Desenvolvimento Tecnológico - Jornal

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Desenvolvimento tecnológico e formação do pensamento.

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Desenvolvimento tecnolgico, suas implicaes na comunicao e na formao do pensamento.Thoms Antnio B. MeiraNos ltimos quarenta anos, a sociedade capitalista tem experimentado um novo ciclo de transformaes em sua base produtiva. Em detrimento dos modelos taylorista e fordista de produo em srie, desde aproximadamente meados da dcada de 1970 com a relativa saturao dos mercados , o capitalismo tem se reinventado sob o imperativo da flexibilidade, ou, como bem sintetiza Harvey (1992, pg. 146), pela nfase na soluo de problemas, nas respostas rpidas e, com freqncia, altamente especializadas.Como j ocorrera em outros momentos, atualmente, sob as exigncias do modelo de acumulao flexvel, o desenvolvimento de novas tecnologias em geral e o dos meios de comunicao em particular mostra-se como condio fundamental para a expanso do capitalismo. Afinal, mediante um contexto no qual a produo de bens ocorre de maneira customizada e globalizada, a rpida disseminao das informaes por meio de tecnologias digitais e a conectividade tornam-se fatores primordiais, tanto no que se refere apreenso e busca por novas demandas e mercados, como em relao prpria descentralizao e horizontalizao do processo produtivo (CASTELLS, 2000).

Dadas as caractersticas desse processo de reestruturao produtiva, algumas anlises notadamente otimistas tm se disseminado sob a crena de que as formas emergentes de organizao do trabalho, em torno do carter integrador das Novas Tecnologias de Informao e Comunicao (NTIC) e das redes telemticas, so constitudas mediante princpios democratizantes, associados a idias como as de autonomia, cooperao e liberdade. Em linhas gerais, o sustentculo desse argumento remonta aparncia horizontalizada das redes em torno das quais se organiza o trabalho e se disponibilizam as informaes , que se contrapem aos rgidos sistemas hierarquizados predominantes nos trs primeiros quartis do sculo XX. Nesses termos, dadas as caractersticas dos emaranhados telemticos, as condies para a desigualdade social no se encontram mais no suporte organizacional em si, mas no acesso diferenciado a este ltimo, que, supostamente, contem um universo de oportunidades e conhecimentos. A despeito desse otimismo, Herbert Marcuse (1979 [1965]), por exemplo, analisou j em meados da dcada de 1960 que, com o desenvolvimento do modo de produo capitalista, a intensificao do uso de novas tecnologias e da diviso do trabalho tende disseminao de uma linguagem e, conseqentemente, de uma racionalidade estritamente funcional, unidimensional. Na viso do autor, em oposio linguagem conceitual e cognitiva, que permite ao homem compreender o mundo atravs do pensamento crtico, reflexivo e histrico, o capitalismo imprime sociedade e, sobretudo, s classes trabalhadoras, um raciocnio tecnolgico, expresso pelo substantivo imediatista, capaz apenas de identificar as coisas e suas funes (1979, pg. 94). Conforme essa argumentao, o uso poltico da comunicao e da linguagem busca desenvolver habilidades especficas, tais como a obedincia, a submisso e a resignao, que acabam por permear todas as esferas sociais, e no apenas as relaes de produo, nas quais a referida dissimulao da linguagem e da racionalidade se originam.Passados pouco menos de cinqenta anos da publicao das anlises de Marcuse, vivenciamos um perodo no qual a comunicao, cada vez mais, se mostra mediada por suportes tecnolgicos tais como os computadores pessoais (PCs) e seus mais variados softwares, as tablets e os telefones celulares que, conectados em redes telemticas, viabilizam negcios e relaes sociais em tempo real, suprimindo eventuais entraves impostos pelas noes tradicionais de distncia espacial. Nesses termos, a sintaxe das tecnologias em rede, caracteristicamente abreviada, fragmentada e extremamente veloz, no implicaria como previra o autor, ainda que em outro contexto no conformismo e no adestramento sutil, de nossa capacidade crtica e reflexiva, capaz de conferir aos atores sociais autonomia de pensamento e ao? com base nessa indagao que, desde 2010, tm se delineado as investigaes do Projeto de Pesquisa intitulado Desenvolvimento tecnolgico, suas implicaes na comunicao e na formao do pensamento. At o momento, as atividades levadas a termo pelos professores envolvidos nos estudo indicam que, uma vez surgidas em favor da dinmica expansiva do modo de produo capitalista, as NTIC se desvelam como favorveis manuteno de uma formao social que, historicamente, se fundamenta na excluso e na desigualdade para a gerao de excedentes econmicos no socializados. Desse modo, na medida em que discursos demasiadamente otimistas se popularizam, escamoteando disparidades scio-econmicas intrnsecas reproduo ampliada do capitalismo, torna-se mais urgente desvendar a sintaxe tecnolgica de nossos instrumentos de trabalho e lazer, que acaba por moldar formas de percepo, de raciocnio, meramente unidimensionais, instrumentais, e, portanto, descomprometidas com a apreenso autnoma da realidade e das possibilidades de mudana e justia social.REFERNCIAS

CASTELLS, M. A Sociedade em Rede. So Paulo: Paz e Terra, 2000.

HARVEY, D. Condio Ps-Moderna: uma pesquisa sobre a modernidade, So Paulo: Ed. Loyola, 1992.

MARCUSE, Herbert. O Fechamento do Universo da Locuo. In: A Ideologia da Sociedade Industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1965.

________. A ideologia da Sociedade industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1979