Desenvolvimento Comunitário
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO 2
1. INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA 5
1.1. ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA E O SERVIÇO SOCIAL DE COMUNIDADES 51.2. VALORES/PRINCÍPIOS DA INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA 7
2. DIAGNÓSTICO/AVALIAÇÃO DE NECESSIDADES 9
2.1. IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA E DA PROBLEMÁTICA 102.2. ANÁLISE SWOT (MATOSINHOS, GONDOMAR PORTO) 12
3. ENQUADRAMENTO TEÓRICO 14
4. PROJECTO DE INTERVENÇÃO 17
4.1. OBJECTIVOS DO PROJECTO DE INTERVENÇÃO 184.2. PLANO DE ACTIVIDADES 184.2.1. CAMPANHA DE SENSIBILIZAÇÃO: 184.2.2. ACÇÕES DE FORMAÇÃO NA ÁREA DAS COMPETÊNCIAS PARENTAIS: 194.2.3. ACÇÕES DE FORMAÇÃO NA ÁREA LÚDICA E CRIATIVA: 204.2.4. CRIAÇÃO DE GRUPOS DE TRABALHO VOLUNTÁRIO: 21
CONCLUSÃO 22
Bibliografia 23
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Introdução
No âmbito da disciplina de Desenvolvimento Comunitário, do quarto ano do
curso de Serviço Social, foi-nos solicitada a elaboração de um projecto de intervenção
comunitária, dirigido a determinados objectivos e com um intuito de adquirir resultados
pré estabelecidos tendo em conta uma problemática comum nos nossos locais de
estágio.
Neste sentido, procuramos introduzir alguns conceitos inerentes à problemática
da toxicodependência bem como ao conceito de desenvolvimento comunitário para que
assim, teoricamente, possa ser feito um enquadramento do que posteriormente iremos
apresentar.
O conceito de comunidade é muito vasto e difere relativamente ao contexto em
que se insere. Desde pequenos agregados rurais ou urbanos, passando por grupos
profissionais, organizações, países, regiões ou mesmo o mundo como um todo, tudo
pode ser chamado de comunidade. No entanto, aquilo que se dá por nome de
comunidade tem uma característica fundamental: a presença de uma semelhança que
confere uma identidade ao sistema designado de tal forma e que determina uma
fronteira entre os elementos que lhe pertencem e os que lhe são alheios.
Ander-Egg (1980:45) define comunidade como «una agrupación organizada de
personas que se perciben como unidad social, cuyos elementos participan de algun
rasgo, interés, elemento, objectivo o función común, con conciencia de pertenencia,
situados en una determinada área geográfica en la cual la pluralidad de personas
interacciona más intensamente entre si qui en otro contexto», é portanto perceptível que
numa comunidade exista um conjunto de interesses vitais comuns (o que explica a
consciência de pertença) e ainda uma proximidade geográfica, permitindo assim uma
estrutura mais sólida dos seus interesses.
Conhecer uma comunidade, a sua história, os seus elementos, a sua estrutura, a
sua organização social, são requisitos fundamentais para actuar, estimulando mudanças
sociais e culturais. Para isso é preciso primeiro conhecer a comunidade, para que depois
se possam diagnosticar os problemas ali existentes bem como planear o que se pretende
“levar a cabo” e finalmente executar o projecto, devendo-se no entanto acompanhar o
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desenvolvimento do projecto para possibilitar os necessários reajustamentos e a
avaliação dos resultados.
A oportunidade de estagiar num Centro de Atendimento a Toxicodependentes
tornou-se um marco fundamental para o nosso crescimento pessoal, na medida em que
potenciou uma maior capacidade de reflexão e sentido crítico, bem como a consciência
do importante trabalho que é realizado no combate às drogas e toxicodependências,
fazendo dos que dirigem o seu trabalho nesta área como que “agentes” promotores de
mudança em situações de sofrimento humano tão complexas quanto variadas.
Simultaneamente, permitiu a utilização do método de investigação – Observação
participante, fonte crucial para a avaliação de necessidades de intervenção e, daí, uma
das bases do diagnóstico efectuado.
Por vezes, dentro de uma comunidade, existem desajustamentos, traduzidos em
problemas sociais, que uma vez não trabalhados para que se não generalizem, podem
conduzir a um fraco desenvolvimento harmonioso dado por conseguinte lugar a uma
fraca organização social.
Em termos de organização o presente trabalho está estruturado em quatro partes
distintas. A primeira parte diz respeito à Intervenção Comunitária. Para tal, abordamos a
Organização Comunitária e o Serviço de Comunidades que nos aponta para esta
modalidade de intervenção no âmbito do Serviço Social e a sua pertinência na resolução
e conhecimento dos problemas e problemáticas de um determinado contexto. Foram
também salientados nesta primeira parte os valores e princípios que balizam qualquer
intervenção comunitária e que pretendemos respeitar no nosso projecto de intervenção.
