DESMISTIFICANDO O ENSINO DA MATEMÁTICA COMO … · isso faz-se necessário a elaboração de um...

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DESMISTIFICANDO O ENSINO DA MATEMÁTICA COMO DISCIPLINA

ABSTRATA E DE DIFÍCIL ENTENDIMENTO ATRAVÉS DO USO DE JOGOS E

MATERIAIS DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS.¹

Leonice Justus Lauber da Silva²

Maria Marcê Moliani ³

Resumo

Este artigo apresenta os resultados obtidos pelo trabalho realizado a partir de uma proposta da Secretaria de Estado do Paraná através do Programa de Desenvolvimento da Educação – PDE, aplicado na Escola Estadual Professor Amálio Pinheiro-Ensino Fundamental na cidade de Ponta Grossa, com alunos dos 6º anos, alunos estes representados pelas Salas de Apoio à Aprendizagem. A linha de estudo escolhida para desenvolver este projeto foi a produção e utilização de material didático pedagógico como recurso de aprendizagem e a disciplina de matemática foi escolhida por ser considerada, em geral, difícil e enigmática pela maioria dos estudantes. Percebe-se que os alunos não gostam de estudá-la e que ela vem se tornando um dos grandes fatores da repetência e evasão escolar. Baseando-se na Teoria das Inteligências Múltiplas, do psicólogo Howard Gardner, evidencia-se a necessidade da associação destes conteúdos teóricos com atividades concretas, compreendendo como o aluno pensa e como vem a construir seus conceitos matemáticos, permitindo mais autoconfiança e autossegurança, possibilitando vantagens no desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor deste. As atividades trabalhadas, são de conhecimento da prática pedagógica dos docentes, porém adaptadas para se construir junto com os alunos de forma lúdica através de oficinas pedagógicas e fazendo uso de materiais recicláveis, contemplando dessa forma os conteúdos da Agenda 21 e despertando o gosto pelo fazer, realizar, inventar e valorizar o que se constrói.

Palavras-chave: matemática; conceitos; material didático-pedagógico.

___________ ¹Artigo Final - Programa de Desenvolvimento Educacional - Secretaria de Estado da Educação do Paraná. ²Professora PDE 2010. Professora Pedagoga formada pela UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa). ³Professora Orientadora PDE – Doutora em Educação.

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1 Introdução

“ Ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo, exige reflexão crítica sobre a prática; exige convicção de que a mudança é possível; exige comprometimento... ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo. “ ( Paulo Freire )

O presente artigo iniciou-se através dos resultados obtidos pelo trabalho

realizado a partir de uma proposta da Secretaria de Estado do Paraná através do

Programa de Desenvolvimento da Educação – PDE onde a linha de estudo

escolhida para este projeto foi a produção e utilização de material didático

pedagógico como recurso de aprendizagem. As atividades foram implementadas na

Escola Estadual Professor Amálio Pinheiro – Ensino Fundamental, na cidade de

Ponta Grossa pelo fato desta apresentar alto índice de evasão escolar, repetência,

notas baixas na prova Brasil e ainda pelo baixo índice alcançado no IDEB (índices

3,4 no ano de 2005; 3,1 no ano de 2007 e 4,0 no ano de 2009)4 sendo inserida no

Projeto de Superação5 da Secretaria Estadual de Educação na tentativa de reverter

estes índices e melhorar assim o desempenho da escola.

Dessa forma, de acordo com o levantamento realizado optou-se em

desenvolver o projeto de pesquisa na área da disciplina de matemática, visando

alternativas para tentar resolver ou amenizar o problema. O projeto atendeu 20

alunos, na faixa etária de 11 a 14 anos, selecionados pelos professores regentes e

matriculados nos 6º anos, que apresentavam dificuldades de aprendizagem em

_____________

4 IDEB é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica e foi criado em 2007 para medir a qualidade de cada escola e de cada rede de ensino.Fonte: http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=336&id=180&option=com_content&view=article 5 Projeto Superação - É um Programa da Secretaria de Estado da Educação do Paraná que visa atender às escolas com maiores dificuldades na implementação de ações que promovam o acesso e a permanência ao ensino público de qualidade, com vistas a formação integral dos alunos.

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conteúdos relativos aos anos iniciais do ensino fundamental, como: números e

álgebra, grandezas e medidas, geometria, tratamento e informação, os quais são

básicos para futuras aprendizagens. Alunos estes representados pela Sala de Apoio

à Aprendizagem que funciona em contraturno, pois fazem parte do programa de

atividades curriculares complementares propondo metodologias diferenciadas da

classe comum e adequadas às necessidades dos alunos, já que tais alunos

permanecem o dia todo na escola em dois dias na semana.

Esse estabelecimento de ensino oferece apenas os anos finais do Ensino

Fundamental, ou seja, do 6º ao 9º ano, contando no momento com 704 alunos

distribuídos em 13 turmas no ensino matutino e outras 11 turmas no período

vespertino. A escola acolhe alunos na sua grande maioria provenientes de uma

classe social de baixa renda. As condições familiares e culturais dificultam seu

desempenho escolar, pois existem alunos que vêm a escola desmotivados,

desanimados, com o emocional afetado por problemas familiares e financeiros. A

evasão tem sido um desafio à escola, pois os alunos abandonam os estudos e os

pais pouco fazem para reverter a situação. Encontramos muitos alunos em idade

avançada e cursando os sextos e sétimos anos do ensino fundamental, quando já

deveriam estar iniciando o ensino médio.

