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DESENVOLVIMENTO DOS TEMAS TRANSVERSAIS ATRAVÉS DOS PROJETOS: AUXÍLIO NA SISTEMATIZAÇÃO/ ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Perla Cristina Frangioti 1 Paula Hentschel Lobo da Costa (O) 2 1. INTRODUÇÃO. Durante minhas aulas de Educação Física nos Ensinos Fundamental e Médio (décadas de 1980 e 1990), percebia a falta de organização de conteúdos, ou seja, desde as séries iniciais, o que mais fazíamos nas aulas, quando fazíamos, era praticar algum esporte (principalmente futebol para os meninos e vôlei para as meninas), mas não havia uma sistematização, o papel do professor era somente de dividir as equipes ou de escolher um representante para isso e, às vezes, arbitrar o jogo. Depois ingressei no Ensino Superior, escolhi fazer Educação Física porque gostava do pouco que conhecia deste componente curricular e tinha a vontade de mudar sua aplicação na escola. Ao longo do curso percebi a imensidão de conteúdos que temos a possibilidade de aplicar nas aulas de Educação Física escolar, mas com isto vinha também a confusão na escolha destes, ou seja, quando (em qual série escolar) e como aplicá-los (grau de complexidade). Uma das poucas referências são os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (BRASIL, 1997), nestes encontramos os blocos de conteúdos e os objetivos da Educação Física durante o Ensino Fundamental. Mais recentemente, iniciei a pós-graduação (lato – sensu) em Educação Física Escolar e a dúvida continua, o que e quando ministrar nas aulas escolares? Estudo realizado por Nascimento, Freris e Sousa (2004) sobre a ação docente de um profissional de Educação Física Escolar constatou que as aulas ministradas não tinham relação entre si, ou seja, os conteúdos desenvolvidos não apresentavam seqüência que seguisse alguma orientação didático-pedagógica, qualquer que fosse ela. No começo deste ano comecei a trabalhar como professora de Educação Física Escolar e as indagações aumentaram ainda mais, pois percebi que a realidade escolar não é tão simples quanto parecia no período das aulas na graduação e, recentemente, na pós- 1 Professora de Educação Física da Rede Estadual de Ensino de São Paulo, Diretoria Regional de Ensino de Matão/Araraquara e aluna da I Turma do Curso de Especialização em Educação Física Escolar (lato sensu) do DEFMH/UFSCar. 2 Professora Adjunta do DEFMH/UFSCar e do Curso de Especialização em Educação Física Escolar.

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DESENVOLVIMENTO DOS TEMAS TRANSVERSAIS ATRAVÉS DOS PROJETOS:

AUXÍLIO NA SISTEMATIZAÇÃO/ ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS EM

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Perla Cristina Frangioti1

Paula Hentschel Lobo da Costa (O)2

1. INTRODUÇÃO.

Durante minhas aulas de Educação Física nos Ensinos Fundamental e Médio

(décadas de 1980 e 1990), percebia a falta de organização de conteúdos, ou seja, desde as

séries iniciais, o que mais fazíamos nas aulas, quando fazíamos, era praticar algum esporte

(principalmente futebol para os meninos e vôlei para as meninas), mas não havia uma

sistematização, o papel do professor era somente de dividir as equipes ou de escolher um

representante para isso e, às vezes, arbitrar o jogo.

Depois ingressei no Ensino Superior, escolhi fazer Educação Física porque

gostava do pouco que conhecia deste componente curricular e tinha a vontade de mudar sua

aplicação na escola. Ao longo do curso percebi a imensidão de conteúdos que temos a

possibilidade de aplicar nas aulas de Educação Física escolar, mas com isto vinha também a

confusão na escolha destes, ou seja, quando (em qual série escolar) e como aplicá-los (grau de

complexidade). Uma das poucas referências são os Parâmetros Curriculares Nacionais –

PCNs (BRASIL, 1997), nestes encontramos os blocos de conteúdos e os objetivos da

Educação Física durante o Ensino Fundamental.

Mais recentemente, iniciei a pós-graduação (lato – sensu) em Educação Física

Escolar e a dúvida continua, o que e quando ministrar nas aulas escolares?

Estudo realizado por Nascimento, Freris e Sousa (2004) sobre a ação docente

de um profissional de Educação Física Escolar constatou que as aulas ministradas não tinham

relação entre si, ou seja, os conteúdos desenvolvidos não apresentavam seqüência que

seguisse alguma orientação didático-pedagógica, qualquer que fosse ela.

No começo deste ano comecei a trabalhar como professora de Educação Física

Escolar e as indagações aumentaram ainda mais, pois percebi que a realidade escolar não é

tão simples quanto parecia no período das aulas na graduação e, recentemente, na pós- 1 Professora de Educação Física da Rede Estadual de Ensino de São Paulo, Diretoria Regional de Ensino de Matão/Araraquara e aluna da I Turma do Curso de Especialização em Educação Física Escolar (lato sensu) do DEFMH/UFSCar. 2 Professora Adjunta do DEFMH/UFSCar e do Curso de Especialização em Educação Física Escolar.

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graduação. Não estou querendo dizer que os conteúdos ministrados durante a graduação e

pós-graduação não têm utilidade nenhuma na atuação profissional, contudo, como é muito

dito, principalmente entre os professores que estão atuando na escola, há uma grande distância

entre os conteúdos aplicados nestes cursos e a realidade escolar, realidade esta que mesmo

com todas as simulações feitas nas graduações, não chegam perto da verdade escolar,

especialmente da rede estadual de ensino. Deixando o professor, especialmente os iniciantes,

como o meu caso e de muitos outros colegas de pós-graduação (que entraram na rede de

ensino estadual este ano), perdidos na escola.

Portanto, me questionando sobre uma maneira de tentar minimizar esta dúvida

na escolha dos conteúdos para as aulas de Educação Física na escola e de como e quando

aplicá-los pensei, por exemplo, em um trabalho com os temas transversais (BRASIL, 1997)

através de projetos pedagógicos na escola.

Segundo os PCNs (BRASIL, 1997), os temas transversais:

Não constituem novas áreas, mas antes um conjunto de temas que aparecem transversalizados nas áreas definidas, isto é, permeando a concepção, os objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas de cada área, no decorrer de toda a escolaridade obrigatória. A transversalidade pressupõe um tratamento integrado das áreas e um compromisso das relações interpessoais e sociais escolares com as questões que estão envolvidas nos temas, afim de que haja uma coerência entre os valores experimentados na vivência que a escola propicia aos alunos e o contato intelectual com tais valores. (p.64).

Penso que a liberdade na escolha dos conteúdos da Educação Física para o

Ensino Básico de uma maneira geral é um fator que, repito, deixa principalmente os

professores iniciantes atrapalhados, cito como exemplo a minha experiência: ao chegar à

escola já encontrei a primeira divergência com o que aprendi na graduação e pós-graduação: o

planejamento escolar aconteceria após as aulas começarem, enquanto que sempre foi ensinado

a mim que este deveria ser feito anteriormente ao início das aulas, após este começo chega a

semana de planejamento, pensava que nós, professoras, iríamos discutir os conteúdos que

seriam trabalhados durante o ano letivo, os projetos de cada disciplina, os interdisciplinares,

etc., mas só o que vi foram discussões de regras de conduta, de combinados que deveriam ser

cumpridos durante o ano pelos professores. Daí a minha dúvida foi ainda maior, e agora? O

que devo fazer? Nunca lecionei, apenas participei dos estágios, estes só me deram uma

pequena noção do que seria a escola.

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Uma grande sensação de frustração me tomou, já que estava me sentindo

completamente perdida com relação aos conteúdos que deveria aplicar e quais as diferenças

deles para cada série. Ferreira (2005) cita os processos de tomada de decisão de professores

iniciantes frente a situações que caracterizam o dia-a-dia de um professor e que geralmente

são assumidos por professores iniciantes e afirma que estes processos colocam em foco o

sentimento de frustração, a vontade de desistir, o desânimo dos professores iniciantes (p.35).

Além disso, a autora cita Guarnieri (apud FERREIRA, 2003) que destaca:

A falta de orientação e treinamento aos professores iniciantes, por parte das escolas, têm dificultado a eles a obtenção de informações básicas de que necessitam. Essa ausência de apoio faz com que desenvolvam uma prática instrucional pobre, pelo fato de não conseguirem aplicar o que aprenderam em seus cursos de formação em atividades de aprendizagem para os alunos (p. 6).

Para tentar minimizar essa situação descrita anteriormente, pensei na

possibilidade de trabalhar/desenvolver os chamados projetos, talvez eles fossem uma maneira

para conseguir sistematizar os conteúdos, de fazer um planejamento. Atualmente estão em

vigor os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs (BRASIL, 1997) (neste material

encontramos os blocos de conteúdos e os objetivos da Educação Física durante o Ensino

Fundamental) que orientam a maneira pela qual cada componente curricular deveria atuar na

escola. Acredito que com a utilização de projetos pedagógicos se torna mais fácil a

manipulação e sistematização dos conteúdos próprios da Educação Física sugeridos pelos

PCNs e, ainda, a incorporação dos temas transversais nas aulas.

Silva (1996) aponta que:

Um dos erros mais freqüentes cometidos pelos professores em geral, é ministrar sua matéria aos alunos como se fosse a única existente no currículo escolar (...) O que é mais comum ocorrer é a transmissão de conteúdos diversos aos alunos na crença que estes sejam capazes de re-organizá-los em suas mentes, resultando num conhecimento unificado.Percebe-se todavia que, para os professores é grande a responsabilidade em tratar de forma integrada os conteúdos de sua disciplina com os de seus colegas de outras matérias, imaginem a situação dos alunos a quem se confere toda esta responsabilidade! (p.65).

