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    Deus, Ptria e Famlia: bases e fundamentao do pensamento de Plnio Salgado 249

    TemporalidadesRevista Discente do Programa do Programa de Ps-graduao em Histria da UFMG, vol. 3 n. 1.Janeiro/Julho de 2011ISSN: 1984-6150 www.fafich.ufmg.br/temporalidades

    Deus, Ptria e Famlia: bases e fundamentao do

    pensamento de Plnio SalgadoFelipe Azevedo Cazetta

    Mestre em Histria pela [email protected]

    RESUMO: O artigo pretende uma anlise do pensamento integralista de Plnio Salgado,passando por alguns intelectuais que tiveram suas ideias apropriadas e trazidas para o interior da

    Ao Integralista Brasileira (AIB). Atravs da decomposio do lema integralista Deus, Ptria eFamlia se analisar o pensamento de Plnio Salgado ao que toca a religiosidade e o combate aomaterialismo, defendidos pelo chefe da AIB; o seu projeto poltico para o Estado Integral; e a

    importncia que a Famlia possuiria neste.

    PALAVRAS-CHAVE: Plnio Salgado, Apropriao, Integralismo.

    ABSTRACT: The article an analysis of the whole thought Plnio Salgado, passing by someintellectuais that their ideas were appropried and brought into Ao Integralista Brasileira (AIB).

    Through the decomposition of integralist motto Deus, Ptria e Famlia to examine the PlnioSalgado's thought to respect the religious and anti-materialism defended by the head of AIB; hispolitical project for Integral State; and the importance the Family have this.

    KEYWORDS:Plnio Salgado, Ownership, Integralism

    A ideologia de Plnio Salgado apresenta singularidades na construo do discurso

    legitimatrio para a teoria integralista. O pensamento doutrinrio de Salgado sofre insero de

    contedos heterclitos em razo de sua formao intelectual autodidata. O posicionamento

    catlico recebeu considervel importncia em seu arcabouo doutrinrio.

    Segundo Jarbas Medeiros a religiosidade representou o diferencial entre a ideologia dos

    camisas-verdes e as concepes fascistas1. No entanto, Gilberto Vasconcelos revela-se

    descrente quanto a este ponto de vista, afirmando que prpria dos fascismos a fuso de diversascorrentes de pensamento, para articular sua viso de mundo. Esta salada terica, segundo

    Vasconcelos, realizada em virtude do extremado irracionalismo que acomete os movimentos

    fascistas. Sobre o integralismo, o autor disserta que:

    Apresent-lo como 'ideologia ecltica' para designar o fato de ter se abeberado dasmais diversas fontes, nacionais e estrangeiras, como o fez Trindade, acaba por deixarno ar a questo de sua especificidade, posto que todo discurso fascista ostenteinelutavelmente que floresa num pas hegemnico ou perifrico uma salada

    1 MEDEIROS, Jarbas. Ideologia Autoritria no Brasil: 1930-1945. Rio de Janeiro: FGV, 1978. p. 390. apud. SILVA,Giselda Brito.A Lgica de Suspeio contra o Sigma:discursos e polcia na represso aos integralistas em Pernambuco.Recife: tese de doutoramento para a UFPE, 2002. p. 69.

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    'terica', isto , uma ideologia heterclita em virtude de seu extremado irracionalismo.2

    Discorda-se aqui da crtica mantida por Vasconcelos obra de Hlgio Trindade. O autor

    gacho dedica parte considervel de sua pesquisa3

    a comparar o movimento integralista - em suaorganizao, ritos e smbolos - com aspectos existentes nos fascismos europeus, concluindo ser o

    integralismo um fascismo adaptado s condies brasileiras.Confirma esta afirmao as crticas

    vindas de J. Chasin.

    Em sntese, o esforo em estabelecer uma forte tenso social, vinculada de algummodo, emerso do proletariado urbano, revela que Trindade concebe o fascismocomo fenmeno estritamente poltico, e sua anlise obriga, ento, as fronteiras dapolitologia; mais precisamente as concepes comportamentalistas.4

    O objetivo da obra de Chasin se concentra em combater a hiptese de que o integralismo

    seria uma cpia, ou mimetismo, da ideologia fascista europeia. O autor busca observar, para

    tanto, apontamentos de originalidade na teoria da AIB. Porm, Chasin embasa sua justificativa em

    fontes produzidas apenas por integrantes e ex-integrantes do integralismo, dotando seus escritos

    de argumentao unilateral. Neste sentido, o autor incorpora em sua obra a retrica de

    originalidade buscada por Plnio para seu movimento.

    Neste artigo considerada a contribuio dos fascismos para a elaborao da teoria

    integralistadestaque verso italianapor Plnio Salgado. Porm compreende-se que o edifcio

    doutrinrio do chefe da AIB no foi composto apenas por materiais estrangeiros. Salgado

    busca elementos importantes para a constituio de seu arcabouo em autores brasileiros ou de

    outros pases latino-americanos, conforme objetivo deste artigo demonstrar.

    A heterogeneidade de pensamentos presente na construo terica de Plnio Salgado

    acentuada diante da pluralidade de temas abrangidos, que se intercedem ao longo do

    desenvolvimento terico-doutrinrio de Plnio. Desta forma, para se explorar as bases do

    pensamento de Plnio Salgado, optou-se por lanar mo de categorias, atravs do lema Deus,

    Ptria, Famlia - bandeira doutrinria da AIB. A partir da decomposio deste trip, se observar

    alguns contedos presentes na concepo religiosa e moral; a forma como se apresenta o

    nacionalismo e o projeto de Estado Integral; e, complementar ao ltimo, a definio do

    corporativismo visado por Salgado, cujo ponto central estaria situado na instituio familiar.

    Assim sendo, este artigo se dividir em trs partes: Deus; Ptria; e Famlia.

    2VASCONCELOS, Gilberto.Ideologia Curupira: anlise do discurso integralista.So Paulo: Brasiliense, 1979.p. 50.3TRINDADE, Hlgio.Integralismo: o fascismo brasileiro da dcada de 30.So Paulo: Difel; Porto Alegre: UFRGS,

    19744CHASIN, J.. O Integralismo de Plnio Salgado: forma de regressividade do capitalismo hper-tardio.So Paulo: LivrariaEditora Cincias Humanas LTDA, 1978. p. 43. (Grifo do original).

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    DEUS: a repercusso das pregaes de Leo XIII e da filosofia de Farias Brito nadoutrina integralista de Plnio Salgado

    No contexto de retomada de foras da reao catlica no Brasil (anos de 1920 e 1930)

    o integralismo surge como amparo para a hierarquia catlica. Segundo D. Hlder Cmara: o

    mundo parecia dividir-se entre comunismo e foras da Direita. Quando surgiu o integralismo,

    anunciando Deus, Ptria e Famlia, eu achei aqueles ideais bastante coincidentes com o que eu

    tinha aprendido no Cristianismo.5

    A identificao dos preceitos religiosos no movimento de Plnio Salgado auxiliou a adeso

    de simpatizantes catlicos, como forma de combater o materialismo. A coincidncia entre os

    pilares da reao catlica e a frmula de anticomunismo, antiliberalismo, e a retomada das

    tradies morais crists, trouxeram bons frutos para a AIB.

    A AIB propagou-se celeremente nos meios catlicos, atingindo vrias regies doBrasil e deixando realmente exitantes vrios membros da hierarquia catlica. Para aIgreja o integralismo assemelhava-se aos poos artesianos que 'nascem no mesmolenol oculto no seio da terra, sobe irresistvel, em altos jatos do subsolo em todos osEstados do Brasil.'6

    No entanto, mesmo sendo rpida a disseminao do integralismo entre os catlicos, a

    influncia do movimento no fugiu ao controle da Igreja. Alm disso, deve ser considerado ocanal de negociaes privilegiado, estabelecido pela instituio eclesistica com Estado durante o

    governo Vargas. Mecanismos que inibiam a simpatia incondicional dos membros do clero

    catlico s fileiras do integralismo, De um lado porque o Integralismo no se resumia ao

    tradicionalismo catlico (). De outro lado, porque Getlio Vargas sempre negociava

    diretamente com a Igreja e nunca por intermdio da Ao Integralista.7

    O integralismo, por sua vez, apesar de servir-se do catolicismo como forma de

    propaganda poltica para atrair adeses, negou vinculao direta com a religio, aps o Congressode Vitria ocorrido em 1934. Expondo a finalidade da Ao Integralista Brasileira, h no artigo

    2, inciso 3 do Estatuto Integralista aprovado em 1934: na ordem morala cooperao espiritual

    5Cmara, apud RIVAS, Leda. Gilberto Osrio: um homem do renascimento. Recife: Assemblia Legislativa do Estadode Pernambuco, 2001 (Perfil Parlamentar, sculo XX. v. 9.). p. 67. apud. Brito, Giselda Silva.A Lgica de Suspeio contrao Sigma:discursos e polcia na represso aos integralistas em Pernambuco. p. 69.6TONINI, Veridiana M.Uma relao de amore dio: o caso Wolfram Metzler (1932-1957). Passo Fundo: UPF, 2003. p.43. apud. BATISTA, Alexandre Bankl. Mentores da Nacionalidade: a apropriao das obras de Euclides da Cunha,

    Alberto Torres e Farias Brito por Plnio Salgado. Dissertao de Mestrado. Porto Alegre: UFGRS, 2006.p. 37.7CALIL, Gilberto Grassi. O Integralismo no Ps-Guerra: A formao do PRP (1945-1950). Porto Alegre: EDIUCRS,2001.p. 43.

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    de tdas as fras que defendem as idias de Deus, Ptria e Famlia.8 Sendo confirmada por

    Plnio Salgado a negao ao monoplio religioso do catolicismo no interior do integralismo,

    conclamando todas as religies crists a combateram juntas o perigo materialista que colocava emrisco a nao.

    isso que se chama ordem espiritual e moral, confraternizao de todos os que,acreditando num Deus, fazem dle o fundamento de tda ordem social conformediz a Encclica de Pio XI, cujo texto foi compreendido pelos Integralistas tantocatlicos, como luteranos, presbiterianos e espritas, pois hoje formamos a frente nicaespiritual, arrebatada pela bandeira de Deus, da Ptria e da Famlia, disposta a todos ossacrifcios para salvar a Nao das garras do materialismo do sculo.9

    Segundo Gilberto Calil, o veto ao integralismo consolidar-se movimento confessional

    estaria atrelado razo de caso assim feito, ocasionaria a restrio entrada de simpatizantesvindos de outras religies e de regies de colonizao europeia onde o catolicismo no fosse

    predominante. Gilberto Calil entende que

    Salgado, no entanto, avaliava que o carter confessional (que alguns atribuam aomovimento) limitava sua eficcia, especialmente nas regies de colonizao germnica.

