Diretrizes da Educação

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Diretrizes da educação do Paraná

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  • DIRETRIZES PARA O USO DE TECNOLOGIASEDUCACIONAIS

    CURITIBASEED - PR

    2010

    Secretaria de Estado da EducaoSuperintendncia da Educao

    Diretoria de Tecnologia Educacional

  • DIRETRIZES PARA O USO DE TECNOLOGIASEDUCACIONAIS

    CURITIBASEED - PR

    2010

    Secretaria de Estado da EducaoSuperintendncia da Educao

    Diretoria de Tecnologia Educacional

  • permitida a reproduo total ou parcial desta obra, desde que seja citada a fonte.

    Diretoria de Tecnologia Educacional

    AutoresAldemara Pereira de Melo, Ana Rita Bortolozzo, Ana Sueli Ribeiro Vandresen, Arnoldo Brasilio Filho, Cinei-va Campoli Paulino Tono, Cristiane Rodrigues de Jesus, Dolores Follador, Eliane Dias Lunardon, Eguimara Selma Branco, Elciana Goedert Fernandes, Eliz Silvana Freitas Kappaum, Elizabete dos Santos, Eziquiel Menta, Glian Cristina Barros, Gisele do Rocio Guimares, Leda Maria Corra Moura, Marcelo Lambach, Marcos Cesar Cantini, Monica Bernardes de Castro Schreiber, Rosa Vicente Peres, Sandra Andrea Ferrei-ra, Suelen Fernanda Machado, Tnia Luiza Bonassa e Vanilza Josefi.

    Coordenao de Mdias Impressa e Web

    Reviso OrtogrficaBrbara Reis Chaves AlvimMrcia GalvanOrly Marion Webber Milani

    Coordenao de Multimeios

    Coordenao de ProduoEziquiel Menta

    FotografiasMarcio Roberto Neves Padilha

    CapaWilliam Oliveira

    Projeto grficoJuliana Gomes de Souza Dias

    DiagramaoAline Cristina Sentone

    SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAODiretoria de Tecnologia EducacionalRua Salvador Ferrante, 1.651 BoqueiroCEP 81.670-390 Curitiba ParanTel.: (41) 3278-2250www.diaadia.pr.gov.br/multimeios

    IMPRESSO NO BRASILDISTRIBUIO GRATUITA

    CATALOGAO NA FONTE - CEDITEC-SEED-PR

    Paran. Secretaria de Estado da Educao. Superintendncia da Educao. Diretoria de Tecnologias Educacionais.P111Diretrizes para o uso de tecnologias educacionais / Secretaria de Estado da Educao. Superintendncia da Educao. Diretoria de Tecnologias Educacionais. Curitiba : SEED Pr., 2010. - p. (Cadernos temticos)

    ISBN 978-85-8015-008-7

    1. Tecnologia educacional. 2. Tecnologia. 3. Informao. 4. Escola pblica-Paran. 5. Educao bsica-Paran. 6. Televiso Paulo Freire. 7. Educao-Paran. 8. Pesquisa escolar. 9. Internet. I. Ttulo. II. Srie

    CDD370CDU 37.018.8(816.2)

  • APRESENTAOEste texto prope diretrizes para o uso de tecnologias de informao e comunicao nas escolas

    pblicas estaduais de educao bsica do Paran. Sua escrita foi feita a partir das discusses que as equipes da Diretoria de Tecnologia Educacional (Ditec) fizeram internamente e das realizadas com os demais Departamentos da Secretaria de Estado da Educao em momentos distintos. De forma indireta, em 2009, houve colaborao dos professores da rede pblica estadual por meio das tarefas realizadas nos Grupos de Estudos, que versavam sobre o uso de Tecnologias na Educao.

    Alm dessas contribuies, houve a participao de cinco professores que pesquisam e trabalham com tecnologias na Educao. Esses profissionais produziram textos que apoiaram a fundamentao destas Diretrizes. So eles: Carlos Alberto Faraco, da Universidade Federal do Paran Consideraes sobre a escola e a mdia impressa; Jarbas Novelino Barato - Educao, pesquisa e Internet; Dilmeire Vosgerau, da Pontifcia Universidade Catlica do Paran Orientaes para a integrao dos recursos tecnolgicos proposta de trabalho do professor; Paulo Gileno Cysneiros, da Universidade Federal de Pernambuco Interao, Tecnologias e Educao; e Mnica Cristine Fort, da Universidade Federal do Paran Apontamentos de Mdia Televisiva e Educao, aos quais agradecemos.

    As produes realizadas por esses cinco autores encontram-se disponveis na pgina da Ditec, no Portal Dia-a-dia Educao.

    Neste caderno, aps definir alguns conceitos e historicizar o uso de tecnologias na Educao no Paran, destacam-se como princpios e temticas norteadoras do trabalho com tecnologias nas escolas pblicas paranaenses da educao bsica: A mediao do professor no contexto educacional; Mdia impressa na escola; TV Paulo Freire um canal para liberdade: concepes, caminhada e desafios; ambientes virtuais na web; e pesquisa escolar na Internet.

    Alayde Maria Pinto DigiovaniSUPERINTENDENTE DA EDUCAO

    Elizabete dos SantosDIRETORA DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL

  • SUMRIO1 DIRETRIZES PARA O USO DE TECNOLOGIAS DE INFORMAAO E COMUNICAO NAS ESCOLAS PBLICAS ESTADUAIS DA EDUCAO BSICA DO PARAN ................5

    TECNOLOGIAS NO CONTEXTO ESCOLAR DO PARAN PANORAMA HISTRICO... 6UMA NOVA CULTURA E UM NOVO DESAFIO. ................................................................. 8

    1.1 A MEDIAO NO CONTEXTO EDUCACIONAL .........................................................11

    A MEDIAO DO PROFESSOR .......................................................................................... 12A MEDIAO DO ASSESSOR DE TECNOLOGIAS NA EDUCAO ............................ 15A MEDIAO DO PROFESSOR-TUTOR ............................................................................ 16FINALIZANDO... .................................................................................................................... 17

    1.2 MDIA IMPRESSA NA ESCOLA .......................................................................................18

    SOBRE LEITURA E ESCRITA ................................................................................................ 18SOBRE A MDIA IMPRESSA .................................................................................................. 19SOBRE A MDIA IMPRESSA NA SEED-PR .......................................................................... 21

    1.3 TELEVISO PAULO FREIRE UM CANAL PARA LIBERDADE: CONCEPES, CAMI-NHADA E DESAFIOS ..............................................................................................................24

    CONCEPES TERICO-PEDAGGICAS ....................................................................... 25LINGUAGEM TELEVISIVA .................................................................................................... 25O AUDIOVISUAL COMO ESTRATGIA DE FORMAO CONTINUADA .................. 27O AUDIOVISUAL COMO FONTE DE PESQUISA ............................................................. 28A IDENTIDADE DA TV PAULO FREIRE ............................................................................. 31

    1.4 AMBIENTES VIRTUAIS NA WEB.....................................................................................33

    AMBIENTES PARA WEB NO PROCESSO EDUCATIVO .................................................. 35AMBIENTES PARA FORMAO DOCENTE ..................................................................... 35RECURSOS DE ATUALIZAO, PESQUISA E INFORMAO: O PORTAL DIA-A-DIA

    EDUCAO .................................................................................................................................. 371.5 PESQUISA ESCOLAR E INTERNET ................................................................................39

    PESQUISA ESCOLAR .............................................................................................................. 39PESQUISA E ENSINO ............................................................................................................. 40A PESQUISA ESCOLAR E AS MDIAS .................................................................................. 42ESPAOS ESCOLARES PARA PESQUISA ........................................................................... 44ALGUMAS BASES DE BUSCA NA INTERNET ................................................................... 46AMPLIANDO AS FRONTEIRAS DA PESQUISA ESCOLAR NA WEB ..............................49REFERNCIAS ....................................................................................................................50

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    1 DIRETRIZES PARA O USO DE TECNOLOGIAS DE INFORMAAO E COMUNICAO NAS ESCOLAS PBLICAS ESTADUAIS DA EDUCAO BSICA DO PARAN

    Autores

    O tema referente ao uso das tecnologias educacionais relevante e merece ser considerado por todos aqueles que movimentam o currculo, independente do lugar que esses atores ocupam. Esse no pode e no deve ser desvinculado do pensamento curricular, isto , ao pensamento pedaggico quando ele se detm na considerao das prticas educacionais.

    A acelerada renovao dos meios tecnolgicos nas mais diversas reas, influencia, consideravelmente, as mudanas que ocorrem na sociedade. O acesso s tecnologias da informao e comunicao amplia as transformaes sociais e desencadeia uma srie de mudanas na forma como se constri o conhecimento. A escola, bem como os outros lugares onde se fomenta o currculo, no pode desconsiderar esses movimentos.

    Frente a esse cenrio de desenvolvimento tecnolgico e das mudanas sociais dele oriundas, na educao se tem procurado construir novas concepes pedaggicas elaboradas sob a influncia do uso dos novos recursos tecnolgicos, resultando em prticas que promovam o currculo nos seus diversos campos dentro do sistema educacional. A extenso do uso desses recursos tecnolgicos na educao no deve se limitar simplesmente ao treinamento de professores para o uso de mais uma tecnologia, tornando-os meros repetidores de experincias que nada acrescentam de significativo educao. O fundamental levar os agentes do currculo a se apropriarem criticamente dessas tecnologias, de modo que descubram as possibilidades que elas oferecem no incremento das prticas educacionais, alm de ser uma prtica libertadora, pois contribui para a incluso digital.

    Mais do que ferramentas e aparatos que podem animar e/ou ilustrar a apresentao de contedos, o uso das mdias web, televisiva e impressa mobiliza e oportuniza novas formas de ver, ler e escrever o mundo. Contudo, importante que essas ferramentas tecnolgicas estejam aliadas a um procedimento continuado de formao docente, potencializando o pensamento sobre as prticas pedaggicas.

    Na esfera de um currculo pblico, a insero de novos recursos tecnolgicos capaz de criar, dentro do currculo, as condies para que frutifiquem valores, tais como o do entendimento crtico, o da solidariedade, o da cooperao, o da curiosidade, que leva ao saber, e, por fim, os dos valores ticos de uma cidadania participativa, se contrapondo aos pensamentos e prticas totalizantes.

    A insero de novos recursos tecnolgicos encurta as distncias, promove novos agenciamentos, aproxima dentro do mesmo currculo as esferas poltico-administrativas das salas de aula; aproxima as salas de aula entre si, dentro da escola e entre as escolas, numa atividade de interao solidria com vistas tanto apropriao do conhecimento quanto criao de novos saberes.

