Deslocaçao de industrias tradicionais e de industrias modernas

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Deslocao de indstrias tradicionais e de indstrias modernasO ser humano o nico ser, que realmente habita o planeta, no sentido de transform-lo segundo um objectivo pr-determinado. As metamorfoses do espao habitado acompanham a maneira como a sociedade expande-se e se distribui, acarretando sucessivas mudanas demogrficas e sociais em cada continente (mas tambm em cada pas, em cada regio e em cada lugar). O fenmeno humano dinmico e uma das formas de revelao desse dinamismo est, exactamente, na transformao qualitativa do espao habitado. A noo de distribuio espacial do Homem, se for s considerada apenas em relao s condies naturais, insuficiente. O habitat, isto , o espao construdo pelo homem, era antigamente o lugar de residncia e de trabalho, e o espao destinado s relaes que uma vida social geograficamente confinada gerava, por meio do processo produtivo, tanto nos seus aspectos materiais como nos seus aspectos no materiais. Considerando a totalidade da superfcie terrestre, aparecem grandes espaos que esto quase vazios: so as zonas polares e as terras submetidas durante sete ou oito meses a temperaturas muito baixas, ou ainda, as regies de grande altitude. As extenses quentes e secas tambm formam parte do conjunto muito debilmente povoado. A Amaznia (Amrica do Sul) e o Congo (frica) no contam, em mdia, com mais do que 2 ou 3 habitantes por km . Ao contrrio, na sia encontram-se regies de clima quente e hmido fortemente povoadas. E as mesmas desigualdades ocorrem nas zonas temperadas. Para explicar esses contrastes de concentrao de populao necessrio fazer as distines abaixo. Grandes regies industriais: cujo povoamento mais importante, data do sculo XIX. A sua ocupao foi provocada pelos efeitos da Revoluo Industrial, determinando uma concentrao macia da populao nas cidades. Grandes regies agrcolas: nas quais tambm existem desigualdades de povoamento por causa das condies geogrficas e histricas. No decorrer dos sculos, tanto o crescimento econmico como o crescimento demogrfico foram muito lentos em todos os pases. At o sculo XIX, os homens eram essencialmente agricultores. Mas, a partir desse sculo, ocorreu uma transformao demogrfica cujos mltiplos efeitos passaram a ter importncia cada vez maior, como consequncia das mudanas econmicas, sociais, polticas e culturais que se produziram desde o incio do sculo XIX, a cujo conjunto se denominou Revoluo Industrial. A partir de ento, a agricultura transformou-se, o comrcio e os meios de transporte sofreram uma grande evoluo. As cidades multiplicaram-se e passaram a ser cada vez mais importantes. A diviso entre os sectores primrios (agricultura e pecuria), secundrio (indstria) e tercirio (comrcio e servios) aprofundou-se numa escala mundial, e a populao economicamente activa empregada no sector secundrio, passou a assumir uma importncia cada vez maior na fora de trabalho mundial. Cerca de 2,5 bilies de homens e mulheres vivem nas zonas rurais de todo o mundo, e 2 bilies so camponeses que cultivam cerca de 1,5 bilies de hectares, ou seja,

aproximadamente 10% das terras emersas. Mas a distribuio das riquezas de que dispem esses diferentes grupos no corresponde distribuio da populao. Boa parte dos meios de produo est concentrada em pases que contam com uma agricultura muito produtiva, concentrando tambm a produo industrial. Esses pases possuem, ainda, potencial cientfico e tecnologia avanada. A agricultura, hoje, no mais a actividade principal dos pases desenvolvidos. No entanto, continua a ser o meio de vida da maioria dos habitantes dos pases subdesenvolvidos. A partir do sculo XIX, a agricultura sofreu grandes modificaes em consequncia da transformao dos modos de produo no espao, passando de uma agricultura de subsistncia para uma agricultura comercial. Mas, em muitos casos, os agricultores, ou camponeses, que tm de cultivar para a exportao, no conseguem um preo suficientemente razovel para os produtos do seu trabalho, no chegando a produzir o suficiente para sustentar a famlia. As actividades agrcolas praticadas por povos diferentes so extremamente variadas. Existem vrios sistemas de cultivo, isto , o conjunto de tcnicas empregadas numa explorao agropecuria e de utilizao do solo. Tambm temos de levar em conta as diferenas de estrutura agrria. Elas distinguemse nas formas de propriedade da terra (propriedade colectiva, pequena propriedade privada, grande propriedade privada), cujas colheitas podem ficar com o proprietrio ou ser repartidas entre o proprietrio e os cultivadores. s vezes a terra pertence a quem a trabalha, seja um grupo social (propriedade ou explorao colectiva) ou uma pessoa (pequeno proprietrio). Na maioria dos casos, porm, a terra no pertence a quem a cultiva. Hoje, os sistemas agrcolas dos pases desenvolvidos so, geralmente, intensivos e de produtividade alta, pois os meios tcnicos aplicados na produo so considerveis e apresentam grandes investimentos de capitais. A aplicao desses capitais tem como objectivo prover determinado produto; e a busca dos lucros o que determina a combinao de cultivos escolhida, sem perder de vista as demandas do mercado. Como consequncia da expanso europeia em reas escassamente povoadas, a agricultura dos pases novos (Estados Unidos, Canad, Argentina, Austrlia) nasceu quase ao mesmo tempo que a Revoluo Industrial, que foi lhes fornecendo os meios tcnicos para valorizar os imensos espaos agrcolas disponveis. A instalao da agricultura comercial nos pases tropicais, destinada a abastecer os pases industrializados, adquiriu a forma de grandes plantaes coloniais. As maiores plantaes encontram-se na Amrica Latina, que oferece produtos de grande valor no mercado internacional. No entanto, as populaes que nelas trabalham so muito pobres, j que a colheita pertence a grandes proprietrios. O aumento populacional e o desenvolvimento tm vnculos complexos. No passado, por meio da intensificao da agricultura e do aumento da produtividade, as naes puderam enfrentar as crescentes presses populacionais sobre a terra disponvel. A presso populacional est de certa forma a forar os agricultores tradicionais a trabalharem mais, quase sempre em quintas cada vez menores, situadas em terras marginais, apenas para manter a renda familiar. Na frica e na sia, a populao rural praticamente dobrou entre 1950 e 1985, com um correspondente declnio na disponibilidade de terra. O rpido aumento populacional tambm cria problemas

urbanos de cunho econmico e social, que ameaam impossibilitar a administrao das cidades. O aumento populacional acelerou-se em meados do sculo XVIII, com o advento da Revoluo Industrial e das correspondentes melhorias na agricultura, no s nas regies mais desenvolvidas como tambm em outras. A fase recente de acelerao comeou por volta de 1950, quando as taxas de mortalidade tiveram uma reduo acentuada nos pases em desenvolvimento. Hoje, o aumento populacional concentra-se nas regies subdesenvolvidas da sia, da frica e da Amrica Latina, responsveis por 85% do aumento da populao mundial a partir de 1950. O aperfeioamento das comunicaes possibilitou grandes deslocamentos de pessoas, s vezes como uma reaco natural ao aumento das oportunidades econmicas em determinadas reas. Isso aumentou rapidamente a mobilidade da populao, acelerando as migraes internas e externas. Grande parte dos deslocamentos d-se do campo para a cidade. Em 1985, cerca de 40% da populao mundial vivia em cidades. A magnitude da migrao para as cidades comprovada pelo fato de que, a partir de 1950, o aumento da populao urbana, foi maior do que o aumento da populao rural, tanto em termos percentuais como absolutos. Esse deslocamento mais impressionante nos pases subdesenvolvidos, nos quais o nmero quadruplicou nesse perodo. No final deste sculo, quase metade do mundo est a viver em reas urbanas desde pequenas cidades at metrpoles. O sistema econmico mundial est a tornar-se cada vez mais urbano, com redes justapostas de comunicaes, de produo e de mercadorias. Tal sistema, com os seus fluxos de informao, energia, capital, comrcio e pessoas, gera a coluna dorsal do desenvolvimento nacional. As perspectivas de uma cidade, grande ou pequena, dependem essencialmente do lugar que ela ocupa no sistema urbano, nacional e internacional. Em muitas naes, certos tipos de indstria e de empresa de servios esto a desenvolver-se em reas rurais. Mas essas reas tm vinda a receber servios e infraestruturas de alta qualidade, com sistemas avanados de telecomunicaes, que fazem com que as suas actividades sejam parte integrante do sistema urbanoindstrial nacional e global. De fato, o interior est a ser urbanizado cada vez mais aceleradamente. O sculo XX poder ser marcado pela revoluo urbana. Depois de 1950, o nmero de pessoas que vivem nas cidades quase triplicou; nas regies mais desenvolvidas, a populao urbana dobrou; no mundo menos desenvolvido, quadruplicou. Em muitos pases em desenvolvimento, as cidades tm crescido muito alm do que jamais se poderia imaginar. Poucos governos de cidades do mundo em desenvolvimento, cujas populaes crescem a um ritmo acelerado, dispem de poderes, recursos e pessoal treinado para lhes fornecer as terras, os servios e os sistemas adequados a condies no degradantes de vida: gua potvel, saneamento, escolas e transportes. O resultado disso revela-se na proliferao de assentamentos ilegais de habitaes toscas, nas aglomeraes excessivas e na taxa de mortalidade altssima, decorrente de um meio ambiente insalubre, por causa de problemas de infra-estrutura deteriorada, degradao ambiental, decadncia do centro urbano e descaracterizao

