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desenhos doocidente

Plano ExpandidoQuestões ao traçar uma linhaNicolas Robbio9 de junho a 21 de agosto de 2016

O

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Questões ao traçar uma linha

* Reta / Curva / Imaginária / De pontos / Fina / Grossa

/ De dimensão / De traço / Inclinada / Vertical / Horizontal

/ Divisória / De profundidade / Direta / Rabiscada / De partida

/ De defesa / De montagem / De movimento / De inundação

/ De frente / Zig zag / De fronteira / De centro / De flutuação

/ De costa / De força / Preenchida / De Horizonte / Circular

/ De produção / De eixo / Auxiliar / De corte / De proximidade

/ De fusão / De tiro / De conexão / De tempo / De pensamento.

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Introdução

Desenhos do Ocidente

“Se por acaso estivéssemos no norte do Mali e

partíssemos rumo ao norte, não teríamos a consciência

de termos passado para o território argelino a não ser que

topássemos casualmente com algum cartaz ou poste que assim

nos indicasse. A imensidade do deserto saariano continuaria

a mesma, e a fronteira atravessada tão imperceptível como

real. Ali, nos mapas, existe uma linha perfeitamente reta que

se estende por centenas de quilômetros sem mudar um ápice

do seu rumo, marcando o limite entre ambos os países.

Esse traço geográfico não é casual nem único no

continente africano. De fato, as fronteiras feitas a régua e

esquadro são numerosas e facilmente identificadas ao se

olhar para um mapa. Apesar de sua influência, em geral, não

ser muito grande sobre as comunidades humanas do continente

africano por estarem delineadas ao longo de gigantescas

áreas desérticas, supõem um bom exemplo da arbitrariedade

do exercício fronteiriço que foi feito na África no final do século

XIX, e cuja perpetuação é a explicativa dos conflitos que o con-

tinente sofreu desde as ondas descolonizadoras na segunda

metade do século XX.”

Trecho extraído do texto original Los caprichos fronterizos de África

Fernando Arancón / 27 noviembre, 2015

tradução: Marina Torre

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Desenhos que constroem, desenhos que destroem

Thais Rivitti

1. A linha em suspensão

Em 1954, Lygia Clark descobriu a linha orgânica.

A linha já estava lá, habitando os papeis que a artista usava nas suas pesquisas. Era sutil e de um tipo peculiar: formava-se apenas no interior de um plano da mesma cor. Não dividia os espaços. Antes, denunciava sua própria estrutura heterogênea e perpassada por forças. Um pouco como os veios de uma madeira ou de uma pedra. A observação dessa linha dava a ver que as superfícies, mesmo as aparentemente uniformes, não são planos geométricos puros. Essa descoberta da interioridade – não é por outro motivo que a artista dá a essa linha o nome de orgânica – foi um ponto fundamental na pesquisa de Clark. A partir daí, a artista construiu uma trajetória cada vez menos aderida à uma lógica construtiva, no que esse pensamento poderia ter de dominação, e mais atenta às sutilezas que compõem uma subjetividade. Era o início da crise do projeto moderno e da crítica, que se estende até hoje, de que ele carregava em si uma força destruidora e opressiva. A história da arte poderia ser contada por meio de uma história das linhas. Outra linha forte, nesse sentido, seria a inventada por Lucio Fontana em seus “conceitos espaciais”, obras em que o artista realiza um corte na tela fazendo, entre outras coisas, com que a pintura se abra a uma nova dimensão.

Se alguma das minhas descobertas é importante, ela é o buraco. Por “buraco” eu entendo ir para fora dos limites que enquadram uma imagem e ser livre em sua própria concepção

A descoberta da linha orgânica:Toda essa minha pesquisa começou quando descobri a linha que aparece quando duas superfícies planas e da mesma cor são justapostas. Esta linha não aparece quando as duassuperfícies são de cores diferentes.

Texto escrito por Lygia Clark em 1954. Publicado no Livro Obra, 1983/84.