    Aldemara Pereira de Melo, Ana Rita Bortolozzo, Ana Sueli Ribeiro Vandresen, Arnoldo Brasilio Filho, Cineiva Campoli Paulino Tono, Cristiane Rodrigues de Jesus, Dolores Follador, Eliane Dias Lunardon, Eguimara Selma Branco, Elciana Goedert Fernandes, Eliz Silvana Freitas Kappaum, Elizabete dos Santos, Eziquiel Menta, Glian Cristina Barros, Gisele do Rocio Guimares, Leda Maria Corra Moura, Marcelo Lambach, Marcos Cesar Cantini, Monica Bernardes de Castro Schreiber, Rosa Vicente Peres, Sandra Andrea Ferreira, Suelen Fernanda Machado, Tnia Luiza Bonassa e Vanilza Josefi.

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    Mais do que provocar a circulao e o consumo, os novos meios tecnolgicos possibilitam a criao e a avaliao coletiva de materiais educacionais em meio virtual. Novos conhecimentos surgem, cientficos, metodolgicos, artsticos, semiticos e filosficos.

    O uso das tecnologias diz respeito tambm ao aprimoramento das leituras de mundo e ao enriquecimento do imaginrio, uma vez que facilitam a aproximao dos agentes curriculares a artefatos culturais construdos em outras linguagens, com outros cdigos de beleza com que a esfera mercadolgica nos inocula quando usa esses mesmos recursos a seu favor. A incorporao das tecnologias ser tanto melhor quanto mais se reabilitarem os artigos da cultura popular em detrimento daqueles promovidos pela indstria cultural.

    No se trata de tomar as tecnologias como os sujeitos das prticas, seno como impulsionadoras e potencializadoras dessas prticas. Os artefatos tecnolgicos, ao aproximarem os agentes do currculo numa relao dialgica, quer em torno do conhecimento, quer em torno da reflexo acerca de uma obra de arte, por exemplo, cria as condies para a prpria prtica dialgica em que se constitui o sujeito. Vale dizer, recursos tecnolgicos no so os sujeitos das relaes dentro do currculo, mas permitem que os sujeitos se faam ao facultar estas relaes.

    O tema que estamos tratando tem correlao com aqueles outros da igualdade e da diversidade. Tomadas pelos pontos de vista inerentes a um currculo pblico, em qualquer de suas esferas de manifestao, as tecnologias devem ter o seu uso engajado tanto na eliminao quanto na produo das diferenas. preciso que diminuam aquelas diferenas oriundas da excluso econmica, racial e tnica ou de gnero. Mas, do ponto de vista dos usos das diferentes linguagens, da proliferao de novas formas de arte, das manifestaes mais genunas das culturas dos diversos povos, necessrio que as diferenas aumentem.

    Dada a relevncia do tema, torna-se necessrio estimular um pensamento contnuo sobre essas prticas, aliando-as a um procedimento de formao continuada, a fim de que todos os agentes envolvidos sejam capazes de se posicionar de uma maneira crtica e criativa frente ao tema, tendo clareza para si na hora de fazer as escolhas que conduziro as suas prticas.

    Tecnologias no contexto escolar do Paran Panorama histrico

    As primeiras medidas federais relativas informtica na educao surgiram no Paran no ano de 1985 atravs do Plano Estadual de Educao do Paran e em 1987 com a implantao de um Centro de Informtica na Educao (Cied), localizado no Ncleo Regional de Educao da cidade de Maring, o qual se tornou um plo de investigaes em informtica na educao.

    Em 1987, houve, ainda, a criao de Comits de Assessoramento de Informtica Educativa. Por meio das aes descritas, obteve-se resultados que serviram de apoio e de subsdios para o planejamento de Programas e Projetos de Informtica na Educao, tais como: Projeto Formar (1987, 1989 e 1992) que se constituiu da realizao de Cursos de Especializao na rea de Informtica na Educao e Concursos de Software Educativo (1987 a 1989) visando a produo descentralizada e a revelao de talentos. Em 1992, o Cied passou para o Cetepar3.

    Texto adaptado das dissertaes de TONO, C. C., 2003; CANTINI, M. C, 2008.3 Cetepar: Centro de Excelncia em Tecnologia Educacional, antigo Centro de Treinamento do Magistrio do Paran, hoje denominado Diretoria de Tecnologia Educacional, vinculada Secretaria de Estado da Educao. Responsvel pela implementao e gesto das aes voltadas aos processos de pesquisa, produo, publicao e formao continuada para uso das tecnologias no contexto escolar.

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    Em 1991, iniciaram-se as aes de formao por meio do Programa Televisivo Salto para o Futuro que, em 1997, agregado a outros programas televisivos, efetivou-se como um Programa de formao que desenvolvido at hoje pelo Ministrio da Educao (MEC), por meio da TV Escola.

    Em 27 de maio de 1996, o Decreto n. 1917 criou a Secretaria de Educao Distncia (Seed), como um rgo integrante do MEC, responsvel pela definio e implantao da poltica de educao a distncia.

    Na III Reunio Extraordinria do Conselho Nacional de Secretrios Estaduais de Educao (Consed), em setembro de 1996, foi apresentada a proposta para implementao do Programa Nacional de Informtica na Educao ProInfo, que seria monitorado pela Seed/MEC.

    O objetivo do ProInfo era disseminar o uso do computador nas escolas pblicas estaduais e municipais de todos os estados brasileiros e criar Ncleos de Tecnologia Educacional - NTEs para concentrar aes de sensibilizao e de capacitao do professor para incorporar essa ferramenta em seu trabalho pedaggico. O ProInfo previu, para o Estado do Paran, a instalao de 13 NTEs que seriam distribudos pelo Estado. Os seis primeiros NTEs foram implementados, no binio 1997/98, nas cidades de Curitiba, Cascavel, Ponta Grossa, Cornlio Procpio, Pato Branco e Campo Mouro. Em 1999, outros seis NTEs nas cidades de: Foz do Iguau; Maring; Umuarama; Guarapuava; Londrina; e mais um NTE em Curitiba.

    No ano de 2000, fora implantado o 13 NTE no Estado, na cidade de Telmaco Borba. Em cada um dos NTEs houve a incorporao de profissionais da educao de instituies pblicas de nvel estadual e federal que formariam o grupo de multiplicadores, responsveis pelos processos de formao continuada para uso dos recursos tecnolgicos disponveis nas escolas.

    Ainda em 1996, foi implantado no Estado, o Programa de Extenso, Melhoria e Inovao do Ensino Mdio do Paran (Proem). Esse programa previu a reformulao do Ensino Tcnico Profissionalizante apoiado na proposio da nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) que projetou reformas de colgios pblicos estaduais que aderiram formalmente ao programa, com a construo de ambientes especficos para bibliotecas e laboratrios de informtica, e o financiamento da compra de computadores e perifricos pelos diretores e presidentes da APM de 912 colgios do Estado, atravs da Feira de Informtica ocorrida em julho de 1998 em Faxinal do Cu.

    O processo de formao continuada dos profissionais da educao na rea de tecnologia na educao ocorria de modo centralizado no NTE, sendo este o local onde o professor realizava a sua participao nos diversos cursos/oficinas oferecidos. Esse modelo de atendimento mostrou-se limitado e inadequado, pois a rea de abrangncia do NTE era muito ampla e havia tambm a dificuldade dos profissionais se deslocarem das suas escolas at a sede do NTE. Outro fator preponderante foi a metodologia utilizada nas formaes, pautada na pedagogia de projetos, emanada pela esfera federal. Essa metodologia, trazia como ao a ser implementada nas escolas, um projeto que deveria ser desenvolvido com o auxlio das tecnologias.

    Uma nova cultura e um novo desafio

    Na tentativa de minimizar a distncia entre tecnologia e efetiva utilizao no contexto educacional pblico, a partir de 2003, com a mudana de governo, cria-se a poltica de compromisso com uma

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    escola de qualidade cujos princpios bsicos so: defesa da educao como direito de todos os cidados; valorizao dos profissionais da educao; garantia de escola pblica, gratuita e de qualidade; atendimento diversidade cultural e gesto democrtica e colegiada. O estado reassume o seu papel de organizador e implementador de aes e polticas educacionais voltadas para o atendimento dos princpios bsicos apresentados. Nesse sentido, destaca-se a ao de atendimento s necessidades bsicas de funcionamento de uma escola de qualidade e avano no uso de tecnologias educacionais na defesa da incluso digital4.

    Para dar suporte poltica de incluso digital e universalizao de acesso ao uso de tecnologias, apresentou-se a Poltica Pblica denominada Paran Digital, com vistas implantao de 2.100 laboratrios de informtica e conectividade a todas as escolas pblicas estaduais do Paran, 22 mil televisores multimdia, mais de 2.100 kit de sintonia da TV Paulo Freire.

    O Paran Digital disseminou a cultura digital em mais de 2100 escolas pblicas estaduais, beneficiadas com a implantao de laboratrios de informtica conectados rede mundial de computadores. O Paran Digital foi desenvolvido em parceria com o Centro de Computao Cientfica e Software Livre da Universidade Federal do Paran, que desenvolveu a tecnologia multiterminal four-head, em que quatro monitores funcionam conectados a uma nica CPU e estes a um servidor localizado em cada escola. O sistema operacional disseminado o Debian de distribuio Linux, o que trouxe uma economia de aproximadamente 50% em hardware e 100% em software, pois utiliza a filosofia do software livre5 e se encontra sob gerenciamento da Companhia de Informtica do Paran (Celepar), responsvel pela administrao do sistema, bem como atualizao dos pacotes de softwares e aplicativos disponibilizados por meio de servidores sem a necessidade de instalao em cada terminal e sem o deslocamento de profissionais da Celepar para instalao e atualizao de sistemas em todas as escolas do estado.

    O acesso Internet ocorreu por meio da parceria com a Companhia Paranaense de Energia Eltrica (Copel), que responsvel pela ampliao da malha de fibra tica para aproximadamente 300 municpios do Estado do Paran, com prioridade para as regies de menor ndice de desenvolvimento humano (IDH). Nos demais municpios a conectividade se deu por meio de antenas digitais, universalizando o atendimento a todas as escolas pblicas estaduais.

    Com vistas ampliao e diversificao dessa estrutura tecnolgica de informao e comunicao, visando uma poltica de integrao de mdias como suporte prtica pedaggica, foi incorporada, em 2006, ao Paran Digital, uma estrutura tecnolgica de comunicao, a TV Paulo Freire, via satlite. Foram instaladas em todas as escolas estaduais equipamentos para recepo da programao da TV Paulo Freire, concebida exclusivamente para a comunidade escolar. So programas de cunho informativo, de formao continuada, de contedos complementares ao currculo escolar, de enfoque regional e campanhas de mobilizao.

