhas e um saco de pano ou plástico. Peça ao aluno para estar atento ao que

uma semana. Peça-lhe para, sempre que o aluno o ouvir dizer uma ordem “Não”, tire uma pedrinha ou conchinha da caixa e a coloque no saco. No final da semana, conte as pedras ou conchas do saco. Ficou surpreendido

Em vez de repetir constantemente ordens “Não” (embora por vezes sejam necessárias), aprenda a reformula-las numa forma positiva não deixando de expressar claramente qual o comportamento desejado. Em vez de dizer, “corras na sala de aula,“ por exemplo, tente dizer, “Anda na sala.” Isto define claramente a forma como você quer que os seus alunos se comportem. Por vezes pode acrescentar razões à regra, especialmente quando a anuncia pela primeira vez. A explicação de uma regra poderia ser algo como: “Andem na sala. Se correrem, poderão tropeçar numa cadeira e magoarem

nclusiva e Amiga da Aprendizagem 12

te ao gabinete do

a escrever como

Muitas vezes, utilizamos estas estratégias negativas, bem como o castigo corporal, quando estamos zangados ou frustrados. Porém, existem diversas formas de lidar com a raiva e a frustração. Alguns professores dizem aos

o para me acalmar; neste momento estou se contando até 10 ou saindo da sala por

alguns minutos. Alguns professores revelam os seus sentimentos aos seus alunos para os ajudar a compreender o que os arrelia. As crianças, assim, aprendem o que não devem fazer e porquê. Poderão repetir o que não devem, mas eles são responsáveis pelas suas ações e têm de lidar com as

Qual o meu grau de negatividade?

dá ordens de “Não” aos alunos como forma de disciplina negativa: “Não fales na aula. Não te levantes da carteira.” Poderemos não nos aperceber da quantidade de vezes que utilizamos estas ordens negativas; elas

. Se quiser saber quantas vezes utiliza ordens “Não”, escolha um aluno da aula (ou peça a um outro

lhe uma caixa com pedrinhas ou conchinhas e atento ao que diz ao

lhe para, sempre que o aluno o ouvir dizer uma ordem “Não”, tire uma pedrinha ou conchinha da caixa e a coloque no saco. No

dras ou conchas do saco. Ficou surpreendido?

(embora por vezes sejam las numa forma positiva não deixando de

to desejado. Em vez de dizer, “Não corras na sala de aula,“ por exemplo, tente dizer, “Anda na sala.” Isto define claramente a forma como você quer que os seus alunos se comportem. Por

regra, especialmente quando a anuncia pela de uma regra poderia ser algo como: “Andem na

sala. Se correrem, poderão tropeçar numa cadeira e magoarem-se; depois

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 13

Castigo Corporal

Ao lidar com alunos do tipo do Ramon, muitos professores provavelmente teriam recorrido a alguma forma de castigo severo. Existem dois tipos de castigo severo que ocorrem separadamente ou em conjunto que são o castigo corporal e o castigo emocional. Ambos são formas de violência infantil que violam os seus direitos, como seres humanos, ao respeito, à dignidade, igualdade de proteção pela lei, e proteção contra todas as formas de violência.

O Castigo Corporal ou Físico, e o medo desse castigo, ocorre quando um professor, pai, ou cuidador pretenda causar dor física ou desconforto a uma criança, geralmente no intuito de parar o mau comportamento da criança, punindo-a por fazer isso, e prevenir que esse comportamento se repita.10 Cada vez mais em todo o mundo, o castigo corporal se torna ilegal – e não conduz a uma melhor “aprendizagem”. O que constitui castigo corporal varia entre – e dentro – de uma dada cultura, e inclui, por exemplo:

♦ Bater na criança com a mão ou com um objeto (como uma vara, cinto, chicote, sapato, régua, livro, etc.).

♦ Pontapear, abanar, ou empurrar a criança.

♦ Beliscar ou puxar o cabelo.

♦ Forçar a criança a permanecer em posições desconfortáveis.

♦ Forçar a criança a suportar exercício físico excessivo ou trabalho forçado.

♦ Queimar ou qualquer outra forma de deixar “marca” à criança.

♦ Forçar a criança a comer substâncias impróprias (como sabão).

Enquanto com o castigo corporal se pretende causar dor física, com o castigo emocional pretende-se humilhar a criança e causar-lhe dor psicológica. Algo semelhante à punição verbal negativa, mas muito mais severa, pode consistir em ridicularizar em público, escarnecer, ameaçar, chamar nomes, gritar e ordenar, ou outras ações de achincalhamento, como negar à criança roupa ou

10 Durrant, Joan E. “Corporal Punishment: Prevalence, Predictors and Implications for Child Development,” em: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way

Forward to Constructive Child Discipline. Paris: Publicação UNESCO, 2005.

Disciplina Positiva na Sala de Aula I

comida ou força-la a permanecer em posições menos dignas para que outros vejam e comentem.

Enquanto o castigo corporal é mais vdifícil identificação. Contudo, punir uma criança mandandoficar parada ao sol durante horas, de modo a enfraquecer a sua autoestima através do ridículo público, ou negar a uma criança comida ou roupaprejudicial como as diferentes formas de punição corporal.

Alem disso, não existe uma linha clara de separação entre o castigo corporal e emocional. Muitas vezes, as crianças entendem o castigo corporal como algo humilhante ou degradante.“castigo corporal” para englobar o castigo físico e emocional.

Atividade: Isto é Castigo Corporal?

Leia o seguinte estudo de caso verídico. Pense os seus colegas – se isto é um exemplo de usada serve realmente de lição para a criança.

Lição de Shireen

A Shireen vai à escola todos os dias e gosta da maior parte das atividades; tudo menos as aulas de ortografia. Os dias que ela mais teme são os dias de teste de ortografia. Por cada palavra que ela e os seus colegas escrevam de forma incorreta, o seu professor obrigaescola e trazer para baixo cinco tijolosconstrução de um murete à volta da esccarregar tijolos a vai ajudar a aprender a escrever sem erros, mas não tem alternativa senão fazer esse trabalho. As vezes, no final da tarefa, fica com a roupa muito suja, e acaba também por ser admoestada em casa.

Qual a Incidência do Castigo Corporal e Porquê?

Lembre-se do seu tempo de escola. Você ou algum dos seus amigos foi castigado física ou emocionalmente? O mais certo é você dizer “Sim” porque o castigo corporal é uma prática comum por todo o mundo. Somente 15 do

11 Ending Corporal Punishment of Children in Zambia. Save the Children Sweden, Regional Office for Southern Africa, Arcadia, 2005.

sitiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem

la a permanecer em posições menos dignas para que outros

Enquanto o castigo corporal é mais visível, o castigo emocional é de mais difícil identificação. Contudo, punir uma criança mandando-a para a rua para ficar parada ao sol durante horas, de modo a enfraquecer a sua autoestima através do ridículo público, ou negar a uma criança comida ou roupaprejudicial como as diferentes formas de punição corporal.

Alem disso, não existe uma linha clara de separação entre o castigo corporal e emocional. Muitas vezes, as crianças entendem o castigo corporal como algo humilhante ou degradante.11 Por isso, neste documento, utilizamos o termo “castigo corporal” para englobar o castigo físico e emocional.

Atividade: Isto é Castigo Corporal?

Leia o seguinte estudo de caso verídico. Pense – e possivelmente discuta com se isto é um exemplo de castigo corporal e se a punição

usada serve realmente de lição para a criança.

A Shireen vai à escola todos os dias e gosta da maior parte das atividades; tudo menos as aulas de ortografia. Os dias que ela mais teme são os dias de

ortografia. Por cada palavra que ela e os seus colegas escrevam de forma incorreta, o seu professor obriga-os a subir a um morro atrás da escola e trazer para baixo cinco tijolos- Os tijolos estão a ser utilizados na construção de um murete à volta da escola. A Shireen não compreende como carregar tijolos a vai ajudar a aprender a escrever sem erros, mas não tem alternativa senão fazer esse trabalho. As vezes, no final da tarefa, fica com a roupa muito suja, e acaba também por ser admoestada em casa.

a Incidência do Castigo Corporal e Porquê?

se do seu tempo de escola. Você ou algum dos seus amigos foi castigado física ou emocionalmente? O mais certo é você dizer “Sim” porque o castigo corporal é uma prática comum por todo o mundo. Somente 15 do

Corporal Punishment of Children in Zambia. Save the Children Sweden, Regional Office for Southern Africa, Arcadia, 2005.

nclusiva e Amiga da Aprendizagem 14

la a permanecer em posições menos dignas para que outros

isível, o castigo emocional é de mais a para a rua para

ficar parada ao sol durante horas, de modo a enfraquecer a sua autoestima através do ridículo público, ou negar a uma criança comida ou roupa é tão

Alem disso, não existe uma linha clara de separação entre o castigo corporal e emocional. Muitas vezes, as crianças entendem o castigo corporal como algo

neste documento, utilizamos o termo

e possivelmente discuta com castigo corporal e se a punição

A Shireen vai à escola todos os dias e gosta da maior parte das atividades; tudo menos as aulas de ortografia. Os dias que ela mais teme são os dias de

ortografia. Por cada palavra que ela e os seus colegas escrevam de os a subir a um morro atrás da

Os tijolos estão a ser utilizados na ola. A Shireen não compreende como

carregar tijolos a vai ajudar a aprender a escrever sem erros, mas não tem alternativa senão fazer esse trabalho. As vezes, no final da tarefa, fica com a roupa muito suja, e acaba também por ser admoestada em casa.

se do seu tempo de escola. Você ou algum dos seus amigos foi castigado física ou emocionalmente? O mais certo é você dizer “Sim” porque o castigo corporal é uma prática comum por todo o mundo. Somente 15 dos

Corporal Punishment of Children in Zambia. Save the Children Sweden, Regional

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 15

190 países mais ricos do mundo aboliram o castigo corporal das crianças. Nos restantes países, pais e outros cuidadores, incluindo professores, mantêm o “direito” de bater e humilhar as crianças.12

Embora muitos de nós condenaria a violência em geral – e a violência contra adultos, em particular – no mundo em geral, poucas pessoas têm dado uma empenhada atenção à violência contra as crianças. Porquê? Existem tradições antigas e crenças culturais que perpetuam o uso de castigos corporais em muitas sociedades. “Poupe a vara e estrague a criança” é um ditado muito popular. Outras razões compreendem as crenças de que o castigo corporal: (1) é eficaz; (2) previne que a criança se meta em sarilhos maiores; (3) ensina-os a destrinçar o bem do mal; (4) Incute respeito, e (5) é diferente do abuso físico. A investigação tem demonstrado, contudo, que o castigo corporal não tem nada a ver com estas coisas e é, de facto, uma forma de violência contra as crianças.13

Apresentam-se abaixo outros mitos e verdades acerca do castigo corporal.14 Já alguma vez ouviu alguém utilizar uma ou mais destas “desculpas” para justificar o uso do castigo corporal? Já alguma vez você o fez, ou pelo menos pensou deste modo? Seja honesto.

Mito nº 1: “Aconteceu comigo e não me fez mal nenhum.”

Realidade: Embora possam ter sentido medo, raiva, e desconfiança por terem sido sovados pelos pais ou professores, as pessoas que recorrem a este argumento, geralmente, fazem-no para reduzir a culpa que sentem ao recorrer hoje em dia ao castigo corporal das crianças. Nas suas mentes, eles estão a legitimar as suas ações violentas para com as crianças. Contudo, as suas ações revelam que o castigo corporal lhes causou, de facto, mal: ele continuou o ciclo de violência que eles agora infligem às crianças, e, igualmente, estas crianças ficam mais propensas a perpetuar a violência às

12 Newell, Peter. “The Human Rights Imperative for Ending All Corporal Punishment of Children,” in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward to

Constructive Child Discipline. Paris: Publicação UNESCO, 2005. 13 Durrant, Joan E. “Corporal Punishment: Prevalence, Predictors and Implications for Child Development,” in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward

to Constructive Child Discipline. Paris: Publicação UNESCO, 2005. 14 Adaptado de: From Physical Punishment to Positive Discipline: Alternatives to Physical/Corporal Punishment in Kenya. An Advocacy Document (Draft Two) by ANPPCAN Kenya Chapter, January 2005. http://kenya.ms.dk/articles/advocacy%20document%20ANPPCAN.htm?udskriv+on%5D [acesso online em 9/29/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 16

gerações seguintes.15 Além disso, muitas coisas a que as gerações anteriores recorreram para sobreviver deixaram de ser agora necessárias. Por exemplo, o facto de algumas pessoas não terem sido vacinadas quando eram crianças não significa que elas prefiram isso AGORA para os seus próprios filhos.

Mito nº 2. “Mais nada resulta!” Ou “Eles estão a pedi-las!”

Realidade: Ao contrário da disciplina positiva que exige o desenvolvimento de uma relação de confiança e mutuamente respeitosa entre a criança e o seu ou sua professora, infligir dor a uma criança é realmente uma solução precipitada. É a confissão de que falhámos no que tínhamos de fazer para ajudar a criança a aprender e interiorizar um bom comportamento. Depois de usarmos regularmente o castigo corporal, vai levar tempo e trabalho para que novos métodos funcionem. Se temos vindo a irritar, gritar ameaçar, ou castigar fisicamente os nossos alunos há muito tempo, será difícil construir uma relação eficaz e confiante com eles de um dia para o outro. Isto pode, por seu lado, criar a sensação de que mais nada funciona, ou que as crianças “estão mesmo a pedir” para levar pancada. Mas o problema é a abordagem disciplinar, não o mau comportamento das crianças. Justificar que a criança foi quem provocou a violência é realmente tentar fazer com que o provocador se sinta menos culpado: culpar a vítima. Além disso, você bate usualmente no seu patrão, empregado, esposo, ou melhor amigo quando se depara com a situação de que “mais nada resulta”? Esperemos que não!

Mito nº 3: “O castigo corporal funciona otimamente. Os outros métodos não.”

Realidade: Fazer com que os seus alunos de portem bem com base no medo do castigo não é igual a disciplina. O castigo corporal somente parece funcionar se o encarar superficialmente e tendo em vista o curto prazo. O castigo corporal ensina a criança a fazer aquilo que você diz, mas somente quando você está por perto, De facto, ensina-os a ser fingidos, bem como mentir sobre o mau comportamento para evitar ser sovado ou punido de um outro modo mais degradante. Ao criar um clima de desconfiança e insegurança na criança, ele destrói a relação professor-criança. As crianças ganham aversão por alguém que sendo suposto ensinar e cuidar deles, na verdade, o que faz é

15 Durrant, Joan E. “Corporal Punishment: Prevalence, Predictors and Implications for Child Development,” in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward

to Constructive Child Discipline. Paris: Publicação UNESCO, 2005.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 17

ameaçar, bater ou insultar. Embora um simples ato de castigo corporal possa parecer eficaz, ele apenas intimida a criança a ser submissa.

Mito nº 4: “O castigo corporal ensina a obediência.”

Realidade: No passado, pode ter sido prática ensinar as crianças a nunca questionar autoridade, mas os tempos mudaram. Muitos professores estão a adotar técnicas de aprendizagem centradas-na-criança que incentivam as crianças a investigar, a pensar por elas próprias, a levantar questões, e a aprender o prazer de encontrar respostas como o principal processo de aprendizagem. O castigo corporal, contudo, coíbe a criança de levantar questões, pensar criticamente, e conquistar objetivos pessoais; mas estas são as qualidades que adultos e crianças necessitam de forma a sobressair numa sociedade dinâmica, competitiva e inovadora. Forçar uma obediência cega através do medo do castigo corporal asfixia terrivelmente a iniciativa e a criatividade das crianças (e adultos).

Mito nº 5: “Eu só o utilizo como último recurso. Não tinha alternativas.”

Realidade: Esta desculpa é uma racionalização nossa, e ensina os nossos alunos, que o uso da violência se justifica como último recurso. Não é, porém, aceitável tal argumentação; por exemplo, é justificável em último recurso o marido bater na esposa? Não será ainda mais aceitável quando nos referimos aos nossos alunos. Além disso, é muito comum pais e professores recorrerem à punição física como primeira instância – não como a última – e por faltas bem pequenas.

Mito nº 6: “É a única forma de controlar os meus alunos na turma. Tenho muitos!”

Realidade: Esta desculpa é frequente entre os professores que lidam com turmas grandes, às vezes cerca de 100 crianças todos numa única turma. Geralmente esta situação surge porque a turma não definiu as regras e rotinas; as crianças não sabem o que se espera delas e quais as consequências se se portarem mal; e o professor não terá tido o tempo suficiente para criar uma relação positiva com as crianças para que estas sintam a necessidade de serem bons alunos. Pode também ser o resultado do seu estilo de gestão autoritária da sala de aula, alguém que diga, “Eu sou o professor e vamos fazer as coisas à minha maneira!” No intuito de manter o controlo, o professor pode recorrer ao castigo corporal não para conter o mau comportamento de uma criança, mas para incutir medo nos espíritos das

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outras crianças de modo a que, com sorte, eles não se portem mal também (mas não resulta). Como no Mito 4 acima, forçar a uma obediência cega através de ameaças ou violência física não estimula as crianças a aprender o que vem do professor, porque têm medo dele. Como consequência, eles não querem aprender, o que torna a nossa tarefa mais árdua, e eles não aprendem com facilidade, o que se reflete negativamente no nosso desempenho como professor.

Mito nº 7: “O castigo corporal faz parte da nossa cultura.”

Realidade: O castigo corporal é defendido algumas vezes como fazendo parte do nosso crescimento em algumas sociedades, e a ideia de promover alternativas a esse castigo corporal é considerada uma imposição do “Ocidente” que não tem em consideração os valores Asiáticos. As sociedades asiáticas dependem de hierarquias de estatuto relacionadas com a idade e a ideia de que os novos devem respeitar, servir e obedecer aos mais velhos incluindo os professores. Embora o castigo corporal esteja espalhado pela Ásia, não existe uma conexão necessária entre o sistema de valores tradicional e a violência contra as crianças através do castigo corporal. Pelo contrário, os dois valores principais das sociedades asiáticas são o manter da harmonia social e aprender a usar as capacidades mentais para disciplinar o corpo, especialmente em termos de manter o autocontrolo no meio do caos. A violência através do castigo corporal, na verdade, contraria estes valores tradicionais asiáticos. Ela destrói a harmonia social na sala de aula em termos de relação aluno-professor e aluno-aluno, e ameaça as relações futuras que a criança irá ter. Ela corrói a confiança das crianças e a autoestima, e aprova a falta de autocontrolo como forma aceitável para dominar os outros. Ao invés de castigo corporal, os procedimentos tradicionais podem ser utilizados como formas alternativas de disciplina quando não incluam violência.16 Por exemplo, quando adultos respeitados exibem como modelo comportamento adequado e não violento, o qual é depois imitado pelos seus filhos.17 Além disso, os

16 Save the Children. “How To Research the Physical and Emotional Punishment of Children.” Bangkok: Southeast, East Asia and Pacific Region, 2004.

17 Informação fornecida por Elizabeth Protacio-de Castro, Diretora do “Programme on Psychosocial Trauma and Human Rights, Centre for Integrative Development Studies, the University of the Philippines”, e documentada em : Power, Clark F. and Hart, Stuart N. “The Way Forward to Constructive Child Discipline.” in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward to Constructive Child Discipline. Paris: Publicação UNESCO, 2005.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 19

sistemas de crenças individuais e culturais que conservam o recurso ao castigo corporal podem ser alterados em relativamente pouco tempo.18

O Castigo Corporal dá Resultado? Quais São as Consequências?

O castigo corporal perdura em grande parte porque os professores acreditam que ele dá resultado: é eficaz. Mas será mesmo? Uma análise alargada da investigação feita em duas décadas mostrou que o único resultado positivo do castigo corporal é a submissão imediata, enquanto as consequências negativas ultrapassam largamente este resultado.19 O recurso ao castigo corporal raramente proporciona o efeito desejado, isto é mudança comportamental positiva e duradoura no aluno. Pelo contrário, pode ter consequências terríveis e negativas para a criança e para si.

♦ Quando recorremos ao castigo corporal, os resultados são imprevisíveis. Eles podem ser a tristeza, baixa autoestima, ira, raiva, comportamento agressivo, desejo de vingança, pesadelos e enurese, desrespeito pela autoridade, agudização de estados de depressão, ansiedade, uso de drogas, abuso sexual, abuso infantil, maus-tratos dos cônjuges, delinquência infantil, e, naturalmente, mais castigo corporal.20

♦ No longo prazo, têm sido demonstrado que as crianças que tenham sofrido castigos corporais têm maior propensão para desenvolver comportamento antissocial e recorrem de imediato à violência, criando assim um contínuo do abuso físico de uma geração para a seguinte.21 Utilizando violência, nós ensinamos violência.

♦ Como professores, somos responsáveis por melhorar o crescimento e o desenvolvimento dos nossos alunos. O castigo corporal pode

18 Durrant, Joan E. “Corporal Punishment: Prevalence, Predictors and Implications for Child Development.” in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward

to Constructive Child Discipline. Paris: Publicação UNESCO, 2005. 19 Ibid. 20 Ibid. 21 From Physical Punishment to Positive Discipline: Alternatives to Physical/Corporal Punishment in Kenya. An Advocacy Document (Draft Two) by ANPPCAN Kenya Chapter, January 2005. http://kenya.ms.dk/articles/advocacy%20document%20ANPPCAN.htm?udskriv+on%5D [acesso online em 9/29/2005].

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comprometer seriamente o desenvolvimento de uma dada criança e originar problemas de adaptação, educativos, interpessoais e psicológicos. Por exemplo, estudos têm mostrado que algumas vítimas de castigo corporal são forçadas a abandonar a escola devido ao medo de serem sovados ou humilhados. Uma vez fora da escola, elas ficam suscetíveis ao uso ou venda de drogas ou outras atividades socialmente condenadas.22,23

♦ Mesmo quando temos sucesso em parar o comportamento indesejado num dado momento, o uso de castigo corporal, contudo, não promove o comportamento adequado na criança. Porquê? A criança não sabe, ou não aprende, o que deve fazer; qual o comportamento que ele ou ela é suposto adotar a não ser parar tão-somente de fazer aquilo que ele ou ela estava a fazer. É semelhante a dizer-lhe a si para não utilizar o castigo corporal, sem lhe ensinar que métodos alternativos você pode usar.

♦ Ao recorrermos ao castigo corporal podemos, por vezes, obter efeitos contrários aos desejados; ou seja, pode tornar-se um reforço imprevisto. Por exemplo, o chamar a atenção dos professores e colegas para algo que uma criança faça de inapropriado, como no caso de Ramon, pode ser atrativo.

♦ O castigo corporal origina geralmente ressentimento e hostilidade, tornando as boas relações e a confiança entre professor-aluno e aluno-aluno difíceis de se construir no futuro. Isso conduz a que o nosso trabalho seja mais complicado, menos compensador e enormemente frustrante. Começamos a temer ir para a escola e ensinar. Os nossos alunos poderão descortinar o nosso desconforto e, também, ir à escola insatisfeitos.

♦ As crianças vítimas de castigo corporal podem apresentar ferimentos que necessitem de cuidados médicos, deixar lesões para a vida ou causar morte. Mesmo a ameaça do castigo corporal pode provocar danos; por exemplo, se um professor ameaça com o uso da vara e, ao

22 Ibid. 23 Cotton, Katherine. Schoolwide and Classroom Discipline. School Improvement Research Series. Iclose-Up #9. http://www.nwrel.org/scpd/sirs/5/cu9.html [acesso online em 10/6/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 21

lentá-la, ele ou ela, sem querer, tira um olho a um aluno. (Infelizmente, este acidente sucedeu realmente.)

O SIGNIFICADO DE DISCIPLINA

Disciplina é geralmente uma palavra mal utilizada, especialmente quando ela é equiparada erradamente ao castigo ou punição. Para muitos professores a disciplina significa castigo. “Esta criança precisa de disciplina” é o mesmo que “Esta criança precisa de umas palmadas ou umas reguadas.” Isto é ERRADO!

A disciplina é a prática de ensino ou treino de uma pessoa para obedecer a regras ou códigos de conduta tanto para o curto como para o longo prazo.24,25

Enquanto o castigo significa controlar o comportamento do aluno, a disciplina significa desenvolver o comportamento da criança, particularmente nas áreas da conduta. Ela significa ensinar a criança o autocontrolo e a confiança focando a sua atenção naquilo que queremos que a criança aprenda e que a criança seja capaz de o fazer. Ela é a base para orientar as crianças sobre a forma como estar em harmonia com elas próprias e relacionarem-se com outras pessoas. O fim supremo da disciplina é as crianças compreenderem o seu próprio comportamento, tomarem iniciativa, ser responsáveis pelas suas escolhas, e respeitarem-se a si próprias e aos outros. Por outras palavras, elas interiorizam um processo positivo de pensamento e comportamento que perdurará para a vida. Por exemplo, quando pensa numa “pessoa disciplinada,” o que é que lhe vem à cabeça? Um ginasta olímpico, alguém que tenha deixado um mau hábito, como fumar, alguém que mantenha a calma no meio do caos. Todos os três casos requerem autocontrolo, que é o objetivo da disciplina.

A disciplina modela o comportamento das crianças e ajuda-as a aprender o autocontrolo ao mesmo tempo que proporciona incentivo e não consequências dolorosas e sem sentido. Se é pai, ou os seus amigos têm crianças, pense no que se passou no primeiro ou nos dois primeiros anos de vida de uma criança. Como ele ou ela a ensinava a bater as palmas, a andar ou a falar? Você ou seu amigo provavelmente utilizaram técnicas de ensino como mostrar através do exemplo (também conhecida por “modelação”) bem como dando elogios e oportunidades de prática; não usavam gritos, palmadas, insultos ou ameaças.

