Diplomática n.º7
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Diplomatica´Diplomatica´
With English & French Texts
Nº7 Julho/Setembro 20104 (Cont.)
Dip
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má
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01
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Lulavai deixar saudades
Em destaqueEmbaixadores:Tunísia e Cuba
RússiaA grande vitória
EntrevistasLuís Palha da Silva - J. Martins
José Joaquim Oliveira - IBMAfonso Varela - C.A. Seguros
José Minguez - Air Europa
Dossier Europa
business & Diplomacy
3julho/setembro 2010 - Diplomática •
Querido José Manuel,
Conhecemo-nos desde a nossa chegada... foi durante um jantar na Embaixada de França... De longe, vi chegar um casal tão bonito, tão sorridente... e no fim dessa noite, era como se nos conhecêssemos há anos...Juntos fizemos projectos: uma viagem à Turquia que desconheciam e sobretudo uma viagem a Chipre, onde tinhas sido correspondente de guerra...Quando vieste fazer uma reportagem sobre o meu marido e sobre mim, sentiste, certamente, a minha pena de não poder continuar a minha profissão... e de maneira tão simpática, convidaste-me a escrever, sempre que quisesse, para a “Diplomática”...Para além da vossa presença e do vosso apoio a cada evento que organizámos, tornámo-nos ainda mais próximos, graças a esta relação tão especial de colegas...Querido Colega,Com o teu coração enorme, fizeste que adorássemos Portugal e os portugueses, e agora partiste e deixaste-nos mais pobres, desfalcados da tua amizade, da ajuda que tão prontamente nos davas sempre que necessário.Não consigo habituar-me à tua partida silenciosa. Sinto falta de tantas coisas... e sobretudo das nossas discussões políticas...Partiste no momento em que também nós vamos partir para Chipre...No outro lado do Mediterrâneo ou onde quer que estejamos, estarás sempre nos nossos pensamentos, nas nossas recordações. E ainda que fisicamente não estejas lá, quando a nossa Querida Maria da Luz estiver connosco em Chipre, também tu estarás presente.Bem Hajas, José Manuel, por nos teres dado a possibilidade de te conhecer, por tudo o que nos deste,
Até Sempre,Nurdan
Memória
Em homenagem ao Dr. José Manuel Teixeira, embaixatriz da turkia em portugal, Nurdan turkmen, ex-jornalista do le monde
Dear José Manuel,We met since our arrival... it was during a dinner at the French embassy... From a distance, i saw a couple so beautiful, so happy... and so smiling... at the end of that night, it was as if we had known each other for years... together we made projects: a trip to turkey which you did not know and especially a trip to cyprus, where you have been a war correspondent... When you come to do a story about my husband and myself, you felt, indeed, my pain of not being able to continue with my profession... and so nice, invited me to write, whenever i wanted for the “Diplomática”... apart from your presence and your support at every event that we held, we became even closer, thanks to this special relationship as colleagues... Dear Colleague, With your huge heart, you make us adore portugal and the portuguese, and now you leave us poorer, defalcated of your friendship and from the help you would so instantly give us whenever necessary. i cannot accustom myself to your silent departure. i miss so many things... and especially our political discussions ... You left at the moment in which we will also leave to cyprus... across the mediterranean or wherever we are, you will be always in our thoughts, our memories. and even if you’re not physically here when our Dear maria da luz is with us in cyprus, you will be also present.Well, bless you, josé manuel teixeira, for the opportunity to meet you, for everything you have given us,Farewell, Nurdan
Cher José Manuel,Nous nous sommes rencontrés depuis notre arrivée... c’ était à dîner à l’ambassade française... De loin, j’ai vu un couple si beau, si... et souriant... et à la fin de cette nuit-là, c’était comme si nous nous etions connu depuis des années...ensemble, nous avons fait des projets: un voyage en turquie qui ne s’est pás fait et surtout un voyage à chypre, où tu avais été correspondant de guerre...lorsque vous arrivez à faire un reportage sur mon mari et moi-même,vous avez estimes en effet, ma douleur de ne pas être en mesure de continuer mon métier... et si gentillement, m’avez invité à écrire, quand je le voulait pour la «Diplomatica»...en dehors de votre présence et votre soutien à tous les événements que nous avons tenues, nous sommes devenus encore plus proches, merci pour cette relation privilégiée en tant que collègues...Cher Collègue,avec votre grand cœur, vous m'avez fait adorer le portugal et les portugais, et maintenant partir et laisser les plus pauvres de nous, "defalcated" de votre amitié, de l'aide que si facilement vous donniez chaque fois que nécessaire.je ne peux pas m’habituer à votre départ silencieux. je m’ennuie tellement de choses... et surtout de nos discussions politiques...broke au moment où nous partirons aussi pour chypre...l’ensemble de la méditerranée ou partout où nous serons, vous serez toujours dans nos pensées, nos souvenirs. et même si vous n’est pas physiquement la, maria da luz será avec nous à chypre, et vous serait également présent.eh bien hajas, josé manuel teixeira, car tu as donné l’occasion de vous rencontrer pour tout ce que vous nous avez donné,jusqu’à toujours, Nurdan
A la memoire de José Manuel Texeira, par: Nurdan Türkmen, Ambassadrice de Turquie au Portugal ancienne journaliste au Monde
memories
In honor of Dr. José Manuel Teixeira, by: Turkey's "Embaixatriz" in Portugal, Nurdan Turkmen ex-journalist from Le Monde
4 • Diplomática - julho/setembro 2010
DIRECTOR: maria da luz de bragança PRODUÇÃO: césar soares PROPRIEDADE: maria da luz de bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 editor nº 211 326. rua ramalho ortigão, 43 a – 1070-228 lisboa.
MARkETIng & PUblICIDADE: anabela pelicano - e-mail:[email protected] tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79IMPRESSÃO: multiponto DISTRIbUIÇÃO: logista - alcochete - telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45
issN 1647-0060 – Depósito legal nº 276750/08 – publicação registada na Direcção Geral da comunicação social com o nº 125395
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Assuntossummary
résumé
carta ao leitor. letter to the reader.lettre au lecteur.
Dossier. “Que soberania para a europa no contexto económico, político, diplomático e defesa?”Dossier. “What sovereignty to europe in economic, political, diplomatic and defense?” Dossier. «Quelle souveraineté à l’europe dans les domaines économique, politique, diplomatique et de défense?”
Visita Diplomática. presidente lula da silva em portugal. Diplomatic Visit. president lula da silva in portugal.Visite diplomatique. le président lula da silva au portugal.
Visita papal. uma viagem capaz de mudar a imagem de bento XVi.papal visit. a journey that can change the image of bento XVi.Visite du pape. un voyage qui peut changer l’image de benoît XVi.
Visita ao magrebe. portugal de olhos postos no Norte de áfricaVisit to the maghreb. portugal looking to North africaVisite du maghreb. portugal cherche à ameliorer ses liens avec l’afrique du Nord
mohamed ridha Farhat. embaixador da república da tunísia.Farhat mohamed ridha. ambassador of the republic of tunisia.ridha Farhat mohamed. ambassadeur de la république de tunisie.
por uma áfrica livre e segura. Da ineficaz oua à esperança da ua.For an africa free and safe. the oau ineffective to the hope of au.pour une afrique libre et sûr. De l’ inefficace oua à l’ua l’espoir.
65 anos da Grande Vitória. embaixador da rússia em portugal - pavel petrovsky.65 Years of Great Victory. ambassador of portugal in russia - pavel petrovsky.65 ans après la grande victoire. ambassadeur du portugal à la russie - pavel petrovsky.
eduardo González lernes. embaixador de cuba em portugaleduardo Gonzalez lerner. cuban ambassador in portugaleduardo Gonzalez lerner. ambassadeur de cuba au portugal
união europeia. presidência espanhola marcada pela crise. european union. spanish presidency marked by the crisis.union européenne. présidence espagnole marquée par la crise.
enrique santos. um olhar da presidência espanhola da união europeia. enrique santos. a look at the spanish presidency of the european union.enrique santos. un regard sur la présidence espagnole de l’union européenne.
josé mínguez. Delegado da air europa em portugal. josé mínguez. officer of air europa in portugal.josé mínguez. officier de air europa au portugal.
luís palha da silva. presidente da comissão executiva jerónimo martins.luís palha da silva. chief executive jerónimo martins.luís palha da silva. jerónimo martins chef exécutif.
josé joaquim oliveira. administrador Delegado e presidente da ibm portugaljosé joaquim oliveira. managing Director and chairman of ibm portugaloliveira joaquim josé. Directeur Général et président d’ibm portugal
Varela afonso. presidente da crédito agrícola seguros.afonso Varela. president of agricultural credit insurance.Varela afonso. président de l’assurance-crédit agricole.
mala Diplomática. Dias Nacionais de paquistão, itália e Noruega.Diplomatic bag. National Day of pakistan, italy and Norway.Valise Diplomatique. journée nationale du pakistan, l’italie et la Norvège.
embaixadora da polónia Katarzyna skórzynska. chopin um artista universalambassador of poland Katarzyna skórzynska. chopin a universal artistambassadeur de skórzynska Katarzyna pologne. chopin un artiste universel
traduçõestranslationstraductions
Foto da capa: ricardo oliveira - Gpm
2º Aniversário
6 • Diplomática - julho/Setembro 2010
“Que soberania para a Europa no contexto económico, político, diplomático e de defesa?”
“Que soberania para a Europa no contexto económico, político,
diplomático e de Defesa?”
A Diplomática lançou mais um desafio ao Corpo Diplomático (europeu)
acreditado em Portugal. Quisemos saber qual a opinião dos
Embaixadores acerca da soberania a seguir pelo continente europeu.
Que economia? Que política? Que diplomacia? Que Defesa? Saiba
quais os pareceres da República Checa, França, Itália, Bélgica, Grécia,
Filândia, Ucrania e Turquia. ➤
Dossier
7julho/Setembro 2010 - Diplomática •
Europa, no sentido geográfico, que começa no
ural e acaba no cabo da roca, não é um espa-
ço homogéneo – nem do ponto de vista político
e económico, nem do cultural, religioso, etc. a
história do continente europeu é complexa, cheia
de conflitos entre os países ou blocos, facto esse
que marcou profundamente os seus participan-
tes e deixou consequentes ressentimentos que
continuam a projectar-se até hoje nas relações
políticas entre os elementos individuais.
por isso, falar da “soberania para a europa” não
é fácil. todos entendem em geral no que consis-
te a soberania de um estado, de um elemento
de poder, ou até de um grupo de estados, como
é o caso da união europeia. aí, a questão da
soberania, ou melhor dizer, a possível perda de
soberania dos membros foi largamente discutida,
mas o facto é que esses países decidiram livre-
mente ceder parte da sua soberania para agirem
como uma só entidade no plano externo e para
juntarem-se a um projecto comum de coopera-
ção na área da política, economia, segurança,
cultura, educação e outras.
mas “soberania” de um continente com tanta
diversidade, que ao mesmo tempo tem que
encontrar relações equilibradas com as potências
Markéta Šarbochová - Embaixadora República Checa
do resto do mundo, necessita primeiro de uma
definição clara daquilo que sem dúvidas une a
europa, aquilo que lhe tinha permitido atingir o
nível actual do seu desenvolvimento e a posi-
ção que ocupa no mundo e que ainda hoje a
torna atraente para muitos imigrantes de outros
continentes. e isso a meu ver - são os valores
ou princípios essenciais das quais a europa é
portadora e defensora – entre os mais importan-
tes obviamente - democracia e respeito pelos
direitos humanos, promoção de oportunidades
iguais, respeito pelo meio ambiente, a tolerância
religiosa e a defesa de princípios de cooperação
vantajosa para os elementos participantes. por
outro lado, esta definição de princípios deveria
abranger a rejeição clara de todo tipo de extre-
mismo, terrorismo, etc.
A União Europeia, a meu ver, tem o papel es-
sencial neste processo. Deveria ser por isso
ela a definir bem em primeiro lugar as suas
relações para com os países europeus não mem-
bros da ue e consequentemente desenvolver
projectos concretos de cooperação, no âmbito
das suas políticas de vizinhança (leste europeu,
balcãs, mediterrâneo). uma vez alcançado o ní-
vel satisfatório de balanço das relações políticas
e económicas dentro do continente, (incluindo os
seus extremos geográficos) e atingida assim uma
maior homogeneidade política e económica, a
seguir a europa deveria assim procurar encontrar
este mesmo balanço em relação a outras potên-
cias fora da mesma – estados unidos, china,
brasil, Índia e outros. assim, europa poderia
defender a sua “soberania” em todos os planos
– político, económico ou de defesa - no mundo
actual.
Governar num sistema democrático é sempre
mais difícil do que governar no regime totalitá-
rio. Democrata aos olhos de autocrata pode ser
visto como fraco, indeciso, hesitante, impotente.
analogicamente, os que não partilham os valores
democráticos podem considerar nula a soberania
daquele que aja segundo estes princípios. Não
obstante, isso não deve ser razão para deixar de
ser democrático, por isso: o modelo para o conti-
nente europeu é simplesmente democracia... n
Dossier
Que soberania para a Europa
8 • Diplomática - julho/Setembro 2010
A palavra soberania é difícil de aplicar no
contexto da europa, porque a soberania é
um atributo dos estados, codificada pelo
direito internacional, não sendo a europa
um estado. podemos realmente dizer que
o tratado de lisboa esclareceu as coisas,
definiu a distribuição de competências
entre a ue e os estados unidos, através do
princípio da subsidiariedade, e fortaleceu
as instituições e os métodos que permitem
à europa falar a uma só voz e agir de forma
coordenada nos casos a tratar com o resto
do mundo.
É, portanto, uma forma de soberania polí-
tica que está em questão para a europa:
os países que a compõem, e é a união
que lhes permite, em conjunto, defender os
seus valores e interesses, permanecerão
colectivamente mestres e actores do seu
destino, ou permitirão a imposição de com-
promisso negociado por outros no contexto
de novas relações do poder global, abran-
gendo potências emergentes?
para atingir este objectivo, a europa preci-
sa, sobre todos os assuntos, conhecer duas
condições: primeiro atingir um nível de go-
Denis Delbourg - Embaixador da França
vernação interna que transcende os confli-
tos de interesse e as diferenças de padrão
entre os países membros e, em seguida,
exercer uma influência diplomática que lhe
permita pesar realmente sobre a solução
dos problemas globais. para a soberania,
no mundo actual, não significa autonomia
ou isolamento: mas sim independência e
liberdade de acção para construir um multi-
lateralismo eficaz e cooperativo.
Nem sempre é fácil reunir estas duas con-
dições ao mesmo tempo. Na luta contra as
mudanças climáticas, vimos na conferên-
cia de copenhaga uma europa dotada de
metas internas à altura da situação, mas
a força do seu exemplo não foi suficiente
para influenciar um resultado conveniente
aos outros.
Face à crise financeira e económica, a
europa tinha a capacidade de assumir a
liderança, à frente do G20, para lançar uma
revisão do quadro regulamentar e de super-
visão. No entanto, dada a situação financei-
ra da Grécia, foi confrontada com a questão
da governação interna da zona euro, que
continua a desenvolver mecanismos ➤
Dossier
Que soberania para a Europa
9julho/Setembro 2010 - Diplomática •
➤ sustentáveis para a prevenção de crises.
a estabilização das taxas de câmbio inter-
nacionais, a eficácia das regras da con-
corrência na europa e, especialmente, a
competição justa com o resto do mundo,
em que muitos países não cingem a sua
produção às mesmas normas sociais e
ambientais, o futuro da nossa indústria,
da nossa segurança energética, são algu-
mas das questões que exigem da ue uma
“diplomacia económica” coerente e proac-
tiva. a principal potência económica que é
a europa, o comércio mais aberto e livre, a
principal fonte de ajuda ao desenvolvimen-
to, o modelo de referência que combina o
crescimento e a protecção social, não pode
resignar-se a ser solúvel na globalização.
em termos de segurança, a política da ue
tem tido, em poucos anos, um progresso
notável que não deve ser subestimado, a
união europeia pode contribuir como tal na
manutenção da paz nos balcãs, em áfrica
ou realizar uma operação de combate à pi-
rataria ao largo da costa somali. o tratado
de lisboa abriu o caminho para o conceito
de solidariedade colectiva e uma coopera-
ção mais estreita. podemos falar de “sobe-
rania” da europa em matéria de defesa? as
coisas são mais complexas. a complemen-
taridade entre a otaN e a política europeia
de defesa, como a França sublinhou em
juntar totalmente as estruturas integradas
na otaN, é um pilar da nossa segurança.
a construção de uma melhor organização
da segurança no continente europeu está
aberta, tendo em conta realidade da rús-
sia como um parceiro, quando os estados
unidos e a rússia assinaram um novo
acordo para reduzir arsenais nucleares.
além disso, a dimensão europeia da defesa
é o resultado combinado de mecanismos
que ela implementa em conjunto, tais como
as suas próprias forças de intervenção, e o
compromisso nacional de países-membros,
por exemplo, no afeganistão.
a chave para esta arquitectura pragmática
e cooperativa, é que a europa não é obri-
gada a um acordo sobre as garantias da
sua própria segurança, é suficientemente
forte para responder a crises ou ameaças
assimétricas locais que a afectam directa-
mente, e suficientemente credível para ser
respeitada pelos outros poderes, como um
verdadeiro actor de equilíbrio estratégico.
Sem dúvida que para a atingir plenamen-
te, os esforços da defesa têm de ser mais
sustentados e compartilhados entre os
estados-membros.
mais, a soberania para a europa no mundo
de hoje, não é uma utopia. É uma condição
de sobrevivência para o nosso modelo de
sociedade e nossos valores. actualmente,
a diferença entre as realidades mundiais e
uma europa que luta para permanecer na
corrida parece alarmante. Se eles estão
cientes destas questões, os europeus são
ainda capazes de as preencher. n
Actualmente, a diferença
entre as realidades mundiais
e uma Europa que luta
para permanecer na corrida
parece alarmante
Denis Delbourg
10 • Diplomática - julho/Setembro 2010
Para poder enfrentar com maior eficácia a
crise económica dos nossos dias, a itália, tal
como os outros estados membros da união
europeia, actua para o constante reforço da
nossa governancia comum. os últimos acon-
tecimentos na Grécia de facto dizem respeito
a toda a europa, sem excluir ninguém. está
em causa a credibilidade da zona euro e por-
tanto o nosso empenho deve ser total, não
só a nível económico mas também político.
Na realidade, os desafios globais do mundo
contemporâneo não se limitam à economia
mas referem-se também aos aspectos po-
líticos e sociais da nossa vida institucional.
o ministro dos Negócios estrangeiros da
república italiana, Franco Frattini, defen-
deu recentemente a importânica de uma
política comum europeia se se quiser dar à
união europeia um papel activo no domínio
internacional. Não nos devemos esquecer,
nessa óptica, que também uma política da
cidadania comum constitui um dos pila-
res da construção da casa da europa. De
facto, definimos com o tratado de lisboa,
o mandato do novo presidente estável da
união europeia, reforçamos os poderes da
Luca del Balzo di Presenzano - Embaixador de Itália
comissão e aumentamos os do parlamento
europeu. portanto, devemos reforçar agora
a identidade europeia, explorar mais apro-
fundadamente as raízes comuns dos nossos
povos, confirmar os seus direitos comuns
fundamentais num espírito de tolerância e em
conformidade com a tradição humanista que
sempre caracterizou, ao longo dos séculos, a
acção da europa no mundo.
No que se refere à segurança, em particular,
a união europeia deve poder contar com
uma política comum da defesa, isto é, com
um exército de alcance europeu, para que
se possam incrementar as suas capacidades
de intervenção e a sua presença em vários
teatros de crise do xadrez internacional. pa-
rece de facto ser preciso dotar-se de meios
válidos para poder intervir eficazmente em
defesa dos nossos valores comuns e da paz
nas áreas mais críticas do planeta. Se qui-
sermos de facto ser crediveis na luta contra o
terrorismo internacional, se se quiser contri-
buir para a segurança nuclear e para a esta-
bilização dos países em conflito entre eles, a
europa deve poder agir unida, para garantia
da soberania dos seus estados membros, ➤
Dossier
Que soberania para a Europa
11julho/Setembro 2010 - Diplomática •
➤ incrementando o nível da própria seguran-
ça sem estar confiante só na potência militar
dos estados unidos na salvaguarda e no re-
forço do imprescindível vínculo transatlântico.
a posição da itália é a de que a europa deve
reforçar a própria coesão se quiser evitar um
abrandamento progressivo do seu papel na
sociedade moderna a nível global, onde o
centro de gravidade das relações políticas e
económicas internacionais se está a afastar
do mundo ocidental e atlântico. Nenhum dos
estados membros da ue escapará a um pro-
cesso de decadência confiando apenas nas
suas próprias forças nacionais.
a itália tem a intenção de desfrutar da melhor
forma as inovações introduzidas pelo tratado
de lisboa para reforçar de maneira decisiva
o nosso processo de integração comum. mas
precisamente para poder conseguir apro-
veitar ao máximo as possibilidades que nos
são oferecidas pelo tratado e pelo desen-
volvimento de políticas comuns em todos os
sectores chave do processo de integração
– o da imigração que consideramos que o
factor decisivo do nosso destino é constitui-
do por uma maior vontade política comum.
Não nos podemos render a uma espécie de
“integration fatigue” mas devemo-nos va-
ler, em qualquer circunstância, das razões
objectivas, cada vez mais urgentes, que nos
empurram para a estrada da integração.
Neste sentido, a itália tem especial confiança
no papel desenvolvido pela comissão e pelo
parlamento tratando-se de instituições supra-
nacionais que cooperam activamente com o
conselho para a consolidação do papel da
união europeia no mundo e para o reforço da
soberania e da segurança de todos os seus
estados membros.
Se me é permitido, gostaria de concluir re-
cordando as palavras de jean monet, um dos
pais Fundadores da europa moderna: - “a
cooperação entre os estados, por si só, não
resolve nada. o que devemos ter em mira é
a fusão entre os interesses dos povos euro-
peus”. n
“A cooperação entre os Estados,
por si só, não resolve nada. O
que devemos ter em mira é a
fusão entre os interesses dos
povos europeus.”
Luca del Balzo di Presenzano
12 • Diplomática - julho/Setembro 2010
Cada vez mais,desde 1945, o estado-Nação
soberano, homogéneo e centralizado, com
um só aparelho de estado que administra a
economia, a justiça, a polícia, a educação, a
defesa, os transportes, as finanças públicas
etc., aparece como uma forma ultrapassada de
organização da sociedade. constata-se que
não corresponde mais aos desafios da socieda-
de moderna com os seus problemas financeiros
internacionais, a defesa do meio ambiente, a
pirataria etc. e daqui em diante será a vários
níveis que se tomarão as decisões da forma
mais apropriada e se exercerá o controlo demo-
crático.
a oNu é um embrião de governo mundial e
será chamada a tomar cada vez mais decisões
que eram antigamente da competência exclu-
siva dos estados, por exemplo na manutenção
da paz interna, na repressão das violações dos
direitos humanos. Na nossa época, caracteri-
zada pela globalização, um estado só não pode
legislar os fluxos financeiros, os direitos de
autor, a utilização da internet, a poluição do ar
e dos oceanos. esse é o papel das instituições
especializadas da oNu.
a europa foi a pioneira da integração dos
Jean-Michel Veranneman de Watervliet - Embaixador da BélgicaReflexões sobre o conceito de Estado-Nação soberano
estados a um nível nacional. a união europeia,
da qual o euro e Schengen são as realizações
mais tangíveis, estendeu as suas competências
em quase todos os aspectos da vida em socie-
dade. as receitas do seu extraordinário sucesso
são imitadas em todos os continentes. aSeaN,
oea, mercoSul e outros são transposições
a outros continentes de estruturas suprana-
cionais. No inicio são somente zonas de livre
comércio mas pela força das circunstâncias
e para o interesse comum dos membros, os
estados poderão ser levados a transferir, cada
vez mais, a sua soberania para as instituições
supranacionais.
isto não significa no entanto, que o estado-
Nação esteja, por definição, condenado a de-
saparecer. em diversos casos, ainda é a mais
concreta referência, a base onde o cidadão se
sente mais estável, mais seguro. Nos países
culturalmente mais homogéneos e relativamen-
te reduzidos, pode ser o nível mais apropriado
para a tomada de decisões, para o controle
democrático, para todas as competências que
não dependam do supranacional. Questões re-
lativas à nacionalidade, à imigração ou à polícia
dependerão, sem dúvida, e ainda por muito ➤
Dossier
Que soberania para a Europa
13julho/Setembro 2010 - Diplomática •
➤ tempo do “nacional”, isto é do estado-Nação.
os estados-Nação soberanos sucederam-se às
monarquias absolutas (dirigidas por um sobe-
rano) depois da revolução Francesa. as suas
fronteiras raramente têm em conta as aspira-
ções das populações locais e, na maioria dos
casos, foram traçados em função de tratados
internacionais, de guerras ganhas ou perdidas.
raramente são homogéneos, em muitos casos
não respondem às aspirações regionais que se
fazem ouvir cada vez mais, à vontade de cada
grupo humano de resolver seus problemas.
em muitos casos estas aspirações regionais
manifestam-se como expressão de um senti-
mento de “eu colectivo” e aqueles que o expri-
mem optam para que as decisões que dizem
respeito a uma região, a uma comunidade
linguística, se tomem a esse nível. isso acon-
tece na bélgica, mas também na catalunha,
na bavária, na córsega, no pais basco e na
escócia. a ex-Yugoslavia, as guerras no cáu-
caso lembram-nos as catástrofes que podem
trazer nacionalismos locais mal geridos, explo-
rados ou exacerbados. em áfrica, as fronteiras
herdadas da colonização não têm em conta as
particularidades étnicas locais e são cada vez
mais postas em causa, à posteriori quando os
estados não têm os meios materiais de exercer
as suas soberanias.
a língua é uma importante referência cultu-
ral. Não se pode limitar a língua a um simples
status de veículo de informações pois ela cria
modos de pensar comuns àqueles que a usam
e comunicam subtilezas que nem sempre
serão entendidas por aqueles que se exprimam
noutra língua. É incontestável e compreensível
que muitos britânicos se sintam mais próximos
da língua e da cultura dos outros países angló-
fonos do que dos seus vizinhos continentais. a
Francofonia, a comunidade dos países de lín-
gua portuguesa e a commonwealth são exem-
plos das ligações criadas pela língua, entre
aqueles que a falam e que podem desenvolver-
se para além do simples facto cultural. Faz-se
muitas vezes confusão entre nação e língua. e,
no entanto, uma língua exclusiva não é indis-
pensável para a existência de um sentimento
de “eu colectivo”, ou até mesmo de sentimento
nacional ou de patriotismo. todos sabem o
quanto os Suíços adoram a sua independência
e, no entanto, falam quatro línguas diferentes.
Ninguém ousaria afirmar que os americanos ou
os brasileiros não têm sentimento nacional ou
patriótico mas usam as línguas dos seus anti-
gos colonizadores, sendo esse o caso de todos
os países desse continente americano.
pode-se prever que o nosso século virá a de-
senvolver uma organização piramidal da so-
ciedade humana. Às Nações unidas e às suas
organizações especializadas a nível mundial
serão atribuídos mais poderes, aos organismos
regionais como a união europeia também.
os estados-Nação não desaparecerão, pelo
menos não a maioria, mas entregarão cada vez
mais poderes de decisão a órgãos internacio-
nais, regiões e poderes locais.
esta evolução terá muitas implicações políti-
cas e jurídicas. causará problemas, sendo os
principais a legitimidade e o controlo democrá-
tico destas entidades globais, continentais ou
regionais, cujos poderes executivos deverão
poder ser levados a prestar contas através de
eleições. De momento as eleições são orga-
nizadas quase exclusivamente ao nível dos
estados-Nação. também teremos o problema
dos poderes e dos meios de coação, dos quais
essas novas autoridades poderão dispor, a
nível judicial, polícial, de defesa, etc… as que
existem hoje são quase sempre exclusivamente
nacionais. n
Os Estados-Nação não desaparecerão,
pelo menos não a maioria,
mas entregarão cada vez mais poderes
de decisão a órgãos internacionais,
regiões e poderes locais.
Jean-Michel Veranneman de Watervliet
14 • Diplomática - julho/Setembro 2010
Quando os estados-membros aderiram
à união europeia, renunciaram volunta-
riamente a uma parte importante da so-
berania, em prol das tomadas de decisão
comuns. Nesse aspecto, a u.e. é uma
comunidade única de estados soberanos.
a integração europeia tem avançado gra-
dualmente e a amplitude da tomada de
decisões comuns tem vindo a ser alargada.
o tratado de lisboa é o mais recente e
importante passo neste processo. No longo
processo de ratificação do tratado, a ques-
tão da soberania foi debatida em muitos
países membros. a entrada em vigor do
tratado de lisboa, significa também nesta
complexa questão, que todos os estados-
membros chegaram à derradeira conclusão
que o tratado serve os seus interesses vi-
tais, bem como os interesses da ue, como
um todo.
hoje em dia vivemos num mundo globaliza-
do em que a interdependência dos estados
e das economias é muito alta e em cres-
cimento contínuo. perante este cenário,
a soberania é um conceito muito relativo.
o presidente do conselho europeu, Sr
Asko Numminen - Embaixador da FilândiaA U.E. e a soberania no mundo globalizado
herman van rompuy, referiu que o maior
desafio da ue, neste momento, será quan-
to à forma de lidar com o resto do mundo,
enquanto europa. a ue, tal como outros
intervenientes internacionais, têm que ter
em linha de conta este ambiente global,
nas suas acções. tal não significará que os
estados devam apenas limitar-se a ajustar
passivamente as suas políticas às realida-
des globais existentes. a ue e os outros
membros da comunidade internacional
podem, aliás devem desenvolver esforços
para alterar as realidades do mundo actual,
para o bem comum. a alteração climática
é um claro exemplo desta necessidade. as
sociedades de todos os países são afecta-
das pelas alterações climáticas e, perante
esta realidade, temos que criar soluções
comuns para impedir o aumento da tempe-
ratura global, causada pelo homem. a crise
financeira global tem sido mais um desafio,
para o qual são requeridas soluções glo-
bais. perante o desenvolvimento destes
esforços, as soberanias renunciam ao seu
lugar perante a responsabilidade comum.
Nas instituições europeias, os ➤
Dossier
Que soberania para a Europa
15julho/Setembro 2010 - Diplomática •
➤ estados-membros da ue exercem os
seus próprios poderes de decisão, a sua
soberania em políticas comuns da união
europeia, mas tal exercício não poderá
ocorrer de forma isolada relativamente ao
resto do mundo exterior. o cenário mundial
encontra-se em constante mutação, as no-
vas economias emergentes têm assumido
uma posição muito mais forte do que ante-
riormente. estamos claramente a caminhar
na direcção de um mundo multipolar. tudo
isto é positivo. há décadas que a união
europeia tem vindo a trabalhar de forma
activa no desenvolvimento sustentável e
no desenvolvimento económico, dos países
em desenvolvimento. os novos centros de
poder emergentes vão proporcionar novas
oportunidades para a cooperação eco-
nómica e de negócios. É também natural
que estas alterações no poder económico
se reflictam nas estruturas de tomada de
decisão das instituições multilaterais. ao
mesmo tempo, a ue tem que melhorar a
sua própria competitividade e a sua capaci-
dade de inovar. a união europeia adoptou
recentemente uma nova estratégia para
encarar este desafio - eu 2020. esta estra-
tégia proporcionará um novo instrumento à
ue, no sentido de promover o crescimento
e o emprego, de forma sustentável, levan-
do em conta as necessidades económicas,
ambientais e sociais.
esta estratégia de crescimento e emprego
é vital não só, para o bem-estar das suas
empresas e dos seus cidadãos, mas tem
também uma dimensão política. o desem-
penho económico da união europeia tam-
bém vai determinar em larga escala, a sua
posição no mundo. Durante muito tempo, a
ue desenvolveu esforços para uma presen-
ça mais forte no palco internacional. o tra-
tado de lisboa vai reforçar a capacidade da
união europeia na política externa comum
e nas políticas de segurança, para falar a
uma só voz. o tratado é uma resposta à
necessidade de melhorar a eficácia interna
da ue e para fortalecer a sua capacidade
como actor internacional. a história e a ge-
ografia desempenham sempre um papel na
política externa e é por isso natural que os
estados-membros por vezes têm algumas
diferenças nestas questões. acredito que
o tratado de lisboa vai ajudar os estados
membros a encontrarem mais facilmente
o consenso e promover a unidade nestas
questões vitais. n
Vivemos num mundo globalizado
em que a interdependência dos
estados e das economias é muito
alta e em crescimento contínuo.
Perante este cenário, a soberania
é um conceito muito relativo
Asko Numminen
16 • Diplomática - julho/Setembro 2010
A definição tradicional do conceito de seguran-
ça centrava a sua atenção no controlo e na uti-
lização da força militar por parte dos países. No
entanto, na época pós-guerra fria, a natureza
dos riscos e das ameaças externas à seguran-
ça nacional dum país não é só militar e não se
podem enfrentar só com meios militares. tam-
bém, a natureza variável dos conflitos constitui,
aparentemente, a característica predominante
do mundo pós-bipolar, onde os conflitos que
decorrem em cada vez mais pontos do planeta
são mais «intra-estatais» (intra-state conflict)
e menos «inter-estatais» (inter-state conflict).
consequentemente, devido à natureza trans-
nacional de muitos problemas de segurança,
torna-se indispensável a cooperação interna-
cional relacionada com o desenvolvimento de
organizações internacionais. Neste contexto,
as organizações internacionais e regionais,
constituem o espaço preferencial da coope-
ração multilateral em assuntos de defesa e
segurança.