Se alguma das minhas descobertas é importante, ela é o buraco. Por “buraco” eu entendo ir para fora dos limites que enquadram uma imagem e ser livre em sua própria concepção

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to de acontecimento casual. Ele guarda com seu referente as fronteiras nacionais traçadas no mapa-múndi, uma relação de semelhança. Mas, em vez de mostrar o contorno de um corpo, mostra as entranhas, sua divisão interna, os limites entre os países, a repartição política do mundo. E deixa de fora as margens litorâneas que conformam o contorno dos continentes e ilhas. A própria ideia de mapa pressupõe um alto grau de abstração: uma decodificação homogênea de superfícies acidentadas, geográfica e politicamente. A operação do trabalho consiste em separar essas linhas, interromper continuidades, fragmentar. Ao desmembrar cada parte, o todo anuncia uma nova configuração mundial na qual as fronteiras boiam, recusando-se a formar territórios fechados. Já não vemos países ou continentes. E sim um lugar ainda não construído, ou já em vias de dissolução. A essas linhas incapazes de formar um espaço corresponderia, podemos pensar, um tempo analogamente fora da história. Elas colocam a necessidade de se repensar, em diversos sentidos, a ideia de origem.

A divisão do mundo em continentes parece uma situação estática. Porém, segundo a Teoria da Deriva dos Continentes, existe um movimento, ainda que imperceptível dentro denossa vivência de tempo, que faz com que os continentes se desloquem lentamente. Essa teoria foi proposta em 1912, pelo alemão Alfred Wegener (1880 -1930), que observou o recorte da costa leste da América do Sul, o comparou com o da costa oeste da África e notou algumas semelhanças, como se os dois lados tivessem um dia estado juntos.

Atlas Escola do IBGE

Em 1931, numa das muitas expedições que empreenderam à África, os antropólogos Louis Leakey e sua mulher, Mary, decidiram concentrar suas pesquisas na garganta de Olduvai, na Tanzânia. Foi lá que, em 1959, eles encontraram o crânio fossilizado do Zinjanthropus boisei. Exames revelaram que o crânio era mais de um milhão de anos mais velho do que o mais antigo fóssil encontrado até então. (…)

Trecho de matéria publicada no jornal O Globo em 20/09/2013.

A divisão do mundo em continentes parece uma situação estática. Porém, segundo a Teoria da Deriva dos Continentes, existe um movimento, ainda que imperceptível dentro denossa vivência de tempo, que faz com que os continentes se desloquem lentamente. Essa teoria foi proposta em 1912, pelo alemão Alfred Wegener (1880 -1930), que observou o recorte da costa leste da América do Sul, o comparou com o da costa oeste da África e notou algumas semelhanças, como se os dois lados tivessem um dia estado juntos.

Atlas Escola do IBGE

Em 1931, numa das muitas expedições que empreenderam à África, os antropólogos Louis Leakey e sua mulher, Mary, decidiram concentrar suas pesquisas na garganta de Olduvai, na Tanzânia. Foi lá que, em 1959, eles encontraram o crânio fossilizado do Zinjanthropus boisei. Exames revelaram que o crânio era mais de um milhão de anos mais velho do que o mais antigo fóssil encontrado até então. (…)

Trecho de matéria publicada no jornal O Globo em 20/09/2013.

de arte. Eu não fiz buracos a fim de destruir um quadro. Pelo contrário, eu fiz buracos para achar alguma coisa a mais.

Lucio Fontana, julho de 1968 (em entrevista a Tommaso Trini)