dos bairros. Os desempregados, os idosos e as minorias tnicas e raciais podem mergulhar numa espiral descendente de degradao e pobreza, pois as oportunidades de emprego diminuem, e os indivduos mais jovens e mais instrudos vo abandonando os bairros decadentes. No mundo industrializado, as cidades tambm so responsveis por problemas de alcance global, tais como o consumo de energia e a poluio ambiental. Muitas delas obtm seus recursos e a sua energia de terras distantes, com fortes impactos colectivos sobre essas mesmas terras. Em geral, o crescimento urbano muitas vezes vem antes do estabelecimento de uma base econmica slida e diversificada para apoiar o incremento da infra-estrutura, da habitao e do emprego. Em muitos lugares, os maiores problemas esto ligados a padres inadequados de desenvolvimento agrcola e urbano. A crise econmica mundial dos anos 80 no resultou somente em menores rendas, maior desemprego e na eliminao de muitos programas sociais. Ela tambm diminuiu drasticamente a j baixa prioridade dada aos problemas urbanos, aumentando a deficincia crnica dos recursos necessrios para construir, manter e administrar as cidades.

As interaces urbanas contemporneas Os sistemas urbanos constituem redes, formadas por um conjunto hierarquizado de cidades com tamanhos diferentes, ou seja, onde se observa a influncia exercida pelos centros maiores sobre os menores. A hierarquia urbana, estabelece a partir dos produtos e dos servios que as cidades tm para oferecer. Quanto mais diversificada for a economia de uma cidade, maior ser a sua capacidade de liderar e influenciar os outros centros urbanos com os quais mantm relaes. Assim se cria um sistema de relaes no qual as cidades mais desenvolvidas lideram a rede urbana. As cidades maiores influenciam as cidades mdias, e estas influenciam as cidades menores. As metrpoles correspondem a centros urbanos de grande porte: populosos, modernos e dotados de graves problemas de desigualdades sociais. Nelas predomina o trabalho assalariado, que, aliado ao tamanho da populao, contribui para a formao de um significativo mercado consumidor. Para atender a esse mercado, os estabelecimentos comerciais multiplicam-se e as redes de prestao de servios de toda a espcie multiplicam-se, o que faz configurar um grande desenvolvimento do sector tercirio da economia. A concentrao populacional amplia a oferta de mo-de-obra e, desse modo, atrai investimentos produtivos que contribuem para o desenvolvimento da indstria, com a expanso do sector secundrio no apenas nas cidades, mas tambm nas regies circunvizinhas. Quando os limites fsicos das cidades esto muito prximos, formam-se conturbaes. Isso ocorre principalmente nas regies mais desenvolvidas, onde geralmente h uma grande auto-estrada, um porto ou sistemas de comunicao aperfeioados, que expandem continuamente a rea fsica das cidades. Ao contrrio do que normalmente se considera, a mega metrpole no uma mega metrpole, mas uma juno de metrpoles. encontrada em regies de intenso desenvolvimento urbano, e nelas, as reas rurais esto praticamente ausentes.

As principais mega metrpoles contemporneas so: Boswash. (localiza-se no nordeste dos Estados Unidos); Chipits,(tambm est localizada nos Estados Unidos, ao sul dos Grandes Lagos); Tokkaido,(corresponde a uma das metrpoles mais populosas do mundo. Localizada no sudeste do Japo); Renana, (localizada na Europa ocidental, junto ao vale do Reno). A urbanizao corresponde principalmente a um processo de transferncia de populaes das zonas rurais para as cidades; quando ele muito intenso, recebe o nome de xodo rural.

Os pases mais desenvolvidos No sculo XIX, a urbanizao foi mais intensa nos pases que realizaram a Revoluo Industrial e que constituem hoje pases desenvolvidos. As novas possibilidades de trabalho na indstria e no comrcio atraram as populaes da zona rural para as cidades. No ps-guerra, a concentrao humana e a elevao do poder aquisitivo das populaes dos pases mais desenvolvidos produziram um grande aumento do consumo de bens e servios, que favoreceu a expanso do sector tercirio da economia. Como nesse perodo tambm ocorreu um grande desenvolvimento da tecnologia industrial, a produtividade aumentou e as necessidades de mo-de-obra reduziram-se. Os pases subdesenvolvidos O sculo XX caracterizou-se pela urbanizao dos pases subdesenvolvidos. O ritmo acelerou a partir de 1950, devido ao aumento das taxas de crescimento populacional e, em muitos desses pases, industrializao, propiciada pelos significativos investimentos das empresas multinacionais. Formaram-se grandes cidades, para as quais as populaes da zona rural se deslocaram em busca de melhores condies de vida, pois era ali que a industrializao estava mais presente, com maior disponibilidade de emprego, conforto e ascenso social. Nessas cidades, contudo, a industrializao adoptou um padro tecnolgico muito mais moderno do que o utilizado pelas indstrias do sculo XIX, o que resultou na criao de menos empregos. Por isso, muitas pessoas que se deslocaram para as cidades no encontraram trabalho e passaram a viver em situao de extrema pobreza, em locais insalubres, como favelas e cortios sem luz, gua, rede de esgotos, transportes colectivos e demais servios urbanos. Por isso, nessas cidades o sector tercirio informal - aquelas actividades no regulamentadas, como a dos biscateiros - cresce mais que o formal. Essa situao chamada de hipertrofia do tercirio. Amrica Latina - a regio mais urbanizada entre o conjunto dos pases menos desenvolvidos e, desde o incio da dcada de 1970, a populao urbana superior populao rural. Essa regio foi a primeira a conquistar a independncia poltica, a constituir uma economia de mercado e a desenvolver actividades industriais, ainda durante o sculo XIX. Desde o incio do sculo XX, e principalmente aps 1940, outros factores

contriburam para acelerar a urbanizao. A concentrao de terras herdadas do perodo colonial perpetuou-se no latifndio, o que agravou a pobreza rural e estimulou a populao de origem camponesa a migrar para as cidades. Alm disso, muitas propriedades rurais modernizaram-se, adoptando procedimentos administrativos caractersticos das grandes empresas urbanas e passando a utilizar mquinas agrcolas em grande escala, que reduziram a necessidade de mo-de-obra. Em quase toda a Amrica Latina, os ndices de urbanizao so elevados, com a populao urbana a ultrapassar 70% na maior parte dos pases, com excepo da regio da Amrica Central, da Bolvia e do Paraguai. A urbanizao da frica - A maior parte da populao vive na zona rural, pois as actividades agrrias predominam na estrutura econmica de quase todos os pases do continente. Mesmo assim, desde o incio da dcada de 1970 os pases da frica so os que apresentam as taxas de urbanizao mais elevadas entre os pases menos desenvolvidos, com um aumento superior a 5% ao ano. Em 1960, a populao urbana da frica correspondia a 210 milhes de habitantes; hoje corresponde a mais de 420 milhes. O ritmo de transferncia de populaes do campo para a cidade crescente, e para isso contribui o grave estado de pobreza da maior parte das sociedades africanas. Cerca de 216 milhes de pessoas, ou 47,8% da populao absoluta, vivem abaixo da linha de pobreza delimitada pela Organizao das Naes Unidas (ONU), com uma renda anual inferior a 370 dlares. A urbanizao africana est relacionada com a ampliao da economia de exportao, a partir de 1950, quando houve um grande aumento do consumo mundial de matriasprimas, combustveis fsseis e produtos agrcolas. As reas de urbanizao mais acentuada so a Repblica da frica do Sul, um pas industrializado; os pases que se localizam em torno do golfo da Guin, com uma indstria petrolfera; e a regio do litoral do mar Mediterrneo, de onde parte, uma importante rota martima internacional, o que lhe permite manter uma forte integrao econmica com os pases europeus. A urbanizao na sia - O continente mais populoso do mundo, no tem uma tradio urbana. A populao ainda predominantemente rural, mas desde a dcada de 1960 a migrao do campo para as cidades aumentou muito os ndices de urbanizao. Calcula-se que no incio do sculo XXI cerca de 2 bilies de asiticos estejam a viver em cidades, o que pode significar o aumento da pobreza. Hoje, a situao j dramtica. Na ndia e em Bangladesh, na sia meridional, cerca de 562 milhes de pessoas, ou 49% da populao, vivem com uma renda anual inferior a 370 dlares por habitante, tal como no continente africano. A industrializao dos pases conhecidos como tigres asiticos (Coreia do Sul, Taiwan, Singapura e Hong Kong), ocorrida nas ltimas dcadas, e a recente ascenso econmica dos chamados novos tigres (Malsia, Tailndia, Indonsia e Filipinas) aumentaram a oferta de trabalho, transformaram as suas principais cidades em plos de forte atraco populacional e contriburam para acelerar a urbanizao asitica.

