Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

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Estratégias de intervenção para sua exploração sustentável Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi Mecúfi, Julho 2012

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Estratégias de intervenção para sua exploração sustentável

Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi

Mecúfi , Julho 2012

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DIAGNÓSTICO SOBRE O ESTADO DE CONSERVAÇÃO DO ECOSSISTEMA DE MANGAL DA VILA SEDE DE MECÚFI. PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO PARA SUA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL.

Primeira edição:Pemba, Cabo Delgado, Moçambique, Junho 2012500 exemplares.

Publicação do projecto “Gestão sustentável através do fortalecimento institucional adaptando o Distrito de Mecúfi aos impactos da Mudança Climática”. Financiado por AECID. Com o patrocinio de DIPUTACIÓN DE PALENCIA.

© O presente documento é de livre distribuição sempre que a fonte seja citada correctamente.

Equipa Técnica

ASFEBichehe Ernesto, Júlio: Colaborador em terreno.Diaz Nascimento, Rosa Júlio: Administrativa em terreno.Gibert Fortuny, Montse: Arquitecta em terreno. Janela Vantunia, Moises: Colaborador em terreno.Mañas Barros, Marta: Coordenação em terreno.

CEPAMCuamba, Ezídio: Biólogo marinho.

DPCAAAlfeu, Claudio: Ingeniero ambiental. Brasa Marques, Edu R.: Técnico de planeamento físico.

FGNAguirre, Ernesto: Técnico em sede.Garrido García, Sergio: Técnico de meio ambiente.Sánchez, Vanessa: Coordenação em sede.

SDPIChico Joaquim, Sérgio: Técnico de planeamento físico.

UNILURIOAlfândega Chochoma, Pedro Rui: Estudante, quarto ano.Rafael Cassimo, Elvis Lourenço: Estudante, quarto ano.João Meyer, Eliseu Adriano: Estudante, quarto ano.Nelson Belecuane Manjate: Coordenador da comissão científica.

Citação Correcta:Arquitectos sin Fronteras, Fundación Global Nature. SDPI de Mecúfi, DPCAA de Cabo Delgado, 2012. Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi. Propostas de intervenção para sua exploração sustentável. AECID, Dip. Palencia. Mecúfi, Moçambique. 82 pp

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DIAGNÓSTICO SOBRE O ESTADO DE CONSERVAÇÃO DO ECOSSISTEMA DE MANGAL DA VILA SEDE DE MECÚFI

Propostas de intervenção para sua exploração sustentável

Mecúfi, Cabo Delgado, Moçambique Junho, 2012

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................52. CONTEXTO E JUSTIFICAÇÃO................................................................................................................63. OBJECTIVOS..........................................................................................................................................74. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO......................................................................................................8

4.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ZONA 4.2 CLIMA

5. GENERALIDADES SOBRE A FLORESTA DE MANGAL..........................................................................106. ESTUDOS REALIZADOS.......................................................................................................................11

6.1 ESTUDO DE DEGRADAÇÃO...............................................................................................................................................11a) Avaliação dos níveis de corte, composição específica, regeneração natural e formas de uso b) Mapeamento da degradação

6.2 EVOLUÇÃO DA ÁREA DE FLORESTA DE MANGAL (1994-2011)...........................................................................................33 6.3 VULNERABILIDADES POR TIPOS DE APROVEITAMENTO................................................................................................376.4 EXTRACÇÃO MADEIREIRA: PRINCIPAIS USOS DA MESMA............................................................................................396.5 CONSTRUÇÕES FEITAS COM MANGAL NAS ALDEIAS DE METACANE, SASSALANE E MUÁRIA................................416.6 PARÂMETROS FÍSICOS QUE DETERMINAM O CRESCIMENTO DA FLORESTA.............................................................436.7 AVALIAÇÃO DA ABUNDÂNCIA DE PEIXES CONSUMÍVEIS EM MECÚFI.............................................................................476.8 ESTUDO SOBRE A DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA DAS ESPÉCIES DE CAMARÃO..........................................................51

7. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES DOS ESTUDOS.....................................................................................548. PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO..........................................................................................................56

8.1 REGULAÇÕES, DELIMITAÇÕES E PROIBIÇÕES.................................................................................................................568.2. BOAS PRÁTICAS PESQUEIRAS........................................................................................................................................608.3. ÁREAS DE CORTE ROTATIVAS.........................................................................................................................................618.4 REFLORESTAMENTO E FLORESTAMENTO DE MANGAL................................................................................................628.5. COOPERATIVAS, ASSOCIAÇÕES E INICIATIVAS................................................................................................................65

a) Cooperativa apícola b) Cooperativa de engorda de caranguejo c) Viveiros comunitários de peixe d) Iniciativa de viveiros de materiais alternativos de construção

8.6 ORGANIZAÇÃO DOS COMITÉS DE GESTÃO DE RECURSOS NATURAIS........................................................................699. BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................................7110. ANEXOS...............................................................................................................................................74

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Acrónimos

AECID - Agencia Española de Cooperación Internacional al DesarrolloAMA - Associação de Meio Ambiente.ASF - Arquitectos Sin FronterasASFE - Arquitectos Sin Fronteras EspañaCEPAM - Centro de Pesquisa do Ambiente Marinho e CosteiroCCP - Comitê Comunitário de PescaCDC - Comitê de Desenvolvimento ComunitárioCGRN - Comitê de Gestão dos Recursos NaturaisDAP - Diâmetro à Altura do PeitoDPCAA - Direcção Provincial de Coordenação e Acção AmbientalDPOPH - Direcção Provincial de Obras Públicas e HabitaçãoFAO- Organização das Nações Unidas pela Agricultura e a AlimentaçãoFGN - Fundación Global NatureGPS - Global Position SystemINE - Instituto Nacional de EstatísticaPPRMU - Plano Proposta de Reordenamento e Melhoria UrbanaSDSMAS - Serviço Distrital de Saúde, Mulher e Acção SocialSDPI - Serviço Distrital de Planeamento e InfraestructurasUNILURIO - Universidade Lúrio

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1. INTRODUÇÃO

O presente documento é o resultado do trabalho desenvolvido entre os meses de Agosto de 2011 e Abril de 2012 na Vila Sede do Distrito de Mecúfi, Província de Cabo Delgado, Moçambique. Especificamente, grande parte do trabalho foi desenvolvido no ecossistema de mangal próximo à Vila e às comunidades adjacentes.

Esta iniciativa age dentro do projecto "Gestão sustentável através do fortalecimento institucional adaptando o Distrito de Mecúfi aos impactos das Mudanças Climáticas" desenvolvido pelos Arquitectos sem Fronteiras Espanha (ASFE) e a Agencia Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID) com a colaboração da Fundação Global Nature (FGN), o Serviço Distrital de Planeamento e Infra-estruturas de Mecúfi (SDPI) e a Direcção Provincial de Coordenação e Acção Ambiental (DPCAA). Como colaboradores locais, também estiveram implicados a Universidade Lúrio (UNILURIO) e o Centro de Pesquisa do Ambiente Marinho e Costeiro (CEPAM).

Trata-se de uma serie de propostas de actuação para a conservação deste ecossistema, que está a ser paulatinamente degradado pelas comunidades que vivem nas suas margens, devido tanto a sua actividade extractiva mal gerida, assim como às actividades económicas que se desenvolvem em redor.

O documento subdivide-se em duas secções principais: por um lado, explica-se sobre os estudos desenvolvidos na zona com os quais foi possível a elaboração da segunda parte. Por outro lado, fazem-se propostas de actuação para gerir de uma forma sustentável a floresta de mangal da Vila Sede de Mecúfi envolvendo às comunidades locais.

Portanto, os resultados do presente trabalho não são meramente informativos, pois, propõem-se uma serie de intervenções para mitigar estes prejuízos e gerir sustentavelmente as diferentes actividades económicas desenvolvidas pela comunidade, relacionadas com o ecossistema de mangal.

Finalmente, pretende-se que este documento sirva como ferramenta de trabalho para os futuros estudos que se realizem nestes âmbitos, de modo que possa ser adaptável a diferentes regiões, tanto na etapa de investigação e avaliação, assim como a aplicação de medidas de protecção, restauração e conservação.

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2. CONTEXTO E JUSTIFICAÇÃO

O ecossistema de mangal pertencente à área de influência da Vila Sede de Mecúfi, trás uma série de estudos realizados entre ASFE, FGN e CEPAM e que ocuparam desde o mês de Agosto de 2011 até o mês de Março de 2012, foi denominado como muito degradado.

Na actualidade, o recurso madeireiro mais próximo às aldeias de Sassalane, Metacane e Muária, está a escassear, de modo, que, cada vez são necessários deslocamentos mais longos terra dentro para encontrar madeira aproveitável para construção. De certa forma, isto, encarece o produto e provoca um agravante de dificuldade para sua obtenção. Devido a isso, faz tempo que se está a extrair madeira do ecossistema do mangal, aproveitando ao máximo toda a madeira útil do mesmo, de modo, que também começa a se converter num problema a escassez de madeira de mangal.

O hábito de corte e ritmo actual deste, é desproporcionado e insustentável. O recurso, segundo entrevistas à população, está a escassear muito nos últimos anos tanto a nível madeireiro como animal.

As práticas de corte são inadequadas, acabando completamente com árvores de diâmetros pequenos e com animais em crescimento que ainda não tiveram a possibilidade de se reproduzir. Isto tem sido observado e comprovado ao longo de diferentes estudos realizados na zona e que vão detalhar-se posteriormente.

Ao mesmo tempo, determinou-se que a extensão que ocupam as salinas nas proximidades do mangal está a se expandir e causar danos em áreas grandes da floresta. A maioria destas salinas encontram-se fora da legalidade, e muitas delas não estavam a ser exploradas no momento do estudo. Mesmo assim, determinou-se, que na margem norte do canal, algumas das salinas estão ocupando zonas que na antiguidade estavam povoadas de mangal.

Devido a todos estes problemas do acesso aos recursos que vem sofrendo o povo de Mecúfi, propõem-se esta serie de medidas de gestão comunitária do ecossistema de mangal para obter uma exploração sustentável de seus recursos.

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3. OBJECTIVOS

O objectivo geral do presente documento é mostrar uma análise geral sobre a situação actual de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi, e propor uma série de medidas para a sua recuperação.

Especificamente, todas estas actuações, estão focadas para a exploração sustentável do ecossistema de mangal, sendo este um dos principais sustentos das aldeias em redor. Também pretende-se, mediante diferentes propostas de exploração de recursos, incentivar e potenciar a economia e o acesso aos recursos deste Distrito.

Mediante uma delimitação das áreas, determinação do uso específico dos terrenos e uma gestão controlada da extracção de recursos, pretende-se chegar a um ponto de exploração sustentável que beneficie às comunidades e ao mesmo tempo ajude a restaurar este ecossistema de mangal, que se encontra num estado crítico na actualidade.

Com as propostas de desenvolvimento de cooperativas dentro da comunidade, se incentivará o desenvolvimento comunitário, de modo a criar um poder aquisitivo maior com os produtos obtidos por estas. Deste modo, a floresta de mangal vai sofrer uma menor pressão de corte e extracção.

Este plano deve ser aprovado e gerido ao nível governamental de uma forma rigorosa, no entanto está idealizado para que se poça auto-gerir comunitariamente, pois envolve directamente a vários sectores comunitários, os quais só necessitariam um apoio distrital para poder desenvolve-lo e dar seguimento ao mesmo.

Está desenhado para ser executado e mantido, o que vai mostrar resultados de recuperação do ecossistema a médio e longo prazo.

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4. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

4.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ZONA

Segundo o Plano Geral de Urbanismo, a Vila Sede de Mecúfi (Fig. 2) localiza-se no seu distrito homónimo, situado a Sudeste da Província de Cabo Delgado, ao longo da costa. Este Distrito faz parte dos dezasseis que existem na Província, e tem os seguintes limites: Ao Norte o Distrito de Pemba-Metuge e a Cidade de Pemba, ao Sul, o rio Megaruma, á leste o Oceano Índico e ao Oeste os Distritos de Ancuabe e Chiúre.

Segundo INE (1997), o Distrito de Mecúfi tem uma superfície de 1.192 km², o que representa 1.4% da área total da Província de Cabo Delgado. A zona costeira cobre uma área de cerca de 70 km², com uma população estimada de 43.285 habitantes (III RGP - 2007) e uma densidade de população de cerca de 36.3 hab./km².

O ecossistema de mangal estende-se nas margens de um canal de intrusão marinha, conhecido como "Rio Mecúfi", que enche-se de água doce por escorrimento durante a época de chuvas. Esta entrada de água doce, somado a água do canal e o clima, confere uma salubridade adequada para a aparição deste tipo de ecossistema.

O presente estudo foi realizado exactamente no mangal correspondente à área de influência da Vila Sede de Mecúfi. Compreende uma área de aproximadamente 1,4 km x 3,2 km, o que supõe 173,37 hectares aproximadamente. O solo varia entre argiloso e arenoso e apresenta um pico máximo de 6 metros sobre o nível do mar (msnm).

A área de estudo está rodeada por um grande número de salinas, que vem existindo desde a época colonial, de modo, que é tradição na zona este tipo de actividade económica. Para um melhor entendimento desta área, no Mapa 0, apresenta-se a localização exacta na fotografia aérea de Mecúfi. Neste mapa podem-se observar tanto as salinas, como o canal e a floresta de mangal. Também apresentam-se as aldeias das que se vai falar no presente documento e a posição da estrada para um melhor conhecimento da zona.

4.2 CLIMA

Segundo a classificação de Köppen, o clima da Vila Sede de Mecúfi é tropical chuvoso de savana com uma marcada estação seca. A temperatura media anual varia entre 25 e 270ºC, mínimas de 200 ºC e máximas de 31,60 ºC, sendo Fevereiro o mês mais quente e Julho o mais fresco.

A precipitação média anual oscila entre os 800 mm, com uma época de chuvas compreendida entre Dezembro a Abril, o verão meridional. A humidade relativa anual apresenta valores que variam de 80 a 83%.

Fig. 1. Distrito de Mecúfi, Província de Cabo Delgado, Moçambique

Fig. 2. Vila Sede de Mecúfi

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5. GENERALIDADES SOBRE A FLORESTA DE MANGAL

Os mangais são o componente principal e base do ecossistema de mangal. Trata-se de um ecossistema característico de climas tropicais e subtropicais presentes nas margens de alguns rios ou intrusões marinhas. Nesta zona convergem a água doce e salgada formando assim condições específicas de salubridade, que, com acompanhamento das subidas e descidas da linha do mar, permitem a aparição deste tipo de árvores tolerantes a certo grau de salubridade. Caracterizam-se pela presença de adaptações para tolerar o alto conteúdo de sal das águas e condições baixas em oxigénio, estando algumas espécies, grande parte de seu tempo inundadas pela água.

Os ecossistemas do mangal têm benefícios sociais, económicos e ecológicos muito amplos, a serem destacados os seguintes pontos:

a) Sustentam algumas práticas tradicionais: As raízes, frutos e a copa de algumas espécies são usadas pelas comunidades locais para certos curativos, como os de parto, ferimentos ou dores de hérnia.

b) Servem como berçário e fonte de material lenhoso: Nas marés cheias, os mangais atraem centenas de espécies de peixes, caranguejos e camarões que nadam por entre os ramos submersos das plantas, e dependem desta floresta como áreas de alimentação e crescimento das suas crias. Fornecem material de construção tanto para barcos como para casas, camas, quintais e mobiliário. Em certos lugares, as sementes são utilizadas como alimento ou para fabricar farinha; com o córtex elaboram-se tintas têxteis muito duradouras, permitem também um antifúngico natural. A lenha do mangal também é um bom bio-combustível para cozinhar, a ser este tipo de aproveitamento um dos agentes causadores da sua degradação. Em muitos lugares utiliza-se para seu aproveitamento em grande escala, introduzindo neles salinas e viveiros de camarão.

c) Protegem da erosão e dos ventos fortes: A conservação das linhas do mangal na costa e margens dos rios é uma estratégia barata e eficaz para diminuir o avanço da linha da costa e portanto, a erosão costeira. As fortes raízes que possui este tipo de árvores, evitam a intrusão marinha e desprendimentos das margens. Mesmo assim, uma bem povoada linha de mangal na costa, protege as vivendas próximas dos vendavais que podem ocorrer nestas áreas.

d) Melhoram a qualidade das águas subterrâneas: Mantém a qualidade da água costeira, tanto biótica como abioticamente. Com suas raízes aproveitam nutrientes e purificam as águas mediante filtração; servem também como barreira física para a passagem da água salgada e de substâncias tóxicas, que podem se acumular a suas estruturas. Adicionalmente, diminuem o escorrimento das águas facilitando a deposição de sedimentos.

e) Reserva de carbono: Servem como armazém de carbono e ajudam a mitigar os efeitos da mudança climática e a travar a acumulação dos gases de efeito estufa.

f) Fomentam o turismo sustentável: Não só pelos potenciais turísticos e recreativos, mas também porque ajuda a protecção dos recifes de coral através da decomposição dos detritos do fitoplâncton. Uma boa gestão dos ecossistemas de mangal, junto com os recifes de coral como lugar do interesse turístico pode produzir uma excelente fonte de renda.

Não obstante e devido a alguns destes benefícios, o ecossistema de mangal vem sofrendo exploração intensa em todo o planeta, encontrando-se, actualmente em muitos locais num estado avançado de degradação. A utilização insustentável de seus recursos, principalmente madeireiros, agrícolas, saleiros ou camaroeiros, faz com que este ecossistema sofra riscos importantes. Esta situação, somada as consequência das mudanças climáticas, está colocando em perigo muitas comunidades costeiras cujo sustento principal são os recursos que obtêm do mangal, este facto pode comprometer a segurança alimentar e incrementar riscos de desastres como inundações ou desprendimentos.

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6. ESTUDOS REALIZADOS

Foi necessário para uma elaboração do diagnóstico sobre o estado de conservação deste ecossistema realizar diferentes estudos que ajudaram a determinar a situação na que encontrava-se não só a floresta de mangal, se não outros aspectos importantes como parâmetros físicos que influíram ou recursos aproveitáveis e tipos de aproveitamento.

Para isso, determinaram-se vários estudos importantes que puderam se fazer, mais finalmente, embora existindo múltiplas possibilidades de pesquisa, e tendo em conta as possibilidades dos meios disponíveis, levaram-se a cabo aquelas consideradas como mais importantes ou relevantes.

Mais adiante vai se desenvolver cada estudo feito e seus correspondentes resultados.

6.1 ESTUDO DE DEGRADAÇÃO

A degradação da floresta de mangal abordou-se através de dois estudos diferentes. O primeiro deles foi desenvolvido junto com a CEPAM, onde elaborou-se um estudo mais geral do estado de deterioro e da regeneração natural da floresta de mangal, tomando pontos aleatórios e medindo parâmetros tanto de corte como de regeneração. Com estes dados fez-se uma estimação do estado actual da floresta de mangal.

O segundo estudo consiste numa avaliação zonal dos níveis de degradação e conservação da floresta de mangal, para obter um mapeamento de categorização da mesma.

Na continuação expõem-se os dois pontos deste estudo:

A. Avaliação dos níveis de corte, composição específica, regeneração natural e formas de uso

a) Desenho da amostragem:

Para a elaboração do estudo, traçaram-se 80 pontos ao longo do canal de intrusão com uma separação de 100 m entre si. Para isso, tomou-se como ponto de partida aquele que coincide com o momento em que a água do mar supera a linha da costa. Igualmente, como ponto final de referência considerou-se aquele em o que canal encontra a estrada que o cruza. Fig. 3

A elaboração dos pontos foi desenvolvida mediante um escalímetro numa projecção de plano a escala 1/10.000, seguindo a linha que faz a delimitação da área de influência da Vila Sede de Mecúfi.

Fig. 3. Transectos na área da amostragem

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O desenho propôs a colecta de dados num total de trinta quadrículas para o qual elaborou-se uma tabela de aleatoriedade com Excel que lançava 10 números aleatórios entre 1 e 80, correspondendo cada número a cada ponto.

Obtidos os pontos aleatórios em que se realizou a amostragem, estabeleceram-se transectos perpendiculares ao canal, e em cada transecto estabeleceram-se três quadrículas, situando-as no estrato inferior, no médio e no superior da floresta de mangal.

Finalmente, devido às dificuldades de acesso a algumas das quadrículas ou pequena largura da floresta de mangal nesse ponto, realizaram-se 12 quadrículas de estrato inferior, 10 de estrato meio e 8 de estrato superior.

Para determinar a margem do canal no que desenharam-se as quadrículas, utilizou-se de novo Excel, com uma aleatoriedade entre 1 e 2, correspondendo o número 2 à área dentro da Vila Sede e o número 1 a área que fica fora desta. Na figura 3, mostra-se como Margem 1 (Norte) e Margem 2 (Sul)

Para conhecer os momentos adequados para caminhar facilmente na floresta de mangal, consultou-se a "Tabela de Marés - 2011 - Ano XXV, Moçambique". Instituto Nacional de Hidrografia e Navegação" e determinaram-se as horas de baixa maré. Existindo na área uma alternância entre marés vivas e marés mortas semanal, determinou-se uma maior acessibilidade a área de amostragem as semanas de marés vivas, determinando também as horas precisas para se deslocar à zona.

b) Material e métodos (por objectivos):

• Identificação das espécies de mangal existentes e a salinidade nos pontos de amostragem:

Dentro de cada quadrícula foram determinadas as espécies existentes. Mediante uma guia de identificação (Richmond 2002); colectaram-se dados sobre a cor e tipo de solo (mediante análise visual), e tomaram-se amostras da água em cada quadrícula para determinar a salinidade da área (com recurso de frascos e refractómetro, respectivamente). A zonação das espécies de mangal foi avaliada por estratos, sendo o estrato inferior próximo ao canal, o médio na zona intermédia e o superior na linha de finalização da área de mangal. As distâncias entre um estrato e outro, foram impostas pela largura da área de mangal.

• Avaliação dos níveis de corte de mangal e possíveis aproveitamentos:

A degradação da floresta de mangal foi classificada em cinco diferentes níveis de corte, nomeadamente:

- Nível 1 (Intacto, indivíduos sem cortes); - Nível 2 (Corte parcial, 25% de ramos cortados); - Nível 3 (Corte profundo, 75% dos ramos cortados); - Nível 4 (Cepo, tronco da árvore completamente cortada);- Nível 5 Morte por causas naturais.

Nesta etapa também analisou-se a fisionomia das árvores de mangal, onde os indivíduos foram classificados em três categorias em função do seu nível de ramificação (Cumningham, 2001 in Macamo et al., 2008):

- Categoria 1, Indivíduos com caule erecto, susceptíveis ao uso na construção de casas;- Categoria 2, Indivíduos com caule semi-erecto, susceptíveis a ser usados para construção após alguma

transformação;- Categoria 3, Indivíduos muito ramificados, não válidos para construção.

• Avaliação dos níveis de regeneração natural a nível específico:

Para a avaliação dos níveis de regeneração natural, em cada quadrícula foram observados e quantificados os indivíduos adultos e jovens. Os indivíduos adultos, os que apresentarem a medida do diâmetro do tronco igual ou superior 2.5 cm e altura superior 300 cm, foram medidos o diâmetro a altura do peito (DAP) e estimou-se a sua altura, (Kairo e tal., 2002), o que permitiu o cálculo do tamanho médio das plantas. Para o caso da espécie Rhizophora mucronata, o DAP foi medido 30 cm acima das raízes aéreas enquanto que para a Avicennia marina que apresentou caules ramificados abaixo de 130 cm como ramos individuais, foram considerados caules separados.

Diámetro = Perímetro / π

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A regeneração ou plantas com o DAP inferior a 2,5 cm e altura abaixo de 300 cm (Kairo et al., 2002) foram quantificadas por espécie e classificados em três subcategorias que reflectem o seu estágio de regeneração, nomeadamente:

• Altura inferior a 40 cm (C1 ou propágulos); • Altura entre 40.1-150 cm (C2 ou indivíduos na transição de propágulos a arbustos); e• Altura entre 150.1-300 cm (C3 ou arbustos), o que permitirá a determinação do nível de regeneração natural

para o local de estudo.

Em todas as quadrículas (com algumas excepções devido à impossibilidade de obtenção de satélites por causas meteorológicas) foram registadas as coordenadas geográficas com auxílio de um dispositivo GPS, que permitiu a localização geográfica da área amostrada.