    4 Incluso digital o processo de alfabetizao tecnolgica e acesso a recursos tecnolgicos, no qual esto inclusas as iniciativas para a divulgao da Sociedade da Informao entre as classes menos favorecidas, impulsionadas tanto pelo governo como por iniciativas de carter no governamental (Grupo Telefnica, A Sociedade da Informao - Presente e Perspectivas, 2002, p. 35).5Diz-se que um software livre quando seu criador distribui e garante a qualquer um a liberdade de utilizao, cpia, alterao e redistribuio de sua obra, alm de tornar pblico o chamado cdigo fonte conjunto de comandos escritos em linguagem compreensvel pela mente humana. Nos sistemas livres, tal codificao , por definio, de conhecimento pblico e admite que qualquer programador a altere para adequ-la a suas necessidades. (L.A.Rocho, 2003, apud Tecnologias da informao e sociedade: o panorama brasileiro / Cludio Nazareno ... [et al.]. -- Braslia : Cmara dos Deputados, Coordenao de Publicaes, 2006. 187 p. -- (Srie temas de interesse do legislativo; n. 9).

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    A criao da Coordenao do Multimeios, em 2007, representou um avano significativo de produo e publicao de contedos digitais, fortalecendo o princpio da integrao de mdias como estratgia para a presena da diversidade de linguagens no ambiente escolar. Alm da produo de contedos digitais como animaes, ilustraes e fotografias, tambm avalia a implementao de novos softwares no sistema do Paran Digital.

    Tambm em 2007, a aquisio de 22.000 televisores multimdia, com entrada USB e software para leitura de arquivos de imagens, sons e vdeos, instalados em todas as salas de aula, representou a concretizao na prtica pedaggica de uma poltica pblica que aponta para o uso de tecnologias de informao e comunicao como um diferencial de qualidade na educao bsica.

    Desde o ano de 2003, um dos pilares do Paran Digital o portal de contedos, como ferramenta de disseminao das polticas educacionais do Estado do Paran por meio do incentivo e valorizao da produo dos professores da rede estadual. O Portal Dia-a-dia Educao caracteriza-se por ser um ambiente virtual baseado na Internet, implementado em software livre. Lanado com a finalidade de atingir toda comunidade educacional paranaense e brasileira, disponibiliza contedos (das disciplinas) curriculares, informaes e servios destinados a educadores, alunos, escola e comunidade. A equipe prioriza a implementao de contedos e sistemas voltados aos educadores.

    O ambiente voltado aos educadores foi concebido com funcionalidades que envolvem recursos didticos da Secretaria de Estado da Educao do Paran (Seed/PR), recursos didticos da web, recursos de informao, recursos de formao, links para os programas e projetos da Seed e para as pginas das disciplinas.

    No perodo de 2004 a 2006, o Ambiente Pedaggico Colaborativo (APC), que est disponibilizado dentro dos recursos de formao no ambiente Educador, foi a principal ferramenta do Portal. Esse sistema disponibiliza as produes de objetos de aprendizagem colaborativa (OAC) elaborados pelos professores da rede, permitindo tambm aps a publicao, a colaborao dos usurios de forma parcial ou integral.

    Em fevereiro de 2007, com a reestruturao da Seed-PR, o OAC passou a ser responsabilidade do Departamento da Educao Bsica (DEB) e a equipe do Portal Dia-a-dia Educao iniciou o trabalho de reestruturao do layout e de contedos do Portal. Assim, em setembro de 2007 foi lanado a segunda verso do Portal em sua nova plataforma.

    O Portal aberto a todos os visitantes, tendo entre suas principais aes e iniciativas a formao continuada dos educadores e a divulgao de informaes institucionais, sendo uma importante parte da rede de comunicao efetiva entre todos os envolvidos no processo educativo e comunidade educacional.

    Com enfoque na formao continuada e sua ampliao, criou-se, em 2008, a Coordenao de Educao a Distncia, que oportuniza a democratizao de acesso aos recursos tecnolgicos, bem como busca romper com as barreiras de espao e tempo por meio de estratgias especficas da modalidade EaD, como por exemplo: ambientes virtuais de aprendizagem, teleconferncia e webconferncias.

    Com base nos princpios que balizam as aes da Seed, a modalidade a distncia ofertada acontece, preferencialmente, na formao continuada de profissionais da educao, atendendo, tambm, demanda especfica, nas parcerias com o MEC: formao tcnica profissional, em nvel mdio e formao subsequente, especialmente nos municpios nos quais no h oferta de cursos presenciais.

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    Coordenao de EaD da Seed-PR cabe desenvolver as polticas educacionais da Seed, gerir cursos, pesquisar meios, organizar e administrar ambientes virtuais de aprendizagem e preparar professores para o trabalho na modalidade como professores-tutores, com vistas ampliao da oferta de formao continuada aos profissionais da educao da rede pblica.

    Com relao ao setor responsvel pela formao continuada para o uso de tecnologias na educao, sua equipe de atendimento foi redefinida a partir da ampliao dos 13 NTEs existentes para 32 Coordenaes Regionais de Tecnologia na Educao (CRTE), ocorrida em 2004. Essa ampliao prev, hoje, que a quantidade de Assessores em cada CRTE deve ser proporcional ao total de escolas na rea de abrangncia do NRE, considerando 1 Assessor para cada 10 escolas, alm de 2 tcnicos de suporte em cada uma das CRTEs.

    Atualmente, existem 270 profissionais do quadro efetivo, atuando nas 32 CRTE, como indicado no mapa, sob orientao da Coordenao de Apoio ao Uso de Tecnologias (Cautec). O objetivo dessa Coordenao atuar na formao continuada dos Assessores de Tecnologia das CRTEs e professores da rede pblica estadual de educao, contemplando a incluso scio-digital, no contexto de integrao das mdias web, televisiva e impressa.

    FONTE: COORDENAO DE APOIO AO USO DE TECNOLOGIAS/2009.

    Entre as aes das CRTE, destacam-se as seguintes assessorias tcnico-pedaggica aos professores: in loco nas escolas, no uso dos Laboratrios de Informtica (Paran Digital e ProInfo); para criao dos Sites das Escolas; para utilizao da programao da TV Paulo Freire; junto ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) acompanhado os Grupos de Trabalho em Rede (GTR), no ambiente e-escola (Moodle); para utilizao e produo de Folhas (unidades temticas do Livro Didtico Pblico); na produo dos Objetos de Aprendizagem Colaborativo no Ambiente Pedaggico Colaborativo do Portal; na pesquisa e produo de Objetos de Aprendizagem para a TV Multimdia; e ainda, para pesquisa de contedos disponveis no Portal Dia-a-dia Educao.

    Como aes complementares dos Assessores das CRTEs, cabe registrar o suporte tcnico no processo de instalao e manuteno dos recursos tecnolgicos disponveis nas escolas; a formao continuada

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    dos Administradores Locais para resoluo de situao problemas relativas s tecnologias disponveis nas escolas; assessorias coletivas em eventos como as Oficinas do Departamento de Educao Bsica Itinerante, os Cursos do ProInfo, as atividades do Fera ComCincia, as formaes nos Plos Regionais, as atividades do Pr-Funcionrio e junto s equipes administrativas das escolas.

    1.1 A MEDIAO NO CONTEXTO EDUCACIONALAo se iniciarem as discusses e proposies sobre o tema mediao, relacionado ao uso de Tecnologias

    de Informao e Comunicao (TIC) no contexto educacional, de vital importncia definir o conceito de mediao que subsidia o trabalho do professor, do assessor de tecnologia6 e do professor-tutor nos ambientes virtuais de aprendizagem da Educao a Distncia (EaD).

    Considerando-se que o uso das tecnologias na educao deve estar apoiado numa filosofia de aprendizagem que proporcione aos estudantes oportunidades de interao e, principalmente, a construo do conhecimento (MEC, 2007), necessrio que se tenha clareza do trabalho que o professor desempenha, enquanto mediador desse conhecimento.

    Para tanto, necessrio entender que os processos de mediao, em ambientes de aprendizagem, pressupem interaes, porm, no necessariamente todas as interaes necessitam de uma mediao. A simples interao do aluno com o conhecimento no garante a efetivao da aprendizagem e, por isso, se faz necessria a mediao do professor.

    Segundo Feurstein apud Garcia (2010) a interao dos homens com a realidade fsica e social deve ser mediada pela ao humana. No entanto, alerta que no qualquer interao que resulta em uma experincia de aprendizagem mediada.

    No contexto educacional, as aprendizagens so desenvolvidas nas relaes estabelecidas entre os sujeitos, com o compartilhamento de saberes, experincias e conhecimentos que realizam e adquirem nas suas relaes com o meio social. Nessas interaes, o professor, enquanto mediador, assume uma dimenso importantssima, atribuindo valor ao ato de ensinar para que seus alunos realmente aprendam, pois nesse processo h uma intencionalidade de sua ao, previamente sistematizada e planejada.

    Para Feurstein apud Turra (2007),

    [...] a mediao um fator de transmisso cultural. A cultura e os meios de informao so fontes para a mudana do homem. Uma mediao educativa deve ter integrados trs elemen-tos: o educador (ou qualquer pessoa que propicie desenvolvimento outra), o aprendiz (ou qualquer pessoa na condio de mediado) e as relaes (tudo o que expressado/vivenciado no processo de ensino e aprendizagem). O primeiro o educador/mediador o elo de liga-o (sic) entre o mediado e o saber, entre o mediado e o meio, entre o mediado e os outros mediados.

    A partir de tais consideraes, evidencia-se que a simples interao entre o sujeito e o objeto, no caso das experincias de aprendizagem escolares, entre o aluno e o conhecimento, no se efetivar de maneira significativa se no houver o professor, sujeito que medeia tal processo.

    6Professor do Quadro Prprio do Magistrio que desempenha a funo de assessor de tecnologia educacional.

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    Os estudos postulados por Vygotsky permitem compreender as concepes de ensino e de aprendizagem, bem como o desenvolvimento mental e social, sob a perspectiva da mediao. Para ele, toda atividade ou ao do sujeito sobre o objeto mediada socialmente, tanto simbolicamente, por meio de signos internos e externos, quanto pelo uso da linguagem, ou ainda pela ao de outro sujeito (MACHADO, 2009, p. 68).

