DIETA DOS DENTES
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ARTIGO
Conhecimento Interativo, São José dos Pinhais, PR, v. 2, n. 1, p. 149-158, jan./jun. 2006
DIETA DOS DENTES: EVIDENTEMENTE ÓBVIO
Ricardo Wallace das Chagas Lucas Coordenador do Curso de Especialização em
Disfunções Temporomandibulares – IBRATE/ PR Professor de Faculdade Evangélica do Paraná - FEPAR.
RESUMO Este artigo foca a dieta do ser humano, analisa a forma como, contemporaneamente, a maioria das pessoas se alimenta. Sua ênfase está no significado e compreensão dos princípios que apóiam esta dieta. Fundamenta-se na definição de conceitos básicos, como dieta, regime, nutrientes, mas principalmente na escolha de indicadores pertinentes para uma análise consistente. Tem como vector a noção de que a alimentação do ser humano tem que servir, necessariamente, para o corpo que o mesmo apresenta. Conclui-se que a dieta do ser humano está diretamente relacionada ao tipo e quantidade de dentes, afirmando que a nossa dieta depende de nossos dentes. Palavras-chave: Dieta. Dentes. Nutrição. Metabolismo energético.
INTRODUÇÃO
Entendemos ciência como um processo de investigação em busca de explicações e de
constante revisão de seus resultados. Precisamente desta revisão contínua decorre o progresso
da ciência. Assim sendo, não é incomum encontrarmos pesquisas que produzem artigos
científicos indexados, concebidos por grandes autores e com grande poder de
reprodutibilidade, que foram refutados no todo ou em parte. De qualquer modo, estas
“pesquisas ultrapassadas’’ continuam a servir como referência científica para as mais atuais,
dado que a ciência é considerada como um edifício em permanente construção.
Assim, concordamos com o que disse Clark (2002): A pesquisa é um processo de construção do conhecimento que tem como metas principais gerar novo conhecimento e/ou corroborar ou refutar algum conhecimento pré-existente. É basicamente um processo de aprendizagem tanto do indivíduo que a realiza quanto da sociedade na qual esta se desenvolve. Quem realiza a pesquisa pode, num nível mais elementar, aprender as bases do método científico ou, num nível mais avançado, aprender refinamentos técnicos de métodos já conhecidos.
O tema “dietas” tem sido objeto de discussão sob diversas óticas, entretanto a
comunidade científica não tem tratado deste assunto com as evidências que o mesmo pode
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apresentar. Argumenta-se que o ser humano o tem como a pedra fundamental para seu
funcionamento. Isto significa que o alimento que o ser humano deve consumir possui
indicadores óbvios. Os indicadores para o hábito alimentar do homem moderno sofrem
influência de fatores sociais, ou ambientais, acabando por definir pseudos-padrões alimentares
aceitos como princípios evidentes pelos que os utilizam.
Partindo do fundamento de que a observação constitui o início de qualquer pesquisa,
poderemos verificar que a situação bioquímica-metabólica de qualquer ser vivo depende
exclusivamente da sua dieta, e para o homem isto não é diferente.
Assim, apesar do ser humano ter progredido constantemente no conhecimento
científico-tecnológico, o tema “dieta” ainda mantém muitos mitos. Desta forma, abre-se uma
série de lacunas, que permite aos indivíduos com menor acesso à informação, acreditar ou
aplicar inadvertidamente receitas ou fórmulas pseudos-científicas de “regime”, talvez melhor
dizendo, pouco fisiológicas. Tudo na busca, principalmente, do dito emagrecimento, que a
maioria também não sabe sequer o significado.
Quando nos referimos a nômina “fisiológica”, estamos querendo dizer: naturais,
normais, ou para o fim real que se destina. Assim, entendemos que sobre nutrição humana,
cabe ainda a tentativa de mostrar, à luz da ciência, que a alimentação do ser humano tem que
servir, necessariamente, para o corpo que o mesmo apresenta. Tudo isso independentemente
da maciça pressão da mídia, que por desinformação ou por má intenção, leva o homem a
ingerir inadequadamente, ou de forma não funcional, os alimentos “modernos”.
