Dieoo ilza joly

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10/08/10 20:21 :: Revista do Centro de Educação :: Página 1 de 5 http://coralx.ufsm.br/revce/revce/2003/02/a7.htm ... Edição: 2003 - Vol. 28 - N° 02 > Editorial > Índice > Resumo > Artigo Música e Educação Especial: uma possibilidade concreta para promover o desenvolvimento de indivíduos Ilza Zenker Leme Joly . O texto tem por objetivo apresentar algumas idéias relacionadas ao ensino de música em situações em indivíduos com necessidades especiais estejam incluídos. Há diferenças significativas no processo ensino-aprendizagem de música para crianças com necessidades especiais? Temos princípios, olhares, sensações e percepções específicos para esse contexto educacional? Como fica a aula de música? De que maneira nos envolvemos? Essas perguntas, que estiveram presentes em meu pensamento durante alguns anos em que me dediquei ao ensino de música em uma escola de atendimento à crianças com necessidades especiais, norteiam a tentativa de apresentar algumas idéias relacionadas à prática pedagógica com crianças com necessidades educacionais especiais e as possíveis questões sobre diferenças, igualdades, possibilidades, facilidades e dificuldades inerentes a esse ambiente. Palavras-chave: educação especial, música, desenvolvimento humano. Há diferenças significativas no processo ensino-aprendizagem de música para crianças com necessidades especiais? Temos princípios, olhares, sensações e percepções específicos para esse contexto educacional? Como fica a aula de música? De que maneira nos envolvemos? Essas perguntas estiveram presentes em meu pensamento durante alguns anos em que me dediquei ao ensino de música em uma escola de atendimento à crianças com necessidades especiais, enquanto que paralelamente, eu também trabalhava num programa de ensino de música para crianças ditas normais. Parte da minha prática pedagógica com crianças com necessidades educacionais especiais, dizia respeito à minha pesquisa de mestrado e foi durante essa oportunidade de contato com as mais diferentes crianças que me questionei sobre diferenças, igualdades, possibilidades, facilidades e dificuldades. Segundo Birkenshaw-Fleming (1993) há diferentes princípios e formas e observação que podem ajudar no ensino de crianças especiais. Quanto mais conhecimento o professor tem acerca do estudante, maior é a adequação de suas propostas de ensino e maior é a sua segurança para promover o desenvolvimento dos alunos. Diz a autora que o professor deve pesquisar sobre as possibilidades de desenvolvimento de seus alunos e deve conhecer muito bem as limitações e dificuldades de cada um deles. Esse conhecimento pode ser conseqüência de um processo constante de leituras específicas sobre as características dos alunos, entrevistas e conversas com pais, professores, coordenadores, diretores e outros profissionais que componham as equipes de trabalho das escolas que as crianças freqüentam. No entanto, o que me parece mais importante é o conhecimento gerado por meio de uma observação profunda dos alunos e de uma interação de afeto e respeito, considerando sempre as possibilidades de cada um. Para Birkenshaw-Fleming (1993) é importante evitar os conceitos pré-fixados sobre os que as crianças ou indivíduos portadores de necessidades especiais podem ou não fazer. O excesso de proteção por parte de pessoas que convivem com a criança nem sempre corresponde com aquilo que ela realmente necessita. É importante manter a mente aberta para perceber as potencialidades de cada um. A autora encoraja o professor a manter uma atitude positiva e animadora frente o aluno, incentivando-o a transpor suas próprias barreiras e possibilidades. Todo o trabalho, diz ela, deve ser feito com paciência e carinho, lembrando-se de que é preciso valorizar a auto-estima de cada aprendiz, motivando-o a reconhecer sua contribuição frente ao grupo em que está inserido. Birkenshaw-Fleming (1993) aponta ainda alguns possíveis benefícios que as aulas de música podem proporcionar aos indivíduos com necessidades especiais: · Se o professor faz com que o aluno realize algumas atividades com sucesso, possivelmente vai reforçar a sua auto-estima. Ele obtém isso, respeitando as limitações e possibilidades de cada um, encorajando-o a agir por sua própria conta. Competição com outras crianças é usualmente contraproducente e prejudicial. É importante, por outro lado, fazer com que o aluno participe de todas os procedimentos de aula, de maneira que suas realizações se transformem numa experiência válida. Todos devem ser encorajados a dar o melhor de si e serem independentes, tanto nas atividades

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    ... Edio: 2003 - Vol. 28 - N 02 > Editorial > ndice > Resumo > Artigo

    Msica e Educao Especial: uma possibilidade concreta para promover o desenvolvimento deindivduos

    Ilza Zenker Leme Joly.