    A AIB afirmou-se espiritualista e crist, abrindo o integralismo s religies da reformae rejeitando a opo por um partido confessional, sem no entanto, abrir-se s religiesno-crists, consideradas usualmente como brbaras e avessas tradio nacional.10

    A interveno de elementos dispostos em encclicas papais continua persistente nas obras

    do chefe da AIB, mesmo aps a deciso aprovada no Congresso de Vitria. A utilizao dasepstolas papais por Plnio Salgado deu-se em defesa da famlia, diante do assdio exercido pelo

    Estado; e pela condenao do socialismo e sua afronta propriedade privada. Salgado, ao

    dissertar sobre a formao de seu Estado Integral, se expressa em consonncia com a Encclica

    de 1891, condenando o acesso irrestrito do Estado ao mbito familiar, associando a propriedade,

    tal como a carta papal, famlia.

    EmA Quarta Humanidade tem se que O conceito do afeto, da honra, da inviolabilidade

    da famlia colocam o Homem a salvo, no s das arremetidas individuais de seus smiles, mas daprpria arremetida do Estado.11 Na Encclica Rerum Novarumh a legitimao da iniciativa do

    Estado em intervir no seio familiar, somente no intuito de reduzir ou retir-la da situao de

    dificuldade, no devendo ser esta atuao, de forma alguma, permanente, segundo o Papa Leo

    8 O Monitor Integralista. Primeira quinzena de Dezembro de 1934. Arquivo Pblico e Histrico de Rio Claro-SP-Fundo Plnio Salgado: cx 131.021-131.038. (Itlico nosso)9 SALGADO, Plnio. Doutrina do Sigma: Pginas de Ontem. In: Obras Completas. v. 10. So Paulo: Editra dasAmricas, 1955 (1 edio de 193-.).p. 196.

    10CALIL, Gilberto Grassi. O Integralismo no Ps-Guerra:A formao do PRP (1945-1950). p. 43.11 SALGADO, Plnio. A Quarta Humanidade. In. Obras Completas. v. 5. So Paulo: Editora das Amricas, 1957.(primeira edio de 1934). p. 110.

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    XIII.

    Querer, pois, que o poder civil invada arbitrariamente o santurio da famlia, um erro

    grave e funesto. Certamente, se existe algures uma famlia que se encontre numasituao desesperada, e que faa esforos vos para sair dela, justo que, em taisextremos, o poder pblico venha em seu auxlio, porque cada famlia um membro dasociedade. (). Todavia, a aco daqueles que presidem ao governo pblico no deveir mais alm; a natureza probe-lhes ultrapassar esses limites. A autoridade paterna nopode ser abolida, nem absorvida pelo Estado, porque ela tem uma origem comumcom a vida humana. (...). Assim, substituindo a providncia paterna pela providnciado Estado, os socialistas vo contra a justia natural e quebram os laos da famlia.12

    H, igualmente, a contribuio de Raimundo Farias Brito nos contedos terico-

    doutrinrios apresentados por Salgado. Farias Brito teve seus pensamentos recuperados aps a

    criao do Centro D. Vital, em 1922 portanto, cinco anos aps a morte do filsofo -, por seudiscpulo Jackson de Figueiredo. s obras do cearense foram adicionadas interpretaes polticas

    das quais o filsofo em vida no estava familiarizado.

    A grande e confusa polmica feita em torno das obras de Farias Brito, sem dvida,teve origem na apropriao das idias do filsofo, feita pelos intelectuais catlicos nasdcadas de 1920 e 1930. Construindo uma interpretao estreita aos seus interessesideolgicos, eles consideraram o intelectual cearense como um intrprete da realidadebrasileira, tarefa que ele no se props a fazer, (...).13

    Assim, Farias Brito passa a ser disputado como precursor de correntes conservadoras e

    autoritrias, tais como: o Centro D. Vital, defendendo a herana deixada ao seu discpulo Jackson

    de Figueiredo; e o integralismo, onde Plnio Salgado aponta Farias Brito como o profeta do

    movimento qual chefia. Como reflexo desta necessidade de trazer o filsofo para o integralismo,

    Plnio atribui-lhe papel de predecessor de seu movimento:

    Em 1914, antes da Grande Guerra, Farias Brito profetizou o advento do IntegralismoBrasileiro, escrevendo estas palavras: Ouve-se com que o rudo de uma msicadistante, a harmonia longnqua de um canto de guerra, como a anunciar a invaso deum exrcito salvador, em campo de batalha onde j comeavam a fazer sentir os

    efeitos desastrosos da desolao e do terror, a previso e certeza da vitria do inimigo.Despertam energias ocultas que dormiam ignoradas no fundo de nossa conscincia.sse exrcito constitudo pelas novas geraes integralistas, pelos homens novos,batedores dos Tempos Novos, anunciadores da prxima alvorada humana.14

    Farias Brito distingue dois tipos de cincia, afirmando que: Eu chamo de Psicologia a

    cincia do esprito, e entendo por esprito a energia que sente e conhece, e se manifesta, em ns

    12Papa Leo XIII.Encclica Rerum Novarum. (Grifo do original).Disponvel em: Acesso em:01 Jun. 2011.13 BATISTA, Alexandre Bankl. Mentores da Nacionalidade: a apropriao das obras de Euclides da Cunha, Alberto

    Torres e Farias Brito por Plnio Salgado.p. 111.14SALGADO, Plnio.A Quarta Humanidade. In: ______. Obras Completas. v. 5. So Paulo: Editora das Amricas,1957.( primeira edio de 1934). p. 120.

    http://www.vatican.va/http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525http://www.vatican.va/
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    mesmos, como conscincia, e capaz, pelos nossos rgos, de sentir, pensar e agir. 15 Desta

    forma, Brito acredita na interveno direta do esprito nas aes humanas. Conceptualizao que

    foi requisitada por Plnio para sua explicao em torno da compreenso da Revoluo. H emPsicologia da Revoluoque Tdas as revolues so atos ideais, porque tda a alterao na marcha

    social pressupe a autonomia da Idia, o seu valor intrnseco, a sua prevalncia sbre as fras

    desencadeadas pelo determinismo dos fatos.16

    Sobre o materialismo e a metafsica, Brito disserta a respeito do carter desagregador

    exercido pela cincia da matria, em oposio cincia do esprito:

    (...) a cincia do esprito difere radicalmente das cincias da matria e jamais poder ser

    como estas, reduzida a sistematizaes rigorosas e a frmulas precisas. Alm disto,difere tambm essencialmente das mesmas por suas significao prtica. Com relaos cincias da matria pode dizer-se que o conhecimento generalizado em conceitose sistematizados em leis, e ao mesmo tempo consolidado em livros.17

    Salgado faz apropriao da filosofia de Farias de Brito como forma de respaldar sua

    doutrina sobre o individualismo e o materialismo existentes no sculo XIX, responsveis pela

    diviso e pelo declnio dos preceitos morais e religiosos. Salgado expe que Na cincia, a

    anlise contnua, dividindo e subdividindo, transformando as teses em corolrios na marcha

    permanente, em que se renega a cada dia a verdade de ontem. (). Tdo o sentido deste sculo

    o da diviso e da subdiviso18

    EmA Base Physica do Esprito,o cearense recupera o debate entre os limites da filosofia e

    da cincia, apontando para os males morais que a ltima poderia proporcionar sociedade

    moderna.

    V si por ahi que a influncia da scincia, se bem que seja realmente extraordinriasobre o ponto de vista economico, todavia quasi totalmente nula do ponto de vistamoral, sendo para notar que os prprios sabios no esto isentos do crime e seservem, no raro, da prpria scincia para modalidades extranhas e monstruosas do

    crime, que no foram conhecidas da antiguidade inculta, mas ao mesmo tempoingenua e sonhadora.19

    Neste sentido, no intuito de retomar a importncia da moral e da religiosidade Farias

    Brito formula a hiptese do pioneirismo do Esprito sobre as manifestaes revolucionrias,

    15BRITO, Farias. O Mundo Interior: ensaio sobre dados gerais do esprito. v. 52. Braslia: Senado Federal, conselhoeditorial, 2006.p. 85.16SALGADO, Plnio. Psicologia da Revoluo. In:______. Obras Completas. v. 7. So Paulo: Editora das Amricas,1955.(primeira edio de 1933). p. 33.17BRITO, Farias. O Mundo Interior: ensaio sobre dados gerais do esprito. v. 52. Braslia: Senado Federal, conselhoeditorial, 2006.p. 95.

    18SALGADO, Plnio. Psicologia da Revoluo. In:______. Obras Completas. v. 7. So Paulo: Editora das Amricas,1955.(primeira edio de 1933). p. 95.19BRITO, Raimundo Farias de.A Base Phisyca do Esprito. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1912. p. 32.

