Desenvolvimento Comunitário

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Instituto Superior de Serviço Social do Porto ÍNDICE INTRODUÇÃO 2 1. INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA 5 1.1. ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA E O SERVIÇO SOCIAL DE COMUNIDADES 5 1.2. VALORES/PRINCÍPIOS DA INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA 7 2. DIAGNÓSTICO/AVALIAÇÃO DE NECESSIDADES 9 2.1. IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA E DA PROBLEMÁTICA 10 2.2. ANÁLISE SWOT (MATOSINHOS, GONDOMAR PORTO) 12 3. ENQUADRAMENTO TEÓRICO 14 4. PROJECTO DE INTERVENÇÃO 17 4.1. OBJECTIVOS DO PROJECTO DE INTERVENÇÃO 18 4.2. PLANO DE ACTIVIDADES 18 4.2.1. CAMPANHA DE SENSIBILIZAÇÃO: 18 4.2.2. ACÇÕES DE FORMAÇÃO NA ÁREA DAS COMPETÊNCIAS PARENTAIS: 19 4.2.3. ACÇÕES DE FORMAÇÃO NA ÁREA LÚDICA E CRIATIVA: 20 4.2.4. CRIAÇÃO DE GRUPOS DE TRABALHO VOLUNTÁRIO: 21 CONCLUSÃO 22 Bibliografia 23 Desenvolvimento Comunitário 1

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trabalho sobre o Desenvolvimento Comunitário e o Serviço Social em CPCJ's

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Instituto Superior de Serviço Social do Porto

ÍNDICE

INTRODUÇÃO 2

1. INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA 5

1.1. ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA E O SERVIÇO SOCIAL DE COMUNIDADES 51.2. VALORES/PRINCÍPIOS DA INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA 7

2. DIAGNÓSTICO/AVALIAÇÃO DE NECESSIDADES 9

2.1. IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA E DA PROBLEMÁTICA 102.2. ANÁLISE SWOT (MATOSINHOS, GONDOMAR PORTO) 12

3. ENQUADRAMENTO TEÓRICO 14

4. PROJECTO DE INTERVENÇÃO 17

4.1. OBJECTIVOS DO PROJECTO DE INTERVENÇÃO 184.2. PLANO DE ACTIVIDADES 184.2.1. CAMPANHA DE SENSIBILIZAÇÃO: 184.2.2. ACÇÕES DE FORMAÇÃO NA ÁREA DAS COMPETÊNCIAS PARENTAIS: 194.2.3. ACÇÕES DE FORMAÇÃO NA ÁREA LÚDICA E CRIATIVA: 204.2.4. CRIAÇÃO DE GRUPOS DE TRABALHO VOLUNTÁRIO: 21

CONCLUSÃO 22

Bibliografia 23

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Introdução

No âmbito da disciplina de Desenvolvimento Comunitário, do quarto ano do

curso de Serviço Social, foi-nos solicitada a elaboração de um projecto de intervenção

comunitária, dirigido a determinados objectivos e com um intuito de adquirir resultados

pré estabelecidos tendo em conta uma problemática comum nos nossos locais de

estágio.

Neste sentido, procuramos introduzir alguns conceitos inerentes à problemática

da toxicodependência bem como ao conceito de desenvolvimento comunitário para que

assim, teoricamente, possa ser feito um enquadramento do que posteriormente iremos

apresentar.

O conceito de comunidade é muito vasto e difere relativamente ao contexto em

que se insere. Desde pequenos agregados rurais ou urbanos, passando por grupos

profissionais, organizações, países, regiões ou mesmo o mundo como um todo, tudo

pode ser chamado de comunidade. No entanto, aquilo que se dá por nome de

comunidade tem uma característica fundamental: a presença de uma semelhança que

confere uma identidade ao sistema designado de tal forma e que determina uma

fronteira entre os elementos que lhe pertencem e os que lhe são alheios.

Ander-Egg (1980:45) define comunidade como «una agrupación organizada de

personas que se perciben como unidad social, cuyos elementos participan de algun

rasgo, interés, elemento, objectivo o función común, con conciencia de pertenencia,

situados en una determinada área geográfica en la cual la pluralidad de personas

interacciona más intensamente entre si qui en otro contexto», é portanto perceptível que

numa comunidade exista um conjunto de interesses vitais comuns (o que explica a

consciência de pertença) e ainda uma proximidade geográfica, permitindo assim uma

estrutura mais sólida dos seus interesses.

Conhecer uma comunidade, a sua história, os seus elementos, a sua estrutura, a

sua organização social, são requisitos fundamentais para actuar, estimulando mudanças

sociais e culturais. Para isso é preciso primeiro conhecer a comunidade, para que depois

se possam diagnosticar os problemas ali existentes bem como planear o que se pretende

“levar a cabo” e finalmente executar o projecto, devendo-se no entanto acompanhar o

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desenvolvimento do projecto para possibilitar os necessários reajustamentos e a

avaliação dos resultados.