    O texto tem por objetivo apresentar algumas idias relacionadas ao ensino de msica emsituaes em indivduos com necessidades especiais estejam includos. H diferenas significativas noprocesso ensino-aprendizagem de msica para crianas com necessidades especiais? Temos princpios,olhares, sensaes e percepes especficos para esse contexto educacional? Como fica a aula demsica? De que maneira nos envolvemos? Essas perguntas, que estiveram presentes em meupensamento durante alguns anos em que me dediquei ao ensino de msica em uma escola deatendimento crianas com necessidades especiais, norteiam a tentativa de apresentar algumas idiasrelacionadas prtica pedaggica com crianas com necessidades educacionais especiais e as possveisquestes sobre diferenas, igualdades, possibilidades, facilidades e dificuldades inerentes a esseambiente.

    Palavras-chave: educao especial, msica, desenvolvimento humano.

    H diferenas significativas no processo ensino-aprendizagem de msica para crianas comnecessidades especiais? Temos princpios, olhares, sensaes e percepes especficos para essecontexto educacional? Como fica a aula de msica? De que maneira nos envolvemos?

    Essas perguntas estiveram presentes em meu pensamento durante alguns anos em que medediquei ao ensino de msica em uma escola de atendimento crianas com necessidades especiais,enquanto que paralelamente, eu tambm trabalhava num programa de ensino de msica para crianasditas normais. Parte da minha prtica pedaggica com crianas com necessidades educacionaisespeciais, dizia respeito minha pesquisa de mestrado e foi durante essa oportunidade de contato comas mais diferentes crianas que me questionei sobre diferenas, igualdades, possibilidades, facilidades edificuldades.

    Segundo Birkenshaw-Fleming (1993) h diferentes princpios e formas e observao que podemajudar no ensino de crianas especiais. Quanto mais conhecimento o professor tem acerca do estudante,maior a adequao de suas propostas de ensino e maior a sua segurana para promover odesenvolvimento dos alunos. Diz a autora que o professor deve pesquisar sobre as possibilidades dedesenvolvimento de seus alunos e deve conhecer muito bem as limitaes e dificuldades de cada umdeles.

    Esse conhecimento pode ser conseqncia de um processo constante de leituras especficas sobreas caractersticas dos alunos, entrevistas e conversas com pais, professores, coordenadores, diretores eoutros profissionais que componham as equipes de trabalho das escolas que as crianas freqentam.No entanto, o que me parece mais importante o conhecimento gerado por meio de uma observaoprofunda dos alunos e de uma interao de afeto e respeito, considerando sempre as possibilidades decada um.

    Para Birkenshaw-Fleming (1993) importante evitar os conceitos pr-fixados sobre os que ascrianas ou indivduos portadores de necessidades especiais podem ou no fazer. O excesso de proteopor parte de pessoas que convivem com a criana nem sempre corresponde com aquilo que elarealmente necessita. importante manter a mente aberta para perceber as potencialidades de cadaum. A autora encoraja o professor a manter uma atitude positiva e animadora frente o aluno,incentivando-o a transpor suas prprias barreiras e possibilidades. Todo o trabalho, diz ela, deve serfeito com pacincia e carinho, lembrando-se de que preciso valorizar a auto-estima de cada aprendiz,motivando-o a reconhecer sua contribuio frente ao grupo em que est inserido.

    Birkenshaw-Fleming (1993) aponta ainda alguns possveis benefcios que as aulas de msicapodem proporcionar aos indivduos com necessidades especiais:

    Se o professor faz com que o aluno realize algumas atividades com sucesso, possivelmente vaireforar a sua auto-estima. Ele obtm isso, respeitando as limitaes e possibilidades de cada um,encorajando-o a agir por sua prpria conta. Competio com outras crianas usualmentecontraproducente e prejudicial. importante, por outro lado, fazer com que o aluno participe de todasos procedimentos de aula, de maneira que suas realizaes se transformem numa experincia vlida.Todos devem ser encorajados a dar o melhor de si e serem independentes, tanto nas atividades

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    musicais como em qualquer outra atividade do seu dia-a-dia.

    possvel estimular a interao social por meio de atividades musicais, e uma bomrelacionamento social possibilita ao indivduo sair de um possvel isolamento.

