Direitos reservados aos autores · Derrama olhar na brisa Afagando seus vestíbulos Não poda...

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Obras compiladas do fórum da Nova Ordem da Poesia

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Agradecimentos

Agradeço, em primeiro lugar, à Poesia, só ela é capaz de juntar

pessoas diversas de diferentes lugares e alcançar o âmago, invadir o íntimo de cada um e propiciar a harmonia necessária para criar.

Também agradeço a Wasil Sacharuk, criador da NOP – Nova Ordem da Poesia (comunidade de relacionamentos do Orkut) –, por fomentar a

poesia contemporânea na rede virtual e propiciar a nós poetas este espaço tão rico, que foi palco para o tópico „Nos Varais‟, cujo ebook eu

crio agora depois de tantos frutos.

Agradeço aos poetas que se inspiraram e trouxeram tanta riqueza

para o tema proposto, e especialmente à Helenice Priedols, que foi

inspiradora deste ebook quando disse „este tópico vai dar livro‟.

Espero que agrade aos amigos esta humilde homenagem.

Dhenova

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Os varais e suas sombras... lembram cais, canais, sois e manchas... desenhadas. Conta-me dos teus varais... das dependuradas roupas e suas histórias... conta, vai... enquanto estivermos por aí ou por aqui ainda à toa.

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Américo Lima

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Nos varais... Pingos dos trapos meus O avexo da cor a desbotar Ah! minha cara lavada N‟olhar jeans d‟obcecação Pinta diafragmas d‟escorre ventar d'evaporar o presente Por vezes d‟ponta cabeça A imagem do quadril sem cós Ah! Nos varais Meu olhar adentra camisa Botões d‟segredos secos No peito alvo d‟lira

Américo Lima

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Nos varais... A manhã engrolada em bolonhesa O pão a mesa calada, esbugalhada Com olhar da quina curiosa Q‟inerte serve vísceras despidas ... o velcro se amarra à janela A daqui, átomos gozam imortalidades Cochicham numa inseminação Ainda trazem crianças nuas Desta feita, o torto espreguiçar. Do osso d‟acunhar dança Degusta pisos d‟inverno Esmagando o big bem refugiado Ah! Especulem o beiço...

O languir entre coxas sob o babydool O terço, às contas, o alcatrão. A sucção q‟ se cepa ao amanhecer Américo Lima

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Nos varais... Os sábados embriagados Pendurado em hora esquecida Sobrepõe sobre a rima Dobrando erudições Mamado da ventania Nos seios da madrugada Derrama olhar na brisa Afagando seus vestíbulos Não poda surrealismo Nem cria pupilas normais Bebendo goles d‟céu Seva libido a carne São sábados d‟andor

Levados em procissão Concisos em comunhão Com vultos dependurados Américo Lima

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Nos varais... O porto dos rogos abstratos A penúria libélula a pousar Abduzidas por filetes de sóis Reluzindo a fio a solidão O pernil passeia em marcha Ouve-se o vento sob as patas Enquanto protubera a poesia d‟asas Debandada numa meada sinfônica O calafrio La ruge em rubor Envaidecido de si a balançar solos Faz-se em plateia os átomos irônicos Dentro e fora de tudo dá seu show Contamina o poeta corvo deles

Come-os em vãos d‟parí-los mais Ah! Imortais imorais Nos varais... Aportados nos ai‟s Américo Lima

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Nos varais... Na noite sem turbante O breu se entrega a matina A pô-la liquida no clarão No domingo de batuques E o badalo lambe a missa E a umbanda empoeira tons Casula bêbada e santa a tudo Tocada de semi Deuses nômades O refrão esgoela o galo no canto Numa manhã de aves e quintais E o homem imola-se a cada pecar Ajuizado de precedentes segredos Esse domingo mata-lhe a rotina

Se evadindo sorrateira até amanhã Acolá chora a prisão de seu ser escravo mesclado de Santo cristo...Santo Diabo Américo Lima

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Nos varais... A segunda feira estende-se... A peteca aponta o pardal A meada incinera-se ao fio de sol E o tópico se engonça no olhar Um coice desnuda-se de sobre assalto É o destravo da defesa perambulante Melindra um “vejo” entre dores... Um catar de paz entre açoites Acolá um menino imprime olhar A sina pura pondera entre guerras É o acatar da 1ª batalha reflexiva... O silêncio a falar mais uma vez Ah! A erudição a gritar...

