DEZEMBRO 2013

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E D I T O R I A L Reprodução ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, DEZEMBRO/2013 - ANO XVI - N o 203 O ESTAFETA Chegamos a mais um final de ano. Parece que o relógio do tempo foi acele- rado e que os últimos doze meses pas- saram tão rapidamente, que não nos de- mos conta. A fugacidade do tempo atin- ge a todos. Temos a sensação de que os dias ficaram mais curtos e que não nos sobra tempo para fazermos tudo que gostaríamos. Muitos atribuem a cele- ridade do tempo ao modo de vida que adotamos: a sociedade moderna, alta- mente tecnológica e competitiva, faz do homem escravo das horas. Ávidas por novidades, as pessoas as buscam nos diferentes meios de comunicação, pas- sando a viver de maneira virtual. Com isso, deixam de vivenciar experiências triviais ou importantes, necessárias para o fortalecimento do relacionamento hu- mano. Desse modo, a visita a um amigo, um gesto de solidariedade, um apreciar a natureza, ou mesmo uma conversa descontraída são postos em segundo plano. Vivemos, hoje, quase que o dia todo à frente de um computador, de um aparelho de TV ou conectado a algum veículo de comunicação. As conversas pelo facebook, twiter e outras redes so- ciais, que deveriam aproximar as pesso- as, acabam por distanciá-las. As amiza- des tornaram-se virtuais. Falta-nos calor humano. Ligados a um celular ou a objetos similares, obser- vamos pelas ruas o quanto as pessoas estão apressadas. Caminham teclando e falando em uma dessas modernidades tecnológicas. Esses eletrônicos torna- ram-se um apêndice do qual ninguém quer se livrar. Ao contrário, há pessoas que carregam mais de um e se sentem nuas sem eles. Se continuarmos a viver de maneira apressada, na busca não se sabe do quê, quando resolvermos parar, talvez seja tarde e tenhamos deixado de apreciar um nascer e um pôr do sol, um voo de pássaro, uma brincadeira de cri- ança, um arco-íris após uma chuva... Talvez deixemos de conhecer pessoas interessantes e de bater um bom papo. Não podemos nos desconectar da naturezam, pois somos parte dela. O seu distanciamento é que nos dá a falsa sen- sação de que o tempo tem passado mui- to rápido. Ao contrário, o dia continua com suas 24 horas, as estações do ano com suas particularidades e beleza se sucedem. Nós é que não nos permiti- mos o tempo de contemplá-las. Neste final de ano, a mensagem de O ESTAFETA é para que nos desacelere- mos do ritmo em que vivemos e obser- vemos com mais acuidade a natureza e seus diferentes ciclos, pois, interagindo com ela, comemoraremos a vida. “Não temas, Maria, porque achaste gra- ça diante de Deus; eis que conceberás e dará à luz um filho, a quem porás o nome de Je- sus! E ele será grande e chamar-se-á o Filho do Altíssimo e seu reino não terá fim”. E o milagre anunciado pelo anjo aconte- ceu: o Verbo se fez carne! O filho de Deus se fez presente dentre os homens, no primeiro Natal. É Natal! Seu verdadeiro significado está na lembrança, na tradição, e é marcado pela alegria. Sem a ternura dessa recordação, toda a comemoração perde seu valor para tornar- se mera celebração material. É quase impos- sível alguém ficar à margem do Natal. O re- picar dos sinos, os alegres cânticos, o colo- rido das ruas, a alegria das crianças e o sen- timento de confraternização nos contagiam. É Natal! Sua linguagem universal, mes- mo após mais de dois mil anos, continua contemporânea. Assim, o primeiro Natal, lá em Belém, com o nascimento do Menino Deus, humilde, numa manjedoura, foi o pre- sente do Pai para toda a humanidade. Ele, o Menino, veio para nos ensinar o amor. No entanto, sua mensagem precisa ser diaria- mente decodificada, introjetada e vivida. Nestes tempos atuais, é preciso que o homem liberal e secularista, informatizado e com grande conhecimento tecnológico, re- flita sobre a mensagem simples do primeiro presépio. E se todos os cristãos procuras- sem viver a mensagem de Cristo Jesus, a luz de sua estrela-guia iluminaria a escuridão do fanatismo, da intolerância e do sectaris- mo, das vaidades pessoais e do desamor. Se as palavras de paz e fraternidade, de amor e equidade não forem postas em prática na vida de cada um e da sociedade, isto será motivo cada vez maior de perda. Por outro lado, se o Natal for um exercício de memó- ria, de boas lembranças, de real introspecção e de verdadeiro espírito de fé, então seu significado irá iluminar o mundo. Portanto, após reflexões sobre o que foi o ano que termina e nossa passagem por ele, devemos somar esforços para o nosso aprimoramento social, visando a contribuir para a construção de uma socie- dade mais justa e fraterna. Essas reflexões, no período de festas natalinas, deverão ser feitas com propostas de mudanças. Mu- danças essas que deverão ocorrer indivi- dualmente, após exame de consciência. É preciso nos penitenciarmos de nossas omissões e desamor, além de avaliarmos quanto estamos deixando de ser cristãos. É preciso que erros do passado não se re- pitam no futuro. Novos rumos e objetivos deverão estar diante de nós. Que o espírito envolvente do Natal nos una na paz, na fraternidade e no amor, para inicarmos o próximo ano repleto de realiza- ções, espelhados no Menino. Boas festas! É Natal! Sua linguagem universal, mesmo após mais de dois mil anos, continua contemporânea. Assim, o primeiro Natal, lá em Belém, com o nascimento do Menino Deus, humilde, numa manjedoura, foi o presente do Pai para toda a humanidade. Um Feliz Natal de amor, saúde e paz...

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Edição nº 203, de Dezembro de 2013, do informativo O ESTAFETA, da Fundação Christiano Rosa, de Piquete/SP.

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E D I T O R I A L

Reprodução

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, DEZEMBRO/2013 - ANO XVI - No 203

O ESTAFETA

Chegamos a mais um final de ano.Parece que o relógio do tempo foi acele-rado e que os últimos doze meses pas-saram tão rapidamente, que não nos de-mos conta. A fugacidade do tempo atin-ge a todos. Temos a sensação de que osdias ficaram mais curtos e que não nossobra tempo para fazermos tudo quegostaríamos. Muitos atribuem a cele-ridade do tempo ao modo de vida queadotamos: a sociedade moderna, alta-mente tecnológica e competitiva, faz dohomem escravo das horas. Ávidas pornovidades, as pessoas as buscam nosdiferentes meios de comunicação, pas-sando a viver de maneira virtual. Comisso, deixam de vivenciar experiênciastriviais ou importantes, necessárias parao fortalecimento do relacionamento hu-mano. Desse modo, a visita a um amigo,um gesto de solidariedade, um apreciara natureza, ou mesmo uma conversadescontraída são postos em segundoplano. Vivemos, hoje, quase que o diatodo à frente de um computador, de umaparelho de TV ou conectado a algumveículo de comunicação. As conversaspelo facebook, twiter e outras redes so-ciais, que deveriam aproximar as pesso-as, acabam por distanciá-las. As amiza-des tornaram-se virtuais.