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Ou seja, a individualidade nos trabalhos dos mais diversos componentes

curriculares faz com que o aluno demore a incorporar ou até não incorpore os mais variados

conhecimentos. A autora ainda comenta que

As diferentes matérias devem fornecer instrumentos para que os alunos se aproximem da realidade a partir do ponto de vista de cada área, não descuidando da tentativa de relacioná-lo e confrontá-lo com o ponto-de-vista de outras áreas (p.65,66).

Portanto, o objetivo deste estudo é verificar, através de uma revisão

bibliográfica e dos relatos de experiência da autora sobre dois projetos aplicados em uma

escola de primeira a quarta séries do Ensino Fundamental da rede pública de ensino na cidade

de Matão, como os temas transversais e os projetos podem auxiliar na

sistematização/organização dos conteúdos em Educação Física escolar.

Desta maneira, o presente estudo estrutura-se da seguinte maneira:

O Capítulo 2, Metodologia, apresenta a descrição da metodologia utilizada

neste estudo.

Já no Capítulo 3, intitulado Educação Física Escolar, são expostas quais as

leis que regem a Educação Física escolar e as diretrizes que os Parâmetros Curriculares

Nacionais apontam para este componente curricular.

O Capítulo 4, Os Temas Transversais, faz menção sobre as características

gerais destes temas, tais como foram criados e sua importância na aplicação escolar, entre

outros.

Segue-se o Capítulo 5: A Educação Física e os Temas Transversais, abordando

como a Educação Física pode trabalhar com os temas transversais e de que maneira isto

auxiliaria na sistematização/organização de conteúdos deste componente curricular na escola.

No Capítulo 6, Projetos, iremos conceituá-los e citaremos alguns exemplos de

projetos em Educação Física escolar.

Em Relatos de Experiências: Projetos em Educação Física Escolar (Capítulo

7) escrevo minha experiência na aplicação de dois projetos escolares, e ainda, a estrutura de

ambos.

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Finalmente, no Capítulo 8, tecemos nossas considerações sobre o trabalho

realizado.

Em Anexos, apresento alguns modelos de atividades dos projetos e dois

trabalhos realizados por alunos da primeira série.

2. METODOLOGIA.

O presente estudo é uma pesquisa qualitativa que envolve a pesquisa

bibliográfica e o relato de experiência da autora.

Santos (1999) afirma que pesquisa bibliográfica é baseada no conjunto de

materiais escritos ou gravados, mecânica ou eletronicamente, que contém informações já

elaboradas e publicadas por outros autores. São fontes bibliográficas os livros (de leitura

corrente ou referência, tais como dicionários, enciclopédias, anuários, etc.), as publicações

periódicas (jornais, revistas, panfletos, etc.), fitas gravadas de áudio e vídeo, páginas de Web

sites, relatórios de simpósios, anais de congresso, etc. A utilização total ou parcial de

quaisquer destas fontes é o que caracteriza uma pesquisa como bibliográfica.

Seguindo para o próximo capítulo, apresentaremos as leis que regem o

componente curricular de Educação Física e a atuação do professor especialista no 1º ciclo do

Ensino Fundamental do Estado de São Paulo e ainda, as características deste componente nos

PCNs.

3. A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR.

Com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - 9394/96 - LDB

(BRASIL, 1996) vigente a partir de 1996, a Educação Física passa a ser considerada de

atividade para componente curricular:

Art. 26- Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. § 3º- A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos (SAVIANI, 2003, p. 171).

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Porém, a aplicação deste componente nas séries iniciais (1ª à 4ª séries) do

Ensino Fundamental não era ministrada por especialistas, ou seja, ela era desenvolvida pelas

próprias professoras de sala. Atualmente, no governo do Estado de São Paulo isso mudou,

havendo a obrigatoriedade deste componente ser ministrado pelos profissionais desta área,

através da Resolução SE 1 de 06/01/2004 (DIÁRIO OFICIAL ESTADO DE SÃO PAULO,

2004):

Artigo 1º - As aulas de Educação Artística e de Educação Física, previstas na matriz curricular do ciclo I do ensino fundamental das escolas estaduais, serão desenvolvidas, em todas as séries, por professor portador de licenciatura plena específica na respectiva disciplina.

Com esta nova determinação há uma maior possibilidade de nós, professores

de Educação Física, mostrarmos a importância que ela tem na escola, já que estamos inseridos

nela e, de tentarmos mudar a visão negativa (por exemplo: daqueles professores que não dão

aula ou somente jogam a bola para os alunos) que sociedade possui gerada, muito

provavelmente, pela própria história da disciplina.

Frangioti (2004), em seu estudo sobre livros didáticos para a Educação Física

escolar, constatou uma enorme carência, a quase ausência completa, deste tipo de material

didático que visa auxiliar os professores, de maneira geral, não só na transmissão de

conteúdos como na sistematização destes. Além disso, a autora comenta que os planejamentos

escolares do componente curricular Educação Física, quando existem, normalmente geram

dúvidas sobre o que ensinar. Ela cita Veronezi (apud FRANGIOTI, 2004) que destaca:

(...) uma vez que não era possível encontrar, claramente, na literatura, princípios sobre o que ensinar e o que deve ser aprendido a partir deste componente curricular, sem que houvesse dúvidas sobre seu dimensionamento, ou seja, escolha de conteúdos e processo de avaliação (p. 16).

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Um dos poucos materiais que possuímos para ajudar o professor na

organização, no planejamento de suas aulas são os PCNs (BRASIL, 1997). Nestes são

descritos os objetivos gerais da Educação e da Educação Física no Ensino fundamental.

Resumidamente, os objetivos gerais do Ensino Fundamental, segundo os

PCNs, são: formar um cidadão crítico na política, no social, enfim, no seu dia-a-dia; conhecer

seu país nas dimensões sociais, materiais e culturais, a fim de construir uma identidade

nacional e pessoal; conhecer as demais culturas mundiais, aprendendo a respeitar as diferentes

culturas, diferenças étnicas, de classes sociais, etc. e, finalmente, perceber sua importância

como agente transformador do ambiente e, através disso, atuar para a melhoria do meio

ambiente.

Já os objetivos da Educação Física são, em síntese: participar de atividades

corporais visando o reconhecimento e o respeito às diferenças de ordem física, pessoal, sexual

ou social; “adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade em situações lúdicas

e esportivas, repudiando qualquer espécie de violência” (BRASIL, 1997, p.43); aprender

sobre a cultura do Brasil e dos demais países como forma de integração e compreensão entre

os diferentes grupos; adoção de hábitos de vida saudáveis interferindo positivamente em seu

corpo e na saúde geral da população; solucionar problemas de ordem corporal da maneira

mais adequada nos mais diferentes contextos; “reconhecer condições de trabalho que

comprometam os processos de crescimento e desenvolvimento, não as aceitando para si nem

para os outros, reivindicando condições de vida dignas” (p. 44); evitar consumismo e

preconceito à partir da análise crítica de modelos de beleza divulgados pela mídia e, para

concluir, ser autônomo conhecendo, organizando e atuando nos espaços, bem como

reivindicar locais adequados de lazer.

Com estes objetivos acredito que o papel da Educação Física na escola seja

atuar para formar o cidadão autônomo, crítico, através dos mais diferentes tipos de

movimento, de atividades, de conhecimentos, ou seja, por meio dos blocos de conteúdos

(BRASIL, 1997): conhecimentos sobre o corpo, jogos e brincadeiras, esporte, dança, ginástica

e lutas, tentar ajudar o aluno a desenvolver esta autonomia e conhecimentos.

Para Ramos (2000), baseado nos Parâmetros Curriculares Nacionais, podemos

entender por conteúdos “os meios para que os alunos desenvolvam as capacidades que lhes

permitam produzir bens culturais, sociais e econômicos e deles usufruir” (p.1). A partir disso,

os conteúdos necessitam transformar-se em conhecimento e não somente serem informações,

ou seja, quando falamos em informação temos que ter em mente que ela seria somente a

notícia de determinado assunto ou fato fornecido a uma pessoa ou a determinado público,

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enquanto que o conhecimento está relacionado com a interiorização desta informação, deste

conteúdo, isto é, a pessoa deve ter o discernimento, deve ser capaz de refletir e opinar sobre

um determinado assunto (FRANGIOTI, 2004).

Podemos perceber que a questão da sistematização de um currículo para a

Educação Física escolar é realmente difícil, há uma liberdade muito grande com relação aos

conteúdos a serem ministrados nas aulas, apesar dos PCNs explicitarem algumas dicas, há

uma grande distância em saber como trabalhá-las. Portanto, o próximo capítulo elucida os

temas transversais, explicando suas origem e seus objetivos.

4. OS TEMAS TRANSVERSAIS.

Os temas transversais estão definidos e conceituados nos Parâmetros

Curriculares Nacionais. A princípio, os PCNs (BRASIL, 1996), descrevem as principais

características que norteiam a nova Constituição da República Federativa do Brasil,

promulgada em 1998.

(...) pela primeira vez na história, inicia a explicitação dos fundamentos do Estado brasileiro elencando os direitos civis, políticos e sociais dos cidadãos. Também coloca claramente que os três poderes constituídos, o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário, são meios — e não fins — que existem para garantir os direitos sociais e individuais. Os fundamentos do Estado Democrático de Direito são: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, o pluralismo político (artigo 1o da Constituição Federal). Constituem objetivos fundamentais da República: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (artigo 3o da Constituição Federal) (BRASIL, 1996).

