Diagnóstico social de Senhora da Penha

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DIAGNÓSTICO SOCIAL PARTICIPATIVO DE SENHORA DA PENHA DIAGNÓSTICO SOCIAL PARTICIPATIVO DE SENHORA DA PENHA

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DIAGNÓSTICO SOCIAL PARTICIPATIVO DE

Senhora da Penha

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Diagnóstico Social Participativo deSENHORA DA PENHA

Fundação Centro de Defesa dos Direitos Humanos Bento Rubião- FCDDHBRAvenida Beira Mar, 216/701 - Centro, Rio de Janeiro, CEP: 20021-060 Tel: (21) 2262.3406 Fax: (21) 2533.0837

www.bentorubiao.org.br [email protected]

Diagnóstico Social Participativo de Senhora da Penha - março de 2011

RealizaçãoFundação Centro de Defesa dos Direitos Humanos Bento Rubião- FCDDHBR

CoordenadoraSonia Carvalho

Consultoria TécnicaInstituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas- IBASE

Equipe Técnica IBASEItamar Silva, Rita Brandão, Sandra Jouan

RedaçãoMeiriele Brito e Sonia Carvalho

Edição e RevisãoSonia Carvalho

Assessora LocalMeiriele Brito

Agente LocalMargareth Souza Batista

FotosMeiriele Brito, Jaqueline Souza, Sandra Jouan, Zuleide Pontes e Maria Aparecida Souza Melo.

Capa, Projeto Gráfico, DiagramaçãoBeto Tameirão

Equipe que realizou as entrevistasKleber Reis de Souza, Jaqueline Souza, Margareth S. Batista, M.Aparecida S. Melo, Zilma Maria Silva, Leticia M. F. Jacinto e Meiriele Brito

Moradores e representantes de instituições entrevistadosPrefeito Vicente de Paula Germano, Urlene Gonçalves Ribeiro (assistente social do CRAS), Maria Teodoro Silva (dna. Tereza), Geraldo Candido Ferreira, Geralda Martins Ferreira, Reginaldo Batista Mendes Brandão, Aparecida Teodoro Oliveira (professora), Sebastião Carlos da Silva (Sebastião Carioca) (vereador), Catarina dos Reis Souza, Aguinária da Silva Moreira, Domirio Pereira de Souza, Maria de Assis de Souza, Ricardo Tertuliano de Souza, Maria Joana da Silva Pereira, Luzia Reis de Souza (Pres. Câmara de Vereadores e Funcionária do Posto de Saúde), Iso Pacheco (Vereador), Maria Ângela Silveira Pacheco (Secretária Municipal de Assistência Social), Wagner Luiz de Freitas (vereador e presidente do STRs) , dna Tereza, Geraldo, Maria do seu Adão, Maria Brandão, José Brandão, Letícia, Reginaldo, Alípio Faustulu da Silva, Maria Aparecida de Souza Melo, Mª Isabel da Silva Dias (Coordenadora do Centro Municipal de Educ. Infantil dna. Crioula), Bethânia Dias (Coordenadora do CRAS), Ivana Maria Oliveira (Psicóloga do CRAS), Carlos funcionário da SUCAM), Glória Conceição da Mata (funcionária municipal).

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SUMÁRIO

Diagnóstico Social Participativo de Senhora da Penha - março de 2011

Apresentação ...................................................3

O MUNICÍPIO DE FERNANDES TOURINHO ........4

SENHORA DA PENHA........................................12

Fontes consultadas e referências .....................22

Anexos .............................................................23

Informações Preliminares......................................................4

Contexto Histórico.................................................................4

Infraestrutura .......................................................................6

Economia ..............................................................................7

Educação .............................................................................8

Saúde....................................................................................9

Assistência Social ................................................................10

Comunicação ......................................................................11

Organização Comunitária...................................................11

Cultura e Lazer ...................................................................11

Informações Preliminares ...................................................12

Breve Histórico ....................................................................12

Mercado de Trabalho ..........................................................13

Educação ............................................................................14

Saúde..................................................................................15

Infraestrutra .......................................................................16

Saneamento........................................................................17

Cultura e Lazer ...................................................................17

Meio Ambiente....................................................................18

Organização Comunitária...................................................19

Expectativas da Comunidade ..............................................19

Parceiros do Distrito ............................................................20

1.Exemplos ilustrativos do perfil das famílias mais antigas do Senhora da Penha ...............................................................23

2.Linha do Tempo................................................................26

3. Mapa do Senhora da Penha construído por pessoas da comunidade ........................................................................27

Pessoas, Organizações e Instituições Citadas ......................20

Page 5: Diagnóstico social de Senhora da Penha

As águas não eram estas,

há um ano, há um mês, há um dia.

Nem as crianças, nem as flores,

Nem o rosto dos amores...

Onde estão águas e festas

anteriores?

E a imagem da praça, agora,

Que será daqui a um ano,

a um mês, a um dia, a uma hora?”

Cecília Meireles

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Diagnóstico Social Participativo de Senhora da Penha - março de 2011

APRESENTAÇÃO

A realização do Diagnóstico Participativo em Senhora da Penha , distrito de Fernandes Tourinho, no Estado de Minas Gerais, se deu no âmbito do projeto Núcleos de Integração Comunitária, uma proposta do IBASE e Furnas Centrais Elétricas S.A., em parceria com a Fundação Bento Rubião, e com o apoio do BNDES.

O projeto “Núcleos de Integração” consiste num sistema de ações integradas e indutoras de desenvolvimento local realizado em áreas de especial interesse de Furnas e em comunidades localizadas no entorno de usinas hidrelétricas implantadas por esta empresa.

No decorrer do projeto, as comunidades são estimuladas a construir, de forma coletiva, pactos facilitadores de processos de organização e mudança, cuja condução se dá pela organização dos grupos e lideranças locais da sociedade civil e governamentais, organizados em um Fórum Comunitário.

O diagnóstico participativo é um instrumento de apoio ao Fórum Comunitário na construção do Plano de Ação de Desenvolvimento Local. Como parte do processo participativo, o diagnóstico de Senhora da Penha foi construído pela comunidade, com o apoio da assessora técnica local, através das dinâmicas de DRP - Diagnóstico Rápido Participativo, tais como, Mapa Falado, Diagrama de Bolas, Dinâmicas de Grupo como Linha do Tempo, E n t r e v i s t a s s e m i - e s t r u t u r a d a s , Fotografias e Observação. Partindo de informações colhidas entre moradores, representantes de instituições locais e autoridades que se dispuseram a c o l a b o r a r, o d i a g n ó s t i c o f o i complementado com dados secundários disponíveis em documentos oficiais. Trata-se de um produto em andamento, que retrata parte da realidade local com suas fragilidades e seus pontos fortes no momento em que foi elaborado. Muitas outras informações poderão ser agregadas ao texto, na medida em que grupos e pessoas que não haviam sido identificadas nas etapas iniciais passarem a participar das discussões do Fórum Comunitário.

Governador ValadaresGovernador Valadares

AlpercotaAlpercota

Capitão AndradeCapitão Andrade

ItanhomiItanhomiFernandes TourinhoFernandes TourinhoPeriquitoPeriquito

NaqueNaque

Engenheiro CaldasEngenheiro Caldas

SobraliaSobralia

TarumirimTarumirim

São João do OrienteSão João do Oriente

Dom CavatiDom Cavati

IapuIapu

IpabaIpaba

RPPII Faz. MacedôniaRPPII Faz. Macedônia

Ribeirão TraírasRibeirão Traíras

Rio PretoRio Preto

Rio ItambacuriRio Itambacuri

São Geraldo da PiedadeSão Geraldo da Piedade

Rio Corrente GrandeRio Corrente Grande

PE do Rio CorrentePE do Rio Corrente

SardoáSardoá

CoroacíCoroací

VirgolândiaVirgolândia

MarilacMarilac

Frei InocêncioFrei Inocêncio

Rio Suaçuí PequenoRio Suaçuí Pequeno

Rio Suaçuí GrandeRio Suaçuí Grande

Ribeirão da OndaRibeirão da Onda

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1O MUNICÍPIO DE FERNANDES TOURINHO

Informações Preliminares

²

Contexto Histórico

Fernandes Tourinho é um dos quatro menores municípios localizados no Vale do Rio Doce, Leste do Estado de Minas Gerais, e fica a uma distância de 58 km de Governador Valadares. Conforme estimativa do IBGE, em 2009 sua população estava em torno de 2713 habitantes, tendo aumentado em 2010 para 3028 habitantes. A extensão do território é 152,9 km², e a altitude é de 604 m. acima do nível do mar.