A segunda parte deste trabalho diz respeito ao Diagnóstico e Avaliação de
necessidades. Com este ponto pretende-se dar a Identificar o Problema e a Problemática
que orienta a nossa intervenção, a saber, A vinculação nas famílias com pais com um
percurso de toxicodependência.
Na terceira parte, efectuamos o Enquadramento Teórico relativo ao Problema
identificado, onde abordamos as teorias mais relevantes no que toca à questão da
Vinculação.
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Para finalizar, iremos descrever o Projecto de Intervenção propriamente dito.
Para tal, são identificados os objectivos do mesmo. Como estes orientam o nosso Plano
de Actividades importa agora destacá-los para uma melhor compreensão:
Sensibilização das famílias sinalizadas (família nuclear e família alargada) para a
questão da vinculação;
Articulação entre os técnicos responsáveis pelo acompanhamento das famílias –
assistentes sociais, psicólogos, professores;
Potenciar o desenvolvimento de competências de liderança e parentalidade dos
pais com um percurso de toxicodependência;
Dotar as crianças oriundas de famílias com pais (mãe e/ou pai) com um percurso
de toxicodependência de competências sociais e relacionais;
Desenvolvimento de redes de relacionamento inter-classistas;
Desenvolver a rede social dos diferentes concelhos (Porto, Gondomar,
Matosinhos), tendo em vista a construção de novas parcerias locais.
Desenvolver parcerias entre os três CAT’s sinalizados – CAT da Boavista; CAT
de Gondomar e CAT de Matosinhos.
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1. Intervenção Comunitária
1.1. Organização Comunitária e o Serviço Social de Comunidades
No sentido de voltar a salientar a importância do desenvolvimento comunitário,
recorremos a um relatório da ONU de 1956 uma vez que descreve muito bem qual era a
ideia formulada naquela altura acerca do desenvolvimento comunitário. Percebemos
portanto que “entrou na linguagem internacional para designar o conjunto de
procedimentos por meio dos quais os habitantes de um país unem os seus esforços aos
dos poderes públicos com a finalidade de melhorar a situação económica, social e
cultural das colectividades, de associar estas colectividades à vida da nação e de
permitir-lhes contribuir sem reserva ao progresso do país.”(Robertis, 1994: 10), mas
estes procedimentos implicariam que os habitantes participassem activamente nos
esforços empreendidos para assim melhorarem o seu nível de vida. Eram iniciativas
próprias e os esforços pessoais e a ajuda mútua, proporcionavam serviços técnicos e
humanos.
Assim, o desenvolvimento comunitário é também uma forma de entender o
desenvolvimento local e, para que a ele se chegue, é necessária a educação e a
participação activa dos indivíduos aplicada a um determinado território e a um colectivo
humano concreto.
Sendo ‘comunidade’ um conceito com uma vastidão de critérios que a definem,
salientamos neste conceito, como supra foi já dito, o facto de haver a existência de um
grupo organizado de pessoas que vivem num determinado espaço. Contudo, falar de
território para entender esta noção é reduzir o conceito a um estreito eixo daquilo que
ele próprio abarca, uma vez que a comunidade está também ela definida pelos seus
recursos e pelas suas interacções sociais desenvolvidas entre os seus membros. Além do
mais, pode ser pensada como um conjunto de necessidades e interesses comuns, ainda
que estes não possam ser levados a um extremo esquecendo a heterogeneidade interna.
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Comunidade implica também um sentimento de colectividade e é este
sentimento que vai definir a identidade do grupo, mediante as identificações
estabelecidas.
O termo organização, por sua vez indica-nos que existe uma articulação de
meios ou recursos (materiais e humanos) que são susceptíveis de criar condições a um
determinado conjunto social para que se transforme numa comunidade.
Assim, é necessário que sejam identificados os recursos existentes para que se
estabeleçam prioridades relativamente à articulação desses mesmos recursos.
O Serviço Social, sendo uma profissão inserida na divisão social e técnica do
trabalho, realiza a sua acção profissional no âmbito de políticas sócio-assistenciais, na
esfera pública ou privada. E neste âmbito, desenvolve tanto actividades na abordagem
directa da população - que procura as instituições e o trabalho dos profissionais -
(entrevistas, visitas domiciliárias, orientações, encaminhamentos, reuniões, trabalho
com indivíduos, famílias, grupos, comunidades, etc.), como também actua na pesquisa,
administração, planeamento, supervisão, consultoria e gestão de políticas, programas e
serviços sociais. Ou seja, são diversas as instituições públicas e privadas nas quais a o
Serviço Social se mostra necessário, assim como as temáticas que aborda e que variam
de acordo com o lugar que o profissional ocupa no mercado de trabalho.
Quando falamos em serviço social de comunidades referimo-nos a uma
estratégia macrossocial do Serviço Social, que visa ajudar uma dada população a tomar
consciência das suas necessidades e recursos bem como a assumir uma posição critica
sobre a sua realidade e ainda a organizar dinamicamente os seus recursos para responder
posteriormente às suas necessidades.