Evoluo da indstria em Portugal1. IntroduoA produtividade e o respectivo crescimento so a chave para a anlise da evoluo da indstria no sculo XX. Se certo que, devido a uma tardia industrializao relativamente aos pases europeus mais desenvolvidos, o sector industrial em Portugal ganha peso, quer no emprego, quer na produo, ao longo de quase todo o sculo, a grande contribuio da indstria para a evoluo do nvel de vida mdio portugus , no entanto, o crescimento da sua produtividade e no a extenso da sua produo e emprego da fora de trabalho. So os ganhos permanentes (isto , no transitrios) de produtividade que permitem sustentar ganhos permanentes de rendimento real, concretizados nos salrios e/ou nos lucros. O crescimento industrial no sculo XX em Portugal revela, como na maior parte dos pases desenvolvidos, um aumento contnuo, mas no constante, da produtividade. Na maior parte do sculo, as flutuaes relevantes registam-se, no j no nvel de produtividade - sempre a aumentar -, mas na prpria taxa de crescimento. O crescimento da produtividade acelera fortemente a partir da dcada de 50, para depois desacelerar nos anos 70 e 80 e voltar a acelerar nos anos 90. Para os pases mais desenvolvidos - lderes em nveis de produtividade - as flutuaes da taxa de crescimento, to acentuadas na segunda metade do sculo por comparao com o passado, estabelecem padres de sustentabilidade temporal dos ganhos de bem estar. Para os outros pases, como Portugal, a amplitude e a durao destas flutuaes so determinantes para a convergncia/divergncia de nveis de vida relativamente aos pases mais desenvolvidos. A caracterizao que neste trabalho se faz do crescimento industrial portugus no sculo XX centra-se, ento, na especificao de tendncias de evoluo temporal do crescimento da produtividade. Importa desde j precisar os principais conceitos envolvidos, bem como explicar brevemente os procedimentos usados nessa especificao. Desde logo necessrio delimitar o mbito do sector industrial. A nossa anlise parte de um conceito lato de indstria, que inclui, para alm da Indstria Transformadora, aIndstria Extractiva, a Electricidade, Gs e gua e a Construo.Nesta definio a Indstria corresponde ao chamado sector secundrio, que, juntamente com a Agricultura, Silvicultura e Pescas (sector primrio) e os Servios (sector tercirio), compem a actividade econmica. O conceito de produtividade, sendo central na anlise do crescimento industrial, deve ser objecto de uma descrio cuidada. A necessidade de quantificar coerentemente a produtividade na indstria ao longo de todo o sculo XX conduz, tendo em conta os constrangimentos de disponibilidade de dados estatsticos, utilizao do valor acrescentado bruto por activo. No sendo esse o conceito ideal do ponto de vista analtico, necessrio ter conscincia das suas limitaes. Em primeiro lugar, ao considerar-se a produtividade mdia e no a marginal, ignoram-se possveis discrepncias entre as duas, que poderiam sinalizar quer situaes estticas de deficiente afectao de recursos, quer dinmicas de no aproveitamento ou de esgotamento das oportunidades de ganhos produtivos adicionais. Em segundo lugar, seria desejvel que no denominador, em vez do nmero de activos, figurasse o nmero de horas trabalhadas. Ao usar o nmero de activos ignora-se quer as flutuaes de emprego da fora de trabalho, quer a evoluo da

intensidade de uso dessa fora de trabalho, sendo esta ltima limitao a mais importante numa anlise secular de tendncias de longo prazo. Em terceiro lugar, a decomposio da produtividade do trabalho em componentes que a relacionam com os outros factores de produo - nomeadamente infra-estruturas e outro capital, fsico e humano - e como progresso tecnolgico e os ganhos de eficincia, permitiria avanar deveras a caracterizao no sentido de uma maior profundidade analtica. As limitaes que decorrem da inexequibilidade dessa decomposio concretizam-se na impossibilidade de avaliar at que ponto o crescimento da produtividade do trabalho se ficou a dever complementaridade/substituibilidade com os outros factores produtivos, aos ganhos de eficincia na organizao da produo, ou evoluo tecnolgica. No que se refere s ferramentas analticas usadas neste trabalho, distinguem-se duas que convm descrever brevemente: (i) extraco das tendncias de nvel e crescimento da produtividade; e (ii) anlise de mudana estrutural. Para identificar as variaes sustentadas nos nveis e taxa de crescimento da produtividade necessrio extrair, a partir dos dados (ou estimativas) estatsticos anuais, tendncias para essas variveis. So os ciclos de crescimento da produtividade, detectveis na prpria taxa de crescimento tendencial, que permitem classificar, para posterior anlise, as diferentes fases da evoluo da produtividade industrial. tpico das sries de produtividade do trabalho apresentarem uma variabilidade anual acentuada e no sistemtica, que precisa de ser depurada para que transpaream variaes sistemticas ao longo de vrios anos. Tecnicamente trata-se de um problema de extraco de sinal, isto , uma questo de distinguir, na variabilidade das sries, qual a parte sistemtica - sinal - e qual a parte no sistemtica - rudo. falta de um procedimento consensual para esta separao, h que optar por uma tcnica que seja adequada ao tema e s sries em causa. No caso vertente, a tcnica deve, por um lado, assegurar a extraco (simultnea para os nveis e para a taxa de crescimento da produtividade) de tendncias que possam variar ao longo do sculo. Por outro lado, dado que a variabilidade no sistemtica das sries difere ela prpria inter-sectorialmente e inter-pases, tambm conveniente que a percentagem de sinal/rudo possa variar de sector para sector da indstria e de pas para pas, ou seja, que essa percentagem seja determinada endogenamente ao procedimento e no imposta a priori. O procedimento usado nas sries de produtividade ao longo deste trabalho - modelo de parmetros variveis temporalmente com estimao no enviesada da varincia - obedece a estas condies, para alm de assentar sobre bases estatsticas slidas. O segundo procedimento a destacar refere-se anlise de mudana estrutural, por vezes designada de anlise shift-share. Aplicada evoluo da produtividade industrial ao longo do sculo, consiste na decomposio da respectiva taxa de crescimento secular em trs componentes: (i) efeito de crescimento intra-sectorial; (ii) efeito esttico de mudana estrutural; e (iii) efeito dinmico de mudana estrutural. A primeira componente isola o efeito de crescimento da produtividade dos sectores industriais, caso a afectao de recursos (trabalho, neste contexto) entre esses sectores se tivesse mantido constante. A segunda componente isola o efeito de reafectao de recursos entre os sectores, caso no tivessem sido alterados os nveis de produtividade de cada sector. Este efeito ser positivo se as alteraes na afectao inter-sectorial de recursos forem predominantemente no sentido dos sectores menos produtivos para os mais produtivos. A terceira componente - efeito dinmico de mudana estrutural - resulta da interaco entre o crescimento e a

reafectao de recursos, sendo o efeito tanto mais positivo quanto maior for a deslocao de recursos no sentido dos sectores com menor crescimento para os de maior crescimento. Para alm de identificar o(s) efeito(s) dominante(s) no crescimento da produtividade, esta tcnica de anlise permite ainda classificar a contribuio de cada sector para o crescimento da produtividade da indstria, como sendo predominantemente intensiva - efeito crescimento dominante - ou extensiva - efeito esttico de mudana estrutural dominante. Uma vez esclarecidos os conceitos e procedimentos mais relevantes, o trabalho prossegue agora na caracterizao da evoluo da produtividade na indstria portuguesa ao longo do sculo XX, com especial nfase nas flutuaes da respectiva taxa de crescimento. Na seco 2, que se segue, considera-se o sector industrial como um todo e estabelece-se, com base nos ciclos de crescimento tendencial, uma periodizao para o crescimento da produtividade, que baliza as anlises subsequentes. Depois mede-se os contributos da indstria para o crescimento da produtividade da economia, e compara-se a evoluo da produtividade industrial portuguesa, observada e tendencial, com a dos restantes pases da Europa Ocidental. A seco 3 comea por abordar brevemente a evoluo e os contributos da produtividade dos sectores industriais da Indstria Extractiva, Electricidade, Gs e gua, e Construo, para depois se concentrar, em maior detalhe, na Indstria Transformadora, por ser o sector industrial dominante e onde se concentram os bens transaccionveis internacionalmente. Aps a apresentao de uma comparao internacional de nveis de produtividade na indstria transformadora durante a segunda metade do sculo, regressa-se anlise dos tipos de contributo, desta vez das indstrias manufactureiras mais relevantes nas vrias fases de crescimento da produtividade. Tal como na seco 2, so tambm apresentadas e discutidas as tendncias e respectivos ciclos de crescimento da produtividade, mas agora relativamente aos vrios sectores da indstria transformadora.