    O desenvolvimento do tnus muscular e da coordenao psico-motora pode ser estimulado pormeio de atividades que envolvam movimento associado msica.

    desenvolvimento da linguagem pode ser estimulado por meio de atividades musicais tais comoparlendas, trava-lnguas e pequenas canes.

    Da mesma forma, pequenas canes e exerccios de acuidade rtmica e meldica podemdesenvolver a capacidade auditiva, intelectual e o desenvolvimento da memria.

    Por meio de um programa de educao musical bem estruturado e com objetivos bem definidos possvel promover o desenvolvimento fsico, intelectual e afetivo da criana com necessidadesespeciais.A autora ainda aponta para outros aspectos importantes a serem considerados quando se trabalha comindivduos com necessidades especiais. O ambiente deve ser aconchegante, seguro e motivador, masno deve desviar a ateno do aluno. s vezes, muitas cores, desenhos e diferentes objetos podemfazer com que o aluno se distraia muito facilmente do foco de ensino-aprendizagem.

    A rotina propicia segurana. Os indivduos com algum tipo de dificuldade emocional, mental ou deaprendizagem conseguem se organizar e responder bem s exigncias do ambiente quando lhes assegurado senso de ordem e uma rotina previsvel. Dessa forma, o caos no se instala em suas vidas.Da mesma forma, as atividades de relaxamento so muito importantes para construir um ambiente semtranqilo e sem ansiedade. Planejar alguns exerccios de relaxamento no incio ou no final da aula, ouainda entre outras atividades musicais pode diminuir consideravelmente as tenses do ambiente.

    Um outro aspecto apontado por Birkenshaw-Fleming o movimento. Ele faz parte natural doprocesso de desenvolvimento de qualquer criana e tambm pode auxiliar a aliviar tenses, auxiliar ocorpo a assimilar conceitos e levar a criana a efetuar contatos socais. Muitas crianas com algum tipode limitao fsica ficam privadas do prazer proporcionado por atividades de movimento, portanto incluirdanas, jogos de movimento e expresso corporal como parte da aula de msica pode ser muitoimportante para esses alunos. Da mesma forma, muitas crianas com necessidades especiais socapazes de aprender a notao musical com muita facilidade. Desenhos e smbolos so muito teis paraajudar a concretizar alguns conceitos.

    Se o educador considerar esses aspectos nas diferentes etapas de sua prtica pedaggica, comcerteza estar criando um ambiente propcio para atingir objetivos musicais que promovam odesenvolvimento geral do aluno.

    importante notar que a rea de educao musical no Brasil vem, cada vez mais, seestabelecendo com uma rea de grande potencial de contribuio para os projetos multidisciplinares einterdisciplinares trazendo novas e boas perspectivas para a educao de maneira geral. H um nmerosignificativo de profissionais envolvidos em estudos e produo de materiais didticos voltados para umensino mais efetivo e abrangente da msica. No entanto, embora o conjunto de conhecimentos da reade educao musical produzido no Brasil em forma de mtodos, propostas de procedimentos emateriais didticos constitua um acervo considervel, pouca relao feita com seu uso e aplicabilidadena educao especial. H ainda um grande campo de atuao a ser explorado pelo educador musical,que poder trazer, por outro lado, uma grande contribuio para diversos setores da educao e dasade.

    Alvin (1966), no seu livro Msica para el nio disminudo, afirma que a msica pode representarpara as crianas portadoras de necessidades especiais, um mundo no ameaador com o qual ela podese comunicar, se integrar e auto-identificar-se. Ainda de acordo com a autora, a msica pode ofereceroportunidades para a criana deficiente ampliar os limites fsicos ou mentais que possui. As atividadesmusicais podem contribuir tambm para despertar a conscincia perceptiva, o desenvolvimento dadiscriminao auditiva e do controle motor. Alm disso, as atividades musicais podem favorecer aintegrao social e emocional da criana, influindo positivamente sobre sua atitude com relao ao jogo,ao trabalho, a si mesma e ao meio em que vive.