Neste processo, o assistente social deve assumir-se como recurso da comunidade
e não como um substituto dela, ou seja, deve ajudar a responder a situações de carência,
dinamizando processos que criem condições para o desenvolvimento de sistemas de
liderança eficazes e participados, para a coesão da comunidade e ainda para a integração
desta no meio que a rodeia.
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1.2. Valores/Princípios da Intervenção Comunitária
A intervenção comunitária diz respeito às relações do indivíduo com a
comunidade/sociedade. Um dos objectivos preconizados é procurar compreender os
fenómenos e a qualidade de vida dos indivíduos, comunidades e sociedades. Desta
forma, o conhecimento torna-se válido para a comunidade. Os valores da Intervenção
Comunitária, enquadram-se nesta perspectiva e visam o bem-estar individual sempre
numa lógica de comunidade. Também são valores da Intervenção Comunitária o sentido
de justiça, a participação dos cidadãos, o respeito pela diversidade humana. Por fim, um
dos valores que é extremamente relevante no que toca a qualquer projecto de
intervenção consiste na colaboração e rentabilização das forças da comunidade. De
facto, a Intervenção Comunitária emerge com o objectivo de intervir ao nível dos
processos psicológicos que ligam os sistemas sociais com o comportamento do
indivíduo em interacção complexa. Quando estamos perante um programa de
intervenção comunitária, o objectivo é atingir mudanças de segunda ordem. Ou seja,
não se pretende que as mudanças decorram a um nível individual, mas ao nível dos
grupos, comunidade – alteração de pressupostos implícitos e explícitos. Para tal, é
necessário que se tenham em conta vários níveis de análise ecológica.
Bronfenbrenner (1981) definiu os estes níveis de análise ecológica com uma
metáfora, a saber, “As bonecas russas”. Nesta situação cada boneca, quando aberta,
revela uma outra mais pequena no seu interior. Tal como o indivíduo existe dentro das
camadas de relações sociais: família, amigos, organizações, vizinhança, culturas,
sociedades. Daí, os níveis de análise ecológica propostos pelo autor já referido foram os
seguintes:
- Indivíduo: diferenças de personalidade e processos internos;
- Microssistemas: são ambientes em que a pessoa se envolve directamente, em que
interage pessoalmente. Neste o indivíduo cria relações de interdependência e assume
diferentes papéis sociais pelo desempenho de tarefas partilhadas;
- Organizações: consistem num conjunto de microssistemas;
- Comunidades: conjunto de organizações e microssistemas;
- Macrossistema: sociedades e culturas, como instituições governamentais e
económicas, para além da comunidade local.
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Desta maneira, o projecto de intervenção que nos propomos desenvolver
pretende ter em conta os valores e princípios já mencionados que balizam a intervenção
comunitária. Conforme iremos ver mais à frente no capítulo relativo ao projecto
propriamente dito pretendemos efectuar a intervenção ao nível do indivíduo, do
microssistema da família e da comunidade. Estes serão, portanto os três níveis de
análise ecológica privilegiados neste projecto, tendo em conta o diagnóstico prévio
efectuado.
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2. Diagnóstico/Avaliação de Necessidades
A importância de um diagnóstico está patente no facto deste colocar na
centralidade o fenómeno organizacional que é abordado em dois principais eixos: por
um lado, identificar os problemas, ou seja, ter um objecto de estudo e por outro lado,
identificar as potencialidades, isto é, ter também um objecto de intervenção. É seu
objectivo conhecer a Instituição para implementar algumas intervenções que contrariem
os problemas verificados.
A avaliação de necessidades foi efectuada tendo em conta dados adquiridos através da
observação participante junto do CAT da Boavista, do CAT de Matosinhos e do CAT de
Gondomar. O Diagnóstico foi também realizado através do recurso a várias teorias de
referência para explicar os problemas sociais; que apontam os caminhos que a acção
deve percorrer para colmatar o conjunto de factores que estão na origem dos diferentes
problemas sociais e a análise das situações sociais deverá orientar-se numa perspectiva
de equacionar respostas e soluções práticas (operacionais) para os problemas e
necessidades concretas.
Assim não deve apenas salientar um só conjunto de hipóteses teóricas como
também de hipóteses operacionais que constituem um suporte para a acção, isto é, que
permitem orientar o investigador social no combate aos problemas concretos. Estas são
uma estrutura de hipóteses que explicitam as condições que devem ser criadas para
atenuar os factores que estão na génese dos problemas concretos, por um lado, e os
efeitos prováveis das acções que visam atingi-los, por outro.
As hipóteses operacionais constituem uma condição essencial para a
transformação das situações sociais pois fornecem indicações acerca dos modos de agir
mais adequados à resolução dos problemas a tratar.
