DINÂMICAS DO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA ORIENTAL … de Bacharelado de Bruno Brant... · Com a...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA
MONOGRAFIA DE BACHARELADO
DINÂMICAS DO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA ORIENTAL E PROPOSTAS DE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
BRUNO BRANT SOTTO MAYOR matrícula nº: 099227380
ORIENTADOR: Prof. Carlo Eduardo F. Young
ABRIL 2004
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA
MONOGRAFIA DE BACHARELADO
DINÂMICAS DO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA ORIENTAL E PROPOSTAS DE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
__________________________________ BRUNO BRANT SOTTO MAYOR
matrícula nº: 099227380
ORIENTADOR: Prof. Carlo Eduardo F. Young
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Dedico essa monografia aos meus pais e à minha namorada Joana que tanto me apoiaram na ida a Belém, cujo período de estadia foi fundamental para o amadurecimento de minhas idéias.
.
[S201] Comentário: Página: 1 [Página opcional. Deletar se não for utilizada]
[S202] Comentário: Página: 1 [Página opcional. Deletar e subtrair da numeração se não for utilizada]
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu orientador Cadu pelo despertar de meu interesse pela questão ambiental
e pela Amazônia, em particular e aos amigos que deixei em Belém.
[S203] Comentário: Página: 1 [Página opcional. Deletar se não for utilizada]
7
RESUMO
Ao longo das últimas décadas várias controvérsias científicas figuraram na tentativa de
explicar a problemática Amazônia, notadamente a persistência do avanço da fronteira agrícola e o
desmatamento crescente. Ao final da década de 90, em meio a persistentes controvérsias,
característica principal do entendimento científico em relação à região, uma nova vertente de
planejamento territorial ganhou forma. Influenciado pela racionalidade econômica-ecológica e
relegando a complexidade social a segundo plano, o Programa Nacional de Florestas propõe
como alternativa de crescimento econômico para a região o uso em larga escala do recurso
florestal, elegendo as empresas madeireiras como atores principais deste novo processo.
Analisando os pressupostos por detrás dessa nova política florestal, vislumbra-se as
inconsistências presentes.
8
SÍMBOLOS, ABREVIATURAS, SIGLAS E CONVENÇÕES
FLONA................. Floresta Nacional IMAZON................Instituto do Homem e do Meio Ambiente na Amazônia MFS....................... Manejo Florestal Sustentável MMA..................... Ministério do Meio Ambiente PNF........................Programa Nacional de Florestas RDS.......................Reserva de Desenvolvimento Sustentável RESEX…………..Reservas Extrativistas SIG........................Sistema de Informações Geográficas SUNAB.................Superintendência Nacional de Abastecimento
[S204] Comentário: Página: 1 [Página opcional. Deletar se não for utilizada]
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................10
CAPÍTULO I – O PROCESSO RECENTE DE OCUPAÇÃO NA AMAZÔNIA BRASILEIRA11
I.1 NOVOS EIXOS RODOVIÁRIOS E O CICLO MADEIRA-PECUÁRIA ...................................................................11 I.2 RENTABILIDADE DA PECUÁRIA: A CONTROVÉRSIA ...................................................................................13 I.3 PÓLOS MADEIREIROS E FRONTEIRAS DE EXPLORAÇÃO ...........................................................................16
I.3.1 Setor industrial em pólos madeireiros...................................................................................................... 18 I.3.2 Rentabilidade da exploração madeireira com e sem manejo florestal..................................................... 20 I.3.3 Comparação de benefícios econõmicos ................................................................................................... 21
I.4 DETERMINANTES CLIMÁTICOS SOBRE O DESEMPENNHO DA AGROPECUÁROA NA REGIÃO AMAZÔNICA ........24 I.5 CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS E SOCIAIS DO NÃO PLANEJAMENTO DE USO DO SOLO...............................28
CAPÍTULO II – ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DO DESMATAMENTO E USO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS FLORESTAIS ...............................................................30
II.1 PROGRAMA NACIONAL DE FLORESTAS .................................................................................................30 II.1.1 Demanda e função das flonas ................................................................................................................. 31
II.2 PRESERVACIONISTAS VERSUS CONSERVACIONISTAS.............................................................................32 II.3 CONCESSÕES FLORESTAIS ..................................................................................................................33 II.4 FLONAS NA AMAZÔNIA BRASILEIRA ......................................................................................................35
II.4.1 Limitantes da metodologia aplicada .......................................................... Erro! Indicador não definido.
CAPÍTULO III – CRÍTICA AOS PRESSUPOSTOS DO PNF.................................................40
III.1 CICLO ÓTIMO DE CORTE E SUAS CONTRADIÇÕES..................................................................................40 III.2 PRÓS VERSUS CONTRAS ....................................................................................................................42 III.3 A DUALIDADE ENTRE FLORESTAS PRIVADAS E SOCIAIS..........................................................................45
III.3.1 Diversidade de contextos e simplicidade de políticas............................................................................ 45 IV.3.2 Alternativas a repartição desigual dos benefícios econômicos ............................................................. 46 IV.3.3 Legado da década de 90 e oportunidades de desenvolvimento em aberto ............................................ 47
CONCLUSÃO.........................................................................................................................50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................51
INTRODUÇÃO
Durante as décadas de 1980 e 1990, a preocupação em relação às taxas de desmatamento
na Amazônia Brasileira estimulou a realização de diversos estudos científicos em vários campos
disciplinares: ciências econômicas, sociais e agrárias e biológicas, com o objetivo de se alcançar
uma melhor compreensão dos fenômenos que estavam ocorrendo e, ao mesmo tempo propor
mudanças nas estratégias de desenvolvimento em direção a sustentabilidade ecológica.
O acompanhamento e detalhamento dos aspectos econômicos, ecológicos e sociais do
processo de avanço da fronteira agropecuária, notadamente a exploração madeireira e a pecuária,
permitiram a delimitação de políticas públicas mais adaptadas às realidades locais..
Em meados da década de 90, uma nova política de desenvolvimento “sustentável” por que
aspas? Se quiser ironia, tem que explicar o porquê da ironia começou a ser desenhada para a
região, baseada no uso econômico do recurso florestal em larga escala e visando a inserção do
setor madeireiro no mercado globalizado e competitivo. Estava tomando forma o Programa
Nacional de Florestas (PNF).
O seu desenho institucional, muito influenciado pelo debate de idéias ocorrido durante a
década, reservava para o Governo o papel de regulador de um sistema de concessões florestais
em florestas públicas de produção. Pretendia, ao mesmo tempo os objetivos estabilizar o processo
vigente de avanço da fronteira econômica, evitando a apropriação recorrente de recursos naturais
de forma predatória pelos agentes privados, e estimular o crescimento econômico na região
amazônica baseado numa economia de base florestal.
Analisando-se criticamente os pressupostos que sustentam o PNF, os objetivos almejados
de curto e longo prazos, e a distribuição potencial de benefícios entre os principais atores
(Governo, empresas madeireiras, populações pobres) será possível depreender-se as vantagens e
desvantagens dessa nova visão de desenvolvimento econômico para Amazônia Brasileira. Isso
será dito na monografia? Seja mais explícito sobre o que a monografia fala.
Excluído: ;
CAPÍTULO I: O PROCESSO RECENTE DE OCUPAÇÃO DA AMAZÔNIA BRASILEIRA
I.1) Novos eixos rodoviários e ciclo madeira-agropecuária
A partir da década de 1970 o processo de ocupação humana na Amazônia Brasileira
adquiriu um novo dinamismo. A visão geopolítica da época e a estratégia desenvolvimentista do
Governo Federal permearam as diretrizes de desenvolvimento econômico. Os principais eixos
rodoviários de integração nacional e regional (rodovias Belém-Brasília, Cuiabá-Santarém, PA-
150 e Transamazônica) possibilitaram o acesso a novas fronteiras florestais.
Com efeito, dois processos econômicos caracterizaram-se, concomitantemente, como
propulsores do desenvolvimento regional e do desmatamento: a exploração seletiva ??? extração
seletiva? Em que sentido? de madeira e a pecuária extensiva. A forte migração populacional das
regiões sul e nordeste, à época em conflitos agrários e com estoque madeireiro decrescente,
marcou o processo de colonização nas novas fronteiras.
A exploração madeireira concentrou-se, de início, ao longo da rodovia Belém-Brasília, na
borda oriental da Amazônia Brasileira. O melhor acesso aos mercados do centro-sul do Brasil foi
determinante para fixação das novas indústrias madeireiras oriundas de Estados do Sul, Sudeste e
Nordeste do Brasil. Acho que vale a pena dizer que nesses estados os estoques de madeira nativa
estavam acabando.
Por outro lado, a pecuária extensiva caracterizou o ordenamento econômico do leste e
sudeste paraenses, ao longo da PA-150, do norte do Mato Grosso, seguindo o caminho da
Cuiabá-Santarém, e do centro do Pará ao longo da rodovia Transamazônica. Devido a maior
distância a percorrer entre esses eixos e os principais mercados consumidores do Brasil, a
indústria madeireira não se interessou de início em explorar essas fronteiras.
A exceção esteve presente ao longo da rodovia Belém-Brasília onde as atividades
econômicas tornaram-se complementares e a lógica de ocupação consistiu de três etapas: (i)
extração seletiva de madeira; (ii) queima das áreas exploradas, com objetivo de “limpar a terra”;
(iii) constituição de pastos para exploração pecuária extensiva.
No início da colonização, o fluxo de migrantes era composto por pequenos produtores da
região Nordeste, desprovidos de assistência técnica, incentivos fiscais e acesso a serviços básicos.
O projeto de planejamento (ordenamento) territorial baseou-se no conceito de agrovilas,
pequenas vilas rurais com pequenas e médias propriedades, ao longo das novas rodovias e
distando-se 50 km umas das outras.
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O fracasso era iminente, principalmente nas áreas caracterizadas por baixas taxas de
fertilidade do solo. Desprovidos de tecnologia para manejarem a terra de características
geoecológicas distintas de suas regiões de origem, os colonos permaneciam em suas propriedades
até o momento em que a produtividade do solo os permitissem.
Utilizando-se a tecnologia “corte e queima”1, a fertilidade da terra decrescia a níveis
baixos em poucos anos, com perda de nutrientes e acúmulo de alumínio, determinantes para a
inviabilidade da agricultura. Com a exaustão da cobertura florestal em suas propriedades, os
colonos tinham duas opções: a venda de terra para pecuaristas (se a localização do lote a
permitisse) ou o abandono de terras degradadas com a posterior migração para pequenas cidades
ou novas fronteiras florestais.
A partir de meados da década de 1970, o Governo Federal reformulou o projeto de
colonização oficial, abrindo mão da colonização baseada na agricultura familiar e privilegiando a
pecuária de larga escala garantidora de maiores divisas de exportação.
Segundo Margulis:
“... os aparelhos de poder convergem para uma ação fundiária centrada na implementação de grandes empreendimentos agropecuários e logram afastar de vez os setores da burocracia que ainda acreditavam num processo de ocupação apoiado principalmente em pequenos produtores agrícolas”.(Margulis, 2003; apud Almeida,1991)
Os incentivos fiscais a agropecuária de larga escala, estimados em US$300 milhões
anuais entre 1974 e 1989 (Margulis,2003; apud. Schneider, 1995), induziram um novo processo
de ordenamento econômico na Região Norte. A segunda leva de migrantes composta
principalmente de sulistas e apoiados por “crédito estatal e concessão de enormes glebas” denota
a escolha por “... uma maior racionalidade econômica nos projetos de colonização dirigidos a
Amazônia”.(Almeida e Campari, 1996)
Neste contexto, a exploração madeireira e a fronteira agropecuária passaram a ter nova
dinâmica. Os pequenos colonos que tinham se estabelecido em terras de boa qualidade eram
pressionados a vendê-las aos latifundiários vindos do sul, apesar da renda auferida com a
produção familiar permitir a sustentação financeira da família.