Fernandes Tourinho é vizinho aos municípios de Sobrália e Engenheiro Caldas, sendo a BR116 a principal rodovia que o liga a Valadares e a outras regiões do Estado, dentre elas o Vale do Aço. O IDH municipal, segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano era 0.672, em 2000 .

Fernandes Tourinho apresentou esvaziamento progressivo de suas zonas rurais, com movimentos migratórios para fora do Município e de jovens adultos para os EUA. Sua população é predominantemente urbana (dados da Confederação Nacional dos Municípios).

Segundo depoimentos de moradores, “em 1953, quando Juscelino implantou no Brasil fabricas de automóveis e diversas usinas hidrelétricas, cresceu o movimento emigratório para o Rio de Janeiro e São Paulo, à procura de melhores condições de trabalho”.

A base da economia de Fernandes Tourinho era a agricultura e a pecuária, que entraram em decadência quando as terras foram sendo transformadas em pasto para o gado ou em sítios de descanso em finais de semana. A atual administração vem tentando resgatar as atividades agropecuárias, tendo, inclusive, criado o Programa COMPRA DO LEITE para estimular a produção na agricultura familiar.

O Município de Fernandes Tourinho compreende, administrativamente, a sede, vários Córregos e um Distrito, o Senhora da Penha, de grande extensão (29 km²), situado a 14 km da sede urbana. Antes conhecido como Pedra Corrida ou Corridinha, o Distrito Senhora da Penha também pertencia a Tarumirim, e se originou de um núcleo formado de antigos empregados das fazendas de criação de gado e cultivo de milho, mandioca e feijão.

Originário de um pequeno ponto de carga, chamado de “rancho de tropas”, local de descanso e hospedagem dos viajantes e comerciantes que vinham dos lados de Tarumirim e Caratinga, para atingirem a Estação

Senhora da PenhaSenhora da Penha

Fernandes TourinhoFernandes Tourinho

1 - As informações deste diagnóstico foram coletadas entre os meses de setembro a dezembro de 2010, por um grupo de moradoras do Distrito Senhora da Penha, com o apoio da assistente local do Projeto “Núcleos de Integração”, Meiriele Lopes de Brito.

2 - http://www.cnm.org.br/

dado_geral/mumain.asp

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Ferroviária à margem esquerda do rio Doce, o local onde hoje é Fernandes Tourinho foi então chamado pelos religiosos de Arraial do Bom Jesus.

Com o passar dos anos e a fixação de famílias na localidade, foi construída uma igreja e oferecida à padroeira, pelo proprietário da área, uma gleba de 48 hectares (Patrimônio do Padroeiro), com o nome de Bom Jesus de Itaperu, que na linguagem indígena significa “pedra preta”.

Em 1954, o lugar passou à categoria de Vila, com a denominação de Itaperuna. Posteriormente, se tornou distrito e seus primeiros habitantes foram os sucessores de Joaquim Moreira, Carlos de Barros, entre outros. O primeiro professor do Distrito foi o senhor Manuel Pereira Neves e o primeiro sacerdote a celebrar no local foi o padre Painhos.

Com a reforma administrativa do Estado de Minas Gerais, em 1962/1963, foi sancionada a lei n 2.764 de 30 de dezembro de 1962, elevando o Distrito de Itaperuna à categoria de município, sendo então chamado de Fernandes Tourinho, em homenagem ao bandeirante, Sebastião Fernandes Tourinho que, nos idos de 1576, teria desbravado e descoberto o território no curso do rio Doce. A emancipação política de Fernandes Tourinho se deu em 1º de março de 1963, e a primeira eleição foi realizada em 30 de junho de 1963.

“Anos atrás, a região rural era muito populosa e abrigava as atividades agrícolas que se constituíam na fonte de renda da maioria de seus habitantes. O povoado de nome Itaperu era muito pequeno. As matas foram sendo derrubadas por pessoas que iam se fixando no povoado, proporcionando a ocupação cadenciada do território. As lavouras de milho, arroz, feijão e outras se multiplicavam, tornando-se relevante fator de desenvolvimento da localidade. Completando esta atividade, a criação de gado bovino leiteiro e de corte foi incrementada, passando a ser o binômio “Agricultura e Pecuária”, a base mestra da economia municipal, naquela e na época atual. O rio Doce, “sulcando o território”, constituiu-se em outro fator de desbravamento das terras de Fernandes Tourinho”. Os mais antigos contam que havia muita madeira de lei carvoarias, produção abundante e vida nas fazendas. (Texto extraído das anotações da equipe que realizou o diagnóstico)

Segundo moradores antigos, nos idos de 1963, por ocasião da emancipação de Fernandes Tourinho da Comarca de Tarumirim, seu primeiro Prefeito, eleito pelo voto direto, encontrou o Município “em condições paupérrimas, sem nenhuma estrutura, sem água canalizada, sem energia elétrica, sem calçamento, sem rede de esgoto, abastecimento de água feito através de cisternas domésticas, animais vagando pelas ruas, gerando surtos de anemia e verminose, e pior, o Município não tinha nenhuma renda, para que seu primeiro Prefeito pudesse fazer qualquer coisa em prol da população”.

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6Infraestrutura

Ruas e praças

A cidade é bem cuidada, com ruas pavimentadas e limpas, praças e casas ajardinadas, além de uma rua de lazer fechada ao trânsito de veículos. No Distrito Senhora da Penha, as ruas bem cuidadas conta com trabalhadores auxiliares de serviços gerais encarregados da limpeza. As estradas de acesso aos Córregos e ao Distrito são de terra e apresentam dificuldades para o trânsito de veículos em período chuvoso.

Transporte coletivo

Não há transporte coletivo urbano em Fernandes Tourinho. Inclusive, não há meio de transporte para o Distrito de Senhora da Penha, a não ser o ônibus escolar e motos de moradores.

Esgotamento Sanitário e Abastecimento de Água

O sistema de esgotamento sanitário administrado pela Prefeitura Municipal possui redes coletoras com bom índice de atendimento. Conforme informado no Relatório de Impactos Ambientais - RIMA da UHE Baguari, “Os efluentes coletados em Fernandes Tourinho são lançados “in natura” em diversos pontos, no córrego Caixa Larga, que corta a cidade. Em Senhora da Penha, o lançamento é feito no rio Doce”.

INFORMAÇÕES BÁSICAS SOBRE O SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DO MUNICÍPIO DE FERNANDES TOURINHO -2000

Fonte: IBGE - CENSO DEMOGRÁFICO, MINAS GERAIS, 2000. (RIMA UHE BAGUARI)

O RIMA informa o índice de atendimento para a rede de distribuição na sede do município como sendo de 80%, decrescendo para 36% no distrito de Senhora da Penha, onde uma parcela expressiva dos domicílios (63%) têm como principal fonte, poços e nascentes.