O embrulho das missões O engodo das sensações Varais a brisa do mar Américo Lima

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Nos varais... O eco do olhar pinta a retina Num sado rubor a tocar a face Estremece um avultar espiado Sonetos a prosar num ar feromônio Vagueia um refrão destemido Lábios a acoitar balbucios de beijos Frenesis em vapor de assuntar coitos Faz-se em luso um verso de amar A pele em poros de sonhos nus A libido embola um cordel encantado A calunga da ereção bolina o poeta... Sulamita se entrega, em contos d‟apalpar.

num casulo denso quimera carinhos as vírgulas transcendem corpos a tinos vislumbra o ventre em ondas qual mar são roços...punhos acunhados d'liras Américo Lima

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André Anlub

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Pendura e perdura Verás os varais pelo planeta a fora Alguns dependuram difusas histórias Toalhas sujas, lençois manchados Burcas, fardas, camisolas... Verás secarem farrapos Roupas de seda e algodão egípcio Algumas despontam sacrifícios Pintam os adornos nubentes. Verás os varais internos Que penduram o ódio retido Enxuto, infecundo, rachado... Como as rugas do envelhecimento. Também verás os que penduram amores...

De diversos calibres e cores Sem importância do enxuto ou ensopado Vale o corpo que aqueceu algum dia. André Anlub

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Nos varais Nos varais o ardente dos verões Carros passam no asfalto emanando calor Pobres pés descalços vão estender roupas Loucos com seus vieses, variações e viagens. Varais com varas de bambu... apoiam-se... Chegam a confundir os olhos ligeiros Quem estaria apoiando quem? Varais das Valérias e Veras De coloridos poéticos Eternidades efêmeras Momentâneos de eras. Nos varais frígidos dos invernos Casacos acenam com o vento

Na corda bamba do tempo Nos confins dessa esfera. André Anlub

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Dhenova

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Nos varais... nos varais em suas sombras há tantos sois também manchas escuras delineadas por grades Nos varais em suas sombras já sem cais porto ou lanças pontudas esfumaçadas com lápis

Ah, nos varais dores, cores canais... Dhenova

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nos varais, a camisa meus eus e um mormaço pendurada estou na corda da vida não estou molhada o sol é quente apenas úmida balanço indolente de um lado pra outro presa por um fio vou ficando leve lá em cima, céu azul meus eus

em uma corda nem tão bamba vejo o mundo em cima e no chão sombras. Dhenova

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nos varais, os sapatos lá ficaram, pendurados esperando a brisa vento ou ventania mas nada veio, molhados lá ficaram, os sapatos expostos ao sol de inverno ao frio, ao relento oh, tantos foram ais, os lamentos lá ficaram, sozinhos os pés sem roupas ao redor dispostos lado a lado carregados de dores, calados lá ficaram... abandonados.

Dhenova

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nos varais, as sombras nos varais, as roupas estendidas ao sol revelam-se em sombras disfarçam os nós fazem piruetas camisetas verdes as meias pretas balançam-se ausentes e no muro fica o traço rasgado e profundo blusão sem abraço esfregão imundo tênis sem cadarço e lá fora, pela grade, o mundo.