24 Kersey, Katharine C. Don’t Jime It Out On Your Kids: A Parent’s and Teacher’s Guide to Positive Discipline. http://www.cei.net/~rcox/dontake.html [acesso online em 10/10/2005]

25 Welker, J. Eileene. Make Lemons into Lemonade: Use Positives for Disciplining Children. http://ohioline.osu.edu/hyg-fact/5000/5153.html [acesso online em 10/10/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 22

Este incentivo é um tipo de recompensa que estimula a criança a trabalhar, a aprender e a conseguir coisas. Ele constrói autoestima porque a criança aprende que ele ou ela foi diretamente responsável por ganhar os seus elogios ou outra recompensa. As crianças podem escolher por a ganhar ou não. Isto proporciona-lhes um sentimento de controlo sobre as suas vidas, que é um ingrediente chave para uma saudável autoestima. De igual modo, não proporcionar incentivo pelo mau comportamento – seja ignorando comportamentos de chamada-de-atenção como as birras ou chegar tarde às aulas – com o tempo, a criança aprenderá a autocontrolar-se ao verificar que não consegue obter a atenção que procura conseguir através do seu mau comportamento. Ela aprende que somente obtém atenção quando se comporta calmamente ou chega a horas; ou seja, quando o apanha a “ser bonzinho”.

Voltemos mais uma vez a Ramon e como o seu professor o disciplinou e aprendeu com ele.

Um Estudo de Caso: A Mudança de Ramon26

A nova semana começou quase da mesma forma que a anterior. O Ramon continuava com o seu comportamento disruptivo e desregrado e estava a deixar toda a gente fora de si. Mas eu pensei um pouco sobre o Ramon durante o fim-de-semana. Comecei por pensar sobre como ele me fazia sentir e as emoções que se destacavam eram a raiva e a irritação. De acordo com o livro “Disciplina Cooperativa” a forma como nos sentimos quando um aluno se comporta inadequadamente pode dar-nos pistas sobre os seus objetivos para esse mau comportamento. Uma vez que compreendamos a razão pela qual o aluno faz o que faz, é fácil descobrir caminhos adequados para lidar com ele.27

Sentir raiva é uma pista de que o aluno está à procura de poder, e irritação é uma pista de que o aluno procura atenção. Tal como eu pensei, compreendi que a maior parte do comportamento irritativo do Ramon acontecia com os colegas e adultos presentes de uma forma barulhenta e selvagem quanto possível de forma a obter atenção. Conseguida a nossa atenção, ele procurava o poder recusando abertamente cumprir os nossos pedidos para parar, causando em muitos de nós uma raiva extrema. Percebi então que eu tinha

26 Este estudo de caso é adaptado do diário de Ellen Berg, uma professora de artes da linguagem em Turner Middle School, St. Louis, Missouri, USA. http://www.middleweb.com/msdiaries01/MSDiaryEllenB7.html [acesso online em 10/6/2005]

27 Albert, Linda and Desisto, Pete. Cooperative Discipline. American Guidance Service, 1996.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 23

dado voluntariamente ao Ramon o controlo sobre mim e a minha sala de aula. Não o podia culpar; afinal, eu sou responsável pelas minhas ações. Comecei a perceber que embora eu não o pudesse controlar, eu podia controlar o que fazia e dizia. Estava criado um novo plano e uma nova atitude.

Numa manhã de quarta-feira resolvi que, fosse o que fosse que Ramon fizesse, eu não iria dar-lhe a atenção que o seu mau comportamento exigisse. Iria ignorá-lo. Quando chegou à aula com 10 minutos de atraso, agi como se ele não tivesse entrado. Dei à auxiliar do professor uma folha de papel e pedi-lhe para registar tudo o que Ramon fizesse, mas que não interferisse de modo algum no seu comportamento.

O Ramon fez de tudo exceto pôr-se nu durante o tempo da aula. Correu acima e abaixo pelos corredores, brincou com o cabelo de outro aluno, pôs os óculos do auxiliar, avançou em direção à porta como se preparasse para sair, e até subiu para a parte de trás da cadeira da auxiliar. Não dissemos nada. O resto da turma olhava para mim como se eu estivesse maluco. Eu expliquei-lhes que a nossas tarefas eram demasiado importantes para serem interrompidas por aqueles que não estavam interessados em aprender, de forma que iriamos avançar como de costume. Eu poderia ter beijado cada um daqueles alunos que, embora ocasionalmente se rira para si, ignorou completamente suas travessuras, mesmo quando ele ia tentar meter-se com eles.

O comportamento do Ramon agravou-se. Ao longo do período, o Ramon pedia-me continuamente para ir à casa de banho, para ir ao gabinete do Diretor, e ao gabinete do guarda de segurança. Continuei a ignorá-lo.

Por fim, aconteceu uma coisa interessante. Em vez de sair, sentou-se. No final da aula, estava eu a fazer a chamada para a saída dos alunos, ele veio ter comigo e disse, “Posso sair também, Sra. Berg?” Ele esperou e esperou à medida que eu fazia a chamada dos outros alunos, pedindo para sair, mas não deixou a sala até eu lhe dar permissão.

Eu imaginava o que iria acontecer no dia seguinte. Iria acontecer alguma mudança, ou teria de suportar uma nova rodada do horrível comportamento do Ramon?

Na quinta-feira, o Ramon chegou a horas, com o material completo, papel, lápis e livro. Sentou-se sossegado e levantou a mão para pôr questões. Em todo o restante período, não saiu do seu lugar ou falou sem autorização. Ele estava um pouco contraído, mas eu sei a dificuldade que ele sentirá para ficar quieto. Ele não fez nenhum dos trabalhos propostos, mas penso que o controlo do seu comportamento foi trabalho para o Ramon.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 24

O que é que eu aprendi? Não basta confiar no que “sempre fizemos”. Se eu tivesse continuado com as mesmas estratégias que eu supunha que funcionavam para mim no passado, reconheço que não teria havido mudança no comportamento do Ramon. Sei que alguns professores acreditam que os alunos simplesmente devem agir adequadamente porque nós lhes dizemos para o fazerem, mas a realidade é que muitos não o farão. Nós somos os adultos, e temos a responsabilidade de mudar o que fazemos para satisfazer as necessidades de todos os alunos, e não apenas aqueles que se sentam quietos na carteira, se comportam adequadamente ou compreendem uma ideia logo na primeira apresentação.

O Ramon ensinou-me que eu não posso obrigar ninguém a fazer nada, mas eu posso mudar as condições da minha aula para tentar influenciar as suas decisões. O bibliotecário da escola disse-me uma vez que o verdadeiro ensino começa quando um aluno manifesta problemas.

Também não podemos controlar tudo, e não conseguimos na verdade controlar qualquer outra pessoa, mas devemos ter algum poder na sala de aula. É o poder do que nós, como profissionais e seres humanos, decidimos fazer em resposta a situações difíceis.

A compreensão deste ponto fez toda a diferença no mundo do Ramon.

O seguinte quadro resume algumas caraterísticas positivas da disciplina em oposição ao que define um ambiente orientado pelo castigo ou punição.28 Que caraterísticas utilizou a professora do Ramon para o disciplinar? Quais as caraterísticas comuns à sua sala de aula?

A disciplina é: O castigo é:

Dar ao aluno alternativas positivas Ser dito apenas aquilo que NÃO deve fazer

Reconhecer e recompensar os esforços e o bom comportamento

Reagir asperamente ao mau comportamento

28 From Physical Punishment to Positive Discipline: Alternatives to Physical/Corporal Punishment in Kenya. An Advocacy Document (Draft Two) by ANPPCAN Kenya Chapter, January 2005. http://kenya.ms.dk/articles/advocacy%20document%20ANPPCAN.htm?udskriv+on%5D [acedido online em 9/29/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 25

A disciplina é: O castigo é:

Quando as crianças cumprem as regras porque elas são discutidas e acordadas

Quando as crianças cumprem as regras porque elas se sentem ameaçadas ou são subornadas

Consistente, orientação firme Controlar, envergonhar, ridicularizar

Positiva, respeitadora da criança Negativo e ofensivo para a criança

Não violenta física e verbalmente Violento e agressivo, física e verbalmente

Consequências lógicas que estão diretamente relacionadas com o mau comportamento

Consequências que não estão relacionadas diretamente com o mau comportamento e são ilógicas

Quando as crianças têm que pedir desculpa pelo comportamento que afetou negativamente os outros

Quando as crianças são punidas pelo seu comportamento em vez de lhes mostrarem como podem pedir desculpa

Compreender as capacidades individuais, necessidades, circunstâncias e níveis de desenvolvimento

Inapropriado para os níveis de desenvolvimento, capacidades, circunstâncias e necessidades que não são tidas em conta

Ensinar as crianças a interiorizar a autodisciplina

Ensinar as crianças a portarem-se bem só quando há risco de serem apanhadas a portarem-se mal

Escutar e modelar Repreender constantemente as crianças por pequenas infrações, o que leva a que elas “desliguem” (nos ignorem, deixem de nos ouvir)

Utilizar os erros e oportunidades de aprendizagem

Forçar as crianças a obedecer a regras ilógicas só porque “ eu disse “

Dirigida ao comportamento da criança e nunca à criança – o teu comportamento está errado

Criticar a criança em vez do seu comportamento – és estúpida; fazes mal

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 26

DISCIPLINA POSITIVA NA SALA DE AULA

As crianças precisam que as ensinem a compreender e a seguir regras sociais. Mas não é necessário e pode ser muito prejudicial bater ou de qualquer outra forma ofender a criança. A evidência mostra que tanto as meninas como os rapazes respondem melhor a abordagens positivas incluindo a negociação, o sistema de recompensas, do que a punições verbais, físicas ou emocionais.29

Leia as seguintes cenas de sala de aula e veja se consegue identificar as formas positivas e negativas que o professor utiliza para lidar com o mau comportamento de um aluno.30

Cena 1

Lek entra na sala do 4º ano para dar uma aula de matemática. Quando ela começa a lição os alunos continuam a conversar uns com os outros e não a escutam. Ela diz em voz alta: “Parem todos de falar, por favor. Vamos começar a aula.” Todos se calam exceto Chai. Chai continua a conversar com o colega do lado acerca do jogo de futebol que viu na televisão na noite anterior. Lek grita-lhe: “Chi, porque não te calas? Vai para o canto da sala com a cara virada para a parede. Estás metido num sarilho maior do que pensas. Espera só que a aula acabe!” Ao passar pela sala, o Diretor pergunta: “Queres que te mostre quem manda aqui? ”A chorar, Chai vai para o canto onde fica a temer pelo seu destino e desejando estar longe dali. Talvez amanhã não venha à escola.

Cena 2

Lek dirige-se à sala do 4ºano para dar uma aula de matemática. Ao entrar diz: “Calem-se todos, por favor. Vamos começar a nossa aula de matemática e é preciso que todos ouçam com muita atenção.” Depois de todos se calarem, Lek ouve Chai a conversar com o colega. Lek pergunta: “Quem é que ainda está a conversar? Parece que há aqui alguém que se esqueceu das regras”. O diretor ao passar ouve o comentário de Lek e pergunta, zangado, se há algum problema, porque se for esse o caso ele sabe como resolvê-lo rapidamente. Lek agradece e diz que para já consegue lidar com a situação. Depois do

29 Save the Children How to research the Physical and Emotional Punishment of Children Bangkok Southeast, East Asia and Pacific Region, 2004

30 Esta secção é uma adaptação de um original feito para os pais em: Doescher,S. and Burt, L. You, Your Child, and Positive Discipline. Oregon State UniversityExtension Service, March, 1995. http://eesc.orst.edu/agcomwebfile/edmat/ec1452-e.pdf [acesso online em 10/12/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 27

diretor sair, Lek olha na direção de Chai e pergunta: “Porque será que o diretor disse isto? Tens alguma ideia?” Sentindo-se culpado Chai responde: “Bem, eu continuei a falar depois de a professora pedir a todos para se calarem.” Lek pergunta: “Quando é que podemos falar sem incomodar os outros e os prejudicar de aprender a lição?” Chai responde: “Quando a aula acabar.” Lek anui e pergunta a Chai quanto é 100 a dividir poe 2. Chai responde 50. Lek sorri e diz: “Muito bem”. Chai ficou muito atento durante o resto da aula e só voltou a conversar quando a aula terminou.

Cena 3

Lek dirige-se à sala do 4ºano para dar uma aula de matemática. Ao entrar diz: “Calem-se todos por favor. Vamos começar a nossa aula de matemática e é preciso que todos ouçam com muita atenção.” Depois da turma se calar ouve Chai que continua a conversar com o seu colega. Lek pega numa ficha de registo de infrações e escreve ”Não cumpriu as regras da sala de aula” e pede a Chai que preencha a ficha com o seu nome, nível de ensino, local, professor e data. E diz: “Chai, vou pôr esta ficha em cima da tua carteira; se ainda lá estiver quando a aula acabar podes deitá-la fora. Se continuares a falar sem autorização, vou buscá-la e será entregue no gabinete do Diretor para ele ver.”

No final da aula Chai deitou fora a ficha.

Se as técnicas de disciplina forem negativas podem desencorajar e frustrar os alunos. Se forem positivas, pelo contrário, ajudarão os alunos a adotar e a manter comportamentos corretos.

Nas cenas 1 e 2, podem ver-se situações negativas entre Lek e Chai. Consegue identificá-las?

Resposta: Na Cena 1, tanto Lek como o diretor mostram-se zangados. Eles ameaçam Chai: “Espera só que a aula acabe” e “Queres que te mostre quem manda aqui?” Lek também usa castigos irracionais e sem sentido ao ordenar a Chai que fique de pé ao canto da sala, com a cara virada para a parede. Na Cena 2 Lek inferioriza Chai com sarcasmo: “Parece que há por aqui alguém que se esqueceu das regras da sala de aula.” Como acha que Chai se sente depois das reações de Lek e do diretor?

As Cenas 2 e 3 contudo, contêm exemplos de situações positivas entre Lek e Chai.

Na cena 2, Lek entra na sala e pede um comportamento específico (precisam de ouvir com muita atenção)

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 28

Como resposta ao comentário do diretor, ela pergunta, “Por que razão teria o diretor dito isso?” Esta pergunta ajuda Chai a pensar sobre a atitude do diretor e como o seu comportamento pode ter feito zangar o diretor, Lek e os seus colegas. Lek também reforça o seu comportamento ao dar-lhe uma oportunidade de responder corretamente a uma questão simples de matemática, elogia-o e sorri. O problema tinha sido o comportamento e não propriamente o aluno.

Na Cena 3, Lek é simpática, embora firme, ao lidar com o mau comportamento de Chai. Dá-lhe a possibilidade de escolher as suas opções de comportamento, o que dá a Chai oportunidade de ser responsável pelo seu próprio comportamento e pelas suas consequências.

Sete Princípios para uma Disciplina Positiva da Criança

1. Respeite a dignidade da criança.

2. Desenvolva o comportamento pró-social, a autodisciplina e o caráter.

3. Valorize a participação ativa da criança.

4. Respeite as necessidades do desenvolvimento da criança e a sua qualidade de vida.

5. Respeite a motivação da criança e a sua visão da vida.

6. Assegure a imparcialidade (equidade e não-discriminização) e a justiça.

7. Promova a solidariedade.

De: Power, F. Clark and Hart, Stuart N. “The Way Forward to Constructive Child Discipline,” in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward to Constructive Child Discipline. Paris: Publicação UNESCO, 2005.

Passos para a Disciplina Positiva

Enquanto o castigo é um ato singular, a disciplina positiva é um processo de quatro fases que reconhece e recompensa o comportamento adequado da seguinte forma:31

1. O comportamento correto é explicitado: “ Calem-se todos agora, por favor.”

31 Adaptado de: Positive Discipline: An Approach and a Definition. http://www.brainsarefun.com/Posdis.html [acesso online em 12/2/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 29

2. São dadas razões claras: “Nós vamos começar a nossa aula de

matemática e é preciso que todos prestem muita atenção”. Isto significa que ao fazerem imediatamente silêncio estão a mostrar respeito pelos outros. É um bom exemplo tratar os outros como gostaríamos que os outros nos tratassem.

3. O reconhecimento é exigido: ”Veem como estar calado é tão importante?” Ou no caso de Chai, “Quando é que podemos conversar sem prejudicar os outros nem a sua oportunidade de aprender?”

4. O comportamento correto é reforçado: Contato visual, um aceno, um sorriso, cinco minutos de recreio extra no final do dia, pontos de crédito extra, direito a uma menção de sucesso perante a turma (o reconhecimento social é a melhor recompensa). Quando se usam recompensas, estas devem ser sempre imediatas, pequenas mas gratificantes.

Este procedimento é eficaz para crianças individualmente. Para quem trabalha com turmas grandes, também pode ser eficaz com grupos de crianças. O “truque” é fazer sentir aos alunos que eles estão numa equipa “vencedora” (a turma no seu todo) e elogiar os esforços feitos por cada aluno para ser um bom membro da equipa.

Lembrem-se: Todas as vezes que encontre os alunos a atuar de forma correta, recompense-os imediatamente. É esta a essência da disciplina positiva.

Nota: A disciplina positiva pode falhar se:

1. O aluno, ou a turma toda, não for recompensado de forma suficientemente imediata.

2. A ênfase for posta mais nas tarefas do que nos comportamentos. Por exemplo, “É bom que tenhas calado a boca e parado de falar” por oposição a “É maravilhoso que tenhas tido consideração pelos outros e te tenhas calado logo.”

3. A ênfase continuar a estar no que o aluno está a fazer mal, em vez de estar naquilo que faz corretamente.

Quando usar a disciplina positiva, procure não esquecer o rácio 4:1. Procure quatro atitudes corretas por cada atitude incorreta. Seja consistente. Ao

Disciplina Positiva na Sala de Aula I

usar este rácio de forma consistente mostra aos seus alunos que está mesmo interessado em vê-los atuar corretamente e a premiar o seu bom comportamento de imediato.diário, e no final de cada aula ou dia, recorde quantas vezes viu os seus alunos a portarem-se bem comparando com as vezes em que se portaram mal. Pode também pedir a um aluno ou a um professor ajuda para o o elogio se torne rotina e o criticismo se torne raro.

Os professores que praticam disciplina positiva, acreditam nas capacidades dos seus alunos e transmitem afeto e respeito pelos alunos. Quando os professores estão dispostos a observencorajar comportamentos positivos, estão a ajudáresponsáveis pelo seu comportamento, e reduzem as probabilidades de ocorrência de comportamentos desadequados.

Atividade de Reflexão: Aprender e AplicaPositivas

Todos os dias surgem na escola oportunidades para professores e alunos se relacionarem de forma positiva. Pense numa situação recente em que se relacionou bem com um aluno seu, talvez num momento de ensino individual. Descreva a sua experiência no espaço abaixo. Pode usar essa informação para trabalhar melhor com outos alunos e evitar o uso de disciplina negativa.

O que fez o seu aluno?

O que é que disse ou fez?

32 Ibid.

sitiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem

usar este rácio de forma consistente mostra aos seus alunos que está mesmo los atuar corretamente e a premiar o seu bom

comportamento de imediato.32 Para ver se está a atingir este rácio, faça um diário, e no final de cada aula ou dia, recorde quantas vezes viu os seus alunos

se bem comparando com as vezes em que se portaram mal. Pode também pedir a um aluno ou a um professor ajuda para o monitorizar até que o elogio se torne rotina e o criticismo se torne raro.

Os professores que praticam disciplina positiva, acreditam nas capacidades dos seus alunos e transmitem afeto e respeito pelos alunos. Quando os professores estão dispostos a observar os alunos e a reagir de forma a encorajar comportamentos positivos, estão a ajudá-los a tornaremresponsáveis pelo seu comportamento, e reduzem as probabilidades de ocorrência de comportamentos desadequados.

Atividade de Reflexão: Aprender e Aplica

Todos os dias surgem na escola oportunidades para professores e alunos se relacionarem de forma positiva. Pense numa situação recente em que se relacionou bem com um aluno seu, talvez num momento de ensino individual.

riência no espaço abaixo. Pode usar essa informação para trabalhar melhor com outos alunos e evitar o uso de disciplina negativa.

O que é que disse ou fez?

nclusiva e Amiga da Aprendizagem 30

usar este rácio de forma consistente mostra aos seus alunos que está mesmo los atuar corretamente e a premiar o seu bom

Para ver se está a atingir este rácio, faça um diário, e no final de cada aula ou dia, recorde quantas vezes viu os seus alunos

se bem comparando com as vezes em que se portaram mal. Pode monitorizar até que

Os professores que praticam disciplina positiva, acreditam nas capacidades dos seus alunos e transmitem afeto e respeito pelos alunos. Quando os

ar os alunos e a reagir de forma a los a tornarem-se

responsáveis pelo seu comportamento, e reduzem as probabilidades de

Atividade de Reflexão: Aprender e Aplicar Lições

Todos os dias surgem na escola oportunidades para professores e alunos se relacionarem de forma positiva. Pense numa situação recente em que se relacionou bem com um aluno seu, talvez num momento de ensino individual.

riência no espaço abaixo. Pode usar essa informação para trabalhar melhor com outos alunos e evitar o uso de disciplina negativa.

Disciplina Positiva na Sala de Aula I

Como reagiu o aluno?

Como se sentiu?

Como pode usar esta experiência com outras crianças?

EVITAR O DILEMA DA DISCIPLINA

Esta secção tem vindo a abordar o dilema da disciplina, que reside em decidir se devemos controlar o comportamento do aluno para o nosso benefício ou para melhorar o comportamento da criança, no seu próprio interesse. Este dilema reside na ideia errada de coisa, que as ações empreendidas para cada um deles devem ser as mesmas e que os resultados serão os mesmos. Para evitar este dilema e esclarecer a confusão, temos vindo a aprender a distinguir entre castigo e dia natureza e consequências do castigo versus disciplina positiva e o processo da disciplina positiva. Esperamos que tenhadesenvolvido algumas ideias úteis e compreendido como as nossas atitudes disciplinares afetam o comportamento das crianças e encorajam (ou prejudicam) o seu desenvolvimento a longo prazo. A seguir está um último exercício para testar os seus conhecimentos sobre a diferença entre disciplina positiva e negativa.

Atividade: Disciplina Positiva

No quadro seguinte, quais são as ações disciplinares positivas e quais são as negativas? Marque um (

sitiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem

experiência com outras crianças?

EVITAR O DILEMA DA DISCIPLINA

Esta secção tem vindo a abordar o dilema da disciplina, que reside em decidir se devemos controlar o comportamento do aluno para o nosso benefício ou para melhorar o comportamento da criança, no seu próprio interesse. Este dilema reside na ideia errada de que disciplina e castigo significam a mesma coisa, que as ações empreendidas para cada um deles devem ser as mesmas e que os resultados serão os mesmos. Para evitar este dilema e esclarecer a confusão, temos vindo a aprender a distinguir entre castigo e dia natureza e consequências do castigo versus disciplina positiva e o processo

a positiva. Esperamos que tenha descoberto muitas coisas novas, desenvolvido algumas ideias úteis e compreendido como as nossas atitudes

afetam o comportamento das crianças e encorajam (ou prejudicam) o seu desenvolvimento a longo prazo. A seguir está um último exercício para testar os seus conhecimentos sobre a diferença entre disciplina positiva e negativa.

Atividade: Disciplina Positiva ou Negativa

seguinte, quais são as ações disciplinares positivas e quais são as negativas? Marque um (√ ) na coluna apropriada.

nclusiva e Amiga da Aprendizagem 31

Esta secção tem vindo a abordar o dilema da disciplina, que reside em decidir se devemos controlar o comportamento do aluno para o nosso benefício ou para melhorar o comportamento da criança, no seu próprio interesse. Este

que disciplina e castigo significam a mesma coisa, que as ações empreendidas para cada um deles devem ser as mesmas e que os resultados serão os mesmos. Para evitar este dilema e esclarecer a confusão, temos vindo a aprender a distinguir entre castigo e disciplina, qual a natureza e consequências do castigo versus disciplina positiva e o processo

descoberto muitas coisas novas, desenvolvido algumas ideias úteis e compreendido como as nossas atitudes

afetam o comportamento das crianças e encorajam (ou prejudicam) o seu desenvolvimento a longo prazo. A seguir está um último exercício para testar os seus conhecimentos sobre a diferença entre

seguinte, quais são as ações disciplinares positivas e quais são as

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 32

A seguir assinale na última coluna cada uma das ações que já usou ou podia ter usado, para corrigir o mau comportamento de uma criança. Seja sincero!

Ação Positiva (√)

Negativa (√)

Já a usou? Sim/Não

1. Chamar a atenção dos alunos antes de começar a aula

2. Usar instruções diretas (dizer-lhes exatamente o que vai acontecer)

3. Fazer suposições

4. Fazer acusações sem ter provas

5. Levantar-se e andar pela sala

6. Usar a força física

7. Dar ordens

8. Agir da mesma forma que quer que as crianças atuem (modelar)

9. Generalizar a partir da atuação do aluno

10. Comparar os alunos em público

11. Enriquecer o ambiente da sua sala

12. Antecipar problemas

13. Insistir em ter razão

14. Estabelecer e reforçar regras claras e consistentes.

Respostas: As ações número 1,2,5,8,11,12 e 14 são positivas.33

33 McDaniel, Thomas R. “A Primer on Classroom Discipline: Principles Old and New.” Phi Delta Kappan, September 1986. Resumo disponível em http://www.honorlevel.com/techniques.xml [acesso online em 10/6/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 33

As ações número 3,4, 6, 7,9,10 e 13 são negativas.34 Qual foi a sua pontuação? Quantos métodos positivos e negativos já usou?