    Isto posto, de extrema importncia refletir sobre o conceito e o sentido que se est indicando ao termo mediao, uma vez que este amplamente utilizado nas mais diferentes reas e com diversos sentidos. Segundo Nascimento (2008), o conceito de mediao comporta diferentes vertentes tericas e tem sido aplicado em diferentes contextos.

    A etimologia da palavra mediao, segundo Houaiss (2009), do latim, significa mediato, nis intercesso, interposio, interveno, mediao; ver medi(o). Porm, no processo de ensino e aprendizagem, Ferreira apud Vosgerau (2010) a define como um ato, expresso na ao do professor que intervm de forma planejada entre o aluno e o objetivo de aprendizagem, articulando recursos para conduzir esse aluno na construo do conhecimento, sendo o professor o articulador entre o aprendiz e o objeto do conhecimento.

    Tal definio pode ser complementada por Souza (2006, p. 68), que afirma [...] ao entrarmos em contato com o contexto escolar, a mediao assume caractersticas diferentes, passando a ter um carter intencional e sistematizado, denominada mediao pedaggica.

    Entende-se, pois, que as interaes que trazem uma intencionalidade, um planejamento e uma proposta sistematizada so consideradas um processo de mediao didtico-pedaggico. Neste sentido, os professores, os assessores em tecnologia e os professores-tutores so os responsveis pela mediao, tanto das propostas de formao dos profissionais da educao, quanto nas relaes intrnsecas e na dialogicidade do ensino e da aprendizagem que ocorrem em tal cenrio, ou seja, nas mediaes didtico-pedaggicas.

    A mediao do professor

    Uma vez definido que o professor tem a funo de mediador didtico-pedaggico, necessrio entender o que , e como tal mediao se efetiva, tendo-se em vista que o professor o mediador da relao do aluno com o conhecimento, objetivando-se, nessa relao, o desenvolvimento da aprendizagem com vistas re-construo desse conhecimento.

    A mediao do professor consiste em problematizar, perguntar, dialogar, ouvir os alunos, ensin-los a argumentar, abrir-lhes espao para expressar seus pensamentos, sentimentos, de-sejos, de modo que tragam para a aula sua realidade vivida (LIBNEO, 2009, p. 13).

    Tal afirmao evidencia a responsabilidade do professor de prover seus alunos dos contedos expressos no currculo escolar, ou seja, os conhecimentos histrica e culturalmente construdos, e, a partir destes, mediar o processo de aprendizagem com metodologia especfica, estratgias de ensino, e os mais diversos recursos didticos possveis, dentre os quais as tecnologias educacionais, pois nisso consiste o processo de ensino.

    Segundo Libneo, (2009, p. 13) uma das novas atitudes docentes diante das realidades do mundo contemporneo o professor assumir o ensino como mediao.

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    Afirma:

    O ensino exclusivamente verbalista, a mera transmisso de informaes, a aprendizagem en-tendida somente como acumulao de conhecimentos, no subsistem mais. Isso no quer dizer abandono dos conhecimentos sistematizados da disciplina nem da exposio de um assunto a que se afirma que o professor medeia a relao ativa do aluno com a matria, in-clusive com os contedos prprios de sua disciplina, mas considerando os conhecimentos, a experincia e os significados que os alunos trazem sala de aula, seu potencial cognitivo, suas capacidades e interesses, seus procedimentos de pensar, seu modo de trabalhar. Ao mesmo tempo, o professor ajuda no questionamento dessas experincias e significados, prov condi-es e meios cognitivos para sua modificao por parte dos alunos e orienta-os, intencional-mente, para objetivos educativos (LIBNEO, 2009, p. 13).

    Ou seja, a funo de mediao do professor no somente a transmisso da informao e do conhecimento, mas determinar certas mudanas na maneira de processar e utilizar a informao com envolvimento ativo e emocional no desenvolvimento das aes, proporcionando oportunidades de desafios, de criao e reconstruo de novos conhecimentos (GARCIA, 2010).

    Assim, nesse contexto que se entende que as tecnologias na educao so recursos importantes, no pelas informaes que disponibilizam, mas pelo processo comunicacional e interacional que possibilitam, conduzindo a (re)construo de conhecimentos (BORTOLOZZO, 2010). No se trata aqui apenas de se utilizar das tecnologias para o trabalho e (ou) repasse de conceitos e conhecimentos cientficos, mas de tomar conscincia que, por meio delas, podemos expandir os espaos de aprendizagem, ampliando as possibilidades de leitura e expresso da realidade, a partir dos diferentes gneros textuais presentes nos meios de comunicao e informao.

    Para Lenoir apud Vosgerau (2010, p. 3), [...] o planejamento das situaes de ensino-aprendizagem base para a transformao das tecnologias em recursos educativos. Planejamento requer inteno, sistematizao, objetivos definidos do que se quer ensinar, para quem, com que recursos e como ensinar.

    A partir dessas premissas, o professor o mediador didtico-pedaggico dos processos de ensino e de aprendizagem fazendo uso das tecnologias de informao e comunicao de modo que perpassem o planejamento de ensino como recursos que potencializam a aprendizagem dos educandos e enriqueam a prtica do professor.

    Libneo afirma que

    [...] a presena do professor indispensvel para a criao das condies cognitivas e afetivas que ajudaro o aluno a atribuir significados s mensagens e informaes recebidas das m-dias, das multimdias e formas variadas de interveno educativa urbana. O valor da aprendi-zagem escolar est justamente na sua capacidade de introduzir os alunos nos significados da cultura e da cincia por meio de mediaes cognitivas e interacionais providas pelo professor. E a escola, concebida como espao de sntese, estaria contribuindo efetivamente para uma educao bsica de qualidade: formao geral e preparao para o uso da tecnologia, desen-volvimento de capacidades cognitivas e operativas, formao para o exerccio da cidadania crtica, formao tica (2009, p.12).

    Dessa maneira, surgem modelos pedaggicos que se apoiam na utilizao das TIC e cabe aos professores entend-las como recursos configurados histrica e culturalmente como parte do processo educativo, incorporando-os sua realidade e contexto de forma crtica e criativa (BORTOLOZZO, 2008). E, ainda,

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    apropriando-se delas como meios que contribuam para o desenvolvimento efetivo da aprendizagem, e no apenas como meras ferramentas de repasse de informaes.

    As finalidades dos meios no processo de ensino e da aprendizagem, devem estar expressas nos planos de ensino dos professores e no Projeto Poltico Pedaggico das instituies. As TIC, nesse contexto, precisam se prestar a potencializar a articulao do conhecimento das diversas reas, de modo a promover uma integrao das disciplinas e o envolvimento dos alunos e professores em atividades socialmente relevantes e significativas (BORTOLOZZO, 2008, p. 24).

    De acordo com Feurstein apud Turra (2007, p. 299), para se produzir uma aprendizagem significativa torna-se imprescindvel a dupla mediador-mediado que, ao desenvolver os critrios de mediao, possibilita a interao e a modificabilidade, j que somente por meio da interao do sujeito com outros sujeitos capazes de mediar informaes necessrias, estando estes sujeitos integrados a um meio ambiente favorvel e estimulante, que o desenvolvimento cognitivo acontece.

    Ao se estabelecer a funo que as tecnologias tero nas prticas escolares, mediadas pelo professor, precisa-se ter clareza de como a aprendizagem, no sentido de conhecimento cognitivo, se d na atualidade, ultrapassando a mera linearidade que se tinha em mente quando se tentava fazer com que todos aprendessem nos mesmos tempos e espaos.

    Portanto, o professor, enquanto mediador didtico-pedaggico, necessita ter cuidados quando da incorporao das TIC nas atividades escolares, pois

    O impacto das novas tecnologias sobre nosso dia-a-dia exige comunho entre o poder da tcnica e a conscincia da importncia social, poltica, alm de pedaggica, de nossas escolas, para evitarmos que a racionalidade tcnica prepondere, desumanizando a escola, transfor-mando-a em espao de decises tecnicistas (CARVALHO, 2001, p. 28).

    O planejamento das atividades com o uso das TIC tambm deve ser elaborado, a fim de contemplar as necessidades tanto curriculares, quanto de aprendizagem dos alunos. A contextualizao continua sendo imprescindvel tambm quando da utilizao das tecnologias para que o resultado final das produes promova conhecimentos que levem transformao, com vistas a uma sociedade mais participativa, crtica e igualitria.

    Allegretti (1998, p. 19) declara que

    [...] a tecnologia na Educao encontrar seu espao, desde que haja uma mudana na atitude dos professores, que devem passar por um trabalho de autovalorizao, enfatizando seu saber para que possam apropriar-se da tecnologia com o objetivo de otimizar o processo de aprendi-zagem. E a mudana de atitudes uma condio necessria, no s para os professores, como tambm para os diretores e demais colaboradores, pois estes devem conceber a sua posio e a sua autoridade de forma diferente como agentes formadores, incentivadores, atuando sobretudo como mediadores do processo e co-participantes do trabalho escolar.

    Compreende-se, ento, que a mediao didtico-pedaggica possibilitada pelo professor que atua diretamente com os educandos, utilizando-se dos meios mais diversos, visando o desenvolvimento da aprendizagem, a produo do conhecimento, em co-participao com os demais profissionais presentes nos espaos educacionais, pois segundo Masetto (2000), o conceito de mediao vai alm da ao pedaggica, incluindo tambm os materiais utilizados e os demais alunos envolvidos na aprendizagem.

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    A mediao do Assessor de Tecnologias na Educao

    Partindo-se dos princpios norteadores estabelecidos pela Ditec, de democratizao do uso de tecnologias nas escolas; incentivo e valorizao da produo docente; concepo de mdias integradas como suporte prtica pedaggica e tecnologias na implementao de aes que visam formao continuada na modalidade EaD, emerge a figura de um profissional importante neste processo o Assessor de Tecnologias na Educao.

    Esse profissional compe as equipes das Coordenaes Regionais de Tecnologias na Educao (CRTE).

    Num total de trinta e duas, equivalentes ao nmero de Ncleos Regionais de Educao (NRE) no Estado do Paran, foram criadas pela resoluo 1636/2004 e a instruo 04/2004. Os profissionais que compem a equipe das 32 CRTE foram selecionados por meio de processo seletivo que se configura em trs etapas: anlise de currculo, prova prtica acerca de conhecimentos tcnico-pedaggicos (editor de textos, planilhas e apresentaes eletrnicas, correio eletrnico e objetos de aprendizagem simples) e, por fim, entrevista. As assessoras e assessores pedaggicos so professoras e professores concursados, pertencentes ao Quadro Prprio do Magistrio, disponveis 40h para desenvolverem aes que visem incluso digital e aprimoramento das prticas pedaggicas por meio de oficinas e assessorias in loco nas escolas (FERREIRA, 2009).