O espaço da pintura e o espaço da vida seriam, a partir de Fontana – e de Clark, por um outro caminho – um mesmo espaço comum. Relacionados não apenas dentro de uma História da Arte, as invenções das linhas também pertencem a uma história social e estão em conexão estreita com o momento em que emergem. São esses os pensamentos que me ocorrem diante dessa nova linha que encontro. Essa nova descoberta artística sobre a qual, agora, me detenho, certamente carrega em sua árvore genealógica as duas que a precederam. E, como elas, esta descreve em sua forma um novo modo de compreensão social. Minha primeira tentativa é descrevê-la e nomeá-la. São fragmentos lineares, de diferentes dimensões e contornos, feitos com a mesma matéria ordinária, o arame. As linhas ficam levemente afastadas de seu suporte – um painel expositivo pintado de branco – e, por isso, ganham certa independência em relação a ele. É justamente por isso, por se desprenderem do suporte, que esses inúmeros fragmentos aparentam estar flutuando no espaço, ainda com uma posição não definitivamente estabelecida no conjunto. Chamarei essa nova forma de linhas em suspensão. Tais linhas em suspensão não representam, nem tomadas em conjunto, nem separadamente, qualquer objeto reconhecível. Mas os contornos que cada uma delas delineia – junto com a marcação de pontos cardeais – acabam por evocar um tipo de imagem com a qual estamos familiarizados: a de um mapa. Mas, sem configurar áreas ou territórios distintos, uma vez que as linhas não se tocam, esse desenho opera de forma oposta à do mapa tradicional. Nele, não há dentro ou fora, apenas a linha-limite, fronteiriça, traçado imaginário, estabelecimento jurídico, que divide – e ao mesmo tempo junta – dois países diferentes.

2. Desenho como espaço e tempo

O desenho é feito à maneira da cópia. Não é um desenho de imaginação nem um “desenho encontrado”, fru-

de arte. Eu não fiz buracos a fim de destruir um quadro. Pelo contrário, eu fiz buracos para achar alguma coisa a mais.

Lucio Fontana, julho de 1968 (em entrevista a Tommaso Trini)

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um modo de dominação que foi muito além da exploração econômica, da espoliação das riquezas naturais e da usurpação de poder.

Grito negro

Eu sou carvão!E tu arrancas-me brutalmente do chão

e fazes-me tua mina, patrão.Eu sou carvão!

E tu acendes-me, patrão,para te servir eternamente como força motriz

mas eternamente não, patrão.Eu sou carvão

e tenho que arder sim;queimar tudo com a força da minha combustão.

Eu sou carvão;tenho que arder na exploração

arder até às cinzas da maldiçãoarder vivo como alcatrão, meu irmão,

até não ser mais a tua mina, patrão.Eu sou carvão.

Tenho que arderqueimar tudo com o fogo da minha combustão.

Sim!Eu sou o teu carvão, patrão.

Poema de Craveirinha (1922 – 2003)

Em 1885 era assinado o Tratado de Berlim, que dividia, entre algumas das metrópoles europeias, o continente africano. O tratado foi imposto a mais de mil regiões autóctones. As fronteiras e a ocupação territorial já existentes na África, as estruturas sociais de cada povo, sua política e seus modos de vida foram desarticulados no brutal processo de colonização. Povos inteiros foram assassinados. Entre os inúmeros exemplos, lembramos o massacre do hererus, na atual Namíbia, então colônia alemã, onde foi instaurado o primeiro campo deconcentração.

O mundo colonial é um mundo compartimentado. Sem dúvi-da, é supérfluo, no plano da descrição, lembrar a existência

O mundo colonial é um mundo compartimentado. Sem dúvida, é supérfluo, no plano da descrição, lembrar a existência de

Grito negro

Eu sou carvão!E tu arrancas-me brutalmente do chão

e fazes-me tua mina, patrão.Eu sou carvão!

E tu acendes-me, patrão,para te servir eternamente como força motriz

mas eternamente não, patrão.Eu sou carvão

e tenho que arder sim;queimar tudo com a força da minha combustão.

Eu sou carvão;tenho que arder na exploração

arder até às cinzas da maldiçãoarder vivo como alcatrão, meu irmão,

até não ser mais a tua mina, patrão.Eu sou carvão.

Tenho que arderqueimar tudo com o fogo da minha combustão.

Sim!Eu sou o teu carvão, patrão.

Poema de Craveirinha (1922 – 2003)

Na região hoje conhecida como Antigo Oriente Médio nasceriam as primeiras expressões político-religiosas e artísticas do homem numa cultura amadurecida. Esta região estende-se do Egito à Anatólia, à oeste, até o platô iraniano à leste,alongando-se para o sul de modo a abranger a Península Arábica. (…) Nessas regiões iriam se desenvolver as mais antigas civilizações criadas pelo homem.