Falta-nos calor humano. Ligados aum celular ou a objetos similares, obser-vamos pelas ruas o quanto as pessoasestão apressadas. Caminham teclando efalando em uma dessas modernidadestecnológicas. Esses eletrônicos torna-ram-se um apêndice do qual ninguémquer se livrar. Ao contrário, há pessoasque carregam mais de um e se sentemnuas sem eles. Se continuarmos a viverde maneira apressada, na busca não sesabe do quê, quando resolvermos parar,talvez seja tarde e tenhamos deixado deapreciar um nascer e um pôr do sol, umvoo de pássaro, uma brincadeira de cri-ança, um arco-íris após uma chuva...Talvez deixemos de conhecer pessoasinteressantes e de bater um bom papo.

Não podemos nos desconectar danaturezam, pois somos parte dela. O seudistanciamento é que nos dá a falsa sen-sação de que o tempo tem passado mui-to rápido. Ao contrário, o dia continuacom suas 24 horas, as estações do anocom suas particularidades e beleza sesucedem. Nós é que não nos permiti-mos o tempo de contemplá-las.

Neste final de ano, a mensagem de OESTAFETA é para que nos desacelere-mos do ritmo em que vivemos e obser-vemos com mais acuidade a natureza eseus diferentes ciclos, pois, interagindocom ela, comemoraremos a vida.

“Não temas, Maria, porque achaste gra-ça diante de Deus; eis que conceberás e daráà luz um filho, a quem porás o nome de Je-sus! E ele será grande e chamar-se-á o Filhodo Altíssimo e seu reino não terá fim”.

E o milagre anunciado pelo anjo aconte-ceu: o Verbo se fez carne! O filho de Deus sefez presente dentre os homens, no primeiroNatal.

É Natal! Seu verdadeiro significado estána lembrança, na tradição, e é marcado pelaalegria. Sem a ternura dessa recordação, todaa comemoração perde seu valor para tornar-se mera celebração material. É quase impos-sível alguém ficar à margem do Natal. O re-picar dos sinos, os alegres cânticos, o colo-rido das ruas, a alegria das crianças e o sen-timento de confraternização nos contagiam.

É Natal! Sua linguagem universal, mes-mo após mais de dois mil anos, continuacontemporânea. Assim, o primeiro Natal, láem Belém, com o nascimento do MeninoDeus, humilde, numa manjedoura, foi o pre-sente do Pai para toda a humanidade. Ele, oMenino, veio para nos ensinar o amor. Noentanto, sua mensagem precisa ser diaria-mente decodificada, introjetada e vivida.

Nestes tempos atuais, é preciso que ohomem liberal e secularista, informatizado ecom grande conhecimento tecnológico, re-flita sobre a mensagem simples do primeiropresépio. E se todos os cristãos procuras-

sem viver a mensagem de Cristo Jesus, a luzde sua estrela-guia iluminaria a escuridãodo fanatismo, da intolerância e do sectaris-mo, das vaidades pessoais e do desamor.Se as palavras de paz e fraternidade, de amore equidade não forem postas em prática navida de cada um e da sociedade, isto serámotivo cada vez maior de perda. Por outrolado, se o Natal for um exercício de memó-ria, de boas lembranças, de real introspecçãoe de verdadeiro espírito de fé, então seusignificado irá iluminar o mundo.

Portanto, após reflexões sobre o quefoi o ano que termina e nossa passagempor ele, devemos somar esforços para onosso aprimoramento social, visando acontribuir para a construção de uma socie-dade mais justa e fraterna. Essas reflexões,no período de festas natalinas, deverão serfeitas com propostas de mudanças. Mu-danças essas que deverão ocorrer indivi-dualmente, após exame de consciência. Épreciso nos penitenciarmos de nossasomissões e desamor, além de avaliarmosquanto estamos deixando de ser cristãos.É preciso que erros do passado não se re-pitam no futuro. Novos rumos e objetivosdeverão estar diante de nós.

Que o espírito envolvente do Natal nosuna na paz, na fraternidade e no amor, parainicarmos o próximo ano repleto de realiza-ções, espelhados no Menino. Boas festas!

É Natal! Sua linguagem universal, mesmo após mais de dois mil anos, continua contemporânea. Assim,o primeiro Natal, lá em Belém, com o nascimento do Menino Deus, humilde, numa manjedoura, foi opresente do Pai para toda a humanidade.

Um Feliz Natal de amor, saúde e paz...

Página 2 Piquete, dezembro de 2013

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O mês de outubro de 1940 foi excepcio-nal para a população valeparaibana, que viugrande parte de seus municípios ocupadospor milhares de soldados que vieram parti-cipar de uma grande manobra militar. Foramreunidos soldados de três regiões militares,sob o comando de oficiais brasileiros. A re-alização dessas manobras classificou-seentre as de maior envergadura pela grandeconcentração de equipamentos e o nume-roso efetivo. Cerca de vinte e oito mil pra-ças e mil e setecentos oficiais de todos ospostos e quadros, de todas as Armas e ser-viços em conjugação com militares da Mari-nha, vivenciaram dias de intensa jornada deexercícios de campanha, sob condições va-riadas de clima e terreno.

Essas manobras contaram com grandeparte das Forças Armadas de terra, mar e arestacionadas no Rio de Janeiro e nos esta-dos de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, eserviram para provar excepcional capacida-de técnica e profissional dos militares. Du-rante essa manobras, os soldados e a popu-lação foram surpreendidos com a notícia deque o presidente da república, GetúlioVargas, iria participar como observador dostrabalhos. O chefe do governo chegou aoVale do Paraíba no dia 23 de outubro, de-sembarcando em Pindamonhangaba, e de lápercorreu toda a região. Em pleno “front”,sempre uniformizado, examinou as trinchei-ras e todo o teatro das operações. Sob calorintenso, vencendo estradas poeirentas eatalhos íngremes, o presidente Vargas pro-curou manter contato com as tropas em ope-ração, em companhia dos generais EuricoGaspar Dutra, Ministro da Guerra, e Almério

de Moura, e do interventor federal em SãoPaulo, Dr. Adhemar de Barros. Por onde pas-sava, sua presença enchia de entusiasmoos soldados. Esse entusiasmo crescia quan-do o viam atravessando as cercas de aramee cruzando trincheiras, identificado com arotina militar. Curioso, ouvia dos generaiscomandantes, detalhadamente, exposiçõessobre a situação das tropas e a importânciatática das manobras. Todo o Vale do Paraíbapercorrido por Getúlio Vargas viveu momen-tos de grande vibração. A presença do Che-fe de Estado acompanhando as tropas empleno “front” foi vista pela população comouma atitude de desapego às comodidades.Sua passagem assanhava os moradores, demaneira que foi com grande entusiasmo eexpectativa que os piquetenses receberama notícia de que Vargas incluíra em sua pro-gramação uma visita à imensa unidade pro-dutora de pólvora de base dupla, que esta-va prestes a entrar em funcionamento nocomplexo da Fábrica de Pólvora de Piquetee representava um dos grandes investimen-tos da administração Getúlio Vargas.