Dhenova

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Nos varais, o vazio Nos varais, sem roupas lavadas não há sombras nas paredes só prendedores solitários que balançam ao vento nos varais, não há sentimento abstratas são as dores fio fino e gelado consome o tempo e também não há amores nos varais, o esquecimento no céu o tom avermelhado espelha o que vai por dentro mostra o que foi profetizado desfila por fim ao relento

os vazios dependurados. Dhenova

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Nos varais, a chuva nos varais, pingos de chuva molham as verdes cordas pendurada só uma luva encharcada até a borda e ela balança sem vida em piruetas ao vento de longe, atrevida perto, apenas sofrimento nos varais, ao relento também há prendedores espalhados pelo chão sem qualquer intento já não são inspiradores

não provocam emoção. Dhenova

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Nos varais, dois peixes e um aquário Eles andam em círculos dançam, passeiam livremente até encontrarem o vidro no aquário ficam encostados esperam pacientemente de lá observam quase parados apenas as boquinhas abrindo e fechando procuram comida quem sabe, amigos enquanto isso duas crianças levadas fazem um griteiro por conta da novidade

cada um quer ser primeiro a alimentar os bichinhos fazem enorme algazarra pobrezinhos, dos peixes é claro com muito custo todos eles, peixes, crianças são levados pra cozinha, pra cama amanhã é novo dia, dia de nova dança.

Dhenova

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Helenice Priedols

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Varais Vazios esvaziam-se os estendais recolhem-se as palavras dobram-se os poemas espalham-se os poetas o sol já vai posto esgotou-se o dia consumiu-se a poesia nos varais vazios os passarinhos fazem festa Helenice Priedols

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Juleni Andrade

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Estendal varal de corda bamba pendurei as dores uma por uma presas pelas pontas estendedouro dos absurdos desta vida enxugadouro das lágrimas varal ao vento forte caíram muitos sonhos

que saíram mundo afora agora sou o que restou entre olhos abertos e portas fechadas Juleni Andrade

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Eis o varal o universo cabe onde não entra o verso preso na vontade de vencer o verbo trancas e amarras nas portas e pedaços de um todo torto que entorna o caldo e ainda ando tonto de tanto tontear as cordas frouxas suspensas no ar o entremeio é tenso e tende a pendurar

no mesmo varal alado o corvo e o altar cada pregador é um estrangulador do rumo da palavra signo que agora assumo e ainda ando tonto de tanto tontear as cordas frouxas suspensas no ar

e ainda ando tonto de tanto contorcer as meias verdades vindas de você

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e ainda ando tonto de tanto ser tanto no meio de cada voz a entoar o mesmo canto Juleni Andrade

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Espetáculo à tarde O vento balançando as saias nos varais da tarde, quando o sol já quer esconder o rosto do mundo... o mundo entrelaçado ao medo de tantos sinais e os ais enfileirados ecoam por todas as partes. No arder dos olhos, no tremer das mãos, tudo é apenas mais um detalhe no inferno instalado. No rabo de foguete a alegria quer ser grande, embora sabe-se minguada diante do caos. Há no sangue da fera um abismo eterno, beira ao ataque de anjos ao crepúsculo. Há na gosma dos anjos o bruxedo ilusório, quase um beijo venenoso de fera noturna. O vento cisma em não dar trégua às saias,

os varais formam o grande balé de cores... e eu ainda cogitando apagar os anjos, dobrar o tempo e degustar a fera. Juleni Andrade

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Lena Ferreira

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NOS VARAIS (Lena Ferreira) Nos varais há, de mim, muito mais que nós - pedaços - ais demais ai de mim ai de nós - cansaço - lida nada leve vida muito breve logo vem o fim logo me desfaço estendendo os nós revirando os cós

aguardando sois ai de mim ai de nós -mormaço- nos varais há, de mim, muito mais que nós -os traços- mais e mais

mas enfim vêm os sois secam os nós eu, a sós me refaço

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NOS VARAIS, VERSOS (Lena Ferreira) Pendurei ao sol os versos meus Para ver secar-lhes o pranto Andava eu chorando tanto Por ausência dos carinhos teus Letras encharcadas, gotejando Rimas desencontradas, tortas Frases curtas, sem vida, mortas E o meu pensamento voando Céu alto, sol a pino, meio-dia Retira, dos meus versos, umidade Já não suporto mais essa agonia Derrama sobre mim a claridade

E de uma vez estenda a saudade Nos varais de uma outra poesia..

