DESTERRO PROMENDADE

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Estado da Arte Introdução Partindo do conceito de promenade architecturale proposto por Le Corbusier, propus um opercurso conceptual que se baseia, como ficou patente no meu “paper” com a apresentação do título e conteúdos do Projecto Final, projectar em função do indivíduo, da escala da pessoa e da sua experiência sensoríal individual, tendo em conta o papel da própria da narrativa da arquitectura, contrariando o desenho da cidade como um objecto de unidades lineares isoladas. Pretende-se assim compreender como operacionalizar este conceito não só no espaço da casa, mas também no espaço urbano. Serão procuradas as formas de criar condições de conforto no espaço público, de habitabilidade do mesmo, permitindo a experiência de cidade, e com novas dinâmicas de encontro as pessoas são chamadas à cidade e que a ela querem voltar e permanecer. A intenção é, em suma, como resumi então, investigar sobre a possibilidade de percurso como estratégia de revítalizaçâo do centro da cidade, pelo seu carácter de elo relacional entre espaços públicos. Todavia, e de modo a fazer uma clara destrinça entre aquilo a que chamarei as “duas escalas” de fruição e entendimento da arquitectura e da cidade, convirá assentar 1

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Estado da Arte

Introdução

Partindo do conceito de promenade architecturale proposto por Le

Corbusier, propus um opercurso conceptual que se baseia, como ficou patente

no meu “paper” com a apresentação do título e conteúdos do Projecto Final,

projectar em função do indivíduo, da escala da pessoa e da sua experiência

sensoríal individual, tendo em conta o papel da própria da narrativa da

arquitectura, contrariando o desenho da cidade como um objecto de unidades

lineares isoladas.

Pretende-se assim compreender como operacionalizar este conceito não

só no espaço da casa, mas também no espaço urbano. Serão procuradas as

formas de criar condições de conforto no espaço público, de habitabilidade do

mesmo, permitindo a experiência de cidade, e com novas dinâmicas de encontro

as pessoas são chamadas à cidade e que a ela querem voltar e permanecer.

A intenção é, em suma, como resumi então, investigar sobre a

possibilidade de percurso como estratégia de revítalizaçâo do centro da cidade,

pelo seu carácter de elo relacional entre espaços públicos.

Todavia, e de modo a fazer uma clara destrinça entre aquilo a que

chamarei as “duas escalas” de fruição e entendimento da arquitectura e da

cidade, convirá assentar numa apreciação de carácter conceptual, uma vez que

estas “duas escalas” ficaram intimamente ligadas na minha proposta.

De facto, o percurso e a fruição da arquitectura e dos sítios urbanos

enquanto tal, contempla uma dimensão de macro-escala - em que a deslocação

do indivíduo se faz de longas distâncias percorridas e de um contacto visual e

físico com os edifícios e com as ruas ou eixos de passagem - e com uma micro-

escala, esta, eventualmente mais de acordo com o que Le Corbusier propôs -

em que o percurso arquitectónico, ou promenade architecturale, (literalmente, o

“passeio arquitectónico”), se nos oferece “de dentro”, ou enquadrado pela peça

arquitectónica ela mesma. Neste caso trata-se de uma passagem “interior” à

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própria obra arquitectónica, que a vai dando a ver e a conhecer, às vezes com

efeitos surpresa, outras vezes na obediência de um percurso que torna evidente

ao “passeante” (ao “promeneur”) a própria matéria e os próprios indicidentes de

que é feita “aquela” arquitectura. Isto estaria de acordo com uma máxima que o

próprio Jeanneret assumia como sendo a sua forma de trabalhar, projectando

“de dentro para fora”: o edifício dá-se a ver a quem nele se encontra e que o

percorre, passeando, independentemente da dimensão (e da escala,

precisamente).

Grand Tour

Falando da macro-escala de todo e qualquer percurso com intuitos de

percpeção arquitectónica, haverá que dar conta de que a primeira forma de

“promenade”, se assim lhe poderei chamar, remonta muito atrás no tempo, a um

período bem anterior á ruptura modernista. Falo, aqui, do chamado e

celebrizado Grand Tour. O Grand Tour, uma forma pioneira de turismo cultural

como hoje facilmente se constata, constituía uma forma de ilustração e de

educação das elites nobres e burguesas da Europa do barroco e do Iluminismo.

