DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E A CRÍTICA AO CAPITALISMO _ UMA CONSIDERAÇÃO DE ARTHUR P J MOL

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    DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL E A CRTICA AO CAPITALISMO: Umaconsiderao de Arthur P. J. MolAutor: Paulo Pardo

    Apresentao:

    O presente trabalho uma resenha acadmica ao curso de Mestrado em Administrao pelaUniversidade Estadual de Londrina, baseado no texto de Arthur P. J. Mol, conforme aparece na obraQualidade de Vida e riscos Ambientais de HERCULANO, S. C.; SOUZA PORTO, M. F. de;FREITAS, C. M. de (Orgs.) (Niteri: EdUFF, 2000). O texto de Mol tem o ttulo: A globalizao e amudana dos modelos de controle e poluio industrial: a teoria da modernizao ecolgica.

    Neste texto, Mol faz uma considerao da teoria da Modernidade Ecolgica, como uma correntereformista no ambiente capitalista moderno.As consideraes de Mol nos auxiliam a nos posicionarmos diante da crise ambiental moderna, numacorrente que v perspectivas de soluo que considera a manuteno dos sistemas vigentes.

    1 Introduo

    Nesta resenha procuramos demonstrar a posio do socilogo holands Arthur P. J. Mol, um

    dos maiores representantes da corrente denominada Modernidade Ecolgica, que tem inspirao nas

    mudanas e respostas crise ambiental na Europa, em especial na Alemanha e Holanda, atravs dereviso bibliogrfica do tema: A Globalizao e a Mudana dos Modelos de Controle de Poluio

    Industrial: a Teoria da Modernizao Ecolgica, do livro Qualidade de Vida e Riscos Ambientais, de

    Selene Herculano et.al. (2001). A posio de Mol foi comparada a de Lenzi (2005), com o fim

    oferecer uma viso da contribuio da Modernidade aos desafios da crise ambiental, sem, no entanto,

    querer esgotar o tema.

    Mol (2001) tem como linha central buscar respostas a dois questionamentos: 1) Se pode ser

    questionado que as crescentes atividades e ateno voltadas proteo ambiental em pases

    industrializados resultaro em um aumento da poluio industrial em pases no-membros da OCDE

    (Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico); 2) Se as experincias de reforma

    ecolgica em sociedades industriais interferem ou podem ser de algum uso para programas de

    reforma ambiental em outros pases, ou se a exportao destes modelos de reforma ambiental

    deveria ser criticada juntamente a situaes similares, como a exportao de tecnologias como a

    Revoluo Verde para a ndia, entre outros, nos anos 70. (MOL, 2001, p. 268).

    Reestruturao Ecolgica em Pases Industrializados

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    Mol (2001) destaca que vrios estudos empricos foram efetuados focando industrias

    individualmente e outros com foco em setores industriais e pases que visavam cruzar a utilizao de

    recursos naturais versus o crescimento do PIB, numa combinao de cincias naturais e cincias

    sociais. Como grande resultado comum destes estudos, est o fato de que houve uma ruptura de fato

    entre os fluxos materiais e os fluxos econmicos, ou seja, no se guarda mais uma direta

    proporcionalidade entre o aumento do fluxo econmico e os recursos naturais.

    Esta realidade foi constatada em pases da OCDE (Organizao para a Cooperao e

    Desenvolvimento Econmico), ou seja, pases considerados industrializados e que esto passando

    por processos de reforma ambiental. Este movimento origina o que Mol (2001) define como Teoria

    da Modernizao Ecolgica, que possui como escopo de seus estudos o processo de reestruturao

    ecolgica que emerge em pases da OCDE, focalizando a espcie de atores que desempenham papis

    predominantes, as mudanas ideolgicas ou sistemas de crenas, as regras e recursos utilizados e

    transformados por estes atores, a contribuio do Estado e do mercado para a reforma ecolgica, bem

    como as alteraes nas trajetrias tecnolgicas no controle e preveno da poluio (MOL, 2001, p.

    269).