A partir disto, abre-se uma discussão entre o que é dito na Constituição e a

realidade brasileira, portanto da-se inicio a um período de transformação, onde devemos

formar cidadãos mais críticos capazes de gozar os seus direitos e deveres citados neste

documento. Para tal, é necessário que haja uma educação diferenciada, ou seja, “(...) discutir a

cidadania do Brasil de hoje significa apontar a necessidade de transformação das relações

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sociais nas dimensões econômica, política e cultural, para garantir a todos o direito de ser

cidadão (BRASIL, 1998)”.

Assim, para garantir uma educação comprometida com a cidadania, os PCNs

(1996) elegeram, baseados no texto constitucional, princípios segundo os quais devem

orientar a educação escolar:

• Dignidade da pessoa humana (está relacionado a todo tipo de respeito nas relações

interpessoais, públicas e privadas e, ainda, ao acesso a condições de vida dignas);

• Igualdade de direitos (relacionada ao direito de todos exercerem igualmente a

cidadania);

• Participação (baseado na noção de cidadania ativa, isto é, da complementaridade entre

a representação política tradicional e a participação popular no espaço público,

compreendendo que não se trata de uma sociedade homogênea e sim marcada por

diferenças de classe, étnicas, religiosas, etc. É, nesse sentido, responsabilidade de

todos a construção e a ampliação da democracia no Brasil.);

• Co-responsabilidade pela vida social (implica em partilhar com os poderes públicos e

diferentes grupos sociais, organizados ou não, a responsabilidade pelos destinos da

vida coletiva).

Com essas diretrizes, o sistema educacional teria que mudar, somente ensinar

os conteúdos tradicionais de cada componente curricular não é considerado o suficiente para

formar um cidadão com efetiva participação social:

Uma pergunta deve então ser respondida: as áreas convencionais, classicamente ministradas pela escola, como Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História e Geografia, não são suficientes para alcançar esse fim? A resposta é negativa. (...) Dizer que não são suficientes não significa absolutamente afirmar que não são necessárias. É preciso ressaltar a importância do acesso ao conhecimento socialmente acumulado pela humanidade. Porém, há outros temas diretamente relacionados com o exercício da cidadania, há questões urgentes que devem necessariamente ser tratadas, como a violência, a saúde, o uso dos recursos naturais, os preconceitos, que não têm sido diretamente contemplados por essas áreas. Esses temas devem ser tratados pela escola, ocupando o mesmo lugar de importância (BRASIL, 1996).

Acredito que a Educação Física tem um papel muito importante no

desenvolvimento destas questões sociais, já que há, culturalmente, uma maior proximidade

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dos alunos com o professor e, ainda, seus conteúdos podem, na grande maioria das vezes,

abordar temas como violência (ex.: em competições esportivas), a saúde (ex.: benefícios da

atividade física regular), o uso de recursos naturais (ex.: os esportes praticados na natureza), e

outros mais citados acima.

A contribuição da escola para mudar a realidade social abordada anteriormente

é de “desenvolver um projeto de educação comprometida com o desenvolvimento de

capacidades que permitam intervir na realidade para transformá-la” (BRASIL, 1998, p. 24).

Os PCNs (1998) apontam três grandes diretrizes para estes projetos de educação:

• posicionar-se em relação às questões sociais e interpretar a tarefa educativa como uma

intervenção na realidade no momento presente;

• não tratar os valores apenas como conceitos ideais;

• incluir essa perspectiva no ensino dos conteúdos das áreas de conhecimento escolar.

Educar para a cidadania requer que conteúdos relacionados às questões sociais

sejam apresentados para a aprendizagem e reflexão dos alunos. Os PCNs incluem estes em

sua proposta, com o nome de temas transversais, de forma a compor um conjunto de

conteúdos articulados e abertos a novos temas, buscando um tratamento didático que

contemple sua complexidade e sua dinâmica, dando-lhes a mesma importância das

áreas/disciplinas convencionais. O currículo ganha em flexibilidade e abertura, uma vez que

os temas podem ser priorizados e contextualizados de acordo com as diferentes realidades

locais e regionais e que outros temas podem ser incluídos.

Acredito que estes temas são de grande importância para serem desenvolvidos

nas aulas, já que pude perceber (ministrando as aulas e conversando com outros professores)

que, infelizmente, há várias questões que estão presentes na escola que antigamente não

apareciam com tanta freqüência, por exemplo: o desrespeito às pessoas (pais, professores,

colegas de turma, funcionários da escola, etc.), assuntos sobre saúde de maneira geral,

violência, a influência exagerada (na maioria das vezes negativa) da mídia, entre outros.

Enfim, os PCNs (1996) apontam também alguns critérios para a eleição dos

temas transversais, com isso é possível que cada escola escolha seus temas transversais de

acordo com a realidade local, a fim de trabalhar de acordo com a formação do cidadão. São

eles:

• Urgência social (esses temas transversais elegem questões graves, que se apresentam

como obstáculos para a concretização da plenitude da cidadania, afrontando a

dignidade das pessoas e deteriorando sua qualidade de vida (BRASIL, 1996));

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• Abrangência nacional (por ser um parâmetro nacional, a eleição dos temas buscou

contemplar questões que, em maior ou menor medida e mesmo de formas diversas,

fossem pertinentes a todo o país, não excluindo a necessidade de temas de relevância

regional (BRASIL, 1996));

• Possibilidade de ensino e aprendizagem no ensino fundamental (relaciona-se a escolha

de temas que se adeqüam a aprendizagem nessa etapa da escolaridade. (BRASIL,

1996));

• Favorecer a compreensão da realidade e a participação social (a mais importante

finalidade dos temas transversais se expressa neste critério: que os alunos possam

desenvolver a capacidade de posicionar-se frente às questões que interferem na vida

coletiva, superar a indiferença, intervir de forma responsável. Assim os temas eleitos,

em seu conjunto, devem possibilitar uma visão ampla e consistente da realidade

brasileira e sua inserção no mundo, além de desenvolver um trabalho educativo que

possibilite uma participação social dos alunos (BRASIL, 1996)).

Os temas transversais propostos nos PCNs (1996) são: ética, pluralidade

cultural, meio ambiente, saúde e orientação sexual e temas locais. Além desses, o documento

de 1998 inclui como tema o assunto trabalho e consumo.

Maria Thereza C. C. de Souza, faz a resenha do livro espanhol: Temas

transversais em educação: bases para uma educação integral (BUSQUETS, M.D., CAINZOS,

M., FERNADÉZ, T., LEAL, A., MORENO, M. e SASTRE, G.), no capítulo: “Temas

transversais: um ensino voltado para o futuro”, a autora cita que os componentes curriculares

que possuímos (Português, Matemática, História, etc.) remontam dos interesses dos

pensadores da Grécia clássica, tais como os movimentos dos corpos celestes, as origens do

universo e as composições das matérias, sendo que estes temas eram fundamentais para o

pensamento da época, a indagação feita é: será que, atualmente, estes temas (refletidos nos

componentes atuais) são os mais importantes e fundamentais?

O texto aponta que é necessária a incorporação de outros temas (transversais,

no ensino, necessários para se viver na sociedade atual) e vinculá-los aos conteúdos

curriculares, com o objetivo de dar-lhes sentido e aproximá-los do cotidiano. Esta é uma outra

perspectiva dos temas transversais, isto é, através de conteúdos relevantes à sociedade e à

formação do cidadão, dar um maior sentido aos conteúdos tradicionais de cada componente

curricular, remetendo-se até as três dimensões do conteúdo propostos, por exemplo, pelos

PCNs: a atitudinal (voltada a formação de valores e atitudes), a conceitual (relacionada ao

saber sobre e, a procedimental (saber fazer).

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Rodrigues & Galvão (2005) comentam:

(...) os temas transversais são os grandes problemas da sociedade brasileira que o governo e a sociedade têm dificuldade na condução de soluções e que, por isso, encaminham para a escola a tarefa de tratar estes aspectos. Eles podem e devem ser trabalhados por todos os componentes curriculares, logo, sua interpretação pode se dar entendendo-os como as ruas principais do currículo escolar que necessitam ser atravessadas/cruzadas por todas as disciplinas (p.85).

Enfim, pudemos observar como se caracteriza, qual a sua importância para a

educação e quais são os temas transversais propostos nos PCNs. A partir disso, o subitem a

seguir expõem algumas maneiras, estratégias de como desenvolvermos estes temas em nossas

aulas (interdisciplinariedade e transversalidade).

A transversalidade e interdisciplinariedade dos temas transversais.

Segundo os PCNs, os termos interdisciplinariedade e transversalidade

definem-se por :

A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os diferentes campos de conhecimento produzida por uma abordagem que não leva em conta a inter-relação e a influência entre eles — questiona a visão compartimentada (disciplinar) da realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constituiu. (...) A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real (aprender na realidade e da realidade) (BRASIL, 1996).

Os temas transversais, por se tratarem de conteúdos de natureza social,

necessitam de um tratamento transversal e interdisciplinar, para que sua participação no

processo de ensino e aprendizagem seja adequada. Por exemplo: a orientação sexual se dará

muito mais completa se os componentes curriculares de Ciências e Educação Física

contemplarem conjuntamente o assunto, além de outras áreas estarem também aplicando o

conteúdo. Ressaltando novamente a fala de Silva (1996) que revela ser um dos erros mais

frequentemente cometidos pelos professores em geral ministrar sua matéria aos alunos como

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se fosse a única existente no currículo escolar, a partir disso reforço a idéia do projeto

pedagógico da escola conter projetos que envolvam, na medida do possível, o maior número

de componentes curriculares, a fim de se realizar com maior possibilidade de êxito, a

educação para a cidadania.