O presidente Vargas chegou à Fábricapor volta das 14h30min do dia 24/10, acom-panhado do Dr. Adhemar de Barros e dosgenerais Eurico Gaspar Dutra, ValentimBenício da Silva e Meira de Vasconcellos,bem como de outras personalidades de des-taque do seu Estado Maior. Na Fábrica, jáse encontravam aguardando os visitantesos generais Arthur Sílio Portela e Luiz Sá deAffonseca, além de todos os demais ofici-ais da Fábrica e da 2ª Residência da Comis-são Construtora da Fábrica de Base Dupla ede Nitroglicerina. O presidente percorreu to-

das as dependências da gigantesca cons-trução, subindo e descendo escadas. Rece-beu informações detalhadas de todo aqueleconjunto da indústria bélica. O prefeito dePiquete, José de Brito Júnior, compareceu,também, à recepção acompanhado de auxi-liares imediatos, a fim de apresentar aos dig-nos visitantes os votos de boas-vindas.Após mais de uma hora de visita, GetúlioVargas e demais convidados foram recebi-dos no Círculo de Oficiais da Fábrica de Pi-quete, onde foi servido um lanche. Em se-guida, retirou-se, tendo declarado à direçãoda Fábrica achar-se satisfeito com o que vira,o que demonstrava grande esforço de tra-balho realizado.

Se o Vale do Paraíba se orgulhou naque-le outubro de receber o presidente GetúlioVargas por alguns dias, em Piquete o orgu-lho foi maior por tê-lo recebido pela segun-da vez em pouco mais de um ano.

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204

Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues Ramos

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETA

Fundado em fevereiro / 1997

Imagem - Memória

Manobras militares no Vale do Paraíba

Getúlio Vargas e comitiva durante visita à então Fábrica de Pólvora de Piquete, em 24 de outubro de 1940, quando de sua participação nas manobras militaresno Vale do Paraíba. Na foto, identificam-se, ainda, Adhemar de Barros, Eurico Gaspar Dutra, Ministro da Guerra, e o diretor da Fábrica, General Aquino.

O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, dezembro de 2013

Marina Meirelles

Rossi, João Vieira Soares, Dito de Paula, Nel-son Pesciotta, José Carlos Ribeiro, PauloNader, Lutgardes de Oliveira... Reverencia amemória de todos e não mede elogios... “Fuiprivilegiada, pela qualidade do ensino querecebi...”.

Formou-se professora em 1958. Comoprimeira aluna da turma, recebeu o “PrêmioRui Barbosa” e foi contratada para lecionarFrancês no Ginásio e Português no GinásioIndustrial, dirigidos pelos professoresAugusto Ribeiro e César Dória. Cerca de cin-co anos depois, em 1964, passou para o pri-mário do “Curso de Aplicação Duque deCaxias”, dirigida pelo professor LeopoldoMarcondes de Moura Netto. Lá se aposen-tou, em 1988. Conta que o professor Leo-poldo queria que ela continuasse a dar au-las, mas ela disse que gostaria de aproveitara aposentadoria. De acordo com Marina, “aatividade de catequista, iniciada em 1981,

foi o que substituiu naturalmente o Ma-gistério... Realizei-me ainda mais comopessoa na catequese”. Nada mais ób-vio: continuaria a ensinar, a educar, ins-pirada “pelas minhas catequistasLeonor Guimarães e Terezinha Soares”.Marina foi catequista durante 28 anos.

Em 1958, após “troca de olhares”com Roberto Gonçalves Meirelles, quemorava na Rua dos Professores, emfrente à escola em que ela lecionava,começaram a namorar. O casamentoaconteceu em 8 de julho de 1961 eMarina e Roberto tiveram um filho:Roberto Gonçalves Meirelles Júnior.Viúva desde 1986, Marina passou amorar com a irmã Lourdes, falecidaem 2008.

Próxima de seus 75 anos, a seremcompletados em 21 de janeiro de 2014,Marina Meirelles é a materializaçãoda postura elegante de uma Mestra.Parece ensinar enquanto recuperasuas memórias... Seu semblante ad-quire ternura quando afirma que “po-der encontrar ex-alunos, vê-los rea-lizados é uma benção, um privilégiopara nós, professores...”. Privilégio,D. Marina, de quem foi seu aluno...

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Democracia ditatorial

Democracia quer dizer “poder do povo”e pressupõe liberdade ampla de expressão,direito de opinar. Esta é a forma de socie-dade mais desejada pelos povos...

Imaginem-nos, então, numa assembleiasobre determinado assunto. É a maneiramais eficiente de testar os que se dizemdemocratas, solidários, imbuídos do espí-rito cidadão... Em momentos em que se de-fendem pontos de vista próprios, cidadãosefetivamente democratas deveriam se pre-ocupar, principalmente, com uma soluçãocomum, uma intersecção de ideias que aten-da uma determinada comunidade.

Sempre me preocupo com o coletivo.Policio-me, até, para não ser prejudicadopor falsos amigos. Tenho por princípio res-peitar, invariavelmente, a opinião alheia,ainda que ela não me agrade. No momentoapropriado, busco fazer valer minhasideias por meio de argumentos que derru-bem a tese contrária, angariando o apoiode outros, trazendo-os para o “meu lado”.Esta é a política verdadeira. Se vencido,acato a decisão da maioria. Este é – aí nãohá opção – o comportamento exigido deum cidadão democrata. Uma vez que vive-mos em sociedade, a maioria deve ser aorientadora das ações. Não enveredemos,aqui, pela forma de argumentação, poderde persuasão, “influências externas”. Nãoé o foco e nem há espaço.

Em todos – sim, todos – os eventos deque tenho participado, porém, não é o queevidencio por parte da maioria de cidadãosditos esclarecidos, politicamente corretose engajados... Em uma plenária, apaixona-dos por suas causas, esquecem-se do di-reito dos colegas, exigem que suas ideiassejam as definitivas. Julgam-se os “donosda verdade”, resumindo numa expressãoque diz tudo. Como agravante, para de-fender suas teses, desmerecem as demais,insultam os interlocutores, desrespeitamregras estabelecidas e acordadas... Com-portamentos assim parecem-me, muitomais próximos de déspotas, de ditadoresdo que de um democrata.

Ao entrar numa discussão, há que seter consciência de quem nem sempre suaposição sairá vitoriosa. Este é o princípiodo jogo democrático. Uma vez preterido,a autoanálise deverá ser o passo seguin-te: não houve argumentação convincen-te? A articulação não foi eficiente? Váriassão as hipóteses a serem equacionadas.Entram aí a negociação, as contrapro-postas ou, até mesmo, a assimilação, senão houver espaço para questiona-mentos. Tornamos à prática política, à ne-gociação que poderá, no prazo acordado,permitir que a ideia derrotada se torne avencedora. O essencial é o respeito à de-cisão da maioria.

Neste mês de dezembro, comemoramoso nascimento de um homem que morreriainjustiçado pelo “voto” da maioria... Tam-bém aqui não entremos no mérito do tribu-nal que O condenou... Questionemo-nosquanto ao nosso poder de argumentação,à preparação para a defesa de nossasideias, à nossa capacidade de aceitaçãoda derrota, ao nosso respeito ou intole-rância com os que pensam diferente denós... Somente assim estaremos sendo ver-dadeiramente democratas.

“A gente passa nesta vida, como canoaem água funda. Passa. A água bole um pou-co. E depois não fica mais nada. E quandoalguém mexe com varejão no lodo e turva acorrenteza, isso também não tem importân-cia. Água vem, água vai, fica tudo no mes-mo outra vez”.

