Desenvolvimento Estaturo-Ponderal da Criana

Introduo

O crescimento e desenvolvimento da criana um assunto pelo qual os pais

manifestam especial interesse, uma vez que frequentemente so geradas dvidas

como o meu filho/a estar a crescer bem?, ser muito pequeno/a para a idade?,

ser muito pesado/a para a idade?, ser diferente das outras crianas?.

Neste contexto, importar chamar a ateno para alguns aspectos fisiolgicos

do crescimento das crianas, com o objectivo de gerar um ambiente familiar de maior

confiana e tranquilidade, em tudo desejvel para o desenvolvimento harmonioso da

criana.

Embora o aumento do tamanho do corpo concentre a ateno dos pais, ser

to ou mais importante a ateno ao funcionamento dos vrios aparelhos e sistemas.

por isso que se torna fundamental a observao da criana por um olhar clnico,

capaz de perceber, de uma forma global, o estado de sade e de desenvolvimento,

em momentos destinados para o efeito as consultas de vigilncia de sade infantil.

Como que as crianas crescem?

Embora os parmetros somatomtricos no devam ser utilizados como nico

instrumento na avaliao do crescimento, constituem de facto bons indicadores do

estado de sade e de desenvolvimento.

1) Parmetros Somatomtricos:

- Peso: O recm-nascido dever ser pesado sem roupa e sem fralda e as

crianas ou jovens com a menor quantidade de roupa possvel.

- Estatura / Comprimento: A determinao da estatura passa a ser

realizada em ortostatismo quando a criana se segura em p. Os

instrumentos devero estar adequadamente calibrados.

- ndice de Massa Corporal (IMC ou BMI): O ndice de massa corporal

mostra a proporo relativa entre o peso da criana e o quadrado da altura.

Este ndice dever ser utilizado apenas aps os 24 meses.

Constitui um predictor vlido da adiposidade.

Em linhas gerais, e de uma forma no absoluta, considera-se que uma

criana com um IMC abaixo do P15 esteja em risco para desnutrio. Um

valor entre o P85 e P95 ser considerado excesso de peso e um valor

P95 corresponder a uma situao de obesidade.

- Proporcionalidade

Os indicadores mais utilizados so 1) a relao entre o segmento superior do

corpo e o segmento inferior e 2) a relao entre a envergadura e a altura.

Estes indicadores so teis para os mdicos na medida em que ajudam a

distinguir situaes de baixa ou alta estatura, bem como a distinguir crescimento

desproporcional da imaturidade.

O segmento inferior medido do topo da snfise pbica superfcie plantar do

p. O segmento superior calcula-se subtraindo este valor altura da criana.

Ao longo da vida, a relao segmento superior/segmento inferior varia:

Nascimento: 1.7

3 Anos: 1.33

5 Anos: 1.17

10 Anos: 1.0

10 Anos: < 1.0

A envergadura consiste na distncia entre as pontas dos dedos do meio, com

os braos elevados numa direco horizontal.

O seu valor poder ser at 10 cm superior ao valor da estatura.

2) As Tabelas de Percentis

A avaliao do crescimento deve ser sempre projectada num contexto

comunitrio e social, ou seja, importa conhecer o padro do grupo em que a criana se

insere. Deste modo, torna-se relevante explicar a existncia e a finalidade das tabelas

de percentis:

Os traados que encontramos no Boletim de Sade Infanto-Juvenil so

desenhados com base em dados estatsticos recolhidos de muitos milhares de

crianas, em vrios pases. O registo da evoluo do peso e estatura de todas essas

crianas d origem a curvas de crescimento, que permitem analisar o padro de

crescimento de cada criana, muitas vezes insuficientemente interpretado pelos pais.

As tabelas de percentis so uma ferramenta que serve essencialmente dois

propsitos:

- Mostrar o padro de crescimento populacional

- Determinar o padro de crescimento individual

O padro de crescimento populacional construdo com base num

determinado perfil de grupo. A ttulo de exemplo, as tabelas de percentis da

Organizao Mundial de Sade (OMS) foram construdas com base num estudo que

incluiu 8440 recm-nascidos e crianas saudveis de diferentes contextos tnicos e

culturais (Brasil, Gana, ndia, Noruega, Oman e Estados Unidos da Amrica). A

populao do estudo foi escolhida na tentativa de representar um padro de

crescimento de crianas a viver em condies de nutrio e acesso sade ideais.

Contudo, nem todas as tabelas se adaptam a todas as crianas. Existem

tabelas especficas, nomeadamente para os bbs prematuros ou para as crianas

com algumas doenas congnitas.

