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DESENVOLVENDO NOVOS PRODUTOS
NO AMBIENTE DE ENSINO
ACADÊMICO: O CASO DO “CHAVEIRO
CÁPSULA”
Arthur Cardoso dos Santos (UFF )
Ramon Baptista Narcizo (UFF )
O objetivo do presente artigo é descrever uma recente aplicação do
modelo de referência para o desenvolvimento de novos produtos
proposto por Ulrich & Eppinger (2008). O modelo foi colocado em
prática por uma equipe de desenvolvimento composta unicamente por
alunos graduando em Engenharia de Produção em uma universidade
pública brasileira. Assim, apresenta os principais resultados obtidos
pelo grupo ao longo do processo de desenvolvimento de um novo
produto, chamado provisoriamente de “Chaveiro-Cápsula”. O enfoque
do documento está orientado para o caráter prático e experimental das
atividades desenvolvidas, como forma de complemento do processo de
aprendizagem dos conceitos relacionados à inovação, ao design e ao
desenvolvimento de novos produtos na chamada “Economia do
Conhecimento”. Nesse sentido, é importante considerar que a equipe
realizou as atividades sob condições desfavoráveis, inerentes ao
ambiente acadêmico brasileiro, tais como limitações de tempo e de
recursos para um desenvolvimento eficaz. Assim, o produto
desenvolvido pela equipe foi concebido até o estágio de protótipo, não
havendo avançado até fases finais do processo, que geralmente
envolvem produção, lançamento e comercialização. Portanto, o
presente artigo apresenta o relato de uma aplicação acadêmica com
fins estritamente educacionais, mas demonstra a viabilidade e robustez
do emprego do método de referência como uma importante ferramenta
de ensino no ambiente acadêmico.
Palavras-chaves: Desenvolvimento de novos produtos, Design,
Inovação, Ensino
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
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1. Introdução
O desenvolvimento de novos produtos, sejam bens ou serviços, pode ser descrito como um
processo de resolução de problemas que se inicia a partir da percepção de uma lacuna na
experiência do usuário, passando pela elaboração de um plano para desenvolver um novo
artefato que preencha essa lacuna, convergindo na produção e disponibilização desse artefato
ao usuário (ULRICH, 2011; BAXTER, 2011). Esse processo tem sido amplamente
reconhecido como fundamental para a competitividade e diferenciação de empreendimentos,
especialmente numa economia baseada na informação e no conhecimento, onde a inovação
assume centralidade (LEYDESDORFF, 2006).
Dada essa importância, observa-se que a literatura de referência está repleta de orientações e
métodos que visam a melhorar e otimizar esse processo. Exemplos dessas melhorias
envolvem a eliminação de redundâncias e desperdícios de recursos; a redução do time-to-
market; a garantia do foco nas necessidades ou demandas do usuário (ou cliente); o ganho de
maturidade e experiência nos processos de planejamento, desenvolvimento, produção e pós-
produção; a elaboração de modelos referenciais para orientar o desenvolvimento; o
gerenciamento da informação, do conhecimento e da inovação nas organizações etc.
(KRISHNAN & ULRICH, 2001; TROTT, 2005).
Dentre os métodos encontrados na literatura destaca-se a proposição de Ulrich & Eppinger
(2008), que tem sido usada como um modelo de referência para o desenvolvimento de novos
produtos tanto em organizações empresariais consideradas inovadoras quanto no ensino
superior em universidades mundialmente reconhecidas como empreendedoras, como o
Massachusetts Institute of Technology, por exemplo. Esse método é composto essencialmente
por seis grandes fases, que são: (1) planejamento, onde é defino o escopo do projeto; (2)
desenvolvimento do conceito, onde conceitos para o produto são gerados e avaliados, e um
único conceito é selecionado para desenvolvimento; (3) projeto em nível de sistema, onde é
definida a arquitetura, seus subsistemas e componentes; (4) projeto detalhado, onde são
definidos os materiais, a geometria e as tolerâncias para todas as partes do produto; (5) testes
e refinamentos, que envolvem a construção e avaliação de versões de “pré-produção”; e (6)
preparação para a produção, onde o produto começa a ser produzido a partir do
planejamento de sistema de produção (ULRICH & EPPINGER, 2008).
