DIAS, G. (2015) Recepção de Nietzsche Na Imprensa Brasileira

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    Entre renovadores e reacionrios

    Entre renovadores ereacionrios: a recepoesttica e poltica da obrade Nietzsche na imprensabrasileira no perodo de1893 a 1945

    Geraldo Dias*

    Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar dezoito textos sobreNietzsche publicados na imprensa brasileira no perodo de 1893 a 1945.Tais trabalhos mostram que dois fatores da cultura brasileira desse per-odo orientam a leitura da obra do filsofo: a renovao esttico-cultural ea reao poltico-religiosa. Os textos transcritos na sequncia seguem aordem cronolgica de suas publicaes.Palavras-chave: Nietzsche recepo Brasil imprensa Jornal do

    Commercio Gazeta de Notcias Fon-fon O Commercio Almanaquedo Garnier Amrica Brasileira Jornal do Recife A Noite Dirio deNotcias A Manh.

    Como Nietzsche, todos exigimos que nos cantem um canto novo.Paulo Prado.Poesia Pau Brasil.1924.

    O super-homem de Nietzsche, alma da filosofia heroica do nazismo e,at certo ponto, do fascismo, escapa aos quadros cristos-democrticosdo esprito ocidental.Dirio Carioca, Camillo Avelino, RJ, 1939.

    * Doutorando em Filosofia pela Universidade Federal de So Paulo (UNIFESP), So Paulo,Brasil. E-mail: [email protected].

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    I

    Desde o final do sculo XIX Friedrich Nietzsche tem pre-sena marcante na cultura brasileira. Nas artes plsticas, no tea-tro, na literatura, nas cincias humanas em geral, na poltica, paradizer o mnimo, seu pensamento faz-se sentir1. Sua obra, desdeento, tem sido s vezes tomada como algo incondicionado, queexiste em si e por si, agindo sobre seus leitores por uma fora pr-pria que dispensaria explicaes. Esse pressuposto tem repousadona convico de que h certa virtude criadora no seu autor, muitomisteriosa e pessoal; e mesmo quando desfeita pela anlise, aindaassim permanece um pouco nos seus leitores, na medida em quese ope s tentativas de definir os fatores que orientam as leiturasde sua obra2. , portanto, justamente para desfazer equvocos comoeste que o trabalho de recepo se impe. Para tanto, a pesquisa derecepo procura investigar a filosofia de Nietzsche em diferentescontextos, a fim de revelar os fatores que orientam as leituras desua obra no Brasil3.

    Nessa direo, transcrevemos aqui alguns textos sobre Nietzs-che publicados na imprensa brasileira no perodo de 1893 a 1945que expressam, ora de forma visvel, ora de maneira mais implcita,a predominncia de dois fatores da cultura brasileira norteando asleituras de sua obra. Os fatores so, de um lado, a renovao est-tico-cultural em curso desde o final do sculo XIX, primeiro entreos autores germanistas, passando depois pelos pr-modernistas at,por fim, pelos autores do movimento modernista e, de outro lado, areao poltico-religiosa mobilizada contra essa mesma renovao.

    1 SILVA JR, Ivo da, Nietzsche e a cultura brasileira. In: Em busca de um lugar ao sol:Nietzsche e a cultura alem. So Paulo: Discurso Editorial, 2007, p. 183.

    2 Cf. O escritor e o pblico. In: CANDIDO, Antnio.Literatura e sociedade. Rio de Janeiro,Ouro Azul, 12 ed., 2011, p. 83.

    3 Cf.Nietzsche: aqui e l. Entrevista com Scarlett Marton. Por Joo Neto, in Revista Filosofia,Editora Escala (disponvel em http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/75/arti-go271728-3.asp).

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    Os textos transcritos foram publicados na forma de poema, artigos,ensaios, resenhas e conferncias. Pertencem a autores conhecidos

    e atuantes na cultura brasileira da poca, como Araripe Jnior, Au-gusto dos Anjos, Fbio Luz, Elysio de Carvalho, Joo Ribeiro, Al-bertina Bertha, Lima Barreto, Renato Almeida, Evaristo de MoraisFilho, Julio Erasmo, Padre Leonardo Mascello, Corra Velho, Er-nani Reis, Padre Carlos Barromeu, Hamilton Barata, Joo Scapino,Cleto Seabra Veloso.