O trecho acima é do romance “ÁguaFunda”, da escritora valeparaibana, de Ca-choeira Paulista, Ruth Guimarães. Ao con-versar com Marina Meirelles, veio-me à men-te a imagem de uma grande lagoa, de águascalmas – um lugar de muita paz... E a sensa-ção de muita paz é, certamente, o que nostransmite esta mulher de estrutura delicada,com voz e gestos suaves...

Filha de Manoel Francisco Alves eFrancisca Oliveira Alves, Marina OliveiraAlves Meirelles nasceu na casa da família, àavenida Major Pedro... Era a caçula dos setefilhos. “Minha infância foi a de uma criançafeliz...”, destaca. Cita as famílias de NenêAlves e Mário Alves, e Pedrinho, Maria eEulina Pinto, além de seu padrinho, Godo-fredo Bittencourt, no rol de vizinhos naque-la tradicional região da cidade. Como todosos piquetenses contemporâneos, iniciou osestudos no Grupo Escolar Antônio João, quetinha, à época, Nestor Pereira Ébola à frenteda direção. Cita as professoras Maria deLourdes Gama e Alba de Oliveira. Sobre estaúltima, demonstra carinho especial: “Estoucerta de que foi ela que me deu a inspiraçãopara o Magistério. Encantavam-me seusmétodos de aula, a forma carinhosa comotratava os alunos, sem perder a autorida-de... Ela que plantou em meu coração asementinha que cresceu e fez com que metornasse professora...”

Depois do Antônio João, o curso de ad-missão e a Escola Industrial. De lá, citou asprofessoras Therezinha e Maria Aparecida.Em seguida, o Ginásio Industrial. Chegou,então, à esperada Escola Normal Duque deCaxias... Ao falar desse período, MarinaMeirelles se empolga: cita vários professo-res – Major Licínio, Ana de Lourdes Pereira,Ricarda Godoy, Rosa Cezarone, Elvécio

O ESTAFETA Piquete, dezembro de 2013Página 4

Como é bom ler um belo texto, bemconstruído e fundamentado!

São assim as crônicas que Olavo RubensLeonel Ferreira publicou em Lorena com otítulo de “De um Caderno de Memórias”,pela Editora Santuário, Aparecida. As emo-ções do bom cronista conduzem-nos ao queNelson Pesciotta diz no prefácio: a “umavisão bondosa do mundo com o apreço dopassado”, e um “soberbo arquivo assegu-rado por uma memória incomum”. A escritadada como escorreita que faz através de um“senso do coletivo”, e a “retórica aplicadana evocação de seu círculo de memórias”,ou seja, das amizades, tendo como “lembran-ças de pessoas simples ou de fama” que, nodizer do prefaciador, constituem o resulta-do de um “corte que faz com profundidadena sociedade em que viveu e vive”.

Possuo o exemplar, que leio praze-rosamente, há algum tempo – não encontreimencionada a data da publicação. Vale-mesempre a experiência.

O autor chega com sua família a Lorenaem 1954 e começa a explorar, a partir de seuprimeiro pouso, o Hotel Brasil, a rua dadacomo “principal” (a Rodrigues de Azevedo)até à praça Dr. Arnolfo de Azevedo, onde seencontra a fonte luminosa que lhe atrai aatenção pelos “desenhos multicolores queela joga no espaço; e as imagens que a elasão associadas: um “cesto colorido”, don-de “surgem focos de água e luz que pare-cem bolas esfumaçadas”. Lembra-nos onome a ela atribuído, “Maria Cecília”, e avisão da beleza que, emitida, transparece aoautor. Este, então, registra que entre os fa-miliares, “nós de mãos dadas” a admiramos,pela “claridade e beleza” no “ar lavado danoite lorenense”. O escritor aí se delineiano garoto que se anuncia logo em seguidacomo aluno do “Grupo Escolar Gabriel Pres-tes”. Lembra o nome da professora, de al-guns colegas, do diretor e dos dois serven-tes indicados apenas pelos nomes Porto eAugusto.

E como aluno, ainda nos verdes anos,recorda-se do dia da dispensa antecipadada aula, quando anunciaram a causa: “umhomem chamado Presidente da Repúblicase matou de madrugada”, e conclui que onome dele “parece”, era Getúlio Vargas,morador do Rio de Janeiro. Não deixa de re-gistrar a alegria em ter suspensas as aulasdaquele e do dia seguinte!

Vai cronologicamente registrando acon-tecimentos, e neles, suas emoções. Assim,a primeira comunhão, e a atribuição de “cha-tos” aos padres, declarada em confissão aoentão padre João Hipólito de Morais.

Registra os estudos no Colégio do Esta-do, onde a mãe foi professora, dona Nina,de História. O diretor é Nelson Pesciotta, dáos nomes de todos os professores e não seesqueceu dos dois inspetores de alunos:Elísia Tisséo e o Sr. José Milton Portugal,

O sabor do textocujas intervenções de bom conselheiro lem-bra.

Aí vêm as diversões, “o pão nosso decada dia”, a vida comercial e bancária, asocorrências e o registro da passagem do“Juscelino por aqui”, das lindas moças dodesfile do centenário da cidade (1956). – Arainha e as princesas e o séquito grandioso.

Ei-lo então no Conservatório Musical deLorena, a se dizer aluno de D. Lili Couto,“uma senhora idosa e muito brava”, que nacerta o repreenderia por não ter estudado alição de piano. Sei como D. Lili Couto eraexigente. E também fui aluna dela, e igual-mente sofri esses percalços. E Olavo Rubensvai lembrando os demais professores e, en-tre eles, o insigne maestro João Evangelista,e as descrições vivazes chegam acordes aosnossos ouvidos. Se Olavo Rubens chegoua ser um pianista, não sei, mas sim que égraduado em Direito, Ciências Sociais e Pe-dagogia, e é hoje professor universitário,professor de muitos méritos, além de escri-tor dos bons.

E vem o Carnaval, no “espaço perfuma-do do lança-perfumes”, mais as mesas debar com “porres homéricos”. Aí passam osblocos. Assim como ele, lembro-me bem do“Pé-de-Cana”, no qual vários moços da so-ciedade largavam-se à galhofa, à ironia e àalegria concedida pelo álcool acumulado. Emais a “Embaixada do Sossego”, de muitosamba e ginga – “em graça e beleza”, diz ocronista. Hoje não tem mais. Que saudade,não, Olavo Rubens?

O desfile das memórias continua: o en-contro dos trovadores, o jogo de “bridge”.E o cronista inclui-se entre os trovadores,lembrando-se de seu “professor de sensibi-lidade” – um advogado, Dr. Mário Mendes–, que lhe chama a atenção ao declamar Ma-nuel Bandeira (“Evocação do Recife”) de“maneira untuosa, gorda” e lhe mostrar be-leza e dignidade na obra de arte.

E o Comercial? Relicário das lembrançaslorenenses: os encontros na piscina, os bai-les a rigor do 15 de agosto. Havia de usar“smoking”, portanto, comprá-los para ele eo irmão na Casa Gomes, senão o CapitãoNovaes não deixava entrar.

Com ele, não se relaxava o “black tie”.Essas disposições ressoavam pelas cidadesadjacentes do Vale, entre moças e rapazessuspirantes por entrar nesse baile, formal-mente simbólico de uma sociedade estru-turada pelos reflexos de exceção, da origemimperial e da nobreza cafeeira e sucedidapor um comércio gabaritado em qualidadesindiscutíveis. Ali se encontrava o que haviade melhor nos ditames da moda.