Faz-se aqui necessária uma conceituação, para diferenciação dos vocábulos
largamente utilizados neste assunto, voltados para o processo metabólico-energético. Desta
forma, extrapolamos à área da Nutrição, entramos no âmbito das demais ciências “corporais”,
tais como: Odontologia, Fisioterapia, Educação Física e Medicina, que de uma maneira geral
norteiam a busca da qualidade de vida.
Entendemos que quando falamos de nutrição, estamos nos relacionando ao processo
metabólico sobre o qual o corpo (humano ao animal) utiliza, em última instância, nutrientes.
Estes são elementos menores que se originaram diretamente dos alimentos ingeridos. Por sua
vez, os alimentos são os verdadeiros componentes macroscópios da dieta,. Vale dizer que
entendemos como dieta o verdadeiro alimento que uma dada espécie deve ingerir para
promover a sua homeostase (funcionamento normal), e permitir que a mesma viva o curso de
sua vida em toda a sua plenitude, isto é, viva o tempo destinado bioquimicamente para tal,
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como padrão a todos da mesma espécie. Disto se faz uma observação inicial: o ser humano
(urbano de uma maneira geral) morre por doenças degenerativas nas mais diversas faixas
etárias, enquanto outros mamíferos (não urbanos ou criados pelo ser humano) morrem em
faixas etárias padrão.
Ainda considerando conceitos, encontramos definições inadequadas para
emagrecimento. Pois, a grande maioria utiliza este conceito como o mesmo que perda de
peso, quando na realidade e tecnicamente, emagrecer é quando existe a diminuição do
percentual de gordura existente em nosso corpo, e não só quando ocorre a perda de peso. Isto
porque o corpo pode ser dividido, de uma maneira didática, em três componentes: massa
gorda, massa magra e massa líquida. Assim, somente diminuição da massa gorda caracteriza
emagrecimento, mas, a diminuição da massa magra (que dentre outras coisas é constituída por
músculos) e diminuição de massa líquida podem caracterizar alteração no peso corporal total
(todo o corpo) na balança, e não é considerada emagrecimento.
Decorre, então, que a maioria das “dietas” veiculadas na mídia, nas “revistas
especializadas”, foca centralmente a “perda de peso”, e isto não só pode comprometer a saúde
de quem às utiliza, como perpetua a desinformação sobre o verdadeiro significado de
emagrecer.
Gera também confusão conceitual a utilização da palavra dieta, quando relacionada a
emagrecimento, ou ao ganho de peso por estímulo ao aumento da massa magra. Nesta
situação, existe um objetivo categórico em relação à ingesta alimentar, isto é, ela não objetiva
somente o equilíbrio homeostático. Assim, a utilização de alimentação com fins específicos,
deve receber o nome de regime, e não de dieta.
Nova confusão de conceitos acontece quando relacionamos ao perfil energético
necessário às atividades funcionais do corpo, com base em seus nutrientes. De maneira geral,
cada refeição, que é considerada qualquer momento de ingesta alimentar, deve conter o
chamado Hexagrama Nutricional, que é composto de macronutrientes e micronutrientes. Os
macronutrientes são o carboidrato, a proteína e a gordura, e os micronutrientes são
considerados os sais minerais, vitaminas e a água.
Apresentando, sinteticamente, definições dos macros e micronutrientes, podemos
saber que o carboidrato é o macronutriente que mais causa equívocos conceituais à população
leiga, e é aquele que possui a capacidade de “transformar-se” em glicose à nossa corrente
sanguínea. Algumas “dietas” que se dizem “sem carboidrato” muitas vezes não o são, pois só
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em possuir em seu conteúdo alimentos de origem vegetal, elas necessariamente possuem, em
maior ou menor volume, carboidrato.
Observamos que os carboidratos que estas “dietas” procuram evitar, são os que
realmente possuem respaldo científico para tal, que são os carboidratos de altíssimos índices
glicêmicos, responsáveis pelo aparecimento do Diabetes Tipo II e conseqüente obesidade.