De acordo com este panorama, observa-se a necessidade de se trabalhar

com uma metodologia diferenciada com essa clientela, principalmente no que se diz

respeito a autoestima e a afetividade. Observa-se no dia a dia que nossas salas de

aula estão se transformando numa transmissão meramente automática de coleções

de conhecimentos sistematizados teoricamente sem relação com a realidade dos

nossos alunos. Percebe-se a necessidade da associação destes conteúdos teóricos

com atividades concretas, compreendendo como o aluno pensa e como vem a

construir seus conceitos matemáticos, permitindo mais autoconfiança e

autossegurança, possibilitando vantagens no desenvolvimento cognitivo, afetivo e

psicomotor deste. Uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos professores é o

desestímulo destes alunos em comparecer no contraturno, eles faltam demais e não

se sentem bem perante os colegas quando o projeto apresenta a conotação de

reforço.

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Após realização de pesquisas e leituras para referencial teórico sobre o

tema, confeccionou-se um caderno pedagógico com a finalidade de oportunizar

propostas metodológicas alternativas que auxiliem professores na permanência,

sucesso escolar e avanços cognitivos dos alunos com dificuldades de

aprendizagem.

A escola, buscando cumprir com sua função social, deve garantir

um trabalho de qualidade que atenda às necessidades de todos os alunos,

promovendo uma aprendizagem significativa e na busca pela melhoria desse

processo ensino-aprendizagem, a manipulação de materiais didático-pedagógicos e

associação destes com a teoria surgem como alternativa que propicia a melhor

compreensão dos conteúdos promovendo um trabalho com atividades diferenciadas.

As atividades sugeridas no caderno pedagógico são conhecidas da prática

pedagógica dos docentes, porém adaptadas para se construir junto com os alunos

de forma lúdica através de oficinas pedagógicas e fazendo uso de materiais

recicláveis, despertando o gosto pelo fazer, realizar, inventar e valorizar o que se

constrói.

O presente artigo apresenta o projeto e analisa seus resultados frente aos

objetivos estabelecidos. Com o intuito de refletir sobre o tema, é apresentado na

primeira parte do trabalho, o estudo sobre a relevância da manipulação dos

materiais concretos na aquisição de conhecimentos e o porquê da escolha da

confecção em material sucata contemplando a Agenda 21 em nosso planejamento

diário. Consequentemente, não poderíamos deixar de abordar as contribuições dos

estudos de Gardner sobre as Inteligências Múltiplas e a importância de se trabalhar

com os jogos na sala de aula. Na sequência, descreve-se a metodologia e finaliza-

se com análise dos resultados obtidos no desenvolvimento do projeto.

2 Desenvolvimento

2.1 A importância da manipulação dos materiais didático-pedagógicos

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Ensinar matemática é um desafio para muitos professores; pois muitos

alunos questionam o que é essa tal matemática, para que ela serve e quando irão

utilizá-la. A forma como os alunos lidam com essas respostas interfere no olhar que

eles direcionam para essa área do conhecimento. As aulas de matemática reservam

aos estudantes muito conteúdo de maneira mecânica, desestimulante para a faixa

etária, havendo necessidade de preparar um ambiente motivador, rico em estímulos

e repleto de novos desafios. Além disso, é importante que haja respeito e confiança,

pois essas duas ferramentas são fundamentais na construção do conhecimento e no

amadurecimento nessa área da ciência. Quanto mais diversificado e rico em

materiais e atividades lúdicas for o meio em que o aluno estiver inserido, mais ele

poderá interagir e estabelecer relações com pessoas e objetos de seu convívio,

levando-o a pensar, refletir, analisar e concluir.

Maria Montessori (1870-1952), no princípio do século XX, afirmou que “a

criança tem a inteligência na mão”, fazendo uma bela alusão ao fato de que as

crianças adquirem noções a partir do contato manual e da experimentação

(Montessori, 1914). Posteriormente, Piaget e Inhelder (1975) mencionaram que “As

crianças aprendem a partir da ação sobre os objetos”, o qual seria válido pelo menos

enquanto sua inteligência é ainda de caráter concreto. Percebe-se que a

manipulação é um passo necessário e indispensável para a aquisição de

competências matemáticas, contudo precisa-se ficar atento, pois somente a

manipulação em si não implica para o aprendizado e sim a ação mental que se

estimula quando os alunos podem ter os objetos e os materiais em suas mãos, ou

seja, é uma aprendizagem pela ação e deveria estender-se durante toda a

Educação Fundamental.

Percebe-se, infelizmente, que muitos professores na prática não gostam de

trabalhar com materiais pedagógicos, pelo tumulto que gera na sala de aula e pelo

fato dos alunos não cuidarem do material disponibilizado, o qual deve ser devolvido

a direção da escola em perfeitas condições de uso, além de não se concentrarem

para a realização das atividades prescritas, devido também ao grande número de

alunos matriculados nas salas de aula.

O processo de ensino-aprendizagem em sala de aula exige cada vez mais

do professor dedicação, para que o conteúdo ministrado seja construído de uma

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forma dinâmica, eficiente e prazerosa, embasado em objetivos bem definidos. Para

isso faz-se necessário a elaboração de um contrato pedagógico entre o professor

e os alunos de uma forma coletiva, onde não seja imposta de cima para baixo, para

que os alunos sintam a necessidade do comprometimento por parte deles de forma

organizada e disciplinada para que a atividade possa trazer bons resultados a

aprendizagem.

Nesse contexto, os professores acabam assumindo um papel de suma

importância, na medida em que a metodologia desenvolvida por eles é essencial

nesse processo. O professor tem a função de planejar, dirigir e controlar o processo

de ensino, tendo em vista estimular e suscitar a atividade própria dos alunos para a

aprendizagem. Observa-se em nossa prática que os recursos didáticos não são

utilizados com frequência nas aulas e que as aulas expositivas são o principal meio

que o professor utiliza para construir conhecimentos junto aos alunos, utilizando

quadro, giz e o livro didático.

Aprender não é fácil, exige do estudante autodisciplina, disposição para

enfrentar o desconhecido e encarar dificuldades, contradições, dilemas e desafios

que o perturbam, principalmente quando estes chegam no 6º ano com dificuldades

de alfabetização não supridas até então. Sem autoconfiança, o aluno não diz o que

sabe por medo e principalmente por pensar que não é capaz de aprender.