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    afirmando ser (...) uma verdade que toda a revoluo, quer de ordem poltica, quer de ordem

    social ou religiosa, sempre resultado de idias.20 Para analisar as origens do materialismo

    moderno, com o objetivo de compreender a origem da diferenciao e da criao de fronteirasentre filosofia e cincia aos moldes modernos, Farias Brito retrocede suas explicaes ao

    contexto da Grcia Antiga:

    Os filsofos da escola jnica eram fsicos, e como fsicos, era por ao das forasmesmas da natureza que procuravam explicar, no somente os elementos exteriores,ou os movimentos do cosmos, como ao mesmo tempo o pensamento e a vida. E esta a tradio a que se ligam Leucipo, Demcrito, Epicuro, Lucrcio e o materialismomoderno. Os eleatas, pelo contrrio, eram psiclogos, e era assim pelo esprito queexplicavam toda a realidade como toda a verdade. E esta a tradio a que se ligamScrates, Plato, Aristteles e todo o sistema espiritualista, isto entre os antigos.21

    Atravs da priorizao da matria objetiva em detrimento do esprito, como se aquela no

    fosse, (), seno uma espcie de divindade pag, surda e cega, mas onipotente e justa que

    coloca cada cousa em seu lugar, que prev tudo e que regula tudo e cujo imprio sem limites22,

    Brito interpreta ser o materialismo afilosofia do desespero.Portanto, para o homem materialista, nas

    palavras do filsofo: Pode-se dizer que a vida uma agonia contnua; e o momento em que

    comeamos a viver j, por assim dizer, o comeo de morte. (). Para vencer, pois, o desespero

    e a desgraa irremedivel da vida, s h um meio, o completo esquecimento de tudo no nada.23

    Plnio apropria-se destas interpretaes para tecer crticas s ideias de esquerda e ao

    liberalismo, presentes na sociedade brasileira dos anos de 1920 e 1930. Salgado refere-se

    sociedade burguesa como epicurista diante da ostentao de riquezas e da depredao dos valores

    cristos, ao mesmo tempo em que delega aos governos liberais caractersticas estoicas, pois , A

    sse desbragamento, os governos assistem de braos cruzados, porque os governos adotam a

    filosofia da indiferena dor, a doutrina pregada pelo velho Zeno, e que tanto sucesso fez na

    poca da decadncia de Roma.24

    Alertando para o perigo que a cincia materialista pode trazer para a coletividade, Farias

    Brito expe que: Desfeitas as crenas populares, entregue o povo em ideal e sem f,

    exclusivamente ao imprio das paixes desordenadas, quem ser capaz e prever o que d'ahi

    20BRITO, Raimundo Farias de.A Base Phisyca do Esprito. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1912. p. 29-30.21BRITO, Raimundo Farias de. O Mundo Interior: ensaio sobre dados gerais do esprito. v. 52. Braslia: Senado Federal,conselho editorial, 2006.p. 97.22BRITO, Raimundo Farias de.O Mundo Interior: ensaio sobre dados gerais do esprito. v. 52. Braslia: Senado Federal,conselho editorial, 2006.p.98.23BRITO, Raimundo Farias de. O Mundo Interior: ensaio sobre dados gerais do esprito. v. 52. Braslia: Senado Federal,

    conselho editorial, 2006.p. 106-107.24SALGADO, Plnio. SALGADO, Plnio. Palavra Nova de Tempos Novos . In: ______. Obras Completas. v. 7. SoPaulo: Editra das Amricas, 1955. (Primeira edio de 1937).p. 203.

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    poder vir de loucura e excessos?25Em O Mundo Interior Brito refora o conservadorismo e o

    elitismo de sua filosofia, ao expressar-se favorvel ao domnio intelectual da aristocracia, em

    detrimento das massas populares. Diz o filsofo: Lanai um pouco de gua purssima e lmpidacomo cristal na corrente lamacenta de um rio e ela imediatamente se turva e a mesma cor das

    guas em cujo turbilho envolvida; o mesmo acontece idia que entra em contato com a

    conscincia das multides.26

    recorrente entre as obras de Salgado, juzo negativo semelhante, em relao

    populao brasileira. Todavia, no se pode dizer que todo o elitismo e conservadorismo das obras

    de Plnio Salgado sejam derivados de Farias Brito. Muitas das manifestaes de tradicionalismo

    constantes na teoria do chefe integralista no so encontradas nos textos do autor cearense, poisabrangem contedos que excedem o proposto pela filosofia de Farias Brito. Portanto, ao dissertar

    sobre sua teoria de Estado, Salgado teve de procurar outros autores, no intuito de compor sua

    ideologia integralista.

    PTRIA: Pensamentos de Alberto Torres e Oliveira Vianna nas obras de PlnioSalgado

    Algumas das caractersticas predominantes nas obras de Alberto Torres so: apreocupao com a manuteno da ordem e da soberania nacional; a restruturao constitucional

    e; a necessidade de unificao do territrio nacional em bases territoriais e tnico-raciais no

    intuito de haver a consolidao do povo brasileiro. A retomada de seus estudos, a partir dos anos

    1930, se deu pela soma de fatores externos e internos que despertavam a preocupao da

    intelectualidade brasileira.

    Aps a Primeira Guerra Mundial a liberal-democracia encontrava-se em descrdito no

    cenrio poltico internacional, dando assento aos regimes extremistas, sejam de esquerda ou de

    direita, aps a Revoluo Russa. Em conjuntura interna, o sistema republicano federalista

    despertava a insatisfao de setores sociais - entre os quais estavam alguns representantes da elite

    intelectual brasileira - impelindo-os a buscar novas solues para sanar as instabilidades do

    cenrio poltico. Desta forma, Alberto Torres encontrou grande insero entre os pensadores que

    se voltavam para o problema nacional nos anos de 1920-1930, por ter teorizado possibilidades de

    administrar o Estado Brasileiro, quando o liberalismo era predominante em cenrio mundial.

    25BRITO, Raimundo Farias de.A Base Phisyca do Esprito. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1912. p. 31.26BRITO, Raimundo Farias de. O Mundo Interior: ensaio sobre dados gerais do esprito. v. 52. Braslia: Senado Federal,conselho editorial, 2006. p. 110

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    Como forma de resolver estes problemas polticos internos, o integralismo e, portanto,

    Plnio Salgado, resgatam o pensamento de Alberto Torres. Salgado recorre ao autor fluminense

    com a inteno de torn-lo, assim como Farias Brito, um predecessor da doutrina integralista.

    Alberto Trres nosso contemporneo. Precisamos rever e anotar a sua obra.Escoim-la do que j hoje perdeu oportunidade; limp-la do pecado da unilateralidadecom que le considera certos aspectos dos problemas nacionais; perdoar-lhe algumexcesso; retific-lo no que a experincia rude do mundo contemporneo o estexigindo; po-la, enfim, em dia com o problema universal que Trres alis encarou comsegurana em seus livros 'Le Prbleme Mondiale' e 'Vers la Paix'.27

    De fato, Salgado busca orientao nas obras de Torres para consolidar teorizaes sobre a

    formao institucional do Estado nacional; para enfatizar a importncia que a questo agrria

    manifesta na economia brasileira e; para apresentar a necessidade de consolidao da unidade

    tnica no Brasil. Porm, alguns aspectos existentes no pensamento torreano so desprezados pelo

    chefe integralista por haver a disparidade entre os dois contedos.

    O foco do pensamento de Alberto Torres situa-se na unidade nacional e a construo de

    um Estado forte e mantenedor de sua soberania. O pensador fluminense desenvolve em sua obra

    consideraes ao problema do esvaziamento de poder sofrido pelo Governo Central, frente ao

    federalismo e aos conchavos polticos regionais. Contudo, as crticas direcionadas por Torres ao

    Estado liberal, foram elaboradas com a finalidade de restaurar o sistema poltico, mantendo aorganizao e a ordem vigentes sem, no entanto, efetuar modificaes estruturais que resultassem

    na alterao do sistema poltico. Embora simptico centralizao do Poder, Torres no buscava

    a frmula ditatorial. Em defesa da democracia representativa o autor disserta:

    Um governo pode chamar-se democrtico porque proclama princpios do sufrgio;pode julgar-se representativo porque se diz fundado sobre a base do sistema eleitoral;no porm, realmente popular e representativo, se os seus rgos no resultam,espontaneamente da prpria vida nacional, se no tem, com o estado e a natureza dopas a relao que se d entre um reflexo e um foco de luz, entre uma sombra e o

    corpo que projeta.28Como forma de buscar a unidade interna, e sendo coerente com as crticas ao liberalismo

    Torres condena a discriminao racial amenizando os conflitos tnicos, ao dissertar que estes

    fragilizam a coeso nacional.

    Nas sociedades mistas de vrias raas, - defendia Torres - a solidariedade poltica,jurdica e econmica envolve o interesse atual e futuro de todas as raas num mesmo

    27 SALGADO, Plnio. Despertemos a Nao. In: ______. Obras Completas. v. 7. So Paulo: Editra das Amricas,

    1955. (Primeira edio de 1937).p. 155.28TORRES, Alberto.A Organizao Nacional. 4 ed. So Paulo: Editora Nacional; Braslia: Editora da Universidade deBraslia, 1982. p. 89.

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    interesse e num mesmo compromisso de apoio mtuo. (). Admitir a desigualdadeentre as raas importa decretar guerra entre elas, pois que a subordinao no maispossvel. 29

    Concernente a este esforo, h a exaltao do negro e do ndio com a finalidadedesmistificar a superioridade racial ariana - afirmao em voga no perodo - e inserir o Brasil em

    cenrio internacional, atravs da elevao moral e intelectual destes elementos tnicos. Portanto o

    autor fluminense expe a defesa dos elementos indgena e negro diante do preconceito

    eurocntrico nos termos apresentados a seguir:

    (...) temos verificado em cinco sculos de vida, que as diversas variedades humanashabitantes do nosso solo, so capazes de atingir o mais alto grau de aperfeioamentomoral e intelectual alcanado por qualquer outra raa. (). Podemos afirmar que o

    negro puro e o ndio puro so suscetveis de se elevarem a mais alta cultura.30

    Considerando os aspectos destacados da obra de Alberto Torres, possvel perceber

    pontos de aproximao e distanciamento mantidos por Salgado no esforo de consolidao da

    teoria integralista. Observa-se que a inteno de transformar o intelectual fluminense em um

    antecessor do integralismo torna-se invalidada, visto que no se encontra no pensamento

    torreano afinidade organizao totalitria de governo, embora preconize o fortalecimento do

    Estado.