A oportunidade de estagiar num Centro de Atendimento a Toxicodependentes

tornou-se um marco fundamental para o nosso crescimento pessoal, na medida em que

potenciou uma maior capacidade de reflexão e sentido crítico, bem como a consciência

do importante trabalho que é realizado no combate às drogas e toxicodependências,

fazendo dos que dirigem o seu trabalho nesta área como que “agentes” promotores de

mudança em situações de sofrimento humano tão complexas quanto variadas.

Simultaneamente, permitiu a utilização do método de investigação – Observação

participante, fonte crucial para a avaliação de necessidades de intervenção e, daí, uma

das bases do diagnóstico efectuado.

Por vezes, dentro de uma comunidade, existem desajustamentos, traduzidos em

problemas sociais, que uma vez não trabalhados para que se não generalizem, podem

conduzir a um fraco desenvolvimento harmonioso dado por conseguinte lugar a uma

fraca organização social.

Em termos de organização o presente trabalho está estruturado em quatro partes

distintas. A primeira parte diz respeito à Intervenção Comunitária. Para tal, abordamos a

Organização Comunitária e o Serviço de Comunidades que nos aponta para esta

modalidade de intervenção no âmbito do Serviço Social e a sua pertinência na resolução

e conhecimento dos problemas e problemáticas de um determinado contexto. Foram

também salientados nesta primeira parte os valores e princípios que balizam qualquer

intervenção comunitária e que pretendemos respeitar no nosso projecto de intervenção.

A segunda parte deste trabalho diz respeito ao Diagnóstico e Avaliação de

necessidades. Com este ponto pretende-se dar a Identificar o Problema e a Problemática

que orienta a nossa intervenção, a saber, A vinculação nas famílias com pais com um

percurso de toxicodependência.

Na terceira parte, efectuamos o Enquadramento Teórico relativo ao Problema

identificado, onde abordamos as teorias mais relevantes no que toca à questão da

Vinculação.

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Para finalizar, iremos descrever o Projecto de Intervenção propriamente dito.

Para tal, são identificados os objectivos do mesmo. Como estes orientam o nosso Plano

de Actividades importa agora destacá-los para uma melhor compreensão:

Sensibilização das famílias sinalizadas (família nuclear e família alargada) para a

questão da vinculação;

Articulação entre os técnicos responsáveis pelo acompanhamento das famílias –

assistentes sociais, psicólogos, professores;

Potenciar o desenvolvimento de competências de liderança e parentalidade dos

pais com um percurso de toxicodependência;

Dotar as crianças oriundas de famílias com pais (mãe e/ou pai) com um percurso

de toxicodependência de competências sociais e relacionais;

Desenvolvimento de redes de relacionamento inter-classistas;

Desenvolver a rede social dos diferentes concelhos (Porto, Gondomar,

Matosinhos), tendo em vista a construção de novas parcerias locais.

Desenvolver parcerias entre os três CAT’s sinalizados – CAT da Boavista; CAT

de Gondomar e CAT de Matosinhos.

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1. Intervenção Comunitária

1.1. Organização Comunitária e o Serviço Social de Comunidades

No sentido de voltar a salientar a importância do desenvolvimento comunitário,

recorremos a um relatório da ONU de 1956 uma vez que descreve muito bem qual era a

ideia formulada naquela altura acerca do desenvolvimento comunitário. Percebemos

portanto que “entrou na linguagem internacional para designar o conjunto de

procedimentos por meio dos quais os habitantes de um país unem os seus esforços aos

dos poderes públicos com a finalidade de melhorar a situação económica, social e

cultural das colectividades, de associar estas colectividades à vida da nação e de

permitir-lhes contribuir sem reserva ao progresso do país.”(Robertis, 1994: 10), mas

estes procedimentos implicariam que os habitantes participassem activamente nos

esforços empreendidos para assim melhorarem o seu nível de vida. Eram iniciativas

próprias e os esforços pessoais e a ajuda mútua, proporcionavam serviços técnicos e

humanos.

Assim, o desenvolvimento comunitário é também uma forma de entender o

desenvolvimento local e, para que a ele se chegue, é necessária a educação e a

participação activa dos indivíduos aplicada a um determinado território e a um colectivo

humano concreto.

Sendo ‘comunidade’ um conceito com uma vastidão de critérios que a definem,

salientamos neste conceito, como supra foi já dito, o facto de haver a existência de um

grupo organizado de pessoas que vivem num determinado espaço. Contudo, falar de

território para entender esta noção é reduzir o conceito a um estreito eixo daquilo que

ele próprio abarca, uma vez que a comunidade está também ela definida pelos seus

recursos e pelas suas interacções sociais desenvolvidas entre os seus membros. Além do

mais, pode ser pensada como um conjunto de necessidades e interesses comuns, ainda

que estes não possam ser levados a um extremo esquecendo a heterogeneidade interna.

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Comunidade implica também um sentimento de colectividade e é este

sentimento que vai definir a identidade do grupo, mediante as identificações

estabelecidas.

O termo organização, por sua vez indica-nos que existe uma articulação de

meios ou recursos (materiais e humanos) que são susceptíveis de criar condições a um

determinado conjunto social para que se transforme numa comunidade.