Estes são chamados de alto índice glicêmico por transformarem-se muito rapidamente em
glicose para a nossa circulação, e isto traz como conseqüência um estímulo muito grande ao
pâncreas para a produção de insulina, estressando este órgão precocemente.
Assim, evitar (ou diminuir substancialmente) o “carboidrato moderno”, é evitar
alimentos totalmente arraigados em nossa cultura pós-agricultura: Pão, massas, biscoitos,
arroz branco, tubérculos cozidos, açúcar refinado, farináceos e outros. Fazer uso deste
recurso, na realidade, já nos remete ao consumo de algo mais funcional.
A falta, a diminuição ou o excesso de qualquer um dos elementos do Hexagrama
Nutricional, momento de ingesta em situação inoportuna, e relação percentual inadequada
entre suas partes (cálculos que devem ser realizados por nutricionista após análise de
composição corporal), são motivos capazes de desencadear desnutrição crônica ou obesidade,
e normalmente as duas ao mesmo tempo.
Existe também muita desinformação a respeito do macronutriente proteína. Muitos
consideram que sua única fonte seja a carne (branca, vermelha ou seja qual for a cor). Mas na
realidade, este macronutriente, que se transforma em aminoácidos à nossa circulação, pode ser
encontrado tanto nas carnes como em vegetais. Em outras palavras, existem proteínas de
origem animal e proteínas de origem vegetal. Um bom exemplo de proteína de origem animal,
não carne, é a proteína dos ovos, e a proteína presente nos leites. Assim, não procede achar
que proteína constitui-se somente de carne.
Da mesma forma, conseguiu-se estabelecer, pelo desconhecimento, a relação
absoluta entre comer gordura e engordar. Pois este macronutriente não possui toda a
responsabilidade sobre este feito; mas, pela divulgação pseudocientífica que divulgou
inicialmente que uma porção (grama) de tecido gorduroso possui mais que o dobro do valor
energético que a mesma porção de proteína e de carboidrato, fez a população acreditar que
seria da gordura esta responsabilidade por engordar. Além disso, o próprio tecido gorduroso
(que na realidade é um conjunto de células recheado de triglicerídeos) tem relação nominal,
com a palavra gordura. Faltou a essa pesquisa divulgar que o valor energético aumentado
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deste macronutriente é em função de ser o mesmo mais utilizado pelo nosso corpo em
situações de atividades de vida diária, com pequenos esforços. Fazer a gordura valer mais por
unidade foi o mecanismo que a natureza encontrou para que não possuíssemos um corpo de
volume maior do que o apresentamos. Ao olhar científico, não existe perfil de maldição a
ingesta de gordura. Muito pelo contrário, este macronutriente se comido no volume certo e na
combinação adequada aos demais, determina maior poder de proteção, longevidade e
qualidade de vida ao ser humano, exatamente o contrário que pregam as “dietas” da moda.
A deficiência de gordura na dieta desencadeia o perfil mais complicado de
patologias, que vão desde a beleza da pele, passando por deficiências antiinflamatórias e
absorção de vitaminas e minerais. Basta entender que a gordura compõe a maior parte das
membranas celulares de qualquer parte de nosso corpo.
Como a proteína, a gordura também possui origem animal ou vegetal, sendo que o
resultado final para a corrente sanguínea são os ácidos graxos. Estes, se comparado com a
velocidade de passagem para a circulação, após uma refeição, em relação ao macro-nutriente
carboidrato, ocorre de uma maneira mais lenta e de menor volume. Este retardo funcional é
fundamental para se evitar a obesidade, pois o cruzamento na circulação sanguínea do
carboidrato (glicerol-3 -fosfato) com o ácido graxo constrói o triglicerídeo, que é na realidade
o preenchedor das células do tecido adiposo. Daí já podemos entender, com simplificação
fisiológica, que como o carboidrato de alto índice glicêmico produz glicose em alto volume e
de forma rápida, ele é um potencial produtor de glicerol-3-fosfato, e conseqüentemente um
macronutriente engordativo e diabetogênico para o ser humano moderno.