Assim sendo, a construção do material didático vem contribuir como uma

importante ferramenta para o processo de ensino-aprendizagem, melhorando a

autoestima e formando laços de confiança com o professor, pois os materiais são

fáceis de construir e o aluno já começa a partir daí acreditar na sua capacidade

intelectual e passa a adquirir uma postura mais confiante nas suas atitudes em

classe. Considerando a função de mediar à interação entre o educador e o aluno no

processo de construção deste conhecimento, proporciona diversas situações de

ensino-aprendizagem na sala de aula, pois como diz um velho ditado chinês: “se eu

apenas escuto... esqueço; se eu vejo... entendo; e se eu faço... aprendo.” O uso

de material didático permite enriquecer a construção de conceitos, tornando o

ensino da Matemática mais agradável, promovendo o desenvolvimento de atitudes

investigativas, pois o aluno, primeiramente, o manipula e posteriormente, abstrai. É o

que apontam Medeiros e Santos (2001):

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[...] o uso de materiais concretos manipuláveis tem a característica de

atrair a atenção e o interesse dos alunos e estudantes (mesmo

adultos) propiciando uma oportunidade deles doarem-se para um

momento de encontro com a matemática. Além disso, tais materiais

podem ilustrar, exibir, via modelos e analogias subjacentes , certas

idéias e conceitos da matemática (p. 98).

As atividades sugeridas no caderno pedagógico são para confecção pelos

próprios alunos e conhecidas da prática pedagógica dos docentes, porém foram

adaptadas para uma construção através de oficinas pedagógicas de forma lúdica e

fazendo uso de materiais recicláveis, despertando o gosto pelo fazer, realizar,

inventar e valorizar o que se constrói. Foram utilizados canudinhos de refrigerantes,

tampinhas de garrafa, papelão, papéis coloridos, jornais, caixas de leite longa vida,

barbantes, etc. A confecção e utilização de material didático pedagógicos como

recurso de aprendizagem foi abordada desde a Unidade I até a Unidade IV,

compreendendo sua utilização, os conceitos matemáticos e as estratégias de ação

para cada um deles. Os conteúdos matemáticos abordados foram os seguintes:

Valor Posicional de um Algarismo, Tabuada, Medidas de Comprimento e Frações e

todos os materiais didático pedagógicos foram confeccionados com materiais

recicláveis, respeitando e oportunizando reflexões sobre o cuidado com o meio

ambiente.

2.2 A agenda 21

O Desenvolvimento Sustentável do Planeta é um compromisso assumido

por mais de 170 países na Conferência realizada durante a Rio-92, no Rio de

Janeiro. Nesta Conferência, a implantação da Agenda 21, foi o mais importante

compromisso firmado entre os países, onde mais de 2.500 recomendações práticas

foram estabelecidas tendo como objetivo preparar o mundo para os desafios do

século XXI.

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Assim, contemplamos a implementação na educação básica da Agenda

21 como uma das ações da SEED, abordando um dos seis temas da agenda:

gestão dos recursos naturais onde a estratégia a ser estabelecida no tratamento

desse tema concentra-se na proteção, valorização e uso dos recursos naturais

existentes e sua preservação para as futuras gerações.

A construção da Agenda 21 Local não é uma tarefa somente do poder

público. É um pacto de toda a sociedade, um compromisso de cada cidadão com a

qualidade de vida do seu bairro, da sua cidade, enfim, do nosso planeta.

Uma pequena ação positiva ou negativa em nossa comunidade refletirá na

cidade, consequentemente em nosso estado, do estado em nosso país e do país

em todo o mundo. Ou seja, a atitude de cada cidadão é de extrema importância para

o presente e o futuro do planeta. Por isso é que se diz: “Pensar globalmente, agir

localmente”.

A participação efetiva da sociedade de forma coletiva e pactuada é, sem

dúvida alguma, o diferencial que poderá superar os desafios a serem enfrentados e,

fundamentalmente, assegurar que esse resultado seja utilizado como um

instrumento norteador para o desenvolvimento local.

Nos últimos anos, a questão ambiental tem sido muito debatida. Esse

debate fez com que o meio ambiente começasse a ser considerado nas diferentes

esferas do conhecimento. Fez também com que se discutisse sua influência no

desenvolvimento da vida em nosso planeta. Assim, podemos dizer que o meio

ambiente está relacionado, basicamente, a todas as áreas, de forma direta ou

indireta, sendo causa ou efeito de inúmeras modificações globais.

Diante dos graves problemas ambientais, não podemos permanecer como

meros espectadores, mas que façamos nossa parte no cuidado com o planeta por

mais simples que seja a nossa ação. Percebe-se nas classes o discurso sobre os

cuidados com o planeta e, no entanto, flagra-se atitudes sobre a questão do lixo nas

salas e até mesmo no pátio e arredores da escola. Tais atitudes nos evidenciam que

não houve aprendizado, ouviu-se o discurso e não se interiorizou o conteúdo, pois

educação é mudança de comportamento, mudança esta que venha alterar uma

realidade para melhor, refletindo numa mudança de mentalidade na sociedade,

visando um bem coletivo.

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O lixo é um problema relativamente recente, já que, há algumas décadas,

era constituído basicamente por materiais orgânicos - facilmente decompostos pela

natureza. Mas com a mudança nos hábitos, o aumento de produtos

industrializados e o advento das embalagens descartáveis, o lixo tomou outra

dimensão e sua "composição" também mudou.

Hoje, em vez de restos de alimentos, as lixeiras transbordam de embalagens

plásticas (mais de 100 anos para decompor), papéis (de 3 a 6 meses) e vidro (mais

de 4.000 anos).