Para determinar outros parâmetros, como composição específica, distribuição, frequência relativa, etc., usou-se a folha de cálculo de Excel 2007 específicas para cada medida. Assim como testes estadísticos para demonstrar algumas hipóteses.

A quantificação foi feita especificamente, e para determinar a abundância relativa (Mader, 1990, citado Barbosa, 1995, citado por Balidy et al 2005) das mesmas, usou-se a seguinte fórmula:

• Análise estatística:

Para a efectivação da análise estatística foi usado o pacote estatístico SPSS, para a análise da variação das médias e o teste ANOVA a uma via para análise da significância estatística. Neste documento não foram incluídas as tabelas com os resultados dos respectivos testes, por não ter relevância neste documento.

c) Resultados (por objectivo):

• Composição específica e características:

No canal de Mecúfi observaram-se sete espécies de mangal; Sonneratia alba, Rhizophora mucronata, Bruguiera gymnorrhiza, Ceriops tagal, Xylocarpus granatum, Avicennia marina e Lumnitzera racemosa.

Devido à aleatoriedade do estudo e à área específica que ocupa Sonneratia alba, não foi encontrada neste estudo no estado adulto em nenhum dos transectos realizados, não obstante, consta sua existência nesta área, pois foi registada no estudo de mapeamento em certas ocasiões.

Para um melhor entendimento do presente documento, é relevante conhecer as características gerais de cada uma das espécies presentes na área, assim como sua área específica de distribuição e requisitos:

I. Sonneratia alba: Esta espécie de mangal, é caracterizada por encontrar-se na primeira linha da costa, na zona entre mares. Sempre verde, no geral sofre forte pressão das correntes marinhas. Pode alcançar cerca de 12 metros de altura. Sua floração ocorre durante todo o ano, em forma de inflorescência de cor branca, transforma-se finalmente num fruto ovalado e achatado terminado num ápice, rodeado pelo cálice da flor. Cada um destes frutos pode conter aproximadamente 150-250 sementes.

O substrato onde se encontra é arenoso correspondente a praias ou áreas próximas ao mar, no entanto, seu crescimento é melhor quando encontra-se num solo argiloso-arenoso a 50%.

Caracteriza-se por possuir pneumatóforos altos e longos distribuídos em redor da planta e cobrindo uma superfície ampla, que serve como apoio para o intercâmbio gasoso de seus tegumentos. As suas folhas são ovaladas e carnosas, de cor verde intenso. Não tolera períodos prolongados de exposição a água doce, sendo a alta salinidade um requisito para sua sobrevivência.

É considerada como uma espécie pioneira, de rápido crescimento, mais com uma taxa de êxito na germinação bastante baixa. São de vital importância para as comunidades que desenvolvem-se na costa, pois opõem-se à erosão marinha e protegem-nas dos desprendimentos. Não obstante, a sua madeira é de boa qualidade, e a pressão de corte que está a sofrer esta espécie em redor de todo o mundo é elevada.

Onde:AR = Abundância RelativaMx = Número de indivíduos da espécie xMt =Número Total de indivíduos de todas as espécies

Fórmula 1. Determinação de abundância relativa das espécies (Mader, 1990 citado por Barbosa, 1995).

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II. Rhizophora mucronata: Caracterizada por ser distribuída desde o estrato inferior, nas margens do canal, até pontualmente no estrato intermédio, entre 0 e 6 metros sobre o nível de mar (msnm). Está adaptado ao crescimento em diferentes substratos, preferencialmente o substrato argiloso fino. Convive com as diferentes espécies de mangal, com tendência a converter-se numa espécie invasiva, e ocupar territórios que deveriam ocupar outros tipos de plantas. Esta espécie aparece principalmente em áreas expostas a fluxos de água doce, bem contínuos ou presentes somente a certa época do ano.

Com umas raízes aéreas características, pode chegar a alcançar os 20-30 metros de altura, mas no geral pode se encontrar com tamanhos entre 5-8 metros.

As folhas são ovaladas, de cor verde-escuro, terminadas em ponta com um pequeno e inconfundível pecíolo no extremo. A floração ocorre durante todo o ano, produzindo flores de cor amarelas pálidas; não obstante, existe um pico de floração entre os meses de Agosto a Dezembro. O fruto é pequeno e tem um comportamento vivíparo, isto significa que as sementes iniciam sua germinação antes de estar em contacto com o solo, forma-se então um propágulo alargado e de cor verde-escuro. Graças a força da gravidade, desprende-se da árvore e com seu próprio peso fixa-se na argila do solo, onde dias depois começarão a sair as primeiras folhas e raízes.

Possui uma alta taxa de regeneração, o crescimento é rápido depois de se haver estabelecido. Contudo, nos primeiros momentos, a taxa de crescimento é menos de 1 metro por ano. Dependendo do substrato, nutrientes, convivência com outras plantas e outros factores, pode variar. Mesmo assim, considera-se se uma das espécies com maior potencial de regeneração natural.

Esta espécie de mangal é de grande importância para as comunidades que vivem perto deste ecossistema. Estabiliza os solos das margens do canal e protege da erosão causada pela força da corrente. Ao mesmo tempo, forma um refúgio com suas raízes para os juvenis de muitos peixes, caranguejos e camarões.

Contudo, e devido a qualidade da sua lenha para cozinha, produção de carvão e construção, está a sofrer uma grande pressão de corte, facto que incrementam os riscos por desprendimentos e a diminuição significativa da biodiversidade animal.

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III. Bruguiera gymnorrhiza: Da mesma família que R.mucronata, e com uma distribuição mais limitada (de 0 a 2 msnm), esta espécie pode chegar a alcançar uma altura entre 15 e 20 metros, mas geralmente encontrar-se com alturas compreendidas entre os 7 e 15 metros. Coabita com outras espécies de mangal e tem preferência por solos argilosos, apesar de ser tolerante a diferentes tipos de substrato. Com tendência invasiva, apresenta-se maioritariamente em zonas com presença de água doce, seja contínua ao largo do ano, ou presente somente nas épocas chuvosas. Para pessoas que não tenham costume a vê-las, podem chegar a pensar que trata-se de cepos, não obstante, o que se vê em seu redor, são as raízes em forma de cotovelo que apresenta como complemento para o intercâmbio de gases. Com uma folha de cor verde-escura, lanceolada e aspecto encerado, apresenta um ápice final curvado.

Sua floração é contínua ao longo de todo o ano, aparecendo um pico máximo entre os meses de Abril a Agosto. As cores de suas flores variam segundo seu estágio, passando de branco-cremoso ao florescimento e terminando de cor castanho-alaranjado nos momentos antes de formar-se o fruto; um fruto que dura pouco tempo, pois rapidamente começa a germinar o propágulo alargado e de cor verde; semelhante ao de R. mucronata, e distinguível pelo chapéu que o rodeia (cálice), de cor avermelhado. Graças a força da gravidade, desprende-se da árvore introduzindo-se no solo argiloso, onde poucos dias começarão a nascer as folhas e as raízes.

Tem uma alta taxa de regeneração natural, não obstante é de crescimento lento (menos de 1 m por ano) nos primeiros momentos. Uma vez estabelecido e com quantidades adequados de nutrientes, pode aumentar sua taxa de crescimento.

É de grande utilidade para as comunidades que vivem nas suas proximidades, pois estabiliza os solos prevenindo a erosão. Mesmo assim, é um bom colonizador de sedimentos acumulados, estabilizando-os também. Quando alcança grandes alturas, exerce função de barreira contra ventos. Também, é um bom filtro para a passagem da água salgada ou contaminantes químicos até os aquíferos. Sua madeira é de boa qualidade e é aproveitada para construir desde vivendas, camas ou quintais, o que está produzindo um retrocesso no crescimento de suas populações.

Igualmente, ao que sucede a outras árvores da floresta de mangal, forma um habitat específico para muitos juvenis de caranguejos, camarões e peixes, todos aproveitáveis pelas comunidades para o consumo ou venda. Esta espécie de mangal, devido ao corte excessivo e a fraca gestão, está ameaçada em certas áreas.

IV. Ceriops tagal: Esta espécie de mangal é muito frequente na área estudada, aparecendo praticamente em todos os estratos e quadriculas analisadas. Pode alcançar alturas de aproximadamente 7 metros, normalmente encontra-se com alturas mais reduzidas, chegando inclusive ao hábito arbustivo. Suas folhas são verdes com um toque amarelo brilhante, com aspecto encerado, ovaladas e facilmente distinguíveis.

Comparado a B. gymnorrhiza, suas raízes são em forma de cotovelo, e o substrato óptimo para seu desenvolvimento é argiloso, podendo-se desenvolver em substratos arenosos, ou uma mistura de ambos. Tolerante a altas salinidades, pode converter se numa espécie invasora, colonizando rapidamente aqueles substratos onde se tenha desflorestado extensivamente. Suas flores de cor amarela, estão presentes todo o ano, com um pico máximo entre os meses de Agosto a Dezembro. De frutos pequenos e com comportamento vivíparo, libera um propágulo de cor castanho esverdado pontuado e alargado. Pode-se averiguar o momento em que este propágulo tenha alcançado a maturação por uma coloração amarelada da parte próxima ao que foi o fruto. Graças ao efeito da gravidade, cai ao solo introduzindo-se na argila, onde aos poucos dias começarão a sair as folhas e raízes.

Bruguiera gymnorrhiza

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A taxa de regeneração natural é surpreendentemente alta na zona, a sobrevivência e germinação do propágulo uma vez caído ao solo é elevada. Sua taxa de crescimento inicial é rápida, não obstante, deixa de ser quando supera um metro de altura.

Esta espécie é cortada em Mecúfi antes de alcançar os três metros de altura, pois, seu crescimento nos primeiros momentos é bastante erecto e muito válido para construir quintais. Assim como o resto de espécies de mangal, fixa os solos, filtra as águas, e proporciona um refúgio para muitas espécies animais.

O corte descontrolado desta espécie tem deixado algumas zonas da área de estudo completamente cheia de cepos, e a altura média desta espécie em Mecúfi é bastante mais baixa do que poderia ser naturalmente.

V. Xylocarpus granatum: Presente entre os estratos intermédio e superior, convive com outras espécies de mangal presentes nestes estratos. Pode chegar a alcançar alturas de mais de 10 metros, com folhas em grupos de 2, 4 ou 6, ovaladas, de cor verde pálido e textura áspera.

Suas raízes, têm forma de tabela, compridas lateralmente e com uma superfície considerável. Ao contrário que outras espécies de mangal, este tipo de raiz não é um complemento para o intercâmbio de gases com a atmosfera. Suas flores são pequenas e brancas, ocorrendo principalmente entre os meses de Julho e Agosto. Produz frutos não vivíparos, arredondados (com 25 cm de diâmetro), carnosos e grandes, semelhante a uma laranja. Internamente está dividido em vários gajos que encalham perfeitamente. Quando estão maduros, o epicarpo fragmenta-se e por seu próprio peso cai ao solo, partindo-se e liberando os gajos internos, sendo cada um de eles uma semente.

Pode-se adaptar a diferentes substratos, preferindo uma mistura entre arenoso e argiloso. Encontra-se em áreas com influência de água doce, seja ou não constante ao longo do ano.

Ceriops tagal

Xylocarpus granatum

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O seu crescimento nos primeiros estágios é rápido, não obstante o índice de êxito na germinação é bastante baixo. Alcança bastante altura antes de iniciar o alongamento do diâmetro do caule, o que protege aos estágios juvenis de serem cortados antes do tempo. Contudo, sua madeira é de grande qualidade e seus caules podem ser bastante erectos, de modo que é explorado para a construção de casas. Igualmente, o fruto é usado pelas comunidades locais como remédio contra hérnias.

VI. Avicennia marina: Geralmente, aparece no estrato superior, sobre solos arenosos, e alcançando uma altura de até 30 m. Não obstante, em Mecúfi, encontrou-se também sobre alguns pontos convivendo com Rhizophora mucronata na primeira linha da costa. Isso pode ser devido a sua grande tolerância a salinidade, e pelo facto de naquelas superfícies arenosas onde seus pneumatóforos podem se desenvolver livremente, pode-se instalar sem problemas. Embora seja muito tolerante a salinidade, este não é um requisito para sua sobrevivência, já que tolera perfeitamente a água doce.

De textura áspera, suas folhas são, no geral, lanceoladas, variando a formas mais ovaladas em função da exposição a salinidade. São de cor verde claro, com um invés gris-branquicento, devido a excreção de cristais de sal por esta parte da folha. Possui um sistema de pneumatóforos desenvolvido para o intercâmbio de gases e a filtração salina.

Apresenta flores pequenas de cor amarela-alaranjado, que ocorrem principalmente entre Outubro e Janeiro. Sua frutificação se da entre Janeiro e Março, e a fruta é pequena, ovóide acabada em pico, dentro da qual ocorre um processo semelhante ao viviparismo, mas sem chegar a sair um propágulo do fruto, pelo que denominam-se criptovivíparos. Uma vez no solo, rompe o chapéu que o envolve e sai a plântula.

O seu êxito na germinação é bastante baixo, sendo bastante susceptível a altura e força das marés, não obstante, a seus primeiros estágios, comparam-se a X. granatum, cresce comprido e erecto, alcançando um diâmetro maior quando tem já uma altura considerável, o que o protege do corte prematuro. Suas sementes não toleram uma salinidade superior à que possui o mar, contudo, podem flutuar na água doce durante mais de quatro meses antes de aparecer a plântula.

Sua madeira não é muito resistente para construções maiores, mas utiliza-se para produzir carvão e acessórios como camas e bóias para barcos.

No estudo realizado, observou-se que a maioria dos indivíduos desta espécie, sem distinção entre adultos e jovens, tem necroses circulares em suas folhas. O número das mesmas é excessivo, o que pode estar a impedir o desenvolvimento correcto das árvores desta espécie. O causador principal é alguma espécie de insecto fitófago que tem preferência por Avicennia marina, pois não foram encontradas estas necroses de uma forma tão abundante em outras espécies. Este ataque, somado à pressão de corte exercida sobre esta espécie, causa um crescimento muito mais lento do esperável.

VII. Lumnitzera racemosa: De hábito arbustivo, é difícil encontrar com alturas de mais de três metros. Aparece sobre o estrato superior, nas áreas parcialmente inundáveis, unicamente com solos arenosos e convivendo com A. marina. Encontram-se em áreas com influência de água doce, seja ao longo de todo o ano, ou exclusivamente na época de chuvas.

Sua folha é de cor verde intenso, suculenta e pequena, com aspecto ovalado terminado numa entrada que forma dois pequenos lóbulos. Floresce ao longo de todo o ano com um pico máximo entre Fevereiro e Março; sua flor é pequena de cor branca. Seu fruto forma uma cápsula coberta por um cálice persistente.

Avicennia marina

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Suas raízes não são aéreas e também não possuem pneumatóforos, parecendo-se mais a um arbusto comum. É precisamente, devido a este modo arbustivo e muito ramificado, que seu nível de corte não é excessivo, já que não é de grande utilidade para as comunidades vizinhas.

• Caracterização físico-química da área da amostragem:

O mangal do canal da intrusão marinha da Vila Sede de Mecúfi, caracteriza-se por apresentar uma salinidade média na época seca de 37.9 ppm no estrato inferior, de 41.1 e 45.4 ppm para os estratos médio e superior respectivamente. O que mostra que existe um aumento da salinidade do estrato inferior para superior, que é o estrato que sofre maiores variações das marés, e passa maior parte do tempo exposto a radiação solar, o que favorece a evaporação e aumenta o nível de salinidade neste estrato.

Como mostra a tabela 1, a dominância no estrato superior é da espécie A.marina que é frequente e tolerante a altas variações de salinidade (45.4 ppm) facto que foi observado em Mieze e Muxara onde as salinidades registadas foram ainda mais elevadas (50 e 51 ppm respectivamente). Neste estrato o tipo de solo de preferência da A. marina é de textura arenosa e cor castanho claro, embora também foi encontrada no estrato médio com solo argiloso e cor castanho escuro, características que foram encontradas nos estratos inferior e médio.

Nos estratos inferiores e médio a espécie C. tagal foi a mais dominante, com características físico-químicas similares, isto é a salinidade de 37.9 e 41.1 ppm nos estratos inferior e médio respectivamente, sendo que a cor e a textura do solo nos dois estratos não variou (Castanho escuro / Argiloso). Nestes estratos também observaram-se as espécies R. mucronata e X. granatum.

Nota: É importante tomar em conta que esta amostragem foi feita na época seca, pelo qual, as salinidades podem diferir com as de a época de chuvas, onde a chegada de água doce é maior.

Estrato Comunidades Salinidade Cor de Solo Textura de Solo

Inferior C.tagal

37,9 Castanho escuro Argiloso R. mucronata

Médio C. tagal

41,1 Castanho escuro Argiloso A. marina X. granatum

Superior A. marina 45,4 Castanho claro Arenoso

Tabela 1. Características físico-químicas e distribuição

Lumnitzera racemosa

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• Abundância relativa e densidade:

Nesta etapa fizeram-se dois tipos de análise. Por um lado, mediu-se a abundância relativa específica considerando todos indivíduos observados, e por outro, tendo em conta plantas que mediram mais de 3 m de altura. (Fig. 4)

Das observações efectuadas agregando indivíduos adultos e juvenis, encontrou-se uma dominância absoluta de Ceriops tagal, com uma abundância relativa de cerca de um 84%, seguido pelas espécies B. gymnorrhiza (7.26%), R.mucronata (6.1%), A. marina (1.33%), X. granatum (0.72%), S. alba (0,14%) e finalmente L. racemosa (0,01%).

A abundância relativa observada em indivíduos adultos demonstra que nestes, a abundância relativa específica é bastante mais equitativa (Fig. 5).

Comparativamente à figura 4, observa-se que a distribuição é muito mais uniforme, existindo uma maior proximidade entre abundâncias relativas das espécies. A espécie que em estado adulto apresentou uma abundância relativa maior é C.tagal com 32,23%, seguindo-se A.marina (28,57%), X.granatum (15.02%), R.mucronata (13.55%) e B.gymnorrhiza (10.26%).

A espécie S.alba não foi encontrada no estado adulto tendo a abundância relativa de 0%, quase assemelhando-se com L.racemosa que só se encontrou um indivíduo adulto, justificado por uma abundância relativa de 0,37%.

A figura 6 descreve individualmente as abundâncias relativas em cada um dos três estratos: inferior, médio e superior.

Na análise por estrato, observou-se que no estrato inferior e no médio é a espécie C.tagal com 37.96% e 32.56% respectivamente, no estrato superior encontra-se uma dominância significativa de A. Marina com um 62%.

Numa análise global, a distribuição das espécies pelos diferentes estratos não foi estatisticamente significativa (p<0.05), porém todas as espécies abundantes foram encontrados em diferentes estratos, embora em quantidades reduzidas. Este facto contraria o padrão de zonação normal da floresta de mangal (Richmond, 2011), podendo estar associado ao facto de ser uma zona posteriormente degradada.

Fig. 4. Abundância relativa específica total (jovens + adultos).

84,44

6,10 7,261,33 0,14 0,72 0,01

0

20

40

60

80

100

CERIOPS TAGAL RHIZOPHORA MUCRONATA

BRUGUIERA GYMNORRHIZA

AVICENNIA MARINA

SONNERATIA ALBA

XYLOCARPUS GRANATUM

LUMNITZERA RACEMOSA

Abu

ndân

cia

rel

ativ

a (%

)

Fig. 5. Abundância relativa específica em adultos.

32,23

13,5510,26

28,57

0,00

15,02

0,370

20

40

60

80

100

CERIOPS TAGAL RHIZOPHORA MUCRONATA

BRUGUIERA GYMNORHIZA

AVICENNIA MARINA

SONNERATIA ALBA

XYLOCARPUS GRANATUM

LUMNITZERA RACEMOSA

Abu

ndân

cia

rela

tiva

(%)

Page 22: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

20

Fig. 6. Abundância relativa dos estratos inferior, médio e superior

Segundo Macnae, 1966, a distribuição em África do Este é característica pela presença de diferentes formações de floresta de mangal, podendo-se classificar esta da seguinte forma:

- Zona de Ceriops tagal com hábito arbustivo- Zona de floresta de Bruguiera gymnorrhiza- Zona de floresta de Rhizophora mucronata- Zona de Avicennia marina próxima ao mar- Zona de Sonneratia alba

37,96

20,4414,60

18,25

0,00

8,76

0,000

20

40

60

80

100

CERIOPS TAGAL RHIZOPHORA MUCRONATA

BRUGUIERA GYMNORHIZA

AVICENNIA MARINA

SONNERATIA ALBA

XYLOCARPUS GRANATUM

LUMNITZERA RACEMOSA

A. R

elat

iva

infe

rior

(%)

32,56

8,14 8,14

25,58

0,00

25,58

0,000

20

40

60

80

100

CERIOPS TAGAL RHIZOPHORA MUCRONATA

BRUGUIERA GYMNORHIZA

AVICENNIA MARINA

SONNERATIA ALBA

XYLOCARPUS GRANATUM

LUMNITZERA RACEMOSA

A. R

elat

vva

méd

io(%

)

16,00

4,00 2,00

62,00

0,00

14,00

2,00

0

20

40

60

80

100

CERIOPS TAGAL RHIZOPHORA MUCRONATA

BRUGUIERA GYMNORHIZA

AVICENNIA MARINA

SONNERATIA ALBA

XYLOCARPUS GRANATUM

LUMNITZERA RACEMOSA

A. R

elat

iva

Sup

erio

r(%

)

Page 23: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

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A densidade desta área é normal (43.103 indivíduos/Ha.) tendo em conta o número de indivíduos jovens que se registaram; não obstante, analisando exclusivamente o número de adultos medidos, observa-se uma densidade de população muito mais baixa, de 909 indivíduos adultos/Ha. Comparativamente às áreas próximas de Mecúfi, como são Muxara e Mieze, as densidades médias de indivíduos adultos são muito maiores, sendo de 3.533 a Mieze e de 2162 a Muxara (Macamo, 2008), isto reflecte o estado crítico em que se encontra mangal de Mecúfi. (Tabela 2)

Tabela. 2. Densidade média (Indivíduos/Ha.)

A espécie C.tagal apresentou um maior índice de indivíduos por hectare 36.395 ind/há, facto que pode estar associado ao elevado grau de regeneração com maior quantidade de juvenis de entre 0,4 e 3 metros.

• Níveis de degradação:

A simples vista e para qualquer pessoa que visite a área de estudo, pode-se perceber a forte degradação que este ecossistema tem sofrido devido à exploração salineira que se desenvolve na zona faz mais de 20 anos. Mesmo assim, a pressão de extracção madeireira das comunidades está a acabar com uma grande parte da floresta de mangal.

Das observações feitas, encontraram-se somente 11,3% das árvores foram cortados parcialmente, as quais 5.65% corresponde a árvores que sofreram corte parcial (25% dos ramos cortadas) e 5.65% a arvores sofreram cortes profundos (75% dos ramos cortadas). (Fig. 8)

Mediante este estudo, demonstra-se que não é uma floresta intacta, pois tem somente um 3,68% de indivíduos sem algum tipo de corte. Nesta zona, foi observada uma elevada quantidade de cepos (85%) facto que presume uma elevada tendência em destruir a floresta de mangal persistente. Encontra-se, portanto uma superfície extensa da floresta de mangal, ocupada por cepos em processo de apodrecimento.

Fig. 7. Estratificação das espécies de mangal. (D. Richmond, 2011)

ESPÉCIE Adultos/Ha Jovens/Ha Total/Ha

Ceriops tagal 293 36.102 36.395

Rhizophora mucronata 123 2.508 2.631

Bruguiera gymnorrhiza 93 3.036 3.129

Avicennia marina 260 313 573

Sonneratia alba 0 61 61

Xylocarpus granatum 137 174 311

Lumnitzera racemosa 3 0 3

TOTAL 909 42.194 43.103

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Os tipos de cortes observados não tiveram uma distribuição estatisticamente significativa (p<0.05) facto que pode se relacionar com a ocorrência destes de forma bastante equitativa. Neste contexto, observou-se que os métodos de corte que são usados nesta área, provavelmente não são os adequados, pois, em lugar de cortar alguns ramos de cada árvore, para permitir seguir com vida e continuar seu desenvolvimento, realizam-se cortes totais, originando a morte da planta. Os mangais não são um tipo de árvore com capacidade para se regenerar quando são cortados desta maneira, de modo que os cepos ficam no terreno até que apodrecem.