É importante falar um pouco mais da gordura em seus aspectos estruturais e
funcionais, dada a importância das criadas confusões conceituais a seu respeito, pela mídia
desinformada ou mal intencionada, já que esta cunhou o termo “gordura ruim” e “gordura
boa”, para a classificação de saturada e insaturada respectivamente. Isto acabou por fazer com
que muitos deixassem de ingerir as gorduras saturadas, e sofressem clinicamente por isso,
pois apesar de ter que ser menor o consumo de gordura saturada, este não pode deixar de ser
feito. Mas, pior do que evitar as gorduras saturadas, que acompanham a proteína /carne
animal, é a criação e consumo de gorduras transaturadas. Este tipo de gordura foi totalmente
criado pelo homem, que modificou a forma “cis” da gordura insaturada (ácidos graxos
poliinsaturados) por hidrogenação, para a forma “trans”. Esta modalidade de gordura deve ser
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considerada “gordura ruim”, pois um grande número de complicações clínicas advém do
consumo desta “gordura”.
Acompanhando os macronutrientes, em uma ingesta totalmente funcional, existem os
micronutrientes. A falta destes, sem sombra de dúvida, potencializa a ação devastadora da
forma como o homem moderno se alimenta. Isto quer dizer que a forma como nos
alimentamos hoje, salvaguardando culturas e etnias, não só é executada pela disponibilidade
do que a terra possa nos oferecer, como também pelo que a agroindústria e seu “marketing e
mídia” nos façam consumir. Cabe lembrar que, às vezes, os empresários que se aventuram a
produzir “alimentos” não sabem o mal que podem estar cometendo à sua clientela e,
conseqüentemente, a si.
Em síntese, o fator social é o maior determinador de “o que” e “como” devemos
comer. Assim, ser um pouco "anti-social", neste aspecto, é a primeira forma de se proteger e
proteger os seus dos efeitos deletérios da nutrição contemporânea.
Quando falamos em hábito alimentar contemporâneo, estamos nos referindo
obviamente ao hábito da maioria da população civilizado do planeta. E esta população teve
um start na mudança de sua forma de se alimentar, a partir do advento da agricultura, pois até
então a base da alimentação era a caça, a pesca, e a cata de raízes e frutos da mata nativa. Isto
já demonstra de imediato, que o volume do consumo já era consideravelmente menor do que
consumimos hoje, e o grau de mobilidade executado pelo homem deste passado era
efetivamente maior. Desta forma é fácil entender, que antes da agricultura obesidade era algo
raro.
O ser humano não gerou mudanças adaptativas tão evidentes, a ponto de suportar
esta guinada em seus hábitos alimentares, pois, são necessários por volta de 100.000 mil anos
para uma adaptação genética eficiente, e faz somente 6 000 mil anos que passamos a nos
alimentar como hoje. Por isso, os produtos da agricultura tais como: cereais, grãos e seus
derivados, são causadores de efeitos maléficos ao nosso organismo, pois é fácil observar que
o que realmente aumentou foi a ingesta de carboidratos de alto índice glicêmico.
A natureza é capaz de nos ensinar muita coisa, até pela simples observação de como
ela se auto gerencia, e sem dúvida, o perfil fisiológico e, conseqüentemente, científico
acompanha “as atitudes” da natureza. Assim, podemos verificar que não existe nenhum
animal com composição corporal diferente, respeitando sua raça espécie, ou seja, salvo em
situação de cativeiro domesticação ou doença, nenhum animal acumula mais gordura, ou tem
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uma massa magra mais baixa do que foi talhado geneticamente para ter. E, conseqüentemente,
não observamos nenhum animal morrendo em faixas etárias diferentes de seus pares.
Isto nos leva a pensar que a variação da composição corporal do homem moderno,
as doenças que o acometem e falecimentos nas mais diversas faixas etárias (coisas que não
acontecia no homem primitivo) seriam grandes indicadores de que o seu perfil alimentar não
segue a regra da natureza.