Esse longo passeio que demoraria meses a cumprir, levava esses

membros da elite a conhecer as obras mais requisitadas e valorizadas do tempo,

como fossem as antiguidade gregas e romanas, a escultura desse mesmo

período, e as grande realizações do Renascimento, não falando já dos

encontros que tinham lugar, de quando em vez, com os próprios artistas e

arquitectos. O conhecimento da Arte era, pois, o principal móbil para p Grand

Tour, e a visita a galeria particulares ou a monumentos (que não eram tido como

tal, mas antes com testemunhos de um passado de perícia e elevação)

familiarizaram o viajante com valores novos, uma vez que o inesperado

encantamento perante a erupção do Vesúvio ou o espectáculo da natureza

selvagem, serviam de contraponto às delícias da civilização. O espírito

romântico, seja o neo-classisicmo, seja o romantismo revivalista (motivado pelo

reconhecimento das espectaculares realizações medievais, por exemplo),

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ajudaram a criar o sentimento estético do sublime. Mas a experiência

arquitectónica e urbana, consistia no fulcro deste itinerário, que, quase

obrigatoriamente, levava estas elites a percorrer segundo uma sequência

conhecida, conforme o lugar de partida, os Alpes, passando daqui a Veneza e

depois passando por Roma e segundo até Nápoles. Alguns itinerários

complementares ou alternativos viriam a incluir a Grécia, mas igualmente

Espanha (e Portugal também…) ou regiões mais exóticas, onde o espírito de

abertura estética era mais fortemente suscitado, com ocasionais explorações

dirigidas a Marrocos, e mais raramente, a Constantinopla e ao Egipto.

O impacte do Grand Tour for enorme, e é por isso que o romantismo neo-

clássico ou romantismo medievalista, se combinou por vezes, com revivalismos

“gregos” e e com a chamada “egiptomania”. Poderá ainda referir-se a moda

“popeiana” o próprio esteilo Império com uma consequência destas aquisições

de conhecimentos, que levavam, como seria de esperar, a uma cultivação da

própria clientela dos arquitectos e artistas e decoaradores, que corresponderiam

aos pedidos dos seus clientes.

Arquitecura mediterrânica / arquitectura islâmica. Paradigma.

Outro elemento referido na minha apresentação e, curiosamente,

evocado pelo próprio Le Corbusier é o valor, agora num domínio conceptual e

não histórico –mas que lhe isnpirou o estattuo da sua “promenade”- é a

arquitectura árabe. Paulo Pereira, baseando-se, em parte, no ensinamento de

Chueca Gotia, resume esta experiência partindo, inclusivamente, de partes do

tecido urbano lisboeta “de matriz islâmica” ainda sobreviventes: “Alfama, - tal

como a Mouraria, arrabalde islâmico instituído a Norte do castelo em período

cristão - é formada por uma rede labiríntica de ruas. (…). Aí se encontram ruas

em cotovelo, ruas que se encontram a si mesmas e um incontável número de

becos. Nunca uma única rua oferece uma perspectiva continuada, minimamente

ortogonal. Dir-se-ía ser impossível qualquer assomo de racionalidade

convencional. Algumas ruas culminam em "pátios", uma das características

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fundamentais do urbanismo medieval lisboeta. Estes "pátios" são, na realidade,

áreas colectivas partilhadas por vizinhos, quando antigamente eram partilhadas

apenas por famílias e vedadas ao circunstante (tal como acontecia em muitos

becos). De facto, as caas casas viravam-se para dentro e não demonstravam

quaisquer sinais exteriores distintivos.