34 Albert, Linda. A Teacher’s Guide to Cooperative Discipline. Circle Pines, Minnesota:AGS, 1989

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 34

Construindo relações positivas

entre professor e aluno

O que vai aprender:

♦ As Bases da Relação Professor-aluno

♦ Porque se Comportam Assim as Crianças

♦ Porque se Comportam Mal

♦ Aprender sobre os Alunos a Partir de Dentro

♦ Compreender as Vidas dos Seus Alunos

♦ Conhecer as Famílias dos Seus Alunos

♦ Comunicação Pais-professor

♦ Estratégias de Encorajamento

AS BASES DA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO

Os professores, que praticam a disciplina positiva, respeitam, estimulam e apoiam os seus alunos. Eles compreendem os motivos que levam a criança a comportar-se de determinada maneira, e a forma como a criança se vê a si própria ou vê o professor e que pode originar o mau comportamento. Eles também têm empatia com as competências da criança e com a sua situação na vida. As expectativas do professor são realistas, tomando a criança por aquilo que é de facto e não pelo que deveria ser. O professor compreende que o mau comportamento é uma ocorrência que permite uma aprendizagem construtiva, tanto para o aluno como para o seu professor e que é parte natural e importante do desenvolvimento da criança e não uma ameaça à autoridade do professor.

Quando se constrói uma relação positiva com base na compreensão e na empatia, os alunos acabam por confiar nos professores e por valorizar a sua aprovação. Quando os alunos reagem à natureza positiva da relação e da

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 35

disciplina consistente, a incidência do mau comportamento diminui, e a qualidade da relação melhora ainda mais. Para este objetivo os melhores professores são os que são bons modelos e os que as crianças apreciam o suficiente para quererem imitar e agradar.

PORQUE SE COMPORTAM ASSIM AS CRIANÇAS

Fazer escolhas

Miss Samina, professora de ciências do 4º ano, estava sempre a ter problemas com Hari. Estavam constantemente em conflito. Sempre que Miss Samina queria que Hari fizesse alguma coisa – como vir para a aula a horas ou entregar os trabalhos de casa diariamente – Hari não o fazia. O que ela não tinha percebido e que outro professor lhe fez notar, é que Miss Samina formulava os pedidos ao Hari como perguntas; por exemplo, “Hari, poderias vir a horas para a aula?” e ele dizia sempre “Não!” Ninguém e nenhuma situação podem fazer uma criança comportar-se de determinada maneira. Para Miss Samina, ela estava a convidar o Hari a adotar um comportamento correto, mas ele rejeitava sempre o convite. Porquê? O comportamento assenta em escolhas, e os alunos escolhem o comportamento que querem adotar. Não se pode obrigar, é por isso que o castigo não funciona a longo prazo. Contudo, como a professora de Ramon aprendeu na secção anterior, você pode influenciar as decisões de um aluno sobre o seu comportamento, mas a mudança deve começar por si, o professor. Quanto à professora de Ramon, ela precisava aprender como interagir com Ramon – e outros alunos seus também – de forma que ele escolhesse o comportamento adequado e obedecesse às regras da sala de aula. Você enfrenta o mesmo desafio. O seu papel é identificar a razão das más escolhas e desenvolver estratégias para ajudar o aluno a fazer melhores escolhas no que respeita ao seu comportamento.

Tal como aprendemos na primeira secção deste documento, as crianças aprendem - e comportam-se – em resultado de fatores hereditários, do meio onde vivem e das suas próprias necessidades pessoais e psicológicas. Não podemos alterar a sua hereditariedade e pouco controlo podemos exercer sobre o seu ambiente, sobretudo se não trabalharmos bem, ou não trabalharmos de todo, com os pais e os líderes da comunidade.

Contudo, ao compreendermos que cada aluno faz as suas escolhas sobre a forma como se comporta, estamos munidos de estratégias e de alavancagem para os influenciar. Lembre-se: O comportamento é compreensível e intencional. Os nossos alunos fazem o que fazem com um propósito, por muito

Disciplina Positiva na Sala de Aula I

pouca consciência disso que tenham. Quando conseguir começar a ver o mundo – ou apenas a sua aula racionalidade, confiança e eficácia.

Atividade: O mesmo aluno, diferente comportamento

Escolha um aluno da sua aula cujo comportamento o preocupe e lhe cause frustração. Observe-o com regularidade durante uma semana, em especial fora da sala de aula. Ele ou ela comportaaulas, com outros professores ou com outcomportamento é bastante diferente noutras situações na escola, porque acha que esse aluno escolhe comportaros professores que não tenham problemas com esse aluno. O que estão eles a fazer de diferente? Estará você a formular os seus pedidos como perguntas (como a Samina)? CastigouHaverá outros professores que lhe possibilitam escolhas e lhe permitem tornar-se mais responsável pelo seu comportamento?

Se acreditamos que cada aluno está a fazer escolhas acerca o seu comportamento, devemos também aplicar esta abordagem às nossas reações na aula e em outros contactos com alunos. Devemos interrogarmoas escolhas que estamos a fazer e sobre as razõeter muito cuidado com a forma como nos expressamos, tanto no gesto como na voz.

A Necessidade de Pertença

A finalidade última do comportamento dos alunos é satisfazer a sua necessidade de pertença

Este desejo de pertença é umacrianças e adultos. Cada um de nós luta, esforçaum lugar significativo, um lugar de pertença. Na nossa busca selecionamos as crenças, os sentimentos e comportamentos que nós consideramos significativos. A maioria dos alunos passa várias horas por dia na escola e portanto a sua capacidade de encontrar o seu lugar no grupo turma e na escola no seu todo, é da maior importância. Além de que qualquer que seja o

35 Democratic Approaches to Classroom Management. http://www.educ.sfu.ca/courses/educ326/chapter3.htm [

sitiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem

pouca consciência disso que tenham. Quando conseguir começar a ver o ou apenas a sua aula - através do seu olhar, poderá reagir com

racionalidade, confiança e eficácia.

: O mesmo aluno, diferente comportamento

Escolha um aluno da sua aula cujo comportamento o preocupe e lhe cause o com regularidade durante uma semana, em especial

fora da sala de aula. Ele ou ela comporta-se da mesma maneira nas outras aulas, com outros professores ou com outros alunos? Se o seu comportamento é bastante diferente noutras situações na escola, porque acha que esse aluno escolhe comportar-se dessa forma na sua aula? Consulte os professores que não tenham problemas com esse aluno. O que estão eles a

ente? Estará você a formular os seus pedidos como perguntas (como a Samina)? Castigou-o de tal forma que ele já não quer vir à aula? Haverá outros professores que lhe possibilitam escolhas e lhe permitem

se mais responsável pelo seu comportamento?

e acreditamos que cada aluno está a fazer escolhas acerca o seu comportamento, devemos também aplicar esta abordagem às nossas reações na aula e em outros contactos com alunos. Devemos interrogarmoas escolhas que estamos a fazer e sobre as razões dessas escolhas e depois ter muito cuidado com a forma como nos expressamos, tanto no gesto como

A Necessidade de Pertença

A finalidade última do comportamento dos alunos é satisfazer a sua necessidade de pertença.35

Este desejo de pertença é uma necessidade fundamental, partilhada por crianças e adultos. Cada um de nós luta, esforça-se por encontrar e manter um lugar significativo, um lugar de pertença. Na nossa busca selecionamos as crenças, os sentimentos e comportamentos que nós consideramos ignificativos. A maioria dos alunos passa várias horas por dia na escola e portanto a sua capacidade de encontrar o seu lugar no grupo turma e na escola no seu todo, é da maior importância. Além de que qualquer que seja o

Democratic Approaches to Classroom Management. http://www.educ.sfu.ca/courses/educ326/chapter3.htm [acesso online em

nclusiva e Amiga da Aprendizagem 36

pouca consciência disso que tenham. Quando conseguir começar a ver o através do seu olhar, poderá reagir com

: O mesmo aluno, diferente comportamento

Escolha um aluno da sua aula cujo comportamento o preocupe e lhe cause o com regularidade durante uma semana, em especial

se da mesma maneira nas outras ros alunos? Se o seu

comportamento é bastante diferente noutras situações na escola, porque se dessa forma na sua aula? Consulte

os professores que não tenham problemas com esse aluno. O que estão eles a ente? Estará você a formular os seus pedidos como perguntas

o de tal forma que ele já não quer vir à aula? Haverá outros professores que lhe possibilitam escolhas e lhe permitem

e acreditamos que cada aluno está a fazer escolhas acerca o seu comportamento, devemos também aplicar esta abordagem às nossas reações na aula e em outros contactos com alunos. Devemos interrogarmo-nos sobre

s dessas escolhas e depois ter muito cuidado com a forma como nos expressamos, tanto no gesto como

A finalidade última do comportamento dos alunos é satisfazer a sua

necessidade fundamental, partilhada por se por encontrar e manter

um lugar significativo, um lugar de pertença. Na nossa busca selecionamos as crenças, os sentimentos e comportamentos que nós consideramos ignificativos. A maioria dos alunos passa várias horas por dia na escola e portanto a sua capacidade de encontrar o seu lugar no grupo turma e na escola no seu todo, é da maior importância. Além de que qualquer que seja o

acesso online em 10/6/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 37

método escolhido pelo aluno para conseguir alcançar o seu objetivo de pertença – através do bom comportamento ou do mau comportamento – esse método é escolhido cedo na vida e torna-se no estilo que vai caracterizar essa pessoa. É por isso que você é um ator muito importante na ajuda a cada criança para que escolha um método que seja socialmente aceitável. Ele vai permanecer toda a vida.

Os alunos precisam de satisfazer três C’s para experimentarem um sentimento de pertença.36

♦ Precisam de se sentir CAPAZES de cumprir tarefas de forma a corresponder às necessidades da aula e da escola.

♦ Precisam de sentir que CONECTAM, se relacionam eficazmente com os professores e os colegas.

♦ Precisam de saber que CONTRIBUEM para o grupo de forma significativa.

Os três fatores que influenciam a capacidade dos alunos de satisfazer os três C’s, e que exigem ação da sua parte são:

1. A qualidade da relação professor-aluno, baseada na confiança, respeito mútuo e compreensão (não medo).

2. A dinâmica de um ambiente de sala de aula virado para o sucesso (por exemplo, em que todas as crianças sentem que estão incluídas, que são valorizadas e que podem trabalhar em conjunto de forma cooperativa e com sucesso).37

3. A estruturação apropriada da sala de aula (como é gerida, como é feita a sua gestão, tema da próxima secção deste documento).

Ao encontrar formas de cumprir estes três C’s, poderá satisfazer o sentimento de pertença do aluno e assim evitar o mau comportamento que pode surgir do seu desejo de satisfazer essa necessidade. Também atuará bem ao motivar os alunos bem comportados ou mais passivos, para que participem ativamente na sua aula. Em qualquer dos casos uma das

36 Albert, Linda and Desisto, Pete. Cooperative Discipline. American Guidance Service, 1996. 37 Muitas técnicas para melhorar o clima da sua sala de aula estão incluídos em: Embracing Diversity: Toolkit for Creating Inclusive, Learning-Friendly Environments, Bangkok: UNESCO, 2004. http://www2.unescobkk.org/ips/ebooks/documents/Embracing_Diversity/index.htm

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 38

ferramentas mais fortes que tem é o encorajamento, sem o qual os alunos não podem desenvolver as ferramentas de sucesso e alcançar o seu sentido de pertença.

PORQUE SE PORTAM MAL AS CRIANÇAS?

Não se preocupe; não é intencionalmente que os seus alunos se portam mal. De fato, em geral, existe sempre uma razão que leva os alunos a portarem-se mal. Algumas das razões que se acredita que contribuem para o mau comportamento são:

♦ A tarefa ser demasiado fácil ou demasiado difícil para o aluno.

♦ A tarefa não ser interessante e o aluno aborrece-se.

♦ Os métodos de ensino podem não estar adequados ao estilo de aprendizagem do aluno.

♦ O aluno pode não estar preparado.

♦ As expectativas não serem claras ou razoáveis.

♦ Os alunos terem fracas competências sociais, não conseguirem comunicar bem nem com o professor nem com os outros, ou terem uma baixa autoestima.

Todas estas razões podem levar a que o aluno se sinta desencorajado, e alunos desencorajados são alunos malcomportados. Assim, eles procuram alcançar a pertença através do mau comportamento.

A somar às razões já apontadas, também se acredita que as crianças se portam mal para atingirem quatro objetivos, nomeadamente:

1. Atenção

2. Poder

3. Vingança

4. Evitar o fracasso ou incapacidade38

38 Dreikurs, Rudolf. Children: The Challenge. New York, NY: Duell, Sloan, and Pearce, 1964. Dreikurs, Rudolf and Soltz, Vicki. Children: The Challenge. Toronto: McClelland& Stewart,

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 39

Pense novamente num aluno cujo comportamento o preocupa ou frustra. Para saber qual a razão que está por trás desse comportamento, pergunte a si próprio como se sente quando esse aluno se porta mal. Por exemplo, se fica aborrecido quando o aluno desobedece, o aluno está provavelmente a pedir atenção (como Ramon). Fica zangado? Então o poder é o objetivo último do aluno. Sente-se magoado pelo comportamento do aluno? Então o objetivo é a vingança. Frustrado a ponto de querer desistir de ser professor? Então o aluno acredita que não se adequa e comporta-se mal para confirmar esse sentimento. Vejamos cada um destes objetivos em pormenor e o que lhe podemos fazer.39

Chamar a atenção

Todas as crianças saudáveis exigem atenção e muito do seu mau comportamento é devido à necessidade que a criança tem de chamar a atenção. Um objetivo importante do ensino é dar aos alunos a atenção de que precisam para desenvolverem uma autoestima saudável. Contudo alguns alunos utilizam o mau comportamento para terem uma atenção extra. Eles querem ser o centro das atenções e distraem constantemente o professor e os colegas para terem audiência. Eles precisam de confirmar de alguma forma a sua existência e importância:” Hei! Olhem para mim! Estou aqui e sou importante!” Se os alunos não conseguem obter a atenção através da realização e cooperação, então vão ter que a obter de qualquer outra forma. Podem perturbar a aula, mas eles sabem que vão conseguir o que precisam.

Não dar atenção nestas situações, em geral faz cessar o mau comportamento, como no caso de Ramon. Todavia, se o professor tiver constantemente que lidar com este tipo de comportamento, ignorar pode não ser suficiente. De facto ser ignorado pode mesmo ser à partida, a causa do problema.

Com os alunos que pedem muita atenção desnecessária, pode cair na tentação de ralhar, fazer chantagem ou usar outras técnicas de disciplina negativa. Mas se você se lembrar que o objetivo do aluno é chamar a atenção, é fácil perceber que o ralhar ou chantagear só encoraja esse mau comportamento. Na ideia da criança, ter a atenção de um professor zangado é melhor do que não ter atenção nenhuma.

1987. Albert, Linda and Desisto, Pete. Cooperative Discipline. American Guidance Service, 1996.

39 As quatro seções seguintes sobre atenção, poder, vingança e fracasso são adaptadas de Dealing with Behaviour. http://www.kidsgrowth.com/resources/articledetail.cfm?id=119 [acesso online em 10/12/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 40

Se reparar apenas no comportamento desadequado do aluno, o aluno vai comportar-se mal para obter a sua atenção.

Segue-se uma lista de ações disciplinares positivas que pode ter como guia para os alunos cujo mau comportamento é chamar a atenção.

♦ Escolha uma ocasião em que eles estejam a portar-se bem; elogie-os quando não estiverem a chamar a atenção ou a portarem-se mal.

♦ Ignore o comportamento do aluno sempre que for possível e dê ao aluno atenção positiva em momentos agradáveis.

♦ Ensine-os a pedir atenção (por exemplo, faça cartões “Dê-me atenção, por favor” que eles vão levantar quando tiverem uma pergunta para fazer).

♦ Lance um olhar severo, duro, mas não fale.

♦ Fique perto em vez de se afastar (não há necessidade de usar comportamentos de chamada de atenção se estiver ao pé deles).

♦ Alvo–parar-atuar; ou seja, dirija-se ao aluno pelo nome, identifique o comportamento a banir, diga ao aluno o que se espera que ele faça nesse momento, deixe-o decidir sobre o que vai fazer a seguir e as suas consequências; por exemplo, leia a Cena 3 entre Lek e Chai no capítulo anterior.

♦ Faça qualquer coisa de inesperado, como apagar as luzes, tocar um som musical, baixar o tom de voz, alterar a voz, falar virado para a parede.

♦ Distraia o aluno fazendo uma pergunta direta, ou pedindo um favor, oferecendo escolhas, mudando de atividade.

O princípio geral de resposta para o aluno que procura chamar a atenção é:

Nunca dê atenção a pedido do aluno, mesmo que seja para um comportamento útil. Ajude os alunos a motivarem-se. Dê-lhes atenção de formas que eles não estão à espera. Apanhe-os a serem “bons”.

Poder

As crianças estão constantemente a tentar descobrir quanto poder possuem; Ramon é disto um bom exemplo. Alguns alunos acham que só são parte significativa da turma quando são eles a comandar. Os alunos que procuram o poder acham que só são importantes enquanto desafiam a autoridade do professor, resistem às regras e não seguem as instruções. Eles acreditam

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 41

erradamente, que só se integram na turma quando têm o controlo. Eles vão desafiá-lo para ver até onde é que pode ser empurrado, ou farão apenas o suficiente para o apaziguar, se sentirem que você não quer continuar a luta.

A nossa resposta mais instintiva nestas lutas pelo poder, é sentir que nos provocam e zangarmo-nos. Temos a tentação de acabar de vez com estas lutas usando alguma forma de castigo corporal, mas isso só vai permitir uma breve interrupção. Durante as lutas pelo poder, você precisa de agir de forma benévola, mas firme. Conversar não vai resolver nada e apenas servirá para alimentar a luta pelo poder. Você precisa decidir o que vai fazer, e não o que é que precisa que o aluno faça. O princípio geral para lidar com os alunos que querem ter poder, é sair do conflito. Lembre-se: são precisos dois para que haja luta. Mantenha a calma, dê oportunidades, e deixe que ocorram as consequências do comportamento do aluno. Pode até ganhar a sua cooperação se pedir a sua ajuda. Por exemplo: ”Ok, não queres vir para a aula a horas. Eu compreendo. Mas poderias, por favor, ajudar-me a fazer a chamada dos alunos à entrada da aula?” Em vez de procurar ter poder sobre o professor, o aluno é posto numa posição de responsabilidade e é-lhe atribuído um poder legítimo.

Vingança

Lidar com o objetivo de vingança requer paciência. Um aluno, que o ataca a si e a outros, sente que foi agredido (quer essa agressão seja real ou imaginária), e tem que se desforrar. Sentem-se mal tratados, vencidos e infelizes e por isso consciente ou inconscientemente, procuram vingar-se. A vingança pode ser feita verbalmente, fisicamente ou passivamente, pela inatividade. Pode ser completamente silenciosa, feita através de olhares e gestos de ódio. O aluno pode também vingar-se de forma indireta, provocando outros alunos ou escrevendo na carteira.

Quando se permite que um aluno se vingue, estabelece-se um ciclo doloroso de relacionamento, em que se magoa e se é magoado. Lembre-se que o aluno que procura vingança está perturbado e profundamente desencorajado. Para quebrar o padrão da vingança, deverá evitar sentir-se magoado, e não deverá nunca retaliar. Não vá em busca da sua própria vingança. Em vez disso procure construir uma relação de confiança e afeto com o aluno e ao mesmo tempo invista na sua autoestima. Isto pode ser feito facilmente se colocar o aluno em situações em que não pode, não vai falhar. Quando o aluno se tem em boa conta, raramente recorre ao mau comportamento como forma de vingança. Ensine ao aluno e a todos os seus alunos, a expressar corretamente os seus sentimentos. Em vez de se vingar por ter sido magoado física ou emocionalmente, ensine as crianças a “deitarem cá para fora” o que sentem, a

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 42

dizerem uns aos outros como se sentiram magoados, tentar determinar a causa e como evitá-la no futuro.

Evitar o fracasso ou inadequação

Alguns alunos temem o fracasso ou sentem que não conseguem corresponder às suas próprias expectativas, às dos seus pais ou dos seus professores Este sentimento de inadequação é um escape para a criança desencorajada. Por outras palavras, uma vez que se sentem mal, comportam-se mal. Não vão tentar proceder bem se pensarem que são estúpidos. É muito mais fácil desistir do que tentar e voltar a falhar. Para compensar seu sentimento de inadequação podem optar por atitudes de demissão que os fazem parecer incapazes: ”Eu não consigo fazer estes problemas de matemática”. “Eu não sou bom em ciências”. “Este livro é demasiado difícil para mim.” Táticas de disciplina negativa, tais como ridicularizar ou ser sarcástico, (“Não és capaz de fazer melhor do que isso!”), fazem estes alunos sentirem-se ainda mais desvalorizados. Em alternativa, os alunos que se sentem incapazes, impopulares ou cruéis podem tornar-se gabarolas, fanfarrões ou praticantes de bullying. Podem tornar-se ameaçadores, agressores, para que os outros alunos sintam medo.

Se os seus alunos se sentem incapazes, você tem uma tarefa difícil pela frente. Comece por onde eles estão (e não onde era esperado que estivessem), desenvolva expectativas razoáveis, elimine todo o criticismo ao seu trabalho, encoraje os esforços, mesmo que ligeiros, e, sobretudo não mostre ter pena. Você tem que lhes restaurar a confiança em si próprios e encorajá-los, elogiando todo e qualquer sucesso que consigam, por mais pequeno que seja. Intencionalmente, arranje maneira de eles terem sucesso em tarefas fáceis e encontre oportunidades de os elogiar pelo seu comportamento e esforços positivos. Lembre-se, as crianças não são adultos em miniatura com falta de discernimento, eles erram porque estão permanentemente a aprender.

APRENDER SOBRE OS SEUS ALUNOS

Construir uma relação de confiança e afeto com os seus alunos, uma relação que promova o bom comportamento e previna o mau comportamento pode ser exigente, difícil, mas também tem as suas compensações, nomeadamente tornar o seu ensino mais agradável e melhorar a aprendizagem dos alunos. Os seus sucessos refletem a forma como você está a desempenhar bem a sua tarefa e como os seus alunos o veem como um modelo.

Disciplina Positiva na Sala de Aula I

Quer tenha muitas crianças na sua aula ou um número mais fácil de controlar, o desafio é saber o mais possível acerca de cada um dos seus alunos. Para os que trabalham com turmas grandes, dirija inicialmenteaquele pequeno grupo que pode precisar de mais atenção, quer porque se estão a portar mal, querpessoal os coloca em risco de terem mau comportamento. Dirija os seus esforços no sentido de comprcomo nos fatores externos seu comportamento.

Lembre-se: Cada aluno é um indivíduo. Cada aluno traz consigo uma história diferente, uma maneira diferente de reagir e o mundo e um sonho diferente para o futuro. Ao disponibilizar o seu tempo para conhecer os alunos enquanto indivíduos e as suas famílias, está a mostrar-lhe que se preocupa com eles e que respeita a sua individualidade.

Num ambiente em que há respeito, todo os alunos se sentem seguros e valorizados. O professor tem um relacionamento amigável e aberto com os alunos, mas o professor é sempre o adulto. Prestar uma atenção afetuosa ao trabalho do aluno revela preocupação e respeito. Em vez de “Bom trabalho,” diga ao aluno por que é que o trabalho dele está bom.

Um professor precisa tanto de conhecer os interesses e sonhos dos alunos como o que aprendem e são capazes de fazer. É importante que desenvolva algumas atividades para obte

Aqui estão três atividades que os professores usaram com sucesso.Lembra-se de mais algumas?

Atividade: Quem sou eu?

No início do ano letivo, peça aos seus alunos para preencherem uma ficha semelhante à que aqui aprecom os alunos, para fazer planos de lição e criar atividades de aprendizagem. No final do primeiro período, peça para preencherem de novo a ficha e veja se há mudanças, particularmente no que respeita aquilo em

40 Classroom Management. Rapport http://www.temple.edu/CETP/temple_teach/cm

sitiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem

Quer tenha muitas crianças na sua aula ou um número mais fácil de controlar, é saber o mais possível acerca de cada um dos seus alunos. Para os lham com turmas grandes, dirija inicialmente os seus es

aquele pequeno grupo que pode precisar de mais atenção, quer porque se mal, quer porque se suspeita que a sua situação familiar ou

pessoal os coloca em risco de terem mau comportamento. Dirija os seus esforços no sentido de compreender como eles se veem a si mesmos assim como nos fatores externos – possivelmente familiares - que podem afetar o

se: Cada aluno é um indivíduo. Cada aluno traz consigo uma história diferente, uma maneira diferente de reagir e de aprender sobre o mundo e um sonho diferente para o futuro. Ao disponibilizar o seu tempo para conhecer os alunos enquanto indivíduos e as suas famílias,

lhe que se preocupa com eles e que respeita a sua

e há respeito, todo os alunos se sentem seguros e valorizados. O professor tem um relacionamento amigável e aberto com os alunos, mas o professor é sempre o adulto. Prestar uma atenção afetuosa ao trabalho do aluno revela preocupação e respeito. Em vez de “Bom trabalho,” diga ao aluno por que é que o trabalho dele está bom.

Um professor precisa tanto de conhecer os interesses e sonhos dos alunos como o que aprendem e são capazes de fazer. É importante que desenvolva algumas atividades para obter conhecimentos sobre os seus alunos.

Aqui estão três atividades que os professores usaram com sucesso.se de mais algumas?

Atividade: Quem sou eu?