Dum modo geral, o aumento das organizações
regionais no período pós-guerra (Nato, ue,
oSce, conselho da europa) e a sua presença
activa na cena internacional não seguiu um
Vassilios Costis - Embaixador da Grécia
rumo independente ao dos estados de modo a
impô-los como factores autónomos da realidade
internacional. por outro lado, no entanto, não se
devem desprezar os aspectos positivos do fe-
nómeno da constituição e do funcionamento de
organizações regionais na cena internacional.
um destes aspectos é o facto de que no âmbito
das organizações regionais foram desenvolvi-
das redes de laços operacionais que reduziram
as tensões nacionalistas e melhoraram, em
geral, as relações político-económicas a nível
regional. por outro lado, as organizações regio-
nais conseguiram controlar certos conflitos e
impedir a expansão de outros.
por fim, mais um ponto positivo da actividade
das organizações regionais constitui o facto de
que a sua participação nas relações internacio-
nais pôs em dúvida a bipolarização e a lógica
da guerra fria. Sem sobrevalorizar a importân-
cia destes fenómenos, o seu contributo para o
melhoramento da situação internacional é uma
realidade.
a Grécia, sendo um dos membros mais antigos
da Nato e da união europeia, carrega um
intenso sentimento de responsabilidade para a
consolidação dum clima de confiança na região ➤
Dossier
Que soberania para a Europa
As Organizações internacionais
regionais, constituem
o espaço preferencial da cooperação
multilateral em assuntos de
defesa e segurança.
17julho/Setembro 2010 - Diplomática •
➤ euro-atlântica e trabalha com base num plano
e num programa a fim de contribuir para enfren-
tar os novos desafios em matéria de segurança.
Neste âmbito, Grécia é membro fundador do
Grupo de contacto para a luta contra a pira-
taria, constituído por decisão do conselho de
Segurança (1851/16.12.2008). No grupo acima
referido participam países com um forte papel
regional, forças marítimas, assim como países
que enviaram formações marítimas para a re-
gião onde se manifestam os ataques de piratas.
o Grupo de contacto para a luta contra a pi-
rataria trata, em grupos de trabalho sectoriais,
de quatro assuntos no total: a) coordenação
operacional e apoio das infra-estruturas de
segurança dos países regionais, b) aspectos de
repressão penal à pirataria, c) autoprotecção
dos navios comerciais e d) estratégia de comu-
nicação.
o trabalho do Grupo de contacto não prejudica,
em caso algum, a autonomia tanto das acções
isoladas dos estados assim como, também, dos
restantes esforços colectivos (ue, Nato) para
a eliminação do problema da pirataria. Funciona
como mecanismo informal de troca de ideias e
propostas que dá a possibilidade aos 45 países
participantes até ao momento, organizações
internacionais e associações de armadores, de
avaliarem a eficácia dos meios utilizados para a
luta contra a pirataria. No dia 28 de janeiro de
2010 teve lugar, em Nova iorque, a 5ª cimeira
do Grupo de contacto que atribuiu à Grécia a
presidência do próximo plenário, cujos tra-
balhos serão realizados no dia 25 de maio de
2010, em Nova iorque.
Numa conjuntura em que a obtenção da segu-
rança na região euro-atlântica se torna cada
vez mais complicada, a Grécia assumindo a
presidência da oSce em 2009, herdou uma
crise e uma oportunidade. uma crise de con-
fiança e uma oportunidade para a inversão do
clima. tendo como objectivo a restituição do
clima de confiança entre os parceiros, como
condição principal para a resolução dos verda-
deiros problemas de segurança que continuam
a preocupar a europa, assim como fazer face
aos novos desafios para a segurança do espa-
ço euro-atlântico e euro-asiático, a presidência
grega inaugurou um diálogo informal, aberto,
e sincero que hoje em dia é conhecido como
«processo de corfu». a iniciativa da presidên-
cia grega tornou-se comum para todos os «56»
com a adopção na reunião de ministros de
atenas, em Dezembro de 2009, da Declaração
para o processo de corfu e da Decisão para a
sua continuação. com a referida Declaração os
ministros reconheceram os problemas princi-
pais que deverão ser combatidos com base nos
princípios e no acervo da oSce enquanto que
com a Decisão definiram como vai continuar o
processo durante 2010.
Sem dúvida, o processo de corfu tem objec-
tivos ambiciosos: restituição da confiança,
resolução de problemas pendentes, luta co-
mum contra novas ameaças. No entanto, tem
como principal objectivo reanimar o espírito de
unidade do objectivo (commonality of purpose)
que constituiu a base na qual foi construído
o processo de helsínquia há 35 anos. obvia-
mente, tal processo será longo e não irá avan-
çar sempre a um ritmo estável. No âmbito do
processo de helsínquia, foram debatidas mais
de 4600 propostas e realizaram-se milhares de
encontros entre delegações. como foi compro-
vado na altura, o elemento mais importante é
a fermentação e a osmose que se realiza no
âmbito destas consultas, a criação de condi-
ções para a compreensão e o entendimento de
todas as partes.
o processo de corfu continua, a um ritmo satis-
fatório, no quadro da oSce. a Grécia acredita
que dispõe da dinâmica para dar soluções a
assuntos críticos. contudo, todos os parcei-
ros deverão demonstrar paciência, boa fé e
disposição sincera de ouvir e compreender as
posições e pontos de vista com os quais não
concordam necessariamente.
estamos num período de mudança, num pe-
ríodo de transição. os desafios com que nos
deparamos são complicados e inéditos mas te-
mos razões para esperar conseguir um mundo
melhor e mais seguro com os nossos esforços. n
Vassilios Costis
18 • Diplomática - julho/Setembro 2010
Tocando a questão de segurança europeia,
gostaria de destacar a posição do presiden-
te da ucrânia, Viktor Yanukovich, de que
a ucrânia está disposta a se engajar acti-
vamente nas discussões sobre o futuro da
segurança europeia, considerando a oSce
como uma plataforma adequada para esse
diálogo. o presidente da ucrânia, particular-
mente, enfatizou a importância da reflexão
em qualquer novo documento sobre a segu-
rança europeia e da prestação de garantias
de segurança, juridicamente vinculativas,
para os estados que renunciaram volunta-
riamente as armas nucleares, bem como
para os estados que, como a ucrânia, não
são membros de qualquer bloco político e
militar. outro ponto importante é o direito
fundamental dos estados de escolherem os
próprios meios para garantir a segurança
nacional.
como uma contribuição prática para a segu-
rança europeia e mundial, a ucrânia assu-
miu um compromisso na recente cúpula de
Segurança Nuclear em Washington Dc, de
se livrar de todos os seus stocks de urânio
altamente enriquecido, até 2012. assim,
Rostyslav Tronenko - Embaixador da Ucrânia
a ucrânia juntou se aos esforços interna-
cionais, transformando os seus centros de
pesquisa nuclear civil para funcionarem com
urânio pouco enriquecido, confirmando as-
sim sua reputação do parceiro internacional
coerente e previsível e, simultaneamente,
reforçando a segurança europeia e mundial
através da remoção de materiais perigosos,
expostos a potenciais impactos ambientais e
as ameaças de ataques terroristas.
outra questão que continua a ser prioridade
para o meu país é a segurança energética. a
parte ucraniana está comprometida com o diá-
logo amigável e mutuamente benéfico com
a Federação russa, a fim de persuadir os
nossos amigos russos a reconsiderarem os
acordos assinados pelo Governo anterior da
ucrânia, em janeiro de 2009, contratos de
gás, que foram altamente penalizantes para
a economia ucraniana e ainda continuam a
ser um obstáculo para a restauração do seu
crescimento económico. estou também con-
vencido de que a segurança energética da
europa deve ser baseada nos princípios de
uma transparência total das relações entre
os responsáveis pela produção, trânsito e ➤
Dossier
Que soberania para a Europa
19julho/Setembro 2010 - Diplomática •
➤ consumo de fontes de energia. Sendo um
país de trânsito importante do gás natural
russo para os países da união europeia,
a ucrânia é obrigada a efectuar todas as
reformas necessárias no domínio da moder-
nização do seu sistema de transporte de gás
e fazer mais eficaz a utilização dos investi-
mentos e recursos, para poder utilizar a ca-
pacidade total do seu potencial económico.
É de conhecimento comum que a segurança
europeia inclui também tais ameaças con-
temporâneas como o tráfico de drogas, o
terrorismo, a pirataria e os cyber-ataques.
No que diz respeito ao tráfico ilícito de dro-
gas, não pude deixar de mencionar o memo-
rando de entendimento entre o observatório
europeu da Droga e da toxicodependência
(oeDt) e o ministério da Saúde da ucrânia,
assinado em Kyiv em janeiro de 2010, para
lançar a cooperação no domínio de controlo
de uso ilícito de drogas. a autoridade com-
petente ucraniana, responsável directamen-
te pela manutenção das relações com esta
instituição da união europeia, é o observa-
tório ucraniano da Droga e álcool, que tem
vindo a utilizar a metodologia da ue e dispo-
nibiliza um considerável banco nacional de
dados sobre esta problemática. Segundo o
acordo com o oeDt, a instituição da eu,
com sede em lisboa, permite que as partes
troquem as informações sobre os tipos de
drogas e substâncias psicotrópicas novas, o
aparecimento no mercado de drogas ilícitas
e das tecnologias utilizadas na sua produ-
ção, que acompanhem, em conjunto, a situ-
ação de drogas e que organizam a formação
e o intercâmbio de especialistas e de resul-
tados da investigação científica.
há também o interesse entre as institui-
ções ucranianas em continuarem o reforço
da cooperação com a agência europeia de
Segurança marítima, com sede em lis-
boa, especialmente na questão da troca de
informações sobre a luta contra a pirataria
marítima.
Quanto ao terrorismo, a ucrânia tem sempre
condenado a manifestação do mesmo em
todas as suas formas. a fim de evitar tais
atrocidades, deve ser elaborado um melhor
mecanismo de coordenação e de troca de
informações entre as instituições de segu-
rança na europa.
este material vai ser lançado nos dias quan-
do a ucrânia comemora o 24 º aniversário
do trágico desastre na central Nuclear de
chernobyl, que resultou em uma contami-
nação com radioactividade a qual trouxe
consequências graves, incluíndo mortes e
prolongados problemas sérios de saúde em
centenas de milhares de pessoas na ucrâ-
nia e no exterior. as consequências da erup-
ção do material radioactivo do quarto reactor
da central Nuclear de chernobyl, foram
iguais a quatrocentos bombardeios atómicos
de hiroshima, mas não foram avaliadas com
precisão até hoje. a área próxima passou a
ser uma zona fechada, com controlo rigo-
roso de entrada, e não apropriada para as
actividades vitais durante décadas. a este
respeito, é muito importante reiterar um ape-
lo aos parceiros europeus para que partici-
pem activamente na acumulação das contri-
buições para a Fundação de chernobyl, com
objectivo de construir um novo “Sarcófago”.
isto é extremamente importante pois vai ser
a garantia de evitar repetição de catástrofes
nucleares no futuro e preservar a segurança
do continente europeu. n
A Ucrânia assumiu um compromisso
na recente Cúpula de Segurança
Nuclear em Washington DC,
de se livrar de todos os seus stocks
de urânio altamente enriquecido,
até 2012
Rostyslav Tronenko
20 • Diplomática - julho/Setembro 2010
Com o tratado de lisboa, a ue entrou
numa nova fase da sua trajectória histórica.
o tratado dotou a ue com o quadro jurídico
necessário para enfrentar os desafios futu-
ros. a ue está, portanto, melhor equipada,
mais eficiente no processo de tomada de
decisão, com mais responsabilidade demo-
crática, assim como uma maior coerência na
política externa. poderá obviamente, levar
tempo para que a nova estrutura institu-
cional seja plena e eficazmente posta em
prática. No entanto, o que é importante nes-
ta fase, é garantir o funcionamento eficaz
do novo sistema. outro ponto importante
a ter em mente, é que a entrada em vigor
do tratado de lisboa, irá resolver o debate
institucional num futuro próximo. isto permi-
tirá que a ue se concentre numa série de
questões importantes da sua agenda. espe-
ro também, que o argumento, alegando que
a incerteza institucional constitui um obstá-
culo para o alargamento, chegue ao fim.
a ue está a assumir uma responsabilidade
cada vez maior nos assuntos internacionais,
como nunca na sua história, e certamen-
te contribui para um mundo mais seguro e
melhor. particularmente, no que diz respeito
à entrada em vigor do tratado de lisboa, é
minha convicção de que a união se torna-
rá mais eficaz e visível através do mundo.
para isso, terá certamente de ser apoiada
pelos recursos necessários e por vontade
política.
Deixem-me partilhar a minha visão para
o futuro da europa: a europa actuando
como um actor global eficaz e poderoso.
uma europa que se torne uma força motriz
da economia global e que preserve o seu
dinamismo económico. uma europa onde a
diversidade é uma fonte de enriquecimento,
de acordo com a ideia a “unidade na diver-
sidade”. uma europa, que responda eficaz-
mente às expectativas dos seus cidadãos.
em termos da economia europeia, acredito
que preservar o seu dinamismo económico
e revitalizar a sua economia será vital para
o futuro da ue, interna e externamente.
espero que os desafios económicos sejam
superados e que a europa saia reforçada,
da crise financeira e económica global. Não
há dúvida de que uma ue mais forte interna-
mente, é o requisito para uma ue mais ➤
Kaya Türkmen - Embaixador da Turquia
Dossier
Que soberania para a Europa
21julho/Setembro 2010 - Diplomática •
➤ eficaz e mais visível no cenário global.
a maior conquista da ue tem sido a instau-
ração de um período de paz e estabilidade
na europa. através da ue, a europa foi
capaz de deixar para trás os conflitos do
passado, graças à cultura do diálogo e do
compromisso. hoje, a europa enfrenta cada
vez mais uma situação complexa e interliga-
da de ameaças e desafios. No entanto, nem
a ue nem qualquer país sozinho tem capa-
cidade para lidar com os problemas globais
de hoje. há ameaças e desafios comuns e
a cooperação internacional é uma necessi-
dade. o alargamento tem desempenhado
um papel fundamental, e contribuiu para a
democracia e a prosperidade no continente.
os valores e as políticas europeias, terão
certamente, um alcance e um impacto muito
mais global, com a continuação do processo
de alargamento.
a adesão à união europeia é o objectivo
estratégico da turquia. para nós, isso não
tem outra alternativa. o processo de ne-
gociação, que começou a 3 de outubro de
2005, continua com o objectivo da plena
adesão, com base em decisões tomadas
por unanimidade da ue. as estreitas rela-
ções de longa data entre a turquia e a ue
baseiam-se no respeito pelos valores co-
muns, bem como nos objectivos comuns e
interesses estratégicos. tendo em conta os
desafios e ameaças globais, estou absoluta-
mente convencido de que a turquia e a ue
devem trabalhar em conjunto, mais de perto,
e unir forças com uma visão comum. a tur-
quia está em condições de contribuir para
a formulação e execução da política externa
da ue, assim como para a sua credibilidade
e eficácia. para a paz regional e global, pre-
cisamos uns dos outros. a turquia emprega
uma política multi-dimensional, centrada nos
objectivos e numa política externa equili-
brada, com vista a restabelecer e manter a
paz, e reforçar a estabilidade e a prospe-
ridade na região e no mundo. a geografia
da turquia, a história e os laços culturais,
ligam-nos aos balcãs, ao médio oriente, ao
cáucaso, à Àsia central e a todo o sistema
global. a turquia é um factor de estabilidade
na região e um actor estratégico importante,
que contribui para a segurança da europa e
dos seus vizinhos. estou convencido de que
a adesão da turquia será uma mais-valia em
vez de um fardo. a adesão de uma turquia
democrática e moderna com a sua localiza-
ção geoestratégica única e um grande po-
tencial económico, trará benefícios conside-
ráveis para a ue. como país de negociação,
assim como actor estratégico na procura
da paz regional e mundial, a turquia tem a
vontade política e um potencial para contri-
buir ainda mais para o papel global da ue,
criando uma sinergia dinâmica. n
A UE está a assumir uma
responsabilidade cada vez maior
nos assuntos internacionais, como
nunca na sua história,
e certamente contribui para um
mundo mais seguro e melhor.
Kaya Türkmen
22 • Diplomática - julho/Setembro 2010
O estreitamento dos laços económicos
e o aumento do universalismo da língua
portuguesa foram os principais temas
abordados na passagem do presidente
brasileiro por lisboa.
Nos meses finais dos dois mandatos de
oito anos e com a aprovação popular
recorde no seu país, o ocupado pre-
sidente brasileiro, luiz inácio lula da
Silva, finalizou em lisboa uma expedi-
ção de oito dias por cinco países dos
continentes europeu e asiático.
No último 19 de maio, uma quarta-feira
ensolarada, o primeiro esquerdista
eleito presidente do brasil foi recepcio-
nado em terras lusas para uma visita,
após passar pela rússia, catar, irão e
espanha.
o político, que tem elevado a voz aos
países e blocos continentais mais
poderosos e ainda dado mais visibilida-
de aos países emergentes acabara de
apresentar em espanha, numa cúpula
da própria união europeia, um seminá-
rio sobre a economia brasileira. No seu
discurso de quarenta e cinco minutos
em madrid, lula repetiu inúmeras vezes
a palavra “óbvio”: “um inventor pode
inventar o que quiser, mas um gover-
nante tem que fazer o óbvio”, insistiu ao
explicar o porquê do sucesso económi-
co e da previsão de 6% para o cresci-
mento do país sul-americano num ano
em que os países europeus lutam para
que o défice das suas economias seja o
menor possível.
ainda antes da sua lição de moral em
espanha, luiz inácio assinou um impor-
tante acordo nuclear em teerão com o
irão e a turquia, que causou um certo
incómodo em Washington e ressaltou a
relevância que o presidente canarinho
alcançou no cenário mundial. tanto
que, momentos antes da assinatura do
acordo, a secretária americana hillary
clinton ligou pessoalmente ao chance-
ler turco recep tayylp erdogan para
desencorajá-lo da até então ideia do
acordo onde o seu país servirá como
base para o enriquecimento do urânio
que virá do irão – até então, o país não
aceitara nenhuma outra proposta de
enriquecimento fora do seu território,
o que resulta até hoje em ameaças
norte-americanas ao país do presidente
mahmoud ahmadinejad.
após as suas contundentes passagens
nos países já citados, o destino final
fora lisboa. a passos apertados, o pri-
meiro encontro aconteceu no palácio de
belém, numa reunião com o presidente
aníbal cavaco Silva onde diversos as-
suntos foram abordados, principalmente
relacionados com as questões culturais
e comerciais, como a iniciativa dos dois
países em elevar a língua portuguesa
mundo afora e o estreitamento ainda
maior de laços empresariais.
Digamos que o tom optimista de luiz
inácio lula da Silva deva ter contrasta-
do com o conservadorismo de cavaco e
o delicado momento em que vive portu-
gal, até mesmo numa possível aposta
sobre o resultado do futuro encontro
entre as nações no mundial 2010.
apostamos que o brasileiro apostou em
um 4-1 para a selecção canarinha e um
mais comedido português 1-1 como um
óptimo resultado para portugal.
Depois da reunião e da possível dis-
cussão sobre o placar da partida a ser
realizada na áfrica do Sul no dia 25 de
junho, lula participou, agora também
ao lado do primeiro-ministro josé Só-
crates, na entrega do prémio camões
- o mais importante galardão literário da
língua portuguesa - cujo vencedor foi
arménio Vieira, o primeiro cabo-verdia-
no a ser honrado com tal distinção.
Na cerimónia, o presidente brasileiro foi
responsável por discursar a retrospec-
tiva da trajectória do poeta, escritor e
jornalista de cabo Verde e reiterou que
arménio Vieira é mais uma das figuras ➤
A visita do Presidente Lula da Silva a Portugal
Visita de estado
23julho/Setembro 2010 - Diplomática •
1
2
3
1, 2 e 3. o presidente lula da Silva a ser recebido
pelo presidente da república cavaco Silva, primei-
ro-ministro josé Sócrates e ministro dos Negócios
estrangeiros luís amado
Fo
tos:
ric
ard
o o
live
ira
- G
pm
24 • Diplomática - julho/Setembro 2010
➤ responsáveis pelo “universalismo da
civilização lusófona e do seu idioma”.
ainda nessa celebração, discursaram
cavaco Silva e josé Sócrates, sempre
a reforçar o discurso do companheiro
político e a pontuar a importância do
país africano ter tido, pela primeira vez,
um vencedor do prémio fundado em
1988 e que já consagrou um escritor
moçambicano e dois outros angolanos,
além de diversos portugueses e brasi-
leiros.
a maratona de luiz inácio lula da Silva
em lisboa teve um factor que ajudou e
muito no seu deslocamento: a pequena
distância entre todos os seus compro-
missos. após o palácio de belém, a
cerimónia do prémio camões foi logo
ali ao lado, no museu dos coches. e
a sua última paragem formal, antes de
um jantar oferecido por Sócrates, foi no
palácio das Necessidades, onde decor-
reu a 10ª cimeira brasil e portugal, que
integra uma série de reuniões
anuais para a discussão de
acções comuns entre os dois
países, com líderes políticos e
empresários.
os principais pontos abor-
dados na conferência pelo
mandatário brasileiro rela-
cionavam-se com a cooperação nas
áreas económico-comercial, científico-
tecnológico, cultural e da energia, além
da ampliação de uma relação triangu-
lar com os países africanos de língua
portuguesa, que será detalhada em
julho, na cimeira de chefes de estado
e de Governo da cplp (comunidade
dos países de língua portuguesa), a
realizar-se no próximo mês de julho em
luanda.
No seu discurso, lula exaltou o mo-
mento que o seu país vive, reflexo
do franco crescimento económico e,
nas palavras do próprio, do seu árduo
trabalho: “o brasil vive um momento
mágico no plano económico. Dizem que
eu tenho muita sorte, mas trabalho mui-
to”, bradou com sua voz rouca o futuro
candidato a uma cadeira de secretário-
geral na oNu ou à presidência do
banco mundial, conforme informam as
agências de notícias mundiais. e se o
facto se concretizar, lula já conta com
o apoio de josé Sócrates e de alguns
outros líderes para alcançar um dos
postos.
ainda no seu discurso, luiz inácio
disse que a vez agora é dos países que
não tiveram oportunidade nos últimos
tempos: “penso que o século XXi será
o século dos países que não tiveram
oportunidade no século passado. Desde
sempre se dizia que o brasil era o país
do futuro e esse futuro nunca chega-
va.”. e o futuro chegou, com o prestígio
de um presidente que em 2002 assu-
mira a presidência de uma república
dividida entre a esperança da popu-
lação menos prestigiada e a
desconfiança da alta camada
social, que não via com bons
olhos um ex-metalúrgico com
nove dedos nas mãos – fruto
de um acidente de trabalho -,
ex-sindicalista com os estudos
incompletos assumir a cadeira
mais alta na hierarquia política brasilei-
ra.
Na cadeira ao lado, o primeiro-ministro
Sócrates escutara com atenção as
indagações do presidente lula sobre o
processo burocrático do G-20, do qual
o próprio faz parte, em relação à não
aplicação das decisões que são toma-
das.
“eu faço parte do G-20, Sócrates, e as
coisas têm sido muito lentas. as nos-
sas decisões não são implementadas
porque nós não temos uma governação
global, nenhuma instituição multilateral
que possa obrigar que as coisas sejam
cumpridas”, disse ele. ➤
A visita do Presidente Lula da Silva a Portugal
"O Brasil vive um mOmentO mágicO nO planO ecOnómicO"
lula
25julho/Setembro 2010 - Diplomática •
4 5
6
7
4 e 5. presidente lula da Silva
entrega prémio camões ao cabo-
verdiano arménio Vieira
6 e 7. lula da Silva reune-se com
os mais altos dignatários da nação
Fo
tos:
ric
ard
o o
live
ira
- G
pm
26 • Diplomática - julho/Setembro 2010
➤ “os prejuízos são globais, as políticas
comerciais são globais, os bancos cen-
trais têm decisões que são globais, mas
na verdade a aplicação dessas medidas
são no plano individual”, finalizou.
lula também criticou a demora da
união europeia na ajuda à Grécia e a
actuação dos estados unidos durante a
crise aliada à falta de regulamentação
do sistema financeiro.
“eu, sinceramente, não conheço um
economista que me explique porque é
que a união europeia demorou três me-
ses para tratar da questão da Grécia”.
“eu não consigo compreender porque
deixaram o lehman brothers quebrar,
ficaria muito mais barato tentar encon-
trar uma saída enquanto ele estava
em actividade. Não consigo entender
porque os países ricos não têm uma
regulamentação do sistema financeiro
mais dura, como por exemplo no bra-
sil, onde o sistema financeiro não pode
alavancar mais de dez vezes o seu
património líquido.”
já o primeiro-ministro português apelou
para que os portugueses e a comunida-
de internacional confiem na economia
de portugal. o apelo foi feito enquan-
to o conselho de ministros do país
aprovava o programa de estabilidade
e crescimento, cuja meta é reduzir o
défice orçamental de 9,3 para 7,3 por
cento. além do programa, foram apro-
vadas outras medidas que visam com-
bater os avanços da crise.
No final da cúpula, o presidente bra-
sileiro assinou juntamente com josé
Sócrates sete acordos bilaterais que
visam o estreitamento ainda maior en-
tre os países, principalmente no âmbito
energético e cultural.
o principal é o projecto de produção de
biocombustíveis entre a petrobrás e a
Galp, que prevê a entrada da petrolífe-
ra brasileira na refinaria de Sines, com
capacidade em produzir 260 mil tonela-
das de biodiesel por ano, num investi-
mento total de 530 milhões de dólares a
ser dividido igualmente entre as empre-
sas. a estratégia, além de vislumbrar
uma entrada no mercado ibérico, tam-
bém visa fortalecer a imagem da estatal
verde e amarela no continente europeu,
já que a matéria-prima do biocombustí-
vel, a palma, será cultivada no estado
do pará na região norte do país.
os outros actos assinados dizem res-
peito à aquisição da empresa brasileira
Geovision pela construtora mota-engil,
um acordo para a formação de profissio-
nais e prospecção de petróleo em águas
profundas, um memorando sobre a
igualdade de género e um protocolo de
cooperação sobre doping aliado a um
acordo de cooperação técnica para o
saneamento e tratamento de resíduos
urbanos para o rio de janeiro, já com
vista para o mundial de 2014 e os jogos
olímpicos de 2016.
o documento final da cimeira de lisboa
reitera que o “governo português nota,
com satisfação, o papel que o brasil e
o seu presidente vêm desempenhando,
em particular no actual momento, na
gestão de várias questões de interesse
crucial para a manutenção da paz e da
segurança internacionais”. o texto ain-
da cita que ambos insistem na análise
das consequências da crise financeira
internacional, das políticas aplicadas
para enfrentá-la e das medidas que
deverão ser tomadas para reformar o
sistema financeiro internacional, a fim
de “relançar a economia e promover o
emprego”.
o último compromisso de luiz inácio
lula da Silva em portugal foi um jan-
tar oferecido por josé Sócrates, cujo
palpite para o já citado jogo do dia 25
de junho no mundial 2010 deve ter sido
favorável a portugal: 1-0, com muito
suor e luta. n
K. lara cury
A visita do Presidente Lula da Silva a Portugal
28 • Diplomática - julho/Setembro 2010
Tornaram-se, visivelmente, controversas as
visitas dos papas nos últimos anos. as visitas de
bento XVi, eleito em 2005, têm recebido resistên-
cias várias por parte de minorias, posteriormente
amplificadas pelos diferentes meios de comuni-
cação. Serão resistências plausíveis? racionais?
Neutras? o que realmente se pode dizer desta
visita de bento XVi a portugal?
a visita de um papa a um estado é um aconteci-
mento por si mesmo. bento XVi, ao sair do esta-
do mais pequeno do planeta, traz sempre consigo
dois cargos com implicações espirituais, por ser
bispo de roma e garante da unidade e pureza da
fé cristã, e também diplomáticas com os diferen-
tes estados. a própria concordata entre a Santa
Sé e o estado italiano pressupõe uma relação
diplomática de segurança. ao sair da basílica de
São pedro, diante da praça, em qualquer acto, a
segurança é da responsabilidade do estado italia-
no, mas a partir daquela porta para dentro é já da
competência da segurança do Vaticano.
o que é mais notável, do ponto de vista da comu-
nicação, na visita deste chefe de estado a outros
estados, são as medidas de segurança. a opera-
ção que se tem de levar a cabo para receber um
papa, como aconteceu com bento XVi, tem pro-
blemas acrescidos às operações normais para re-
ceber os chefes de estado de outros países. em
primeiro lugar, porque é preciso segurança para a
pessoa de bento XVi – garante da fé católica e lí-
der do estado do Vaticano – e, em segundo lugar,
porque o papa arrasta sempre consigo multidões
que precisam de segurança mínima. por isso,
mesmo sendo um estado laico, qualquer que ele
seja, tem de proteger todos os que legitimamente
se encontram.
mas, dirão alguns, não comprometerá a laicidade
do estado o facto de ter de fazer gastos acres-
cidos com um “homem” religioso? Sendo bento
XVi membro da igreja católica. Sendo a igreja
católica constitutiva da cultura da maioria dos
portugueses. Sendo o estado laico constituído
por uma sociedade religiosa que recebe dos seus
contribuintes os impostos, poderemos dizer que é
justo que a laicidade do estado esteja submetida
aos cidadãos a quem ele próprio serve.
mais do que racional a comunicação é emotiva
centrando-nos na visita particular de bento XVi
a portugal, teremos, à distância, a capacidade
de perceber as linhas mestras que sobressaíram
desses dias. Não há a menor dúvida de que a
emoção foi a figura mestra de um papa profunda-
mente racional. bento XVi apresenta-se em por-
tugal no ano em que se comemora a instauração
da república e frisa esse aspecto no seu primeiro
discurso. Diplomaticamente apaga os fantasmas
que estavam nas cabeças de alguns por, daí a
umas horas, se celebrar a eucaristia na praça
onde o regicídio teve acontecimento.
Dentro e fora da igreja subestimava-se a figura
desta papa. Não é carismático! Não é joão paulo
ii! Não é um homem de massas! tímido, frio, ale-
mão, racional! o percurso entre o aeroporto e a
Nunciatura poderia denunciar um enfraquecimen-
to da igreja católica em portugal ou o enfraque-
cimento da relação dos portugueses com bento
XVi. o gelo quebrou-se e percebeu-se logo à
chegada. os portugueses não esperam bento XVi
ou joão paulo ii, mas aguardam o sucessor de
São pedro. eles revêem-se naquele que sucedeu
a joão paulo ii, tão ligado ao Santuário de Fáti-
ma. aliás, os ataques sucessivos que este papa
tinha sofrido faziam prever um apoio incondicional
dos católicos. os mais novos provaram-no em
lisboa: quinze mil jovens participam nas activida-
des e alguns vão até Fátima; cinco mil crianças
dirigiam-se para a missa; mais de cem mil pesso-
as acolhem o papamóvel que transporta o chefe
de estado do Vaticano. De facto, esta visita de
estado é bem diferente das outras visitas de es-
tado de outros chefes que se dirigem a portugal.
Não há memória, em portugal, de se receber um
chefe de estado com um acolhimento caloroso
como aquele que aconteceu com o papa.
mas não foram apenas os portugueses que tive-
ram a capacidade de colocar a emoção na visita
do papa e de fazer mudar a opinião pública mun-
dial sobre a figura do papa. o próprio bento XVi,
que em 2000, tinha interpretado a terceira parte
do segredo de Fátima, dá-lhe, agora, um novo
sentido. a igreja, no século XX, era perseguida
pelos regimes totalitários, hostis à própria igreja e
aos seus membros – desde clérigos a religiosos e
religiosas até aos próprios leigos. o simples acto
de acreditar era motivo de perseguição. agora
a igreja é perseguida por causa do seu próprio
pecado. em Fátima, bento XVi abre um novo
projecto da mensagem de Fátima para ➤
Uma viagem capaz de mudar a imagem de Bento XVIedgar clara: [email protected]
Visitas de estado
29julho/Setembro 2010 - Diplomática •
30 • Diplomática - julho/Setembro 2010
➤ o panorama internacional e diz: “iludir-se-ia
quem pensasse que a missão profética de Fátima
esteja concluída”.
a terceira parte do segredo de Fátima esteve
sempre muito ligada ao Santo padre, ao Vigário
de cristo, ao sucessor de pedro, ao papa, “ao
homem vestido de branco”, como refere o texto.
pensou-se, em tempos, que este homem seria
joão paulo ii, ou os papas do século XX. porém,
percebe-se que bento XVi ao chegar a portugal
vem com tanto sofrimento na alma como qualquer
dos papas do século XX que aqui se apresenta-
ram ou sobre Fátima falaram. bento XVi deixa um
gesto notável para o, então, considerado intelec-
tual, racionalista, alemão, tímido e homem frio.
como um filho, aos pés da mãe, entrega uma rosa
de ouro nas mãos da imagem de Nossa Senhora
de Fátima. mais uma vez, a emoção deixa falar a
razão e a imagem de bento XVi vai-se esfriando.
uma nova racionalidade capaz de encontrar a
verdade.
No encontro com o chamado mundo da cultura,
bento XVi está diante de cientistas, professores
universitários, músicos, compositores, bailarinos,
pintores, escultores, homens das letras e das
artes. aos 83 anos de idade entra no centro cul-
tural de belém e cumprimenta todos os que estão
no palco. No final dá um tempo para cumprimen-
tar todos os líderes ou representantes das princi-
pais religiões representadas em portugal e várias
personalidades do mundo da cultura.
ao entrar é efusivamente aplaudido por crentes e
descrentes, homens de fé ou agnósticos, católi-
cos ou homens de outras religiões. É o peso da ➤
Uma viagem capaz de mudar a imagem de Bento XVI
31julho/Setembro 2010 - Diplomática •
➤ humilde sabedoria que se apresenta diante dos
homens de cultura. palavras? essas eram previ-
síveis: a verdade. trata-se da luta maior de bento
XVi, desde que se encontrava como professor
universitário e depois como cardeal. combater
toda e qualquer ideia que vá contra a razão e, por
conseguinte, que não procure a verdade.
porém, a palavra vem depois do gesto mais
eloquentemente aplaudido pela assembleia.