Afinal, o próprio Clube Comercial deLorena, o mais tradicional da cidade, e mes-mo entre outros da mesma estirpe do Vale,fundado em 1937 por eméritos cidadãos co-merciantes. Presença marcante na praça doJardim das Palmeiras imperiais, onde o povo,

sem entrada, circulava invejoso, e era vistopelas meninas da elite, que se compraziamnas janelas superiores do edifício. Aqui es-tou usando minhas palavras ao lado das docronista, tão minucioso na descrição quenos faz entreouvir o “Only you” na execu-ção marcante dos “Biriba Boys”.

O passeio sedutor de Olavo Rubens con-tinua e é muito bom se comprazer com essascrônicas memorialísticas que nos levam paraoutro tempo. Passa pela prefeitura, ondeencontramos o Antonio Tisseo, do qual foioficial de gabinete. Conheci muito bem oTisseo, que se casou com moça de famíliacom a qual convivi – os Ferretes, de quemmeus pais e eu fomos vizinhos por certo tem-po e nos tornamos amigos. Tisseo era ple-no de simpatia e sedução.

Olavo Rubens chega aos nomes ilustres.Por exemplo, o de D. Lili, para dizer de seuespanto em notá-la bastante idosa e, aindater “mãe viva, uma senhora velhíssima”.Realmente, era D. Maria Eufrásia Ribeiro daSilva Couto – como o povo dizia, DonaMaricofrásia. Convivi privilegiadamentecom as duas distintas senhoras (mãe e fi-lha), membros de uma sociedade de classesenhorial. Olavo Rubens se diz delas admi-rador pela distinção, mesmo tendo levadoreguadas nas mãos por relaxar nas lições depiano. Tempos da “escola risonha e fran-ca”. E de ainda ter fracassado na execuçãodo “La Paloma” em dia festivo e amargar aderrota no cantinho do auditório.

Entre as personalidades inesquecíveis,demonstra Maria Antonieta Arantes Ferreiraa mãe, dele, um dentre outros Olavos da fa-mília, o irmão e o pai. Ela, “viajora” com seumuseu de lembranças pelas viagens mundoafora.

Tudo relatado, até chegar à sua fasci-nante Locadora de Livros – uma grandeaventura do espírito emancipado. O prazerde fazer expandir a leitura.

Fecha o livro o registro da visita do prín-cipe Dom Pedro de Orléans e Bragança, em14 de novembro de 1984, em passagem porLorena, para inauguração da estância“Águas do Barão”, na chácara pertencenteao Barão da Bocaina. O príncipe em ques-tão é neto da Princesa Isabel e do CondeD’Eu (Gastão de Orleans), os quais estive-ram em Lorena para inauguração do Santu-ário de São Benedito e visita às instalaçõesdo Engenho Central, em fins do século XIX.

E o outro fecho é a rememoração do 15de agosto de Nossa Senhora da Piedade e afamosa procissão, ato simbólico marcantedas principais solenidades e tradiçõeslorenenses.

Finalmente, as crônicas de OlavoRubens nos extasiam pela linguagem vivae plena de emoções. Leiam-nas. Alonguei-me por isso – comoveram-me.

Dóli de Castro Ferreira

“Jesus nasce pobre e ensina-nos que a felicidade não se encontra na abundância dos bens. Vem ao

mundo sem ostentação alguma e anima-nos a ser humildes e não estar preocupados

com os aplausos dos homens”Francisco F. Carvagal

O ESTAFETA Página 5Piquete, dezembro de 2013

O grande caminho é o que leva a Belémno momento místico em que o mistériotransmutado em milagre aconteceu. Acon-tecimento para mudar o curso da História,cujos protagonistas, reunidos como famí-lia, sinalizaram novos tempos para nos dar aesperança de paz. Em nome desta, um Me-nino nasceu. Humanizado na divindade queo individualiza e interliga, é anunciado pormensageiros alados para ligar espaços sa-grados: céu e terra.

Ele vem em nome do amor para continu-ar a trajetória aberta pelos que o profetiza-ram e antecederam na missão: Abraão, Isaace Jacó, testemunhas antecipadas que o ob-jeto da Cristandade, existente pela promes-sa, mas ainda não revelado em carne, com-partilhava na Trindade Santa, dentre as trin-dades que a crença tradicional elegia. Dado,num tempo imemorial, sem marcas, como oúnico e o de número revelado entre três pelaascendência e compartilhamento de dons.Em nome do qual um novo testemunho foidado, abrindo caminho para os seguidores,adeptos, contrários, manifestantes das fra-quezas humanas, crendo e duvidando. Pro-metidos para o grande encontro do juízo fi-nal, cujos caminhos, sinalizados por dores

O grande caminhoe sangue e critérios de escolha, estarãoapocalípticos, eleitos ou recusados e con-denados. A grande final, na expansão dostempos, no resplendor do trono, no sanguedo Cordeiro sacrificado e na transcendênciada humana carga. Momento atemporal dascoberturas imaculadas, prontas para rece-ber o sangue do cordeiro. Todas as expec-tativas superadas. Todos os ódios, ressen-timentos, rivalidades e lutas transmutadosna glória que os humanos não conhecem,pois foge a seu cabedal racional ou metafí-sico. E que será eterna e inaquilatável paraqualquer medida da fragilidade terráquea.

Toda a humanidade aí estaria contida.Eis o grande mistério. Como imaginar umespaço que se vence a si próprio e ao tem-po, já que esses conceitos são, afinal, abs-tratos, e todas as medidas estarão supera-das pelo incognoscível. Nossa razão, limi-tada, não consegue transcender esses mis-térios.

Acreditar é princípio básico dos adep-tos em nomes da travessia catártica da di-vindade exposta em humana forma. Para oscaminhos de Belém foram atraídos os ReisMagos, Gaspar, Baltazar e Melchior, repre-sentantes simbolizadores das três raças, de

acordo com as etnias: a branca (européia), anegra (africana) e a amarela (asiática). Fo-ram em magnificências para levar ao ReiMaior incenso, ouro e mirra e fazer encon-trar os lados do mundo – o ocidental e ooriental. Foram também os anjos do céu e asaves e os animais da terra. Foram os humil-des pastores. O nascimento, num lugar sim-ples, denotou a fórmula pela qual é simboli-zada a simplicidade em um Menino sagra-do, que, entretanto, na humildade do nasci-mento, mas revestido de poder e glória, pro-vocou o sentimento de inveja em Herodesordenando o sacrifício dos inocentes.

A estrela-guia dos caminhos, símbolo daorientada caminhada, luziu na noite sagra-da e nas subsequentes para, nos desertos,montanhas e coleções aquáticas, apontar osentido do eixo da procura culminada numabrigo de gado.

Todos os caminhos, dos exílios, das tra-vessias impactantes, da polarização do Gran-de Templo de Jerusalém, sobrepujando osdas demais cidades santas, e das peregrina-ções por todos os meios, fins e motivos seconjugarão, afinal, num só Grande Caminho,do qual Belém é a ponta inicial, o começo, omarco geratriz. Dóli de Castro Ferreira

Se por vários motivos o cuidado com aSerra da Mantiqueira já se fazia necessário,a responsabilidade por sua preservaçãoaumentou: ela foi eleita um dos 10 locaisprotegidos mais insubstituíveis do planeta.Dessa lista, constam, ainda, mais quatro áre-as terras brasileiras.