No início do ano letivo, peça aos seus alunos para preencherem uma ficha semelhante à que aqui apresentamos. Use essa informação para conversar com os alunos, para fazer planos de lição e criar atividades de aprendizagem. No final do primeiro período, peça para preencherem de novo a ficha e veja se há mudanças, particularmente no que respeita aquilo em

sroom Management. Rapport With and Knowledge of Students. http://www.temple.edu/CETP/temple_teach/cm-know.html [acesso online em

nclusiva e Amiga da Aprendizagem 43

Quer tenha muitas crianças na sua aula ou um número mais fácil de controlar, é saber o mais possível acerca de cada um dos seus alunos. Para os

os seus esforços para aquele pequeno grupo que pode precisar de mais atenção, quer porque se

suspeita que a sua situação familiar ou pessoal os coloca em risco de terem mau comportamento. Dirija os seus

eender como eles se veem a si mesmos assim que podem afetar o

se: Cada aluno é um indivíduo. Cada aluno traz consigo uma de aprender sobre

o mundo e um sonho diferente para o futuro. Ao disponibilizar o seu tempo para conhecer os alunos enquanto indivíduos e as suas famílias,

lhe que se preocupa com eles e que respeita a sua

e há respeito, todo os alunos se sentem seguros e valorizados. O professor tem um relacionamento amigável e aberto com os alunos, mas o professor é sempre o adulto. Prestar uma atenção afetuosa ao trabalho do aluno revela preocupação e respeito. Em vez de dizer apenas “Bom trabalho,” diga ao aluno por que é que o trabalho dele está bom.

Um professor precisa tanto de conhecer os interesses e sonhos dos alunos como o que aprendem e são capazes de fazer. É importante que desenvolva

r conhecimentos sobre os seus alunos.

Aqui estão três atividades que os professores usaram com sucesso.40

No início do ano letivo, peça aos seus alunos para preencherem uma ficha sentamos. Use essa informação para conversar

com os alunos, para fazer planos de lição e criar atividades de aprendizagem. No final do primeiro período, peça para preencherem de novo a ficha e veja se há mudanças, particularmente no que respeita aquilo em que cada aluno

acesso online em 10/20/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula I

pensa que é bom ou não é bom, assim como para saber quando é que eles se sentem confortáveis ou desconfortáveis na aula. Usando essa informaçãonovas atividades de aprendizagem podem os alunos fazer para aumentar a sua confiança e tornar a sua aula num lugar mais agradável para aprender?

Se você for um professor que acompanha os al

fichas num ficheiro e analisde aula e atividades de aprendizagem em conformidade. Se estiver numa escola com professores que ensinam diferentes disciplinas, partilhe as suas informações com eles e encoraje

Atividade: Partilhar o tempo

Reserve 10 ou 15 minutos durante o dia, ou pelo menos uma vez por semana, para os seus alunos partilharem em pequenos grupos o que sentem, as coisas boas e as más que estão a acontecer nas suas vidas.partilhar com o professor ou com a turma informações que sentem ser importantes.

Outras atividades de partilha similaresfaçam um diário privado

Nome do aluno: __________________________________________

Eu quero que me tratem

Uma coisa que deve saber sobre mim é

____________________________________________________

Eu gostaria de trabalhar

Sou mesmo bom a ______________________

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Sinto-me mais feliz na a_________________

Sinto-me desconfortável na aula quando

____________________________________________________

sitiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem

pensa que é bom ou não é bom, assim como para saber quando é que eles se sentem confortáveis ou desconfortáveis na aula. Usando essa informaçãonovas atividades de aprendizagem podem os alunos fazer para aumentar a sua

r a sua aula num lugar mais agradável para aprender?

Se você for um professor que acompanha os alunos por vários anos, guarde

fichas num ficheiro e analise-as para fazer alterações. Reveja os seus planos de aula e atividades de aprendizagem em conformidade. Se estiver numa escola com professores que ensinam diferentes disciplinas, partilhe as suas informações com eles e encoraje-os a usá-las na preparação das suas aulas.

Atividade: Partilhar o tempo

Reserve 10 ou 15 minutos durante o dia, ou pelo menos uma vez por semana, para os seus alunos partilharem em pequenos grupos o que sentem, as coisas as e as más que estão a acontecer nas suas vidas. Um grupo pode optar por

partilhar com o professor ou com a turma informações que sentem ser

tividades de partilha similares podem incluir pedir às crianças que façam um diário privado e partilhem algumas partes consigo ou com outros

Nome do aluno: __________________________________________

tratem por _________________________________

Uma coisa que deve saber sobre mim é ________________________

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pensa que é bom ou não é bom, assim como para saber quando é que eles se sentem confortáveis ou desconfortáveis na aula. Usando essa informação, que novas atividades de aprendizagem podem os alunos fazer para aumentar a sua

r a sua aula num lugar mais agradável para aprender?

unos por vários anos, guarde as

para fazer alterações. Reveja os seus planos de aula e atividades de aprendizagem em conformidade. Se estiver numa escola com professores que ensinam diferentes disciplinas, partilhe as suas

las na preparação das suas aulas.

Reserve 10 ou 15 minutos durante o dia, ou pelo menos uma vez por semana, para os seus alunos partilharem em pequenos grupos o que sentem, as coisas

Um grupo pode optar por partilhar com o professor ou com a turma informações que sentem ser

podem incluir pedir às crianças que e partilhem algumas partes consigo ou com outros

Nome do aluno: __________________________________________

________________________________

________________________

____________________________________________________

_______________________________

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_______________________________________

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Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 45

alunos. Quando os ensinar a escrever composições, peça para escreverem sobre o que de bom e de mau está a acontecer nas suas vidas.

Para os alunos que estejam a viver em circunstâncias particularmente difíceis, tente algumas das estratégias de encorajamento mencionadas no final deste capítulo. Elogie-os sempre que seja possível e apropriado. Pergunte se há alguma coisa em especial que gostassem de fazer ou de aprender.

Atividade: Preencher uma ficha

Crie um formulário ou uma ficha com espaços para preencher como esta:

“Depois da escola geralmente eu _______________________________

A minha comida preferida é __________________________________

A minha atividade preferida é _________________________________

A minha disciplina preferida na escola é __________________________

Eu quero ser como __________________________________________

Eu quero ser um/uma _____________________________ quando acabar a escola.”

Quando o número de alunos novo na aula for muito grande, pode aproveitar esta atividade no início do ano letivo como uma oportunidade de os alunos se conhecerem, especialmente em turmas que têm crianças de diferentes origens e com diferentes capacidades. Na folha de papel com esta informação, acrescente uma coluna do lado direito que ficará em branco. Depois de os seus alunos terem preenchido as fichas, peça-lhes para procurarem outros alunos com as mesmas respostas em cada um dos itens e escreverem o nome desses alunos na coluna em branco.

COMPREENDER O CONTEXTO DAS VIDAS DOS SEUS ALUNOS

Quando se compreende por que é que os alunos se comportam mal, o que pode ser feito através dos quatro objetivos apontados acima, é mais fácil escolher a ferramenta de disciplina positiva que vai reduzir ou até evitar esse mau comportamento. Contudo, os quatro objetivos que foram abordados centram-se apenas na satisfação das necessidades emocionais e psicológicas da criança. O que falta é compreender o contexto de proveniência de cada criança.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 46

Nós não somos os únicos a influenciar o comportamento dos alunos. Cada aluno é o produto do seu ambiente global de aprendizagem. Esse ambiente inclui não só a sala de aula e a escola, mas também a criança, a família da criança e a sua comunidade. Por exemplo, quantas vezes já ouviu “Ele atua como o seu pai” ou “ele atua como o irmão mais velho”? Perceber este ambiente alargado será provavelmente um novo desafio para muitos de vós sobretudo para os que costumam trabalhar confinados apenas à sua aula e à sua escola.

A forma como um aluno se comporta na sua aula pode refletir a sua frustração consigo mesmo, com a sua vida familiar, ou o fato de ter que lidar com outras circunstâncias difíceis dentro ou fora da escola. É preciso ter cuidado ao interpretar o comportamento de um aluno. O que nós consideramos que é um comportamento desadequado pode não ser, de todo, um problema de disciplina; por exemplo, a criança pode estar a pedir uma atenção extra porque em casa não lhe dão atenção. Pode ser a reação da criança ou a sua frustração causada por problemas que tem em casa ou noutro lugar e que leva para dentro da aula. Assim, não é o comportamento da criança que é o problema, é a situação em que a criança se encontra. Esta frustração, estimulada pelas suas causas, pode também ajudar a explicar mudanças repentinas de comportamento em alunos que normalmente se portam bem. Em qualquer dos casos, se corrigimos a criança pelo seu comportamento estamos a errar o alvo. Podemos estar a culpar a criança por coisas de que não é culpada e podemos confundir ainda mais a criança. Neste caso o castigo não vai ser eficaz, não vai funcionar e pode prejudicar gravemente o desenvolvimento comportamental da criança.

Para conduzir o comportamento da criança de forma positiva, precisamos de compreender o seu ambiente e os fatores que podem afetar o seu comportamento a nível pessoal, familiar e comunitário. Quando uma criança se comporta mal, temos que ter estes fatores em consideração, assim como os quatro objetivos abordados anteriormente. Precisamos de nos perguntar se a criança está a ter dificuldades que se prendem com a aula ou se alguma coisa fora da sala de aula e da escola pode estar a causar o problema. Finalmente, a solução destes problemas não reside apenas em nós. Precisamos de criar fortes parcerias com os pais, os líderes da comunidade, as organizações locais para identificar e solucionar qualquer das condições difíceis que a criança está a enfrentar e que se refletem no seu comportamento.

Segue-se uma lista de fatores que podem afetar a vontade dos seus alunos para frequentarem e terem sucesso na aula ou não, e de se poderem portar mal. Também se incluem algumas ações que podem ser empreendidas para ultrapassar esses fatores e em especial ações que envolvem a participação

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 47

das famílias e da comunidade.41 Esta lista não é exaustiva. Converse com os seus colegas sobre que outros fatores podem estar a afetar o comportamento dos alunos, e que ações podem ser tomadas para os resolver quando surgirem.

A criança

Necessidade de trabalhar. As crianças que sentem que deviam estar em casa, ou noutro sítio qualquer, para ajudar as suas famílias a ganhar a vida, podem não querer estar na vossa aula e podem usar o mau comportamento como um meio de evasão. O que lhes interessa é dar às suas famílias ajuda imediata, e não encaram a sua educação como um processo de assegurar o futuro económico das famílias, a longo prazo. Com estas crianças é necessário mostrar como a aprendizagem e o bom comportamento podem, de fato, aumentar as suas perspetivas de trabalho. Também podemos dar-lhes oportunidade de ganharem dinheiro e de aprenderem, por exemplo através de programas de trabalho prático, na escola, em que os produtos feitos podem ser vendidos e os lucros reverterem para os alunos. Outra boa estratégia é convidar os pais ou membros respeitados da comunidade com conhecimentos ou competências que possam servir de recurso na sala de aula. Podem ensinar às crianças as suas profissões e como elas se relacionam com o que está a ser ensinado na aula, assim como o valor da educação a longo prazo.

Além disso, algumas crianças, especialmente as meninas, podem ter muitas tarefas para fazer em casa antes de irem para a escola, tais como cuidar dos irmãos mais novos, limpar a casa, ir buscar combustível, preparar a comida, tratar dos animais. Assim, podem ficar com muito pouco tempo para fazer os trabalhos da escola, podem chegar atrasadas à escola, e podem adormecer na aula. Estes não são problemas de comportamento, mas sim formas de enfrentar a situação familiar. Consequentemente, a disciplina não vai corrigir o comportamento da criança.

Outras estratégias têm que ser implementadas para procurar ajudar a criança a trabalhar em casa e também a aprender, por exemplo, dando-lhe atenção extra durante a aula; não dando ou dando poucos trabalhos de casa e possibilitando-lhes que os acabem na escola; encorajando os alunos a ajudarem-se uns aos outros a completar as tarefas (aprendizagem por pares); dando tempo adicional para tutorias, possivelmente em casa.

41 UNESCO. “Booklet 3: Getting All Children In School and Learning,” Embracing Diversity: Toolkit for Creating Inclusive, Learning-Friendly Environments. Bangkok, 2004.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 48

Doença e fome As crianças não aprendem se estiverem doentes, com fome ou mal alimentadas. Em geral estas crianças vêm de famílias extremamente pobres que lutam diariamente pela sobrevivência. A doença e a fome reduzem os tempos de atenção e afetam drasticamente os níveis de desempenho dos alunos. Estes baixos níveis podem levar a sentimentos de incapacidade e fracasso, que levam a problemas de comportamento. As ações necessárias para ajudar estas crianças vão para além da sala de aula, e até da escola, para irem até à comunidade. A primeira iniciativa a tomar é estabelecer programas escolares que providenciem refeições nutritivas de forma regular. As meninas podem ser particularmente beneficiadas. Grupos de mulheres na comunidade ou outras organizações locais podem preparar estas refeições. Adicionalmente é necessário trabalhar com os serviços de saúde locais para estabelecer rastreios e programas de terapia em saúde geral, dental e nutricional.42

Medo da violência. Recear atos de violência no caminho para a escola, no regresso a casa ou mesmo dentro da sala de aula, (na forma de castigo corporal ou de bullying) pode levar a que alguns alunos se afastem e deixem de participar nas aulas. Também tem custos na sua autoestima e faz aumentar o sentimento de insatisfação. O que pode ser feito para conhecer melhor a situação na sua escola? Ajude as crianças e a comunidade a indicar os locais onde ocorre a violência, tanto nos espaços de recreio da escola como na ida e regresso da escola. Também pode trabalhar com os líderes da comunidade e com os pais para estabelecer ações de vigilância em que professores responsáveis, pais e outros membros da comunidade vigiem áreas de potencial ou elevada violência dentro e fora da escola. Isto pode incluir o acompanhamento de crianças até zonas seguras quando necessário. Também pode pedir aos seus alunos para preencherem questionários anónimos onde se pergunta se já foram vítimas de bullying ou se foram sujeitos a castigos corporais, e de que forma isso aconteceu43 e reforçar as políticas de prevenção da violência contra as crianças, incluindo os castigos corporais e códigos de conduta para professores e pessoal da escola.

Deficiência e necessidades especiais. A maioria das crianças com deficiência ou necessidades especiais não frequenta a escola, especialmente

42 Para mais ideias, veja: UNESCO. “Booklet 6: Creating a Healthy and Protective ILFE,” Embracing Diversity: Toolkit for Creating Inclusive, Learning-Friendly Environments. Bangkok, 2004

43 UNESCO. “Booklet 4: Creating Inclusive, Learning-Friendly Classrooms,” Embracing Diversity: Toolkit for Creating Inclusive, Learning-Friendly Environments. Bangkok,2004.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 49

quando as nossas escolas e sistemas educativos não têm políticas nem programas de inclusão para crianças com défices físicos, emocionais ou de aprendizagem. Contudo, algumas destas crianças ESTÃO na escola e podem estar na sua aula. São aquelas cuja deficiência está “escondida” como no caso de défice de visão ou audição ou os que têm Défice de Atenção com Hiperatividade, como o Ramon. Se estes défices não forem detetados, os comportamentos das crianças – falta de atenção, baixo rendimento escolar ou hiperatividade na sala de aula – podem ser erradamente encarados como problemas de comportamento. As escolas precisam de ter programas de rastreio para identificar esta situações atempadamente e referenciar os alunos para serem ajudados e poderem participar e aprender plenamente nas aulas. Os alunos podem eles próprios fazer testes simples de audição e visão.44

A Família e a Comunidade

As famílias e as comunidades deviam estar na linha da frente de proteção e de cuidados de uma criança, para se perceber os problemas com que ela pode estar a confrontar-se e para atuar no sentido de lidar com esses problemas de maneiras sustentáveis. O meio mais eficaz de prevenir a indisciplina é através de famílias fortes, dedicadas e dinâmicas. Seguem-se algumas considerações essenciais associadas à família e à comunidade que podem determinar a frequência ou o comportamento dos alunos na escola. Haverá outros fatores familiares ou da comunidade na sua região, país ou cultura que possam afetar a assiduidade ou o comportamento na escola?

Pobreza e valor prático da educação. Diretamente relacionada com o fator “necessidade de trabalhar” acima referido, a pobreza afeta muitas vezes o desempenho e o comportamento na escola. Devido à sua carga financeira, os pais pobres são frequentemente pressionados até para proverem às necessidades básicas da vida. Daí que as crianças tenham que ajudar a ganhar dinheiro para a família, em detrimento da sua educação e da sua vida futura. Isto ocorre especialmente quando as famílias não sentem o interesse da educação para a vida quotidiana; assim, essas famílias não compreendem por que razão os filhos precisam de frequentar a escola, nem se interessam pelo seu comportamento (por vezes, até em casa). Também pode acontecer que os pais achem que a educação, que a escola local

44 UNESCO. Booklet 6: Creating a Healthy and Protective ILFE. Embracing Diversity:Toolkit for Creating Inclusive, Learning-Friendly Environments. Bangkok, 2004.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 50

proporciona, não é de boa qualidade e que as competências que os filhos vão adquirir em determinados empregos são mais valiosas do que as que aprendem na sala de aula.

Como a raiz do problema é económica, as estratégias eficazes para se chegar às crianças pobres, conseguir que frequentem a escola e ajudá-las a aprender com interesse têm que se basear em incentivos económicos a curto e a longo prazo, não só para a criança, mas também para a família.

Cuidados inadequados. Devido à necessidade de ganhar dinheiro, alguns pais têm pouco tempo para cuidar dos filhos. Muitas vezes são obrigados a emigrar temporariamente ou por longos períodos de tempo. O resultado desta situação é que têm que entregar os filhos ao cuidado de avós idosos ou de outras pessoas. Estes avós ou outros educadores nem sempre têm conhecimentos, experiência ou recursos que lhes permitam proporcionar os cuidados adequados à criança, o que pode conduzir a doenças e fome. Alguns também não valorizam a educação especialmente quando precisam muito de dinheiro, nem se importam com o comportamento na aula. O que se pode fazer para ajudar os alunos?

♦ Em dias especiais convide os pais ou outros educadores para visitar a escola. Mostre-lhes o trabalho das crianças e converse informalmente com eles ou organize sessões em que eles participem sobre como melhorar a saúde e o comportamento das crianças através de cuidados mais adequados.

♦ Convide pais e outros responsáveis pela criança com conhecimentos específicos para falar com a turma sobre o seu trabalho, para que eles próprios também percebam a importância que os seus conhecimentos têm para as crianças.

♦ Promova conversas entre professor-pais/outro responsável para falar do progresso da aprendizagem das crianças e explicar até que ponto cuidados mais adequados podem melhorar a aprendizagem, a autoestima e o comportamento da criança.

♦ Arranje materiais de departamentos do governo e de organizações não-governamentais, especialmente das que estão relacionadas com a saúde e a nutrição. Use-os em programas com os alunos sobre saúde escolar e educação da vida familiar e mande-os regularmente para casa para que eles os leiam à família.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 51

♦ Crie programas de ensino de competências parentais de modo a que a

escola e outras organizações possam ajudar os pais e outros educadores a melhorar as suas práticas.

♦ Desenvolva parcerias com departamentos de segurança social e indique as crianças que se encontram em situações familiares especialmente difíceis.

A Família e a Comunidade: Uma estratégia na Tailândia

Na Tailândia, as escolas amigas das crianças estão a usar informação sobre processos de aprendizagem de crianças e as circunstâncias familiares em que vivem para identificar os alunos que têm dificuldades de aprendizagem, que faltam frequentemente, que não se interessam por aprender e que o mais provável é que venham a abandonar a escola, muitas vezes porque as famílias têm pouco dinheiro e valorizam mais o trabalho da criança do que a sua educação. Para estes alunos, dá-se prioridade a aptidões profissionais em áreas como tecelagem de seda e de algodão, costura, carpintaria, produção agrícola, dactilografia, informática e outras do mesmo género. Uma preparação assim aumenta o rendimento familiar enquanto os alunos estão na escola e dá-lhes competências que podem usar toda a vida. Também aumenta a sua autoestima e a confiança em si próprios assim como contribui para que se sintam realizados. Algumas destas crianças têm mesmo recebido prémios nacionais e regionais pelo seu trabalho. Em certas escolas, os familiares dos alunos servem de “professores” para lhes ensinar trabalhos artesanais, tais como tingir fio de seda e tecê-lo em padrões tradicionais. Esta participação valoriza a escola aos olhos dos pais e dos membros da comunidade, aumentando as fontes de rendimento e realçando o interesse em preservar tradições culturais importantes. Melhora também a comunicação entre pais e filhos sobre o trabalho e o comportamento na escola., assim como sobre o que o futuro e a educação das crianças podem significar para a família. Será possível implementar esta estratégia no currículo da sua escola?

Conflito. Alguns pais, envolvidos na discussão sobre dinheiro ou outros problemas (tais como alcoolismo ou abuso de drogas), descarregam nos filhos a sua ira com violência, originando um sentimento de culpa nas crianças. Isto pode contribuir para uma frequência irregular e para a indisciplina ou mesmo para que fujam de casa e da escola. Durante a crise económica asiática de 1997, por exemplo, um rapaz tailandês foi apanhado no meio de uma discussão entre os pais sobre dinheiro e sofreu maus tratos. A vida em casa era muito pobre e ele começou a isolar-se na aula e a não querer participar. Além disso, também não acabava os trabalhos em devido tempo, para não falar noutros

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 52

problemas. Em vez de o castigar, a professora fez com que ele falasse da sua vida em casa e depressa descobriu a verdade sobre a sua situação. O rapaz disse que não percebia a razão por que lhe tinham batido; ele não tinha nada a ver com os problemas de dinheiro da família. Depois disso, a professora passou a valorizá-lo, a dar-lhe oportunidade de brilhar e até mesmo a dar-lhe mais carinho e atenção. Sempre que possível, também lhe pedia que a ajudasse antes e depois da escola para evitar que passasse tanto tempo num ambiente doméstico destrutivo. O seu comportamento mudou muito rapidamente e começou a melhorar bastante nos estudos. Depois de terem resolvido as suas diferenças, os pais viram que ele estava a progredir na escola e elogiaram-no durante uma reunião com a professora.

Discriminação. As crianças provenientes de famílias que são diferentes da comunidade em geral em termos de língua, religião, casta ou outros aspetos culturais estão especialmente em risco de serem alvo de bullying, do ridículo, de troça e coisas no género. Também correm risco as crianças afetadas por VIH/SIDA. As atitudes discriminatórias e negativas em relação a estas crianças são talvez a única grande barreira à sua inclusão na escola e à possibilidade de participarem duma maneira equitativa, ativa e feliz no processo de aprendizagem. Encontram-se atitudes negativas a todos os níveis: pais, membros da comunidade, escolas e professores, representantes do governo e mesmo entre as próprias crianças marginalizadas. Medos, tabus, vergonha, ignorância e má informação, entre outras circunstâncias, favorecem atitudes negativas em relação a estas crianças e às situações em que vivem. Algumas ficam com uma baixa autoestima, isolam-se e evitam a interação social, são indisciplinadas nas aulas e tornam-se membros invisíveis da comunidade. Por isso, precisamos de pôr em relevo a importância de se reduzir a discriminação e de se valorizar a diversidade.

♦ Trabalhar com pais e membros da comunidade para adaptarem os materiais escolares às diversas culturas e línguas dos alunos. Isto ajuda a encontrar materiais autênticos e úteis e a incentivar as crianças a irem à escola e a trabalharem em conjunto.

♦ Utilizar histórias locais, histórias orais, lendas, canções e poemas nas aulas.

♦ No caso de alunos que não falem a língua usada nas aulas, trabalhar com professores bilingues ou outras pessoas que falem a língua da criança (até mesmo familiares e membros da comunidade).

Para reduzir o bullying, deverá usar uma série de estratégias, tais como:

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 53

♦ Utilizar exercícios que ajudem a relaxar e a reduzir a tensão.

♦ Intensificar a aprendizagem cooperativa dentro da sala de aula (alunos a ajudarem-se uns aos outros para aprenderem).

♦ Melhorar a confiança das crianças, dando-lhes mais poder, como por exemplo, deixando-as elaborar regras para as aulas e dando-lhes responsabilidade dentro de um grupo de trabalho de alunos.

♦ Desenvolver estratégias de criança para criança que ajudem a lidar com conflitos. Por exemplo, ensinar competências para resolução de conflitos, como negociação e mediação (assunto discutido abaixo).

♦ Permitir que os alunos identifiquem as medidas disciplinares que devem ser tomadas em relação a quem persegue os colegas.

No âmbito do currículo, os professores podem usar drama ou marionetas para determinar o grau e as causas do bullying, assim como para encontrar soluções quando tal acontece dentro ou fora da escola. Um grupo de professores da Guiana fez marionetas e pequenas peças de teatro para ilustrar aspetos de bullying racial e, seguidamente, planeou os passos a dar para ajudar as crianças que se encontravam nestas situações.

Também se pode organizar discussões ou debates sobre assuntos delicados, assim como histórias ou role-playing para as crianças aprenderem a dizer “Não” e encontrarem a linguagem a usar com aqueles que os intimidam e com quem os maltratam.45

INVESTIGAÇÃO SOBRE AS FAMÍLIAS DOS ESTUDANTES

Em muitas escolas da Ásia e do Pacífico, os professores estão a fazer perfis dos alunos como meio de colher informações sobre as famílias de que são provenientes. Um perfil do aluno

♦ Ajuda os professores a perceber as razões que levam o estudante a faltar à escola, a comportar-se mal na aula ou a estar em risco de abandono escolar.