Depois do discurso de manuel de oliveira,
bento XVi levanta-se e dirige-se ao lugar do
cineasta para lhe agradecer as suas palavras.
o papa não é de facto um professor tradicional.
ele gosta de escutar o outro, de o respeitar,
de o cumprimentar e de o abraçar. o outro é o
princípio do diálogo que bento XVi tanto tem
procurado fazer. Depois lança-se aos papéis e
discursa o que antes tinha preparado.
Não há dúvida. a imagem do papa depois de
portugal não mais será a mesma na opinião
pública nacional e internacional. primeiro, porque
toda a viagem mostrou a simplicidade de um dos
homens mais inteligentes, segundo, porque a sua
figura é significativa e os portugueses souberam
perfeitamente seguir a sombra de pedro que
cura, por fim, em terceiro, bento XVi ficará para
a história como o papa que não quis nunca fugir
à verdade e aos problemas, mas que gosta não
só dos problemas, como também de os enfrentar.
por isso, a edição dos seus discursos esgotou
em três dias, porque não sendo um homem de
imagem a sua palavra faz pensar e mudar as ima-
gens que temos de Deus, do mundo, do homem e
da própria realidade. nFotos: luís catarino
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33julho/setembro 2010 - Diplomática •
Visita ao MagrebePortugal de olhos postos no Norte de África
Sócrates visitou a Líbia, Argélia, Tunísia e Marrocos e apontou a re-
gião norte africana como “uma nova prioridade na sua política exter-
na”. Os laços económicos e a presença portuguesa saíram reforçados.
“Apostar nas exportações, na internacionalização da nossa economia,
apoiar as nossas empresas que estão a lutar pelas exportações em todos
estes mercados”, foram os desejos manifestados pelo primeiro-ministro,
em rabat, em jeito de balanço geral da viagem a quatro países do magre-
be. josé sócrates deslocou-se à líbia, argélia, tunísia e marrocos para
mostrar a “nova prioridade na sua política externa” e os objectivos econó-
micos com aqueles países – centrados na transmissão da experiência e
das tecnologias portuguesas de energias renováveis -, num mercado que
representa 2% das vendas portuguesas ao exterior e que portugal quer in-
crementar, de forma a compensar o défice comercial criado pelas compras
de petróleo à líbia e de gás natural à argélia, mas também a equilibrar os
superavites com marrocos e a tunísia.
sócrates destacou a importância geoestratégica das relações bilaterais
e defendeu também que os empresários portugueses deverão assumir
uma atitude de confiança no investimento e na internacionalização, tirando
partido dos desenvolvimentos em curso nos mercados do Norte de áfrica,
que “são uma boa oportunidade (de negócios) para os empresários por-
tugueses”, frisou. esta relação visa, entre outros objectivos, reforçar as
relações comerciais para diversificar as exportações e criar mercado para
as empresas portuguesas, em especial na área das energias renováveis,
participarem no desenvolvimento destes países vizinhos.
Nesta visita de três dias, o chefe do Governo português fez-se acompa-
nhar pelos ministros dos Negócios estrangeiros, da economia e da ciência
e pelos secretários de estado do comércio, do orçamento, do consumi-
dor, do turismo e da energia. a comitiva empresarial compôs-se por 25
empresas. ➤
Visitas de estado
34 • Diplomática - julho/setembro 2010
Líbia – reforço da cooperação económica bilateralA aposta nas relações comerciais com a região do magrebe não se resume apenas ao sector das energias renováveis. Na líbia,
onde iniciou a sua visita e se encontrou com o seu homólogo líbio, mahmoudi baghdadi, e com muammar Khadafi, sócrates apontou
que “as empresas portuguesas estão muito interessadas no mercado líbio, em muitos sectores - no sector dos cimentos, no sector
do petróleo, também da construção civil -, e tenho a certeza que destes contactos vão resultar muitas oportunidades para as empre-
sas portuguesas”. “tive oportunidade de colocar (os problemas que as empresas portuguesas enfrentam) ao Governo líbio e ao seu
líder e tenho a certeza que, a partir de agora, correrá melhor”, acrescentou.
apesar da “relação política normalizada com a líbia”, a balança comercial entre os dois países é desfavorável para portugal, que em
2009 importou 332,2 milhões de euros e vendeu 35,4 milhões de euros, um valor baixo, mas que representa um crescimento consi-
derável, pois em 2007 as exportações nacionais não ultrapassavam os 500 mil euros. “importamos muito petróleo e vendemos ainda
poucos produtos; por isso a nossa aposta é diversificar mais o comércio com a líbia e eu tenho muita esperança que esta minha
visita abra novas oportunidades de negócios a empresas portuguesas”, afirmou convicto josé sócrates.
Argélia – gás e energias renováveisA energia marcou a passagem do pm pela argélia. Num encontro com o presidente da república argelino, , e outro com o primeiro-ministro
ahmed ouyahia, josé sócrates salientou a importância geoestratégica das relações bilaterais: “da argélia vem grande parte da segu-
rança do nosso abastecimento energético. só há duas formas de abastecer de gás a europa - da rússia ou da argélia. Nós temos,
portanto, de ter uma especial relação com este país” - que fornece 40 por cento do gás natural consumido em portugal, representando
cerca de 97 por cento das compras portuguesas. em 2009, portugal importou da argélia, 274,9 milhões de euros e exportou 197,4
milhões.
“a argélia é um bom exemplo de um dos países do magrebe para onde as nossas exportações mais aumentaram nos últimos anos.
É um mercado com grandes potencialidades”, declarou o pm. a argélia tem em curso plano de investimento público para cinco anos
(até 2014), no valor de 250 mil milhões de dólares, dos quais 20 mil milhões para estradas, 2 mil milhões para novas habitações, 20
barragens, 6000 quilómetros de caminhos-de-ferro, infra-estruturas energéticas e redes de água potável, e no qual estão já presen-
tes empresas portuguesas, havendo ainda outras, algumas das quais acompanharam a deslocação, interessadas em aproveitar as
oportunidades do plano. ➤
Visita ao Magrebe
1. josé sócrates com mahmoudi baghdadi e muammar Khadafi 2. josé sócrates e muammar Khadafi
3. josé sócrates com ahmed ouyahia 4. josé sócrates e abdelaziz bouteflika
35julho/setembro 2010 - Diplomática •
Tunísia – cimeira anual Luso-TunisinaA delegação portuguesa e o primeiro-ministro da tunísia, mohamed Ghannouchi, acompanhado de vários
membros do seu governo, reuniram-se na cimeira luso-tunisina. os dois chefes de Governo presidiram tam-
bém a um seminário empresarial sobre energias renováveis, uma aposta importante para a economia tunisina
e na qual portugal quer ser um parceiro.
portugal é, presentemente o quarto maior investidor no país, excluindo o sector da energia, mas há ainda
espaço para aumentar as trocas comerciais, que, em 2009, atingiram 116,3 milhões de euros nas exportações
e 19,1 milhões nas importações de produtos tunisinos. josé sócrates reuniu com o presidente da república
tunisino, Zine el abidine ben ali, e elogiou a relação política entre os dois estados, “a vontade de trabalharem
juntos para desenvolver uma cooperação frutuosa”, e a admiração pelos “esforços de abertura e de ambição da
economia tunisina”.
Marrocos – cimeira Luso-Marroquina“Portugal tem uma relação política muito especial com todos os países do magrebe, e em particular com marrocos”,
“sem nenhum problema, mas temos também uma relação económica que dá aos dois países especial responsabili-
dade”, afirmou sócrates. uma reunião de trabalho com o seu homólogo, abbas el Fassi, permitiu adiantar ainda a
agenda da próxima cimeira luso-marroquina, que decorre em marrocos em junho. No magrebe, marrocos é o maior
mercado para os produtos portugueses: em 2009, portugal exportou para o mercado marroquino 197,8 milhões de
euros, importando 52,6 milhões. portugal importa de marrocos máquinas e aparelhos, minerais e minérios e produ-
tos de madeira e cortiça, e exporta metais, máquinas e aparelhos, madeira e cortiça, minerais e minérios e matérias
têxteis.
o primeiro-ministro marroquino agradeceu a portugal e ao Governo português “o apoio quando a união europeia nos
deu na atribuição do estatuto avançado” em 2008, que permite a marrocos integrar-se gradualmente nas políticas
europeias e aprofundar os acordos de comércio livre. n
Fotos: ricardo oliveira - Gpm
5. josé sócrates com Zine al-abidine ben ali e mohamed Ghannouchi 6. mohamed Ghannouchi e josé sócrates
7. Vieira da silva, luís amado, josé sócrates, abbas el Fassi 8. josé sócrates e abbas el Fassi
36 • Diplomática - julho/setembro 2010
Mohamed Ridha Farhat - embaixador da república da tunísia
“Incentivar os empresários de ambos os países a trabalharem juntos” entrevista de maria de bragança
Em Lisboa desde 2005, Mohamed Ridha Farhat elogia o relacionamento, a história comum e
as relações bilaterais entre a Tunísia e Portugal.
O Embaixador da Tunísia iniciou a sua carreira de diplomata em 1980 no Ministério dos
Negócios Estrangeiros do seu país. Exerceu os vários cargos, passando por todos os esca-
lões. Antes de vir para Portugal, desempenhou cargos diplomáticos em Bruxelas e Paris,
mas o seu primeiro posto como Embaixador foi em Lisboa.
Mohamed Farhat recebeu-nos gentilmente na sua residência oficial, brindando-nos com es-
peciais iguarias tunisinas, para uma entrevista em que se abordaram temáticas históricas,
políticas, económicos, entre outras. ➤
Diplomacia na 1ª pessoa
37julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ Vamos começar por falar no
seu percurso. Como chegou até
Portugal?
sou diplomata de carreira. Fui
para o ministério dos Negócios
estrangeiros em 1980 depois de ter
completado os estudos superiores,
e entrei por concurso no ministé-
rio tendo sido aprovado. Durante
os trinta anos de experiência fui
Diplomata, chefe de Divisão, sub-
Director e Director. exerci funções
na qualidade de diplomata, nomea-
damente, em bruxelas e em paris,
antes de ocupar o primeiro posto
de embaixador aqui em portugal.
sua exa. o presidente da repúbli-
ca, Zine el abidine ben ali, con-
fiou-me este cargo e eu tento ser
bem sucedido nesta missão.
Está no nosso país desde 2005.
Quais são os principais resulta-
dos registados no plano diplo-
mático e político?
as relações entre portugal e a
tunísia são excelentes. primeiro,
porque temos a mesma história,
pertencemos ao mesmo espaço
geoestratégico. partilhamos alguns
aspectos da nossa herança gra-
ças aos Fenícios que chegaram à
tunísia por volta do ano 800 a.c.
e foram fundadores de cartago,
um pólo de comércio mediterrâni-
co muito importante, e mais tarde
graças aos romanos.
as relações bilaterais não param
de evoluir positivamente depois
das visitas presidenciais: as visitas
de s.e. o senhor presidente da
república tunisina ben ali, em
1993 e 2000, a portugal, as visitas
dos senhores presidentes soares
e sampaio à tunísia respectiva-
mente, em 1995 e 2002, e ainda, a
participação do nosso presidente
da república nos trabalhos da 2ª
cimeira ue-áfrica, realizada em
lisboa em Dezembro de 2007 sob
a presidência portuguesa da união
europeia. em 2006, um tratado de
amizade, de boa vizinhança e co-
operação, que é o quadro jurídico
mais elevado para regulamentar as
relações entre os dois países que
entrou em vigor. este tratado é a
prova de que consideramos portu-
gal um dos nossos parceiros mais
importantes. este tratado de ami-
zade permitiu-nos organizar reuni-
ões a nível dos primeiros-ministros
dos dois países. organizamos a
primeira cimeira em lisboa em
2007 e a segunda realizou-se em
março de 2010 em tunes. estas
reuniões permitem-nos aprofundar
as relações no plano jurídico, ao ní-
vel da concertação política e diver-
sificar as relações de cooperação
com portugal, que são excelentes.
portugal é realmente importante
enquanto parceiro económico. Vou
dar um único número: portugal
é o quarto investidor na tunísia,
exceptuando na energia. existe
uma firme determinação das duas
partes em desenvolver cada vez
mais as relações bilaterais.
Portugal poderá ser importante
para a Tunísia fortalecer as rela-
ções com a UE, ou não necessa-
riamente?
a tunísia sempre manteve rela-
ções privilegiadas com a europa
depois dos vários acordos que
assinámos com a união europeia.
o primeiro acordo é de 1969 com
a cee. mais recentemente, desde
janeiro de 2008, fomos o primeiro
país da margem sul do mediterrâ-
neo a entrar em zona de comércio
livre com a ue. Nestes últimos tem-
pos, já foram encetadas discussões
sobre o estatuto avançado que
será concedido à tunísia nas suas
relações com a união europeia.
tudo isto prova a importância que
damos às relações com os nos-
sos parceiros europeus e, parti-
cularmente, com portugal, que é
um parceiro privilegiado porque é
membro do nosso espaço geográ-
fico imediato, ou seja, o mediterrâ-
neo ocidental.
É certo que, enquanto membro da
ue, e tendo em conta as afinidades
que existem entre nós, portugal é
sensível às expectativas da tunísia
no quadro das suas relações com
a união europeia. portugal tam-
bém necessita da tunísia, porque
ocupamos um lugar importante na
região do magrebe, ao nível dos
países árabes e africanos.
Em que situação se encontra a
balança comercial entre os dois
países?
o que devemos notar é a tendên-
cia destes últimos anos. as trocas
comerciais estão a progredir duma
forma importante. os números
mais recentes indicam um aumen-
to de 56,3 por cento das trocas
comerciais, em 2009. a tunísia
vem logo a seguir à Venezuela, na
classificação dos países com os
quais as exportações portuguesas
registaram um maior aumento. a
balança comercial é deficitária em
detrimento da tunísia. mas isto é
compensado pelo volume importan-
te dos investimentos portugueses
na tunísia.
E as energias renováveis e a
construção?
as energias renováveis foram um
dos temas abordados durante a
primeira cimeira (reunião de alto
Nível). Quanto à construção, os
operadores portugueses devem
melhorar a sua aproximação do
mercado tunisino e investir mais,
sabendo que a tunísia é um país
que se desenvolve rapidamente e
que oferece muitas oportunidades
para as empresas estrangeiras.
Falou da visita do Primeiro-
ministro português à Tunísia.
Como foi esta visita? O que de-
vemos reter desta visita?
a nossa acção inscreve-se com
o objectivo de desenvolver ainda
mais as relações bilaterais e de ➤
38 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤ reforçar e diversificar as diferen-
tes áreas de cooperação. Dedica-
mo-nos, particularmente, a incen-
tivar os empresários de ambos os
países a trabalharem juntos. Neste
âmbito implementamos vários
instrumentos: o primeiro, o tratado
de amizade que dá um impulso em
todas as áreas de cooperação. por
outro lado, o quadro jurídico entre
os dois países foi consideravelmen-
te reforçado. uma linha de crédito
de 100 milhões de euros foi imple-
mentada para desenvolver a par-
ceria. para concluir, tanto durante
a primeira cimeira, realizada em
lisboa em 2007, como na segunda,
na tunísia em março de 2010, as
delegações de empresários parti-
ciparam nestas importantes reuni-
ões. as relações entre os dois pa-
tronatos foram institucionalizadas e
estabeleceram-se acordos. para a
cimeira realizada no passado mês
de março na tunísia, o primeiro-
ministro português foi acompanha-
do por uma grande delegação de
empresários multissectorial. De
sublinhar nesta ocasião, a criação
de um comité misto de negócios
que é presidido pelos dois vice-
presidentes das organizações dos
patronatos. trata-se de uma medi-
da complementar para desenvolver
ainda mais as relações económicas
entre os dois países. há cerca de
50 empresas multissectoriais que
operam na tunísia. os empre-
sários vêem a tunísia como um
mercado interessante, seja para
operações comerciais, seja para
exportações e/ou importações.
Foi criada uma dinâmica e ambos
sabemos que há oportunidades a
explorar. em conclusão, estamos a
fazer o que é necessário dos dois
lados, tunisino e português, para
dar mais substância à cooperação
económica e comercial.
Como decorreu a Cimeira Luso-
Tunisina?
Durante a 2ª reunião da cimeni-
ra de alto Nível (cimeira), o sr.
primeiro-ministro sócrates reuniu-
se com o presidente ben ali, o
primeiro-ministro e o presidente
da câmara dos Deputados. os
primeiros-ministros dos dois países
também presidiram uma reunião
que juntou um número importan-
te de ministros e de secretários
de estado para examinar as vias
e meios capazes de reforçar as
relações bilaterais. Neste âmbito,
foram assinados 14 acordos de
cooperação.
os dois primeiros-ministros tam-
bém procederam ao encerramento
de um encontro económico que
juntou empresários dos dois paí-
ses.
para resumir, podemos afirmar que
a cimeira foi um sucesso.
E a crise económico-financeira
que o mundo atravessa, a Tuní-
sia também está a ser afectada?
se me referir aos números que
foram publicados o ano passado
pelos organismos internacionais, a
tunísia foi classificada como o sex-
to país no mundo a conviver melhor
com esta crise. como sabemos, a
tunísia é um país reputado pela
sua boa governação, e as finanças
públicas são muito bem geridas.
contudo, é preciso relembrar que
80 por cento do nosso comércio
realiza-se com a ue. se a europa,
que atravessa um momento difícil,
não consegue ultrapassar a crise,
nós também acabamos por ser
afectados. para terem uma noção,
antes da crise a nossa previsão de
crescimento era de 6,3 por cento,
a qual se alterou para os 3,5 por
cento. portanto, há uma incidência
sobre a economia real porque as
nossas relações são muito estrei-
tas com a europa.
Não há muito tempo, a questão
de uma União para o Mediterrâ-
neo foi muito discutida, preci-
samente por Sarkozy. O que diz
disso?
o processo de barcelona remonta
a 1995. todos reconheciam que
deveriam existir relações muito
mais importantes entre os países
do espaço euro-mediterrânico. a
tunísia fazia parte dos primeiros
países que saudaram o projecto da
união para o mediterrâneo. este
projecto visa redinamizar e desen-
volver o processo de barcelona
que não conseguiu alcançar os
objectivos que lhe foram atribuídos,
e isto, devido ao conflito israelo-pa-
lestiniano que bloqueou o processo
e que coloca entraves actualmente
à concretização do projecto da
união para o mediterrâneo.
por outro lado, não estamos de
braços cruzados principalmente
no mediterrâneo ocidental. esta-
mos todos empenhados: os cinco
países do sul – magrebe – tunísia,
líbia, argélia, marrocos e mauri-
tânia; e os cinco países do Norte
– portugal, espanha, itália, França
e malta no âmbito do diálogo 5 + 5
para reforçar ainda mais a coope-
ração entre os vários parceiros. a
primeira cimeira do diálogo 5 + 5
realizou-se em tunes em 2003, e
recentemente, também teve lugar
em tunes, a 8ª conferência dos
ministros dos Negócios estrangei-
ros dos países do diálogo 5 + 5
A nível interno, como se desen-
rola a política nacional? Quantos
partidos existem na Tunísia?
Desde a mudança (changement)
de 1987 e a subida ao poder do
presidente ben ali, a constata-
ção foi nítida: a tunísia é um país
estável, que não cessa de reforçar
o pluralismo político, que realiza
performances no plano económico
e que consolida o progresso social.
No que diz respeito ao pluralismo,
há nove partidos políticos activos
na tunísia dos quais sete estão
representados no parlamento. ➤
Mohamed Ridha Farhat
Embaixador da República da Tunísia
39julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ tivemos eleições legislativas
e presidenciais no passado mês
de outubro, onde muitos partidos
e candidatos competiram. mas,
o mais importante é que há uma
vontade de poder político e do
presidente da república, em de-
senvolver constantemente o siste-
ma democrático. o presidente da
república é o chefe do executivo e
indica o caminho a seguir. há sem-
pre um projecto para os próximos
cinco anos. temos sempre uma
visibilidade sobre o nosso futuro.
o partido que está no poder tem
uma grande tradição histórica. Foi
o partido que levou o país à inde-
pendência, e é necessário compre-
ender este fenómeno. É um partido
muito bem implantado e tem mais
de dois milhões de militantes. se ➤
mohamed ridha Farhat
40 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤ as eleições fossem realizadas
segundo o modelo ocidental, todos
os lugares da assembleia perten-
ceriam a este partido. o presidente
bem ali fez adoptar uma lei que
impede que o partido maioritário
de ocupe mais de 75 por cento dos
lugares, para permitir a presença
de outros partidos. por outro lado,
temos que lembrar que a tunísia
tem uma longa tradição em matéria
de democracia. tentamos respei-
tar todos os valores e princípios
universais, mas sempre nos inspi-
ramos na nossa história, na nossa
realidade e na nossa especificida-
de. a nossa democracia não é de
hoje e o povo tem tido sempre um
papel activo. cartago foi criado em
800 anos a.c. e aristóteles escre-
via no seu livro “o político” que
cartago tinha uma boa constituição
anterior à dos gregos, e de acordo
com os testemunhos da época,
a separação dos poderes existia:
poder executivo – uma assembleia
deliberante e poder judicial. Nisso
não se fala muitas vezes porque
os cartagineses esqueceram-se de
escrever a sua própria história.
Por razões históricas, a Tunísia é
um país ligado à França. Como é
a relação entre as duas nações ?
a França é um dos nossos prin-
cipais parceiros comerciais. está
à frente da itália, da alemanha,
da espanha e de portugal. com a
França temos relações históricas.
Os franceses ocuparam a Tuní-
sia por razões económicas ?
como sempre, quando há um
período de desordem num país.
estávamos no século XiX, o poder
central estava economicamente
fraco, tínhamos perdido a nossa
soberania, como muitos países na
época. a ocupação não foi bem
aceite pelos tunisinos e sobretudo
pelas elites.
No século XiX, o reformismo foi
a principal escola de pensamento
que marcou as elites. isso explica
o consenso nacional em assegurar
as bases de uma sociedade moder-
na e aberta, nomeadamente, pela
emancipação da mulher. em 1956
acedemos à independência e o pri-
meiro acto importante foi o código
do estatuto pessoal que concedeu
a liberdade à mulher. em 1987, sob
o comando do presidente ben ali,
foram promulgados outros actos
para conceder mais liberdade à
mulher, a participação efectiva na
vida política: hoje, a mulher ocupa
25% dos lugares no parlamento. o
presidente da república declarou
recentemente num discurso que “a
dignidade da nação é sinónima da
dignidade da mulher, a sua invul-
nerabilidade depende da dela”. isto
significa o quanto é importante o
estatuto da mulher no nosso país,
a tunísia.
a sociedade civil portuguesa não
conhece esta realidade de um país
árabe-muçulmano.
em portugal talvez. somos um país
que regista realizações e perfor-
mances, que é eficaz, mas que
pode ser discreto. hoje, a mulher
na tunísia é um exemplo na nossa
área geográfica árabe-muçulmana.
Ninguém pode por em causa estes
direitos adquiridos. hoje as mu-
lheres estão presentes em todos
os sectores de actividades. isto
é tanto mais importante porque a
tunísia não é um país laico. mas, a
nossa leitura da tradição islâmica é
moderna e aberta. a nossa leitura
inspira-se na escola reformista. o
véu branco ou preto, por exemplo,
não é uma tradição tunisina de
vestuário. temos uma juventude
muito bem formada, 80 por cento
dos tunisinos faz parte da classe
média e têm casa própria. a po-
breza recuou graças à educação,
à formação e ao emprego. No
aspecto social, a solidariedade é
um valor essencial na tunísia. a
tunísia é o país mais competitivo,
em áfrica. somos um país muito
bem gerido. temos uma população
jovem, bem formada. entre 300 a
400 mil estudantes continuam os
seus estudos nas universidades
na tunísia. relativamente à quali-
dade de vida, somos os melhores
classificados no mundo árabe. No
magrebe e em áfrica, a tunísia é o
primeiro país em matéria de pro-
moção das tic. a tunísia é o 1º
país do Norte de áfrica em matéria
de boa governação e o país mais
tranquilo do continente africano.
Quem julga isso?
as agências de notação, as institui-
ções internacionais reputadas pela
sua neutralidade e objectividade:
o relatório sobre a competitivida-
de global, o relatório mundial de
Davos sobre a competitividade, o
relatório anual “Doing business”
sobre enquadramento de negócios,
o relatório “Global peace Índex”,
etc.
E quais são as relações com os
EUA ?
mantemos boas relações com os
e.u.a.. o nosso ministro dos Negó-
cios estrangeiros reuniu-se recen-
temente com hillary clinton. temos
excelentes relações praticamente
com todos os países.
Ainda não falámos do sector
turístico…
as nossas vantagens neste sector
são inegáveis : a nível geográfico
somos um país situado mesmo no
centro do mediterrâneo, com um
clima favorável ; um país estável e
muito moderno, muito aberto e que
tem uma qualidade de vida exce-
lente. apostamos na qualidade e
na excelência dos nossos serviços.
como sabem na área da talasso-
terapia, somos o segundo destino
no mundo. recebemos anualmente
perto de 40 mil turistas portugue-
ses. e há cada vez mais tunisinos
a visitar portugal. n
Mohamed Ridha Farhat
Embaixador da República da Tunísia
42 • Diplomática - julho/setembro 2010
Por uma África livre e seguraDa ineficaz OUA à esperança da UA
O desejo não se verificou. Quando a 25 de
maio de 1963, 32 países africanos indepen-
dentes assinaram a constituição da organi-
zação da unidade africana (oua), em addis
ababa, etiópia, por iniciativa do imperador
etíope haile selassié, este proclamou: “que
esta convenção dure 1.000 anos!” contudo,
tal não viria a acontecer. bastaram apenas 39
anos para a unidade se desmanchar.
Numa altura em que o continente africano
ainda estava longe da descolonização, a oua,
assente numa presidência rotativa, decidida
em cimeiras anuais regulares, surgiu para
acabar com essa situação e libertar os povos
da áfrica austral sujeitos ao domínio branco.
angola, moçambique (na altura governados
por portugal), rodésia e sudoeste africano
(actualmente Zimbabwe e Namíbia, respecti-
vamente) ambicionavam seguir as pisadas da
liberdade de países já independentes, como o
Gana e o senegal. Forças especializadas de
libertação como o mpla, a sWapo, a Frelimo
e o aNc eram financiadas, treinadas e abas-
tecidas com armas, por esses países livres e
pelo comité coordenador da libertação de
áfrica, para lutarem pela descolonização.
para além deste primordial objectivo, a or-
ganização expressou na constituição pro-
mover a unidade e solidariedade, coordenar
e intensificar a cooperação entre os estados
africanos; coordenar e harmonizar as políticas
dos estados membros nas esferas política, ➤
AliAnçAs
43julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ diplomática, económica, educacional, cultu-
ral, da saúde, bem-estar, ciência, técnica e de
defesa, entre outros.
mesmo com a associação de todos os países
africanos (a seguir à sua independência) as
intenções da oua nem sempre se revelaram
eficazes, sendo incapaz de evitar os inúme-
ros conflitos que assolaram o continente e de
exercer pressão junto da comunidade interna-
cional.
perante esta ineficácia e inoperância, os
chefes de estado e de Governo decidiram na
38ª, e última, cimeira da oua, realizada em
Durban, áfrica do sul, a 8 de julho de 2002,
colocarem um ponto final na organização
e erguerem uma nova união, presidida pelo
sul-africano thabo mbeki. Nasce formalmente
a união africana (ua), que vinha a ser prepa-
rada desde o ano de 1999, e que teve a sua
primeira cimeira nos dias 9 e 10 de julho de
2002.
a mais recente organização pan-africana, co-
mandada actualmente pelo diplomata gabonês
jean ping, segue a linha da sua antecesso-
ra, mas assumindo outro nível de ambição e
valorização de áfrica na cena mundial, “essen-
cialmente por via da ajuda pública ao Desen-
volvimento e do estabelecimento de estraté-
gias de prevenção e resolução de conflitos
regionais”. Na base dos objectivos continuam
o reforço da promoção da paz, da segurança
e da estabilidade, dos Direitos humanos e da
Democracia, e de uma integração económica
regional no continente africano, apoiados pelo
programa de desenvolvimento – “New partner-
ship for africa’s Development”.
ainda recentemente foi assinado um acor-
do entre esta organização e a comissão da
união europeia (ue), relativo à luta contra a
corrupção e à violação dos Direitos humanos
e a favor do reforço da ajuda aos deslocados
nos países africanos.
No novo acordo de cooperação assinado
pelo presidente da comissão europeia, josé
manuel Durão barroso, e pelo presidente da
comissão da ua, jean ping, as duas organi-
zações intergovernamentais comprometem-se
a lutar juntos contra a corrupção, a má gover-
nação e a violação dos direitos humanos. o
tratado obriga ainda a ua a obter o compro-
misso político dos seus 53 estados-membros
sobre a necessidade de lutar contra a violação
dos direitos humanos e a elaborar um plano
de acção sobre a maneira de obter apoio polí-
tico no quadro deste objectivo.
a ua, numa transição gradual, cinge a oua
e a comunidade económica africana para
uma organização única, convergindo o espí-
rito de uma unidade política, económica e de
segurança. Neste capítulo da segurança e da
defesa, a criação das asF, que congregam
actualmente cinco brigadas, constitui-se como
um forte mecanismo de reacção rápida da
ua para a prevenção e, especialmente, para
a resolução de conflitos regionais em áfrica.
rotula-se como a melhor aposta para gerir
as múltiplas crises regionais que teimam em
persistir.
a nova organização africana apresenta-se
agora mais parecida com o modelo de integra-
ção europeu, assente numa estrutura em que
se destaca o secretariado ou a comissão afri-
cana, o parlamento pan-africano e o tribunal
de justiça africano.
atendendo à complexa realidade dos estados
africanos, que ainda se encontram entre os
menos desenvolvidos e pacíficos de todos, a
união tem conseguido alcançar alguns êxitos.
um deles está no próprio nome da organi-
zação, a união. e refira-se que não é fácil
conseguir congregar praticamente todos os
países de áfrica em torno das mesmas causas
e a ua concebeu essa proeza. 53 estados
independentes associados, à excepção de
marrocos que ficou de fora da organização.
ainda, fez com que as organizações “não
africanas” vissem na ua o parceiro ideal para
desenvolverem as suas políticas africanas e
tem-se revelado um mecanismo estabilizador
de conflitos regionais e entre estados, real-
çando, também, o apoio ao desenvolvimento
sustentado e a aplicação da diplomacia.
Não se sabe quantos anos esta união vai
durar, mas, por enquanto, é um organismo
inviolável em áfrica e respeitado pela comuni-
dade internacional, que o classifica como um
relançamento refinado da oua.
O dia de África (25 de Maio) foi comemorado
pelo Embaixador da Tunísia, Mohamed
Ridha Farhat que recebeu todos os diplomatas
de países africanos acreditados em portugal,
presenteando-os com um magnífico cocktail ➤
44 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤ acompanhado de típicas iguarias tunisinas.
o estado português também se fez represen-
tar pelo secretário de estado dos Negócios
estrangeiros. joão Gomes cravinho, e todos
os presentes, ouviram o embaixador Farhat a
discursar sobre a ocasião, tendo citado algumas
frases do discurso do presidente da comissão
da união africana. Ficam então alguns excertos
de jean ping, proferidos por mohamed Farhat:
“todos os anos celebramos nesta data o Dia
de áfrica. este ano, queríamos que o tema
fosse “o da consolidação e manutenção da
paz através do desporto”. a algumas semanas
da 19ª edição do mundial de Futebol, organi-
zado pela primeira vez na sua história no nos-
so continente, este tema assume a sua plena
dimensão. mete em evidência, a vontade afri-
cana em exercer todos os esforços possíveis
para cumprir a visão de uma áfrica que goza
de paz, integrada, próspera e desempenhando
um papel dinâmico no concerto das Nações.”
(…) “o desporto é um símbolo de encon-
trar unidade, de reconciliação nacional,
um meio por uma nação, além de todas as
divisões, de comungar com fervor, com a
graça da “união sagrada” atrás da equipa
nacional. o presidente Nelson mandela
disse que “o futebol, assim como o râguebi,
o críquete e os outros desportos colectivos,
têm o poder de curar as feridas”. É um le-
gado que o continente, como toda a popula-
ção da áfrica do sul, pode dar não somente
orgulho mas também ensinamentos.”
(…) “Num continente que continua a ser um
terreno privilegiado de conflitos apesar de
a operacionalização de muitos dos nossos
instrumentos e nossos esforços incansáveis,
numa região do mundo com o maior número
de refugiados e pessoas deslocadas e onde
num número de processo de reconstrução
pós-conflito estão envolvidos, o desporto tam-
bém é uma ferramenta essencial, que, por um
lado, cria laços e vínculos entre as comunida-
des que foram divididas pelo conflito e tam-
bém melhora a relação de forças e missões de
paz com os povos civis.”