Assim, é necessário que sejam identificados os recursos existentes para que se

estabeleçam prioridades relativamente à articulação desses mesmos recursos.

O Serviço Social, sendo uma profissão inserida na divisão social e técnica do

trabalho, realiza a sua acção profissional no âmbito de políticas sócio-assistenciais, na

esfera pública ou privada. E neste âmbito, desenvolve tanto actividades na abordagem

directa da população - que procura as instituições e o trabalho dos profissionais -

(entrevistas, visitas domiciliárias, orientações, encaminhamentos, reuniões, trabalho

com indivíduos, famílias, grupos, comunidades, etc.), como também actua na pesquisa,

administração, planeamento, supervisão, consultoria e gestão de políticas, programas e

serviços sociais. Ou seja, são diversas as instituições públicas e privadas nas quais a o

Serviço Social se mostra necessário, assim como as temáticas que aborda e que variam

de acordo com o lugar que o profissional ocupa no mercado de trabalho.

Quando falamos em serviço social de comunidades referimo-nos a uma

estratégia macrossocial do Serviço Social, que visa ajudar uma dada população a tomar

consciência das suas necessidades e recursos bem como a assumir uma posição critica

sobre a sua realidade e ainda a organizar dinamicamente os seus recursos para responder

posteriormente às suas necessidades.

Neste processo, o assistente social deve assumir-se como recurso da comunidade

e não como um substituto dela, ou seja, deve ajudar a responder a situações de carência,

dinamizando processos que criem condições para o desenvolvimento de sistemas de

liderança eficazes e participados, para a coesão da comunidade e ainda para a integração

desta no meio que a rodeia.

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1.2. Valores/Princípios da Intervenção Comunitária

A intervenção comunitária diz respeito às relações do indivíduo com a

comunidade/sociedade. Um dos objectivos preconizados é procurar compreender os

fenómenos e a qualidade de vida dos indivíduos, comunidades e sociedades. Desta

forma, o conhecimento torna-se válido para a comunidade. Os valores da Intervenção

Comunitária, enquadram-se nesta perspectiva e visam o bem-estar individual sempre

numa lógica de comunidade. Também são valores da Intervenção Comunitária o sentido

de justiça, a participação dos cidadãos, o respeito pela diversidade humana. Por fim, um

dos valores que é extremamente relevante no que toca a qualquer projecto de

intervenção consiste na colaboração e rentabilização das forças da comunidade. De

facto, a Intervenção Comunitária emerge com o objectivo de intervir ao nível dos

processos psicológicos que ligam os sistemas sociais com o comportamento do

indivíduo em interacção complexa. Quando estamos perante um programa de

intervenção comunitária, o objectivo é atingir mudanças de segunda ordem. Ou seja,

não se pretende que as mudanças decorram a um nível individual, mas ao nível dos

grupos, comunidade – alteração de pressupostos implícitos e explícitos. Para tal, é

necessário que se tenham em conta vários níveis de análise ecológica.

Bronfenbrenner (1981) definiu os estes níveis de análise ecológica com uma

metáfora, a saber, “As bonecas russas”. Nesta situação cada boneca, quando aberta,

revela uma outra mais pequena no seu interior. Tal como o indivíduo existe dentro das

camadas de relações sociais: família, amigos, organizações, vizinhança, culturas,

sociedades. Daí, os níveis de análise ecológica propostos pelo autor já referido foram os

seguintes:

- Indivíduo: diferenças de personalidade e processos internos;

- Microssistemas: são ambientes em que a pessoa se envolve directamente, em que

interage pessoalmente. Neste o indivíduo cria relações de interdependência e assume

diferentes papéis sociais pelo desempenho de tarefas partilhadas;

- Organizações: consistem num conjunto de microssistemas;

- Comunidades: conjunto de organizações e microssistemas;

- Macrossistema: sociedades e culturas, como instituições governamentais e

económicas, para além da comunidade local.

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Desta maneira, o projecto de intervenção que nos propomos desenvolver

pretende ter em conta os valores e princípios já mencionados que balizam a intervenção

comunitária. Conforme iremos ver mais à frente no capítulo relativo ao projecto

propriamente dito pretendemos efectuar a intervenção ao nível do indivíduo, do

microssistema da família e da comunidade. Estes serão, portanto os três níveis de

análise ecológica privilegiados neste projecto, tendo em conta o diagnóstico prévio

efectuado.

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2. Diagnóstico/Avaliação de Necessidades

A importância de um diagnóstico está patente no facto deste colocar na

centralidade o fenómeno organizacional que é abordado em dois principais eixos: por

um lado, identificar os problemas, ou seja, ter um objecto de estudo e por outro lado,

identificar as potencialidades, isto é, ter também um objecto de intervenção. É seu

objectivo conhecer a Instituição para implementar algumas intervenções que contrariem

os problemas verificados.