Isto ocorreu em decorrência da alta valorização do preço da terra em regiões de fronteira,
decorrentes da chegada de migrantes sulistas capitalizados e de grandes empresas agropecuárias
na Amazônia. Neste cenário, a rentabilidade da produção familiar não conseguiu cobrir o custo
de oportunidade da rentabilidade da terra. Somado a isso, o livre acesso a novas fronteiras
1 Consiste na queima de vegetação objetivando adubar o solo com o acúmulo de cinzas de material orgânico.
Excluído: ¶
Excluído: novo
13
florestais estimulou a venda de terras e o avanço da fronteira por parte dos pequenos produtores
(Almeida e Campari, 1995; Young, 1996)
Com a pecuária de larga escala constituindo-se como ator de peso na fronteira amazônica,
a indústria madeireira aumentou seu grau de atuação a partir da chegada de novas firmas na
região e com a oferta abundante de madeira em terras privadas, passando a desempenhar um
duplo papel: (i) capitalizando os pecuaristas através da extração seletiva de espécies madeireiras
de alto valor em suas fazendas; (ii) avançando a fronteira madeireira para áreas florestais sob
domínio de pequenos produtores (sem título de regularização fundiária), abrindo estradas
secundárias de acesso, gerando renda (e acesso para escoamento do excedente produzido) para
esses atores não favorecidos por crédito e, possibilitando o posterior avanço da pecuária de larga
escala sob essas áreas.
Portanto o ciclo vicioso continha a fronteira nova composta pela interação entre pequenos
produtores e empresas madeireiras em um extremo e os grandes pecuaristas capitalizados na
fronteira consolidada no extremo oposto. A interação entre ambos caracterizou e ainda é
responsável pelo avanço da fronteira agropecuária na Amazônia Brasileira, explicitamente
concentradora de terras.
I.2) Rentabilidade da Pecuária: a controvérsia
A política de incentivos fiscais à expansão da pecuária na década de 1970 tinha como
pressuposto a viabilidade econômica desta atividade em zonas úmidas. Os pressupostos
científicos da época defendidos por cientistas agrários sustentavam que a pecuária teria sucesso
caso implantada na Amazônia Brasileira. (Falesi, 1976)
Caminhando em sentido contrário, o abandono crescente de grandes áreas colonizadas pôs
em dúvida a confirmação destes estudos científicos. Ao longo da década de 1980 novos trabalhos
demonstraram o contrário. Segundo estes, a tecnologia de manejo da terra baseada no sistema
corte e queima, utilizado tanto por pequenos quanto por grandes produtores na região, ocasionava
decréscimo de fósforo2 no solo ao longo dos anos e, consequente perda de produtividade das
pastagens. Logo, a atividade tenderia ao longo do tempo à inviabilidade econômica (Cochrane e
Sanchez, 1982).
Contrariando essa nova visão científica, o avanço ininterrupto da pecuária extensiva na
região durante os anos 80 e 90, concomitante à redução dos incentivos fiscais colocou em xeque
Excluído: .
Excluído:
Excluído: .
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a hipótese de não-viabilidade econômica desta atividade, estimulando a realização de novos
estudos a respeito.
Arima e Uhl (1996) realizaram extensa pesquisa de campo em várias sub-regiões da
Amazônia Oriental. Foi demonstrado que a atividade tradicional, cria-recria-engorda, não possuía
retornos financeiros que justificassem a expansão e permanência da pecuária de larga escala na
Amazônia.
Explicar o que é vpl e tir
Tabela 1: Rentabilidade financeira da pecuária com taxa de desconto de 6%,no sudeste paraense.
Fonte: Arima e Uhl,1996
Segundo os autores a atividade poderia se tornar rentável apenas através da substituição
do sistema corte-e-queima pela reforma dos pastos com utilização de adubação química, ao
possibilitar a intensificação da pecuária através do aumento da capacidade de lotação média das
pastagens. Porém, o alto custo de adoção desta tecnologia (US$260/ha) estaria posicionando-se
como barreira à inovação do sistema de produção.
A principal conclusão do estudo é a nova explicação para manutenção e expansão da
fronteira agropecuária na região: o ganho com a especulação de terras estimado em 6% a.a. e o
baixo custo inicial para compra de terras, explicado pelos amplos subsídios governamentais
concedidos.
2 Importante nutriente para fertilidade de terras agrícolas.
Local/Sistema VPL / ha (US$) TIR Pequenas Propriedades Tamanho médio: 253ha -Pecuária Leiteira 90 9% Propriedades Médias Tamanho médio: 3.738ha -Cria-recria-engorda -53 5% -Recria-engorda 24 7% -Cria -100 3% Propriedades Grandes Tamanho médio: 21.570 -Cria-recria-engorda -101 3% Propriedades muito grandes Tamanho médio: 135.835 -Cria-recria-engorda -116 3%
15
Posteriormente, Margulis (2003) refutou a hipótese de que a especulação de terras e os
subsídios governamentais seriam os indutores da expansão da fronteira agropecuária na região.
Para o Autor:
“... as análises econômicas que sugerem uma baixa rentabilidade da pecuária na Amazônia, ou que sugerem sua viabilidade apenas quando baseada em subsídios ou ganhos especulativos, vão claramente contra a tendência inexorável tanto da contínua expansão dos desmatamentos e da área dedicada à pecuária na região, como contra a também inquestionável redução, ou eliminação, dos subsídios e créditos do governo para a atividade na Amazônia”. (Margulis, 2003)
Em pesquisas de campo por fronteiras antigas (consolidadas) 3 da Amazônia Oriental, a
rentabilidade financeira encontrada para atividade de pecuária foi superior a de estudos
anteriores.
Tabela 2: Análise financeira pelo método fluxo de caixa da atividade pecuária cria-recria-engorda.
Local Receita Líquida por ha (R$/ano) T.I.R. Alta Floresta-MT 138,91 15,2 Paragominas-PA 95,39 16,7 Redenção-PA 65,83 14,6 Santana do Araguaia-PA 95,8 16,9
Fonte: Margulis, 2003.
Isto foi possível através da intensificação da pecuária que ao substituir o manejo da terra
baseado no sistema corte-e-queima pela reforma dos pastos, utilizando-se fertilizantes e melhores
espécies de pastagens, permitiu o aumento da lotação média dos pastos de 0,65 cabeças/ha para
1,15 cabeças/ha em média. Aliado a isso foi verificado que a pastagem nas fronteiras antigas é
altamente produtiva devido ao clima úmido de transição, onde o nível pluviométrico encontra-se
entre 1800 e 2.200mm/ano, proporcionando crescimento de pastagens durante todo o ano e
diminuindo o tempo necessário para o abate do animal.
Com este estudo, nota-se que o alto custo de reforma de pastos não tem se caracterizado
como uma barreira intransponível. Pelo contrário, tem ocorrido uma forte tendência no setor,
especialmente dos pecuaristas mais capitalizados na direção de melhoramento das tecnologias de
produção. Segundo Margulis (2003), “... mais de 600.000 ha abandonados foram recuperados
com variedades melhoradas de pasto”.
3 Por fronteira antiga considera-se as áreas colonizadas a partir da década de 70 e que atualmente contam com pequenas proporções de vegetação nativa.
Excluído: á
16
Este movimento tende a generalizar-se através de estímulos gerados pela competição de
mercado, permitindo a difusão dessa tecnologia por áreas da fronteira consolidada onde haja
semelhança climática (nível pluviométrico de até 2.200mm/ano).
A importância deste estudo reside na melhor compreensão dos estímulos à expansão da
fronteira agropecuária sobre florestas, notadamente nas novas fronteiras de expansão do sul do
Pará ( Município de São Felix do Xingu) e ao longo da rodovia Cuiabá-Santarém.
Neste novo cenário explicativo, a rentabilidade da pecuária nas fronteiras consolidadas
estaria gerando demanda por terras em fronteiras novas dotadas de mesmas características
geoecológicas e, portanto, estimulando a grilagem de terras. Neste processo, os primeiros
posseiros (pequenos produtores e grileiros) auferem lucros com a venda de terras aos pecuaristas
capitalizados, mas só avançam a fronteira porque a disposição a pagar do comprador final
superará seus custos com grilagem e limpeza da terra. Por outro lado, a disposição a pagar do
pecuarista estará diretamente relacionada com a rentabilidade financeira auferida com a pecuária
na fronteira consolidada (Margulis, 2003).
Em suma, a pecuária é a grande indutora do desmatamento e avanço da fronteira
econômica em sub-regiões da Amazônia que possuem características de solo e clima similares à
de áreas de ocupação mais antigas, atualmente com alta rentabilidade financeira.
I.3) Pólos madeireiros e fronteiras de exploração
A partir de meados da década de 1980, o Estado do Pará, já então o maior produtor de
madeira da Amazônia Brasileira, teve um boom na produção madeireira, principalmente na
região leste. A atividade antes concentrada ao longo da rodovia Belém-Brasília espalhou-se ao
longo da PA-150 e em menor escala nas rodovias Transamazônica e Cuiabá-Santarém.
A exploração predatória e a inexistência de práticas de manejo florestal que garantissem a
perpetuação da capacidade da floresta em ofertar madeira no longo prazo demonstravam a
insustentabilidade desse modelo vigente. Ao final da década de 90, apesar de 75% das empresas
madeireiras ainda concentrarem-se na região leste e sul do Pará (Veríssimo et. al 2002), o estoque
decrescente de madeira nessa região levou-as à busca por madeira em regiões cada vez mais
longínquas da origem das indústrias e, em proporção crescente, ao fluxo migratório de empresas
madeireiras para novos pólos madeireiros4.
Segundo Schneider:
4 Municípios com concentração de empresas madeireiras e consumo anual de, no mínimo, 100.000 m³/ano.
Excluído: .
Excluído: tem levado
17
“Após três décadas de exploração, houve uma redução significativa do recurso florestal no leste e sul do Pará. Em conseqüência disso, os madeireiros estão migrando para as ricas florestas do centro e oeste do Estado”.(Schneider et al.,2003)
O caso de Paragominas, o maior pólo madeireiro do Pará na década de 1990, é
paradigmático. Em 1998 pesquisas na região comprovaram a escassez crescente de madeira,
decorrente de uma drástica redução do estoque natural de madeira. A diminuição na produção
madeireira foi da ordem de 55%, em relação ao boom do período 1988-1992 (Veríssimo et
al.2002).
Portanto, no cenário atual de exploração madeireira há uma tendência de fluxo contínuo
de pólos madeireiros antigos a pólos madeireiros novos, devido ao método insustentável de
exploração florestal adotado e ao conseqüente declínio do estoque madeireiro no longo prazo.
Estes novos pólos, localizados em novas fronteiras florestais ao longo dos eixos rodoviários ainda
não pavimentados (Transamazônica e rodovia Cuiabá-Santarém) tendem a seguir em breve, caso
não haja uma mudança paradigmática no setor florestal da Amazônia, o “boom” insustentável de
produção madeireira verificado em fronteiras antigas.
Mapa 1: Pólos madeireiros na Amazônia Brasileira
Fonte:Lentini,et.al,2003
Excluído: O
Excluído: .
I.3.1) Setor industrial em pólos madeireiros
Em cada tipo de pólo, a estrutura industrial do setor madeireiro possui características
próprias. Nas regiões de exploração recente o cenário consiste de empresas dotadas de baixo
nível tecnológico, normalmente com uma serra-fita padrão5, e produtoras de pequena diversidade
de bens, sendo na maioria dos casos produtores de apenas um bem final: pranchas de madeira
serrada com dimensões padronizadas.