Abastecimento de água do Município de Fernandes Tourinho

Fonte: IBGE - CENSO DEMOGRÁFICO, MINAS GERAIS, 2000. (RIMA UHE Baguari)

Distrito

Total de Domicílios Rede

Geral (%)

Fossa Séptica

(%)

Fossa Rudimentar

(%)Vala (%)

Rio ou Lago (%)

Outro (%)

Não tem Banheiro

(%)Nº %

Fernandes Tourino

583 100 50,43 0,51 7,20 0,69 32,76 3,77 4,63

Senhora da Penha

116 100 43,10 14,66 0,86 6,03 21,56 - 13,79

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Distrito

Total de Domicílios Percentual de Forma de Abastecimento (%)

Nº % RedePoço ou Nascente

Outra

Fernandes Tourinho 583 100 66,72 32,08 1,20

Senhora da Penha 116 100 36,21 62,93 0,86

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7Dizem os moradores que em F. Tourinho “o esgoto, é jogado no córrego. Existe um aterro sanitário, mas há ruas no morro que não são calçadas e na época das chuvas, o barro escorre para as ruas de baixo.’’

A distribuição de água ainda é um desafio no município. A cidade é abastecida por poços artesianos e nos bairros situados em locais mais altos, por caminhões-pipa. Quando chove, os moradores chegam a ficar sem água.

De acordo com a Prefeitura, os problemas relacionados à pavimentação e ao saneamento básico devem ser resolvidos ainda este ano (2010) por meio de uma parceria com o Banco do Desenvolvimento de Minas Gerais. Há energia elétrica no Município, inclusive na zona rural e o Programa “Luz Para Todos” vem atendendo aos objetivos. Sobre a iluminação pública, embora não tenha sido informado o prazo, a parceria será feita com a CEMIG - Companhia de Eletricidade de Minas Gerais.

Quase toda a arrecadação do Município vem dos repasses das instâncias Estadual e Federal de governo. O recurso “é pequeno” e, segundo a Prefeitura, é quase todo aplicado em assistência social, saúde, educação e transporte.

O lixo do Município é levado para um aterro controlado, respeitando os requisitos necessários para preservação do meio ambiente. Tanto o saneamento quanto a poluição são tratados de forma adequada para que o meio ambiente seja respeitado e preservado, afirmou uma autoridade entrevistada.

Bancos

No Município há uma agência do Banco do Estado de Minas Gerais (BEMGE) e o SICOOB, banco cooperativo. Há caixas eletrônico da Caixa Econômica Federal, localizado em uma loja de moveis da cidade e do Bradesco na agência dos Correios e na Farmácia Biocel.

A economia do Município se baseia na pecuária de corte e leite e na agricultura, sendo este o meio de subsistência dos pequenos agricultores, terceiros e meeiros. Os hortifrutigranjeiros também são cultivados. A produção leiteira tem como principal destino o mercado de Governador Valadares. As pastagens ocupam a maior parte do território do município.

Com exceção de uma pequena agroindústria familiar de cachaça, a Barrilitro NOBRE, não há indústrias em Fernandes Tourinho. A pequena fábrica de borracha que existia foi transferida para outro município e hoje no local apenas se extrai a borracha in natura. Os principais produtos consumidos são oriundos de Caratinga e Belo Horizonte. O setor de serviços também é pouco expressivo. Os principais empregadores são a Prefeitura, os estabelecimentos comerciais e os

Economia

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8agropecuários (fazendas).

No setor comercial, observou-se crescimento na cidade. Lojas e supermercados (2), padarias (3), mercadinhos (2) e 2 casas de produtos agropecuários.

A pesca no rio Doce vem se apresentando como uma alternativa importante para a sobrevivência da população. A extração de areia teve retração com o enchimento do reservatório. Segundo depoimentos de técnicos da Prefeitura, havia no Distrito de Pedra Corrida e Corridinha (Senhora da Penha) 450 pessoas vivendo da exploração da areia, atividade que comprometeu a estrutura sanitária da localidade. Foi mencionada pelo Prefeito, por ocasião da primeira visita da equipe do projeto ao Município, a expectativa de que o Consórcio Baguari aplicasse no Distrito as ações previstas no Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do Reservatório Artificial (PACUERA) da UHE Baguari, “o que até o momento ainda não ocorreu”. Em vista disso, “foi solicitado ao Consórcio que negociasse, individualmente, com as pessoas prejudicadas, especialmente, o canoeiro, extrator da areia”.

O município de Fernandes Tourinho possui hoje duas escolas municipais que oferecem Ensino Fundamental e Infantil e uma Escola Estadual, com Ensino Fundamental e Médio.

As crianças de Senhora da Penha, e das outras localidades pertencentes a Fernandes Tourinho, estudam nas escolas do município, cujo transporte é feito pelo ônibus escolar fornecido pela Prefeitura.

Os equipamentos educacionais em Fernandes Tourinho são dos “melhores da região”, dizem moradores. “Contamos com uma Escola Estadual Agripino Vilas Novas, uma Municipal Alda Fernandes Gouveia e um Centro de Educação Infantil Municipal Dona Crioula, com 170 crianças matriculadas. Nas escolas estão matriculados 1.025 alunos’’.

A Escola Municipal Alda Fernandes Gouveia conta com uma equipe de profissionais integrada por: fonoaudiólogo, psicólogo, nutricionista, pedagogos. Os prédios têm boa estrutura e qualidade. A educação escolar é considerada boa, avaliação que é baseada nos níveis de medida do Estado. Na última avaliação feita pelo Ministério da Educação, em 2009, a nota subiu de 3,5 para 4,4, “mas ainda falta muita coisa para alcançarmos os níveis exigidos pelo governo”, disse uma professora. Para alguns moradores, “o nível de escolaridade oferecido está precário, há falta de preparo dos professores, que estão tendo dificuldades de trabalhar com os jovens, que estão muito indisciplinados”.

Quanto ao EJA (Educação de Jovens e Adultos) funciona com poucos alunos e, no Distrito Senhora da Penha não funciona por não haver nenhuma matricula, não porque não exista analfabetos, há muitos, mas “sem o mínimo desejo de sair desse estado (analfabetismo)”, diz uma

Educação

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9entrevistada. Porém não há estatística sobre o analfabetismo no Município ou no Distrito.

A escola do Distrito Senhora da Penha foi fechada “pela secretaria Estadual de Educação”, informou o Prefeito, ficando o prédio para a Prefeitura que poderá transformá-lo em creche, se houver apoio e número suficiente de crianças. Para estudar, crianças e adolescentes do Distrito viajam, diariamente, 27 km (ida e volta) no transporte escolar, na estrada de terra. A decisão de fechar a escola da zona rural (no Senhora da Penha) foi tomada a partir de uma reunião com a comunidade e o Prefeito, pois não havia alunos suficientes para formar classes, e há alguns anos atrás se trabalhava com classes multisseriadas, o que “foi se tornando insuportável”, agravado pelo fato de que “a maioria dos familiares não participava da vida escolar dos filhos, deixando professores a mercê da rebeldia de alguns alunos”, disse uma entrevistada.

No município, muitos jovens abandonavam os estudos, porque a escola Estadual funcionava somente no período diurno, porém, em 2011, a Escola voltou a funcionar também no período noturno.

Na escola municipal, que oferece Ensino Fundamental, diz uma mãe de família, o “nível melhorou muito, mas na outra, estadual, os alunos desistem na sexta série, não sei porque. Antigamente, a merenda era trazida de casa, era mingau trazido pelos alunos. Crianças e professores tinham que andar muito até chegar na escola”.

O Município, na questão da educação está “precisando de incentivo para criar uma escola profissional para os adolescentes que terminam o Ensino Médio, para se preparar para o mercado de trabalho”.

Comparando as condições atuais com épocas anteriores, algumas pessoas reconhecem que houve muitas melhorias; mencionaram as dificuldades que havia, dentre elas que a educação era ministrada por professoras leigas, sem nenhuma formação profissional, pagas pelo Estado de Minas Gerais, que às vezes atrasava os pagamentos de seis a doze meses. “Nem se falava em cultura e muito menos em meio ambiente”. Hoje a educação é mantida, tanto pelo Estado quanto pelo Município, através do FUNDEB (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica). Trata-se de um Fundo Federal, sendo que 60% dos recursos são destinados ao pagamento dos professores.