2. A evoluo da produtividade industrialO sector industrial ganhou relevncia ao longo do sculo XX, no s em termos de contribuio para a produo e para o emprego da populao activa, mas tambm no que respeita ao contributo para a produtividade da economia portuguesa. Na figura 1 bem visvel essa evoluo. A industrializao patente at aos anos 80, destacandose o arranque dos ganhos de peso na produo nos anos 50 e a intensificao desses ganhos nos anos 60, coincidente com o arranque do crescimento acelerado da economia portuguesa em ambiente de abertura ao exterior. S no ltimo quarto de sculo que se comea a desenhar uma tendncia de desindustrializao. Ser de notar que a desindustrializao - num sentido estrito de perda de peso da indstria na economia - se manifesta em Portugal com alguma dissonncia temporal relativamente aos pases europeus mais desenvolvidos. Comparando a figura 1 com os dados recolhidos em Ark (1996, quadros A.2 e A.7, Dinamarca, Frana, Alemanha Ocidental, Itlia, Holanda, Sucia e Reino Unido), Portugal, em desacelerao do crescimento industrial, acompanha esses pases na perda de peso da indstria no PIB total, que se verifica a partir de meados da dcada de 70, mas adia por uma dcada - at aos anos 80 - a descida do peso industrial na populao activa, enquanto que, pelocontrrio, os pases europeus mais desenvolvidos a antecipam para a viragem anos 60-70. Claro que esta dessincronizao implica divergncia na produtividade industrial portuguesa relativamente a esses pases, no perodo que decorre entre o incio dos anos 70 e meados da dcada de 80. S a partir desta altura e at ao final do sculo que a desindustrializao acompanhada por ganhos de produtividade na indstria portuguesa. 2.1. Periodizao dos ciclos de crescimento da produtividade industrial As flutuaes no crescimento da produtividade da indstria so bem patentes na figura 2, que mostra as taxas de crescimento observadas em cada ano e as respectivas mdia e tendncia. Dividindo o sculo em fases de crescimento tendencial da produtividade industrial superior e inferior mdia secular de 2,87 por cento, obtm-se uma periodizao de ciclos de tendncia da produtividade da indstria portuguesa assinalavelmente consistente com a histria econmica, poltica e social do pas: 1910-1950, 1951-1973, 1974-1984 e 1985-2000. Interessa, portanto, rever o essencial dessa histria, no que ela releva para a indstria. Entre 1910 e 1950, os ganhos sistemticos de produtividade da indstria nacional foram relativamente modestos e inferiores aos alcanados, em mdia, no cmputo do sculo, espelhando as dificuldades do pas no arranque - j de si tardio - do processo de industrializao. Estas dificuldades no se tero devido, no essencial, s Guerras Mundiais e Grande Depresso, cujos impactos sobre a economia nacional tero sido relativamente suaves.Este ciclo negativo da tendncia de crescimento da produtividade industrial est antes associado, numa fase inicial, forte instabilidade social, poltica e econmica que caracterizava ento o pas e, subsequentemente aps a estabilizao financeira e poltica -, adopo dum modelo econmico pouco assente na industrializao. De facto, o modelo de desenvolvimento de ento assentava na pacificao social pela via do corporativismo e privilegiava a auto suficincia alimentar e o sector primrio em geral, bem como o controlo da actividade

empresarial e da concorrncia, herdado da onda proteccionista generalizada do perodo entre as Guerras. Este controlo era exercido atravs do condicionamento industrial e da proteco face ao exterior. O perodo entre 1951 e 1973 foi o ciclo mais positivo de crescimento tendencial da produtividade industrial no sculo XX, e um perodo dourado de crescimento global da economia. O comportamento da produtividade industrial neste ciclo reflecte um novo modelo de desenvolvimento econmico, alicerado em trs requisitos - polticas industrialistas, abertura ao exterior e condies internacionais favorveis s exportaes e emigrao. Em primeiro lugar, iniciaram-se polticas de investimento em infra-estruturas pblicas necessrias s actividades produtivas (aeroportos, redes viria e ferroviria, electrificao e projectos hidroelctricos), promoo do investimento em sectores industriais estratgicos capital-intensivos (cimentos, adubos, siderurgia e metalomecnicas pesadas, pasta para papel, qumicas), e polticas fiscais e de crdito incentivadoras da industrializao e da reorganizao das indstrias tradicionais. As polticas industrialistas, que foram consagradas nos Planos de Fomento quinquenais institudos a partir de 1953, estavam orientadas para a substituio de importaes no mercado interno, nesta primeira fase, e apenas numa fase posterior - meados dos anos 60 - se orientaram decididamente para a exportao. Em segundo lugar, o ciclo de ouro da produtividade industrial explicado pela nova poltica de abertura econmica do pas ao exterior, materializada especialmente na adeso Associao Europeia de Comrcio Livre (EFTA) em 1960, mas tambm Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmicos (OCDE), ao Fundo Monetrio Internacional (FMI) e ao Banco Mundial em 1961, e ao Acordo Geral sobre Tarifas e Comrcio (GATT) em 1962 - ver Valrio (2002). Desta poltica resultaram a abertura de mercados externos e uma significativa liberalizao do investimento estrangeiro, as quais estimularam fortemente a produtividade industrial - especialmente porque muitos mercados nacionais continuavam a beneficiar ainda de alguma proteco, os preos e salrios continuavam controlados e as taxas de juro continuavam baixas. Em terceiro lugar, a indstria nacional beneficiou do forte dinamismo das economias europeias nesta fase, que permitiu no apenas a expanso das exportaes, mas tambm a emigrao massiva, que ter provocado um maior crescimento da produtividade industrial. de realar que o crescimento econmico neste perodo de ouro no foi uniforme, o que leva Silva Lopes (2002) a classificar a dcada de 50 como o "perodo de prata" ao qual se seguiu o "perodo de ouro" da dcada de 60. Amaral (1998, 2002) tambm argumenta que os anos 50 so distintos dos 60. Segundo este autor, nos anos 50 o crescimento assentou essencialmente na acumulao de capital, tendo a dinmica da produtividade total dos factores sido incipiente. Apesar do Estado Novo ter assegurado um ambiente favorvel ao investimento, preservou um conjunto de instituies que bloqueavam a afectao eficiente de recursos - proteccionismo (moderado), condicionamento industrial e preos administrativos. J nos anos 60 a produtividade total dos factores cresceu fortemente, com a adeso EFTA a forar a limitao da interveno estatal na economia. Aps 1973 as condies econmicas em Portugal mudaram radicalmente, e os anos compreendidos entre 1974 e 1984 constituram um ciclo negativo da tendncia da produtividade industrial. Este ciclo decorreu, em primeiro lugar, da deteriorao da situao econmica na generalidade das economias ocidentais - importantes clientes de muitas indstrias nacionais e destino da emigrao nacional - resultante dos choques petrolferos e de polticas

econmicas menos saudveis. Em segundo lugar, de mltiplas circunstncias internas penalizadoras da actividade econmica e associadas mudana de regime poltico a instabilidade poltica, institucional e social subsequente revoluo de 1974, as nacionalizaes, a subida desmesurada de salrios e a rigidificao do mercado de trabalho, a contraco das remessas de emigrantes e da prpria emigrao, os impactos da descolonizao, as restries impostas ao sistema financeiro, e polticas econmicas inconsistentes. Em terceiro lugar, a tendncia de crescimento da produtividade industrial ter sido penalizada pelas polticas contraccionistas de saneamento macroeconmico concretizadas em1978-79 e em 1983-84 sob os auspcios do FMI, ento necessrias para combater os graves desequilbrios da balana de pagamentos, do dfice pblico e da inflao. Contrariamente ao consenso sobre os efeitos positivos que o saneamento macroeconmico acabou por ter nas condies de crescimento econmico do final do sculo, o debate sobre a importncia relativa dos factores externos versus internos na explicao das crises econmicas do perodo 1974-1984 no est concludo. Silva Lopes (1996, pgina 23) argumenta que"Assim como estes factores [externos] tinham sido a principal fora dinamizadora do progresso da economia portuguesa durante a dcada de 60, assim tambm foram eles que mais decisivamente contriburam para afrouxar o crescimento e agravar a instabilidade no perodo que vai de 1974 a meados dos anos 80." e Lains (2003) aduz provas empricas que o levam a subscrever este argumento. A partir de 1985 a produtividade industrial voltou a crescer tendencialmente a umritmo superior mdia, mas agora num contexto de desindustrializao. Quatro condies tero sido essenciais neste novo ciclo da economia portuguesa. Em primeiro lugar, os benefcios das polticas de saneamento econmico e financeiro ao abrigo dos acordos de estabilizao com o FMI, comearam a surgir na segunda metade dos anos 80, proporcionando um ambiente macroeconmico mais previsvel e propcio ao crescimento. Em segundo lugar, a progressiva estabilizao poltica e institucional permitiu a consolidao de um modelo scio-econmico assente na concorrncia e na iniciativa privada, consubstanciada, por exemplo, na reprivatizao da maioria das empresas pblicas, na reabertura de mercados iniciativa privada, e no desenvolvimento dos mercados financeiros. A adeso Comunidade Econmica Europeia (CEE) em 1986 constituiu uma terceira condio, ela prpria potenciada pelas duas anteriores. Os efeitos da adeso, embora com diferentes graus de desfasamento temporal, fizeram-se sentir (i) no crescimento das exportaes e das importaes de pases mais desenvolvidos; (ii) no afluxo de investimento estrangeiro em boa parte visando a exportao para o mercado europeu; (iii) no afluxo de transferncias pblicas externas, apoiando investimentos privados e em infra-estruturas; e (iv) na melhoria da qualidade da legislao e das polticas econmicas e sociais (Silva Lopes, 1996, p. 126-132). J nos anos 90, Portugal aperfeioou sucessivamente a sua integrao europeia, com o Mercado nico em1993, o restabelecimento da convertibilidade externa do escudo em finais de 1992,e, finalmente, a integrao da Unio Econmica e Monetria em 1999 consolidando assim a estabilidade macroeconmica e a concorrncia, pelo menos nos sectores de bens transaccionveis. Em quarto lugar, Portugal beneficiou mais uma vez das condies econmicas internacionais favorveis - descidas das taxas de juro e do preo do petrleo, bemcomo a depreciao do dlar americano.