(…) “pela minha parte, neste novo contexto de
globalização da qual áfrica é definitivamente
uma parte integrante e agente e, neste ano de
2010, durante o qual vários estados africanos
comemoraram o cinquentenário da sua inde-
pendência, estou confiante que vai finalmente
realizar este sonho por tanto tempo acalenta-
do por nossos pais fundadores duma áfrica
independente, unida, próspera e em paz. tal
como sugerido no lema olímpico, não pode-
mos definir os limites do nosso esforço colecti-
vo para estabelecer o desenvolvimento sus-
tentável do nosso continente. Não prescrevemos
limites no nosso continente. permanecermos
sempre campeões ambiciosos e altamente efi-
cientes para garantir todo o futuro e a paz do
continente. Citius, Altus, Fortius! mais rápido,
mais alto, mais forte! Vamos permanecer uni-
dos para uma áfrica que sabe como ganhar!” n
Por uma África livre e segura
Da ineficaz OUA à esperança da UA
presidente da comissão da ua, jean ping
altino pinto
46 • Diplomática - julho/setembro 2010
O próximo aniversário da Vitória na segunda Guerra
mundial é o mais importante evento político. para nós,
como repetidamente destacou o presidente da rússia,
Dmitry medvedev, essa data é sagrada. uma menção
ao Dia da Vitória inadvertidamente faz com que aperte
dolorosamente o coração de cada cidadão da rússia.
como se diz na canção dedicada a essa Vitória, “Dia
da Vitória é um feriado com as lágrimas nos olhos.” É
pouco provável que até agora -– 65 anos depois – na
rússia, haja uma família que não tivesse sido afectada
pelas chamas da guerra. Grande Vitória é uma herança
espiritual comum a todos os povos da antiga união so-
viética. Nossos pais e avós não só defenderam a nossa
liberdade e salvaram a pátria – eles libertaram a europa
da escravidão nazista.
os factos históricos indicam que o papel decisivo na
derrota do nazismo foi desempenhado pela união sovié-
tica. em 1944, o comprimento da frente soviético-alemã
foi quatro vezes mais do que todas as frentes somadas
em que os aliados da união soviética lutaram contra a
alemanha. Na segunda frente na europa ocidental, em
junho de 1944, o número de tropas alemãs não exce-
deu os 560 mil. ao mesmo tempo, na frente soviética, o
número de tropas alemãs chegou a 4,5 milhões. as suas
baixas maiores as tropas nazistas sofreram lutando con-
tra o exército soviético: 70 por cento de pessoal e 75 ➤
65 Anos da Grande Vitória artigo do embaixador da rússia em portugal pavel petrovsky
Предстоящий юбилей Победы во Второй мировой
войне – важнейшее общественно-политическое
событие. Для нас, как неоднократно подчеркивал
Президент Российской Федерации Д.А.Медведев,
эта дата священна. Одно упоминание Дня Победы
невольно заставляет сжиматься сердце каждого
россиянина. Как поется в посвященной ей песне,
«это – праздник со слезами на глазах». Вряд ли даже
сейчас – 65 лет спустя – в России найдется семья,
которую не опалило бы пламя войны. Великая Победа
– общее духовное достояние всех народов бывшего
Советского Союза. Наши отцы и деды не только
отстояли нашу свободу и спасли Отечество – они
освободили Европу от фашистского порабощения.
Исторический факты свидетельствуют, что решающую
роль в разгроме нацизма сыграл Советский Союз.
В 1944 году протяженность советско-германского
фронта была в 4 раза больше, чем всех фронтов,
где воевали союзники СССР, вместе взятых. На
втором фронте в Западной Европе в июне 1944 года
численность немецких войск составила не более 560
тысяч. В то же время на советско-германском фронте
их количество достигало 4,5 млн. человек. Свои
основные потери гитлеровские войска понесли в боях
против Советской Армии: 70% живой силы и 75% всей
военной техники. Советский Союз с его территорией, ➤
65 ЛЕТ ВЕЛИКОЙ ПОБЕДЫ
Histórias e vitórias
47julho/setembro 2010 - Diplomática •
polónia. monumento em homenagem dos soldados soviéticos e polacos que perderam as vidas nas batalhas para libertar a Varsóvia
48 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤ por cento de todos os equipamentos militares. a união
soviética no seu território, nas suas cidades e vilas en-
frentou o impacto principal da invasão de hitler.
as batalhas decisivas, que determinaram o resultado da
guerra, também ocorreram na parte da frente soviética:
a batalha de moscovo (Dezembro de 1941 - janeiro de
1942), a derrota do exército de paulus em estalinegrado
(Novembro de 1942 - Fevereiro de 1943), e finalmente
a batalha do arco de Kursk (julho-agosto de 1943).
estas e outras vitórias foram conseguidas com enormes
custos. centenas de milhares de soldados e oficiais sovi-
éticos arriscaram as suas vidas nos campos de batalha.
mesmo os nossos aliados ocidentais não poderiam dei-
xar de reconhecer esses factos óbvios: “Foi precisamen-
te o exército russo que rasgou as entranhas da máquina
de guerra alemã” (Winston churchill).
24 países do mundo inteiro declararam 27 de janeiro
como o Dia da memória das Vítimas do holocausto. Foi
precisamente nesse dia que as tropas soviéticas liber-
taram um dos mais horríveis campos de morte – aus-
chwitz, no qual os nazistas tinham assassinado quatro
milhões pessoas. por além disso, o exército soviético
libertou também o campo de extermínio de majdanek, na
polônia, onde os nazistas tinham exterminado 360 mil
pessoas; belzec na polónia, onde os nazistas extermi-
naram 602 mil pessoas; trostenets na bielorrússia, onde
os nazistas tinham queimado e torturado mais de 207 mil
pessoas; salaspils na letónia, onde os nazistas assassi-
naram as crianças, utilizando o sangue dos miúdos para
os soldados nazistas feridos.
para um céu pacífico sobre a europa, a união soviética
pagou um preço muito alto – na segunda Guerra mundial
nós perdemos 26,6 milhões de pessoas. só no território
da rússia actual foram destruídas 1710 cidades, mais
de 70 mil aldeias... pensem bem sobre esses números.
Não é por acaso que, durante a celebração, em junho
de 2009, do aniversário do desembarque dos aliados no
norte da França, o presidente dos estados unidos, bara-
ck obama enfatizou a contribuição da união soviética na
Vitória sobre o nazismo.
No entanto, os anos passam, e muitas das testemunhas
vivas dos acontecimentos da segunda Guerra mundial já
não estão connosco. e agora, para agradar à conjuntura
política, ganha força uma tendência crescente para a
livre interpretação, ou mesmo para a revisão da história
da segunda Guerra mundial. com isso estão a ser pos-
tos em dúvida os resultados daqueles eventos trágicos
que estão consagrados na carta das Nações unidas e
noutros documentos legais internacionais.
Nas interpretações politizadas que estão a ser introduzi-
das na sociedade internacional vê-se claramente o ➤
➤ с его городами и деревнями принял на себя
основной удар гитлеровского нашествия.
Решающие сражения, предопределившие исход
войны, также произошли на советско-германском
фронте: битва под Москвой (декабрь 1941г.-январь
1942г.), разгром армии Паулюса под Сталинградом
(ноябрь 1942г.-февраль 1943г.) и, наконец, сражение
на Курской дуге (июль-август 1943г.). Эти и другие
победы доставались огромной ценой. Сотни тысяч
советских солдат и офицеров положили свои жизни
на полях сражений. Даже наши западные партнеры
не могли не признать очевидных фактов: «Именно
русская армия выпустила кишки из германской
военной машины» (У.Черчилль).
24 страны мира объявили 27 января Днем памяти
жертв Холокоста. Именно в этот день советские
войска освободили один из страшнейших лагерей
смерти – Освенцим, в котором нацисты уничтожили
4 миллиона человек. Советской армией были
освобождены также лагеря смерти Майданек
на территории Польши, в котором нацистами
были уничтожены 360 тысяч человек, Белжец в
Польше, в котором нацистами были уничтожены
602 тыс. человек, Малый Тростенец в Белоруссии,
в котором нацистами было сожжены и замучены
207 тыс. человек, Саласпилс в Латвии, в котором
убивали маленьких детей, забирая у них кровь для
гитлеровских солдат.
За мирное небо над Европой Советский Союз
заплатил очень высокую цену – во Второй мировой
войне мы потеряли 26,6 миллионов человек. На
территории только нынешней России было разрушено
1710 городов, уничтожено более 70 тысяч деревень…
Вдумайтесь в эти цифры. Не случайно, что во
время празднования в июне 2009 года юбилея
высадки союзников на Севере Франции Президент
Соединенных Штатов Б.Обама особо отметил вклад
Советского Союза в победу над фашизмом.
Однако годы идут, и многих из живых свидетелей
событий Второй мировой войны уже нет с нами. И
теперь в угоду политической конъюнктуре нарастает
тенденция к вольной трактовке, а то и вовсе ревизии
истории Второй мировой войны. При этом сомнению
подвергаются закрепленные в Уставе ООН и других
международно-правовых документах итоги тех
трагических событий.
В насаждаемых в международном сообществе
политизированных трактовках истории явно видно
стремление пересмотреть итоги Нюрнбергского
процесса, на котором были четко определены
инициаторы и виновники этой войны, дана ➤
65 Anos da Grande Vitória
49julho/setembro 2010 - Diplomática •
1. Vítimas do campo de
extermínio
2. as tropas soviéticas
vencedoras
1
2
50 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤ desejo de rever os resultados dos julgamentos de Nu-
remberga, que foram claramente definidos pelos iniciado-
res e perpetradores dessa guerra, foi dada a qualificação
da ideologia nazista e dos crimes nazis. rússia sempre
repudiou e vai repudiar as tentativas de se fazer uma al-
teração da história do século XX, incluindo as tentativas
de alteração das decisões da conferência de potsdam e
do veredicto do tribunal de Nuremberga.
alguns dos nossos vizinhos acentuam a “partilha” da
europa oriental na véspera da guerra entre a urss e
a alemanha. e, além do mais, ninguém faz caso da po-
lítica de apaziguamento da alemanha nazista realizada
pelas potências ocidentais, o que resultou no fim de con-
tas no acordo de munique. ao pronunciar o discurso em
1 de setembro de 2009 em Gdansk, na cerimónia que
marcou o 70º aniversário do início da segunda Guerra
mundial, o primeiro-ministro da rússia, Vladimir putin,
afirmou nomeadamente “que qualquer cooperação com
os extremistas, relativamente à segunda Guerra mun-
dial, com os nazistas e os seus colaboradores, por mais
que ela seja motivada, leva à tragédia. Na realidade, isto
não é cooperação, mas uma colusão a fim de resolver os
seus problemas por conta dos outros. então, temos que
admitir que todos os esforços empenhados entre os anos
1934 e 1939 para apaziguar os nazistas, ao concluir com
eles vários tipos de acordos e pactos eram de ponto de
vista moral inaceitáveis e, do ponto de vista prático e
político, absurdos, prejudiciais e perigosos. Foi o conjun-
to de todas essas acções que levou a esta tragédia – ao
início da segunda Guerra mundial”.
Na realidade, tudo o que aconteceu na europa nos anos
precedentes à guerra é uma tragédia sem heróis, em que ➤
➤ квалификация нацистской идеологии и нацистских
преступлений. Россия давала и будет давать отпор
попыткам провести ревизию истории ХХ века, в т.ч.
пересмотреть решения Потсдамской конференции и
приговор Нюрнбергского трибунала.
Некоторые наши соседи делают упор на “разделе”
Восточной Европы накануне войны между СССР и
Германией. При этом начисто игнорируется политика
умиротворения фашистской Германии западными
державами, вылившаяся в конечном итоге в
Мюнхенский сговор. Выступая 1 сентября 2009 г. в
Гданьске на церемонии, посвященной 70-й годовщине
начала Второй мировой войны, Председатель
Правительства Российской Федерации В.В.Путин,
в частности, сказал, «что любое сотрудничество с
экстремистами, а применительно ко Второй мировой
войне – с нацистами и их приспешниками, чем бы
это сотрудничество ни мотивировалось, ведет к
трагедии. По сути, это и не сотрудничество вовсе, а
сговор с целью решить свои проблемы за счет других.
Значит, надо признать, что все предпринимавшиеся
с 1934 года по 1939 год попытки умиротворить
нацистов, заключая с ними различного рода
соглашения и пакты, были с моральной точки зрения
– неприемлемы, а с практической, политической точки
зрения – бессмысленными, вредными и опасными.
Именно совокупность всех этих действий и привела к
этой трагедии, к началу Второй мировой войны».
По сути, все, что происходило в Европе в
предвоенные годы, – трагедия без героев, в которой
даже жертвы на определенном этапе выступали как
пособники агрессора. И теперь, спустя 65 лет, ➤
“chamas eternas” – símbolo
da Grande Vitória
65 Anos da Grande Vitória
51julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ mesmo as vítimas, em certo momento, eram cúmplices
do agressor. e agora, 65 anos passados, certos círculos
percebem que não têm nada de que podem estar orgu-
lhosos durante aquela batalha histórica entre o bem e o
mal, a luta dos povos contra o nazismo – eles percebem
isto e sentem os acessos dolorosos da russofobia e
recorrem à falsificação da história.
Gostaria de lembrar a essas pessoas que a memória
não é um meio de vingança, mas um instrumento criador,
que pode e deve ser utilizado exclusivamente para fins
pacíficos, para construir uma base sólida para a europa
do futuro, e não para acertar as contas e tirar o proveito
político de cada minuta. para a europa contemporânea
os desfiles de homens da ss realizados nos países que
“pretendem em respeitar os valores democráticos” são
amorais e antinaturais.
Nós não dividimos a vitória em percentuais nem em
1945, nem hoje. juntamente com os nossos aliados da
coligação antifascista celebrámos o aniversário da aber-
tura da segunda frente, e juntamente celebraremos os 65
anos da Vitória em moscovo. a segunda Guerra mun-
dial foi ganha por todos os participantes da campanha
anti-hitler. Foi a nossa Vitória comum. mas ninguém tem
direito de menosprezar o preço pago pelo nosso país
e pelo nosso povo durante a guerra, nem subestimar a
escala dos crimes dos nazis, e muito menos heroizá-los.
o nosso dever perante aqueles que pagaram com o seu
próprio sangue pela salvação da humanidade do fas-
cismo consiste, antes de tudo, em colocar uma barreira
segura no caminho de proliferação das ideias de intole-
rância, supremacia racial, nacional ou religiosa, quais es-
condem as pretensões para o domínio mundial e servem
de base para novas ameaças.
o 65º aniversário da Vitória não se deve tornar o moti-
vo de confronto, servir como meio de acertar as velhas
contas e ofensas mútuas. É simbólico que a organização
das Nações unidas declarou 8 e 9 de maio os Dias da
memória e reconciliação. e é neste âmbito que serão
realizadas as celebrações em moscovo. o vindouro
aniversário da Vitória é em primeiro lugar o tributo à me-
mória e ao profundo reconhecimento de todos aqueles
que deram as suas vidas pela independência da nossa
pátria e trouxeram a esperada liberdade aos povos da
europa escravizados pelo nazismo. as comemorações
do aniversário da Vitória deverão servir de lembrete
daquele enorme potencial espiritual que têm a rússia e o
seu povo. por isso a história da Grande Guerra patriótica
e da segunda Guerra mundial são para nós uma fonte
incessante de força e confiança no futuro. para todas as
pessoas honestas o feriado da Vitória permanecerá um
dia luminoso e sagrado. n
➤ определенные круги понимают, что им особенно
нечем гордиться в период той исторической битвы
добра со злом, борьбы народов против нацизма –
понимают и испытывают болезненные комплексы
русофобии и прибегают к фальсификациям истории.
Хотелось бы напомнить этим деятелям, что память
– это не орудие мести, а созидательный инструмент,
использовать который можно и нужно исключительно
в мирных целях, для строительства прочного
фундамента Европы будущего, а не для сведения
счетов и получения ежеминутной политической
выгоды. Для современной Европы аморальны и
противоестественны парады бывших эсэсовцев,
проводящиеся в странах, претендующих на
приверженность демократическим ценностям.
Мы не делили Победу на проценты в 1945 году, не
делим ее и сейчас. Вместе с нашими союзниками
по антигитлеровской коалиции мы отмечали
годовщину открытия второго фронта, вместе будем
праздновать и 65-летний Юбилей Победы в Москве.
Вторую мировую войну выиграли все участники
антигитлеровской кампании. Это была наша общая
Победа. Но никто не вправе ни принижать цену,
которую заплатили наша страна и наш народ в ходе
войны, ни приуменьшать масштабы преступлений
нацистов, и тем более их героизировать.
Наш долг перед теми, кто своей кровью заплатил за
спасение человечества от фашизма, состоит прежде
всего в том, чтобы поставить надежный барьер на
пути распространения идей нетерпимости, расового,
национального или религиозного превосходства,
за которыми скрываются претензии на мировое
господство, служащие почвой для новых угроз.
60-летие Победы не должно становиться поводом
для конфронтации, служить целям сведения
старых счетов и взаимных обид. Символично, что
Организация Объединенных Наций объявила 8 и 9
мая Днями памяти и примирения. В этом ключе будут
проведены и праздничные мероприятия в Москве.
Приближающийся юбилей Победы – это прежде всего
дань памяти и глубочайшей признательности тем, кто
отдал жизнь за независимость нашего Отечества и
принес долгожданное освобождение порабощенным
фашизмом народам Европы. Юбилейные торжества
должны послужить напоминанием о том огромном
внутреннем духовном потенциале, которым обладают
Россия и российский народ. В этом плане история
Великой Отечественной и Второй мировой войн
является для нас неиссякаемым источником силы
и уверенности в будущем. Для всех честных людей
Праздник Победы останется светлым и святым Днем. n
52 • Diplomática - julho/setembro 2010
Eduardo González Lernes por josé manuel teixeira
Embaixador de Cuba em Portugal
Foi membro activo na pré-Revolução cubana e continua a sê-lo no pós-Revolução. Eduardo Lernes repre-
senta pela primeira vez o seu país, como Embaixador, no continente europeu e considera Portugal um país
amigo, realçando os 90 anos de relações entre os dois países.
O Embaixador falou em exclusivo à Diplomática das relações bilaterais que aproximam cada vez mais
os dois Estados nos planos político, comercial, da saúde e do investimento, e analisou o relacionamento
divergente Cuba/EUA no primeiro ano da era Obama: “as expectativas e esperanças apontavam para uma
melhoria no relacionamento. Infortunadamente isso não se verificou.” ➤
Mala diploMática
53julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ Senhor Embaixador, conte-nos
um pouco do seu percurso de vida.
Vivi a pré-revolução e agora o
pós-revolução. Na minha infân-
cia estudei em escolas públicas e
mesmo antes da revolução estudei
numa escola de formação católi-
ca – maristas. No primeiro ano da
revolução incorporei-me no exército
para defender o país das agressões
estrangeiras. recebi treino de arma-
mento de artilharia anti-aérea, como
quase toda a minha geração. Depois
de passarem estes primeiros anos
mais violentos retomei os estudos e
ingressei na universidade para me
formar em jornalismo e em relações
internacionais. também, durante
esse período em que estudava,
trabalhei na aviação civil de cuba.
a carreira diplomática comecei-a no
ano de 1975 a trabalhar no ministério
das relações exteriores e passei
por todos os graus que existem na
diplomacia. o meu primeiro posto foi
na líbia, como terceiro secretário.
No final de cada missão voltávamos
a cuba para tomar conta da reali-
dade. Depois estive no líbano (dois
anos) e na síria (três anos). evoluía
um grau diplomático à medida que ia
para outro país. Fui então para outra
região, brasil, como conselheiro,
onde estive durante quatro anos e
pouco. regressei a cuba ao ministé-
rio das relações exteriores. a minha
primeira missão como embaixador
foi em moçambique (2001-05), tendo
posteriormente regressado ao meu
país, e em setembro do ano pas-
sado comecei a missão em portu-
gal. tenho seguido uma trajectória
que começou nos países do médio
oriente, américa latina, áfrica e
agora europa (portugal). houve uma
estratégia de adaptação à língua
e cultura. a “má língua” que falo
estudei no brasil. a culpa não foi dos
brasileiros nem dos professores, mas
minha. porque nós temos um proble-
ma, falamos espanhol e não somos
corrigidos pelos portugueses, porque
nos tentam entender. assim é mais
difícil melhorar. aquele que fala uma
língua totalmente diferente aprende
melhor a falar o português.
Qual a importância da Embaixa-
da de Cuba, neste momento, em
Portugal.
a importância da embaixada é pre-
cisamente a presença da represen-
tação de um país num país amigo e
esta embaixada tem muitos anos. a
história das relações entre portugal e
cuba têm já 90 anos. a embaixada é
o que permite um diálogo, uma apro-
ximação, analisar e pesquisar todas
as possibilidades de cooperação, de
comércio e relacionamento, e manter
viva essa amizade que existe entre
o povo de portugal com o povo de
cuba.
Como têm sido esses 90 anos
de relacionamento entre os dois
países?
posso dizer que o mais importante
é que o relacionamento nunca foi
interrompido. tem-se mantido sem-
pre e para nós é muito importante
nestes 50 anos de revolução termos
mantido sempre as relações. podem
ter tido altos e baixos, mas são mais
os altos que os baixos. tem existido
sempre um vínculo e um diálogo
franco e aberto entre as altas autori-
dades dos países.
Concretamente, neste momento,
quais são as relações entre Portu-
gal e Cuba nos aspectos político
e económico? E se a Embaixada
em Lisboa poderá ser uma antena
para a União Europeia ou se há
mais a tendência em ser Bruxelas
a ter diálogo com Havana?
Nós mantemos relações com a
união europeia (ue), como ue, mas
damos muita importância às relações
bilaterais com cada um dos países.
Neste caso, com portugal temos tido,
nos últimos tempos, uma aproxima-
ção ainda maior no plano bilateral
e, no meio desta crise, que todo o
mundo atravessa, estamos a anali-
sar as possibilidades de comércio,
de investimento em cuba, em áreas
que são de muito interesse. tem-se
desenvolvido o turismo de portugal
para cuba, algo muito importante,
e esperamos que ainda haja possi-
bilidades de um maior crescimento.
portugal dentro da ue tem tido uma
posição relevante. No ano passado
assinou o reatamento da cooperação
que tinha sido suspensa, em 2003,
por parte de toda a ue, com aquela
posição comum que se manteve des-
de 2003. ainda não está eliminada
definitivamente, ainda está suspen-
sa, mas tanto espanha como portu-
gal assinaram a declaração conjunta
para o reatamento da cooperação
com cuba. Nesta etapa estamos
precisamente na identificação de
possibilidades de aumentar os negó-
cios. o que acontece é que estamos
a atravessar uma crise na economia
mundial e é uma situação que tem
dilatado um pouco essas possibilida-
des. mas todos temos confiança que
vamos sair dessa crise e, precisa-
mente, por isso, continuamos essa
pesquisa para possíveis negócios.
Cuba tem na América Latina um
papel preponderante. Há uma ten-
dência para os países daquela re-
gião se aproximarem mais de uma
política cubana do que de uma
política americana. Nesse sentido,
o que é que acha que Cuba poderá
representar para Portugal como
antena (já temos o Brasil) de rela-
ções bilaterais?
acho que cuba poderia contribuir na
linha de aproximação entre portu-
gal e os países da américa latina.
logicamente que portugal tem um
estreito relacionamento com o brasil
por vínculos históricos, pela língua e
cultura, mas cuba poderá contribuir
na aproximação às caraíbas, à amé-
rica central e a todos aqueles países
com os quais cuba tem um estreito
relacionamento, que são ➤
54 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤ também uma prioridade para por-
tugal. Nós estamos nessa posição de
criar essa possibilidade de diálogo.
evidentemente que portugal já es-
tabelece contacto com países como
a Venezuela, méxico, argentina ou
outros países da região. cuba está
disponível para ajudar nesse objec-
tivo. eu penso que portugal poderia
desempenhar um papel importante
na região, tanto que portugal é um
país ibero-americano, compartilha-
mos lugares nessa organização nas
cimeiras que se realizam. No ano
passado foi aqui em portugal, ambos
somos fundadores desse movimento
e esse é o lugar específico para co-
laborarem ambas as partes. temos
um nível de identificação grande com
portugal na esfera internacional, lo-
gicamente que também há aspectos
com que não coincidimos, mas existe
o diálogo para procurar a aproxima-
ção. Nas Nações unidas, portugal
tem sempre votado contra o bloqueio
económico a cuba, sendo a favor de
uma resolução, tal como a ue que
tem tomado a mesma posição. por-
tanto, a posição de portugal contribui
para que haja essa unanimidade.
sabemos que também tem boas
relações com a Venezuela, assim
como nós, e caberia até a possibili-
dade de no futuro se realizarem ope-
rações triangulares em algum dos
nossos países. como existe também
a possibilidade de se fazerem em
países de áfrica, ou outros de língua
portuguesa, nos quais cuba participa
juntamente com portugal. estamos
então a estudar essa possibilidade
de cooperação triangular.
Com Angola sobretudo?
angola, quem sabe se não é o mais
indicado. angola tem um nível de
desenvolvimento maior e poder-se-ia
desenvolver uma cooperação trian-
gular ao nível do comércio ou inves-
timento.
Numa visita que o Senhor Embai-
xador fez a Viana do Castelo visi-
tou um parque eólico e manifestou
a intenção de um possível negócio
entre Cuba e a empresa de Viana
para o investimento nas energias
renováveis.
antes da visita a Viana do castelo
já era para cuba uma prioridade
de identificar as possibilidades de
comércio e cooperação de portugal
com cuba na área das energias
renováveis. É uma prioridade para
o nosso país. Na visita a Viana vi
uma grande planta duma indústria
para parques eólicos e pensámos
na possibilidade de investir nessa
cooperação. Devo realizar uma nova
visita a Viana já concretamente para
ir ver a planta de construção daque-
les equipamentos. creio que sim,
que haverá possibilidade de coo-
peração a esse nível porque reitero
que é uma prioridade para ambos os
países, tanto para importar estes ele-
mentos como para analisar a possibi-
lidade de desenvolver uma planta em
cuba. Funcionará como uma energia
alternativa. Não poderemos depen-
der só da energia eólica porque as
características meteorológicas não o
permitem. temos também o objecti-
vo de investir na energia hidráulica,
na qual portugal possui também tec-
nologia e experiência e tem, ainda, a
possibilidade de participar em algum
investimento. já na área do petróleo
existem projectos para a prospecção
dessa matéria-prima em cuba. e es-
tamos abertos para cooperar noutras
áreas com portugal.
Como funciona a política exterior
de Cuba?
primeiro de tudo respeitamos todos
os países do mundo. a maioria dos
países têm relacionamentos com
cuba. temos embaixadas em mais
de 119 países e 30 consulados
gerais e existem mais de 100 embai-
xadas dos mais variados países do
mundo em cuba. só aquele país que
não quer ter um relacionamento nor-
mal com cuba, que neste momento
são apenas os estados unidos da
américa (eua). cuba nunca rompeu
relacionamentos com ninguém. o
único país do mundo que tivemos
a iniciativa de romper relações foi
com israel no ano de 1973, devido
às agressões entre os povos árabes
e palestinianos. mas com o resto do
mundo nunca tivemos problemas.
cooperamos com vários países,
inclusive com países terceiro mundis-
tas. em áfrica temos uma presença
muito grande, contribuindo com mé-
dicos e professores em mais de vinte
países. em alguns países da ásia
temos também cooperação deste
tipo e na américa latina, na maioria
dos países, temos um relacionamen-
to muito amplo. cuba faz parte de
uma nova estrutura regional – alba
– aliança bolivariana para as amé-
ricas, e que foi criada por cuba e
Venezuela, às quais se têm juntado
mais países, permitindo um comércio
e uma cooperação sem nenhum tipo
de exploração. por exemplo: temos
uma cooperação na área da saúde –
a operação milagros – uma ope-
ração oftalmológica a pessoas que
estão quase cegas pelas cataratas.
Foram já submetidas a uma interven-
ção mais de um milhão de pessoas
que depois recuperaram a visão.
E a que cidadãos portugueses
também têm recorrido muito!?
sim, têm ido muitos portugueses
a cuba fazer essa operação. Nós
também criámos vários centros
oftalmológicos em vários países da
américa latina para que as pessoas
não tenham que se deslocar todas a
cuba. e assim é possível usufruir do
serviço no equador, peru, Venezue-
la, bolívia, onde temos seis centros
oftalmológicos que operam pessoas
que vêm da argentina e das caraí-
bas. mas a maioria das pessoas vem
a cuba. este é um programa que
na realidade constitui um milagre.
pessoas que não viam praticamente
nada e depois de operadas voltam ➤
Eduardo González Lernes
Embaixador de Cuba em Portugal
55julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ a ter visão. municípios de portugal
fizeram acordos com estes centros
em cuba e possibilitaram a alguns
utentes a operação.
Essa é também uma recente coo-
peração no ramo da saúde entre
os dois países.
sim, e também temos outros acordos
nessa área, tal como a presença
de médicos em território português.
temos 44 médicos na região do
alentejo e algarve. aqui em portugal
alguma imprensa tem feito críticas a
essa presença, ao que nós pergun-
tamos porque é que por 44 médicos
cubanos se faz tanto alarido quando
existem tantos médicos de outros pa-
íses e em muito maior quantidade?
Mas continua a existir falta de
médicos…
sim, sabemos que existe essa lacu-
na. mas aqui conhecerão melhor as
razões desse défice do que eu. ago-
ra nós não vemos nada contra essa
cooperação. se nós temos médicos
e em portugal precisão deles, então
não vejo por que não cooperar. e
se precisarem de mais, nós temos
e estamos dispostos a chegar a
acordo. temos médicos em mais de
70 países, o que corresponde a mais
de 37 mil médicos no exterior. só na
Venezuela temos quase 30 mil e em
áfrica também temos muitos. mas
não só colocamos médicos nesses
países como, também, estamos lá a
formar profissionais para futuramente
diminuirmos a presença médica. É
mais económico para todos enviar
os professores para formar médicos
no próprio país. assim estamos a
fazer em alguns países de áfrica.
cuba tem uma escola internacional
de medicina onde se formam por ano
entre quatro mil a cinco mil novos
médicos, sobretudo da américa
latina, que usufruem de bolsas de
estudo. alguns governos contribuem
economicamente para manter essa
faculdade.
Mudando um pouco de assunto, ➤
eduardo González lernes
56 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤ há sensivelmente um ano atrás
haviam muitas esperanças com
a eleição de Barack Obama. Hoje
que balanço faz?
as expectativas e esperanças com
a administração obama apontavam
para uma melhoria no relacionamen-
to divergente entre os eua e cuba,
produto do discurso de obama na
sua campanha. infortunadamen-
te isso não se verificou. mudaram
pequenas coisas com medidas ainda
tomadas na administração bush,
como o permitir que os cubanos resi-
dentes nos eua fizessem remessas
económicas para a família residente
em cuba, que pudessem viajar cada
ano para o país (porque bush tinha
proibido isso) e retomou o diálogo
migratório existente entre os dois
países, que começou mas não ainda
como deveria ser. Digo não como
deveria ser porque não tem explica-
ção colocar novamente cuba na lista
de países patrocinadores do terro-
rismo, quando os norte-americanos
sabem que cuba não tem nenhuma
participação no terrorismo. bem pelo
contrário, temos combatido o terro-
rismo. e por combatermos o terro-
rismo e descobrirmos actos temos
cinco cubanos presos nos eua, que
injustamente trabalhavam dentro de
grupos terroristas que operavam con-
tra cuba. ou seja, o que eles dizem
para o resto do mundo não é aplicá-
vel ao nosso caso. contudo, ainda
temos esperança que as coisas
possam mudar, que obama tome
a decisão correcta em cada caso e
em cada passo que dê em relação
a cuba. mas o que demonstrou até
agora não é positivo. o bloqueio con-
tinua igual, agora fomos colocados
na lista de terroristas e não permitem
que os cidadãos norte-americanos
viagem para cuba, a base de Guan-
tánamo continua igual, sem nenhum
objectivo estratégico militar, sendo
para eles uma forma de agredir poli-
ticamente um país. No entanto, nós
continuamos numa posição aberta
para o diálogo em qualquer tema
com as autoridades norte-america-
nas. Nós continuamos à espera e a
bola de pingue-pongue está do lado
de lá. eu também sei reconhecer
que para os eua é difícil ter um país
pequenino próximo das suas costas
que tem vivido sem depender deles
durante 50 anos. É para eles um fe-
nómeno político. primeiro diziam que
éramos um país satélite da união ➤
Eduardo González Lernes
Embaixador de Cuba em Portugal
57julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ soviética e ficou demonstrado que
a união soviética e o campo socialis-
ta acabaram nos finais dos anos 80
e princípios dos anos 90. passaram
mais de 20 anos e cuba continua a
caminhar sozinha, pelo meio saiu de
crises que viveu produto da queda
do campo socialista e teve uma
resistência muito grande, com base
no povo, que permitiu hoje estarmos
bem. tivemos um decrescimento
económico muito grande até ao ano
de 1994 e, a partir daí, começámos a
crescer. a recuperar de uma queda
de 85 por cento que tivemos nas re-
lações comerciais entre 1989 e 1993.
ou seja, temos demonstrado que
com vontade e unidade, e a pensar
no bloqueio, podemos ir em frente.
Neste momento todos os países so-
freram a crise internacional, mas nós
estamos muito mais preparados do
que antes para enfrentar esta crise.
O senhor Embaixador falou que
com a queda do Bloco Socialista
as relações comerciais tinham
caído 85 por cento. Tiveram que
parar com a construção social
para fazer hotéis como aposta no
Turismo?
sim, foi uma decisão económica es-
tratégica. ao perder 85 por cento do
comércio internacional priorizámos
o turismo para podermos ter uma
recuperação mais rápida. parámos o
desenvolvimento social durante um
período, que já trazia um ritmo muito
alto, para darmos prioridade ao tu-
rismo. e foi o que marcou a diferença
dos 200 mil turistas que recebíamos
para os 2 milhões e 400 que rece-
bemos em 2009, e continuamos a
trabalhar para receber mais. pois
esta é uma indústria que tem um
retorno rápido. cuba tem tudo aquilo
que os turistas procuram: tranquilida-
de, segurança, boas praias, cultura e
uma história muito rica.