Mas o problema não é, propriamente, a característica do lixo produzido,

hoje, nos grandes centros urbanos, mas o destino dado a ele. Muitos desses

materiais podem ser reaproveitados ou reciclados, diminuindo, assim, as enormes

montanhas formadas nos lixões da cidade e, consequentemente, a degradação do

meio ambiente. Outro aspecto importante da reciclagem, além da consciência

ecológica, é o fator social. A coleta de material reciclável é, muitas vezes, a única

fonte de renda dos catadores, como é o caso de muitas das famílias de nossos

alunos, que muitas vezes ficam envergonhados pela atividade exercida, e ao

constatar a importância de tal gesto para o meio ambiente e para nossa própria vida

passam a enxergar a ocupação de seus pais com outros olhos.

São necessárias novas maneiras de pensar e de agir, e a escola têm tudo a

ver com isso, como oportunizar situações no dia a dia para refletir sobre o conceito

dos 3 Rs: Reduzir, ou seja diminuir o consumo de materiais.

Reutilizar, sempre que possível novos usos para diversos materiais como

embalagens e Reciclar para recuperar os diferentes materiais que compõem o lixo

para usá-los como matéria-prima na fabricação de novos produtos.

Por outro lado, para dispormos de material concreto nas aulas, existe a

dificuldade que nossas escolas públicas enfrentam na aquisição destes pelo grande

número de alunos existentes em cada classe e pelo seu alto custo financeiro.

Sendo assim, o projeto propicia sugestões para confeccionar os materiais didático-

pedagógicos de forma diferenciada fazendo uso dos materiais descartáveis

encontrados no meio ambiente, pois criatividade e materiais recicláveis não

possuem alto custo e ao visualizar o que foi construído pelas suas próprias mãos,

tal atitude vem elevar sua autoestima essencial para outros avanços na área

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cognitiva. Além de tudo, se cada um de nossos alunos tomar para si um pouco

dessa tarefa de acreditar na defesa do meio ambiente, isto vai dar um novo sentido

as ações diárias, pois educa-se muito mais pelo exemplo do que pelo discurso.

2. 3 Inteligências múltiplas Uma estratégia abordada é ensinar um mesmo assunto de diversas

maneiras porque os alunos não aprendem de maneira igual, cada um tem um

caminho de aprendizagem. Utilizar-se de esquemas, cores, gráficos, desenhos,

confecção de materiais didático-pedagógicos , jogos para explicar os diversos

assuntos possibilita que o aluno aprenda mais e retenha o conteúdo por mais

tempo.

Aprender não é só memorizar informações. É preciso saber relacioná-las,

ressignificá-las e refletir sobre elas. É tarefa do professor, então, apresentar bons

pontos de ancoragem, para que os conteúdos sejam aprendidos e fiquem na

memória, dando condições para que o aluno construa sentido sobre o que está

vendo em sala de aula.

Baseando-se na Teoria das Inteligências Múltiplas, elaborada a partir dos

anos 80 pelo psicólogo Howard Gardner, onde ele define sete inteligências: a lógico

matemática, a linguística, a musical, a espacial, a corporal cinestésica, a

interpessoal e a intrapessoal, podemos observar que existem vários caminhos que a

mente dispõe para chegarmos a um resultado esperado. Dessa forma, ele ampliou o

conceito de inteligência única para o de um feixe de capacidades e segundo

Gardner inteligência é a capacidade de resolver problemas e sempre envolvemos

mais de uma habilidade na solução destes. Nessas relações complementares entre

as inteligências é que está a possibilidade de se explorar uma em favor da outra. É o

uso da rota secundária para se alcançar a rota principal de uma determinada

inteligência.

Segundo Gardner, excetuados os casos de lesões, todos nascem com o

potencial das várias inteligências e a partir das relações com o ambiente, incluindo

os estímulos culturais, desenvolvemos mais algumas e deixamos de aprimorar

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outras. Na maioria das escolas ainda é a de que a inteligência é uma só e apenas

varia em quantidade de uma pessoa para outra. Por isso, o ensino visa ao aluno de

“inteligência média” e supervaloriza o “muito inteligente”, segundo as capacidades

lógico matemática e lingüística. Assim sendo, as demais inteligências são ignoradas

ou estimuladas secundariamente. No entanto, curiosamente percebe-se que

embora a competência lógico matemática seja tão valorizada, ainda o ensino da

matemática costuma ser problemático, onde muitas vezes decorra apenas de

explicações até claras do professor, mas muitas vezes tais explicações não tenham

essa clareza imediata para o aluno sem o exercício sistemático de pensar. Sendo

assim precisa-se oferecer aos alunos condições de usarem suas habilidades

específicas para chegar ao pensamento matemático.

A formação de um conceito matemático envolve muitas relações e

diversificando as atividades para integrar as inteligências, daremos chance aos

alunos de olhar várias vezes uma mesma ideia, ou seja, um conjunto de estratégias

para enriquecer o ensino, proporcionando uma alternativa de ensino-aprendizagem

em que a dinamização do trabalho é feita através de grupos cooperativos, partindo

de materiais concretos e explorando situações do cotidiano, possibilitando

intercalar teoria e prática. Percebe-se em situações de trabalho em grupo, que

basta uma explicação do colega ao lado, ou através de um esquema, ou com auxílio

de um material concreto abordando o mesmo assunto de outra forma para que o

aluno passe a entender o conteúdo.

O perfil de nosso aluno confirma a necessidade de um trabalho com

atividades diferenciadas no que concerne à aprendizagem, pois a dificuldade, só

será superada quando se diminuírem as tensões e os bloqueios com relação ao ato

da aprendizagem. Podemos conseguir minimizar tais atitudes mediante as

atividades lúdicas propostas, pois o aluno passa a ter a impressão de que está

desenvolvendo apenas uma brincadeira, sendo que no final do processo, através

do feedback do professor percebe que interiorizou o conteúdo sem temores,

principalmente em relação ao grande grupo em eu está inserido.