    Quanto ao primeiro fator, a recepo esttica, a seleo de tex-tos composta por trabalhos quase sempre engajados no projetode renovao esttico-cultural predominante a partir do movimentomodernista; e, quanto ao segundo fator, a recepo poltico-reli-giosa, a seleo contempla textos que defendem o filsofo das apro-priaes polticas que corroborem governos autoritrios, no Brasil ena Europa, e ainda com textos de carter reacionrio, no sentido dese contraporem renovao em curso e tentarem retomar os valorestradicionais, associando as obras de Nietzsche a Hitler, Mussolinie Getlio Vargas, s vezes a fim de legitimar suas polticas domi-nadoras e, ainda outras, a fim recusar e obscurecer o pensamentodo filsofo. Noutras palavras, a grande polmica de ento se situaem torno da leitura das obras nietzschianas ora numa chave est-tico-renovadora, utilizadas como fonte inspiradora para grupos deintelectuais engajados num projeto de renovao das artes, da lin-guagem e da cultura brasileira em geral; ora numa chave poltico--reacionria, que se colocava contra as mudanas em curso, sendoento utilizadas como contraponto da reao poltico-religiosa pre-ocupada em assegurar e conservar os valores da tradio espiritu-

    alista, a moral crist, o nacionalismo ufanista, a honra ptria e famlia, e que sempre teima em relacionar sua obra com as guerrasem curso na Europa desde o final do sculo XIX, a guerra franco--prussiana, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.

    Como veremos, esses fatores comparecem de maneira expres-siva na preferncia por certos livros do filsofo em detrimento deoutros, na seleo de determinadas ideias e no negligenciar de

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    outras, no enfatizar um estilo de escrita particularmente o afo-rismo a despeito de outros.

    Todos os textos publicados neste dossi foram atualizados se-gundo o acordo ortogrfico vigente. No obstante, no caso de algunsvocbulos estrangeiros e outros prprios da filosofia nietzschiana,optamos por no atualizar pela traduo corrente, a fim de conser-var a identidade e o contexto histrico do escrito. Para os nomesprprios adotamos a seguinte orientao: os nomes de autores epessoas foram conservados na grafia original do perodo, com exce-o de alguns j fixados na ortografia atual.

    II

    A imprensa brasileira do final do sculo XIX e incio do XXrecepciona a obra de Nietzsche em revistas, jornais e almanaquesde orientao bastante divergentes. Num primeiro momento, nota--se que o filsofo aparece principalmente em dirios e peridicosengajados na divulgao de ideias ditas modernas, entre os quaispodemos destacar os dirios Gazeta de Notcias e Correio da Manh,as revistas Fon-fon, aRevista de Antropofagia, Festa, aRevista daSemanae, em particular, a revista O Pirralho, peridico literrio,poltico e de humor, fundado por Oswald de Andrade, em 1911, coma inteno de repensar a arte brasileira. Na revista O Pirralhoo pen-samento de Nietzsche enseja propostas de renovao esttica e pol-tica, fornece elementos para alavancar uma ruptura com a forma decriar e pensar a arte tradicional, romntica, parnasiana etc. Nessa

    direo que Amadeu Amaral publica o texto O super-homem; otermo utilizado no peridico a fim de corroborar a luta pelo civi-lismo de Rui Barbosa contra a ditadura de Pinheiro Machado.

    Entre as diversas referncias ao filsofo O Pirralhotraz a ex-presso ns, os modernos, os supremos, os filhos de Nietzsche,com a qual indica a importncia do pensamento nietzschiano para

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    a produo dos intelectuais desse perodo4. Ela aponta para osintelectuais posteriormente considerados modernistas, que ento

    comeam a se agrupar. O desconhecido autor da expresso pre-ciso em suas palavras, indica a quem o texto se dirige em letrasgarrafais, Igncio da Costa Ferreira, mais conhecido como Ferrig-nac, advogado, ilustrador, desenhista, caricaturista e escritor. Como trabalho intituladoNatureza Dadasta, participou da Semana deArte Moderna. Nesse clima cultural que culminar no Modernismoe que pretende, tal como afirma o autor do trecho, a regeneraoesttica da terra, Nietzsche vincula-se s mudanas culturais pro-duzidas pelos intelectuais que, nas mais diversas reas da criativi-dade, poesia, teatro, msica, artes plsticas, buscam uma rupturacom a tradio e a superao dos padres artsticos da poca. Nestehorizonte de transio, sua filosofia incide no processo de ruptura eno se limita a uma moda passageira, antes uma importante fontede renovao esttica. nessa direo que Oswald de Andradeaponta o livroAmor Imortal, de Jos Antonio Nogueira, como sendouma produo de inspirao nietzschiana e algo novo no nossomeio produtivo, pois de fato, no se joga assim Nietzsche cabea dum pblico habituado a ver estreias pouco complicadassem ser novo pelo menos. Alinhado com a corrente espiritualista,o autor se vale da ideia da Volta Eterna de Nietzsche para pensaruma nova noo de eternidade e imortalidade da alma5. Alertandocontra esse uso da filosofia de Nietzsche em favor do espiritua-lismo, Oswald de Andrade afirma que ele se deteve alm da contaem Nietzsche, e pior, [que] em filosofia ficaste a quem dele6.