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O objetivo do presente artigo é descrever uma recente aplicação dessa metodologia por uma
equipe de desenvolvimento composta por alunos inscritos na disciplina de “Engenharia do
Produto”, graduandos em Engenharia de Produção na Universidade Federal Fluminense, Polo
Universitário de Rio das Ostras (RJ). Assim, apresenta os principais resultados obtidos por
esse grupo ao longo do processo de desenvolvimento de um novo produto, chamado
provisoriamente de “Chaveiro-Cápsula”.
O enfoque do documento está orientado para o caráter prático e experimental das atividades
desenvolvidas, como forma de complemento do processo de aprendizagem dos conceitos
relacionados à inovação, ao design e ao desenvolvimento de novos produtos na chamada
“Economia do Conhecimento”. Nesse sentido, é importante considerar que a equipe realizou
as atividades sob condições desfavoráveis, inerentes ao ambiente acadêmico brasileiro, tais
como limitações de tempo e de recursos para um desenvolvimento eficaz.
Portanto, o presente documento deve ser entendido como o relato de uma aplicação
acadêmica da metodologia de Ulrich & Eppinger (2008) no contexto de uma universidade
federal brasileira, com fins estritamente educacionais. Nessa perspectiva é importante
considerar que o produto desenvolvido pela equipe foi concebido até o estágio de protótipo,
não havendo avançado até fases finais do processo, que geralmente envolvem produção,
lançamento e comercialização.
O artigo está organizado da seguinte forma: no Item 2 apresenta-se resumidamente a
sustentação teórica e metodológica que orientou o processo de desenvolvimento,
fundamentada na proposição de Ulrich & Eppinger (2008). Esse item constitui,
simultaneamente, tanto o referencial teórico que sustenta as argumentações contidas no texto
quanto as orientações metodológicas que orientaram o processo de desenvolvimento aqui
registrado. O Item 3 descreve, de forma sintetizada, os principais resultados obtidos no
processo de desenvolvimento. Já o Item 4 apresenta as lições aprendidas e conclusões obtidas
pela equipe.
2. Sustentação teórica e metodológica
Ulrich & Eppinger (2008) propõem um modelo referencial para o processo de
desenvolvimento de novos produtos, partindo da premissa de que o sucesso econômico das
empresas depende da habilidade destas em identificar as necessidades e desejos dos
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consumidores e, rapidamente, desenvolver e criar produtos que possam ser produzidos a baixo
custo e que satisfaçam seus clientes. Uma visão integrada desse processo, dividido nas seis
grandes fases e suas respectivas subatividades sequenciadas de forma lógica é apresentada na
Figura 1 a seguir.
Figura 1 – Visão geral do processo de desenvolvimento de novos produtos
Fase 0: Planejamento
Planejamento
Fase 1: Desenvolv.conceito
Fase 2: Design sistema
Fase 3:Design
detalhado
Fase 4:Testes e
refinamentos
Fase5: Preparação manufatura
Identif. necessidades
Especificações do produto
Geração conceitos
Seleção conceito
Teste conceito
Arquitetura do produto
Design industrial
Design para a manufatura
Prototipagem
Fonte: Adaptado Ulrich & Eppinger (2008, p. 9)
Os autores sugerem que após a identificação de uma oportunidade sejam realizadas interações
com o mercado-alvo e com os possíveis futuros usuários da solução, averiguando restrições
(de mercado e tecnológicas), e definindo objetivos gerais para o projeto de desenvolvimento.
A partir desse conjunto de informações é formalizada uma “missão” para o projeto de
desenvolvimento. Por meio da declaração dessa missão, o grupo definirá “qual direção o
projeto deve seguir”, sem detalhar exatamente “um destino preciso” ou uma forma particular
de proceder (ULRICH & EPPINGER, 2008).