. Considera-se necessário que os professores repensem a sua prática

pedagógica, buscando novas alternativas de ensino e recursos adequados, pois são

evidentes as exigências de mudanças e o professor deve deixar de ser um mero

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transmissor de conhecimento e passar a ser um orientador das atividades,

conduzindo o aluno a criar, socializar, discutir e buscar seu próprio conhecimento.

2.4 O uso do jogo como estratégia de ação

“Assim como o ferro enferruja com o

desuso, e a água parada apodrece, ou

quando fria, congela, também nosso in-

telecto se embota pelo desuso.”

Leonardo da Vinci

Além de oportunizar sugestões para confecção de materiais didático-

pedagógicos ainda contemplou-se o uso de jogos, também como alternativa de

contribuir para o aprendizado dessa disciplina, pois as atividades com esse recurso

podem auxiliar o aluno a ampliar sua linguagem, priorizar o trabalho em grupo,

favorecer a troca de ideias, o cálculo mental, a busca de estratégias e o

cumprimento de regras pré-estabelecidas, além da concentração e do raciocínio

lógico matemático.

Jogar é a oportunidade de participantes ( alunos e educadores ) construírem

um vínculo produtivo e afetivo, pelo qual se fortalecerão num mundo de buscas para

alcançar os objetivos propostos. Se forem bem planejados, eles constituem um

recurso pedagógico para apresentar, fixar ou aprofundar conteúdos. Através do jogo,

procuramos despertar no aluno a vontade de aprender, incentivando-o a participar

mais ativamente das atividades desenvolvidas e quebrando a rotina do dia-a-dia.

Desde os tempos mais antigos, a criança, independentemente de sua idade

ou de sua classe social, brinca. Tendo ou não brinquedos estruturados à sua volta, a

criança sente necessidade de brincar, pois toda brincadeira carrega em si

significados próprios que permitem a apropriação de valores culturais e sociais que

caracterizam o ser humano. Percebe-se que o brincar é fundamental para o

desenvolvimento humano por ser uma atividade da criança que se mantém durante

as fases posteriores da vida. Adolescentes, adultos e idosos encontram no brincar

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razões que satisfazem suas necessidades, por mais variadas que sejam

(entretenimento, informação, desafios, projeções, etc).

Contrapondo-se a atividades enfadonhas, repetitivas e memorísticas, o jogo

é sugerido como um recurso desafiador, estimulante, problematizador, que leva os

alunos a pensarem uma mesma situação de diversas maneiras, o que afinal

aproxima a situação escolar das situações vivenciadas fora da escola, uma vez que

os problemas com que nos defrontamos no dia-a-dia precisam ser e são analisados

sob diferentes pontos de vista.

Eles podem vir no início de um novo conteúdo com a finalidade de despertar

o interesse da criança ou no final com o intuito de fixar a aprendizagem e reforçar o

desenvolvimento de atitudes e habilidades.

Durante as aulas de matemática fazendo uso de jogos é possível observar

alguns objetivos:

Estimula a construção do conhecimento matemático.

Revisa ou fixa conteúdos trabalhados nas aulas anteriores.

Desenvolve a atenção, a concentração, a percepção e o raciocínio lógico,

(fundamentais na aquisição de conhecimentos).

Eleva a autoestima dos alunos.

Desenvolve criatividade, a cooperação e a solidariedade.

Desenvolve habilidades e potencialidades importantes na formação do ser

humano.

Respeita opinião do outro.

Aprende a conviver com seus semelhantes, respeitando e aceitando as

diferenças.

Toma decisões e passa a ter iniciativa com base em sua análise e conclusão.

Aumenta o interesse pelos assuntos matemáticos.

Melhora sua expressão, diminuindo inibições.

Valoriza o trabalho em equipe, desenvolvendo a ética, o respeito, a

afetividade e a socialização.

Ao observar a atitude dos alunos durante as oficinas, percebe-se na

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postura de cada um deles, a necessidade do estabelecimento de regras durante as

atividades com os jogos, inclusive de se acrescentar ou alterar determinadas regras

para atingir o sucesso da atividade. Dessa forma, podemos verificar quão importante

é nos dias de hoje, onde presenciamos uma realidade violenta e sem limites

definidos em que tudo se pode. Sendo assim, o trabalho com limites através dos

jogos em sala de aula vem a ser uma alternativa bem vinda, como já citava Piaget,

em 1971:

O jogo de regras é necessário para que as

convenções sociais e os valores morais de uma

cultura sejam transmitidos. As estratégias de ação,

a tomada de decisão, a analise de erros, lidar com

perdas e ganhos, replanejar jogadas em função dos

movimentos dos adversários, tudo isso é importante

para o desenvolvimento das estruturas cognitivas

de cada pessoa. O jogo provoca conflitos internos,

a necessidade de buscar uma saída, e é desses

conflitos que o pensamento sai enriquecido,

reestruturado e apto para lidar com novas

transformações. (Piaget 1971, p.175)

É importante que os alunos descubram que eles também possuem

responsabilidade sobre sua aprendizagem e que não podem esperar passivamente

que o professor tenha todas as respostas e ofereça todas as soluções e o jogo é um

meio do aluno buscar estas soluções sozinho ou em grupo, principalmente aqueles

alunos tímidos e apáticos que apresentam mais dificuldades no relacionamento

com o professor, até mesmo pela questão da baixa estima que carrega consigo.

2.5 Relacionamento afetivo

A emoção interfere no processo de assimilação e retenção de informação.

É preciso motivação para aprender e a atenção é fundamental na aprendizagem.

Por isso, a escola deve ser um espaço que motive e não somente que se ocupe em

transmitir conteúdos. Para que isso ocorra, o professor precisa propor atividades que

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os alunos tenham condições de realizar e que despertem a curiosidade deles os

faça avançar. É necessário levá-los a enfrentar desafios, a fazer perguntas e

procurar respostas.