O município conta ainda com uma faculdade, a ULBRA, de ensino à distância (EAD), que oferece algumas atividades presenciais, semanais. Há também em Fernandes Tourinho oferta de curso profissionalizante, em parceria com a Secretaria de Educação.

No Município, como em toda a região, a situação sócio-sanitária sofre influência da degradação do rio Doce, associado ao desflorestamento e

Saúde

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10à implantação de pastagens nas suas margens, que recebem esgotamento sanitário e lixo nos núcleos urbanos e ao longo de seu curso. Por isso, a população está exposta ao risco de contrair doenças infecciosas e parasitárias, como hepatite, dengue, gastroenterite, entre outras.

Segundo o RIMA da UHE Baguari, a região, incluindo Fernandes Tourinho é endêmica para a esquistossomosse e hiperendêmica para a hanseníase. Fernandes Tourinho apresentou no ano 2000, 15 casos de hanseníase (para10.000 habitantes), taxa considerada alta quando comparada com as do Estado de Minas Gerais (3,2 por 10 mil habitantes).

Há algum tempo atrás, conta um morador, a saúde dos munícipes em Fernandes Tourinho era tratada através da distribuição de medicamentos, como, Sulfato Ferroso, Tetracloroetileno-vermífugo e benzetacil. enviados pela Central de Medicamentos (CME). “Sem falar do saudoso Sebastião Alves, que ministrava medicamentos à população através de seus fartos conhecimentos farmacológicos, e o sr. Democracíades, que tratava os doentes através de raízes”, declarou um morador.

Hoje, o tratamento da saúde se dá através do atendimento no Posto de Saúde da Família (PSF) onde, em média, são feitos, por mês, 600 atendimentos, por uma equipe de vários profissionais: 4 Médicos Clínicos que fazem atendimento todos os dias, inclusive, aos sábados, 1 Pediatra, 1 Ginecologista, 1 Enfermeiro, 4 Técnicos em Enfermagem, 5 Agentes de Saúde e 2 Dentistas. A farmácia popular libera 300 tipos de medicamentos e as ambulâncias ficam disponíveis 24 horas, para emergências e transporte de pacientes em estado mais grave para as cidades de Tarumirim e Governador Valadares. Conforme declaração do Prefeito, Vicente Germano, há no município doze motoristas de ambulância, todos qualificados por cursos ministrados pelo SENAC.

Ainda na área da saúde, está em fase de construção em Fernandes Tourinho um complexo para exercícios físicos, com vários aparelhos, para jovens, adultos e pessoas da Terceira idade, sob supervisão de um fisioterapeuta.

Fernandes Tourinho possui um Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), que presta aos Munícipes assistência social, psicológica e cultural, ministrando aulas de bale, taekwando para as crianças, grupos de Terceira Idade, além de oficinas de pintura, ponto russo, ponto cruz, entre outros. O objetivo é que, através das atividades manuais, o munícipe possa complementar sua renda familiar com a venda dos produtos manufaturados.

Assistência Social

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Comunicação

Organização Comunitária

Cultura e Lazer

Fernandes Tourinho recebe o Diário do Rio Doce, sedia a Rádio Comunitária “Minas FM” e sintoniza as emissoras de TV Globo, SBT, Record, Bandeirantes e Rede Minas.

Os munícipes estão organizados num Sindicato de Trabalhadores Rurais e uma associação comunitária que representa os moradores na sede urbana, além de uma Associação Vicentina, vinculada à Igreja Católica, sediada no Distrito Senhora da Penha. No Município estão em funcionamento os Conselhos Municipais de Saúde, Assistência Social, Educação, Meio Ambiente, Emprego e Trabalho.

o: telefone móvel, internet, universidade e outros. Antes era bem difícil e praticamente tudo que precisávamos era trazido de fora”.

Entre as curiosidades de Fernandes Tourinho está a presença de dois cemitérios, apesar do pequeno número de habitantes. ‘‘Num deles, onde os túmulos não têm cruzes, são enterradas somente pessoas evangélicas. O outro é destinado aos católicos. Essa história já tem mais de 60 anos, contando os mais antigos, que essa foi a alternativa encontrada, para dar um basta nas divergências entre os fiéis. Muitos relatam que ocorreram até brigas e atos de vandalismo entre as partes. Um dos alvos eram as cruzes colocadas nas sepulturas e que os evangélicos não aceitavam”, disse o prefeito de Fernandes Tourinho, Vicente de Paula Germano, segundo o qual, um grupo de pessoas mais influentes da cidade levou o problema ao conhecimento do bispo, Dom Cavati, que achou por bem construir outro cemitério, separando evangélicos de católicos.

O calendário municipal de feriados tem como particularidades a comemoração do Jubileu do Nosso Senhor Bom Jesus no mês de setembro, o Dia do Trabalhador e o Mês de Maria, ambos em maio, as festas juninas nas duas escolas públicas e também nas ruas e, no final do ano, a festa do Reveillon. As festividades são realizadas no Centro Cultural da Cidade.

No município de Fernandes Tourinho, o sentimento de pertencimento é forte, conforme observado em declaração de moradores nas entrevistas: “Apesar de ainda faltar alguns serviços, hoje, em nosso município, considerando seu pequeno porte, se encontra bem organizado, com uma infraestrutura invejada por muitos administradores de outras cidades”, afirmou um morador. E outro: “A comunidade de Fernandes Tourinho mudou bastante, o que antes parecia distante da nossa realidade, hoje já pode ser desfrutado, com

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12 SENHORA DA PENHA

Informações Preliminares

³

Breve Histórico

“Mestre não é sempre quem ensina. Mas, quem de repente, aprende”.

João Guimarães Rosa

Senhora da Penha, anteriormente denominado Pedra Corr ida ou Corridinha, também pertencia a Tarumirim. A localidade recebeu o nome de Senhora da Penha e foi reconhecida como distrito em primeiro de março de 1963. Está localizada na área rural do município de Fernandes Tourinho e o acesso ao núcleo habitado se dá por uma estrada de terra, onde se percorrem 14 km, a partir da sede. Ao longo da estrada, se avista extensas fazendas e chácaras, algumas com pomares e produzindo hortaliças, outras criando gado.

O Distrito Senhora da Penha abrange uma área de 29 km2. Extra-oficialmente, vivem no Distrito cerca de 800 habitantes, mas os próprios moradores relatam ter hoje no local mais ou menos 400 moradores . Em 2000, Senhora da Penha possuía 116 domicílios e nele residiam cerca de 800 pessoas, sendo que a maior parte era de meeiros e o restante, produtores agrícolas. Esta foi a parte do Município mais impactada pela construção da barragem (UHE Baguari).

Na entrada da rua principal do Senhora da Penha, uma bela paisagem, formada pelo rio Doce, emoldura esse povoado situado à sua margem. As poucas ruas do Distrito são limpas e bem cuidadas, revelando o zelo dos moradores pelo local.

Segundo Sr. Alípio, antigo morador de Fernandes Tourinho, no Distrito havia uma indústria de café, cujo proprietário, o sr. Augusto Neves Benedito Oliveira, chamado de Oliveira Santos, construiu a antiga Igreja do Senhora da Penha, que ficava na beira do rio e deu nome ao povoado. “A maioria das pessoas da localidade trabalhava para ele”.

De acordo com seus moradores mais antigos, o Distrito originou-se de um núcleo formado de antigos empregados das fazendas de criação de gado e cultivo de milho, mandioca e feijão, da região. Segundo alguns, a comunidade não cresceu muito desde sua criação, e hoje a tendência dos jovens é buscar oportunidades em outros locais, visto que não encontram emprego nas proximidades. Dessa forma, acabam migrando para as cidades maiores.

Um dos moradores revelou que “o Distrito é bem pacato. Muitas pessoas

3 - Não há estatística oficial. As informações serão coletadas pelos moradores no decorrer do projeto Núcleos.