    No entanto, do perodo da Primeira Guerra Mundial adiante

    so abundantes e controversas as menes a obra de Nietzsche naimprensa de orientao menos progressista e mais conservadora,

    4 Edio 238, de 20 de Maio de 1917.5 NOGUEIRA, Jos Antonio. (1925).Amor imortal. Narrativas de uma dolorosa iniciao nos

    mistrios da morte e do alm. RJ, 3 ed. Livraria da Federao Brasileira.6 ANDRADE, Oswald. O Pirralho, edio 192, 19 de Junho de 1915.

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    seja, por exemplo, na revista catlica A Ordem, no jornal CorreioPaulistano, bem com dirio A Razo, de orientao integralista;

    onde o chefe do integralismo, Plnio Salgado, declara ver em Niet-zsche a violncia do individualismo e do egosmo burgus7. Nessesdirios e peridicos as referncias ao filsofo tendem a associ-loao nazifascismo, no raro sua filosofia interpretada como um ins-trumento a servio do imperialismo belicista germnico da poca.Muitos de seus textos seguem uma perspectiva reacionria uti-lizao de sua filosofia realizada por autores como Graa Aranhae Oswald de Andrade. o caso do texto de Menotti Del Picchia,Schopenhauer e a poltica, em que o futuro integrante do movimentoVerde-Amarelo declara que as massas populares germnicas vi-nham sendo trabalhadas por uma filosofia brutal e egosta, donderessaltava um pan-germanismo talhado pela vontade de Zaratus-tra. Assevera ainda uma vez mais a sua posio afirmando queo imperialismo germnico pretendia construir uma raa-superiore que o mtodo para a consecuo desse objetivo est todo navelada crueldade do super-homem8.

    Assim, esses dois fatores, isto , a renovao esttico-cultu-ral e a reao poltico-religiosa comparecem nas leituras da obrade Nietzsche desde os autores germanistas, como Silvio Romero,Farias Brito, Joo Ribeiro, Mrio Lima etc. Suas divulgaes dasideias germnicas suscitaro reaes conservadoras, isto , con-trrias renovao por eles empreendida no panorama da filosofia

    7 SALGADO, Plnio. Civilizemos a Europa!. A Razo, Fortaleza, 18 de Setembro de 1936.Contra essa reao conservadora, Oswald de Andrade aponta Plnio Salgado como um autn-tico clandestino no Modernismo, procura assim reabilitar Nietzsche afastando-o, no mbitointernacional, das polticas nazifascistas e, no mbito nacional, de seu poltico pelo movi-mento Verde-Amarelo, afirmando que o filsofo nunca subiria as escadas da Chancelariado Reich, e foi sobretudo um grande honesto. Nele se consubstancia historicamente aprimeira conscincia do homem autnomo que o individualismo iria dar. InInforme sobre o

    Modernismo. Conferncia realizada em 15 de Outubro de 1945, na Unicamp.8 PICCHIA, Menotti Del. Schopenhauer e a poltica. Correio Paulistano. So Paulo, 07 de

    Maio de 1918.

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    no Brasil, na medida em que seu germanismo abriria uma janelaescancarada pela qual entraria uma rajada de pensamento livre, de

    cultura moderna que fecundou numerosos espritos9

    .Tanto que justamente em reao aos germanistas que apareceo primeiro artigo inteiramente dedicado a uma anlise da filosofiade Nietzsche no Brasil, publicado em 1893, por Julio Erasmo, nodirio carioca Gazeta de Notcias; texto aqui transcrito. Em seu ar-tigo, o autor condena as tendncias filosficas de algumas escolasalems que esto surgindo, por se mostrarem preconizadoras doimoralismo. Julga Nietzsche um pensador aristocrtico, cnico,autor de teorias perniciosas e em nada autntico em suas ideias,mas apenas um reprodutor dos gregos e modernos: Atualmente,diz o autor, referindo-se aos germanistas, fala-se com insistnciasobre Frederico Nietzsche, o chefe do neo-cinismo, ou dos cnicosaristocrticos. Tambm discorre sobre a biografia do filsofo, falade sua moral de nobres e plebeus, mostra dificuldades para traduzirtermos como bermensch, vertendo por sobrehomem, entendidocomo o tipo produto de rigorosa seleo. Nesse tom reacionrio,considera, por fim, que as teorias de Nietzsche so deletrias, per-niciosas, deprimentes e perturbadoras da ordem moral.