Assim, o diagnóstico deve permitir analisar os indivíduo nos seus diferentes
contextos de socialização nomeadamente a família, a escola, o trabalho, o habitat, o
grupo de pares e esta análise deve ter em conta a posição dos indivíduos no sistema de
oportunidades; a interacção dos mesmos nos diversos contextos de socialização;
qual(ais) o(s) impacto(s) dos constrangimentos sobre o indivíduo, inerentes à sua
posição social, na estruturação da sua personalidade.
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2.1. Identificação do Problema e da Problemática
A identificação de problemas, diz respeito à distinção entre as manifestações
evidentes e os factores causais dessas manifestações. Ou seja, achamos relevante
reflectir acerca do que são problemas sociais.
Para Pais (1996), “os problemas sociais, incutidos de um significado social
(porque se definem em função de um conjunto de valores sociais), ao passarem para o
método científico, adquirem um significado sociológico, isto é, reflectem valores
sociológicos relativos às perspectivas teóricas e metodológicas seguidas” (In, Carmo,
Hermano; 2001:27). Assim, para que um problema social possa ser considerado um
problema sociológico deve ter as condições de regularidade, uniformidade,
impessoalidade e repetição (Gonçalves; 1969).
Neste sentido, a problematização sociológica dos problemas sociais implica a
desconstrução destes, o desmantelar do significado social, de maneira a criar um
significado de acordo com o discurso científico (Quivy, Campenhoudt; 1992).
Quando falamos em problemáticas, falamos num problema que foi generalizado,
ou seja, numa abordagem ou numa perspectiva teórica que foi considerada a mais
adequada para tratar o problema que nos é pertinente.
Actualmente percebe-se a extensa dimensão da problemática da
toxicodependência, não só pelo crescente número de dependentes bem como pelas
consequências daquela que origina complicações sociais e familiares, levando em
muitos casos, à morte. E os problemas de ressocialização do toxicómano coincidem
normalmente com a dificuldade da sua capacidade em se relacionar consigo mesmo,
com as pessoas e com as normas sociais.
A deterioração física e psicológica do toxicodependente envolve desajustes
sociais que, por sua vez, determinam uma desintegração social entre consumidores e
não consumidores. Neste sentido, passam a existir alterações nas formas de convivência
e como consequência, o conflito e a angustia podem provocar a ruptura dos vínculos
que definem o sistema social, nomeadamente a família.
Para Luís Patrício (1997) “o toxicodependente tem habitualmente relações
menos sadias com a família e com a sociedade”. O autor defende ainda que é nas
famílias onde a comunicação é paradoxal e “silenciosa” que o toxicodependente se pode
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tornar no “problema” que restabelece a comunicação entre as outras pessoas bem como,
em famílias com graves vivências conflituosas, encontrar na droga uma “saída” para
suportar a vivência familiar.
O ser humano, na condição de animal social, precisa de segurança e de cuidados
desde que nasce e a família é o grupo social responsável por estas tarefas.
A sua organização estrutura-se através de papéis e funções que determinam o
comportamento que cada indivíduo tem no grupo. Assim, a organização familiar dá-se a
partir dos papeis de pai, mãe e filho e a vivência destes papeis básicos dá ao indivíduo a
noção de pertença, compromisso e de identidade que será necessária para o seu
desenvolvimento dentro e fora da família.
Além disto, pela legitimidade destes papéis, as regras sociais são transmitidas,
viabilizando um importante processo de socialização. Este processo, vivido
primeiramente dentro da família, é chamado de socialização primária pelos autores
Berger e Luckmann.
Falamos já aqui em família uma vez que a nossa hipótese teórica se prende com
o facto de os padrões de vinculação inseguros (evitantes/ambivalentes) associados à
toxicodependência dos pais potenciam a transmissão inter-geracional de factores de
riscos de exclusão social/toxicodependência uma vez que um dos casos mais frequentes
com que nos deparamos era a intergeracionalidade relativamente às dependências.
Esta hipótese teórica surgiu de entre uma série e problemas identificados que
achamos pertinente expor:
Pauperização\empobrecimento da população toxicodependente e suas famílias e
dificuldades do acesso ao tratamento e da manutenção do mesmo tendo em
consideração as desestruturantes condições de vida.
As baixas qualificações escolares\profissionais dos sujeitos toxicodependentes, o
que implica um constrangimento na reinserção sócio-profissional.
A progressiva quebra de vínculos afectivos e sociais, a perda de laços familiares
e o consequente isolamento social.
A vivência em espaços desqualificados e psicotrópicos enquanto espaços que
dificultam a manutenção da abstinência.
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A construção de uma identidade negativa, de uma imagem desvalorizada
sustentada num baixo autoconceito, numa baixa auto-estima e num baixo conceito de
auto-eficácia.
As disfuncionalidades familiares resultantes da existência de um familiar
toxicodependente.