♦ Mostra a diversidade das crianças na comunicação em termos das suas caraterísticas individuais e das caraterísticas das famílias.

45 UNESCO: Booklet 4. Creating Inclusive Friendly Learning Classrooms,“ Embracing Diversity: Toolkit for Creating Inclusive Learning-Friendly Environments. Bangkok, 2004.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 54

♦ Ajuda a planear programas para ultrapassar fatores que excluem as

crianças da escola e as tornam indisciplinadas.

Pode-se criar um perfil do aluno dando os seguintes passos:

Passo 1: Em conjunto com os seus colegas, analise os principais aspetos de mau comportamento encontrados nos vossos alunos e nos fatores dentro da família ou da comunidade que os podem causar (como os que acima se discutiram). Certifique-se de que incluiu todos os fatores que podem contribuir para o absentismo ou para atraso na chegada à escola.

Passo 2: Usando estes fatores, elabore uma lista de perguntas cujas respostas lhe possam dar uma ideia da razão do mau comportamento da criança na aula. Segue-se o exemplo de um questionário que está a ser aplicado em Escolas Amigas das Crianças nas Filipinas e na Tailândia para se perceber a situação de crianças de diversas origens e capacidades que têm dificuldades de aprendizagem e que, por vezes, se sentem desajustadas.46 O professor pode organizar a sua lista de perguntas com base nas barreiras que lhe parecem comuns dentro da sua comunidade.

Discriminação

♦ Qual é o sexo da criança?

♦ Que idade tem?

♦ Qual é a nacionalidade da criança e o seu grupo étnico?

♦ Que religião professa?

♦ Qual é a sua língua materna?

♦ Qual a situação da sua casa relativamente à escola (distância, tempo de viagem)?

♦ Que meio de transporte utiliza? Será seguro?

46 Podem-se encontrar exemplos do Perfil da Criança de outros países como El Salvador e Uganda no: “Toolkit for Assessing and Promoting Equity in the Classroom”, produzido por Wendy Rimmer et al. Editado por Marta S. Maldonado e Ângela Aldave. Creative Associates International Inc., USAID/EGAT/WID. Washington DC. 2003.

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Fatores a nível da criança

♦ A criança trabalha dentro ou fora de casa para ganhar dinheiro ou ajuda no trabalho doméstico?

♦ Qual é o seu estado nutricional e de saúde?

♦ Tem deficiências que prejudiquem o seu acesso aos serviços da escola ou o seu rendimento na aula?

Cuidadores: Conflitos

♦ Que idades têm os pais da criança?

♦ O pai e a mãe estão ainda vivos; caso contrário, qual é que morreu?

♦ Qual é o grau de educação de cada um dos pais?

♦ Já algum dos membros da família abandonou a escola? Porquê?

♦ Os pais ainda vivem juntos?

♦ Com quem é que a criança mora?

♦ Quantas pessoas vivem em casa?

♦ Quantas crianças há em casa (especialmente muito pequenas)?

♦ Quem é a pessoa mais responsável por essas crianças?

♦ Já algum dos pais emigrou para ir trabalhar?

Pobreza e valor prático da educação

♦ Qual é a principal ocupação de cada um dos pais da criança?

♦ A família tem algum terreno para rendimento? Se tem, qual é a sua área?

♦ A família arrenda terreno para rendimento? Que quantidade?

♦ Qual é o rendimento mensal médio da família?

♦ A família pede dinheiro emprestado para aumentar o seu rendimento? Nesse caso, quanto, com que frequência e em que alturas do ano?

♦ O agregado familiar participa como membro em algum grupo de desenvolvimento da comunidade?

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Passo 3: Elabore um questionário para obter respostas a estas perguntas. Pode utilizar a lista de perguntas acima referida, anotando as respostas ou uma ficha de Perfil do Aluno mais formal.47 Posteriormente, o questionário pode ser: (a) remetido para casa dos alunos para ser preenchido ou enviado para a escola pelo correio ou por um responsável da comunidade. (b) preenchido com base nas entrevistas com as crianças ou com os próprios pais quando as vão buscar à escola, em reuniões de pais ou durante as reuniões da Associação de Pais com o professor.

Passo 4: Depois dos questionários estarem preenchidos e entregues, elabore um estudo de caso descritivo para cada aluno que contemple as respostas acima mencionadas. Este estudo de caso ajuda-o a identificar, relacionar e analisar os fatores que podem afetar o comportamento e a aprendizagem das crianças.

Passo 5: Depois de elaborados os estudos de caso, examine-os para ver quais os fatores que podem estar a afetar a capacidade da criança aprender plenamente na sala de aula e também o seu comportamento. Sublinhe-os para os pôr em evidência e para os relacionar mais facilmente. Para o caso da Aye abaixo descrito, podem ser diferenças culturais que a fazem sentir-se discriminada e inferior, pode também ser a pobreza, cuidados inadequados, falta de acesso a recursos fora da família e uma fraca situação nutricional e de saúde. Utilize estes fatores como pontos de partida para planear ações positivas que vão de encontro às causas do absentismo da criança ou do seu mau comportamento. Trabalhe em conjunto com os seus colegas, direção da escola, pais, dirigentes da comunidade e organizações locais para planear, pôr em prática, monitorizar e avaliar cada uma das estratégias.

A Família de uma Aluna: O caso da Aye

A Aye pertence ao grupo étnico de Hmong que vive na Tailândia do Norte e tem por volta de 9 anos. O pai morreu. A mãe tem 30 anos, não voltou a casar, é analfabeta e a sua ocupação principal é o cultivo de arroz num pequeno pedaço de terra. É a Avó de Aye que se encarrega dela e do seu irmão de 5 anos que não frequenta o ensino pré-escolar. A família é muito pobre, ganha menos de 500 baht por mês. Durante a estação em que não há cultivo, a mãe migra para Bangkok como trabalhadora manual. A família não pertence a nenhum grupo comunitário da aldeia e não tem acesso a recursos da comunidade. Metade das faltas da Aye à escola foi justificada porque ela

47 UNESCO.. “Booklet 3: Getting All Children In School and Learning”. Embracing Diversity: Toolkit for Creating Inclusive, Learning-Friendly Environments. Bangkok, 2004.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 57

precisava de ajudar a mãe ou a avó, enquanto a outra metade se deveu a doença. Ela sofre frequentemente de graves afeções respiratórias e tem uma ligeira insuficiência de iodo. Na aula adormece e não entrega os trabalhos de casa no devido tempo. Muitas vezes parece estar preocupada, mas não interessada nas atividades letivas nem nos colegas.

Nota: Quem trabalhe com turmas grandes, deve começar por elaborar Perfis dos Alunos para o pequeno número de crianças que possam vir a precisar de atenção especial, quer seja por dificuldades de aprendizagem, quer seja por indisciplina ou por se suspeitar que a sua situação pessoal ou familiar os possa pôr em risco de mau comportamento. Mais tarde, o mesmo se deve fazer com os outros alunos.

COMUNICAÇÃO PAIS-PROFESSOR

Criar uma relação positiva entre professor e pais, uma relação que promova o bom comportamento e previna o mau comportamento, também requer envolver os pais na educação dos filhos. Há dois fatores que põem a criança em risco de mau comportamento e de abandono escolar: o não envolvimento dos pais e baixas expectativas da sua parte.48 O envolvimento dos pais tem um efeito positivo no aproveitamento das crianças e é o fator através do qual melhor se prevê o sucesso do aluno na escola. Alguns dos benefícios do envolvimento familiar são:

♦ Melhores resultados, independentemente do seu estatuto socioeconómico, da sua origem étnica ou racial ou do nível de educação dos pais.

♦ Maior assiduidade.

♦ Maior consistência na realização dos trabalhos de casa.

♦ Atitudes e comportamentos mais positivos.49

48 Wells, S.E. At-risk Youth: Identification, Programmes, and Recommendations. Englewood, Colorado: Teacher Idea Press, 1990

49 Parent-Teacher Communication. Professional Development Academy. http./www.mcps.org/iss/Portfolio/Communication/Conferences.ppt [acesso online em 12/1/2005]

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Contudo, se pretende conseguir envolver os pais na educação dos filhos, tem que mostrar muito interesse pela criança. A investigação sugere que os pais usam o conhecimento que os professores evidenciam da personalidade ou interesses de uma determinada criança como um meio de para a sua triagem e avaliação. Eles estão mais interessados em escutar com interesse as informações acerca da criança se eles sentirem que o professor conhece o que se passa de especial com eles.50 Esta é uma das principais razões pelas quais o conhecimento da criança e dos pais é essencial na criação de parcerias entre os pais e o professor. Mais ainda e sobretudo com crianças que se comportam mal na sala de aula, uma reunião de pais/professor/aluno, muitas vezes, resolve a situação das crianças que põem a escola contra a sua casa e os pais contra o professor.

Normalmente, convoca-se uma reunião entre pais-professor ou pais-professor-aluno, sobretudo para uma das seguintes questões:

(a) Discutir um assunto académico específico, como por exemplo, o rendimento na aprendizagem (bom ou mau) ou, em vez da reunião, faz-se um pedido de presença dos pais na aula ou na escola.

(b) Discutir assuntos disciplinares ou relacionados com a frequência da escola.

(c) Discutir um assunto apresentado pelos próprios pais.

(d) Concretizar uma reunião de rotina, prevista no calendário escolar.

Com o tempo, os professores experientes normalmente desenvolvem o seu próprio estilo e maneira de atuar para fazer essas reuniões. Contudo, para professores principiantes, é importante elaborar um plano de reunião. Esse plano deve incluir os recursos necessários, as limitações que podem afetar o andamento da reunião e como as ultrapassar e, além disso, a relação dos assuntos principais, comuns a todos os alunos, e os específicos de alunos em particular.51

Os recursos podem incluir:

♦ Quem deve estar presente na reunião e quais os horários?

♦ Qual o espaço disponível?

50 Reforming Middle Schools and School Systems. Changing Schools in Louisville, Vol. 1, Nº. 2 Spring/Summer, 1997.

51 Parent-Teacher Communication. Professional Development Academy. http://www.mcps.org/iss/Portfolio/Communication/Conferences.ppt [acesso online em 12/1/2005]

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♦ Se um pai trouxer filhos mais novos, o que se pode fazer para os

manter ocupados?

♦ Que informação dos registos de orientação ou de frequência pode ser útil na conversa com os pais e que podem ser previamente solicitados para a reunião? Alguns professores fazem “Diários de Incidentes Comportamentais” para seguirem os problemas disciplinares e utilizam-nos em conversas com os pais. Os referidos diários podem também ser usados para verificar se a criança se porta mal regularmente e como. Estas fichas contêm: (a) o nome do aluno; (b) a data e a hora do incidente; (c) uma breve descrição do sucedido; (d) como se agiu; (e) nome da pessoa a quem o incidente foi comunicado, assim como a hora e o método de comunicação (escrita, verbal); (f) o nome das pessoas que testemunharam o acontecimento; (g) o nome da pessoa que escreveu este diário/comunicação, bem como a data; (h) fatores que contribuíram para o incidente e/ou mudanças que possam ter influenciado o comportamento da criança; (i) assinaturas do diretor, do professor que testemunhou o incidente e do encarregado de educação, assim como a data.

Limitações ou barreiras são aquelas que podem prejudicar o processo da reunião e que deve tentar resolver antes de convocar os pais. Estas limitações podem incluir o que consta da lista que se segue. Poderá acrescentar mais algumas?

♦ Há alguém disponível para tomar conta da sua turma se tiver que fazer a reunião durante o dia?

♦ Como comunicar com famílias que não têm telefone?

♦ O que fazer se pais separados se recusarem a participar na mesma reunião?

♦ Alguns pais podem não ter transporte ou terem obrigações de trabalho. O que fazer para os ajudar a vir à reunião ou será que pode ir ter com eles?

Problemas difíceis podem incluir perguntas como:

♦ Até que ponto é que o aluno deve estar envolvido na reunião?

♦ Como envolver os pais na procura de soluções para áreas problemáticas?

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 60

♦ Qual a documentação necessária?

♦ O que discutir com os pais de um aluno sobredotado, de um aluno com dificuldades de aprendizagem ou com problemas de comportamento?

Uma reunião bem preparada não só facilita o seu trabalho como também mostra aos pais que é uma pessoa organizada e que se preparou para discutir a situação do filho. Ao planear a reunião deve dar alguns passos importantes:

♦ Carta aos pais a convocá-los para a reunião. A convocatória deve ser positiva mesmo que esteja em causa discutir o mau comportamento da criança. (por exemplo, “O Johny é um aluno que exige muito de nós para o ensinar. Poderá comparecer na escola em (data, hora) para troca de impressões sobre o seu progresso?”

♦ Lista dos materiais a levar para a reunião.

♦ Lista das pessoas a convocar para a reunião (se necessário).

♦ Agenda da reunião (para cada aluno: a agenda deve ser apresentada aos pais na altura da reunião).

♦ Ata para registar os resultados da reunião e planear o acompanhamento futuro.

♦ Plano da ação de acompanhamento futuro para cada aluno. Se possível, este plano - ou pelo menos os seus pontos principais - deve ser discutido com os pais do aluno, especialmente se algumas partes do plano requererem monitorização e informação da sua parte.

Nota: As reuniões de pais/professor podem ser formais ou informais. Para professores com turmas muito grandes, em que não há tempo para reunir com todos os pais num só dia, fazer reuniões formais com os pais das crianças que estão a ter dificuldades. Para os outros alunos organizar conversas informais em horário conveniente (tanto para si como para os pais). Estas reuniões podem ter lugar na sala de aula ou em qualquer lugar da escola, por exemplo, quando os pais vão buscar os filhos; em casa se fizer visitas a casa; ou em dias de eventos especiais da escola ou da comunidade.

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ESTRATÉGIAS DE APOIO

Esta secção foca a construção de uma relação positiva com os alunos, uma relação baseada em compreensão e empatia. Seguem-se algumas condições especialmente importantes para encorajar um comportamento positivo como parte de um processo de construção de uma relação:52

♦ Manter um tom emocional positivo na aula. A maneira como trata e reage aos alunos reflete-se no seu comportamento.

♦ Dar atenção ao aluno para aumentar o comportamento positivo. Para os alunos mais velhos, a atenção inclui o conhecimento e interesse pela sua vida familiar, pelas suas atividades na escola e por quaisquer outras atividades de que gostem.

♦ Dar consistência ao trabalho usando rotinas regulares em atividades e relacionamentos diários para tornar as experiências inesperadas ou negativas menos stressantes.

♦ Reagir consistentemente a situações semelhantes de comportamento – tanto positivas como negativas – para promover relações professor-aluno mais harmoniosas e melhores resultados dos alunos.

♦ Ser flexível, especialmente com alunos mais velhos e adolescentes. Escutar as razões que apresentam para aceitar ou não as suas exigências ou regras da sala de aula e negociar uma solução. Isto mostra que o professor valoriza os pontos de vista dos alunos, o que pode reduzir futuros casos de indisciplina. Mais ainda, tem-se verificado que o envolvimento do aluno na tomada de decisões contribui para um aumento a longo prazo do seu julgamento moral.

♦ Errar não é problema. Diga aos seus alunos: “Só aprendemos se cometermos erros. Eu faço erros todos os dias. Vamos fazer alguns agora.” Isto cria uma parceria de aprendizagem com base em respeito mútuo.

52 Adaptado de: The American Academy of Pediatrics. Guidance for Effective Discipline. http://aappolicy.apppublications.org/cgi/content/full/pediatrics:101/4/723 [acesso online em 12/2/2005]

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♦ Favorecer a confiança. Fomentar conversas pessoais positivas. Peça

a cada um dos seus alunos que fale sobre aquilo em que se considera bom, seja o que for. Depois utilize as suas respostas nas aulas; faça com que os alunos fiquem envolvidos em ajudá-lo a ensinar.

♦ Dar ênfase a sucessos anteriores. No caso de um aluno com tendência para se sentir desajustado ou para recear o insucesso, elogie-o pela última nota no exame (seja ela qual for) e encoraje-o a fazer melhor. Ofereça-lhe explicações especiais ou trabalho de reforço extra, e acompanhe o evoluir da situação.

♦ Tornar a aprendizagem significativa. Altere os seus métodos de ensino. Em vez de fazer uma exposição sobre figuras geométricas, divida os alunos em pequenos grupos e peça-lhes que em 15 minutos encontrem o máximo de formas diferentes na escola ou na comunidade. O grupo que ganhar recebe um pequeno prémio!

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Criação de um Ambiente de

Aprendizagem Positivo e com Apoios O Que Vai Aprender:

♦ A Importância da Gestão da Sala de Aula

♦ Tornar Confortável o Ambiente de Aprendizagem

♦ Criar Rotinas na Aula

♦ Elaborar Regras para a Aula e Envolver os Pais

♦ Adotar um Estilo de Gestão que Favoreça os Bons Comportamentos

♦ Oferecer Reforços Positivos

GESTÃO DA AULA NUM SIAA

Para que haja disciplina, o ambiente da sala de aula tem que ser bem gerido e bem organizado. No que respeita à gestão da sala, muitos de nós pensamos em controlar o comportamento do aluno ou questionamo-nos sobre como vamos manter a ordem na aula. Numa sala de aula bem gerida, é espectável que esta ação, sob a forma de uma técnica positiva de disciplina, não ocupe muito tempo, que apenas quebre um pouco o andamento da aula. Para chegar a este ponto, é preciso fazer um plano de gestão da sala de aula com vários elementos. Alguns destes elementos já foram discutidos nos Manuais 4 e 5 das Ferramentas para Criar Salas de Aula Inclusivas e Amigas da Aprendizagem, produzidos por UNESCO Bangkok. Vamos aqui discutir mais alguns destes elementos.

O primeiro passo no processo de planeamento consiste em decidir o que realmente nós entendemos por “gestão da sala de aula”. Quando usamos o termo “gestão da sala de aula”, referimo-nos aos procedimentos, estratégias e métodos de ensino que os professores empregam para criar um ambiente na sala de aula que promova a aprendizagem, desenvolva e controle os comportamentos e as atividades de aprendizagem dos alunos, individualmente ou em grupos dentro do referido ambiente. Por conseguinte, a gestão eficaz da sala de aula cria um ambiente que nos proporciona a possibilidade de

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ensinar e que leva à melhoria da aprendizagem e do comportamento de todos os alunos. Uma má gestão da aula muitas vezes dá origem ao caos; os nossos alunos não sabem o que esperamos deles, não percebem como se devem comportar ou reagir, não conhecem os limites nem as consequências que resultam do mau comportamento. Gerir bem uma sala de aula é a competência mais importante e a mais difícil que um novo professor deve dominar. Mesmo os professores experientes vêem-se, muitas vezes, confrontados com um aluno ou com uma turma pondo em causa a sua gestão de muitos anos e forçando-os a procurar novas maneiras de lidar com algumas situações na sala de aula. Uma sala de aula é um lugar onde os alunos se juntam para aprender. Criar um ambiente seguro e ordenado na sala de aula é, pois, uma questão de sobrevivência para os professores que otimizam o ambiente de aprendizagem para todos os alunos.

TORNAR O AMBIENTE DE APRENDIZAGEM CONFORTÁVEL

Já alguma vez esteve numa sala de aula a abarrotar de alunos ou de objetos como, por exemplo, mobiliário? A princípio, como é que se sentiu? Passado pouco tempo essa impressão mudou? Ao entrar na sala, muitos de nós podemos ter ficado inicialmente surpreendidos. Mas quando tivemos que começar mesmo a trabalhar e a interagir, provavelmente começámos a ter sentimentos negativos. Podemos ficar frustrados ou irritados ou então retirarmo-nos para um canto para evitar os outros ou para evitar cair ou chocar contra os muitos objetos da sala.

Em salas de aula onde o espaço físico não é bem gerido, os nossos alunos podem reagir da mesma maneira e ter mau comportamento por se sentirem mal ou frustrados. Por conseguinte, um espaço de aula bem planeado pode ajudar-nos a prevenir atitudes de indisciplina e ter uma profunda influência no rendimento da aula.

Como acontece com todos os aspetos da gestão da sala de aula, a maneira como a sala é organizada depende das suas preferências, assim como das preferências dos alunos. O que o faz sentir-se confortável pode não ser o mesmo que faz os alunos sentirem-se confortáveis. No início do ano, organize a sua sala de aula e depois pergunte aos alunos se se sentem bem. Melhor ainda, divida-os em grupos e peça a cada grupo para olhar em volta da sala e do que lá está dentro e depois desenhar ou fazer um mapa sobre como gostariam que a sala estivesse organizada, especialmente se a turma tiver muitos alunos. Aproveite ideias de todos os mapas ou desenhos para projetar a sala de aula “personalizada” dos seus alunos. Experimente essa disposição durante uma ou duas semanas. Depois verifique se alunos se sentem bem. Se

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eles acharem que outra disposição seria melhor, mude de acordo com as sugestões que lhe derem. Mais ainda, altere-a quando sentir que eles estão a ficar fartos de estar ali sentados a aprender.

Seguem-se algumas orientações úteis na organização do espaço da sala de aula.53 Esta lista não é exaustiva. Lembra-se de mais alguma coisa?

Ver toda a turma. Tem que poder ver sempre todos os alunos para monitorizar o seu trabalho e comportamento. Também é preciso que, da sua secretária, veja a porta. Os alunos também têm que o ver a si e ao sítio onde estiver a dar a aula sem precisarem de se virar ou de se mexer muito.

Sentar toda a gente (evitar a sensação de sala muito cheia). Frequentemente, em turmas com muitos alunos o espaço é um luxo. Para aproveitar o melhor possível o espaço disponível, procure experimentar 3 estratégias principais: Primeiro, retire o mobiliário desnecessário. Use tapetes em vez de carteiras. Arranje prateleiras fixadas às paredes e afastadas do chão para materiais que os alunos não precisem de utilizar regularmente. Se a sala de aula tiver um armário para guardar os pertences dos alunos, coloque-o à saída da porta da sala. Se for possível, guarde os seus pertences, os materiais das aulas e outras coisas que não vai usar durante a aula na sala dos professores ou em qualquer outro sítio seguro fora da sala de aula. Se vir que não precisa de uma secretária grande, peça uma pequena.

A segunda estratégia consiste em ser criativo no seu método de ensino e tornar a aula interativa para minimizar a sensação de sala muito cheia de gente. Procure expor a matéria durante um certo período de tempo, por exemplo, 20 minutos numa hora, e focar apenas um ou dois tópicos ou conceitos importantes (por exemplo, falar de formas geométricas), em vez de dar muita informação ao mesmo tempo. De qualquer maneira, este é o tempo máximo em que se consegue captar a atenção dos alunos. Depois divida as crianças em pequenos grupos onde terão apenas que olhar para alguns rostos e não para muitos. Sempre que possível, forme grupos com mistura de sexos, em vez de rapazes contra as meninas. Dê a cada grupo uma atividade complementar, por exemplo, um grupo pensa no maior número possível de objetos redondos enquanto outro pensa no maior número possível de objetos quadrados. Próximo do fim da aula, reúna-os de novo para cada grupo apresentar o seu trabalho.

53 Adaptado de: Classroom Management – Managing Physical Space. Collaborative for Excellence in Teacher Education (CETP), National Science Foundation. http:www.temple.edu/CETP/temple_teach/cm-space.html [acesso online em 10/20/2005]

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Do igual modo, a terceira estratégia consiste em utilizar o espaço fora da sala de aula o maior número de vezes possível. Os pátios de recreio da escola podem ser um valioso recurso para uma aprendizagem formal. São salas de aula ao ar livre que podem ser exploradas pela criança como parte da sua aprendizagem e constituem um complemento muito mais agradável a salas de aula sobrelotadas. São locais importantes para as crianças desenvolverem capacidades sociais e cognitivas. Os pátios de recreio dão-lhe a oportunidade de diversificar o ambiente de aprendizagem dos alunos e de conseguir importantes lições sobre cooperação, propriedade, pertença, respeito e responsabilidade.54 Pode-se usar diferentes espaços dos recreios como centros de atividade para reforço da matéria que se está a estudar na aula. No caso das formas geométricas, por exemplo, pode-se mandar os alunos explorarem o pátio de recreio para identificarem o maior número possível de formas geométricas e depois sentarem-se debaixo de uma árvore para tomarem nota do que descobriram. Monitorize este trabalho! Dez minutos antes de terminar a aula, junte todos os alunos na sala de aula ou no pátio para apresentarem o seu trabalho.

Mobiliário. Se a sala de aula tiver espaço suficiente, pense na hipótese de dar diferentes disposições às carteiras, por exemplo, em círculos ou em forma de U para debate, em quadrados para trabalho de grupo e em filas para testes ou para trabalho individual. Pense na forma de facilitar o movimento em qualquer destas disposições. As zonas frequentemente usadas, assim como as “passagens” (zonas de trânsito, como corredores) devem estar desobstruídas e facilmente acessíveis a toda a gente. Pode também usar estantes, mesas ou tapetes para criar uma zona de utilização especial. Se for preciso dividir a sala ou ter mais espaço de parede para expor o trabalho dos alunos escolha opções baratas como as costas de estantes ou painéis verticais de folhas de palmeira ou bambu feitos pelos alunos ou pelos familiares. Estes painéis podem mesmo ser usados para separar salas de aula em escolas onde não haja paredes divisórias.

Centros. Os centros de atividades oferecem a um só aluno ou a um pequeno grupo de alunos a oportunidade de trabalharem em projetos ou atividades ao seu próprio ritmo. Na sala de aula, um centro de atividades deve ter um espaço de trabalho, um espaço para armazenar utensílios e materiais e um espaço onde se deixem instruções. Em salas de aula com muitos alunos, os

54 Malone, Karene e Tranter, Paul. “Children’s Environmental Learning and the Use, Design and Management of Schoolgrounds,” Children, Youth and Environments, Vol. 13, No. 2, 2003.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 67

centros de atividades podem localizar-se em diferentes sítios da escola. Nesse caso, os alunos levam o que precisam para a atividade que vão desenvolver no centro.