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NOS VARAIS, DOIS CORAÇÕES (Lena Ferreira) E foi preciso pendurar dois corações nos varais da paciência e do tempo para que eles respirassem novos ares retirassem os bolores e os ferrugens dos ressentimentos estagnados e ocos Foi preciso secar as mágoas num sol forte alvejando a calma da brisa nesse instante descansando desses tropeços inconsequentes para, somente ao fim desse moroso processo poderem recolher dos varais um amor renovado

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Márcia Poesia de Sá

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Estendi Sonhos em varais de ventos ventos em varais sem ar... Suspirei saudades e soprei os mares caminhei vagando por qualquer lugar Dependurei expectativas todas mal presas, quase caindo Rindo de mim... Aguardei o sol que só chovia e perdi as roupas e o varal, na manhã de ventania Despi-me de medos... tirei da água meus anseios

espremi tristezas... Deixando-as pingar, lentamente Secaram enfim... umedecendo a grama que sedenta aguardava até o nascer daquela margarida... Fiz outro varal

Para pendurar sorrisos... para secar as mágoas para bailar com o vento Apenas batas brancas, já sem lamento... iluminam agora, meu jardim de sonhos.

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E ouço o trinar dos pássaros comovidos e a doce dança dos tecidos embalados pela brisa da esperança.... nesta manhã de luz a luz refletida entre dobras e sons Adormeço. Márcia Poesia de Sá

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Nos varais Inundações de pisos escorregadios passeios bolhas que secam ou explodem Nos varais amanteigadas fantasias vendavais aquietam-se e a brisa dorme Nos varais... Perfumes evaporam, abraços aguardam amores penduram-se Nos varais...

as mãos cansadas escrevem poesia com pregadores de vento Márcia Poesia de Sá

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Em meus varais já pendurei de tudo! miniaturas perfumadas com meu amor...saudade dos sapatinhos azuis!!! Já pendurei estrelas até que secassem e virassem pó do universo. Já pendurei desilusões e as vi voarem em tempestades...hoje em meus varais só penduro sonhos e alguns bons momentos...que ainda hão de virar realidades. MSÁ

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Marisa Schmidt

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ROUPA SUJA SE LAVA EM CASA... Os varais, prosaicos fios, seguram segredos tantos de risos e também prantos das horas em rodopios Já viram lençois de linho lavados ao amanhecer para as manchas remover das noites em desalinho Viram as fraldas pintadas dos frutos dessas orgias quando em louca alegria dava conta da empreitada Viram shorts e camisetas e vestidinhos de algodão e penduradas em procissão meias lavadas, mas pretas

Viram escassear as roupas nos tempos da debandada em que na grama aparada as pisadas ficaram tão poucas Os varais seguram no momento as duas mudas comportadas das roupas que se analisadas mostram em par tal casamento

Mas nos varais ao arrebol, talvez pra alegrar o dia, desfraldam como alegoria as floridas bandas do lençol... Marisa Schmidt

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MUDANDO ESTAÇÃO Olho o pregador solitário como enforcado no varal exclamação ou ponto final a balançar no inverno cinza vário? Ele ali vai ficar envelhecendo a lembrar a quem olha a lição de que é triste estar na inação enquanto o tempo vai correndo Dia após dia, noite após noite ao sol , à chuva, ao vento açoite o pregador sem função só espera Que a mão ainda úmida e apressada o tire da inércia e lhe dê empreitada

a segurar o vestido no ar da primavera... Marisa Schmidt

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TRAQUINAGEM E os bichos de pelúcia em dia de banho comunal espicharam braços no varal surpresos com tanta astúcia da menina de vestido de algodão Dispôs o leão e o urso bem ao lado da tigresa e eles felizes ao sol trocavam suas fofocas enquanto procuravam por ali o galinho e as focas (que por certo se esconderam com esperteza) a menina os banhava com muita água e sabão Até que chegou a mamãe e acabou com a festa pendurando cada bicho com os braços abertos sacolejando ao vento no quintal calmo e deserto

Só o balde e a escova do grande banho é o que resta e também esticado no varal está o vestido de algodão... Marisa Schmidt

