DIÁRIO COMÉRCIO INDÚSTRIA & SERVIÇOS Em Destaque - Shopping...

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Em Destaque DIÁRIO COMÉRCIO INDÚSTRIA & SERVIÇOS QUINTA-FEIRA, 20 DE JULHO DE 2017 3 REINVENÇÃO DO MODELO. Com a migração do consumo para o e-commerce , a revisão do mix tem sido a saída para não perder fluxo; a mudança, contudo, pode impactar na rentabilidade Shoppings ampliam a oferta de serviços para seguir relevantes CENTRO DE COMPRA Pedro Arbex São Paulo [email protected] Com a migração do consumo para o varejo on-line, o cami- nho que os shopping centers têm encontrado para não per- der relevância frente ao consu- midor é aumentar a oferta de serviços e lazer. A tendência é que o movimento acelere, e que esse tipo de operação ocu- pe cada vez mais os espaços destinados hoje ao comércio. A visão é comprovada por dois especialistas em consumo e três administradoras de shoppings, que já sentem na pele a mudan- ça no modelo de negócio. A no- va realidade do mercado, no en- tanto, impõe um desafio adicional, ligado a rentabilida- de dos empreendimentos – já que o aluguel pago pelas lojas de serviços costuma ser menor do que o valor pago pelo varejo. “A maneira [das administra- doras] lidarem com o cresci- mento do e-commerce tem sido essa, ofertar mais lojas de servi- ços e entretenimento. Aquela ida ao shopping apenas para comprar algum produto tende a diminuir bastante daqui para a frente”, diz o presidente da Socie- dade Brasileiro de Varejo e Con- sumo (SBVC), Eduardo Terra. Para o superintendente do Mo- rumbi Town Shopping, Luiz Si- queira, o movimento é uma for- ma dos empreendimentos se anteciparem as mudanças no consumo, já que a migração para o e-commerce ainda não se deu de forma tão consistente no Bra- sil. Nos Estados Unidos, conta, o comércio eletrônico detém uma fatia considerável do varejo (10%). Já no Brasil o canal repre- senta apenas 3,5% do faturamen- to, mas vem crescendo a um rit- mo acelerado, mesmo na crise. Inaugurado há quase um ano na capital paulista, o shopping já surgiu com a proposta de focar em serviços e lazer, explica o exe- cutivo. Atualmente, esse perfil de operação responde por 40% do total de lojas do empreendimen- to, valor muito acima do visto no mercado nacional de shoppings. De acordo com dados da Asso- ciação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), as lojas de ser- viços e lazer representam apenas 8% do total de 100.814 lojas pre- sentes nos empreendimentos brasileiros. As operações de ali- mentação representam outros 13%, deixando os 79% restantes praticamente para o comércio. Com a evolução do e-commer- ce, e a busca dos consumidores por esse perfil de shopping cen- ter, a tendência, no entanto, é que o quadro mude drasticamente já nos próximos anos. O especialis- ta em shopping center e varejo e diretor da consultoria Make it Work, Michel Cutait, afirma que ainda no curto prazo “os shop- pings vão seguir atualizando as ofertas e o mix de lojas, para agre- gar mais atividades de serviços, entretenimento e alimentação.” Localizado em São Paulo (SP), o Shopping Taboão é um exemplo claro de empreendimento tradi- cional que nos últimos anos co- meçou a revisar o mix, reinven- tando o modelo de negócio. Há três anos, conta o superinten- dente do shopping, Carlos Alcân- tara, as operações de serviços e lazer representavam 10% do portfólio. Atualmente, a fatia su- biu para 18%, e a perspectiva é que a participação aumente ain- da mais, atingindo 25% do total. Impacto na rentabilidade A alteração no modelo do em- preendimento, contudo, gera preocupação ao executivo, na medida em que atinge a renta- bilidade da operação. “Impacta porque os aluguéis de serviços são menores”, explica. De acor- do com ele, o valor pago pelas lojas de serviços costuma ser 15% inferior ao pago pelo co- mércio. A diferença ocorre por- que a cobrança se dá em cima do faturamento (no Taboão em torno de 5% a 7% do valor men- sal). Como a receita de uma va- rejista costuma ser maior do que a de uma loja de serviços, o aluguel também é superior. A questão da rentabilidade do modelo foi levada em conta pelo Morumbi Town no plane- jamento do shopping. “Quando iniciamos o projeto de focar mais em serviços e lazer tínha- mos esse medo, se seria mais di- fícil de rentabilizar do que um shopping clássico. Mas na práti- ca as operações estão indo tão bem ou melhor do que as de va- rejo. Temos visto uma resiliên- cia superior no nosso mix do que no portfólio tradicional.” No Shopping Continental a opção por revisar o mix, am- pliando a opção de serviços e la- zer, também foi adotada. Nos últimos três anos, conta o ge- rente de marketing, Rodrigo Ru- fino, ao menos cinco lojas de serviços entraram no centro, le- vando a participação do seg- mento para próximo de 20%. Segundo ele, além da migração do consumo para o e-commer- ce, a visão do brasileiro sobre os shoppings mudou radicalmen- te e agora eles buscam não ape- nas um local para a compra, mas de conveniência e lazer. Quem mais deve sentir com a mudança são os centros tradi- cionais, que na visão de Terra, da SBVC, ‘estão com os dias contados’. “O shopping clássi- co, que só tem loja de produto e não entrega serviços, lazer e ex- periência, está morrendo.” As próprias varejistas que operam nos shoppings já tem percebido a tendência de modi- ficação no modelo. Durante a Feira Brasileira do Varejo (FBV), realizada na semana passada, o presidente da C&A, Paulo Cor- rea, afirmou que no futuro ‘a na- tureza dos shoppings será mui- to mais experiencial do que transacional’. “Vai ter que ter um valor de interesse, de muita relevância, para justificar que o consumidor vá ao shopping comprar. Eles serão mais foca- dos na experiência e teremos menos shoppings do que hoje.” A varejista de moda possui praticamente a totalidade de suas lojas dentro de centros de compra (90%). Questionado pe- lo DCI sobre o impacto das mu- danças no modelo de negócio da própria rede, Correa se limi- tou a dizer que está atento aos movimentos de mercado e que vai ajustar a estratégia baseado em como ele for andando. FOTOS: DIVULGAÇÃO No Morumbi Town as lojas de serviços e lazer já respondem por 40% do mix total O Airsoft é uma das opções de entretenimento oferecidas pelo empreendimento No estacionamento do shopping uma pista de Kart divide espaço com os carros