Fale-nos um pouco da comemora-
ção dos 50 anos da Revolução e
porque é que esta Revolução era
tão necessária.
cuba esteve mais de 400 anos sob
a colonização espanhola, depois
mais de 60 anos sob influência do
neo-colonialismo norte-americano
e, por fim, deu-se o triunfo de uma
revolução social, em janeiro de
1959. cumpriu recentemente 51
anos e com um projecto social
desenvolvido que mudou todas as
características do nosso país. Deixou
de ser um país colonizado e depen-
dente, em que o único produto que
tinha para exportação era o açúcar.
hoje em dia, nesse aspecto, temos
também o níquel que antes estava
na posse norte-americana e agora é
nossa propriedade, e tem-se de-
senvolvido com parcerias de capital
estrangeiro, fundamentalmente do
canadá. temos ainda desenvolvido
um campo científico muito alto, para
um país de terceiro mundo como é
cuba, com uma produção de vaci-
nas bastante elevada e uma inves-
tigação biotecnológica de primeiro
mundo. há produtos que apenas
cuba produz, mais nenhum país no
mundo o faz, na área da biotecno-
logia, sendo uma fatia importante
de ingressos para o país. primeiro,
para chegarmos a este nível apos-
támos fortemente na política social
– educação gratuita e obrigatória até
ao 9º grau, eliminámos totalmente
o analfabetismo no segundo ano
da revolução, e implantámos um
sistema de saúde comparável ao de
qualquer país desenvolvido. cuba
tem, sensivelmente, um médico por
cada 156 habitantes e um total de
80 mil médicos formados a partir
de 1960. cuba perdera metade
dos médicos ao emigrarem para os
eua no primeiro ano da revolução,
produto da campanha do governo
norte-americano para nos tirarem
esses profissionais. em 1959, cuba
tinha seis mil médicos, emigraram
para os eua três mil. actualmente,
resultante do plano da revolução,
formam-se, cada ano, mais médicos
do que aqueles que ficaram no país
em 59. mais de três mil médicos por
ano, cubanos, sem contar mil/dois
mil que formamos anualmente de ou-
tros países. ou seja, temos dedicado
fundamentalmente os nossos recur-
sos para desenvolver algo que cuba
não tinha – o capital humano forma-
do. Não educamos apenas médicos.
Nas várias áreas das ciências somos
um dos países que maior quantidade
de estudantes (per capita) tem nas
universidades. isto porque o ensino
em cuba é gratuito, tendo toda a
gente o direito de estudar. essas são
as causas fundamentais, que por
um bloqueio tão violento, com actos
terroristas tão fortes contra nós, se
tem mantido a revolução cubana.
Durante muitos anos estivemos
isolados porque a maioria dos países
da américa latina tinham obedecido
às ordens americanas e romperam
os seus laços com cuba. hoje, pelo
contrário, não existe um país da
américa latina que não estabeleça
relações com cuba. el salvador, que
era o único país que faltava até ao
ano passado, também já reatou as
relações connosco. Falo na américa
latina, se falar no continente ameri-
cano todo, só um país não tem rela-
ções com cuba, que são os eua.
O senhor Embaixador tinha tam-
bém falado da importância da
Cimeira Ibéro-Americana…
a cimeira ibéro-americana é com-
posta por todos os países da améri-
ca latina e mais dois países ibéricos
– portugal e espanha. portanto, mais
uma razão para que exista uma boa
identificação entre cuba, ou países
latino-americanos, com portugal. e,
também, dos países da ue, os paí-
ses com que temos melhores víncu-
los são precisamente com portugal e
espanha.
Agora na situação actual, a gera-
ção que fez a Revolução está a
terminar o seu mandato de vida. ➤
58 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤ As novas gerações estão prepa-
radas para continuar a Revolução
cubana começada há 51 anos?
eu não diria que é a geração que fez
a revolução, mas sim a geração que
iniciou a revolução. a que iniciou a
revolução já completou 50 anos e
começaram entre os 20 e 30 anos
de idade, mas as gerações que se
seguiram são as que têm continua-
do a mantê-la, porque a revolução
não foi só o assalto ao Quartel de
moncada em 1953, ou a ida para a
sierra maestra. Foi um gesto herói-
co de derrubar uma ditadura militar.
contudo, a verdadeira revolução
começou a partir do primeiro dia de
1959, porque como já referi antes,
não era possível manter um país
subdesenvolvido, dependente, só
com uma luta de um exército rebelde
formado na guerra, ao qual se juntou
o povo todo para levar em frente
um processo em que a revolução
começou. portanto, têm participado
neste movimento tantas gerações
como as que têm vivido durante
estes 50 anos. eu entendo o sentido
da pergunta porque é precisamente
uma estratégia dos eua. pois, eles
falam que o fim biológico dos diri-
gentes da revolução acabará com a
mesma. acho que estes últimos três
anos têm demonstrado o contrário a
quem pensava que com a retirada de
Fidel castro não se poderia manter
mais esta luta. primeiro pensou-se
que cuba sem a união soviética não
se poderia manter. Depois que com
a saída de Fidel do poder, cuba não
resistiria. Fidel não está a dirigir os
destinos do país, indiscutivelmente
que é um líder histórico e uma refe-
rência em cuba, mas outras gera-
ções têm participado e a revolução
e o partido comunista cubano têm-
se preocupado por transladar para
as novas gerações a realidade que o
país tem vivido. a história, até agora,
tem sido vivida pelos pais, avós e
filhos dessa geração. considero que
em cuba vão haver mudanças, aliás,
já estão a haver, mas isso é uma
característica do desenvolvimento da
vida e da situação internacional. lo-
gicamente que cuba não pode viver
isolada do resto do mundo e tem que
estar atenta aos problemas que se
passam no mundo. o importante é
que temos de estar preparados para
enfrentar esses problemas. prova
disso é a crise financeira internacio-
nal que afecta todo o mundo. Nós
estávamos afortunadamente mais
preparados neste momento para en-
frentar essa crise do que se tivesse
acontecido há alguns anos atrás. ao
dizer isto não quer dizer que temos
uma economia forte, mas porque
temos um povo preparado, um nível
de educação muito alto e condições
para tentarmos resolver os nossos
próprios problemas sem dependên-
cia exterior. para termos tudo isto,
sem aplicar a força sobre os cida-
dãos, é porque o povo matem uma
unidade. e estou a falar de um povo
que mais de 60 por cento nasceu
depois da revolução.
O senhor Embaixador já é fruto da
Revolução.
eu era um fruto já maduro antes da
revolução porque tinha já 14 anos.
Não tive uma participação, antes
da ida para a sierra maestra, e isso
era um trauma que a minha geração
tinha, por não ter participado nessa
etapa. mas tivemos o privilégio de
poder participar na continuação. Foi
uma revolução muito forte. tive-
mos invasões externas, agressões
militares, actos terroristas. aí sim,
ainda na minha adolescência, tive
a possibilidade de participar. por
isso me sinto parte da revolução.
os nossos filhos têm a possibilida-
de de participar, de estudar, de se
formar e de contribuir para outros
países com médicos, professores,
soldados, entre outras coisas. ou
seja, é uma geração que tem vivido
um produto revolucionário e todos
têm tido a possibilidade de fazer
algo a favor dessa revolução. isto
desmente muito aqueles que dizem
que em cuba se vive uma ditadura
em que é usada a força. eu acho
que para qualquer pessoa que tenha
dois dedos de testa poderá perceber
muito facilmente que o povo cubano
nunca aceitou nem ditaduras nem
colonialismos, e como poderia acei-
tar um regime de força para manter
este nível de desenvolvimento e
sobretudo de participação e coope-
ração com outros países do mundo?
Nós temos isso como um princípio
e classificamos de pátria a huma-
nidade e não apenas o território
onde nascemos. um exemplo disso
é o que estamos a fazer no haiti.
Fala-se muito pouco da participação
de cuba naquele país, mas nós já
lá estávamos presentes antes do
terramoto e aumentámos ainda mais
a presença depois da tragédia. cuba
tem e continuará a ter no haiti uma
alta presença de médicos porque o
problema desse país não se resolve
em dois dias. haiti teve dois terramo-
tos: um histórico, de ser um país de-
plorado durante muitos anos porque
foi o primeiro país independente da
américa latina, e o outro catastrófi-
co que aconteceu no passado dia 12
de janeiro, que ainda não se sabe
ao certo quantas pessoas morreram.
então se somos e podemos ser
assim tão solidários, podemo-nos
questionar como é que é possível
isso acontecer num país que dizem
funcionar à base da força? isso não
tem cabimento. É só ir a cuba e até
perguntar a turistas que visitam o
nosso país. Não somos um paraíso,
mas também não somos o inferno
que alguns pintam. cuba tem pro-
blemas tal como tem qualquer país
do mundo. problemas económicos,
sociais, mas não paramos de traba-
lhar para os resolver e para termos
uma democracia socialista cada vez
mais justa. n
Eduardo González Lernes
Embaixador de Cuba em Portugal
60 • Diplomática - julho/setembro 2010
Chegou ao fim o legado espanhol sobre a presidência da
união europeia. Foi um semestre negro e atormentado pelo
agravamento da crise económico-financeira na Zona euro. À
partida para o mandato rotativo, josé luis rodríguez Zapa-
tero, sabia que seriam meses difíceis, agora, não esperaria
que fossem tão difíceis.
o presidente socialista do Governo espanhol tinha em mãos
um novo e prioritário dossiê a aplicar no espaço europeu dos
27 – o tratado de lisboa – aprovado a 1 de Dezembro de
2009 durante o mandato português. aliás, esse era um dos
pontos definidos no programa político da presidência espa-
nhola da ue, considerado como “um marco jurídico reforçado
para impulsionar a nova europa, a europa que necessitamos,
num momento extraordinário de significado político”.
um tratado que trouxe também novidades na liderança da
presidência. começando logo pelo próprio poder do líder da
presidência que ficou condicionado pelo cargo do presidente
do conselho europeu – herman van rompuy. É ele uma das
personagens principais da europa e que preside às ➤
Presidência espanhola marcada pela crise
lideranças - união europeia
josé luis rodríguez Zapatero
61julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ cimeiras europeias, tendo colocado Zapatero apenas no
papel de primeiro-ministro espanhol, e não como presidente.
mas o assunto principal que marcou a presidência espanhola
foi a crise. as expectativas iniciais, que iam no sentido duma
“maior coordenação das políticas económicas para gerir as
estratégias de saída da crise, para acelerar a recuperação,
para promover uma nova etapa de crescimento, para vol-
tar a criar emprego e para manter altos níveis de protecção
social”, foram por água abaixo à medida que no contexto
europeu se sucedeu precisamente o contrário. a dificuldade
em os estados acederem ao crédito e o consequente declí-
nio das suas economias, com o desemprego a aumentar em
flecha, colocaram a europa em sobressalto. Grécia entrou
na banca rota e espanha e portugal viram as suas taxas
de desemprego a baterem recordes, 19,7 e 10,8 por cento,
respectivamente. primeiro e quarto classificados, numa lista
publicada em abril pela organização para o Desenvolvimento
e cooperação económica (ocDe), em que constam também
a eslováquia (14,1 por cento) e irlanda (13,2 por cento). uma
Zona euro em alerta laranja com o desemprego nos 10,1 por
cento.
ainda no plano económico, espanha e Zapatero estiveram
sempre em cheque devido à possibilidade da ue e do Fundo
monetário internacional (Fmi) terem que recorrer a um plano
de apoio para ajudar o país, tendo essa possibilidade sido
negada por bruxelas e madrid.
já na última cimeira o tema não mudou. os chefes de esta-
do e de Governo dos 27 países-membros da união reuniram-
se em bruxelas para propor um governo económico europeu,
no sentido de impor uma disciplina orçamental, com sanções
agravadas aos estados mais imersos em endividamento.
outra das metas era o reforço da coordenação das políticas
económicas para uma maior cooperação na recuperação
económica.
o fortalecimento da unidade da europa no exterior foi outra
das aspirações de josé Zapatero que também saiu abalada
deste cenário.
Devido à crise foi uma presidência marcada pelo retrocesso
na recuperação económica da europa e em que a imagem do
governante sai fragilizada. No entanto, a liderança rotativa
do bloco europeu à bélgica também não se adivinha fácil, já
que começará com um Governo de gestão. o novo executivo
só deverá estar formado em setembro, conforme as palavras
do líder dos nacionalistas flamengos, bart De Wever, que
conquistou recentemente uma vitória histórica nas eleições
gerais da bélgica. n
62 • Diplomática - julho/setembro 2010
Enrique Santos - presidente da câmara de comércio e indústria luso espanhola
Um olhar da Presidência Espanhola da União Europeia
Agradeço à revista Diplomática - prestigiosa publicação que conta com uma
importante componente dedicada às relações internacionais - o convite que me
dirigiu para fazer um breve comentário à actuação da Presidência espanhola
da União Europeia, exercício com algumas dificuldades de abordagem dadas as
circunstâncias que a Presidência rotativa espanhola tem enfrentado desde a
sua tomada de posse em Janeiro deste ano. ➤
lideranças - união europeia
63julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ Desde logo existem duas fortes
condicionantes que inevitavelmente
têm dificultado a actuação da pre-
sidência espanhola. por um lado, a
recente entrada em vigor do tratado
de lisboa, após vários anos de du-
ras negociações, exigirá tempo para
implementar um novo modelo de
desenvolvimento económico para os
próximo anos fazendo uso das novas
competências e instrumentos deste
tratado, e a segunda condicionante
é a forte crise económica que assola
a europa e os mercados internacio-
nais.
É inquestionável que a espanha é
um país de forte vocação europeísta
e a presidência espanhola, apesar
das dificuldades que tem enfrenta-
do, tem dado sinais políticos claros
e valentia suficiente para ajudar a
criar uma união mais coesa, mais
solidária, com uma maior coordena-
ção entre as suas diversas institui-
ções, indo ao encontro dos cidadãos
europeus, princípios programáticos
do novo tratado e tem sido uma tó-
nica permanente nas declarações e
acções desenvolvidas pelos respon-
sáveis políticos espanhóis, nomea-
damente do presidente do Governo
espanhol.
Dito isto, fazer qualquer apreciação
sobre a actuação e resultados da
presidência espanhola em matéria
económica parece-me prematuro, até
porque só a partir da recente reunião
dos chefes de estado de março foi
discutido o chamado governo econó-
mico comum e debatidas as medidas
de vigilância e estímulo da estratégia
“europa 2020”, que ficará definitiva-
mente aprovada no conselho euro-
peu de junho deste ano, data que
coincidirá com o culminar da presi-
dência espanhola. É importante, no
entanto, destacar que este documen-
to conta já com os trabalhos efectua-
dos durante a presidência espanhola
pelos conselhos sectoriais da com-
petitividade, economia, educação,
Finanças, meio ambiente, politica
social e emprego e, desde o inicio
do ano, a presidência espanhola tem
dado provas de empenho e resposta
à crise económica e financeira na
europa, nomeadamente no combate
ao desemprego, apoio às pme´s,
fortalecimento do euro, promoção da
inovação empresarial, etc., colocan-
do a europa económica como actor
na cena internacional.
como presidente da câmara de co-
mercio luso espanhola não poderia
deixar de fazer referência às rela-
ções luso-espanholas na sua verten-
te económica e comercial, também
elas tiveram um forte dinamismo e
crescimento nos últimos anos gra-
ças, em grande medida, ao processo
de construção europeu. Desde a
integração dos dois países na união
europeia em 1986 que as relações
económicas e comerciais não para-
ram de crescer até ao ultimo quadri-
mestre de 2008, quando se inicia um
ciclo de forte desaceleração eco-
nómica em consequência da crise
económica e financeira internacional.
por exemplo, em 2009, as vendas
espanholas para portugal tiveram
uma quebra de 13,5 por cento e
as vendas portuguesas para espa-
nha de 22 por cento. teríamos que
recuar cinco anos para encontrar
volumes de transacções semelhan-
tes àquelas que se registaram em
2009. também nos investimentos se
verificou uma acentuada quebra, por
exemplo, nos investimentos brutos
espanhóis em portugal, em 2009, a
quebra foi de 65 por cento, em rela-
ção ao ano anterior.
perante estas dificuldades estou
convencido que os empresários,
verdadeiros motores da economia,
saberão encontrar as soluções e
retomar de novo a senda do progres-
so e do desenvolvimento e contribuir
para o fortalecimento de um mercado
ibérico mais consolidado no contexto
europeu e mundial. n
Os empresários,
verdadeiros motores
da economia, saberão
encontrar as soluções
e retomar de novo a
senda do progresso e
do desenvolvimento
64 • Diplomática - julho/setembro 2010
“A maior luta é dar a conhecer a companhia aérea e que o público perceba os nossos modos de trabalho”
José Mínguez - Delegado da air europa
Delegado da companhia aérea Air Europa em Portugal desde o ano passado, José
Mínguez tem uma experiência de 23 anos no sector do Turismo. Natural de Madrid,
nasceu a 20 de Abril de 1964 e estudou na Faculdade de Ciências Económicas e Em-
presariais. Começou a trabalhar, em 1987, nas Viagens Marsans, onde desempenhou
tarefas em vários departamentos relacionados com o grande público e directamente
com a direcção de empresas. Entretanto passou também pelo Carlson Wagonlit Travel
Espanha em 1998. Em 2002 começa a carreira na corporação onde ainda hoje se en-
contra – Globalia – para a Divisão Aérea da Corporação Air Europa.
Agora com o desafio de lançar a Air Europa no nosso país, José Mínguez falou-nos dos
vários planos em marcha. ➤
Gestores internacionais
65julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ A Companhia tem frota pró-
pria?
sim, tem. estamos a operar
três voos diários com frota
própria – lisboa ligação ma-
drid -, a partir de madrid temos
ligação com todo o mundo.
além do mais, o avião que faz
essa rota é ultra-moderno, com
tecnologia de ponta – embraer
195 – e tem capacidade para
122 passageiros. para cobrir-
mos a parte norte de portu-
gal temos a ligação de Vigo a
madrid.
É uma Companhia que opera
em viagens de pequeno, mé-
dio e longo curso. Também
têm viagens low-cost?
Não, e aliás, o mercado portu-
guês percebe que a air euro-
pa não é uma low-cost. para
termos uma ideia, a air europa,
enquanto dimensão, é pratica-
mente do mesmo tamanho que
a tap. a tap transportou em
2009 cerca de nove milhões
de passageiros, assim como a
air europa. e relativamente à
frota de aviões, se lhe descon-
tarmos a portugália, temos o
mesmo número de aparelhos
que a tap. contudo, somos
um pouco diferentes no que diz
respeito ao produto. o nosso
concorrente, aqui em portugal,
são todos, mas especificamen-
te é a ibéria que tem o mes-
mo produto que nós. util iza a
ligação a madrid, para a partir
de madrid fazer a ligação com
todo o mundo.
Que tipo de serviços tem a
Air Europa para oferecer aos
seus passageiros?
Fomos uns dos primeiros do
mercado europeu, dentro da
nossa companhia, a instalar o
check-in online, que é um ser-
viço bastante importante sobre-
tudo para os empresários, além
de um conjunto de outras van-
tagens, tais como: as classes
de voo business ou económica,
que são cada vez mais procu-
radas; outro serviço importante
é o cartão de fidelização. a
air europa pertence ao grupo
sky team, desde 2007, e ao
fazer parte do Grupo tivemos
que eleger um ramal de fideli-
zação com as companhias que
formam a sky team. e a air
europa elegeu junto da Klm
e da air France o Flying blue.
ou seja, é possível coleccionar
pontos com todas as compa-
nhias da sky team que de-
pois poderão ser trocados por
viagens, ou viajar em classe
superior. a nossa aliança, sky
team, é a mais importante da
europa e tem bons produtos
acessíveis a todos os passa-
geiros, e para os empresários
que estão acostumados a viajar
duas ou três vezes por sema-
na são vantagens importantes.
além mais, percebemos que
em portugal não se desagrega
em demasiado o mercado cor-
porativo do resto do mercado
do grande público. Nessa linha
estamos a fazer um esforço
junto das agências de viagens,
porque aqui em portugal se ca-
naliza tudo através das agên-
cias, estabelecendo acordos e
tarifários para que os clientes
possam usufruir das melhores
oportunidades.
Há mais algum tipo de parce-
rias? Por exemplo com ca-
deias hoteleiras, países, ou
outro!?
a esse nível teremos de falar
da corporação. a air euro-
pa é uma divisão aérea duma
holding de empresas que é
a Globalia. Dentro da Globa-
lia existem empresas como a
halcon Viagens, travelplan,
cadeias hoteleiras – hotéis oá-
sis, Grandforce (em espanha),
entre outras. além de diversas
parcerias que podem ser es-
tabelecidas por cada uma das
divisões a nível peninsular.
Para futuro haverá alguma
tendência para explorar o
mercado dos países de Lín-
gua Portuguesa? É que há
companhias que não voam
para esses países porque
não lhes dá lucro, a não ser a
TAP que tem obrigações. Têm
algum projecto futuro para
fazerem ligação, a partir de
Portugal, com os PALOP’s?
Quem sabe, mas por agora
seria demasiado precipitado.
estamos aqui desde 21 de
setembro unicamente a operar
uma rota e para esses efeitos
tem de ser uma companhia com
uma infra-estrutura sólida para
poder abrir mercados. Num
primeiro momento queremos
consolidar a ligação lisboa/
madrid e mais adiante porque
não pensarmos outros merca-
dos. mas em concreto ainda
não existe nada. Durante o ano
de 2009, a air europa cresceu
enquanto estrutura pelo que a
nível estratégico, no decorrer
deste ano, pensamos abrir no-
vas rotas. em 2009 criámos as
rotas de lisboa, Nova iorque,
entre outras, no mês passado
começámos a voar para lima
(peru) e durante este mês co-
meçaremos a voar para miami
e em junho, a nível da penín-
sula ibérica, começaremos com
quatro frequências diárias para
oviedo. Dentro deste contexto ➤
66 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤ macroeconómico mundial
convém não ficarmos parados
no tempo, senão corremos o
risco de não nos expandirmos.
Outros projectos? Falou-nos
dos objectivos a curto prazo,
e a médio e longo prazo exis-
tem alguns?
a médio prazo vamos também
começar a voar para o pana-
má. somos uma companhia aé-
rea com grande vocação para
a américa latina. É algo muito
importante tanto para espanha
como para portugal. penso que
devemos sempre ter um olho
do outro lado do atlântico.
Portanto a América Latina é
um dos objectivos!
sim, os nossos voos de longo
curso são na maioria para a
américa latina: buenos aires,
caracas, lima, panamá, cara-
íbas, havana, santo Domingo,
punta cana, cancun.
E Brasil?
para o brasil temos ligações
com salvador da bahia até ao
final do mês de abril, mas já
temos acordado o recomeço
dos voos para Novembro deste
ano.
A crise financeiro-económica
afectou muito o mercado da
aviação? Falo a nível empre-
sarial. Há pouco disse que
muitos estão a passar para
a classe turística, mas, além
disso, sentiu-se uma quebra ➤
José Mínguez
Delegado da Air Europa
67julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ de passageiros?
sim, mas temos vindo a rees-
truturar-nos para responder a
esse contexto. uma companhia
aérea tem de estar sempre
preparada para esses contex-
tos. apesar de não sermos uma
companhia tão grande como a
british ou a ibéria, mas a nível
da estrutura é preciso modifi-
car certos aspectos, como por
exemplo, ajustar tarifas, ana-
lisar se é rentável voar para
certos sítios. como consequên-
cia dessa crise este ano temos
transportado menos passagei-
ros que no ano anterior, mas a
nível de ingressos temos esta-
do muito próximos.
Mas não sentiram a crise
como, por exemplo, a Air Lu-
xor que teve de encerrar.
os problemas são os mesmos,
tal como comentávamos acerca
dos voos low-cost. o concei-
to low-cost é um conceito de
marketing, porque a estrutura
da low-cost na aviação são os
mesmos que para as outras
companhias. o que eles fazem
é que voam para aeroportos
de segunda categoria e assim
podem cobrar menos taxas por-
que é mais barato, cortam nos
serviços, conseguindo assim
tarifas mais baixas. se as com-
panhias low-cost voassem para
aeroportos de primeira, pres-
tassem os serviços normais,
a tarifa que daria seria igual
às praticadas pela tap, ibéria
ou air europa. as companhias
low-cost cobram a tarifa de em-
barque e os serviços abordo.
No fundo se usufruíres de to-
dos os serviços e tudo somado
dá a tarifa de uma companhia
aérea regular.
aliás, nesta época de crise, em
2009, o Grupo Globalia obteve
lucros de 30 milhões de euros,
e dessa quantia, a maior parte
foram gerados pela companhia
aérea. portanto, em época de
crise apresentar estes resulta-
dos dá para ter uma ideia do
trabalho desenvolvido, que foi
óptimo.
Para combater essa crise
têm planos estratégicos para
cativar passageiros, tal como
coleccionar milhas!? Que ou-
tras iniciativas têm?
Depende, se falarmos da ca-
tegoria business, em espanha
temos já um cartão próprio
para empresas que no futuro
tentaremos adaptá-lo ao mer-
cado português e para o mer-
cado geral a estratégia passa
por acordos com as
agências de via-
gens. À medida que
vão experimentando
o nosso produto os
clientes vão ficar sa-
tisfeitos com a sua
qualidade. É uma
frota que tem cerca
de três anos e meio,
com aviões muito novos, e algo
muito importante a que o pas-
sageiro português, que é muito
viajado, dá muito valor é à pon-
tualidade. e nesse aspecto a
air europa está bem classifica-
da, com média de 96 por cento,
que é algo muito importante.
Ultimamente têm acontecido
algumas companhias greves
de pilotos. Quer comentar?
efectivamente para as gran-
des companhias aéreas, se
têm problemas de estrutura,
é mais difícil de controlar que
isso aconteça, ao contrário do
que acontece nas companhias
médias. mas na air europa têm
manifestado o seu agrado para
com a estrutura.
Como classifica o trabalho
desenvolvido em Portugal?
Na verdade é que estamos a
trabalhar muito bem, relativa-
mente ao tempo que estamos cá.
a maior luta é dar a conhecer a
companhia aérea e que o públi-
co perceba os nossos modos de
trabalho. pois somos uma linha
aérea regular, com serviços aé-
reos regulares. Queremos que os
clientes fiquem satisfeitos e que
recomendem a companhia a ou-
tras pessoas. inicialmente o nos-
so principal objectivo é consolidar
a ligação lisboa/madrid e madrid/
lisboa e a partir daí desenvolver
os voos de longo curso.
O mais importante para um
passageiro que
viaja nestes voos
de ligação é o
tempo de espera
entre voos. Como
funciona isso?
a air europa, tal
como a tap, opera
no mesmo aero-
porto de madrid,
no terminal 1, 2 e 3. a ibéria
opera apenas no terminal 4,
junto de companhias low-cost.
Nós estamos nos terminais
principais que são muito mais
acessíveis. por exemplo, num
voo para palma de maiorca, o
passageiro chega ao terminal 3
e fica muito perto da porta de
embarque, esperando sensi-
velmente 25 minutos pelo voo.
Fica ainda muito próximo dos
terminais 1 e 2. essa vantagem
não é possível no terminal 4,
sendo necessário ir de trans-
porte, passar por controlos,
entre outras desvantagens. n
FOMOS UNS DOS PRIMEIROS A INSTALAR O CHECK-IN ONLINE, IMPOR-TANTE PARA OS EMPRESÁRIOS
j. m. teixeira e a. pinto
68 • Diplomática - julho/setembro 2010
Luís Palha da Silva - presidente da comissão executiva jerónimo martins
Luís Palha da Silva é Presidente da Comissão Executiva de um dos maiores grupos
portugueses com projecção internacional que actua no ramo alimentar, nos sectores
da Distribuição e da Indústria – Jerónimo Martins -, desde 2004.
Há nove anos na empresa, o Gestor e Administrador teve antes uma passagem pelo
Governo – na secretaria de Estado do Comércio -, e por uma cimenteira.
Em entrevista à Diplomática, Luís Silva fala da dimensão do Grupo e do seu sucesso
nos mercados do Leste. ➤
217 anos - tem sido um caminho de sucesso enorme e crescimento, muito importante”
Gestores InternacIonaIs
69julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ Foi importante ter sido membro
do Governo para a sua carreira
como Gestor e Administrador?
Não julgo que tenha sido particu-
larmente importante. acho que foi
mais importante para ser membro
do Governo ter alguma experiên-
cia empresarial do que o contrário.
em qualquer caso é sempre uma
experiência enriquecedora e os
curriculums das pessoas não ser-
vem só para se escrever os cargos
desempenhados, mas para se dizer
a riqueza das experiências que se
têm, os diferentes ângulos com que
se olham os problemas e nesse
sentido também não considero que
tenha sido tempo perdido e, de
alguma forma, teve alguns contri-
butos para as áreas onde depois
vim a trabalhar. Depois de sair no
Governo estive num sector com-
pletamente diferente daquele que
tinha regulado, estive no cimento. e
eu tinha estado na secretaria de es-
tado do comércio, onde uma parte
importante dos problemas tinha
a ver com o comércio alimentar.
cimento não tinha nada a ver com
o comércio alimentar. só passados
muitos anos, provavelmente mais
cerca de 6 ou 7 anos depois é que
vim para esta área. um conjunto de
fenómenos que tinha encontrado,
entre 1991 e 1995 que foi quando
estive no Governo, já era completa-
mente diferente e já vim encontrar
situações que praticamente não
conhecia do desenvolvimento do
sector e nesse sentido não houve
nenhuma transferência directa de
Know-how. agora são experiências
enriquecedoras, são experiências
que nos ajudam a não considerar
os casos que temos de resolver
como problemas a começar do prin-
cípio. tenho sempre alguma vanta-
gem em já ter trabalhado em alguns
dos temas. mas que se possa dizer
que tenha sido directamente impor-
tante não creio. É uma experiência
muito enriquecedora sim do ponto
de vista humano e cultural, mas do
ponto de vista técnico diria que não
foi um contributo especialmente
importante. Foi um contributo que
dei à causa pública.
E a carreira universitária?
Fui assistente na universidade
católica depois de ter acabado o
curso, mas nunca tive uma carreira
académica, foi apenas ocasional.
a universidade na altura, como
ainda hoje um bocadinho, tinha a
ideia para se ter uma boa escola
de Gestão também se têm de ter
pessoas que trabalhem na vida ac-
tiva empresarial. as vantagens são
muitas quer pelas experiências que
se trazem, pelos casos que podem
ajudar a trazer para cada uma das
discussões que se faz na universi-
dade, quer ainda porque depois há
uma ligação da própria universida-
de às empresas onde se trabalha,
e como sabe as universidades são
aquilo que ensinam e que ajudam a
criar empregos no futuro e, portan-
to, daí haver uma certa ligação que
a católica sempre teve a pessoas
que estavam colocadas em empre-
sas. portanto foi de interesse mútuo
que estivesse 5 ou 6 anos a dar au-
las, mas eu não tencionava seguir
carreira académica, obviamente
que tive de dar o lugar àqueles que
pensavam mesmo nessa vida.
Em regra, no seu sector de Ges-
tão e Economia conseguem uma
carreira académica e no sector
privado e vão para a banca ou
para os seguros. Consigo isso
não aconteceu, foi para um ramo
completamente diferente.
sim, normalmente são os sectores
mais visíveis e acaba-se por estar
com os holofotes em cima, mas
também tenho encontrado muita
gente noutras áreas. tenho colegas
com muita visibilidade pública que
estão nos mais variados secto-
res. aliás diria que a universidade
católica nesse aspecto tem contri-
buído bastante para a criação de
algumas.
Mais que a Universidade de ori-
gem, não é?
pois. Quer dizer agora já nem sei
muito bem qual a minha univer-
sidade de origem. tenho duas, a
primeira é o instituto superior de
economia e a universidade ca-
tólica, talvez por ter sido a última
tenhamos ficado mais ligados.
Porquê a Polónia como base para
a expansão económica do grupo
Jerónimo Martins?
a polónia foi onde tivemos mais
sucesso e onde adquirimos uma
posição de grande liderança no
mercado, que ainda conservamos.
Nós por volta do meio dos anos
90 com as dificuldades a que se
ia começando a assistir ao cresci-
mento do grupo em diversas áreas,
mas nomeadamente no retalho em
portugal, olhámos além fronteiras.
Foi também a altura da internacio-
nalização das empresas portugue-
sas e o jerónimo martins fez exac-
tamente aquilo que se esperava,
que era alargar os seus horizontes.
Não fomos exclusivamente para a
polónia, estudámos muitos outros
mercados. Na altura os países da
europa do leste estavam todos a
abrir e nós fomos estudar esses
mercados todos. a polónia, não
querendo desconsiderar os outros
países porque de facto fizeram par-
te do leque de oportunidades que
andámos a estudar, mas tinha uns
encantos muito especiais. o primei-
ro e importantíssimo, diferentemen-
te de alguns dos outros países da
europa do leste, era um país que
estava habituado à iniciativa pri-
vada, não era por grandes grupos
nem com enorme visibilidade, mas
nunca deixou de haver uma inicia-
tiva privada muito importante, até
de cariz quase agrícola em alguns
casos, mas sempre muito ligado à ➤
70 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤ área alimentar. mas portanto, uma
grande abertura aos novos investi-
mentos foi na altura importantíssi-
mo. um segundo ingrediente que
contou para a nossa decisão foi o
facto de ser o maior país, em popu-
lação, de toda a europa do leste
que se abriu e que saiu na altura da
esfera da rússia.
