Sanidade e enfermidade de caprinos e ovinos - caprinos e ovinos
Dieta Cátion-aniônica em ovinos
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8/14/2019 Dieta Ction-aninica em ovinos
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Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.56, n.3, p.363-369, 2004
Influncia da diferena ction-aninica da dieta sobre o balano de clcio,fsforo e magnsio em ovinos
[Influence of the dietary cation-anion difference on calcium, phosphorus and magnesium balance in sheep ]
C.A. Gomide1, M.A.Zanetti1, M.V.C.Penteado2, C.R.O. Carrer1, G.R.DelClaro3, A.S.Netto3
1Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos USPRua Duque de Caxias-Norte, 225
13635-900 Pirassununga, SP2Faculdade de Cincias Farmacuticas - USP
3Doutorando da FZEA USP
RESUMO
O efeito do balano ction-aninico da dieta (BCAD) no balano macromineral (clcio, fsforo emagnsio), no pH urinrio e fecal, na concentrao srica de clcio, fsforo e magnsio foi estudadoutilizando-se 16 carneiros machos, da raa Santa Ins, por um perodo de 26 dias, sendo sete deadaptao. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com quatro tratamentos. Para amanipulao do BCAD foram adicionados cloreto de clcio e bicarbonato de sdio, obtendo-se osseguintes tratamentos: -12; +30; +76 e +133mEq/kg MS da rao. No foram encontradas diferenas(P>0,10) no pH fecal, pH urinrio, balano de fsforo e magnsio. Com o aumento do BCAD houvedecrscimo da absoro e reteno de clcio, e aumento da excreo fecal. A manipulao do BCADinterferiu no metabolismo de macrominerais, principalmente no de clcio.
Palavras-chave: BCAD, clcio, fsforo, magnsio, pH
ABSTRACT
The dietary cation-anion balance (DCAB) effect on the macromineral (calcium, phosphorus and
magnesium) balance, urinary and faecal pH, serum concentration of calcium, phosphorus andmagnesium was studied in 16 Santa Ins adult sheep, during 26 days, being a seven-day-period ofadaptation. The experiment consisted in a completely randomized block design with four treatments.
Calcium chloride and sodium bicarbonate were added to DCAB manipulations to achieve the values:-12; + 30; +76 and +133mEq/kg DM. There was no effect of DCAB (P>0.10) on fecal and urinary pH,
and on phosphorus and magnesium balance. The increase in the DCAB corresponded to a decrease in
calcium absorption and calcium retention, and an increase in calcium fecal excretion values. Themanipulation of the DCAB affected the macromineral metabolism, mainly the calcium metabolism.
Keywords: DCAB, calcium, phosphorus, magnesium, pH
Recebido para publicao em 16 de maio de 2003Recebido para publicao, aps modificaes, em 2 de dezembro de 2003E-mail: [email protected]
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Gomide et al.
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INTRODUO
O balano ction-aninico diettico (BCAD),tambm conhecido por diferena ction-nion da
dieta ou balano eletroltico (BE), representa adiferena entre os ctions e os nions fixos totais presentes na dieta. Em geral, o BCAD calculado em mEq de (Na+ + K+) - (Cl- + SO4
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2)/kg ou 100 gramas de matria seca (MS). Oenxofre, apesar de no ser um on fixo, includono clculo do BCAD para ruminantes.