Para caracterizar melhor este contexto islâmico, aquele autor precisa

alguns aspectos facilmente reconhecíveis na vivência da cidade de Lisboa hoje,

e quanto a mim, não apenas nos bairros antigos do “centro histórico” medieval:

“As casas eram homólogas, aliás, do próprio sentir do muçulmano. A religião

islâmica pauta-se por princípios que se podem considerar "atomistas" uma vez

que cada homem é um ser singular, monádico e isolado, em comunicação com

Deus (Ala), virado para si mesmo, individualista e discreto na sua crença”.. O

que mais me importa considerar do ponto de vista coneptual, é que “O

urbanismo mediterrânico de matriz islâmica é o espelho destas constantes e

Alfama revela-se como um dos exemplos mais legítimos deste tipo de habitat em

toda a Península Ibérica. (…). A vida privada e o recolhimento resguardava-se

do turbilhão citadino no "pátio" ou na mesquita. Ou mesmo em casa, na qual

bastava estender um tapete para simular o lugar de oração e invocar o profeta

nas horas assinaladas pelos cânticos dos muhezins no alto das torres ou

minaretes.” 1 Como escrevi e aqui confirmo, trata-se de uma arquitectura (e de

um urbanismo) de percursos, que se aprecia percorrendo, numa experiência

sensorial de descoberta, habitualmente considerada assim mais confortável que

a cidade linear.

Walter Benjamin

Um nome absolutamente incontornável no processo de “pensar a cidade”,

agora como lugar ou lugares encadeados onde a história dos homens se

sedimenta, deixando traços materiais e visíveis, é Walter Benjamin. O seu

projecto inacabado ficou célebre: os chamos Passagen-Werk, conhecido na

1 - Cf. PEREIRA, Paulo, Arte Portuguesa. História Essencial, Temas e Debates, 2011, p.

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literatura e na história como The Arcades Project (no mundo anglo-saxóico) ou

Passages (em francês), ou Passagens, em português). Assim se intitulou porque

Bejamin se inspirou, e até certo ponto, elegeu, um elemento específico de uma

cidade – Paris – para desenvolver um trabalho que se pode dizer de história, de

crítica, de filosofia e até de “arqueologia”.

O objectivo de Walter Benjamin foi bem descrito por Karl Shlogel: “La

obra de los pasajes debía alcanzar ‘Ia extrema concreción de una época’. Sin el

contacto con Ias superfícies a interpretar, sin darse esas vueltas que luego fijaba

en observaciones y formulaciones cristalinas, sin Ia experiência de Io espacial y

corpóreo que Ia visión de un lugar alberga, no habría llegado a esa ‘fisionomia

materialista’; o por decirlo mas atinadamente aún con palabras de Benjamin:

‘Escribir historia significa dar a unas fechas su fisonomía' “. Ou seja: Walter

Benjamin, partindo de uma metodologia marxista, dialética, pretendia conferir à

História mais do que um lado narrativo e sequencial. Queria, apartrir da

interpretação do tecido urbano ou de uma parte dele, interpretar e dar

materialidade e visibilidade, a um momento histórico, e a cidade era a evidência

das marcas do tempo. As Passagens, eram passagens físicas e passagens da

memória inscrita numa cidade. Era esse o objectivo principial. Traduzir “Ia fuerza

inspiradora de Ia ciudad como entorno del pensamiento”.

Chegará mesmo ao ponto de definir um local de observação priveligiado::

“Esa esquina del bulevar Saint-Germain (el cruce con Ia rua du Four) se ha

acreditado como puesto particularmente estratégico”, embora, na realidade, as

suas investigações se desenvolvessem na Bibliothèque Nationale, onde

consultava obras escritas e gráficas, no que era uma inovação que alguns já

definiram como percursoramente “pós-moderna”.

Essencial a estas investigações sobre a cidade do século XIX (era essa a

época que queria documentar e dar a ver) eram dois conceitos: o de “collage”

(colagem), em que a história não se terá de fazer através de uma narrativa

sequencial, como referia mais acima; e a de “flâneur”, isto é, do indivíduo que

passeia, do passeante. As Passagens, eram, também como referi acima,

passagens físicas, uma vez que era um percurso que lhe interessava: as

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galerias construídas na Paris do século XIX que iam sendo a pouco e pouco

modificadas e desmanteladas por causa da renovação urbana de Bernard

Haussman, sendo decisivas a Passage des Panoramas, a Passage Jouffroy e a

Passage Verdeau.

