Dino preti
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SOCIOLINGUÍSTICA
DINO PRETI
ESCOLA SUPERIOR DA AMAZÔNIA
Dino Fioravante Preti: professor e lingüista brasileiro, um dos introdutores da Sociolinguística no Brasil e pioneiro dos estudos sobre Oralidade e Análise da Conversação.
É coordenador Projeto NURC/SP (Norma Urbana Culta do Estado de São Paulo) e organizador da série "Projetos Paralelos", atualmente (2009) na nona edição. Lecionou as disciplinas de “Variação Lingüística”, “Língua Oral”, “Língua Portuguesa” e “Filologia”, além de orientações de Mestrado e Doutorado na área de “Análise da Conversação”.
Atualmente na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Dino Preti atua nas seguintes linhas de pesquisa: “Análise da Conversação”; “Estudos do Discurso em Língua Portuguesa” e “Texto e Discurso nas modalidades oral e escrita”. Leciona as seguintes disciplinas: “Variações Lingüísticas no Português do Brasil”, “A Gíria do Brasil”, “Língua Oral e Diálogo Literário” e “Análise da Conversação no Português do Brasil”.
1. A SOCIOLINGUÍSTICA E O FENÔMENO DA DIVERSIDADE
NA LÍNGUA DE UM GRUPO SOCIAL
Dialetos Sociais e Níveis de Fala ou Registros
Língua Sistema de signos convencionais que faculta aos membros de uma comunidade a possibilidade de comunicação.
Língua = elemento de interaçãoIndivíduo Sociedade
Signos (significantes sonoros + significados arbitrários)
Na língua e pela língua que indivíduo e sociedade se determinam
Um mundo de signos linguísticos nos cerca
Formular mensagens
Intercâmbio e comunicação Se realiza fundamentalmente pela língua
Imitação Associação
SonsGestos
Imagens
Canais
Mensagens
Jornal TV Rádio Telefone
Relação
Língua sociedade
Dimensões de Bright
Condicionadas a vários fatores definidos socialmente com os quais a diversidade linguística se correlaciona
Dimensão do emissor
Dimensão do receptor
Dimensão da situação ou contexto (setting)
Dialetos de classe
Estratificação social
Vocabulários especiais de respeito
Elementos relevantes possíveis no contexto de comunicação
• VARIEDADES SINCRÔNICAS: cronologicamente simultâneas, observáveis num mesmo plano temporal. Compreendem as variações causadas por fatores:
geográficos (dialetos ou falares próprios de influência regional – cidade, vila ou aldeia);
socioculturais (família, classe, padrão cultural)
estilísticos (resultado da adequação que o falante faz com finalidades específicas).
2. VARIEDADES DIACRÔNICAS: Dispostas em vários planos de uma só tradição histórica.
VARIEDADES GEOGRÁFICAS (DIATÓPICAS)
São aquelas que ocorrem num plano horizontal, na concorrência das comunidades linguísticas, sendo responsáveis pelos chamados regionalismos, provenientes de dialetos ou falares locais.
Manifestações
Contidas
Hipotética linguagem comum
Nivelamento das diferenças regionais
Linguagem urbana / linguagem rural
Próxima da linguagem comum Conservadora e isolada
VARIEDADES GEOGRÁFICAS (DIATÓPICAS)
A B
C D
a b c d
e f g h
linguagem comum
ABCD: Limites da comunidade linguísticaabcdefgh: Falares locais
VARIEDADES SOCIOCULTURAIS (DIASTRÁTICAS)
A B
a
b
c
d
e g i
f h j
AB – Eixo horizontal das variantes geográficas: falares urbanos e rurais.Ab, cd, ef, gh, ij, etc. – eixos verticais das variantes socioculturais. Podem ocorrer em qualquer ponto do eixo geográfico.
Ocorrem num plano vertical, isto é, dentro da linguagem de uma comunidade especifica (urbana ou rural).
Podem ser influenciadas por fatores ligados diretamente ao falante (ou ao grupo a que pertence), ou à situação ou a ambos simultaneamente.