    Os requisitos institucionais essenciais ao processo de reestruturao ecolgica so:

    Um sistema poltico aberto e democrtico;

    Uma ampla conscincia ecolgica;

    ONGs ambientalistas bem organizadas, que tenham recursos para pressionar por

    uma reforma ecolgica radical;

    Um sistema detalhado de monitoramento, que gere dados ambientais pblicos,

    suficientes e confiveis;

    Uma economia de mercado, que domine os processos de produo e consumo;

    Um Estado legtimo e intervencionista, com infra-estrutura socioambiental avanada

    e diversificada;

    Organizaes de negcios e de mediao, que sejam capazes de representar

    produtores setoriais nas negociaes;

    Alguma experincia e tradio nos procedimentos de negociao poltica.

    (MOL, 2001, p. 269).

    E as consequncias para pases no-membros da OCDE

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    Buscando responder seus dois questionamentos iniciais, Mol (2001) procede uma reviso

    sobre as consequncias para as chamadas industrias sujas em pases que endureceram seu regime

    ambiental. Estariam estas indstrias migrando para pases do Terceiro Mundo?

    Nos estudos de Castleman (1979a, 1979b apud Mol, 2001) no ficou evidente este fato na

    dcada de 70, considerada a primeira onda de industrias de pases industrializados para o Terceiro

    Mundo, exceto o caso das indstrias de asbeto que migraram dos EUA para o Mxico. Nos anos 80,

    Leonard (1988, apud Mol, 2001) procedeu um estudo semelhante com teoria prpria, e concluiu que

    os custos logsticos para adaptao s legislaes ambientais no eram significativas como motivo

    para uma migrao para pases do Terceiro Mundo. Na verdade, estes estudos demonstraram que

    aparentes vantagens para as indstrias numa eventual mudana duravam pouco tempo, em virtude de

    presses internacionais que se seguiam.

    Tambm nos anos 90 pesquisadores seguiram por esta linha, tentando encontrar alguma

    correlao entre exportaes oriundas dos pases em desenvolvimento e os produtos de indstrias

    sujas, porm, no foram conclusivos de que algum aumento detectado nestes estudos se deviam a

    uma migrao das indstrias de pases industrializados rumo aos pases do Terceiro Mundo. Na

    verdade, alguns pesquisadores chegaram a concluses como a de que as indstrias sujas,

    principalmente as de produtos qumicos, no tm uma vantagem significativa na migrao e, alm

    disso, seus custos com o controle de fatores poluentes so compensadores em relao mudana.

    Assim, Mol (2001) indica que as concluses dos estudos mais recentes comparados aos

    desenvolvidos na dcada de 70 no indicaram um padro de migrao massiva de indstrias

    poluentes dos pases industrializados rumo aos pases de Terceiro Mundo e sim, parece haver com o

    aumento do controle ecolgico dos pases industrializados, um movimento em direo

    reestruturao ecolgica da produo industrial destes pases.

    No se descarta, no entanto, que esta migrao possa acontecer no futuro, movidas por uma

    lenincia dos pases em desenvolvimento em relao s questes ambientais, embora o movimento

    de globalizao inclusive de acompanhamento ecolgico no tornar isso provvel. Portanto, o

    argumento de que as restries ambientais em pases industrializados da OCDE tenham impacto nos

    pases no-membros no conclusivo.

    Modernizao ecolgica para sociedades em desenvolvimento: neo-colonialismo ou

    aprendizado social?

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    De acordo com Mol (2001), mesmo que no haja uma migrao de indstrias poluentes para

    os pases de Terceiro Mundo, estes parecem carecer de um modelo de reestruturao ecolgica

    prprio. Assim, pode haver uma tendncia na similarizao de modelos que se mostraram bem

    sucedidos em pases industrializados por parte dos pases em desenvolvimento.

    No entanto, examinando pela perspectiva da adequao da modernizao ecolgica s

    condies normativas e descritivas dos pases que a empregaram e, num segundo momento, as

    implicaes em adequaes geogrficas, podemos chegar concluses bastante interessantes.