O projecto de Walter Benjamin, mais do que o veio a ser publico, iria ter

uma influ~encia enorme no pensamento filosófico e histórico de inspiração

marxista e no contexto do pensamento pós-moderno.

È nessa linha que se situam os trabalhos de grande fôlego do já citado

Karl Schlogel 2, de Susan Buck-Morss 3, e de M. Christine-Boyer (esta sobre

Chicago). Ainda uma grande parte da obra do escritor W. G. Sebald4 é feita

sobre memórias de vida e do confronto com os objectos e as história citadinas.

Em qualquer dos casos, o que está aqui em causa “é o percurso urbano como

elemento que espoleta a memória, a história, o que existe e o que deixou de

existir, os trajectos e os percursos, numa espécie de arqueologia do

contemporâneo, que se deve ter em conta, e que leva a que seja possível

construir um imaginário, ou reconstruir um imaginário, ou inventar uma tradição

no tecido sobrante da urbe actual, já desgarrada, interrompida, narrativa

esgaçada que deixou vestígios minúsculos (a loja, a tabacaria, a esquina –

aquela esquina- o parque (…)” 5.

Este questionamento da cidade poderá ser fundamental para a

reprogramação urbana de uma área. E elemento que pode fundamentar um dos

eixos de estudo e investigação do contexto arquitectónico, seja qual for a área

da cidade onde se intervenha.

Sistemas flexíveis. O regresso da praça e da rua

2 - SCHLOGEL, Karl, En el espacio leemos el tiempo. Sobre Historia de la civilización y Geopolítica, Madrid, Siruela, 2007.3 - BUCK-MORSS, Susan . The Dialectics of Seeing: Walter Benjamin and the Arcades Project (Studies in Contemporary German Social Thought), Boston, MIT Press, 1991.4 - Traduções portuguesas da obra de W.G. Sebald: Vertigem (1990), Os Emigrantes (1992), Os Anéis de Saturno (1995), Austerlitz (2001),Campo Santo (2003).

5 - PEREIRA, Paulo, apontamentos (inéditos), s.d.

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Com efeito, Le Corbusier propõe com a sua promenade architecturale,

uma experiência no percorrer do espaço, descobrindo e apreciando a

arquitectura em todas as suas dimensões.

Mas a extensão à “cidade” deste conceito (algo que Sigfríed Giedion já

referia quando falava do espaço como um ponto de referência em movimento e

não como uma entidade, absoluta e estática)6, é reflectido na macro-escala

urbana, e reportando-se a conglomerados construtivos, teorizados como

edifícios-tapete ou “mat-buildings”, por Alison Smithson já em 1974: "As partes

de um sistema extraem sua identidade do próprio sistema [...] Os sistemas terão

mais do que as habituais três dimensões; incluirão a dimensão do tempo [...] Os

sistemas serão suficientemente flexíveis para permitir o crescimento e a

transformação ao longo de sua vida [...] Os sistemas permanecerão abertos em

ambas direções, isto é, tanto na que se refere aos sistemas menores dentro

deles, quanto aos sistemas maiores em seu entorno [...]. Para não comprome

Para não comprometer o futuro, os sistemas apresentarão, no início, uma

grande intensidade de atividades [...] A ampliação e o caráter dos sistemas

serão visíveis ou, pelo menos, identificáveis, a partir da percepção das partes

dos sistemas" (Smithson e Smithson, 1974; 20057); . É assim, também, que

Alison e Peter Smithson desenvolvem no seu trabalho a ideia de mobilidade e a

importância de que os espaços na cidade sejam capazes de possibilitar a vida

social, que se criem "habitats que estimulem o desenvolvimento de relações

humanas".