Os relacionamentos na escola são fundamentais no processo de ensino e

aprendizagem e faz-se necessário apostar no aluno, adotar uma postura positiva e

incentivar o desenvolvimento de suas habilidades para que eles comecem a se

conhecer e perceber o seu potencial e para isso é necessário conhecê-lo bem. O

grau de abertura que o professor oferece às perguntas e indagações dos alunos e o

respeito que lhes proporciona podem criar situações muito diferenciadas. Devemos

desenvolver mais a “escutatória” do que “oratória”, pois percebe-se na prática que

precisamos ouvir mais nossos alunos e falar menos, até mesmo para constatar onde

estão as lacunas que ficaram no decorrer do caminho.

O estabelecimento das relações empáticas entre o educador e seus alunos

fica prejudicado porque muitas vezes as classes estão superlotadas. Fica difícil para

o professor saber as particularidades de cada um. Parece haver uma exigência de

rapidez nas atividades impostas, decorrente da necessidade de manter o controle

sobre os alunos, de contê-los através da constante ocupação em tarefas, para que

eles não possam manifestar-se livremente. Precisamos estabelecer estratégias para

educá-los convenientemente, no entanto, as atividades na escola não precisam ser

impositivas, feitas de cima para baixo. O conhecimento deve ser construído em

conjunto , não sendo apenas transmitido.

A sala de aula deverá ser um lugar em que os alunos sintam-se bem

confiantes, alegres, crentes de possuir um papel importante na transformação da

sociedade. Um lugar onde, além de se apoderar da cultura letrada, do raciocínio

lógico-matemático, das ciências, da literatura e das artes, ele poderá desenvolver

suas potencialidades dentro de um contexto interdisciplinar, interagindo com os

colegas, professores e funcionários.

Até bem pouco tempo atrás, a melhor coisa que havia na escola era o

recreio, pois a sala de aula não era lugar para alegria e descontração, era coisa

séria. Por isso, não se concebiam brincadeiras ou jogos durante as aulas como se o

estímulo da criatividade e do lado afetivo dos alunos não fosse algo sério. Seres

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humanos não são computadores estáticos e sem emoções, criados para trabalhar

eletronicamente com informações e/ou ações fixas e repetitivas.

Durante a implementação do projeto, um dos fatores que mais chamou a

atenção dos professores, foi na mudança de comportamento de alguns alunos, os

quais apresentavam um perfil retraído, tímido, não participavam nas aulas e muito

menos se dirigiam ao quadro negro, mesmo quando solicitados pelo professor. As

faltas durante o contraturno também diminuíram e a curiosidade despertada em

outros alunos também instigava os alunos participantes a exporem o seu

aprendizado, através das explicações dadas por eles. Essa comparação pode ser

realizada devido ao projeto ter sido desenvolvido no 2º semestre, onde os avanços

foram percebidos de forma significativa. Dessa forma, evidencia-se que no ambiente

escolar a afetividade constitui-se um aspecto que contribui para a eficácia do

processo ensino aprendizagem.

2.6 Caderno pedagógico

A fase de Implementação Pedagógica constou de um encontro com a

professora regente da turma de apoio para expor o Caderno Pedagógico e suas

atividades; um encontro com os alunos onde fiz a apresentação e explicação dos

objetivos do projeto, mostrando os materiais que seriam construídos e a lista de

materiais recicláveis que precisariam coletar para trazer para a escola em nossos

encontros semanais. Em seguida aproveitei a reunião de entrega de boletins para

falar com os pais e também expor os objetivos do projeto. Nesse encontro ficou

firmado o compromisso pela direção da escola, onde os alunos que não tinham

condições para voltar para casa no horário do almoço, quer seja pela falta de tempo

ou falta da passagem para o transporte coletivo, a escola disponibilizaria o almoço

para estes alunos.

Para desenvolver a Unidade 1, 2, 3 e 4 do Caderno Pedagógico trabalhei

inicialmente com um teste diagnóstico para posteriormente, após o desenvolvimento

das atividades comparar , verificar e tabular os resultados obtidos.

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No encontro com os alunos, sobre a Unidade 1 que constava da

construção do material para o jogo “Nunca Dez”, os alunos encaparam as

tampinhas de garrafa fazendo uso de 3 cores diferentes. Cada aluno encapou 15

tampinhas amarelas, 10 tampinhas verdes e 2 vermelhas. Cada aluno confeccionou

o seu dadinho e iniciamos as regras do jogo. Como mediadora da atividade, passei

as regras básicas e percebi a dificuldade que os alunos apresentaram para entender

a troca das tampinhas pela outra cor.

Inicialmente a atividade foi realizada em duplas, para que pudesse

observar o desempenho e entendimento de cada um. Uma das grandes dificuldades

nesse momento foi a adoção da técnica do cochicho ( os alunos não conseguiam

cochichar e o volume das vozes durante a interação entre eles ficou muito alto).

Refletimos sobre a necessidade de conversarmos com o nosso semelhante sem

falar tão alto assim, pois o barulho altera o ambiente em que estamos e a nossa

concentração fica limitada.

Num segundo momento, após conseguirmos o entendimento das regras

por parte de todos, passamos para a formação de grupos com 4 participantes e

fizemos uso do pátio da escola para o desenvolvimento da atividade, usando três

mesinhas de concreto com quatro banquinhos e a mesa de ping-pong de concreto

onde os alunos necessitaram levar as cadeiras da sala de aula. Alguns alunos

nesse momento, sentiram necessidade de elaborar novas regras pelo fato do grupo

se apresentar maior, como por exemplo o aluno Vladimir “quando arremessava os

dados erguia a mão e dizia Stop, exigindo que todos de sua equipe parassem e

olhassem para conferir o número de tampinhas adquiridas por ele e inclusive se já

poderia realizar a troca...”, pois nesse momento cada um só pensava em jogar os

dados e coletar as tampinhas para si, sem interagir com o colega, perdendo assim o

objetivo da atividade. Até a forma de agrupamento das tampinhas para ganhar

tempo no momento da contagem foi elaborada por alguns alunos.