Já com algum poder de compra!?
muito limitado na altura. Quando
visitámos a polónia, o grupo teve
um enorme choque, comparado
com portugal, na altura a poló-
nia não era um país exactamente
sofisticado, moderno, embora fosse
um país nalgumas áreas, como a
educação das pessoas, riquíssi-
mo e, provavelmente, ao nível ou
melhor que portugal. mas do ponto
de vista económico havia, de facto,
uma situação incipiente de desen-
volvimento. o facto de ser o maior
país, aliás depois quando houve o
alargamento dos 15 para os 25 e
posteriormente para os 27 da união
europeia, a polónia, com a exclu-
são da roménia nesta última, era
maior que os outros países todos
juntos que entraram para a europa
dos 25. 40 milhões de habitantes,
uma área de facto onde se podia
expandir toda a nossa actividade
se tivéssemos uma estratégia de
grande crescimento como na altura
tivemos. a polónia não foi o úni-
co país por onde entrámos. Nós
fizemos alguns investimentos e em
áreas interessantíssimas, como no
estado de são paulo no brasil. um
investimento visionário acho que te-
ria tido enormes hipóteses de gran-
de sucesso dentro do grupo, se o
nosso balanço também tivesse sido
suficientemente forte para estarmos
em todas as oportunidades que
criámos na altura ao mesmo tempo.
tivemos uma posição muito interes-
sante no estado de são paulo com
os supermercados c, as coisas até
nem corriam nada mal, mas era ne-
cessário continuar a investir muito
em todas as áreas onde estávamos
e os anos 2000 marcaram a dife-
rença em relação aos 90. come-
çaram a ser necessários recursos
financeiros vultuosos para poder
estar em muitas oportunidades ao
mesmo tempo. portanto, estivemos
no brasil, em inglaterra estivemos
com uma cadeia – a lillywhites-,
de enorme visibilidade, também
um projecto de grande ambição do
grupo, que correu bem mas que
necessitava igualmente de grandes
investimentos. e na polónia estive-
mos presentes em vários formatos
que temos em portugal e onde so-
mos líderes, como supermercados,
tivemos uma presença em hiper-
mercados e nos cash and carry’s.
mas a partir de 2001 – 2002 decidi-
mos concentrar-nos na companhia
onde já éramos os maiores do país
em retalho e expandir essa presen-
ça e distanciarmo-nos muito dos
outros que trabalhavam na mesma
área que nós, no retalho alimentar e
naquele formato em particular. hoje
temos a maior cadeia retalhista da
polónia. temos tantas ou mais lojas
como todos os outros retalhistas
modernos juntos no país – cerca de
1450 lojas.
Quem são os rivais mais direc-
tos?
são todas as grandes companhias
da europa que estão lá presentes.
Nós estamos à frente deles e acho
que é um motivo de orgulho para
o grupo, e deveria ser também um
motivo de orgulho para portugal.
O grupo não tem nenhuma joint-
venture com outra empresa!?
Não, nós temos cem por cento do
capital da empresa. mas são os
grandes grupos franceses, ingle-
ses, alemães, entre outros, que lá
se instalaram e sobre os quais nós
tentamos manter-nos à frente.
E há mercado?
Vamos ver. o mercado polaco é
um mercado relativamente menos
desenvolvido do que a generalidade
dos países da europa ocidental em
relação às estruturas modernas de
comércio. posso dizer-lhe que, ao
que nós costumamos chamar-lhes
comerciantes tradicionais que em
portugal já não devem represen-
tar mais do que 25 por cento, na
polónia ainda representam 50 por
cento do total. portanto ainda com-
pram em pequenas mercearias, em
pequenas lojas de rua, quiosques,
mercados livres, mercados muni-
cipais, cooperativas, etc. há uma
grande oferta instalada de grandes
empresas com grandes supermer-
cados e inúmeros hipermercados,
pelas nossas contas há mais de
320 grandes hipermercados na po-
lónia e nem sempre estão cheios.
Daí que se pode levantar a ques-
tão: não é capacidade a mais? para
o momento talvez seja, mas de
facto o potencial é muito grande. a
polónia vai continuar a crescer, os
formatos modernos são modernos
não porque tenham betão ou vidro,
mas porque estão muito atentos às
necessidades dos consumidores e
paulatinamente vão conquistando
esses consumidores. e, portanto,
chegará o dia, se não houver muito
mais crescimento de oferta, em
que essas capacidades vão ser
cheias pelo consumidor. Não me
parece que isso seja um problema.
Nós vamos continuar a abrir lojas,
continuamos a considerar uma das
grandes razões por que alguns con-
sumidores polacos não compram
nas nossas lojas é devido ao facto
de não as terem perto deles. há
sítios que não estão a ser servi-
dos por biedronkas e têm que ser.
posso apresentar-lhe uma medida:
nós estamos em todas as cidades
do país com mais de dez mil habi-
tantes e, praticamente, em todas
com mais de cinco mil habitantes.
Vamos continuar a crescer ➤
Luís Palha da Silva
Presidente da Comissão Executiva Jerónimo Martins
71julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ naquelas mais pequenas, mas
ainda muito mais do que isso va-
mos ter uma presença mais intensa
nas grandes cidades onde ainda
temos um número de lojas relativa-
mente pequeno.
O Jerónimo Martins coloca mui-
tos produtos portugueses nos
seus supermercados da Polónia?
há duas situações. a primeira é
que nos produtos alimentares e, so-
bretudo, nos supermercados e lojas
que nós gerimos, quer em portugal
quer na polónia, o tipo de produtos
que vendemos, normalmente, não
viaja com facilidade. muitos produ-
tos alimentares, muitos produtos
frescos no caso português. esse é
o primeiro ponto, enviar detergen-
tes e champôs daqui para a polónia
não é fácil porque não viajam muito
bem esses produtos. É natural que
nas nossas lojas vendamos pro-
dutos da unilever, mas produzidos
pela unilever alemanha ou poló-
nia, provavelmente polónia porque
eles têm uma óptima indústria. um
segundo ponto muito importante
é que nós não tentamos impingir
nada aos nossos clientes, tudo
depende daquilo que eles gostam
efectivamente. Na polónia tivemos
sempre uma preocupação muito
grande que foi desenhar o nosso
tipo de produtos à medida que os
polacos querem. mas têm em nós
uns amigos para os ajudar a co-
nhecer o mercado, as nossas lojas,
os tipos de consumidores que nos
visitam, etc.
E têm conseguido?
têm conseguido com alguma fre-
quência. se calhar não tanta como
seria desejável para portugal. É
estranho que tendo uma companhia
que venda cerca de 3,5 milhões de
euros na polónia, que tenhamos
relativamente poucos empresários
a querer visitar-nos e conhecer as
nossas lojas e os nossos clientes.
temos mais um conjunto de pes-
soas que nos quer vender aqui em
portugal uns contentores para man-
darmos para lá. isso não vai funcio-
nar. Não é maneira de trabalhar o
mercado polaco. Quem quiser estar
no mercado polaco não pode re-
pousar nos esforços da nossa com-
panhia lá. tem de ir lá estudar e em
conjunto com a nossa companhia,
eventualmente, criar uma parceria.
Nem sempre é possível. há produ-
tos que nos têm vindo tentar ofere-
cer e por muito que nos esforcemos
em conjunto encontrar soluções
não vai ser possível. por exemplo,
coisas da área não-alimentar, as
pessoas por vezes não compreen-
dem, mas nas nossas cadeias da
polónia não temos produtos perma-
nentemente da área não-alimentar.
Nós só vendemos produtos ali-
mentares (95 por cento), depois há
produtos que rodam mas não estão
permanentemente. as pessoas só
compreendendo no local a nossa
presença e a maneira como esta-
mos lá instalados é que conseguem
compreender o mercado polaco e
daí tirar alguma vantagem em haver
esta presença portuguesa. mas de
facto, e como ponto final para esta
exposição, temos tido um cuida-
do enorme em colaborar com as
empresas portuguesas que querem
conhecer o mercado polaco e na
medida do possível fazemos um es-
forço grande para colaborar mesmo
activamente.
O Governo polaco ajuda os em-
presários estrangeiros?
Não ajuda materialmente. agora,
no mercado polaco sentimos que os
investidores estrangeiros são bem
tratados e nesse sentido já é uma
grande ajuda.
E ao nível fiscal, a Polónia tem
menos carga de impostos?
a taxa básica de impostos é mais
baixa na polónia do que em por-
tugal. isso obviamente pondera-se
quando se fazem determinado tipo
de investimentos, ou quando se tem
de optar de investir num lado ou
noutro, e é um factor que também
acaba por ter o seu peso.
Tal como as leis laborais?
tal como as leis laborais. hoje as
pessoas escolhem os investimen-
tos e onde os irão fazer em função
de um conjunto de factores de
competitividade. competitividade
fiscal, competitividade no campo da
legislação laboral, são ingredientes
tradicionais de uma boa competiti-
vidade.
Há quantos anos se encontra no
Jerónimo Martins?
estou na empresa há quase nove
anos. sou presidente da comissão
executiva desde 2004.
Portanto, de 2004 para cá houve
um salto qualitativo.
Não, têm havido enormes saltos
neste grupo que já tem 217 anos.
um dos grandes saltos foi dado nos
anos 50. Fizemos a nossa joint-ven-
ture com a unilever em 1949 e daí
para a frente tem sido um caminho
de sucesso enorme e crescimento
muito, muito importante para o gru-
po. Nos anos 80 toda a revolução
da área do retalho e da distribuição
alimentar em portugal foi uma fonte
de crescimento enorme para o gru-
po e deu um salto e aí a verdadeira
revolução. eu diria que a presença
na bolsa acabou por dar ainda mais
visibilidade a essa revolução que
aconteceu nos anos 80-90. acede-
mos à bolsa em 1989. De 2000-01
para cá deu-se um salto qualitativo
interessante, mas o crescimento
não foi muito maior ou muito menor
do que já tinha acontecido nos anos
50 e 80. portanto, considero mais
um ciclo de bom desenvolvimen-
to do grupo. Neste momento, as
pessoas salientam o bom desenvol-
vimento da empresa no mercado de
capitais e no desenvolvimento do
valor da acção. É, talvez, essa evo-
lução qualitativa que as pessoas ➤
72 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤ têm hoje mais presente, mas o
grupo tem de facto símbolos enor-
mes na sua história de 217 anos,
com uma enorme cultura de provo-
car a revolução e a mudança e este
é apenas mais um capítulo.
Dá-me a ideia também que quan-
do vocês, por necessidades
de mercado também, durante a
Guerra criaram a Fima e depois
essa parte industrial parece que
se foi esbatendo ao longo dos
anos, dedicando-se mais à parte
do comércio.
É verdade que numa determinada
altura representou uma parte mais
importante em percentagem do
volume de negócios da empresa.
Na altura tínhamos de facto ali uma
área de grande presença e grande
crescimento, e o nosso relaciona-
mento com unilever deu-nos até
uma quase presença internacional
que na altura nos faltava. a partir
dos anos 80 e, realmente com este
decisão estratégica de estar no ne-
gócio da distribuição alimentar, foi
perdendo espaço. mas apesar de
tudo a nossa associada, em parce-
ria com a unilever, continua a ser
líder de mercado em praticamente
todas as áreas onde está presente.
Nós somos sempre o número um
e com forte liderança no mercado,
forte sentido de inovação, forte
sentido de satisfação dos clientes
e de transferência a nível de todo
o Know-how a nível mundial para
o mercado português. De maneira
que, hoje, todos os lançamentos de
grandes produtos continuam a ser
lidos em portugal em linha do que
é feito no resto do mundo. Nesse
sentido tem uma presença fortís-
sima. pode crescer para além do
que é portugal? claro que isso não.
estamos confinados a este relacio-
namento com unilever em portugal,
enquanto que na distribuição do
alimentar nos temos sentido mais
libertos. temos um parceiro em
portugal, que é a empresa holande-
sa old, mas não estamos condicio-
nados para investir noutros lados.
ora, neste momento, só a polónia
representa cinquenta por cento do
nosso volume de negócios e isso
obviamente reflecte-se na percen-
tagem que a nossa área industrial
tem. Não significa que estejamos
hoje menos empenhados do que
alguma vez estivemos na indústria,
continuamos empenhadíssimos em
fazê-la desenvolver e fazê-la conti-
nuar a ser a maior área industrial no
país no negócio alimentar. há uma ➤
➤ coisa que a indústria traz também
para o grupo jerónimo martins, e
que nos ajuda a dizer aquilo em
que temos imenso orgulho, é que
somos o maior grupo do alimentar
do país. sem a nossa componente
alimentar não sei se poderíamos
dizer com esta forma tão aberta e
tão orgulhosa que somos o maior
grupo alimentar do país.
Falou há pouco do Brasil, que
não foi um falhanço, não houve
foi capacidade para estar em vá-
rios lados ao mesmo tempo, e a
Inglaterra o mesmo caso, porquê,
quando toda a gente fala que o
el dorado é Angola, o Jerónimo
Martins não investe em Angola?
cada grupo tem de encontrar um
filão, não vale a pena quando
se tem filão de sucesso andar a
procurar por todos os lados. e, tem
de se procurar coisas que este-
jam em perfeita consonância com
aquilo que já sabemos fazer. Nós
estamos presentes em portugal na
área dos supermercados de onde
somos de longe os maiores, temos
esta relação com a unilever, temos
a nossa área de cash & carrys’s
que é também a área líder no país,
temos a nossa presença na poló-
nia e temo-nos interrogado muito
sobre qual é o filão. o filão que nós
sentimos que há actualmente é en-
contrar áreas onde a complemen-
taridade com o que temos, neste
momento, se possa desenvolver.
uma das áreas que temos procura-
do é a europa de leste, ou a pró-
pria polónia, explorando diferentes
possibilidades: ou a distribuição ou
mesmo nalgumas circunstâncias a
indústria, mas alavancando a nossa
posição de completa liderança do
mercado polaco. por isso temos
gasto muito tempo a estudar os
outros países à volta e é um estudo
que já vem desde há anos, como
lhe disse não estudámos na altura
apenas a polónia. Fomos estudan-
do a hungria, a república checa,
os países bálticos, a eslováquia,
mais recentemente a ucrânia, a
roménia e a rússia têm de certa
maneira absorvido grande parte da
nossa atenção. Não quer dizer que
não tenhamos estudado angola,
mas angola coloca desafios para
os quais nem toda a gente não tem
de momento o Know-how total. a
nós não assusta andar à procura de
Know-how para entrar em angola,
mas são desafios muito diferentes
daqueles que temos, por exemplo,
se quiséssemos expandir a bie-
dronka para outros lados. isso nós
sentimos que podíamos fazer com
um conjunto de recursos financei-
ros relativamente limitado e indo
directamente ao formato que tem
tido sucesso na polónia. começar
qualquer coisa de novo em angola
é um caminho que é difícil de ver a
complementaridade que tem com
o que já fazemos neste momento,
é também mais uma outra ponte
para uma parte distante do plane-
ta e com formatos com que nós,
neste momento, não trabalhamos.
Não nos parece possível, neste
momento, um formato normalíssi-
mo pingo Doce em angola, mas
parece-me possível, com algumas
dificuldades logísticas evidentes no
país, começar uma actividade de
dimensão noutro qualquer formato
Luís Palha da Silva
Presidente da Comissão Executiva Jerónimo Martins
73julho/setembro 2010 - Diplomática •
como os cash & carry’s e, por isso,
embora não estejamos assustados
com as dificuldades, bate muito
mais certo aquilo que é preciso
fazer noutros mercados com aquilo
que já sabemos fazer. portanto,
angola não me parece que possa
estar nas nossas prioridades, pois é
preciso desenvolver um conjunto de
competências que neste momento
não estamos em condições de as
desenvolver.
E Espanha?
espanha está sempre presente.
Nós, nem quase damos por isso
mas, competimos permanentemen-
te com espanha. as pessoas que
passam a fronteira de um lado para
o outro são muitas e nós temos
de estar preparados para isso. No
entanto entrar em espanha tam-
bém levanta os seus problemas.
Numa determinada altura porque o
conjunto de empresas que traba-
lhavam no mercado era demasiado
poderoso e conhecedor do mercado
espanhol, neste momento com a
crise não é a melhor altura para
entrar naquele mercado. estamos
atentos mas as oportunidades não
têm surgido.
Falando do mercado nacional.
Há fornecedores que se queixam
de colegas do Jerónimo Martins,
de outros grandes grupos, que
estão a ser explorados por eles.
Por enquanto não se tem ouvido
falar no Jerónimo Martins, é uma
política diferente que têm em
relação aos fornecedores?
eu acho que o sistema da distri-
buição alimentar em portugal tem
vindo a evoluir. evoluiu numa deter-
minada altura, nos anos 80, de uma
forma muito rápida, mais recente-
mente, com leis mais liberais e com
a entrada de novos operadores,
também deu um salto importante
no desenvolvimento, e quando
acelera nem toda a gente reage
positivamente e começam a surgir
alguns descontentamentos. eu
acho que não há motivos para os
descontentamentos. o consumidor
tem motivos globais de desconten-
tamento. o consumidor tem vindo a
beneficiar de uma distribuição cada
vez mais sofisticada, mais moderna
e de acordo com os seus interesses
e, se pensar bem, os consumidores
têm beneficiado, nos últimos anos,
de um grande desenvolvimento de
um conjunto de produtos que hoje
está banalizado, mas que há uns
tempos atrás eram coisas quase de
luxo. o salmão, entre outros. ➤
luís palha da silva
74 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤ são produtos trazidos pelo desen-
volvimento do comércio moderno
e que tem contribuído muito para
que as pessoas acedam a níveis
superiores de satisfação. os preços
dos produtos são hoje 20 ou 30 por
cento mais baratos, nalguns casos,
estou a dizer mesmo em termos
reais, não apenas nominais, do que
eram há dez anos. e, portanto, tem
havido um grande desenvolvimento.
claro que num processo de desen-
volvimento muito acelerado há uns
ou outros que sofrem um bocadinho
mais que, aqui e ali,
têm algumas dificul-
dades em manter
a competitividade
e, eventualmente,
queixar-se-ão. eu não
acho que, e falo em
termos do sector não
exactamente em nome
do nosso grupo, a dis-
tribuição moderna ou a distribuição
das grandes empresas tenha tido
esse papel perdatório que alguns
dizem. tem feito o que é possível
e desejável para o cada vez melhor
bem-estar do consumidor. Nalguns
casos, o preço dos produtos im-
portados, por alguns grupos que
estão presentes, forçam a que as
negociações com os produtores
nacionais se encaminhem para uma
exigência de cada maior eficiência
e melhor preço para as empresas,
que as empresas de distribuição
depois canalizam para os consu-
midores. a alternativa para quem
compra um produto qualquer que
não baixa de preço é comprá-lo no
exterior e trazê-lo, e por isso mes-
mo, por vezes, nas fronteiras há um
comércio muito grande que resulta
da ineficiência do próprio sector
da indústria e da distribuição e do
relacionamento com o consumidor.
portanto, as queixas, do meu ponto
de vista, são naturais mas nunca
revelaram ser uma ultrapassagem
de relações éticas de negociação
entre distribuidores e fornecedo-
res. aqui e ali é preciso dizer que
algumas empresas se colocaram
elas próprias fornecedoras numa
situação de alguma dependência.
se uma pessoa passa a ter um
distribuidor com 60 ou 70 por cento
das suas vendas fica numa situa-
ção de grande dependência. Não
é uma situação que a distribuição,
ela própria, também goste de ter,
porque depois vai ter essas queixas
caso aconteça alguma coisa. mas
o distribuidor hoje tem
de ser um advogado
permanente dos seus
consumidores. se os
produtos não têm a
qualidade e o preço que
devem ter a distribuição
tem também a obriga-
ção de continuar a lutar
com a indústria para se
alcançar um nível de eficiência que
é normal noutros mercados. por
isso geram-se muitos descontenta-
mentos sim. eu acho que a distri-
buição alimentar moderna, assim
como a indústria, em portugal, não
tem nenhum comportamento que
vá para além dessa evolução, no
sentido de cada vez melhor serviço
prestar ao consumidor.
A questão do leite!
o leite é um caso típico. o preço
reduziu em toda a europa e portu-
gal seguiu esse caminho. a quali-
dade do leite, hoje, é insofismável,
ninguém a põe em causa. trata-se
de um assunto que tem muito a
ver com o preço. o preço tem que
seguir aquilo que é normal. há um
excesso de oferta em toda a euro-
pa e estão a fazer-se reestrutura-
ções no sector? sim. sofre portu-
gal como sofrem todos os outros
países. No fim de contas feitas vai
ter de se encontrar uma solução
que beneficie o consumidor. Quem
é que sofre pelo meio? todos um
pouco. o produtor e o distribuidor.
o distribuidor nas margens do leite
tem percentagens que não dariam
para trabalhar em circunstâncias
normais. são fazes de adaptação.
o nosso grupo orgulha-se de ter um
relacionamento saudável, aliás faz
parte do nosso código de ética ter
um relacionamento saudável com
os produtores. Quer isso dizer que
não somos exigentes? Não. Quer
isso dizer que num qualquer caso
não temos de abandonar algum
produto ou algum fornecedor?
Não. Às vezes temos que abando-
nar porque não corresponde aos
nossos critérios de preço ou não
corresponde aos nossos padrões
de qualidade. mas mantemos
uma relação o mais saudável e
mais estável que podemos com os
nossos fornecedores. Daí que eu
sinta, embora num caso ou noutro
possa haver queixas, não creio
que sejam queixas significativas de
mal-estar num relacionamento. De
uma maneira geral, creio que hoje
todos os industriais compreendem
que a distribuição vive processos
de concorrência muito violentos e
que nenhum grupo pode deixar de
exigir o melhor para si e para os
seus clientes.
Que apreciação faz às leis labo-
rais? Acha que estão bem ou que
poderiam ser mais abertas para
beneficiar o funcionamento do
comércio?
o grupo tem no seu código genético
uma paixão muito grande que é a
liberdade de poder trabalhar. Quan-
to mais liberais forem as leis, em
todos os aspectos, obviamente que
as consideramos mais favoráveis
para a competitividade do país. mas
devo dizer que nós também somos
um grupo com uma forte raiz familiar
e com uma forte raiz pela preocu-
pação social. mesmo antes das
leis acontecerem, nós temos essas
preocupações. o desemprego ➤
O GRUPO TEM
NO SEU CÓDIGO
GENÉTICO UMA
PAIXÃO MUITO
GRANDE QUE É A
LIBERDADE DE
PODER TRABALHAR.
Luís Palha da Silva
Presidente da Comissão Executiva Jerónimo Martins
75julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ é a solução para alguns dos
problemas que afectam a econo-
mia das empresas? por exemplo, o
nosso presidente, quando esta crise
começou a tornar-se uma coisa
óbvia e violenta, desde o princípio
disse que a solução para nós não
passaria pelo desemprego. Noutros
casos e noutras empresas é quase
sempre essa a primeira solução.
Nós aqui preferimos imaginar outras
coisas antes de usar a liberdade de
fazer seja o que for no que respeita
à redução dos custos de trabalho.
temos uma preocupação que tenta-
mos compatibilizar entre obviamente
em cada momento termos os recur-
sos com a qualidade e quantidade
que queremos de trabalho, com uma
outra grande preocupação que, de
facto no nosso grupo a única coisa
verdadeiramente importante que
temos para nos ajudar a ter suces-
so nos mercados, são as pessoas.
Nem sempre é possível compatibi-
lizar tudo. eu diria que nós temos
ido por vezes mais à frente que as
próprias leis nesta preocupação so-
cial. por isso, não considero que as
leis sejam muito, muito condiciona-
doras da nossa actividade, embora,
em certos casos, assuntos como a
polivalência, a flexibilidade, a capa-
cidade de transferir pessoas e etc.,
pudessem eventualmente serem
mais favoráveis. contudo, não sinto
que seja a nossa principal preocu-
pação. julgo, por exemplo, numa
determinada altura outro tipo de leis
como licenciamento comercial foram
muito mais restritivas da nossa acti-
vidade do que as leis laborais. e, aí
tem até menos sentido que o estado
intervenha dessa forma. condicio-
nar o aparecimento de lojas porque
acha que já há muitas parece-nos
uma orientação tonta e sem qual-
quer sentido de longo prazo.
E o relacionamento com as au-
tarquias em relação aos grandes
espaços?
as autarquias têm um papel ime-
diatamente ligado ao licenciamen-
to comercial, mas, a maior parte
das vezes, fazem-no duma forma
quase automática. a capacidade
que têm de intervir diz respeito
ao cumprimento de determinadas
regras e não exactamente ao pro-
cesso de poder abrir ou não um
espaço, embora tenha uma certa
intervenção. eu julgo que passa-
dos uns anos de desenvolvimento
comercial do país, a maior parte
das autarquias começaram a ver
que também a área da distribui-
ção alimentar não é só mantendo
o comércio mais altivo que se traz
riqueza para os concelhos. e é
provavelmente numa certa com-
plementaridade, que eu acho bem
que haja alguns esforços pelas
autarquias para que se mante-
nham, que, se calhar, se encon-
trará um equilíbrio saudável. Não
me parece que, neste momento,
haja muitos municípios que defen-
dam a total presença do mercado
tradicional e sem a presença de
um mercado de instalações mais
modernas. já se viu em termos
de preço, em termos de qualidade
e diversidade dos produtos que
haver lojas mais modernas é um
grande benefício para as popula-
ções e evita até que migrem para
outras zonas pela ausência de
mínimo de bem-estar na compra
de produtos alimentares. portanto,
como a maior parte das câmaras
do país já têm esta filosofia nós
não temos sentido muita dificulda-
de. aquilo que existe muitas ve-
zes é a discussão de pormenores
de instalação ou de funcionamen-
to. sentimo-nos, a maior parte das
vezes, bem-vindos nos municípios
portugueses.
Seja ele de que cor for?
sim, a cor não é uma coisa muito
relevante nessa problemática.
Aquela vossa experiência de liga-
ção com o BCP em alguns super-
mercados ainda continua?
Nós ainda temos alguma presença,
mas não institucional. tínhamos
uma presença 50/50 num banco
que funcionava dentro das nos-
sas lojas, mas isso acabou. Neste
momento existe uma colaboração
normal com o bcp como podería-
mos ter com outro banco qualquer.
em alguns supermercados ainda
existem alguns bancos, mas que
nos pagam uma pequena renda e
nada mais que isso.
Foi uma experiência falhada?
Foi uma experiência que teve o seu
tempo. o bcp também achou que
não era uma área que quisesse de-
senvolver muito. para nós era uma
área que condicionava um pouco a
nossa actividade. Ficámos ambos
satisfeitos da maneira como foi
feita. Foi uma situação que amadu-
receu de uma maneira que não foi
no sentido do crescimento
uma coisa que me parece muito
importante, uma vez que se diri-
gem a um mercado que para nós
tem muita importância, é o grande
impacto que pode ter uma pre-
sença diplomática num país onde
estão presentes as empresas por-
tuguesas. temos podido contar,
por exemplo na polónia, com um
grande empenhamento das mis-
sões diplomáticas ali presentes.
É um descanso que temos muito
grande e é isso que sentimos que
também pode ser feito no esforço
diplomático. É grande esforço eco-
nómico que é, muitas vezes, de
mero acompanhamento. Não há
nada que possa ser directamente
realizado pela presença diplomáti-
ca, mas sentir o acompanhamento
é uma coisa que ajuda muitos os
grupos portugueses. Nós temos
tido essa sorte, esperemos que
seja essa a filosofia de todos os
embaixadores pelo mundo fora. n
j. m. teixeira
76 • Diplomática - abril/maio 2009
José Joaquim Oliveira - administrador Delegado e presidente da ibm portugal
O Administrador Delegado e Presidente da IBM Portugal é um profundo conhecedor
da realidade da empresa, onde leva já três décadas de serviço. Antes de assumir a
chefia da representação americana em Lisboa foi responsável pela área de negócio
na divisão de software da IBM para a Península Ibérica.
Natural de Lisboa, José Joaquim Oliveira fala-nos da presença da IBM em terras lu-
sas e das novas áreas de negócio para o futuro: cidades, energia e saúde. ➤
“Os clientes são a nossa razão de ser no mercado e o sucesso dos clientes orienta a nossa actuação no mercado”
gestores internacionais
77abril/maio 2009 - Diplomática •
➤ Faça-me uma breve biografia
sua. Como surgiu na empresa?
Estou na ibm há muitos anos. a ibm
foi o meu primeiro e único emprego.
Entrei, andava ainda a estudar. Fiz
formação em engenharia, mas não
acabei o curso. tenho uma carreira
de mais de três décadas ao serviço
da empresa, passando por várias
etapas. comecei na parte técnica a
trabalhar como programador, ana-
lista de sistemas informáticos, entre
outras coisas; a determinada altura
passei para a área comercial como
vendedor de sistemas informáti-
cos para computadores e fiz uma
evolução progressiva nessa área,
passando a director de marketing e
de vendas, acumulando ainda outras
funções de chefia ao longo da minha
vida na área comercial; noutra fase
da carreira tive algumas responsa-
bilidades internacionais, mas sem
nunca ter trabalhado por um período
extenso noutro país, deslocava-me
apenas esporadicamente; assumi
também a área de negócio da ibm
para a península ibérica na divisão
de software e, finalmente, dessa
posição passei para o cargo de ad-
ministrador Delegado e presidente
da ibm portugal, em 1998. Nestes
últimos 12 anos tenho estado na
liderança da empresa. tenho 59
anos, nasci e estudei em lisboa.
Sou alfacinha de gema. Sou casado
e tenho um filho.
A presença da IBM em Portugal e
também no mundo.
a ibm corporation (internacional) vai
fazer 100 anos para o ano. Nasceu
nos Estados Unidos da américa e
começou por ser uma empresa a
nível local, transformando-se depois
numa multinacional e, hoje, é uma
empresa que actua numa lógica de
gestão global e não multinacional.
a ibm corporation obteve, no ano
passado, uma receita de 103 mil
milhões de dólares. No que diz
respeito ao capital humano, somos
380 mil funcionários que operam em
todo o mundo, sobretudo em quatro
continentes: Europa, américa, ásia,
oceânia e, também, já estamos pre-
sentes em áfrica. temos 170 locali-
zações em mais de 100 países. Em
portugal estamos desde 1938, va-
mos fazer 72 anos, e somos líderes
a nível nacional, tal como acontece a
nível mundial, neste sector da tecno-
logia de informação. portanto, desde
1938 que nós ajudámos a construir e
a criar aquilo que é o mercado de in-
formática no país. tudo o que existe
hoje de tecnologia de informação no
mundo e, naturalmente, em portugal
se deve em muito em larga medida
àquilo que a ibm fez.
Em Portugal têm uma delegação
em Lisboa e outra no Porto?
temos uma delegação no porto
e em lisboa temos a sede e mais
três escritórios. Somos em portugal
cerca de 1200 empregados e temos
no sector uma posição cimeira de
liderança.
Qual a visão, missão e valores da
IBM?
Nós temos uma gestão global e os
valores são também únicos e aplica-
dos em portugal. os nossos méto-
dos assentam no plano de sucessão
de valores para os nossos clientes.
ajudar os nossos clientes a resol-
ver os seus problemas através das
soluções informáticas. temos um
enfoque absoluto nesse domínio. o
cliente, para nós, é sagrado e está
acima de todos os outros aspectos
e condiciona em todas as vertentes
a nossa actuação e o nosso desen-
volvimento enquanto organização.
Somos, hoje, uma empresa muito
focada na criação de tecnologia
neste sector de marca de computa-
dores, hardware, software e, ainda,
no desenvolvimento de serviços e
de prestação de serviços de valor
para os nossos clientes. procuramos
implementar sucessões de valor,
utilizando a nossa tecnologia e capa-
cidade de serviços.
Quais são esses produtos e
serviços que têm ao dispor dos
clientes?
Em matéria de produtos temos uma
oferta diversificadíssima e vastíssi-
ma de software (programas) para
fazer as mais variadas tarefas. Na
área de hardware temos servidores.
apesar de termos sido, em determi-
nado período da nossa história, os
criadores da computação pessoal –
pc’s –; hoje, já não temos essa linha
de negócio, alienamo-la porque em
certa altura fizemos uma evolução
estratégica e fizemos escolhas ao
apostar em determinadas áreas e
desinvestir noutras. Uma das quais
em que desinvestimos foi precisa-
mente a dos pc’s, porque é uma
área de baixo valor, não tem valor
acrescentado, e nós focámo-nos nas
funções de valor acrescentado – ser-
vidores de todo o tipo para soluções
informáticas. Nesta categoria temos
ao dispor dos clientes servidores de
hardware e sucessões de armazena-
mento de dados. No software temos
uma gama muito diversificada de
programas para correrem nos nos-
sos computadores e em computado-
res de outras marcas. Nos serviços
temos ofertas que vão desde da
implementação de sucessões tecno-
lógicas à consultoria de negócio que
faz a ligação entre o negócio e as
soluções informáticas até serviços
de outsourcing das infra-estruturas
tecnológicas até a outsourcing de
processos e ou de aplicações. te-
mos uma oferta completa e abran-
gente de alternativas de outsourcing,
mas sobretudo de consultoria e de
serviços de implementação de su-
cessões tecnológicas.
Esta é uma área em constante mu-
tação. Quer avançar algum produ-
to que estejam a desenvolver?
Nós estamos em permanente evolu-
ção. Este é um sector muito dinâmi-
co e de desenvolvimento acelerado. ➤
78 • Diplomática - abril/maio 2009
➤ Neste momento, produtos há
muitos e a saírem com relativa fre-
quência: novas versões de produtos
já existentes, novas máquinas com
processadores mais potentes e com
maior capacidade para se poderem
fazer coisas ainda mais desafiantes.
Hoje, o mundo está muito dependen-
te da informática e dos sistemas de
informação.
Isso acontece num curto espaço
de tempo. O novo produto des-
valoriza imediatamente a versão
anterior.
É verdade, mas isso é uma coisa
boa. os clientes, os utilizadores,
não são obrigados a irem a correr
comprar a última moda. tal como
aconteceu ainda agora com a apple,
com o lançamento do ipad, em
que foi uma correria para comprar
o produto. mas isso são gadgets e
nesse sector é um pouco diferente.