O passo seguinte da metodologia objetiva a identificar necessidades, anseios e expectativas
dos potenciais usuários da solução. Essas necessidades são amplamente independentes de
qualquer produto e não são específicas para os conceitos que eventualmente possam ser
desenvolvidos. Esse conjunto de informações irá nortear o posterior estabelecimento das
especificações técnicas e, em seguida, o desenvolvimento de conceitos para o produto
(ULRICH & EPPINGER, 2008).
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As especificações técnicas compõem um conjunto de dados e informações capazes de
expressar de forma mensurável “o que” o produto deve fazer, mas sem definir “como” deve
fazer. Já um “conceito” é essencialmente uma descrição aproximada da tecnologia, dos
princípios de funcionamento e das formas do produto, geralmente expresso como um esboço
ou como um modelo tridimensional bruto, frequentemente acompanhado por uma breve
descrição textual (ULRICH & EPPINGER, 2008).
Ainda de acordo com Ulrich & Eppinger (2008), na atividade de geração de conceitos deve-se
criar alternativas de conceitos que atendam, simultaneamente, às necessidades dos possíveis
usuários e às especificações técnicas estabelecidas pela equipe. Em seguida, efetua-se um ou
mais procedimentos de avaliação dos conceitos desenvolvidos, usando como base as
necessidades dos consumidores e outros critérios de avaliação pré-definidos pela equipe de
desenvolvimento. São comparadas as vantagens e desvantagens de cada conceito em relação a
um conceito de referência – geralmente um produto-padrão da indústria ou uma solução óbvia
para o problema experimentado pelos usuários – e, por fim, seleciona-se um ou mais,
considerados promissores, para posterior investigação ou desenvolvimento.
Uma vez selecionado o conceito, a arquitetura do produto passa a ser estudada mais
profundamente. São elaborados diagramas que representam os elementos físicos do produto e
suas interações, desenvolvendo-se o layout geométrico, que servirá para conceber a
arquitetura. A partir daí confere-se a compatibilidade dos elementos e módulos que
constituem o produto, definindo as interações esperadas (planejadas) e incidentais
(inesperadas), que podem comprometer seu desempenho. Assim, estabelece-se a arquitetura,
que tem como função principal a definição da construção do produto de acordo com sua
função e relacionando-o com o resto do mecanismo (ULRICH & EPPINGER, 2008).
Definida a arquitetura, uma representação aproximada do produto pode ser obtida a partir do
processo de prototipagem. Nessa etapa, protótipos físicos ou analíticos são desenvolvido,
visando a desenvolver uma aproximação do produto em uma ou mais dimensões de interesse.
Dentre os principais propósitos para o desenvolvimento de protótipos estão o aprendizado, a
comunicação, a integração e o estabelecimento de marcos (ULRICH & EPPINGER, 2008).
3. O processo de desenvolvimento do produto
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A seguir serão explicitados os principais passos empregados no processo de desenvolvimento,
tomando por base as orientações teóricas e metodológicas de Ulrich & Eppinger (2008). É
importante considerar, contudo, que certos resultados foram resumidos, enquanto outros
integralmente suprimidos.
3.1. Planejamento: definição da “missão do projeto de desenvolvimento”
Após algumas interações de caráter prospectivo com o mercado, a equipe identificou uma
oportunidade de desenvolvimento considerada promissora, e que viria a dar origem ao
“Chaveiro-Cápsula”. Isso se deu a partir da observação das dificuldades existentes no
manuseio dos chaveiros tradicionais, compostos por argola metálica, que muitas vezes são
considerados pouco práticos pelos seus usuários. A partir da identificação desse problema
(oportunidade), que também representava uma lacuna (demanda) na experiência dos usuários,
iniciou-se a elaboração do projeto de desenvolvimento, visando a tornar tangível uma ideia na
forma de um novo produto, concebido inicialmente como um chaveiro que melhor dispusesse
as chaves, facilitando a utilização, adição e remoção pelo usuário quando necessário.