2.2. Análise SWOT (Matosinhos, Gondomar Porto)
Ambiente Interno
Forças
- Existência de instituições com consultas e
tratamentos gratuitos;
- Interesse pelas questões sociais;
- Existência de recursos humanos;
- Dinamização da Rede Social;
- Serviços para os utentes nas diferentes
áreas (psicologia, psiquiatria, serviço
social), consoante as suas necessidades;
- Diferentes tipos de tratamento (de
substituição e ‘livres de drogas’)
- Oferta aos utentes de métodos
contraceptivos (preservativos) como meio
de prevenção de doenças sexualmente
Fraquezas
- Insuficiência de equipamentos de apoio à
família:
• Apoio social e psicológico principalmente
aos filhos de toxicodependentes
- Excesso de habitação social fechada sobre
si própria e desfazada do resto da
comunidade;
- Insuficiência de postos de trabalho;
- Pouca promoção das actividades
desenvolvidas;
- Estigma em relação ao CAT.
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transmissíveis;
- Equipa de trabalho dinâmica;
- Equipas de rua.
Ambiente Externo
Oportunidades
- Apresentação de candidaturas a novos
projectos;
- Maior formação profissional;
- Parcerias com outras instituições;
- Concelhos com uma elevada taxa de
incidência no problema da
toxicodependência;
- Boa localização geográfica, uma vez que
o acesso a estes CAT’s é facilitado por
uma diversa rede de transportes públicos
(STCP, Metro, Resende).
Ameaças
- Famílias disfuncionais (que não apoiam os
toxicodependentes);
- Influências sociais (grupos de pares);
- Tráfico de medicação;
- Aparecimento de novas drogas (“drogas da
moda”);
- Facilidade de obtenção de drogas;
- Falta de segurança no trabalho (a nível
contratual);
- Reprodução do ciclo da pobreza.
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3. Enquadramento teórico
A hipótese teórica que baliza este trabalho no âmbito da disciplina de
Desenvolvimento Comunitário prende-se com:
Os padrões de vinculação inseguros (evitantes/ambivalentes) associados à
toxicodependência dos pais potenciam a transmissão inter-geracional de factores de
riscos de exclusão social/toxicodependência.
A nossa hipótese teórica vai ao encontro do estado de arte neste domínio:
Toxicodependência e vinculação. Como tal, em seguida apresentamos os autores de
referência que consideramos mais relevantes para validar a nossa hipótese teórica.
“De um ponto de vista relacional, não é a hereditariedade que organiza a
filiação, mas a paternidade. Sem comportamentos maternais e parentais,
independentemente da genética ou laços de sangue, talvez os pais nunca sejam pais de
verdade”( Eduardo Sá, 1995)
A toxicodependência enquanto fenómeno intra e inter pessoal influência toda a
vida do indivíduo, nomeadamente a sua vida familiar. O estilo de vida organizado
segundo a procura compulsiva da substância de consumo faz com que estes indivíduos
vivam num estado de ansiedade e instabilidade na procura da próxima dose,
negligenciando todo o resto, nomeadamente as necessidades de outros.
Isto alerta-nos para o facto que o estilo de vida associado à toxicodependência
pode não ser congruente com a exigência de funções parentais na pequena infância,
pondo em causa todo o futuro de um ser humano nomeadamente nas suas vinculações
futuras.
Bowlby (1969) define vinculação como a propensão dos seres humanos para
estabelecerem laços afectivos fortes com determinadas pessoas, tendo como
consequência ficar emocionalmente afectado quando ocorrem separações ou perdas
inesperadas e/ou indesejadas. Os padrões de vinculação podem ser «seguros» ou
«inseguros», e este ultimo, por sua vez, pode ser evitante ou ambivalente
A literatura sobre a vinculação entre pais-filhos tem vindo consistentemente a
alertar sobre a importância deste factor para o desenvolvimento saudável ou
psicopatológico do indivíduo nomeadamente ao nível da toxicodependência.
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Gonçalves (2002), refere que indivíduos expostos a factores de riscos, como por
exemplo a toxicodependência dos pais, manifestam um padrão inseguro de vinculação
(evitante/ambivalente). Por um lado querem aproximar-se deles, pois a sua
sobrevivência depende deles, por outro lado querem afastar-se para não serem alvo de
experiências traumatizantes repetidas. Torres (2003) afirma que o abuso de substâncias
tóxicas está directamente associados a défices no sistema de vinculação. Tal sucede
quando os estilos de vinculação do sujeito com os pais estão marcados pela falta de
confiança, comunicação, segurança.
Existem portanto vários autores que afirmam uma relação clara entre a qualidade
da parentalidade e o uso de drogas. Sendo que a vinculação insegura na infância é factor
de risco de exclusão e toxicodependência na idade adulta. Estes indivíduos com
experiências negativas na infância, têm uma maior probabilidade de adoptarem na idade
adulta os comportamentos de que foram vitimas na infância, criando assim padrões de
transmissão geracional.
