Diferenças Separam Emboladas e Repentes

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Diferenas separam emboladas e repentes13.11.2011

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Emboladores Jotinha e Joo continuam se apresentando para preservar a arte no PasFOTOS: HONRIO BARBOSA

Para o violeiro Jonas Bezerra o importante preservar a riqueza da arte popular seja nas feiras ou nos teatrosOs cantadores de coco esto cada vez mais escassos, enquanto os repentistas seguem se destacando no Pas

IguatuA arte genuinamente nordestina dos emboladores de coco e violeiros repentistas apresenta traos comuns de improvisao e criao de versos nas mesmas modalidades, mas h diferenas bsicas de instrumento, tcnica e estilo. Alm disso, a cantoria de viola est mais profissionalizada para enfrentar o mercado cultural contemporneo, enquanto que os emboladores tm dificuldades e esto cada vez mais escassos, e com reduzida renovao.

As duas manifestaes artsticas populares caminham em sentido opostos. Os violeiros esto em expanso com uma gerao nova presente nas cantorias. Os emboladores praticamente esto desaparecendo do cenrio cultural no Cear e em outros Estados nordestinos, como Paraba e Pernambuco, tradicionais centros de cantadores de coco. "A embolada no vai se acabar, mas est perdendo o vigor", analisa o professor e pesquisador cultural, Gilmar de Carvalho. "Os violeiros esto organizados, com melhor estrutura de som e de apresentao, promovem festivais e se deram bem no show biz".

Os violeiros se apresentam com parceiros variados, enquanto que os emboladores costumam formar dupla fixa. Essa outra caracterstica dificulta a renovao. Enquanto um dos parceiros desiste da profisso, o outro praticamente fica sem espao. At o incio da dcada de 1990, em Fortaleza, havia alguns emboladores que se apresentavam diariamente na Praa Jos de Alencar, dentre eles: Passarinho, Z Calixto, Lavandeira, Antonio de Oliveira, Marreco e Zizi Gavio (falecido). Desse grupo, s Marreco praticamente est em atividade e costuma se apresentar com um filho. O repentista e apresentador de programa de viola na TV Dirio, Geraldo Amncio, disse que uma raridade a localizao de emboladores. "Sempre abri espao, mas os cantadores de coco esto cada vez mais escassos", frisou. "No meu modo de ver uma atividade que est caminhando para o fim".

Geraldo Amncio observa que os jovens no se mostram interessados porque uma atividade artstica rdua e a rentabilidade baixa. "Os emboladores sempre enfrentaram muitas dificuldades, fazem apresentao expostas em praa, na feira e ganham menos do que os violeiros", frisou. "Falta incentivo e polticas pblicas de apoio atividade", disse.

Em Russas, Beija Flor e Vem Vem resistem na arte da cantoria de coco h quase 50 anos. Hoje so evanglicos e se dedicam s apresentaes em concentraes e encontros religiosos, embora ainda participem de promoes culturais. A dupla tem uma histria de sucesso, com participao em mais de 100 festivais e eventos diversos pelo Brasil. Jos Arimateia de Arajo (Beija Flor) acredita na continuao da cantoria do coco. "Aparecem os substitutos dos velhos emboladores e alguns esto surgindo pelo Interior. Ser embolador no se faz, um dom que vem de Deus".

Os irmos Josivan, Joseirton e Jarismar de Freitas Arajo, conhecidos artisticamente por Jota, Jotinha e Joto, que fazem sucesso atualmente, tiveram que sair do Cear e conquistar mercado em outros Estados. "Estamos preocupados porque no h renovao", disse Jotinha. "At mesmo em Pernambuco s h duas duplas em atividade e os emboladores tambm abandonaram a praa, um espao tradicional de apresentao".

Instrumento

A diferena instrumental entre as duas artes populares evidente. Os emboladores de coco usam o pandeiro, enquanto que os repentistas tocam a viola de sete cordas. Outro trao marcante que difere o embolador do violeiro so as rimas. Na embolada so livres e sonoras, mas na cantoria exige-se construo mtrica rigorosa e igualdade nas slabas.

Os emboladores tm mais liberdade e rimam palavras de sons semelhantes como "cear e cantar", "aparecer e voc" ou at mesmo "me com banho". "No h critrio de julgamento de mtrica, rima e assunto para os emboladores", ensina o violeiro e repentista, Jonas Bezerra. Outra diferena bsica refere-se ao ritmo do cantar que muito acelerado na embolada. "Isso exige uma tcnica especfica, embora os emboladores tenham assuntos pr-determinados", explica. "A maioria das apresentaes de trabalho, composies antecipadas".

Geralmente, os emboladores se apresentam em dupla fixa e as msicas ou temas so decorados e apresentados nos shows. H um repertrio que mantido. J os repentistas abordam temas diferenciados e se apresentam com parceiros alternados. "Hoje eu canto com um violeiro, amanh com outro, temticas variadas e improvisadas", diz o violeiro Chico Alves.