Em muitas ocasiões, os cepos encontrados, correspondem a diâmetros de plantas que ainda não superaram os 2,5 cm de diâmetro, isto significa que estão a cortar plantas jovens que não tiveram possibilidade de se reproduzir, ou se o fizeram, não foi de uma forma prolongada nem efectiva.

Especificamente, os níveis de corte que se mostram no gráfico em baixo, indicam que na maioria das espécies, o corte profundo é o que impera; não obstante, no caso de X. granatum, há uma supremacia do número de indivíduos intactos. Isto pode ser devido a seus parâmetros de crescimento, nos que tem preferência durante as primeiras fases de vida o crescimento em altura antes que o crescimento em diâmetro e ramificações; facto que justifica encontrarem-se árvores de mais de 3 m que não foram cortadas, pois, seus ramos não são aproveitáveis para nenhum tipo de construção ou acessório. (Fig. 9)

Analisando os diâmetros das árvores presentes na área estudada, observa-se que a disponibilidade de caules com diâmetros entre 5 e 15 cm é significativamente superior, seguido pelos caules com diâmetro entre 15 e 25 cm, o que sugere preferências de corte por todos diâmetros.

Fig. 8. Frequência relativa de incidência de tipos de corte

85,02

0,003,68 5,65 5,65

0

20

40

60

80

100

CEPO M.N. INTACTO CORTE PARCIAL CORTE PROFUNDO

Fre

qüên

cia

Rel

ativ

a (%

)

Fig. 9. Estado de conservação dos manguezais de Mecúfi

40,00 36,67

3,33

53,33

90,00

146,67

30,00 26,67

100,00

36,67

3,33

106,67

56,6763,33

106,67

10,00

0

20

40

60

80

100

120

140

160

CERIOPS TAGAL

RHIZOPHORA MUCRONATA

BRUGUIERA GYMNORHIZA

AVICENNIA MARINA

SONNERATIA ALBA

XYLOCARPUS GRANATUM

LUMNITZERA RACEMOSA

Den

sida

de (I

nd./H

a.)

Page 25: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

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Disponibilidade de caules e área basal: Analisando os diâmetros das árvores presentes na área estudada, observa-se que a disponibilidade de caules com diâmetros entre 5 e 15 cm é significativamente superior, seguido pelos caules com diâmetro ente 15 e 25 cm, o que sugere preferências de corte por todos os diâmetros. (Fig. 10)

A relação entre a altura e o aumento do DAP foi fraca, consistindo na diminuição do número de indivíduos por área com o aumento do DAP. Verificou-se que nos primeiros estágios existe uma relação entre altura e diâmetro, facto que não se verifica no estagio adulto das plantas, justificado pelo seu grau de associação (R2), (ver fig. 11A-B) o que se compara ao mangal de Mieze e Muxara que assemelhou-se (Macamo et al., 2008), facto natural para as florestas de mangal (Kairo et al., 2002).

As espécies de mangal que registaram maior área basal média foram as espécies de Avicennia marina (53.77 m2/Ha.), seguido por R. mucronata (47.09 m2/Ha.), sendo que as espécies C. tagal e X. granatum apresentaram menor quantidade, 14.24 e 16.77 m2/Ha. respectivamente. (Tabela 3).

Fig. 10. Diâmetros (cm) das espécies de mangal encontradas em Mecúfi.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

C.t R.m B.g A.m X.g L.r

Den

sida

de (I

nduv

iduo

s/H

a.)

2,5-5

5-15

15-25

25-35

35-45

45-55

>55

A. marina B. gymnorrhiza C. tagal L. racemosa R. mucronata X. granatum

53,77 35,39 14,24 37,33 47,09 16,77

Tabela 3. Área basal (m2/Ha)

Xylocarpus granatum

Avicennia marina

Fig. 11. A. Distribuições Diâmetro - Altura

y = 1,7683ln(x) + 0,6936R² = 0,4702

0

5

10

15

0 10 20 30 40 50

Altu

ra (m

)

DAP (cm)

y = 1,5767ln(x) + 0,4149R² = 0,3042

0

10

20

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Altu

ra (m

)

DAP (cm)

Page 26: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

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Geralmente, quando se analisa a comparação entre diâmetros e alturas, pode-se observar que nos momentos iniciais do crescimento de todas as espécies, há uma relação directa entre a altura e o diâmetro, oferecendo uma gráfica exponencial, mas mais adiante, embora também haja uma relação Altura - Diâmetro, o crescimento é maior no diâmetro que na altura, em geral.

As alturas encontradas na floresta de mangal de Mecúfi, não são excessivamente grandes, o que pode ser devido à quantidade de indivíduos jovens existentes na área, e a pouca competição que existe pela luz solar. Igualmente, as medidas obtidas, em muitos casos podem não representar o verdadeiro tamanho da planta, pois como apresentam cortes, sua altura fica modificada. As categorias da fisionomia das arvores não foram estatisticamente significativas neste local (p<0.05).

Fig. 12. Níveis de ramificação disponíveis.

2013

7

57 57

233

93

53

127

63

37

13

40

77

17

0

50

100

150

200

250

CERIOPS TAGAL RHIZOPHORA MUCRONATA

BRUGUIERA GYMNORRHIZA

AVICENNIA MARINA XYLOCARPUS GRANATUM

Den

sida

d (In

d/H

a.)

Ceriops tagal

Rhizophora mucronata

Bruguiera gymnorrhiza

Fig. 11. B. Distribuições Diâmetro - Altura

y = 0,6554ln(x) + 2,2198R² = 0,1126

0

5

10

0 10 20 30 40 50

Altu

ra (m

)

DAP (cm)

y = 1,5552ln(x) + 1,411R² = 0,3181

0

5

10

15

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Altu

ra (m

)

DAP (cm)

y = 1,7354ln(x) + 0,4425R² = 0,1928

0

5

10

15

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Altu

ra (m

)

DAP (cm)

Page 27: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

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Portanto, os indivíduos pertencentes a categoria II (na fase de transição entre propágulos e arbustos) foram os mais representativos tendo cerca de 233 ind/ha. Indivíduos desta categoria possuem caules semi-erectos susceptíveis a ser usados em construções após alguma modificação. A disponibilidade, de árvores com caules erectos (CI) também é seguidamente elevada, de modo que estas árvores são susceptíveis a seguir sendo cortados para construção. (Fig. 12)

A figura 13 mostra a distribuição dos tamanhos dos diâmetros de cepos da floresta de mangal de Mecúfi. Observa-se que a maioria dos cepos encontrados tem entre 2,5 e 5 cm (2.107 cepos/Ha) (fig. 14) e a existência de preferências de corte por àquelas plantas com diâmetros menores de 5 cm.

Por outro lado, também há uma grande densidade de cepos com diâmetros entre 5 e 15 cm. (1.733/Ha.) e não obstante, o número de plantas vivas com estas medidas também é elevado em relação ao número de plantas totais (453 ind/Ha).

Portanto, todos os parâmetros analisados variaram em função do estrato amostrado, de modo que no estrato inferior ou próximo ao canal, exista uma densidade de cepos por hectare menor comparativamente às quadrículas de estrato médio (978 frente a 1273 cepos/Ha.), por sua vez o estrato médio possui uma densidade de cepos por hectare menor em relação aos estratos superiores (1273 frente a 1996 cepos/Ha), embora em todos casos não se tenham verificado diferenças estatísticas significativas (p<0.05). (Fig. 15)

A facilidade de acesso do estrato superior para as comunidades, assim como a existência de salinas que tem desflorestado vastas extensões, e a proximidade das machambas, são o motivo principal da maior densidade de cepos por hectare neste estrato. Por outro lado, o nível de corte, tanto no estrato médio como no inferior, embora seja menor que no superior, também é muito elevado, mostrando uma actividade de corte intensivo por parte das comunidades.

Fig. 13. Classes de diâmetros (cm) dos cepos

67

2.107

1.733

100 30 70

500

1000

1500

2000

2500

<2,5 2,5-5 5-15 15-25 25-35 >35

Den

sida

de (c

epos

/Ha.

)

Fig. 14. Classes de diâmetros dos indivíduos adultos.

47

453

247

8347

23 100

100

200

300

400

500

2,5-5 5-15 15-25 25-35 35-45 45-55 >55

Den

sida

de

med

ia (I

nd/H

a.)

Page 28: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

26

• Níveis de regeneração:

O nível de regeneração no canal é muito elevado. A maior parte do mangal identificado é jovem, no qual, maioritariamente é constituída pela espécie C.tagal que tem maior densidade de indivíduos jovens por hectare, constituído por propágulos (altura inferior a 40 cm), seguidamente por indivíduos na fase de transição entre propágulos e arbustos (altura entre 40 a 150 cm), e por último os arbustos (150 a 300 cm). Outras espécies que apresentaram maior adaptabilidade para regeneração na zona foram: R.mucronata e B.gymnorrhiza. Porém as espécies A.marina e X.granatum regeram, mas em quantidades pouco consideráveis (Fig.16 ).

Igualmente, registaram-se um alto número de mortes naturais (5126 mortes naturais/Ha.) deste mesmo tipo de indivíduos juvenis, o que supõe que a sobrevivência de muitas das plantas medidas não está assegurada.

Comparando as densidades de regeneração obtidas com estudos semelhantes feitos em Moçambique, os dados levantados no presente estudo superam por muito as densidades dos outros estudos. Este facto pode ser um dos factores que ajude a considerar esta área com possibilidades de se regenerar se faz se uma boa estratégia.

Inferior

Médio

Superior

Fig. 15. Densidade de cepos por diâmetro e estrato.

19

425 478

36 14 60

200

400

600

800

1000

<2,5 2,5-5 5-15 15-25 25-35 >35

Den

sida

de (c

epos

/Ha.

)

30

770

430

33 10 00

200

400

600

800

1000

<2,5 2,5-5 5-15 15-25 25-35 >35

Den

sida

de (c

epos

/Ha.

)

17

1033913

29 4 00

200

400

600

800

1000

1200

<2,5 2,5-5 5-15 15-25 25-35 >35

Den

sida

de (c

epos

/Ha.

)

Page 29: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

27

Segundo indica a figura 17, existe uma maior abundância relativa de indivíduos de menos de 40 cm, seguido pelos que medem entre 40 e 150 cm. e finalmente, os que estão entre 150 e 300 cm. Isto confirma a paulatina diminuição dos indivíduos vivos desde o nascimento, já que a taxa de morte natural é alta. Igualmente existem algumas parcelas analisadas em que encontraram-se cortes de plantas ainda jovens, o que também influi na diminuição do número de plantas da categoria III.

As densidades por estratos variam, e as diferenças quantitativas na distribuição destas espécies pode dever-se ao facto de na zona inferior, próxima à influência da variação da maré seja difícil para a fixação das plantas juvenis, pois necessitariam de uma estrutura forte para a sua fixação no solo, sendo que na zona intermédia que se caracteriza pela influência média da força das marés, o número de indivíduos tende a crescer até que no estrato superior se observam indivíduos em quantidades elevadas. (Fig. 18)

Fig. 16 .Densidades medias de indivíduos a regeneração

20749

5951625

83 61 3 0

12026

1775 1296102 0 86 0

3326

138 115 128 0 86 00

5000

10000

15000

20000

25000

CERIOPS TAGAL RHIZOOPHORA MUCRONATA

BRUGUIERA GYMNORHIZA

AVICENNIA MARINA

SONNERATIA ALBA

XYLOCARPUS GRANATUM

LUMNITZERA RACEMOSA

Den

sida

d m

edia

(Ind

/Ha.

)

Fig. 17 .Abundância Relativa por Categorias de indivíduos a regeneração.

54,79

36,22

8,99

0

20

40

60

80

100

Categoría I (0-40 cm.) Categoría II (40-150 cm.) Categoría III (150-300 cm.)

Abu

ndân

cia

Rel

ativ

a (

%)

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B. Mapeamento da degradação

Este ponto do estudo de degradação desenhou-se para poder estabelecer de uma forma gráfica as áreas mais degradadas e as mais conservadas, de forma que poça ser entendida pela comunidade e assim facilitar a auto-gestão do plano de manejo do ecossistema.

Graças a esta pesquisa vai ser possível desenvolver algumas estratégias de gestão e conservação do ecossistema, nas que poderão participar tanto o governo como a própria comunidade.

a) Material e métodos:

Esta amostragem consistiu na elaboração de diferentes transectos ao longo da floresta de mangal. Em cada transecto delimitaram-se quadrículas de 10 m. x 10 m. separadas 50 m. entre elas em função da largura que ocupara a floresta de mangal neste transecto. Dentro de cada quadrícula consideraram-se o número de indivíduos de mais de 3 m. de altura (adultos), medindo-se também seu nível de corte e categoria de ramificação. Além de isso, considerou-se o número de indivíduos entre 1,5 m. e 3 m. de altura (jovens ou de hábito arbustivo). E para completar contabilizou-se o número de cepos presentes na área e mediram-se seus diâmetros.

A determinação do local onde elaboraram cada transecto realizou-se sobre mapa, de forma estratégica para varrer a área de mangal de forma que poder-se-ia elaborar o seguinte mapa de degradação unindo pontos ate obter polígonos que determinam áreas categorizadas com diferentes níveis de degradação.

Para isso, elaboraram-se critérios de avaliação da degradação, em função do número de indivíduos de mais de três metros (adultos) encontrados na quadrícula de amostragem, o número de cepos presentes na área e o número de indivíduos jovens (1,5 - 3 metros).

Inferior

Médio

Superior

Fig. 18 .Densidade de indivíduos a regeneração por estratos.

4.9113.839

667

0

2000

4000

6000

Categoría I (0-40 cm.) Categoría II (40-150 cm.) Categoría III (150-300 cm.)

Den

sida

de( I

nd/H

a)

8.513

6.033

1.293

0

2500

5000

7500

10000

Categoría I (0-40 cm.) Categoría II (40-150 cm.) Categoría III (150-300 cm.)

Den

sida

de (I

nd/H

a.)

9.692

5.413

1.833

0

5000

10000

15000

Categoría I (0-40 cm.) Categoría II (40-150 cm.) Categoría III (150-300 cm.)

Den

sida

de (I

nd/H

a.)

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Considerou-se "crítica" a área quando registaram-se duas ou menos árvores na área, sempre e quando o número de indivíduos jovens não supere os 100; tal caso não poderá ser considerada essa área como "crítica", pois o índice de regeneração seria o suficientemente elevado como para considerar que não está em perigo extremo.

Igualmente, considerou-se essa área como "crítica" se o número de indivíduos em regeneração (entre 1,5 e 3 metros) existente era menor a 20 ou a percentagem de cepos encontrados na área superava os 90%. Critérios, ambos, indicadores de uma alteração nas densidades normais de um ecossistema de mangal de estas características.

Tabela 4. Níveis de degradação do ecossistema de mangal

Uma área era considerada como "muito degradada" se o número de indivíduos adultos não excedesse os 5 e a percentagem de cepos supera-se os 60%. O resto de possibilidades foram consideradas como "degradadas" salvo que a percentagem de cepos fora inferior ao 5% (neste caso considerar-se-ia "estável") ou o número de indivíduos jovens (em regeneração) superasse num 30% ao número de cepos, situação na qual a área foi considerada "em regeneração" (transição desde um estado degradado até um estado menos degradado).

Também não poderia ser considerada como "crítica" qualquer área que tenha mais de 10 indivíduos adultos. Em muitos casos, embora o índice de regeneração seja baixo, a existência de bastantes adultos na área pode diminuir a taxa de regeneração devido ao grande número de raízes que ocupam a zona e a sombra que produzem, o que implica uma competência grande pela luz solar e uma menor taxa de crescimento dos indivíduos jovens. (Foto 1)

Decidiu-se não incluir a categoria "extinto" neste mapa de degradação, que determinaria àquelas áreas onde houve presença de mangal na antiguidade e é inexistente na actualidade. Esta investigação foi feita mediante a observação directa de restos de raízes em zonas de salina ou por possuir uma textura e cores diferentes (indicativos de matéria orgânica decomposta de mangal) nestas áreas, o que poderia significar antiga presença de mangal na área. Em alguns pontos foi possível determinar áreas de extinção de mangal por comparação de fotos aéreas dos anos 1994, 2005 e 2008 e o devido contraste com a área de mangal georreferenciada no presente estudo. (ver ponto 6.2)

Depois da recolha de dados, categorizaram-se os pontos e estimaram-se áreas em função dos níveis de degradação obtidos com os padrões desenvolvidos anteriormente.

TABELA A Adultos (nº ind.) Categoria Jovens (nº ind) Categoria

0-2 Crítico < 20 Crítico 2-5 Muito Degradado >100 Não pode ser Crítico

5-10 Ver Tabela B >10 Não pode ser Crítico

TABELA B

Percentagens Categoria

>90% Cepos Crítico

>60% Cepos Muito Degradado

% jovens supera num 30% ao % de cepos Em Regeneração

% cepos < 5% Estável

% cepos > 5% Degradado

Foto 1. Área coberta por indivíduos adultos e baixo nível de regeneração.

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Para isso, em cada ponto, foi recolhido o posicionamento geográfico mediante um GPS "Garmin 72S", dado que depois foi transferido ao computador mediante um software "Easy GPS". Para a criação da capa .shp usaram-se os programas "Microsoft Excel" e "DIVA-GIS". Estas capas foram abertas posteriormente no programa "Auto-Cad" e com ele elaboraram-se os polígonos necessários para completar o mapa de degradação.

No mapa 1, mostram-se os pontos onde se fizeram as quadrículas para a amostragem do mapeamento de degradação nesta floresta. As tabelas com os dados obtidos no terreno são incluídos nos anexos.

Mapa 1. Pontos de amostragem

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b) Resultados:

Como observação geral, pode-se determinar que a zona esta bastante degradada. Isto já foi observado e desenvolvido no estudo geral de degradação do mangal. No entanto, graças a este estudo mais pormenorizado, encontraram-se algumas áreas melhor conservadas e outras em estado mais crítico.

Aquelas áreas próximas a comunidades e caminhos são as que encontram-se geralmente em estados "críticos" e "muito degradados". Basicamente estas duas categorias são as mais abundantes nos resultados, já que praticamente todo o ecossistema está rodeado de população e os caminhos cruzam este por diversos locais, o que facilita muito o acesso à floresta de mangal e o consequente deterioro do mesmo. (Mapa 2)

Algumas áreas próximas às salinas (principalmente as de margem norte) estão muito degradadas nos estratos superiores (mais próximos às salinas); no entanto, no geral, os estratos inferiores de algumas destas áreas, encontram-se bastante bem conservados, encontrando algumas áreas em regeneração. Isto é devido ao difícil acesso que tem estas zonas, seja pelo nível de inundação, o qual é bastante alto, ou pela viscosidade do solo, que está coberto nestas áreas por argilas húmidas que dificultam muito o acesso. Outro factor influente no difícil acesso a estes pontos é o facto de que grande parte destas áreas estão cobertas pela espécie Rhizophora mucronata, a qual possui raízes aéreas muito desenvolvidas que entrecruzam-se dificultando a passagem e que ao mesmo tempo, no geral, tem aderido uma espécie de molusco chamado localmente "wala" e que determinou-se como a espécie "Saccostrea cucullata". Este molusco tem uma concha muito cortante e dificulta também a recolha de dados, produzindo cortes nas mãos. (Foto 2)

Os principais motivos de degradação encontrados são todos puramente antrópicos, consistindo na extracção de madeira para construção, na retirada de árvores para expansão de salinas e comunidades ou na queimada descontrolada proveniente das machambas.

Foto 2. Saccostrea cucullata sobre raiz aérea de R.mucronata

Page 34: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

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6.2 EVOLUÇÃO DA ÁREA DE FLORESTA DE MANGAL (1994-2011)

Para este estudo foi importante fazer um contraste entre a área que ocupava o mangal na antiguidade e a cobertura do mangal presente na actualidade.

É praticamente inútil para este fim elaborar entrevistas à população local, pois em sua maioria não há lembranças sobre o acontecido faz mais de dez ou quinze anos. A população na sua maioria é muito jovem e não guarda lembranças sobre estes temas, ou não são naturais da zona ou, simplesmente não lembram como era a área na antiguidade. Igualmente, trata-se de um trabalho muito preciso e difícil de explicar oralmente, pelo que finalmente tomou-se a opção de contrastar fotografias.

O único que se obteve nas entrevistas realizadas foi que antigamente, faz aproximadamente 10 anos, o mangal de Mecúfi abastecia de madeira de boa qualidade e útil para construção. No entanto, actualmente é praticamente impossível encontrar algum tipo de madeira útil; o tempo de procura tem aumentado e se levam ramos de baixa qualidade para construção de qualquer tipo.

a) Material e métodos

Graças à obtenção de fotos aéreas da zona e o contraste entre elas, foi possível chegar a uma conclusão aproximada. Dispuseram-se de diferentes fotografias. A mais antiga é do ano 1994 (Foto 3), obtida em Cenacarta, seguida por uma de 2005 extraída de "Google Maps" (Foto 4). Posteriormente obteve-se uma fotografia de alta qualidade do ano 2008, graças ao DPCAA (Foto 5).

Foto 3. Aérea 1994. Fonte: Cenacarta.

Page 36: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

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Todas elas foram contrastadas com os dados obtidos no terreno. Mediante um GPS "Garmin 76S" delimitou-se a área que ocupa a floresta de mangal na actualidade, obtendo a mais recente análise de cobertura do solo. O trabalho consistiu em caminhar en redor da cobertura actual da floresta lançando pontos com o GPS.

Os dados foram transferidos ao computador mediante o programa "Easy GGP" e posteriormente convertidos em capa de georreferenciação mediante o programa "DIVA-GIS".

Posteriormente e escalando as fotografias para que coincidissem umas com outras fez-se um contraste mediante superposição de capas com os programas "Adobe Photoshop" e "Auto-Cad" para avaliar a evolução da cobertura de mangal na área estudada.

Mediante o programa "Auto-Cad" desenharam-se polígonos sobre estas áreas e desenhou-se o mapa que mostra a continuação, onde se pode observar as áreas extintas em função do passar do tempo.

Foto 4. Aérea 2005. Fonte: Google Maps

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b) Resultados:

No mapa 3, mostram-se os resultados obtidos com esta pesquisa. Aprecia-se que existe tanto uma degradação e perdida da cobertura da floresta de mangal, como uma expansão em algumas áreas.

No contraste entre os anos 1994 e 2005, observa-se uma diminuição de vários hectares para a expansão de salinas, tanto na margem norte como na margem sul do canal. Também é apreciável, que em alguns pontos tem existido crescimento da floresta de mangal, mais sendo sempre maior a perdida que o crescimento da cobertura.

Entre os anos 2005 e 2008, existe um problema com a fotografia aérea, pois aparece uma grande nuvem acima da área de amostragem, de modo que é difícil apreciar as mudanças ocorridas na área. No entanto, podem-se apreciar algumas modificações na cobertura da floresta de mangal. Igualmente, é um período muito pequeno em contraste com os outros períodos comparados.

A maior mudança observada no contraste de dados é aquela que sobrepõe as fotografias anteriores com o trabalho de georreferenciação realizado para o presente documento. Contudo, comprova-se que na margem sul do canal, existem algumas áreas que foram desflorestadas extensivamente para a construção de novas salinas, e na margem norte, os estratos mais superiores da cobertura de mangal tem diminuído bastante. Todavia, tendo em conta as grandes áreas de mangal que se intui, que tenham sido desflorestadas antes de 1994 para desenvolver as primeiras salinas, estes territórios são excessivamente grandes para o tamanho total que deveria ter a cobertura da floresta de mangal na Vila Sede de Mecúfi.

Foto 5: Aérea 2008. Fonte: DPCAA

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6.3 VULNERABILIDADES POR TIPOS DE APROVEITAMENTO

Durante o desenvolvimento dos estudos, através de observações empíricas e mediante entrevistas à comunidade, determinaram-se diferentes tipos de aproveitamento madeireiro na floresta de mangal.

Em função dos tipos de extracção madeireira que se levam a cabo nesta área, foi possível elaborar um mapa indicativo dos tipos de vulnerabilidade principais que existem neste ecossistema.

Um dos usos que foi dado a este ecossistema, é o da elaboração de camas tradicionais macua. Para esta actividade extraem-se troncos e ramos da espécie Avicennia marina. No entanto, faz já 10 anos, segundo entrevistas aos fabricantes de camas, é muito complicado encontrar alguma árvore que tenha as condições apropriadas para a elaboração destas camas. Praticamente todos os indivíduos desta espécie encontram-se com mais de 75% dos ramos cortados. Aquelas áreas onde esta espécie está presente, são muito vulneráveis à extracção excessiva, pois, o tipo de corte que se realiza para este tipo de actividade, normalmente é completo, acabando com a árvore.