O BCAD pode interferir no metabolismo dealguns minerais. Segundo Block (1994), oBCAD negativo pode inibir a absoro ativa e passiva de clcio nos intestinos, estimulando a produo de 1,25 (OH)2D3, o que estimularia oPTH a fazer mobilizao ssea direta. Takagi e
Block (1991), ao utilizarem carneiros,demonstraram que dietas acidognicas aumentama excreo urinria de clcio e diminuem suareteno, o que provoca a formao de 1,25(OH)2D3 e a liberao de PTH para estimular amobilizao ssea. Del Claro et al. (2002), emexperimento conduzido com bovinos emcrescimento, no encontraram alterao naabsoro aparente de clcio com o uso de dietaaninica, entretanto, relataram aumento naexcreo urinria desse macromineral. Magnsioe fsforo tm o metabolismo intimamente ligadoao do clcio, dessa forma, diferentes nveis deBCAD tambm influenciam o metabolismo
deles. Vagnoni e Oetzel (1998) no encontraramdiferena na excreo urinria de magnsio emfuno da dieta aninica oferecida a vacas secas.Fauchon et al. (1995), ao alimentarem carneiroscom dietas variando de +100 a +700meq/kg deMS, encontraram decrscimo na concentrao plasmtica de Mg com o aumento do BCAD.Beighle et al. (1995) utilizaram comotratamentos BCAD de -11,1, +16,5 e+25,6mol/100g MS e verificaram que asconcentraes de P nas fezes e no sangue forammaiores para a dieta aninica do que para asdietas controle e catinica. O Mg fecal foi maiorna aninica. Jackson et al. (2001) verificaram
que diferentes relaes entre ctions e nions nadieta no alteraram a excreo urinria defsforo. Campos (1998), ao avaliar o balanodiettico ction-aninico na alimentao devacas leiteiras pr-parto, observou que a dietaaninica reduziu a absoro aparente de P e Mg.Setti (2001) observou que a dieta aninicaaumentou as concentraes de Ca e P; alm
disso, as concentraes desses macrominerais nosangue no foram afetadas pelas dietas catinicaou aninica.
O objetivo do presente experimento foi o deestudar os efeitos do balano ction-aninico dadieta no metabolismo de clcio, fsforo emagnsio em ruminantes, por meio de um ensaiode digestibilidade em ovinos.
MATERIAL E MTODOS
O experimento foi realizado na Faculdade deZootecnia e Engenharia de Alimentos daUniversidade de So Paulo, Campus dePirassununga, SP, utilizando 16 carneirosmachos, no castrados, da raa Santa Ins com
peso mdio de 35,55kg e idade de 12 meses.
A escolha dos ingredientes para a dieta utilizadafoi feita em funo da palatabilidade e visandoatender s necessidades nutricionaispreconizadas pelo Nutrient... (1985) (Tab. 1). ATab. 2 apresenta a composio centesimal dasdietas experimentais e seus respectivos balanosction-aninicos, expressos na matria seca.
Tabela 1. Composio percentual dosingredientes da dieta experimental dos ovinosalimentados com diferentes balanos ction-aninicos (mEq/kg MS)
Ingrediente %Fub de milho 55,30Casca de algodo 25,00Farelo de soja 12,50Farelo de trigo 1,00leo de soja 1,00Fosfato biclcico 2,00Calcrio calctico 1,20Uria 1,00Sal experimental 0,57Suplemento mineral* 0,43*410,0g de cloreto de sdio; 16,7g de sulfato de ferro II; 3,0gde sulfato de mangans II; 2,6g de xido de zinco; 2,0g desulfato de cobre II e 0,05g de sulfato de cobalto.
O BCAD foi calculado pela seguinte equao:BCAD= [(Na
++ K
+) - (Cl- + S-2)] mEq/kg MS da
rao. Para a formulao dos tratamentosexperimentais usou-se como sal aninico ocloreto de clcio (CaCl
2.2H2O) e como sal
catinico o bicarbonato de sdio (NaHCO3).
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Tabela 2. Composio qumico-bromatolgica e percentual dos minerais das dietas para ovinosalimentados de acordo como balano(tratamento) ction-aninico (mEq/kg MS)
TratamentoComponente -12 +30 +76 +133Matria seca (%) 87,45 87,80 88,25 88,05Protena bruta (%) 15,15 15,60 16,23 16,51Fibra bruta (%) 11,30 9,70 10,40 10,70Extrato etreo(%) 4,13 4,75 4,52 5,18Matria mineral (%) 4,85 5,50 5,60 5,25Extrativo no nitrogenado (%) 64,57 64,45 63,25 62,36Clcio (%) 1,07 0,98 0,91 0,90Magnsio (%) 0,44 0,43 0,40 0,43Sdio (%) 0,42 0,43 0,44 0,57Potssio (%) 0,66 0,67 0,68 0,68Enxofre (%) 0,18 0,18 0,18 0,18Cloro (%) 0,89 0,77 0,63 0,62Fsforo (%) 0,61 0,62 0,64 0,61
Os animais foram alojados em gaiolas
metablicas com estrado de plstico para coletatotal da urina. Em cada animal foram ajustadasbolsas para coleta de fezes e a gua foi fornecida"ad libitum".