Focando de uma maneira geral, nos animais herbívoros, carnívoros e herbívoros
terrestres procuramos identificar algo que naturalmente indicasse as suas necessidades
alimentares, e suas relações com o Hexagrama Nutricional. O que foi constatado foi tão
óbvio, que estranhamos como a comunidade científica não tenha promovido tal conhecimento
à população, de uma maneira geral.
Observando o comprimento intestinal, a presença e tipos de unhas, tipos de fibras
musculares, perfil da mobilidade da mandíbula, presença de determinadas enzimas digestivas
e tipos de dentes, o que mais determina quanto e qual tipo de macronutriente estes animais
necessitam consumir é realmente o tipo da dentição dos mesmos.
Podemos dizer então que, pelo conceito já explicitado de dieta, ela está diretamente
relacionada ao tipo e quantidade de dentes, podendo afirmar que a nossa dieta depende (e
sempre dependeu) dos nossos dentes.
Como evidência do exposto, sabe-se que o sistema gastrointestinal desenvolve-se,
amadurece e se degenera em paralelo ao aparecimento dos primeiros dentes do bebê, e a
necessidade de alimentos de mais fácil absorção nos idosos, indicando quais nutrientes estes
(bebê, adulto e idoso) devem ingerir em respectivas faixas etárias.
O exemplo mais fidedigno disto, é o aparecimento dos incisivos como primeira
dentição a eclodir nos bebês. Nesta faixa etária o seu trato digestivo não está apto a suportar
efetivamente proteína animal, e seu sistema nervoso central está em plena necessidade de
glicose mais rápida para o seu desenvolvimento. Daí o gosto pelo sabor doce, dos alimentos
próprios para o consumo nesta fase. Como exemplos de alimentos deste perfil nós temos as
frutas macias, que não possuem o índice glicêmico tão alto quanto os “doces”, mas servem ao
propósito do sistema nervoso. Da mesma forma, a ingesta de proteína animal nesta fase
provoca sobrecarga do sistema digestivo, originando cólicas ou diarréias ao bebê.
Outro exemplo confirmador seria a eclosão dos molares, previamente ao incisivos no
aparecimento da dentição permanente. Isto demonstra agora que com o sistema
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gastrointestinal já amadurecido, e com um freio de desenvolvimento (em relação a bebês e
primeira infância) do sistema nervoso o corpo humano está apto a consumir o que mais
necessita, que seria o carboidrato de baixo índice glicêmico, acompanhado de fibras,
vitaminas, minerais e água. Por isso que a biomecânica do sistema mastigatório
(funcionamento tridimensional) é composta de músculos tão potentes, pois estes músculos
têm que agir efetivamente para que os molares e pré-molares possam servir ao fim que se
destinam: moer (de pedra de mó)
Interessante observar à luz da Fisioterapia Dermato-funcional (estética), como a
hipotrofia da musculatura mastigatória predispõe ao envelhecimento precoce da face, muito
observado nas moças e rapazes contemporâneos que só se alimentam de coisas macias, ou
seja, não usam os dentes e o sistema mastigatório para o fim que se destina.
Olhando pelo lado funcional da nutrição, não existe conflito em relação ao ser
humano ser vegetariano ou carnívoro, pois o que ele é depende também de seus dentes. Deste
modo, a aceitação deve ser feita por parte da comunidade científica e não por radicais
baseados em mitos. O vegetariano corre o risco de perder massa magra caso não consiga fazer
a combinação protéica adequada, e o excesso de proteína animal acidifica o corpo,
sobrecarrega o trato digestivo e induz a câncer de cólon.
A dentição humana adulta é composta de 32 (trinta e dois) dentes, e a primeira
dentição é composta de 20 (vinte) dentes, e o que caracteriza a passagem da primeira para a
dentição adulta é o amadurecimento, aos olhos da Odontologia, do “Sistema Crânio-cérvico-
mandibular”. Isto caracteriza mais um perfil científico da importância dos dentes para as
nossas refeições.
O quadro abaixo relaciona o volume e o tipo dentição ao macronutriente específico.