Hernández (1998) citando sobre uma proposta transgressora para a educação

escolar, comenta que é necessário:

(...) transgredir a visão de currículo escolar centrada nas disciplinas, entendidas como fragmentos empacotados em compartimentos fechados, que oferecem ao aluno algumas formas de conhecimento que pouco têm a ver com problemas dos saberes fora da Escola, que estão afastados das demandas que diferentes setores sociais propõem à instituição escolar e que têm a função, sobretudo, de manter formas de controle e de poder sindical por parte daqueles que se concebem antes como especialistas do que como educadores (p. 12).

A Educação Física tem grande dificuldade de ser aceita nestes projetos, é claro

que esta não é uma regra geral, porém, culturalmente, na maioria das vezes há um descaso,

uma desvalorização desta disciplina por parte da direção, coordenação e corpo docente da

instituição escolar, porém acredito que se conseguirmos nos incluir nestes trabalhos, será

muito mais fácil mostrarmos nossa importância, já que é possível sistematizarmos melhor

nossa atuação e os resultados da aplicação do projeto é visível a todos.

Mas se, às vezes, não é possível este trabalho conjunto com os demais

componentes curriculares, a Educação Física por si só deve aplicar tais conhecimentos em

suas aulas, e mais, os projetos incluindo os conteúdos próprios da Educação Física e a

utilização de temas transversais adequados a esses assuntos é, provavelmente, uma maneira de

sistematizarmos nossas aulas na escola.

Continuando nosso estudo, o próximo capítulo comenta qual a relação entre a

Educação Física e os temas transversais e uma possível maneira de sistematizá-los/

desenvolvê-los nas aulas.

5. A EDUCAÇÃO FÍSICA E OS TEMAS TRANSVERSAIS.

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Compartilho com o pensamento de Betti & Zuliane (2002) quando comentam

que o papel da Educação Física escolar não é somente ensinar habilidades motoras e

desenvolver capacidades físicas, isto, segundo os autores, é necessário, mas não suficiente.

Se o aluno aprende os fundamentos técnicos e táticos de um esporte coletivo, precisa também aprender a organizar-se socialmente para praticá-lo, precisa compreender as regras como um elemento que torna o jogo possível (portanto é preciso também que aprenda a interpretar e aplicar as regras por si próprio), aprender a respeitar o adversário como um companheiro e não um inimigo, pois sem ele não há competição esportiva (BETTI & ZULIANE, 2002).

Além disso, Betti & Zuliane (2002) citam que devemos desenvolver nossas

aulas a fim de capacitar nossos alunos para ter uma visão crítica, ou seja, que eles incorporem

de maneira consciente o esporte e os demais conteúdos da cultura corporal em suas vidas, por

exemplo: prepará-los para ser um consumidor do esporte-espetáculo, ou seja, instrumentalizar

o aluno para uma apreciação estética e técnica: informá-los sobre o social, a política, a

história, para que ele possa analisar criticamente a violência, o dopping, os interesses políticos

e econômicos do esporte (p.75). Para atingir este objetivo acredito que seja necessário

incorporar os temas transversais em nossas aulas de Educação Física, ou seja, trabalhar de

maneira conjunta todas as dimensões dos conteúdos (atitudinal, procedimental e conceitual), e

mais, se for possível, desenvolver um trabalho transdisciplinar.

Por isso, ao pensar em uma maneira de organizar/sistematizar os conteúdos do

componente curricular de Educação Física, parti dos temas transversais e, a seguir, os uni com

os assuntos pertinentes à nossa área.

Segundo os PCNs (BRASIL, 1998) a eleição de conteúdos deve conter

questões que possibilitem a compreensão crítica da realidade, ao invés de tratá-los como

dados abstratos a serem aprendidos apenas para “passar de ano”, com isso oferece-se ao aluno

a oportunidade de se apropriar destes como instrumentos para refletir e mudar sua própria

vida.

A educação para a cidadania requer que questões sociais sejam apresentadas para a aprendizagem e a reflexão dos alunos, buscando um tratamento didático que contemple sua complexidade e sua dinâmica, dando-lhes a mesma importância das áreas convencionais. Com isso o currículo ganha

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flexibilidade e abertura, uma vez que os temas podem ser priorizados e contextualizados de acordo com as diferentes realidades locais e regionais e que novos temas sempre podem ser incluídos. O conjunto de temas aqui proposto – Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo – recebeu o título geral de Temas Transversais, indicando a metodologia proposta para a sua inclusão no currículo e seu tratamento didático. (BRASIL, 1998, p. 25).

A transdisciplinariedade é um sonho do processo educacional no país, pois ela

articula “(...) as diferentes disciplinas em torno de um objeto a ser estudado, colocando em

destaque e levando em consideração a racionalidade do aluno, a forma de pensar e entender

o mundo(...)” (RODRIGUES & GALVÃO, 2005, p.85). O trabalho transdisciplinar pode

acontecer de várias maneiras; a mais comum e sugerida nos PCNs (BRASIL, 1998) é através

dos temas transversais, já citados anteriormente. Ainda segundo Rodrigues & Galvão (2005):

O tratamento transdisciplinar envolvendo as discussões relacionadas ao universo da Educação Física se dá na medida que os diferentes focos de análise que dão identidade à área necessitam ser articulados para a melhor compreensão das manifestações da Cultura Corporal de Movimento. (p.86).

Acredito que a utilização dos temas transversais é um auxílio para o professor

na seleção e organização dos conteúdos durante o Ensino Fundamental, ou seja, a partir deste

trabalho com projetos, haveria uma seqüência pedagógica (ou seja, na primeira série

abordaríamos determinado conteúdo, na segunda outro e assim por diante, como ocorre nos

outros componentes curriculares: na matemática primeiro ensinamos a somar, depois a

subtrair, etc., porém no caso da Educação Física o conteúdo até pode ser o mesmo, mas a

maneira de ministrá-lo seria diferente.) nas diferentes séries, por exemplo, ao trabalhar com a

orientação sexual, podemos diversificar a complexidade deste durante o primeiro e segundo

ciclos (1ª à 4ª séries), abordando um mesmo tema, porém de maneiras diferentes, isto é, as

atividades propostas à primeira série provavelmente seriam diferentes das indicadas para a

quarta série, por exemplo, já que estes alunos se encontram em faixas etárias diferentes e

conseqüentemente, em estágios de desenvolvimento biopsicosocial distintos.

Penso que uma rigidez na escolha de conteúdos não é interessante, já que tira a

autonomia do professor, mas também quando esta se torna muito aberta ela se transforma, por

exemplo, em professores que trabalham todo o ensino fundamental com os esportes mais

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comuns (vôlei, basquete e futebol), não por “não quererem trabalhar” ou “somente

conhecerem estes conteúdos”, mas talvez, por se tornarem perdidos na hora de escolherem os

mais diversos assuntos. Além disso, na maioria das vezes não ocorre uma seqüência didático-

pedagógica nos diversos anos do ensino, desde o ensino fundamental, até o ensino médio.

A seguir, o próximo capítulo apresenta as características e as possíveis

utilizações dos projetos.

6. PROJETOS.

“Os projetos são uma das formas de organizar o trabalho didático, que pode

integrar diferentes modos de utilização curricular” (BRASIL, 1998, p. 41)

Rodrigues & Galvão (2005), citam que as discussões sobre a organização dos

conteúdos escolares têm sofrido grandes influências a partir do entendimento do conceito de

contextualização (p.80). Há a necessidade de fazer com que os conteúdos tenham sentido e

significado para os alunos, a fim de termos mais adequadamente a formação integral da

pessoa.

Destacam ainda que a organização escolar a partir do modelo cartesiano de

ciências (o que gera a grande fragmentação dos componentes curriculares) produz, na escola,

uma excessiva fragmentação do conhecimento, afastando o trabalho escolar da formação

pessoal (p.80).

Hernández (1998) revela que uma das maneiras de responder mais

adequadamente, perguntas como as citadas abaixo:

(...) Como ensinar os conceitos- chaves aos alunos? Como podem aprendê-los? Como apresentá-los a partir da relação, e não da fragmentação dessas matérias? Como superar a fragmentação dessas matérias? Como conectar com a diversidade o processo de mudança dos estudantes? Como levar em consideração as transformações sociais em relação com o que se ensina na Escola? Como contribuir para a construção de subjetividades múltiplas numa sociedade complexa e em mudança? (p. 38).

é o ensino mediante, por exemplo, a projetos de trabalho, projetos interdisciplinares, entre

outros.

Cazzonatto (2005) comenta:

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Hoje em dia a concepção de educação na realidade escolar tem tomado diversos caminhos e meios para tornar possível o aprendizado, devido a adequações quanto ao contexto social da realidade em que se situa determinado indivíduo ou grupo(...)Tendo em vista essa concepção curricular, partimos para a busca dos meios os quais o conjunto de componentes curriculares da escola do ensino fundamental se utiliza para que isto ocorra e, em especial, a educação física. A idéia de projetos e propostas educativas vinculadas à escola e ao currículo escolar é muito válida para o desenvolvimento dessa nova concepção. Estas propostas podem abranger mais de um componente curricular de forma multidisciplinar e são alinhadas aos objetivos propostos pelo conjunto de professores de uma determinada escola. Além de proporcionar aos alunos atividades diferenciadas daquelas realizadas em sala de aula, estas também contribuem para a integração de alunos-professores e alunos-alunos. (s.p.)

A autora revela ainda que o projeto deve ser elaborado pelo(s) professor(es), e

que deve-se levar em consideração a realidade atual, a questão social envolvida e também

refletir e discutir sobre o(s) objetivo(s) a serem alcançados neste trabalho/projeto.

Os PCNs (1998) colocam que a organização escolar feita com projetos é uma

maneira que permite dar relevância às questões dos temas transversais, “pois os projetos

podem se desenvolver em torno deles e serem direcionados para metas objetivas, como a

produção de algo que sirva como instrumento de intervenção em situações reais (como um

jornal, por exemplo)” (p. 41).