    Por outro lado, Plnio Salgado demonstra a necessidade de se formar um movimento de

    massas, cunhado sob a frmula totalitria, com o poder centralizado na figura carismtica do

    chefe nacional, o prprio Plnio Salgado. Comprovando a afirmao da figura de Plnio enquanto

    chefe supremo, nos Estatutos da Ao Integralista aprovados em 1937, h nos artigos 6 e 7 do

    captulo Da Chefia Nacional: O Chefe Nacional perptuo em seu cargo. e prohibido,

    sob pena de excluso automtica, a qualquer integralista commentar os actos do Chefe

    Nacional.31

    Na esfera nacional, Torres era defensor do regime representativo, porm, Salgado ope-se

    a esta possibilidade de governo, por acreditar no despreparo poltico da populao votante,

    portanto, inviabilizando a defesa do sufrgio eletivo. Em Despertemos a Nao, Salgado revela seu

    anseio de dirigir as massas, sem que isto significasse a autorizao da participao destas nas

    29TORRES, Alberto.A Organizao Nacional. 4 ed. So Paulo: Editora Nacional; Braslia: Editora da Universidade deBraslia, 1982. p. 147. apud. BATISTA, Alexandre Blankl. Mentores da Nacionalidade: a apropriao das obras deEuclides da Cunha, Alberto Torres e Farias Brito por Plnio Salgado. p. 76.30TORRES, Alberto. O Problema Nacional Brasileiro. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1933 (1 ed. De 1914).apud.BATISTA, Alexandre Blankl. Mentores da Nacionalidade: a apropriao das obras de Euclides da Cunha, Alberto

    Torres e Farias Brito por Plnio Salgado. p. 75.31O Monitor Integralista. 7 de outubro de 1937. Arquivo Pblico e Histrico de Rio Claro-SP. Fundo Plnio Salgado.131.021-131.038 038.

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    decises polticas. Ao relativizar o dano causado pelo analfabetismo, o chefe integralista defende a

    positividade da manuteno do status de classe iletrada nas camadas populares, (...) porque

    representaria a massa bruta, facilmente dirigida pelas elites cultas.32

    Todavia, h elementos que se estreitam entre as obras de Torres e Salgado em razo da

    apropriao realizada pelo chefe integralista, aos pensamentos do intelectual fluminense. Torres

    era um defensor da unidade nacional, portanto, simptico ao povoamento da totalidade territorial

    do pas. O modo mais rpido e efetivo encontrado para a realizao da tarefa estaria na

    transformao das grandes pores de terras descolonizadas em propriedades rurais. Desta

    forma, Torres entusiasta do agrarismo, encontrando a a soluo para os problemas sociais que

    acometiam o pas.

    O intelectual fluminense, assim como posteriormente Salgado far, enxerga na questo

    geogrfica e ecolgica do pas a origem do subdesenvolvimento, diante das dificuldades

    encontradas pelos colonizadores em penetrar no interior do territrio - provocadas pelos

    acidentes geogrficos que impediam a comunicao e ligao das pores territoriais. O autor de

    A Organizao Nacional descreve o traado do territrio brasileiro e suas desvantagens estratgicas:

    Territrio heterogneo, de conformao longitudinal, com rios e vias de comunicao

    menos favorveis; eriados de cadeias de montanhas que dividem e separam, era maispenoso ligar e abranger as diversas zonas para lhes estudar o carter comum e prefixaras condies de unidade e solidariedade33

    Todavia, Torres disserta que essas mesmas caractersticas sero responsveis por retirar o

    Brasil da condio de subdesenvolvimento, pois Nessas sucessivas gradaes de climas, trrido,

    tropical, temperado, possumos um territrio dividido no ponto de vista fsico, e, portanto,

    econmico, em regies assinaladamente distintas.34. Torres aventa para a posio estratgica que

    o Brasil ocupa no globo, sendo a atividade agrcola a rea em que o pas dever se especializar no

    intuito de desempenhar funo de relevncia perante os demais pases do mundo.Em adio s explicaes de Torres, Plnio destaca a ausncia de carvo mineral no pas,

    combustvel das locomotivas a vapor, como elemento definidor da situao dos Estados Unidos e

    do Brasil. Nas palavras de Plnio, esta matria-prima, em abundncia nos EUA permitiu a ligao

    de seus extremos, enquanto no Brasil a comunicao se fazia por tropas de burros e carros de

    32 SALGADO, Plnio. Despertemos a Nao. In: ______. Obras Completas. v. 7. So Paulo: Editra das Amricas,1955. (Primeira edio de 1937).p. 145.33TORRES, Alberto.A Organizao Nacional. 4 ed. So Paulo: Editora Nacional; Braslia: Editora da Universidade de

    Braslia, 1982. p. 62.34TORRES, Alberto.A Organizao Nacional. 4 ed. So Paulo: Editora Nacional; Braslia: Editora da Universidade deBraslia, 1982.p. 65.

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    boi.

    Pois bem, o Brasil no dispunha e nunca disps dos elementos necessrios ao

    desenvolvimento racional da agricultura e ao incremento da indstria: o carvo-de-pedra. A extrao dsse combustvel era enorme, (). De sorte que os EstadosUnidos puderam fazer estradas e ferro para os sertes, onde se abriam cidades, e nseramos obrigados a nos servir de carros de boi e de tropas de burros. 35

    Salgado explicita, tal como Torres, estmulo s atividades rurais, dissertando que com a

    inveno do motor eltrico e sua popularizao as condies de produo no Brasil se tornaro

    mais amenas, possibilitando Dentro das prprias leis da Economia Clssica, a predominncia do

    produto agrrio sobre o produto industrial vai ser uma fatalidade deste sculo. (). Nesse dia que

    no est longe, os pases de vasto latifndio tero hegemonia econmica.36

    Retomando unidade tnica, tal como visto em Alberto Torres, esta possui espao na

    teoria de Salgado. Em diversas obras, Plnio demonstra preocupao quanto a dificuldade em se

    criar uma fisionomia nica de identidade nacional, frente questo tnica. Em Palavra Nova de

    Novos TemposSalgado expe que o Brasil Pas sem tipos uniformes de cultura, sem unidade

    tnica, temos de criar nle, uma conscincia, uma homogeneidade, uma fra que tenha, sbre as

    formas larvares de todas as outras, a firmeza dos lineamentos precisos.37 O caboclo para

    Plnio Salgado seria a essncia da nacionalidade brasileira, por estar assentado no serto, distante

    do cosmopolitismo capitalista que se apossou do litoral do pas, conforme defendia o chefe

    integralista. Para Plnio, a sucesso de caldeamentos tnicos, produzir o novo tipo humano.

    Segundo o autor, as caractersticas deste tipo indito seriam:

    a) - A agudeza dos instintos, pela proximidade tnica com o selvagem, ntimamenteligado a sutis intercorrespondncias com o meio csmico. Essa fina inteligncia donosso caboclo, desconfiado, arguto, capaz de compreender tudo por um simples olhar, uma expresso humana genuinamente nossa.

    b)A extrema bondade, procedente da candura infantil dos povos-crianas, e que nosd uma capacidade moral inigualvel para considerar os problemas sociais einternacionais numa atitude superior, isenta dos pavores e dios que solapam os povosantigos.

    c)A profunda espiritualidade, que confere ao nosso sentimento cristo uma purezainatingida por outros povos.

    d) A tenacidade na luta, j provada em quatro sculos de desbravamento das35SALGADO, Plnio. A Quarta Humanidade. In: ______. Obras Completas. v. 5. So Paulo: Editra das Amricas,1955. (Primeira edio de 1937).p. 73-74. SALGADO, Plnio. Despertemos a Nao. In: ______. Obras Completas.v.7. So Paulo: Editra das Amricas, 1955. (Primeira edio de 1937).p. 105.36SALGADO, Plnio. A Quarta Humanidade. In: ______. Obras Completas. v. 5. So Paulo: Editra das Amricas,

    1955. (Primeira edio de 1937). p. 72.37SALGADO, Plnio. Palavra Nova de Tempos Novos. In: ______. Obras Completas. v. 7. So Paulo: Editra dasAmricas, 1955. (Primeira edio de 1937). p. 257.

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    florestas, da escravido econmica, da pobreza de combustveis, numa obra sem igualno mundo.38

    A origem histrica do caboclo no Brasil, para Salgado, encontra-se no perodo colonial.

    Foi neste perodo, nas palavras do chefe do integralismo, o nico momento em que o Brasil se fez

    realmente democrtico diante da distncia entre colnia e metrpole39. No intuito de respaldar

    sua tese de democracia colonial, Salgado se utiliza de argumentos apresentados por Oliveira

    Vianna, adaptando-os sua teoria integralista. Tal como operou-se na interpretao do

    pensamento torreano, Salgado manteve a independncia de seu arcabouo ao apropriar-se das

    teorias de Oliveira Vianna.

    Vianna mantem argumentao elogiosa aos elementos arianos situados no territrio

    nacional. Destaca a moralidade, o equilbrio e o senso tico destes, em detrimento ao contingente

    mestio da populao.

    Essa aristocracia [rural] constitui, (), centro de polarizao dos elementos arianos daracionalidade. Nos seus sentimentos e volies, nas suas tendncias e aspiraes, elareflete a alma peninsular nas qualidades mais instintivas e estruturais. So realmenteessas qualidades que formam ainda hoje o melhor do nosso carter.40

    Salgado, por sua vez, defende a miscigenao para a formao da raa csmica

    atingindo, desta forma, a Quarta Humanidade. Na defesa da miscigenao feita por Salgado,

    encontram-se aspectos religiosos, inerentes ao seu pensamento. Portanto, mesmo havendo

    apropriaes tericas, Plnio manteve sua doutrina autnoma em relao aos seus afluentes na

    composio de sua doutrina.

    Em Populaes Meridionais do Brasil,por exemplo, Oliveira Vianna tece elogios moralidade

    ariana encontrada na aristocracia colonial, exame de determinismo racial ausente nas obras de

    Plnio Salgado; por outro lado, a religiosidade, tal como manifestada na doutrina do chefe

    integralista, encontra difcil insero nos projetos polticos de Alberto Torres, considerado o rigor

    tcnico da argumentao do autor fluminense.

    Desta forma, o catolicismo representa um dos pontos especficos encontrados em

    38SALGADO, Plnio. A Quarta Humanidade. In: ______. Obras Completas. v. 5. So Paulo: Editra das Amricas,1955. (Primeira edio de 1937). p. 73.39 No se verificava na Colnia, nenhum sentimento de exclusivismo de casta, nenhum orgulho de origem.Misturavam-se nobres e plebeus porque todos se uniam para a grande aventura da Amrica. O carter absorvente daautoridade local, que se alteava quase discricionria, escapando a vigilncia dos capites-generais e dos governadores-gerais, no era um ndice antidemocrtico. Pelo contrrio, era um individualismo exacerbado, que se era o espritoque iria dominar mais tarde o sculo XVIII e XIX. SALGADO, Plnio. Psicologia da Revoluo. In: ______. Obras

    Completas.v. 7. So Paulo: Editra das Amricas, 1955. (Primeira edio de 1937).p. 147-148.40VIANNA, Oliveira. Populaes Meridionais do Brasil: Populaes Rurais do Centro-Sul.v. 1. Belo-Horizonte: Itatiaia;Niteri: Ed. UFF, 1987.p. 47.