    A atuao do assessor da CRTE pauta-se numa concepo que tem o professor como autor, portanto sujeito que constri e produz conhecimento, e as tecnologias educacionais como recursos pedaggicos. Exercendo uma funo de mediador nesta atuao, o trabalho do assessor da CRTE o de apoio ao professor com a finalidade de fornecer-lhe subsdios para que possa, a partir dos objetivos pedaggicos e contedos estruturantes, optar por estratgias de ensino oriundas da seleo, do recorte, da pesquisa dos mais diversos recursos tecnolgicos, que auxiliem os educandos na aprendizagem dos contedos.

    O Assessor medeia o uso pedaggico das tecnologias nas prticas educacionais e, a partir das necessidades postas pelo professor, numa ao conjunta, busca a compreenso sobre os diversos recursos pedaggicos, suas versatilidades, funcionalidades e aplicabilidades didticas que podem contribuir para a compreenso e o desenvolvimento de capacidades cognitivas relativas ao contedo a ser trabalhado.

    Nas aes presenciais, os assessores de tecnologia auxiliam na produo de Objetos de Aprendizagem Colaborativos (OAC) e Folhas, na utilizao dessas produes j publicadas no Portal Dia-a-dia Educao, bem como, na pesquisa de contedos produzidos pela TV Paulo Freire, oportunizando momentos de discusso e dilogo, de reflexo curricular, terica e metodolgica.

    A partir da inteno e dos objetivos do professor, somados s suas necessidades de apropriao tcnica para utilizao das TIC em sala de aula, o Assessor apresenta possibilidades de recursos tecnolgicos que podero servir como meios para que o professor planeje sua prtica educativa, visando identificar qual a melhor tecnologia para auxili-lo no processo de ensino e na aprendizagem. Essa ao desencadeia a necessidade de algumas reflexes: Qual contedo curricular trabalhar? Quais dificuldades o professor encontra para trabalhar um contedo? Como desenvolver tal contedo? De que modo planeja que seus alunos aprendam o contedo proposto? Qual recurso poder auxiliar no trabalho com o contedo selecionado?

    O assessor um mediador quando orienta e guia o uso de tecnologias de maneira consciente e reflexiva e quando contribui para a implantao de estratgias tecnolgicas que auxiliem nas atividades de cunho

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    administrativo, logstico, tcnico e pedaggico, de forma integrada s polticas emanadas dos Departamentos e Coordenaes da Seed-PR. Tais aes se refletem nas Escolas, Educadores, Educandos e Comunidade, e tem como elemento norteador as Diretrizes Educacionais do Estado do Paran.

    A mediao do professor-tutor

    O Decreto n. 5.622, proposto em 2005, define a Educao a Distncia (EaD) como

    [...] a modalidade educacional na qual a mediao didtico-pedaggica nos processos de en-sino e aprendizagem ocorre com a utilizao de meios e tecnologias de informao e comuni-cao, envolvendo estudantes e professores no desenvolvimento de atividades educativas em lugares ou tempos diversos (BRASIL, 2005).

    Nesse contexto, entre as aes presentes na rea educacional do Estado do Paran, encontra-se a modalidade de Educao a Distncia (EaD), ofertada pela Secretaria de Estado da Educao do Paran (Seed-PR), preterivelmente, como uma das modalidades de oferta de formao continuada aos seus profissionais de educao, por considerar que tal oferta possibilita novos tempos e espaos para a democratizao do processo de ensino e de aprendizagem.

    Dentro do cenrio em que a EaD se desenvolve, programas, projetos, parcerias, ofertas de cursos diversos, esto os protagonistas que desempenham diferentes funes. So eles, os coordenadores de cursos; os docentes e equipe tcnico-pedaggica que planejam, organizam e implementam as demandas; os cursistas; e o professor-tutor, considerado o principal mediador no processo de ensino e aprendizagem.

    O professor-tutor assim terminologicamente denominado no contexto da EaD da Seed-PR, tendo em vista o desenvolvimento da sua funo tutorial diferenciada. Ele um professor de rea especfica e necessita do domnio do contedo, alm de ter formao de tutoria realizada por meio de curso especfico, e conhecimentos das tecnologias que utilizar para desenvolver sua mediao.

    Segundo Barros, Bortolozzo e Moura (2009, p. 6.167),

    [...] a Seed considera as aes de tutoria no processo de aprendizagem como aes docentes. Nesse sentido, estabelece as funes do tutor como mediador dos processos de ensino e de aprendizagem e o denomina professor-tutor. Tal denominao concretizada levando-se em conta que ele deve ser graduado na rea de conhecimento do curso em que atuar, dom-nio das TIC e das prticas tutoriais, desenvolvendo empatia para trabalhar com seus cursistas.

    Enquanto na educao regular presencial, o professor que exerce a ao mediadora didtico-pedaggica do conhecimento, na EaD tal funo desempenhada pelo professor-tutor. Ele o principal responsvel pela mediao do conhecimento, acompanhando e orientando o cursista para a sua aprendizagem, por meio de interaes, debates, discusses e intervenes, levando-o colaborativamente construo do conhecimento. Interage com os alunos, motiva-os, prov os recursos para o desenvolvimento da aprendizagem, instiga para a reflexo e a pesquisa, prope atividades diversas que estimulem todos os processos cognitivos, articula teoria e prtica e avalia.

    A exigncia no domnio do contedo se d em funo de que o professor-tutor precisa ter conhecimentos que permitam aprofundamento nas discusses, indicaes de leituras, procedimentos de estudos e esclarecimento de dvidas. E o conhecimento e domnio das tecnologias, tendo em vista que so estas que se prestam a servir como meios e dar suporte s aes pedaggicas na EaD.

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    Segundo Maggio (2001, p. 96), nas perspectivas pedaggicas mais atuais, o tutor aquele que guia, orienta, apoia e nisso consiste seu ensino. Ou seja, enquanto o professor conteudista elabora e prepara o material didtico que ser utilizado, o professor-tutor aquele que mediar o processo para que ocorra, de fato, a aprendizagem.

    Portanto, entende-se que no basta que promova o contato, motive e provenha os recursos para que o cursista aprenda sozinho, mas, interaja e medie constantemente, desenvolvendo a autonomia de estudos, instigando, provocando e colocando-o em situaes-problema e de reflexo (BARROS, BORTOLOZZO e MOURA, 2010, p. 6.167).

    Tendo em vista a amplitude do que foi exposto, claro que o professor-tutor s desempenhar seu trabalho de mediador se levar seus alunos/cursistas apropriao e reconstruo do conhecimento com vistas significao e s transformaes de comportamentos, utilizando-se dos mais diversos meios e estratgias de ensino e de aprendizagem.

    E, para finalizar, compactua-se com Mori (2004, p. 80-81), que considera

    [...] a mediao pedaggica como o resultado da articulao de uma srie de situaes, fatores, intenes e saberes que contribuem ou no para o seu desenvolvimento. Sendo assim, o pro-cesso de mediao pode variar de acordo com o contexto no qual os sujeitos esto envolvidos, as caractersticas pessoais e profissionais do professor, a motivao e interesse dos alunos, os contedos e os conceitos que so desenvolvidos, as estratgias e tcnicas empregadas, a lingua-gem estabelecida, a intencionalidade do professor.

    As tecnologias devem servir de recursos didticos que dem conta de possibilitar ao professor-tutor a realizao da sua mediao didtico-pedaggica, sistemtica e intencionalmente planejada, com vistas ao desenvolvimento da aprendizagem de seus alunos.

    Finalizando...

    Diante de todas as proposies aqui expostas, algumas questes merecem destaque, tendo em vista a especificidade das aes que o professor, o assessor de tecnologia e o professor-tutor devem desempenhar no contexto educacional, enquanto mediadores didtico-pedaggicos dos processos de ensino e de aprendizagem: a mediao um conceito muito amplo, e o seu recorte para os espaos em que as aes educacionais

    se materializam desvela-se na forma de mediao didtico-pedaggica; na atuao do educador como aquele que, mediando as situaes de ensino, planeja a utilizao

    das TIC disponveis no contexto educacional, transformando-as em recursos pedaggicos, no se pode desconsiderar que o professor ajuda pedagogicamente (LIBNEO, 2009) o educando no desenvolvimento da sua aprendizagem por meio da (re)construo do conhecimento histrica e culturalmente construdo;

    a mediao didtico-pedaggica deve se dar por meio de planejamento, estratgias e mtodos do processo de ensino, a partir da ao intencional do educador (professor, assessor, professor-tutor), considerando o desenvolvimento cognoscitivo do aluno e os princpios gerais da educao.

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    1.2 MDIA IMPRESSA NA ESCOLA

    Sobre leitura e escrita

    A prtica da leitura est presente em nossas vidas desde o momento em que comeamos a ver e a compreender o mundo nossa volta, a pedir este ou aquele doce pela marca do produto, a observar placas e outdoors, a interpretar livros e histrias em quadrinhos pelas ilustraes e expresses dos personagens. Estamos, de certa forma, lendo, embora, ainda, no saibamos disso.

    Como vemos, a atividade de leitura inicia-se muito cedo, pois procuramos perceber e interpretar o que os sinais grficos significam, muito antes de comearmos a decifrar os signos lingusticos.

    Porm, oficialmente, aprende-se a ler na escola. Como tambm nela que se aprende a escrever. no universo escolar, por meio de atividades de ensino sistematizadas que, para uma boa parcela da comunidade estudantil, travado um contato mais ntimo e significativo com o texto escrito, utilizando-se, para isso, a mdia impressa, suporte largamente presente em textos, livros didticos e paradidticos, livros de literatura, tabela peridica, mapas, entre outras tecnologias veiculadas de forma impressa para uso de professores e alunos nos processos de ensino e de aprendizagem.

    Essa gama de possibilidades de registro impresso deve-se aos impactos da criao da escrita na cultura humana, pois o meio escrito passou das funes iniciais, essencialmente prticas, a ser usado no registro das crenas, das memrias coletivas, das leis sociais, do conhecimento em geral, da poesia, entre outras. Dessa forma, a cultura letrada, que transformou profundamente a vida humana, foi se desenvolvendo, tomando corpo, paralelamente cultura oral. A propriedade de permanncia do meio escrito, ao contrrio da evanescncia do meio oral, responsvel pela sua importncia na histria da humanidade. Com a escrita, a humanidade pde transcender os limites do tempo, do espao, da comunicao face a face e da cultura apenas oral e local. Tornou-se possvel, tambm, o registro do conhecimento, ampliando-o exponencialmente. No toa, portanto, que se diz ter sido a inveno da escrita a maior realizao tecnolgica da humanidade (FARACO, 2010).