Após várias jogadas retornamos para a sala de aula e fomos em conjunto

relatando como foi realizada a atividade e associando ao conteúdo específico

através das atividades propostas para a verificação que dependendo do lugar em

que o numeral se encontra, seu valor muda ( ou seja, de acordo com a cor da

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tampinha, pressupõe que não seja apenas 1 e sim 10 ou talvez 100 ). Durante o jogo

foi visível alguns alunos apresentarem atitudes de liderança, outros apatia, outros

distração e alguns agressividade verbal para com o seu colega de grupo. Esta

atividade não foi possível terminar em um único encontro, foram necessários dois

encontros para finalizar a atividade.

A atividade referente a Unidade 2, também necessitou dois encontros.

Alguns alunos apresentaram dificuldades de coordenação motora até para realizar

os nós no barbante, não conseguiam. Dificuldades motoras para recortar os círculos

para a confecção da quantidade em cada face dos dados e somente uma equipe

conseguiu montar o quebra-cabeça das caixas retangulares para formar o cubo.

Através do jogo “Avançando com o resto” foi fácil perceber como é importante

memorizar a tabuada para ganhar tempo. Foi necessário dividir a turma em três

equipes para melhor aproveitar o jogo e não formar tumulto, enquanto uns pegavam

os dados, outros ajudavam na resolução das contas no quadro para poder avançar.

A tabuada com as mãos foi um sucesso, melhor do que eu esperava e nenhum dos

alunos a conhecia.

A atividade do Bingo foi a que mais demorou em ser concluída, pela

insegurança dos alunos na elaboração dos raciocínios para apresentar aos colegas.

Desenvolver um clima de cooperação e respeito mútuo é indispensável no grupo,

pois a autoestima é inexistente na grande maioria deles. Foi possível perceber que

durante a construção do material didático o aluno consegue acreditar que pode ser

capaz de vir a construir , produzir algo de fato, inclusive nas atividades realizadas

no quadro negro, onde alguns alunos não participavam de forma nenhuma, por

insegurança, medo, vergonha, etc.

Durante a realização de exercícios, como exemplo o exercício da

adivinhação das idades, certos alunos realizaram até com os professores de

outras disciplinas e os outros colegas no horário contrário ao desenvolvido pela

implementação do projeto, onde os demais alunos da classe demonstraram

curiosidade pelas atividades e solicitação para também participarem dos encontros,

desmistificando aquele encontro pela manhã como se fosse um reforço, e sim um

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momento de aprendizado de desafios diferentes do que se costuma desenvolver nas

aulas o qual inclusive, batizamos como o “Clubinho da matemática”.

Na Unidade 3, os alunos apresentaram muita dificuldade na construção da

fita métrica ao fazer a primeira divisão de 10 cm em 10 cm (decímetros), pois a

grande maioria não sabia fazer uso da régua corretamente. Os centímetros foi mais

fácil, porém os milímetros eles desconheciam. Cada aluno mediu os 3 mm no papel

cartão reutilizado de cartazes, e nesse momento eu realizava o corte dos filetes de

papel com o estilete, por medidas de segurança.

Os alunos sentiram a necessidade do lápis apresentar uma ponta bem

fininha, pois perceberam que o pouco que passasse da medida fazia a diferença no

resultado final do trabalho, ou seja, na confecção do seu cartão ou da capa de seu

caderno.

As saídas até a praça para realizar as devidas medições foi bem tranquila,

com muito coleguismo e cooperação na realização das medidas maiores, ou seja, os

múltiplos do metro. Foi visível a união da turma. Algumas fitas arrebentaram, mas

foi possível, usando a criatividade e o espírito de resolução de problemas, fazer a

emenda sem comprometer os milímetros, realizando a colagem em cima de outro

pedaço de papel. Essa unidade foi concluída em um encontro.

Na Unidade 4 foram necessários dois encontros, sendo que no primeiro

encontro foram confeccionados cinco discos por aluno. Para iniciar esta atividade e

não gerar tumulto, nem perder tempo, dividiu-se a turma em equipes e cada uma

delas responsabilizou-se por tarefas específicas, pois todos fazendo a mesma coisa

não seria viável nem pelo espaço físico.

No pátio, enquanto um grupo de alunos realizavam a abertura das caixas,

outro grupo realizava a higienização das mesmas, ( não esquecendo da orientação

sobre a economia da água, não deixando a torneira aberta desnecessariamente

sempre associando aos objetivos da Agenda 21 ), outro grupo as enxugava e

finalmente outro grupo com o auxílio dos jornais e do ferro de passar roupa,

finalizavam o processo de transformação das caixas em uma placa resistente para

a atividade proposta. Ao retornar para a classe, nesse momento é realizado o

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desenho de um círculo, utilizando um prato como modelo, é feito o recorte e a

pintura com tinta guache colorindo de acordo com o gosto de cada um, para então

realizarmos as divisões e transformá-los nos discos de fração. De posse deste

material, ficou simples o entendimento das frações equivalentes e frações

aparentes. Tentei realizar o mesmo exercício após sem o material concreto e

apenas três dos vinte alunos conseguiu o resultado correto, diferente do que

aconteceu durante o uso do material concreto dos discos de frações.

Na Unidade 5 as situações problemas sugeridas no caderno foram

coladas nas sobras das placas utilizadas para a confecção dos discos de frações e

distribuídas uma para cada aluno tentar solucionar individualmente. Num segundo

momento, formaram-se duplas para que cada um explicasse a sua situação

problema e quais estratégias fez uso na resolução da mesma. Posteriormente,

formaram trios e a mesma técnica com as duplas foi aplicada.