A fim de definir a direção inicial do projeto de desenvolvimento, a equipe estabeleceu um
conjunto inicial de premissas, tais como uma proposta de benefício e algumas hipóteses
relacionadas à oportunidade identificada e ao produto concebido para atende-la. Como
proposta de benefício considerou-se a facilidade de manuseio, identificação, adição e remoção
de chaves, bem como a praticidade no transporte. Também foi levado em consideração o
atendimento de necessidades específicas de deficientes visuais, uma vez que o mercado
também sinalizou esse tipo de lacuna na experiência desses usuários. Assim, a equipe foi
capaz se sintetizar a missão do projeto, descrita como “desenvolvimento de um chaveiro de
capacidade flexível, personalizável, capaz de organizar as chaves de maneira eficiente”.
3.2. Levantamento das necessidades dos usuários
Para que a equipe pudesse chegar a um conceito específico para o produto foi necessário que
voltasse a interagir com o mercado e seus possíveis usuários, conhecendo suas demandas,
expectativas, necessidades e frustrações relacionados à oportunidade. O levantamento das
necessidades dos usuários envolveu um processo sistemático de coleta e interpretação de
dados qualitativos e quantitativos, bem como a classificação e agrupamento desses dados.
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Assim, para efetuar a coleta empregou-se um questionário online, composto unicamente por
perguntas cujas respostas eram abertas. Essa estratégia visava a estimular o usuário a discorrer
sobre sua experiência relacionada à oportunidade identificada. É importante salientar contudo
que, dentre as perguntas apresentadas, nenhuma proposição de solução ou de conceito
específico foi apresentado, de modo a não induzir as respostas dos pesquisados.
O conjunto de respostas obtidas serviu, após uma adequada interpretação por parte da equipe,
para identificar e hierarquizar as características necessárias ao produto. Dentre as
necessidades interpretadas, foram subtraídas as redundantes e as demais foram agrupadas de
acordo com características comuns, como ilustra a Tabela 1 a seguir.
Tabela 1 – Necessidades identificadas
PRATICIDADE PROPRIEDADES
FÍSICAS ESTÉTICA
DEMAIS
NECESSIDADES
O CHAVEIRO....
... permite o uso rápido de
chaves em sequência.
... permite que as chaves
sejam organizadas e
agrupadas conforme a
necessidade do usuário.
... é acoplável a bolsas ou
a peças de roupa.
... é fácil de ser
manuseado.
... permite acrescentar
novas chaves.
... é fácil de ser
encontrado dentro de
compartimentos.
... permite a identificação
das chaves.
... é leve.
... é resistente à
corrosão.
... possui alta
durabilidade.
... é esteticamente
agradável.
... é personalizável.
... permite adicionar
apetrechos.
... pode ser utilizado
como ornamento.
... possui capacidade
flexível de
armazenamento.
... permite incluir
dados pessoais.
Fonte: Os autores e equipe de desenvolvimento
3.3. Geração de conceitos para o produto
Nessa fase do processo de desenvolvimento a equipe adotou uma estratégia que envolve
representar o produto na forma de uma “caixa preta”, decompondo-o em funções e sub-
funções, permitindo-lhe direcionar seus esforços aos problemas mais críticos, sem ignorar os
demais.
3.3.1. Decomposição funcional
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Esse passo consistiu em desenvolver um entendimento geral do problema em mãos, para
então, decompô-lo em subproblemas. No caso do “Chaveiro Cápsula”, a declaração de
missão, a lista de necessidade e as especificações técnicas foram os insumos fundamentais
para iniciar o processo de geração de conceitos. A partir dessas informações, a equipe pôde
representar o “macro problema” relacionado à geração dos conceitos na forma de uma única
“caixa preta” operando com materiais, energia e informações, como demonstrado na Figura 2
a seguir.
Figura 2 – O produto como “caixa preta”
Fonte: Os autores
A Figura 2 representa um conjunto de entradas, quais sejam, energia (até então não
identificada), materiais (as próprias chaves) e as informações, que retratam o funcionamento
do mecanismo de seleção que transformará o comando recebido na ação que selecionará a
chave, permitindo que essa seja isolada e utilizada pelo usuário. A partir desse diagrama
foram definidas sub-funções, garantindo que a finalidade geral do produto fosse
desempenhada com sucesso, como mostrado na Figura 3.