Neste sistema de produção há grande desperdício de madeira devido ao não
aproveitamento das sobras para produção de bens secundários, tais como: portas, assoalhos,
forros, janelas, etc. Estima-se que uma serraria típica localizada em pólos madeireiros novos
obtenha aproveitamento de apenas 33% no processamento de toras (Veríssimo et al.1992).
Além disto, as empresas são caracterizadas por baixa capacidade empresarial, só atuando
em determinada parte da cadeia produtiva. A estrutura industrial do setor não é baseada em
empresas integradas verticalmente, mas sim pela interação entre diversos atores ao longo da
cadeia.
Neste cenário nota-se três atores principais repartindo-se os lucros da atividade entre si:
grandes e pequenos proprietários de terra (muitas vezes griladas ou devolutas) como fornecedores
de madeira; extratores responsáveis pela exploração e transporte de madeira da floresta para os
pátios das serrarias; e as serrarias responsáveis pelo processamento industrial.
Num levantamento realizado em Tailândia-PA (pólo madeireiro novo no início da década
de 90), observou-se que o preço da árvore em pé vendida pelos fornecedores aos extratores era,
em média, US$ 5 a tora6; o da madeira em tora vendida às serrarias era US$18/m³; e o da madeira
serrada era, em média, US$90/m³. A divisão desigual dos lucros se processava da seguinte
maneira: proprietários do recurso recebiam 1% do valor total da madeira serrada, enquanto que
os extratores recebiam 39% e as serrarias 60% do total (Veríssimo et al.,1992)
Nota-se que a exploração em fronteiras novas é caracterizada pelo baixo número de
espécies potenciais, decorrente da seletividade de espécies nobres de alto valor e da preferência
por espécies de grande diâmetro, em parte decorrente do tipo de produto final, ocasionando baixo
impacto na harmonia ecológico da floresta , já que são retirados em média dois indivíduos por
hectare.
5 Maquinário de uma serraria típica, responsável pela transformação de toras em pranchas serradas. Devido ao baixo nível tecnológico acarreta grande desperdício, por ser pouco precisa. 6 Cada tora retirada de floresta primária possui em média 5 m³.
Excluído: madeireiro
Excluído: .
Excluído: .
19
Todavia, com o passar dos anos, dois processos ocorrem: (i) capitalização das empresas e
tendência à integração vertical; (ii) chegada de novas empresas aumentando a concorrência e a
pressão sobre recursos madeireiros. Nesta fase, considerada como de transição para um futuro
pólo madeireiro antigo, a variedade de espécies exploradas aumenta exponencialmente não é um
pouco de exagero? passando a incluir espécies de médio e baixo valor e de diâmetro menor,
englobando até 100 espécies potenciais para exploração madeireira, como verificado em
Paragominas-PA nos anos 90.
No aspecto empresarial novos equipamentos são adquiridos, diminuindo o desperdício de
madeira, ao mesmo tempo em que as empresas diversificam os produtos finais: pranchas de
madeira serrada, bens serrados secundários, laminados e compensados, etc. O pólo madeireiro a
partir desse estágio vivencia o “boom” da atividade madeireira, alcançando o pico de produção.
Sob o ponto de vista ecológico a intensificação da produção causa danos severos à
estrutura florestal, devido à maior quantidade de indivíduos extraídos por hectare (de dois para
seis em média), e à aceitação de indivíduos de menor diâmetro no mercado. Além disso, as
florestas serão exploradas várias vezes num curto espaço de tempo (“reentradas’),
impossibilitando o tempo necessário de regeneração para um segundo ciclo de corte, em 30
anos”.
A exploração intensiva provocará a abertura de grandes clareiras no interior da floresta,
aumentando a incidência de luz solar e que, acompanhado de resíduos provenientes da
exploração madeireira (árvores mortas e não aproveitadas, serragem, folhas e galhos secos)
tornará a floresta altamente susceptível a incêndios florestais.
Em suma, com a passagem de pólo novo para pólo antigo o processamento industrial
aumenta e, concomitantemente, ocorrem danos severos e até irrecuperáveis à floresta impedindo
que esta continue a ofertar madeira no longo prazo. Com isso, a escassez crescente de madeira
levará ao fluxo de empresas para novos pólos de exploração madeireira, ao mesmo tempo em que
deixará os municípios, outrora prósperos, em colapso econômico, em decorrência do aumento de
desemprego na indústria e da queda na arrecadação de impostos.
Formatado: Cor da fonte:Vermelho
Excluído: estará
Excluído: ndo
Excluído: rá
20
I.3.2) Rentabilidade da exploração madeireira com e sem manejo florestal
Diante da insustentabilidade no longo prazo da atual forma de exploração madeireira,
diversos estudos passaram a ressaltar a necessidade de implementação de técnicas de manejo
florestal, de modo a se explorar a floresta de forma planejada, impedindo os danos ecológicos
decorrentes das práticas atuais de exploração predatória e garantindo a geração de renda por
várias décadas, ao possibilitar diversos ciclos de extração madeireira.
A partir de meados da década de 1990 alguns autores buscaram comprovar a viabilidade
econômica do manejo florestal e demonstrar aos principais atores (Governo, proprietários de terra
e empresas madeireiras) a importância da adoção de práticas sustentáveis na extração madeireira,
tanto do ponto de vista econômico quanto ecológico.
Até então o manejo florestal era visto por estes atores apenas como uma “lei para inglês
ver”, presente na legislação florestal brasileira, mas de difícil implementação seja pela falta de
capacidade fiscalizadora e implementadora do Governo, seja pela total falta de conhecimentos
sobre silvicultura tropical no Brasil ou ainda pela percepção do empresariado de que a adoção de
tais práticas aumentaria os custos do empreendimento madeireiro a ponto de inviabilizar
economicamente a produção na região amazônica (Barreto et al. 1998).
A fim de desmistificar as percepções correntes foram realizados estudos comparativos
entre a exploração madeireira com manejo e sem manejo, objetivando a análise de rentabilidade
financeira nos dois cenários. Barreto et al (1998) realizaram um estudo no pólo madeireiro de
Paragominas, que consistiu da comparação de custos e benefícios de ambos os tipos de
exploração madeireira em áreas-piloto.
Numa área de 105 hectares de floresta primária foram realizados a exploração com
manejo florestal, enquanto que uma área de 75 hectares foi concedida a uma empresa madeireira
da região para explorar de acordo com seus métodos de extração usuais.
A principal diferença entre exploração com manejo e sem manejo está no planejamento da
extração. Naquela há um censo florestal prévio para identificar a localização dos indivíduos
potenciais, para minimização dos impactos ecológicos e auxiliar todo os procedimentos do
processo de extração madeireira, tais quais: planejamento de estradas principais, secundárias e de
pátios para estoque de toras; corte de cipós pré-exploração; escolha da direção de queda que
minimize o impacto sobre indivíduos novos e potenciais para o segundo ciclo de corte; e
tratamentos silviculturais pós-exploratórios para acelerar a regeneração ecológica da floresta.
Excluído: .
21
Além disso, a área é dividida em talhões de tamanho médio variável, dependendo do
tamanho total da área a ser explorada. Supondo um ciclo de corte de 30 anos, na área de
exploração seriam demarcados 30 talhões de tamanhos semelhantes. Em cada ano seria explorado
apenas um talhão, de modo que após a exploração do último talhão a ser realizada no trigésimo
ano, o primeiro talhão já teria condições de ser explorado num segundo ciclo de corte.
De forma antagônica, a exploração sem manejo é caracterizada pela falta de planejamento
prévio incluindo: não localização prévia dos indivíduos a serem extraídos fazendo com que os
motosserristas das empresas escolham os indivíduos potenciais na hora do corte; ausência de
preocupações com a minimização de danos; falta de tratamentos pré-exploratórios para cortes de
cipós a fim de evitar que na queda a árvore extraída arraste outras de diâmetros menores e
potenciais para um segundo corte; falta de planejamento de estradas acarretando em severos
danos à estrutura ecológica da floresta (abertura desnecessária de clareiras) e aumento de custos;
não ocorrência de tratamentos silviculturais pós-exploração; e ausência de demarcação prévia de
talhões.
Com efeito, há grande variação entre os tipos de exploração no que concerne aos danos
ecológicos, ao prazo estimado para um segundo ciclo de extração e à rentabilidade financeira.
Enquanto que na exploração sem manejo, onde há severos danos a estrutura ecológica, estima-se
um segundo ciclo de corte de mais de 90 anos, na exploração manejada o prazo projetado é de 30
anos devido à minimização dos impactos ecológicos e aos tratamentos silviculturais após a
exploração madeireira (Barreto et al., 1998).
I.3.3) Comparação de benefícios econômicos
As características e a generalização da exploração não manejada na região indicam o
quanto o empreendimento madeireiro ainda vê o recurso florestal como abundante. A visão de
longo prazo cede lugar à racionalidade econômica de curto prazo que visa alcançar o máximo de
rentabilidade econômica no momento presente em detrimento da manutenção do estoque
madeireiro para fins industriais durante décadas.
Caminhando em sentido contrário, os resultados encontrados demonstram que apesar do
pensamento vigente sobre a inviabilidade econômica do manejo florestal, verifica-se que este
possui retornos financeiros superiores aos da exploração convencional. Isto decorre do
desperdício madeireiro ocasionado sob práticas exploratórias sem manejo, tais como ineficiência
das operações de extração e abandono na floresta de indivíduos cortados e não encontrados pelos
Excluído: a
Excluído: .
Excluído: quais:
22
tratoristas. Esta última, apesar de parecer sem lógica, foi verificada em diversas áreas de
exploração convencional na região e, portanto, pode-se ser caracterizada como recorrente.
Segundo Barreto:
“... enquanto os desperdícios de madeira durante a derrubada e arraste na exploração sem manejo somaram 8,83 m³/ha ou 26,4% do volume derrubado, na exploração manejada representaram apenas 1% do volume, ou seja, uma diferença de 25,4%. Portanto, para cada 1 m³ extraído na exploração com manejo, somente 0,75 m³/ha seria explorado na operação não manejada”.(Barreto et al.;1998)
Devido à permanência de maior número de espécies novas intactas e ao crescimento mais
rápido da floresta manejada mediante tratos silviculturais, estima-se para o segundo corte (30
anos) um volume madeireiro maior em florestas manejadas do que em florestas não manejadas
anteriormente, permitindo que seja auferida maior renda. As previsões de Barreto et al (1998)
indicam um volume disponível para o segundo ciclo de corte (30 anos) aproximadamente 64%
maior em florestas manejadas.
Tabela 3: Rentabilidade projetada da exploração convencional versus exploração com manejo
Ciclo de corte 30 anos Volume explorado m³/há VPL (R$/ha) das duas colheitas Tx. de desconto: 8%(12%)Com manejo Total: 76,8 Total: R$1.401(R$1.299)1° corte 38,6 2° corte 38,2 Sem manejo Total: 45,8 Total: R$993(R$939)1° corte 29 2° corte 16,8 Fonte: Barreto et.al.(1998)
Portanto, o Valor Presente Líquido da exploração com manejo das duas colheitas,
projetando-se ciclos de corte de 30 anos, seria 38% superior ao obtido mediante exploração
convencional. Isto corrobora a viabilidade econômica do manejo, dentro deste experimento.
Todavia, transladando-se para o mundo real nota-se as dificuldades inerentes à
generalização desses dados. Souza (2002) analisou quatro modelos de exploração madeireira com
os custos da terra (direta ou indiretamente) sendo considerados: (i) manejo florestal em florestas
públicas, (ii) manejo florestal em florestas privadas, (iii) exploração convencional com compra de
terras, (iv) exploração convencional com compra de direitos de exploração em áreas de pequenos
e grandes proprietários de terra. Utilizaram-se como parâmetros a intensidade da exploração em
40 m³/ha, ciclo de corte de 30 anos e área total de 12.000 ha.
23
Tabela 4: Análise financeira de quatro modelos de exploração madeireira.