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    Salgado. Nas obras do lder integralista, a religiosidade ocupa a funo agregadora da unidade

    nacional.

    Vem comigo, estrangeiro, a esta colina sagrada. Presta bem ateno nos grupos deromeiros que acorrem, constantemente aos ps de Nossa Senhora. So homens emulheres morenos, louros, negros, caboclos, mulatos, africanos, europeus, asiticos,trazendo das flores da f e da esperana num preito de amor. a confraternizao detodas as Provncias Brasileiras, realizando a Unidade Nacional sbre a base de umsentimento comum. (...)

    V: uma Virgem Morena. A Sulamita do Cntico dos Cnticos quer significar, pelacr desta imagem, que o verdadeiro cristianismo no pode conceber discriminaes raciais.41

    Em Despertemos a Nao, Salgado revela que na segunda fase do movimento modernista

    (1926), houve o interesse em se analisar a identidade nacional, munindo-se de maiores aportes

    polticos. Neste perodo, Plnio afirma que Em conseqncia do estudo do ndio, o mistrio da

    Unidade Nacional absorveu-me. Minhas leituras eram, nesses dias, Alberto Trres, Euclides,

    Oliveira Vianna. O poltico despertava no escritor.42

    Conforme visto, Plnio Salgado formula concepes sobre a democracia colonial,

    ancoradas na suposta ausncia de autoridade da Metrpole sobre a Colnia. Esta inspirao pode

    ser retirada dos escritos de Oliveira Vianna, contudo, mantendo relativa independncia em

    pontos importantes. Em meio a este mundo de pouca superviso, havia a permeabilidade de

    classes, segundo Salgado, devido riqueza de possibilidades que se evidenciava.

    A democracia se realizava ampla e brbara em todo o continente, onde as castasdesapareciam no episdio todo comum da conquista da terra. Os desbravadores doserto, os mineradores, os caadores de ndios, os fundadores da agricultura, osconstrutores dos primeiros caminhos, os tropeiros, os carreiros, os vendeiros, ossitiantes, o caboclo pastor ou roceiro, essa grande massa rarefeita, espalhada pelonosso imenso territrio, no conhecia nem prerrogativas, nem privilgios, nemseparaes profundas de classes, nem diversidade de situao econmica influindo noscostumes e nos processos de vida.43

    Deste modo, sua teoria estava preparada para receber as palavras de Oliveira Vianna aomestio, arrefecendo o aspecto pejorativo que o autor de Populaes Meridionaisatribua ao caboclo,

    tornando positivo o isolamento poltico desenvolvido pelo mestio. Assim, sobre a participao

    deste elemento tnico nas esferas decisrias, Salgado disserta que

    No teve e Oliveira Vianna procura explicar o fato, escrevendo no seu Ocaso do

    41 SALGADO, Plnio. Geografia Sentimental. In: ______. Obras Completas. v. 4. So Paulo: Editra das Amricas,1955. (Primeira edio de 1937). p. 119 (Grifo meu).42 SALGADO, Plnio. Despertemos a Nao. In: ______. Obras Completas. v. 7. So Paulo: Editra das Amricas,

    1955. (Primeira edio de 1937).p. 14.43SALGADO, Plnio. Psicologia da Revoluo.In: ______. Obras Completas. v. 7. So Paulo: Editra das Amricas,1955. (Primeira edio de 1937). p. 135-136.

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    Imprio: Incultas na sua quase totalidade, dispersas na barbaria das matas e dossertes, as nossas massas populares, mesmos as que habitavam os ncleos urbanos,nada valiam ento, - como ainda no valem hojecomo centros de idealidade poltica.

    Formas de govrno, Instituies Constitucionais, Monarquia, Repblica, Democracia,tudo isso representava abstraes que transcendam de muito o alcance da suamentalidade rudimentar.44

    Enquanto o autor de Populaes Meridionais prestava reverncia ao exerccio do poder

    poltico colonial mantido pela aristocracia fidalga45, Salgado traa elogios dificuldade de

    penetrao do poder externo no cotidiano do caboclo que vivia na colnia. Ao passo que Salgado

    afirmava a ausncia de Poder, hierarquia e distino rgida de classes na colnia, Vianna disserta

    em Populaes Meridionais do Brasil que o poder existia, e estava concentrado nas mos dos

    elementos arianos da racionalidade, ou seja, a aristocracia rural.

    Em oposio a Alberto Torres, Vianna e Salgado possuam projetos antidemocrticos,

    favorveis instalao de regimes ditatoriais de natureza corporativista. Vianna busca no

    corporativismo, assim como Salgado, a soluo para a crise de legitimidade sofrida pelo regime

    liberal. Oliveira Vianna defende que o sistema liberal, incentivando a proliferao de partidos de

    cunho regional, estaria levando a administrao nacional do pas para instncias locais de

    interesses, sendo obrigatria a supresso partidria no Brasil.

    O nosso grande problema justamente libertar o governo ou a administrao nacionalda influncia desses partidos locais, que nunca se puderam tornar nacionais, apesar dosesforos dos grandes estadistas do Imprio. Ora, o 'governo de gabinete', no entantosendo a tcnica criada para entregar justamente a administrao da Nao aos partidos

    importaria, aqui na subordinao inteira do governo e da administrao do pas aessa multiplicao de cls partidrios locais, que tanto nos comprometem e nosembaraam.46

    Em via oposta, Salgado afastava-se de Vianna quanto a funo da miscigenao no pas,

    aproximando-se de Alberto Torres. Vianna acredita no aspecto positivo do caldeamento tnico,

    no intuito de minorar as caractersticas racialmente inferiores encontradas na populao

    brasileiras. O autor defendia que do cruzamento de elementos arianos resultaria na disseminao

    44SALGADO, Plnio. Psicologia da Revoluo. In: ______. Obras Completas.v. 7. So Paulo: Editra das Amricas,1955. (Primeira edio de 1937).p. 131.45Essa forada inteno de alta classe da colnia nas fazendas e campos do interior exerce, por seu turno, umainfluncia considerabilssima sobre o destino de todos os elementos de pura extrao fidalga, que a compem, e quevemos iluminar com suas suntuosidades e grandezas a nossa rude barbaria colonial. Eles tendem a desaparecer, medida que avanamos do I para o II, do II para o III sculo, atravs de um rpido e vigoroso processo de seleo,exercido num sentido democrtico. VIANNA, Oliveira. Populaes Meridionais do Brasil: Populaes Rurais do Centro-

    Sul. p. 32-33.46VIANNA, Oliveira. Instituies Polticas no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; Niteri: Editora da Universidade FederalFluminense, 1987.p. 133. (Grifo do original).

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    da moralidade e do decoro, existentes nos elementos arianas, para o restante da populao.47

    Conforme visto anteriormente a preocupao de Torres e Salgado partia de outros aspectos, com

    ambos os autores observando o potencial de formao da unidade nacional que seria trazido apartir da fuso tnica, criando desta forma, uma identidade nacional.

    Entretanto, na teoria de Plnio Salgado, o caldeamento tnico transcende a formao da

    identidade e unidade nacional, tal como defendido por Alberto Torres. Salgado destina sua

    raa csmica configurao imperialista, com a finalidade de evitar a confrontao blica. Neste

    sentido, Plnio lana mo do autor mexicano Jos Vasconcelos, formulador original do conceito

    de raza csmica.

    PTRIA: La raza csmica eA quarta humanidade

    Vasconcelos tomou notoriedade no Brasil no ano de 1922, quando enviado em Misso

    Especial s comemoraes do centenrio da independncia ocupou o cargo de Ministro da

    Educao Pblica do governo do Mxico. Naquele momento havia a necessidade do presidente

    mexicano lvaro Obregn ampliar relaes com os governos latino-americanos, visando o

    respaldo diplomtico diante da insegurana despertada pela poltica imperialista dos Estados

    Unidos48. Na inteno de estabelecer a integrao dos pases da ibero-Amrica Jos Vasconcelos

    segue campanha pelo continente.

    O objetivo central de Vasconcelos estava na criao do pan-americanismo como coeso

    entre os pases hispano-americanos (incluindo o Brasil), no intuito de fazer frente ao

    imperialismo anglo-saxo, representado pelos Estados Unidos e Inglaterra. Sob o esforo de

    inverter a situao de inferioridade dos latino-americanos quanto s relaes internacionais,

    expressada pelo estigma de serem ex-colnias, o autor disserta em sua obra La Raza Csmica,

    sobre a idade geolgica do continente americano.

    Neste sentido, o autor mexicano defende a maior idade do continente americano caso

    comparado com os demais, concluindo ser razovel, portanto, a hiptese da Amrica ter

    assentado civilizaes anteriores s percebidas na Europa, frica e sia, sendo aquelas

    igualmente mais desenvolvidas. Contudo, com o passar do tempo, a superioridade desta

    47VIANNA, Oliveira. Populaes Meridionais do Brasil: Populaes rurais do Centro-sul. p. 53.

    48 CRESPO, Regina Ada. Cultura e Poltica: Jos Vasconcelos e Alfonso Reyes no Brasil (1922-1938). In: RevistaBrasileira de Histria, So Paulo, v. 45, n. 45, 2003. Disponvel em: .Acesso em: 24 Dez. 2010.

    http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525
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    civilizaoAtlntida, tal qual Vasconcelos a chama, desgasta-se, dando lugar a outras formas de

    povoamento.

    La raza que hemos convenido llamar de atlntida prospero y decay en Amrica.Despus de un extraordinario florecimiento, tras de cumplir su ciclo, terminado sumisin particular, entr en silencio y fu decayendo hasta quedar reducida a losmenguados Imperios azteca y inca, indignos totalmente de la antigua y superiorcultura. Al decaer, los atlantes, la civilizacin intensa se translad a otros stios ycambi de estirpes; deslumbr en Egipto; se ensanch en la India y en Grciainjentando en las razas nuevas.49

    Vasconcelos observa que aps o declnio desta civilizao o continente americano foi

    recolonizado e, no decorrer da formao nacional dos pases latino-americanos, o carter

    fragmentrio foi predominante. Em La Raza Csmica h a advertncia de que estes pases recm-independentes, ao entrarem em conflito enfraquecem-se reciprocamente e, sem perceberem

    beneficiam o nico rival territorial no continente: o povo saxo. A teoria de Vasconcelos, inclina-

    se ao pan-americanismo dos pases ibricos, contra os Estados Unidos.