    Primeiro, que, conforme explanado por Mol (2001), h que se ter condies previamente

    estabelecidas como premissas para a modernizao ecolgica, nem sempre existentes em pases em

    desenvolvimento. Exemplos disso so as especificidades de regies como o Sudeste Asitico eAmrica Latina, bem como pases da frica Subsaariana. fato que em muitos desses pases no

    existem as pr-condies essenciais para a modernizao ecolgica, caso de mercados bem

    estabelecidos e um Estado relativamente forte.

    Em segundo lugar, vrios pesquisadores tm formulado crticas modernizao ecolgica

    na perspectiva do Terceiro Mundo em razo das inter-relaes destes pases com os membros da

    OCDE, e que leva a desconsiderar a questo da distribuio equitativa de recursos naturais entre

    diferentes grupos e naes. Alm disso, a interdependncia econmica tem impedido que os pases

    em desenvolvimento tenham seu prprio modelo de desenvolvimento ecolgico.

    Assim, de acordo com esta linha crtica, uma vez que os pases em desenvolvimento tm

    seus prprios paradigmas de desenvolvimento industrial, estes deveriam tentar desenvolver seu

    modelo prprio de reformas ecolgicas. Esta posio, no entanto, de acordo com Mol (2001), no

    invalida a lgica da teoria da modernizao ecolgica para as sociedades industrializadas.

    Outra crtica ao modelo de modernizao ecolgica tem a ver com a viso que vrios

    autores tm em relao ao que se convencionou chamar de neocolonialismo dos pases da OCDE.

    Porm, ao analisar esta crtica, questiona-se se h de fato um distanciamento to intenso entre pases

    membros da OCDE e pases em desenvolvimento que justifique reformas ambientais essencialmente

    diferentes. Assim, conforme Mol (2001), pode-se objetivar o aproveitamento de alguns princpios

    embora levando-se em conta realidades locais, embora a teoria da modernizao ecolgica exija a

    presena de certos fatores determinantes para seu sucesso.

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    Assim, a posio de Mol (2001), proposta no incio desta resenha, a de que a teoria da

    modernizao ecolgica no indistintamente aplicvel a todos os pases, no entanto, mesmo em

    pases onde no se possa aplic-la em sua plenitude, pode-se partir dela para o estabelecimento de

    modelos de reforma ambiental.

    SOCIOLOGIA AMBIENTAL E MODERNIZAO ECOLGICA

    Interessante ser faz evidenciar as posies de Cristiano Luis Lenzi a respeito da Sociologia

    Ambiental e como o discurso da Modernizao Ecolgica tem impactado nos estudos da moderna

    Sociologia.

    O trabalho de Lenzi ser comparado ao trabalho de Arthur J. P. Mol para que possamos

    formar uma posio crtica sobre as consideraes dos autores.

    No trabalho de Lenzi (2005), consideramos as origens da abordagem atual da Sociologia

    Ambiental. Para a compreenso por parte do pesquisador sobre a atual crise ambiental, necessrio se

    faz entender seus aspectos sociolgicos, uma vez que, conforme Foladori (2001) considera, o cerne

    da crise ambiental moderna reside nas relaes sociais.

    Lenzi (2005) considera de fundamental importncia o desenvolvimento do tema da

    Sociologia Ambiental por Catton e Dunlap nos anos 70. Pode-se de fato considerar os autores como

    os fundadores da rea. Na crtica Sociologia contempornea, Catton e Dunlap perceberam a total

    ausncia de qualquer preocupao com a base sociolgica da sociedade, talvez explicado pelo fato

    do distanciamento que essa cincia pretenda ter dos aspectos naturalistas da Cincia, bem como sua

    fundamentao antropocentrista.

    Ao criticar essa posio, Catton e Dunlap propem como contraponto ao que eles

    denominam de Human Exceptionalism Paradigm (HEP) que considera as bases antropocntricas

    da Sociologia o New Environmental Paradigm (NEP). Na tabela abaixo possvel visualizar as

    principias mudanas entre um e outro paradigma:

    Pressupostos do Human Exceptionalism Paradigm

    (HEP)

    Pressupostos do New Environmental Paradigm (NEP)

    1. Seres humanos so nicos entre as criaturas da terra

    devido a sua cultura.