Modelo (i) (ii) (iii) (iv) Atividades % custo total % custo total % custo total % custo total Aquisição de terras 11,16 29,11 6,01 pré-exploratórias 17,52 15,57 1,66 2,2 exploração 12,63 11,22 23,03 30,54 transporte 29,9 26,57 46,2 61,26 manutenção de estradas 13,67 12,14 tratos silviculturais 26,27 23,34 Total 100 100 100 100 TIR 1,93% 61,26% 521,13% VPL / ha (tx. Desconto 4%) R$151,50 -R$298,50 R$1.789,77 R$2.930,88 VPL / ha (tx. Desconto 12%) R$379,26 -R$70,71 R$1.321,47 R$2.462,40 Fonte: Souza, 2000.
Os resultados demonstram a alta rentabilidade da exploração madeireira convencional,
independentemente do custo com a aquisição de terra. Nesse tipo de exploração o madeireiro
retira por hectare um volume duas vezes maior do que no manejo, ou seja, 80m³/ha, devido às
duas reentradas na floresta ao terceiro e ao quarto ano após o primeiro corte para extração de
indivíduos de menor diâmetro e de valores comerciais médio e baixo.
Isto corrobora a relutância do setor madeireiro em adotar práticas de manejo florestal.
Devido à maior lucratividade da exploração predatória, a oferta abundante de venda de direitos
de exploração em terras de terceiros e à falta de capacidade fiscalizadora do Governo, não há
estímulo à adoção de práticas mais sustentáveis de exploração madeireira baseadas no manejo
florestal (Souza,2002)
A exploração madeireira em terras públicas em regime de concessão é utilizada em
diversos países com tradição florestal e, por isso, foi considerada no estudo. A rentabilidade
financeira baixa encontrada neste modelo é decorrente do baixo preço da madeira no mercado,
devido à oferta abundante de madeira explorada convencionalmente. Desse modo, a madeira
manejada será mais cara e não competitiva no mercado, por possuir embutido em seu preço final
os custos de manejo florestal. Isto indica que qualquer estratégia de promoção de manejo florestal
sustentável em florestas públicas terá que ser acompanhada por políticas complementares
eficazes que coíbam a abundância de madeira de origem não manejada.
Por outro lado, o manejo em floresta privada mostrou-se inviável economicamente, indo
contra a tendência recente de aquisição de terras por empresas privadas para produção madeireira
Excluído: madeireiro
Excluído: h
Excluído: á
Excluído: a
Excluído: .
24
de larga escala sob regime de manejo florestal 7. Esse resultado talvez se deva ao fato de as
empresas hipotéticas não terem sido consideradas integradas verticalmente, apenas fornecedoras
de madeira em tora para a indústria (serrarias, fábricas de compensados e de laminados) e, por
conseguinte, ter sido considerado como preço final o valor referente à madeira em tora no
mercado.
Com efeito, o estudo demonstra indiretamente a importância de se analisar a rentabilidade
da atividade madeireira sob a ótica de empresas integradas verticalmente. Apenas dessa maneira
poderá ser afirmada ou refutada a hipótese de viabilidade econômica do manejo florestal na
Amazônia, tanto em terras privadas como públicas, possibilitando o melhor planejamento de
políticas públicas na Amazônia.
Apesar disto, apenas com os resultados já obtidos, nota-se a importância do papel
governamental na implementação de práticas sustentáveis de exploração madeireira na região.
Isto se torna ainda mais crucial, na medida em que grande parte da Amazônia Brasileira localiza-
se em zonas de alto nível pluviométrico anual, o que inviabiliza, a priori, outras atividades de uso
do solo10.
I.4) Determinantes climáticos sobre o desempenho econômico da agropecuária na região amazônica
Há na literatura internacional diversos trabalhos que ressaltam as dificuldades enfrentadas
pela agropecuária em regiões tropicais úmidas, sinalizando a inviabilidade econômica e as
barreiras ecológicas para produção de grãos e gado em larga escala, em grande parte da
Amazônia Brasileira devido ao alto nível de pluviosidade e suas conseqüências, tais quais: alto
custo para instalação de infra-estrutura(construção e manutenção de armazéns e estradas),
inviabilidade da mecanização agrícola devido à inexistência de um período seco prolongado,
baixa fertilidade dos solos saturados pelas chuvas, maior propensão para desenvolvimento de
pragas e aceleração do processo de degradação das pastagens devido a perda contínua de
nutrientes.(Schneider et.al, 2000)
Schneider et al (2000) utilizaram diversas fontes de dados 9 para delimitar as zonas de
pluviosidade na Amazônia Brasileira e, por conseguinte os potenciais de uso econômico do solo.
7 A empresa Cikel possui uma área de exploração madeireira manejada sustentavelmente de 100.000 hectares, aprovada pelo FSC, entidade internacional de certificação ambiental da exploração madeireira manejada. 10 Neste caso exclui-se atividades mineradoras e extração de petróleo e gás. 9 Censo agropecuário 1995-1996(IBGE) ,Projeto Radam Brasil 1973-1978 , dados de pluviosidade da Agência Nacional de energia elétrica (ANEEL) e dados do Projeto EOS Amazônia da Universidade de Washington-EUA.
Formatado: Texto de nota derodapé
Formatado: Fonte: Arial
25
Foram caracterizadas três grandes áreas (Mapa 2): (i) zona seca com pluviosidade menor do que
1.800mm/ano; (ii) zona de transição (1.800-2.200mm/ano); e (iii) zona úmida com pluviosidade
anual superior a 2200 mm.
Mapa 2: Zonas climáticas na Amazônia Brasileira Fonte: Schneider et al.,2000.
Nas sub-regiões secas são encontradas condições favoráveis para o desenvolvimento da
pecuária e da agricultura de grãos de larga escala em decorrência da boa drenagem dos solos e à
estação seca bem definida que permite a mecanização agrícola. Nestas áreas predominavam tipos
de cobertura vegetal distintos do restante da Amazônia: cerrados e florestas abertas e ocorreram
processos de colonização antigos e de sucesso. O bom desempenho do plantio de soja e da
pecuária de larga escala em Rondônia e Mato Grosso confirmam a importância da variável
climática no sucesso da agropecuária.
Na zona de transição climática há predominância de floresta densa, acompanhada de
algumas manchas de floresta aberta no sul do Pará. Em áreas com essa característica climática
têm ocorrido forte pressão antrópica sobre a floresta através, principalmente das atividades
econômicas de pecuária extensiva e extração madeireira predatória, com maior concentração ao
longo das Rodovias Cuiabá-Santarém e Transamazônica, e sobre a Terra do Meio10 no sul do
Pará.
Apesar da suposta inviabilidade econômica e ecológica da produção de grãos de larga
escala nessa zona e da baixa rentabilidade financeira da pecuária, defendida por Schneider et al
(2000), estudos recentes demonstraram a alta rentabilidade financeira da pecuária em partes
representativas desta zona (Rondônia, norte do Mato Grosso, sul e leste do Pará; Margulis, 2003).
Portanto essa atividade, ora complementar a atividade madeireira, vem desempenhando papel
relevante no avanço da fronteira sobre essas áreas, principalmente no Estado do Pará.
A chegada da soja na região11 demonstra que nesta zona, representativa de 38% da
Amazônia, o desempenho agrícola, atualmente caracterizado como ator secundário no avanço da
10 O território entre os rios Xingu e Iriri é conhecida como terra do meio.Em trabalho inédito, o Imazon detectou através de informações de campo e imagens de satélite a existência de estradas madeireiras e pequenas vilas de colonos entre São Felix do Xingu,tradicional fronteira antiga de agropecuária, e o rio iriri. Através de uma balsa já é possível alcançar no período de estiagem (Julho a dezembro) a rodovia Cuiabá-Santarém.
26
fronteira, poderá ser outro importante propulsor. A escala verificada das plantações ainda é
pequena, comparando-se à pecuária e à atividade madeireira, porém o avanço da biotecnologia
poderá gerar, no médio prazo, novas espécies de grãos adaptáveis ao clima mais chuvoso e
úmido, permitindo deste modo o aumento da pressão econômica sobre a floresta em pé.
Em certas localidades, a dificuldade de transporte ainda tem sido uma barreira ao
desmatamento. Em áreas já desmatadas ao longo da rodovia Transamazônica e da Cuiabá-
Santarém a produção é caracterizada por culturas perenes (cacau, dendê e pimenta-do-reino) e
pela pecuária extensiva. O alto custo de acesso terrestre e fluvial aos mercados consumidores tem
limitado o âmbito dessas atividades econômicas, até o momento, ao nível municipal e regional.
Apesar da rentabilidade da atividade agropecuária, esta zona ainda apresenta parte
considerável de sua cobertura florestal primária e possui, portanto, grande potencial para a
indústria madeireira. O zoneamento econômico-ecológico ao privilegiar esta atividade econômica
poderá gerar maiores benefícios sociais, uma vez que garantirá maior geração de empregos no
longo prazo.
Quanto ao aspecto econômico, com os estudos recentes, não se pode afirmar com
segurança que o manejo florestal sustentável, gerará mais renda e geração de impostos no longo
prazo do que a atividade agropecuária em toda esta zona, como sinalizado por Schneider et
al.(2000). Porém, o alto custo social da constituição de latifúndios (concentração de renda e
poder político) seria um importante fator a ser pesado quando da decisão governamental no
ordenamento territorial da região.
Ademais, apesar da pecuária a priori gerar maior renda no longo prazo, de acordo com os
últimos estudos realizados nesta zona, ainda é desconhecido a geração potencial de renda e
impostos possibilitados por uma cadeia industrial moderna de transformação e agregação de valor
a madeira. A ausência de estudos nesse sentido acarreta numa lacuna de conhecimentos sobre que
atividade econômica será mais rentável no longo prazo.
Enquanto isso, na zona climática úmida, representante de 45% da Amazônia Brasileira,
encontra-se ao mesmo tempo a maior parcela de floresta primária e com baixa pressão antrópica
da região. As estratégias de desenvolvimento econômico nesta zona devem atentar ao exemplo de
ocupação humana antiga (colonização portuguesa) já realizada em áreas representativas (nordeste
do Pará e sudeste do Amapá), que mesmo estando próximas de importantes mercados
consumidores regionais (Belém e Macapá) encontram-se atualmente em decadência econômica.
11 Em seminário recente, “A Geopolítica da soja na Amazônia”, mostrou-se que a área cultivada de soja na Amazônia
27
Depreende-se, portanto, que nesta zona a atividade econômica que melhor se adaptaria às
condições climáticas e poderia gerar maior renda e emprego no longo prazo, considerando o atual
nível e disponibilidade de tecnologia, seria a exploração madeireira sob manejo florestal
sustentável. Isto ressalta a importância do papel governamental, seja na implementação de
estratégias de desenvolvimento econômico-ecológico, seja impedindo a expansão de modelos de
ocupação econômica impróprios para esta zona.
Caso o desenvolvimento econômico seja delegado às forças de mercado, a tendência será
a agropecuarização crescente, acompanhada de suas respectivas conseqüências: baixo retorno
financeiro das atividades econômicas, desemprego, baixa arrecadação de impostos e o abandono
de grandes áreas devido às barreiras climáticas (Schneider et al, 2000).
I.5)Conseqüências econômicas e sociais do não planejamento de uso do solo
A falta de presença do Estado na organização e planejamento de uso econômico do solo
condizentes com o atual nível de tecnologia e conhecimentos sobre fatores ecológicos poderá
ocasionar, mesmo em áreas dentro da zona de transição, severas conseqüências econômicas e
sociais.
Analisando o Município de Paragominas (zona de transição) que durante a década de 90
foi o maior pólo produtor de madeira na Amazônia Brasileira e que hoje se dedica principalmente
à pecuária e ao cultivo de grãos (arroz e milho), verifica-se a variação nos indicadores sociais e
econômicos (nível de emprego e renda agregada respectivamente) ocasionados pelo uso não
sustentável do solo.