    Despojados de la antigua grandeza, nos ufanamos de un patriotismo exclusivamentenacional, y ni siquiera advertimos los peligros que amenazan a nuestra raza enconjunto. Nos negamos los unos a los otros. La derrota nos ha envilecido a tal punto,que sin darmos cuenta, servimos a los fines de la poltica enemiga, de batirmos endetalle, de ofrecer ventajas particulares a cada uno de nuestros hermanos, mientras al

    otro se le sacrifica en interesses vitales. (). Los creadores de nuestro nacionalismofueron, sin saberlo, los mejores aliados del sajn, nuestro rival en la posesin delcontiniente.50

    Vasconcelos defende a predestinao do continente americano em tornar-se o palco do

    retorno da civilizao Atlntida. Seus motivos para eleger o continente como local do

    florescimento desta nova civilizao, so semelhantes aos levantados por Alberto Torres, sendo

    observado o clima e os recursos naturais, com o diferencial do incremento cientfico, para atrair

    as populaes das terras frias. Retomando, enquanto Torres disserta que foi n'

    A zona intertropical: bero do animal humano; foi em climas mdios ou clidos que sefixou o tipo mais perfeito do reino animal; a convergem, naturalmente, as aspiraes ,os desejos dos homens em todas as regies. S o esgotamento do solo, a proliferaodas populaes, as incurses brbaras e as guerras conseguiram arremessar grandesmassas de populao para zonas frias. natural que o homem tente voltar para seubero, sempre que a encontre terras frteis e clima propcio.51

    Vasconcelos descreve os aspectos positivos encontrados na Ibero-Amrica,

    49 VASCONCELOS, Jos. La Raza Csmica: Missin de la raza iberoamericana. Disponvel em:. Acesso em: 23 Fev. 2010.50 VASCONCELOS, Jos. La Raza Csmica: Missin de la raza iberoamericana. Disponvel em:

    . Acesso em: 23 Fev. 2010.51TORRES, Alberto.A Organizao Nacional. 4 ed. So Paulo: Editora Nacional; Braslia: Editora da Universidade deBraslia, 1982. p. 64.

    http://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htm
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    concentrando-se nos:

    (...); recursos naturales, superficie cultivable y frtil, agua y clima. Sobre este ltimo

    factor se adelantar, desde luego, una objecin: el clima, se dir, es adverso a la nuevaraza, porque la mayor parte de las tierras disponibles est situada en la regin msclida del globo. Sin embargo, tal es, precisamente, la ventaja y el secreto de sufuturo.52

    Vasconcelos observa outra vantagem, situada na facilidade com que a populao latino-

    americana possui em absorver o contingente estrangeiro, miscigenando-o, ignorando os

    preconceitos raciais. O autor interpreta ser o caldeamento tnico elemento inerente formao

    da populao latino-americana, composta inicialmente pelo branco, pelo ndio e pelo negro. Esta

    nova civilizao - segundo Vasconcelos, derivada do mtico povo atlntico - se daria atravs do

    entrecruzamento racial que originaria um tipo indito de humanidade.

    Todavia, no decorrer de sua idealizao sobre a raa csmica, o autor mexicano veta a

    penetrao dos elementos asiticos, mais especificamente os chineses por se multiplicarem como

    as ratazanas.53Destacando a permeabilidade dos ibero-americanos o intelectual disserta que:

    Los llamamos latinos, tal vez porque desde un principio no son propiamente taleslatinos, sino un conglomerado de tipos e razas, persisten en no tomar muy cuenta elfator tnico para sus relaciones sexuales. Sean cuales fuerem las opiones que a esterespecto se emitan, y aun la repugnancia que el prejuicio nos causa, lo cierto es que

    se ha producido y sigue consumendo la mezcla de sangres. Y es en esta fusin deestirpes donde debemos buscar el rasga fundamental de la idiosincrasiaiberoamericana.54

    Visando cumprir objetivos similares aos traados pelo intelectual mexicano, - a inverso

    do statusde inferioridade visto por ambos os autores - Salgado reafirma as razes metropolitanas,

    declarando que neg-las seria o mesmo que trair ptria. Declarando luta contra o preconceito da

    superioridade ariana, e visando fazer enaltecimento no somente aos colonizadores do Brasil, mas

    ao negro e ao ndioelementos formadores da identidade nacional, segundo Salgado o chefe

    integralista organiza sua retrica, da seguinte forma:

    Ora, ns brasileiros, preocupados com as concluses dos europeus, assentamos que omaior dos vexames a que nos podero expor o de dizerem que no somos uma raaabsolutamente ariana. E vamos mais longe: alm de nos horrorizarmos ante asinformaes dos viajantes que nos dizem negros; alm de nos indignarmos se um

    52 VASCONCELOS, Jos. La Raza Cosmica: Missin de la raza iberoamericana. Disponvel em:. Acesso em: 23 Fev. 2010.53Pero al preceder de esta suerte, nosotros no obedecemos ms que a razones de orden econmico; reconocemosque no es justo que pueblos como el chino, que bajo el santo consejo de la moral confuciana se multiplican como losratones, vengan a degradar la condicin humana, (). VASCONCELOS, Jos. La Raza Cosmica: Missin de la raza

    iberoamericana. Disponvel em: . Acesso em: 23 Fev. 2010.54 VASCONCELOS, Jos. La Raza Cosmisca: Missin de la raza iberoamericana. Disponvel em:. Acesso em: 23 Fev. 2010.

    http://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htm
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    globe-trotter se referir a nossa origem tupi, ou simplesmente contar que h ndiosno Brasil, - vamos ainda mais longe: lamentamos que o nosso pas no tivesse sidocolonizado pelos holandeses, que aqui no houvesse triunfado as armas do Nassau, ou

    mesmo de Villegaignon, ou Cavendish!... Repudiamos nossas trs origens!55Atravs destes argumentos, observa-se que Salgado caminha para o mesmo sentido de

    Jos Vasconcelos quanto fuso racial, tendo esta na teoria integralista, funo estratgica de

    coeso e identidade nacional. Das teorias de Plnio, consonantes com os escritos de Vasconcelos,

    conclu-se que o Brasil seria o lugar privilegiado para a formao da raa harmoniosa, pois:

    A raa brasileira, e de um modo geral, a sulamericana, tem um sentido csmicooriginado das fontes tnicas. Cumpre observar que as ondas migratrias arianas esemitas, que se espraiam em nosso continente, no alteram a fisionomia profunda daalma americana. Assim como existe um meio fsico, existe um meio tnicoimperativo.56

    O lugar privilegiado para o surgimento deste novo tipo humano seria, segundo Salgado, o

    Estado Integralista. Este Estado teria como caracterstica a coeso dos valores religiosos e

    cientficos, mas (...) subordinando a cincia a um pensamento superior de finalidade humana.57.

    Em sua teoria, Salgado recusa abordar o Estado Integralista como um fim em si, refutando desta

    forma a classificao de totalitrio ao seu movimento. Salgado apresenta a concepo de Estado

    fundando distines entre a absoro das instncias nacionais, sociais, culturais, econmicas e

    religiosas praticadas pelo totalitarismo; e o integralismo, que nas palavras de Plnio, se assentariana harmonia entre tdas essas expresses, a intangibilidade da 'pessoa humana'.58

    Conhecidos os limites estabelecidos por Jos Vasconcelos ao novo continente (La tierra

    de promisin estar entonces en la zona que hoy comprende el Brasil entero, ms Colombia,

    Venezuela, Ecuador, parte de Per, parte de Bolivia y la regin superior de la Argentina.59), e

    ciente das vantagens trazidas pela instituio do Estado Integralista, o ideal expansionista comea

    55 SALGADO, Plnio.Despertemos a Nao, p. 41.A citada passagem de Plnio Salgado guarda semelhanas com a

    defesa feita por Vasconcelos, dos conquistadores espanhis: En cambio nosotros los espaoles, por la sangre, o porla cultura, a la hora de nuestra emancipacin comenzamos por renegar de nuestras tradiciones; rompimos con elpasado y no falt quien renegara la sangre diciendo que hubiera sido mejor que la conquista de nuestras regiones lahubiesen consumado los ingleses. Palabras de traicin que se excusan por el asco que engendra la tirana, y por laceguedad que trae la derrota. Pero perder de esta suerte el sentido histrico de una raza equivale a un absurdo, es lomismo que negar a los padres fuertes y sabios cuando somos nosotros mismos, no ellos, los culpables de ladecadencia. VASCONCELOS, Jos. La Raza Cosmica: Missin de la raza iberoamericana. Disponvel em:. Acesso em: 23 Fev. 2010.56 SALGADO, Plnio. A Quarta Humanidade.. In. Obras Completas. v. 5. So Paulo: Editora das Amricas, 1957.(primeira edio de 1934).. p. 66.57 SALGADO, Plnio. A Quarta Humanidade.. In. Obras Completas. v. 5. So Paulo: Editora das Amricas, 1957.(primeira edio de 1934). p. 65.58SALGADO, Plnio. Estado Totalitrio e Estado Integral (1936). In: ______. Obras Completas. So Paulo: Editra

    das Amricas, 1955. p. 443.59 VASCONCELOS, Jos. La Raza Cosmica: Missin de la raza iberoamericana. Disponvel em:. Acesso em: 23 Fev. 2010.

    http://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htmhttp://www.filosofia.org/aut/001/razacos.htm
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    a despertar-se em Plnio Salgado.