Outra das vulnerabilidades desta floresta é o desflorestamento massivo por expansão de salinas. Foram encontradas áreas cortadas recentemente para esta finalidade. É, provavelmente o maior risco ao que está exposta esta floresta, pois acaba com todo tipo de vegetação existente na área, não deixando possibilidade alguma de regeneração natural.

As zonas mais afastadas do canal, caracterizam-se por possuir um hábito arbustivo principalmente dominado pela espécie Ceriops tagal, a qual, antes de alcançar os três metros de altura, é cortado frequentemente pela comunidade para a construção de quintais, alpendres, secadores, flutuadores para barcos e recintos. Este tipo de prática é bastante destrutiva, pois deixa áreas grandes cheias de cepos, e de restos de ramos pequenos excedentes, que impedem o correcto estabelecimento dos propágulos. Embora esta espécie tenha um bom nível de regeneração, a vulnerabilidade é alta nestas zonas, pois, cada vez que se extraí madeira para a elaboração de quintal, fica uma zona ampla desflorestada e cheia de ramos. Como exemplo, para a construção de um quintal de 15 x 15 m. são necessárias aproximadamente 500 árvores desta espécie. A pressão de corte exercida sobre ela, pode ser uma das causas deste hábito arbustivo, seleccionando-se assim os indivíduos com capacidade de produzir propágulos viáveis antes de chegar a um tamanho suficiente como para ser considerado adulto dentro dos padrões a seguir neste estudo. Contudo, nos mangais de Kenia e Tanzânia, foi comprovado que um excesso de salinidade também é causa deste tipo de hábitos arbustivos (FAO, 1994).

Existe também, embora muito menor que as anteriores, uma vulnerabilidade por extracção para construção de casas. Na actualidade, e segundo os dados recolhidos no mangal, há poucas árvores com condições para ser aproveitadas para esta actividade, pois, já tem aproveitada a maioria das árvores grandes para este fim.

Algumas áreas próximas às machambas, são vulneráveis às queimadas descontroladas que se realizam em certas épocas do ano, transvazando-se o fogo às árvores de mangal adjacentes às mesmas. Durante as amostragens observou-se este sucesso em várias ocasiões.

Outro factor de vulnerabilidade é a expansão urbana que se pode produzir tanto em Muária como em Metacane. No entanto, embora não se tenha observado que isso haja ocorrido nos últimos anos, não deixa de ser um risco.

Mesmo assim, existe um certo risco de que áreas de mangal próximas às comunidades cheguem a converter-se em lixeiras. Observaram-se certos pontos onde se acumulam garrafas plásticas e outro tipo de desperdícios devido ao mínimo tratamento dos resíduos nestas aldeias.

Page 40: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

38

Page 41: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

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6.4 EXTRACÇÃO MADEIREIRA: PRINCIPAIS USOS DA MESMA

Entre os meses de Novembro de 2011 e Fevereiro de 2012, realizaram-se uma serie de saídas ao terreno para a obtenção de dados sobre os hábitos de corte dos habitantes das aldeias próximas ao canal de Mecúfi.

A intenção destas entrevistas foi de obter dados suficientes para poder desenhar um plano de gestão para a extracção madeireira do mangal pela própria comunidade. Contudo, os membros da comunidade têm consciência de que tal actividade é ilegal, pois não estão respeitando os diâmetros mínimos de corte estabelecido pelo governo. Por isso, a reacção principal é a fuga, impossibilitando assim qualquer tipo de recolha de dados aproximada à realidade.

Não obstante, e graças à persistência das pessoas encarregadas da realização destas entrevistas, obtiveram-se alguns dados aproximados sobre os hábitos de corte nas comunidades e a extracção madeireira aproximada.

a) Material e métodos

Para desenvolver este estudo, elaboraram-se entrevistas com uma serie de perguntas relacionadas com os hábitos de corte de mangal.

A metodologia consistiu em saídas ao terreno durante o período de marés baixas ao longo dos meses indicados anteriormente. Nestas saídas, tratou-se de localizar pessoas carregando madeira ou cortando na área de mangal. Nesse momento foi possível explicar os objectivos do projecto e proceder à realização da entrevista. No que concerne ao tamanho de molho de madeira que as pessoas levassem consigo, foram encontradas diferentes medidas. Entre estas medidas tomaram-se os diâmetros, longitude e número de ramos do molho.

Entre outras perguntas, consultou-se o número de pessoas existentes na família, o uso que se daria a essa madeira e o tempo de duração da mesma. Graças a estes dados, pode-se obter resultados aproximados sobre os usos de madeira de mangal na zona.

Como material, a parte das entrevistas, precisou-se simplesmente de uma fita métrica.

b) Resultados

De todas as pessoas interceptadas na floresta de mangal carregando madeira ou cortando, a grande maioria disse que o uso que dar-se-ia ao molho que transportavam era para cozinhar (um 73%). 100% das pessoas entrevistadas que usariam a madeira para este fim, explicaram que esta madeira procedia de ramos secos já cortados e que encontraram-se no solo. Eles simplesmente retiraram aqueles ramos que serviriam para este fim, podendo em alguns casos tratar o ramo previamente com uma catana para tirar os ramos laterais e facilitar assim o transporte.

O 19% das pessoas entrevistadas afirmaram que o uso principal que receberá a madeira que transportavam era para construção menor, como, quintais e outros cercados, alpendres, secadores, etc. Destas pessoas, 89% cortaram a árvore completa deixando um cepo. 11% (correspondente a uma única pessoa entrevistada) cortaram ramos laterais de algumas árvores para este fim. (Fig. 19)

Dos 6% de pessoas que foram encontradas no mangal carregando ramos explicaram que seriam utilizadas para construção maior (casas). De todas estas pessoas, 100% faz um tipo de corte total, deixando um cepo no lugar da árvore.

Só foi encontrada uma pessoa carregando madeira que seria utilizada para a fabricação de camas macua. Isso coincide com as informações obtidas pelas entrevistas aos fabricantes de camas macua, que explicaram que faz 10 anos que é muito difícil encontrar alguma árvore aproveitável para esta actividade. Pela explicação, esta pessoa cortou ramos, mas também explicou que cortaria, se fosse necessário, deixando cepos.

Fig. 19. Percentagens de usos da madeira extraída.

73

196 2

0

25

50

75

100

Cozinha Construção menor Construção maior Cama macua

Uso

s da

mad

eira

(%

)

Page 42: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

40

Medindo o comprimento dos ramos extraídos do mangal, observou-se que os ramos utilizados para cozinhar, tinham comprimentos muito mais pequenos que aqueles que seriam usados para construção, tanto maior como menor ou cama tradicional.

Neste caso, o comprimento médio dos ramos extraídos para construção maior foi de 221 cm., seguido pelo comprimento dos ramos usados para construção menor, sendo neste caso, o comprimento médio, de 159 cm. (Fig. 20)

Os comprimentos para cama tradicional macua e cozinha, foram 121 cm. e 87 cm. respectivamente.

Com os dados obtidos nestas e outras entrevistas à comunidade, foi possível determinar os tempos de vida útil da madeira nos diferentes tipos de construção. Estes tempos de vida útil são os que foram utilizados para elaborar os padrões de extracção permitidos pelo presente documento. Em todos os casos, desenhou-se para que o tempo de extracção seja menor ao tempo de vida útil, pelo que teoricamente deveria abastecer à comunidade o suficiente e com a suficiente margem para não ter problemas de escassez madeireira.

Fig. 20. Comprimento médio dos ramos troncos em função do uso.

87

159

221

121

0

50

100

150

200

250

Cozinha Construção menor Construção maior Cama macua

Com

prim

ento

méd

io d

os r

amos

(c

m.)

Page 43: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

41

6.5 CONSTRUÇÕES FEITAS COM MANGAL NAS ALDEIAS DE METACANE, SASSALANE E MUÁRIA

Com base nos estudos feitos para o PPRMU, e seguindo o mapeamento feito, estudou-se detalhadamente cada casa das aldeias citadas no título do presente ponto. Mediante o acompanhamento dos chefes de quarteirão, entrevistaram-se brevemente às famílias que viviam em cada casa de cada aldeia, consultando assim as quantidades de mangal utilizadas, a espécie e o tipo de construção feita com este.

Tabela 5. Uso de mangal para construção na aldeia de Muária.

No caso da aldeia de Muária (Tabela 5), fora dos limites de Vila Sede de Mecúfi, mas dentro da área de influência do canal de intrusão marinha que está a se estudar no presente documento, foi feito, apenas, uma lista das casas de cada quarteirão dentro de cada bairro. Esta aldeia está dividida em quatro bairros, nomeadamente , Muentage, 1º de Maio, 7 de Abril e 25 de Junho. O número total de casas contadas nesta pesquisa foi de 1385, e determinou-se que esta aldeia está a utilizar um grande número de ramos de mangal para a construção tanto maior como menor. As camas macua são a construção mais frequente na aldeia, mas os ramos utilizados para sua construção normalmente não constituem a árvore completa. No entanto, as construções menores como quintal ou alpendres e secadores, são as mais prejudiciais para a floresta, pois cada ramo constitui uma árvore completa.

Tabela 6. Uso de mangal para construção na aldeia de Metacane.

MUÁRIA % Casas com alguma construção de mangal 94,0 TOTAL CASAS 1385 % Por casa % Casas com quintal feito com mangal 15,3 Ramos de C.tagal 147110 81,8 106 % Casas com alpendre feito com mangal 1,5 Ramos de B.gymnorrhiza 8597 4,8 6 % Casas com secador feito com mangal 14,4 Ramos de A.marina 22194 12,3 16 % Casas construídas com mangal 8,6 Ramos de R.mucronata 1966 1,1 1 % Casas com casa de banho de mangal 12,0 Ramos de X.granatum 70 0,0 0 % Casas com Cozinha feita com mangal 2,6 Total Ramos mangal

179936 100 130

% Casas com Vedação de planta de mangal 2,2 % Casas com OUTROS * feitos com mangal 4,6 % Casas com cama macua feita com mangal 88,8 % Casas com latrina feita com mangal 3,6 % Casas com mangal sem contar as camas 47,9

METACANE

% Casas com alguma construção de mangal 62,2 TOTAL CASAS 124 % Por casa % Casas com quintal feito com mangal 23,6 Ramos de C.tagal 9226 88,6 74,4 % Casas com alpendre feito com mangal 4,0 Ramos de B.gymnorrhiza 458 4,4 3,7 % Casas com secador feito com mangal 36,0 Ramos de A.marina 667 6,4 5,4 % Casas construídas com mangal 10,3 Ramos de R.mucronata 51 0,5 0,4 % Casas com casa de banho de mangal 18,9 Ramos de X.granatum 12 0,1 0,1 % Casas com Cozinha feita com mangal 4,1 Total Ramos mangal 10413 100 84,0 % Casas com Vedação de planta de mangal 3,4

% Casas com OUTROS* feitos com mangal 8,7 % Casas com cama macua feita com mangal 26,8

% Casas com latrina feita com mangal 0,6 % Casas com mangal sem contar as camas 59,7

* OUTROS: Falsos tetos, currais, casas de Diablo, vedações de varanda, suporte de casa, capoeiras e bancas.

Page 44: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

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No caso da aldeia de Metacane (Tabela 6), que já fica dentro dos limites da Vila Sede de Mecúfi, e dentro da área de influência do canal de intrusão marinha que está a se estudar no presente documento, foi identificada cada casa segundo os mapeamentos feitos para o PPRMU de forma a ter todas as casas da aldeia identificadas e contabilizadas, segundo o mangal usado e o tipo de construções que tem. O número total de casas contadas nesta pesquisa foi de 124, e determinou-se que esta aldeia embora estando muito próxima à floresta de mangal, não está a utilizar um número de ramos de mangal tão elevado como Muária (situada à outra margem do canal). Esta aldeia divide-se na área Norte e na área Sul. A área Sul caracteriza-se por ser a zona onde moram bastantes funcionários do governo, maestros e pessoas com um emprego remunerado. É possível por isso, que as estadísticas de uso de mangal sejam mais baixas em comparação às outras aldeias. No entanto, quando analisa-se por separado Metacane Norte e Metacane Sul, pode-se apreciar uma diferença significativa no uso de mangal, tendo como média na área Norte, um uso de 203 ramos de mangal por casa (a estadística mais alta de todos os bairros de todas as aldeias) e a área Sul somente uma média de 19 ramos por casa. Também foi comprovado pelo PPRMU, que Metacane Norte é a área analisada que menos latrinas tem, existindo uma prática comum de fecalismo a céu aberto no mangal (isto concorda com os dados obtidos, onde em Metacane Norte tem um 0% de latrinas feitas com mangal). (As tabelas de Metacane Norte e Metacane Sul, podem se encontrar nos anexos).

Tabela 7. Uso de mangal para construção na aldeia de Sassalane.

Na aldeia de Sassalane (Tabela 7), também dentro dos limites da Vila Sede de Mecúfi, foi identificada cada casa segundo os mapeamentos feitos para o PPRMU de forma a ter todas as casas da aldeia identificadas e contabilizadas segundo o mangal usado e o tipo de construções que tem. O número total de casas contadas nesta pesquisa foi de 959, e determinou-se que esta aldeia é a que mais usos de mangal tem (um 84,2% das casas tem algum tipo de construção sem contar as camas, dado que supera por muito aos obtidos em Muária e Metacane). Esta aldeia divide-se em três bairros (A, B e C) e vários quarteirões, mais o uso da madeira de mangal é constante em cada um deles sem diferenciação entre a proximidade à floresta de mangal. É importante ter em conta, que ao Sul desta aldeia, perto dos bairros B e C existe outra intrusão marinha rodeada de mangal, e é possível que muito mangal encontrado nas construções seja extraído desta outra floresta. (Distribuição das aldeias de Sassalane e Metacane nos anexos). Esta aldeia, igual a Metacane, tem um alto número de cama macua, pois trata-se de uma aldeia tradicional em sua maioria

Os resultados indicam uma percentagem alta na utilização de mangal para construções. É alarmante a simples vista o excessivo uso da espécie Ceriops tagal para construção de quintal, cercado de latrinas, casas de banho, vedação de plantas e outros. Foi comprovado que para cada estaca usada nas construções com esta espécie, foi cortada uma árvore completa, sempre de menos de três metros de comprimento.

Observou-se na aldeia de Muária que nos quarteirões mais próximos ao canal, tem registada uma maior utilização do recurso mangal para qualquer tipo de construção (Não é incluído um mapa de distribuição de bairros e quarteirões na aldeia de Muária devido à não inclusão desta aldeia no PPRMU, que só inclui as aldeias dentro de Vila Sede). A excepção é a aldeia de Metacane, que se caracteriza por possuir muitas casas de construção convencional, e portanto, somente registaram-se alguns alpendres ou secadores e camas feitos com mangal nestas casas. A espécie que mais frequentemente é utilizada é a A.marina para a construção de camas tradicionais macua; no entanto, não é a espécie da que maior recurso extrai-se, sendo esta, com diferença C.tagal.

As espécies que não se encontraram em nenhuma construção nem maior nem menor são S.alba e L.racemosa.

SASSALANE

% Casas com alguma construção de mangal 90,9 TOTAL CASAS 959 % Por casa % Casas com quintal feito com mangal 21,3 Ramos de C.tagal 139119 92,3 145 % Casas com alpendre feito com mangal 3,8 Ramos de B.gymnorrhiza 1925 1,3 2 % Casas com secador feito com mangal 43,4 Ramos de A.marina 6801 4,5 7 % Casas construídas com mangal 18,3 Ramos de R.mucronata 2821 1,9 3 % Casas com casa de banho de mangal 30,4 Ramos de X.granatum 120 0,1 0 % Casas com Cozinha feita com mangal 6,8 Total Ramos mangal

150786 100,0 157

% Casas com Vedação de planta de mangal 3,6 % Casas com OUTROS* feitos com mangal 8,7 % Casas com cama macua feita com mangal 70,5 % Casas com latrina feita com mangal 12,2 % Casas com mangal sem contar as camas 84,2

Page 45: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

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6.6 PARÂMETROS FÍSICOS QUE DETERMINAM O CRESCIMENTO DA FLORESTA

Dentro deste documento, como explicar-se-á posteriormente, propõe-se como actuação chave o reflorestamento de algumas áreas degradadas da floresta de mangal. E para poder elaborar este plano de reflorestamentos, é necessário conhecer de forma adequada os parâmetros físicos que influem nas zonas propostas para reflorestar.

Existem algumas zonas próximas à floresta de mangal nas que não há cobertura da mesma. Trata-se de vastas extensões utilizadas principalmente para a extracção de sal. No entanto, há algumas áreas onde não foi desenvolvida esta actividade salineira e aparentemente poderiam ser válidas para o estabelecimento de plantas de mangal. Como são desconhecidas as características que impedem o crescimento e regeneração natural de mangal nestas áreas, planeou-se elaborar um pequeno estudo sobre os parâmetros físicos que influem no desenvolvimento do mangal nestas áreas.

Para a elaboração deste estudo contou-se com a colaboração da Universidade Lúrio, e a participação de um estudante de fim de curso, que desenhou e desenvolveu este estudo determinando assim os parâmetros físicos nestas áreas. Esta investigação foi desenvolvida no tempo compreendido entre Janeiro a Março de 2012.

a) Material e métodos

Para a elaboração deste estudo, determinaram-se três áreas na margem Norte do canal e outras três áreas de características similares na margem Sul do mesmo. Cada uma destas áreas tinha características concretas:

A1. Área de controle: Com 5 espécies de mangal presentes e uma densidade alta do mesmo.A2. Área de baixa densidade: Área com uma densidade baixa de mangal, onde ficam espaços sem vegetação.A3. Área baldia: Área na que não existe presença de mangal nem presença de exploração salineira.

Foto 6. Situação das áreas de amostragem

Cada área foi de um tamanho de 50 m. x 50 m. e no seu interior traçaram-se 5 quadriculas de 10 m. x 10 m. Em cada quadricula mediram-se parâmetros de temperatura, salinidade, compactação do solo e flutuabilidade de propágulos.

Os parâmetros de temperatura e salinidade mediram-se mediante um termómetro e um salinómetro-refractómetro respectivamente. Para medir a compactação do solo, extraíram-se da própria floresta de mangal, propágulos das espécies Ceriops tagal, Rhizophora mucronata e Bruguiera gymnorrhiza, os quais foram marcados com diferentes fios de cores. Nos momentos de maré baixa, deixaram-se cair estes propágulos desde uma altura de 1.30 m., medindo depois a profundidade à que se fundiu esse propágulo (si foi fixado) mediante uma régua.

Para medir a velocidade das correntes marítimas nas áreas seleccionadas foram usados os mesmos propágulos das três espécies: Rhizophora mucronata, Bruguiera gymnorrhiza, Ceriops tagal. Foram colocados no substrato de uma forma horizontal e agrupados num único lugar. Esperou-se até o momento em que a água da maré enchente entrasse em contacto com os mesmos, em seguida, activou-se um cronómetro para calcular o tempo que durou para

Page 46: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

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se deslocar até que a maré chegue a seu nível máximo. Depois que a maré chegou ao seu nível máximo, mediu-se a distância de deslocamento dos propágulos, para poder calcular desta forma a velocidade de deslocamento dos mesmos, que é a força da corrente nessa área.

Para o cálculo da velocidade foi usada a seguinte fórmula (Barros 2009) onde:

V= Velocidade da Corrente,xf = Espaço final do movimento do propágulo;xo = Espaço inicial do movimento do propágulo;tf = Tempo finalto = Tempo inicial

Este estudo foi realizado nas semanas de maré viva, permitindo delimitar as quadriculas e medir a compactação nos momentos de maré baixa e determinar a força das correntes nos momentos de maré cheia.

Para a análise de dados e contrastação dos resultados entre umas áreas e outras, utilizou-se o pacote estadístico SPSS, e fez-se o teste ANOVA one way.

b) Resultados

Quanto à compactação, os resultados mostram que a espécie Rhizophora mucronata teve taxas médias elevadas em todas as áreas, isto mostra que tem a capacidade de penetração maior comparativamente as outras espécies. Isto explica-se, porque esta espécie apresenta propágulos com maior biomassa, e por ser mais aguçado que outras espécies. Em seguida, verificou-se que a espécie Ceriops tagal foi a espécie que antecedeu a Rhizophora mucronata, enquanto que a espécie Bruguiera gymnorrhiza foi a que apresentou pouca capacidade de penetração no substrato.

Observou-se que na margem norte as espécies Ceriops tagal e Bruguiera gymnorrhiza tiveram maior penetração na área A3 que nas restantes áreas. Em quanto que Rhizophora mucronata, penetrou mais na área A1 do que nas restantes áreas. O mesmo acontece na margem sul. (Meyer, E., Em preparação)

Tabela 8. Comparação de médias de penetração (em cm.) nas margens norte e sul. (Meyer. E. Em preparação)

As médias representadas na tabela 8 mostram que na margem sul a compactação é menor comparativamente à margem norte em todas as áreas.

Fig. 21. Comprarão de compactação nas duas margens. (Meyer. E. Em preparação)

V = xf - xo / tf - to

Espécie A1-N A1-S A2-N A2-S A3-N A3-S

Rhizophora mucronata 3,12 2,7 2,65 3,4 2,79 0,7

Bruguiera gymnorrhiza 1,71 1,5 1,72 2,2 1,91 0,3

Ceriops tagal 1,9 1,9 1,76 2,7 2,23 0,3

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

A1-norte A1-sul A2-norte A2-sul A3-norte A3-sul

Pen

etra

ção

(cm

.)

Rhizophora mucronata

Bruguiera gymnorrhiza

Ceriops tagal

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A figura 21 mostra a existência de diferenças na comparação das áreas nas duas margens, norte e sul. A A1-N é menos compacta que A1-S, enquanto na A2-N é mais compacta que A2-S e a A3-N é menos compacta que A3-S. Porque quanto maior for a penetração do propágulo no substrato menor será a compactação e quanto for ao contrario maior será compactação. Para confirmar estas diferenças fez-se uma análise de ANOVA e determinou-se que existe significância.

Quanto à velocidade, os resultados na margem Norte mostram que, na A3 a velocidade da corrente da água é maior em relação às restantes áreas e na A1 a velocidade é menor. No ponto A2 não foi possível medir a velocidade da corrente da água na por falta de água, isto é, nesta área a água chega em pouca quantidade e não permite a movimentação dos propágulos.

Os resultados na margem Sul mostram uma diferença significativa entre as áreas e também entre os propágulos.

Tabela 9. Velocidades médias (m/s) nas duas margens de estudo (Meyer. E. Em preparação)

As médias comparativas apresentadas na tabela 9, mostram que a margem norte a velocidade é menor em relação a margem sul.

Fig. 22. Comparação da variação da velocidade nas duas margens. (Meyer. E. Em preparação)

A velocidade nas duas margens apresentou uma diferença significativa, também foi apresentada outra diferença significativa dentro de cada margem. Não se mostram os resultados estadísticos, mas, mostra-se a figura 22, para uma percepção visual.

Quanto à temperatura, na margem sul sobe de uma forma equitativa partindo de A1 e depois segue A2 e por ultimo A3. Na margem norte na A1 assemelha-se com A3 e na A2 tem a temperatura com uma média elevada (Tabela 10). Quanto à salinidade na margem Sul mostrou diferenças significativas comparadas as médias obtidas entre as áreas de estudo, como mostra a tabela 11. (Meyer. E. Em preparação)

Espécie A1-N A1-S A2-N A2-S A3-N A3-S

Rhizophora mucronata 0,01312 0,0194 0 0,04096 0,0678 0,077

Bruguiera gymnorrhiza 0,007885 0,0216 0 0,0388 0,04987 0,0816

Ceriops tagal 0,006161 0,018 0 0,037 0,05736 0,0952

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

A1-norte A1-sul A2-norte A2-sul A3-norte A3-sul

Vel

ocid

ade

m/s

Rhizophora mucronata

Bruguiera gymnorrhiza

Ceriops tagal

Área Temperatura ºC

A1-N 28,24

A1-S 28,3

A2-N 34,29

A2-S 30,9

A3-N 28,34

A3-S 32

Area Salinidade ‰ A1-N 32,07

A1-S 33,5

A2-N 12,8

A2-S 33

A3-N 34,33

A3-S 9,4

Tabela 10. Comparação das medias de temperatura nas Margens Norte e sul

Tabela 11. Comparação das medias de salinidade nas duas margens Norte e Sul

Page 48: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

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Quanto ao pH existe uma variação diferente nas três áreas de cada margem, pelo que não pode-se confirmar uma relação o similitude entre as duas margens (Tabela 12). Quanto ao oxigénio, pode-se observar uma menor concentração do mesmo na margem sul que na margem norte (Tabela 13).