Outra caracterstica que difere a embolada do repente o uso de temticas contrrias, antteses. Por exemplo: o rico e o pobre, a mulher feia e a bonita, o inferno e o paraso, o solteiro e o casado, em que cada embolador defende um personagem. H tambm uma diferena peculiar. Os emboladores usam stiras, humor na elaborao das composies como artifcio de atrao e conquista do pblico, com uso de palavras de duplo sentido ou mesmo de baixo calo. "H um juzo moral que avalia os cantadores como se fosse uma manifestao desvalorizada", observa Gilmar de Carvalho. "Eles tm um desempenho muito gil, cantam em velocidade que a gente acha que vo perder o flego".

O fato dos emboladores terem liberdade na construo das rimas e de comumente se apresentarem em locais abertos, praas, por exemplo, contribuiu ao longo da histria para que no fossem valorizados entre os cantadores de viola. "No passado, a discriminao era mais forte", admite o embolador Joto. "Hoje j mudou bastante e somos convidados a participar como atrao especial em festivais de violeiros".

O embolador Jotinha atribui certa dose de inveja por parte dos repentistas. "Os emboladores sacodem e animam o pblico e o nosso objetivo levar alegria e humor para divertir as pessoas", afirma. "Tanto a cantoria, quanto a embolada hoje tem mais informao e esto em um nvel mais elevado", diz.

TRIO DE RUSSASHumor frmula para o sucesso

Iguatu Unir a rapidez dos versos improvisados da embolada com humor tem sido a frmula de sucesso dos irmos, Jota, Jotinha e Joto. O trio nasceu no Stio Miguel Pereira, zona rural da cidade de Russas, no Vale do Jaguaribe, um bero de artistas populares no Cear, e hoje atrao de pblico nos Estados do Norte e Nordeste. Em algumas regies so conhecidos por humoristas, mas mantm a tradio e o estilo prprio dos emboladores, cantam msicas prprias, fazem versos e desafios no ritmo frentico do pandeiro.

Alm da arte de improvisar versos, os trs criaram h cinco anos uma banda Forr Garantido. Nos ltimos meses, Josivan de Freitas Arajo (Jota) tem se dedicado mais apresentao dos shows musicais, no ritmo do xote e do baio, enquanto que os irmos Joseirton (Jotinha) e Jarismar (Joto) continuam com shows de embolada. O destino do trio viajar pelas estradas do serto, participando de eventos culturais, animando festas nas cidades e nos stios ou simplesmente fazendo apresentao em praa pblica.

Novo espao

Hoje, com dez CDs lanados e dezenas de composies de sucessos, algumas gravadas pela dupla de emboladores, Castanha e Caju, os irmos Jota, Jotinha e Joto, desde a dcada passada, abriram espao de apresentao e conquistaram pblico no Norte e Nordeste. O reconhecimento finalmente chegou ao trio, mas ainda falta alcanar o principal mercado nacional, a capital paulista.

O incio da carreira dos trs emboladores seguiu a trilha de dificuldades que comum aos artistas populares. Enfrentarem obstculos, mas com esforo e determinao venceram. "Estava no sangue. Nascemos para ser emboladores. Somos de uma regio que bero de artistas de diferentes tipos".

A herana artstica vem do bisav Raimundo Batista de Freitas que cantava glosa. O pai do trio de emboladores, Joo Chagas, agricultor, costumava convidar artistas populares para animar a comunidade em que moravam, nas noites sertanejas. "A gente via aquelas apresentaes e no dia seguinte ficava tentando imitar, criando instrumentos e cantando", recorda Jotinha. "Fazia pandeiro de lata de doce e viola de lata de leo".

As brincadeiras da infncia e o sonho da adolescncia tornaram-se realidade na vida dos trs irmos de Russas. No tempo de escola, surgiu o primeiro espao de apresentaes artsticas. "A gente improvisava e agradava os colegas", disse Jotinha. Trabalharam na roa, ajudando o pai no cultivo e colheita.

Os irmos foram incentivados pelo primo, embolador, Beija Flor. No incio da dcada de 1980, surgiram as primeiras apresentaes em emissoras de rdios nas cidades de Russas e Limoeiro do Norte. "Chegamos com pandeiro artesanal feito de lata de doce, com guizos na lateral, mas logo recebemos um de verdade, lembra Jotinha.

Em 1987, vieram os primeiros convites para apresentaes na capital cearense. As exibies abriram oportunidades para convites de apresentaes nos stios e nas cidades do interior. "Ganhvamos duzentos reais por noite, e era muito", recorda Joto.

Em Fortaleza, Jotinha fez apresentaes na Praa Jos de Alencar, ao lado do embolador Marreco. Na dcada de 90, Joto e Marreco foram para Crates e de l seguiram para o Piau. Joto disse que foi um passo bem dado, ter embarcado em um trem de carga que seguia para Teresina. Comeava a a saga de sucesso. A diferena do pobre e do rico, situao de sogras, pardias, pegadinhas, desafio no futebol e o matuto no forr so temas que integram o repertrio atual dos emboladores e humoristas, Jota, Jotinha e Joto. Em breve, o trio lanar um novo DVD.

MAIS INFORMAES

Emboladores Jotinha e Joto - Municpio de Russas

Telefones: (85) 9641. 4386 e (86) 9994. 6811

Honrio BarbosaReprter