VARIEDADES DEVIDAS AO FALANTE (ou ao grupo a que pertence)
Idade
Sexo
Raça (ou cultura)
Profissão
Posição social
Grau de escolaridade
Local em que reside na comunidade
Função Dialeto
Culto PopularAula universitária,conferências, sermões XConversa entre amigos ou em família XDiscursos políticos XProgramas culturais e noticiários de TV ou rádio XProgramas de auditório de TV XNovelas de rádio e televisão XComunicações científicas XConversa e entrevistas com intelectuais a propósito de temas científicos e artísticos
X
Irradiação de futebol e outros esportes XExpressão de estados emocionais, confissões, anedotas, narrativas X
Função dos dialetos sociais
Indicação precisa de marcas de gênero, número e pessoa
Usos de todas as pessoas gramaticais do verbo, com exceção, talvez, da 2ª do plural
Emprego de todos modos e tempos verbais
Correlação verbal entre tempos e modos
Coordenação e subordinação; riqueza de construção sintática
Maior utilização da voz passiva
Largo emprego de preposições nas regências
Organização gramatical cuidada da frase
Variedade da construção da frase
Diferenças mais observáveis do ponto de vista da estrutura sintática entre os dialetos sociais
Dialeto social culto
Dialeto social popular
Economia nas marcas de gênero
Redução das pessoas gramaticais do verbo. Mistura da 2ª pessoa com a 3ª no singular
Redução dos tempos da conjugação verbal
Falta de correlação verbal entre tempos
Redução do processo subordinativo em beneficio da frase simples e da coordenação
Maior emprego da voz ativa,em lugar da passiva
Predomínio das regências diretas nos verbos
Simplificação gramatical da frase, emprego de bordões do tipo “então”, “ai” etc
Emprego dos pronomes pessoais retos como objetos
DIALETOS SOCIAIS Comum
Padrão LinguísticoMaior PrestígioSituações mais formaisFalantes cultosLiteratura e linguagem escritaSintaxe mais complexaVocabulário mais amploVocabulário técnicoMaior ligação com a gramática e com a língua dos escritoresetc.
Popular
Culto
Subpadrão linguísticoMenor prestígioSituações menos formaisFalantes do povo menos cultoLinguagem escrita popularSimplificação sintáticaVocabulário mais restritoGíria, linguagem obscenaFora dos padrões da gramática tradicionaletc.
VARIEDADES DEVIDAS À SITUAÇÃO
Uso que o falante faz da língua Situação
Fatores situacionais
Circunstâncias criadas pela própria ocasião
Tema do diálogo Elementos emocionais
Influências determinadas pelas condições extraverbais que cercam o ato de fala
Lugar e tempo em que os atos de fala se realizam
Relações que unem falante e ouvinte = Grau de intimidade entre os falantes
ComumNÍVEIS DE FALA (REGISTROS)
Formal
Coloquial
Situações de formalidades
Predomínio de linguagem culta
Comportamento linguístico mais refletido, mais tenso
Vocabulário técnico
etc.
Situações familiares ou de menor formalidade
Predomínio de linguagem popular
Comportamento linguístico mais distenso
Gíria
Linguagem afetiva, expressões obscenas
etc.