Consensual entre vários autores parece também ser o facto de modelos
deficientes de papéis parentais, capacidade de coping parental disfuncional e/ou o abuso
de drogas por parte dos pais, aumentarem a probabilidade de ocorrência de
comportamentos iguais por parte dos filhos, podendo levar à formação de modelos
familiares patológicos repetitivos, através de gerações. O estilo de vinculação de cada
pessoa marca o modo como este constrói e dinamiza as suas relações com os outros.
Assim, a relação que os pais estabelecem com o seu filho está dependente do modo
como estes representam a sua relação passada com os seus pais e traduz-se no tipo e na
qualidade de cuidados que estes proporcionam à criança.
Consideramos assim de importância extrema uma intervenção ao nível da
melhoria de cuidados globais nestas crianças cujos pais apresentam um quadro de
toxicodependência, para quebrar este ciclo inter-geracional de
exclusão/toxicodependência, dado que o tempo de recuperação dos pais
toxicodependentes não é compatível com o crescimento de uma criança.
Através da pesquisa efectuada chegamos à conclusão que os padrões de
vinculação inseguros (evitantes/ambivalentes) associados à toxicodependência dos pais
potenciam a transmissão inter-geracional de factores de riscos de exclusão
social/toxicodependência. Desta forma, em termos operacionais consideramos que é
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importante actuar ao nível da família. Neste âmbito definimos duas hipóteses
operacionais, a saber:
Promoção da alteração das dinâmicas familiares de forma a tornar o ambiente
familiar num espaço de construção de relações estáveis pautadas por uma
afectividade positiva.
Se, no entanto, através do contacto com estas famílias se verificar que o
ambiente familiar está a afectar o bem-estar presente e futuro das crianças e apresenta
poucas hipóteses de melhorar, apresentamos a segunda hipótese operacional:
Promoção de um ambiente alternativo ao familiar, capaz de facilitar às
crianças padrões de vinculação seguros assim como o desenvolvimento de
competências necessárias para uma vida saudável e feliz.
Desta forma, consideramos que contemplamos as situações possíveis de
intervenção. Contudo, damos primazia à implementação da 1ª hipótese operacional,
uma vez que os laços criados têm a possibilidade de serem potenciados ao nível
familiar. Como opção alternativa, temos a 2ª hipótese operacional, pois, por vezes a
intervenção surge num contexto de tal forma problemático que se torna impossível a
promoção dos laços familiares. Sendo assim, é necessário criar um ambiente alternativo
para o próprio bem estar físico, psicológico e social das crianças envolvidas.
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4. Projecto de Intervenção
A etapa final deste trabalho é dedicada à descrição do nosso projecto de
intervenção fundamental para a consubstanciação do diagnóstico e das hipóteses
teóricas e operacionais já apresentadas acima.
Mas primeiro, é fundamental perceber o que é um projecto e como se pode
desenvolver. Segundo Gaulejac et al (1995), um projecto é um conjunto articulado de
transformações a desenvolver num determinado espaço e tempo, em função de
objectivos claros e concisos e de acordo com os meios existentes e os métodos pré-
definidos. Assim, a elaboração de um projecto de desenvolvimento conduz à produção
de novas formas de pensar e de fazer e de novos modelos de referência, o que pressupõe
uma reflexão sistemática sobre as práticas e os princípios que as constituem, a sua
rotinização e os seus limites, a fim de idear outras orientações estratégicas.
É neste seguimento, e após a análise da situação social em causa, a
toxicodependência, que surge o projecto propriamente dito. Apoiando-se nos resultados
do diagnóstico, o projecto refere-se ao desmontar das hipóteses teóricas num conjunto
de medidas e acções, coordenadas e coerentes, capazes de as fazer cumprir. Ou seja,
pretende-se que este projecto venha colmatar as lacunas identificadas ao nível das
relações familiares em famílias com pais com um percurso de toxicodependência.
Como já foi referido anteriormente, o nosso projecto visa a intervenção ao nível
das crianças e adolescentes filhos de toxicodependentes em tratamento nos CAT’s, no
sentido da prevenção de situações de risco físico e psicológico, principalmente em casos
de negligência, maus-tratos físicos e/ou psicológicos e o fracasso de funções
asseguradoras de protecção e gratificação maturativa.
Neste sentido, pretendemos desenvolver um programa que integre estas diferentes
valências: intervenção comunitária (colaboração e articulação entre os diferentes
CAT’s, com a Comissão de Protecção de Menores, Segurança Social, escolas e
infantários, I.R.S., Centros de Saúde e Hospitais); avaliação e diagnóstico psicossocial;
acompanhamento psicoterapêutico em rede; intervenção pontual; consulta de apoio
psicológico a crianças e adolescentes; desenvolvimento de competências parentais;
intervenção sistémica; dinâmica de grupos; intervenção multidisciplinar (assistente
social, psicólogo, médico pedopsiquiatra, terapeuta familiar, professor ou educador).