Materiais didáticos e recursos de ensino. Os livros e outros materiais didáticos devem ser guardados num sítio de fácil acesso. Materiais como giz, réguas, papel tinta e tesouras também se devem colocar de modo a que os alunos os possam tirar e voltar a pôr sem perturbarem os colegas. O mesmo deve acontecer com os materiais didáticos, os equipamentos de ensino como quadros de giz portáteis, cavaletes, meios visuais e mesas de trabalho para poderem ser usados sem causar confusão e, em salas muito cheias, para não ocuparem um espaço precioso.

Trabalhos dos alunos. Recolher e guardar os trabalhos dos alunos pode tornar-se uma tarefa difícil se não houver um plano. Alguns professores usam dossiês que podem ser organizados para cada aluno e por cada aluno, para cada disciplina ou para grupos de alunos. Também é necessário arranjar espaço para exposição dos trabalhos. Este espaço pode ser na parede ou pode-se utilizar cordas onde se penduram os trabalhos de cada aluno com clipes, fita-cola ou mesmo com tachas. A decoração com os trabalhos dos alunos também ajuda a tornar a sala mais atraente e mais acolhedora mesmo que haja muitas crianças na sala.

O envolvimento dos alunos. Os alunos podem ser muito úteis no arranjo do espaço físico da sala de aula, o que também os ajuda a desenvolver um sentido de responsabilidade. Podem pendurar os trabalhos, montar os painéis de informação e arrumar os materiais didáticos no fim da aula. Os alunos podem também ser úteis na resolução de problemas de espaço. Quando houver um problema, por exemplo, se os alunos chocarem uns contra os outros ou não houver espaço para todos ficarem sentados, peça-lhes que deem sugestões.

Lembre-se: é muito natural que se consiga uma boa disciplina e comportamentos positivos dos alunos se a sala de aula e as suas atividades forem estruturadas ou planeadas de modo a favorecerem um comportamento cooperativo entre alunos e professor.

CRIAR ROTINAS NA AULA

Quando criamos rotinas na aula, a possibilidade de haver mau comportamento diminui porque os alunos sabem o que se espera deles e o que se espera que façam. Por outro lado, as rotinas também nos ajudam a evitar “enganos”, quer dizer, a interpretar o comportamento da criança como desobediência, por

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 68

exemplo, quando a criança não sabe que deve afiar o lápis depois e não durante a aula ou que, pelo menos, deve levantar a mão para pedir licença. Além disso, se os alunos sabem quais são os passos necessários para fazerem determinado trabalho, é mais provável que o façam ordenadamente. Elabore planos para as atividades que se adaptem ao espaço físico e ao seu método de trabalho (discutiremos este assunto mais adiante). Se uma rotina não resultar, envolva os alunos na sua reformulação. Seguem-se exemplos de rotinas de aula que pode planear com os seus alunos.55 Poderá acrescentar mais alguns?

Movimento. Planeie a entrada e a saída da aula, assim como a mudança na organização da sala de acordo com o que está a ser ensinado; por exemplo, passar de uma arrumação para toda a turma para uma arrumação para testes ou para pequenos grupos nas aulas de educação visual ou de ciências. Faça o plano de modo a que vá ao encontro das necessidades individuais dos alunos, por exemplo, quando eles precisem de afiar o lápis ou de ir buscar material pessoal, como acontece com o material para educação visual.

Tarefas não letivas. Estas tarefas incluem atividades como ajudar a recolher folhas de autorização ou de justificação de faltas e manter a sala em ordem. Quando tal for permitido, os alunos podem ajudar nestas tarefas, sobretudo os alunos que precisam de atenção especial. Também se podem utilizar algumas destas tarefas como atividades didáticas, por exemplo, calcular a percentagem de alunos que nesse dia assistiram à aula de matemática.

Gestão de Materiais e Transições. Se se criarem rotinas para distribuir, recolher e arrumar materiais de ensino e de aprendizagem, os alunos ajudantes conseguem fazê-lo rapidamente. Se os materiais didáticos forem preparados e organizados com antecedência, pode fazê-los transitar entre atividades sem problemas e em pouco tempo. Deve-se registar uma lista dos materiais necessários num horário diário para os alunos saberem aquilo de que precisam e poderem preparar uma atividade, enquanto os materiais da atividade anterior são guardados ou recolhidos.

Trabalho de Grupo. O trabalho de grupo favorece a aprendizagem cooperativa. Ensina os alunos a trabalharem em conjunto, aprendendo assim a importância do trabalho de equipa. Cada membro do grupo deve ter uma

55 Adaptado de: Classroom Management – Classroom Rountines. Collaborative for Excellence in Teacher Education (CETP), National Science Foundation. http://www.temple.edu/CETP/temple_teach/cm-routi.html [acesso online em 10/20/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 69

tarefa específica e oportunidade de a executar. Faça a descrição das tarefas aos seus alunos e crie rotinas para as distribuir. O aluno pode ser moderador, gestor do tempo, relator, a pessoa que faz a gravação, que incentiva ou que faz perguntas, gestor dos materiais ou o responsável pela tarefa.

CRIAÇÃO DE REGRAS PARA A SALA DE AULA COM OS ALUNOS E OS PAIS

Todas as salas de aula precisam de regras para funcionarem bem. A estas “regras” dá-se, por vezes, o nome de “expectativas” ou “padrões de comportamento”.

A natureza das regras e das rotinas da aula, assim como a forma de as aplicar, variam de acordo com as ideias do professor. A maneira como trabalhamos com os alunos na aula, incluindo o estabelecimento de regras e de rotinas, depende principalmente do que pensamos sobre como os alunos aprendem a comportar-se. Num extremo, alguns de nós consideramos que os alunos são recetores passivos de conhecimentos e têm que se adaptar ao sistema e ver nele uma verdadeira recompensa ou benefício para a sua aprendizagem. Assim, podemos dar especial relevância a critérios firmes de regras e rotinas regulares. No extremo oposto, alguns de nós acreditamos que os próprios alunos são ativos, motivados e insubstituíveis na resolução de problemas. Consequentemente, consideramos essencial dar escolhas aos alunos.56 Quando criamos regras e rotinas de aula com o envolvimento dos alunos, podemos optar pelo meio-termo, isto é, ser flexíveis para ir de encontro às circunstâncias diferentes e muitas vezes variáveis das nossas aulas.

Frequentemente, as regras que criamos são uma maneira de antecipar e prevenir problemas ou dificuldades comportamentais que possam surgir na gestão da aula. Seguem-se sugestões para a criação dessas regras:

♦ Elabore apenas algumas regras que foquem a importância de um comportamento apropriado; nem o professor nem os alunos conseguem recordar uma longa lista. Afixe essas regras na sala de aula para todos verem.

56 Mayeski, Fran. The Metamorphosis of Classroom Management. Mid-continent Research for Education and Learning. http://www.mcrel.org/pdfcoversion/noteworthy/learners%5Fschooling/franmasp

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 70

♦ Para os assuntos que a seguir se indicam, pense quais as regras e quais

as expectativas a determinar para conseguir que a sua sala de aula funcione bem: (a) o começo e o fim do período de trabalho ou do dia, incluindo como deve decorrer a apresentação e o que os alunos podem ou não fazer durante esse tempo; (b) utilização de materiais e de equipamento; (c) como pedir autorização para necessidades esporádicas (como ir à casa de banho ou afiar o lápis); (d) procedimentos em relação a trabalho no lugar ou trabalho de grupo independente; e (e) como os alunos devem fazer perguntas ou responder.

♦ Escolha regras que proporcionem um ambiente ordenado na sala de aula e favoreçam uma boa aprendizagem. Alguns comportamentos, como mascar pastilha elástica ou não estar quieto, nem sempre impedem significativamente a aprendizagem, a não ser que sejam barulhentos ou que provoquem distração.

♦ Não crie regras que não tenha vontade ou não seja capaz de impor consistentemente.

♦ Torne as regras o mais claras e compreensíveis possível. Devem descrever comportamentos: “Sirva-se das mãos e dos pés só para si” é uma mensagem mais clara e dá um sinal mais positivo do que “é proibido lutar”.

♦ Selecione regras que tenham um acordo unânime e sejam aceites por toda a gente na escola. Se os alunos aprendem que não podem comportar-se de determinada maneira na sua aula mas podem fazê-lo noutras aulas, vão testar os limites para verem até que ponto podem ir e escapar.

♦ Acima de tudo, envolva os alunos na criação de regras para a sala de aula! Pode começar com a ideia de que “podem fazer o que quiserem nesta aula, a não ser que o que fizerem interfira com os direitos dos outros, por exemplo, dos vossos colegas e professor.” Utilizando este método “baseado em direitos”, peça aos alunos que identifiquem comportamentos aceitáveis e não aceitáveis porque violam os direitos dos outros. Crie regras que estejam de acordo com estes direitos e penalizações para a violação das regras. Lembre-se de que estes castigos devem ajudar a criança a aprender e ser coerentes com a natureza do comportamento, isto é, devem corresponder ao melhor interesse tanto da criança como da aula. Depois peça aos alunos para

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 71

elaborar uma “constituição da sala de aula” ou um “painel com a política da sala de aula” para expor num sítio bem visível da sala. Peça-lhes para assinar aceitando, assim, as regras e, em caso de infração, submeterem-se às consequências. É menos provável que haja mau comportamento se o aluno se comprometer a evitar infringir as regras e optar por outros comportamentos mais desejáveis.

♦ Reveja as regras regularmente para verificar se há algumas que já não são necessárias. Nesse caso, elogie os alunos e pergunte-lhes se será preciso estabelecer outras regras.

Envolvimento dos Pais

As regras tornam-se mais eficazes quando os professores, os pais e os alunos se comprometem igualmente a respeitá-las. Nalgumas escolas faz-se um “contrato” entre todas estas partes. Um “contrato” é, simplesmente, um acordo formal ou um pacto que indica claramente as responsabilidades específicas de cada uma das partes e é assinado por todos. O texto de um contrato como este pode tomar a forma abaixo sugerida.57 Pode ser discutido com os pais na primeira reunião de pais/professor ou de pais/professor/alunos. Será que pode adaptá-lo e usá-lo como meio de envolver os alunos e os pais na promoção de um bom comportamento na sala de aula?

Como pai-mãe/encarregado de educação, comprometo-me a:

♦ Respeitar e apoiar o meu filho(a), os professores e a escola.

♦ Arranjar um sítio de estudo sossegado e bem iluminado e supervisionar os trabalhos de casa.

♦ Participar em reuniões formais e informais de pais/professor ou pais/professor/alunos.

♦ Conversar todos os dias com o meu filho(a) sobre as suas atividade na escola.

♦ Monitorizar o tempo em que vê televisão ou outras atividades que possam prejudicar o estudo.

57 Education World. Creating a Climate for Learning: Effective Classroom Management Techniques. http://www.education-world.com/a_curr155shtml [acesso online em 10/6/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 72

♦ Estar presente numa atividade da escola ou da turma pelo menos uma

vez por mês.

♦ Ler pelo menos dez minutos por dia com o meu filho(a) ou ouvi-lo ler.

Como aluno, comprometo-me a:

♦ Procurar fazer sempre o meu trabalho o melhor possível.

♦ Dar-me bem com os meus colegas e ajudá-los.

♦ Respeitar-me a mim, ao meu professor(a), à minha escola e às outras pessoas.

♦ Obedecer às regras da aula e da escola.

♦ Respeitar a propriedade dos outros, não roubando nem vandalizando.

♦ Vir para a escola com os trabalhos de casa feitos e o material necessário.

♦ Acreditar que posso e vou aprender.

♦ Gastar pelo menos cinco minutos por dia a estudar ou a ler em casa.

♦ Conversar todos os dias com os meus pais sobre as atividades da escola.

Como professor/a, comprometo-me a:

♦ Respeitar todos os alunos e as suas famílias.

♦ Fazer uso eficiente do tempo de aprendizagem.

♦ Proporcionar um ambiente seguro e confortável que favoreça a aprendizagem.

♦ Ajudar cada um dos alunos a desenvolver ao máximo as suas potencialidades.

♦ Passar trabalhos de casa significativos e apropriados.

♦ Dar o apoio necessário aos pais para poderem ajudar os filhos nos trabalhos.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 73

♦ Pôr em prática as regras da escola e da sala de aula duma maneira

justa e consistente.

♦ Comunicar aos pais e aos alunos avaliações do progresso e do trabalho realizado.

♦ Utilizar atividades especiais na aula para tornar a aprendizagem mais agradável.

♦ Demonstrar comportamento profissional e uma atitude positiva.

Agora podemos trabalhar juntos para pôr em prática este contrato.

Assinaturas:

Assinatura de um dos pais/data

Assinatura do aluno(a)/data

Assinatura do professor(a)/data

NORMAS PARA O COMPORTAMENTO E BOA GESTÃO

As normas da sala de aula estabelecem as regras para o comportamento dos nossos alunos, mas nós, como professores, devemos também ter normas. Na verdade, somos modelos importantes para os nossos alunos.

♦ Devemos dizer aos nossos alunos a forma como todos nos devemos comportar na turma (os nossos alunos e nós próprios) e devemos discutir regularmente estas expectativas.

♦ Devemos informar os diretores da escola, os outros professores e os pais sobre as regras da nossa sala de aula, de modo que eles possam ajudar a monitorizá-las e evitar conflitos sobre elas.

♦ As regras que desenvolvemos com os nossos alunos devem ser aplicadas de forma consistente e sem favoritismo.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 74

♦ Devemos continuamente estar cientes do que se passa tanto dentro

como fora das nossas salas de aula, e o nosso controlo deve ser subtil e preventivo.

♦ Não nos devemos zangar ou perder o autocontrolo, mas sermos modelos para um bom comportamento e ajuda para que os nossos alunos sigam as regras.

♦ Quando é necessário impor disciplina, deve-se focar o comportamento dos alunos e não os próprios alunos. Deste modo é mantida a dignidade do aluno.

♦ Devemos encorajar o aluno a controlar o seu comportamento, por exemplo, através de um diário em que regista a sua atividade com os outros. Devem, também, controlar, com respeito, o comportamento uns dos outros.

♦ Na atividade de ensino, não devemos utilizar termos ambíguos ou vagos. As atividades devem ser realizadas segundo uma sequência clara com as mínimas interrupções possíveis.

Algumas das características que os alunos apreciam num professor, e que devem constituir uma parte essencial do seu comportamento, são:58

Justiça. Os alunos consideram esta qualidade como a mais importante num professor. Significa serem justos nas suas atividades tais como no marcar de tarefas, na solução de conflitos, no prestar de apoio, na escolha dos alunos que ficam como ajudantes ou na participação das atividades.

Humor. A capacidade de responder aos alunos despreocupadamente.

Respeito. Isto significa respeitar os direitos e os sentimentos dos alunos.

Amabilidade. Este é um outro sinal de respeito.

Abertura de espírito. Os alunos precisam de ver o professor como uma pessoa real. O professor precisa de expor claramente os seus sentimentos e a circunstância que os motivaram.

Ouvir com atenção. Isto significa responder quando o aluno faz perguntas. Deve mostrar que o ouviu e que lhe vai dar oportunidade de corrigir algo que

58 Adaptado de: Important Traits for Teachers. Collaborative for Excellence in Teacher Education (CETP), National Science Foundation. http://www.temple.edu/CETP/temple_teach/cm-trait.html [acesso online em 11/28/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula I

não percebeu ou interpretou mal. Deve procurar reformular o que foi dito ou utilizar uma linguagem corporal que demonstre empatia

Atividade. Perfil da gestão da

O seu estilo de gestão da sala de aula irá determininteração com os seus alunos, a sua capacidade de construir um relacionamento positivo com eles e a forma como eles irão aprender através da sua atuação. Pode também influenciar o comportamento (bom ou mau) dos seus alunos e a forma como os consegue disciplinar Ou seja, se utiliza métodos negativos ou positivos para levar os seus alunos a terem um comportamento adequado. leia atentamente cada uma das afirmações do quadro abaixo. diga se concorda ou não com acorresponde ao que costuma fazer

Característica

1. Acredito que a sala de aula deve que os alunos aprendam

2. Acredito que devem existirforma estruturada, comportamento e promove a aprendizagem.

3. Não gosto de ser interrompido quando estou a ensinar.

4. Os alunos devem aprender a obedecer a ordens sem perguntar porquê.

5. Os meus alunos raramente inestar concentrados naquilo que eu lhes estou a ensinar.

59 Elaborado com base em: Teacher Talk. http://education.indiana.edu/cas/tt/v1i2/what.html [

sitiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem

não percebeu ou interpretou mal. Deve procurar reformular o que foi dito ou utilizar uma linguagem corporal que demonstre empatia.

. Perfil da gestão da sala de aula? 59

estão da sala de aula irá determinar da sua interação com os seus alunos, a sua capacidade de construir um relacionamento positivo com eles e a forma como eles irão aprender através

. Pode também influenciar o comportamento (bom ou mau) dos seus alunos e a forma como os consegue disciplinar Ou seja, se utiliza métodos negativos ou positivos para levar os seus alunos a terem um comportamento adequado. Para começar a determinar o seu esleia atentamente cada uma das afirmações do quadro abaixo.

ou não com as afirmações ou, ainda melhor, se isso corresponde ao que costuma fazer.

Concordo

Acredito que a sala de aula deve estar sossegada para que os alunos aprendam.

devem existir lugares determinados, de (tal como filas). Isso reduz o mau

e promove a aprendizagem.

sto de ser interrompido quando estou a

alunos devem aprender a obedecer a ordens sem

Os meus alunos raramente iniciam atividades. Devem estar concentrados naquilo que eu lhes estou a

com base em: Teacher Talk. What is your classroom management profile?http://education.indiana.edu/cas/tt/v1i2/what.html [acesso online em 10/6/200

nclusiva e Amiga da Aprendizagem 75

não percebeu ou interpretou mal. Deve procurar reformular o que foi dito ou

59

r da sua capacidade de interação com os seus alunos, a sua capacidade de construir um relacionamento positivo com eles e a forma como eles irão aprender através

. Pode também influenciar o comportamento (bom ou mau) dos seus alunos e a forma como os consegue disciplinar Ou seja, se utiliza métodos negativos ou positivos para levar os seus alunos a terem um

Para começar a determinar o seu estilo de gestão, leia atentamente cada uma das afirmações do quadro abaixo. Em seguida,

ões ou, ainda melhor, se isso

oncordo Discordo

What is your classroom management profile? 10/6/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 76

Característica Concordo Discordo

6. Quando um aluno se porta mal castigo-o ou disciplino-o imediatamente, sem qualquer discussão.

7. Não aceito desculpas para um mau comportamento, tal como ter-se atrasado ou não ter feito o trabalho de casa.

8. De acordo com o que está a ser aprendido, a minha sala de aula pode assumir diferentes tipos de organização.

9. Preocupo-me não só com o que os meus alunos aprendem como com a forma como o fazem.

10. Os meus alunos sabem que podem interromper a minha aula se têm uma questão relevante a colocar.

11. Felicito os alunos quando merecem e encorajo-os a trabalharem melhor.

12. Apresento projetos para os meus alunos realizarem ou peço-lhes que desenvolvem os seus próprios projetos. Em seguida, discutimos o que aprenderam e o que precisam de aprender mais.

13. Eu explico sempre as razões que justificam as regras e as decisões que foram tomadas.

14. Quando um aluno se porta mal eu dou-lhe uma reprimenda em termos corretos mas firmes. Se são necessárias medidas disciplinares, considero cuidadosamente as circunstâncias em que tal se verifique.

15. Acredito que os alunos aprendem melhor quando ”podem realizar as suas próprias atividades,” ou seja, fazem aquilo que acham que podem fazer bem.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 77

Característica Concordo Discordo

16. O bem-estar emocional dos meus alunos é mais importante do que o controlo da sala de aula. É importante que os meus alunos me vejam como seu amigo.

17. Alguns dos meus alunos estão motivados a aprender, enquanto outros não revelam tal interesse.

18. Não planeio com antecedência o que irei fazer para disciplinar um aluno. Espero, simplesmente, que isso aconteça.

19. Não quero orientar ou repreender um aluno porque isso poderá magoá-lo.

20. Se um aluno perturba a turma, dou-lhe uma atenção redobrada, porque ele deve ter, certamente, algo de importante a oferecer.

21. Se um aluno pede para sair da aula, eu aceito sempre o seu pedido.

22. Não quero impor nenhumas regras as meus alunos.

23. Utilizo os mesmos planos de aulas ano após ano, para não ter de preparar as aulas antecipadamente.

24. Não é possível organizar passeios de estudo e projetos especiais. Não tenho tempo para os preparar.

25. Posso mostrar um filme ou uma série de slides em vez de dar a aula.

26. Os meus alunos costumam olhar para o espaço em volta e para o que se passa lá fora.

27. Se a lição termina mais cedo os alunos podem estudar sossegadamente ou falar baixo com os colegas.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 78

Característica Concordo Discordo

28. Raramente imponho disciplina aos meus alunos. Se um aluno entrega tarde o trabalho de casa, isso não é problema meu.

Em seguida, conte o número de “Concordo” em relação aos pontos 1-7; 8-14; 15-21 e, finalmente, 22.28. Em que conjunto de pontos obteve o maior número de respostas de “concordo”? Este é o seu estilo de gestão, mas não se surpreenda se também tem características de outros estilos.

No quadro acima, os pontos 1-7 refletem um estilo autoritário “eu sou o professor e vocês têm de fazer as coisas de acordo com a minha vontade”. Este estilo é bom para conseguir uma sala de aula bem estruturada, mas não contribui para aumentar a motivação para o sucesso ou para o estabelecimento de objetivos pessoais. Nesta turma, os alunos tendem a ser relutantes em iniciar uma atividade, uma vez que tendem a sentir-se impotentes.60 Devem obedecer ao professor à custa da sua liberdade pessoal.

Os pontos 8-14 refletem um estilo cooperativo “vamos trabalhar em conjunto”. Embora se coloquem limites ao comportamento dos alunos. As regras são explicadas e os alunos podem ser independentes dentro desses limites. Um professor cooperativo encoraja os comportamentos que revelam autoconfiança e competência social. Para além disso, encoraja os alunos a serem motivados e a atingirem melhor os objetivos. Muitas vezes, em vez de os orientar, encoraje os alunos a progredir nos seus projetos.61

Os pontos 15-21 revelam um estilo de “laissez-faire”. “Seja como quiserem. ”O professor laissez-faire coloca poucas exigências aos alunos e exerce pouco controlo sobre eles. Este professor aceita os impulsos e as ações dos alunos e não tende a controlar o seu comportamento. Procura não ferir os sentimentos dos alunos e tem dificuldade em dizer não ou em insistir nas regras estabelecidas. Embora este tipo de professor possa ser popular entre os alunos, o seu estilo super indulgente está associado com a falta de competências sociais e de autocontrolo dos alunos. É difícil que os alunos aprendam um comportamento socialmente aceitável quando o professor é

60 http://education.indiana.edu/cas/tt/v1i2/authoritarian.html 61 http://education.indiana.edu/cas/tt/v1i2/authoritative.html

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 79

muito permissivo. Se lhe forem apresentadas poucas solicitações, os alunos, têm geralmente uma baixa motivação para aprender.62

Finalmente, os pontos 22-28 revelam um estilo indiferente; “façam o que quiserem fazer.” O professor indiferente não está envolvido com a turma. Este professor apresenta poucas – ou mesmo nenhumas – exigências aos alunos e apresenta-se geralmente como desinteressado. O professor indiferente não se quer impor aos alunos. Assim, sente muitas vezes falta de disciplina na sua turma. Neste ambiente permissivo os alunos têm poucas oportunidades de observar ou de praticar competências de comunicação. Num ambiente em que há poucas exigências e pouca disciplina, os alunos têm pouca motivação para aprender e falta de autocontrolo.63

Se ainda não estão certos sobre qual destes quatro estilos de gestão da sala de aula é o que se situa mais próximo do seu, peça a um colega, a um professor auxiliar ou a um aluno mais velho que assista à sua aula, durante um ou dois dias. Em seguida peça-lhes que vejam as características e estilos de gestão acima indicados e que os ajudem a decidir quais são os que mais se aproximam dos seus. Será que o estilo afeta o seu comportamento? Será que afeta a forma como disciplina os seus alunos e os motiva a aprender? Pensa que haverá lugar para algum progresso? Tente modificar o seu estilo, ou uma das características indicadas acima e repare se os seus alunos passam a estar mais motivados e se sente maior facilidade a ensinar. Escreva um diário com as mudanças que realize e verifique se a gestão da sua sala é agora mais fácil ou não e se os seus alunos têm melhores comportamentos e competências de relacionamento interpessoal.

OFERECER REFORÇO POSITIVO

A disciplina positiva é uma forma de reduzir o mau comportamento, através de reforços positivos. Baseia-se na premissa segundo a qual o comportamento que é premiado tende a ser repetido. O aspeto mais importante em relação à disciplina positiva consiste no facto de exigir que se ajudem os alunos a aprender comportamentos que vão ao encontro das nossas expectativas (adultas), sejam eficientes na promoção de relações sociais positivas e os ajudem a desenvolver um sentido de autodisciplina que conduza a uma autoestima positiva. Os comportamentos que são valorizados e que se pretenda encorajar devem ser do conhecimento dos alunos e você necessita

62 http://education.indiana.edu/cas/tt/v1i2/laissez.html 63 http://education.indiana.edu/cas/tt/v1i2/indifferent.html

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 80

de fazer um esforço concertado no ensino e no fortalecimento destes comportamentos. Algumas das estratégias que pode usar para ajudar os alunos a aprender comportamentos positivos incluem o seguinte:

Apresente medidas positivas – “Veja quantas respostas corretas tem. Tente conseguir um resultado melhor na próxima vez!”