    Em seguida, transcrevemos o texto de Araripe Jnior, no qualo crtico prope refletir sobre o sentimento trgico do sculo XIX,encontrando na obra do jovem Nietzsche,A origem da tragdia, aexposio do sentimento trgico moderno, em particular do sculoXIX, e no do sentimento trgico grego, como se costuma creditar.Publicado no anurio cariocaAlmanaque Garnier, em 1904, foi re-editado depois na sua Obra Crtica10. O texto significativo porque

    segue o rumo da renovao esttica em curso, considerando o sen-timento trgico a base da obra artstica do sculo XX.

    9 COSTA, Cruz. Contribuies Histria das Ideias no Brasil(O desenvolvimento da filosofiano Brasil e a evoluo histrica nacional). Livraria Jos Olympio Editora, Rio de Janeiro,1956, p. 297.

    10 ARARIPE JR., T. A. Obra Crtica de Araripe Jnior. Rio de Janeiro, Fundao Casa de

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    Temos ainda um poema indito, de Augusto dos Anjos, bas-tante breve, porm todo dedicado a Nietzsche, publicado no dirio

    pernambucano O Commrcio, em 190511

    . O texto significativo porse tratar de um poema que no foi includo na publicao originaldo livroEu, de 1912, e tambm porque retrata bem seu autor: umpoeta pr-modernista, difcil de ser localizado, visto quase sempreentre o fim da poesia simbolista no Brasil e os primeiros sinaisde uma poesia moderna que s nascer em 192212. Nele, o poetaparaibano homenageia o filsofo, discorre sobre sua vida e morte equestiona, de maneira exclamativa, sua vida de pensador, exclusi-vamente dedicada construo do pensamento filosfico, emboraabalada pela loucura.

    A leitura da obra de Nietzsche em favor de uma renovao es-ttica e poltica, embora neste caso de carter elitista e conser-vadora, ainda mais visvel na produo de Elysio de Carvalho.Ele mesmo se definia como um intelectual fiel filosofia nietzs-chiana, com a qual julga ter procurado pensar por conta prpriaa cultura brasileira. Por essa razo, talvez, em resenha crtica de-dicada ao seu livroModernas correntes estticas na literatura bra-

    sileira, publicada pelo dirio O Paiz, seja dito que seu autor um dos bons europeus, de Nietzsche, pois como bom euro-peu que crtico do Brasil13. No obstante, na verdade, Elysioestava engajado na defesa dos fundamentos histricos, polticos eestticos de um nacionalismo radical; seu pragmatismo j anunciaMonteiro Lobato e outros intelectuais defensores da siderurgia eda explorao do petrleo brasileiro14. Com seu ideal nietzschiano

    Rui Barbosa, volume V 1911 e Anexos, 1971, p. 86-89.11 Poema disponvel no blogLiramundo: https://liramundo.wordpress.com/2012/12/09/

    sobre-nietzsche-e-o-tragico-em-augusto-dos-anjos.12 CARPEAUX, Otto Maria. Apresentao. InCARPEAUX, Otto Maria. Apresentao. In Toda Poesia/Augusto dos Anjos. So

    Paulo, 3. Ed. ver. Paz e Terra, 1995, p. 11.13 O Paiz, Novos Livros, 08 de Agosto de 1907, p. 04.14 Cf. NUNES, Cassiano. Elysio de Carvalho e o esprito do seu tempo. In:Cf. NUNES, Cassiano. Elysio de Carvalho e o esprito do seu tempo. In: Obras de Elysio

    de Carvalho: ensaios. Braslia, Universa UCB, 1997, p. 13-14.