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da comunidade que dali saem ainda jovens, em busca de melhores oportunidades, acabam retornando quando mais velhos, devido à boa qualidade de vida que o local proporciona. O mesmo morador revela sua trajetória que, muito provavelmente, é semelhante à de outras pessoas do lugar. Mudou-se para a comunidade com os pais aos sete anos de idade. Na juventude, saiu do Distrito, trabalhou como caminhoneiro e, após longo tempo, decidiu voltar para a comunidade, “para ter calma e sossego”. Ele conta ainda que “o distrito tinha um traçado um pouco diferente, que havia uma rua onde hoje é a margem do rio Doce. Essa rua é a mais movimentada nos finais de semana e à época era conhecida como favelinha”.

Este é o setor de maior carência, tanto no Município como no Distrito Senhora da Penha. As pessoas mais velhas contam que há uns 60 anos atrás, em Fernandes Tourinho, as famílias cultivavam as plantações “com suas próprias mãos”, caracterizando a agricultura como atividade de subsistência. “Ninguém comprava os produtos, cultivava-se café no próprio quintal, o arroz era plantado na lagoa que agora é pasto, cada um tinha direito de plantar e de colher e repartia-se o que colhia com o dono do terreno cedido para se plantar; o feijão também era plantado e o terreno em que se plantava o feijão era do senhor Neves. Naquela época, se plantava lavoura de café, cana e banana nas terras do senhor Neves, de Manoel Perique, senhor Olindo. Os agricultores plantavam a meia e a terça e trabalhavam também por dia. Da ponte que vai para o velho Diolindo até no Beléta, era plantação de arroz, a sobra era vendida para o senhor Neves, que tinha um armazém que revendia em Governador Valadares, fazendo a travessia no rio Doce em um bote”.

Dona Almira diz que “nesta região, as pessoas viviam das culturas agrícolas, faziam doces, requeijão, criavam animais para o próprio sustento, como galinha, porcos, cabrito, pato, entre outros. Eles também plantavam arroz, feijão, milho, mandioca, café, cana, colhiam mel nas florestas, outros viviam da pesca, se fazia muita farinha de mandioca e fubá, o arroz era socado em pilão, manualmente”.

Segundo alguns moradores, “a pecuária de corte aumentou e a pecuária comercial de leite diminuiu, a agricultura hortifrutigranjeira está praticamente acabada, sendo que em alguns locais está erguendo-se com a ajuda da EMATER”.

O Distrito de Senhora da Penha foi, segundo o Prefeito, o local mais impactado no Município, pela construção da UHE Baguari. A mão de obra ficou ociosa e os projetos do PAC estão paralisados. Os impactos

Mercado de Trabalho

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são sentidos nas atividades econômicas (pesca e exploração da areia), com reflexos nas condições de vida dos famílias.

Hoje, a maioria dos agricultores é aposentada. Poucas são as pessoas que trabalham de carteira assinada. Quando encontram serviço, alguns trabalham por dia, o que não garante seus empregos. Entre os principais problemas, foi citado que os fazendeiros, muitas vezes, preferem trazer gente de fora para trabalhar por um salário mais baixo. Segundo um entrevistado, os fazendeiros não deixam plantar mais, e “tudo, hoje, virou pasto para o gado”.

Estima-se que a renda média da população do Distrito seja de um salário mínimo, sendo que muitos, como já dito, vivem de pensão, aposentadoria e outros benefícios, como bolsa família. A renda das famílias incluídas no Programa varia de 70 a 140 reais. Vários moradores do Distrito trabalham nas fazendas, como vaqueiros, tirando leite, no trato do gado para corte, outros são carpinteiros, pedreiros e ajudantes na construção civil, realizando serviços braçais, fazendo bicos. Muitos trabalham no serviço público.

A falta de emprego é o maior problema do Distrito. Devido a isso, muitas pessoas foram embora, e hoje “os dados não batem com os registros”, em muitas fazendas os proprietários contam apenas com um gerente e as máquinas, “não existem mais aquelas famílias que trabalhavam e moravam nas fazendas”.

Na localidade, diz um morador, “só há fazendas, fora disso, não existe nada que ofereça trabalho”. O principal problema da região é que a maioria dos jovens não tem oportunidade de emprego, então vão para outras cidades e até para outros países em busca de trabalho. Alguns pais de família deixam seus filhos com parentes e saem do país em busca de uma vida melhor. Sabe-se que o destino dessas pessoas é, como nos municípios vizinhos, principalmente, os Estados Unidos.

A maior parte das mulheres e jovens não tem emprego. As mulheres “se viram como podem, com o que sabem fazer: são “sacoleiras”, cabeleireiras, manicure, fazem artesanato, bordado, costura, pintura, bolos, doces e salgados, mas não ganham o suficiente para manter uma família. Muitas mulheres e moças também trabalham fazendo faxina em Fernandes Tourinho; todas têm interesse e potencial, mas falta apoio para seguirem em frente”.

A escola que havia no Distrito foi fechada. Hoje é um “prédio público”, que está em péssimas condições. Desativada por número insuficiente de alunos, a antiga escola é objeto de polêmica e

Educação

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queixa das moradoras, mães de família, segundo as quais, houve consulta à população para a tomada de decisão pelo fechamento. Há na comunidade diversas versões a respeito do fato. Segundo o Prefeito, o prédio era do Estado (de Minas Gerais) que o deixou abandonado e, posteriormente, fez a doação ao município.

O prédio escolar em Senhora da Penha, possui duas salas de aula, uma pequena sala que funciona como secretaria e uma cantina, tudo em situação deplorável, sem condições de funcionamento, no momento.

O que preocupa as famílias é a ociosidade a que estão submetidos os jovens, por falta de emprego e atividades ocupacionais e de lazer. “Os jovens têm grande vontade de aprender, mas muitos estão largando a escola porque precisam trabalhar e ganhar seu próprio sustento”.

No Distrito Senhora da Penha, a grande preocupação das famílias é o fato de existir escolas apenas na sede do Município. Mesmo que a Prefeitura providencie o transporte escolar para todos os alunos da zona rural, os pais se preocupam porque prefeririam que a escola funcionasse também no Distrito, especialmente, por causa das crianças menores.

Com relação à saúde, as condições do Distrito precisam melhorar, pois, embora exista um posto em boas condições, ele não é reconhecido oficialmente pela secretaria estadual. Para serem atendidas as pessoas precisam se deslocar a Fernandes Tourinho, e de lá, conforme o caso, têm que ir até Governador Valadares ou a Tarumirim, “ou seja, Fernandes Tourinho depende muito dos outros municípios”.

“É fato conhecido nos dias de hoje que a educação se constitui em importante recurso para formar o cidadão. Conscientes e reivindicadores de seus direitos, entre eles o da saúde. Por isso, podemos concluir que quanto mais informações e conhecimentos possuem os indivíduos, maiores condições passam a ter, não só de zelar por sua própria saúde, alterando, por exemplo alguns hábitos de vida, como também pressionando as autoridades ou órgãos competentes a prestarem os serviços de saúde pública a que a população tem direito, serviços esses essenciais à manutenção da qualidade de vida” - palavras de uma moradora do Distrito.

Pessoas entrevistadas no Senhora da Penha consideram que, apesar da instalação do Posto no Distrito, o atendimento à saúde “precisa melhorar

Saúde

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cinqüenta por cento”. Os moradores contam com uma ambulância e um ônibus de atendimento em domicílio, mas, em função do pouco número de motoristas, “o atendimento à saúde está a desejar”, dizem. E isto, continuam, “não depende somente da população, depende muito dos nossos governantes, eles têm que ter interesse em contribuir mais e melhor com os municípios menores”.