    No livro Entrenamiento rtmico y auditivo para el disminudo mental, Penovi (1971), descreve afuno da msica na educao de crianas com necessidades especiais. A autora apresenta uma sriede propostas para a adequao do movimento ao estmulo sonoro, discriminao auditiva, percepo deestruturas rtmicas, relao espacial e relao grupal por meio de atividades instrumentais e oferecealgumas orientaes sobre alguns aspectos de devem ser considerados em trabalhos da rea. Entre elesesto:

    entender e considerar a msica como um elemento fundamental no rol de aspectos que

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    contribuem para o desenvolvimento de indivduos;

    agrupar as crianas de acordo com as suas dificuldades motoras e suas reaes frente ao ensinomusical;

    manter um esprito investigativo e pesquisar o material adequado s caractersticas enecessidades de cada criana.

    Para Penovi (1971), a base da msica o som e este produz diferentes mudanas psquicas napessoa, atuando sobre seu estado mental, emocional e fsico. De acordo ainda com a autora, a msicaest estreitamente ligada vida da criana, sendo que esta sofre uma influncia notvel do ritmo e damelodia. A msica parece provocar mudanas na conduta de crianas com necessidades especiaisfazendo com que se adaptem melhor vida escolar, contribuindo para sua interao social e melhorrendimento nas atividades de aprendizagem.

    Jeandot (1990) relata que durante seus primeiros cinco anos de vida foi uma criana aptica atudo que acontecia ao seu redor, apatia esta decorrente de um trauma de nascimento. Sua me, queera uma excelente violinista, conseguiu sensibiliz-la e quebrar sua apatia por meio da msica. Ocontato sistemtico de Jeandot com a msica estabeleceu um meio seguro para que ela se comunicassecom o seu meio ambiente. Esse elo foi to forte que, ao tornar-se adulta, Jeandot dedicou-se pesquisa e ensino de msica.

    Durante a 2 Guerra Mundial, Jeandot trabalhou junto com um psiquiatra na recuperao decrianas prematuras e de outras que viviam assustadas e incapazes de fixar sua ateno nas aulas.Atingiu seus objetivos por meio da msica. No Brasil, a autora trabalhou no servio social da Casa daInfncia, colocando seus conhecimentos musicais a servio de crianas abandonadas pela famlia e, damesma forma, ajudou essas crianas reencontrarem o equilbrio emocional atravs de atividadesmusicais. Para Fonterrada (1991), os estudos, livros e pesquisas de Jeandot mostram todo o potencialda msica na promoo de meios eficientes de comunicao entre o ser humano e o ambiente ondeest inserido.

    Pensando numa forma de estudar os efeitos da aplicao de procedimentos de musicalizaoinfantil sobre o desenvolvimento da percepo rtmica e auditiva de crianas com necessidades especiaise tambm da sensibilizao dessas crianas para os fenmenos musicais, desenvolvemos um estudocom cerca de 18 alunos, ao longo de dois anos, observando, registrando e analisando suas reaes aosprocedimentos musicais aplicados. Esses dois anos foram de trabalho intenso, envolvente e afetivo. Amaior parte das crianas com diagnsticos diferenciados de Sndrome de Down, disrritmia cerebral,paralisia cerebral e outros eram atendidos em sesses individuais. Depois do atendimento individual elasainda passavam por sesses de prtica musical em grupo, nas quais tocavam, cantavam ou semovimentavam explorando seus limites e possibilidades.

    A forma de aplicao do procedimento, assim como a avaliao dos desempenhos dos alunosforam adaptadas de acordo com suas caractersticas peculiares e tambm seu repertrio de entrada.Por exemplo, os exerccios de movimento eram realizados com ajuda da professora/pesquisadoraseguindo instrues especficas de uma fisioterapeuta; os exerccios que exigiam palmas ou percussescorporais tambm recebiam uma performance em conjunto entre professora e aprendiz. Osinstrumentos foram escolhidos com cuidado, de maneira que se adequassem s necessidades dascrianas. As crianas tinham seu desempenho corrigido, com pacincia e carinho, at que conseguissemexecutar a tarefa com xito. Por outro lado, os alunos eram sempre incentivados por meio de umagrande variedade de procedimentos e materiais didticos atrativos. A observao individual de cada umdos alunos permitiu avaliar as possibilidades de cada um, planejar procedimentos e modificar critriosde avaliao conforme as limitaes e possibilidades de cada um.