A organização dos conteúdos, tomando como ponto de partida os componentes

curriculares, pode ser classificada conforme sua natureza em: multidisciplinar (caracterizado

pela organização somativa dos conteúdos, apresentadas por componentes curriculares

independentes uns dos outros), interdisciplinar (há uma interação de dois ou mais

componentes, havendo desde a simples comunicação de idéias até a integração de conceitos e

teorias, de metodologias e dados de pesquisa)e, finalmente o que seria a maior relação entre

todos os componentes curriculares: os projetos transdisciplinares (ZABALA, 2002).

Enfim, penso que os projetos, além de possibilitarem uma maior integração

entre as disciplinas, também são uma maneira de sistematizar, não só o currículo da Educação

Física, mas também, o currículo de uma escola de maneira geral.

No subitem abaixo, apresentam-se alguns exemplos de projetos em Educação

Física escolar.

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6.1. Projetos em Educação Física.

Nosso país é culturalmente chamado de “país do futebol”, isto não se dá pelo

fato do futebol ter sido criado aqui, já que este esporte foi iniciado na Inglaterra, mas esta

fama acontece pela paixão que os brasileiros têm pelo futebol, sendo que possuímos até a

personalidade mundial conhecida como Rei Pelé, um brasileiro que conquistou todo o mundo

com sua maneira de jogar. Porém, o futebol não é feito só da torcida dos cidadãos de todo

mundo, há várias questões que envolvem o esporte atualmente, algumas em nível mundial,

como os patrocinadores, comércio de jogadores, além disso, há outras questões mais locais,

como o sonho de muitos meninos pobres em se tornarem jogadores e com isto enriquecer

financeiramente, e mais: podemos desenvolver a questão do gênero, será que futebol é coisa

só de menino? Também existe a possibilidade de trabalharmos alguns temas transversais,

como ética entre os jogadores, torcedores, entre outros assuntos.

Enfim, a Copa do Mundo se tornou um tema pertinente para um trabalho, não

só da Educação Física, mais de todos os demais componentes curriculares.

A edição de maio da Revista Nova Escola apresenta em destaque especial A

Copa vai à escola, com sugestões de atividades para todas as disciplinas, uma maneira de

realizar um projeto envolvendo toda a escola.

Rodrigues & Galvão (2005) comentam que a exploração de conteúdos da

cultura corporal, nas suas diversas formas de manifestação, como o esporte, a dança, o jogo,

a luta, a ginástica, é exemplo de possibilidade de tratamento interdisciplinar, pois possibilita

a interação de todas as disciplinas escolares (p. 82), isto, aliado com os temas transversais, a

meu ver, se torna um grande trabalho a ser desenvolvido pela Educação Física. O ideal é ter

esta integração com os outros componentes curriculares, mas esta é uma questão que está

sendo resolvida aos poucos e que, em minha opinião, em um futuro próximo, se tornará

realidade.

Como havia dito anteriormente neste estudo, acredito que os projetos sejam um

modo de sistematizarmos os conteúdos a serem desenvolvidos não só, mas neste caso, de

primeira à quarta séries do ensino fundamental, auxiliando principalmente professores

iniciantes, como no meu caso.

Ao iniciar como docente no começo do ano em uma escola de primeira à

quarta série da rede pública de ensino, na cidade de Matão/SP, desenvolvi dois projetos: no

primeiro bimestre, trabalhei com o projeto: Conhecendo meu Corpo, nele foi possível

apresentar às crianças desde as partes do corpo, como orientação sexual, respeito às

diferenças, às capacidades e habilidades motoras, entre outros, ou seja, foi possível

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desenvolver os conteúdos próprios da Educação Física (descritos nos PCNs) e também alguns

temas transversais; as atividades foram, na maioria da vezes diferenciadas entre dois grupos: a

primeira e segunda séries e a terceira e quarta séries, com isso, consegui ficar bem menos

perdida com relação à seqüência de minhas aulas e a que conteúdos ministrar. Este projeto foi

desenvolvido só por mim, já que não consegui mobilizar as outras professoras, no caso as

chamadas professoras de sala e nem de a Educação Artística.

No segundo bimestre, a Copa do Mundo foi o foco, como comentei

anteriormente, pensei ser adequado trabalhar este tema. Este projeto foi desenvolvido

conjuntamente pelo professor de Educação Artística e por mim, houve, mais uma vez, a

sistematização e o desenvolvimento dos conteúdos da Educação Física e dos temas

transversais. Este trabalho foi concluído com dois dias de interclasses, ou seja, de jogos pré-

desportivos, realizado com todas as crianças da escola. Foi um evento que exigiu muito

trabalho, mas que compensou pela satisfação apresentada pelas crianças e, conseqüentemente

por mim.

Cazzonatto (2005) cita em seu trabalho outros exemplos de projetos

programados/realizados pela escola e pela Educação Física são eles: “Projeto Social”,

“Festival de Integração” e “Projeto Acampamento”. Dentre estes, realizamos as observações

deste estudo durante o “Projeto Acampamento”, que aconteceu na “República Lago

Acampamento”, na cidade de Leme/SP.

A partir destes exemplos, podemos observar que os projetos estão sendo

utilizados cada vez mais na escola, não só a Educação Física, mas também os demais

componentes curriculares estão incorporando esta maneira de desenvolver seus conteúdos na

área escolar. Sendo assim, concluímos nosso trabalho, tecendo as Considerações Finais do

nosso estudo no próximo capítulo.

7. RELATOS DE EXPERIÊNCIAS: PROJETOS EM EDUCAÇÃO FÍSICA

ESCOLAR.

Como já havia comentado anteriormente iniciei como docente na rede pública

estadual de ensino no começo deste ano. Estou lecionando em uma escola de primeira a

quarta séries do Ensino Fundamental da cidade de Matão. Esta escola está localizada na

região central da cidade, e recebe além das crianças do bairro, alunos de regiões mais

afastadas.

A escola possui uma quadra descoberta (em um estado de conservação regular:

buracos no chão, pintura muito desgastada, etc.) e um pátio, de tamanho pequeno, coberto,

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além da frente da escola, por onde os alunos entram, que também pode ser utilizada para

algumas atividades. Os materiais são escassos, há apenas giz (de lousa), alguns arcos de

plásticos (que já estão bem velhos e tortos) e algumas bolas de borracha que já se encontram

murchas, as crianças possuem o caderno de Educação Física e as professoras (de sala)

disponibilizam folhas sulfite para o trabalho com as crianças.

Enfim, este é o quadro que eu tenho para atuar na escola. Além da dúvida que

me acometia com relação à sistematização e organização dos conteúdos na escola, ainda era

necessário levar em consideração todas estas características sobre a unidade escolar.

Foi então que comecei a pensar em uma maneira de conseguir montar meu

planejamento, a partir disso, pensei em unir os temas transversais com os conteúdos

pertinentes à Educação Física e aplicá-los em forma de projetos. Rodrigues & Galvão (2005)

comentam que o ideal seria ministrar os temas transversais de acordo, de maneira integrada

com a proposta político-pedagógica da escola, entretanto, se por um motivo ou outro se isso

não for possível, o professor de certa forma, possui autonomia para realizar o trabalho com

estes temas à medida que sente necessidade (p.87-88) e este foi o meu caso, não tive acesso a

esse projeto da escola, então, sozinha escolhi os conteúdos que acreditava ser pertinente

desenvolvê-los.

Mas, minhas dúvidas não terminavam aqui, saber quais os temas que eu iria

ministrar, quais atividades aplicar em determinada série, como desenvolver as três dimensões

dos conteúdos (conceitual, procedimental e atitudinal), como avaliá-los foram algumas das

questões que tive que tentar encontrar respostas.

Para começar, observei quais eram os blocos de conteúdos da Educação Física

segundo os PCNs (BRASIL, 1998): conhecimento sobre o corpo, jogos e brincadeiras,

esporte, dança, ginástica e lutas e, quais os temas transversais propostos pelo mesmo: ética,

pluralidade cultural, meio ambiente, orientação sexual, trabalho e consumo e saúde. A seguir,

busquei fazer uma relação entre os temas transversais e os conteúdos da Educação Física para

elaborar o tema, o objetivo do projeto. Com isso, construí os projetos Conhecendo meu corpo

e Copa do mundo, estes estão expostos a seguir.

7.1. Projeto Conhecendo meu Corpo: Meu primeiro projeto: “Conhecendo meu corpo”, teve como objetivo deste

trabalhar os temas trasnsversais: ética, orientação sexual e saúde conjuntamente com os

conteúdos do bloco conhecimento sobre o corpo. Este trabalho foi desenvolvido, somente

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pelo componente curricular de Educação Física, de primeira a quarta séries, porém escolhi

para relatar neste estudo o que foi ministrado nas duas séries iniciais.

A princípio irei expor algumas características sobre os temas transversais

propostos neste projeto. Estas serviram de base para que eu pudesse elaborar as atividades das

aulas.

• Ética: segundo Rodrigues & Galvão (2005):

Discutir a ética na escola e, nesse caso, nas aulas de Educação Física, trata-se de discutir o sentido ético da convivência humana nas suas relações com várias dimensões da vida social: o ambiente, a cultura, o trabalho, o lazer, o consumo, a sexualidade e a saúde. (...) Observamos, sobretudo nas aulas de Educação Física, que os alunos expressam comportamentos de excitação, cansaço, medo, vergonha, prazer, satisfação, entre outros. Isso se deve, muitas vezes, ao fato de as atitudes serem afetadas pela intensidade e qualidade dos estados afetivos vivenciados corporalmente. O desenvolvimento moral do indivíduo está intimamente relacionado à afetividade e à racionalidade, e, nas aulas de Educação Física escolar, ocorrem situações que permitem uma intensa mobilização afetiva e interação social. Tal cenário apresenta-se como ambiente ideal para explicitação, discussão e reflexão sobre as atitudes e valores considerados éticos ou não éticos para si e para os outros (p. 88).