    Ressalte-se a importncia da escrita para o desenvolvimento humano, seja pelo registro do conhecimento produzido, seja pelo desenvolvimento de funes cognitivas abstratas, ou pelo desenvolvimento de reas cientficas, como a tecnolgica.

    Segundo Faraco (2010),

    [...] quando falamos, ento, de cultura letrada estamos nos referindo no apenas aos siste-mas de transcrio grfica da linguagem verbal (a escrita no se esgota na notao), mas, fundamentalmente, de uma vasta e complexa rede de prticas cognitivas, saberes e prticas socioculturais que a criao desses sistemas tornou possvel.[...] Podemos dizer, ento, que escrita, escola e cultura letrada esto historicamente em relao simbitica. A prtica conti-nuada da escrita foi motivando o desenvolvimento e a consolidao de tradies discursivas que vo desde as convenes grficas (corporificadas nos diferentes desenhos dos logogramas, dos silabogramas e das letras, e na composio da pgina) at a formatao dos modos de dizer, materializados estes em diferentes gneros e tipos de textos e no privilegiamento de determinados elementos da lngua considerados adequados para a expresso escrita, ou seja, a prpria prtica da escrita foi delimitando as variedades da lngua passveis de ocorrerem nela (realidade lingustica a que damos hoje o nome de norma culta).

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    Para o autor, a prtica da leitura pressupe trs aes especficas que se complementam. Primeiramente, a ao de se familiarizar com os diversos textos que circulam entre ns, nas prticas sociais cotidianas; a aquisio de uma atitude crtica frente leitura desses textos, percebendo a intencionalidade subjacente a eles e, por fim, a compreenso responsiva, ou seja, a interao leitor-texto. Isto , leitura e escrita possuem um sentido mais amplo, no se restringindo apenas aos textos verbais.

    Compreendida dessa forma, a leitura nos possibilita compreender e interpretar, criticamente, no s a linguagem verbal, mas todas as outras linguagens e suas associaes. No podemos nos esquecer da multiplicidade de linguagens que fazem parte do nosso universo social cotidiano, como as artes visuais, a msica, o cinema, a fotografia, a televiso, a publicidade, as charges, os quadrinhos, a infografia, bem como as linguagens cientficas. Essa multiplicidade nos possibilita a percepo de suas similaridades, pois so atividades sociointeracionistas, e suas especificidades.

    Aprender as prticas escritas exige um mergulhar em todas essas tradies discursivas. Trata-se de uma complexa experincia cognitiva que no comea nem termina com o domnio do alfabeto. A alfabetizao apenas o momento especfico de aprendizado do sistema de notaes grficas. No comea nem termina com a alfabetizao, deve haver por parte da criana - a percepo da funo social da escrita, o contato com a lngua escrita para o processo de letramento e a preparao para o trabalho escolar sistemtico com o alfabeto e a linguagem verbal escrita (FARACO, 2010).

    Entretanto, para que isso ocorra necessrio que se deixe de ver a leitura como atividade exclusiva das aulas de Lngua Portuguesa. H que se entender que todas as reas so (co)responsveis pelo desenvolvimento do leitor crtico, tendo em vista que para se adquirir proficincia em leitura importante transitar por diferentes textos, de diferentes linguagens, nas diversas reas do conhecimento.

    Ressalte-se, nesse contexto, sobre a comunicao escrita, que ela

    [...] no conta com a presena fsica do interlocutor. E isso tem profundas implicaes para o ato de escrever: preciso, por exemplo, preencher essa ausncia definindo quem ser o interlocutor, prevendo suas possveis reaes e a elas responder ou adequar o texto antecipada-mente. O ato de escrever exige, ento, cuidadoso planejamento prvio; sua temtica no pode ser difusa, mas deve ser centrada, sequencialmente bem trabalhada e apoiada em recursos coesivos estritamente controlados (FARACO, 2010).

    Dessa forma, para escrever precisamos ter em mente quem o nosso interlocutor, para que possamos adequar nossa linguagem ao seu provvel nvel de compreenso. Caso isso no acontea, estaremos pondo em risco no somente a compreenso do texto, como a interao texto-leitor.

    Sobre a mdia impressa

    A mdia impressa o meio de registro e circulao da informao e do conhecimento entre ns, desde a inveno da prensa de tipos mveis. At h alguns anos, esse era o meio dominante de comunicao. Porm, em decorrncia da criao e disseminao de meios tcnicos que oportunizaram a comunicao de massa, como o cinema, o rdio, a televiso e a internet, esse domnio est se encerrando.

    Contudo, a mdia impressa, tambm chamada de mdia offline, o recurso mais utilizado na educao, disponvel em todas as escolas do pas, por meio dos mais diversos materiais que compem o cenrio escolar: livros, jornais, revistas, enciclopdias, obras literrias e didtico-pedaggicas, histrias em

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    quadrinhos, propagandas, encartes, mapas, entre outros.Um fator significativo, no que se refere ao uso da mdia impressa na escola, o fato de sua

    permanncia. Est escrito, registrado, podendo ser retomado sempre que necessrio, enquanto durar o suporte. Diferente da fala, que efmera e evanescente.

    Mesmo que, habitualmente, a funo central atribuda escrita seja a de registro de informaes, no se pode negar que, com ela, a humanidade pde transcender os limites do tempo, do espao, da comunicao face a face e da cultura apenas oral e local. O avano das tecnologias e linguagens (verbal ou no verbal) permitiu, inclusive, o aparecimento de formas coletivas de construo de textos, bem como a ampliao exponencial do registro e da disseminao do conhecimento.

    Apesar de a mdia digital oportunizar outras formas do texto escrito chegar escola, a mdia impressa no deixa de ser necessria, pois diante das facilidades e possibilidades que oferece, pode-se afirmar que sempre ter seu espao e no ser substituda pela digital. Haver, contudo, uma maior ampliao e complementao das possibilidades de construo e organizao do conhecimento, com a integrao dessas mdias.

    Isso to claro para educadores e governantes que, assim como em 2010 foi aprovada a Lei n. 12.244 que determina que toda escola deve ter um acervo de livros nas bibliotecas, de pelo menos um ttulo por aluno matriculado, tambm houve a instalao de laboratrios de informtica com acesso Internet em boa parte das escolas pblicas.

    Como vemos,

    [...] as mudanas tecnolgicas que o sculo XX produziu no destruram (nem vo destruir) a mdia impressa. Esto sim redesenhando suas funes culturais, [...] Mergulhar na cultura letrada implica hoje aprender a transitar por vrios suportes tecnolgicos simultaneamente. A sociedade e a cultura atuais esto construindo novas tradies discursivas e desenvolvendo novas lgicas cognitivas a partir do cruzamento de linguagens e suportes que a tecnologia permite. Sem perder os ganhos do grande ciclo do livro, passamos a dispor de outros muitos caminhos para a informao e para o conhecimento. Temos de aprender a conciliar isso tudo. Temos de aprender a transitar neste mundo infinito e sem limites. Temos de aprender a de-senvolver nossas capacidades crticas e produtivas neste meio (FARACO, 2010).

    A multiplicidade de suportes miditicos possibilita novas formas de apreenso da realidade, criando novas necessidades e expectativas. Nesse contexto, os textos deixam de ser limitados fisicamente pelo papel e por meio do suporte virtual, permitindo a reelaborao coletiva e colaborativa.

    Essa nova arquitetura textual, denominada de hipertexto, fruto do espao ciberntico, potencializa a percepo, o pensamento e a imaginao, graas s novas formas de cooperao e colaborao realizadas sincronamente.

    Por esse motivo,

    [...] o modelo hipertextual de simultaneidade e no-linearidade apresentado por Ramal (2002) como uma forma de leitura e escrita mais prxima do nosso prprio esquema mental de pensamento, uma vez que este no apresenta limites para a atribuio de sentido s pala-vras (AMARAL, 2003).

    necessrio garantir na escola o acesso aos diversos tipos de mdia e oportunizar que alunos e

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    professores tornem-se leitores compreensivos e crticos das mltiplas linguagens miditicas que habitam o universo educacional.

    Sobre a mdia impressa na Seed-PR

    Encarando a leitura, a escrita e a oralidade como atividades sociais significativas entre sujeitos histricos, realizadas sob condies concretas, as prticas de linguagens presentes no currculo devem subsidiar o Projeto Poltico-Pedaggico comprometido com uma escola letradora.

    Pois, para Faraco (2010),

    [...] a pedra angular deste projeto poltico-pedaggico dever ser um compromisso com a expanso do letramento da maioria dos alunos, j que eles vm de segmentos sociais histori-camente excludos do acesso pleno escrita e cultura letrada. No se trata de dar aqui uma interpretao restrita a essa expresso. Ela no diz respeito apenas alfabetizao e ao domnio do saber enciclopdico tradicionalmente cultuado e transmitido pela escola. A cultura letrada pressupe obviamente a alfabetizao e compreende um certo acmulo relativo de saberes cuja construo e expanso s se tornaram possveis pela criao da escrita e redundaram, por exemplo, na matemtica, nas cincias e tecnologias que, apropriadas pelo capital, trouxeram as mudanas produtivas e socioculturais da atualidade.

    Ciente de que a educao para a escrita por muito tempo teve um pblico restrito, por estar vinculada aos ncleos de poder econmico, poltico e religioso e, com vistas a contribuir para a alterao desse perfil, que vem ocorrendo progressivamente, a Seed-PR produz e disponibiliza s escolas diversos materiais impressos.

    Entretanto, para que esses materiais cheguem at a escola o processo longo. Comeando pela pesquisa e escrita, passa por discusses diversas entre as equipes dos departamentos, das coordenaes e dos ncleos da Secretaria de Educao; por revises ortogrficas; preparo de fotos e/ou outras imagens que comporo o material; por diagramao e, s ento, segue para a impresso, feita por grfica vencedora de licitao. Esse processo se refere a documentos escritos sem a participao do coletivo dos professores. Quando essa participao ocorre, como na elaborao das Diretrizes Curriculares da Educao Bsica do Paran, o processo mais longo, pois envolve as semanas e jornadas pedaggicas, bem como as reunies tcnicas.

    Todo esse processo de extrema importncia, pois o material impresso, por ter sido o mais utilizado nas escolas, em todos os tempos, o mais familiar para professores e alunos. Alm disso, pesa, tambm, para sua presena, o fato de a escola, em qualquer dos seus formatos histricos, ser fruto da criao da escrita e existir, milenarmente, para dar acesso ao cdigo grfico bem como para, principalmente, transmitir a cultura letrada. Resgatando Faraco (2010), podemos afirmar que escrita, escola e cultura letrada esto, historicamente, em relao simbitica.