    Para delinear os efeitos do programa de educao musical foram escolhidos algunscomportamentos para os quais eram analisados os desempenhos dos alunos. Mas, ao pesquisar oscontedos a serem ensinados num programa de musicalizao, demos conta da necessidade deexplicitar melhor alguns comportamentos e decompor outros mais sofisticados para comportamentosainda mais simples. Dessa maneira, ao descrever a ateno do aluno em relao uma fonte sonoraou uma cano cantada pela professora, foi estabelecido que a avaliao seria sobre ocomportamento de olhar da criana em direo fonte sonora. Dessa maneira, foram observados eanalisados os seguintes comportamentos: olhar da criana em direo fonte sonora; acompanhar acano atravs de percusso corporal e/ou percusso instrumental; identificar a fonte sonora; repetir oritmo dado pela professora; cantar uma cano; executar uma determinada clula rtmica; distinguirsons lentos e rpidos, fortes e fracos, graves e agudos; percutir acompanhando a pulsao de umacano; acompanhar com movimentos corporais as diferentes alturas dos sons apresentados pelaprofessora; executar gestos referentes letra e ao ritmo de uma cano; distinguir sons e silncios; eoutros.

    Os dados obtidos com a pesquisa deram indicativos de que a msica um excelente auxiliar nos

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    processos de desenvolvimento de crianas, sejam elas portadoras de necessidades especiais ou no.Todos os grficos gerados a partir do nmero de solicitaes da professora com relao aoscomportamentos a serem observados mostraram que a capacidade resposta e o progresso relativo aodesempenho dos alunos foi sempre positivo e crescente.

    A anlise das respostas mostrou que, durante todo o tempo do estudo, ocorreu aprendizagem. Sefoi possvel haver aprendizagem e se essa aprendizagem foi crescente no decorrer do programa deensino, possvel afirmar que as atividades musicais promovem o desenvolvimento de crianasportadoras de necessidades especiais.

    Como afirma Birkenshaw-Fleming (1993), perfeitamente possvel usar a msica em programasde educao especial, principalmente se o professor considerar as reais possibilidades de seus alunos eplanejar atividades adequadas aos limites, interesses e motivaes. importante ressaltar que acapacidade do professor aliada flexibilidade do procedimento so fatores fundamentais que permitemchegar a bons resultados no uso da msica em situaes de educao especial.Um professormusicalmente bem preparado, tendo em mos uma programao de ensino variada e flexvel, quepermite adaptaes e modificaes nos procedimentos planejados, capaz de adequar os critrios deavaliao em funo das caractersticas de seus alunos e adaptar o procedimentos ideal para odesenvolvimento de cada tpico da aula, fazendo com que cada situao de ensino se transforme numdegrau, possvel de ser transposto, a caminho do desenvolvimento e da integrao do indivduo comnecessidades especiais.

    No entanto, h ainda um outro aspecto a ser destacado a partir dessa experincia de pesquisa eprtica pedaggica, que se baseia no prazer promovido nos ambientes de sensibilizao musical. Nocaso dessa experincia, foi possvel perceber que a simples presena da professora de msica na escolaera motivo de grande alegria porque, para cada um dos alunos, significava que havia chegado omomento de cantar, brincar, danar e tocar. Uma das meninas, com quadro de paralisia cerebral eatraso significativo no desenvolvimento neuro-motor, chorava e demonstrava grande contrariao se elano fosse a primeira a ser atendida pela professora de msica e, evidentemente, dava sinais muitoclaros de que no queria que a aula acabasse. Notcias recentes da famlia dessa aluna nos mostramque, mesmo depois de decorrido alguns anos do final do estudo, ela ainda faz referncias s aulas demsica, indicando que as aprendizagens musicais ainda fazem parte de sua vida.

    importante considerar que a relao de cumplicidade e afeto estabelecida entre aprofessora/pesquisadora e cada um dos alunos participantes da pesquisa foi um dos fatores quecontriburam para o sucesso do programa de ensino de msica.

    Ao analisar essa experincia possvel concluir que a msica um fator importante parafavorecer o desenvolvimento de crianas com necessidades especiais. Desde que o professor consigaplanejar adequadamente, a aprendizagem de comportamentos musicais se d de maneira gradual ecrescente, tanto em termos quantitaivos (a criana aprende mais de aula para aula) como em termosqualitativos, isto , a criana aprende comportamentos cada vez mais complexos.

    Ao analisar as concepes e propostas de vrios educadores musicais da atualidade possvelconcluir que, embora a maioria deles no tenha dirigido suas idias para o desenvolvimento deprogramas com indivduos portadores de necessidades especiais, toda a metodologia sugerida por eles perfeitamente aplicvel para qualquer tipo de criana.