A avaliação de necessidades foi efectuada tendo em conta dados adquiridos através da

observação participante junto do CAT da Boavista, do CAT de Matosinhos e do CAT de

Gondomar. O Diagnóstico foi também realizado através do recurso a várias teorias de

referência para explicar os problemas sociais; que apontam os caminhos que a acção

deve percorrer para colmatar o conjunto de factores que estão na origem dos diferentes

problemas sociais e a análise das situações sociais deverá orientar-se numa perspectiva

de equacionar respostas e soluções práticas (operacionais) para os problemas e

necessidades concretas.

Assim não deve apenas salientar um só conjunto de hipóteses teóricas como

também de hipóteses operacionais que constituem um suporte para a acção, isto é, que

permitem orientar o investigador social no combate aos problemas concretos. Estas são

uma estrutura de hipóteses que explicitam as condições que devem ser criadas para

atenuar os factores que estão na génese dos problemas concretos, por um lado, e os

efeitos prováveis das acções que visam atingi-los, por outro.

As hipóteses operacionais constituem uma condição essencial para a

transformação das situações sociais pois fornecem indicações acerca dos modos de agir

mais adequados à resolução dos problemas a tratar.

Assim, o diagnóstico deve permitir analisar os indivíduo nos seus diferentes

contextos de socialização nomeadamente a família, a escola, o trabalho, o habitat, o

grupo de pares e esta análise deve ter em conta a posição dos indivíduos no sistema de

oportunidades; a interacção dos mesmos nos diversos contextos de socialização;

qual(ais) o(s) impacto(s) dos constrangimentos sobre o indivíduo, inerentes à sua

posição social, na estruturação da sua personalidade.

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2.1. Identificação do Problema e da Problemática

A identificação de problemas, diz respeito à distinção entre as manifestações

evidentes e os factores causais dessas manifestações. Ou seja, achamos relevante

reflectir acerca do que são problemas sociais.

Para Pais (1996), “os problemas sociais, incutidos de um significado social

(porque se definem em função de um conjunto de valores sociais), ao passarem para o

método científico, adquirem um significado sociológico, isto é, reflectem valores

sociológicos relativos às perspectivas teóricas e metodológicas seguidas” (In, Carmo,

Hermano; 2001:27). Assim, para que um problema social possa ser considerado um

problema sociológico deve ter as condições de regularidade, uniformidade,

impessoalidade e repetição (Gonçalves; 1969).

Neste sentido, a problematização sociológica dos problemas sociais implica a

desconstrução destes, o desmantelar do significado social, de maneira a criar um

significado de acordo com o discurso científico (Quivy, Campenhoudt; 1992).

Quando falamos em problemáticas, falamos num problema que foi generalizado,

ou seja, numa abordagem ou numa perspectiva teórica que foi considerada a mais

adequada para tratar o problema que nos é pertinente.

Actualmente percebe-se a extensa dimensão da problemática da

toxicodependência, não só pelo crescente número de dependentes bem como pelas

consequências daquela que origina complicações sociais e familiares, levando em

muitos casos, à morte. E os problemas de ressocialização do toxicómano coincidem

normalmente com a dificuldade da sua capacidade em se relacionar consigo mesmo,

com as pessoas e com as normas sociais.

A deterioração física e psicológica do toxicodependente envolve desajustes

sociais que, por sua vez, determinam uma desintegração social entre consumidores e

não consumidores. Neste sentido, passam a existir alterações nas formas de convivência

e como consequência, o conflito e a angustia podem provocar a ruptura dos vínculos

que definem o sistema social, nomeadamente a família.

Para Luís Patrício (1997) “o toxicodependente tem habitualmente relações

menos sadias com a família e com a sociedade”. O autor defende ainda que é nas

famílias onde a comunicação é paradoxal e “silenciosa” que o toxicodependente se pode

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tornar no “problema” que restabelece a comunicação entre as outras pessoas bem como,

em famílias com graves vivências conflituosas, encontrar na droga uma “saída” para

suportar a vivência familiar.

O ser humano, na condição de animal social, precisa de segurança e de cuidados

desde que nasce e a família é o grupo social responsável por estas tarefas.

A sua organização estrutura-se através de papéis e funções que determinam o

comportamento que cada indivíduo tem no grupo. Assim, a organização familiar dá-se a

partir dos papeis de pai, mãe e filho e a vivência destes papeis básicos dá ao indivíduo a

noção de pertença, compromisso e de identidade que será necessária para o seu

desenvolvimento dentro e fora da família.

Além disto, pela legitimidade destes papéis, as regras sociais são transmitidas,

viabilizando um importante processo de socialização. Este processo, vivido

primeiramente dentro da família, é chamado de socialização primária pelos autores

Berger e Luckmann.

Falamos já aqui em família uma vez que a nossa hipótese teórica se prende com

o facto de os padrões de vinculação inseguros (evitantes/ambivalentes) associados à

toxicodependência dos pais potenciam a transmissão inter-geracional de factores de

riscos de exclusão social/toxicodependência uma vez que um dos casos mais frequentes

com que nos deparamos era a intergeracionalidade relativamente às dependências.

Esta hipótese teórica surgiu de entre uma série e problemas identificados que

achamos pertinente expor:

Pauperização\empobrecimento da população toxicodependente e suas famílias e

dificuldades do acesso ao tratamento e da manutenção do mesmo tendo em

consideração as desestruturantes condições de vida.