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VARAIS FICAM OCIOSOS O ócio sagrado do domingo deixa os varais em solidão A chuva só largou um pingo pendurado como vã recordação Não há sequer os trapos esquecidos ou os tênis gastos e mal lavados e os pregadores dormem escondidos na caixa onde esperam os chamados O domingo, nos varais e na gente, trazem a quebra da rotina aparente que às vezes pesam no vazio da solidão Mas na segunda, como sempre acontece, O trabalho surge forte e não esquece

de encher de tantas cores cada cordão... Marisa Schmidt

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ETERNAMENTE A chuva que ainda insiste em molhar os trapos tristes esquecidos nos varais me lembram dores cansadas que jamais serão curadas porque choram sempre mais... Marisa Schmidt

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Rogério Germani

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Vida centrífuga Desato os nós da vida deixo-me solto içado num sorriso feito camisa esquecida nos varais no tempo, absorvo sol mormaços e inspiração divina seco minhas lágrimas (sempre que posso) abro os braços e nas sombras dos muros renasço nada de pele soluços & fracassos flamulo enxuta poesia nos olhos

sedentos. Rogério Germani

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Panos brancos Da sacada, a cidade me espia solitária ainda há nas ruas restos de morna prosa vagarosos vultos gatos se esfregando nos muros e, no silêncio do domingo entre saudades e versos úmidos tenho minha íntima trégua: nos varais da cidade agora vazia, panos brancos acenam.

Rogério Germani

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Onde penduro as esperanças Hoje, sem exageros rasguei meu peito retirei as dores e as cinzas trazidas por promessas malditas no passado, deixei a fraqueza alheia hoje lavei o rosto com flores, enxerguei no sol estendido a vida em bonança, vi esperança crescer nos campos e nos olhos dos homens de bem também vi num céu coberto de nuvens pacíficas que a tudo a poesia supera posto que o que é belo e sincero eterniza os sonhos

aquece as almas divinas. Rogério Germani

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De alma lavada Quanto de mim ainda farfalha no gorjeio da ave que incendeia os olhos e os estendidos braços da mãe terra quanto de voz ainda me resta no silêncio astuto do vento que guarda segredos nas folhas das centenárias árvores quanto de minha sombra ainda ecoa no olhar centrífugo do horizonte, quanto de poesia nova e enxuta ainda se entrega às brancas páginas que lavam e amaciam as dores n'alma?

Rogério Germani

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Wasil Sacharuk

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O pueril balanço das roupas A disposição era torta contemporânea instalação expostas em qualquer bienal numa concepção universal pendiam sarrafos do chão tal atlas das roupas rotas uma jazida de células mortas oculta nos poros de um blusão das brisam que sopram varal ventam roupas em cor desigual pingos pingados na imensidão numa organização tão incerta pediam por uma área aberta

para poder arejar o colchão e secar os fluidos ao sol esfregados com branco total com gancho, grampo e cordão penduravam um mar de gotas de limpas, cheirosas e fofas tramas téxteis de ilusão.

Wasil Sacharuk

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Exposição Essas doutas que estendem varais são artistas morenas feições amenas cansadas da lida tatuadas dos ais da vida. Wasil Sacharuk

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O sopro melancólico do Minuano Após o longo período de chuvas intensas, fazia dois graus centígrados na Lagoa da Pérola. Foi preciso estender as roupas no varal. O vento frio cortou e provocou calafrios. O cão das articulações congeladas e da pata quebrada tentou dançar solene com os respingos da toalha de banho encharcada de solidão. E mais um longo fio de negro cabelo foi encontrado escondido entre as fibras de algodão da meia branca (já nem tão alva). Durante o início da tarde estive eu, a pregar lembranças para secar no sopro melancólico do Minuano. Nesse dia, o vento não fez música.

Wasil Sacharuk

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“NOS VARAIS”

Coletânea de Poemas

Tópico da NOP – Nova Ordem da Poesia (comunidade do Orkut)

http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=83467701

Organização e Imagens

Dhenova

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