VARIEDADES LINGUÍSTICAS
Geográficas(diatópicas)
Linguagem urbana
Linguagem rural
Dialetos ouFalares regionais
Socioculturais(diastráticas)
Ligadas ao falante,por influência de
IdadeSexoRaçaProfissãoPosição socialGrau de escolaridadeClasse econômicaLocal em que reside
Dialetossociais:culto/popular
Ligadas à situação,por influência de
AmbienteTemaEstado emocionaldo falanteGrau de intimidadeentre os falantes
Níveis de falaou registros:formal/coloquial
2. A NORMA E OS FATORES DE UNIFICAÇÃO LINGUÍSTICA NA COMUNIDADE
Norma linguística
Leis fixadas na consciência coletiva dos falantes
Comportamentos linguísticos Guardam sua unidade
Comunidade aceita uma língua Meio primordial de comunicação
Qualquer variação Prejudicial
Tendência Manter a unidade
Nivelação Compreensão mais fácil
Integração do indivíduoFenômeno linguístico não é estático
Conservador Língua (evolução) Natural (em todos os sentidos)
Colaboração do falante
Diversidade / Uniformidade
Fluxo Refluxo
Força diversificadora Força disciplinadora
Falas individuais
Interação com fatores extralinguísticos
Prescritiva
Nivelando os hábitos linguísticos
Variações socioculturais da linguagem, em relação ao tipo de falante (ou grupos de falantes)
Transformações dos dialetos sociais em convenções linguísticas, leis linguísticas admitidas tacitamente pelos grupos
Uso dos vários dialetos sociais por um mesmo falante, em situações diversas
DIALETOS SOCIAIS NORMAS LINGUÍSTICAS NÍVEIS DE FALA ou REGISTROS
DIALETOS SOCIAIS – NORMAS LINGUÍSTICAS – NÍVEIS DE FALA OU REGISTROS
Culto FormalCulta (padrão)
Popular (subpadrão)
Comum Comum Comum
Popular Coloquial
3. A REPRESENTAÇÃO ESCRITA DAS VARIAÇÍES DA LÍNGUA ORAL
Os meios de comunicação de massa
Aproximação entre linguagem falada e linguagem escrita
Norma comum Intermediária
Satisfaz o receptor (aproximando-se de sua linguagem falada)
Não choca as tradições escritas Obediência à ortografia oficial
ORTOGRAFIA*
Língua falada / língua escrita
Língua escrita Fator de unificação linguística Transformações lentas no tempo e no espaço
*Sistema escrito destinado a representar os signos sonoros numa língua
Reformas ortográficas pouco frequentes
Evolução da fala constante e natural
Defasagem entre dois sistemas (sonoro e escrito)
Ortografia fonética individual
ELEMENTOS SUPRA-SEGMENTAIS*
Signos prosódicos Elementos supra-segmentais
Ortografia fonética individual
Expressões de situação
Marginais à dupla articulação da linguagem
Ritmo
Entoação
Fluência relativa da fala
“Dinâmica vocal”
*Todos os fatos prosódicos são chamados de supra-segmentais porque não se acomodam à segunda articulação da linguagem e porque sempre vêm superpostos aos fonemas.
RELAÇÍES AUTOR-PERSONAGEM
Discurso indireto livre
Fazer a linguagem da personagem passar pelo crivo do narrador
Reprodução dos dialetos sociais e dos níveis de fala
Até que ponto pode o artista interferir na linguagem das personagens
Ainda que procure aproximar-se o mais possível do individuo cuja linguagem esteja reproduzindo
Fala da personagem Linguagem do autor
Correntes literárias
Determinaram interesses diferentes pela realidade
Realista-naturalista Arte documental Descrição dos costumes e dos fatos
Modernista Penetra nas raízes populares
Urbanas ou regionais
Romântica Fixa-se no imaginário Fonte de criação artística
Costumes típicos
- Que tenho sido no seio de sua família e de sua existência, alice? Um germe de contrariedades e desgostos. Quando criança, as lágrimas que derramou, fui eu que as arranquei; quando moça, foi a minha chegada que veio perturbar a alegria de sua feliz primavera. Minha alma é como um desses lagos sinistros, que envenenam com seus miasmas; desgraçado de quem os respira!...¹
¹ José de Alencar, O tronco do ipê² José de Alencar, Senhora³ Visconde de Taunay, Inocência