    Assim, as escolas pblicas do estado do Paran recebem diversos materiais impressos, cujo objetivo oferecer a professores e alunos possibilidades de pesquisa e apoio s prticas pedaggicas. Dentre estes materiais esto: o livro didtico (PNLD), o Livro Didtico Pblico (LDP), as Diretrizes Curriculares do Estado (DCE), os Cadernos Temticos e Pedaggicos, a Grade da Programao da TV Paulo Freire, Tutoriais e Manuais diversos.

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    O Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD) o mais antigo dos programas voltados distribuio de obras didticas aos estudantes da rede pblica de ensino brasileira e, teve incio, com outra denominao, em 1929. O PNLD voltado para o ensino fundamental pblico, incluindo as classes de alfabetizao infantil. importante lembrar que a partir de 2002, o PNLD ampliou sua rea de atuao e passou a atender, de forma gradativa, o ensino mdio e os alunos portadores de deficincia visual, com livros didticos em Braille. Alm do PNLD, a Secretaria Estadual de Educao do PR promove, desde 2004, a criao de materiais didticos por professores como forma de incentivar a pesquisa docente, transformando os resultados em livros escolares de livre uso e reproduo. Essa ao, denominada de Projeto Folhas, culminou no Livro Didtico Pblico.

    No Projeto Folhas, os professores da rede recebem formao especfica para a escrita de uma unidade temtica. O material enviado ao Ncleo Regional de Educao no qual o professor lotado, e cabe ao NRE validar e publicar o Folhas. Do desenvolvimento do Folhas, nasceu o programa do Livro Didtico Pblico, produzido por profissionais da rede estadual, envolvendo as doze disciplinas de tradio curricular no Ensino Mdio: Lngua Portuguesa/Literatura, Matemtica, Fsica, Qumica, Biologia, Geografia, Histria, Filosofia, Sociologia, Arte, Educao Fsica e Lngua Estrangeira Moderna.

    Consideramos relevante ressaltar, neste ponto, que tanto o Folhas quanto os Livros Didticos Pblicos podem ser acessados por meio do Portal Dia-a-dia Educao.

    Por sua vez, as Diretrizes Curriculares para a Educao Pblica do Estado do Paran chegam s escolas como um documento oficial que traz a horizontalidade de sua construo como caracterstica principal, pois contou com a participao de todas as escolas e Ncleos Regionais de Educao do Estado, fazendo ressoar nela as vozes de todos os professores das escolas pblicas paranaenses. As Diretrizes se constituem em um conjunto de cadernos que traam estratgias para nortear o trabalho do professor e garantir a apropriao do conhecimento pelos estudantes da rede pblica.

    Como mdia impressa, a Seed-PR tambm organizou os Cadernos Temticos, que se configuram como um apoio terico-prtico ao professor, nas diversas reas do conhecimento, abrangendo tambm temticas relativas diversidade, aos desafios contemporneos, s tecnologias educacionais e educao a distncia.

    Outros materiais didticos so organizados, como os Cadernos Pedaggicos que so remetidos s escolas. So eles: Ensino Religioso, Representao Memrias e Identidades, Olimpada Brasileira de Matemtica da Escola Pblica - OBMEP, Musicalizao, Geologia na Escola, Sala de Apoio Aprendizagem (Lngua Portuguesa e Matemtica) e Ciclo Bsico de Aprendizagem (Lngua Portuguesa e Matemtica).

    Com a finalidade de auxiliar as escolas em seu trabalho pedaggico, foi produzido e distribudo o Caderno de Apoio Construo do Regimento Escolar, que subsidia a Elaborao do Regimento Escolar, construdo coletivamente. Alm desse caderno, foram organizados materiais para eventos e cursos de formao continuada para os professores da rede; artigos e textos escritos por professores e pedagogos que abordam os critrios de avaliao da aprendizagem; a prtica pedaggica dos educadores; o papel do pedagogo na gesto escolar e no currculo; a concepo de escola em tempo integral; a anlise das polticas de educao integral, entre outros temas.

    H, tambm, a produo vinculada formao de professores no Programa de Desenvolvimento Educacional, a Revista Saberes da Escola.

    Com o objetivo de oferecer suporte terico e didtico aos professores da rede, para apropriao das

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    tecnologias disponveis nas escolas, foram produzidos materiais impressos relacionados ao uso de recursos tecnolgicos no espao escolar, ou para o ensino e aprendizagem, seja para a formao de profissionais da educao. Compem esse material os tutoriais de softwares educativos e de ambientes virtuais; os guias de orientao para bibliotecas escolares, de apresentao de trabalhos, de uso dos laboratrios de informtica e de criao e manuteno dos sites nas escolas.

    Outros materiais impressos so tambm produzidos pela Seed-PR com o objetivo de dar suporte s outras mdias: cartazes, folders, ndices de contedos, apostilas e grades de programao. Particularmente voltado aos estudantes e com a funo de possibilitar o aprofundamento de contedos disciplinares so distribudas apostilas do programa televisivo Eureka para o Pr-Vestibular.

    No que se refere ao fluxo de organizao, produo de contedos, normalizao e produo grfica dos materiais impressos da Seed-PR, estes so inicialmente organizados e produzidos pelas diversas Coordenaes e Departamentos, corrigidos e normalizados pelo Centro de Editorao Tcnica da Seed-PR, e finalizados como produo grfica pelo setor de Multimeios.

    Dessa maneira, possvel afirmar que, por meio da elaborao e da oferta dessa diversidade de material, encontram-se implcitos alguns objetivos, como: fortalecer a produo dos professores, consolidando as prticas escolares; ampliar o acesso e o aprofundamento do conhecimento em reas e temticas especficas; realizar a reflexo fundamentada da prtica, a partir da produo cientfica; e promover o dilogo da mdia impressa com as outras mdias.

    A mdia impressa tem seu lugar assegurado, de forma relevante, no universo escolar, na medida em que fortalece o estabelecimento de uma cultura letrada. Entretanto, tal cultura encontra-se hoje sob o impacto das transformaes oriundas da aproximao e da integrao com outras mdias, tambm presentes nesse universo escolar.

    Nesse contexto, afirma Faraco (2010),

    [...] mergulhar na cultura letrada implica hoje aprender a transitar por vrios suportes tecnolgicos simultaneamente (todos eles, alis, direta ou indiretamente correlacionados com a lngua escrita e frutos da cultura letrada). preciso dominar sua base material. Mas no s isso. Se a alfabetizao tradicional no se esgota no domnio do alfabeto, mas pressupe a imerso nas tradies discursivas das prticas sociais de escrita e a apreenso da lgica cognitiva que subjaz a ela, do mesmo modo a alfabetizao e o letramento para o mundo virtual multimiditico e hipertextual no se esgota no domnio das suas bases materiais. A sociedade e a cultura atuais esto construindo novas tradies discursivas e desenvolvendo novas lgicas cognitivas a partir do cruzamento de linguagens e supor-tes que a tecnologia permite. Sem perder os ganhos do grande ciclo do livro, passamos a dispor de outros muitos caminhos para a informao e para o conhecimento. Temos de aprender a conciliar isso tudo. Temos de aprender a transitar neste mundo infinito e sem limites. Temos de aprender a desenvolver nossas capacidades crticas e produtivas neste meio. Alcanar estas metas no Brasil, porm, no tarefa fcil, considerando que entramos na era da imagem e do meio virtual multimi-ditico e hipertextual sem ter sequer universalizado o domnio do alfabeto e sem ter democratizado o acesso mdia impressa. Ou seja, as mudanas tecnolgicas e culturais nos alcanaram sem que tivssemos consolidado razoavelmente a cultura do livro e da linguagem escrita. Estamos ainda, portanto, desafiados a formular e concretizar um projeto poltico-pedaggico capaz de vencer este atraso ao mesmo tempo que responde s novas realidades e demandas postas pelas tecnologias da informao e da comunicao, investindo no letramento dos professores j em exerccio, reestrutu-rando a formao geral dos novos e repensando as prticas escolares.

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    1.3 TELEVISO PAULO FREIRE UM CANAL PARA LIBERDADE: CONCEPES, CAMINHADA E DESAFIOS

    Pois, encante-nos ou nos d asco, a televiso constitui hoje, simultaneamente o mais sofistica-do dispositivo de moldagem e deformao do cotidiano e dos gostos populares e uma das me-diaes histricas mais expressivas de matrizes narrativas, gestuais e cenogrficas do mundo cultural popular, entendido no como as tradies especficas de um povo, mas a hibridao de certas formas de enunciao, de certos saberes narrativos, de certos gneros novelescos e dramticos do Ocidente com as matrizes culturais de nossos pases (MARTN-BARBERO; REY, 2004).

    O projeto de uma televiso que atendesse s demandas da Secretaria de Estado da Educao (Seed-PR) e contemplasse a formao continuada dos seus profissionais, de forma gil e com qualidade, comeou a ser estruturado em 2005, no Centro de Excelncia em Tecnologia da Educao do Paran (Cetepar), atual Ditec, a partir de um grupo de trabalho interdisciplinar, composto por professores da Rede Pblica do Paran, equipe tcnico-pedaggica dos Departamentos da Seed, profissionais da rea da comunicao e professores das Instituies de Ensino Superior (IES).

    A tarefa desse grupo, coordenado pela Ditec, foi conceber terico e pedagogicamente o uso de audiovisuais para a formao continuada e como fonte de pesquisa no espao escolar. A dinmica de trabalho desse grupo tinha, tambm, o encargo de criar programas e formatos, assim como resolver questes tcnicas de produo, transmisso e estrutura fsica.

    Essas discusses foram orientadas por uma pesquisa diagnstica de hbitos televisivos, realizada com professores da rede pblica de todo o Estado por meio das Coordenaes Regionais de Tecnologias na Educao (CRTE).

    Concomitantemente, iniciou-se a composio da equipe da TV Paulo Freire, que atualmente formada por professores do Quadro Prprio do Magistrio da Rede Estadual, profissionais da rea da Comunicao e estagirios. Finalizado esse trabalho, a TV Paulo Freire teve sua primeira transmisso no dia 27 de junho de 2006.

    A implementao do projeto teve como recurso facilitador a estrutura de equipamentos existentes nas escolas, tais como: receptores digitais de satlite, antenas parablicas e laboratrios de informtica com conexo por meio de fibra tica. Outro fator fundamental que contribuiu com a iniciativa foi a parceria estabelecida com a Rdio e Televiso Educativa do Paran (RTVE-PR), onde encontra-se a estrutura de transmisso da TV Paulo Freire.