Há os fanáticos dos gadgets que
adquirem a última moda de um
computador ou telemóvel. Não tem
de ser assim, e nos computadores e
sistemas informáticos das empresas
isso pode acontecer porque nós, a
cada três meses, lançamos produ-
tos novos. agora, as empresas não
são obrigadas a estar a actualizar
os seus sistemas ao ritmo que o
sector lança novos produtos. isso é
a loucura. mas é bom que o de-
senvolvimento se mantenha a este
ritmo porque isso produz inovação,
melhoria e novas capacidades à
disposição do mercado e das empre-
sas uma capacidade de evolução,
que de outra forma provavelmente
não teria. Não é desejável que haja
limitação nessa euforia criativa e
nesse desenvolvimento acelerado.
Não é bom que isso se retraia, pelo
contrário, nós alimentamos isso e
vamos lançando novos produtos. a
ibm investe, por ano, em desenvolvi-
mento tecnológico e em investigação
e desenvolvimento cerca de 6 mil
milhões de dólares. É muito dinhei-
ro. isto para criar novos produtos e
desenvolver nova tecnologia. pro-
duzimos com isso, por ano, à volta
de 4500 patentes de produtos que
resultam desse investimento e que
são criadas nos nossos laboratórios.
É muita patente e muita criativida-
de. Grande parte depois demora
algum tempo até se transformar em
melhoria de produtos e soluções
tecnológicas comercializáveis e que
resolvam problemas da vida comum.
têm de ser testados, experimenta-
dos, colocados no mercado, tem de
haver um período de habituação no
mercado, absorção. mas esse ritmo
é saudável, é desejável que seja
assim, porque se não for assim, o
contrário disto é estagnar, e estag-
nar é mau. Nos dias de hoje, de
facto, há essa ideia de que é difícil o
mercado acompanhar este ritmo de
desenvolvimento, mas é o mercado
que acompanha ao seu próprio ritmo
e não ao ritmo da criação. mas é
bom que assim seja, porque a his-
tória prova que o desenvolvimento
e este aumento de capacidade, que
este sector tem colocado à disposi-
ção das organizações e do mercado,
tem sido um dos principais motores
de desenvolvimento da sociedade.
o mundo existe tal como o conhece-
mos e temos ao nosso dispor muita
coisa nesta era pós-industrial, nesta
era moderna, exactamente porque
alguns sectores industriais propor-
cionaram esse conforto e bem-estar
de que dispomos. E um dos sectores
que mais contribuiu para isso foi cla-
ramente o sector das novas tecno-
logias da informação. a internet tem
a ver connosco, assim como os com-
putadores, os telemóveis e todas
essas maravilhas que sem as quais,
hoje, não somos capazes de viver
resultam desta euforia inovadora que
tem caracterizado este sector.
O que distingue a IBM dos seus
concorrentes?
Nós somos uma empresa iminente-
mente criativa e temos tido sempre,
ao longo da nossa existência e da
nossa história, uma capacidade de
criar e inovar que nos tem colocado
à frente dos nossos concorrentes.
Nós temos marcado o ritmo (acho
que podemos dizer isso) de de-
senvolvimento da indústria. Esta
indústria tem, de facto, a nossa
marca e fazemos isso de uma forma
já muito natural. E é um facto que
esta indústria tem-se baseado muito
nesta postura da ibm, de permanen-
te criatividade e inovação. Demos
até origem a todas as maravilhas e,
as empresas que existem no merca-
do, e que algumas hoje são nossas
parceiras e concorrentes, muitas
delas nasceram do nosso seio e
daquilo que nós fizemos no sector.
o que nos tem distinguido também é
a nossa postura perante os clientes.
os clientes são a nossa razão de ser
no mercado e o sucesso dos clientes
orienta a nossa actuação no merca-
do. Há outras coisas que poderiam
ainda ser referidas, mas aquilo que
tem sido mais distintivo na ibm, no
meu entender, é isto: o enfoque no
cliente e a inovação que fazemos no
nosso desenvolvimento.
Neste momento como avalia o
mercado nacional e global, tendo
em conta que estamos a atraves-
sar uma crise económico-financei-
ra? Pelos valores que já referiu, a
IBM tem passado ao lado dessa
crise.
Não, temos sentido. Eu acho que
toda a gente tem sentido a crise,
agora há formas diferentes de a sen-
tir. a ibm tem apresentado, nestes
últimos anos – no ano passado e em
2008, o período mais aguda desta
suposta crise, bons resultados, no
global. Naturalmente que as receitas
ressentem-se porque as empresas
estão a gastar menos dinheiro. Em
todos os sectores se está a gastar
menos dinheiro e a investir menos.
Sendo assim, não há milagres. Se ➤
José Joaquim Oliveira
Administrador Delegado e Presidente da IBM Portugal
79abril/maio 2009 - Diplomática •
ses programas da responsabilidade
social que, no fundo, consiste em
doarmos a jardins-de-infância um
sistema informático – um computa-
dor com software apropriado para
crianças dos três aos seis anos. isto
propícia a essas crianças o contacto
inicial com computadores e com a
informática numa idade tão tenra,
mas é uma idade em que do ponto
de vista cognitivo é muito importan-
te. É um sistema que temos vindo
a desenvolver no nosso país já há
vários anos e que abrange mais de
250 jardins-de-infância.
Têm outras iniciativas do género?
Sim, temos outros programas deste
tipo dirigidos à educação. Na área
da responsabilidade social damos
muita importância à educação e
temos mais programas dirigidos a
outras idades e faixas etárias de
desenvolvimento, como por exem-
plo: ao ensino secundário. No fundo
estes programas têm como objectivo
ajudar os jovens a desenvolver as
suas capacidades na área das ciên-
cias. para as raparigas entre os 11
e 13 anos temos um programa que
tem o objectivo de as motivar para
as disciplinas da ciência. as mu-
lheres têm mais tendência para as
letras e diz-se que a ciência é mais
para rapazes. isso é um mito que ➤
➤ em todos os sectores se investe
menos e há menos despesa cor-
rente, naturalmente que quem vive
disso ressente-se. E, portanto, nós
ressentimo-nos, tal como todos se
ressentem. agora, apesar disso, nós
apresentámos belíssimos resultados
do ponto de vista de rentabilidade
e melhorámos o nosso desempe-
nho em todos os outros indicadores
financeiros, porque temos uma
estrutura e uma organização que
nos dá grande flexibilidade para nos
ajustarmos constantemente. temos
uma organização preparada para
isso e estamos mentalmente prepa-
rados. Há um conjunto de factores
físicos e emocionais que nos permi-
tem ajustar com rapidez àquilo que
são as vicissitudes, nuances e mu-
danças do mercado. Deste modo,
nós ajustámo-nos e adaptámo-nos
à realidade e conseguimos, por
incrível que pareça, melhorar até os
nossos resultados numa situação de
crise como temos vivido. isto quer
a nível global, quer a nível nacional.
os resultados em portugal são o
espelho dos resultados globais. Não
temos números individuais porque
não fazemos a divisão. temos
apenas os resultados totais, mas
acompanhamos.
Falando agora em projectos e
parcerias da empresa com outras
instituições, li que a IBM está
envolvida no projecto “Centro de
Aprendizagem KidSmart”. Em que
consiste?
isso é um projecto da nossa área de
responsabilidade social, um domí-
nio em que as grandes empresas
vêem também como um importante
enfoque. Nesse aspecto somos
igualmente os campeões da susten-
tabilidade e responsabilidade social.
praticamos programas de responsa-
bilidade social praticamente desde
que existimos e que fizeram escola
no mundo, sendo até exemplos a
seguir. Esse “KidSmart” é um des-
José Joaquim oliveira
80 • Diplomática - abril/maio 2009
➤ nós procuramos combater. temos
ainda outros programas que visam
melhorar a relação dos jovens com
os sistemas de informação e ajudar
no seu próprio desenvolvimento.
outros programas interessantes são
os de mentoring, em que nós somos
mentores e ajudamos, já na fase
final universitária, alguns estudantes
no seu desenvolvimento académico
e na sua preparação para o futuro
profissional, entre outros programas
deste tipo na área da responsabilida-
de social. as parcerias com o ensino
universitário são também uma das
nossas marcas. Essa relação consis-
te em variadíssimos aspectos: desde
um prémio científico que temos em
portugal há 20 anos que premeia
os jovens cientistas portugueses até
programas que passam por doação
de tecnologia às universidades e
prémios para os estudantes.
Recuperando duas deixas que
referiu durante a nossa conversa,
uma no início, da relação ibérica
da qual foi responsável, e a outra
sobre o mercado de África, que é
bastante apetecível de momento.
Comecemos pela questão ibérica,
como vê esse mercado entre Por-
tugal e Espanha e a relação entre
as empresas dos dois países?
No nosso caso operamos numa or-
ganização do Sul da Europa, da qual
faz parte Espanha e portugal, e que,
neste caso, os dois países formam
uma espécie de organização única,
que trata do desenvol-
vimento do negócio na
península ibérica, mas
com independência. por-
tanto, temos uma ibm
em portugal e outra em
Espanha e trabalhamos
em estreita colaboração,
pode dizer-se, muito
íntima mesmo. Nesta colaboração
materializa-se mais numa ajuda de-
les a nós porque a dimensão do país
e da própria ibm é maior e têm mais
recursos. Depois no nosso grupo do
Sul da Europa temos outros países
também com a sua organização
local, como a itália, França, Grécia,
benelux, entre outros. Vamos lá ver,
o mercado ibérico, no nosso con-
texto, não existe. cada organização
local actua no seu mercado. mas
colaboramos imenso e acaba por
haver aqui alguma sinergia, sobretu-
do no desenvolvimento de projectos
conjuntos ou de uma oportunida-
de de negócio. agora, o mercado
espanhol, mais no contexto para as
empresas portuguesas do que para
a ibm, é essencial para portugal.
É como uma extensão do nosso
mercado. É fundamental para nós
sermos bem sucedidos no mercado
espanhol por várias razões: porque
há uma questão de proximidade
geográfica, cultural e emocional que
deve ser aproveitada.
E a observação do mercado afri-
cano na óptica da IBM? Angola
desperta mais interesse ou há
outros países?
os americanos, de um modo geral,
estão a começar a descobrir áfrica.
até aqui tinham estado um pouco de
costas voltadas para aquele conti-
nente por razões históricas ou por
razões específicas de muitos países
africanos que, de facto, não são
atractivos e atravessam ou atra-
vessaram situações difíceis, o que
afugentou os americanos e fez com
que não fossem em força para áfrica
como foram para outros
continentes. mas, neste
momento, a situação
alterou-se e há um mo-
vimento pró-áfrica vindo
dos EUa. E isto não tem a
ver com o facto do presi-
dente obama ter raízes
africanas, porque esse
movimento já começou antes dele.
É reconhecido um potencial enorme
a áfrica e, agora, começam a existir
melhores condições de investimento:
situações políticas mais clarificadas,
pacificação, a questão da corrupção
é muito sensível e muito importante
e que tem sido uma das razões pe-
las quais as empresas americanas, e
no caso a ibm, não têm ido de peito
tão aberto para os países africanos,
e mesmo nesse aspecto começa a
haver mais transparência. Neste mo-
mento, a ibm está a entrar de uma
forma mais determinada e já temos
uma presença muito forte na áfrica
do Sul. a ibm tem uma tradição de
presença na áfrica do Sul já de há
muitos anos, mas que interrompeu
ao vender a subsidiária aos sul-afri-
canos aquando o apartheid. Voltou
depois desses problemas resolvidos
e estamos lá há mais de dez anos.
actualmente, é o país onde a ibm
está a actuar com maior força, mas
estamos a começar a instalar-nos
noutros países, nomeadamente nos
países lusófonos: angola, porque
tem um potencial enorme e tem hoje
condições que não existiam antes, e
outros países de áfrica onde a ibm
já desenvolve negócio. o conti-
nente africano é uma oportunidade
excelente onde existe espaço para
progredir e trabalhar, em que empre-
sas como a ibm e outras empresas
americanas têm uma palavra a dizer,
quer do ponto de vista que isso
representa uma oportunidade de
negócio para elas, quer do ponto de
vista que os países africanos podem
beneficiar de empresas tão desen-
volvidas como estas.
Outros projectos futuros para a
IBM?
como já referi, faz parte da nossa
estratégia investir em soluções que
resolvam problemas de mercado aos
nossos clientes e temos, hoje, um
enfoque muito grande e que marca
a nossa estratégia actual no merca-
do que tem a ver com o “Smarted
planet” – o “planeta inteligente”. isto
parte duma premissa para atingir um
objectivo. a premissa é: hoje ➤
O CONTIMEN-TE AFRICANO É UMA OPORTUNI-DADE EXCELEN-TE PARA PROGRE-DIR E TRABALHAR
José Joaquim Oliveira
Administrador Delegado e Presidente da IBM Portugal
81abril/maio 2009 - Diplomática •
➤ existe no mundo uma capacidade
de computação imensa. o mundo
está instrumentalizado. Existem
computadores ou micro-chips com
capacidade de processamento de in-
formação em praticamente todos os
objectos: nos telefones, telemóveis,
frigoríficos, televisões, automóveis, e
muito outros. Estamos rodeados de
transístores e chips em tudo o que
é objecto. portanto, isso representa
uma capacidade digital imensa e
uma capacidade de computação
como nunca tivemos na nossa
história. por outro lado, vivemos
também todos ligados e conectados.
Há redes de comunicação por todo o
lado. a grande rede digital mundial,
a internet, permite que o mundo todo
esteja em contacto permanente, mas
também outras redes que se ligam
à própria internet e que fazem com
que tenhamos uma capacidade de
comunicação como nunca tivemos.
Estes dois mundos – capacidade de
computação e capacidade de comu-
nicação – permitem criar soluções
cada vez mais inteligentes e podero-
sas para resolver os mais variados
problemas no mundo. E é com base
nesta premissa que estamos foca-
dos em resolver, juntamente com os
nossos clientes e parceiros, proble-
mas reais da vida em sociedade.
a energia vai ser o nosso grande
desafio nas próximas décadas. re-
solver problemas como o consumo
e a produção de energia eléctrica, a
criação de alternativas ao petróleo,
de fontes energéticas diversificadas
e a racionalização da utilização da
energia da electricidade, mas não
só. Estamos com variadíssimas ini-
ciativas que vão desde os isqueiros
inteligentes de consumo de electri-
cidade e distribuição eléctrica até ao
desenvolvimento da tecnologia para
aperfeiçoar as energias renováveis
alternativas (a energia foto-voltaica
ou a térmica). Dentro deste sector
estamos a trabalhar com parceiros
de energia foto-voltaica, novas tur-
binas da energia eólica, em pratica-
mente todas as áreas das energias
renováveis. a escassez da água
potável é outro problema que atinge
o mundo e em que nós estamos
também empenhados na racionali-
zação do consumo e, também, na
dessalinização da água salgada para
se poder tornar potável e poder ser
consumida. as “Smart cities” são
outra nossa grande aposta. a cidade
é, hoje, o grande pólo de desenvol-
vimento da sociedade, e
dizem os sociólogos que
dentro de poucos anos
70 ou 80 por cento da
população mundial viverá
em cidades em detrimento
da vida no campo ou dos
subúrbios das cidades. as
cidades são, portanto, o
que mais vai impactar a nossa vida e
é importante que a vida nas cidades
seja confortável, saudável e susten-
tável, sobretudo. E nós temos va-
riadíssimos programas que visam a
sustentabilidade, o aumento de con-
forto e da melhoria das condições
de vida nas cidades, que vão desde
a questão da poluição, da gestão do
tráfego, dos edifícios inteligentes, do
consumo da electricidade e da água,
da gestão das cidades, da seguran-
ça e do policiamento nas cidades.
temos sistemas informáticos que
já são usados por polícias de Nova
iorque ou chicago e que os ajudam
a ser mais eficazes na segurança
dos cidadãos. Há uma imensidão
de projectos que caiem dentro deste
grande chapéu das “Smart cities”,
que dentro daquilo que nós cha-
mamos o “mundo inteligente”, seja
talvez a área de maior enfoque e em
que estamos a desenvolver vastas
soluções, utilizando a nossa tecno-
logia, e a de terceiros, e a nossa ca-
pacidade de serviços de implemen-
tação de soluções para resolvermos
muitos destes problemas. Este é,
talvez, o nosso maior marco estraté-
gico do momento, porque, de facto,
representa uma belíssima oportuni-
dade de negócio. até aqui foram as
tecnologias de informação, o sector
automóvel, o petróleo, os sectores
que determinaram o século XX e que
foram determinantes na evolução
do mundo. Eu penso que no futuro
há três grandes áreas de grande de-
senvolvimento e impacto e que vão
marcar o futuro do mundo, são elas:
a saúde, que é outra área onde nós
estamos muito aplicados
em todos os países, com
projectos de vanguarda na
melhoria quer dos cuidados
de saúde, quer como esses
cuidados são prestados aos
utentes, quer na investiga-
ção científica, quer no do-
mínio terapêutico; a energia
e as cidades. a saúde porque todos
querem aumentar a sua longevidade
e isso passa por resolvermos pro-
blemas de epidemias e doenças que
ainda não têm solução, sendo para
isso precisa muita capacidade de
computação para em laboratório se
desenvolverem as soluções adequa-
das. a energia porque a humanidade
vai enfrentar um desafio muito grande
nas próximas décadas que é como
encontrar uma alternativa ao petróleo.
Esta fonte de energia vai acabar e é
preciso encontrar uma via alternativa.
o petróleo não é substituível apenas
por energias renováveis e é preciso
descobrir novas fórmulas. É uma pre-
ocupação de todas as organizações
e pessoas responsáveis e a ibm está
muito empenhada nisso. E as cida-
des por aquilo que falei anteriormen-
te, porque são onde nós vamos viver.
a maioria das pessoas vai viver em
cidades e é preciso criar qualidade
de vida. portanto, a nossa estratégia
passa por estes sectores porque é aí
que se vai jogar o futuro do mundo e
da sociedade. n
ESTAMOS RODEADOS DE TRANSÍSTORES E CHIPS EM TUDO O QUE É OBJECTO
a. pinto
82 • Diplomática - julho/setembro 2010
Varela Afonso - presidente da crédito agrícola seguros
“Fazemos uma gestão criteriosa e temos uma carteira de seguros muito equilibrada”
Iniciou a carreira em 1981 na Tranquilidade Seguros. Passou entretanto por outras segu-
radoras, onde desempenhou tarefas referentes essencialmente à área dos seguros de vida
e fundos de pensões. Em 2004, Varela Afonso assumiu a presidência da CA Seguros e o
crescimento tem sido notável. Destaca a qualidade e gestão da companhia o motivo para
se classificar como a melhor seguradora Não Vida naquele segmento de dimensão. ➤
Gestores internacionais
83julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ Uma pequena biografia sua.
Como surgiu à frente da Crédito
Agrícola Seguros?
iniciei a minha carreira em 1981
na tranquilidade. Depois tive a
passagem para outras segurado-
ras por convite. Durante uma fase
inicial, e prolongada até há seis
anos atrás, andei essencialmente
pela área dos seguros de vida e
fundos de pensões. e desde há
seis anos que sou presidente da
ca seguros (ex-rural seguros),
uma área para os seguros Não
Vida. o grupo crédito agrícola
tem duas seguradoras: a crédito
agrícola Vida, um projecto em
que participei na sua constituição,
lançamento e gestão durante seis
anos, e a crédito agrícola segu-
ros para os seguros Não Vida a
que presido desde maio de 2004.
estive ligado a outras segurado-
ras, nomeadamente, a Garantia,
a europeia e a bonança. estive
também como administrador-
delegado da Fungest, uma socie-
dade gestora de fundos pensões.
portanto tenho um passado de 29
anos de actividade em segurado-
ras. Vim para a crédito agrícola
a convite do então presidente da
prosegur, hoje, ca seguros, que
tinha sido também o presidente
na companhia de seguros bo-
nança, onde eu também estive
e, portanto, convidou-me para vir
para este projecto para constituir
uma companhia nova, uma segu-
radora Vida.
Está então a chefiar o ramo Não
Vida?
portanto, sou presidente do con-
selho de administração da segu-
radora Não Vida, que era a rural
seguros, a agora crédito agrícola
seguros. Quase sempre estive
ligado à dinamização e ao lança-
mento da estratégia de banca-
seguros. ou seja, colocar o canal
bancário a comercializar seguros.
Como foi criar e desenvolver
esse projecto da CA Seguros?
criar uma empresa a partir do
zero é um desafio sempre muito
aliciante, tanto mais que neste
caso do crédito agrícola era criar
absolutamente do zero, inclusi-
vamente com colaboradores que
muitos deles iniciaram a activida-
de profissional na própria empre-
sa. É completamente diferente
comprar uma companhia chave-
na-mão, eventualmente com ne-
cessidades de tomar medidas de
reorganização e reestruturação,
mas no caso de partir do zero é
criar tudo. Desde as simples con-
dições de apólice aos modelos de
documentos, à organização, aos
manuais, entre outros. portanto,
constituir uma seguradora desde
a raiz, como aconteceu com a
crédito agrícola Vida, com pesso-
as jovens, é um desafio muito ali-
ciante. Felizmente neste projecto
estiveram inseridas pessoas que
quase todas elas se empenharam
e se dedicaram a cem por cento
e que, no fundo, hoje, continuam
a maior parte delas nas compa-
nhias. isso é bom sinal, é porque
o ambiente e a organização são
positivos.
É importantíssimo conquistar a
confiança dos clientes. Aposta-
ram em quê para o conseguir?
No caso da crédito agrícola, à
partida, há uma vantagem porque
os clientes da crédito agrícola
têm ligações muito estreitas às
caixas de crédito agrícola mu-
tuo. já foram mais de duzentas
caixas de crédito agrícola mutuo,
todas elas autónomas, com di-
recção e estatutos próprios. hoje
são 89 porque têm havido fusões,
de qualquer forma há essa vanta-
gem porque o cliente já conhece
a instituição e a entidade caixa
agrícola. No seu todo, a nível
nacional, o crédito agrícola tem
cerca de um milhão de clientes,
dos quais quatrocentos mil são
associados. o Grupo é conhecido
e torna-se mais fácil abordar e
cativar o cliente porque já conhe-
ce a organização em si. É acres-
centar mais uma prestação de
serviço, uma solução financeira
que é o seguro, quer seja para
a protecção deles como pesso-
as ou dos seus bens, quer seja
para dar cobertura em termos de
responsabilidade civil, porque
temos toda a oferta de seguros
Não Vida.
Qual a visão, missão e valores
da CA Seguros?
a nossa missão é clara: nós exis-
timos para prestar um serviço de
qualidade e excelência aos clien-
tes da crédito agrícola na área
da protecção dos seguros Não
Vida. a nossa visão é sermos
reconhecidos por esses mesmos
clientes como a sua seguradora
de eleição, isto é, que todos nos
reconheçam como a sua segura-
dora privilegiada.
As agências e delegações exis-
tem pelo país todo? Quantas
são?
temos representação de norte
a sul de portugal e na região
autónoma dos açores. são cerca
de setecentos balcões, tantos
quantos os balcões do crédito
agrícola no país.
Têm uma meta em número de
balcões?
em balcões não depende de nós.
Nós temos o produto e o serviço
onde estão os balcões das caixas
agrícolas, portanto nós não temos
nenhum balcão propriamente dito.
Como se estabelecem as ➤
84 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤ relações entre as várias agên-
cias e delegações?
Nós dividimos o país em onze
regiões comerciais, uma delas
é a região autónoma dos aço-
res. No continente temos dez
e onde nessa região reside um
colaborador nosso, efectivo no
nosso quadro do pessoal, que
é o delegado comercial que dá
apoio a um conjunto de caixas
agrícolas aos seus respectivos
balcões. como eu disse, exis-
tem 89 caixas agrícolas, mas
há setecentos balcões. a missão
destes colaboradores é dar apoio
a esses balcões em tudo o que é
formação, lançamento de acções,
motivação e tudo o resto que
está relacionado com os segu-
ros. portanto, estamos presentes
com esse apoio. temos depois a
nossa estrutura de marketing que
prepara toda a parte de suportes
comerciais e folhetos de comu-
nicação. colaboramos e desen-
volvemos ainda sinergias com a
caixa central (instituição que faz
parte das caixas agrícolas para
as quais colabora no sentido de
as ajudar a organizar) quer ao
nível da formação, quer ao nível
de planos de marketing.
Falou em Portugal Continental
e nos Açores como regiões co-
merciais. E a Madeira?
Na madeira, neste momento, não
existe nenhuma caixa agrícola, o
que não quer dizer que não venha
a acontecer.
É um objectivo?
Não compete à seguradora, mas
sim à parte bancária esse objec-
tivo. se abrir estaremos lá a dar
apoio.
Quais os produtos e serviços
que a Crédito Agrícola Seguros
coloca ao dispor dos clientes?
Nós, seguradora Não Vida, neste
caso a ca seguros, temos prati-
camente todos os seguros, com
a excepção do crédito e caução e
seguro aéreo. os nossos clientes
são empresas, mas sobretudo os
particulares. É tradição da crédito
agrícola ter a base em clientes
particulares. e para o segmento
dos particulares temos todo o tipo
de seguros, desde o seguro auto-
móvel até ao seguro de acidentes
de trabalho, saúde, habitação,
entre outros.
O que distingue a CA dos seus
concorrentes?
Dada a nossa dimensão não nos
preocupa tanto
compararmo-nos
com a concorrên-
cia em termos de
preços. a nossa
aposta é mais no
sentido de prestar
um serviço de qua-
lidade, garantindo e
aumentando aquela
relação que a crédito agrícola já
tem com os seus clientes. inclu-
sivamente temos vindo a crescer
em termos de cota de mercado,
mas não é isso que nos preocupa
tanto. o que nos preocupa mais
é sentirmos a cota de mercado
interna, ou seja, aquilo que de-
signamos de taxa de penetração.
isto é, fazer com que, cada vez
mais, os clientes da caixa agrí-
cola sejam também clientes da
seguradora do crédito agrícola.
portanto, essa é a nossa primei-
ra preocupação. Nós medimos
a nossa performance por essa
taxa de penetração e, também,
pelo índice de capitação (número
médio de apólice seguro que os
clientes têm connosco). estes são
os dois parâmetros essenciais.
Não olhamos tanto para o merca-
do exterior, mas sim mais para o
interior. isto porque estamos per-
to de atingir uma taxa de penetra-
ção de vinte por cento, ou seja,
vinte em cada cem clientes da
caixa agrícola já têm pelo menos
um seguro connosco, mas que-
remos mais. Digamos que esta
margem de progressão de vinte
para quarenta ou sessenta ainda
é enorme. olhamos para dentro e
fundamentalmente temos aí uma
grande capacidade de cresci-
mento endógeno sem ter que
nos preocupar tanto em ir buscar
clientes de outras instituições.
Queremos fundamentalmente, e
é essa a nossa missão,
prestar um bom serviço
e um serviço de quali-
dade aos nossos clien-
tes. Distinguimo-nos
pela qualidade e gestão
e, por algum motivo,
durante dois anos con-
secutivos fomos eleitos
(2008 e 2009), pela
revista exame, como a melhor
seguradora Não Vida no nosso
segmento de dimensão. Não vou
dizer que se houvessem dois seg-
mentos não seríamos a melhor de
todas. provavelmente até sería-
mos, mas como estão criados os
segmentos acima dos cem mi-
lhões e abaixo dos cem milhões,
no qual nos classificamos, fomos
considerados a melhor e dois
anos seguidos. Não foi por acaso.
isto denota efectivamente que
fazemos uma gestão criteriosa e
temos uma carteira de seguros
muito equilibrada. colocamos
para os seguros de automóveis,
habitação, comércio e serviços,
acidentes de trabalho, saúde ob-
jectivos específicos de crescimen-
to exactamente para não haver
uma carteira enviesada. isto
leva-nos a ter uma carteira ➤
Varela Afonso
Presidente da Crédito Agrícola Seguros
O SUCESSO PASSA POR ESTE GRANDE ENTRO-SAMENTO QUE TEMOS CRIADO COM AS CAIXAS AGRÍCOLAS.
85julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ equilibrada e que nos tem dado
não só sucesso no crescimento
como também sucesso nos re-
sultados e garantias financeiras.
Fechámos o ano de 2009 com 230
por cento de rácio de margem de
solvência. o que é muito acima
da média de mercado. É isso que
pugnamos, ter uma seguradora que
ela própria seja solvente, porque
assim garante as responsabilidades
assumidas perante os clientes.
Para conquistarem esses clien-
tes, que já são clientes da
Caixa, vão usar formação para
quem trabalha nos balcões do
banco?
exactamente. para além da for-
mação e deste apoio que referi
(de um coordenador comercial em
cada região para os apoiar no seu
dia-a-dia), temos outros mecanis-
mos como planos de incentivos.
por exemplo: em 2009 houve dois
mil e trezentos colaboradores
das caixas agrícolas que tiveram
um papel activo comercialização
de seguros Não Vida. portanto,
temos vindo a criar um sistema de
incentivos que os alicie, motive e,
também, colocar a solução segu-
ro como uma solução financeira e
uma prestação de serviço inte-
grada ao cliente. Não prestar só
ao cliente a simples abertura de
conta ou um simples crédito, mas ➤
Varela afonso
86 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤ dar a cobertura para esse mes-
mo crédito.
Neste momento como avalia o
mercado nacional e global no
ramo das seguradoras?
Desde há cinco anos a esta
parte, o mercado tem vindo em
termos reais a perder cota. o
mercado Não Vida tem vindo a
decrescer em termos de volume
montante global de prémios. No
nosso caso estamos a crescer.
No ano passado crescemos 2,5
por cento em relação ao ano
anterior. eventualmente teríamos
crescido 4,2 por cento em vez de
2,5 mas temos uma área na qual
ainda temos algum peso, que é
a área dos seguros de colheitas,
que vem da nossa ligação ao
mundo agrícola, tendo os capitais
vindo a decrescer. Decresceu
catorze por cento os prémios nos
seguros de colheitas, daí que
isso amorteceu o nosso cresci-
mento. De qualquer forma, nós
estamos a crescer, ao contrário
do mercado que decresceu em
Não Vida 4,2 por cento em ter-
mos nominais. relativamente ao
mercado aquilo que eu penso é
que ainda pode crescer muito.
muitas vezes há mais entre as
redes agenciarias uma rotação
de carteira do que propriamente
uma promoção de novas apóli-
ces. mas a capitação de seguros
em portugal ainda está longe de
outros países. eu diria que não
era preciso que seja um negócio
de circulação, mas existe ainda
uma protecção a fazer a clientes.
ou seja, podemos crescer e essa
é a nossa aposta interna – fazer
crescer a cobertura dos nossos
clientes – que tenham cobertura
desde os acidentes pessoais, os
seguros de saúde, de habitação,
de responsabilidade civil familiar,
entre outros. temos assim todas
as soluções para crescer.
Disse que o crescimento ficou
à quem devido ao decrescimen-
to dos seguros agrícolas de
colheitas. Nesse decréscimo
estão implícitas as catástrofes
naturais decorrentes deste In-
verno rigoroso?
Não crescemos mais por duas
razões: o mercado está mergulha-
do numa crise, a matéria segu-
rável ao nível das empresas não
tem crescido e ao nível familiar
é natural que haja alguns condi-
cionalismos; e o facto de o nosso
crescimento ter ficado atenuado
deve-se ao seguro agrícola de
colheitas ter capitais seguros me-
nores, porque a própria actividade
agrícola também tem decresci-
do. portanto, isso reflecte-se na
nossa companhia e no próprio
mercado. o seguro de colheitas
este ano no mercado decresceu
também relativamente ao ano an-
terior. É provável que com estes
fenómenos que têm acontecido
possa haver uma maior procura.
o que não é tão verdade, e que
às vezes se diz no mercado, é
que não há seguros de colheitas
ou seguros de estufas. há! e nós
tivemos sinistros de seguros de
estufas, porque temos seguros
de estufas, inclusivamente nestas
tempestades que houve na zona
do oeste a 23 de Dezembro, onde
tivemos três estufas de grande
dimensão sinistradas. esses se-
guros existem.
Pois, mas se calhar a conjuntu-
ra é que faz com que as pes-
soas não invistam, ou porque
estão sempre na esperança que
nenhuma tragédia os atinja.
a verdade é que ainda há muitas
estufas que pela sua natureza
não são seguráveis, sendo as
suas estruturas e coberturas
muito frágeis. a verdade é que
há também nessa área alguma
profissionalização muito grande.
existem empresas agrícolas a
investirem milhões, e essas fa-
zem projectos que seguram todos
esses projectos.
Quais foram as razões desse
sucesso no meio desse cenário
que é de crise global?
o sucesso passa por este grande
entrosamento que temos criado
com as caixas agrícolas. temos
tido algumas iniciativas interes-
santes, tal como: a quinta conven-
ção para os colaboradores que
ultrapassam determinado tipo de
plataformas que lançamos todos
os anos como desafio. Vamos ter
duzentos colaboradores nessa con-
venção em madrid. são desafios
que fazemos para envolver as pes-
soas, pois ajuda a sentir que têm
este produto e, se não for de forma
directa, é de forma indirecta, ajuda
a prestar esse serviço ao cliente.