Nos primeiros sete dias os animais receberamquantidades crescentes da dieta experimental edecrescentes de volumoso (feno de coast-cross).O consumo dirio de rao foi estabelecido em1.200g/dia, o que representou cerca de 90% doconsumo voluntrio mdio, visando a eliminaode eventuais sobras. Esse valor foi determinado para que no houvesse efeito das diferentesquantidades ingeridas pelos animais. A partir do
oitavo dia e por 19 dias os animais receberamapenas as dietas experimentais, sendo os cincoltimos utilizados para colheita de fezes e urinapara o balano de minerais.
As fezes e a urina de cada animal foram colhidasdiariamente, homogeneizadas e delas retiradasalquotas de 10%. As raes fornecidas tambmforam amostradas semanalmente durante operodo experimental.
No ltimo dia do experimento, foram retiradasamostras de sangue e levadas ao laboratrio,
centrifugadas a 3.500g, durante 10 minutos. Asamostras de soro foram desproteinizadas pelouso de uma soluo de cido tricloroactico a10%.
As amostras de fezes foram submetidas pr-secagem em estufa de circulao forada de ar, a65C, por 72 horas. A seguir, foram modas emmoinho tipo Willey, dotados de peneiras de 1mmde dimetro e acondicionadas em sacos plsticos.
As determinaes de matria seca (MS) ematria mineral (MM) para fezes e raes foramrealizadas segundo Official... (1990).
Para anlise dos minerais (fezes, urina, soro eraes) realizou-se uma digesto ntrico- perclrica e posterior diluio. As leituras para
clcio e magnsio foram realizadas emespectrofotmetro de absoro atmica. Ofsforo foi quantificado pela metodologia deFiske e Subbarow (1925).
Foram realizadas medies dirias do pH fecal eurinrio. O pH da urina foi obtido,imediatamente, aps a colheita da ltima urinadiria. Para as fezes, foram utilizadas alquotasde 20g de fezes frescas, acrescidas de 80ml degua deionizada. Aps a homogeneizao, foramfiltradas em papel de filtro comum e realizadasas leituras.
O delineamento experimental foi o de blocos aoacaso com quatro tratamentos (balanoction/nion) e quatro repeties. Todos os dadosforam submetidos anlise de varincia e para severificar o efeito dos tratamentos, realizou-seanlise de regresso em funo dos diferentesvalores do balano ction-aninico.
RESULTADOS E DISCUSSO
Os resultados dos nveis de clcio no sorosangneo so apresentados na Tab. 3.
Tabela 3. Valores mdios de clcio, fsforo e magnsio no soro dos ovinos alimentados de acordo com obalano (tratamento) ction-aninico (mEq/kg MS)Tratamento
Varivel-12 +30 +76 +133
Mdia EPM
Ca (mg/100ml) 17,00 26,50 11,25 14,25 17,252,98P (mg/100ml) 9,60 7,50 9,03 9,60 8,930,74Mg (mg/100ml) 2,88 2,75 1,88 2,25 2,440,13EPM = Erro-padro da mdia.
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Em relao ao aumento dos nveis de balanoction-aninico diettico na alimentao decarneiros, verificou-se que houve efeito cbico(P
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Tabela 4. Nveis mdios de clcio, fsforo e magnsio em ovinos alimentados de acordo com o balano(tratamento) ction-aninico (mEq/kg MS)
TratamentoVarivel
-12 +30 +76 +133Mdia EPM
ClcioConsumo (g/dia) 11,22 10,35 9,64 9,50 -Fezes (excreo %)* 77,59 81,94 87,73 86,82 83,52 3,84Urina (excreo %)* 3,85 4,08 2,23 5,11 3,821,06Absoro (%)* 22,39 17,85 12,24 13,22 16,433,84Reteno (%)* 18,65 13,65 10,01 8,11 12,613,80FsforoConsumo (g/dia) 6,40 6,53 6,78 6,44 -Fezes (excreo%)* 50,04 49,38 48,08 50,59 49,528,95Urina (excreo %)* 18,48 17,61 25,41 20,00 20,376,15Absoro (%)* 49,96 50,61 51,92 49,42 50,488,95Reteno (%)* 31,49 33,00 26,51 29,43 30,117,28MagnsioConsumo (g/dia) 4,62 4,53 4,24 4,54 -Fezes (excreo %)* 75,02 74,19 82,29 76,66 77,043,48
Urina (excreo %)* 20,89 16,78 12,08 14,60 16,093,00Absoro (%)* 25,00 25,83 17,69 23,35 22,973,48Reteno (%)* 4,11 9,05 5,60 8,76 6,885,19EPM = Erro-padro da mdia * Calculados em relao ao consumido.