As baixas qualificações escolares\profissionais dos sujeitos toxicodependentes, o

que implica um constrangimento na reinserção sócio-profissional.

A progressiva quebra de vínculos afectivos e sociais, a perda de laços familiares

e o consequente isolamento social.

A vivência em espaços desqualificados e psicotrópicos enquanto espaços que

dificultam a manutenção da abstinência.

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A construção de uma identidade negativa, de uma imagem desvalorizada

sustentada num baixo autoconceito, numa baixa auto-estima e num baixo conceito de

auto-eficácia.

As disfuncionalidades familiares resultantes da existência de um familiar

toxicodependente.

2.2. Análise SWOT (Matosinhos, Gondomar Porto)

Ambiente Interno

Forças

- Existência de instituições com consultas e

tratamentos gratuitos;

- Interesse pelas questões sociais;

- Existência de recursos humanos;

- Dinamização da Rede Social;

- Serviços para os utentes nas diferentes

áreas (psicologia, psiquiatria, serviço

social), consoante as suas necessidades;

- Diferentes tipos de tratamento (de

substituição e ‘livres de drogas’)

- Oferta aos utentes de métodos

contraceptivos (preservativos) como meio

de prevenção de doenças sexualmente

Fraquezas

- Insuficiência de equipamentos de apoio à

família:

• Apoio social e psicológico principalmente

aos filhos de toxicodependentes

- Excesso de habitação social fechada sobre

si própria e desfazada do resto da

comunidade;

- Insuficiência de postos de trabalho;

- Pouca promoção das actividades

desenvolvidas;

- Estigma em relação ao CAT.

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transmissíveis;

- Equipa de trabalho dinâmica;

- Equipas de rua.

Ambiente Externo

Oportunidades

- Apresentação de candidaturas a novos

projectos;

- Maior formação profissional;

- Parcerias com outras instituições;

- Concelhos com uma elevada taxa de

incidência no problema da

toxicodependência;

- Boa localização geográfica, uma vez que

o acesso a estes CAT’s é facilitado por

uma diversa rede de transportes públicos

(STCP, Metro, Resende).

Ameaças

- Famílias disfuncionais (que não apoiam os

toxicodependentes);

- Influências sociais (grupos de pares);

- Tráfico de medicação;

- Aparecimento de novas drogas (“drogas da

moda”);

- Facilidade de obtenção de drogas;

- Falta de segurança no trabalho (a nível

contratual);

- Reprodução do ciclo da pobreza.

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3. Enquadramento teórico

A hipótese teórica que baliza este trabalho no âmbito da disciplina de

Desenvolvimento Comunitário prende-se com:

Os padrões de vinculação inseguros (evitantes/ambivalentes) associados à

toxicodependência dos pais potenciam a transmissão inter-geracional de factores de

riscos de exclusão social/toxicodependência.

A nossa hipótese teórica vai ao encontro do estado de arte neste domínio:

Toxicodependência e vinculação. Como tal, em seguida apresentamos os autores de

referência que consideramos mais relevantes para validar a nossa hipótese teórica.

“De um ponto de vista relacional, não é a hereditariedade que organiza a

filiação, mas a paternidade. Sem comportamentos maternais e parentais,

independentemente da genética ou laços de sangue, talvez os pais nunca sejam pais de

verdade”( Eduardo Sá, 1995)

A toxicodependência enquanto fenómeno intra e inter pessoal influência toda a

vida do indivíduo, nomeadamente a sua vida familiar. O estilo de vida organizado

segundo a procura compulsiva da substância de consumo faz com que estes indivíduos

vivam num estado de ansiedade e instabilidade na procura da próxima dose,

negligenciando todo o resto, nomeadamente as necessidades de outros.

Isto alerta-nos para o facto que o estilo de vida associado à toxicodependência

pode não ser congruente com a exigência de funções parentais na pequena infância,

pondo em causa todo o futuro de um ser humano nomeadamente nas suas vinculações

futuras.

Bowlby (1969) define vinculação como a propensão dos seres humanos para

estabelecerem laços afectivos fortes com determinadas pessoas, tendo como

consequência ficar emocionalmente afectado quando ocorrem separações ou perdas

inesperadas e/ou indesejadas. Os padrões de vinculação podem ser «seguros» ou

«inseguros», e este ultimo, por sua vez, pode ser evitante ou ambivalente

A literatura sobre a vinculação entre pais-filhos tem vindo consistentemente a

alertar sobre a importância deste factor para o desenvolvimento saudável ou

psicopatológico do indivíduo nomeadamente ao nível da toxicodependência.

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Gonçalves (2002), refere que indivíduos expostos a factores de riscos, como por

exemplo a toxicodependência dos pais, manifestam um padrão inseguro de vinculação

(evitante/ambivalente). Por um lado querem aproximar-se deles, pois a sua

sobrevivência depende deles, por outro lado querem afastar-se para não serem alvo de

experiências traumatizantes repetidas. Torres (2003) afirma que o abuso de substâncias

tóxicas está directamente associados a défices no sistema de vinculação. Tal sucede

quando os estilos de vinculação do sujeito com os pais estão marcados pela falta de

confiança, comunicação, segurança.