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Em DestaqueDIÁRIO COMÉRCIO INDÚSTRIA & SERVIÇOS ● QUINTA-FEIRA, 20 DE JULHO DE 20 1 7 3

REINVENÇÃO DO MODELO. Com a migração do consumo para o e - c o m m e rc e , a revisão do mix temsido a saída para não perder fluxo; a mudança, contudo, pode impactar na rentabilidade

Shoppings ampliam a oferta deserviços para seguir relevantesCENTRO DE COMPRA

Pedro ArbexSão Paulop e d r o . a r b ex@ d c i . c o m . b r

●Com a migração do consumopara o varejo on-line, o cami-nho que os shopping centerstêm encontrado para não per-der relevância frente ao consu-midor é aumentar a oferta deserviços e lazer. A tendência éque o movimento acelere, eque esse tipo de operação ocu-pe cada vez mais os espaçosdestinados hoje ao comércio.A visão é comprovada por doisespecialistas em consumo e trêsadministradoras de shoppings,que já sentem na pele a mudan-ça no modelo de negócio. A no-va realidade do mercado, no en-tanto, impõe um desafioadicional, ligado a rentabilida-de dos empreendimentos – jáque o aluguel pago pelas lojasde serviços costuma ser menordo que o valor pago pelo varejo.

“A maneira [das administra-doras] lidarem com o cresci-mento do e - c o m m e rc e tem sidoessa, ofertar mais lojas de servi-ços e entretenimento. Aquelaida ao shopping apenas paracomprar algum produto tende adiminuir bastante daqui para a

f re n t e”, diz o presidente da Socie-dade Brasileiro de Varejo e Con-sumo (S BVC ), Eduardo Terra.

Para o superintendente do Mo -rumbi Town Shopping, Luiz Si-queira, o movimento é uma for-ma dos empreendimentos seanteciparem as mudanças noconsumo, já que a migração parao e - c o m m e rc e ainda não se deude forma tão consistente no Bra-sil. Nos Estados Unidos, conta, ocomércio eletrônico detém umafatia considerável do varejo(10%). Já no Brasil o canal repre-senta apenas 3,5% do faturamen-to, mas vem crescendo a um rit-mo acelerado, mesmo na crise.