Moreira et al. (2004) analisam a participação relativa de cada setor econômico (atividade
madeireira, pecuária e agricultura de grãos) na economia do Município, tanto em termos de valor
de produção quanto na quantidade relativa de empregos gerados. O período analisado foi de 1980
a 2002 e, engloba o “boom-colapso” da atividade madeireira predatória.
Gráfico 1: Participação relativa de cada setor na renda agregada em Paragominas
Brasileira, excluindo-se Mato Grosso, já alcança 300.000 ha. Docimento disponível em: www.amazonia.org.br
Formatado: Fonte: Itálico
Excluído: .
Excluído: ,
Excluído: .
28
Valor da Produção por Setor Econômico- Paragominas
- 20 40 60 80
100 120 140 160 180 200
1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002
Milh
ões
Atividade Madeireira Pecuária Agricultura
Fonte: Moreira et.al, 2004.
Gráfico 2: Geração de empregos por setor econômico em Paragominas
Empregos por Setor Econômino em Paragominas
-
2
4
6
8
10
12
14
16
18
1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002
Milh
ares
Atividade Madeireira Pecuária Agricultura
. Fonte: Moreira et.al. ,2004 .
29
A queda da produção madeireira, decorrente de práticas insustentáveis de exploração
durante as últimas duas décadas causou um declínio econômico no município. Apesar do
crescimento relativo da pecuária de larga escala e do cultivo de grãos (milho e arroz), o valor de
produção total do município no ano de 2002 manteve-se aquém do registrado em 1992, período
do boom da atividade madeireira, tendo sofrido uma redução de cerca de 20%.
Analisando o nível de empregos gerados pelas atividades econômicas verifica-se que a
agricultura e a pecuária, a despeito de terem obtido maior participação relativa na economia
municipal, não conseguiram compensar a perda de emprego resultante do colapso da atividade
madeireira. Isto decorre de suas características modernas de produção, altamente mecanizada e de
larga escala. No período 1992/2002 o nível de empregos a nível municipal declinou 30% (perda
de 10.500 postos de trabalho).
.
30
CAPÍTULO 2: ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DO DESMATAMENTO E USO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS FLORESTAIS
O panorama já delineado acerca do avanço da fronteira agropecuária e madeireira na
Amazônia Oriental ressalta a importância que o planejamento territorial possui na implementação
de um modelo de desenvolvimento econômico sustentável para a região. Além disso, deixa claro
o papel fundamental do Governo tanto ao estimular o uso sustentável dos recursos através de uma
política florestal adequada, quanto em se evitar o avanço do uso predatório destes recursos e as
suas conseqüências já conhecidas: pecuarização, concentração de terra e exclusão social.
Seguindo essa linha de raciocínio, ao final da década de 90, tomava corpo uma nova
estratégia de políticas públicas para a Amazônia, atenta aos estudos realizados e propondo um
desenvolvimento econômico sustentável, baseado também nas novas condições da economia
mundial, ou seja, para a sustentabilidade ser possível seria necessário também uma inserção
competitiva no mercado internacional. Um dos setores eleitos para tal seria o madeireiro.
II.1) Programa Nacional de Florestas
O Programa Nacional de Florestas (PNF) surgiu no ano de 2000 com os objetivos, entre
outros, de: (i) implementar e difundir o manejo florestal de madeira e produtos não-madeireiros
em florestas nacionais (Flonas); (ii) criar uma base econômica na região baseada no uso
sustentável dos recursos florestais, apoiando o desenvolvimento das indústrias de base florestal;
(iii) melhorar o planejamento de uso do solo na Amazônia (Decreto 3.420, abril de 2000).
De acordo com a legislação, as Flonas são unidades de conservação de uso sustentável e
poderão ter seus recursos madeireiros e não-madeireiros (óleos, essências, frutos, borracha, etc.)
explorados economicamente, desde que a partir de um plano de manejo florestal atento às
características ecológicas dos tipos de vegetação de cada Flona, entre as quais a capacidade de
regeneração, de extração sustentável e a distribuição das espécies potenciais.
Além disso, só poderão ser explorados para fins econômicos 50% da área total de cada
Flona, tendo o restante da área outras funções, algumas de cunho preservacionista, outorgadas
pela legislação: pesquisa científica, preservação da biodiversidade, ecoturismo e manutenção de
recursos hídricos.
Segundo o programa, a meta será ampliar a área de Flonas na Amazônia Brasileira de
15,1 milhões de ha (ano 2000) para 50 milhões de ha (10% da Amazônia Brasileira) até o ano
Excluído: O
Excluído: tais
Excluído: :
31
2010 (Barreto e Veríssimo, 2002), possibilitando o desenvolvimento econômico do setor florestal
na região, de forma planejada e sustentável.
Portanto, percebe-se na nova atitude governamental perante a exploração predatória e
insustentável dos recursos madeireiros na Amazônia, e ao modelo vigente de apropriação privada
de terras devolutas, o objetivo de organizar melhor o ordenamento econômico-ecológico da
região evitando o avanço da fronteira agropecuária sobre áreas impróprias para tal e, ao mesmo
tempo, estimulando o desenvolvimento econômico em bases sustentáveis.
II.1.1) Demanda e função das Flonas
Segundo Barreto e Veríssimo (2002), a área total proposta será suficiente para abastecer
de forma sustentável 50% da produção anual de madeira na Amazônia, projetada para 2010.
Neste sentido, o aumento da produção madeireira em Flonas sob regime de manejo florestal
estará evitando que o aumento de demanda nacional e mundial por madeira tropical ocasione
elevação nas taxas de desmatamento e na privatização de terras devolutas.
Com efeito, nas novas fronteiras de expansão das atividades agropecuária e madeireira a
criação de Flonas poderá tornar-se importante instrumento no planejamento territorial, evitando a
recorrente apropriação predatória de recursos naturais, estimulando o desenvolvimento
econômico com atenção às barreiras ecológicas, contribuindo por melhores condições sociais e
econômicas no longo prazo, além de estabilizar a pressão antrópica sobre a floresta.
Outro efeito secundário, porém não menos importante será o maior estímulo a
intensificação do uso da terra em fronteiras consolidadas, aproveitando-se a grande área já
desmatada na região (25%, que equivale a cerca de 16,5 milhões de ha) e, atualmente, ou sem uso
econômico (degradadas) ou sendo utilizadas abaixo de seu potencial produtivo (Plano de Ação
para a prevenção e controle do desmatamento na Amazônia Legal, julho de 2004). Isto poderá
ser estimulado através de políticas agrícolas específicas.
Ademais, a criação de flonas em áreas fora do alcance da fronteira de expansão
econômica e com baixa pressão antrópica estará possibilitando uma alternativa de
desenvolvimento econômico em bases sustentáveis para regiões atualmente marginalizadas da
economia brasileira, baseado na utilização de um recurso florestal com demanda no mercado
nacional e internacional.
Excluído: f
Excluído: .
32
II.2) Preservacionistas versus Conservacionistas
Com essa nova abordagem de política florestal (ambiental), às unidades de conservação é
acrescentada uma função além da preservação de biodiversidade, notadamente a exploração
econômica de bens ofertados pela floresta. No entanto isto ainda está longe de ser unanimidade
entre ambientalistas, gerando atualmente a dicotomia desenvolvimento econômico versus
preservação ecológica (Veríssimo e Cochrane, 2003).
A exploração madeireira mesmo possuindo métodos sustentáveis estará alterando a
riqueza biológica da floresta, uma vez que a tendência durante vários ciclos de corte será de
maior homogeinização da distribuição espacial das espécies, devido às características ecológicas
ainda pouco conhecidas de todas as espécies acerca da adaptabilidade e sobrevivência em áreas
de regeneração, não possibilitando alternativas de técnicas de manejo que impeçam o predomínio
de espécies dominantes sobre espécies frágeis.
Em relação ao manejo florestal múltiplo (produtos madeireiros e não-madeireiros)
verifica-se uma dualidade concorrente e até excludente entre exploração madeireira e não-
madeireira (exemplos.: óleo de andiroba e madeira de andiroba, óleo de copaíba e madeira de
copaíba, além de frutos diversos) tornando-o difícil de ser implementado sob o ponto de vista da
racionalidade econômica de empresas madeireiras. Isto porque a variedade e variabilidade da
oferta de produtos não-madeireiros (óleos, borracha, plantas medicinais, castanha-do-brasil,
frutos) e a inexistência de mercados consolidados elevam em muito os custos de transação entre
comunidades, intermediários e indústrias (Reydon et al, 2002), levando as empresas a se
interessarem apenas pela exploração de madeira.
Porém isto não é restrito às empresas. Mesmo para comunidades que exploram a floresta,
como em Reservas Extrativistas12, a exploração de produtos não-madeireiros tem encontrado
fortes empecilhos para proporcionar geração de renda constante e segura aos extrativistas.
Excluindo-se a borracha, os outros principais produtos extraídos (óleos de andiroba,
copaíba e castanha-do-brasil) possuem falhas de mercado tanto do lado da oferta como da
demanda. Naquela, devido à variabilidade do produto que impede o controle de qualidade,
necessário para o processamento industrial, enquanto nesta verifica-se demanda instável, devido
ao mercado consumidor ainda incipiente.
12 Esse tipo de unidade de conservação surgiu na década de 1990, a partir de movimentos de seringueiros de resistência ao avanço da agropecuária sobre os seringais de uso comunitário, tendo a frente como expoente-mor, o líder seringueiro Chico Mendes. A partir deste movimento, foram criadas diversas Reservas Extrativistas de Seringueiros na Amazônia Brasileira.
33
O exemplo da Resex Chico Mendes é emblemático. Após anos de pesquisas para
desenvolver o manejo florestal de produtos não-madeireiros objetivando a maior geração de
renda, as comunidades começam a discutir a ampliação de escala do manejo florestal madeireiro,
ainda em pequena escala, como melhor maneira de aumentar a renda e evitar o êxodo crescente
para cidades próximas, como Rio Branco (Cavalcanti,F.2002). Isto indica que a exploração
madeireira também tem sido vista pelas comunidades como importante alternativa econômica
para melhoria da qualidade de vida.
Em suma, a visão preservacionista na Amazônia perde cada vez mais força e espaço no
discurso ambientalista. O desafio de melhorar as condições sócio-econômicas das populações
pobres impõe novas abordagens que passem a considerar a exploração econômica de produtos
florestais, tanto por comunidades quanto por empresas, caso o objetivo seja frear a
agropecuarização crescente da região, a exploração madeireira predatória e o êxodo das
populações carentes para os principais centros urbanos regionais.
II.3) Concessões florestais
Visando ao mesmo tempo desenvolver a economia de base florestal na Amazônia e mudar
o paradigma atual de exploração madeireira, o PNF propõe a concessão pública de Flonas para o
setor privado. Por trás deste modelo estão os seguintes pressupostos e objetivos: (i) o aumento da
demanda mundial por madeira tropical da Amazônia (projetada em 50% para o final da década,
devido à exaustão crescente das florestas do sudeste asiático) aumentará a pressão sobre os
recursos florestais (Barreto e Veríssimo, 2002); (ii) evitar a recorrente latifundiarização e
privatização de terras devolutas (Schneider et. al, 2000);(iii) mudar o paradigma tecnológico atual
do setor florestal; (iv) dotar o governo de maior capacidade de estabilizar o avanço da fronteira
agropecuária.
Em estudo recente do Ministério do Meio Ambiente (Barreto e Veríssimo, 2002) foram
propostos dois modelos de concessão em Florestas Nacionais: concessão de licença de manejo
florestal e concessão do direito de exploração.