    Em tons profticos, o chefe integralista apresenta que a Grande Ptria formada a partir

    da ascenso poltica dos camisas-verdes trar contribuies para a nova Humanidade, poiseliminar o embate entre raas, religies, classes ou nacionalidades.60Diante destes benefcios que

    seriam trazidos, depois de implementado no Brasil, o Estado Integralista seria exportado para os

    pases vizinhos. Salgado declara:

    No me contento com a implantao do Estado Integralista no Brasil. Quero que essaidia se irradie 'por tda a Amrica do Sul'. (). Quando todos os pases da Amricado Sul entrarem neste ritmo, ter chegada a hora da grande atitude. Esta RevoluoIntegralista a Revoluo do Continente.61

    O vnculo terico com Jos Vasconcelos inerente s teorias expansionistas de Plnio,sendo o Estado Integralista portador da Civilizao Atlntica prenunciada em La Raza Csmica.

    Salgado utiliza desta apropriao para traar projetos polticos, econmicos e morais aps

    Revoluo Integralista, unificadora do continente americano. Em A Quarta Humanidade Salgado

    informa a proximidade da realizao desta movimentao:

    Vai-se aproximando a hora em que surgir a grande civilizao atlntica. (). A uniomais ntima entre os americanos meridionais dar a cada povo da nossa Amrica umasegunda independncia econmica. A implantao do Estado Integralista em cada

    uma das naes do Continente, ser o primeiro passo que temos a dar em conjunto.sse movimento que se iniciou no Brasil, dever estender-se nos pases sulamericanos.A suspenso de tdas as barreiras alfandegrias entre sses povos, e o mais ntimointercmbio cultural e espiritual devem ser a preocupao imediata dos EstadosIntegralistas Sul-Americanos.62

    Em suma, o chefe da AIB utiliza-se do pan-americanismo lanado por Vasconcelos para

    fortalecer suas ambies autoritrias e expansionistas. Projetos polticos que no se restringiam ao

    territrio nacional, mas aos pases que faziam fronteira, criando o esboo de um bloco ideolgico

    denominado de Estado Integralistas Sul-Americanos. No entanto, a possibilidade de se lanar ao

    combate pela via das armas descartada por Salgado, diante da reconhecida debilidade blica dopas:

    Hoje, em nosso tempo, no devemos principiar pelas armas, porque somos naeseconmicas e tcnicamente inferiores s grandes potncias. Temos de reatar o fio dapoltica bolivariana, iniciando, porm, a campanha por um esfro no sentido de uma

    60SALGADO, Plnio. A Quarta Humanidade. In: ______. Obras Completas.v. 5. So Paulo: Editra das Amricas,1955. (Primeira edio de 1937).p. 125.61 SALGADO, Plnio. Palavra Nova de Tempos Novos. In: ______. Obras Completas. v. 7. So Paulo: Editra das

    Amricas, 1955. (Primeira edio de 1937).p. 246-247.62SALGADO, Plnio. A Quarta Humanidade. . In: ______. Obras Completas.v. 5. So Paulo: Editra das Amricas,1955. (Primeira edio de 1937).p. 74-75.

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    unidade sentimental, cultural e econmica. 63

    Todavia, o projeto poltico de Salgado era perpassado pela tenso entre Estado e religio.

    O lder da AIB oscila, ao longo de suas obras, entre a aceitao da penetrao da religiosidade noEstado, em sua modalidade Integralista, e a separao das duas esferas embora houvesse a

    predominncia da abordagem religiosa e moralista nas teorias de Salgado, de forma quase que

    indissocivel. Salgado, ao menos em sua teoria, repudiava o carter mtico construdo pelos

    lderes totalitrios, atacando com veemncia o nazismo, por interpret-lo como:

    A guerra s religies em estado latente, (...) prestes a passar ao estado patente (...) uma consequncia natural do misticismo que ali se criou, sem base religiosa, isto ,misturando duas manifestaes humanas diferentes, no mbito restrito do Estado. a

    prpria concepo do Estado Totalitrio no seu mximo exagero, no estilo de Csar:Chefe Militar, Chefe Civil e Pontfice. (...) misticismo transportado do campo religioso, ondesempre deveria estar, para o campo das atividades polticas; a concepo do Chefe, como umhomem diferente dos outros,um semideus , a encarnao de Odin, e a concepo deseus adeptos, como sres inumanos, super-religiosos, porm que, sem um fundamentocristo sincero,ultrapassaram a linha hipcrita do velho puritanismo, atingindo o outroextremo, onde a exploso de todos os recalques acaba se manifestando como negaodaprpria virtude.64

    Ainda nestes ataques observa-se a oscilao dos argumentos de Salgado. Enquanto h a

    recriminao do comportamento de Hitler, por este, nas palavras de Salgado, transportar o

    misticismo do campo religioso para o campo das atividades polticas, h da mesma forma, arepulsa ao nazismo por no possuir um fundamento cristo sincero.

    Diante da caracterstica da permanncia da religiosidade no pensamento de Plnio, e

    consequentemente em sua concepo de Estado, o chefe integralista trava luta em sua teoria sob

    duas frentes de combate, ambas apontadas por Leo XIII na Encclica Rerum Novarum: a

    penetrao do individualismo na esfera estatal e da sociedade, disseminando valores egostas e

    ostentatrios; e a interveno do Estado na formao do indivduo. Desta maneira, a famlia

    desempenha, a partir das palavras de Plnio, papel de mediao entre o indivduo e o Estado.

    FAMLIA: Estado, Indivduo, Corporativismo

    Na carta papal, apresenta-se o modelo de Estado forte e participativo, provedor do

    desenvolvimento econmico e social atravs de polticas justas. Por outro lado, o documento

    63 SALGADO, Plnio. Palavra Nova de Tempos Novos. In: ______. Obras Completas. v. 7. So Paulo: Editra das

    Amricas, 1955. (Primeira edio de 1937).p. 284.64SALGADO, Plnio.Palavra Nova de Tempos Novos. In: ______. Obras Completas. v. 7. So Paulo: Editra dasAmricas, 1955. (Primeira edio de 1937).p. 292. (Grifo nosso).

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    recrimina a invaso do Estado famlia - exceto para auxili-la - retirando seus componentes da

    situao de privao e penria, pois na famlia que a pessoa consolida seus valores morais e seu

    senso de justia, no devendo ser esta violada.Querer, pois, que o poder civil invada arbitrariamente o santurio da famlia, um errograve e funesto. Certamente, se existe algures uma famlia que se encontre numasituao desesperada, e que faa esforos vos para sair dela, justo que, em taisextremos, o poder pblico venha em seu auxlio, porque cada famlia um membro dasociedade.65

    A famlia , nos escritos de Leo XIII, uma sociedade elementar, antecedente sociedade

    civil, de forma tal que o direito propriedade teria de ser mantido no intuito de preservar esta

    primeira sociedade. O direito propriedade defendido atravs da observao da

    responsabilidade da figura paterna em prover o sustento de seus dependentes.

    A natureza no impe somente ao pai de famlia o dever sagrado de alimentar esustentar seus filhos; vai mais longe. Como os filhos reflectem a fisionomia de seu paie so uma espcie de prolongamento da sua pessoa, a natureza inspira-lhe o cuidadodo seu futuro e a criao dum patrimnio que os ajude a defender-se, na perigosajornada da vida, contra todas as surpresas da m fortuna. Mas, esse patrimnio poderele cri-lo sem a aquisio e a posse de bens permanentes e produtivos que possamtransmitir-lhes por via de herana?66

    A partir da defesa da famlia pela propriedade, o trabalho abordado pela Igreja

    retirando-lhe o aspecto depreciativo que o exerccio de funes laborais mantiveram em sculosanteriores. A Igreja preconiza estar situado no trabalho o meio digno de se conquistar a

    propriedade, e salvaguardar a instituio familiar. Consta na Encclica Rerum Novarum: O

    trabalho do corpo, pelo testemunho comum da razo e da filosofia crist, longe de ser um

    objecto de vergonha, honra o homem, porque lhe fornece um nobre meio de sustentar a sua

    vida.67

    Consequentemente defesa da famlia a Igreja estabelecia o combate ao materialismo, por

    razes entre as quais se destacam o individualismo incitado pelo liberalismo; a perda de f nasalvao espiritual, dando lugar ostentao material; assim como a ameaa comunista que

    atentava contra a propriedade privada. vlido destacar a oposio s convices liberais pelo

    Vaticano, constatada na carta de 1891. Segundo o papa, o liberalismo - causa da revolta do

    trabalhador e mola de revolues - e o comunismo, foram os motivos da dissoluo dos valores

    morais existentes, sendo necessria a presena forte do Estado na sociedade, porm, de forma

    pontual e efetiva, no sentido de retirar da condio miservel as famlia que estejam passando por

    65Papa Leo XIII.Encclica Rerum Novarum. Disponvel em: Acesso em: 01 Jun. 2011.66Papa Leo XIII.Encclica Rerum Novarum.Disponvel em: Acesso em: 01 Jun. 2011.67Papa Leo XIII.Encclica Rerum Novarum.Disponvel em: Acesso em: 01 Jun. 2011.

    http://www.vatican.va/http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525http://www.vatican.va/http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525http://www.vatican.va/http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525http://www.vatican.va/http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525http://www.vatican.va/http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525http://www.vatican.va/
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    necessidades, no intuito de prevenir que seus componentes sejam influenciados pelo

    materialismo, seja ele o liberalismo ou o comunismo.

    Salgado parte da descrio do mesmo cenrio de desagregao social narrado pela

    EncclicaRerum Novarum, para apresentar seu Estado utpico como a soluo da desagregao

    social implementada pelo materialismo. Fazendo coro carta de Leo XIII, o lder da AIB

    disserta sobre a desagregao praticada pela cincia, atravs da derrubada dos dogmas:

    A mentalidade humana se desagrega em inmeras concepes de existncia, ao passoque a economia, atravs do individualismo que inspira todas normas de direito,expande-se num rumo firme de unidade, que marca os fortes lineamentos da grandebatalha entre o Capital e o Trabalho.

    A cincia destruiu o sentimento de subordinao do Homem e da Sociedade a umaCausa, a um Fim. No lhe deu em troca nada que pudesse substituir sse firme eseguro alicerce onde outrora repousava o esprito humano, hoje atormentado porsupremas angstias.68

    Salgado observa a dinamizao econmica e poltica vivida pelo Brasil nos anos 1930

    como sintomas da dissoluo moral causada pelo materialismo. Plnio atesta a investida do

    liberalismo e do comunismo contra os valores morais tradicionais, atravs da observao das

    vrias lutas que se ensaiam na sociedade, em razo, conforme afirma o integralista, da expanso

    materialista contra Deus, a Ptria e a Famlia.