2.2. A importncia da indstria na evoluo da produtividade da economia: A evoluo da importncia da indstria para os ganhos de produtividade da economia portuguesa como um todo bem patente na anlise de mudana estrutural representada no quadro 1 e na figura 3. A indstria o sector que mais contribui para o crescimento da produtividade ao longo do sculo (50,16% em 1910-1995), com relevo para o papel determinante na forte acelerao em 1950-1973. Confirma-se o contributo negativo em 1973-1985 bem assim como a desindustrializao a partir de meados de 80, que se reflecte no s na perda de peso da actividade industrial na economia (figura 1, atrs), como tambm na perda relativa de importncia - a favor do sector dos servios - para a evoluo da produtividade. A anlise de mudana estrutural, aplicada no quadro 1 produtividade na economia portuguesa com os trs grandes sectores (que so aqui designados simplificadamente de agricultura, indstria e servios), bastante esclarecedora relativamente identificao de algumas regularidades empricas. Como comum generalidade dos pases europeus (ver, para a segunda metade do sculo, Fagerberg, 2000, e Ark, 1996), o efeito de crescimento intra-sectorial claramente dominante em todo o perodo, o que, s por si, justifica uma abordagem individualizada de cada sector, como a que se conduz aqui para a indstria. Mas existem diferenas fundamentais, ao nvel dos trs tipos de efeitos, entre os vrios sub-perodos, para alm do fraco crescimento da produtividade em 1973-1985 (que mesmo negativo na indstria). Na primeira metade do sculo o modesto crescimento da produtividade da economia baseia-se fundamentalmente (85,03%) no crescimento da produtividade em cada um dos sectores. O pequeno efeito de mudana estrutural que existe fundamentalmente esttico (9,95%), reflectindo a perda de activos da agricultura para a indstria e servios. O perodo 1950-1973 claramente mais dinmico, em vrios sentidos. No s o crescimento da produtividade acelera marcadamente, como tambm se verifica que para tal contribui um aprecivel efeito dinmico de mudana estrutural (19,89%), comos activos da agricultura a deslocarem-se prioritariamente para o sector com maior crescimento da produtividade, a indstria. Esta dinmica to forte que influencia decisivamente a contabilidade dos efeitos para o sculo como um todo (coluna 1910-1995), fazendo com que o efeito dinmico (9,76%) domine o efeito esttico (5,76%), no que respeita mudana estrutural. A desindustrializao que ocorre em 1985-1995 algo penalizadora para o crescimento da produtividade da economia. Embora esteja acima da mdia do sculo, o crescimento da produtividade neste perodo teria sido maior se tivesse havido uma dinmica mais favorvel na mudana estrutural. O efeito dinmico de mudana estrutural (-4,21%) mostra que aconteceu o contrrio: para alm da contnua perda de activos na agricultura, houve deslocao de activos do sector industrial, com maior crescimento da produtividade, para os servios, onde a produtividade cresceu menos (como patente na decomposio dos contributos intra-sectoriais, 51,92% da indstria versus 24,44% dos servios). Prospectivamente, importa saber se, nos primeiros anos do sculo XXI, os ganhos de produtividade nos servios potencialmente proporcionados pelas tecnologias da informao e comunicao e pelo ganho de importncia dos servios transaccionveis internacionalmente, sero suficientes para inverter esta tendncia.

2.3. A dinmica tendencial da produtividade industrial portuguesa em perspectiva europeia: Analisado o contributo da indstria para a evoluo da produtividade da economia portuguesa, compara-se agora o crescimento da produtividade industrial em Portugal com o de catorze pases europeus ocidentais. O quadro 2, que relata valores observados, mostra, em primeiro lugar, que na primeira metade do sculo XX a produtividade da indstria portuguesa aumentou a um ritmo mdio que, embora modesto, compara positivamente com quase todos os pases da amostra, tendo sido inferior apenas aos da ustria, Finlndia, Grcia e Irlanda. Para alm de reflectir a industrializao tardia, este resultado ilustra o impacto relativamente suave das guerras e crises sobre Portugal, bem como um bom crescimento da indstria portuguesa j na segunda parte da dcada de 40 em resultado das primeiras medidas industrialistas. Uma segunda concluso a retirar do quadro 2 que o ciclo dourado portugus de 1950-1973 bastante menos impressionante, quando colocado em perspectiva internacional. Nessa fase a produtividade da indstria portuguesa cresceu mais do que a da maioria dos pases europeus, mas o diferencial de crescimento apenas extraordinrio face ao Reino Unido, Sucia, Dinamarca e Irlanda, muito diminuto face Alemanha, Itlia a Holanda, e mesmo negativo face ustria, Finlndia, Grcia e Espanha. Em terceiro lugar, o quadro mostra que o ciclo negativo de 1973-1985 penalizou o sector industrial portugus com uma intensidade sem igual nos restantes pases europeus. Se em todos os pases a produtividade industrial desacelerou com excepo do Reino Unido e Noruega, produtores de petrleo, e da Irlanda, que iniciava j o seu vertiginoso processo de convergncia -, apenas em Portugal a produtividade industrial caiu (diminuindo quase 1 por cento, em mdia anual), comparando muito negativamente mesmo com os pases de prestao mais fraca Sucia e Grcia, cujas taxas de crescimento mdias foram quase de 2 por cento. Para o debate, referido atrs, sobre a importncia relativa dos factores externos versus internos na explicao da crise econmica de 1974-1984, fica aqui a indicao clara de que as responsabilidades por este ciclo negativo da indstria portuguesa no podem ser meramente atribudas a causas externas. No ltimo ciclo positivo do sculo, desde 1985, Portugal registou um crescimento mdio anual da produtividade industrial claramente acima dos 4 pases grandes (G4), dos pequenos pases do Norte (com excepo da ustria), da Finlndia, Dinamarca, Grcia e Espanha, mas inferior Sucia, Noruega e, dentro dos pases da coeso, Irlanda. As figuras 4 e 5, em cujos grficos se compara a tendncia de crescimento da produtividade industrial de Portugal com as dos catorze pases europeus considerados, permitem confirmar e aprofundar as concluses anteriores, agora numa anlise em tempo contnuo adequadamente depurada das oscilaes no sistemticas. Os grficos mostram que a acelerao da tendncia da produtividade que levaria ao ciclo dourado da indstria nos anos 50-60 no exclusiva de Portugal e, inclusivamente, ocorre neste pas com algum desfasamento temporal face aos grupos de pases considerados - os G4 registam taxas acima da respectiva mdia secular j a partir de 1944, os restantes pases da coeso a partir de 1948, a Escandinvia desde 1949 e os pequenos pases do Norte desde 1950. A crise dos anos 70 foi de tal forma

intensa e persistente que provocou uma descida da tendncia de crescimento da produtividade industrial em todos os pases europeus aqui considerados, com excepo do Reino Unido e Noruega. Se na maior parte dos pases, a tendncia de crescimento, mesmo assim, se manteve, nesta dcada, acima da respectiva mdia secular (apresentada na coluna 1910-2000 do quadro 2), Portugal pertence a um conjunto de pases nos quais a tendncia desceu para aqum da mdia - juntamente com a Sucia (1974-1977), a Irlanda (1974-1980) e a Grcia (a partir de 1978). Neste grupo, Portugal foi o pas em que a tendncia esteve mais tempo (1974-1984) e mais acentuadamente abaixo da respectiva mdia secular. Os ganhos de produtividade da indstria portuguesa nos ltimos dezasseis anos do sculo foram persistentes e em boa medida crescentes, comparando positivamente com as tendncias de quase todos os pases considerados - com excepo apenas da ustria, Sucia, Finlndia e Irlanda. Relativamente aos restantes pases da coeso, Espanha e Grcia, a indstria portuguesa alcanou ganhos sistemticos de produtividade desde o incio dos anos 80. Tal comportamento relativo da indstria nacional j se havia verificado face Espanha (1911-1947 e 1956-1962), mas nunca, no sculo XX, face Grcia. Em sntese, no cmputo do sculo XX o crescimento da produtividade da indstria portuguesa no pode ser considerado mais do que mediano, quando colocado em perspectiva europeia. Comparativamente com os restantes pases da coesoincludos na amostra, a indstria portuguesa ganhou produtividade relativamente Espanha - 1 ponto percentual por ano, em mdia - mas perdeu face Grcia e Irlanda. Os ganhos face indstria espanhola concentraram-se na primeira metade do sculo e nos seus ltimos quinze anos, aps a adeso CEE. Relativamente Grcia, o perodo aps 1985 foi o nico, dos considerados na anlise, em que a indstria portuguesa ter ganho produtividade - resultado que, conjugado com o relativo a Espanha, sugere efeitos positivos da adeso de Portugal Comunidade Europeia. Em contrapartida, a comparao com a Irlanda particularmente desfavorvel a Portugal, no apenas pelo elevado diferencial de crescimento, mas tambm por este se ter acentuado fortemente na segunda metade do sculo e, ainda mais, nas suas dcadas finais.