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4.1. Objectivos do Projecto de Intervenção
Este projecto de intervenção comunitária pretende alcançar os seguintes
objectivos, tendo em conta as hipóteses operacionais previamente estipuladas:
Sensibilização das famílias sinalizadas (família nuclear e família alargada) para a
questão da vinculação;
Articulação entre os técnicos responsáveis pelo acompanhamento das famílias –
assistentes sociais, psicólogos, professores;
Potenciar o desenvolvimento de competências de liderança e parentalidade dos
pais com um percurso de toxicodependência;
Dotar as crianças oriundas de famílias com pais (mãe e/ou pai) com um percurso
de toxicodependência de competências sociais e relacionais;
Desenvolvimento de redes de relacionamento inter-classistas;
Desenvolver a rede social dos diferentes concelhos (Porto, Gondomar,
Matosinhos), tendo em vista a construção de novas parcerias locais.
Desenvolver parcerias entre os três CAT’s sinalizados – CAT da Boavista; CAT
de Gondomar e CAT de Matosinhos.
4.2. Plano de Actividades
4.2.1. Campanha de sensibilização:
Após a divulgação em rede do projecto, através do contacto directo (no âmbito de
um acompanhamento individual já existente), de panfletos informativos e claros, e da
transmissão da informação pelos rádios e jornais locais, num intenso trabalho de
parceria e articulação entre as diferentes instituições sociais dos concelhos, proceder-se-
á a uma campanha de sensibilização e intervenção primária junto da comunidade. O
trabalho em rede dos assistentes sociais, psicólogos e professores permitirá a sinalização
de famílias de risco no seio da comunidade.
Posteriormente, o público-alvo será convocado pela Junta de Freguesia, ou pela
assistente social ou psicóloga que, eventualmente, poderá já acompanhar a família no
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âmbito de outras problemáticas, ou pelo professor que segue a criança ou adolescente,
sendo delineado nesse momento a equipa terapêutica que assistirá a família.
A campanha será desdobrada entre acções de sensibilização, debates,
conferências, sessões de esclarecimento e palestras, patrocinados pelas diversas Juntas
de Freguesias dos três Concelhos. Organizada e dinamizada pelos técnicos de
intervenção especializados na área das toxicodependências, e através de uma linguagem
clara e acessível, esta campanha deverá consciencializar a comunidade para o papel
relevante que tem para a protecção das crianças e jovens, apoiando-os quando detecta
que estes estejam expostos a determinadas fragilidades, e abordar temas como: os
comportamentos de risco, nomeadamente a toxicodependência, a importância da família
e de uma vinculação segura na formação da identidade, o insucesso escolar, o papel da
escola na formação pessoal e social dos indivíduos, os comportamentos violentos e anti-
sociais, a pouca resistência das crianças e jovens à pressão do grupo de pares e
frequência de grupos juvenis onde existe abuso de álcool e outras drogas, entre outros.
Desta forma, serão desenvolvidos os objectivos, já referidos anteriormente:
sensibilização das famílias sinalizadas para a questão da vinculação; articulação entre os
técnicos responsáveis pelo acompanhamento das famílias; desenvolvimento de redes de
relacionamento inter-classistas; ampliação da rede social dos diferentes concelhos tendo
em vista a construção de novas parcerias locais.
4.2.2. Acções de formação na área das competências parentais:
Com a finalidade de prevenir futuros problemas de toxicodependência nestas
famílias, seria importante a realização de acções de formação que visassem sobretudo a
não manutenção de hábitos e estilos de vida prejudiciais à saúde, por segmentos
importantes da população destes Concelhos.
Estas acções de formação, onde famílias toxicodependentes podem (re)aprender
hábitos de vida mais saudáveis ao nível da higiene pessoal e habitacional, das rotinas, da
saúde e da alimentação, e seguir comportamentos de segurança para com as crianças,
relevando a sua importância ao nível pessoal e social.
Assim, poderão ser feitas campanhas de sensibilização abertas à comunidade onde
os próprios toxicodependentes dêem o seu testemunho real do caminho percorrido até
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ali e de que forma o consumo de substâncias ilícitas afectou a sua vida familiar,
nomeadamente com os filhos.
Com a finalidade de potenciar o desenvolvimento de competências de liderança e
parentalidade dos pais com um percurso de toxicodependência, diversas formações
serão dinamizadas pelo terapeuta familiar ou assistente social, em seio de dinâmica de
grupo1 (grupo de pais e grupo de pais e filhos), nas diferentes instituições que
constituem a rede social, como o CAT, a Junta de Freguesia ou a escola dos filhos
(através da Associação de Pais).