Considerando as colocações feitas na citação acima, meu intuito era ministrar

atividades físicas visando algum conteúdo sobre o conhecimento sobre o corpo e a discussão

atitudinal proposta pela ética, ou seja, explicar às crianças porque aquele amigo corre mais

que ela, ou vice-versa, porque temos que respeitá-lo e não tachá-lo como “lesma” por

exemplo. Ou seja, propor atividades aonde as crianças tivessem que respeitar e ser respeitado,

realizar ações conjuntas, etc.

• Orientação sexual: este tema visa o desenvolvimento das questões de

gênero: preconceitos, papel social de mulheres e homens, estereótipos, além das discussões

relacionadas às doenças sexualmente transmissíveis e gravidez na adolescência

(RODRIGUES & GALVÃO, 2005). Estes autores comentam que a Educação Física se

aproxima deste tema a partir do momento em que privilegia o uso do corpo, ou a construção

de uma “cultura corporal” cujos valores sobre beleza, estética corporal e gestual aparecem

frequentemente, assim como as questões de gênero e da co-educação (p. 93 e 94).

Neste projeto, meu objetivo é trabalhar com a questão da gravidez, ou seja,

expor aos alunos como ela acontece do ponto de vista fisiológico e social, comentando quais

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são as conseqüências de uma gravidez precoce, além disso, desenvolver a questão da

diferença física que há entre homens e mulheres e como devemos agir perante elas.

• Saúde: conceituar saúde apresenta limitações quando se pretende defini-

lo de maneira objetiva, isolada, já que devemos considerar todos os fatores que a influenciam:

aspectos socioeconômicos, meio ambiente, culturais, afetivos, biológicos e psicológicos.

Portanto, os PCNs fundamentam a concepção de saúde no exercício de cidadania,

argumentando que é preciso capacitar os sujeitos a se apropriarem de conceitos, fatos,

princípios, tomar decisões, realizar ações e gerar atitudes saudáveis na realidade em que os

mesmo estão inseridos (RODRIGUES & GALVÃO, 2005).

Portanto, neste meu trabalho, contemplei questões como a importância do

banho, da escovação dentária, a necessidade da prática de uma atividade física regular para

prevenir várias doenças, etc.

Enfim, a partir destas definições conceituais sobre os temas transversais

busquei atividades que fossem pertinentes, adequadas ao desenvolvimento destes conteúdos,

não se esquecendo de uní-los aos conteúdos próprios da Educação Física, mais

especificadamente, sobre os conhecimentos sobre o corpo (que estão citados nos PCNs,

1998).

Porém, meu trabalho ainda não estava completo, ainda era necessário pensar

nas atividades apropriadas para cada série e como iria avaliar as crianças e a mim.

Então a dúvida se tornou ainda maior, estava difícil encontrar atividades

diferenciadas para as quatro séries iniciais do Ensino Fundamental. Portanto, as dividi

seguindo os ciclos, ou seja, para primeiras e segundas séries e para terceiras e quartas, às

vezes estas atividades variavam em alguns detalhes dentro do mesmo ciclo. Eu sei que está foi

uma limitação do meu trabalho, já que acredito que cada série mereceria atividades distintas

devido às diferenças de idade e desenvolvimento, mas infelizmente ainda não consegui

resolver esta questão e, portanto, separei as atividades em dois ciclos (1ª -2ª e 3ª-4ª séries).

Desenvolvidas as atividades, ainda teria que propor as avaliações. Darido

(2005), no capítulo Avaliação em Educação Física na escola, comenta o percurso das

avaliações em Educação Física ao longo das tendências pedagógicas e, entre outros, coloca

dicas de como avaliar. Porém, a autora comenta ainda que avaliar ainda é um grande desafio

para os professores de Educação Física, já que temos que avaliar nossos alunos na três

dimensões dos conteúdos: atitudinal, conceitual e procedimental, além de nos auto-avaliar.

Darido (2005) cita que uma das maneiras de se avaliar a dimensão atitudinal dos conteúdos é

através de atividades que propiciem o surgimento, por exemplo, de situações de conflito. Ela

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ainda comenta Zabala (1998) colocando que a melhor fonte de informação para conhecer os

avanços nas aprendizagens dos conteúdos atitudinais é a observação sistemática de opiniões e

das atuações nas atividades grupais, nos debates, entre outras(p. 132). As fichas de observação

das atitudes dos alunos, segundo Darido (2005), torna esta avaliação mais criteriosa. Portanto,

esquematizei uma maneira de avaliar, confesso que ainda está longe do ideal, mas acredito

que para um começo ela é bastante adequada.

Já a dimensão conceitual tem como avaliação habitual dos demais

componentes curriculares a prova escrita, mas esta apresenta limitações com relação à

reflexão dos conteúdos, já que na maioria das vezes exige somente uma memorização destes.

Darido (2005) cita que deveríamos avaliar os conceitos nas atividades do dia- a – dia, ou seja,

colocar situações – problemas aos alunos e observar se eles são capazes de utilizar os

conceitos que aprenderam para a resolução destas. Porém, ela comenta que a falta de tempo

comum na nossa área – já que possuímos apenas duas aulas semanais de 50 minutos cada com

cada turma – é um fator que nos limita, então a aplicação da prova seria uma forma de

avaliação, mas temos que estar cientes de suas limitações.

Enfim, a avaliação procedimental engloba o avanço na capacidade do aluno de

transferir seu conhecimento para a prática, podemos utilizar os testes físicos e, além disso,

considerando a concepção de cultura corporal,

Pode-se, por exemplo, avaliar a capacidade dos alunos de coletar notícias nas quais também podem anexar-se comentários pessoais dos jovens sobre as matérias jornalísticas. Também é possível propor a confecção de livros, reunindo textos e figuras pesquisados pelos estudantes (...)Além disso, as pesquisas podem ser organizadas em painéis (...) (DARIDO, 2005, p. 132-133).

Considerando as características de cada tipo de avaliação citadas

anteriormente, pensei em maneiras que fossem condizentes com minha realidade e limitações

pessoais, portanto, para avaliar as crianças desenvolvi dois critérios: participação nas aulas,

registradas através da minha observação, anotando os nomes de quem não participava das

atividades, e, os trabalhos escritos desenvolvidos em sala e em casa. A partir disso, elaborava

as notas e tentava perceber se os conteúdos ministrados estavam sendo incorporados pelos

alunos.

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A minha avaliação era baseada no retorno que os alunos me davam nas

atividades, ou seja, se eles estavam gostando, se conseguiam responder as questões que fazia,

sei que estas formas de avaliar estão longe das ideais, mas está sendo o início de um futuro

progresso.

A seguir, apresentarei um esquema do projeto Conhecendo meu corpo

realizado com as primeiras e segundas séries, ou seja, como o organizei e alguns comentários.

CONHECENDO MEU CORPO – 1ª e 2ª séries. Objetivo: o objetivo deste projeto é desenvolver os temas transversais ética,

orientação sexual e saúde conjuntamente com os conteúdos sobre os conhecimentos sobre o

corpo (partes do corpo, lateralidade, sistemas do corpo humano, freqüência cardíaca, entre

outros).

Período de execução do projeto: março e abril.

Materiais e espaços: giz, folha sulfite, quadra, pátio, sala de aula e frente da

escola.

Atividades desenvolvidas: para iniciar o projeto, ficamos na sala de aula e,

juntos, confeccionamos o nosso mascote do corpo humano, este era um boneco feito de

dobradura de papel3 (ele não apresenta os membros inferiores e posteriores), cada criança

adornou e batizou seu mascote, este bonequinho poderia ser levado em todas as nossas aulas

do corpo humano. Algumas crianças fizeram até os filhos dos seus mascotes e utilizaram para

brincar em casa. Ao final do projeto, pedi para as crianças colarem seus mascotes na folha

sulfite e completarem com desenhos as partes do corpo que estavam faltando, para as

primeiras séries foi solicitado somente o desenho, já as segundas deviam escrever os nomes

das partes que elas desenhassem. Esta foi uma das maneiras de avaliá-los. Confesso que fiquei

bastante surpresa com os resultados, é claro que algumas crianças desenharam somente os

braços e pernas, mas outras completaram com antebraço, cotovelo, joelho, coxa, etc..

Para trabalhar este conceito das partes do corpo utilizei brincadeiras cantadas,

como por exemplo, “cabeça, ombro, joelho e pé” e “formiguinha na ladeira”, ao final da aula,

procurava sentar em círculo e rever as partes do corpo faladas nas brincadeiras, além de

questioná-los como eles faziam para cuidar do seu corpo, por exemplo, comentando sobre a

higiene e a alimentação.

3 Esquema para a confecção do boneco apresentado em anexo.

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Uma atividade que não estava prevista, mas que ao final foi bastante

interessante foi levar as crianças ao teatro assistir a peça “O patinho feio”, na aula seguinte

conversamos sobre as diferenças físicas, sobre o respeito às pessoas diferentes de nós, seja um

portador de necessidades especiais ou um amiguinho de sala.

A visita à biblioteca foi bastante interessante. Eles viram os Atlas do corpo

humano, a surpresa foi geral, as figuras que as crianças observavam nos livros eram bem

diferentes do que elas imaginavam ser o corpo delas. Nesta aula aproveitei para ir tirando as

dúvidas que surgiam, deixei-os livres para olharem os livros e questionarem, porém aproveitei

para falar sobre a gestação de maneira geral, ou seja, como ela ocorria, sobre gravidez

precoce, etc.