    1. Seres humanos so apenas uma espcie entre muitas

    outras interdependentemente envolvidas na comunidade

    bitica que modela a nossa vida.

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    2. A cultura pode variar indefinidamente e pode mudar

    mais rapidamente que os traos biolgicos.

    2. Ligaes intrincadas de causa e efeito e feedback na

    rede da natureza produzem consequncias no

    intencionadas da ao humana intencional.

    3. Muitas diferenas so socialmente induzidas antes do

    que congnitas, elas podem ser socialmente alteradasquando vistas como inconvenientes.

    3. O mundo finito, assim h limites fsicos e biolgicos

    potenciais constrangendo o crescimento econmico, oprogresso social e outros fenmenos societais.

    4. A acumulao cultura significa que o progresso pode

    continuar sem limites, tornando todos os problemas

    solucionveis.

    Fonte: Catton e Dunlap (1978)

    Assim estabelecida, a Sociologia Ambiental torna-se uma ruptura com as abordagens

    clssicas da Sociologia, fortemente baseada nas diretrizes da sociologia das questes ambientais.

    No entanto, Catton e Dunlap incorporam ideias provindas de um pensamento ambientalista moderno

    e do a estas uma perspectiva sociolgica. Dessa forma, analisado sob uma perspectiva histrica,

    muitas de suas proposies no so nem inditas nem tampouco inovadoras.

    Comparemos com esse propsito sua descrio de mundo finito e capacidade de

    suporte. Encontraremos na pesquisa histrica estudos e teorias sobre os temas em Willian Petty

    (1623-1687) e principalmente em Malthus (1766-1834) em obras comoEssay On Population, onde

    j antevia com o crescimento exponencial da populao uma crise alimentar anunciada. Na dcada

    de 1970 temos a publicao de duas obras histricas com esse mesmo objetivo. So elas: A Bomba

    Populacional de Ehrlich e Os Limites do Crescimento dos Meadows. Reconhecidamente, essas obras

    buscam em Malthus sua inspirao primeira.

    Alm dessa dvida inspiradora, Catton e Dunlap devem parte de seu referencial terico as

    bases da chamada ecologia profunda que tem em Arne Naess seu principal representante. Na

    abordagem da ecologia profunda, procura-se fornecer uma alternativa para os indivduos

    vivenciarem a natureza.

    Ainda mais, pode-se notar semelhanas de abordagens por Catton e Dunlap em termos da

    corrente do sobrevivencialismo que se constitui como um discurso ambiental com embasamento na

    ideia de que a demanda humana sobre a capacidade de suporte dos ecossistemas ameaa sair do

    controle e, portanto, aes severas devem ser tomadas para refrear essa tendncia.

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    Vrios pesquisadores notaram essa aproximao e fundamentao no obra da Catton e

    Dunlap, principalmente com o discurso do sobrevivencialismo, sendo inclusive citados em obras

    anteriores como autores sobre o tema. A principal diferena entre as linhas do sobrevivencialismo e

    do romantismo verde este ltimo pregando a igualdade entre as espcies, ou igualdade

    biocntrica - que os primeiros focam os recursos naturais e reas selvagens como parte de um

    plano poltico e da experincia individual, enquanto que na obra de Catton e Dunlap procuram

    incorporar estes conceitos no plano sociolgico.

    Sociologia Ambiental Contempornea: Tarefas e Temas de Pesquisa

    Estabelecido o histrico do desenvolvimento da Sociologia Ambiental, imperativo que seestabelea suas reas e temas de pesquisa, que basicamente so:

    a) prticas sociais e mudana ambiental

    b) conhecimento e interpretaes sobre o meio ambiente

    c) poltica ecolgica

    Assim, poderamos planificar as essas reas temas conforme o esquema abaixo:

    REA DE PESQUISA ABRANGNCIA DO TEMA

    Prticas sociais e mudana ambiental Impactos das prticas sociais intencionais e nointencionais no meio ambiente.

    Prticas cotidianas de produo e consumo.