Segundo alguns moradores “o médico que faz atendimento na unidade, falta muito. Os casos mais graves têm que ser encaminhados para Tarumirim ou Governador Valadares, e na maioria das vezes falta motorista. Mas acho que poderia melhorar, se a Prefeitura contratasse novos motoristas e médicos que dessem conta de atender a toda população”.

Os depoimentos que se seguem ilustram as condições de atendimento à saúde no Distrito Senhora da Penha:

- “Em nosso município, em relação à saúde, poderia ser melhor se não houvesse “perseguição política”. Uma administração desfaz o que a anterior fez. No Distrito de Senhora da Penha tinha uma ambulância e um motorista residente na comunidade para socorro imediato, sem que fosse necessário a ambulância vir de Fernandes Tourinho, hoje não temos mais esse privilégio”.

- “Temos Unidade de Saúde que funcionava com um médico clinico geral uma vez por semana, hoje, em Senhora da Penha, o atendimento não tem essa regularidade. Tinha uma dentista que atendia uma vez por semana, hoje o dentista só vem uma vez por mês; o paciente é escolhido de acordo com a preferência política de cada um. Quando procuramos o dentista para prevenção o problema já não tem solução”

- “Há quem diga que o Posto de Saúde (do Distrito) não tem registro junto ao governo estadual, mas ele serve para abrigar várias atividades, inclusive seção eleitoral, porque depois que desativaram a Escola Estadual José Augusto Neves, tudo é feito neste Posto de Saúde. Outro problema apresentado é que alguns motoristas não possuem curso básico de primeiros socorros para dirigir uma ambulância, eles não sabem como lidar com os problemas dos pacientes e não são imunizados contra doenças”. Esta afirmação foi rebatida pelo Prefeito que afirmou que “todos os 12 motoristas das âmbulâncias são imunizados e qualificados por cursos do SENAC”.

No Senhora da Penha, todas as casas habitadas possuem canaleta por onde o esgoto é despejado e

Infraestrutura

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17descarregado no córrego. “Em breve, todas as ruas estarão calçadas com bloquetes”. As ruas são varridas todos os dias por gari publico e todo o lixo produzido é destinado ao aterro sanitário.

A conservação das estradas, sob a responsabilidade da Prefeitura, é feita com patrol, máquinas e caminhões, e são recuperadas com cascalho nos períodos chuvosos.

Não existe no Distrito uma empresa de transporte coletivo, “por falta de número suficiente de usuários”. “A Auto Viação Rio Doce já entrou aqui, mas não havia número suficiente de passageiros. Para sair do Distrito, os moradores fazem uso do transporte escolar, pegando carona até a cidade. Na época das férias escolares ficam sem nenhum meio de transporte, “se viram com podem”, usam charretes, motos. Nesse período (férias escolares), a Prefeitura disponibiliza os ônibus para a zona rural, uma vez por semana.

“Satisfazer as necessidades de saúde, tanto individuais quanto coletivas, implica levar em conta as varias dimensões do ser humano, sejam elas biológicas, psicológicas, sociais e ambientais”, escreve uma moradora.

O saneamento básico é uma questão de saúde ambiental, e sua importância para a manutenção da qualidade de vida das comunidades é um fato indiscutível, diz uma moradora: “Em nossa comunidade o esgoto é jogado em um córrego, chamado de Córrego Preto que, por sua vez, deságua no rio Doce. Temos água encanada, mas não é tratada, é de um poço artesiano feito pela Prefeitura, mas essa água às vezes não chega em todas as casas, não sabemos se um dia teremos água tratada”.

Há no Distrito, trabalhadores auxiliares de serviços gerais para fazer a limpeza das vias públicas. O lixo coletado é colocado, provisoriamente, em lote vago e uma vez por semana, levado ao aterro controlado pela Prefeitura, mas nem todos os moradores colocam seu lixo para ser coletado, “eles queimam ou jogam no fundo dos quintais de suas casas”.

Com relação à cultura e ao lazer, foi dito que muito tem sido feito, mas não foram nomeados, nas entrevistas, os projetos significativos que atendem a população. Foi citado que grupos de idosos participam de um trabalho coordenado pelo fisioterapeuta do Município que organiza com os moradores festas juninas, passeios no final de cada ano. Semanalmente, o fisioterapeuta trabalha com os idosos do Distrito Senhora da Penha, mas nem todos participam.

No Distrito não existem praças, e as áreas públicas de lazer que agregam os moradores são constituídas pela ampla quadra coberta e

Saneamento Básico

Cultura e Lazer

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cercada, de propriedade da Prefeitura, e pelo campo de futebol, aberto ao uso público, pelo fazendeiro, proprietário do imóvel.

Antigamente, dizem os moradores, “eram realizados torneios, jogos comemorativos, festas juninas, hoje, já não acontecem mais estas comemorações porque o investimento é alto, se quisermos organizar alguma coisa temos que arrecadar dinheiro, organizar bingos e festas, além de fazer a manutenção do campo, comprar uniformes, bolas e redes, etc.”

Apesar das dificuldades, a comunidade organiza jogos e futebol, inclusive, feminino, atraindo times também de municípios vizinhos. Porém, o movimento desportivo é, atualmente, considerado fraco, por dois grandes motivos: os times das cidades vizinhas dizem que “o lugar é roça”, e que a comunidade não tem condições adequadas de recepcioná-los. Os moradores demandam mais apoio para tornar as atividades atraentes para os jovens e para a comunidade em geral.

Em Senhora da Penha as festividades ficam por conta das comemorações religiosas, ligadas à Igreja Católica. Os moradores comemoram, anualmente, a festa do mês de Maria, onde são organizadas barraquinhas para venda de gêneros alimentícios e artesanato, especialmente, bordado. Além disso, as igrejas de outros credos, sobretudo as evangélicas, costumam fazer, a seu modo, outras comemorações, como Dia das Mães, por exemplo.

Outra atividade que envolve a maior parte da comunidade são os jogos de futebol disputados no campo do distrito, sendo essa a que mais interessa aos jovens, inclusive às moças que criaram um time feminino. Nessas ocasiões, as mulheres fazem lanches e quitutes com cuja venda arrecadam fundos para a promoção de torneios de futebol, tradicionais no povoado.

Na questão do meio ambiente, os moradores do Distrito consideram importante realizar ações de conscientização dos proprietários, para que cuidem das nascentes e deixem de jogar esgoto nos poucos córregos existentes.

Alguns moradores, especialmente as mulheres e os jovens, expressam sua preocupação com visitantes de final de semana que, vindo pescar no rio, deixam montes de resíduos em suas margens. Uma das possibilidades discutidas nas visitas é a qualificação dessa localidade para se tornar um atrativo agroturístico, sob a gerência e com a participação ativa dos moradores, oferecendo eventos e

Meio Ambiente

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comercializando produtos e alimentos produzidos por seus habitantes.

Segundo informação do Secretário de Agricultura e Meio Ambiente, há interesse do Município em reativar a atividade da pesca, especialmente por se constituir em uma alternativa econômica de peso nessa região. Afirmou o Secretário que “estudos realizados pela EMATER e outros órgãos do Governo do Estado, por solicitação da Prefeitura Municipal de Fernandes Tourinho, revelaram que a parte do rio Doce que banha o Distrito é das mais propicias para a piscicultura, devido ao fato de suas águas serem perenemente aquecidas”. Outra possibilidade expressa por um munícipe para o desenvolvimento desse local seria a intenção de implantar empreendimentos, inclusive, a instalação de uma balsa nesse trecho do rio Doce, fazendo a ligação com sua margem esquerda, por onde passa a BR381, e que viria a favorecer o escoamento de produtos dos pecuaristas da região.

Nota-se entre as famílias um grau de satisfação positivo com relação a viver nessa comunidade e um significativo nível de coesão e identidade com o local. Mas não existe no Distrito nenhuma associação civil de moradores. A Sociedade São Vicente de Paulo, vinculada à Igreja Católica é ativa na comunidade e as Igrejas exercem papel agregador no Distrito.