Trabalhei a freqüência cardíaca através de atividades como correr, saltar, deitar

e levantar. Os fiz perceberem seus pulsos antes e após as atividades, e discutimos a

importância da atividade física para nosso organismo, porque transpiramos, porque meu

amiguinho está menos cansado que eu, etc.. Cada sala teve suas perguntas, porém tentava

direcioná-los para estas questões.

Apliquei estafetas para perceberem as diferenças de capacidade e habilidade

entre meninos e meninas e entre o mesmo gênero, discutimos mais uma vez o respeito a elas.

Ministrei atividades de relaxamento e massagem para que percebessem que seu

corpo é um todo e que podemos e devemos controlá-lo e cuidá-lo.

Em todas as atividades desenvolvidas busquei ministrar os temas transversais

citados anteriormente. Confesso que este trabalho não foi fácil, muitas vezes houve uma

mudança no rumo da aula, ou seja, não conseguia fazer o planejado, às vezes eles estavam

muito agitados demorando a me ouvirem e com isso o tempo da aula ficava mais curto e a

discussão final prejudicada, outras vezes eram avisos da direção ou propaganda de eventos,

enfim, cada aula era uma aula! Mas mesmo assim acredito ter atingido meus objetivos, ou

seja, além de conseguir sistematizar e organizar minhas aulas, senti que as crianças

incorporaram alguns valores dos temas transversais e alguns conteúdos dos conhecimentos

sobre o corpo, porém acredito que estes temas devem ser ministrados novamente para uma

maior fixação, é claro que com atividades diferentes. Parece que há uma dificuldade muito

grande na incorporação principalmente das atitudes e valores, mas este é um trabalho a ser

desenvolvido durante toda a Educação Básica.

Como meu primeiro projeto, acredito ter sido bastante positivo, apesar de ser

cheio de limitações, foi uma maneira que eu encontrei de sistematizar e organizar meus

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conteúdos, trabalhando na perspectiva da formação global do aluno através dos temas

transversais e conteúdos específicos da área.

Para um primeiro contato com a escola foi muito importante para mim

desenvolvê-lo e penso que este é um caminho bastante adequado para conseguirmos

sistematizar os conteúdos, principalmente para os professores iniciantes.

Continuando meus relatos de experiência irei expor, a seguir, meu segundo

projeto realizado na escola: Copa do Mundo.

7.2. Projeto Copa do Mundo. Uma das perguntas mais freqüentes, feita principalmente pelos meninos, que eu

ouço toda vez que ia buscar uma turma para a aula era: “Vai ter futebol hoje?”, desde a tenra

idade este esporte está inserido na vida do brasileiro, tanto pela influência da mídia, quanto

pela questão cultural. Por este motivo e por acreditar que este assunto seja de grande

relevância social, econômica e cultural, principalmente para o Brasil, acreditei ser pertinente

trabalhar este tema conjuntamente com alguns temas transversais. Mais uma vez apliquei este

projeto nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, porém, neste estudo irei relatar o

trabalho com as terceiras e quartas séries do Ensino Fundamental. O componente curricular

Educação Artística ministrou simultaneamente este mesmo projeto.

Segundo Galvão, Rodrigues & Silva (2005), “o reconhecimento do esporte

como um fenômeno social contemporâneo estimula reflexões sobre seu tratamento como um

conteúdo curricular escolar” (p. 177).

O esporte possui vários conceitos e classificações, porém, para formular este

projeto utilizei a classificação apresentada por Tubino (2001) e Tubino et al. (2000) (apud

GALVÃO, RODRIGUES & SILVA, 2005). Estes autores classificam o esporte sob três

aspectos de sua manifestação: o esporte-educação, o esporte-participação e o esporte-

performance ou rendimento.

Neste trabalho, adotei o esporte-educação que consiste em levar o aluno a uma

reflexão crítica sobre todos os aspectos que envolvem o esporte, tais como, exclusão e

inclusão de pessoas, uso de anabolizantes, problemas que envolvem o esporte na sociedade, a

geração de empregos, desenvolvimento de tecnologias, entre outros. Além disso, propiciar a

prática do mesmo. Penso que o esporte é um dos conteúdos mais ricos da Educação Física

para conseguirmos trabalhar os temas transversais.

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O projeto Copa do Mundo teve como objetivo desenvolver os temas

transversais: ética, saúde, pluralidade cultural e trabalho e consumo.

Os temas ética e saúde já foram conceituados anteriormente, portanto

comentarei sobre exemplos de como desenvolvê-los neste projeto atual:

Falar sobre o respeito às regras, aos adversários, às meninas que também

podem e devem praticar o futebol, são alguns exemplos de como desenvolvi este tema

transversal neste projeto.

Além disso, podemos trabalhar a saúde explicando, por exemplo, a diferença

entre o atleta profissional e os amadores, será que os dois são sinônimos de saúde?

Já a pluralidade cultural “tem como objetivo o desenvolvimento do respeito e

da valorização das diversas culturas existentes no Brasil, contribuindo assim para uma

convivência mais harmoniosa em sociedade, com o repúdio a todas as formas de

discriminação (GALVÃO, RODRIGUES & SILVA, 2005, p.90). Neste projeto discuti, por

exemplo, a prática de declarações preconceituosas em momentos de grande tensão, a

possibilidade de integração entre diferentes povos, quando da realização de eventos

maciçamente divulgados, como é o caso da Copa do Mundo (GALVÃO, RODRIGUES &

SILVA, 2005).

A princípio acreditava que o tema transversal trabalho e consumo não era

pertinente ao trabalho com o esporte, mas, após a leitura do capítulo Esporte escrito por

Galvão, Rodrigues e Silva (2005) refiz meu pensamento. Este tema tem como propósito

refletir, problematizar junto aos alunos a quantidade e diversidade de trabalho presente em

cada produto ou serviço, e suas relações entre trabalho e consumo, que são muitas e bastante

complexas. Estes autores propõem algumas temáticas para serem desenvolvidas nas aulas de

Educação Física escolar, eu utilizei no meu projeto estas discussões: quais são as vestimentas

necessárias para a prática deste esporte nas aulas de Educação Física e no esporte de

rendimento? O que é meramente comercial? e; discussão sobre a empregabilidade dos

jogadores de futebol profissional.

A partir destas considerações sobre o esporte e sobre os temas transversais,

montei o projeto Copa do Mundo. O esquema e a avaliação do projeto são iguais ao projeto

Conhecendo meu Corpo.

Abaixo mostrarei o esquema do projeto Copa do Mundo.

COPA DO MUNDO- 3ª E 4ª séries.

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Objetivo: o objetivo deste projeto é desenvolver os temas transversais ética,

saúde, pluralidade cultural e trabalho e consumo conjuntamente com os conteúdos sobre o

esporte futebol (história, habilidades e capacidades do esporte, jogos pré-desportivos, entre

outros).

Período de execução do projeto: maio e junho.

Materiais e espaços: para a realização deste projeto o professor de Educação

Física do período da manhã conseguiu, através de um pedido formal a um clube da cidade de

São Carlos, várias bolas de futebol que o clube acreditava não estar mais em boas de

condições de uso para os associados, mas que para a escola foram de grande serventia,

ajudando e muito na realização das atividades, portanto dou a dica: professores, procurem

pedir, em nome da escola (através de um requerimento) a estas instituições que possuem

atividades esportivas, materiais para doação, alguma coisa sempre conseguimos, talvez não no

momento que desejamos, mas mais tardar.

Portanto, além das bolas de futebol, foram utilizadas cartolinas, giz e arcos e,

os espaços: quadra, pátio e sala de aula.

Atividades desenvolvidas: para iniciar, conversei com os alunos sobre o

projeto e sobre algumas atividades que iríamos fazer, a princípio falei sobre a confecção de

painéis sobre a Copa do Mundo, cada sala montaria o seu, para isso pedi para as crianças

levarem artigos, reportagens sobre a Copa, poderia ser sobre a história dela, sobre

curiosidades, atualidades, etc.

Também coloquei que o encerramento do projeto seria feito com um torneio

inter-classes entre as terceiras e quartas séries.

A primeira atividade desenvolvida foi “Correio entre países”, nesta utilizei os

países do Continente Americano, classificados para a Copa do Mundo, a partir disto, ao final

da aula discutimos sobre a integração entre os diferentes povos (tema transversal: pluralidade

cultural).

Nas aulas seguintes ministrei atividades que trabalhavam as habilidades do

futebol, como por exemplo, toque, recepção, condução de bola, sempre mostrando a

importância de utilizar os dois lados (direito e esquerdo) para realizar as atividades, procurei

integrar os meninos e as meninas para conseguir discutir as diferenças que existem entre eles

e o respeito que devemos ter a essas diferenças, fizemos trabalhos individuais, em duplas e em

grupos (tema transversal: ética).

Antes de conseguir ministrar as atividades com bola, citadas acima, discuti

sobre o trabalho e consumo, já que algumas das bolas apresentavam o símbolo da Nike.

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Quando cheguei com as bolas houve uma confusão, todo mundo queria usar somente a bola

desta marca, então sentei com eles em círculo e discutimos a questão das vestimentas e dos

materiais utilizados no esporte, como comentado anteriormente. A partir disso consegui

utilizar todas as bolas, independente da marca, é claro que algumas crianças insistiam em tal

atitude de recusa às outras marcar, mas aos poucos foram cedendo.