Figura 3 – As sub-funções da “caixa preta”
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Fonte: Os autores
A fim de permitir a utilização da chave, as sub-funções apresentadas na Figura 3 indicam que
deve-se isolar uma única chave. Para tanto, a energia deverá ser recebida e, em seguida,
convertida em movimento; as chaves devem ser organizadas de forma que uma delas possa
ser isolada quando o usuário assim o desejar; e, por fim, os dispositivos de comando e seleção
deverão efetuar o isolamento da chave.
Cada uma das sub-funções foi novamente dividida, a fim de simplificá-la e facilitar a análise
das soluções propostas. Assim, o processo de decomposição funcional foi repetido até que
cada sub-função estivesse suficientemente simples para ser solucionada. Muitos desses
desdobramentos foram omitidos no presente documento, mas é importante ressaltar que ao
longo desse processo pôde-se melhor determinar os subproblemas críticos para o sucesso do
produto. Nesse produto o subproblema crítico estava relacionado ao dispositivo de seleção,
incluindo também suas sub-funções relacionadas. Esse problema apresentou alto nível de
complexidade, exigindo da equipe de desenvolvimento estudos e pesquisas mais
aprofundados. Além disso, esse mecanismo também foi considerado crítico pois representava,
na visão da equipe, o principal diferencial do produto em relação às soluções já existentes no
mercado.
3.3.2. Descrição dos conceitos desenvolvidos
A partir da investigação sistemática dos espaços de soluções para os problemas identificados
na etapa anterior, suprimido neste artigo, foi possível chegar a dois conceitos viáveis de
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solução integrada para o macro problema apresentado na caixa preta. Esses são descritos a
seguir.
1. Um chaveiro organizador que permita a seleção da chave desejada por acionamento
contínuo, no qual, por meio de um botão deslizante a chave percorre um trilho que a
destaca, permitindo a utilização.
2. Um chaveiro organizador que permita a seleção da chave desejada por acionamento
único, no qual, por meio de um botão comum a energia acumulada em uma mola põe
em ação o eixo giratório que destaca a chave, permitindo sua utilização.
3.4. Seleção do conceito mais promissor
Para dar continuidade ao desenvolvimento do produto a equipe optou pelo Conceito 1, pois
foi considerado como o de menor custo de produção e por possui o mecanismo de
funcionamento identificado como mais simples e confiável. No entanto, a equipe acreditava
que o Conceito 2 transmita a sensação de “imponência” ao usuários, essencialmente em
função do seu mecanismo de destaque giratório. No entanto, além de possui maior custo de
produção, constatou-se no Conceito 2 a existência de uma interação incidental crítica entre o
movimento das chaves e a localização dos botões de acionamento, recaindo em questões
anatômicas cujas soluções demandariam um alto grau de complexidade. Acrescenta-se ainda
que, devido à existência de um mecanismo interno constituído por molas e outros
componentes complexos, o Conceito 2 foi descartado também porque implicaria em maiores
dimensões ao produto, (quando comparado ao Conceito 1), o que contrariava algumas das
necessidades manifestadas nos usuários.
3.5. Arquitetura do produto
Nessa fase foi definida a arquitetura do produto, onde foram organizados os elementos
funcionais e os componentes físicos, relacionando-os entre si e definindo a lógica de
construção do produto. Os elementos funcionais estavam relacionados ao desempenho do
produto, enquanto os elementos físicos foram definidos como os componentes que
implementavam as funções do produto.
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3.5.1. Esquema físico do produto
Com o melhor conceito selecionado, deu-se início ao desenvolvimento de diagramas que
facilitam a concepção da arquitetura do produto. Em tais diagramas são representados os
elementos funcionais e físicos do produto, os quais ao serem operados contribuem para a
performance do produto. A junção dos elementos relevantes para criação do produto originou
o esquema ilustrado na Figura 4 a seguir.