* Não mostram-se nenhuma das tabelas obtidas com o teste ANOVA onde conclui-se que as diferenças são significativas, já que não foram consideradas relevantes para o presente documento.

Identificaram-se como parâmetros físicos mais importantes para a distribuição dos propágulos a velocidade das correntes de água, sua disponibilidade e a compactação do solo. Certas áreas sem mangal não regeneram-se naturalmente devido à força da água e a compactação do solo, o que produz um deslocamento muito rápido dos propágulos que não fixam-se no solo e por tanto não podem germinar e formar uma nova árvore.

Área pH

A1-N 5,6

A1-S 7,91

A2-N 7,5

A2-S 7,04

A3-N 6,5

A3-S 7,04

Área O2 (mg/L)

A1-N 7,69

A1-S 6,2

A2-N 5,77

A2-S 4,4

A3-N 7,66

A3-S 5,22 Tabela 12. Variação das médias de pH nas

duas margens.Tabela 13. Variação de valores médios de

oxigénio nas duas margens.

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6.7 AVALIAÇÃO DA ABUNDÂNCIA DE PEIXES CONSUMÍVEIS EM MECÚFI

Ao longo de todo o canal, os habitantes das comunidades dedicam-se à pesca artesanal de subsistência. Durante os estudos de degradação e nas entrevistas sobre extracção madeireira, observaram-se diferentes grupos de pessoas extraindo peixe, caranguejos e camarões com redes artesanais e linhas de mão de uma forma mais profissional, e com redes mosquiteira ou até capulanas na maioria dos casos (Foto 7).

O acesso às redes mosquiteira é muito fácil para a população local, pois, o Serviço Distrital de Saúde, Mulher e Acção Social distribui todos os anos estas redes para combater contra a malária, que é um problema que está a causar mortes nas populações moçambicanas. No entanto, muitas pessoas de Mecúfi fazem caso omisso às sensibilizações realizadas pelo Distrito e usam estas redes mosquiteiras como ferramenta de pesca no mangal, onde apanham peixe, camarões e caranguejos no estado juvenil e acabando com os recursos da própria comunidade.

A intenção deste estudo, foi de pesquisar cientificamente entre que tamanhos máximos e mínimos oscilam as capturas de peixe que extraem-se em Mecúfi pelas pessoas que se dedicam à pesca artesanal dentro do canal, as artes que utilizam para este fim e os diâmetros das redes elaboradas.

Conhecendo estes tamanhos extraídos e contrastando na bibliografia com os ciclos de vida destas espécies, pode-se elaborar uma serie de regulações de pesca no canal de modo que se poça conseguir uma extracção sustentável.

Para a elaboração deste estudo, desenvolvido entre os meses de Janeiro e Fevereiro de 2012, contou-se com a colaboração da Universidade Lúrio, e a participação de um estudante de fim de carreira, quem desenhou e desenvolveu este estudo, determinando assim os ranges de tamanhos de peixes consumíveis capturados em Mecúfi e as características das artes de pesca utilizadas no canal.

a) Material e métodos

O estudo baseou-se no contraste entre a pesca artesanal das aldeias de Sassalane e Muária, e para isso elaboraram-se uma serie de entrevistas a pescadores locais e aos CCP. Durante a primeira semana marcaram-se encontros com os pescadores, tanto de Muária, como de Sassalane, e durante o tempo restante (2 semanas), fez-se um acompanhamento a estes pescadores, para contrastar as capturas obtidas pelos habitantes de uma aldeia e as de outra. Também foi utilizada uma técnica de procura de pescadoras casuais no canal, e solicitando a elas a recolha de dados necessários para obter os resultados pretendidos neste estudo.

Durante o acompanhamento, mediram-se as redes utilizadas para as capturas, tanto seu comprimento e largura, como diâmetro de malha. Registou-se também o tipo de arte e o tempo de pesca que utilizam os pescadores dentro do canal.

As áreas de influência de pescadores foram localizadas tanto pelas entrevistas a pescadores, como por pesquisa directa sobre o próprio terreno, determinando, com ajuda de um dispositivo GPS, os locais mais explorados para a extracção de peixes no canal.

Foto 7. Mulheres a capturar indivíduos juvenis com rede mosquiteira.

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b) Resultados

Foram determinadas quatro zonas principais de influência de pescadores dentro do canal conhecido como Rio Mecúfi. Embora ao longo de todo o canal, encontram-se pessoas a extrair peixes com rede mosquiteira, aqueles pescadores profissionais e com redes artesanais, pescam quase exclusivamente nestes quatro pontos determinados. Nomeadamente são Polopowe e Wichei, situadas nas áreas próximas a Metacane e Muária e as áreas de Uchanga e Mangala, situadas mais próximas a Sassalane (Foto 9).

Nas amostragens feitas, todas dentro do canal de intrusão, foram determinadas as quatro espécies mais capturadas nesta época do ano, que foram, nomeadamente e de maior a menor número de capturas, as seguintes: Encrasicholina heteroloba (Anchoveta aduaneira), Wattsia mossambica (Imperador de olho), Amblygaster sirm (Sardinha manchada), Sardinella albella (Sardinha branca).

As redes utilizadas nos momentos dos encontros de pessoas a pescar, tanto casualmente como concertados, foram principalmente quatro tipos, nomeadamente, linhas de mão, redes mosquiteiras (Foto 8), redes de arrasto e redes de cerco.

Segundo as entrevistas feitas ao CCP, uma vez por ano, realizam-se jornadas de fiscalização ao longo do canal, confiscam-se as redes que não cumprem os tamanhos mínimos estabelecidos e queimam-se na presença das populações. Mas não se realizam trabalhos de sensibilização exaustivos, de modo, que o trabalho não é demasiado efectivo. O próprio CCP tem redes legais como amostra para que os outros pescadores tomem exemplo e fabriquem ou comprem as suas próprias.

Foto 8. Rede mosquiteira ao longo de um sub-canal

Foto 9. Áreas dentro do canal mais frequentadas pelos pescadores

Page 51: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

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A variedade de peixes obtidos nas redes é bastante alta, pois, foram registadas somente dentro do canal, pelo menos 22 espécies diferentes, das quais, algumas apenas tiveram um ou dois representantes.

Quanto aos tamanhos máximos e mínimos, na tabela 14, observa-se uma aproximação a estes valores, que depois foram contrastados (no caso das 4 espécies mais comuns) com os tamanhos na etapa adulta e determinou-se se esta espécie é capturada num período juvenil ou pelo contrário, é capturada com um tamanho apto para o consumo respeitoso com o médio ambiente.

Tabela 14. Tamanhos médios máximos e mínimos das espécies capturadas (Cassimo. E. Em preparação)

Segundo o Guia de Campo das espécies comerciais marinhas e de águas salobras de Moçambique (FAO, 1990), as quatro espécies encontradas no canal em maior abundância podem ser analisadas da seguinte maneira:

a) Wattsia mossambica: Cresce, até o tamanho máximo de 55 cm, e os indivíduos capturados tem um tamanho mínimo de 6,2 cm, o que indica que existe captura desta espécie quando ainda não tem alcançado um tamanho adequado para sua correcta reprodução e completar o seu ciclo biológico. Além de isso, os tamanhos máximos encontrados desta espécie não chegam nem cerca dos 55 cm de comprimento, pelo que considera-se que a pesca desta espécie é insustentável.

Nome científico Nome comum

Moçambicano Nº Peixes

capturados Tamanho médio

menor Tamanho médio

maior

Encrasicholina heteroloba Anchoveta aduaneira 29 4.5 cm 7.4 cm

Sphyraena barracuda Barracuda bicuda 10 20.15 cm 24.7 cm

Asquamiceps spp. Cabeça lisa mancha 2 6 cm 6.2 cm

Leptoderme spp. Cabeça lisa preto 1 7.5 cm 7.5

Decapterus russelli Carapau 3 13 cm 14 cm

Siganus argebteys Coelho vermiculado 1 5.4 cm 5.4 cm

Cephalopholis sonnerati Garoupa tomate 8 9 cm 14 cm

Wattsia mossambica Imperador de olho 33 6.2 cm 10.65 cm

Lethrinus mahsena Ladrão masena 3 7 cm 11.2 cm

Lethrinus crocineus Ladrão rabo amarelo 9 11.6 cm 19 cm

Monodactylus argenteus Lunado 4 4 cm 4.4 cm

Hemiramphus lutkei Meio-agulha de Lutke 1 30 cm 30 cm

Niendevas spp. Niendevas 1 6.5 cm 6.5 cm

Leiognathus berbis Patana berbera 19 5.3 cm 9.65

Pomadasys maculatum Peixe pedra 15 8 cm 15.5 cm

Scorpaena scrofa Peixe-fogo vermelho 1 5 cm 5 cm

Balistoides viridescens Porco ponteado 1 5.5 cm 5.5 cm

Parupeneus cinnabarinus Salmonete cinabar 4 5 cm 6.3 cm

Platycephalus indicus Sapateiro do indico 13 5 cm 6 cm

Sardinella albella Sardinha branca 102 10.5 cm 13.9 cm

Amblygaster sirm Sardinha manchada 76 10 cm 12.1 cm

Mugil cephalus Tainha cabeça achatada 3 11 cm 12.5 cm

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b) Sardinella albella: Atingem seu tamanho máximo entre 13-14 cm. Como os tamanhos médios mínimos menores são de 10,5 cm. e os máximos rondam os 14 cm, pode-se concluir que o tamanho de captura desta espécie sim é aceitável para a pesca sustentável.

c) Encrasicholina heteroloba: Segundo Fishbase, 2012 o comprimento comum desta espécie é de 7,5 cm e segundo Fisher, 1999, o comprimento da primeira maturação ronda na faixa 5 - 6,7 cm. Como os tamanhos médios mínimos capturados são de 4,5 cm. confirma-se que as capturas desta espécie não são sustentáveis, embora estando próximo ao tamanho mínimo de maturação.

d) Amblygaster sirm: Esta espécie é característica por seu crescimento até os 23 cm. de comprimento. Os 10 cm. de tamanho médio mínimo de captura embora não sendo um tamanho muito adequado, pode ser válido para a sustentabilidade, já que considera-se que com este tamanho, podem ter reprodução. No entanto, os tamanhos médios máximos capturados são pequenos tendo em conta que rondaram os 12 cm. e o seu tamanho máximo pode chegar até os 23 cm.

Quanto ao tamanho das redes de pesca e as tentativas de pesca, confirmou-se que normalmente a pesca diária ronda nos 2-10 lances, cujas malhas tem uma espessura de 10-20 mm, para redes de arrasto, com um comprimento de 50-60 m. Dentro do canal a pesca é normalmente menos profissional e a maioria das pessoas usam rede mosquiteira ou linha de mão.

Page 53: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

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6.8 ESTUDO SOBRE A DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA DAS ESPÉCIES DE CAMARÃO

Igual ao ponto anterior, considerou-se importante a elaboração de um estudo sobre a abundância, tamanhos e distribuição dos camarões dentro do canal de intrusão de Mecúfi, com a ideia de obter resultados que possam ser válidos para desenhar regulações de pesca no canal. Deste modo, e com o conhecimento suficiente dos ciclos de vida e tamanhos adequados de captura, poderiam se limitar os diâmetros de redes utilizadas no canal. Por tanto, a metodologia seguida para este estudo foi exactamente a mesma que a descrita no ponto anterior.

Para a elaboração deste estudo contou-se com a colaboração da Universidade Lúrio, e a participação de um estudante de fim de curso, que desenhou e desenvolveu este estudo determinando assim os tamanhos médios dos camarões consumíveis de Mecúfi e as características das artes de pesca utilizadas no canal.

a) Material e métodos

A primeira etapa do estudo baseou-se numa serie de entrevistas realizadas aos pescadores locais e aos Comités Comunitários de Pesca de Mecúfi.

Durante uma primeira semana marcaram-se encontros com os pescadores tanto de Muária, como de Sassalane, e durante o tempo restante, fez-se um acompanhamento a estes pescadores para contrastar as capturas obtidas pelos habitantes de uma aldeia e as de a outra. Também, foi usada a técnica da procura de pescadores casuais dentro do canal, os quais, em sua maioria mulheres, fugiam, igual ao que aconteceu no estudo dos peixes.

Durante o acompanhamento, mediram-se as redes utilizadas para as capturas, tanto seu comprimento e largura como diâmetro de malha.

O número de camarões extraídos foi contado e identificado especificamente; também mediram-se os tamanhos mínimos capturados e os tamanhos máximos capturados para poder calcular os tamanhos de pesca entre os que oscilam as capturas.

b) Resultados

A pesca de camarão é conjunta à pesca de peixe, pois as áreas de pesca destes são as mesmas que as áreas de captura de peixe. Os pescadores artesanais de Mecúfi, por tanto, pescam indiferentemente peixe e camarão. Cause todas as capturas obtidas por eles são de indivíduos juvenis devido ao uso excessivo da rede mosquiteira nas margens do canal.

O ciclo biológico dos camarões, caracteriza-se pela reprodução no alto mar e deslocamento posterior das larvas nascidas no mar até os estuários, onde alimentam-se e usam como zonas de viveiro e crescimento. Quando o camarão tem um tamanho grande e está quase pronto para se reproduzir, sai do estuário para ter descendência no alto mar.

Durante o estudo foi recolhido um total de 101 camarões ao longo do canal da Vila sede de Mecúfi, pertencente a 6 espécies, nomeadamente Macrobrachium equidens, Metapenaeus monoceros, Penaeus japonicus, Penaeus semisulcatus, Penaeus monodon, e Penaeus indicus. As espécies M. monoceros, P. semisulcatus e P. indicus foram os mas capturados ao longo do canal, com cerca de 72% da captura total (Tabela 15).

Tabela 15. Nº de indivíduos de cada espécie espécies capturada. (Chochoma. P. Em preparação)

Nome específico Nº Indivíduos por local

de pesca no canal Total de indivíduos

por espécie Polopowe Wichei Uchanga Mangala

Penaeus indicus 10 0 0 10 20

Macrobrachium equidens 10 1 0 0 11

Penaeus monodon 4 3 0 0 7

Penaeus semisulcatus 20 6 0 0 26

Penaeus japonicus 0 0 0 8 8

Metapenaeus monoceros 0 0 0 29 29

Total 44 10 0 47 101

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Verifica-se que as espécies não estão distribuídas com a mesma abundância ao longo do canal, há uma diminuição do número de indivíduos na zona de Wichei e não foi encontrada ocorrência de camarão em Uchanga, sendo ambas zonas intermédias do canal. As zonas de Mangala e de Wichei apresentam o mesmo número de espécies. A abundância de camarão na zona de Mangala foi a mais abundante com cerca de 46,5%, seguida da zona de Polopowe com cerca de 43,5% e finalmente a zona de Wichei foi a zona menos abundante com de 9,9%.

Tabela 16. Comprimentos médios máximos e mínimos de cada espécie capturada. (Chochoma. P. Em preparação)

Segundo o Guia de Campo das espécies comerciais marinhas e de águas salobras de Moçambique (FAO, 1990), as espécies encontradas no canal em maior abundância podem ser analisadas da seguinte maneira (Tabela 16):

a) Penaeus monodon: Cresce, até o tamanho máximo de 26.8 cm (macho) e 33.7 cm. (fêmea). Os indivíduos capturados tem um tamanho mínimo de 11.4 cm, o que indica que existe captura desta espécie quando ainda não tem alcançado um tamanho adequado para sua correcta reprodução e completar o seu ciclo biológico. Os tamanhos máximos encontrados (20 cm.) desta espécie não chegam aos tamanhos máximos esperáveis. Determina-se que a pesca desta espécie é insustentável.

b) Penaeus semisulcatus: Cresce, até o tamanho máximo de 18 cm (macho) e 23 cm (fêmea). Os indivíduos capturados tem um tamanho mínimo de 15.8 cm, o que está próximo ao tamanho máximo do macho, mais é possível que indivíduos com este tamanho ainda não cheguem a um estado de madureza sexual. Os tamanhos máximos encontrados (21.75 cm.) desta espécie superam os tamanhos máximos descritos na bibliografia, de modo que existem duas possibilidades; uma confusão por parte do pesquisador quando determinou a espécie ou que existem certos indivíduos com uns tamanhos grandes e totalmente recomendáveis para sua captura.

c) Penaeus indicus: Cresce, até o tamanho máximo de 18.4 cm (macho) e 22.8 cm (fêmea). Os indivíduos capturados tem um tamanho mínimo de 4 cm o que indica que existe captura desta espécie quando ainda não tem alcançado um tamanho adequado para sua correcta reprodução e completar o seu ciclo biológico. Além disso, os tamanhos médios máximos capturados (7,5 cm.) estão muito longe dos tamanhos até os que pode crescer esta espécie, pelo que determinou-se que esta espécie é capturada em Mecúfi de uma forma insustentável.

d) Penaeus japonicus: Cresce, até o tamanho máximo de 19 cm (macho) e 22.5 cm (fêmea). Os indivíduos capturados tem um tamanho mínimo de 5 cm o que indica que existe captura desta espécie quando ainda não tem alcançado um tamanho adequado para sua correcta reprodução e completar o seu ciclo biológico. Além disso, os tamanhos médios máximos capturados (7,5 cm.) estão muito longe dos tamanhos até os que pode crescer esta espécie, pelo que determinou-se que esta espécie é capturada em Mecúfi de uma forma insustentável.

Nome cientifico Nome comum Comprimento médio

mínimo (cm) Comprimento médio

máximo (cm)

Penaeus indicus Camarão branco 4 7.5

Macrobrachium equidens Camarão rugoso de rio 6.6 9.05

Penaeus semisulcatus Camarão tigre 15.8 21.75

Penaeus monodon Camarão tigre gigante 11.4 20

Penaeus japonicus Camarão flor 5 7.5

Metapenaeus monoceros Camarão castanho 5.5 6.5

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e) Macrobrachium equidens: Cresce, até o tamanho máximo de 9.8 cm. Os indivíduos capturados tem um tamanho mínimo de 6.6 cm., o que está próximo ao tamanho máximo, mais é possível que indivíduos com este tamanho ainda não cheguem a um estado de madureza sexual. Os tamanhos máximos encontrados (9.05 cm.) desta espécie estão muito próximos aos tamanhos máximos descritos na bibliografia, de modo que a pesca desta espécie é próxima à sustentabilidade, mais deve ser controlada para seu correcto desenvolvimento.

f) Metapenaeus monoceros: Cresce, até o tamanho máximo de 15 cm (macho) e 19.5 cm (fêmea). Os indivíduos capturados tem um tamanho mínimo de 5,5 cm o que indica que existe captura desta espécie quando ainda não tem alcançado um tamanho adequado para sua correcta reprodução e completar o seu ciclo biológico. Além de isso, os tamanhos médios máximos capturados (6,5 cm.) estão muito longe dos tamanhos até os que pode crescer esta espécie, pelo que determinou-se que esta espécie é capturada em Mecúfi de uma forma insustentável.

Quanto à abundância dos camarões no canal, foi registada uma maior abundância os dias depois de uma grande tormenta, verificando-se assim a opinião das pessoas entrevistadas, que asseguraram que as chuvas influenciam positivamente à pesca de camarão, por aumentar seu número depois destes episódios meteorológicos.

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7. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES DOS ESTUDOS

A floresta de mangal presente na zona de influência de Vila Sede de Mecúfi, compõe-se por sete espécies diferentes; Sonneratia alba, Rhizophora mucronata, Bruguiera gymnorrhiza, Ceriops tagal, Xylocarpus granatum, Avicennia marina, e Lumnitzera racemosa. A distribuição por estratos das mesmas não segue uma distribuição normal ou esperada devido às grandes alterações a que está submetida a área.

As espécies de mangal encontram-se distribuídas de uma forma pouco ordenada, de modo, que embora existam indícios de padrões de estratificação, podem-se encontrar espécies de todos os tipos em todos os estratos. Únicas excepções são Lumnitzera racemosa, que sempre encontra-se no estrato superior na área que somente se inunda nos períodos de marés vivas, e Sonneratia alba, que ocupa uma área adjacente à margem marinha ou à entrada do canal, sempre no estrato inferior.

A espécie C.tagal, é a mais predominante e a que tem uma taxa de regeneração mais elevada, colonizando todos os estratos com seus propágulos e arbustos, podendo inclusive, deslocar e competir com outras.

As margens do canal são variáveis ao longo de todo o seu percurso, de modo que podem-se encontrar zonas elevadas onde não chega a água e por tanto não aparecem plantas de mangal; estas zonas, algo frequentes na margem Sul do canal, são aproveitadas pelas comunidades para cultivar mandioca e mexoeira. Outras zonas, como a parte mais distante do mar, são extremamente planas, e a água expande-se em todas direcções, dando um aspecto de laguna, onde predomina A.marina. Além desta, também instala-se um grande número de salinas, que aproveitam estes planos inundáveis para produzir e extrair sal mediante evaporação.

Todas estas espécies são aproveitáveis na zona como material de construção e como bio-combustível para cozinhar. As populações próximas à área de estudo, exploram insustentavelmente o recurso madeireiro que oferece esta floresta, de modo que os tipos de corte encontrados, são, na sua maioria irreversíveis, isto é, uma vez cortada, a planta já não volta a se regenerar, transformando-a em cepo que ocupa um espaço que poderiam aproveitar outras plantas para crescer.

Do mesmo modo, e como explicou-se anteriormente, as raízes de mangal, proporcionam um refugio excelente para muitas espécies animais consumíveis, principalmente em estados larvários ou juvenis. Estas espécies, também são exploradas de uma forma abusiva e com técnicas nocivas para o meio ambiente, destacando-se o uso de redes mosquiteiras, mediante as quais capturam juvenis de peixes, camarões e caranguejos em grandes quantidades. Também registaram-se no canal práticas de pesca artesanais mediante linhas de mão e arrasto, com diâmetros de malha aceitáveis, mas são mínimos em comparação com o uso da rede mosquiteira.

Foram determinadas quatro áreas principais dentro do canal onde é praticada a pesca artesanal de subsistência. Estas áreas caracterizam-se por possuir umas características que permitem o trânsito das pessoas a pé para poder estender suas redes e assim capturar muitas espécies aproveitáveis. Estes locais são de Norte ao Sul: Mangala, Uchanga, Wichei e Polopowe.

Durante a época dos estudos, as principais espécies de peixe encontradas no canal foram, nomeadamente Amblygaster sirm, Encrasicholina heteroloba, Sardinella albella, Wattsia mossambica. De estas espécies, dois de elas foram confirmadas como capturadas de uma forma insustentável (E. heteroloba e W. mossambica). Quando fez-se a comparação entre seu tamanho máximo possível e os tamanhos medidos durante a pesquisa, mostram-se na maioria dos casos como inferiores aos tamanhos nos que estas espécies alcançam a maturação sexual. S. albella e A. sirm, embora foram capturadas com tamanhos médios máximos e mínimos aceitáveis para a sustentabilidade ou próximas a ela, é muito fraca a diferença, correndo o risco de cair em uma mala prática de pesca.

Quanto aos camarões encontrados no canal de Mecúfi, confirmou-se a existência de seis espécies, nomeadamente, Penaeus indicus, Macrobrachium equidens, Penaeus monodon, Penaeus semisulcatus, Penaeus japonicus, Metapenaeus monoceros. Destas seis espécies, somente M. equidens e P. semisulcatus, são capturadas com tamanhos médios mínimos e máximos próximos à sustentabilidade; as demais espécies são capturadas de uma forma insustentável colocando em perigo às populações das mesmas.

Embora encontrando no mangal uma alta variedade de peixes extraídos do canal (22 espécies), como estes em sua maioria são ainda juvenis, fica em perigo a sustentabilidade das populações de peixes consumíveis em Mecúfi. Também, o deterioro que está a sofrer o mangal pode influir no desenvolvimento do recife coralino, em piorando ainda a sobrevivência dos peixes que passam parte de sua vida ali.

A combinação da desflorestação descontrolada com a pesca intensiva, tem deixado um ecossistema muito frágil, com uma biodiversidade em estado crítico.