O velho debulhou uma risadinha que lhe era peculiar.- Han!han!... Então quer saber? Pois lá vai, não faço mistério, não me convinha que a pequena se deixasse iludir pelas lábias de um desses bigodinhos que lhe andam ao faro do dote. Então soube que ela outrora gostara do senhor; e como pelas informações que tinha me quadrava, fui procurá-lo. Agora o resto é por sua conta, maganão.²
- Vassuncê não acredita! Protesta então com calor. Pois encilhe seu bicho e caminhe como eu lhe disser. Mas assunte bem, que no terceiro dia de viagem ficará decidido quem é cavoqueiro e embromador. Uma coisa é maniar à toa, outra andar com tento por estes mundos de Cristo.³
4. O PROBLEMA DA REPRESENTAÇÃO DA VARIEDADE LINGUÍSTICA NA LITERATURA BRASILEIRA
Vi na televisão que as lojas bacanas estavam vendendo adoidado roupas ricas para as madames vestirem no reveillon.Vi também que as casas de artigos finos para comer e beber tinham vendido todo o estoque.- Pereba, vou ter que esperar o dia raiar e apanhar cachaça, galinha morta e farofa dos macumbeiros.Pereba entrou no banheiro e disse:- Que fedor.- Vai mijar noutro lugar, tô sem água.Pereba saiu e foi mijar na escada.- Onde você afanou a TV? - Pereba perguntou.- Afanei, porra nenhuma. Comprei. O recibo está bem em cima dela. Ó Pereba! você pensa que eu sou algum babaquara para ter coisa estarrada no meu cafofo?- Tô morrendo de fome, disse Pereba.- De manhã a gente enche a barriga com os despachos dos babalaôs - eu disse, só de sacanagem.
“Feliz Ano Novo” de Rubem Fonseca
A GÍRIA COMO UM ELEMENTO DA INTERAÇÃO VERBAL NA LINGUAGEM URBANA
Gíria de grupo
Usada por grupos sociais fechados e restritos, que têm comportamento diferenciado. Possui caráter criptográfico, ou seja, é uma linguagem codificada de tal forma que não seja entendida por quem não pertence ao grupo.
O uso de termos gírios dá aos falantes um sentimento de superioridade, serve como signo de grupo, contribuindo para o processo de auto-afirmação do indivíduo. Expressa a oposição aos valores tradicionais da sociedade e preserva a segurança do grupo, pois em determinadas situações a comunicação é nula com aqueles que não pertencem a ele.
Gíria comum
Quando o uso da gíria de grupo expande-se, passa a fazer parte do léxico popular e torna-se uma gíria comum. É usada para aproximar os interlocutores, passar uma imagem de modernidade, quebrar a formalidade, possibilitar a identificação com hábitos e falantes jovens e expressar agressividade e injúria atenuada. Torna-se um importante recurso da comunicação devido a sua expressividade. A gíria comum é usada na linguagem falada por todas as camadas sociais e faixas etárias, por isso deixa de estar ligada à falta de escolaridade, à ignorância, à falta de leitura. Na linguagem escrita é usada pela imprensa e por escritores contemporâneos, e muitos termos são dicionarizados.
Gíria comum
Gata ou gato = mulher bonita, homem bonitoBaranga = mulher feiaCoroa = pessoa idosaCorno = pessoa traídaMagrela = bicicletaAbrir o jogo = contar a verdadeArrancar os cabelos = ficar desesperadoCabeça-dura = pessoa teimosaCom o pé na cova = próximo da morteDar o troco = fazer vingançaPagar o mico = passar vergonha
Gíria de grupo
Prancha = carta (gíria maçon)Dar um fio = telefonar (gíria skatista)Grampeado = preso (gíria da malandragem)Tocossauro - Prancha velha, amarelada, pesada. (gíria surfista)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PRETI, Dino. Sociolinguística:Os níveis de fala: Um Estudo Sociolinguístico do diálogo na Literatura Brasileira. 9.ed. São Paulo. Edusp, 2003.
__________. A gíria como um elemento da interação verbal na linguagem urbana. In: Estudos de Língua Oral e Escrita. Rio de Janeiro. Lucerna, 2004.
__________. Transformações no fenômeno sociolinguístico da gíria. In: Estudos de Língua Oral e Escrita. Rio de Janeiro. Lucerna, 2004.