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    de cultura, no livro O Problema da Cultura, concebe o niilismodionisaco que preconiza o ideal trgico, a cultura esttica do eu,

    o amor fati, a gaia cincia [como] esforo para o estabelecimento deuma civilizao verdadeiramente humana15. Entretanto, por trsde seu niilismo dionisaco est o perfil truculento da alegoriarestauradora dos dissidentes: a ideologia do ideal trgico de vidacom que se mede o presente emperrado da nao, em contrastecom o ufanismo delirante do futuro, marcado pela admirao portodas as formas de poder e de grandeza16. Prova disso que narevistaAmrica Brasileira, por ele produzida e dirigida, a filosofiade Nietzsche comparece principalmente no contexto dos estudossobre a formao poltica e cultural brasileira, sendo o Marques dePombal interpretado como a imagem do superhomem. Ele dincio a um nacionalismo radical cuja base ideolgica se concen-tra na alegoria do herosmo, isso explica porque considera que oMarqus de Pombal , com efeito, um dos mais ldimos exemplaresdessa espcie a que Nietzsche chamou de superhumana17.

    No ensaio Trgica histria de um criador de valores, aqui trans-crito, de incio Elysio destaca a precedncia do pensador em rela-o sua obra, considerando que o lado mais atraente do estudodas obras de Nietzsche o prprio filsofo, sua vida, suas vivn-cias, dores e sofrimentos, sua atitude afirmativa diante da vida talqual ela e como poderia ser. Contudo, na contramo dos estudos

    15 CARVALHO, Elysio.CARVALHO, Elysio. Obras de Elysio de Carvalho: ensaios. Braslia, Universa UCB,1997, p. 24.

    16 Conforme aponta o estudo de Antonio Arnoni Prado,Conforme aponta o estudo de Antonio Arnoni Prado, Itinerrio de uma falsa vanguarda,

    a renovao promovida por Elysio de Carvalho est alinhada ao conservadorismo elitista davirada do sculo, cujas ideias definiro uma faco do Modernismo de 22. Ele antecipaaqui um panorama literrio que no ficar apenas no romance e no teatro de Graa Aranha,ou mesmo no descomedido rasgo ufanista de Toda a Amrica, mas ir alm, se compararmos,por exemplo, as teses da Amrica Brasileira (1922) com a linha do Movimento Brasileiro,do Manifesto Nhengau, da Novssima ou do iderio do grupo d Lanterna Verde (...). VerPRADO, Antonio Arnoni.Itinerrio de uma falsa vanguarda: os dissidentes, a Semana de 22e o Integralismo. Prefcio de Sergio Miceli. SP, Ed. 34, 2010, p. 41-49.

    17 CARVALHO, Elysio. Pombal e a civilizao brasileira.Amrica Brasileira, n. 14, Rio deJaneiro, Fevereiro de 1923, p. 42.

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    predominantemente biogrficos comum poca, Elysio um dosprimeiros autores brasileiros a tentar uma interpretao dos textos

    de Nietzsche, para ento melhor compreender o filsofo, visto comoumpensador de temperamento, conceito este emprestado da filoso-fia subjetivista ou de confisso (Bekenntnissphilosophie) em oposi-o filosofia de conhecimento (Erkenntnissphilosophie), remetidospor ele a Kurt Breysing, um admirador fantico de Nietzsche18.

    Fbio Luz, escritor anarquista, mdico e intelectual atuantena cultura brasileira do momento, critica duramente a renovaoesttico-cultural de inspirao nietzschiana promovida por Elysiode Carvalho. No texto de sua autoria aqui transcrito, publicado em1907, no anurio carioca Almanaque do Garnier, o poeta comeaapontando Elysio como divulgador das obras de Nietzsche no Bra-sil, quando ento, de fato, apenas poucos conheciam o autor deZaratustra. Em seguida, com uma crtica sarcstica e virulenta,sugere que As nebulosidades de Nietzsche, a sua filosofia ego-stica e dionisaca, os smbolos e infinitos pargrafos da Aurora, aOrigem da Tragdiae oAnticristoprecisavam, como livros santos,como alcores de novos credos, da interpretao dos textos, e Ely-sio de Carvalho atirou-se a esse trabalho insano de vulgarizar e po-pularizar suas obras. Nesse sentido, assevera sua crtica acusandoa propaganda feita pelo vulgarizador dos smbolos nietzschianos eseus novos valores moraisde ser intil e perniciosa aos jovens. Porfim, julga Elysio de Carvalho como um fraco tipo do superhomem,com sua adiposidade, e apesar ou por causa dela tem sade fraca,nefralgias frequentes, irritabilidade neurastnica, enxaquecas queo tornam intratvel quando o acometem. Ser um representante man

    das teorias exticas do individualismo, do egosmo sublimado doanarquismo transviado, mas no um superhomem psiquicamentesuperior, capaz de vencer e esmagar.