3. A evoluo da produtividade nos sectores da indstria3.1. A importncia dos sectores na evoluo da produtividade industrial As quatro grandes actividades que so tradicionalmente designadas por industriais tm uma importncia quantitativa muito desigual, quer no que diz respeito ao peso no total da indstria, quer na contribuio para o crescimento da produtividade. A indstria transformadora domina claramente o sector industrial, seguida pela construo, que lhe foi ganhando peso ao longo do sculo. Registe-se que a construo continuou a ganhar peso em termos de populao activa, mas perdeu emproduo, a partir de meados dos anos 70 e at ao incio dos 90. Ser de notar, ainda, o peso negligencivel da indstria extractiva, principalmente a partir dos anos 60, e a progressiva transformao do sector da electricidade, gs e gua, cada vez menos trabalho-intensivo: os assinalveis ganhos de peso na produo a partir dos anos 80 no so acompanhados de aumentos substanciais da populao activa empregue no sector. Os contributos sectoriais para o crescimento da produtividade industrial confirmam o domnio da indstria transformadora, mas uma leitura atenta por sub-perodos revela que esse domnio se circunscreve segunda metade do sculo. De facto, o arranque da produtividade da indstria transformadora, arrastando a indstria como um todo ,verifica-se s na dcada de 60, mas de uma forma avassaladora - contributo de 80,84% em 1950-1973. E mesmo no perodo 1973-1985 de quebra da produtividade industrial - em que a construo perde produtividade de forma acentuada, contribuindo em 141,29% para a quebra na indstria como um todo - a transformadora consegue contribuir em 25,19% para atenuar essa quebra. No alheia a esta dinmica da indstria manufactureira na segunda metade do sculo a conjugao de dois factores: (i) neste sector que se concentram os bens transaccionveis internacionalmente; e (ii) neste perodo que ocorre a forte abertura ao exterior e a integrao europeia da economia portuguesa. certo que, com a abertura, todos os sectores puderam beneficiar do acesso a bens de investimento tecnologicamente avanados. Mas, mais do que nos outros trs sectores - produtores de bens maioritariamente notransaccionveis - a produtividade na indstria transformadora ter beneficiado da abertura dos mercados internacionais s exportaes e da consequente exposio concorrncia internacional. Porm, e apesar dessa exposio concorrncia exterior, a comparao internacional da evoluo dos nveis de produtividade desde 1950, patente na figura 7, relativiza substancialmente a dinmica da produtividade da indstria transformadora portuguesa. Mesmo que nos limitemos Europa, h afinal uma srie de pases que, vindos da reconstruo do ps-guerra com o plano Marshall, apresentam umcrescimento da produtividade manufactureira nitidamente superior a Portugal, durante os anos 60 e at meados de 70, perodo esse at agora inigualvel no crescimento econmico portugus. As indstrias transformadoras de pases como a Holanda, Finlndia, Sucia, Blgica, Frana e mesmo a Alemanha acumularam ganhos de produtividade face aos E.U.A. (a base dos ndices da figura), na segunda metade do sculo, claramente superiores a Portugal.

3.2. A diversidade dos sectores da indstria transformadora Sendo largamente predominante como sector industrial, a indstria transformadora apresenta uma diversidade intra-sectorial patente quer na heterogeneidade dos diferentes sub-sectores, quer na sua evoluo diferenciada. A figura 8 e a anlise de mudana estrutural resumida no quadro 4 do conta dessas diversidades. O ndice de Herfindahlna figura 8 - figura cuja designao simplificada dos sectores usada a partir de agora - mostra que o processo de industrializao em Portugal incluiu uma progressiva diversificao da indstria transformadora at aos anos 60. A partir de uma dominncia das indstrias TEX, ALI e MAD no incio do sculo, a diversificao processa-se em grande medida custa da perda de peso das TEX e, emmenor medida, das MAD, os dois sectores mais tradicionais da indstria transformadora. Em contrapartida, as indstrias ganhadoras de peso so as PAP, as MIN e, principalmente, as MAQ, sendo que as MET, quer pelo reduzido peso, quer pelos modestssimos contributos para o crescimento da produtividade (linha 8 no quadro 4), parece nunca terem chegado a participar de forma significativa e sustentada no processo de industrializao. Enquanto que o aumento de peso das PAP corresponde a uma estratgia de aproveitamento dos recursos florestais (com a correspondente perda das MAD) e o das MIN acompanha o aumento da construo (ver figura 6), dada a predominncia do cimento neste sector, j o substancial ganho de peso das MAQ reflecte a modernizao que acompanhou a industrializao. Essa modernizao tem especial relevo no perodo 1950-1973, no final do qual o sector moderno das MAQ se torna o maior produtor, tendo no processo ultrapassado o tradicional sector das TEX. Tendose mantido sempre como um sector importante na produo manufactureira, as ALI recuperam claramente peso na produo e na populao activa durante as duas ltimas dcadas do sculo. Durante o perodo de estagnao da produtividade da indstria em 1973-1985, o sector das ALI mesmo fundamental ao acolher activos provenientes das MAD e das MAQ - veja-se a decomposio do efeito esttico de mudana estrutural, linha 12 do quadro 4 - sem com isso comprometer, antes pelo contrrio, os ganhos de produtividade, como patente na contribuio de 18,46% para o efeito dinmico de mudana estrutural. A tal no ser alheia a grande transformao que sofreu a distribuio dos bens finais do sector, precisamente nas duas ltimas dcadas do sculo. O sector das QUI acaba o sculo com um peso semelhante ao do incio, embora tenha entretanto passado por uma expanso significativa, antecipando em cerca de uma dcada o perodo de maior crescimento econmico portugus. de assinalar que este sector, com um baixo grau de intensidade-trabalho, pode, por isso mesmo, contribuir fortemente para as variaes da produtividade do trabalho que so provocadas por transferncias de trabalhadores inter-sectores. A progressiva transformao do sector no sentido de uma maior intensidade-trabalho, que ntida a partir dos anos 70, dever, em contrapartida, reduzir o contributo das QUI para os ganhos de produtividade. A anlise shift-share do quadro 4 confirma isso mesmo. A linha 6 mostra que no perodo total 1930-2000, as QUI conseguem ser o principal contribuidor para o crescimento da produtividade na indstria transformadora (24,29%), apesar de perderem claramente essa posio a partir dos anos 70. Isso deve-se ao crescimento extensivo do sector at ao incio dessa dcada.