Projectos futuros para a Crédi-
to Agrícola?
continuar a linha de inovação que
temos tido nos últimos anos com
o lançamento de novos produtos,
desde o seguro de saúde, de pro-
tecção financeira, lançámos agora
um serviço complementar na área
da saúde que é um cartão que
tem uma cobertura de acidentes
pessoais, mas também um con-
junto de prestação de serviços clí-
nicos com preços regulamentados
e definidos. tem tido uma adesão
fantástica. Queremos, sobretu-
do, continuar a melhorar a nossa
prestação de serviços. Nesse as-
pecto, a nossa preocupação é tal
que iniciámos este ano o projecto
de gestão da qualidade com vista
à certificação. n
Varela Afonso
Presidente da Crédito Agrícola Seguros
j. m. teixeira
87julho/setembro 2010 - Diplomática •
1. No Dia Nacional da itália o embaixador luca de
presenzano, aconpanhado pelo consul Gionanni no
uso da palavra
2. À entrada da embaixada italiana uma orquesta dava
as boas-vindas ao som de uma ópera italiana
3. a nossa Directora ladeada pelo embaixador da
tunísia, Farhaie e pelo embaixador do luxemburgo
alain de muyser
4. embaixatriz da turquia, Nurdan türkmen e a em-
baixadora da Noruega inga magistad
5. maria da luz de bragança aconpanhada pelo
embaixador de malta, joseph cassar no Dia Nacional
da Noruega
6. o embaixador da república da islâmica do paquis-
tão, Gul haneff e sua mulher, nas comenorações do
Dia Nacional do seu país
7. Kaya e Nurdan türkmen ofereceram uma festa de
despedida na sua residência oficial, no restelo, onde
compareceram amigos e convidados dos mais diver-
sos meios diplomáticos, políticos, culturais e empre-
sariais, numa homenagem aos diplomatas turcos que
souberam granjear as maiores simpatias e amizades
entre nós. o embaixador e a embaixatriz estão em
portugal desde março de 2007 e, agora, vão represen-
tar o estado turco no chipre.
8. os embaixadores da república da hungria, attila e
andrea Gecse, ofereceram uma festa de despedida na
sua residência oficial para agradecerem todo o apois
recebido durante a sua permanência em portugal.
1 2
3 4 5
6
7 8
Vida diplomática
88 • Diplomática - julho/setembro 2010
Para os polacos, cujo país desapareceu por comple-
to do mapa da europa durante cerca de 150 anos, a
cultura e a tradição nacionais desempenharam, desde
sempre, um papel fundamental na preservação da sua
identidade. os maiores criadores polacos, especial-
mente os da época do romantismo, produziram as
suas obras não só na polónia, mas também no exílio.
este foi o caso de alguns dos mais destacados poetas
românticos como adam mickiewicz, juliusz słowacki
e cyprian Kamil Norwid. o mesmo se passou com
Fryderyk chopin, que depois de ter saído da polónia,
em 1830, nunca mais regressaria à sua pátria. mesmo
no século subsequente, em pleno século XX, poetas e
artistas polacos continuaram a criar as suas obras fora
de território nacional, como é exemplo czesław miłosz,
prémio Nobel da literatura em 1980.
É óbvio que a influência de outras culturas e costumes,
bem como o contacto com ambientes mais cosmopo-
litas, contribuiram para que a mensagem dos artistas
polacos adquirisse o cunho da universalidade. chopin
é um desses artistas universais, um dos maiores do
mundo. a sua obra reúne muitos admiradores não só
na europa, como também nos mais recônditos recantos
do globo, sendo particularmente apreciado na ásia, em
especial no japão e na china.
o compositor nasceu em Zelazowa Wola, num modesto
solar polaco, situado, pitorescamente, entre os prados
e bosques da mazóvia, à beira do rio utrata. para nós,
polacos, o reflexo das paisagens e da cultura do nosso
país na música de chopin parece-nos óbvio. Quando
ouço as suas mazurkas identifico distintamente as ima-
gens dos campos da mazóvia e dos seus chorões...
para responder ao crescente interesse dos admira-
dores internacionais de chopin em visitar os lugares
relacionados com a sua vida, em 2009, o governo
polaco renovou a casa natal do compositor, onde expôs
um novo espólio de objectos pessoais. em março deste
ano foi inaugurado o museu Fryderyk chopin, em Var-
sóvia, que é já muito visitado.
convido todos os entusiastas e apreciadores da música
de chopin a viajar até à polónia e a seguir os cami-
nhos por ele percorridos há dois séculos atrás. Nessa
viagem poderão tomar parte de inúmeros eventos
culturais organizados no âmbito do ano que celebra o
bicentenário do nascimento deste que é um dos maio-
res compositores de todos os tempos. n ➤
Chopin um artista universaltexto: embaixadora da polónia Katarzyna skórzynska
Na embaixada da polónia,
Kataryzyna skórzynska
junto ao quadro de
um concerto de chopin
Arte & CulturA
89julho/setembro 2010 - Diplomática •
chopin. Quadro de ludwik Wawrynkiewicz segundo eguène Delacroix
90 • Diplomática - julho/setembro 2010
O ano de 2010, aclamado como o ano de cho-
pin, comemora o bicentenário do nascimento do
famoso compositor polaco, e na polónia, como
por todo o mundo, multiplicam-se iniciativas que
celebram a sua memória e legado. No mun-
do, realizar-se-ão cerca de duas mil iniciativas
comemorativas do ano de Fryderyk chopin,
concentrando-se mais de 1200 na polónia. ape-
sar de se lhe dedicar todo um ano, é controversa
a tentativa de precisar o dia do nascimento de
chopin. há quem lhe atribua o dia 22 de Feve-
reiro e quem defenda que terá nascido alguns
dias mais tarde, a 1 de março. Na impossibilida-
de de consenso e de irrefutável prova histórica,
mais de 250 músicos e cantores interpretaram
noite e dia, em Varsóvia, a música de chopin
durante 171 horas, o tempo que separa as duas
possíveis datas de nascimento do compositor,
há 200 anos atrás. a obra de chopin inspirou,
desde sempre, as mais variadas manifesta-
ções artísticas e, assim sendo, as actividades
comemorativas a serem levadas a cabo, desen-
volvem-se num espectro tão alargado quanto a
própria imaginação, oscilando entre o clássico e
o contemporâneo, passando pelo registo experi-
mental. 2010 conhecerá concertos e recitais de
música clássica, jazz, blues e rock, além de es-
pectáculos de teatro, bailado, exposições, filmes
e cinema de animação.
Ano de Chopin na PolóniaAinda que a todas as celebrações seja reconhe-
cido um cunho especial, aquelas que se realizam
na polónia, terra natal do compositor, revestem-
se de uma força ainda maior. como já foi referi-
do, em território polaco, registar-se-ão cerca de
1200 eventos associados ao ano de chopin, de-
vendo ser destacadas cinco inciativas principais,
pelo seu renome e dimensão internacional. entre
1 de agosto e 3 de setembro de 2010, realizar-
se-á o Festival internacional de música chopin
e a sua europa, em Varsóvia, que pretende
promover a obra de Fryderyk chopin num largo
espectro cultural. os concertos e recitais do fes-
tival abrangem várias obras e estilos musicais,
desde as composições do século XViii, recriadas
com os instrumentos tradicionais e históricos,
até ao seu reflexo nos trabalhos dos artistas das
gerações contemporâneas, por exemplo, em
edições jazz. em agosto, entre os dias 6 e 14,
terá lugar o Festival internacional da música de
chopin, em Duszniki-Zdrój, o mais antigo festival
de piano do mundo que decorre no mesmo palco
que acolheu chopin, com a participação dos
mais prestigiados intérpretes de piano, sendo
também palco de estreias para os mais talento-
sos jovens pianistas. o evento central do festival
são as masterclasses dadas pelos mais aclama-
dos maestros e celebridades musicais. este ano
o festival contará com a participação de maria
joão pires. o XXiX Festival de música chopin
em cores de outono, em antonin, que decorre-
rá de 16 a 18 de setembro 2010, é o segundo
mais importante festival da música de chopin na
polónia. ao lado dos mais prestigiados nomes do
panorama musical, o festival de antonin pro-
move também os jovens artistas. a sua grande
atracção são os concertos nocturnos, “chopin no
veludo da noite”, que contam com a participação
de todos os intérpretes do festival e que nesta
sua edição de 2010, incluirá um recital de pia-
no do vencedor português do concurso jovens
pianistas 2010 do Festival chopin do teatro
municipal são luiz de lisboa. ainda no domínio
dos concursos pode, finalmente, referir-se o XVi
concurso internacional de piano de Fryderyk
chopin de Varsóvia (2 a 23 de outubro de 2010)
é um dos mais antigos e prestigiados do mundo.
organizado de cinco em cinco anos, tornou-se
numa espécie de jogos olímpicos para os maio-
res talentos de piano, desempenhando um papel
indispensável no desenvolvimento das suas car-
reiras, permitindo o acesso às melhores salas de
concerto do mundo. ainda na polónia, ressalta
como um dos principais acontecimentos do ano
de chopin 2010, a inauguração do museu e cen-
tro de Fryderyk chopin no palácio de ostrogski,
em Varsóvia. projectado por dois arquitectos de
milão, migliore e servetto, e inaugurado no dia
1 de março, é o mais moderno museu biográfico
da europa central, com 1,3 mil metros quadra-
dos. Nele está exposta uma colecção inestimável
de manuscritos e objectos pessoais/lembranças
do compositor. ➤
Ano de Chopin 2010Celebrações do bicentenário do nascimento do compositor polaco
91julho/setembro 2010 - Diplomática •
1
2
3
3
1. jacek Krenz 2. mariola landowska 3. Kasia Wrona 4. joanna latka 5. Kasia Gubernat 6. henryka Woerle
4
5 6
92 • Diplomática - julho/setembro 2010
Ano de Chopin em PortugalEm portugal, o ano de chopin foi inaugurado
com o concerto da orquestra polaca sinfonia
iuventus, que contou com a participação do pia-
nista janusz olejniczak, sob direção de tadeusz
Wojciechowski, no centro cultural de belém,
em lisboa, no dia 8 de março, em simultâneo
com uma exposição de cartazes polacos sobre a
vida e obra de Fryderyk chopin, também paten-
te no ccb. a segunda iniciativa mais marcante
decorreu no espaço da Fundação sousa pedro,
no chiado, onde a exposição colectiva ouvindo
chopin, de trabalhos de artistas polacos residen-
tes em portugal, inspirados na obra de chopin, foi
apresentada ao público entre os dias 21 e 27 de
maio. a exibição resultou do esforço concertado
dos artistas: henryka Woerle, pintora e escultora,
jacek Krenz, pintor, arquitecto e docente na uni-
versidade da beira interior, joanna latka, pintora
e docente na escola superior de arte e Desgin
das caldas da rainha, Kasia Gubernat, pintora e
docente na Faculdade de arquitectura da univer-
sidade lusófona do porto, Kasia Wrona, artista,
pintora e desenhadora residente no algarve, e
mariola landowska, pintora residente em lisboa.
para o resto do ano estão programados uma série ➤
Ano de Chopin 2010
Celebrações do bicentenário do nascimento do compositor polaco
museu de Fryderyk chopin, em Varsóvia
93julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ de eventos, entre os quais se destaca (entre
16 e 19 de junho) o concurso jovens pianistas
2010, inserido no Festival chopin do teatro muni-
cipal são luíz, em lisboa, que dará ao vencedor
do concurso a possibilidade de assistir e participar
no Festival “chopin em cores de outono”, em
antonin, na polónia. ainda no mesmo mês de
junho, serão organizados dois recitais da música
de chopin, interpretados por tomasz pawłowski.
um dos recitais terá lugar na inauguração da
conferência internacional da universidade católi-
ca portuguesa, no dia 24 de junho, no estoril, e o
outro acontecerá dois dias mais tarde, nos cur-
sos internacionais de Verão de cascais, a 26 de
junho. em setembro, também os açores assina-
larão o bicentenário pela celebração dos dias da
polónia nas ilhas terceira e Faial, com um con-
certo de piano e a projecção do filme "chopin – a
Vontade de amar", do realizador jerzy antczak. a
ter início a 30 de setembro e estendendo-se até
ao dia 19 de maio de 2011, o ccb promoverá um
ciclo de nove recitais de piano em homenagem
a Fryderyk chopin pelo pianista artur pizarro.
outubro contará com dois eventos principais, o
recital de piano de Krzysztof jabłonski, no dia 2
de outubro, no centro olga cadaval, em sintra, e
a cerimónia de inauguração do busto de Fryderyk
chopin em lisboa, na avenida da liberdade,
iniciativa que se repetirá em mais de 25 cidades
espalhadas por todo o globo. o mês de Dezembro
será marcado pela projecção de um documentário
sobre a vida e a obra do compositor, no cineclube
de Faro e por um concerto do trio jagodzinski, e
interpretação de canções de chopin, encerrando
oficialmente o ano de chopin.
em portugal, como em todos os países que se
associaram às comemorações do bicentenário,
foram constituídas comissões de honra para
organizar e dirigir as celebrações. Nacionalmen-
te, a comissão de honra para o ano de chopin
conta com a participação da ministra da cultura
da república portuguesa, Gabriela canavilhas, e
do seu homólogo polaco, o ministro da cultura da
república da polónia, bogdan Zdrojewski, nomes
aos quais se somam os de antónio mega Fer-
reira, Director do ccb, e Katarzyna skórzynska,
embaixadora da república da polónia em lis-
boa, na qualidade de co-presidentes executivos,
josé antónio pinto ribeiro, ex-ministro da cultu-
ra da república portuguesa, rui Vilar, presidente
da Fundação calouste Gulbenkian, josé manuel
Dias da Fonseca, presidente da Fundação casa
da música, Fernando andersen Guimarães, pre-
sidente da comissão Nacional uNesco, mário
soares, presidente da Fundação mário soares e
ex-presidente da república portuguesa, Guilher-
me d’oliveira martins, presidente do tribunal de
contas, antónio costa, presidente da câmara
municipal de lisboa, Waldemar Dabrowski, pre-
sidente da comissão para o ano de chopin na
polónia, andrzej Wajda, realizador de cinema, Kr-
zysztof penderecki, compositor, Krystian Zimer-
man, pianista, paweł potoroczyn, presidente do
instituto de adam mickiewicz e josé sequeira e
serpa, embaixador de portugal em Varsóvia.
transversalmente às comemorações do bicente-
nário do nascimento de Fryderyk chopin, foram
publicados alguns livros que sublinham a persis-
tência da sua memória. em portugal, imbuídos
no espírito de ano de chopin 2010, foram lan-
çados três livros, entre eles o de cristina carva-
lho, «Nocturno - o romance de chopin», uma
biografia romanceada da vida do compositor que
segue a verdade histórica de uma existência que
a autora considera ter sido curta, porém “incrivel-
mente apaixonada e apaixonante”. josé jorge
letria, na sua «Última Valsa de chopin» leva-nos
numa viagem pela vida, pelo amor e pela música
daquele que foi um dos maiores compositores
da história. «uma biografia original e a vários
títulos memorável», escreve antónio Victori-
no D´almeida no prefácio. o jornal expresso,
diringindo-se aos mais novos, lançou a colecção
Grandes compositores, integrada por seis livros
distintos, cada um referente a um compositor di-
ferente. chopin foi o primeiro a merecer esta pu-
blicação que se fez acompanhar de um cD com
excertos da sua obra. No mesmo registo infantil,
também miguel sousa tavares, publicou «isma-
el e chopin» onde conta a história da amizade
improvável entre o coelho bravo ismael e o jovem
músico chopin, numa descoberta do mundo da
música e, sobretudo, da figura do memorável
compositor. como em tantas outras histórias
infantis, também esta termina com um mistério e
um segredo por revelar.
ao longo deste ano de 2010 cada um de nós
pode desvendar os mistérios da música de cho-
pin e os segredos que encerrou em cada nota
musical, pela participação nos eventos agenda-
dos para celebrar o bicentenário do seu nasci-
mento, tanto em portugal como na polónia. n
94 • Diplomática - julho/setembro 2010
English & French texts
6. “What sovereignty to Europe in economic, political, diplomatic and defense?”the Diplomática magazine launched another challenge to the Diplomatic corps (european) accredited in
portugal. We wanted to know what is the opinion of ambassadors regarding sovereignty following the
european continent.
What economy? What policy? What diplomacy? What Defense? learn about the opinions of czech,
lithuania, France, italy and belgium, Greece, Finland, ukraine and turkey. ■
6. «Que la souveraineté de l’Europe dans les domaines économique, politique, diplomatique et de défense?”Diplomática a lancé un autre défi au corps diplomatique (européen) accrédités au portugal. Nous voulions
savoir quelle est l’opinion des ambassadeurs suivants concernant la souveraineté sur le continent européen.
Quelle économie? Quelle politique? Quelle diplomatie? quel moyen de défense? en savoir plus sur les avis de la
république tchèque, la lituanie, la France, l'italie, la belgique, la Grèce, la Finlande, l'ukraine et la turquie. ■
22. Visit of President Lula da Silva of Portugalcloser economic ties and increasing the universalism of the portuguese language were the main topics
discussed in the passage of the brazilian president in lisbon
in the final months of the two terms of eight years and with record approval ratings at home, the busy
brazilian president luiz inacio lula da silva, in lisbon ended an expedition of eight days by five countries of
the european and asian continents. ■
22. Visite du président Lula da Silva du Portugalle resserrement des liens économiques et l’augmentation de l’universalisme de la langue portugaise ont été
les principaux thèmes abordés lors du passage du président brésilien à lisbonne
Dans les derniers mois des deux termes de huit ans et avec des taux d’approbation record, la rue animée
président brésilien luiz inacio lula da silva, à lisbonne se terminait un voyage de huit jours a travers cinq
pays des continents européen et asiatique. ■
28. A journey that can change the image of Bento XVIin the private visit of bento XVi to portugal, we will, at a distance, the ability to perceive the outlines of those
days that stood out. there is no doubt that the emotion was the master figure of a pope deeply rational.
bento XVi is presented in portugal in the year that marks the founding of the republic and spell this point
in his first speech. Diplomatically erase the ghosts that were in the minds of some for, then a few hours, to
celebrate the mass in the plaza where the event took regicide. ■
28. Un voyage qui peut changer l’image de Bento XVIlors de la visite privée de bento XVi au portugal, nous allons, à distance, la capacité à percevoir les
contours de ces jours qui se détachaient. il ne fait aucun doute que l’émotion a été la figure principale d’un
pape profondément rationnel. bento XVi est présentée au portugal dans l’année qui marque le centenaire
de la fondation de la république et sort ce point dans son premier discours. Diplomatiquement effacer les
fantômes qui se trouvaient dans l’esprit de certains depuis quelques heures, pour célébrer la messe sur la
place où l’événement a eu lieu le régicide. ■
33. Visit to the Maghreb - Portugal looking to North Africa“betting on exports, the internationalization of our economy, support our businesses that are fighting
for exports in all these markets,” were the wishes of the prime minister in rabat, by way of a general
balance of the trip to four countries maghreb. josé socrates traveled to libya, algeria, tunisia and
morocco to show the “new priority in its foreign policy and economic objectives with those countries.
socrates highlighted the geostrategic importance of bilateral relations and also argued that portu-
guese entrepreneurs should take an attitude of confidence in investment and the internationalization,
taking advantage of ongoing developments in the markets of North africa. ■
33. Visite du Maghreb - Portugal cherche à l’Afrique du Nord«miser sur l’exportation, l’internationalisation de notre économie, soutenir nos entreprises qui se battent ➤
95julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ pour les exportations sur tous ces marchés,” ont été la volonté du premier ministre à rabat, par le biais
d’un équilibre général de ce voyage pour quatre pays du maghreb. josé socrates, s’est rendu en libye, al-
gérie, tunisie et maroc pour montrer la priorité “nouvelle dans sa politique étrangère et les objectifs écono-
miques avec ces pays.
socrates a souligné l’importance géostratégique des relations bilatérales et a également fait valoir
que les entrepreneurs portugais devrait prendre une attitude de confiance dans l’investissement et
l’internationalisation, en tirant parti des développements en cours sur les marchés d’afrique du Nord. ■
36. Mohamed Ridha Farhat - Ambassador of the Republic of Tunisiain lisbon since 2005, mohamed ridha Farhat praised the relationship, common history and bilateral
relations between tunisia and portugal.
the ambassador of tunisia began his career as a diplomat in the ministry of Foreign affairs of his country.
before coming to portugal, played diplomatic positions in brussels and paris, but his first posting was as
ambassador in lisbon.
mohamed Farhat welcomed us for an interview in which they addressed issues of historical, political,
economic, among others. ■
36. Ridha Farhat Mohamed - Ambassadeur de la République de TunisieÀ lisbonne, depuis 2005, mohamed ridha Farhat a loué la relation, l’histoire commune et des relations
bilatérales entre la tunisie et le portugal.
l’ambassadeur de la tunisie a commencé sa carrière en tant que diplomate au ministère des affaires
Étrangères de son pays. avant de venir au portugal, a occupé des postes diplomatiques à bruxelles et à
paris, mais sa première affectation d’ ambassadeur a ete à lisbonne.
mohamed Farhat nous a accueillis pour une entrevue dans laquelle il aborde les questions d’ordre
historique, politique, économique, entre autres. ■
42. For a free and secure Africa - The hope of the OAU ineffective AUthe desire was not forthcoming. When the may 25, 1963, 32 independent african countries signed the
constitution of the organization of african unity (oau) initiative of the ethiopian emperor haile selassie, it
proclaimed, “that this convention will last 1000 years!” however, this was not to be . it took only 39 years for
unity crumble.
Given this inefficiency and ineffectiveness, the heads of state and Government decided at the 38th and last
oau summit, putting an end to the organization and erect a new union, chaired by south african president
thabo mbeki. arises formally the african union (au), which held its first summit on 9 and july 10, 2002.
the most recent pan-african organization is led by Gabonese diplomat jean ping.
the ambassador of tunisia opened the doors of the embassy of their country to commemorate africa Day.
mohamed ridha Farhat received all diplomats from african countries accredited in portugal, presenting them
with a magnificent cocktail. the portuguese government also was represented by secretary of state for
Foreign affairs.
mohamed Farhat spoke on the occasion, and cite a few sentences from the speech of president of the
african union commission, jean ping. ■
42. L’espoir de l’inefficace OUA UAle désir ne vient pas. lorsque le 25 mai 1963, 32 pays africains indépendants ont signé la constitution de
l’organisation de l’unité africaine (oua) initiative de l’empereur éthiopien hailé sélassié, elle a proclamé,
«que cette convention 1000 dernières années!” toutefois, cela ne devait pas être . il a fallu seulement 39
ans pour voir l’unité s’effriter.
compte tenu de cette inefficience et inefficacité, les chefs d’etat et de gouvernement ont décidé au
sommet de la 38e et dernière de l’oua, de mettre fin à l’organisation et la construction d’un nouveau
syndicat, présidé par président sud-africain thabo mbeki. se pose officiellement l’union africaine (ua), qui a
tenu son premier sommet le 9 juillet et 10 mai 2002.
l’organisation la plus récente pan-africaine est dirigée par un diplomate gabonais jean ping.
l’ambassadeur de tunisie a ouvert les portes de l’ambassade de son pays pour commémorer la journée ➤
96 • Diplomática - julho/setembro 2010
English & French texts
➤ africaine. mohamed ridha Farhat a reçu tous les diplomates des pays africains accrédités au portugal, en
les présentant avec un cocktail magnifique. le gouvernement portugais a également été représenté par le
secrétaire d’etat aux affaires étrangères.
mohamed Farhat a parlé à l’occasion, et de citer quelques phrases du discours du président de la commis-
sion de l’union africaine, jean ping. ■
46. 65 Years of Great Victorythe next anniversary of Victory in World War ii is the most important political event. For us, as repeatedly
stressed the russian president, Dmitry medvedev, that date is sacred. a mention of the Victory Day inadver-
tently makes painfully hit the heart of every citizen of russia. as they say in the song dedicated to the Vic-
tory, “Victory Day is a holiday with tears in his eyes.” it is unlikely that even now - 65 years later - in russia,
there is a family that had not been affected by the fires of war. Victory is a great spiritual heritage common to
all peoples of the former soviet union. our parents and grandparents were not only defending our freedom
and saved the motherland - they liberated europe from Nazi enslavement. ■
46. 65 ans de la grande victoirela prochaine date anniversaire de la Victoire de la seconde Guerre mondiale est l’événement politique le plus
important. pour nous, comme souligné à plusieurs reprises le président russe, Dmitri medvedev, cette date est
sacrée. une mention de la Fête de la Victoire par inadvertance fait douloureusement frappé le cœur de chaque
citoyen de la russie. comme on dit dans la chanson dédiée à la victoire, “jour de la Victoire est un jour férié
avec des larmes dans ses yeux.” il est peu probable que, même aujourd’hui - 65 ans plus tard - en russie, il
n'y a pas une famille qui n’est pas été touchée par les incendies de la guerre. la Victoire est un grand patri-
moine spirituel commun à tous les peuples de l’ex-union soviétique. Nos parents et grands-parents n’ ont pas
seulement défendu notre liberté et sauvé la patrie -, ils ont libéré l’europe de l’esclavage nazi. ■
52. Eduardo Gonzalez Lerner - Cuban Ambassador in Portugalhe was an active member in the pre-cuban revolution and continues to do so after the revolution. edward
lerner represents the first time his country as ambassador, the european continent and portugal considers
a “friendly country”, highlighting the “90 years of relations” between the two countries.
the ambassador spoke of the close bilateral relations that the two states in political, commercial, health and
investment, and analyzed the relationship divergent cuba / usa was the first year of obama, “the expecta-
tions and hopes pointed to an improvement in the relationship. unfortunately this did not happen. “ ■
52. Eduardo Gonzalez Lerner - Ambassadeur de Cuba au Portugalil a été un membre actif de la révolution cubaine de pré, et continue de l'etre après la révolution. edward
lerner représente la première fois son pays en qualité d’ambassadeur, le continent européen et le portugal
considère un pays «ami», en soulignant les «90 ans de relations” entre les deux pays.
l’ambassadeur a parlé des relations bilatérales étroites que les deux États dans les domaines politique,
commercial, de la santé et de l’investissement, et analysé la relation divergentes cuba / etats-unis a été la
première année d’obama, “les attentes et les espoirs souligné une amélioration de la relation. malheureuse-
ment, cela ne s’est pas produit." ■
60. European Union - Spanish presidency marked by crisiscame to an end the legacy of the spanish eu presidency. it was a half black and plagued by deteriorating
financial and economic crisis in the eurozone. as for the term starting rotation.
josé luis rodríguez Zapatero had in hand a new and important dossier to apply in europe of 27 - the trea-
ty of lisbon. but the main issue that marked the spanish presidency was a crisis. the difficulty of states to
obtain credit and the consequent decline of their economies, with unemployment rising sharply, put europe
in alarm. even in economic terms, Zapatero and spain have always been in check because of the possibility
of the eu and the international monetary Fund (imF) have to resort to a backup plan to help the country.
it was a presidency marked by the decline in the economic recovery of europe. ■
60. L’Union européenne présidence espagnole marquée par la crisela fin de l’héritage de la présidence espagnole de l’ue. c’était un deminoir et en proie à la détérioration ➤
97julho/setembro 2010 - Diplomática •
➤ de crise la financière et économique dans la zone euro. Quant à la rotation terme de départ pour preparer
la suite.
josé luis rodríguez Zapatero avait en main un dossier nouveau et important d’appliquer á l’ europe des 27,
le traité de lisbonne. mais la question principale qui a marqué la présidence espagnole a été une crise. la
difficulté des etats à obtenir des crédits et la baisse conséquente de leurs économies, avec un chômage en
forte hausse, et l’europe s’alarme. même sur le plan économique, Zapatero et l’espagne ont toujours été
en échec en raison de la possibilité de l’union européenne et du Fond monétaire international (Fmi) d’avoir
recours à un plan de sauvegarde pour aider le pays.
ce fut une présidence marquée par le déclin de la reprise économique de l’europe. ■
62. Enrique Santos - President of the Chamber of Commerce and Industry Luso Spanish - A look at the Spanish Presidency of the European Unionenrique santos took the comment: to what the spanish presidency of the european union a year with some
difficulties of addressing the circumstances that faced the spanish presidency. First there were two strong
constraints that inevitably hampered the performance of the spanish presidency. on the one hand, the
recent entry into force of the treaty of lisbon after several years of tough negotiations and the second
constraint is the strong economic crisis ravaging europe and the international markets. ■
62. Enrique Santos - président de la Chambre de commerce et d’industrie luso espagnol - Un regard sur la présidence espagnole de l’Union européenneenrique santos a eu ce commentaire: la présidence espagnole de l’union européenne l’annee derniere a
eu quelques difficultés a aborder les circonstances qui ont confronté la présidence espagnole. premièrement
il y avait deux contraintes fortes qui, inévitablement ont entravé l’exercice de la présidence espagnole.
D’une part, la récente entrée en vigueur du traité de lisbonne, après plusieurs années d’âpres négociations
et la deuxième contrainte est la forte crise économique qui ravageait l’europe et les marchés internationaux. ■
64. José Mínguez - Officer of Air Europa by Jose Manuel Pinto TeixeiraDelegate of the airline air europa in portugal since last year, josé mínguez has 23 years experience in the
tourism sector. a native of madrid, studied at the Faculty of economics and business. he began working
in the travel marsans, where he served in various departments of tasks related to the general public and
directly with management of companies. however also played for carlson Wagonlit travel in spain in 1998.
in 2002 began his career at the corporation where it is today - globally - for the Division of air europa air
corporation. ■
Now with the challenge of launching air europa in portugal, josé mínguez told us of several plans in motion.
64. José Mínguez - Officier de Air Europa par José Manuel TeixeiraDélégué de la compagnie aérienne air europa au portugal depuis l’année dernière, josé mínguez a 23
ans d’expérience dans le secteur du tourisme. originaire de madrid, a étudié à la Faculté d’economie et
de l’entreprise. il a commencé à travailler acec marsans Voyage, où il a servi dans divers départements de
tâches liées au grand public et directement avec la direction des entreprises. mais aussi travaillé pour carl-
son Wagonlit Voyage en espagne en 1998. en 2002 a commencé sa carrière au sein de la société où elle
est aujourd’hui - dans le monde - pour la division de air europa air corporation.
maintenant, avec le défi de lancer air europa au portugal, nous a dit josé mínguez avec plusieurs plans en
action. ■
68. Luís Palha da Silva - Chairman of the Board of Jerónimo Martinsahead of a major multinational portuguese with food and services, luís palha da silva is the chairman of
the board of jerónimo martins, and has also encompassed the secretary of state for trade.
in this interview, he explained why poland was the target of the economic expansion of the Group, where,
today, assumes a position of great leadership. “poland had a very special charm. it was a country
accustomed to private enterprise and the largest country in population, throughout eastern europe. “
68. Luís Palha da Silva - Président du Conseil de Jerónimo MartinsDevant un portugais avec les grandes multinationales alimentaires et des services, luís palha da silva ➤
98 • Diplomática - julho/setembro 2010
English & French texts
➤ est le président du conseil jerónimo martins, et a également associe le secrétaire d’État chargé du com-
merce.
Dans cette interview, il explique pourquoi la pologne a été la cible de l’expansion économique du groupe, et,
aujourd’hui, prend une position de leadership. “la pologne a un charme très particulier. elle a été un pays
habitué à l’entreprise privée et le plus grand pays en matière de population, à travers l’europe." ■
76. José Joaquim Oliveira - Managing Director and Chairman of IBM Portugalthe managing Director and chairman of ibm portugal is a deep knowledge of the reality of the
company, which already brings three decades of service. before assuming the leadership of the
american representative in london was responsible for business area in the software division of ibm for
the iberian peninsula.
a native of lisbon, josé joaquim oliveira speaks of the presence of ibm in luso land and new business
areas for the future: cities, energy and health. ■
76. José Joaquim Oliveira - Directeur Général et Président d’IBM Portugalle directeur général et président d’ibm portugal est une connaissance profonde de la réalité de la
société, qui regroupe déjà trois décennies de service. avant d’assumer la direction du représentant
américain à londres a été responsable de la zone d’affaires de la division logiciels d’ibm pour la
péninsule ibérique.
originaire de lisbonne, josé joaquim oliveira parle de la présence d’ibm à luso terres et nouveaux
secteurs d’activité pour l’avenir: des villes, la santé et de l’énergie. ■
82. Alfonso Varela - President of the Agricultural Credit Insurancehe began his career in 1981 at the tranquility insurance. passed them by other insurers, where he played
tasks relating mainly to the area of life insurance and pension funds. in 2004, afonso Varela became
president of ca insurance and growth has been remarkable. highlights the quality and management of the
company reason to classify as the best non-life insurer in that segment size. ■
82. Alfonso Varela - Président de l’assurance-crédit agricoleil a commencé sa carrière en 1981 à l’assurance tranquillité. adopté par les autres assureurs, où il a joué
principalement des tâches liées au domaine de l’assurance-vie et fonds de pension. en 2004, afonso
Varela est devenu président du ca d’assurance et la croissance a été remarquable. Faits saillants de la
qualité et la gestion de l’entreprise à raison de classer comme le meilleur assureur non-vie dans cette taille
de segment. ■
88. Chopin a universal artistFor the poles, whose country has completely disappeared from the map of europe for about 150 years, the national
culture and tradition played always had a key role in preserving their identity. the largest polish farmers, especially
those of the romantic era, they produced their works not only in poland but also in exile. this was the case of the
most famous romantic poets as adam mickiewicz, juliusz słowacki and cyprian Kamil Norwid. the same is true of
Fryderyk chopin, who after leaving poland in 1830, never would return to their homeland. even in the subsequent
century, in the twentieth century polish poets and artists continued to create their works outside the national terri-
tory, such as czeslaw milosz, the Nobel prize for literature in 1980. ■
88. Chopin un artiste universelpour les polonais, dont le pays a complètement disparu de la carte de l’europe pour environ 150 ans, la
culture nationale et de la tradition avait toujours joué un rôle clé dans la préservation de leur identité. le
plus grand des compositeurs polonais, en particulier á l’époque romantique, il a produit ses œuvres non
seulement en pologne mais aussi en exil. ce fut le cas des plus célèbres poètes romantiques comme adam
mickiewicz, juliusz slowacki et cyprian Kamil Norwid. la même chose est vraie de Frédéric chopin, qui
après avoir quitté la pologne en 1830,il n'est jamais retourner dans sa patrie. même dans le siècle suivant,
chez les poètes polonais du XXe siècle et les artistes ont continué à créer leurs œuvres en dehors du terri-
toire national, tels que czeslaw milosz, prix Nobel de littérature en 1980. ■