Detalhe - o Efeito de Real e a Singularização

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Sobre a inserção de detalhes na ficção.

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  • DETALHE o efeito de real e a singularizao

    Marcio Markendorf

  • A fico e o exerccio do talento visual.

  • Detalhe:

    caracterizar, descrever, enfocar, realar, destacar, circunscrever, singularizar.

  • O mar tem jogado na praia pingim, [tartaruga gigante, cao, cachalote. Hoje: mulher nua. Depilada pareceria enorme arraia podre. Porm cabelos e pelos lembram animal da [famlia do macaco; corpo lils de manchas claras mrmore de carrara [incha exposto; sangue, tripas, ossos perderam calor e pudor; olhos, lbios, boca, vagina: peixes devoraram. Banhistas instalam barracas longe da coisa morta, logo envolvida por enorme crculo de areia, indiferena, [asco. Policial limpa suor da testa, olha gaivota, cu azul. Afinal rabeco: corpo carregado. Espao branco vazio cercado pelo colorido das barracas, lenos, biqunis, chapus, [toalhas, por todos os lados. Chega famlia: "Olha, parece que reservaram lugar para ns". Os inocentes,

    Rubem Fonseca

  • ESTIDADE

    o processo de individuao

  • Ma Por um lado te vejo como um seio murcho Por outro como um ventre cujo umbigo pende ainda o cordo placentrio s vermelha como o amor divino Dentro de ti em pequenas pevides palpita a vida prodigiosa Infinitamente. E quedas to simples Ao lado de um talher Num quarto pobre de hotel Manuel Bandeira interior

    Abaixo

    Ao redor

    Acima Dentro de

    Ao lado de

  • Estidade > Tangibilidade > Substncia

    Cores

    Formatos Fatos

    Processos Comparaes | Metforas

    Objetos especficos Partes de um todo

  • Tinha agora uma boa oportunidade para examinar a sua pessoa. Era de pequena estatura, muito magro e, aparentemente, muito dbil. Suas roupas eram, em geral, sujas e rasgadas; mas quando ele ficava, uma vez

    ou outra, sob o forte claro de uma luz, eu percebia que o linho que o trajava, embora sujo, era de uma bela textura; e minha viso me enganava ou , atravs de uma fenda no rocl, todo abotoado e evidentemente de segunda mo, que o envolvia, vislumbrei um diamante e tambm uma adaga. Essas observaes aguaram a

    minha curiosidade , e resolvi seguir o estranho aonde quer que fosse.

    O homem da multido, Edgar Allan Poe

  • Um bando de SOLDADOS esto enfileirados em alerta.

    O TENENTE ALDO RAINE, um caipira das montanhas do Tenesse, caminha ao longo da fila. Ele recruta os homens que os alemes iro chamar de Os Bastardos. O Tem. Aldo possui uma caracterstica fsica distinta,

    uma QUEIMADURA DE CORDA em volta do pescoo como se, um dia, ele tivesse sobrevivido a um LINCHAMENTO.

    A cicatriz nunca ser mencionada.

    Os bastardos inglrios, Quentin Tarantino

  • Por estidade entendo qualquer detalhe que atrai para si a abstrao e parece mat-la com um sopro de tangibilidade; qualquer detalhe que concentra nossa ateno por sua concretude.

    James Wood

  • Iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii Iii iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

    Poema tirado de uma notcia de jornal Joo Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilnia num barraco sem nmero Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Danou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. Manuel Bandeira

  • Detalhes no so irrelevantes, mas significativamente insignificantes, nos do a impresso de que a fico semelhante vida, pois o detalhe assume um carter funcional ou simblico.

    James Wood

    Efeito de real

  • Detalhe esttico Detalhe dinmico

    Percorria, ao acaso, o Quartier Latin, habitualmente cheio de tumulto, mas deserto naquela poca, com os estudantes em frias. As altas paredes dos colgios, que o silncio parecia tornar mais extensas, tinham um aspecto ainda mais triste; ouvia-se um sem nmero de rudos pacficos, bater de asas nas gaiolas, a vibrao de um torno, o martelo de um sapateiro; e os vendedores, de roupas, no meio da rua, interrogavam inutilmente com os olhos todas as janelas. No fundo dos cafs solitrios, a dama do balco bocejava entre as garrafas cheias; os jornais permaneciam em ordem na mesa dos gabinetes de leitura; na casa das engomadeiras, a roupa branca estremecia ao sopro do vento morno. De vez em quando, detinha-se diante do tabuleiro de um alfarrabista; um nibus que descia, rente ao passeio, fazia-o voltar-se; e, chegando em frente ao Luxemburgo, no ia mais longe.

    A educao sentimental, Gustave Flaubert

    Diferentes temporalidades

  • Qualidade pictrica da narrativa

  • A liberdade guiando o povo, Eugne Delacroix, 1830

  • A morte de Marat, Jacques-Louis David, 1793

  • O Assassinato de Marat, Paul Jacques Aime Baudry, 1860