Elaborado pela União Internacional paraConservação, o ranking analisou 78 lugaresque englobam 137 áreas protegidas em 34países. Juntas, essas regiões protegem amaioria das populações de 627 espécies deanimais, incluindo 304 em extinção em todoo mundo. Nesse importante ranking, a Serrada Mantiqueira ficou em o 8o lugar.

A cadeia de montanhas da Serra daMantiqueira se inicia perto de BragançaPaulista, corta o Vale do Paraíba e se expan-de pelos estados de Minas Gerais e Rio deJaneiro. Na lista de áreas protegidas

Serra da Mantiqueira é eleita área protegida insubstituível

Fotos Antônio Carlos Monteiro Chaves

insubstituíveis, o Parque Nacional Kakadu,na Austrália, aparece em primeiro lugar. OBrasil ainda aparece no ranking com o Altodo Rio Negro, em sexto lugar, a Serra doMar em sétimo e o Vale do Javari em nono.

A doutora em Ecologia pela USP, DianaValeriano, pesquisadora, estudiosa dasaraucárias em Campos do Jordão e grandeconhecedora da Mantiqueira, alerta que aSerra da Mantiqueira não tem plano de ma-nejo próprio. Esse documento define quaisatividades podem ser feitas em cada tipo delocal, estabelece o uso sustentável dos re-cursos e determina as atividades que po-dem ser feitas no entorno da área. “Enquan-to não há um plano de manejo, existe a le-gislação ambiental para o local, mas a fisca-lização é deficiente. Não há um número defiscais suficiente. Quando você pensa emuma área considerada como representativa,

pensa em toda biodiversidade singular queela detém. As araucárias do Sudeste estãorestritas à Serra da Mantiqueira. Este é umexemplo de singularidade do local”, afirmaDiana.

De acordo com o ICMBIO que adminis-tra a Área de Preservação Ambiental (APA)da Mantiqueira, o plano de manejo deverásair até o fim do ano de 2014. “O plano demanejo é o principal instrumento de gestãoque as unidades de conservação precisamter para alcançar seus objetivos. Ele reúneuma série de estudos sobre fauna, flora, ca-racterísticas geográficas e condiçõessocioambientais e culturais. Em 2013 a APArealizou estudos socioeconômicos e cul-turais dos locais ligados à Serra daMantiqueira, que abrange trinta municípi-os, divididos em três estados.

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O ESTAFETAPágina 6 Piquete, dezembro de 2013

Crônicas Pitorescas

Palmyro Masiero

– Quer me trazer um prato de “Helixadspersa” ao vinagrete...

– Não servimos elix Hisso em nosso res-taurante, senhor.

– Vocês aqui não servem “petit gris”?!– Devo confessar-lhe, cavalheiro, que

não faço ideia do que seja.– Deus! Não conhece essa espécie de

molusco da classe dos gastrópodes, aque-les que têm sob o ventre um pé alargado, emforma de disco carnudo, sobre o qual se ar-rastam?

– Moluscos?!!– Sim... Um ramo do reino animal que

compreende os animais de corpo mole, semvértebras nem articulação, ordinariamenteenvolvido em conchas...

– Perdão, senhor, mas desconheço essetipo de prato.

– Será que neste restaurante, elogiadopelos mais refinados “gourmets” que conhe-ço, ignoram esta iguaria admirável?

– Infelizmente, isso aí, na realidade, nun-ca nos solicitaram...

– Francamente... Um restaurante tidocomo de categoria internacional não servir“escargots” ao vinagrete!

– Por que não disse logo, senhor?!Escargot é uma de nossas especialidades!

É no que dá zoólogo em restaurantes!Claro que tudo não passou de uma brin-

cadeira, mas brincadeira séria! Escargot,como popularmente é conhecido o caracoldo gênero Heliz, em especial o “adspersa”,cujo nome comercial é “petit gris”, é ummolusco gastrópole pulmonado. Só na Fran-ça consomem-se milhares de toneladas des-ses caracóis por ano! Troço chiquérrimo,meu!

Para quem tem estômago fraco, recomen-do parar de ler aqui. Se insistir, não me res-ponsabilizo por nenhuma ânsia de vômito...Foram avisados, hem! Vamos continuar paraaqueles com estômago de legistas...

Fiquem sabendo que a lesma também éum molusco gastrópode da subordem dosPulmonadas. E daí? Daí que, nós que nãosomos zoólogos, não temos nada a ver comessas divisões de espécie, classe, ordem etce tal. A única diferença, pra mim, entre um eoutro, é que a lesma não conseguiu sua ca-

sinha nem pelos programas de governocomo os caracóis, que, não sendo bobosnem nada, carregam as suas nas costas, poiso seguro morreu de velho, né?!

Isto visto (tô demais...), por que não ser-vir lesma ao vinagrete?

Estão achando um nojo, não?! Eu tam-bém! Mas em algum lugar do mundo podeser que não seja, como é o caso dos gafa-nhotos, bunda de içá e até piolhos que sãodegustados... Jamais soube serem servidosem restaurantes de alta classe, todavia. Masaguentem, que o próximo rojão é pior!

Na França dos grandes “gourmets” temum aperitivo atualmente, que aqui no Brasilpode até emplacar, tendo em vista o precinhoda “cesta básica”. Processaremos umaadaptaçãozinha para barateamento apenasna preparação, pois a matéria-prima temmuito nesse interiorzão todo. Preparem-se!Atenção! Lá vai! O Centro de Aplicação ede Promoção de Novas Energias Ecológi-cas, da cidade de Montpellier, introduziu nosrestaurantes como aperitivo, para abrir oapetite, nada mais, nada menos que... mi-nhocas fritas em conhaque e cheiro verdeacompanhadas de fatias de pão!

Não disse que a coisa ia ser brava? Aíestá! E por que não fazer carreira por aqui?Não será aperitivo: será almoço e janta! NaFrança, a fritura é no conhaque... Conoscoserá na cachaça, mais barata... Molho verdequalquer um planta. O pãozinho é que arra-nha um pouco o bolso, mas pra almoço ejanta até que vai. Uma solução importadapara os famintos!

Os pescadores não sentirão falta da iscaporque, poluídos como estão nossos rios,ou não há peixes ou eles estão todos vicia-dos em droga e não vão se matar por umasimples oligoqueta.

O prato, dizem por lá, é fino... A dica estádada. Logo, podem começar a cavar e ir reti-rando as oligoquetas – espécie dos Oligo-quetos, classe dos anelídeos, geralmente devida subterrânea, sem ventosas e com pe-queno número de cerdas em cada anel, vul-garmente chamadas minhocas –, fritar emcachaça e cheiro verde, pegar um pãozinhoe... Bom apetite!

Haja bucho...Deixando a Estação Ferroviária da Es-

trela, caminho até o prédio onde funciona-va o Contingente 2-12, organização do Exér-cito que fora instalado ali com a finalidadede prestar segurança às repartições da Fá-brica Presidente Vargas.

Dando meia volta, fico de frente com oprédio onde funcionava o Ginásio e a Esco-la Industrial, estabelecimentos que perten-ciam ao Departamento de Ensino da FPV.