Giovani Garbini, “O Mundo Antigo”. Ed. José Olympio, Rio de Janeiro

3. A matéria

Arame comprado em rolos, podemos supor, em uma loja de material de construção. Embora sirva para atar coisas, fixar suportes e prender peças, seu uso está muito ligado à construção de telas e cercas e que dividem espaços, contro-lando a entrada.

O primeiro que, tendo cercado um terreno, se lembrou de dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas bastante simples para o acreditar, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou tapando os buracos, tivesse gritado a seus semelhantes: “Livrai-vos de escutar esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos, e a terra de ninguém!”

Jean Jacques Rousseau, “Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens”, 1754.

O conhecimento da metalurgia permitiu ao homemantigo fabricar espadas e facas. E depois, armaduras, escudos, capacetes, armas de fogo, submarinos e tanques de guerra. O arame já era usado, no século 19, para proteger e demarcarterras e propriedades. O ferro e o aço estão, desse os primórdios, ligados aos contextos de guerra e dominação. É durante a Revolução Industrial, pela qual passavam as principais nações europeias, no fim do século 18 e início do 19, que acontece a parte mais truculenta e radical da colonização da África. Em busca de matéria-prima, especialmente minérios, como o ferro, as metrópoles se dirigiam ao “Novo Mundo” inaugurando

Na região hoje conhecida como Antigo Oriente Médio nasceriam as primeiras expressões político-religiosas e artísticas do homem numa cultura amadurecida. Esta região estende-se do Egito à Anatólia, à oeste, até o platô iraniano à leste, alongando-se para o sul de modo a abranger a Península Arábica. (…) Nessas regiões iriam se desenvolver as mais antigas civilizações criadas pelo homem.

Giovani Garbini, “O Mundo Antigo”. Ed. José Olympio, Rio de Janeiro.

O primeiro que, tendo cercado um terreno, se lembrou de dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas bastante simples para o acreditar, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou tapando os buracos, tivesse gritado a seus semelhantes: “Livrai-vos de escutar esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos, e a terra de ninguém!”

Jean Jacques Rousseau, “Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens”, 1754.

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As linhas que tomo agora como objeto constroem uma utopia. E uma utopia só pode ser construída fora da História, num tempo que não pode ser remontado, nem projetado. As linhas em suspensão suspendem não apenas a si mesmas mas à própria História que, aqui, “ainda pode ser modificada”. Não apresentam o grau zero, tábula rasa, papel em branco, não desconsidera o passado, já impregnado nas próprias formas-fronteiras dos fragmentos de arame. Contudo, o desenho captura um instante cheio de possibilidades, espécie de fissura temporal onde o que foi e o que está por vir aindanão foram inscritos. Evidentemente, fosse o passado já inteiramente esgotado (como fato unívoco), o futuro estaria já dado. Daí a importância de voltar a vê-lo: como se fosse possível atentar para cada um dos fragmentos de arame e recontar sua história, quando e onde tal linha surgiu, as guerras que lhes deram origem, as mortes que são frutos dessa cristalização, os modos de vida que foram por ele interrompidos e criados. A imagem que oferece exige – tarefa impossível, porém inescapável – olhar para cada um de seus fragmentos e recontá-lo como experiência única. É apenas por meio dessas diversas narrativas simultâneas, dos fatos que elas condensam, que podemos recontar o passado. O estado de suspensão reflete um mundo que precisa reinventar seu desenho.

de povos indígenas e de escolas para europeus, como é supér-fluo lembrar o apartheid na África do Sul. No entanto, se pene-trarmos na intimidade desta compartimentação, teremos ao menos a vantagem de destacar algumas das linhas de força que isso implica. Essa abordagem para o mundo colonial é a possibilidade de delimitar as fronteiras a partir das quais se reorganizará a sociedade pós-colonial. O mundo colonizado é cindido em dois. A linha divisória, a fronteira, é indicada por quartéis e postos policiais.

Fanon, Les damnés de la terre. Paris: Gallimard, 1991.