Inaugurado há quase um anona capital paulista, o shopping jásurgiu com a proposta de focarem serviços e lazer, explica o exe-cutivo. Atualmente, esse perfil deoperação responde por 40% dototal de lojas do empreendimen-to, valor muito acima do visto nomercado nacional de shoppings.

De acordo com dados da Asso-ciação Brasileira de ShoppingCenters (Ab ra s c e ), as lojas de ser-viços e lazer representam apenas8% do total de 100.814 lojas pre-sentes nos empreendimentosbrasileiros. As operações de ali-mentação representam outros13%, deixando os 79% restantespraticamente para o comércio.

Com a evolução do e-commer -

ce, e a busca dos consumidorespor esse perfil de shopping cen-ter, a tendência, no entanto, é queo quadro mude drasticamente jános próximos anos. O especialis-ta em shopping center e varejo ediretor da consultoria Make itWo rk , Michel Cutait, afirma queainda no curto prazo “os shop-pings vão seguir atualizando asofertas e o mix de lojas, para agre-gar mais atividades de serviços,entretenimento e alimentação.”

Localizado em São Paulo (SP), oShopping Taboão é um exemploclaro de empreendimento tradi-cional que nos últimos anos co-meçou a revisar o mix, reinven-tando o modelo de negócio. Hátrês anos, conta o superinten-dente do shopping, Carlos Alcân-tara, as operações de serviços elazer representavam 10% doportfólio. Atualmente, a fatia su-biu para 18%, e a perspectiva éque a participação aumente ain-da mais, atingindo 25% do total.

Impacto na rentabilidadeA alteração no modelo do em-preendimento, contudo, gerapreocupação ao executivo, namedida em que atinge a renta-bilidade da operação. “Im p a c t aporque os aluguéis de serviçossão menores”, explica. De acor-do com ele, o valor pago pelaslojas de serviços costuma ser

15% inferior ao pago pelo co-mércio. A diferença ocorre por-que a cobrança se dá em cimado faturamento (no Taboão emtorno de 5% a 7% do valor men-sal). Como a receita de uma va-rejista costuma ser maior doque a de uma loja de serviços, oaluguel também é superior.

A questão da rentabilidadedo modelo foi levada em contapelo Morumbi Town no plane-jamento do shopping. “Qu a n d oiniciamos o projeto de focarmais em serviços e lazer tínha-mos esse medo, se seria mais di-fícil de rentabilizar do que umshopping clássico. Mas na práti-ca as operações estão indo tãobem ou melhor do que as de va-rejo. Temos visto uma resiliên-cia superior no nosso mix doque no portfólio tradicional.”

No Shopping Continental aopção por revisar o mix, am-pliando a opção de serviços e la-zer, também foi adotada. Nosúltimos três anos, conta o ge-rente de marketing, Rodrigo Ru-fino, ao menos cinco lojas deserviços entraram no centro, le-vando a participação do seg-mento para próximo de 20%.Segundo ele, além da migraçãodo consumo para o e-commer-ce, a visão do brasileiro sobre osshoppings mudou radicalmen-te e agora eles buscam não ape-

nas um local para a compra,mas de conveniência e lazer.

Quem mais deve sentir com amudança são os centros tradi-cionais, que na visão de Terra,da SBVC, ‘estão com os diasc o n t a d o s’. “O shopping clássi-co, que só tem loja de produto enão entrega serviços, lazer e ex-periência, está morrendo.”

As próprias varejistas queoperam nos shoppings já tempercebido a tendência de modi-ficação no modelo. Durante aFeira Brasileira do Varejo (FBV),realizada na semana passada, opresidente da C&A, Paulo Cor-rea, afirmou que no futuro ‘a na-tureza dos shoppings será mui-to mais experiencial do quet ra n s a c i o n a l’. “Vai ter que terum valor de interesse, de muitarelevância, para justificar que oconsumidor vá ao shoppingcomprar. Eles serão mais foca-dos na experiência e teremosmenos shoppings do que hoje.”

A varejista de moda possuipraticamente a totalidade desuas lojas dentro de centros decompra (90%). Questionado pe-lo DCI sobre o impacto das mu-danças no modelo de negócioda própria rede, Correa se limi-tou a dizer que está atento aosmovimentos de mercado e quevai ajustar a estratégia baseadoem como ele for andando.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

No Morumbi Town as lojas de serviços e lazer já respondem por 40% do mix total

O Airsoft é uma das opções de entretenimento oferecidas pelo empreendimento

No estacionamento do shopping uma pista de Kart divide espaço com os carros