Ouça com atenção e ajude-os a aprender a utilizar palavras que exprimam os seus sentimentos, em vez de ações destrutivas.

Dê aos alunos a oportunidade de fazerem escolhas e ajude-os a aprender a avaliar as possíveis consequências das suas escolhas.

Reforce positivamente os comportamentos emergentes desejáveis com frequentes apoios e ignorando erros menores.

Apresente modelos de comportamentos ordeiros e previsíveis, comunicações respeitosas, e estratégias de resolução de conflitos colaborativas (assunto que será abordado mais tarde).

Utilize uma linguagem corporal adequada - faça sinais com a cabeça, sorria e olhe diretamente para o aluno.

Baixe-se - especialmente em relação a crianças mais pequenas, ajoelhe-se, ou sente-se ao seu nível.

Restruture o ambiente – remova objetos que convidem ao mau comportamento; por exemplo, se está a usar jogos ou brinquedos como meios de aprendizagem, retire-os quando acabar a atividade.

Reoriente o comportamento de forma positiva – um aluno está a jogar à bola na sala de aula. “Podes ir jogar à bola para o recreio lá fora onde há mais espaço para brincar.”

Em resumo, esperamos que tenha aprendido bastante com esta secção e tenha decidido experimentar algumas destas novas ideias na sua sala de aula. Aprendemos que uma gestão eficaz da sala de aula, que cria e apoia comportamentos positivos, é aquela em que você:

1. Sabe o que quer e o que não quer.

2. Mostra e explica aos alunos o que quer.

3. Quando consegue o que quer, mostra a sua apreciação.

4. Quando o que acontece é diferente do que pretendia, atua de forma rápida apropriada e positiva.

Neste processo, no entanto, precisa de se certificar que:

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 81

1. As suas expectativas são claras.

2. O ensino desperta o interesse nos seus alunos.

3. Os seus alunos vêm o objetivo e a importância do que lhes é ensinado.

4. O ensino relaciona os conceitos e as competências com a sua experiência de vida e têm significado no contexto da sua vida diária.

5. As suas estratégias de ensino são variadas. Os alunos aborrecem-se, mesmo que os assuntos tenham interesse, se utilizar constantemente os mesmos métodos.

Eis alguns meios que pode utilizar de forma a produzir um ambiente que facilite comportamentos positivos nos seus alunos:64

1. Mantenha e expresse expectativas comportamentais elevadas relativas a si próprio e aos alunos.

2. Estabeleça regras e procedimentos claros e ajude os alunos a segui-los; especialmente, em relação às crianças do primário, proporcione-lhes uma grande oportunidade de instrução, prática e memorização.

3. Torne bem claro aos alunos o que entende por bom e mau comportamento.

4. Desde o primeiro dia de escola, sublinhe a importância das regras de forma rápida, consistente e equitativa.

5. Procure desenvolver nos alunos o sentido de autodisciplina; insista no ensino de competências autocontrolo.

6. Mantenha um ritmo educativo direto e faça transições suaves.

7. Oriente as atividades da turma e dê aos alunos feedback e reforço, relativamente ao seu comportamento.

8. Crie oportunidades para que os seus alunos tenham sucesso na sua aprendizagem e no seu comportamento social.

64 Cotton, Katherine. Schoolwide and Classroom Discipline. School Improvement Research Series. Iclose-Up #9. http://www.nwrel.org/scpd/sirs/5/cu9.html [acesso online em 10/6/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 82

9. Identifique alunos que parecem ter uma baixa autoestima e tente

ajudá-los a ter sucesso e a sentirem-se mais confiantes.

10. Utilize grupos de aprendizagem cooperativa, de forma apropriada.

11. Use o humor sempre que adequado, de forma a estimular o interesse dos alunos ou reduzir as suas tensões da turma.

12. Durante os momentos de ensino, remova os materiais que provoquem distração.

13. Torne a sala de aula confortável, atrativa e acolhedora para os alunos, os pais e para si próprio.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 83

Lidar com alunos problemáticos O que vai aprender:

♦ Como Melhorar os Efeitos das Técnicas de Disciplina Positiva

♦ Dicas de Disciplina Positiva

♦ Dicas de Ensino Positivo na Sala de Aula

♦ Utilização de Consequências Adequadas, Positivas e Negativas

♦ Utilização Cuidadosa da “Saída da Sala”

♦ Resolução de Conflitos

♦ Técnicas Específicas de Disciplina Positiva, Para Determinadas Idades

♦ Apoio às Crianças com Necessidades Especiais

MELHORAR A EFICÁCIA DAS TÉCNICAS DE DISCIPLINA POSITIVA

Se um aluno se comporta mal, são necessárias técnicas positivas para reduzir ou eliminar esses comportamentos. Tal como aprendemos, os maus comportamentos são comportamentos indesejáveis que colocam o aluno em perigo, que não se coadunam com as regras esperadas na sala de aula e interferem com as interações sociais positivas e a autodisciplina. Nesta fase final, vamos insistir na abordagem sobre as técnicas específicas que podem ser utilizadas para reduzir o mau comportamento ou mesmo a preveni-lo. Qualquer que seja a técnica escolhida, a sua eficácia pode ser aumentada nas seguintes circunstâncias:65

65 American Academy of Pediatrics. Guidance for Effective Discipline. http://aappolicy.aappublications.org/cgi/content/full/pediatrics;101/4/723 [acesso online em 12/2/2005]

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♦ Quando você e o aluno compreendem claramente o problema de

comportamento que está em causa e quais as consequências que podem advir se tal comportamento ocorrer.

♦ Quando responde de forma imediata com uma atitude vigorosa, logo que o comportamento ocorre pela primeira vez (se uma regra for quebrada, procure que seja de imediato respeitada, não espere para mais tarde).

♦ Quando, de cada vez que ocorre um comportamento problemático, você contrapõe sistematicamente uma consequência apropriada.

♦ Quando responde com uma instrução e uma correção calma e com empatia.

♦ Quando der uma justificação para a consequência relativa a determinado comportamento, de modo a que ajude o aluno a aprender o comportamento adequado e a desenvolver a sua capacidade de aceitação das orientações dos adultos.

DICAS DISCIPLINARES POSITIVAS

Realmente, nem sempre se verifica a necessidade de ações disciplinares. Uma boa atitude disciplinar envolve evitar situações problemáticas ou lidar com elas antes que fiquem fora de controlo. Como? Aqui se indicam dez dicas valiosas. Algumas são novas, outras já foram indicadas anteriormente mas vamos olhá-las com mais pormenor.66,67

1. Tenha confiança em si próprio; não faça uma má escolha. Tal como foi referido acima, um autêntico mau comportamento ocorre quando um aluno decide comportar-se de forma inapropriada. Antes de tomar alguma atitude, interrogue-se sobre as seguintes questões.

66 Positive Discipline and Child Guidance. http://www.kidsgrowth.com/resources/articledetail.cfm?id=1211 [acesso online em 10/12/2005]

67 Adapted from: Kelley, Laureen. The Discipline Dilemma. Parent Exchange Newsletter – October 1995. http://www.kelleycom.com/articles/discipline.htm [acesso online em 9/29/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 85

A. Será que o aluno está a fazer alguma coisa mesmo errada? Estamos

perante um problema real ou estão simplesmente cansados e sem paciência?

♦ Se não existe um verdadeiro problema, tente deixar de sentir o stresse em relação ao aluno e à turma.

♦ Se existe um problema, passe à questão seguinte.

B. Pense, por um momento: será que o meu aluno será mesmo capaz de fazer o que lhe é pedido?

♦ Se não está a ser justo, reavalie as suas expectativas.

♦ Se as suas expectativas são justas, passe para a questão seguinte.

C. Será que o seu aluno sabe, naquele momento, que está a proceder mal?

♦ Se o aluno não sabe que está a proceder mal, ajude-o a compreender o que espera dele e porque considera que ele pode fazer isso. Ofereça-se para o ajudar.

♦ Se o aluno souber que o que estava fazer era errado e, deliberadamente, agiu contra a expectativa que tinha em relação a ele, isso significa que está a ter um comportamento incorreto.

Se o comportamento for acidental, não constitui um mau comportamento. Se não for acidental, peça ao aluno para lhe indicar as razões para agir dessa forma. Ouça cuidadosamente e avalie o que ele disser antes de responder.

2. Chame a tenção para o que é positivo. Sempre que um aluno mostra que tenta ajudar, apoiar, ou revela progressos faça com que ele saiba que reparou nisso dizendo-lhe palavras de apreço. Por exemplo: “Somsak, fiquei impressionado com a forma como resolveste o problema do teu trabalho de casa.”

Mesmo no caso de um incidente, não procure unicamente a falha, mas identifique o que correu bem e o que não correu bem. Por exemplo: “Nath, foi muito bonito teres ajudado o teu amigo. É muito importante ser-se um amigo leal. Porém, não posso deixar que batas nos outros. Como poderias reagir de outra forma a esta situação?”

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 86

3. Interaja respeitosamente com os alunos. Trate-os da forma como

gostaria de ser tratado. Seja o tipo de professor de quem se lembram com amizade Seja um guia, não um patrão. Ajude-os a portarem-se melhor. Seja o tipo de professor de quem se lembra do seu tempo de escola.

4. Comunique as sus expectativas aos seus alunos de forma clara e respeitosa. Lembre-lhes, várias vezes, quais são as suas expectativas, antes de existir um problema ou durante a sua ocorrência. Por exemplo, no início do dia, na escola, diga aos alunos: “Quando a aula acabar, hoje e nos restantes dias, quero que fiquem sentados até que eu chame pelo vosso nome. Assim, todos podem sair da sala sem problemas e sem se empurrarem uns aos outros, e eu posso aprender os vossos nomes e conhecê-los mais depressa.“ Lembre-se disto todos os dias até que a saída em ordem faça parte da rotina diária da escola.

5. Use humor ou motivos de distração. Nem todos os comportamentos desajustados que os alunos cometem necessitam de ações disciplinares. As crianças, tal como os adultos, podem estar cansados, frustrados, ou aborrecidos. Nestas situações, as ações disciplinares podem não funcionar. Experimente usar o humor durante as suas aulas para manter todos interessados e não aborrecidos. Por exemplo, durante uma aula de ciências, peça aos alunos para resolverem uma adivinha que introduza a lição. A adivinha pode ser: “Quem é que começa a vida usando quatro membros, vive usando dois e acaba usando três?” A resposta é: o ser humano. Um bebé gatinha com quatro, aprende a andar com dois e quando é velho usa, muitas vezes, a bengala – tem três pernas. Esta adivinha pode ser uma forma interessante de introduzir o tópico relativo à forma como o corpo humano se desenvolve ou falar sobre o envelhecimento. Para crianças do pré-escolar, podem usar uma distração, como por exemplo, dizer “Olhem a borboleta”. Isto pode desviar a atenção de choraminguices, agitação ou de birras e pode levar a ocuparem-se de outras atividades, tais como fazer desenhos de borboletas. Use a sua imaginação!

6. Utilize uma cooperação pró-ativa. Proponha-lhes atividades que eles gostem de realizar numa perspetiva cooperativa. Por exemplo, diga: “Desenhem todo um I no ar”. “Maria, fizeste muito bem o I”. “Levantem todos o dedo indicador. Agora enfiem-no no livro onde acham que está a página 108”. Depois, peça a todos para abrirem a

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 87

página 108 e para escreverem as respostas às seis perguntas aí propostas.68

7. Ofereça diferentes opções ou escolhas e encoraje o grupo a tomar decisões. Muitos alunos não gostam nada de ser pressionados; dar-lhes oportunidades de fazer escolhas ajuda-os a sentir que têm algum controlo sobre o que fazem – embora este controlo seja limitado. Quando chega a altura do exame, podem dizer: “Terça-feira vamos fazer um teste de leitura. Quem é que gostava de ter um teste escrito, e quem gostava de ter um teste oral? Podem escolher qual deles preferem”. Isto dará às crianças a sensação de terem um controlo sobre a situação. Se quiserem um único tipo de teste, peça-lhes para discutirem quais as vantagens e desvantagens dos dois tipos de testes, e depois votem naquele que preferirem. A maioria ganha. Se alguns alunos ficarem aborrecidos porque a sua escolha não foi aceite – por exemplo queriam um teste escrito e a turma optou por um teste oral - no dia do exame inclua algumas perguntas escritas, com crédito extra.

8. Permita as consequências naturais dos seus atos, desde que sejam seguras. Se uma criança chega frequentemente tarde à aula, não fique zangado. A responsabilidade de chegar tarde é da criança. Diga-lhe que se o atraso se mantiver tem de escrever uma nota para os pais. Se continuar a chegar tarde mande a nota para os pais e deixe-o sofrer as consequências. Ele irá compreender que é responsável pelo seu comportamento e pelas suas consequências.

9. Não considere a desobediência intencional dos alunos como um assunto pessoal. As crianças precisam de exprimir desobediência e precisam de testar os limites como parte do seu desenvolvimento. Não sinta isso como uma ameaça à sua autoridade. Reaja duma forma calma, utilizando uma ação que desenvolva o autocontrolo. Lembra-se do caso do Ramon apresentado atrás? No início, o professor considerou os seus problemas de mau comportamento de forma pessoal e isso incomodou-o muito. Mas quando mudou de atitude e compreendeu quando e porquê ele se portava mal, conseguiu adotar uma estratégia eficaz para lidar com ele e teve resultados positivos.

68 Giving and Getting Respect. http://maxweber.hunter.cuny.edu/pub/eres/EDSPC715_MCINTYRE/respect_web_page_insert.html [acesso online em 10/10/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 88

10. Reconheça o esforço, e não a exatidão. Se um aluno está a tentar

fazer o seu melhor, deve sentir-se feliz. Tentar é o primeiro passo de aprender. Se um aluno não quer tentar uma tarefa difícil, fale-lhe sobre as vezes em que o seu esforço resultou em sucesso. Encoraje-o a voltar a esforçar-se: Lembre-se de lhe dizer que se ele se esforçar, ficarão felizes com isso. Faça com que saiba que tem fé nas suas capacidades.

DICAS POSITIVAS PARA O ENSINO NA SALA DE AULA

A disciplina positiva precisa de ser apoiada por um ensino positivo. Quando se ensina há muitas maneiras de evitar um mau comportamento ou, pelo menos, de lidar com ele de forma eficaz e sem perturbar a turma. Em seguida indicam-se seis dicas para o conseguir.69 Lembra-se de mais algumas?

1. Prestar atenção e falar com um tom agradável. Antes de começar a aula, certifique-se que dá atenção a todos e espere que todos estejam quietos. Os professores experientes sabem que o seu silêncio pode ser muito eficaz. É importante que prolongue esse silêncio 3 a 5 segundos depois de toda a turma estar completamente quieta. Os alunos depressa compreendem que quanto mais tempo o professor esperar pela sua atenção, menos tempo livre terão no fim da aula. Depois de esperar um tempo, comece a sua aula usando uma voz baixa. Em cada dez professores há um que tem uma voz baixa. Um professor com uma voz baixa consegue turmas mais calmas do que os que têm voz alta. Os alunos mantêm-se calados e quietos, para poderem ouvir o que ele diz.

2. Ensino claro e preciso. A incerteza aumenta o nível de excitação na sala de aula. Comece cada aula dizendo aos seus alunos exatamente o que vai acontecer. Sublinhe o que vai fazer e o que os alunos vão fazer durante esse tempo. Pode estabelecer limites de tempo para algumas atividades. Pode combinar o seu ensino com períodos em que os alunos se dedicam a atividades escolhidas por eles. Pode acabar a descrição das atividades da sala de aula com: ”Penso que vão ter algum tempo no fim da aula para falarem com os vossos amigos, irem à biblioteca ou prepararem outras aulas.”

69 Obtido de: Discipline by Design. 11 Techniques for Better Classroom Discipline. http://www.honorlevel.com/techniques.xml [acesso online em 10/4/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 89

3. Acompanhamento. Circule; ponha-se em pé e mova-se na sala,

especialmente quando os alunos estão a fazer trabalho escrito ou a trabalhar em grupo. Tome nota dos seus progressos. Não interrompa nem faça anúncios gerais a não ser que note que vários alunos estão a ter dificuldades com alguma tarefa. Use uma voz calma e os seus alunos irão apreciar a sua atenção pessoal.

4. Chamada de atenção não-verbal. Em algumas salas de aula os professores têm, na sua mesa, um pequeno sino. Quando o tocam, mesmo devagar, chamam a tenção de todos os alunos. Outros professores têm revelado, ao longo dos anos, uma enorme capacidade em utilizar estratégias diversas nas suas aulas para este fim. Alguns acendem una lanterna ou usam objetos sonoros que trazem no bolso. Outros batem com o giz ou o lápis no quadro. As chamadas de atenção podem também ser expressões faciais ou corporais, ou sinais com as mãos. É preciso ter cuidado na escolha destas chamadas de atenção. Explique bem aos seus alunos o que pretende com o seu uso.

5. Partilha. De igual modo que você querer conhecer coisas dos seus alunos, as crianças geralmente também gostam de saber algo de si e conhecer os seus interesses. Divulgue alguns dados pessoais nas suas aulas. Uma fotografia da família ou a colocação na sua mesa de alguns objetos de algum passatempo ou coleção que faça podem despoletar uma conversa pessoal com os alunos. Há medida que eles o conhecerem melhor, irá verificar menos problemas de disciplina.

Intervenções discretas. Um bom professor terá cuidado em não gratificar um aluno que se comporta mal, fazendo dele o centro das atenções. Deve, antes, circular pela aula antecipando os problemas antes que eles ocorram. A forma de enfrentar um aluno que se está a portar mal deve ser discreta. De outro modo, os restantes alunos ficam distraídos. Por exemplo, enquanto dá uma aula, refira os seus nomes. Se um deles está a falar e a não dar atenção à aula, o professor pode simplesmente mencionar o seu nome, incluindo-o na conversa, duma forma natural: “Como está ver, Chai, transportamos o 1 para a coluna dos 10.” Chai ouve o seu nome e volta a centrar-se na tarefa. Os outros alunos não dão por nada.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 90

UTILIZAR CONSEQUÊNCIAS ADEQUADAS, POSITIVAS OU NEGATIVAS

Um dos fatores importantes na aprendizagem é a vivência das consequências das nossas ações. Se estas consequências foram positivas, tenderemos a repetir estes comportamentos. Se forem negativas, teremos menos tendência para repeti-los.

Muitas vezes, quando estabelecemos regras, decidimos automaticamente que medidas devemos adotar se estas regras forem quebradas. De facto, os alunos que violam as leis devem receber sempre a consequência negativa adequada. Mas por outro lado, os alunos que seguem as regras devem ter as adequadas consequências positivos ou os prémios, mesmo que se trate de alunos mais crescidos. Em seguida damos exemplos de consequências positivas e negativas. Estas sugestões aplicam-se a um largo espectro de idades. Alguns podem ser mais indicados para um determinado grupo do que para outro. As consequências referidas não são indicadas por ordem de prioridade. Todas as consequências devem ser apresentadas e a cordadas pelos alunos e aprovadas pelo Diretor. Trabalhe com os seus colegas, alunos e pais para escolher as consequências positivas e negativas.70

Consequências positivas. Nas salas e aula, as consequências positivas mais comuns centram-se na satisfação do aluno e na formação da sua autoconfiança e autoestima. Os alunos devem saber que são gratificados por cumprirem as regras, tal como pelos seus sucessos e realizações na aprendizagem. Há várias formas simples de gratificar um aluno tal como um toque no ombro; dizer “estou orgulhoso de ti”; selecioná-lo para ser o chefe de turma por um dia; selecioná-lo como “ajudante do professor” por um dia; escolhê-lo para uma atividade de grupo ou um projeto; louvá-lo diante dos colegas ou diante do diretor ou pedir-lhe para ajudar outros colegas. Tem ideia de mais algumas que possam ser aplicadas na sua turma?

Consequências negativas. Tome consciência das suas atitudes, tal como das atitudes dos seus alunos. A utilização frequente de consequências negativas refletem uma má gestão da sala de aula e, geralmente, deveriam ser evitadas. Acompanhe os alunos com atenção e com frequência, de modo a detetar comportamentos negativos antes que se tornem grandes problemas e

70 Adaptado de: Consequences. Collaborative for Excellence in Teacher Education (CETP), National Science Foundation. http://www.temple.edu/CETP/temple_teach/CM-conse.html#anchor40660 [acesso online em 11/28/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 91

envolvam vários alunos. Para parar com comportamentos inapropriados sem interromper a aula nem chamar demasiada atenção dos alunos, tente:

(a) Aproximar-se do aluno em causa, olhando-o nos olhos e fazendo-lhe um sinal não-verbal para que ele pare com a sua atitude errada.

(b) Chame o aluno pelo seu nome ou dê-lhe uma breve instrução verbal para ele parar com a sua atitude.

(c) Reoriente o aluno para uma atitude correta dizendo-lhe o que deveria fazer (não lhe dê ordens dizendo “não”) e lembrando-lhe a regra que devia seguir.

Mas, apesar dos nossos melhores esforços, algumas vezes é necessário disciplinar o aluno. Certifique-se que qualquer que seja a ação que adote ela deve focar-se no comportamento do aluno e não no aluno; deve tratar-se da consequência lógica do mau comportamento e não de uma reação repentina ou dada com rancor. De acordo com a natureza do mau comportamento, indicamos a seguir algumas medidas a tomar. Lembra-se de outras que possam ser adequadas à sua turma e aos seus alunos? Certifique-se que a medida não irá humilhar o aluno perante os colegas!

♦ Perda de algum ou de todo o tempo de recreio com os colegas.

♦ Permanência durante algum tempo depois do fim das atividades escolares para discutir o comportamento do aluno, a razão por que teve lugar, e o que fazer para o corrigir.

♦ Levar o aluno a limpar ou arrumar o que sujou ou desarrumou.

♦ Levar o aluno a pedir desculpa àqueles que ofendeu.

♦ Mudar o lugar do aluno na sala de aula.

♦ Solicitar ao aluno que repita a regra que foi violada e como a seguir.

♦ Escrever uma notificação para os pais ou visitar os pais.

♦ Levar o aluno ao gabinete do Diretor, especialmente nos casos mais graves, tais como lutas, interrupção contínua das aulas, roubo, bulling, posse de drogas ou de outras substâncias proibidas e posse de armas.

CAUTELA NO USO DA “SAÍDA DA SALA DE AULA”

Uma das mais comuns e controversas medidas disciplinares é a “saída sala de aula”. Durante essa saída, o aluno permanece sentado num local, não pode

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brincar nem falar com os outros. A única distração é olhar para o relógio até que os segundos e os minutos passem.

A saída da sala não deve ser a primeira opção, mas a última solução para um aluno que esteja a violentar outro ou a violentar-se a si próprio. A saída da sala se for usada por períodos curtos de tempo pode dar ao aluno oportunidade de se acalmar e de voltar a recuperar o autocontrolo depois duma situação frustrante. Usada frequentemente ou de forma inapropriada, pode não ser eficaz, pode prejudicar o aluno, aumentando a sua ira e agressão em vez de as controlar e se for usada como norma de castigo corporal pode ter consequências emocionais graves.

Quanto tempo deve durar a saída é uma questão a ser debatida. Alguns especialistas dizem que não deve durar mais do que dois ou três minutos, enquanto outros acham que pode ser de um minuto por cada ano de idade do aluno, até aos doze anos. Um minuto por idade foi estabelecido com base na tentativa e erro. Parece ser suficiente para conseguir um bom comportamento sem que o aluno fique ressentido.71

Antes de se expulsar o aluno certifique-se do seguinte:72

♦ Evite essa medida com alunos muito pequenos que não devem estar isolados, nem devem ficar esquecidos sem uma estimulação adequada.

♦ A seguir ao mau comportamento do aluno devem verificar-se de imediato as consequências. Quando os alunos experimentam imediatamente as repercussões de ter magoado outros, compreendem mais facilmente a razão pela qual são castigados. Sempre que possível, devem oferecer-se aos alunos alternativas positivas às suas ações (pedir para limpar o que sujou é mais produtivo do que afastá-lo da área em que o facto aconteceu).

♦ A “saída da sala de aula” não deve causar humilhação, nem levar o aluno a sentir-se ameaçado ou com medo. NÃO deve haver uma cadeira especial ou um espaço especial para o local da saída porque isso irá reforçara a noção de que é um castigo e poderá criar uma ansiedade

71 Goodkids: A Basic Parenting Guide. http://home.flash.net/~goodkids/ [acesso online em 10/10/2005]

72 DCFS. Bureau of Regulation and Licensing. HFS 46 Group Day Care Manual. APPENDIX O. EARLY YEARS ARE LEARNING YEARS. Time out for “timeout” http://www.dhfs.state.wi.us/rl_dcfs/GDC%20Manual/HFS46-Apdnx-O.pdf#search =’DCFS%20Bureau%20of%20Regulation%20and%20Licensing%20Early%20Years%20are%20Learning%20Years%20Time%20out%20for%20timeout’ [acesso online em 10/10/2005]

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 93

desnecessária. Não deve NUNCA fazer os alunos sentirem-se ridículos ou isolados durante o tempo da saída.

♦ O aluno não deve ser deixado sozinho. Especialmente no caso dos mais novos, a não ser que ele o deseje. Os alunos, especialmente os mais novos, precisam do apoio dos adultos para gerir os seus sentimentos. Se mostrarem aos alunos que os seus sentimentos são tidos em conta, é mais provável que eles respeitem os sentimentos dos outros.