Após mais ou menos duas semanas de projeto, terminei de recolher os artigos e

reportagens, então fomos para o pátio montar os painéis. Dividi a sala em quatro grupos, cada

um tinha sua cartolina que ao final seriam unidas para a montagem do painel. Para a

confecção destes, eles podiam usar as reportagens e os artigos da maneira que quisessem,

além de poderem desenhar e enfeitar a vontade. Os painéis foram utilizados na quadra,

deixando um clima de Copa do Mundo, além de servirem de informação para todos os alunos

da escola.

Em sala, ministrei a história do Futebol no mundo e no Brasil, contando dos

jogos primitivos que deram origem a este esporte. A maioria acreditava que o futebol tivesse

nascido no Brasil. Além disso, falei sobre termos populares utilizados no Brasil (pluralidade

cultural).

Desenvolvi alguns jogos pré-desportivos como a queimada com os pés e o jogo

dos cones4. Este último consiste em dividir a sala em duas equipes (ataque e defesa), a equipe

da defesa se posiciona em cima da linha do círculo central da quadra e a do ataque fora do

círculo. O objetivo do jogo é fazer com que o ataque marque gol entre os dois cones situados

dentro do círculo. Ambas as equipes podem somente utilizar os pés para jogar. As equipes

trocam de posição a cada gol e/ou a cada tempo (utilizei três minutos). No início usei uma

bola, mas depois percebendo que as meninas não participavam muito, coloquei duas bolas,

assim consegui que elas se integrassem mais no jogo. Quando necessário alterava algumas

regras, mas na maioria das vezes foi tranqüila a execução. Porém, muitas vezes tive que

interrompê-lo para discutir a questão do respeito, da agressividade, do saber ganhar e perder.

Apesar disso, acreditei pertinente ministrá-lo no torneio inter-classes, já que este permite a

participação de muitas pessoas ao mesmo tempo e as meninas conseguiram se integrar.

As salas tiveram uma aula livre onde eles puderam escolher as atividades,

então as crianças quiseram jogar o futebol propriamente dito, mas houve uma exclusão muito

grande das meninas, foi então que reforcei minha idéia em trabalhar o jogo dos cones no

torneio final.

4 Jogo apresentado em detalhes nos anexos.

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O encerramento do projeto se deu com o torneio inter-classes. O professor de

Educação Artística e um aluno da primeira série fizeram, juntos, a abertura do torneio com

uma apresentação de Karatê. Após, foram realizados os jogos através de um torneio de

eliminatória dupla, entre as terceiras e quartas séries. A sala vencedora recebeu um troféu.

Com as terceiras séries, realizei uma atividade diferente. Como estávamos

perto da Festa Junina, e tínhamos que apresentar alguma dança, montei uma coreografia com

as duas terceiras séries juntas unindo movimentos do Futebol e da Quadrilha, a música

trabalhada foi a “Partida de Futebol” originalmente gravada pelo grupo Skank, porém, utilizei

uma versão gravada pelos cantores Zezé de Camargo e Luciano. A apresentação foi um

sucesso!

Enfim, busquei desenvolver os temas transversais em todas as aulas, algumas

vezes conforme as questões que surgiam espontaneamente, outras vezes, direcionando o

debate. Acredito que o resultado foi positivo, já que eles não ficaram somente “jogando por

jogar”, mas tiveram acesso a outras informações sobre este esporte tão popular em nosso país.

Além disso, mais uma vez tive a certeza que consegui sistematizar e organizar

meus conteúdos por mais um bimestre.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS.

A partir da revisão bibliográfica realizada e do meu relato de experiência

vivenciado na escola, busquei discutir a relação entre utilização dos temas transversais e dos

projetos para uma melhor sistematização/organização dos conteúdos na Educação Física

escolar.

Ao levar em consideração colocações como a dos PCNs (BRASIL, 1998)

citando que os projetos são uma das formas de organizar o trabalho didático e que este pode

integrar diferentes modos de utilização curricular; Hernández (1998) comentando que os

projetos são uma forma com grande possibilidade de sucesso de possibilitar a formação global

do aluno; e outros autores citados no estudo, reforçam minha idéia de que os projetos são uma

das maneiras mais válidas de se sistematizar os conteúdos em Educação Física escolar,

principalmente para professores iniciantes.

Ministrar as aulas, de primeira a quarta séries do Ensino Fundamental,

baseadas nos objetivos dos projetos me deixou muito mais segura com relação à minha

atuação profissional e com uma maior confiança de estar conseguindo desenvolver atividades

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em uma seqüência lógica de maneira que conseguisse trabalhar com as três dimensões dos

conteúdos (atitudinal, conceitual e procedimental).

Além disso, as crianças se mostraram motivadas às aulas, principalmente

quando houve um evento de encerramento do projeto, como no caso do torneio interclasses

realizado ao final do Projeto Copa.

E mais, a incorporação dos temas transversais nestes projetos, em minha

opinião, torna menos complicado o desenvolvimento dos conteúdos atitudinais, já que, como

descrito na revisão, estes temas são sociais e de grande relevância regional e nacional

(BRASIL, 1996). Souza (s.d.) reforça esta idéia quando comenta que uma das perspectivas

dos temas transversais é através de conteúdos relevantes a sociedade e a formação do cidadão,

dar um maior sentido aos conteúdos tradicionais de cada componente curricular, remetendo-se

até as três dimensões do conteúdo propostos.

Atualmente, estou desenvolvendo meu terceiro projeto, agora o tema é o

Folclore, o trabalho está sendo realizado em conjunto com o componente curricular Educação

Artística. Mais uma vez estou confirmando minha idéia do auxílio dos temas transversais e

dos projetos na sistematização/organização de minhas aulas.

Enfim, penso que é necessário nos incluir, adentrar de maneira mais insistente

a esses projetos, não só trabalhando sozinhos, mas de um modo conjunto com as demais

disciplinas, fazendo com que a sistematização dos conteúdos da Educação Física una-se com

a possibilidade de mostrarmos nosso valor a sociedade e de formarmos grandes cidadãos.

7. REFERÊNCIAS.

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pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte.v 1, nº1, p.73-81, 2002.

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DARIDO, Suraya C.. Avaliação em educação física na escola. In: Educação física no ensino superior: educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p. 122-136. DIÁRIO OFICIAL ESTADO DE SÃO PAULO. Resolução SE 1 de 06/01/2004. Vol. 114, nº 3. São Paulo, quarta-feira, 7 de janeiro de 2004. Disponível em: < cenp.edunet.sp.gov.br/PortalEF/Edfisica/ legislacao/educacaofisicaescolar/educa_ATUA.doc > Acesso em 20 jul. 2006. FERREIRA, Lílian A. O professor de educação física no primeiro ano de carreira: análise da aprendizagem profissional a partir da promoção de um programa de iniciação à docência. 2005. 216p. Tese (Doutorado em Metodologia do Ensino) – Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2005. FRANGIOTI, Perla C.. O livro didático na educação física escolar. 2004. 50f.Monografia (Licenciatura Plena em Educação Física) – Centro de Ciência Biológicas e da Saúde, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2004. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25ªed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GALVÃO, Zenaide, RODRIGUES, Luiz H., SILVA, Eduardo V. M. e..Esporte. In: Educação física no ensino superior: educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p. 176-198. GONÇALVES JUNIOR, Luiz. Ativida recreativa na escola: uma educação fundamental (de prazer). In: Educação física no ensino superior: atividades recreativas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. p. 130-136. HERNÁNDEZ, Fernando.. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: ArtMed, 1998. NASCIMENTO, K. A., FRERIS, V. M., SOUSA, C. A.D.. Ação docente de um profissional de educação física: um estudo de caso. Revista Digital, Buenos Aires, ano 10, nº 68, 2004. Disponível em : <http:// www.edeportes.com/edf/68/efe.htm>. Acesso em 02 mai. 2004. RAMOS, Glauco N. S.. As dimensões dos conteúdos na escola. In: I JORNADA ACADÊMICO-CIENTÍFICA, 1, 2000, Descalvado. Palestra. Descalvado, 2000.

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ANEXOS

1. MODELO DO “MASCOTE” UTILIZADO NO PROJETO CONHECENDO MEU CORPO.

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2. DESCRIÇÃO DO JOGO DOS CONES DO PROJETO COPA DO MUNDO.

Na quadra, coloque dois cones dentro do círculo central formando as traves do

gol.

Em seguida, divida a sala em duas equipes, independente da quantidade de

alunos.

Equipe de ataque Equipe de defesa

Cone

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Uma equipe deverá começar no ataque e a outra na defesa, posicionadas

conforme o desenho acima.

O objetivo do jogo é tentar marcar gols (entre os cones). Vence a equipe que

marcar mais.

As regras são:

• Somente utilizar os pés, tanto para o ataque quanto para a defesa;

• A equipe de ataque pode se locomover por todo espaço fora do círculo

central, não sendo permitido que entrem no mesmo;

• A equipe de defesa pode se locomover sobre a linha do círculo,

podendo trocar de lugar entre seus membros por dentro do círculo;

• Não é permitido que pessoas da defesa fiquem paradas em frente ao

“gol”, somente na linha do círculo;

• A cada gol marcado (reinicia o cronômetro para os três minutos) ou a

cada três minutos as equipes trocam de função (ataque para defesa e

vice-versa);

• O número de bolas utilizadas e o local de onde elas devem ficar para

início da partida são determinados pelo professor (dica: utilizo duas

bolas e dou início na linha central da quadra, na parte de fora do

círculo);

• A quantidade de períodos (tempos) do jogo também é determinado pelo

professor, o importante é que cada equipe vivencie ambas as funções.

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3. ATIVIDADE FINAL DO PROJETO CONHECENDO MEU CORPO: OS

MASCOTES.

Mascote confeccionado por uma aluna da primeira série.

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Mascote confeccionado por um aluno da primeira série.