Estávamos em meados da década de 50.Os amigos do Ginásio eram muitos e os pro-fessores inesquecíveis, os quais permane-cem incrustrados em nossa saudade: JoãoEvangelista do Prado (Latim), Lair (Geogra-fia), Hermínia (História), Nelly (Francês),Dinho Maduro (Inglês), Mário Mendes (Tra-balhos Manuais), Dito de Paula (Matemáti-ca), Luiz Pantoja (Desenho), Augusto Ri-beiro (Diretor do Ginásio e professor de Mú-sica), João Vieira (Português), Mazza (Edu-cação Física), Ditinho (Diretor da Escola In-dustrial).

A Escola Industrial e o Ginásio conta-vam com dois excelentes orientadores pe-dagógicos – o Mané Bandeira e o Zé Le-mes. O Canjica servia de orientador de alu-nos durante os intervalos de aulas e recreio.

Velhos tempos, ótimas aulas!

Velhos tempos...(3a parte)

Edival da Silva Castro

Era uma vez...

Toda história começa assim...

Um menino que, talvez,

numa miséria sem fim,

rodava o ano inteirinho,

à procura de vintém.

E esperava animadinho

o Papai Noel também.

Que chegou certo dia,

Dia alegre de Natal.

O que ele mais queria

era um presente legal!

Ele seguiu o Papai Noel,

o dia todo, hora a hora.

Veio o momento cruel:

O Papai Noel vai-se embora.

– Papai Noel, um momento,

para mim não sobrou nada?

– Meu menino, que tormento,

este mundo é complicado...

O que posso eu lhe dizer?

Meu filho, eu sinto tanto,

sou pobre como você.

Falou e enxugou o pranto.

Apertou o filho ao peito

e fez a Deus uma prece.

Disse: Senhor, dá um jeito,

Meu filho também merece.

Histórias de Natal

Cida Reis

Piquete, 04/12/2011

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A Fundação Christiano Rosa

deseja a todos um Feliz Natal

e

Próspero Ano Novo

O ESTAFETAPiquete, dezembro de 2013 Página 7

Há muitas formas de se contabilizar otempo: horas, meses, estações... Ao se co-memorar o ano novo, costuma-se avaliaras promessas feitas no último dezembro.O bom resultado depende do balanço en-tre as que foram cumpridas e as que não oforam. A retrospectiva é inevitável...

O final de ano me agrada muito maispelo Natal do que pelo “final do ano” emsi. A festa do Menino sempre me atraiu –acho que influência de minha mãe, que tam-bém a valorizava. Acredito que o momen-to é oportuno para uma avaliação, sim, masde nossa postura espiritual – não merestrinjindo a religião alguma –, nossocomportamento com relação à tolerânciacom a diversidade, nosso comprometimen-to com os valores que definem nosso ca-ráter... No Natal, devemos, especialmente,evidenciar em nossas atitudes a lei máximada convivência – amarmos ao próximocomo a nós mesmos. Se atendida, o ano játem grande chances de ter valido a pena.

Não dá, é claro, para deixarmos de ladoa vida profissional... As metas estabele-cidas foram cumpridas? Caso afirmativo,parabéns! Estabeleçam-se novas, mais de-safiadoras. Se não foi possível cumpri-las,a análise deve ser ampla – métodos e fer-ramentas utilizados, equipe, empenho etc.O momento é, porém, de retomada, não dedesânimo ou esmorecimento. Como diz olugar comum: obstáculos devem ser supe-rados. Deve-se ressaltar, porém – aautoavaliação deve ser constante. O “fimdo ano” é apenas um marco especial – ser-ve como referência.

Particularmente, conto o tempo com va-riáveis diversas. Gosto, porém, de me lem-brar dos encontros e reencontros com ami-gos – sejam para comemorar uma vitóriaou não – e das novas amizades. Conformeo tempo passa, os diferentes caminhos nosdistanciam de pessoas queridas. Os reen-contros permitem, na maioria das vezes, oreencontro das ideias partilhadas em tem-pos já remotos, evidenciam as mudançasfísicas, trazem vidas deixadas em algumcanto da memória. Penso que reencontrossão estimulantes, pois uma saudável com-paração permitirá novas posturas e possí-veis consertos; encontros e novas amiza-des também o são, mas com chances espe-ciais de experiências inéditas – novas ex-pectativas e novos olhares.

Vamos contar os anos com nossas ex-periências! Vamos buscar, assim, viver omáximo! Sendo assim, não importarão asdatas, mas os registros. Feliz visita do Me-nino! Um 2014 de muitas experiências!

Vamos viver o nossopróprio tempo...Laurentino Gonçalves Dias Jr.

A TV Senado me premiou com uma gra-vação de alto nível que me fez conhecer gran-des cantoras do mundo – doze divas étni-cas.

Duas interpretações me chamaram a aten-ção: a da diva do Mali e a da cantora daMongólia.

Já conhecia a cantora africana, que atraipor seu porte, por sua voz poderosa, pelasvestimentas e composições de seu povo.

Mas a diva da Mongólia foi uma grandesurpresa. Acostumada com os documen-tários que mostram o povo mongol deslo-cando-se pelas estepes com suas tendas eseus cavalos, não esperava assistir a umespetáculo de tal nível artístico. Uma sur-presa sem limites: o timbre de voz, a movi-mentação da cantora no palco, o arranjo dosinstrumentos.

Depois do prazer da manifestação artís-tica, a grande pergunta:

– Quantas faces tem o Senhor?Se Deus fez o homem à sua imagem e

semelhança, com a diversidade de aparên-cias do ser humano, como será a face queveremos quando atravessarmos a catraca doCéu?

Fala-se muito em biodiversidade. Açõesextremas são levadas a efeito para salvarplantas e animais em perigo de extinção.

O homem também faz parte da biodi-versidade do Planeta. Por que não há empe-nho em manter a antropodiversidade?

O irracional delimita seu território paraproteger suas fêmeas e só caça para matar afome.

O homem não respeita limites de territó-rio e, assinalados raros casos de antropofa-gia, não mata para comer.

O homem criou uma lista enorme de mo-tivos para eliminar seu semelhante. Ou eleenxerga como dessemelhante? Não é ver-dade que o homem mata dentro do próprioclã, da própria tribo, do próprio povo?

A lista de motivos é enorme: mata porterritório, por água, por metal, por pedraspreciosas, por especiarias, por combustível.

Matar é próprio do homem desenvolvi-do ou do homem atrasado?

Um povo que, desde a antiguidade fala-va em República, em Senado, em Tribunosda Plebe foi capaz de colocar tanques dian-te de camelos.

Um povo que saiu às ruas pregando con-

tra a opressão e proclamando os ideais deliberdade, igualdade e fraternidade, nemparou para saborear a conquista: saiu des-truindo a Europa e, mais tarde, aniquiloupovos da África e da Ásia.

Os grandes paladinos das artes e dasciências se iluminaram com códigos e nãopouparam nem mesmo o fim do mundo, sub-metendo a Tasmânia à sua vassoura de mor-te, não deixando sequer um homem vivo.

Existe um tipo ímpar de ser humano. É oque mata por birra. Mata porque tem birrade Cigano, de Judeu, tem birra de Armênio ede Bósnio. E de birra em birra o mundo viraum grande cemitério.

Minha preocupação agora é com a facede Deus no Brasil.

Aqui Deus tem uma face Tupi, uma faceJê, uma face Aruak, uma face Karib e outrasmais.