    A programao est em consonncia com as polticas e aes da Seed-PR, visando uma articulao com as Diretrizes Curriculares e um dilogo com as aes pedaggicas, isto , a programao foi concebida exclusivamente para a comunidade escolar do Estado. Isso proporciona escola pblica uma educao articulada com os avanos do mundo contemporneo, bem como qualidade no processo educacional, uma vez que aprimora a formao dos professores e as fontes de pesquisa no processo de ensino e aprendizagem.

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    Concepes terico-pedaggicas

    A linguagem desse meio de comunicao possibilita ampliar a formao continuada dos profissionais da educao; divulgar as identidades dos sujeitos, seus saberes e prticas educativas, criar campanhas que enfoquem assuntos de interesse do bem comum e informar comunidade sobre temas pertinentes ao universo educacional.

    Historicamente, tanto a oralidade quanto a escrita oferecem base s prticas de comunicao no processo de ensino e aprendizagem. A televiso, integrada com outras mdias, amplia essas prticas, pois se configura como veculo democrtico, visto que a comunidade escolar j possui familiaridade com sua linguagem. Alm disso, essa forma de comunicao divulga diferentes realidades regionais, permitindo que o espectador se identifique e se reconhea nos programas.

    Tal mdia apresenta caractersticas especficas, portanto tem linguagem prpria, composta por palavras, cdigos imagticos e sonoros que, combinados entre si, compem o que denominamos textos audiovisuais. Para esclarecer esse conceito de texto audiovisual o colocamos em contraposio ao texto escrito, destacando que a leitura do texto audiovisual pressupe senti-lo, ou seja, em um primeiro momento so os sentidos (viso, audio...) que so provocados.

    Conforme Ferrs (1996, p. 21)

    [...] as diferenas ficam evidentes nas expresses ler um texto e ver televiso. O leitor enfrenta um mundo abstrato de conceitos e ideias. O telespectador enfrenta um universo concreto de objetos e realidades. A descodificao da imagem quase automtica, instantnea, enquanto que a descodificao dos smbolos escritos exige complexas operaes analticas e racionais.

    Porm, ao afirmarmos que o audiovisual compe um texto, se o lermos de forma crtica, aps esse primeiro impacto dos sentidos, podemos fazer complexas interpretaes, assim como a leitura do texto escrito.

    Linguagem televisiva

    A cada dia aprimoram-se os sistemas de comunicao de massa que, dinmicos em seu desenvolvimento, aproximam e confrontam indivduos e sociedades diversas. E, alm disso, nos colocam diante de um mar de informaes que, em sntese, representa o ritmo da vida moderna.

    Esses sistemas de comunicao, como o caso da mdia televisual, inserem-se de maneira to profunda e significativa em nosso cotidiano que j no podem ser entendidos apenas como suporte de comunicao do mundo contemporneo, pois, de fato, modificam processos culturais e sociais. De acordo com Martn-Barbeiro e Rey (2004, p. 33-34),

    [...] a televiso a mdia que mais radicalmente ir desordenar a idia e os limites do campo da cultura: suas cortantes separaes entre realidade e fico [...], entre espao de cio e de trabalho. Porque, mais do que buscar seu nicho na idia ilustrada de cultura, a experincia audiovisual a repe radicalmente: desde os prprios modos de relao com a realidade, isto , desde as transformaes de nossa percepo do espao e do tempo. Do espao, aprofundando o desancoramento que a modernidade produz com relao ao lugar, desterritorializao dos modos de presena e relao, das formas de perceber o prximo e o longnquo, que tornam mais perto o vivido a distncia do que aquilo que cruza nosso espao fsico cotidianamente.

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    A televiso, portanto, interfere na constituio de nossa subjetividade por meio de maneiras diversas de apreender e representar a realidade, relacionadas a modos de ser, de pensar, de conhecer o mundo, de se relacionar com a vida, apresentando outras possibilidades de significados para o cotidiano (FISCHER, 2003, p.15).

    Assim, mdia televisual caracteriza-se por ser mltipla tanto em termos de produo, quanto de veiculao. composta de elementos como imagens e sons e permite ao espectador acesso informao, assim como ao entretenimento. capaz de articular, sobrepor e combinar linguagens totalmente diferentes, por meio de uma narrativa fluida, uma lgica pouco delimitada, em que contedos e limites ticos so pouco precisos, o que a caracteriza como um meio pleno de ambiguidade, possibilitando interferncias por parte dos consumidores (MORAN, 2001).

    Na imagem em movimento, encontra-se um princpio de sociabilidade, pois se apresenta como um elo de religao para a cultura contempornea, capaz de superar os abismos instaurados entre os indivduos e entre os grupos (COELHO, 1997). A imagem pode explicar a relao entre sujeito e mundo, uma vez que o olhar se constitui em um dos primeiros aparatos de apreenso e significao. Relaciona-se com o indivduo por meio de seu mundo imediato, mas tambm de seu mundo distante, passvel de produzir a unio entre a sensibilidade e o entendimento, fato que no elimina o conhecimento, ao contrrio, cria o terreno para que o conhecimento se manifeste.

    A narrativa televisiva no composta apenas por imagens em sequncia, mas por imagens, sons e palavras. Esses so os componentes bsicos dessa linguagem que se integram e nos alcanam atravs dos sentidos, da pele, das emoes (FISCHER, 2003, p.115). Dessa forma, esta narrativa possui estrutura mpar. Os componentes bsicos da linguagem televisiva, de acordo com Moran (2001, s/p):

    [...] vo se agrupando segundo critrios menos rgidos, mais livres e subjetivos dos produtores que pressupe um tipo de lgica da recepo tambm menos racional [...] ao colocar pedaos de imagens ou cenas juntas, em sequncia, criam-se novas relaes, novos significados, que antes no existiam e que passam a ser considerados aceitveis.

    O audiovisual tem no movimento sua caracterstica bsica fundante, que impe ritmos mais lentos ou mais rpidos, que se compe com imagem, sons e palavras em sobreposies e/ou justaposies criando uma nova relao de tempo e espao, em que as informaes se ampliam. Porm, o telespectador nunca consegue captar a informao na sua totalidade,

    [...] foca a ateno em alguns aspectos analgicos, nas figuras destacadas, nas que se movem, e com isso conseguimos acompanhar uma histria. Mas deixamos de lado inmeras infor-maes visuais e sensoriais, que no so percebidas conscientemente. A fora da linguagem audiovisual est no fato de ela dizer muito mais do que captamos, de ela chegar simultanea-mente por muito mais caminhos do que conscientemente percebemos e de encontrar dentro de ns uma repercusso em imagens bsicas, centrais, simblicas, arquetpicas com as quais nos identificamos ou que se relacionam conosco de alguma forma (MORAN, 2001, p. 2).

    Em meio a essas reflexes, repensar o papel da escola como parte integrante desse mundo moderno assumir-se tambm frente aos desafios das novas linguagens miditicas, como fenmeno complexo das sociedades contemporneas e, no caso da televiso, inegvel que seja uma importante mediadora entre ns e a realidade.

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    Ilustrando a forma como a escola comea a refletir sobre a importncia do uso de tecnologias e de programas audiovisuais, no processo de ensino e aprendizagem, transcrevemos algumas contribuies de professores da rede estadual, apresentadas nos Grupos de Estudos, em 2009, na rea de Tecnologia de Educao:

    Para a professora Amlia Ftima, [...] a escola deve promover, de forma sistemtica, a discusso sobre o uso das tecnologias, tendo em vista a sua finalidade no processo de ensino e aprendizagem. A professora Cleusa argumenta que [...] [ preciso entender] a tecnologia como forma de impulsionar o ser humano para um posicionamento crtico e reflexivo, integrado com o contexto cientfico, tecnolgico e social. J para as professoras Daisy Luci e Maria Ermelinda e Sueli [...] necessrio estarmos atentos de que, ao assistirmos a TV, no devemos simplesmente passar o tempo, mas termos um olhar crtico, interativo e decisivo. Os professores Edgar, Giovanna, Ana Cristina e outros defenderam que: Primeiramente relevante a alfabetizao visual para que o aluno possa compreender o que existe por trs das imagens veiculadas nas mdias. A escola deve assimilar criticamente a tecnologia digital, s assim poder efetivar sua funo social que formar o aluno crtico e consciente. Por sua vez, os professores Jos Orlando, Roseli, Cleusa e outros afirmaram que: [...] para ganhar audincia, a TV explora nossas emoes, fantasias, desejos e cria meios para que nos tornemos dependentes. Ela pesquisa o que interessa aos telespectadores, a escola no. A escola educa e a TV entretm. Esses programas podem representar novas possibilidades de interao quando a escola faz uma reflexo sobre os temas desses programas, levando o aluno a refletir sobre ele.

    Acreditamos que fundamental que a escola discuta o uso das tecnologias, pois isso representa um caminho para que, de fato, as novas tecnologias sejam incorporadas na prtica pedaggica.

    O audiovisual como estratgia de formao continuada

    A formao continuada uma poltica da Seed-PR que visa qualificao dos profissionais, focada na prtica de ensino e no aprofundamento de conhecimento nas reas especficas, compreendendo aperfeioamento e atualizao.

    O aperfeioamento e a atualizao acontecem por meio de cursos, programas de ps-graduao ofertados por instituies de Ensino Superior (IES) e de formao continuada, por meio de eventos realizados pela Seed-PR. Esses programas de formao continuada prevem eventos nas seguintes modalidades: encontros pedaggicos, congressos, cursos, seminrios, fruns, teleconferncias, feiras, grupos de estudos e grupos de trabalho em rede, entre outros.

    Os Programas de Formao Continuada incluem, ainda, o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), que tem como objetivo aprimorar a qualidade da Educao Bsica no Estado, de acordo com as necessidades educacionais e socioculturais da comunidade escolar, desenvolvido em parcerias com as IES pblicas do Paran, visando ampliar a articulao entre o ensino superior e a educao bsica. Integrado s atividades destinadas aos professores em formao continuada, o PDE foi implantado pela Seed-PR, com cursos nas modalidades presencial e a distncia.

    A TV Paulo Freire contribui com esta poltica da Seed-PR, pois se caracteriza como um meio de comunicao que amplia, de forma significativa, o acesso s mais recentes discusses do universo educacional, contemplando em sua grade programas com finalidade especfica de formao continuada.

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    Os programas apresentam e debatem temas de acordo com a demanda da rede educacional, com o objetivo de aprofundar conhecimentos pertinentes Educao, com enfoques diferenciados, como: Orientao curricular: apresentam e debatem temas e contedos das Diretrizes Curriculares da Educao