De facto, uma leitura atenta do quadro mostra que o principal contributo das QUI at aos anos 70 no o crescimento da sua prpria produtividade, mas antes a mudana estrutural que consiste na absoro de activos. Da se poder classificar de extensivo o crescimento do sector. Exemplo flagrante o perodo 1930-1950 de ligeira queda na produtividade na indstria transformadora, em que o contributo total das QUI no sentido contrrio (linha 6), embora tenha tambm diminudo a produtividadecontributo QUI para a linha 11, 40,27%). O que se passou foi que dominou claramente o efeito esttico de mudana estrutural, ou seja, predominantemente o efeito de passagem de activos das TEX para as QUI (patente na decomposio da linha 12), onde cada trabalhador adicional produz muito mais valor acrescentado. O contributo dos sectores tradicionais TEX e MAD, ambos perdedores de peso na produo e na populao activa ao longo do sculo, bastante diferenciado entre si. Enquanto as MAD contriburam sempre muito pouco - ou mesmo negativamente em1930-1950 e 19731985 - para os ganhos de produtividade, as TEX, aps uma primeira metade do sculo de alguma estagnao, foram-se sempre modernizando e ganhando produtividade at aos anos 90. Em contraste com as QUI, o contributo das TEX a partir dos anos 60 principalmente intensivo, dado que se baseia primordialmente nos ganhos de produtividade internos ao sector e no na absoro de activos, como resulta da comparao dos contributos TEX para as linhas 11 versus 12 - pelo contrrio, a progressiva modernizao do sector faz-se custa da perda relativa de alguns activos no perodo 1950-1973. Sendo um sector em que os bens transaccionveis dominam claramente, beneficiou muito da abertura protegida (do resto do mundo) dos mercados europeus, que a pertena EFTA, primeiro, e Comunidade Europeia, mais tarde, permitiu, para alm da proteco implcita na poltica macroeconmica de desvalorizao cambial prevalecente desde a segunda metade dos anos 70 at ao final da dcada de 80. Para alm de terem participado na dinmica dos anos 60, as TEX foram, juntamente com as ALI, fundamentais para contrariar as quebras de produtividade no perodo 1973-1985, mas no da mesma forma. Contrariamente s ALI - que, como explicado atrs, absorveram activos neste perodo -, as TEX contriburam quase s intensivamente, isto , com aumentos da prpria produtividade (contributo de 192,38%). Essa mesma classificao de crescimento intensivo pode tambm ser aplicada, embora em menor grau, ao contributo das MAQ, em que o crescimento da produtividade domina a deslocao de activos. A decomposio da linha 13 no quadro 4 revela uma diferena fundamental relativamente ao contributo mais intensivo das TEX. O efeito dinmico de mudana estrutural est presente nas MAQ, sendo at relativamente elevado (10,55%) em 1950-1973. Neste perodo, to forte a dinmica de crescimento da produtividade nas MAQ, que os activos que absorve, no indo partida para um sector com grande valor acrescentado (contributo negligencivel para o efeito esttico), fazem mesmo assim crescer bastante a produtividade da indstria transformadora, para a qual as MAQ do, visivelmente, o principal contributo - 30% na linha 9 em 1950-1973. Em franco contraste com este papel de motor da modernizao da indstria transformadora em 1950-1973, o sector das MAQ tem no perodo seguinte 1973-1985 um comportamento desastroso, sendo claramente o principal contribuidor (em319,98%) para o mau desempenho da produtividade. Em 1985-2000, quando a produtividade da indstria transformadora volta a acelerar, desta vez quase s custado efeito intra-sectorial e sem mudana estrutural, as MAQ voltam a aparecer

como um dos sectores mais dinmicos. Parece que, com o processo de industrializao e consequente modernizao industrial, que decorreu nos primeiros trs quartos do sculo XX, o sector das MAQ, tendo ganho, significativamente, peso na produo da indstria transformadora, passa alm disso a ter um comportamento de exacerbao dos ciclos de crescimento da produtividade industrial, assumindo assim um papel determinante nas flutuaes da respectiva taxa de crescimento. 3.3. A dinmica tendencial da produtividade nos sectores da indstria Enquanto que a evoluo da tendncia de taxa de crescimento da produtividade da indstria transformadora foi, ao longo do sculo, muito prxima da estimada para o sector industrial como um todo - reflectindo o peso dominante daquela neste -, as tendncias de produtividade dos restantes sectores de actividade industrial forammuito diferentes, como mostra o primeiro grfico da figura 9. O sector das indstrias de electricidade, gs e gua registou crescimentos sistemticos de produtividade bastante elevados durante os anos 50 e 60, na sequncia dos investimentos pblicos decorrentes da lei de electrificao nacional (1944) e consagrados especialmente no I e no II Plano de Fomento. Este sector sofreu de forma particularmente forte com a crise dos anos 70, mas recuperou gradualmente ao longo das duas ltimas dcadas do sculo, alcanando taxas anuais de crescimento tendencial da produtividade superiores a 10 por cento na segunda metade dos anos 90 - associadas reestruturao e liberalizao do sector ento iniciadas. O primeiro grfico da figura 9 mostra tambm uma quebra estrutural no sector da construo durante a primeira metade da dcada de 70, quando a respectiva tendncia de crescimento da produtividade real passou de 2 para -2 por cento, aproximadamente. Esta quebra estrutural no crescimento da produtividade poder estar associada a uma mudana intra-sectorial, nomeadamente ao reforo do peso da construo residencial. A anlise da evoluo da tendncia de crescimento da produtividade da indstria transformadora, em comparao com a respectiva taxa mdia anual, permite identificar quatro ciclos de crescimento: 1931-1952, 1953-1977, 1978-1983 e 19842000 (veja-se o quadro 5). No sendo muito diferentes dos identificados para a indstria como um todo, os ciclos de crescimento da produtividade da indstria transformadora so explicados essencialmente pelos factores j esboados atrs na seco 2. H, contudo, que caracterizar e explicar os ciclos das principais indstriasmanufactureiras, bem como explicar por que razo o ciclo dos anos dourados se estende at mais tarde - questes que, como se ver, esto relacionadas. O fraco dinamismo da produtividade das indstrias transformadoras entre 1930 e 1952 deve-se, por um lado, estrutura do sector na poca - predomnio de indstrias de bens de consumo pouco sofisticados, de unidades fabris de dimenso reduzida e natureza frequentemente artesanal, utilizao reduzida de capital fsico, utilizao intensiva de trabalho pouco especializado e, por outro lado, ao modelo de desenvolvimento econmico prevalecente em Portugal durante a maior parte deste perodo, j descrito atrs na seco 2. Em tendncia, o crescimento da produtividade da indstria transformadora foi prximo de nulo durante os anos 30, tendo comeado a aumentar durante os anos da II Guerra - reflectindo a necessidade da produo nacional substituir importaes durante o conflito - e ter acelerado visivelmente no incio da dcada de 50, com a emergncia das (j referidas) novas polticas industrialistas. Neste ciclo 1930-1952, todos os sectores da indstria transformadora

registaram crescimentos de produtividade inferiores respectiva mdia anual secular, comomostra o quadro 6, e experimentaram ciclos negativos de crescimento tendencial da produtividade, como se v no quadro 5. Os comportamentos desfavorveis das produtividades das PAP, QUI e MIN sugeremque um conjunto importante de novas indstrias surgidas na primeira metade do sculo - celulose, adubos, petrolferas e outras qumicas, vidro, cermicas e cimentos - foram inicialmente pouco dinmicas em termos de eficincia, resultado que parece compatvel com anlises, como a de Lains (1994, p.930), que as descrevem como no competitivas internacionalmente. Estando o desenvolvimento destas indstrias muito ligado aos principais objectivos do condicionamento industrial - em primeira linha, aproveitamento dos recursos naturais e substituio de importaes, sobretudo de bens intermdios e de capital, e, em segunda linha, induo de economias de escala e proteco face ao capital estrangeiro - os resultados sugerem que o condicionamento, a par da proteco aduaneira, ter acomodado ineficincias fortes na fase de emergncia destes sectores. Como bem patente no quadro 6, uma caracterstica essencial do ciclo 1953-1977, o facto da acelerao tendencial da produtividade ter sido um fenmeno generalizado a todos os sectores da indstria transformadora. A intensidade e a disseminao do ciclo positivo, que permitem situar nestas dcadas o verdadeiro arranque da industrializao com modernizao, esto associadas diversidade dos factores explicativos do desenvolvimento industrial no perodo. Conforme se descreveu atrs, na seco 2.1, tal diversidade abarca desde um modelo baseado na substituio de importaes, gradual transio para um modelo mais orientado para as exportaes, passando pela atenuao do condicionamento ao investimento, da proteco aduaneira e da resistncia ao investimento estrangeiro. Ao longo do perodo tornaram-se progressivamente visveis os efeitos positivos de grandes projectos de investimentoiniciados nos anos 50, em indstrias de base e capital-intensivas, visando substituir importaes de bens intermdios e de capital. A isto se deve o comportamento vigoroso da produtividade das PAP (celulose), MIN (cimentos), QUI (refinao de petrleo, petroqumica, adubos, e outros produtos qumicos) e MET (siderurgia, que, apesar de criada em 1954, apenas nos anos 60 atinge ganhos de produtividade assinalveis, reflectindo inrcias possivelmente devidas a razes tecnolgicas). Os projectos de investimento privados em indstrias orientadas para a exportao, frequentemente de capital estrangeiro, concentram-se j nos anos 60, aproveitando os incentivos pblicos exportao e as vantagens competitivas relacionadas principalmente com os recursos naturais, a situao geogrfica e o reduzido custo do trabalho. A estes investimentos est associado o bom desempenho das ALI (vinho, conservas, concentrado de tomate, transformao de matrias-primas das colnias), TEX (vesturio, calado), MAD (trabalhos diversos de madeira, cortias), MAQ (construo e reparao naval, montagem de mquinas e material elctrico, material de transporte), e tambm das PAP (pasta para papel). Por causa desses investimentos mais tardios, os mximos das taxas de crescimento tendencial da produtividade destes sectores - TEX, ALI, MAD e MAQ - ocorrem aps o mximo estimado para a indstria transformadora como um todo, como mostra a figura 9. E, na mesma linha de argumento, o quadro 5 informa que no sector com maior peso - as TEX - o ciclo de crescimento positivo se inicia bem mais tarde do que no total da indstria transformadora. Contrariamente ao observado no ciclo anterior, o ciclo negativo de 1977 a 1983 - associado aos choques petrolferos, recesso