Foram observados decrscimos lineares (P0,10) para as variveisanalisadas em funo do BCAD. Os resultadosobtidos assemelham-se aos da literatura, uma vezque foram utilizados ovinos machos comdemanda de fsforo reduzida. Takagi e Block(1991) no encontraram diferenas significativasno balano de fsforo em funo do uso de dietaaninica. Esses autores tambm trabalharam comcarneiros machos. Van Moseu et al. (1993) no
encontraram diferenas nos nveis de fsforo naurina de vacas secas alimentadas com BCAD de4 ou +72,5mEq/kg de MS.
No se observou efeito do aumento do BCAD(P>0,10) sobre a absoro aparente e excreofecal do magnsio (Tab. 4). Segundo Lomba et
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al. (1978), a absoro de magnsio funodireta dos nveis dietticos. Como a concentraode magnsio nas dietas deste experimento foi amesma, esperava-se comportamento semelhante
para a excreo fecal de magnsio. Os resultadosobtidos no trabalho foram semelhantes aosencontrados por Ross et al. (1994) e Delaquis eBlock (1995). Para a excreo urinria demagnsio no foram verificadas diferenas entre
os tratamentos, concordando com Vagnoni eOetzel (1998).
Os valores de pH urinrio e fecal nos diferentes
tratamentos so apresentados na Tab. 5. Noforam encontradas diferenas no pH urinrio efecal em funo da manipulao dos ctions enions da dieta.
Tabela 5. Valores mdios do pH urinrio e pH fecal dos ovinos alimentados de acordo com o balano(tratamento) ction-aninico (mEq/kg MS)
TratamentoVarivel
-12 +30 +76 +133MdiaEPM
pH urinrio 7,38 7,06 7,36 8,397,551,27 pH fecal 7,28 7,55 7,41 7,837,520,27EPM = Erro-padro da mdia.
No trabalho desenvolvido por Kim et al. (1997),no qual novilhas foram submetidas a trs nveisde BCAD (+5, +15 e +30mEq/kg de MS), foiconcludo que o pH urinrio aumentou conformeo acrscimo do BCAD. Fauchon et al. (1995), aoalimentarem carneiros com 100, 300, 500 ou700mEq/kg de MS, verificaram aumento lineardo pH urinrio. Tucker et al. (1991c) concluramque o on hidrognio urinrio respondedrasticamente ao aumento do cloreto de clcio,aumentando da primeira terceira semana. Osvalores retornam aos ndices normais durante aquarta semana, refletindo decrscimo no efeitoacidognico da dieta. Esse fato pode explicar aausncia de variao do pH da urina no presenteexperimento, j que as colheitas ocorreram apartir da quarta semana.
Com relao ao pH fecal, os resultadosconfirmam as observaes dos autores Takagi eBlock (1991) e Del Claro et al. (2002). Takagi eBlock (1991) encontraram valores de pH fecal de8,21 para o tratamento controle e 8,30 para oscarneiros alimentados com dieta aninica(-27mEq/kg de MS).
CONCLUSES
Os resultados obtidos permitiram concluir que amanipulao do BCAD interfere no metabolismode macrominerais, principalmente de clcio. Aabsoro e reteno de clcio so maiores para oBCAD negativo, em funo da menor excreo
fecal. Em carneiros adultos, diferentes relaesde ctions e nions na dieta no interferem nometabolismo de fsforo e magnsio. O pHurinrio mostrou-se ineficiente para medir ostatus cido-base, quando mensurado na quartasemana.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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