A parceria com as escolas e as Juntas de Freguesia vai permitir a criação de
actividades recreativas que juntem pais e filhos numa relação estreita de partilha e
cumplicidade. Sob o intermédio dos assistentes sociais e psicólogos e recorrendo aos
recursos materiais e aos espaços cedidos pelas autarquias, será estimulada a participação
nas seguintes actividades: a realização de actividades desportivas (ténis, futsal, pesca,
voleibol, etc) entre pais e filhos é uma mais valia no sentido de promover a interacção e
comunicação entre os mesmos. Além disso, são desportos abertos à comunidade em
geral, podendo realizar-se torneios cuja entrada terá um preço simbólico que reverterá
no sentido de criar novas actividades de lazer. Estas actividades podem passar por
passeios e acampamentos entre essas famílias. Através destes passeios recreativos,
sensibilizam-se os pais para a importância do sentido de responsabilidade dos filhos e
ainda se estimula a partilha de novas experiências bem como a promoção do convívio
intergeracional.
4.2.3. Acções de formação na área lúdica e criativa:
Estas acções de formação, mediadas por um assistente social e um profissional da
área em questão, passam por levar as famílias até ao seio da comunidade e agregar
jovens com condições de vida semelhantes para que aprendam a lidar com a sua
realidade e desenvolvam competências sociais.
1 Na formação de grupos, há que se ter em conta que grande parte do êxito ou do fracasso da dinâmica de grupo depende do factor composição, isto é, da disponibilidade e motivação dos participantes para este tipo de actividades e das características pessoais. O técnico deve avaliar as características do sujeito e estimar em que medida a sua presença possa ser estimulante para o grupo, ou em que medida este o poderá fortalecer positivamente. Quanto à constituição, pretende-se um equilíbrio entre a homogeneidade e a heterogeneidade. Acima de tudo, os grupos devem ser equilibrados e representativos, tendo até 15 elementos no máximo, mais o técnico dinamizador.
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Assim temos, acções de formação de expressão dramática que podem ser feitas em
espaços cedidos pelas autarquias, onde as peças realizadas promovam a auto-
consciência e reflictam a realidade vivida, constituindo uma forma de auto-ajuda para
esta população.
Para além destas acções, podem ainda realizar-se ateliers de pintura e artes
plásticas que possibilitem a exteriorização de sentimentos, pensamentos, medos,
angustias e alegrias e que desenvolvam o poder criativo dos diferentes actores. Estes
ateliers culminarão em exposições abertas à comunidade, o que levará a uma
valorização pessoal dos mesmos.
4.2.4. Criação de grupos de trabalho voluntário:
Este tipo de actividades serão responsáveis pela aproximação entre os jovens e a
comunidade, que, na maioria dos casos, lhes seria alheia ou, da qual se encontravam
afastados. Esta “reconciliação” com a comunidade onde estão inseridos desenvolverá,
nestas crianças e adolescentes um sentimento de pertença que dificilmente terão sentido
anteriormente, o que irá contribuir para o aumento dos seus níveis de auto-estima e
auto-eficácia e promoverá o bem-estar pessoal e social.
Assim, serão criados dois grupos em áreas distintas (jardinagem e restauro),
mediados por um assistente social e sob a orientação de técnicos habilitados. Na área da
jardinagem, os jovens terão sobre a sua responsabilidade a manutenção de um jardim\
parque público, ocupando o seu tempo livre no embelezamento do espaço (plantar
novas flores e árvores relacionando este processo de crescimento com o seu). Na área
do restauro, serão criados diferentes grupos consoante os sítios onde serão colocados a
desempenhar as suas tarefas, que consistirão por exemplo, no restauro de uma estação
ferroviária ou de uma igreja, ou até mesmo no trabalho em oficinas onde poderão
restaurar peças de cariz publico.
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Conclusão
A necessidade de implementar projectos de ocupação de tempos livres e
formação de competências parentais e sociais para crianças, jovens e suas famílias é um
desafio constante deste trabalho. Como futuros técnicos de serviço social queremos
promover os direitos de todos os cidadãos e daí a importância de, desde jovens,
estimularmos a sua participação activa em projectos da comunidade que os façam
desenvolver pessoal e socialmente.
Deste modo, pretendemos conseguir a inserção dos jovens e respectivas famílias
dos concelhos de Matosinhos, Gondomar e Porto em actividades de ocupação dos
tempos livres que potenciem a participação destes e dinamizem a construção de novos
projectos comunitários. Pretendemos, por outro lado, estimular comportamentos e
atitudes adequados à sociedade, uma vez que estamos a trabalhar com os jovens
provenientes de meios desfavorecidos, com recursos socialmente desvalorizados.
Assim, pretendemos que os jovens adquiram competências culturais, sociais, e
simbólicas que lhes permitem uma efectiva integração na sociedade (são jovens
inactivos, cuja ociosidade poderá potenciar situações de risco).
Contudo, sabemos que este projecto envolve demasiados custos e a sua
implementação é muito morosa. As formas que encontramos para superar estes custos
são a criação de parcerias com várias instituições dos concelhos.
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