Na primeira opção, o concessionário é responsável pelo manejo florestal (e seus
respectivos custos), sendo-lhe concedido também o direito de exploração por um período longo
(60 anos) que possibilita, em tese, dois ciclos de corte. As taxas a serem pagas dividem-se entre
taxa de concessão, a ser paga no momento inicial, e taxa de exploração cobrada ano a ano de
acordo com o volume de madeira (m³) extraído. Na outra opção sugerida, o Governo seria
34
responsável pelo manejo florestal e às empresas seria concedido o direito de exploração por cinco
anos. As taxas seriam similares ao modelo anterior.
Para fiscalizar o bom desempenho dos concessionários, Gray (1997) cita alguns
mecanismos possíveis, tais quais: fiscalização anual para concessão de curto prazo e qüinqüenal
para o longo prazo, aplicação de multas na ocorrência de alguma irregularidade entre o plano de
manejo e a exploração, e podendo em última instância ocorrer o cancelamento de concessões.
Além dessas medidas, políticas complementares à implementação do manejo em flonas
deveriam ser tomadas. Supondo que no curto prazo houvesse um “boom” de concessões florestais
e, conseqüentemente aumento na oferta de madeira proveniente de manejo florestal sustentável,
haveria necessidade de implementação de outras políticas para garantir a sobrevivência dos
empreendimentos no longo prazo, objetivando a coibição de oferta madeireira de origem
predatória, cujo preço encontra-se bem abaixo da madeira oriunda de florestas manejadas devido
a não internalização dos custos de manejo (tratos silviculturais pré e pós exploratórios,
planejamento de estradas,etc).
Segundo Barreto e Veríssimo: “Estratégia complementar à fiscalização seria forçar a inclusão dos custos do manejo aos custos de produção de toda a madeira explorada na região. Isso poderia ser feito, criando-se um imposto sobre a exploração predatória de madeira e áreas de desmatamento”.(Barreto e Veríssimo, 2002) O imposto poderia ser cobrado nas indústrias que transformam a madeira ilegal, sendo o
valor cobrado por metro cúbico baseado no custo de recuperação de florestas exploradas
predatoriamente, estimado segundo Arima e Veríssimo (1999) em R$7/m³. Esta medida evitaria a
concorrência desleal via preços no mercado e a sobrevivência no longo prazo do manejo florestal
em Flonas.
Em relação à aplicação dos recursos oriundos das concessões e do imposto sobre
exploração predatória há um projeto de lei no Congresso Nacional que propõe a seguinte
repartição dos benefícios econômicos: 55% na implantação e gestão do sistema de Florestas
Nacionais; 10% na gestão da Flona geradora do recurso; 10% para o Fundo Nacional de Meio
Ambiente; 10% para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; 5% para
os municípios abrangidos pela Flona; e 10% alocados para as populações tradicionais residentes
no interior da Flona (projeto de Lei 4.792 de 2002). [CARD5] Comentário:
Excluído:
35
II.4) Flonas na Amazônia Brasileira
Em 2002 o Ministério do Meio Ambiente (MMA) realizou um estudo (Veríssimo et. al,
2002) para delimitar as áreas potenciais para criação de Flonas na Amazônia Brasileira, como
forma de aumentar o nível de conhecimento sobre o potencial madeireiro na região.
A metodologia utilizada consistiu de cinco análises: (i) análise das unidades de
conservação já existentes na Amazônia Brasileira (Parques Nacionais, Reservas Biológicas,
Reservas Extrativistas, Terras Indígenas, etc) para evitar sobreposições futuras; (ii) análise da
cobertura florestal, utilizando o mapa de vegetação do IBGE para delimitar áreas com alto, médio
e baixo potencial madeireiro; (iii) caracterização da ocupação antrópica na região através de um
Sistema de Informações Geográficas (SIG), sistematizando dados sobre sedes de municípios,
fazendas, assentamentos agrários e focos de incêndio (Mapa 3); (iv) avaliação do potencial de
exploração madeireira através de dados do Projeto Radam (1974-1978) sobre relevo e hidrografia
(rios navegáveis); (v) delimitação do alcance econômico da atividade madeireira através de
modelagens matemáticas.
Após os cruzamentos de dados foram delimitadas as áreas de cobertura vegetal com
potencial madeireiro (floresta densa, floresta aberta e áreas de várzea11) e caracterizadas pelo
baixo indício de presença humana sendo, a priori, propícias para criação de Flonas (Mapa 4).
Na fase seguinte à delimitação do potencial madeireiro, utilizou-se um sistema de
modelagem matemática para identificar quais as áreas em que a atividade madeireira seria viável
economicamente, através do cruzamento entre dados de preços médios das principais espécies;
estradas próximas, relevo e rios navegáveis, e custos de transporte (fluvial e rodoviário) entre as
Flonas propostas e os principais pólos madeireiros da Amazônia Brasileira, onde se pressupõe,
continuariam localizadas as indústrias.(Mapa 5)
11 Em áreas de várzea a mudança de estações ocasiona variações bruscas nos níveis pluviométricos e fluviais, ora gerando a formação de grandes praias, ora formando grandes áreas alagadas.
37
Mapa 4: Áreas sugeridas para criação de Flonas na Amazônia Brasileira
Fonte: Veríssimo et al.(2002)
Mapa 5: Alcance econômico da atividade madeireira na Amazônia Brasileira
Fonte: Lentini et al.(2003)
II.4.1) Limitantes da metodologia aplicada
Uma das restrições do uso de satélites, na escala utilizada por esse estudo (1:2.500.000),
para verificar a pressão humana na Amazônia é o baixo grau de precisão proporcionado,
impedindo a identificação de pequenos focos de calor (menores que um km²). Em decorrência
disso, uma proporção não desprezível das populações tradicionais (caboclos e ribeirinhos) que
habitam o interior da floresta e as margens de rios passam desapercebidas nas imagens de satélite
já que o sistema tecnológico familiar de limpeza da terra (corte-e-queima) muitas vezes incide
sobre uma proporção de terra menor12, não emitindo focos de calor suficientes para detecção por
satélites.
Aliado a isso, há a incapacidade dos satélites captarem focos de calor através das nuvens,
que implica na impossibilidade de captar presença humana em áreas com grande incidência anual
de nuvens. Neste sentido, a metodologia empregada apesar de detalhada não consegue identificar
toda a diversidade de atores sociais existente na Amazônia e, em decorrência disso é falha em
esboçar um diagnóstico realístico do complexo sistema social e de suas interações, existentes na
Amazônia.
A idéia gerada a partir dessa metodologia acerca da existência de um “grande vazio
verde” poderá resultar em políticas futuras inadequadas para a Amazônia, revivendo-se erros do
passado onde unidades de conservação foram criadas sem avaliações prévias e completas das
realidades sociais pré-existentes. Muitas vezes essas unidades possuem funções que limitam
ainda mais o desenvolvimento sócio-econômico de populações marginalizadas, ora criando-se
unidades de conservação de uso indireto (ex: Parques nacionais), ora criando-se unidades de
12 Os caboclos, habitantes do interior das florestas, dependem mais da terra para subsistência e, portanto, tendem a ser visualizados por satélites com maior facilidade devido ao uso de terra mais extensivo (pequena pecuária), com escala superior a um km². Já os ribeirinhos, habitantes das margens de rios, vivem basicamente da pesca, extração e caça de alimentos na floresta, além de pequenas plantações de subsistência (açaí, mandioca). Neste caso, a detecção
38
conservação de uso sustentável (ex: Flonas) que não necessariamente irão de encontro aos
anseios dos grupos sociais existentes.
Desse modo, o PNF ao propor a ampliação das Florestas Nacionais de Produção visando o
abastecimento sustentável de madeira para indústria peca ao simplificar as relações sociais e
econômicas existentes na região, por atentar apenas para as empresas madeireiras. O
desenvolvimento econômico da região, necessariamente deve orientar-se pelo uso sustentável da
floresta, pelo menos ao nível e à disponibilidade de tecnologia existente atualmente, mas a
escolha do ator principal que irá liderar este processo, baseia-se numa avaliação social estática,
que se pressupõe imutável no longo prazo.
Logo, a transposição analítica de um processo sócio-econômico inerente a certas sub-
regiões, notadamente em áreas de expansão da fronteira de exploração madeireira e agropecuária,
não pode servir de pressuposto para delimitação de atividades econômicas na Amazônia como
um todo. A vastidão do território e a complexidade existente entre os atores urgem por políticas
variadas, permitindo que os benefícios potenciais a serem gerados alcancem um espectro maior
de camadas sociais. Não está sendo defendida a ineficácia do PNF, mas sim sua generalização
por toda a região como errônea.
de focos de calor por imagens de satélites torna-se falha. Isto torna a detecção de ocupação humana subestimada, principalmente para o Estado do Amazonas, que possui as maiores bacias hidrográficas da Amazônia.
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39
Capítulo III: Críticas aos pressupostos do PNF
A nova política florestal idealizada pelo Governo Federal e explicitada no capítulo
anterior tem como base alguns pressupostos. Primeiramente, no aspecto ecológico acredita-se na
sustentabilidade da exploração madeireira com manejo florestal em ciclos de corte de 30 anos.
Porém ainda há dúvidas científicas a respeito da veracidade deste pressuposto.
No campo institucional e sócio-econômico, o modelo proposto baseia-se na visão
recorrente da década de 1990, onde o Estado é visto como ator externo à economia, tendo apenas
a função de regulação econômica. Seguindo esta visão, foi elaborada a proposta de concessão
florestal em Flonas, atribuindo diferentes graus de importância e de repartição dos benefícios
econômicos aos atores envolvidos na questão: Governo Federal, empresas madeireiras e
comunidades tradicionais.
Através de uma análise destes pressupostos será possível depreender alguns pontos
críticos acerca do Programa Nacional de Florestas.
III.1) Ciclo ótimo de corte e suas contradições
A proposta de manejo florestal sustentável (MFS) está ancorada na possibilidade de
retornos econômicos contínuos no longo prazo, através da extração madeireira a níveis
volumétricos sustentáveis e similares em ciclos de corte sucessivos.
Considerando-se o ciclo de corte ideal de trinta anos instituído pela legislação florestal
brasileira, a exploração madeireira nas Flonas deverá ser planejada de modo a se explorar trinta
talhões de tamanhos semelhantes, permitindo que no segundo ciclo de corte a se iniciar no
trigésimo primeiro ano seja possível retirar volume madeireiro similar ao nível extraído no ciclo
anterior.
A base científica acerca do ciclo ótimo de exploração madeireira em florestas tropicais
ainda é controversa. Defendendo a viabilidade ecológica de ciclos de corte de trinta anos há a
Embrapa Amazônia Oriental. Em pesquisas na Flona Tapajós-PA (floresta tropical densa)
durante o período 1981/95, foram realizadas explorações madeireiras com manejo florestal em
parcelas experimentais, ao nível volumétrico de 75 m³/ha.
A partir de dados coletados sobre a regeneração dessas parcelas de floresta e utilizando
um modelo matemático de crescimento de florestas tropicais (Cafogrom), Alder & Natalino
(2001) estimaram que ao nível da exploração experimental o manejo florestal em ciclos de trinta
Excluído: ¶¶¶¶¶
40
anos seria inviável economicamente já a partir do terceiro ciclo, devido à tendência declinante da
produção ao longo dos ciclos, acarretada pelo tempo insuficiente de regeneração ecológica das
espécies.
Através de modelagens matemáticas, estimou-se que com o volume ótimo de extração
madeireira a 28 m³/ha, os ciclos de trinta anos seriam sustentáveis por um período de duzentos
anos. Neste cenário otimista, considera-se que o mercado irá absorver novas espécies madeireiras
ainda sem uso econômico, uma vez que a partir do segundo ciclo de corte a lista de espécies a
explorar incluiria 66% de espécies atualmente não comerciais.(Alder e Silva, 2001).