Existem portanto vários autores que afirmam uma relação clara entre a qualidade

da parentalidade e o uso de drogas. Sendo que a vinculação insegura na infância é factor

de risco de exclusão e toxicodependência na idade adulta. Estes indivíduos com

experiências negativas na infância, têm uma maior probabilidade de adoptarem na idade

adulta os comportamentos de que foram vitimas na infância, criando assim padrões de

transmissão geracional.

Consensual entre vários autores parece também ser o facto de modelos

deficientes de papéis parentais, capacidade de coping parental disfuncional e/ou o abuso

de drogas por parte dos pais, aumentarem a probabilidade de ocorrência de

comportamentos iguais por parte dos filhos, podendo levar à formação de modelos

familiares patológicos repetitivos, através de gerações. O estilo de vinculação de cada

pessoa marca o modo como este constrói e dinamiza as suas relações com os outros.

Assim, a relação que os pais estabelecem com o seu filho está dependente do modo

como estes representam a sua relação passada com os seus pais e traduz-se no tipo e na

qualidade de cuidados que estes proporcionam à criança.

Consideramos assim de importância extrema uma intervenção ao nível da

melhoria de cuidados globais nestas crianças cujos pais apresentam um quadro de

toxicodependência, para quebrar este ciclo inter-geracional de

exclusão/toxicodependência, dado que o tempo de recuperação dos pais

toxicodependentes não é compatível com o crescimento de uma criança.

Através da pesquisa efectuada chegamos à conclusão que os padrões de

vinculação inseguros (evitantes/ambivalentes) associados à toxicodependência dos pais

potenciam a transmissão inter-geracional de factores de riscos de exclusão

social/toxicodependência. Desta forma, em termos operacionais consideramos que é

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importante actuar ao nível da família. Neste âmbito definimos duas hipóteses

operacionais, a saber:

Promoção da alteração das dinâmicas familiares de forma a tornar o ambiente

familiar num espaço de construção de relações estáveis pautadas por uma

afectividade positiva.

Se, no entanto, através do contacto com estas famílias se verificar que o

ambiente familiar está a afectar o bem-estar presente e futuro das crianças e apresenta

poucas hipóteses de melhorar, apresentamos a segunda hipótese operacional:

Promoção de um ambiente alternativo ao familiar, capaz de facilitar às

crianças padrões de vinculação seguros assim como o desenvolvimento de

competências necessárias para uma vida saudável e feliz.

Desta forma, consideramos que contemplamos as situações possíveis de

intervenção. Contudo, damos primazia à implementação da 1ª hipótese operacional,

uma vez que os laços criados têm a possibilidade de serem potenciados ao nível

familiar. Como opção alternativa, temos a 2ª hipótese operacional, pois, por vezes a

intervenção surge num contexto de tal forma problemático que se torna impossível a

promoção dos laços familiares. Sendo assim, é necessário criar um ambiente alternativo

para o próprio bem estar físico, psicológico e social das crianças envolvidas.

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4. Projecto de Intervenção

A etapa final deste trabalho é dedicada à descrição do nosso projecto de

intervenção fundamental para a consubstanciação do diagnóstico e das hipóteses

teóricas e operacionais já apresentadas acima.

Mas primeiro, é fundamental perceber o que é um projecto e como se pode

desenvolver. Segundo Gaulejac et al (1995), um projecto é um conjunto articulado de

transformações a desenvolver num determinado espaço e tempo, em função de

objectivos claros e concisos e de acordo com os meios existentes e os métodos pré-

definidos. Assim, a elaboração de um projecto de desenvolvimento conduz à produção

de novas formas de pensar e de fazer e de novos modelos de referência, o que pressupõe

uma reflexão sistemática sobre as práticas e os princípios que as constituem, a sua

rotinização e os seus limites, a fim de idear outras orientações estratégicas.

É neste seguimento, e após a análise da situação social em causa, a

toxicodependência, que surge o projecto propriamente dito. Apoiando-se nos resultados

do diagnóstico, o projecto refere-se ao desmontar das hipóteses teóricas num conjunto

de medidas e acções, coordenadas e coerentes, capazes de as fazer cumprir. Ou seja,

pretende-se que este projecto venha colmatar as lacunas identificadas ao nível das

relações familiares em famílias com pais com um percurso de toxicodependência.

Como já foi referido anteriormente, o nosso projecto visa a intervenção ao nível

das crianças e adolescentes filhos de toxicodependentes em tratamento nos CAT’s, no

sentido da prevenção de situações de risco físico e psicológico, principalmente em casos

de negligência, maus-tratos físicos e/ou psicológicos e o fracasso de funções

asseguradoras de protecção e gratificação maturativa.