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Somado o aproveitamento comunitário dos recursos, aparece a indústria salineira, extensiva nesta área. Na actualidade deve haver aproximadamente 25 salinas, com vista a ampliar seu território, já que encontraram-se grandes áreas completamente devastadas, nas quais encontram-se somente os cepos com diâmetros característicos da árvores grandes. Igualmente, a salinidade nas áreas próximas às salinas é muito elevada, o que poderia afectar também às dinâmicas de populações tanto animais como vegetais nestas zonas.

Outros factores de risco que afectam ao ecossistema, são, por exemplo, a deposição de ramos pequenos cortadas ou a deposição de lixos plásticos. O costume nestas comunidades consiste em que o homem entra na floresta de mangal e corta algumas árvores, deixando-as lá para que nos seguintes dias, as mulheres e crianças, cheguem ao lugar, cortem partes desta árvore e transportem-no pouco a pouco até as comunidades.

Estes ramos depositados, ocupam espaços em que poderiam se estabelecer novos propágulos, que não obstante, não podem fazê-lo e morrem. O mesmo ocorre com o plástico, que além ser um contaminante não degradável, destrói as propriedades do solo com o passar do tempo.

Actualmente, o depósito de lixo não é excessivamente alto, mais deveria ser controlado, pois, é susceptível a que nos próximos anos introduza-se muito mais devido ao crescente uso de plásticos nas comunidades.

Existe um vazio legal quanto à protecção da floresta de mangal, já que não existe uma legislação específica sobre o mesmo. Este está incluído na Lei de Florestas e Fauna Bravia junto com outras muitas espécies madeireiras de Moçambique. Indirectamente, a Lei da Terra, protege o mangal, pois proíbe a construção de infra-estruturas a menos de 100 m da linha de costa e a Lei de Ambiente exige realizar avaliações de impacto ambiental antes de realizar qualquer actividade que poça causar danos a um ecossistema. Contudo, o uso do recurso madeireiro por parte das comunidades é legal, sempre e quando o diâmetro mínimo de corte da planta exceda os 30 cm. (Regulamento da Lei de Florestas e Fauna Bravia). Como mostra o estudo, esta medida mínima de corte não é respeitada, estando a maioria dos cepos encontrados entre 2,5 e 15 cm de diâmetro.

Nas comunidades próximas existem Comités de Gestão de Recursos Naturais e Comités de Desenvolvimento Comunitário, os quais possuem pouca informação sobre a gestão deste tipo de ecossistemas, e ainda não tem capacidade para realizar uma protecção efectiva de toda a área. Também, existem os Comités Comunitários de Pesca, os quais são os encarregados da fiscalização das pescas ao longo de todo o canal, confiscando as redes não adequadas e sancionando as más práticas pesqueiras como o uso de venenos ou a colocação de redes de malha mais pequena entre outras redes de tamanho adequado. Igualmente, o pessoal do CCP é insuficiente e as sensibilizações não chegam de uma forma efectiva à população, que volta à repetição das más práticas enquanto consegue outra rede mosquiteira ou termina a campanha de fiscalização.

Mediante os estudos de parâmetros físicos que determinam a composição da floresta de mangal, determinaram-se como mais importantes para a regeneração natural desta floresta tanto a compactação do solo como a velocidade e disponibilidade da água. Existem algumas áreas que naturalmente não tem mangal, e isto pode ser devido à excessiva compactação dos solos nestas áreas, o qual foi verificado mediante os estudos. Também a velocidade das correntes de água são altas, e a combinação de ambas características impede o correcto assentamento dos propágulos para seu desenvolvimento. No entanto, nas pesquisas feitas nestas áreas, comprovou-se que na margem Norte, os propágulos não desenvolvem-se correctamente, facto que pode ser devido à excessiva salinidade existente nestas áreas causado pela proximidade das salinas. Na margem Sul, os propágulos desenvolvem-se de uma forma normal nestas áreas vazías, facto que determina as possibilidades para seu florestamento

Algumas áreas que foram desflorestadas faz anos para implementar salinas, tem aspecto de estar abandonadas, e não obstante, não estão a regenerar naturalmente. Isto pode ser devido a mudanças na composição do solo e alteração do microclima necessário para o desenvolvimento das sementes e propágulos, que precisam de coberta e sombreado dos adultos, que para além de diminuírem a força da água crescendo e baixando, que arrasta os propágulos não permitindo estabelecer-se.

Igualmente, algumas destas "salinas abandonadas", são em verdade, depósitos de água para as salinas adjacentes, pelo qual, existem áreas grandes desflorestadas fez tempo, nas que não desenvolve-se nenhuma actividade e somente são usadas como depósito. Embora ficou fora da presente pesquisa, considera-se necessário estudar a possibilidade de aproveitar estes tanques de água para a implementação de algum tipo de aquacultura ou actividade de aproveitamento destas áreas.

Adicionalmente, a vegetação da ribeirinha, principalmente as espécies Arthrocnemon indicum e Sesuvium portulacastrum, colonizam àquelas áreas em que o mangal foi extraído, impedindo a recolonização da área.

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8. PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO

Trás esta análise detalhada do ecossistema de mangal pertencente a área de influência da Vila Sede de Mecúfi, e conhecendo alguns daqueles factores que estão a produzir a degradação do mesmo, propõe-se a posta em marcha de diferentes estratégias de intervenção.

Estas podem ajudar a voltar ao estado inicial desta floresta, ou, pelo menos, ser o primeiro passo para chegar a um ponto de exploração sustentável deste ecossistema por parte das comunidades. Um recurso bem gerido pode produzir benefícios enormes e duradoiros para estas comunidades que já estão vendo em perigo sua segurança alimentar e acesso à vivenda devido à escassez de recursos extraíveis deste ecossistema.

Considera-se de preferência mudar os hábitos de consumo destas comunidades; introduzindo métodos sustentáveis de exploração de recursos. Reduzir a taxa de extracção madeireira e modificar as formas de corte, são um dos principais objectivos que se procuram com estas estratégias.

Todas estas propostas desenvolvidas a continuação, não são possíveis sem a participação directa tanto das comunidades locais como dos Comités Comunitários (CGRN, CDC e CCP) e dos Serviços Distritais de Mecúfi. Mesmo assim, todo o processo de actuação deve ir acompanhado de uma campanha de sensibilização a todos os níveis que implique um empoderamento e assegure a continuidade destas actividades.

8.1 REGULAÇÕES, DELIMITAÇÕES E PROIBIÇÕES

Para obter uma gestão sustentável do ecossistema é necessária, entre outras medidas, a tomada de decisões quanto à limitação de corte e delimitação ou seccionamento da área.

Para assegurar a permanência daquelas espécies de mangal mais antigas, situadas nas margens do canal, e que ao mesmo tempo, são as principais encarregadas de travar a erosão das margens do canal e de dar refugio a muitos juvenis de espécies animais consumíveis em Mecúfi, é necessário delimitar uma área de protecção total situada nestas margens. Para isso, se considerou prioritária a proibição expressa de todo tipo de actividade numa faixa de dez metros desde a margem do canal até o interior, para assegurar a permanência destes indivíduos tão necessários para o sustento equilibrado do ecossistema. Significa que qualquer tipo de pesca próxima às margens do mangal seria sancionada.

A passagem de pessoas por estes pontos, será permitida, única e exclusivamente pelos caminhos delimitados no presente documento, ficando assim, proibido definitivamente, transitar por esta faixa de dez metros fora dos caminhos.

Delimitar-se-á também áreas de atraque de barcos, onde estará permitida a subida e descida de passageiros e o trânsito de pessoas, com o único fim de transportar pessoas ou mercadorias e produtos desde uma aldeia a outra quando seja impossível o trânsito a pé. Nas margens do canal, somente será permitida a detenção de embarcações em lugares pontuais devidamente sinalizados no mapa 5, de qualquer outro modo, fica proibido o atraque de barcos em zonas protegidas da margem do canal devido ao consequente dano que causa esta actividade às raízes tanto aéreas, como aos pneumatóforos que existem nestas zonas.

Do mesmo modo, delimitar-se-á uma área de transição entre os terrenos de machamba e a área de mangal, devendo existir obrigatoriamente, uma faixa de como mínimo 10 metros, entre o ponto máximo de subida da linha de maré e o começo das machambas. Mesmo assim, devem se controlar as queimadas nas machambas, tendo que ser estas realizadas nos momentos de subida de maré viva, para assegurar que o fogo não atravesse até as últimas linhas de mangal. Nos estudos realizados, encontraram-se alguns indivíduos de Avicennia marina queimados devido estas práticas generalizadas e descontroladas.

Enquanto às zonas ocupadas por salinas, determinaram-se dois tipos; as desenvolvidas nas áreas que naturalmente nunca foram ocupadas por mangal, e aquelas nas que se realizaram cortes de mangal para se instalar (mapa 6).

Aquelas salinas situadas nas áreas nas que foi preciso o corte massivo das árvores, bem recente, bem na antiguidade, deverão estar a se desenvolver no momento de se por em funcionamento esta regulação, pelo contrario, dar-se-á um prazo de um ano sem desenvolver nenhum tipo de actividade a aquelas salinas ou áreas delimitadas que não estejam sendo exploradas. No caso de que transcorra esse ano sem explorar o solo numa área de crescimento natural de mangal, este terreno será considerado abandonado e passará a formar parte do plano de reflorestamento de mangal que desenvolver-se-á ao por em funcionamento estes regulamentos.

Igualmente, todas as salinas que estejam explorando, devem ser legalizadas e ter todos seus pagamentos de impostos em dia, ao contrário, dar-se-á um prazo de um ano para realizar este processo. Todo este processo de legalização e pagamentos, tem que ser gerido pelo governo, com o acompanhamento e facilitação de informações feito pela comunidade.

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Somente as pessoas residentes nas aldeias próximas ao ecossistema de mangal terão direito a extrair madeira ou a desenvolver qualquer tipo de actividade extractiva nesta área. Estas aldeias são Metacane, Sassalane, Muária e Cambala. A quantidade de madeira extraída pela comunidade vai ser limitada por família e casa.

Segundo as investigações realizadas, o tipo de corte realizado varia em função do uso ao que destinar-se-á essa madeira. A extracção mais comum, é ao mesmo tempo a menos prejudicial. A extracção dos ramos secos para fazer lenha para cozinhar ao lume, que não precisam de ser cortados da árvore, pois são aproveitados ramos já cortados por outras pessoas para outro tipo de actividade. Este tipo de extracção estará permitida sem nenhum tipo de regulação, sendo livre a extracção nas áreas que nesse momento estejam abertas para exploração.

Quanto ao tipo de corte realizado para a construção de quintais, secadores ou forquilhas, resulta ser um dos mais prejudiciais para o ecossistema, no entanto, a espécie extraída principalmente para este tipo de construções, Ceriops tagal tem uma taxa de regeneração muito elevada. Devido à forte pressão de corte que está a sofrer a floresta, e já comprovada a grande quantidade de áreas críticas ou muito degradadas, vai se proibir durante 10 anos a extracção de árvores para construção de quintal. Cada construção elaborada com este tipo de extracção tem uma duração aproximada de 6 a 10 anos, pelo que passados os primeiros 10 anos e recuperadas as áreas excessivamente degradadas, permitir-se-á a extracção para este tipo de construção em função do tamanho de quintal que vai se construir ou da mobília a fabricar. Para isso, registar-se-á a casa em que vão-se colocar estes troncos extraídos e anotar-se-á o nome do responsável da família, sendo proibida a extracção para este tipo de actividade até cinco anos depois, a se considerar este o tempo de vida útil mínimo destas construções menores. Antes de conceder a primeira licença de corte, visitar-se-á a casa e comprovar-se-á que o quintal da mesma está deteriorado e é necessária a extracção, a tomar este facto, também como determinante na hora de decidir o número de troncos que poder-se-ão extrair para melhorar/completar o quintal ou para construir uma mobília nova. No caso de necessitar extrair antes do tempo estimado, dever-se-á justificar pelo proprietário da casa e será estudado pelo Comité de Gestão de Recursos Naturais.

A extracção para construção de camas tradicionais como actividade comercial, deve ser regulada de uma forma mais rigorosa, pois, este tipo de actividade é lucrativa e requer a corta intensiva da espécie Avicennia marina. Pondo em funcionamento estes regulamentos, dar-se-á um prazo de três meses à comunidade para que aqueles interessados anotem-se como construtores de camas tradicionais; demonstrando experiência previa na actividade. Determinar-se-á uma quantidade de pessoas permitidas para extrair troncos do mangal e desenvolver esta actividade nas aldeias próximas ao canal. Em nenhum caso pode existir mais de uma pessoa por quarteirão encarregada desta actividade. No caso de existir mais de uma pessoa, esta vai ser seleccionada pelo chefe de quarteirão, podendo mudar cada 2 anos.

A extracção de troncos para a elaboração de camas, deve ser interrompida no momento em que já não exista disponibilidade desta espécie na área destinada à extracção, tendo que esperar o ano seguinte para a abertura da seguinte zona de rotação. De qualquer modo, seguindo a normativa nacional, não estará permitido o corte de nenhuma árvore que tenha um diâmetro (DAP) inferior a 30 cm., pelo que ficará proibido o corte de caules principais com estas medidas e permitir-se-á somente o corte com medidas inferiores às dadas no caso de ramos laterais. Toda extracção madeireira destinada a este tipo de actividade será devidamente fiscalizada pelo CGRN, que encarregar-se-á de medir os diâmetros dos troncos extraídos.

Igual que no caso da extracção para a construção de quintais ou mobília, a extracção destinada à construção de casas de "pau a pique", será regulada mediante o registo das famílias que quiserem construir. O tempo estimado de duração de uma casa com essas características é de 7 a 10 anos, pelo que permitir-se-á a extracção para este tipo de construção em função do tamanho da casa que se quiser construir ficando sem direito à extracção até dentro de 6 anos. Para este tipo de extracção, somente será permitido o corte das árvores de mais de 30 cm. de diâmetro e que não pertençam à espécie Avicennia marina, destinada à elaboração de camas tradicionais.

Todas as novas famílias ou pessoas provenientes de fora (nenhuma das aldeias citadas anteriormente) que quiserem viver em Mecúfi, e portanto precisem da construção de uma nova casa, não terão a oportunidade de utilizar mangal para esta finalidade. Somente depois de 5 anos a viver nesta área poderão obter mangal para a construção duma casa nova ou reparar a casa antiga.

As casas novas a construir e ocupar por pessoas naturais de Mecúfi podem ser feitas de mangal se já passaram 6 anos desde a última extracção ou ainda não tiveram extraído. Se existe uma separação de família, a pessoa que fica em propriedade da antiga casa, continuará com o regulamento estabelecido, mas as pessoas que saem desta família poderão construir com mangal e dever-se-ão inscrever como "nova família" para que o CGRN poça gerir a extracção madeireira desta pessoa ou "nova família".

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Para todas aquelas actividades de extracção madeireira que não sejam destinadas à cozinha, é necessário indicar ao CGRN o ponto exacto onde realizou-se esta extracção. Deste modo, o CGRN poderá indicar às pessoas que quiserem retirar ramos secos para cozinha onde encontram-se estas exactamente, contribuindo assim a deixar o terreno limpo de ramos acumuladas que impeçam a correcta dispersão e assentamento dos propágulos e sementes de mangal. Nas zonas de intervenção por qualquer tipo de exploração comunitária ou em período de regeneração ou tratamento, fica proibido o acesso a qualquer pessoa de dentro ou de fora da comunidade sem uma devida autorização. Esta autorização será outorgada pelo CGRN. Esta medida contemplará áreas de exploração apícola, áreas de engorde de caranguejos, viveiros ou áreas que tem sido recentemente reflorestadas, assegurando, deste modo, o correcto desenvolvimento destas actividades sem a interferência de terceiros que possam causar deterioro a ditas áreas.

A forma de sancionar às pessoas encontradas praticando alguma actividade nas áreas delimitadas de protecção será mediante o pagamento de uma multa determinada pelo Distrito no acordo com o Comité de Gestão de Recursos Naturais e o CCP. Se a pessoa sancionada, não tiver possibilidades económicas para pagar esta multa, deverá realizar uma serie de trabalhos para a comunidade relacionados com a protecção do meio ambiente e determinados pelo Comité de Gestão de Recursos Naturais. De qualquer modo, esta pessoa receberá uma serie de palestras de sensibilização sobre a importância da protecção do ecossistema de mangal de obrigatória assistência, da qual encarregar-se-á o CGRN. Terá diferentes sanciones segundo a actividade na que encontre-se envolvido o infractor. Estas sanções devem ser estabelecidas previamente pelo Distrito de Mecúfi e o Comité de Gestão de Recursos Naturais.

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8.2. BOAS PRÁTICAS PESQUEIRAS

Para poder chegar a uma extracção sustentável dos recursos pesqueiros é imprescindível deixar a um lado todas aquelas práticas abusivas observadas frequentemente no canal de Mecúfi. As regulações que aqui vão se expor, devem ser geridas principalmente por o CCP de Mecúfi com apoio dos CGRN na fiscalização.

Primeiramente, o mais importante é a proibição da pesca com qualquer rede de malha pequena. Ficando assim proibido qualquer tipo de extracção com redes mosquiteiras, capulanas ou sacos. Deve-se compreender que a pesca com este tipo de redes, não é de nenhuma forma selectiva, pelo que capturam-se todo tipo de tamanhos de peixe e camarões. Este tipo de prática, interrompe o ciclo biológico de muitas espécies, impedindo a reprodução normal destas, pelo que se reduz exponencialmente a quantidade de adultos capturáveis num futuro. Mesmo assim, aqueles camarões ou caranguejos encontrados com ovos nas suas extremidades, devem ser devolvidos à agua depois da captura, permitindo assim a possibilidade de se reproduzir. É proibida também a pesca com qualquer tipo de substância tóxica ou explosivos, já que tratam-se de práticas não selectivas e muito prejudiciais para o meio ambiente.

Devido à grande quantidade de espécies diferentes de peixes, camarões e caranguejos encontrados no canal, não foi possível estabelecer neste documento um tamanho mínimo de captura para cada espécie, mas se expõem a continuação uma serie de medidas que vão assegurar a pesca de indivíduos adultos de modo a permitir, realizarem seu ciclo de vida completo.

Segundo o Regulamento Geral da Pesca Marítima, em seu artigo 43, é proibido o uso de uma rede de cerco menor de 1,8 cm de malha. Ademais, em seu artigo 44, proíbe a pesca com este tipo de rede em baias ou estuários com embarcações semi-industriais ou industriais. Deste modo, a pesca de cerco artesanal pode ser feita no canal de Mecúfi, sempre que esta medição de malha seja igual ou superior ao que diz o citado artigo, e sejam usadas como máximo, as embarcações artesanais.

Quanto à pesca de arrasto sem embarcação e para terra, o tamanho mínimo de malha permitido pelo mesmo regulamento, em seu artigo 33, é de 3,8 cm. Deste modo, se proíbe qualquer tipo de arrasto a bordo ou a motor.

A pesca com qualquer tipo de armadilhas será regulada, sendo obrigatório um afastamento de 2,5 cm entre cada um dos ramos que a conformam. A colocação de estas armadilhas/barragem, deve ser gerida pelo CGRN, e a captura deve ser obrigatoriamente feita por alguma associação de pesca e não repetida mais de três vezes por semana.

Não existirá regulação específica sobre a pesca com linha de mão, que será permitida ao longo de todo o canal, podendo existir num futuro algum tipo de restrição quanto ao número de anzóis, seu tamanho ou distâncias entre eles. Também existe tolerância para a pesca com arpão sempre que não seja usado nenhum tipo de dispositivo para respiração artificial e não sejam pescados indivíduos fêmeas e com ovos a simples vista.

Além de todas estas boas práticas, propõem-se fazer algumas estratégias para ter um tipo de pesca mais racional:

a) Áreas de pesca rotativas: Com os estudos realizados em parceria com UNILURIO, determinaram-se aquelas áreas com mais frequência de capturas, que ao mesmo tempo, são as áreas onde as pessoas tem mais costume de ir para obter capturas.

Estas áreas, como já foi falado anteriormente são 4, nomeadamente desde o ponto mais próximo ao mar até o mais próximo à estrada, Mangala, Uchanga, Wichei e Polopowe. Com a estratégia das áreas rotativas de pesca, propõe-se fazer pequenas áreas de defeso de 3 meses de duração cada uma, ficando assim, proibida a pesca em uma área e sendo permitida nas outras. Deste modo, vai ser possível ter áreas naturais de crescimento de indivíduos. b) Épocas de defeso: Com os estudos feitos no presente documento, não foi possível determinar uma época específica de defeso de pesca por reprodução dos peixes e camarões. São muitas as espécies encontradas no canal e somente estudou-se o ciclo de vida das 4 espécies mais frequentes no canal nos meses de Janeiro e Fevereiro de 2012. No entanto, fizeram-se entrevistas à população e determinaram-se o ciclos biológicos aproximados em função das respostas feitas pela comunidade.

A maioria das espécies de peixe capturáveis em este canal, tem um pico máximo de tamanho nos meses desde Novembro até Março. Deste modo, recomenda-se estabelecer um defeso na pesca nos meses prévios para permitir o correcto crescimento dos indivíduos.

Igualmente, é conhecido, que muitos de estes peixes, remontam a corrente ate as partes finais do canal para depositar seus ovos. É por isso, que recomenda-se pescar com rede entre os meses de Novembro até Janeiro, somente quando a maré este a baixar, permitindo assim aos peixes entrar até o final do canal, depositar seus ovos e ser capturados na descida ate o mar de novo.

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8.3. ÁREAS DE CORTE ROTATIVAS

Como não se trata de uma extensão de floresta de mangal excessivamente grande, propõe-se delimitar a área em pelo menos 10 secções. Deste modo, com ciclos anuais de rotação todas as áreas teriam um ciclo de 9 anos sem ser exploradas para extracção de madeira.

Estas áreas rotativas devem ser determinadas tanto pelo distrito, como pelos Comités de Gestão de Recursos Naturais, de modo que tenham-se umas áreas que ocupem um número de hectares similares e possuam diferentes espécies de interesse para sua extracção, isso é, pelo menos indivíduos de Avicennia marina para a fabricação de camas tradicionais e indivíduos de Ceriops tagal para a construção de quintais e construções menores.

Estas áreas podem-se mudar, pois devido aos incrementos populacionais e o incremento na extracção madeireira que isso supõe e tendo em conta as actividades de extracção ilegais que seguramente produzam-se, é possível que seja necessário incluir alguma modificação no tamanho e número destas áreas.

Este ponto é provavelmente o mais controvertido e complicado de todas as propostas que aqui expõem-se, pois, um incorrecto manejo destas áreas poderia supor a rápida extinção do mangal. Por isso, é importante a constante revisão e seguimento destas áreas e o nível de regeneração e de corte do mangal nestas e outras áreas.

Para a delimitação das áreas de forma entendível pela comunidade, se poderiam tomar como pontos de divisão alguns caminhos chaves e sinalizações visuais numeradas. Propõe-se, portanto, a delimitação de cinco áreas de corte na margem norte e outras cinco na margem sul.

Segundo as entrevistas populares que tem se feito, o tempo médio aproximado que demoram as pessoas em chegar aos lugares onde cortam é de 30 minutos. Por isso, embora algumas áreas ficarem mais afastadas das comunidades, não significaria um aumento excessivo no tempo destinado em ir extrair madeira. Desde qualquer ponto de qualquer das comunidades até o ponto mais distante do mangal não existem mais de 45 minutos caminhando, pelo que o acesso às áreas de corte não seria um problema grave e o cruze do canal pode-se fazer sempre nos momentos de marés vivas a pé quando o nível da água seja baixo.

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8.4 REFLORESTAMENTO E FLORESTAMENTO DE MANGAL

Para a recuperação das áreas onde observou-se perdida de cobertura da floresta de mangal devido às diferentes actividades que o homem tem desenvolvido nesta área, pode ser levar a cabo uma estratégia de recuperação da floresta mediante reflorestamentos estratégicos em diferentes pontos.

Para isso, e mediante as normas de ordenamento propostas para as salinas situadas nas áreas de crescimento natural de mangal, serão feitos diferentes tipos de reflorestamento do mesmo, com as espécies que deveriam crescer naturalmente nestas áreas.

Aquelas salinas abandonadas ou em desuso no momento de entrada em vigor da presente proposta, terão um prazo de um ano para desenvolver algum tipo de actividade; do contrário passarão a formar parte da estratégia de recuperação do ecossistema de mangal proposta no presente documento.