    Uma luta sem trguas desencadeou-se sobre a terra. Luta da criana contra seus pais emestres. Luta da mulher procura de uma ridcula emancipao que a torna escrava,mais miservel, mais deslocada do centro de intersses da Espcie e da prpriaSociedade. Luta de empregados e patres. Luta da concorrncia comercialdesenfreada. Luta dos partidos polticos.69

    Percebe-se o encadeamento dos embates apresentados acima, iniciados na famlia (Luta

    da criana contra seus pais e mestres) resultando em propores nacionais. Em relao a parcela

    referente s mulheres em procura por postos de trabalho, transparece a influncia da carta papal

    de 1891. Leo XIII comenta a inaptido feminina a certos tipos de trabalho, dissertando quesua natureza seja destinada ao trato domstico e a educao dos filhos, enquanto em Salgado h o

    desagrado explcito participao da mulher ao mercado de trabalho. Na carta papal, h que

    Trabalhos h tambm qu se no adaptam tanto mulher, a qual a natureza destina depreferncia aos arranjos domsticos, que, por outro lado, salvaguardamadmiravelmente a honestidade do sexo, e correspondem melhor, pela sua natureza, ao

    68SALGADO, Plnio. Psicologia da Revoluo.In: ______. Obras Completas. v. 7. So Paulo: Editra das Amricas,

    1955. (Primeira edio de 1937).p. 88.69 SALGADO, Plnio. Palavra Nova de Tempos Novos. In: ______. Obras Completas. v. 7. So Paulo: Editra dasAmricas, 1955. (Primeira edio de 1937). p. 313.

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    TemporalidadesRevista Discente do Programa do Programa de Ps-graduao em Histria da UFMG, vol. 3 n. 1.Janeiro/Julho de 2011ISSN: 1984-6150 www.fafich.ufmg.br/temporalidades

    que pede a boa educao dos filhos e a prosperidade da famlia.70

    Salgado diz que ser na Quarta Humanidade,o nascimento do Estado Integral e, junto a

    ele, novas formas econmicas e sociais de se relacionar. Neste novo tipo de organizao h ainfluncia religiosa, pois o Estado Integralista buscado por Salgado seria edificado (...),

    consultando, a um tempo, a aspirao do Infinito da criatura humana e as contingncias da vida

    material.71

    Portanto, tal como apresentado pela carta de Leo XIII, a organizao estatal integralista,

    segundo Plnio Salgado, no seria um fim em si mesmo, mas estaria voltada para a recuperao

    dos princpios morais e espirituais. Por este motivo, Plnio enxerga na famlia o pilar estruturante

    de sua utopia, pois esta a definidora da identidade do indivduo, delimitando as fronteiras entreo elemento particular e o conjunto social. Em suas palavras, o chefe integralista define a funo

    da famlia, sendo:

    A Famlia que d ao Homem o senso das propores exatas. ela que lhe imprimeo sentido profundo da humanidade. em razo dela que o Estado no absorve oindivduo nem o indivduo absorve o Estado; que o intersse coletivo no atentacontra o intersse individual, nem o intersse individual se sobrepe ao interssecoletivo. (). no quadro da Famlia que o Homem adquire o senso equilibrado dasperspectivas sociais. no seu mbito que se possibiliza a concepo harmoniosa doIndivduo, da Classe Profissional, da Coletividade, do Estado e da Ptria.72

    Nestes contornos, Plnio destaca a relevncia da famlia em diversas partes de suas obras,

    descrevendo-a em uma delas, como sendo A primeira realidade que se oferece ao Homem, logo

    que abre os olhos da conscincia para o mundo, a realidade da Famlia.73 Defendendo-a como

    base de seu Estado Integral, Salgado argumenta que a forma da famlia se sustentar e zelar por

    sua manuteno, estaria na propriedade. Sendo o Estado, segundo a concepo do chefe

    integralista, fixado sob bases morais e espirituais; a famlia o suporte do Estado Integralista; e a

    propriedade a garantia desta perpetuar-se, Plnio justifica o direito propriedade:

    A Famlia a defesa moral do Homem que, s em razo dela, no se animaliza e spelo seu respeito no se escraviza. Conseqentemente, sustentamos o princpio dapropriedade. Porque ela a garantia da Famlia, a defesa material do indivduo e o eloconcreto do qual as geraes se ligam.74

    70Papa Leo XIII.Encclica Rerum Novarum. Disponvel em: Acesso em: 01 Jun. 2011.71 SALGADO, Plnio. A Quarta Humanidade.. In: ______. Obras Completas. v. 5. So Paulo: Editra das Amricas,1955. (Primeira edio de 1937).p. 64.72 SALGADO, Plnio. Palavra Nova de Tempos Novos . In: ______. Obras Completas. v. 7. So Paulo: Editra dasAmricas, 1955. (Primeira edio de 1937).p. 234.

    73SALGADO, Plnio. A Revoluo da Famlia (1934). In: ______. Obras Completas. So Paulo: Editra das Amricas,1955. p. 414.74 SALGADO, Plnio. A Quarta Humanidade.In: ______. Obras Completas. v. 5. So Paulo: Editra das Amricas,

    http://www.vatican.va/http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525http://www.scielo.br/pdf%0D/rbh/v23n45/16525http://www.vatican.va/
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    TemporalidadesRevista Discente do Programa do Programa de Ps-graduao em Histria da UFMG, vol. 3 n. 1.Janeiro/Julho de 2011ISSN: 1984-6150 www.fafich.ufmg.br/temporalidades

    Assim como na EncclicaRerum Novarumo direito propriedade privada reservado no

    integralismo de Plnio Salgado, devido compreenso da posse ser natural e inerente ao homem.

    O lder da AIB afirma que O direito de propriedade fundamental para todos ns, consideradoseu caracter natural e pessoal. O capitalismo attenta hoje contra esse direito, baseado como se

    acha no individualismo desenfreado, assignalador da physionomia do systema economico liberal-

    democratico.75

    Defendendo a unidade do Estado e recorrendo ao antiliberalismo e ao pensamento

    antidemocrtico, o autor refora sua inteno sobre o corporativismo como forma de regime.

    Os partidos s podem se extinguir, organizando a verdadeira democracia crist, que o Estado

    Corporativo. No haver descontentes nem perseguidos, porque todos os homens inscritos agoranos partidos so brasileiros e pertencem a uma profisso.76O Estado corporativo, nos projetos

    de Salgado, se estenderia sobre todos os trabalhadores, mantendo-os em suas classes

    profissionais, sem no entanto, interferir no ambiente familiar*.

    O Estado Harmonioso projetado por Salgado, portanto, seria O Estado espiritualista e

    cristo que se prope a manter o equilbrio dos grupos, a fim de assegurar a intangibilidade do

    Homem. A Famlia o Grupo sntese, que oferece ao Estado o sentido dos lineamentos

    exatos.77

    O chefe integralista confirma o papel central que exerceria a famlia na consolidao desua utopia estatal, sendo aquela o primeiro esboo do Estado Integral pensado por Plnio.

    Consideraes finais

    Embora haja a apropriao do fascismo na teoria do integralismo de Plnio Salgado,

    ocupando funo importante na articulao da doutrina, buscou-se demonstrar outros vetores

    que enriqueceram o arcabouo do chefe integralista. Manteve-se este como o foco, com o

    objetivo de estender as consideraes sobre a composio terica do integralismo segundo

    Salgado.

    A partir do objetivo apresentado, deixou-se em segundo plano a relao entre o chefe

    1955. (Primeira edio de 1937). p. 110.75SALGADO, Plnio.Manifesto de Outubro de 1932. So Paulo: Secretaria Nacional de Propaganda, [193-]. p. 576 SALGADO, Plnio. Doutrina do Sigma: Pginas de Ontem. In: Obras Completas. v. 10. So Paulo: Editra dasAmricas, 1955 (1 edio de 193-.).p. 204.*Afirmaes desta natureza devem ser sempre colocadas em observao, visto que, conforme j explicitado, mesmo

    em fase de movimento, a Ao Integralista realizava esta interveno atravs de seus rituais, cerimnias e smbolos.77SALGADO, Plnio. A Revoluo da Famlia. (1934).In: ______. Obras Completas. So Paulo: Editra das Amricas,1955. p. 413.

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    integralista com o fascismo para priorizar outras influncias terico-ideolgicas do integralismo

    brasileiro. Entende-se, portanto, que mesmo sendo relevante a insero do fascismo no conjunto

    de idias integralista, a investigao de outros vetores intelectuais buscados por Plnio Salgado vlida no sentido de enriquecer o debate em torno do integralismo.

    Diante do monoplio de atenes desfrutado pelo fascismo nas pesquisas que investigam

    a teoria integralista*, pensadores significativos ficam de fora do esforo de pesquisa. Desta forma,

    se buscou aqui o retorno das investigaes do pensamento de Plnio Salgado, enquanto chefe da

    AIB, com a proposta de mirar em outros alvos - distintos do fascismo - para observar a forma

    com que foram consolidadas estas apropriaes doutrinrias no interior do conjunto ideolgico

    integralista.

    *TRINDADE, Hlgio.Integralismo: o fascismo brasileiro da dcada de 30.So Paulo: Difel; Porto Alegre: UFRGS,1974; CHASIN, J.. O Integralismo de Plnio Salgado: forma de regressividade do capitalismo hper-tardio. So Paulo:Livraria Editora Cincias Humanas LTDA, 1978; VASCONCELOS, Gilberto. Ideologia Curupira: anlise do discursointegralista. So Paulo: Brasiliense, 1979; ARAJO, Ricardo Benzaquen de. Totalitarismo e Revoluo: o Integralismo dePlnio Salgado.Rio de Janeiro: Jorge Zahar editores, 1988. Para trabalhos recentes: SILVA, Giselda Brito. A Lgica deSuspeio contra o Sigma: discursos e polcia na represso aos integralistas em Pernambuco. Tese (Doutorado em

    Histria) Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2002; SCHMIDT, Patrcia. Plnio Salgado: o discursointegralista, a revoluo espiritual e a ressurreio da nao. Dissertao (Mestrado em Histria) - UniversidadeFederal de Santa Catarina, Florianpolis, 2008.