    A educao musical, tal como prope educadores como Carl Orff, faz com que msica, movimentoe linguagem sejam apresentados de forma ldica e dinmica, de tal maneira que a criana se senteenvolvida e motivada para executar os exerccios propostos pelo professor. Se uma criana, porexemplo, tem um problema de desenvolvimento da linguagem e no consegue falar corretamente, amsica, o gesto, o movimento e o ritmo organizado de uma cano facilitam a fala de pequenosfragmentos de frase, o que permite que essa criana se integre no contexto da aula. A repetiocriativa de vrios conceitos conduz aprendizagem sem medo e inibies e conseqentementedesenvolve a auto-estima da criana.

    As concepes de Carl Orff so perfeitamente adaptveis s crianas com dificuldades delinguagem e/ou dificuldades motoras e so tambm importantes para desencadear o desenvolvimentodessas reas. O jogo musical ldico e prazeroso impulsiona a criana a falar, cantar, tocar e semovimentar. O instrumental proposto por esse educador muito interessante para o trabalho comcrianas com dificuldades motoras. Como as teclas dos xilofones so desmontveis, podendo ficarapenas aquelas que devero ser usadas no decorrer de determinada msica, torna-se vivel paraqualquer criana fazer parte de um conjunto instrumental, o que pode ser extremamente prazeroso ecompensador.

    Me recordo de um outra aluna, j com 18 anos, que sonhava em tocar piano, mas que possa umcomprometimento neuro-motor to severo que essa tarefa era praticamente impossvel. No entanto,

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    tocar uma nica tecla do xilofone durante uma pea musical a fez suspirar ao final e dizer: Como foilindo tocar essa msica!. A reao dessa aluna nos faz refletir sobre a importncia de valorizarmospequenos detalhes do processo educativo. Participar do conjunto instrumental naquele momento,mesmo tocando uma nica nota, fez a aluna sentir-se parte viva de um grupo no qual seu desempenho,somado a tantos outros, surtia um efeito mgico, bonito, palpvel, real. Sua alegria, ao final da peamusical, era contagiante e emocionava.

    Da mesma forma possvel aplicar idias de outros educadores musicais tais como Willems,Kodly, Dalcroze, Gainza, Schafer, Koellreuter para citar apenas aqueles educadores mais conhecidos,cujas propostas serviram de base para muitas das metodologias utilizadas por educadores musicaisbrasileiros e estabelecer um bom programa de ensino para crianas com necessidades especiais. Arelao de interface entre princpios de educao, educao musical e educao especial parece ampliarainda mais a rea de atuao do educador musical.

    No entanto, preciso estar atento para o fato de que a msica tem sido reconhecida comoelemento importante em processos educativos, profilticos e teraputicos, mostrando aos poucos como fundamental no processo de desenvolvimento de crianas, sejam elas especiais ou no, enquanto queh poucos profissionais que se dedicam essa prtica e h tambm pouco conhecimento produzido narea em forma de artigos e livros de orientao. Essa pouca insero do educador musical nessa fatiado mercado de trabalho e a quase ausncia de publicaes faz com que professor de msica seja poucoconsiderado como elemento importante para compor equipes de trabalho.

    Dessa forma, preciso investir na formao de educadores interessados em projetos especiaiscom crianas, idosos, jovens em situao de risco, etc., de forma que a msica invada, cada vez mais,os projetos educacionais nas mais diferentes escolas e instituies. Trabalhar com crianas portadorasde necessidades especiais cria oportunidades para o educador musical trilhar caminhos interessantes,produtivos, sensveis e inesquecveis. Ocupar esse espao na organizao social das comunidades umchamamento imperativo que precisa ser atendido, nem que seja para descobrir que todos somosespeciais e que o trabalho musical igual e extremamente prazeroso para qualquer tipo de indivduo.

    Referncias Bibliogrficas

    ALVIN, J. Musica para el nio disminudo. Buenos Aires, Ricordi Editora, 1966.BIRKENSHAW-FLEMING, L. Music for all: teaching music to people with special needs. Toronto, Canad.Gordon Thompsom Music, 1993.JEANDOT, N. Explorando o universo da msica. So Paulo, Editora Scipione Ltda, 1990.PENOVI, L. Entrenamiento rtmico e auditivo para el disminudo mental. Buenos Aires: Talcahuano,1989.

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