A primeira intervenção que se deve realizar uma vez seleccionadas estas áreas como áreas a reflorestar, será derrubar a barragem de areia de delimitação das salinas que ainda continuem alçados nestas áreas, pois, interrompem o correcto fluxo da água. No caso de se tratar de uma barragem demasiado grande e as dificuldades para seu derrube sejam altas, podem-se abrir brechas estratégicas que permitam a passagem da água até os antigos tanques.

Depois de recuperado o ciclo hídrico na zona, é necessário fazer um corte daquelas plantas invasoras de rápido crescimento que impediram o correcto estabelecimento das plantas de mangal na zona a reflorestar. Este corte pode-se fazer manualmente com ferramentas tradicionais, além disso, remover o solo ajudará a tornar leve o mesmo e facilitará a tarefa de semear propágulos ou plântulas.

Quando se tratar de uma zona desflorestada faz pouco tempo, e que tem muitos restos de raízes que não podem ser extraídas manualmente, pode-se fazer um reflorestamento entre as mesmas. Embora o assentamento provavelmente seja pior que se não existissem estas raízes e a densidade obtida seja inferior à desejada, com o passar do tempo, as raízes, mediante sua decomposição, vão ganhar grande quantidade de nutrientes ao solo, e se a gestão controlada das áreas reflorestadas resulta efectiva, a regeneração natural estará assegurada.

No mapa 6 mostram-se as áreas onde naturalmente deveria existir mangal e no entanto tem sido desflorestadas e exploradas para produção de sal. Muitas destas áreas foram exploradas faz já muito tempo e se encontram num estado de abandono, de transição ou deterioro, tal, que não aproveita-se nenhum recurso e no entanto não permite-se a regeneração natural do mangal, seja pela perda do ciclo hídrico ou por deterioro das condições do solo, ou porque o responsável da parcela não permite o estabelecimento dos propágulos. Estas áreas, serão seleccionadas em função do estado de abandono, legalização das terras ou exploração que está a ser levada a cabo, com a intenção de recuperar pouco a pouco aquelas áreas que considerem-se como definitivamente abandonadas ou desaproveitadas.

Em função dos parâmetros físicos, nestas áreas que foram desflorestadas na antiguidade, podem-se fazer reflorestamentos directos mediante propágulos, mas também é possível em certas áreas, elaborar reflorestamentos mediante uma etapa previa das plantas em viveiro.

Para a determinação de áreas onde é possível um reflorestamento directo, é preciso ter em conta os seguintes factores, que são determinantes no correcto desenvolvimento das plântulas:

- Ser uma área inundável com um nível de água inferior a 1,5 m;- Sem mudanças drásticas nos níveis de inundação;- Com uma força das correntes suave para evitar arrasto das plântulas (solucionável mediante diferentes técnicas de plantio);- Preferência de áreas com vestígios de ter existido mangal;- Verificar se trata-se de uma área onde se acumularam sedimentos que impediram a entrada da água ou possam causar danos às plântulas.- Comprovar se é uma área sem perturbações externas, tais como presença de gado, pisado intensivo, veículos...- Salinas em desuso ou abandonadas;- Possíveis áreas de corte intenso de mangal.

De qualquer modo, algumas espécies não podem ser semeadas de forma directa, e se à hora de determinar a espécie a reflorestar, tratara-se de uma destas espécies que não produzem propágulos, será necessária obrigatoriamente a intervenção mediante o uso de viveiros.

Todas as áreas reflorestadas serão consideradas como "de protecção total" durante os seguintes 10 anos, de modo que não poderão formar parte de nenhuma das áreas rotativas até que as plantas semeadas não estejam estabelecidas adequadamente na terra. Antes de incluir estas zonas de reflorestamento nas áreas de corte rotativas, será feita uma análise para avaliar o estabelecimento destas plantas, considerando se é possível a adesão à área ou desestimando-a.

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Durante o processo de assentamento das plantas trás o reflorestamento (tanto directo como indirecto) será necessário fazer um seguimento às plantas, medindo um número determinado das mesmas cada semana e avaliando o crescimento, patologias e mortalidade destas, a se poder intervir na zona mediante um apoio na sementeira se for necessário. Com este procedimento, vai se aprender dos erros cometidos podendo assim arranjá-los em reflorestamentos futuros.

Mesmo assim, existem entre a floresta de mangal, algumas áreas vazias onde estudaram como possíveis áreas válidas para fazer florestamento de mangal. Segundo os resultados obtidos, estas áreas despovoadas na margem sul podem ser válidas tanto para florestamentos directos como para florestamentos através de viveiros, sendo sempre melhor a intervenção com plantas provenientes dos viveiros. No entanto, na margem norte do canal, embora tendo existido alguns resultados positivos com o florestamento directo, praticamente todas as pesquisas feitas nesta área fracassaram. Isso pode ser possível por um excesso na salinidade desta área ou devido ao pouco nível de inundação, o que provoca um aquecimento excessivo das águas nestas áreas. As pesquisas feitas nestas áreas mediante reflorestamento directo, foi mais positiva quando foram cobertos os sementes com sombreado antes de produzir a folha.

Para os florestamentos destas áreas vazias na floresta de mangal, e embora sendo preciso um estudo mais detalhado, é recomendável, cobrir esta área com sombreado e semeá-las em uma semana de marés vivas, para receber a chegada da água durante os primeiros dias, o que facilitaria o enraizamento dos propágulos e incrementaria as possibilidades de crescimento.

Contudo, sempre é importante fazer os reflorestamento a coincidir com a época das chuvas, pois a chegada de água doce é importante para o melhor assentamento dos propágulos e plantas no terreno. Isto é importante, já que a presente floresta de mangal somente recebe água doce durante este período de chuvas.

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8.5. COOPERATIVAS, ASSOCIAÇÕES E INICIATIVAS

a) Cooperativa apícola

Uma das actividades observadas em Mecúfi como potenciais para desenvolver uma rede de ingressos económicos nas comunidades é a extracção de mel. Actualmente, esta actividade desenvolve-se de forma esporádica e informal. Algumas pessoas da comunidade dedicam-se a localizar e retirar favos de mel que encontram coligados nas árvores ou dentro de buracos.

Trata-se de uma actividade de subsistência, pois, os benefícios da venda não são altos como para aumentar significativamente o ingresso familiar. Ao mesmo tempo, o método de extracção de mel consiste em afugentar à abelhas e arrancar toda a colmeia, para depois extrair o mel que contem. Esta técnica é bastante prejudicial, pois a colmeia desintegra-se, morrendo uma grande quantidade de indivíduos.

A apicultura, precisamente, consiste num manejo de colmeias de abelhas sem que estas sejam danadas, podendo obter uma produção de mel mais alta que a obtida mediante o método tradicional de extracção e de uma forma mais segura tanto para o extractor como para a colmeia.

A introdução de colmeias no mangal significaria uma implicação em alguma actividade económica que incentive o desenvolvimento local e ao mesmo tempo supõe um método para ajudar à polinização do mangal. Em diversos pontos de Moçambique já se está a implementar este tipo de apicultura de mangal com óptimos resultados. A espécie Avicennia marina é conhecida por produzir flores ricas em néctar, que uma vez transformado em mel tem um sabor e textura muito agradável.

O cooperativismo mediante apicultura familiar, foi demonstrado como beneficio para a floresta de mangal, pois não somente da um veículo para a polinização, mas que indirectamente protege aquelas zonas onde implementem-se as colmeias. As abelhas africanas são conhecidas em todo o mondo como árduas protectoras de seu território, e impedirão a toda costa que desenvolva-se qualquer tipo de actividade neste. É importante colocar estrategicamente as colmeias para não causar danos às comunidades, evitando caminhos ou áreas muito transitadas.

Para o desenvolvimento desta actividade, é necessário seleccionar um grupo de beneficiários que já estiverem familiarizados com o manejo das abelhas; para isso, seria preciso reunir às pessoas que se dediquem actualmente à extracção de mel. Além de se tratar de pessoas que estão familiarizadas com o risco que supõe trabalhar com abelhas, tem a avantajem de saber extrair o mel das colmeias, pelo que o trabalho de capacitação seria mais simples.

Como acontece com o Comité de Gestão de Recursos Naturais, (explicado posteriormente) é importante organizar antes de mais nada, palestras sobre cooperativismo, pois, tem se observado na zona, que as cooperativas que já existem, como no caso das cestarias, não actuam como tal. Existe uma competência entre os próprios membros chegando inclusive a ter variações de preços nos mesmos produtos em função do fabricante.

Deve-se ter em conta que Mecúfi é um Distrito bastante afastado. A venda dos produtos obtidos nas comunidades não terá uma saída adequada para motivar ao produtor no próprio distrito. Por isso, dever-se-ia fazer um estudo de mercado para conhecer as possibilidades reais da venda destes produtos comunitários na cidade de Pemba. Sem o interesse da cidade por estes produtos, a actividade poderia deixar de ser rentável para o produtor.

Esta actividade precisa de requisitos mínimos para funcionar. Para a implementação das colmeias deve-se procurar um terreno que não seja muito próximo de machambas, onde pratiquem-se queimadas habitualmente, pois, as abelhas fogem com o fumo, e abandonariam as colmeias rapidamente. Além disso, é importante a disponibilidade de água doce próxima, pois, sem ela, as abelhas não podem desenvolver uma colmeia sana e produtiva. Devem-se fazer revisões periódicas da saúde das colmeias, pois, é conhecido que este insecto é muito vulnerável a enfermidades causadas por parasitas.

Foto 10. Colmeia desenhada para mangal nos projectos de AMA em Quirimbas.

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O desenho das colmeias deve ser específico para a área onde vai se implementar. Deve-se ter em conta que se trata de uma zona inundável e, por tanto, é possível que a água chegue a certa altura, pelo que tem que ser confirmada a altura do nível de maré nesse ponto.

Outro dos problemas encontrados para a implementação desta actividade é a presença das formigas de mangal, que colonizam muitas árvores e gostam muito do doces como a mel. No entanto, é fácil de solucionar colocando nas patas da colmeia uns recipientes onde por água ou óleo que impeça a subida das formigas (Foto 10).

b) Cooperativa de engorda de caranguejo

Outra das actividades que observou-se como potencialmente desenvolvível na zona é o engorde e venda de caranguejo de mangal Scylla serrata. (Foto 11)

Foi comprovado que existe esta espécie na floresta de mangal de Mecúfi, que é abundante e que existem algumas pessoas que por encargo dedicam-se à extracção do mesmo. Actualmente, o preço de venda deste produto é bastante baixo, pois, a venda somente se realiza a nível comunitário por 20 meticais aproximadamente. No entanto, mediante um adequado estudo de mercado e vindo as possibilidades da venda do produto em Pemba, poder-se-ia aumentar o preço do produto. Todavia, este caranguejo pode ser transportado sem nenhum tipo de tratamento, aguentando com vida alguns dias sem necessidade de água.

Em muitas partes do mundo, principalmente em Ásia, este caranguejo é apreciado pelo sabor de sua carne, alcançando as vezes preços bastante altos em função da qualidade do mesmo.

Em alguns pontos de Moçambique fizeram-se já cooperativas de engorde deste caranguejo, de modo que podem-se extrair da natureza alguns indivíduos grandes que posteriormente, encerrados individualmente em jaulas de madeira, e alimentados com vísceras de pescado ou pensos, podem ate duplicar seu peso, aumentando, portanto, seu preço. Estas extracções da natureza devem-se realizar de maneira controlada, não convertendo esta actividade em algo expansivo. Recomenda-se capturar somente indivíduos macho e com um comprimento de carcaça mínima de 10 cm. (o indicado como correcto pelo regulamento geral de pescas marítimas).

O processo de engorda de caranguejo é simples e facilmente manejável comunitariamente. Uma cooperativa formada por pessoas que já tenham contacto com este animal e conheçam como capturá-lo, poderia ajudar a potenciar o desenvolvimento económico comunitário.

Para o desenvolvimento desta actividade, é necessário escolher áreas adequadas para este propósito; é dizer, que tenham suficiente quantidade de lodo para que os caranguejos possam se aterrar e assemelhar as condições em cativeiro às que teriam em liberdade. Além de isso, é importante contemplar as possibilidades que existem de que os caranguejos que se encontrem nas caixas sejam subtraídos por outros membros da comunidade. Por isso, deveriam ser áreas de acesso medianamente difíceis e algo recônditas para que não seja de conhecimento popular o lugar onde está a se desenvolver tal actividade. A motivação para a cooperativa é muito importante, e este tipo de sucessos podem acabar com o interesse do grupo pelo desenvolvimento desta actividade.

Igual que no caso da apicultura, seriam necessárias capacitações prévias sobre cooperativismo, através delas, poderiam ser já capacitados para o desenvolvimento desta actividade.

No mapa 7, mostram-se aquelas áreas que poderiam ser validas para a implementação de estas actividades.

Foto 11. Mud Crab. Scylla serrata. Fonte: Clive Keenan, 1999

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c) Viveiros comunitários de peixe

Existem diferentes estratégias de multiplicação de peixes e camarões dentro de canais que fornecem aos ecossistemas de mangal. Uma destas estratégias e a criação de um labirinto para capturar parte dos peixes que circulam pelo canal, ficando somente os que tem um certo tamanho cerrados numa gaiola de grandes dimensões onde possam crescer e inclusive ser alimentados pela comunidade para a engorda dos mesmos.

O desenho deste labirinto tem uma entrada ao mesmo, que não ocupa toda a largura do canal, de modo que alguns peixes na sua passagem pelo canal, entram dentro do labirinto e outros continuam por o seu caminho ate outros pontos do canal. O material de construção pode ser bambu, sempre que exista disponibilidade deste material. Se não, pode-se desenhar com outro material que tenha em abundância a comunidade. Entre cada estaca de bambu, deve existir uma separação de pelo menos 2 cm. para que os peixes pequenos possam passar por meio destes espaços. Deste modo, os peixes que entram na gaiola, podem deixar seus ovos nas raízes do mangal sem interromper o ciclo biológico de reprodução. Mesmo assim, os juvenis que nascem podem sair entre os bambus para ir até o mar.

Esta gaiola pode ser aproveitada de uma forma temporal, sendo por exemplo explorada por diferentes grupos de pessoas que sejam encarregadas da alimentação dos peixes, e do mantimento, da construção do labirinto e gaiola. Para comprovar o tamanho dos peixes que existem dentro da gaiola, podem se fazer capturas de seguimento, podendo assim, finalmente, capturar um grande número de peixes de grande tamanho ao mesmo tempo. Ou, podendo ser uma área de armazenagem de peixes vivos para a comunidade, que sejam extraídos pouco a pouco, podendo assim, não precisar de comprar peixes aos revendedores, e captura-los de forma fácil e possuir sempre que fora necessário, peixe fresco para as famílias.

É recomendável não fazer as capturas com redes tipo mosquiteira nem de malhagem pequena, pois, deste modo, podem-se apanhar peixes pequenos, retomando o problema inicial da insustentabilidade pesqueira. Durante o tempo que os peixes estejam capturados na gaiola, pode-se aportar nutriente para a engorda dos mesmos, podendo estes obter um tamanho muito grande em pouco tempo. Os nutrientes podem ser farinhas misturadas com restos de outros peixes.

d) Iniciativa de viveiros de materiais alternativos de construção

Um dos motivos pelos que se extrai madeira do mangal para a construção de diferentes estruturas é a escassez de outros materiais e madeiras locais. Segundo entrevistas à população, antigamente havia abundância de bambu e outras espécies locais. No entanto, a extracção incontrolada destas tem obrigado às comunidades a ter que realizar deslocamentos cada vez mais longos para poder obtê-lo, de modo que o produto foi encarecido e as pessoas recorrem ao mangal para a construção, cortando-o também insustentavelmente e produzindo a situação actual.

Propõe-se a criação de viveiros comunitários de bambu e de coqueiros, ambas plantas de rápido crescimento, e com um corte que pode-se gerir facilmente para a utilização da madeira que produzam na construção de casas e estruturas. Com esta iniciativa, diminuir-se-ia a extracção de mangal e fornecer-se-ia de materiais de construção alternativos à comunidade.

O encarregado da gestão destes viveiros seria o Comité de Gestão de Recursos Naturais, que junto com o governo forneceria à população de materiais, levando um rigoroso controle das quantidades requeridas por cada família, de forma semelhante ao explicado nas regulações de corte.

Igualmente aos lugares para implementar estes viveiros deveriam ser em áreas onde confirme-se que já existiu bambu e que sejam aprovados e decididos entre o governo e a comunidade.

No caso do coqueiro, além de criar um viveiro, poderia se plantar um por cada casa, e deste modo facilitar o acesso aos materiais que este produz. O maior problema neste caso é a enfermidade do amarelecimento letal do coqueiro, muito frequente na região e que poderia causar uma alta mortalidade do mesmo.

Fig 23. Exemplo da estrutura do viveiro comunitário de peixe.

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8.6 ORGANIZAÇÃO DOS COMITÉS DE GESTÃO DE RECURSOS NATURAIS

Tendo em conta a existência dos CCP, que estão a fazer um trabalho melhor cada ano no sentido da fiscalização das pescas tanto na alta mar como dentro do canal de Mecúfi, determinou-se potenciar os trabalhos que eles estão a fazer com esta organização dos CGRN na área de influência do ecossistema de mangal.

Actualmente, existem em Mecúfi alguns destes comités; no entanto, estão descentralizados e distribuídos por aldeias. Suas actividades, em alguns casos, tem uma função proibitiva e não propõem nenhum tipo de actividade alternativa, nem manejo sustentável do meio ambiente. Segundo testemunhos pessoais, a motivação é baixa, pois não tem nenhum tipo de autoridade e existem ocasiões em que a própria comunidade não tem em consideração suas indicações.

No presente documento, propõe-se centralizar estes comités e formar um grupo de pessoas que formem parte das aldeias adjacentes ao ecossistema de mangal. Desde uma construção que sirva tanto de centro de reunião, como de armazém, e de aula para capacitações, far-se-á funcionar neste colectivo, que é considerado o ponto de partida para que todas as propostas sugeridas anteriormente funcionem e sejam auto-geridas comunitariamente. É primordial dotar a estas pessoas de conhecimentos básicos sobre a importância do ecossistema de mangal para suas comunidades. Para isso, serão necessárias uma serie de capacitações e palestras de sensibilização enfocadas a ser replicados num futuro, pois, estas pessoas serão as encarregadas de transmitir estes conhecimentos a toda a comunidade. Para isso, a participação governamental e dos líderes de bairro e quarteirão é essencial, pois dariam o apoio necessário e ajudariam à emissão de mensagens a todos os níveis.

As funções do CGRN podem ser muito variadas; todas elas relacionadas com a protecção do meio ambiente, e são o eixo fundamental da gestão do plano de ordenamento. Sem este núcleo regulador, muitas das actividades poderiam correr o risco de cair na insustentabilidade ou desaparecer.

Suas tarefas principais descrevem-se nos seguintes pontos; no entanto, não tem por que ser seguidas ao pé da letra. Podem ser sujeitas a modificações que permitam o desenvolvimento das actuações sem desviá-las demasiado.

a) Sensibilização: A formação comunitária será contínua, e as campanhas de sensibilização deverão se integrar com o programa de educação das escolas, para que se realize, pelo menos, uma visita por ano por parte dos escolares ao centro do CGRN, onde deverão receber aulas de sensibilização ou realizar algum tipo de palestra que motive aos jovens a respeitar o meio ambiente.

A sensibilização como imposição a aquelas pessoas que se encontrem a realizar algum tipo de actividade restringida dentro de alguma área determinada, deve ser uma prática a seguir, pois, em muitos casos, o pagamento de uma multa não é garante de que este tipo de comportamentos não volte-se a repetir num futuro.

Contar-se-á no centro com um quadro, mesas, cadeiras e material suficiente para poder transmitir estas classes de sensibilização. Para isso, o governo deve apoiar com os materiais necessários para poder realizar este tipo de actividades, podendo posteriormente ser auto financiado com as colecções obtidas da comunidade, embora espera-se que, sejam poucas.

b) Vigilância: Embora o ideal seria que este tipo de actividade não tivesse que se regular, o mais provável é que haja algumas pessoas das comunidades que não cumpram com o desenvolvido neste documento, de modo que o CGRN deverá elaborar turnos e rotas de vigilância para controlar a este tipo de pessoas.

A vigilância consistirá em realizar rotas diárias que devem ser variáveis para que não sejam publicamente conhecidas, deste modo, as pessoas encontradas realizando algum tipo de actividade não permitida, serão registados e sancionados.

Neste plano não foram detalhadas especificamente as sanções, no entanto, uma das primeiras funções que o comité deve realizar, é a elaboração destas tabelas de sanções junto com o governo, decidindo o pagamento destas, seja dividido de forma que se possam obter recursos económicos para continuar com o funcionamento do próprio CGRN. Estas sanções, além de económicas, podem consistir em proibições de aproveitamento de recurso durante um tempo determinado.

Estudar-se-á cada caso, e aquelas pessoas que não puseram um nível económico suficiente para pagar estas sanções, deverão participar nas campanhas que esta levando a cabo o comité. Esta participação será decidida pelo próprio comité em função da actividade na que se encontre à pessoa sancionada. Igualmente, tenha ou não tenha que pagar alguma sanção, todas as pessoas encontradas realizando esta actividade devem assistir obrigatoriamente a uma aula de sensibilização que será preparada para a ocasião.

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O CGRN terá via livre para requisitar aquelas redes que não respeitem os tamanhos sugeridos pelo presente documento, e daqueles aparelhos que o comité considere prejudiciais para a sustentabilidade do ecossistema de mangal. Mesmo assim, confiscarão a madeira extraída em áreas que não estiverem abertas à extracção ou de tamanhos não permitidos no plano; a qual será utilizada para construções que o comité determine, sempre e quando tenham um uso público.

Estas redes confiscadas poderão servir para ser usadas em futuras palestras, onde poder-se-á aumentar o tamanho da malha e podendo ser oferecida como incentivo às pessoas que assistam voluntariamente às campanhas de sensibilização. Aquelas redes que não possam ser modificadas a tamanhos mais grandes, como as redes mosquiteira, serão aproveitadas em outras actividades como as paredes dos viveiros de mangal ou delimitações das zonas reflorestadas, podendo servir como cercas para impedir a passagem de pessoas e/ou animais.

c) Gestão das cooperativas: O centro de reunião dos membros das cooperativas, será o mesmo centro do CGRN. Neste lugar se armazenarão os materiais necessários para desenvolver as actividades, e far-se-ão planificações mensalmente para organizar os encontros que necessite cada cooperativa.

Desde aqui, controlar-se-á o número de membros de cada cooperativa, discutir-se-ão os problemas e propor-se-á a entrada ou saída de membros em função do desenvolvimento da actividade. É importante manter sempre um número de pessoas limitado para que a actividade funcione sustentavelmente. Uma excessiva exploração de qualquer actividade seria o desequilíbrio e descontrole dos recursos de modo que poderia ser prejudicial para o ecossistema.

Uma parte dos benefícios das cooperativas, irão parar na caixa comum do CGRN, o qual servirá para comprar material e dar sustentabilidade às actividades das cooperativas.

d) Gestão das áreas rotativas de corte: Uma vez determinadas as áreas de corte junto com o governo distrital, os CGRN serão os encarregados de anunciar com tempo suficiente o momento no que iniciar-se-á a rotação duma área até outra, deixando uma margem de um mês de transição no que será permitido o corte em ambas áreas para aquelas pessoas ás que não foram dadas correctamente ou fora do tempo a informação.

Igualmente, o comité encarregar-se-á de dirigir às pessoas que quiserem cortar, e em função das necessidades indicarão a eles as normas a seguir para extrair madeira adequadamente.

Elaborar-se-á uma lista daquelas pessoas e famílias que encontrem-se a extrair madeira cada dia e o uso que vai se dar a esta, de modo que fique registada a quantidade de madeira que extrai cada pessoa ou família. Controlando, segundo o explicado no ponto das regulações, as necessidades de extracção de cada família. Também estudarão aqueles casos especiais em que alguma família requeira extrair mais do permitido, podendo aceitar ou declinar a petição.

e) Campanhas de reflorestamento: Serão os encarregados de controlar as parcelas ocupadas por salinas ou desflorestadas e sem nenhuma ocupação. Deste modo, e quando finalizem os prazos propostos pelo presente documento, enviar-se-á uma notificação ao governo para que conceda licença para reflorestar a área. Para este tipo de campanhas de reflorestamento duma área, seguimento e protecção da mesma, contar-se-á com a participação, tanto de pessoas voluntarias da comunidade como de pessoas que tenham sido encontradas a realizar alguma actividade não permitida e não tenham ingressos suficientes como para pagar a sanção que se imponha para eles.