Homens que vieram pelo mar, em embar-cações puxadas por imensas borboletas,desembarcaram no imenso território eaçambarcaram 85% dele.

Então o Tupi, o Jê, o Aruak, o Karib eoutros mais ficaram com apenas 15% do quelhes pertencia.

O Governo do país com uma políticaindigenista inconsistente fica mandandoantropólogo cata caco de cerâmica e nãotoma as providências necessárias.

Os indígenas brasileiros estão correndoum sério risco entrando em confronto comempreiteiros e fazendeiros.

As terras indígenas – terras federais, osíndios são posseiros – já deviam ter sidodemarcadas. Quando a fronteira agrícola co-meçou a avançar, as pessoas responsáveisdeste país alertaram o Governo, insistiram nanecessidade de apressar o processo.

Mas o homem tem obsessão pela tragé-dia, pela morte. Enquanto não há morte, nãohá providências.

O povo do Brasil não pode deixar que aface do Senhor seja machucada, já que sediz que Deus é brasileiro.

A face do Senhor tem muitas cicatrizes.Mataram o Batista, mataram Jesus.

Não podemos admitir que, no Deus queesperamos ver quando entrarmos no Paraí-so, faltem a imagem Tupi, a imagem Jê, a ima-gem Aruak, a imagem Karib e outras mais.

Isto se o Anjo da Catraca nos deixar en-trar. Abigayl lea da Silva

As muitas faces do Senhor

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O ESTAFETA Piquete, dezembro de 2013Página 8

A celebração do nascimento deJesus é uma das mais belas tradiçõescristãs. A escolha do dia 25 de dezem-bro para a realização dessa solenida-de deveu-se ao fato de que em Roma,como se encontra registrado em umdocumento de 354, havia uma impor-tante festa religiosa pagã, a celebra-ção do solstício de inverno, o nasci-mento do Novo Sol, uma divin-dade, que, após a noite mais longa doano, retomava o vigor. O frio e as tre-vas começavam assim a retroceder atéque chegasse o verão e um tempo maisfértil, de natureza mais cheia de vida.Era uma festa pagã muito bonita, quemarcava o começo de um tempo deesperança. Os cristãos criaram a cele-bração do Natal para anunciar aos pagãosalgo ainda mais belo: que o sol não era averdadeira luz e a fonte da verdadeira vida,mas, sim, Jesus, nascido numa manjedoura– Ele é a luz que nos arranca das trevas etorna fecundo nosso viver. A data do Nataldo Senhor encontra sua justificativa maisna poesia que na historicidade.

O solstício de inverno coincidia com asférias de Saturno. Nesses dias, os escra-vos recebiam presentes de seus senhorese podiam sentar-se às mesas de seus do-nos como homens livres. Eram dias de ge-nerosidade. Os cristãos incorporaram es-ses hábitos à celebração do nascimento deJesus, de modo que a generosa partilha dedons, o gozo de dias livres de descanso ede liberdade, a igualdade ao redor da mesa

Um Menino nos foi dado

Aproxima-se a festa do Natal. Para osque têm fé, Natal é a chegada feliz do Meni-no Deus, que veio ao nosso encontro paranos fazer irmãos e ensinar os caminhos dobem. Veio na frieza da noite para acender emnós o fogo do amor. Veio pobre para nos dara riqueza de Deus. Os anjos iluminaram anoite e trouxeram a mensagem do céu: “Nas-ceu hoje para nós o Salvador” (Lc 2,10) –isso era o Natal...

Infelizmente, hoje o Natal é festa comer-cial: vende-se muito e desperta a vontadede comprar. A festa atual é do comércio. Per-deu-se o clima da reunião da família, em queas crianças se alegravam com seus peque-nos presentes. Tudo simples e familiar, re-

cordando a chegada de Deus-Menino.Entre as cenas tão lindas da chegada de

Jesus, de que São Lucas nos dá notícia, umatem especial sentido para as pessoas ido-sas. A lei mosaica determinava que oprimogênito recém-nascido fosse levado aotemplo de Jerusalém e José e Maria levaramo Menino ao templo, cumprindo o preceitoda lei antiga. Ali estava providencialmentepresente um ancião a quem Deus prometeraque haveria de contemplar, na altura de seusvividos anos, o esperado Salvador da hu-manidade. Por isso, o homem tomou nosbraços cansados o Menino de quarenta diase louvou a Deus por terem seus olhos con-templado com alegria o rosto d’Aquele que

era esperado havia séculos. Sob a brancurados cabelos, olhos úmidos de alegriaincontida, os braços se erguem com a Cri-ança e dos lábios brota o hino de ação degraças: “Agora podes deixar partir este teuservo porque meus olhos já cansados pu-deram contemplar nesta Criança a salvaçãoque vem de Deus”.

É assim que se espera o Natal e assimque se celebra essa festa. Natal é festa deamor para todos. Na correria das compras,não se deve perder o sentido real da festada chegada de Deus entre nós. Temos denos preparar para esse encontro de salva-ção, de alegria e de graça com o Meninoque nos foi dado na noite de Belém.

O verdadeiro sentido do Natal

e a fraterna comensalidade passaram a serelementos constituintes da festa cristã.

Aos poucos, outros elementos foramsendo acrescentados, alargando a celebra-ção natalina. Surgiu entre os séculos IV e VIum tempo de preparação chamado de tempodo advento. No século III, em Alexandria,no Egito, os pagãos celebravam a festa donascimento do deus Éon, deus do tempo eda eternidade. Nessa ocasião eles retiravamágua do Nilo e a conservavam solenemen-te. Essa festa acontecia na passagem de 5para 6 de janeiro. Os cristãos do Orientepassaram a celebrar o nascimento de Jesuse seu batismo nessa data, para conservar acerteza de que Jesus era o Senhor do tempoe da eternidade. Afirmavam também que aságuas tinham sido sacralizadas por Ele, que

havia se deixado nelas batizar. Essasdiversas tradições foram se encontran-do e dando, pouco a pouco, forma àscelebrações do nascimento de Jesus.Por volta de 380, a festa ocidental de25 de dezembro começou a ser cele-brada também no Oriente, e o dia 6 dejaneiro passou a enfatizar mais a me-mória da visita dos Magos e da mani-festação de Jesus aos povos. Essa datanão tardou a ser celebrada também noOcidente, até que tivéssemos não ape-nas uma celebração natalina, mas o quepodemos chamar de o Ciclo do Natal,que começa com o tempo do Advento,passa pelo Natal, pela Epifania e termi-na com a celebração do batismo.

As celebrações natalinas são re-pletas de poesia, musicalidade e elementosestéticos que nos enchem de sentimentosnobres e esperança de que a vida pode sermais bonita, mais iluminada; esperança deque a bondade e a generosidade podem es-tar mais presentes entre nós. Tudo parecepoder se renovar. É o sentimento de que onascimento de uma criança sempre promo-ve. A novidade não vem do poder do NovoSol, astro tão grandioso; vem de um meni-no envolto em faixas, posto em uma manje-doura. Eis a mensagem cristã. Nossa ale-gria está no despojamento e na simplicida-de, na impotência, não na grandeza. O Deuscristão é um menino pobre. Junto a Ele hápaz e felicidade.Voltemo-nos à gruta deBelém! Um menino nos foi dado!

Pe. Fabrício Beckmann

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