Alguns dos desafios não foram concluídos, o aluno ao realizar a leitura já

dizia que não sabia, foi preciso ler junto com este aluno instigando-o a pensar

numa estratégia para solucionar o desafio, através de questionamentos e

principalmente pistas. Percebe-se que alguns alunos ficavam tão interessados e

concentrados na tentativa de resolver o desafio, principalmente de forma a

querer terminar “antes” de seus colegas, como se fosse uma gincana ou até mesmo

uma competição ( o que não foi mencionado) e outros não se concentravam no

desafio. Percebe-se que alguns desses alunos, só demonstraram interesse na

resolução dos desafios quando houve a formação das duplas, como se houvesse a

necessidade de um apoio ao lado.

3 Conclusão

Buscou-se neste trabalho refletir, instrumentalizar a ação pedagógica e

oportunizar aos alunos que frequentam a Sala de Apoio à Aprendizagem sugestões

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para serem colocadas em prática para verificar a possibilidade de implementação

e verificação dos resultados sobre a importância de se trabalhar com a confecção de

materiais didático-pedagógicos em sala de aula no processo de ensino

aprendizagem de alunos do ensino fundamental, visto a necessidade de

proporcionar um ambiente mais atrativo ao ensino da matemática.

Apesar do pouco tempo de aplicação das atividades, percebe-se por

meio dos resultados apontados que pode ser viável fazer uso de outras

metodologias, utilizando materiais manipulativos, que se explorados com mais

frequência nas salas de aula, poderão atingir resultados expressivos, despertando

nos alunos o gosto e o interesse pela disciplina de matemática.

Alguns colegas professores podem pensar talvez que tal metodologia, seja

viável apenas para turmas com um número reduzido de alunos, como foi o caso da

classe de apoio, contendo 20 alunos, no entanto, quero tomar a liberdade de relatar

um testemunho, onde pensando nessa possibilidade, e procurando expandir o meu

universo trabalhado, apliquei as atividades nas turmas do 6º ano, 7º ano e 8º ano

dessa mesma escola, com a média de 30 alunos em cada série onde possuo aulas

extraordinárias na disciplina de arte e posso relatar, que a partir do momento em

que desenvolvemos uma relação de respeito e confiança com os alunos é possível

desenvolver atividades diferenciadas com responsabilidade, comprometimento e

principalmente com disciplina, fator predominante para um ambiente propício na

aprendizagem.

Portanto, conclui-se que foram alcançados pontos positivos, principalmente

no quesito autoestima, onde segundo relato dos professores regentes, onde a

implementação do projeto ocorreu no 2º semestre, foi possível observar a mudança

de comportamento de alguns alunos apáticos e desinteressados, bem como

desmotivados, além do depoimento de alguns pais, pelo interesse do filho em

participar do projeto até mesmo em dias de chuva. Dos vinte alunos matriculados na

sala de apoio a aprendizagem, na disciplina de matemática, estatisticamente, três

ainda foram retidos na mesma série, um desistente e dezesseis aprovados para a

série seguinte.

Não se pode perder no corre-corre diário o prazer em educar, com afeto,

com clareza e principalmente com envolvimento, sempre em busca de novas fontes

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e possibilidades. É necessário levar em conta a capacidade de cada aluno e a

necessidade que todos tem de aprender, mas ter ciência que pessoas diferentes

aprendem através de metodologias diferentes.

Reduzir a quantidade de conteúdo “despejado” e aprofundar as suas

abordagens, de modo que cada aluno saiba mais profundamente de coisas mais

necessárias, compreendendo e solucionando... em vez de saber um pouquinho de

cada coisa e nada de coisa nenhuma, fazendo cálculos mecanicamente, sem

entender o que está fazendo.

A questão do erro em sala de aula, precisa ser trabalhado sob a visão de

outro enfoque, como uma ocorrência inevitável da aprendizagem e deve ser

considerado relevante porque funciona como indicador do caminho percorrido pelo

aluno até chegar em tal atividade. Sendo assim, o papel do professor não pode

encerrar-se com a simples correção, em que se assinala a resposta errada. É

preciso observar a natureza do erro, para, a partir daí, identificar o percurso do

raciocínio e da aprendizagem e seguir em frente, na companhia do aluno, para

juntos buscar o caminho correto.

Trabalhar com a inteligência emocional é fundamental nos dias de hoje em

nossas classes. Erroneamente alguns professores consideram aqueles alunos

“quietinhos”, que não interrompem as aulas como “bons alunos”, é preciso olhar

dentro dos olhos de nossos alunos, para que eles sintam que realmente estamos

comprometidos e que estamos ali dispostos a trilhar juntos uma aprendizagem de

qualidade que fará toda a diferença na sua vida.

Faz-se necessário uma escola que exija reflexão e não apenas

memorização e decodificação, uma escola de qualidade e não de quantidade, onde

seus alunos tenham prazer de frequentar e posteriormente relembrar os

ensinamentos que construíram de forma participativa e crítica contribuindo para

atuar na sociedade de maneira a fazer a diferença no mundo que vivemos.

Algumas pessoas resmungam porque

as rosas tem espinhos. Eu sou grato

pelo fato de os espinhos terem rosas.

Alphonse Karr

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REFERÊNCIAS

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São Paulo: Paz e Terra; 1996.

MARQUES, N. J. Educação para as inteligências. Paraná: Liceu; 2003.

PARANÁ, Diretrizes Curriculares de Matemática para a Educação Básica.

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PIAZZI, P. Ensinando Inteligência. São Paulo: Aleph; 2009.

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ZASLAVSKY, C. Jogos e atividades matemáticas do mundo inteiro. Porto Alegre:

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http://revistaescola.abril.com.br/matematica/pratica-pedagogica/matematica-pega-varetas-

428090.shtml - Acesso em 10/12/2010

http://www.matemoteca.com.br/

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