Em sentido contrário, Huth e Ditzer (2001) utilizam um outro modelo de crescimento
florestal (Formix3) aplicado numa área experimental de floresta tropical densa em Malásia,
semelhante à estrutura florestal da Flona Tapajós. Segundo o estudo, o MFS com ciclos de corte
tanto de 20 anos quanto de 40 anos não permitiriam retornos econômicos contínuos no longo
prazo, devido ao lento crescimento das espécies comerciais e ao rápido crescimento de espécies
pioneiras e dominantes, sem valor de mercado.
Projetando-se um período de exploração de 400 anos, o volume madeireiro extraído em
ciclos de corte sucessivos, seja de 20 ou 40 anos, resultariam num problema comum: alta
flutuação no volume médio de madeira comercial extraído durante os ciclos, inviabilizando
economicamente a exploração madeireira em ciclos seguidos.
De acordo com os autores, apenas ciclos de corte de 60 anos proporcionariam retornos
econômicos no longo prazo, ao permitir a regeneração de espécies comerciais a um patamar
volumétrico similar ao do ciclo de corte anterior. Portanto, haveria um limite ecológico relevante
a ser considerado.
Estes estudos explicitam a discussão existente entre os cientistas florestais sobre a
sustentabilidade do manejo florestal e o nível ótimo de ciclo de corte em florestas tropicais. As
diferenças existentes denotam um quadro de incerteza alta, devido a grande discrepância de
previsões (30 anos versus 60 anos) e a tendência de predominância de espécies não-comerciais.
Isto indica a complexidade das variáveis ecológicas no meio tropical e as dificuldades de
mensuração e internalização destas em modelos matemáticos.
Ademais, a variabilidade de distribuição de espécies verificado na Amazônia requer
estudos mais atentos às características de cada Flona a fim de se confirmar a real viabilidade
econômica do manejo florestal em larga escala, do nível ótimo de extração e, por conseguinte, do
sistema de concessão florestal proposto.
41
Segundo Macqueen:
“A nuvem de ignorância que recobre a identificação de espécies da Floresta Amazônia é ainda maior devido à falta de conhecimento sobre biologia reprodutiva, ecologia de regeneração e diversidade genética de cada espécie (...).Sem tal conhecimento é quase impossível predizer quais serão os impactos causados pela extração de madeira na futura composição e sustentabilidade da floresta ...”(Macqueen, 2001)
A inexistência de experimentos reais no Brasil que demonstrem a produtividade
volumétrica de um segundo ciclo de corte e sua viabilidade econômica indica o risco da
generalização de um novo modelo de política florestal baseado em pressupostos incertos. Neste
sentido tornam-se necessárias novas experiências científicas que comprovem o ciclo ótimo de
sustentabilidade do manejo florestal para diversas sub-regiões da Amazônia Brasileira, antes da
implementação em larga escala do PNF.
III.2) Prós versus contras
Há atualmente um amplo debate sobre a real funcionalidade do Programa Nacional de
Florestas e a viabilidade de seus objetivos almejados. A corrente a favor do modelo defende que
o seu propósito representa a melhor alternativa para modificar a atual exploração predatória de
recursos madeireiros na Amazônia, conter o avanço da fronteira agropecuária e, ao mesmo
tempo, gerar desenvolvimento econômico em bases sustentáveis.
Considerando-se o aumento estimado da demanda mundial por madeira da Amazônia em
50% até o ano de 2010 (Barreto e Veríssimo, 2002), a exploração em Flonas seria o modelo mais
eficaz para estabilizar as taxas de desmatamento, gerar renda e emprego, e modificar o paradigma
atual de exploração madeireira na região, onde 95% da produção madeireira são provenientes de
exploração predatória (Veríssimo e Cochrane,2003).
Segundo o modelo proposto, do total de recursos arrecadados com as concessões públicas
(taxas, royalties) e os impostos sobre exploração predatória, 55% seriam reinvestidos na
implementação do sistema de gestão e fiscalização de flonas, além da coibição de exploração
predatória em terras privadas. O alto custo desse sistema contrasta tanto com a parcela proposta
para os municípios (5%), quanto com o montante destinado ao desenvolvimento sócio-econômico
de populações tradicionais residentes no interior das flonas (10%).
Em termos econômicos, o processo de licitação idealizado permitiria, com a concorrência,
valores ótimos, gerando a maior arrecadação possível. Ao mesmo tempo, ao se propor a
possibilidade de várias empresas explorarem uma mesma Flona se estaria evitando a
concentração industrial no setor.
Excluído: .
42
Percebe-se no âmbito do PNF a idéia de que as empresas madeireiras seriam as mais
capazes para liderar o processo de desenvolvimento econômico-florestal em toda a região, ao
passo que a concessão de Flonas possibilitaria, além estabilização do setor madeireiro na região,
estímulos a avanços tecnológicos, contribuindo desta forma para mudanças de paradigma
industrial no setor.
A visão contrária a este enfoque, baseia-se em três pontos-chave: dificuldades de
inovação tecnológica empresarial; alto custo de fiscalização, monitoramento e implementação do
PNF; e tendência à concentração industrial no setor (Merry et al. 2003).
Coloca-se em dúvida se a política de concessão florestal em Flonas e a taxação de
madeira ilegal na indústria florestal estimularão a mudança tecnológica. Segundo Scholz (2002),
no mercado mundial tem se observado uma tendência recente de depreciação nos preços de
madeira tropical, devido em grande medida ao avanço tecnológico na indústria florestal dos
países centrais, onde tem ocorrido um processo de substituição de importações de madeira
tropical por painéis sintéticos13, de custo inferior e qualidade similar.
De forma complementar tem ocorrido uma mudança do perfil de demanda nos principais
mercados consumidores de madeira tropical (EUA, Europa e Japão) em direção ao consumo de
móveis não duráveis, com maior rotatividade e produzido com materiais substitutos: ferro,
painéis de madeira, plástico.
Diante deste cenário de depreciação dos preços internacionais ocasionadas por mudanças
do lado da demanda e de aumento de custos para adaptação ao modelo de exploração madeireira
sustentável, não haveria estímulos ao avanço tecnológico no setor industrial madeireiro na região.
E mais, considerando o atual quadro de tecnologia aplicada no processamento industrial
da madeira e o conseqüente baixo aproveitamento da madeira em tora (35% em média) (Gerwing
et al.,1996), é impensável num cenário de abundância de recursos madeireiros provenientes de
Flonas, haver estímulos a mudança de paradigma tecnológico no curto prazo na indústria
madeireira. Isto só seria possível, não com a taxação de madeira ilegal e concessões florestais
como defendido no PNF, mas através de estímulos fiscais governamentais.
Portanto, há incoerências no pressuposto de que as Flonas iriam alavancar o avanço
tecnológico no setor. Percebe-se, além disso, que o próprio setor empresarial possui receios em
relação às concessões e a exploração com MFS em Flonas. Barreto e Arima (2002) realizaram
13 Mais conhecido como MDL, utiliza-se em sua produção: madeira de reflorestamento, cola, gesso,etc. Aquecidos em alta temperatura originam um painel de alta resistência, durabilidade e resistente ao fogo.
Excluído: .
[CARD6] Comentário:
43
uma consulta a empresários madeireiros da Amazônia Brasileira, onde 56% dos entrevistados
afirmaram preferir modelos de concessão florestal em que o Governo fosse responsável pelo
MFS, cabendo às empresas ou comprar a madeira já explorada ou fazer a exploração pré-
determinada pelo plano de manejo. Isto demonstra a falta de capacidade organizacional,
tecnológica e de conhecimento da maioria do empresariado da região em relação ao novo modelo
de exploração madeireira proposto.
No contexto delineado apenas as grandes empresas madeireiras atuantes hoje no ramo de
MFS de larga escala na Amazônia14 e em outros países tropicais, teriam condições de disputar as
concessões públicas, por já possuírem tecnologia e conhecimentos acerca dos reais custos e
benefícios deste tipo de empreendimento. Com efeito, haveria uma clara tendência à
concentração industrial do setor florestal (Young e Prochnik, 2004, apresentam argumento
semelhante: o avanço da certificação ambiental, embora traga uma série de vantagens, também
acarreta maior concentração industrial) .
No tocante à fiscalização e implementação do MFS em Flonas, a tarefa não seria menos
difícil. Dado o atual quadro incipiente de fiscalização no setor florestal da Amazônia, é
impensável acreditar na viabilidade econômica de um sistema de monitoramento em larga escala
na Amazônia Brasileira, como preconiza o PNF.
Efetuar a dupla função de fiscalizar as Florestas Nacionais e a exploração ilegal em terras
privadas demandará recursos volumosos. Talvez por isso, no projeto de lei proposto, 55% da
arrecadação do PNF seriam alocados para implementação destes sistemas, o que reduziria ainda
mais os benefícios econômicos e sociais deste modelo.
Em suma, as discussões referentes a concessões florestais em Flonas explicitam as
dúvidas ante a capacidade de sucesso deste modelo e, por conseguinte, a sua real funcionalidade
em larga escala na Amazônia Brasileira. Os objetivos almejados, nas condições delineadas,
tornam-se difíceis de serem concretizados dada a tendência de concentração industrial, a ausência
de estímulos à inovação tecnológica e o alto custo de implementação e fiscalização. Todavia, a
questão-chave relevante à discussão refere-se à divisão de benefícios econômicos e sociais
proporcionadas por essa nova estratégia de desenvolvimento econômico na região amazônica.
14 Utilizando -se como parâmetros as florestas certificadas pelo Forest Stewardship Council (FSC) no Brasil, apenas 8 empresas possuem florestas manejadas em toda Amazônia Brasileira.
44
III.3) A dualidade entre Florestas privadas e sociais
As Florestas Sociais, aqui entendidas, são caracterizadas pelas unidades de conservação
de uso sustentável, onde o uso dos recursos naturais é decidido pelas comunidades tradicionais
que nelas habitam, através de decisões referendadas em assembléias. Estas comunidades
sobrevivem do que a floresta oferece: meios de subsistência; referências culturais, espirituais e
comunitárias; medicina tradicional, além de plantios de pequena escala para subsistência.
São representantes desta categoria as Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) e
as Reservas Extrativistas (RESEX). O tamanho extenso dessas unidades, comparado à baixa
densidade populacional representa tão somente o alcance territorial que essas comunidades
exercem, seja através da caça e pesca, seja pela coleta de produtos extrativistas.
A criação destas reservas está diretamente relacionada ao nível de organização
comunitária alcançado (Resex Chico Mendes e outras organizações de seringueiros e pescadores)
ou ao apoio institucional de alguma organização não-governamental no fortalecimento da
associação comunitária (RDS de Mamirauá-AM, RDS de Amanã). Com efeito, as comunidades
pouco organizadas ou sem apoios institucionais de ong’s estarão fadadas a serem incluídas em
unidades de conservação não-condizentes com suas respectivas características sócio-econômicas
e culturais.
Já por Florestas Privadas subentendem-se as propriedades privadas utilizadas para fins
madeireiros por empresas do ramo e concessões de uso privado em Florestas nacionais. A
característica básica deste grupo é enxergar o ambiente florestal apenas como espaço de
exploração madeireira, visando a racionalidade econômica. Neste sentido não se consegue
depreender outros valores para a Floresta em pé, que não sejam monetários.
III.3.1) Diversidade de contextos e simplicidade de políticas
A nova política florestal delineada a partir do PNF almeja um sistema de repartição
desigual dos possíveis benefícios econômicos advindos da exploração madeireira. Por não
visualizar a diversidade de situações e atores existentes na Amazônia Brasileira estará fadada ao
insucesso, já que simplifica as relações sócio-econômicas e culturais, tendo como base apenas as
relações prevalecentes em regiões de fronteira econômica.
Ao incluir em sua abrangência áreas fora do alcance atual da atividade madeireira, o PNF
estará impondo um desenvolvimento econômico não condizente com as realidades locais.