O padro de crescimento individual identificado aps avaliaes seriadas. O

conhecimento desse padro, ou da velocidade de crescimento ajuda o mdico a

detectar situaes de doena. Contudo, uma criana que cresa no percentil 5 (P5)

ser to normal como uma criana que cresce no percentil 95 (P95). Desta forma,

possvel introduzir o conceito de canal de crescimento, ou seja, o padro individual de

crescimento da criana, o qual poder estimar a estatura alvo (ver adiante).

3) A estatura alvo

As tabelas de percentis acima descritas podero igualmente servir para estimar

a estatura alvo de uma criana, a partir do momento em que ela estabiliza no seu

canal de crescimento. Este mtodo baseia-se no paralelismo das curvas de

crescimento, sendo que a extrapolao directa para a idade em que cessar o

crescimento permite encontrar um valor aproximado para a estatura alvo.

Existem tambm outros mtodos de clculo que nos ajudam a encontrar a

estatura alvo geneticamente prevista:

(Alt me + 13 + alt pai) : 2

Mdia

+ 6,5 cm

(Alt me + alt pai - 13) : 2

Mdia

- 6,5 cm

O clculo acima apresentado apresenta um desvio padro aproximado de +/-

6.5 cm.

4) Progresso estaturo-ponderal

O crescimento da criana pulstil e sazonal, por outras palavras, significa

que poder no objectivar qualquer crescimento na criana durante algumas

semanas ou meses e, depois, num curto espao de tempo, verificar um

momento de crescimento acelerado.

Existem algumas regras gerais que podero servir como linhas de

orientao:

Progresso estatural:

O comprimento mdio de um recm-nascido de 50 cm.

Aos 24-30 meses de idade atingida metade da estatura final.

Progresso Ponderal:

O peso ao nascer habitualmente diminui nos primeiros dias de vida,

pelo que ser normal o seu beb perder algum peso aps o nascimento.

O peso ao nascer dever duplicar aos 4 meses e triplicar aos 12 meses

de idade.

Abaixo possvel ver a progresso estaturo-ponderal mais habitual:

importante lembrar aos pais que relativamente frequente verificar-se uma

mudana no ritmo de crescimento (e consequente mudana do canal de crescimento)

nos primeiros dois anos de vida ajuste ao potencial gentico ou o chamado catch up

ou catch down.

Assim, e de uma forma gradual e proporcional, cerca de um tero de todas as

crianas cruzar 1 percentil major, um quarto cruzar 2 percentis major e um dcimo

cruzar 3 percentis major. Por outras palavras, muito habitual encontrarmos crianas

que mudam de canal de crescimento. Esta mudana decorre essencialmente nos

primeiros 24 meses de vida, com tendncia para estabilizar da em diante at

puberdade.

E se o meu filho for diferente de tudo o que j foi dito?

possvel que nem sempre se verifiquem as regras gerais de orientao

acima apresentadas. A constatao desse facto jamais dever ser interpretada de

forma pragmtica, uma vez que no existem duas crianas iguais.

importante relembrar que a observao das crianas por parte de um mdico

treinado constitui um momento muito rico, quer em termos de informao quer em

comunicao com os pais e no poder ser substitudo pela consulta da informao

aqui apresentada.

A avaliao clnica permitir distinguir variantes do normal, como so por

exemplo o atraso constitucional do crescimento ou a baixa estatura familiar e detectar

outras situaes que necessitem de tratamento ou orientao especfica.

Como devo actuar para permitir o crescimento desejvel do meu filho?

muito importante um aporte nutricional rigoroso e equilibrado, bem como uma

monitorizao mdica regular, de acordo com o Programa Nacional de Sade Infantil.

to ou mais importante procurar cultivar um ambiente de amor na habitao

da criana, por forma a que esta possa usufruir da confiana, serenidade e paz

necessrias a um adequado desenvolvimento psico-motor.

Ser oportuno ainda acrescentar a importncia do respeito e tolerncia pela

diferena e variabilidade inter-individual. Esta variabilidade no s um indicador de

sade mas tambm de capacidade de sobrevivncia e sucesso no meio que nos

rodeia. Charles Darwin em boa hora da Humanidade chamou-nos a ateno para este

facto, ao qual no deveremos ser indiferentes para descobrir a sade de ser

diferente!

Bibliografia:

LIVROS:

Fontoura, Manuel. Como que se cresce?

Nelsons Textbook of Pediatrics, 18th Ed.

William W. Hay. Current Diagnosis and Treatment in Pediatrics,

18th Ed.

Oskis Pediatrics Principles & Practice, 4th Ed.

Atlas of Pediatric Physical Diagnosis, 5th Ed.

Palminha, J. Martins. Orientao Diagnstica em Pediatria

INTERNET:

Normal growth patterns in infants and prepubertal children

Normal puberty

Diagnostic approach to short stature

Causes of short stature

Uptodate.com

eMedicine.com

Pedro Dias

Mdico Interno de Medicina Geral e Familiar