Figura 4 – Esquema físico do produto
Fonte: Os autores
Os elementos que envolvem força ou energia estão relacionados à ação que será executada
pelo usuário: a chave deve ser inserida em um invólucro prendendo-a a numa base fixadora,
formando o que denominou-se de “cápsula”. Essa, por sua vez pode ser conectada a outras
cápsulas para compor módulos do chaveiro. Os elementos relacionados ao material envolvem
diretamente a chave e estão relacionados aos elementos presentes no fluxo de força. O fluxo
de informações ilustra o funcionamento do produto, onde a entrada do usuário, por meio de
um botão, interage com o um sistema de trilho da chave desejada, situado em sua respectiva
cápsula, destacando e permitindo a utilização da mesma.
3.5.2. Elementos do esquema agrupados
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Para organizar os elementos do esquema do produto em módulos, os quais representam os
componentes que implementam as funções do produto, esses foram agrupados em blocos.
Esse agrupamento foi usado para definir a arquitetura modular do produto, conforme ilustra a
Figura 5.
Figura 5 – Elementos do esquema agrupados
Fonte: Os autores
O módulo “Cápsula” envolve os elementos necessários para inserir a chave no invólucro. O
agrupamento das cápsulas origina um conjunto que forma o chaveiro e, portanto, os elementos
que envolvem essa atividade foram agrupados no módulo chamado “Conjunto”. A entrada do
usuário, que se dará pelo acionamento de um botão, ficou localizada no módulo “Comando”.
Já o módulo “Mecanismo de Destaque” incorporou os elementos responsáveis por selecionar
a chave desejada e permitir que essa fosse usada pelo usuário.
3.5.3. Criação do layout geométrico do produto
A elaboração do layout foi realizada no software Google SketchUp, que possui plataforma
livre. O software é uma ferramenta completa para a criação de modelos em duas ou três
dimensões e é capaz de criar plantas de casas, maquetes e também objetos. O processo de
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concepção do layout reuniu a base e sua tampa; o vagonete que percorre o trilho; o fixador
que prende a chave ao vagonete; o botão e os conectores que agregam as cápsulas. Esses
elementos que compõem o layout são ilustrados na Figura 6.
Figura 6 – Layout geométrico
Fonte: Os autores
Para facilitar o entendimento do produto, o layout completo, já com a chave fixada, está
representado nas Figuras 7 a seguir.
Figura 7 – Layout geométrico com chave
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Fonte: Os autores
O trilho por onde percorre o vagonete é caracterizado por uma pequena reentrância na base e
pelo vão entre a base e sua tampa, quando encaixadas, conforme ilustrado nas Figuras 8 e 9.
Figura 8 – Cápsula montada
Fonte: Os autores
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Os conectores apresentam-se de duas formas, macho e fêmea, o que implica a conexão correta
das cápsulas, conforme ilustra a Figura 8.
Figura 9 – Conjunto
Fonte: Os autores
Já o conjunto é formado pela união de duas ou mais cápsulas – dispositivo completo com
chave – formando assim o chaveiro, conforme ilustrado na Figura 9.
3.5.4. Identificação de possíveis interações incidentais
Identificou-se que o atrito gerado pelo movimento dos componentes poderia promover o
desgaste das partes, sobretudo entre o trilho e a base. Por isso, seria fundamental empregar um
material de qualidade e resistência na confecção do produto. Para alcançar tal durabilidade e
ao mesmo tempo atender a necessidade de ser resistente à corrosão e com custo acessível
determinou-se confeccionar o produto em plástico de alta dureza. Também notou-se que a
união de um número elevado de cápsulas poderia causar incômodo ao usuário no ato de
rotacionar uma das chaves junto à fechadura. Portanto, as dimensões do produto deveriam ser
reduzidas ao máximo para que o número ótimo de chaves a se agregar pudesse ser
significativo. Por último, detectou-se que, para inserir a chave junto à fechadura seria
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necessário existir ao corpo do trilho um contentor de final de curso para que a chave
permanecesse desencapsulada. De forma análoga, deveria existir também um contentor de
início de curso para fixar a chave em posição encapsulada.