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74

10. ANEXOS

• Resultados completos do mapeamento de degradação

Point > 3 m 1,5-3 m Cepos Total % Adulto % Reg. % Cepos807 0 21 55 76 0 27,63 72,3743 0 125 115 240 0 52,08 47,92

808 0 69 149 218 0 31,65 68,3544 0 192 277 469 0 40,94 59,0646 0 15 410 425 0 3,53 96,47

831 0 102 188 290 0 35,17 64,83832 0 97 374 471 0 20,59 79,41833 0 126 249 375 0 33,6 66,4256 0 75 282 357 0 21,01 78,9930 1 53 16 70 1,43 75,71 22,8632 1 199 30 230 0,43 86,52 13,0412 1 61 105 167 0,6 36,53 62,8745 1 151 150 302 0,33 50 49,67

830 1 46 79 126 0,79 36,51 62,7836 1 164 169 334 0,3 49,1 50,6864 1 104 237 342 0,29 30,41 69,3261 1 75 88 164 0,61 45,73 53,66279 1 83 203 287 0,35 28,92 70,7336 2 251 124 377 0,53 66,58 32,89

810 2 66 133 201 1 32,84 66,1747 2 74 322 398 0,5 18,59 80,9

835 2 220 82 304 0,66 72,37 26,97866 2 179 142 323 0,62 55,42 43,96

6 2 81 190 273 0,73 29,67 69,663 2 92 31 125 1,6 73,6 24,835 3 101 43 147 2,04 68,71 29,2540 3 24 50 77 3,9 31,17 64,94

834 3 93 203 299 1 31,1 67,89863 3 52 18 73 4,11 71,23 24,66248 3 145 236 384 0,78 37,76 61,4662 3 252 71 326 0,92 77,3 21,7837 4 4 0 8 50 50 033 4 34 69 107 3,74 31,78 64,49

829 4 12 11 27 14,81 44,44 40,74839 4 103 175 282 1,42 36,52 62,06275 4 134 141 279 1,43 48,03 50,54247 4 32 114 150 2,67 21,33 76

8 4 116 114 234 1,71 49,57 48,7264 4 171 287 462 0,87 37,01 62,1265 4 238 162 404 0,99 58,91 40,118 5 8 1 14 35,71 57,14 7,1487 5 48 221 274 1,82 17,52 80,66

254 5 48 221 274 1,82 17,52 80,661 5 125 63 193 2,59 64,77 32,64

66 5 151 220 376 1,33 40,16 58,5161 5 81 41 127 3,94 63,78 32,285 6 60 7 73 8,22 82,19 9,59

811 6 48 33 87 6,9 55,17 37,9331 6 43 108 157 3,82 27,39 68,79

253 6 65 160 231 2,6 28,14 69,26257 6 113 193 312 1,92 36,22 61,8615 7 9 0 16 43,75 56,25 0

Page 77: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

75

[parte trasera de la bibliografía]

41 7 14 5 26 26,92 53,85 19,2322 7 90 54 151 4,64 59,6 35,7648 7 113 160 280 2,5 40,36 57,1442 7 6 9 22 31,82 27,27 40,91

843 7 201 123 331 2,11 60,73 37,16263 7 76 96 179 3,91 42,46 53,63276 7 73 170 250 2,8 29,2 68255 7 104 79 190 3,68 54,74 41,58216 7 26 33 66 10,61 39,39 5053 7 40 3 50 14 80 6

809 8 42 20 70 11,43 60 28,5727 8 40 58 106 7,55 37,74 54,72

837 8 89 90 187 4,28 47,59 48,13277 8 88 173 269 2,97 32,71 64,31281 8 32 14 54 14,81 59,26 25,93249 8 68 111 187 4,28 36,36 59,36218 8 28 48 84 9,52 33,33 57,14814 9 26 14 49 18,37 53,06 28,5749 9 61 165 235 3,83 25,96 70,2111 9 76 186 271 3,32 28,04 68,63

865 9 104 135 248 3,63 41,94 54,44274 9 188 105 302 2,98 62,25 34,77258 9 144 208 361 2,49 39,89 57,6268 9 216 29 254 3,54 85,04 11,4216 10 13 9 32 31,25 40,63 28,13

842 10 90 36 136 7,35 66,18 26,4789 10 123 304 437 2,29 28,15 69,57

278 10 48 102 160 6,25 30 63,75283 10 48 16 74 13,51 64,86 21,62

7 10 20 103 133 7,52 15,04 77,449 10 72 97 179 5,59 40,22 54,194 10 35 30 75 13,33 46,67 40

67 10 132 45 187 5,35 70,59 24,0638 11 8 7 26 42,31 30,77 26,9224 11 73 49 133 8,27 54,89 36,8414 11 34 105 150 7,33 22,67 7029 11 104 119 234 4,7 44,44 50,85

840 11 121 129 261 4,21 46,36 49,43841 11 58 35 104 10,58 55,77 33,65282 11 53 131 195 5,64 27,18 67,18217 11 16 13 40 27,5 40 32,510 11 2 5 18 61,11 11,11 27,7852 11 50 87 148 7,43 33,78 58,78

870 12 45 74 131 9,16 34,35 56,4957 12 13 3 28 42,86 46,43 10,7120 12 127 123 262 4,58 48,47 46,9539 13 4 4 21 61,9 19,05 19,05

812 13 60 7 80 16,25 75 8,752 13 142 142 297 4,38 47,81 47,81

17 13 25 9 47 27,66 53,19 19,1550 13 39 44 96 13,54 40,63 45,8313 13 125 18 156 8,33 80,13 11,5421 14 10 5 29 48,28 34,48 17,24

Page 78: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

76

813 14 71 10 95 14,74 74,74 10,5359 14 60 40 114 12,28 52,63 35,0926 14 81 57 152 9,21 53,29 37,556 14 33 30 77 18,18 42,86 38,96

273 15 79 66 160 9,38 49,38 41,25280 15 42 85 142 10,56 29,58 59,86

3 15 24 31 70 21,43 34,29 44,2951 15 2 2 19 78,95 10,53 10,5360 15 31 112 158 9,49 19,62 70,8925 16 61 38 115 13,91 53,04 33,0423 16 41 50 107 14,95 38,32 46,7319 16 86 113 215 7,44 40 52,5688 16 9 32 57 28,07 15,79 56,1428 16 116 54 186 8,6 62,37 29,0355 16 90 87 193 8,29 46,63 45,08

871 17 35 5 57 29,82 61,4 8,77262 17 24 65 106 16,04 22,64 61,32284 17 65 32 114 14,91 57,02 28,0790 18 54 73 145 12,41 37,24 50,34

285 18 17 16 51 35,29 33,33 31,3758 19 22 39 80 23,75 27,5 48,75

869 19 26 22 67 28,36 38,81 32,84264 19 84 28 131 14,5 64,12 21,37272 19 41 35 95 20 43,16 36,8458 19 123 75 217 8,76 56,68 34,5654 20 137 82 239 8,37 57,32 34,31

215 22 91 39 152 14,47 59,87 25,6634 23 26 33 82 28,05 31,71 40,24

867 30 121 87 238 12,61 50,84 36,55

Page 79: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

77

No.

DE

TRA

NSE

TO

ESPÉ

CIE

ALT

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PE

RÍM

ETRO

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DE

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1I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

2I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

3I

IIIII

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12

34

5I

IIIII

4I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

5I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

6I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

7I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

8I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

9I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

10I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

11I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

12I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

13I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

14I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

15I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

16I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

17I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

18I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

19I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

20I

IIIII

IVV

12

34

5I

IIIII

SALI

NID

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ostra

s

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PontoData

SexoBairro

EspécieDiâm

etro do m

olhoDiâm

etro m

edio dos paus

Numero de

pausCom

primento

do molho

Dias que demora en

gastarInervalo de días entre um

corte e

Numero de

pessoas na fam

ilia

Uso principalTipo de corte que realiza

Ferramenta

utilizadaAcceso

Tempo que

demora

611/11/2011

Mulher

Metacane

Ceriops tagal / 80

833

803

36

CozinhaRam

os secos já cortadosCatana

Caminho

306

11/11/2011M

ulherM

etacaneCeriops tagal /

8023

1680

34

3Cozinha

Ramos secos já cortados

CatanaCam

inho30

611/11/2011

Homm

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etacaneCeriops tagal

3737

1190

27

6Cozinha

CepoM

achadoCam

inho30

611/11/2011

Mulher

Metacane

Avicennia 150

1075

807

73

CozinhaRam

os secos já cortadosCatana

Caminho

302

07/11/2011Hom

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Muaria

-65

1613

70-

-4

SecadorCepo

CatanaCam

inho60

309/11/2011

Mulher

Metacane

Avicennia 50

1015

801

14

CozinhaRam

os secos já cortadosM

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inho5

107/11/2011

Mulher

Metacane

-123

-50

747

148

CozinhaRam

os secos já cortadosCatana

Caminho

601

07/11/2011M

ulherM

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70-

50180

-14

8Contrução

CepoCatana

Caminho

604

10/11/2011Hom

me

Muaria / 1º

-40

1030

185-

-5

ConstruçãoCepo

CatanaCam

inho40

510/11/2011

Mulher

Metacane

-180

-70

707

148

CozinhaRam

os secos já cortadosCatana

Caminho

607

11/11/2011Hom

me

-150

-30

200-

-10

ConstruçãoCepo

CatanaM

ato60

611/11/2011

Mulher

Metacane

Avicennia 120

818

9030

77

CozinhaRam

os secos já cortadosCatana

Caminho

309

28/11/2011Hom

me

Muaria

Ceriops tagal173

1292

1621 Ano

-4

QuintalCepo

CatanaCam

inho45

1029/11/2011

Mulher

Metacane

Avicennia 104

1346

823-4 dias

3-4 dias5

CozinhaRam

os secos já cortadosCatana

Caminho

3011

29/11/2011M

ulherM

etacane Ceriops tagal

13413

6978

6 dias6 dias

3Cozinha

Ramos secos já cortados

CatanaCam

inho40

1201/12/2011

Mulher

Metacane

Avicennia 85

1253

704-5 dias

4-5 dias5

CozinhaRam

os secos já cortadosCatana

Caminho

1613

02/12/2011Hom

me

SassalaneAvicennia

18030

6121

--

3Cam

a macua

Ramas y cepo

Maxado

Caminho

4014

02/12/2011Hom

me

SassalaneAvicennia

6822

4145

--

5Lavador de

Ramas

CatanaCam

inho30

1502/12/2011

Mulher

SassalaneAvicennia

7312

5780

20-40 dias5-6 días

5Cozinha

Ramos secos já cortados

CatanaCam

inho13

86205

58250

1602/12/2011

Homm

eM

etacane Bruguiera

7623 / 17 / 18

04/09/2011263

--

12Construção

CepoM

axadoCam

inho5

1705/12/2011

Mulher

Metacane

Ceriops tagal / 111

(6,7,16,18,9)70

803 dias

Ceremonia

4Cozinha

Ramos secos já cortados

Catana e Cam

inho15

1805/12/2011

Mulher

Metacane

Ceriops tagal46

(3,7,8,16,12,73

903 dias

Ceremonia

2Cozinha

Ramos secos já cortados

Maxado

Caminho

1519

05/12/2011M

ulherPem

baCeriops tagal

150(9,7,12,16,12

11797

3 diasCerem

onia6

CozinhaRam

os secos já cortadosM

axadoCam

inho15

2005/12/2011

Mulher

Pemba

Avicennia 92

(12,6,9,15,9,79

883-4 dias

Ceremonia

4Cozinha

Ramos secos já cortados

CatanaCam

inho15

2105/12/2011

Mulher

Metacane

Avicennia 97

(6,3,5,12,16)117

734 dias

Ceremonia

4Cozinha

Ramos secos já cortados

CatanaCam

inho15

2205/12/2011

Mulher

Metacane

Ceriops tagal / 147

(9,15,17,21,1132

993 dias

Ceremonia

3Cozinha

Ramos secos já cortados

Maxado

Caminho

1523

05/12/2011M

ulherM

etacaneCeriops tagal /

150(9,7,18,12,15

20180

1 - 2 diasCerem

onia8

CozinhaRam

os secos já cortadosM

axadoCam

inho15

2405/12/2011

Mulher

Metacane

Avicennia 120

(3,7,5,12,17,75

902-3 dias

Ceremonia

4Cozinha

Ramos secos já cortados

Maxado

Caminho

1525

05/12/2011M

ulherM

etacaneAvicennia

71(12,9,7,5,15)

5370

3-4 diasCerem

onia4

CozinhaRam

os secos já cortadosCatana

Caminho

1526

06/12/2011M

ulherM

etacaneCeriops tagal,

129(7,12,6,10,13

7670

3 días3-4 dias

3Cozinha

Ramos secos já cortados

CatanaCam

inho20

2706/12/2011

Homm

eM

etacane-

137(7,9,13,10,14

8975

5 dias5 dias

4Cozinha

Ramos secos já cortados

Maxado

Caminho

2028

06/12/2011M

ulherM

etacane-

150(9,13,18,10,1

20980

7 dias5-6 dias

4Cozinha

Ramos secos já cortados

Maxado e

Caminho

2029

08/12/2011Hom

me

Muaria

Ceriops tagal / 73

(15,11,7,18,836

165-

-4

Construção Cepo

CatanaCam

inho-

3009/12/2011

Homm

eSassalane

Ceriops tagal / 145

(7,5,9,13)80

805 dias

5 dias4

CozinhaRam

os secos já cortadosCatana

Caminho

4531

09/12/2011Hom

me

Sassalane-

130(4,7,11,9)

44174

--

7Construcção

CepoCatana

Caminho

4532

09/12/2011Hom

me

Sassalane-

121(6,4,10,14)

32197

2-3 anos-

5Construcção

CepoCatana

Caminho

-33

16/12/2011M

ulherSassalane

Avicennia 117

(12,9,7,15,5,131

805-6 dias

-6

CozinhaRam

os secos já cortadosCatana

Caminho

1834

19/12/2011M

ulherM

etacaneCeriops

140(17,10,6,9,14

163-12780

--

4Cozinha

Ramos secos já cortados

CatanaCam

inho17

3519/12/2011

Mulher

Metacane

Xylocarpus 113

(9,7,5,10,14,97-139

2003 dias

-2

CozinhaRam

os secos já cortadosCatana

Caminho

1836

20/12/2011M

ulherM

uariaAvicennia

132(9,7,11,12,16

15580

4 dias-

3Cozinha

Ramos secos já cortados

Maxado e

Caminho

1737

20/12/2011M

ulherM

uariaAvicennia

173(15,9,7,10,14

21180

5 dias-

3Cozinha

Ramos secos já cortados

Maxado

Caminho

1838

20/12/2011M

ulherM

uariaCeriops

163(36,15,12,19,

19788

5 dias-

4Cozinha

Ramos secos já cortados

Maxado e

Caminho

1739

22/12/2011Hom

me

SassalaneCeriops tagal

125(9,7,6,10,14,

113163

--

4Cercado para

CepoCatana

Caminho

4040

22/12/2011M

ulherSassalane

Rhizophora 171

(10,7,11,14,9182

714 dias

-6

CozinhaRam

os secos e algunos ceposM

axado Cam

inho30

4104/01/2012

Mulher

Metacane

Avicennia 119

(15,12,9,11,189

803-4 dias

-8

CozinhaRam

os secos já cortadosCatana

Caminho

1842

06/01/2012M

ulherSassalane

Rhizophora 127

(12,16,15,9,197

805 dias

3 dias5

CozinhaRam

os secos já cortadosCatana

Caminho

3543

06/01/2012Hom

me

Muaria

-109

-52

1791-2 anos

-4

Construcção Cepo

CatanaCam

inho40

4406/01/2012

Mulher

Metacane

Avicennia m

arina / 118

-105

805 dias

-3

CozinhaRam

os secos já cortadosCatana

Caminho

20

• Tabela de dados sobre cortes de mangal

Page 81: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

79

Page 82: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

80

• Dados sobre as construções de mangal nos bairros das aldeias Muária, Sassalane e Metacane.

100,0 TOTAL CASAS 140 %2,7 30,92,5 10,210,8 58,912,1 0,01,3 0,00,0 1000,03,399,46,727,9

93,9 TOTAL CASAS 368 %20,5 84,52,1 3,615,0 11,79,3 0,218,7 0,02,8 100,01,77,588,95,458,3

96,3 TOTAL CASAS 613 %14,8 76,30,5 8,214,0 13,58,4 1,916,2 0,12,6 1003,44,592,52,351,9

85,8 TOTAL CASAS 264 %23,3 91,61,1 0,518,0 7,04,5 0,911,9 0,15,2 1003,72,974,30,053,6

% Casas com cama macua feita com mangal

% Casas com casa de banho de mangal% Casas con Cozinha feita com mangal% Casas con Vedação de planta de mangal% Casas com OUTROS* feitos com mangal

% Casas com quintal feito con mangal% Casas com alpendrefeito com mangal% Casas com secador feito com manglar% Casas construidas com mangal

Ramos de C.t.Ramos de B.g.Ramos de A.m.Ramos de R.m.Ramos de X.g.Total Ramos mangal

% Casas con latrina feita com mangal% Casas com mangal sem contar as camas

177,10,9

13,51,7

% Casas com alguma construção de mangal46747

0,1193,4

Por casa

460

51054

MUARIA BAIRRO 7 DE ABRIL

% Casas con latrina feita com mangal% Casas com cama macua feita com mangal

% Casas com secador feito com manglar Ramos de A.m. 10014Ramos de B.g. 6062

% Casas com mangal sem contar as camas

% Casas com casa de banho de mangal Ramos de X.g. 41% Casas construidas com mangal Ramos de R.m. 1427

0,1120,7

MUARIA BAIRRO 25 DE JUNHO

% Casas com mangal sem contar as camas

% Casas con Cozinha feita com mangal Total Ramos mangal 74003

56460

% Casas con Vedação de planta de mangal

3573

26

248

% Casas con latrina feita com mangal

Por casa

0,0

% Casas com cama macua feita com mangal

% Casas construidas com mangal Ramos de R.m. 0% Casas com casa de banho de mangal

Ramos de C.t. 1431 10,23,4

19,50,0

MUARIA BAIRRO MUENTAGE

33,1% Casas con Cozinha feita com mangal Total Ramos mangal 4631,0% Casas con Vedação de planta de mangal% Casas com OUTROS* feitos com mangal

% Casas com alguma construção de mangal% Casas com quintal feito con mangal% Casas com alpendrefeito com mangal Ramos de B.g. 473% Casas com secador feito com manglar Ramos de A.m. 2727

Ramos de X.g. 0

% Casas com mangal sem contar as camas

% Casas com cama macua feita com mangal

Por casa115,44,9

16,00,20,0

136,5

% Casas com alguma construção de mangalRamos de C.t.

50248

% Casas con latrina feita com mangal

MUARIA BAIRRO 1 DE MAIO

% Casas com OUTROS* feitos com mangal% Casas con Vedação de planta de mangal

42472

% Casas construidas com mangal% Casas com casa de banho de mangal% Casas con Cozinha feita com mangal

1814Ramos de B.g.5880Ramos de A.m.79Ramos de R.m.3Ramos de X.g.

Total Ramos mangal

% Casas com quintal feito con mangal% Casas com alpendrefeito com mangal% Casas com secador feito com manglar

Por casa92,19,9

16,32,3

Ramos de C.t.% Casas com alguma construção de mangal% Casas com quintal feito con mangal% Casas com alpendrefeito com mangal

% Casas com OUTROS* feitos com mangal

Page 83: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

81

79,3 TOTAL CASAS 505 %27,9 94,43,6 0,8

41,2 2,813,8 1,924,3 0,17,8 100,02,48,7

55,610,072,5

94,5 TOTAL CASAS 367 %21,3 86,65,2 1,9

43,0 9,819,4 1,524,7 0,18,3 1002,8

11,674,610,985,9

98,9 TOTAL CASAS 87 %14,6 74,32,7 6,2

45,8 15,521,8 3,742,3 0,34,2 1005,65,8

81,215,794,2

% Casas con Vedação de planta de mangal% Casas com OUTROS* feitos com mangal% Casas com cama macua feita com mangal% Casas con latrina feita com mangal% Casas com mangal sem contar as camas

% Casas com casa de banho de mangal Ramos de X.g. 19 0,2% Casas con Cozinha feita com mangal Total Ramos mangal 5973,0 68,7

% Casas com secador feito com manglar Ramos de A.m. 923 10,6% Casas construidas com mangal Ramos de R.m. 220 2,5

SASSALANE BAIRRO C% Casas com alguma construção de mangal Por casa% Casas com quintal feito con mangal Ramos de C.t. 4440 51,0% Casas com alpendrefeito com mangal Ramos de B.g. 372 4,3

% Casas con Vedação de planta de mangal% Casas com OUTROS* feitos com mangal% Casas com cama macua feita com mangal% Casas con latrina feita com mangal% Casas com mangal sem contar as camas

% Casas com casa de banho de mangal Ramos de X.g. 31 0,1% Casas con Cozinha feita com mangal Total Ramos mangal 33250,5 90,6

% Casas construidas com mangal Ramos de R.m. 513 1,4

% Casas com alpendrefeito com mangal Ramos de B.g. 642 1,7% Casas com secador feito com manglar Ramos de A.m. 3267 8,9

SASSALANE BAIRRO B% Casas com alguma construção de mangal Por casa% Casas com quintal feito con mangal Ramos de C.t. 28798 78,5

Por casaRamos de C.t. 105882 210Ramos de B.g. 911 2Ramos de A.m. 3162 6Ramos de R.m. 2089 4

% Casas com alguma construção de mangal% Casas com quintal feito con mangal% Casas com alpendrefeito com mangal% Casas com secador feito com manglar% Casas construidas com mangal% Casas com casa de banho de mangal% Casas con Cozinha feita com mangal% Casas con Vedação de planta de mangal% Casas com OUTROS* feitos com mangal% Casas com cama macua feita com mangal% Casas con latrina feita com mangal% Casas com mangal sem contar as camas

Total Ramos mangal 112114 222Ramos de X.g. 70 0

SASSALANE BAIRRO A

Page 84: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

82

81,8 TOTAL CASAS 44 % Por casa

40,9 7960 89,2 181

6,8 382 4,3 9

43,2 531 5,9 12

18,2 47 0,5 1

34,1 8 0,1 0

4,5 8927 100 203

13,6

0,0

38,6

6,8

81,8

42,5 TOTAL CASAS 80 % Por casa

6,3 1266 85,2 16

1,3 76 5,1 1

28,8 136 9,2 2

2,5 4 0,3 0

3,8 4 0,3 0

3,8 1486 100 19

3,8

1,3

15,0

0,0

37,5

METACANE NORTE

METACANE NORTE

% Casas com secador feito com mangal Ramos de A.marina

% Casas construidas com mangal Ramos de R.mucronata

% Casas com casa de banho de mangal Ramos de X.granatum

% Casas com alguma construção de mangal

% Casas com quintal feito con mangal Ramos de C.tagal

% Casas com alpendre feito com mangal Ramos de B.gymnorrhiza

% Casas con letrina hecha com mangal

% Casas com cama macua feita com mangal

% Casas con Vedação de planta de mangal

% Casas com mangal sem contar as camas

% Casas com Cozinha feita com mangal Total Ramos mangal

% Casas com OUTROS* feitos com mangal

% Casas com secador feito com mangal Ramos de A.marina

% Casas construidas com mangal Ramos de R.mucronata

% Casas com casa de banho de mangal Ramos de X.granatum

% Casas com alguma construção de mangal

% Casas com quintal feito con mangal Ramos de C.tagal

% Casas com alpendre feito com mangal Ramos de B.gymnorrhiza

% Casas con letrina hecha com mangal

% Casas com cama macua feita com mangal

% Casas con Vedação de planta de mangal

% Casas com mangal sem contar as camas

% Casas com Cozinha feita com mangal Total Ramos mangal

% Casas com OUTROS* feitos com mangal

SUL

Page 85: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.

• Tabela de aleatoriedade para à amostragem dos pontos no estudo de degradação

Ponto Margem 11 2 28 1 33 1 39 1 56 2 19 1 60 1 36 1 70 2 72 1

Page 86: Diagnóstico sobre o estado de conservação do ecossistema de mangal da Vila Sede de Mecúfi.
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