Ainda vivemos num mundo cindido em dois? Pode-se concordar que o sistema colonial não descreve mais nossa realidade. Essa nova era, a era da globalização, certamente apresenta uma outra configuração e um outro modo de relações entre povos e nações. A própria noção forte de Estado parece estar em xeque, e vemos emergir blocos econômicos que sobrepõe-se a ela. Os discursos pós-colonialistas, que buscam lidar com as difíceis e dolorosas heranças coloniais, institucionalizam-se e ganham espaço pouco a pouco. As influências recíprocas entre culturas continuam em curso. Essa afirmação não diminui em nada o caráter de exploração e de violência da relação entre as metrópoles e colônias, sobretudo a África, onde grande parte da população foi escravizada. Mas a hibridação e mestiçagem são, talvez, o lado mais potente dessa trágica história.

A descolonização do pensamento antropológico significa uma dupla descolonização: assumir o estatuto integral do pensamento alheio enquanto pensamento e descolonizar o próprio pensamento. Deixar de ser o colonialista de si mesmo, subordinado às ideias mestras, às ideias-chave de sujeito, autoridade, origem, verdade. A descolonização envolve esse duplo movimento, o reconhecimento da descolonização histórica, sociopolítica do mundo, e os efeitos que isso tem sobre a descolonização do pensamento. Nenhum dos dois processos jamais estará completo e terminado, nem a descolonização do mundo, nem a do pensamento.

Viveiros de Castro em entrevista a Cleber Lambert e Larissa Barcellos. Primeiros estudos, São Paulo, n. 2, 2012.

povos indígenas e de escolas para europeus, como é supérfluo lembrar o apartheid na África do Sul. No entanto, se penetrarmos na intimidade desta compartimentação, teremos ao menos a vantagem de destacar algumas das linhas de força que isso implica. Essa abordagem para o mundo colonial é apossibilidade de delimitar as fronteiras a partir das quais se reorganizará a sociedade pós-colonial. O mundo colonizado é cindido em dois. A linha divisória, a fronteira, é indicada por quartéis e postos policiais.

Fanon, Les damnés de la terre. Paris: Gallimard, 1991.

A descolonização do pensamento antropológico significa uma dupla descolonização: assumir o estatuto integral do pensamento alheio enquanto pensamento e descolonizar o próprio pensamento. Deixar de ser o colonialista de si mesmo, subordinado às ideias mestras, às ideias-chave de sujeito, autoridade, origem, verdade. A descolonização envolve esse duplo movimento, o reconhecimento da descolonização histórica, sociopolítica do mundo, e os efeitos que isso tem sobre a descolonização do pensamento. Nenhum dos dois processos jamais estará completo e terminado, nem a descolonização do mundo, nem a do pensamento.

Viveiros de Castro em entrevista a Cleber Lambert e Larissa Barcellos. Pri-meiros estudos, São Paulo, n. 2, 2012.

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Canada - EUA (1867)8.893 Km

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Argentina - Chile (1893)6.691 Km

Montenegro - Sérvia (2006)157 Km

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Liechtenstein - Suiça (1866)41 Km

República do Congo - República Democrática do Congo (1960)1.229 Km

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Itália - República de San Marino (1860)37 Km

Colômbia - Venezuela (1830)2.341 Km

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Espanha - Gibraltar (1713)1,2 Km

República Democrática do Congo - Zambia (1964)2.332 Km

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República Centro-Africana - República Democrática do Congo (1960)1.747 Km

Espanha - Marrocos (1894)18,5 Km

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Equador - Peru (1942)1.592 Km

Hungria - Romênia (1920)424 Km

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Argélia - Mali (1962)1.395 Km

Brasil - Guiana Francesa (1822)649 Km

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Irlanda - Irlanda do Norte (1921)443 Km

Brasil - Paraguai (1935)1.371 Km

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Romêna - Sérvia (2006)531 Km

Malawi - Moçambique (1975)1.498 Km

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Brasil - Uruguai (1825)1.050 Km

Espanha - Portugal (1864)1.224 Km

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Angola - Zâmbia (1975)1.065 Km

Guatemala - México (1821)958 Km

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África do Sul - Zimbabwe (1980)230 Km

Argélia - Nigéria (1962)951 Km

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Noruega - Suécia (1905)1.666 km