3.6. Protótipo
Por meio da construção do protótipo foi possível avaliar se as especificações e dimensões
estabelecidas atendiam às necessidades identificadas, e se são exequíveis. O foco do protótipo
foi o de obter feedback da expectativa dos usuários com o produto. Neste aspecto, foi possível
reconhecer se o usuário considerava que o produto possuía as dimensões adequadas,
performance ideal e fácil manuseio.
3.7. Construção e testes
Os esforços foram direcionados para a elaboração de um protótipo computacional (analítico).
Salienta-se que, diferente da etapa de arquitetura, o protótipo deveria apresentar o
acabamento, material e outros detalhes necessários para os testes e posterior produção.
Também foi incluída a identificação em braile no corpo do protótipo em posição
anatomicamente favorável a sensibilização pelo dedo indicador.
Os conectores foram definidos na forma de encaixes, como em brinquedos infantis, pois
aderem uns aos outros com facilidade e resistem à desconexão. Assim, nesse produto, para se
ter as chaves desconectadas umas das outras basta desagregar suas respectivas cápsulas,
eliminando a dificuldade existente de adicionar e remover as chaves dos chaveiros de argola
metálica.
Para fixar a chave ao vagonete utilizou-se presilhas metálicas conformáveis e adesivo, esse
último auxiliando a estancar a chave na posição correta. Além disso, encaixes foram
conformados na base e na tampa para agregá-las. As Figuras 10, 11, 12 e 13 a seguir
demonstram o modelo construído.
Figura 10 – Acabamento dos elementos da Cápsula
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Fonte: Os autores
Figura 11 – Chave agregada à Cápsula
Fonte: Os autores
Figura 12 – Conector fêmea e campo para dados pessoais
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Fonte: Os autores
Figura 13 – Posicionamento do código Braille
Fonte: Os autores
As dimensões obtidas para o produto, considerando os diferentes formatos de chaves do tipo
Yale e espessuras suficientes para confecção do produto em plástico ou metal, estão
apresentadas na Figura 14.
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Figura 14 – Dimensões da Cápsula
Fonte: Os autores
As Figuras 15 e 16 a seguir ilustram o protótipo enriquecido em termos de design, cores e em
cenários diferentes. Nas ilustrações há em uma das Cápsulas uma conformação para agregar
uma presilha e assim responder a necessidade de ser prezo a roupa ou à bolsa.
Figura 15 – Chaveiro em cenário I
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Fonte: Os autores
Figura 16 – Chaveiro em cenário II
Fonte: Os autores
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4. Conclusões
Ainda que a apresentação do protótipo computacional caracterizado tenha sido realizada a um
número restrito de possíveis usuários, esse recebeu críticas positivas e demonstrações de
interesse. Além de atender aos deficientes visuais, verificou-se que o produto poderia conferir
marcas estampadas, ingressando no mercado de brindes. Espera-se que, ao atender a esses
dois mercados, a probabilidade de sucesso comercial do produto aumente.
Presume-se também que o design do produto confira ausência de som ao sacolejo, uma vez as
chaves não se atritam como nos chaveiros convencionais. Entretanto, este fato ainda deve ser
confirmado em um protótipo físico.
Quanto à capacidade flexível esperada do chaveiro, segundo as dimensões obtidas no modelo
computacional, recomenda-se conectar uma quantidade não muito superior a sete cápsulas
para garantir uma boa execução do movimento de mão ao se abrir uma porta. Essa quantidade
de cápsulas por chaveiro comportaria um número suficiente para atender a cerca de 98% dos
usuários entrevistados.
Uma família de produtos poderia seguir esse conceito e complementar a proposta com
cápsulas que comportassem chaves do tipo tetra, pen drives, fones de ouvidos etc. Ratifica-se,
contudo, que o próximo passo no processo de desenvolvimento é confeccionar o protótipo
físico e realizar uma pesquisa mais ampla sobre a aceitação no mercado. Em caso positivo, o
desenvolvimento poderá prosseguir com o projeto de manufatura.
REFERÊNCIAS
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2000.
KRISHNAN, V.; ULRICH, K. T. Product development decisions: A review of the literature. Management
science, v. 47, n. 1, p. 1–21, 2001.
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