Neste sentido, pretendemos desenvolver um programa que integre estas diferentes

valências: intervenção comunitária (colaboração e articulação entre os diferentes

CAT’s, com a Comissão de Protecção de Menores, Segurança Social, escolas e

infantários, I.R.S., Centros de Saúde e Hospitais); avaliação e diagnóstico psicossocial;

acompanhamento psicoterapêutico em rede; intervenção pontual; consulta de apoio

psicológico a crianças e adolescentes; desenvolvimento de competências parentais;

intervenção sistémica; dinâmica de grupos; intervenção multidisciplinar (assistente

social, psicólogo, médico pedopsiquiatra, terapeuta familiar, professor ou educador).

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4.1. Objectivos do Projecto de Intervenção

Este projecto de intervenção comunitária pretende alcançar os seguintes

objectivos, tendo em conta as hipóteses operacionais previamente estipuladas:

Sensibilização das famílias sinalizadas (família nuclear e família alargada) para a

questão da vinculação;

Articulação entre os técnicos responsáveis pelo acompanhamento das famílias –

assistentes sociais, psicólogos, professores;

Potenciar o desenvolvimento de competências de liderança e parentalidade dos

pais com um percurso de toxicodependência;

Dotar as crianças oriundas de famílias com pais (mãe e/ou pai) com um percurso

de toxicodependência de competências sociais e relacionais;

Desenvolvimento de redes de relacionamento inter-classistas;

Desenvolver a rede social dos diferentes concelhos (Porto, Gondomar,

Matosinhos), tendo em vista a construção de novas parcerias locais.

Desenvolver parcerias entre os três CAT’s sinalizados – CAT da Boavista; CAT

de Gondomar e CAT de Matosinhos.

4.2. Plano de Actividades

4.2.1. Campanha de sensibilização:

Após a divulgação em rede do projecto, através do contacto directo (no âmbito de

um acompanhamento individual já existente), de panfletos informativos e claros, e da

transmissão da informação pelos rádios e jornais locais, num intenso trabalho de

parceria e articulação entre as diferentes instituições sociais dos concelhos, proceder-se-

á a uma campanha de sensibilização e intervenção primária junto da comunidade. O

trabalho em rede dos assistentes sociais, psicólogos e professores permitirá a sinalização

de famílias de risco no seio da comunidade.

Posteriormente, o público-alvo será convocado pela Junta de Freguesia, ou pela

assistente social ou psicóloga que, eventualmente, poderá já acompanhar a família no

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âmbito de outras problemáticas, ou pelo professor que segue a criança ou adolescente,

sendo delineado nesse momento a equipa terapêutica que assistirá a família.

A campanha será desdobrada entre acções de sensibilização, debates,

conferências, sessões de esclarecimento e palestras, patrocinados pelas diversas Juntas

de Freguesias dos três Concelhos. Organizada e dinamizada pelos técnicos de

intervenção especializados na área das toxicodependências, e através de uma linguagem

clara e acessível, esta campanha deverá consciencializar a comunidade para o papel

relevante que tem para a protecção das crianças e jovens, apoiando-os quando detecta

que estes estejam expostos a determinadas fragilidades, e abordar temas como: os

comportamentos de risco, nomeadamente a toxicodependência, a importância da família

e de uma vinculação segura na formação da identidade, o insucesso escolar, o papel da

escola na formação pessoal e social dos indivíduos, os comportamentos violentos e anti-

sociais, a pouca resistência das crianças e jovens à pressão do grupo de pares e

frequência de grupos juvenis onde existe abuso de álcool e outras drogas, entre outros.

Desta forma, serão desenvolvidos os objectivos, já referidos anteriormente:

sensibilização das famílias sinalizadas para a questão da vinculação; articulação entre os

técnicos responsáveis pelo acompanhamento das famílias; desenvolvimento de redes de

relacionamento inter-classistas; ampliação da rede social dos diferentes concelhos tendo

em vista a construção de novas parcerias locais.

4.2.2. Acções de formação na área das competências parentais:

Com a finalidade de prevenir futuros problemas de toxicodependência nestas

famílias, seria importante a realização de acções de formação que visassem sobretudo a

não manutenção de hábitos e estilos de vida prejudiciais à saúde, por segmentos

importantes da população destes Concelhos.

Estas acções de formação, onde famílias toxicodependentes podem (re)aprender

hábitos de vida mais saudáveis ao nível da higiene pessoal e habitacional, das rotinas, da

saúde e da alimentação, e seguir comportamentos de segurança para com as crianças,

relevando a sua importância ao nível pessoal e social.

Assim, poderão ser feitas campanhas de sensibilização abertas à comunidade onde

os próprios toxicodependentes dêem o seu testemunho real do caminho percorrido até

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ali e de que forma o consumo de substâncias ilícitas afectou a sua vida familiar,

nomeadamente com os filhos.

Com a finalidade de potenciar o desenvolvimento de competências de liderança e

parentalidade dos pais com um percurso de toxicodependência, diversas formações

serão dinamizadas pelo terapeuta familiar ou assistente social, em seio de dinâmica de

grupo1 (grupo de pais e grupo de pais e filhos), nas diferentes instituições que

constituem a rede social, como o CAT, a Junta de Freguesia ou a escola dos filhos

(através da Associação de Pais).