♦ Uma saída não deve durar mais tempo do que o necessário para o aluno se acalmar. Depois dele se ter acalmado, expliquem-lhe o que é um comportamento adequado e um inadequado. É preciso que ele compreenda perfeitamente a razão por que foi castigado pois, de outro modo, ele tenderá a repetir o comportamento indesejado.

♦ Evitem ameaças. Nunca digam “se voltares a fazer isto outra vez vais ser expulso.” Isto é confuso para os alunos e é uma forma de castigo negativa que raramente é eficaz.

♦ Adaptem a medida disciplinar adequada a cada aluno. As crianças desenvolvem formas diferentes de se controlarem. Tenha em consideração as necessidades de cada aluno envolvido. Nenhuma técnica é adequada para todos, em todas as ocasiões. A “saída da sala de aula” não deve ser usada como um castigo mas como uma oportunidade para o aluno se acalmar e voltar a juntar-se ao grupo num estado de espírito diferente. Ensine os alunos a resolver os seus próprios problemas com afeto e apoio e a expulsão da aula pode deixar de ser necessária.

RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

Apesar dos seus esforços na sala de aula e no ambiente escolar, bem como os esforços dos seus alunos e dos pais, podem surgir muitas ocasiões conflituosas entre os alunos e esta é uma razão para se realizarem reuniões de pais e de professores (embora não seja esta a única razão). Estes conflitos podem tomar a forma de insultos, provocações, lutas, e conflitos relacionados com acesso a espaços do recreio, acesso e posse de objetos, e até trabalho académico. Estes conflitos surgem muitas vezes em situações de bulling e podem subir de tom rapidamente se não forem negociados ou mediados.

Uma boa maneira de minimizar estas situações é ensinar os alunos a forma de resolver os seus próprios conflitos. Para além de resolver os problemas de

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gestão da sala de aula, esta estratégia ensina aos alunos as competências que lhes serão úteis fora da turma.73

A investigação sobre resolução de conflitos entre alunos tornou claros os seguinte pontos:74

(a) Os conflitos entre alunos ocorrem frequentemente nas escolas (embora raramente se traduzam em ofensas graves).

(b) Os alunos que não tenham recebido treino, usam geralmente estratégias de conflito que têm consequências destrutivas, e estes alunos ignoram a importância da necessidade de manter a sua relação com os outros.

(c) A resolução de conflitos e os programas de mediação entre pares parecem ser eficazes no ensino de alunos da negociação integrada e competências de mediação.

(d) Depois de treino, os alunos tendem a utilizar estas competências de negociação de conflitos o que conduz geralmente a soluções construtivas.

(e) O sucesso dos alunos em resolver os seus conflitos tendem a reduzir o número de conflitos entre alunos que são sinalizados aos professores e aos diretores, o que, por sua vez, diminui a necessidade de usar ações disciplinares severas.

Os procedimentos básicos destinados a ensinar os alunos a tornarem-se pacíficos consistem em três passos.

1. Ensine as crianças competências de negociação que lhes permitam:

(a) Definir o seu conflito (“sobre o que é que estamos a discutir; porque razão e como surgiu a este desentendimento”).

(b) Apresente diferentes pontos de vista e propostas (“Penso que deveria ter sido porque...”).

73 Classroom Management and Discipline. http://education.calumet.purdue.edu/vockell/edps530/Chapter%2013.htm [acesso online em 10/6/2005]

74 Johnson, D.W., Johnson, R.T., Dudley, B., and Burnett, R. “Teaching students to be peer mediators,” Educational Leadership, 50(1), 10-13, 1992.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 95

(c) Veja a situação a partir de ambas as perspetivas (por exemplo

através de dramatização).

(d) Adote opções em que ambas as crianças fiquem a ganhar (soluções do tipo “agora eu, agora tu”, assim como “hoje vamos tentar de acordo contigo e amanhã de acordo comigo, para ver qual é a melhor”).

(e) Chegue a um acordo razoável.

2. Ensine os alunos como mediar resoluções construtivas dos conflitos entre colegas. A mediação é um processo em que se utilizam as capacidades e serviços dos outros para ajudar a sanear uma discussão. Para ensinar a mediação, escolha uma questão que possa surgir ou que surgiu entre dois alunos. Peça a dois alunos que façam uma dramatização sobre essa questão e solicite a um terceiro aluno para ajudar os amigos a chegar a um acordo, baseando-se no conhecimento que tem deles, da questão em causa, e do compromisso que pensa ser o melhor para eles.

3. Após todos os alunos terem aprendido o que é a negociação e a mediação, escolha dois alunos em cada dia (preferivelmente um rapaz e uma menina) para servirem de mediadores oficiais (pacificadores). Faça rodar estes papéis por toda a turma, e estes mediadores poderão mediar os conflitos que não sejam resolvidos pelas partes envolvidas.

Como professor, o seu papel é de apoiar estes processos, ensinando, criando modelos e oferecendo conselhos. Um programa de resolução de conflitos na sala de aulas não só reduz o tempo necessário para resolver os conflitos estudante-estudante; também permite que os seus alunos desenvolvam habilidades que possam pôr em prática durante o curso das suas vidas. Desenvolver e praticar estas competências continuamente como parte do plano de gestão da sala de aulas resultará numa “sobre- aprendizagem”, o que é bom. Neste caso, as competências de negociação e mediação tornam-se automáticas e os alunos recorrem naturalmente a elas para resolver ou mesmo evitar problemas.

ENSINO EM FUNÇÃO DA IDADE E DISCIPLINA POSITIVA

Compreender como as crianças se desenvolvem, ajuda a perceber o que podemos esperar delas. As crianças mudam e desenvolvem-se constantemente durante o crescimento. Investigadores têm vindo a

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 96

descobrir que as crianças mais novas passam por fases específicas de desenvolvimento ao longo do seu crescimento. A ideia que está na base destas ”idades e fases” é a de que certos comportamentos são normais e apropriadas em certas idades e não noutras. No seguinte quadro descreve-se o desenvolvimento da criança durante determinadas idades e os métodos disciplinares e de ensino usados para esses momentos.

As Idades e Tipos de Abordagem da Disciplina75,76

Idade Desenvolvimento Dicas Ensino/Disciplina

5 Anos

A criança tende a ser calma, calada e globalmente equilibrada. Geralmente opta por fazer só o que ela (ou ele) já sabe, portanto mostra-se bem adaptada. É amigável, terna, grata, quer sempre ajudar e portar-se bem; ainda não é capaz de assumir a responsabilidade dos erros cometidos e por mais que tente não diz sempre a verdade.

Deixe que ela perceba o que é e o que não é adequado esperar dela. Muitas coisas que os professores consideram ser más, são resultado de imaturidade. Prevenir é muito melhor do que reagir a uma consequência negativa. Contudo, se o fizer, faça-o com calma. É grande o desejo do aluno de se portar bem e de ser bom. Com sorte devia haver pouca necessidade para reações negativas.

75 Adaptado de: Discipline that Works: The Ages and Stages Approach. Family Issues Facts. The University of Maine Cooperative Extension. http://www.umext.maine.edu/onlinepubs/pdfpubs/4140.pdf [acesso online em 10/11/2005]

76 Adaptado de: Positive Parenting/Parenting Tips. http://xpedio02.childrenshc.org/stellent/groups/public/@xcp/@web/@parentingresources/documents/policyreferenceprocedure/web009299.asp?src=overture [acesso online em 10/12/2005]

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Idade Desenvolvimento Dicas Ensino/Disciplina

6 Anos

É uma fase altamente emotiva. Adora num minuto e odeia no próximo. Há muita confusão e inquietação entre si e os outros. Pode exigir, rebelar-se, argumentar ou lutar. Quando está de bom humor é alegre, energético e entusiástico. Precisa de muitos elogios, mas o comportamento muitas vezes merece críticas o que só vem a piorar o seu comportamento. Não compreende ainda a diferença entre meu e teu.

Paciência. Ignore a recusa ou fique indiferente quando o aluno responder com “eu não vou” ou “eu não posso”. Elogio - mesmo que não seja fácil encontrar algo para elogiar, esforce-se por fazê-lo; evite a resistência e os confrontos; se for possível evite assuntos sensíveis; ceda de vez em quando, especialmente se isso conduzir a um comportamento melhor ou a situações de aprendizagem.

7 Anos

Calado, mostrando antes emoções negativas. Pode ser pensativo, absorvido em si próprio, mal-humorado, preocupado ou desconfiado. Muito sensível em relação às emoções dos outros. Pode sentir que os outros não gostam dele e que o criticam ou que estão a fazer troça dele. Distrai-se facilmente e tem uma memória muito curta.

A desobediência pode ser resultante da distração do aluno. Para que o aluno faça uma atividade simples, avise-o previamente e tenha a certeza que ele ou ela ouviu as ordens. Lembre ao aluno o que tem a fazer antes que ele ou ela se esqueça. Dê pequenos prémios pelos seus sucessos.

8 Anos

Vigoroso, dramático, curioso, impaciente e exigente. Não faz tantas birras como aos 7, mas continua a ser muito sensível. Precisa de tempo, atenção e reconhecimento; começa a pensar de forma abstrata; interessa-se e está preocupado com o que lhe pertence

Dê instruções de modo que sejam aceitáveis pelo aluno. É motivado pelo tempo, a atenção e a aprovação. Utilize atividades que envolvam a solução de problemas como meios para desenvolver o seu pensamento abstrato. Dê pequenos prémios pelos seus sucessos.

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Idade Desenvolvimento Dicas Ensino/Disciplina

9 Anos

É mais calmo do que aos 8 anos. Parece ser independente, responsável e cooperativo. Pode, por vezes, mostrar-se temperamental, mas basicamente, é razoável. Aceitará as críticas com facilidade desde que sejam apresentadas cuidadosamente; mostra um grande interesse na justiça; os princípios do grupo são mais importantes do que os dos adultos. É muito centrado em si próprio e por vezes pode não ouvir quando lhe falam. Pode parecer distraído ou indiferente. Pode mostrar-se preocupado com os outros

Promova a sua responsabilidade através de tarefas combinadas ou que foram pedidas. Utilize a aprendizagem cooperativa, mas acompanhe as atividades interpessoais. Utilize aprendizagem orientada por projetos, em vez de lições repetitivas.

10 Anos

Geralmente bem-disposto e contente com a vida. Mas pode ter momentos em que mostra um temperamento violento. Pode ser muito afetuoso, emocional, simples, preciso, normalmente equilibrado emocionalmente, mas ainda infantil. Na maior parte das vezes mostra uma boa natureza e contente com a vida. Mas pode ter momentos em que revela um temperamento violento. Pode ser muito afetuoso. Não é uma idade preocupante, embora se mantenham alguns receios. Gosta do seu próprio humor, que pode por vezes não ter graça para os outros. É uma idade feliz.

Recorra à capacidade dos seus alunos em distinguir o bom do mau, o certo do errado, a verdade da mentira: A melhor técnica é saber o que se pode esperar. Implique os alunos no desenvolvimento de comités de turma, incluindo comités de disciplina. Utilize o humor no seu ensino.

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Idade Desenvolvimento Dicas Ensino/Disciplina

11-13 Anos.

Pré-adolescência, tempo de modificações rápidas. Desenvolve a sua própria identidade e torna-se independente. Aumenta a sua necessidade de privacidade e pode ser muito sensível à troça. Amua facilmente. Aumenta a sua necessidade de amigos.

Faça com que o seu aluno saiba que se interessa por ele. Organize sessões de “partilha” ou atividades (tal como textos) que se relacionem com as suas experiências e os seus sentimentos. Dê exemplos de respeito mútuo. Limite as críticas e as repreensões. Não permita provocações nem tolere insultados.

14-16 Anos

O meio da adolescência. Aumento da independência, do desenvolvimento sexual e da concentração. Muito consciente do seu corpo e da sua aparência. O pensamento é menos infantil; apreciam os factos e podem tomar decisões certas.

Encoraje as relações positivas através da partilha. Para promover a aprendizagem, dê-lhes ideias sobre atividades criativas que pode fazer com os seus amigos. Estabeleça limites razoáveis e seja consistente e justo no cumprimento das regras. Certifique-se de que conhecem as regras e negoceie consequências que sejam significativas. Recompense e reconheça o seu comportamento positivo e as suas realizações. Partilhe com eles as suas próprias crenças, preocupações e valores sobre o mundo. Encoraje os seus alunos a pedir ajuda a um amigo adulto quando precisem de conselhos. Continue a recompensá-los.

17-21 Anos

Final da adolescência. Tornam-se mais independentes, e auto suficientes; menos influenciados pelos colegas; desenvolvem a capacidade de ter um pensamento adulto. Geralmente são mais fáceis de lidar do que os que estão na fase inicial ou média da adolescência. Exploram objetivos de mais longo prazo. Podem ter opiniões sobre tudo. A sua consciência sobre a sua aparência diminui.

Continue as atitudes tomadas em relação aos alunos de 14-16 anos indicados antes. Pergunte regularmente aos seus alunos o que pensam e naquilo em que acreditam Respeite a sua individualidade e encoraje esse respeito em relação aos outros. Encoraje a tomada de decisões independentes. Continue a recompensá-los.

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APOIO A CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS

Criar condições para alunos com perturbações emocionais e de comportamento77

As técnicas indicadas a seguir podem revelar-se eficazes em relação a alunos com problemas emocionais e comportamentais.

1. Ignorância propositada. Para eliminar os comportamentos que têm por objetivo chamar a atenção e que não põe em risco a segurança da turma, a atitude a tomar será procurar ignorá-los (tal como no caso do Ramon). Esta técnica nunca deve ser utilizada nos casos de comportamentos agressivos. A turma deve também aprender a reagir deste modo, uma vez que, para alguns alunos, a atenção dos colegas pode ter mais importância do que a atenção dos adultos.

2. Atuação através dum sinal. Se um aluno está suficientemente calmo para responder, tem uma relação positiva com o professor e não está sujeito a impulsos patológicos, um sinal não-verbal pode ser suficiente para o ajudar a retomar a sua atenção. Veja a secção sobre sinalização não-verbal apresentada acima.

3. Proximidade e controlo táctil. Para mostrar apoio numa situação que não seja ameaçadora, pode bastar uma aproximação física ou um toque amigável no ombro. Quando se usa esta técnica é preciso o cuidado de não reforçar um comportamento inadequado. Comente positivamente algo que o aluno faça de modo a mostrar apreço.

4. Aproveitar interesses. Se o aluno mostra sinais de desassossego, mude o tempo ou a atividade ou faça-lhe uma pergunta sobre algum assunto que o interesse e que esteja relacionado com o trabalho que está a fazer.

5. Forte afetividade. Exprima um afeto genuíno ou apreciação sobre o aluno, de modo a ajudá-lo a readquirir o autocontrolo.

6. Diminuir a tenção através do humor. Tal como já referimos, o humor, se for usado na altura própria e duma forma positiva pode parar

77 Classroom Organization. Techniques for Working with Emotionally and Behaviourally Challenged Students. http://www.teachervision.fen.com/page/7242.html [acesso online em 10/4/2005]

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com um comportamento indesejável. O sarcasmo, o cinismo e a agressão não são formas adequadas de usar o humor.

7. Ajuda a ultrapassar um obstáculo. Antes que o aluno se comece a portar mal, ajude-o a resolver uma parte difícil da tarefa que tenha entre mãos. Garanta-lhe estar pronto a ajudá-lo e que, em conjunto, podem resolver o problema.

8. Reagrupamento. Mude o aluno de lugar ou a forma como o pequeno grupo está organizado, de modo a evitar problemas específicos. Faça isto duma forma não punitiva, e, se possível, discreta. Veja a secção no início deste documento sobre “tornar o ambiente de aprendizagem confortável”.

9. Restruturação. Se uma atividade não tiver sucesso, mude-a tão depressa quanto possível. É sempre importante ter um plano B. Às vezes é bom mudar um jogo interativo para um que não exija interação. Isto pode ser feito duma forma não punitiva e calma quando o grupo começa a ficar sobre-estimulado. Noutras alturas pode ser mais eficaz propor uma escolha. Por exemplo, os alunos podem escolher lidar com a informação oralmente através de debate, ou copiar notas dum retroprojetor.

10. Pedido direto. Se um aluno ou um grupo tem uma relação positiva com o professor, por vezes é suficiente pedir que parem com um dado comportamento se ele está a criar problemas. Tal não implica nenhum prémio nem nenhum castigo. Trata-se simplesmente dum pedido direto, feito por uma pessoa em relação a outra.

11. Prevenção. Afaste o aluno duma situação problemática antes que ocorram comportamentos desadequados. Por exemplo peça-lhe para o ajudar a distribuir folhas ou ficar a tomar conta da turma. Tenha cuidado em não premiar um aluno que esteja a instigar o problema.

12. Ajuda das rotinas. Tal como aprendemos anteriormente, as escalas e as rotinas podem ser intervenções importantes de gestão. Saber-se o que se vai fazer e quando fazer proporciona estrutura, segurança e previsibilidade nas vidas dos alunos que podem não ter este tipo de experiências noutras situações da sua vida.

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Formas Simples de Ajudar Crianças com “Necessidades Especiais”78

Dicas para professores

Para melhorar a atenção

♦ Sente as crianças na frente.

♦ Sente as crianças perto de outras que possam ser modelos e possam ser “ amigos que ajudam a aprender.”

♦ Divida as tarefas em segmentos, dando ao aluno um segmento de cada vez, (por exemplo em vez de lhe dar uma página inteira de problemas de matemática, o que o pode desencorajar, corte o papel ao meio e peça aluno para completar essa metade, depois dê-lhe a outra metade.

♦ Use chamadas de atenção (por exemplo mostrando-lhe um papel colorido, fazendo um sinal na carteira, tocando-lhe no ombro).

♦ Olhe-o nos olhos antes de lhe dar as instruções.

♦ Dê instruções curtas e diretas com ajudas visuais ou tácteis, se for possível.

Para reduzir a impulsividade

♦ Ignore comportamentos inadequados pouco relevantes.

♦ Dê imediatamente reforços positivos ou negativos.

♦ Acompanhe a transição entre turmas ou atividades.

♦ Aprove os comportamentos positivos sempre que possível.

♦ Estabeleça contratos para comportamentos que precisem de apoio.

♦ Ajude a criança a aprender técnicas de autocontrolo.

Para Lidar com a Hiperatividade

♦ Permita que o aluno fique alguns tempos em pé.

♦ Permita corridas erráticas.

78 Classroom Management Index. http://www.adda-sr.org/ClassroommanagementIndex.htm [acesso online em 10/4/2005]

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Para Promover o Sucesso Académico

♦ Dê um tempo extra para acabar o trabalho.

♦ Reduza as tarefas.

♦ Use métodos de ensino multissensoriais (visuais, orais e tácteis).

♦ Lembre ao aluno para verificar se acabou a tarefa.

♦ Faça com que o aluno aprenda técnicas para monitorizar as suas tarefas.

♦ Use folhas de tarefas diárias.

Para promover as competências organizacionais

♦ Solicite a ajuda dos pais.

♦ Use fichas de trabalho diárias.

♦ Use um caderno de notas pormenorizado.

♦ Verifique o caderno de notas e reforce os bons cadernos.

Gestão da Turma e Modificações no Ensino

Outras técnicas úteis incluem o seguinte:

♦ Reduza ou alterne as tarefas.

♦ Amplie os tempos previstos para a conclusão das tarefas.

♦ Use materiais especiais que encorajem e desenvolvam capacidades, tais como gráficos, marcadores de feltro, papel com linhas, etc..

♦ Use mais material visual.

♦ Leia alto o teste.

♦ Utilize testes de escolha múltipla ou falso/verdadeiro em vez de ensaios.

♦ Peça relatórios orais (em vez dos escritos).

♦ Aceite projetos especiais em vez de relatórios.

♦ Forneça tabuadas de multiplicação e outras matrizes.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 104

♦ Forneça listas de palavras difíceis.

♦ Elabore um contrato entre os pais o professor e a criança sobre o que se espera dela.

♦ Dê créditos pela participação na aula.

♦ Dê orientações passo a passo, curtas, e simples.

♦ Chame o aluno pelo seu nome para o/a lembrar que deve responder à próxima pergunta.

♦ Use um código com cores que ajude o aluno a reconhecer qual o aspeto principal da informação a reter.

♦ Mais do que tudo, use frequentemente o reforço positivo! Os seus benefícios podem permanecer por toda a vida.

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 105

Leituras aconselhadas Além dos inúmeros recursos e publicações proporcionados pela Internet mencionados neste texto, propomos que explore as seguintes fontes para mais informação.

Publicações

Albert, Linda. Cooperative Discipline: Implementation Guide. American Guidance Service, 1996.

Albert, Linda. A Teacher’s Guide to Cooperative Discipline: How to Manage Your Classroom and Promote Self-Esteem. American Guidance Service, 1989.

Boostrom, Robert. “The Nature and Functions of Classroom Rules,” Curriculum Inquiry, Summer 1991, 193-216.

Coloroso, Barbara. Kids Are Worth It! Giving Your Child the Gift of Inner Discipline. Avon Books, 1995.

Curwin, Richard. Am I in Trouble: Using Discipline to Teach Young Children Responsibility. Santa Cruz, CA: Network Publications, 1990.

Curwin, Richard and Mendler, Allen N. The Discipline Book: A Complete Guide to School and Classroom Management. Reston, VA: Reston Pub., 1980.

Dinkmeyer, Don and Dreikurs, Rudolf. Encouraging Children to Learn . Taylor & Francis Group, 2000.

Dreikurs, Rudolf. Maintaining Sanity in the Classroom; Classroom Management Techniques. 2nd ed. Washington, D.C.: Accelerated Development, 1998.

Dreikus, Rudolph and Chernoff, Marvin. “Parents and Teachers: Friends or Enemies?,” Education, Vol. 91, No. 2, 147-54, Nov.-Dec., 1970

Emmer, E.T., Evertson, C.M., Sanford, J.P., Clements, B., and Worsham, M.E. Classroom Management for Secondary Teachers. (2nd Ed.). Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1989.

Evertson, C.M., Emmer, E.T., Clements, B., Sanford, J.P., and Worsham, M.E., Classroom Management for Elementary Teachers. (2nd Ed.). Englewood Cliffs,

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 106

NJ: Prentice-Hall, 1989.

Fontana, David. Classroom Control: Understanding and Guiding Classroom Behavior. London: Methuen, 1985.

Freiberg, H. Jerome. “From Tourists to Citizens in the Classroom,” in Educational Leadership, Vol. 54, No. 1, p32-36, Sept., 1996.

Fuhr, Don. “Effective Classroom Discipline: Advice for Educators,” NASSP Bulletin, January 1993, 82-86.

Galivan, Janice. “Discipline without Punishment,” Forum, September/October 1987, 37-40.

Ginott, Haim G. Teacher and Child: A Book for Parents and Teachers. 1st Collier Books ed. New York: Colliers, 1993.

Golden, Diane Cordry. “Discipline of Students with Disabilities: A Decision-making Model for Principals,” NASSP Bulletin, February 1993, 12-20.

Gordon, Thomas. Discipline That Works: Promoting Self-Discipline in Children. Plume, 1991.

Grossnickle, Donald R & Sesko, Frank P. Preventive Discipline for Effective Teaching and Learning. Reston, VA: National Association of Secondary School Principals, 1990.

Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward to Constructive Child Discipline. Paris: UNESCO Publishing, 2005.

Hill, D.J. Humor in the Classroom. Springfield, IL: Charles Thomas, 1988.

Johnson, D.W., Johnson, R.T, Dudley, B., & Burnett, R. “Teaching Students to be Peer Mediators,” Educational Leadership, Vol. 50, No. 1, 10-13, 1992.

Jones, Fredric H. Positive Classroom Discipline. New York: McGraw Hill, 1987.

Kounin, Jacob S. Discipline and Group Management in Classrooms. Huntington, N. Y.: R. E. Krieger, 1977.

MacKenzie, Robert J. “Setting Limits in the Classroom,” American Educator, Vol. 21, No. 3, 32-43, Fall 1997.

Mendler, Allen N. Discipline with Dignity for Challenging Youth. National Educational Service, 1999.

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Internet Resources

Alliance for Transforming the Lives of Children (www.atlc.org)

American Academy of Pediatrics (www.aap.org)

AskDrSears.com (www.askdrsears.com)

Attachment Parenting International (www.attachmentparenting.org)

Aware Parenting Institute (www.awareparenting.com)

Behaviour UK (www.behaviouruk.com)

Center for Effective Discipline (www.stophitting.com)

Child and Family Canada (www.cfc-efc.ca)

Children are unbeatable! Alliance (www.childrenareunbeatable.org.uk)

Children’s Rights Information Network (www.crin.org)

Classroom Management Online (www.classroommanagementonline.com)

Education World (www.educationworld.com)

Empathic Parenting by the Canadian Society for the Prevention of Cruelty to Children (www.empathicparenting.org)

Family Works Inc. (www.familyworksinc.com)

Fight Crime: Invest in Kids (www.fightcrime.org)

The Forbidden Issue (www.alice-miller.com)

Global Initiative to End All Corporal Punishment of Children (www.endcorporalpunishment.org)

The No Spanking Page (www.neverhitachild.org)

Positive Discipline.com (www.positivediscipline.com)

The Positive Discipline Resource Center (http://joanneaz_2.tripod.com/positivedisciplineresourcecenter)

Project No Spank (www.nospank.net)

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Save the Children Alliance (www.savethechildren.net/alliance/index.html)

UNESCO (www.unesco.org)

UNICEF (www.unicef.org) (www.unicef.org/teachers)