45
Considerando que na maior parte das Flonas já demarcadas há comunidades tradicionais que
ainda vivem de subsistência, da coleta de produtos da floresta e da caça, a exploração madeireira
empresarial e de larga escala estará ao mesmo tempo limitando-as de continuarem a exercer seu
modo de vida e sub-contribuindo para melhoria de sua qualidade de vida, explicitada por melhor
acesso a serviços básicos como educação, saúde, melhoria de renda, saneamento básico, acesso
ao mercado consumidor, etc., já que a exploração madeireira privada e a comunitária seriam
concorrentes e até excludentes, devido às diferenças de escala, eficiência e tecnologia.
Nessas áreas o desenvolvimento deveria pautar-se pela presença do Estado no
desenvolvimento de capacitação técnica, provendo essas populações de condições de explorar a
floresta economicamente, manter sua cultura e se inserir na economia regional/local através da
venda de madeira e de produtos de maior valor agregado.Isso possibilitaria o acesso aos serviços
básicos, tanto por gerar renda quanto por gerar impostos.
As Flonas localizadas em áreas longe do alcance da fronteira deveriam ser classificadas
antes como Florestas Sociais do que serem passíveis de concessão ao setor privado. Para tal, as
políticas necessárias a estas áreas deveriam objetivar no longo prazo o desenvolvimento do
capital humano, através da geração de capacidade técnica para as comunidades manejarem a
floresta em escala crescente, permitindo a inserção destas na economia local e a busca por uma
relação mais forte e justa entre estas comunidades e as sociedades de centros urbanos próximos,
atualmente caracterizada por discriminações e sentimentos de superioridade e inferioridade. Isto
poderia ser alcançado através do fortalecimento dos laços econômicos entre os principais atores:
comunidades e empresários.
Para que isto ocorra será necessário uma atuação mais forte do Estado no planejamento do
desenvolvimento econômico, através do fortalecimento de órgãos de extensão florestal às
comunidades e no desenvolvendo do setor empresarial desses municípios, estimulando e
fortalecendo o desenvolvimento de arranjos produtivos locais que agreguem valor a madeira.
III.3.2) Alternativas a repartição desigual dos benefícios econômicos
No cenário de concessão florestal em larga escala na Amazônia Brasileira, os benefícios
econômicos para os municípios locais seriam mínimos, de acordo com a repartição sugerida no
projeto de lei de concessões florestais e pelo fato de que o processamento industrial seria
localizado em pólos madeireiros distantes (outros municípios), onde se encontram as principais
indústrias madeireiras atualmente Isto ocasionaria a distribuição desigual dos benefícios
46
econômicos auferidos com a exploração de Flonas, em favor de grandes empresas madeireiras e
em detrimento dos governos municipais e das comunidades tradicionais.
É importante frisar que a madeira é um importante meio para as comunidades e
municípios marginalizados se inserirem na economia regional e brasileira, alcançando um
patamar mais alto de desenvolvimento sócio-econômico. Porém para isso, é fundamental a
presença do Estado na formulação de estratégias de desenvolvimento que permitam o
desenvolvimento de setores industriais nestes municípios, o desenvolvimento de um modelo de
manejo florestal comunitário com metas de curto e longo prazo e, por conseguinte, a maior
geração de renda (receita) a nível municipal, possibilitando maior universalização de serviços
básicos, como educação, saúde, saneamento e habitação.
III.3.3) Legado da década de 90 e oportunidades de desenvolvimento em aberto
É importante contextualizar o PNF na década de 1990, por possibilitar uma melhor
compreensão. Essa nova abordagem de política florestal beneficiou um modelo de concessão
florestal para o setor privado visando a melhor inserção deste no mercado internacional, e tendo
como base as possíveis vantagens comparativas de um setor madeireiro forte na Amazônia
Brasileira.
Neste sentido, a análise do potencial econômico-florestal num contexto de perda de força
estatal no planejamento da economia, originou um modelo onde o desenvolvimento das
comunidades e de municípios marginalizados é colocado em segundo plano, em pró do
fortalecimento das empresas madeireiras, e abrindo-se mão de estratégias mais amplas e
complexas de desenvolvimento sócio-econômico local.
Logo, não foram cogitadas políticas de fortalecimento dos laços econômicos entre as
comunidades tradicionais que moram na floresta e o empresariado local, em pólos municipais de
desenvolvimento econômico com base no recurso florestal. Ao mesmo tempo, a proposta de
concessão florestal ao setor privado em Flonas não levou em consideração a diversidade de
modelos existentes em outros países, onde há casos em que o Governo maneja e explora as
florestas, e outros em que as comunidades recebem concessões florestais do Governo. (Gray,
1997; Carrera et.al, 2002)
Apesar das críticas, cabe ressaltar que o PNF seria aplicável a certas sub-regiões sob
influências do avanço da fronteira agropecuária, caso o objetivo político futuro seja a
estabilização das taxas de desmatamento. Nessas regiões a dinâmica cultural e econômica é bem
47
distinta e o leque de atores sociais é vasto: pecuaristas, empresas madeireiras, caboclos, pequenos
agricultores, migrantes de outras regiões do Brasil.
Para frear o avanço nestas fronteiras duas medidas complementares seriam necessárias:
ordenamento territorial que estimulasse a exploração com manejo florestal sustentável em Flonas
e políticas públicas (pesquisa, extensão, crédito) que objetivassem a intensificação da
produtividade no uso da terra em áreas já ocupadas, estimulando o desenvolvimento agrícola de
municípios da fronteira antiga.
Aquela seria necessária para resolver o atual quadro de desmatamento e avanço da
fronteira sobre terras devolutas ocasionado pelas atividades econômicas prevalecentes: pecuária e
exploração madeireira, ao possibilitar a separação das fronteiras madeireira e agropecuária.
Enquanto estas seriam de suma importância para assegurar o desenvolvimento sócio-econômico
do interior da Amazônia, contribuindo para dinamização de economias locais e para geração de
empregos, através da intensificação da pecuária e da atividade agrícola.
Alocando investimentos para pesquisas agrícolas será possível vencer, no médio prazo, a
atual barreira tecnológica a intensificação de algumas culturas agrícolas perenes em áreas já
desmatadas e estimular o aumento da produtividade na pecuária e no plantio de grãos (milho,
arroz, soja, feijão). Sem esses investimentos complementares, o papel das Flonas de frear o
avanço da fronteira terá pouco êxito, uma vez que alguns dos indutores do avanço da fronteira
continuarão presentes, notadamente a queda da produtividade da agricultura familiar ao longo
dos anos e a expansão desordenada da pecuária extensiva que exige maior escala para ser viável
economicamente.
Portanto, qualquer política que tenha como objetivo a estabilização do avanço da fronteira
agropecuária sob a Amazônia Brasileira deverá ter como objetivo essas políticas
complementares. A criação de Flonas em zonas de alta pressão antrópica é o melhor mecanismo
de frear o avanço da fronteira, mas deverá ser acompanhada de políticas complementares que
garantam a geração de renda e emprego localmente, através da viabilização econômica da
agricultura de pequena e média escala e da intensificação do uso da terra.
A participação do Governo é fundamental seja nos investimentos para intensificação da
agricultura e pecuária, seja na concessão de crédito para o setor madeireiro ter condições de
mudar o paradigma de exploração predatória para manejada nas fronteiras, alcançando um nível
organizacional e tecnológico mais elevado.
O planejamento econômico da Amazônia, pelo menos no curto e médio prazo, deveria ser
orientado por essas vertentes complementares. A diversidade de atores e situações deve ser
48
encarada a partir de distintas abordagens políticas. Qualquer tentativa de generalização de
políticas públicas a partir de experimentos localizados estará fadada ao fracasso, por não
conseguir incorporar a complexidade social existente.
O papel do Estado é necessário e urgente. Dotando-o apenas de capacidade reguladora
não será suficiente para estancar o processo de degradação do meio ambiente no longo prazo. É
necessário antes de tudo um novo entendimento do que se acredita ser o ideal de
desenvolvimento econômico para a região amazônica, caracterizada hoje por sua posição
periférica na economia brasileira.
Neste sentido é necessário um novo modelo de desenvolvimento sócio-econômico para a
maior parte da região, localizada fora da zona de influência da fronteira agropecuária. Os arranjos
locais devem ser preteridos, mas para isso tornam-se necessários investimentos em geração de
tecnologia e educação a nível local e regional, visando a descentralização nas políticas de ciência
e tecnologia, que atualmente favorece o centro-sul do País.
A escassez de madeira tropical se confirmada ao final dessa década possibilitará a difusão
de alguns arranjos produtivos locais, baseados numa relação mais estreita entre comunidades e
municípios marginalizados. Para isso ser possível, novas estratégias devem ser delineadas e
focalizadas para, ao mesmo tempo, aumentar a capacidade de comunidades tradicionais
manejarem seus recursos numa escala crescente e estimular a capacidade empresarial nos
municípios próximos.
Deste modo a política florestal permitiria ao mesmo tempo o estancamento da fronteira e
a distribuição de benefícios econômicos e sociais para um leque maior de atores. Esta seria uma
medida importante em direção ao desenvolvimento econômico com melhor distribuição de renda
e baseado na manutenção da floresta em pé.
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Conclusão
Para frear o avanço da fronteira sobre a região amazônica, o Governo deve lançar mão de
planos de curto e longo prazo. No primeiro, deve-se objetivar a organização do setor madeireiro e
a intensificação agrícola nos municípios das fronteiras antigas, caracterizados pelo sub-
aproveitamento do potencial produtivo da terra.
Uma política apropriada deve focalizar o fortalecimento da geração de tecnologia nas
Embrapas regionais, caracterizadas na década de 1990 pela falta de crédito para pesquisa e
dependência externa de recursos (orientados para pesquisas de manejo florestal). Ao mesmo
tempo, deve objetivar a regularização fundiária na região, acompanhada da implementação de
órgãos de extensão rural, necessários para difusão e acompanhamento de métodos produtivos
apropriados para as realidades geoecológicas locais.
O Governo Brasileiro deve atentar para o peso que a temática ecológica e,
especificamente a Amazônia, possuem nas sociedades dos países centrais, e lutar por políticas de
crédito que permitam a geração de tecnologia deste porte e a sua posterior difusão. O Banco
Mundial por ter financiado o processo de pecuarização da região, deve ser pressionado a
conceder crédito subsidiado para estancar o processo que ele próprio apoiou em seu início.
Em relação ao longo prazo é necessário um novo pensamento intelectual brasileiro que
enxergue a Amazônia como fator-chave no desenvolvimento sócio-econômico e tecnológico do
País, devido aos potenciais econômicos existentes na região: água doce, maiores reservas de
minérios nobres do mundo, maior banco genético existente, e às peculiaridades singulares deste
imenso “mar verde”.
Esta é uma discussão que ainda encontra-se numa fase prematura, ante o embate entre
economia política e ecologia política no meio intelectual da região amazônica e à visão de centro
em relação à periferia amazônica prevalecente na intelectualidade da região sudeste. Todavia os
resultados deste poderá dar origem a uma nova visão do papel do Estado na economia
amazônida, visando alcançar um novo status de desenvolvimento sócio-econômico, de modo a
afastar a desastrosa experiência do modelo nacional-desenvolvimentista das décadas de 70 e 80 e
as propostas de políticas públicas baseadas na racionalidade econômico-ecológica da década de
90.
Seguindo o pensamento de Carlos Lessa, apenas redescobrindo o que existe dentro do
próprio Brasil, nossa sociedade conseguirá compreender o papel que temos a desempenhar no
Mundo. Realmente não entendi este último parágrafo. O que Lessa tem a ver com a história? Em
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particular, porque Lessa não compartilha da visão de que preservação ambiental é compatível
com desenvolvimento.
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