A respeito das prioridades, uma moradora afirmou que seria ideal para a comunidade de Senhora da Penha uma iniciativa que, num único espaço agrupasse os três itens: ocupação, trabalho e geração de renda, talvez até uma horta comunitária, ou uma micro-empresa de laticínios, artesanato em geral, entre outros. Todas essas atividades gerariam ocupação e renda, e o mais importante, “seria bom para unir nossa comunidade, que no momento está precisando”.

Segundo os representantes municipais, há em Senhora da Penha, lideranças, espaços e possibilidades para reunir as pessoas, realizar atividades sócio-econômicas e culturais. Um prédio abandonado pelo Estado será retomado pela Prefeitura, disse o Prefeito, que pretende restaurá-lo para ali instalar um centro de referência com atividades sócio-culturais, e de capacitação.

A comunidade zela pelos seus filhos e anseia para que os mesmos continuem

Organização Comunitária

Expectativas da Comunidade

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seus estudos, que tenham no Distrito, ao menos, um curso de computação e outros cursos técnicos, já que a comunidade é carente e não oferece empregos a seus membros.

Na opinião de algumas pessoas entrevistadas, seria interessante uma indústria de tijolos, capacitação para jovens e adultos em várias áreas como: mecânica, construção de móveis, construção civil, informática, carpintaria, bordado.

No Distrito, há pessoas esforçadas, mas sem incentivo. Muitas necessitam de qualificação profissional e as suas possibilidades são restritas “Na maioria das vezes, quando damos início a um trabalho, não temos condições de continuar por questões financeiras. Várias pessoas sabem fazer bolos, salgados, doces, comidas típicas da região, mas não temos como vender. Fazemos bordados, participamos de cursos, mas não possuímos renda suficiente para a compra de materiais para fazer os produtos e para comercializar”.

Entre as possibilidades esperadas, foram citadas oficinas de artesanato, cooperativa de culinária (doces, salgados), entre outras. Onze pessoas de Senhora da Penha prestam serviço para a Prefeitura.

Vale ainda mencionar as intenções de alguns empreendedores locais de ativar ou reconstruir uma balsa para a travessia do rio Doce, ativar a atividade pesqueira e qualificar a localidade para o turismo de base comunitária.

Alguns fazendeiros citados nos contatos e entrevistas realizadas para a construção deste diagnóstico, são considerados como benfeitores e amigos dos moradores do povoado e podem se constituir em parceiros do projeto.

Sindicato dos Trabalhadores Rurais

CONSEP - Conselho Comunitário de Segurança Preventiva

Conferência de São Vicente

Casa de Oração

Igreja Católica

CRAS - Oferece atividades , oficinas, Balé (filhos), Taekwondo (filhos), Bordado em fita, em chinelo, Pintura, Bordado em tecido, Confecção de bijuterias, etc

Associação - Associação comunitária dos Agricultores e Familiares do córrego do Arroz

Conselho Tutelar

Grupo da 3° idade

Parceiros do Distrito

Pessoas, Organizações e Instituições Citadas

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Celso Chaves de Sá - Fazendeiro

Beleta - Fazendeiro

Juarez Contim - Prefeito de Engenheiro Caldas

Ozéias Batista Ramos - Fazendeiro

Paulo Miranda - Fazendeiro e ex Prefeito de Engenheiro Caldas

Dona Filia - Esposa do falecido Manoel Perique

Vanuza - Fazendeira e Médica (Esposa de Ricardo- fazendeiro)

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Fontes Consultadas e Referências

- Território do Médio Rio Doce – Minas Gerais – Estudo Propositivo da Base Econômica Territorial - Glauco Regis Florisbelo- Consultor do MDA-Outubro de 2005

- Dados Básicos: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA) www.sidra.ibge.gov.br)

- CISDOCE- Consórcio Intermunicipal de Saúde

- http://fernandestourinhomg.blogspot.com/search?updated-max=2010-05-31T14%3A48%3A00-07%3A00&max-results=7

- Prefeitura Municipal de Fernandes Tourinho Praça João XXIII, 13 - Centro - CEP 35.135-000 Telefone (33) 3237-1118/3237-1265

- http://cidadesnet.com/municipios/fernandestourinho.htm

- Consórcio UHE BAGUARI - Plano de Assistência Social - PAS – Relatório Final de Atividades Consolidado-– Governador Valadares- Dez\2009

- EIA\RIMA - UHE Baguari- CENEC

- Programa de Saúde e Vigilância Epidemiológica – Relatórios 1 e 2-UHE Baguari – Cemea- UFMG – 2007\2008

- Ministério do Meio Ambiente: http://www.riodoce.cbh.gov.br/Usina_Hidrel_ Baguari.asp

- Território do Médio Rio Doce-Estudo Propositivo da Base Territorial

Glauco Regis Florisbelo – Consultor-Ministério do Desenvolvimento Agrário- Secretaria de Desenvolvimento Territorial – Out\2005

- ANA, 2001.- COMITE DA BACIA HIDROGRAFICA DO RIO DOCE -Av Jequitinhonha 96 salas 1 e 2 Ilha dos Araújos tel 32765477

- Ab`Saber, A.N. 1983. O domínio dos cerrados: introdução ao conhecimento. Site: www.biocevmeioambiente.com.br

- Biodiversidade em Minas Gerais: Um Atlas para a sua Conservação - FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS. 2005. Belo Horizonte.

- Plano de Controle Ambiental- Programa Integrado de Monitoramento da Avifauna e de Relocação de Aves e de Ninhos de Aves Aquáticas da Ilha Bonaparte. QUATRO CONSULTORIA AMBIENTAL. 2006. Usina Hidrelétrica de Baguari

- CAMARGOS, R. Unidades de Conservação em Minas Gerais: Levantamento e Discussão. Fundação Biodiversitas, Publicações Avulsas nº 2, 2001. Este trabalho foi atualizado com base na Resolução SEMAD de setembro de 2001.

- Fundação João Pinheiro -Alameda das Acácias, nº 70, São Luís - Belo Horizonte / MG - Cep: 31.275-150 -Telefone: + 55 (31) 3448-9400 Fax: + 55 (31) 3448-9699

Fonte -http://www.riodoce.cbh.gov.br/Usina_Hidrel_Baguari.asp Ministerio do Meio Ambiente

-Sites das Prefeituras de Periquito, Sobrália, Governador Valadares, Fernandes Tourinho e Iapu.

- Waldenice Pinheiro de Araujo- Questão Social e Migração: um estudo na área da Infância e da Juventude da Comarca de Tarumirim\MG -Dissertação de Mestrado- Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora – 2009

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Anexo 1

Alguns exemplos ilustrativos do perfil das famílias mais antigas do Distrito Senhora da Penha (*)

- Catarina dos Reis de Souza, 54 anos, esposa de Domiro, morou em Belo Horizonte por 17 anos. Foi auxiliar de serviços na Prefeitura, estudou na escola de Senhora da Penha. Lembra o nome de algumas professoras: Penha e dona Lola, mas não concluiu os estudos. Os filhos estudaram em Senhora da Penha e em Fernandes Tourinho. Dos 12 filhos, 2 são analfabetos, 2 estudaram até a quarta série em São Paulo, 5 estudaram até a oitava série e três concluíram o terceiro ano do Segundo Grau; destes três, um tem curso de técnico de enfermagem do trabalho. Dona Catarina apanhava e socava café, seu esposo era vaqueiro, carpinteiro, pedreiro e hoje é aposentado, alguns de seus filhos são pedreiros e trabalham fazendo bico na área da construção civil.