    Conhecimento e interpretaes sobre o meio ambiente O papel fundamental do conhecimento cientficoem tornar pblico a existncia de problemasambientais.

    Leituras culturais da natureza. Sociologia do conhecimento.

    Poltica Ecolgica O papel do Estado como agncia organizadora doconhecimento ambiental.

    Vrios desdobramentos surgem atualmente para dar novos horizontes perspectiva

    sociolgica no campo ambiental. Entre estes est a Modernizao Ecolgica, consensualmente

    considerada um novo discurso ambiental.

    Este discurso surge como uma reposta crise do movimento ambientalista do final da

    dcada de 70. Percebeu-se que o confronto com o Estado j no fornecia respostas questes vitais e

    passou-se a adotar uma postura menos radical, mais prtica e orientado para a poltica. Alis, o

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    confronto de outrora passa a ser visto como um impedimento para que os movimentos ambientalistas

    pudessem fortalecer seu poder poltico.

    Desse modo, a Modernizao Ecolgica surge no bero de uma linguagem ambiental

    alternativa, onde se permite que ONGs, governos e organizaes interessadas possam estruturar a

    problemtica ambiental de uma nova maneira. O interesse da academia aliados a uma aproximao

    entre ONGs e organizaes transnacionais como a OECD e ONU, superaram os entraves iniciais

    para sua formatao definitiva.

    Neste sentido, basta examinar proposies da OECD no sentido de que h uma ineficincia

    dos sistemas industriais e tecnolgicos, de que h um custo da poluio e que este deve ser pago

    pelos poluidores e de que perfeitamente compatvel polticas ambientais e econmicas, aliado adocumentos produzidos pela ONU como o Relatrio Brutland(1987) que populariza o conceito de

    desenvolvimento sustentvel, que encontraremos o terreno frtil para a germinao da

    Modernizao Ecolgica.

    Assim, podemos, de acordo com Hajer (1995, p. 65, apud Lenzi, 2005, p. 58), entender o

    discurso da Modernizao Ecolgica como uma linha narrativa multifacetada que tem atrativos em

    comum com vrias abordagens. So estes atrativos a regulao dos problemas ambientais que

    aparecem como um jogo de soma positiva; a poluio que vista como ineficincia; a natureza tem

    um balano que deveria ser respeitado; a antecipao melhor do que a cura; o desenvolvimento

    sustentvel a alternativa para o padro prvio de crescimento poluidor.

    Sem dvida, apesar das destoantes opinies sobre o discurso da Modernizao Ecolgica, o

    que de fato a marca como uma ruptura definitiva em relao ao movimento ambiental promovido nos

    anos 70 que, ao contrrio deste ltimo que encara a proteo ambiental como um obstculo

    economia, a Modernizao Ecolgica a v como uma fonte para o crescimento econmico futuro(Weale, 1992, p. 76 apud Lenzi, 2005, p. 59).

    Dentre os pesquisadores da Modernizao Ecolgica, encontramos os que a encaram como

    um processo de racionalizao e outros, como Mol (1995, apud Lenzi, 2005) que a interpretam

    como uma teoria da reestruturao do sistema industrial com o fim de superar a colonizao da

    natureza pela esfera tecnolgica.

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    Assim, no discurso na Modernizao Ecolgica, possvel perceber que no h um

    distanciamento da preconizao capitalista do lucro, sendo este admissvel e desejvel e

    perfeitamente possvel mesmo com restries ecolgicas. Alm disso, na ME temos que a prpria

    estrutura econmica poderia migrar de um modelo industrial poluente como fonte primria de lucro

    para um modelo calcado na Sociedade da Informao, onde indstrias no poluentes ganhariam em

    termos de resultado.

    Alm disso, medidas prticas em nvel microeconmico poderiam ser tomadas, dentro do

    discurso da ME, tais como a adoo de mecanismos de proteo s emisses de poluentes e

    tecnologias limpas que buscam evitar ou reduzir as emisses antecipadamente.