A parceria com as escolas e as Juntas de Freguesia vai permitir a criação de

actividades recreativas que juntem pais e filhos numa relação estreita de partilha e

cumplicidade. Sob o intermédio dos assistentes sociais e psicólogos e recorrendo aos

recursos materiais e aos espaços cedidos pelas autarquias, será estimulada a participação

nas seguintes actividades: a realização de actividades desportivas (ténis, futsal, pesca,

voleibol, etc) entre pais e filhos é uma mais valia no sentido de promover a interacção e

comunicação entre os mesmos. Além disso, são desportos abertos à comunidade em

geral, podendo realizar-se torneios cuja entrada terá um preço simbólico que reverterá

no sentido de criar novas actividades de lazer. Estas actividades podem passar por

passeios e acampamentos entre essas famílias. Através destes passeios recreativos,

sensibilizam-se os pais para a importância do sentido de responsabilidade dos filhos e

ainda se estimula a partilha de novas experiências bem como a promoção do convívio

intergeracional.

4.2.3. Acções de formação na área lúdica e criativa:

Estas acções de formação, mediadas por um assistente social e um profissional da

área em questão, passam por levar as famílias até ao seio da comunidade e agregar

jovens com condições de vida semelhantes para que aprendam a lidar com a sua

realidade e desenvolvam competências sociais.

1 Na formação de grupos, há que se ter em conta que grande parte do êxito ou do fracasso da dinâmica de grupo depende do factor composição, isto é, da disponibilidade e motivação dos participantes para este tipo de actividades e das características pessoais. O técnico deve avaliar as características do sujeito e estimar em que medida a sua presença possa ser estimulante para o grupo, ou em que medida este o poderá fortalecer positivamente. Quanto à constituição, pretende-se um equilíbrio entre a homogeneidade e a heterogeneidade. Acima de tudo, os grupos devem ser equilibrados e representativos, tendo até 15 elementos no máximo, mais o técnico dinamizador.

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Assim temos, acções de formação de expressão dramática que podem ser feitas em

espaços cedidos pelas autarquias, onde as peças realizadas promovam a auto-

consciência e reflictam a realidade vivida, constituindo uma forma de auto-ajuda para

esta população.

Para além destas acções, podem ainda realizar-se ateliers de pintura e artes

plásticas que possibilitem a exteriorização de sentimentos, pensamentos, medos,

angustias e alegrias e que desenvolvam o poder criativo dos diferentes actores. Estes

ateliers culminarão em exposições abertas à comunidade, o que levará a uma

valorização pessoal dos mesmos.

4.2.4. Criação de grupos de trabalho voluntário:

Este tipo de actividades serão responsáveis pela aproximação entre os jovens e a

comunidade, que, na maioria dos casos, lhes seria alheia ou, da qual se encontravam

afastados. Esta “reconciliação” com a comunidade onde estão inseridos desenvolverá,

nestas crianças e adolescentes um sentimento de pertença que dificilmente terão sentido

anteriormente, o que irá contribuir para o aumento dos seus níveis de auto-estima e

auto-eficácia e promoverá o bem-estar pessoal e social.

Assim, serão criados dois grupos em áreas distintas (jardinagem e restauro),

mediados por um assistente social e sob a orientação de técnicos habilitados. Na área da

jardinagem, os jovens terão sobre a sua responsabilidade a manutenção de um jardim\

parque público, ocupando o seu tempo livre no embelezamento do espaço (plantar

novas flores e árvores relacionando este processo de crescimento com o seu). Na área

do restauro, serão criados diferentes grupos consoante os sítios onde serão colocados a

desempenhar as suas tarefas, que consistirão por exemplo, no restauro de uma estação

ferroviária ou de uma igreja, ou até mesmo no trabalho em oficinas onde poderão

restaurar peças de cariz publico.

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Conclusão

A necessidade de implementar projectos de ocupação de tempos livres e

formação de competências parentais e sociais para crianças, jovens e suas famílias é um

desafio constante deste trabalho. Como futuros técnicos de serviço social queremos

promover os direitos de todos os cidadãos e daí a importância de, desde jovens,

estimularmos a sua participação activa em projectos da comunidade que os façam

desenvolver pessoal e socialmente.

Deste modo, pretendemos conseguir a inserção dos jovens e respectivas famílias

dos concelhos de Matosinhos, Gondomar e Porto em actividades de ocupação dos

tempos livres que potenciem a participação destes e dinamizem a construção de novos

projectos comunitários. Pretendemos, por outro lado, estimular comportamentos e

atitudes adequados à sociedade, uma vez que estamos a trabalhar com os jovens

provenientes de meios desfavorecidos, com recursos socialmente desvalorizados.

Assim, pretendemos que os jovens adquiram competências culturais, sociais, e

simbólicas que lhes permitem uma efectiva integração na sociedade (são jovens

inactivos, cuja ociosidade poderá potenciar situações de risco).

Contudo, sabemos que este projecto envolve demasiados custos e a sua

implementação é muito morosa. As formas que encontramos para superar estes custos

são a criação de parcerias com várias instituições dos concelhos.

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