Trata-se de algo que Aldo van Eick já experimentara, quando implanta

numa casa “com duas faixas organizadas em torno da escada e da cozinha,

que, denotando uma especial sensibilidade para com o trabalho reproduzível,

situa-se no centro de todas as circulações. A casa inscreve-se no recinto familiar

fechado, gerando pátios triangulares e hexagonais. Expressa-se assim uma

6 - Cf. a grande síntese GIEDION, Sigfried, Space, Time and Architectues: the grouth of a new tradition,Harvard Universrty Press, 1995, Massachusetts.

7 - Para uma relação completa das bases teóricas destes autores ver SMITHSON, Alison e Peter, The Charged Void: Urbanism, The Monacelli Press, NewYork, 2005.

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ideia atemporal de moradia- os cómodos agrupam-se na casa e esta se inscreve

em um recinto, gerando-se, entre eles, os pátios -, próxima conceitualmente à

arquitetura de recintos, espiritual, essencialista e minimalista(…)” (Montaner,

2009, p. 109). Este processo aproxima o tecido urbano, neste caso habitacional,

de um contexto urbano de ruas, artétias e pracetas, com uma relação indirecta

com o conceito de cidade pré-moderna, tradicional, mas sem recorrer a

tradicionalismos. Por isso, Aldo van Eyck dirá que "a casa é uma pequena

cidade, a cidade é uma grande casa", remetendo para a importância da criação

de ambientes em qualquer escala, não distinguindo arquitectura e urbanismo

mas pensando no que interessa, nas acções das pessoas, nas relações

humanas que acontecem em cada espaço.

Exemplos deste tratamento que recupera a noção antiga (na palavra

portuguesa) de “ruação” (segundo Paulo Pereira) que se encontra já em

projectos de Candilis, Josic e Shadrach Woods. É a Shadrach Woods que se

deve uma nova equação: constrói uma nova ideia de espaço, transformado pelo

movimento, baseada naquela que era considerada pelo modernismo a quarta

dimensão da arquitectura, o tempo. Na Universidade Livre de Berlim, juntamente

com Candilis e Josic confere-lhe o significado de mobilidade, reflectindo nas

dinâmicas, pensado na escala humana para a criação de um projecto com

identidade e coesão social 8, o que virá ser espelhado, também, em intevrenções

como a que levaram a cabo no chamado Romerberg, em pleno centro histórico

de Frankfurt, parcialmente devastado pela 2ª Guerra Mundial, reinventando o

tecido urbano pré-existente, e conferindo-lhe uma dimensão humana

imediatamente vivenciável, sem rupturas espaciais.

Embora sejam distintos os princípios teóricos em presença, interessa-me

explorar a dimensão constituída pela associação de movimento-tempo-memória,

enquanto motor conceptual a reter de modo a vê-lo reflectido no meu trabalho de

8 - Um programa de estudo do CIAM chamado "Mobilidade" aborda temas como"Homem como um viajante", que pretende encontrar num determinado percurso, aquilo que o Homem vê, os pontos de interesse que aprecia, a aproximação à casa, o corredor. como elemento social. Aqui se vê o alcance da arquitectura “internacionalista” e, sobretudo, o legado de Le Corbusier neste desenvolvimento.

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projecto. Com efeito, o tecido urbano em que sou chamada a intervir, embora

afastado de grande pólos de velocidade quotidiana, implicam mesmo assim,

uma consideração dos valores da percepção “em movimento”, juntamente com a

percepção “do movimento” quando a situação é estática/estável, ou vista “de

dentro”, como diria Le Corbusier.

Mas a construção ou descontrução deste tecido, um processo de dialética

típica das grande cidades, sendo algo de palpável, e coincidindo com uma zona

“secundária” da imagem-tipo de Lisboa (o eixo da Almirante Reis exige que se

pense no seu entroncamento ao níevl do Martim-Moniz/Rua da Palma com

“passagens” em guetos “consolidados”, o primeiro dos quais foi a antriquíssima

Mouraria, passando pelo Intendente, e pelas franjas deste eixo onde habitou

uma burguesia média e pequena, e um núcleo de operariado fabril, à beira

(ainda no século XX, para o lado que fica depois da crista de Sapadores) de um

território agro-piscatório (os vales perpendiculares ao Tejo, e o próprio Baixo

Tejo).

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