Diário de um Manifestante

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O texto em questãoé absolutamente ficcional e, apesar de se inspirar nos eventos recentes, não guarda nenhum compromisso com a realidade dos fatos nem faz referencia a qualquer pessoa real. Que fique claro que sou a favor de qualquer manifestação pacífica que vise a garantia dos direitos fundamentais dos cidadãos, sempre vilipendiados pelos nossos ilustres governantes.

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Samuel Cardeal

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O texto abaixo é absolutamente ficcional e, apesar de se inspirar nos

eventos recentes, não guarda nenhum compromisso com a realidade

dos fatos nem faz referencia a qualquer pessoa real. Que fique claro

que sou a favor de qualquer manifestação pacífica que vise a

garantia dos direitos fundamentais dos cidadãos, sempre

vilipendiados pelos nossos ilustres governantes.

Acordei bem cedo, lá pelas 10:00 da manhã. Liguei o

liquidificador e mandei um açaí irado pra dentro. Joguei

vídeo game até as 12:30. GTA é foda! Tomei um banho

quente enquanto minha coroa terminava de fazer o

almoço. Saí do chuveiro as 13:30, o rango tava servido.

Esperei minha mãe cortar o meu bife e mandei ver um

prato daqueles. Depois de comer, levei uns 20 minutos

pra escolher o tênis que usaria, fiquei entre o Nike e o

Addidas, por fim escolhi o Addidas. Peguei minha mochila

e conferi o conteúdo: 12 barras de cereal; 1 garrafa pet

pela metade cheia de uma batida da semana passada; 1

garrafa de vinho; 1 bandeira do Corinthians;, 2 apitos; e o

dinheiro do busão.

A campainha tocou, era o meu amigo, tava na hora de dá

linha. Entramos no busão com mais uns vinte

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manifestantes. Eu já tava com o dinheiro da passagem na

mão, quando vi a galera toda pulando a roleta. Guardei a

grana e pulei também. O transito tava sinistro, demorou

umas duas horas pra chegar no centro. Desci do balaio e

já avistei o mulão de gente, os mano tudo com cartaz

cantando o hino nacional. Eu não sabia a letra, mas já

cheguei pulando, balançando os braços e gritando.

Depois do “ouviram do Ipiranga” em me atrapalhei,

então mudei a música pra “aqui tem um bando de louco...”.

Ninguém percebeu.

Ficamo lá protestando até o final da tarde, o transito

parou, e uma renca de repórter apareceu pra filmar nois.

Até o “globocop” tava presente. Até então, tudo na paz, só

a galera cantando, gritando e protestando na moral. Foi aí

que os mano decidiram começar a marchar rumo à

prefeitura. A galera nos prédios deu o maior apoio,

piscaram as luzes, jogaram papel picado em nois, foi

demais, parecia uma micareta.

Chegamos na porta da prefeitura e a galera começou a

gritar e balançar os cartazes, a maioria gritava: Emprego,

transporte, saúde e educação. Na verdade eu não tava

entendendo direito, então perguntei pro meu amigo.

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- Que que nois tá reivindicando mesmo?

- Sei lá, mano. Repete o que a galera tá falando!

Prestei mais atenção e comecei a gritar: Emprego,

transporte, saúde e educação. Emprego, transporte, saúde e

educação...

O problema é que tinha um mano perto de mim gritando

“abaixo a ditadura”, e tava me tirando a concentração, mas

logo alguém explicou pra ele e ficou de boa.

A policia ficou na porta, só observando a galera, tinha

mais gente que no jogo do Corinthians. Depois de um

tempo, a galera ficou mais nervosa e uns mano foram pra

cima dos policia. Quando eu ví, fui atrás pra ajudar.

Rapidão os homi correram pra dentro do prédio, então a

galera começou a arrancar as grades de proteção. Eu e

meu amigo fomos ajudar. Arrancamos as grades e alguém

teve a ideia de quebrar as vidraças. Quebramo tudo, e ficou

caco de vidro pra todo lado. De repente, tinha um monte

de manifestante tentando segurar a galera que tava

quebrando. Eu fiquei bolado.

-Tâmo junto, galera! – Eu falei, mas ninguém escutou.

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Tinha dois grupos lutando pelas grades, não dava pra ver

que queria quebrar e quem queria parar a quebradeira.

Meu amigo escolheu um lado e começou a puxar, e fui

junto e ajudei. De repente, uma bomba de gás cai perto

de nois. Ficou tudo enfumaçado e os mano dispersou.

Quando eu vi, tava sozinho segurando a grade. Como

tinha uns outros mano quebrando o resto das vidraças, eu

também quebrei. Aí a galera começou a gritar: “violência

não, violência não”. Eu levantei a grade e gritei também:

“violência não, violência não”.

Nessa hora a coisa ficou tensa. Todo mundo olhou pra

mim, e eu continuava gritando: “violência não, violência não”.

Então eu parei. Larguei a grade e ia votando pra galera

quando o choque apareceu. Choveu bomba de gás e logo

depois o bicho pegou, bala de borracha comei e o mulão

começou a correr. Procurei meu amigo, mas ele tinha

sumido, corri com a galera, que começou a dispersar

pelos quarteirões. Quando as coisas se acalmaram, voltei

a procurar meu amigo, achei ele sentado no meio fio,

tinha sido atingido por uma bala de borracha, bem na

barriga, tava sangrando um pouquinho, mas ele tava bem.

- Tá doendo? – Perguntei.

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- Pra carai! – Ele respondeu. – Vai ficar uma marca.

- Maneiro. – Abri a mochila e tirei a garrafa de batida e

duas barras de cereal. – Come aí mano.

Meu amigo pegou a barra e agente ficou lá, comendo e

bebendo a batida. Rapidinho chegou mais uns chegado,

tinha um maluco com um violão, a gente fez um roda e

começou a cantar Legião. A bebida acabou rápido, mas

foi legal.

Cheguei em casa duas da madruga. Caí na cama e

desmaiei. No dia seguinte, acordei ao meio dia, com uma

ressaca sinistra.

- Ainda bem que o protesto hoje é mais tarde. – Falei pra

mim mesmo