    No campo poltico, a ME admite que o Estado tem papel intevencionista com a regulao decomando onde, de acordo com Jacobs (1991, apud Lenzi, 2005), o Estado entraria com controle

    direto sobre a organizao e as atividades de mercado atravs de seus agentes e representantes. Alm

    disso, os prprios indivduos, grupos e firmas exerceriam um controle voluntrio para proteger o

    meio ambiente.

    Lenzi (2005) demonstra, atravs de referncias a diversos autores, que a ME parece trafegar

    com certa liberdade sobre as correntes neomarxistas e nas ps-industriais, onde mostra que as foras

    de produo esto presentes e devem ser consideradas na relevncia do tema ambiental, ao mesmo

    tempo em que preconiza que os avanos tecnolgicos sero fundamentais para que ocorra um

    incremento econmico associado proteo ambiental.

    3. Comentrios crticos

    A tratativa e a abordagem de Mol (2001) e Lenzi (2005) guardam em comum o

    enaltecimento ao discurso da Modernizao Ecolgica como uma linha narrativa e por vezes

    prescritiva sobre a problemtica da crise ambiental moderna. Ambos adotam um conceito positivo

    sobre as perspectivas ecolgicas, considerando a crise ambiental como possvel de ser gerida luz de

    intervenes da sociedade, includo o papel tambm intervencionista do Estado.

    Ao tratar das condies de crise ambiental existentes provenientes do industrialismo e da

    poltica econmica, ambos alinham-se ideia de que perfeitamente possvel a sociedade auto-

    ajustar-se e chegar ao ponto de continuar seu crescimento ou at increment-lo adotando prticas

    tecnologicamente mais modernas nos processos j existentes. Lenzi (2005) chega ao ponto de citar

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    que o desenvolvimento de uma Sociedade da Informao far com que a economia deixe de ser

    inteiramente baseada no modelo industrial e siga sua trajetria de lucros atravs de indstrias no-

    poluentes.

    Desta forma, ao leitor menos crtico, parece ter-se chegado ao Eldorado Ecolgico atravs

    da teoria da Modernizao Ecolgica. Evidentemente, no se pode negar que, por ser uma linha

    narrativa que guarda alguns princpios fundamentais mas que deixa vrias pontas livres para um

    avano da pesquisa cientfica, h um atrativo aos produtores de frmulas e receiturios que podem

    utilizar a ME como uma massa bsica para seus prprios interesses.

    No entanto, podemos citar Foladori (2001) para ecoar uma preocupao que parece no

    calar com a aceitao da teoria da ME como uma panacia ecolgica: j no importa mais a crise dasprprias relaes sociais humanas? Se no, ento convenhamos que a soluo para a crise ecolgica

    eminentemente tcnica, funcionalista, e que a viso primeira da Sociologia Ambiental pode ser

    descartada ou, no mnimo, no tem a fora que a concebeu.

    O discurso da Modernizao Ecolgica pode ser perigosamente enganoso por desconsiderar

    as variveis no controladas da desigualdade social e econmica presentes em vrios pases, que,

    como uma caldeira no monitorada, ameaa explodir em propores apocalpticas. evidente que a

    hegemonia do sistema capitalista no pode ser desprezada e sua capacidade de se autopromover

    como o modelo ideal das relaes econmicas.

    No entanto, h que se convir que grande parte do mundo est organizado em bases

    diferentes e, apesar de atualmente servir ao capitalismo em seu insumo bsico energia fssil

    tambm pode, sem prvio aviso, declarar sua independncia ao neocolonialismo econmico das

    grandes potncias.

    Recomendaes

    necessrio, diante das crticas ao modelo proposto pela Modernizao Ecolgica,

    aprofundar o entendimento sobre a continuidade da crise das relaes sociais humanas diante de um

    quadro de otimismo generalizado promovido por esta corrente de pensamento.

    At onde podemos observar, as vozes crticas ao modelo em voga, como as de Foladori, so

    vistas como arautos num deserto sem fim, importantes de se ouvir, mas desprezveis em sentido

    prtico. E esse totalitarismo funcionalista ecolgico deve ser visto, no mnimo, com desconfiana,

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