Diário de Afonso

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Levantei-me há bocado da cama com umas dores de cabeça insuportáveis, ainda agora persiste esta dor; o que posso fazer para isto passar? Levantei-me da cama e ouvi a porta a abrir… Fui ver quem era; O meu neto tinha acabado de vir da casa da minha neta, com certeza depois de ambos se divertirem… Não aguento… Não aguento saber que o meu próprio neto ama a minha neta e continua a persistir neste amor, mesmo sabendo que ama a própria irmã; já há vários dias que penso nisto e, a cada dia que passa, sinto-me mais fraco, mais abatido. Olhei para ele, e o cheiro a medo apoderou-se do meu nariz, ele sabia que eu tinha percebido o que foi fazer quando desapareceu. Observei os meus movimentos imóveis, ainda desfocados por ter acabado de acordar, e voltei para a cama para tentar adormecer… As dores não passavam, então percebi que precisava de apanhar ar, nem que seja ar gélido. Fui ao jardim, tentei passear, dar voltas às belas árvores para perceber o que se passava comigo; perdi forças na perna, senti-a dormente, tanto a perna, como o braço, e então estou aqui, sentado, no bando de cortiça que sempre adorei. Espero bem que o meu neto se aperceba do mal que está a fazer e que se torne num bom rapaz que era. Espero eu, espero..

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Última página do diário de Afonso da Maia, tendo em conta a morte dele, provocada por um AVC

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Levantei-me há bocado da cama com umas dores de cabeça insuportáveis, ainda agora persiste esta dor; o que posso fazer para isto passar? Levantei-me da cama e ouvi a porta a abrir… Fui ver quem era; O meu neto tinha acabado de vir da casa da minha neta, com certeza depois de ambos se divertirem…

Não aguento… Não aguento saber que o meu próprio neto ama a minha neta e continua a persistir neste amor, mesmo sabendo que ama a própria irmã; já há vários dias que penso nisto e, a cada dia que passa, sinto-me mais fraco, mais abatido. Olhei para ele, e o cheiro a medo apoderou-se do meu nariz, ele sabia que eu tinha percebido o que foi fazer quando desapareceu. Observei os meus movimentos imóveis, ainda desfocados por ter acabado de acordar, e voltei para a cama para tentar adormecer… As dores não passavam, então percebi que precisava de apanhar ar, nem que seja ar gélido.

Fui ao jardim, tentei passear, dar voltas às belas árvores para perceber o que se passava comigo; perdi forças na perna, senti-a dormente, tanto a perna, como o braço, e então estou aqui, sentado, no bando de cortiça que sempre adorei. Espero bem que o meu neto se aperceba do mal que está a fazer e que se torne num bom rapaz que era. Espero eu, espero..