internacional, instabilidade social, poltica e econmica interna, e aos programas de ajustamento econmico acordados com o FMI - caracteriza-se por uma grande heterogeneidade na evoluo da produtividade dos sectores da indstria transformadora. As indstrias mais intensivas em capital e (ou) com elevado peso de bens intermdios e de equipamento na sua produo, como as QUI, as MET e as MAQ, registaram fortes quebras da sua produtividade, como se v no quadro 6, e entraram em ciclonegativo de crescimento da produtividade muito antes da indstria transformadora como um todo, como mostra o quadro 5 (com excepo da QUI, cuja tendncia menos varivel). A crise destas indstrias reflecte, em primeiro lugar, as dificuldades internacionais de sectores como a petroqumica, a siderurgia e a construo e reparao naval, emconsequncia de alteraes tecnolgicas e da crise petrolfera. E, em segundo lugar, reflecte o fraco dinamismo do investimento, explicado pela estagflao internacional e, no caso de Portugal, por um clima econmico especialmente desincentivador da poupana e do investimento - instabilidade poltica, social e econmica, inflao muito elevada e incerta, taxas de juro nominais muito elevadas, fortes restries quantitativas ao crdito e encarecimento relativo das importaes por via da desvalorizao cambial (penalizando a aquisio de novos bens de equipamento, na sua maioria importados). Pelo contrrio, as indstrias produtoras sobretudo de bens de consumo e (ou) mais trabalho-intensivas, cujas vantagens comparativas assentavam no baixo custo do trabalho ou no aproveitamento de recursos naturais, como as TEX, MAD, PAP e, em menor medida, as ALI, mantiveram crescimentos de produtividade relativamente elevados (quadro 6), e sustentaram ciclos positivos do crescimento tendencial - com a excepo das PAP, por natureza muito volteis e com pronunciados ciclos idiossincrticos. O comportamento positivo destes sectores, em grande parte orientados para a exportao, reflecte no s a relativa estabilidade dos mercados de bens de consumo durante as crises, mas tambm, sobretudo, o reforo das vantagens comparativas destas indstrias no mercado mundial pela poltica de desvalorizao deslizante do escudo instituda a partir de 1977. O elevado peso destas indstrias que explica que o ciclo negativo da indstria transformadora tenha comeado mais tarde do que o do sector secundrio como um todo - foi, assim, reforado durante este ciclo. Tal reforo adiou a reafectao do investimento na indstria transformadora emfavor de sectores com procura internacional mais dinmica, maior valor acrescentado e menor concorrncia por pases em vias de desenvolvimento. Entre 1984 e o final do sculo as indstrias transformadoras viveram um novo ciclo de positivo de crescimento da produtividade. Sendo certo que para isso ter contribudo a estabilizao poltica, social e econmica interna, a taxa mdia anual observada de 4,1 por cento no deixa de ser notvel, tendo em conta que no decorrer deste perodo Portugal enfrentou uma recesso internacional (1993) e a desinflao da economia pela via da taxa de cmbio (1989-95). O impacto da adeso Comunidade Europeia em 1986 e, em 1992, ao mercado europeu nico, ter sido favorvel aos ganhos de produtividade, embora em grande parte custa de desindustrializao e de polticas de subsdios. Neste contexto, as indstrias TEX e as MAD revelaram-se mais frgeis, j que desaceleraram fortemente a sua produtividade (quadro 6) e, no caso das TEX, registaram um ciclo de crescimento de produtividade negativo desde 1993 (quadro 5). Os problemas das indstrias de txteis, vesturio e calado - nas quais o desinvestimento para deslocalizao se intensificava no fim do sculo - esto

relacionados com a evoluo da concorrncia internacional na produo de bens de consumo pouco sofisticados, evoluo essa que realou o atraso portugus na reestruturao industrial adiada desde os anos 70. Devido a uma maior capacidade de reconverso e adaptao aos novos mercados, as ALI registaram um comportamento particularmente favorvel, com claros ganhos sustentados de produtividade. J as PAP evoluram de forma menos estvel, na medida em que a ganhos de produtividade razoveis nos anos 80 se seguiram ganhos menores na dcada de 90, sem que o processo de reestruturao do sector iniciado na dcada final do sculo tivesse ainda gerado resultados visveis. Juntamente com as ALI, as indstrias das QUI, MIN, MET e, sobretudo, MAQ, sustentaram o ciclo positivo de crescimento da produtividade da indstria transformadora portuguesa do final do sculo XX. Ainda que em alguns dos sectores os bons resultados se devessem a um nmero reduzido de empresas e quase semprebeneficiando de apoios pblicos contratuais ao investimento, a capacidade de crescimento da produtividade em sectores menos tradicionais sugere que a maior estabilidade das instituies polticas, sociais e econmicas portuguesas, em ambiente de integrao econmica e exposio concorrncia internacional, capaz de promover, no s o investimento, como tambm a sua reafectao no sentido da modernizao industrial e da produo com maior valor acrescentado.

4. Concluso A produtividade da indstria portuguesa, medida pelo rcio valor acrescentado por activo e analisada em tendncia, cresceu continuamente durante o sculo XX, embora com ciclos de crescimento bem distintos entre si, mas coincidentes com as transformaes institucionais, polticas e sociais que mais marcadamente influenciaram a economia. Esta coincidncia reflecte o papel fundamental que a produtividade industrial tem na determinao da dinmica da economia e, consequentemente, dos nveis de vida da populao. Os ciclos detectados atravs do critrio taxa de crescimento tendencial acima/abaixo da mdia do sculo, separam nitidamente uma primeira fase de fraco crescimento, at ao incio dos anos 50, da fase posterior de grande dinamismo e modernizao industrial, com destaque para as indstrias transformadoras, que se prolonga at meados dos anos 70. Apesar deste dinamismo, que levou designao de anos dourados do crescimento portugus, a comparao internacional, com nfase nos pases do espao europeu ocidental, relativiza em grande medida o desempenho da indstria portuguesa. Aps este ciclo de forte industrializao segue-se um ciclo negativo at meados da dcada de 80, associado recesso internacional e instabilidade que se viveu emPortugal na transio para um regime poltico com instituies democrticas. Neste perodo de crise, as indstrias predominantemente de bens de consumo, com forte peso na estrutura industrial portuguesa, asseguraram um crescimento mnimo da produtividade num quadro geral de fortes quebras nas indstrias produtoras de bens intermdios e de equipamento. A fase mais recente - os ltimos quinze anos do sculo, a coincidir com a experincia da entrada na Comunidade Europeia - caracteriza-se por um novo ciclo dinmico decrescimento da produtividade industrial, com alguns sectores mais modernos da indstria transformadora a recuperarem a liderana desse crescimento, mas j com o esboo claro de uma tendncia de desindustrializao, isto , de perda de peso da indstria em favor dos servios na actividade econmica e na ocupao da populao activa. Prospectivamente, o final do sculo XX deixa em aberto algumas oportunidades para o crescimento econmico portugus. Por um lado, parece que a estabilizao macroeconmica, poltica e institucional foi favorvel recuperao e alguma reorientao do investimento dentro do sector industrial, embora em grande parte custa de ajudas e subsdios estatais e europeus. E, por outro lado, a fase de transformao tecnolgica que, nos pases desenvolvidos, decorre de forma acentuada desde os anos 90 e se consubstancia nas tecnologias de informao e comunicao, potencialmente propiciadora de avanos no crescimento da produtividade em contexto de desindustrializao, na medida em que pode centrar os ganhos de produtividade no sector de actividade dos servios. Na linha do que parece ter sido uma lio, pelo menos da segunda metade do sculo XX, o reforo da abertura e integrao externas so fundamentais para que os bens industriais e os servios sejam cada vez mais transaccionveis internacionalmente e assim se possam concretizar as oportunidades de crescimento vigoroso da produtividade. Metodologicamente, a conjugao da anlise dos contributos das indstrias para o crescimento da produtividade da economia e para as mudanas estruturais, por umlado, e, por outro lado, das tendncia de crescimento da produtividade industrial, revela ser um instrumento muito til para caracterizar e explicar as vrias fases de

crescimento neste sector.

Fig1.Peso da indstria na produo e populao activa portuguesa (%)

Fig2. Taxa de crescimento da produtividade da indstria: observada, mdia e tendencial (%)

Fig.3 contributos para a taxa de crescimento da produtividade na economia portuguesa.

Fig4.Taxa de crescimento tendencial da produtividade industrial em grupos de pases Europeus (%)

Fig.5 Taxa de crescimento tendencial da produtividade industrial em pases da Europa(%)

Fig.6 Peso dos sectores na produo e populao activa da indstria (%)

Fig.7 Peso dos sectores na produo e populao activa da histria da indstria transformadora(%)

Fig.8 Taxa de crescimento tendencial da produtividade nos sectores da indstria e da indstria transformadora (%)

Quadro 1. Crescimento da produtividade e mudana estrutural na economia portuguesa (%)

Quadro 2. Taxa de crescimento mdia anual da produtividade industrial em pases da Europa (%)

Quadro 3. Contributos sectoriais para o crescimento da produtividade na indstria (%)

Quadro 4. Crescimento da produtividade e mudana estrutural na indstria transformadora (%)

Quadro 5. Ciclos de crescimento da produtividade industrial

Quadro 6. Taxa de crescimento mdia anual da produtividade na indstria transformadora (%)

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