    18 LEPENIES, Wolf.As trs culturas. So Paulo: Edusp, Vol. 13, 1996, p. 273.

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    Portanto, se de um lado havia quem falasse das ideias estticasde Nietzsche em favor da renovao, havia de outro quem as men-

    cionasse para reagir politicamente contra essa mesma renovao,a fim de fortalecer a corrente espiritualista, desejosa de retomare conservar os valores cristos, sua moral e os bons costumes. para essa ltima direo que o textoA esttica de Frederico Nietzscheaponta, da autoria do Padre Leonardo Mascello, publicado no Jornaldo Recife, a 10 de Novembro de 1911. O autor se mostra motivado aescrever sobre o filsofo por causa das inmeras publicaes a seurespeito, como a biografia trazida ao pblico por sua irm, ElisabethFrster. Contudo, discorre apenas rapidamente acerca da vida dopensador, uma vez que seu objetivo apontar na sua esttica algunsdefeitos e equvocos. Passa ento a uma abordagem da obra Origensda tragdia, recorre aos trabalhos de Ettore G. Zoccoli e AttillioCorsi. Nessa direo, afirma que em nenhuma das obras de Niet-zsche h continuidade harmnica de exposio ou de investigao,a no ser nas Origens da tragdia, o nico livro dele que apresentaum desenvolvimento progressivo de uma teoria, at tornar-se quaseum tratado. Alega que os crticos dividem as suas concepescrtico-estticas em dois perodos: um pro e outro contra Wagner.O autor mostra certo domnio dos temas da esttica do jovem Niet-zsche, embora faa dele um devedor das teorias de Schopenhauer eda msica de Wagner mais do que de fato teria sido.

    Transcrevemos ainda um texto annimo, com ttuloBlock-No-tes Mundial, publicado na revista carioca Fon-fon, em 1918. umtexto significativo por ser uma das primeiras leituras empenha-das em afastar as obras de Nietzsche do imperialismo germnico.

    Alm disso, se mostra importante por mencionar a recepo fran-cesa do pensador.

    Em seguida, v-se que a escritora nietzschiana Albertina Berthafoi uma intelectual atuante e renovadora, seja por sua luta contra ahegemonia masculina nos meios literrios da poca e a favor do voto

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    feminino e do divrcio19, seja, tambm, por sua produo, tanto nosentido de compor romances de inspirao nietzschiana, quanto no

    sentido de ser a primeira mulher a divulgar e estudar o pensamentodo filsofo no Brasil. Em sua conferncia realizada no salo nobredo dirio carioca Jornal do Commercio, no ms de Agosto de 1914,aqui transcrita, a feminista adverte no ser possvel estudar a obrade Nietzsche de maneira fragmentaria, uma vez que a sua filosofiano obedece a sistemas, no tem ordem, no catalogada. Da se-guiria, julga a escritora, a grande dificuldade de ser ele abordado,compreendido e analisado. Faz ainda apontamentos acerca do es-tilo aforismtico do filsofo, considerando que este seria formadopor perodos curtos, sintticos e que muitas vezes nada tem com osantecedentes. Sua conferncia seria depois publicada na primeirasrie de seusEstudos, de 1920, abrindo o livro com o ttulo Niet-zsche. De modo geral, seu estudo sobre o filsofo foi consideradopela crtica como revelador de Nietzsche em nosso meio.

    Nele, contudo, a autora nada mais fez do que especular sobrea biografia, a bibliografia e, muito rasteiramente, ratificar algunspreconceitos correntes acerca de algumas ideias j conhecidas dafilosofia de Nietzsche na poca. Em comparao com autores comoPaulo Prado, que menciona o filsofo a fim de com ele corroborara renovao esttica em curso no momento, Albertina Bertha semostra reacionria, no sentido de considerar que Nietzsche usados mesmos recursos dos ensinamentos cristos, sendo ele o ex-poente do mais alto idealismo, em busca da grande pausa da be-leza. Discorre sobre muitos temas de sua filosofia, como a arte,a moral, o niilismo, a mulher, concebe como monista a teoria da

    vontade de poder. nessa direo, justamente, que Lima Barreto, na resenha

    dedicada ao seu livroEstudos, aqui transcrita, exclama fortemente

    19 MARTINS, Anna Faedrich.A produo de autoria feminina: Albertina Bertha e a im-prensa peridica. In:Pontos de Interrogao. Vol. 2, n. 1, jan./jun. 2012, p. 44-58.