- Aguinária da Silva Moreira, 61 anos, aposentada, estudou até a terceira série primária, porque “os professores da época iam embora antes do ano letivo terminar”. Os filhos dos fazendeiros iam estudar em colégios internos na cidade de Caratinga, ela e os irmãos não foram porque não tinham dinheiro suficiente. O lazer era ir a circos, touradas, brincar de pular corda, peteca, pique cozinhadinha, bolinha de gude e pião. Sobre o meio ambiente, ela fala que tinha muitas matas, pastos de colonião, mas acabou porque colocaram fogo para fazer pastos de roça, venderam para a Belga (Belgo Mineira), para fazerem carvão. Um dos fazendeiros, o senhor Neves, seus pais vendiam o que plantavam, o pai de Aguinária também era carvoeiro e atravessou (cortou) muita madeira como barauna, sucupira, vinhático, e madeira para fazer dormente. Sua mãe era costureira e seu marido e o pai dele trabalhavam como desmatadores nas fazendas. Conheceu médicos só com 20 anos de idade, só conhecia farmacêuticos: “ Mané Borges fazia remédios caseiros, tomei muito alho com gordura de galinha para curar bronquite e gripes fortes.”

- Domiro Pereira de Souza, estudou até a quarta série primária porque na época era o maior grau de escolaridade, chegou a dar aula no Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização de Adultos), hoje é aposentado. Quando o senhor Domiro era criança, disse ele, havia muitas matas, as casas eram feitas de pau a pique, sapé, tabuinhas, assoalho, os casarões eram de esteio, tijolinhos, telhas francesas, cambucás barreados e assoalhos, não tinha energia elétrica, a luz era lamparina e lampião. A maioria dos moradores foi para as cidades por falta de trabalho, os fazendeiros desmataram e fizeram pastos; repesaram as águas e esgotaram os córregos, então (os moradores) não tinham mais como plantar e sustentar suas famílias. Trabalhou como vaqueiro, braçal, capinava, roçava, fazia cercas nas fazendas, foi

(*) Entrevistas realizadas pelas moradoras do Distrito Senhora da Penha, junto com a assistente local do projeto Núcleos, Meiriele Lopes de Brito.

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carpinteiro e pedreiro, e seus filhos homens herdaram o gosto pela construção civil. Ele diz que antigamente tinha circo, tourada, palhaços, montaria em boi, os jovens da época jogavam malha, futebol, birosca, baralho, iam nos bares conversar e beber.

- Maria de Assis de Souza, 70 anos, nascida na Bahia, na cidade de Jacobina (analfabeta) porque os pais não deixavam os filhos estudar, tinha que ajudar nas tarefas, olhar os irmãos mais novos. Reside na região há 30 anos, 15 anos dentro de Senhora da Penha. Os filhos estudaram até a quarta série porque moravam em fazendas muito distantes das escolas. Na sua opinião, o estudo ficou mais fácil mas os jovens não querem estudar devido “à facilidade que os Conselhos Tutelares oferecem por não poder mais corrigir os filhos (¿¿¿¿). Ela trabalhou como cozinheira e como lavadeira para os fazendeiros antigos, como o senhor Jose Agripino Vilas Novas; Franklin Moreira e o senhor Jarbas. Morou também nos córregos próximos de Senhora da Penha e Barbudo. Quando dona Maria mudou para a região já não havia muitas matas devido aos desmatamentos causados pelos donos de carvoeiras que existiam.

- Ricardo Tertuliano de Souza, 81 anos, reside em Senhora da Penha há 72 anos e estudou até a quarta série primária (Ensino Fundamental). Ele diz que a educação de antes era melhor do que agora porque era mais profunda, os alunos realmente aprendiam o que os professores ensinavam. Hoje eles passam sem saber. O primeiro motorista escolar de Senhora da Penha foi vereador presidente da Câmara e vice- prefeito, “e faz parte da nossa historia”.

- Maria Joana Pereira, de 68 anos, é aposentada e analfabeta, porque na época “os pais não faziam questão de escola”. Mas seus filhos estudaram em Senhora da Penha, andavam 4 km até a escola, depois estudaram em Fernandes Tourinho, iam no caminhão do Senhor Ricardo “e depois vieram os ônibus”. Ela diz que de 20 anos atrás pra agora melhorou muito, mas a escola estadual é “um pouco bagunçada” e diferente da municipal em questão de autoridade e organização. Maria Joana gostava de pescar nos córregos e no rio Doce em Senhora da Penha, plantava arroz, milho, feijão, para sustento próprio. Sua mãe Maria Artur era porteira da região, uma historia que marcou dona Maria Artur foi uma em que “teve que fazer um parto em que a criança estava virada e a mãe não tinha condições para ir ao hospital”, ficando então a mulher duas semanas em “trabalho de parto”, e acabou falecendo. Vários casos parecidos aconteceram na região, os médicos eram farmacêuticos e raizeiros e benzedeiros que faziam remédios caseiros. Quando cobras ou outros bichos mordiam as pessoas, amarravam pano ou elástico para isolar o local da mordida e não espalhar o veneno. Quando havia alguma quebradura (fratura) encanava com tala de bambu, os remédios usados na época eram picumã, teia de aranha, curtido com fumaça para curar cólicas, chá de Santa Maria, erva com pó de chifre queimado para acabar com vermes, para curar anemias ferraduras fervida no leite e comidas feitas em

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panelas de ferro. “Tive muitos abortos por não fazer o prénatal e não ter condições de ir ao hospital”,as casas eram feitas de sape ou tabuas, as camas eram feitas de tarimbas e os colchões de capim ou esteiras, usavam baús para guardar roupa e sentar, na cozinha uma bela prateleira com panos bordados a mão e vasilhas ariadas, fogão a lenha, paredes passados barros brancos, varria o quintal da casa com vassoura de ramos”

- Luzia Reis de Souza: “A saúde, há 48 anos, era muito difícil, só tinha farmacêutico e um senhor por nome Democre que fazia remédio caseiro e era procurado por toda população na época; as mulheres tinham seus bebês em casa correndo risco de vida, não tinha carro para carregar ninguém. As escolas eram diferentes de hoje, não tinha merenda escolar, as crianças vinham de longe pra estudar, chegava em casa tinha que ir pra roça trabalhar pra ajudar. Na despesa da família tudo era difícil, não tinha água tratada, não tinha rede de esgoto, era tudo a céu aberto, as ruas tinham pé de galinha (mato) e mamona, lixo por todo lado e cachorrada solta nas ruas. Tudo começou a mudar quando passou de Itaperuna para Fernandes Tourinho, aí foram construindo escolas rurais e urbanas, posto de saúde, tinha merenda escolar, luz, água encanada e rede de esgoto. Mudou, quando chegou na cidade gente capacitada que não mediu esforços para buscar recursos pra nossa cidade que agora tem merenda de boa qualidade, com acompanhamento com nutricionista, muito remédio nos postos de saúde, muitas ambulâncias, médicos clínicos, pediatra, ginecologistas, mas ainda tem muito que fazer para melhorar mais ainda, se Deus quiser”.

Obs. – Também foram entrevistados o sr.Iso Pacheco, Vereador e Secretário da Câmara Municipal, morador de Fernandes Tourinho desde 1963 e a sra. Maria Ângela da Silveira Pacheco, Secretária Municipal da Assistência Social e ex- Secretária da Educação. Dirigiu a Escola Estadual Agripino Vilas Novas, por 20 anos.

(*) Entrevistas realizadas pelas moradoras do Distrito Senhora da Penha, junto com a assistente local do projeto Núcleos, Meiriele Lopes de Brito.

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Anexo 2

LINHA DO TEMPO construida pelas moradoras de Senhora da Penha

1904 – Criação do distrito – origem do nome – Pedra Corridinha — Pedra rolou no meio da rua

1905 – Primeiro trem

1952 – Primeira Igreja

1957 – Senhora da Penha, colocou o nome

1973 – Escola

1975 – Luz Elétrica

1984 – Telefone

1992 – Igreja Católica

1994 – Casa da Oração

1996 – Água

1998 – Posto de Saúde

2000 – Assembleia de Deus

2007 – Internet e Quadra

2010 – Calçamento

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Anexo 3

Mapa do Senhora da Penha construído por moradores