Nutrição De Perfil Funcional
TIPOS DE DENTES QUANT. PERCENTUAL TIPO DE NUTRIENTES
CANINOS 04 (quatro) 12,5% do VCD
• Proteína Animal • ↑ Gordura Saturada • ↑ Água • Denominação – Carnes, Ovos e Leites
INCISIVOS 08 (oito) 25% do VCD • Carboidrato de Maior Índice Glicêmico • ↑ Fibras Solúveis, ↓ Fibras
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Insolúveis • ↓ Proteína Vegetal • ↓ Gordura Insaturada • ↑ Vitaminas • ↓ Minerais • ↑ Água • Denominação – Frutas Macias
PRÉ-MOLARES 08 (oito) 25% do VCD
• Carboidrato de Médio Índice Glicêmico • ↑ Fibras Insolúveis, ↓ Fibras Solúveis • ↑Proteína Vegetal • Médio teor de Gordura Insaturada • Médio teor de Vitaminas • Médio teor de Minerais • Médio teor de Água • Denominação – Frutas intermediárias, Folhosos e Leguminosas
MOLARES 12 (doze) 37,5% do VCD
• Carboidrato de Baixo Índice Glicêmico • ↑ Fibras Insolúveis, ↓ Fibras Solúveis • ↓ Proteína Vegetal • ↑ Gordura Insaturada • ↑ Vitaminas • ↑ Minerais • ↑ Água • Denominação – Frutas Duras, Tubérculos Crus, Grãos e Sementes
O que ocorre ao analisarmos o quadro de relação, é que de acordo com os estudo do
metabolismo energético, acontecem coincidências “funcionais”, isto é, realmente a proporção
de carboidratos, proteínas e gorduras seguem o que prescreve a ciência da nutrição.
É importante ressaltar que, assim como na natureza, a ingesta alimentar depende
diretamente do tecido ativo existente no corpo, e do perfil de mobilidade, ou fator atividade
do mesmo. Para tanto, o profissional da nutrição analisa a partir da composição corporal e do
fator atividade a necessidade calórica média para que não se perca massa magra (tecido ativo)
ou não sobre calorias (não engorde)
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A Fisiologia já demonstrou que existem variações de quantidade nos diversos
momentos alimentares do ser humano durante o dia, o que agora demonstramos é que toda
esta fisiologia deve seguir a obviedade da qualidade dita pelos nossos dentes conforme
exposto na natureza. Não queremos aqui retornar ao crudismo (ou crudivorismo), pois o
homem é inteligente o suficiente para driblar a situação de ter que ingerir somente alimentos
crus, e conseguir manter-se saudável.
Não podemos esquecer que hoje a pobreza dos solos, às vezes, nos oferece um
vegetal com baixa disponibilidade de minerais e vitaminas. Assim, pensar em uma
suplementação às vezes se faz necessário
CONCLUSÃO
Esta análise conclui o óbvio, de que a natureza tem capacidade de nos ensinar muito.
A variação da composição corporal do indivíduo humano moderno, as doenças de que é
acometido e falecimentos nas diversas faixas etárias são bons indicadores de que seu perfil
alimentar não segue a regra da natureza. O que se verifica nas sociedades contemporâneas é
que o fator social é o maior determinador de "o que" e o "como" devemos comer. Por fim,
conclui-se que há uma relação direta do tipo e quantidade de dentes com a dieta do ser
humano. Em síntese, a dieta dos seres humano, bem como de qualquer outro animal terrestre,
depende de seus dentes.
REFERÊNCIAS
CLARK OAC, Castro AA,. A pesquisa. In: Castro AA, editor. Planejamento da pesquisa. São Paulo: AAC; 2002.
LEITURAS COMPLEMENTARES
BOARIM, Daniel SF - Nossa Comida Assassina - Ed. Vida Plena – Itaquaquecetuba, SP, 1991 - 397 p FLANDRIN, Jean-Louis e MONTANARI, Massimo, orgs. 1998. História da alimentação. São Paulo: Estação Liberdade. 885 pp. OKESON, JP. Tratamento das desordens temporomandibulares e oclusão.4a ed. Trad. Milton Edson Miranda. São Paulo: Artes Médicas, 2000. 500p