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    Entre renovadores e reacionrios

    contra o Nietzsche divulgado por Albertina Bertha. Em particular,protesta irritado e de maneira sarcstica contra a sua comparao

    do conceito do bermensch com o Nirvana bdico e o Paraso cris-bermensch com o Nirvana bdico e o Paraso cris-com o Nirvana bdico e o Paraso cris-to. Contudo, para contrapor-se ao Nietzsche estudado pela femi-nista, Lima Barreto acusa o filsofo do flagelo que vem sendo aguerra de 1914, dizendo que ele deu burguesia rapace que nosgoverna uma filosofia que a expresso de sua ao. Mais ainda,considera que ele Exaltou a brutalidade, o cinismo, a amorali-dade, a inumanidade e, talvez, a duplicidade20. De fato, Lima Bar-reto estabeleceu um dilogo tenso com muitos conceitos e ideiasde Nietzsche, isso pode ser percebido, em tons diversos, desde asanotaes de leituras, artigos, crnicas at a composio de algunsde seus principais personagens de fico21.

    O brevssimo texto de Joo Ribeiro, O verso, aqui transcrito,publicado em 1923, na revista carioca Fon-fon, expressa a atmos-fera de renovao das artes em curso no momento, onde a obra deNietzsche tem presena constante, como era o caso nas reflexesestticas do germanista. Tanto assim que os ensaios de Joo Ri-beiro, publicados no livro Pginas de Esttica, de 1905, segundoElysio de Carvalho manifestam um gnero to comum hoje entreos crticos alemes, no qual Frederico Nietzsche se tornou mes-tre inexcedvel e, ainda mais, o tornou difcil, que, sem custo[o autor] obteve o que na filosofia nietzschiana se chama a con-

    servao da cultura, entendida como unidade do sentimento, dopensamento e do estilo, como unidade do estilo artstico em todasas manifestaes da vida 22.

    Em seguida, temos o texto Frederico Nietzsche, publicado

    na revista carioca Fon-fon, em 1933. Embora seja de carcter

    20 BARRETO, Lima.Estudos. Gazeta de Notcias. Rio de Janeiro, 26 de Outubro de 1920, 02.21 FIGUEIREDO, C.FIGUEIREDO, C. Uma corda sobre o abismo: dilogo entre Lima Barreto e Nietzsche.

    Alea. v. 6 N. 1 Jan./Jun. 2004 p. 159-173, p 01.22 CARVALHO, Elysio. Joo Ribeiro. In:As modernas correntes estticas na literaturaBrasileira. Rio de Janeiro: 1907, p. 289.

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    predominantemente biogrfico, ainda assim seu autor, Corra Ve-lho, discorre sobre algumas das produes de Nietzsche, julga que

    ele deixou uma obra inacabada e de aparncia catica. Destacacomo obra prima Assim falava Zaratustra, a qual considera deuma inigualvel beleza lrica, e mesmo como um dos mais famosospoemas conhecidos em prosa.

    Na sequncia, transcrevemos o texto Nietzsche e Getlio Var-gas, publicado no dirio cariocaA Noite, em 1939. Trata-se de umaentrevista feita por Alvoro de Las Casas para o jornal chileno El

    Mercurio, reeditada no jornal carioca pelo jornalista Ernani Reis.Na entrevista, Nietzsche aparece como mentor intelectual de Ge-tlio Vargas, sendo o nico filsofo a escapar ao naufrgio dos do-los, conforme dito pelo prprio Vargas. Em pleno regime do EstadoNovo, considera-se que a feio nietzschiana perdura e domina noesprito do ditador brasileiro, ensejando semelhanas entre sua fi-losofia e o governo autoritrio de Vargas.

    Com essa mesma tonalidade poltico-reacionria, temos o textoNietzsche triunfante, de Hamilton Barata, publicado em 1940, nojornal carioca Gazeta de Notcias. Nele, seu autor procura ler al-gumas ideias da filosofia de Nietzsche segundo o contexto polticobrasileiro do momento, aproximando o filsofo a Getlio Vargas,para assim legitimar seu governo autoritrio e seu posicionamentointernacional diante da Guerra ora em curso na Europa. A utiliza-o poltica das ideias do autor de Zaratustraem favor do governoVargas a tnica principal do texto, sendo Nietzsche interpretadocomo o terrvel profeta da dominao e da fora mscula cuja lei a sua prpria vontade de potncia.