Moldávia - Ucrânia (1991)1.202 Km

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Bielorrússia - Ucrânia (1991)1.111 Km

Bósnia e Herzegovina - Montenegro (2006)242 Km

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Costa do Marfim - Libéria (1960)778 Km

Gâmbia - Senegal (1965)749 Km

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Croácia - Eslovênia (1991)600 Km

Guiné - Mali (1960)1.062 Km

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Guiné - Serra Leoa (1961)794 Km

Guiana - Suriname (1975)836 Km

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Egito - Líbia (1951)1.115 Km

Bulgária - Romênia (1878)605 Km

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Burkina Faso - Costa do Marfim (1960)545 Km

Colômbia - Equador (1916)708 Km

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Polônia - Ucrânia (1991)535 Km

Romênia - Ucrânia (1991)601 Km

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África do Sul - Suazilândia (1968)438 Km

África do Sul - Moçambique (1975)496 Km

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República Centro-Africana - Congo (1960)487 Km

Uruguai - Argentina (1825)541 Km

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África do Sul - Lesoto (1966)1.106 Km

Moldávia - Romênia (1991)683 Km

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Haiti - República Dominicana (1844)376 Km

Polônia - Eslováquia (1993)541 Km

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Etiópia - Somália (1960)1.640 Km

Gabão - Guiné Equatorial (1968)345 Km

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Guiné-Bissau - Senegal (1974)341 Km

Honduras - Nicarágua (2014)940 Km

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Costa Rica - Nicarágua (1821)313 Km

Bulgária - Sérvia (2006)344 Km

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Bósnia e Herzegovina - Sérvia (2006)345 Km

Libéria - Serra Leoa (1961)299 Km

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Belize - Guatemala (1981)266 Km

Camarões - Gabão (1960)349 Km

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Grécia - Macedônia (1913)234 Km

Honduras - El Salvador (1840)391 Km

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Colômbia - Panamá (1903)339 Km

Brasil - Argentina (1927)1.263 Km

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Angola - República do Congo (1975)231 Km

República Centro-Africana - Chade (1960)1.556 Km

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Camarões - Guiné Equatorial (1968)183 Km

México - Belize (1981)276 Km

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Bielorrússia - Letônia (1991)161 Km

Chile - Peru (1884)168 Km

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Hungria - Ucrânia (1920)128 Km

Mexico - EUA (1970)3.155 Km

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Eslovâquia - Ucrânia (1993)97 Km

Mali - Mauritânia (1960)2.236 km

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Sesc Pompeia Gerente Elisa Maria Americano Saintive Adjunto Sérgio Pinto Programação Thiago Freire (coordenação), Alcimar Frazão e Giovana Moraes Suzin (Núcleo de ArtesVisuais), Comunicação Juliana Gontad (coordenação), Frederico Zarnauskas(produção gráfica), Fernanda Porta Nova (assessoria de imprensa) Infraestrutura Marcelo Coscarella (coordenação), Rafael Della Gatta (produção) Alimentação Raquel Lopes Py Atendimento Cristina Tobias Administrativo Paulo Delgado Serviços Ricardo Herculano

PLANO EXPANDIDOQuestões ao traçar uma linhaNicolas RobbioCoordenação e curadoria do projeto Núcleo de Artes Visuais_Sesc PompeiaAssistente de criação artística Felipe Cidade Designer Leandro da Costa Textos Miguel Chaia e Thaís Rivitti Pesquisa histórico-geográfica Ana Luiza Fonseca Tradução e revisão Marina Torre Produção de obra e montagem fina Estúdio Guaiamum Desenho de Luz Equipe de iluminação_Sesc Pompéia Produção executiva Drika Bourquim_DB produções

Informações técnicas

Desenhos das fronteiras tem como referência o mapa político do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística - IBGE. Quilometragem das fronteiras e datas de sua criação,

foram pesquisadas no site da Central Intelligence Agency - CIA.

Para Francisco, Elena e Camilo

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desenhos doocidente

Plano ExpandidoQuestões ao traçar uma linhaNicolas Robbio9 de junho a 21 de agosto de 2016

O