    Nessa mesma senda, temos o texto Nietzsche em voga, publi-cado em 1941 pela revista de orientao catlicaA Ordem, no Riode Janeiro. Seu autor, o padre Carlos Borromeu, considera queNietzsche teria negado a moral tradicional, concebendo em seu lu-gar outra, porm imoral e brutal; se mostra assim reacionrio, nosentido de pretender retomar e conservar a moral e os valores da

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    religio crist, acusando o filsofo de ser responsvel pela Guerraora em curso na Europa.

    De maneira semelhante, temos ainda o artigo Frederico Nietzs-che, do modernista Renato Almeida, publicado no dirio cariocaAManh, em 1944. Tal como outros publicados no mesmo ano, vema pblico a propsito da celebrao do centenrio de nascimentodo filsofo. Alegando identificar certo irracionalismo e mistssimono pensamento de Nietzsche, Renato Almeida procura associar suaobra poltica nazista. Em sua abordagem, se vale de comentado-res como Spengler e Simmel, reage contra a utilizao da filosofiade Nietzsche em favor da renovao esttica colocada em cursopelo autor modernista Graa Aranha.

    Na contramo da insistente associao da obra de Nietzschecom polticas autoritrias, seja de Hitler, Mussolini ou Vargas, te-mos o artigo O centenrio de Nietzsche e o nazismo, de Evaristo Ma-rais Filho, publicado no jornal cariocaDirio de Notcias, em 1945.Em oposio s abordagens reacionrias, to comuns poca, queteimam em associar Nietzsche com o nazifascismo, adiantando oque posteriormente autores como Antonio Candido far, Evaristoprocura tirar algumas concluses metodolgicas e polticas da obrado filsofo contrrias ao esprito nazista. Acusa ainda os suspeitose apressados divulgadores de sua filosofia, como Will Durant, deinjustamente situ-lo como mandante espiritual dos crimes prati-cados pelos sanguinrios bandidos nazifascistas23.

    Nessa mesma direo segue o textoNietzsche ainda cresce, deCleto Seabra Veloso, publicado no jornal carioca Dirio de Not-cias, em 1945, no qual seu autor procura afastar a obra de Nietzs-

    che das apropriaes nazistas.Por fim, dentro da chave de leitura reacionria, transcrevemos

    o textoNietzsche, filsofo da Alemanha nazista, de autoria de Joo

    23 Importa mencionar que essa divulgao, feita naHistria da filosofia, de Will Durant, foitraduzida por Monteiro Lobato e Godofredo Rangel.

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    Scapino, publicado no jornal cariocaDirio de Notcias, em 1945.Seu autor julga Nietzsche um mostro e filsofo por excelncia da

    Alemanha nazista. Nesse sentido, destaca a teoria da Vontade doPoder como sendo um fluxo vital e que serviu como fonte de inspi-rao a Hitler e Mussolini, sugerindo a crueldade, a agressividadee a poltica de expanso da Alemanha nazista.

    De fato, desde o final do sculo XIX e incio do XX no faltouquem censurasse a formao de uma opinio unilateral e falsa so-bre a obra e a personalidade de Nietzsche; denunciando, por exem-plo, sua irm, Elisabeth Frster, de fundar sua glria sobre basesilegtimas. Como bem admitiu o modernista Srgio Buarque deHolanda, havia razo nessa censura, partida principalmente doshomens de Esquerda, dos socialistas. No obstante, ele mesmotambm questiona: Mas seria, por ventura menos ilegtima e me-nos superficial a atitude desses mesmos homens quando preten-diam criar um Nietzsche sua imagem?24.

    Abstract:This paper aims to present eighteen texts on Nietzsche publishedin the Brazilian press in the period from 1893 to 1945. These studies show thattwo factors of Brazilian culture that period guide the philosophers reading: theaesthetic and cultural renewal and the political reaction religious. All textstranscribed sequence following the chronological order of their publications.Keywords: Nietzsche Reception Brazil Imprensa Jornal doCommercio Gazeta de Notcias Fon-fon O Commercio Almanaque

    do Garnier Amrica Brasileira Jornal do Recife A Noite Dirio deNotcias A Manh

    24 HOLANDA, Srgio, B.HOLANDA, Srgio, B.Elisabeth Frster Nietzsche. Folha da Manh. So Paulo, 19 deDezembro de 1935, p. 06.

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    Artigo recebido para publicao em 20/01/2015.Artigo aceito para publicao em 22/02/2015.