DESCOBRIR A BELEZA E A ALEGRIA DA VOCAÇÃO … esperança vos encha de toda a alegria e paz na...

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António Marto Bispo de Leiria-Fátima DESCOBRIR A BELEZA E A ALEGRIA DA VOCAÇÃO CRISTÃ Carta Pastoral Leiria Setembro de 2006

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António MartoBispo de Leiria-Fátima

DESCOBRIR

A BELEZA E A ALEGRIA

DA VOCAÇÃO CRISTÃ

Carta Pastoral

Leiria • Setembro de 2006

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FICHA TÉCNICA

TítuloDescobrir a beleza e a alegria da vocação cristãCarta pastoral

AutorAntónio MartoBispo de Leiria-Fátima

Grafi smo e PaginaçãoLuís Miguel Ferraz

CapaPaulo Adriano

ImpressãoGráfi ca de Coimbra

Tiragem??? exemplares • 1ª edição • Setembro de 2006

Depósito Legal???

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DESCOBRIR

A BELEZA E A ALEGRIA

DA VOCAÇÃO CRISTÃ

Carta Pastoral

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Caríssimos diocesanos,

irmãos e irmãs no Senhor:

Antes de mais quero renovar a saudação fraterna e

afectuosa que vos dirigi na minha tomada de posse, parti-

cularmente aos doentes, aos jovens e às crianças: “O Deus

da esperança vos encha de toda a alegria e paz na fé” (Rom

15, 13). Agradeço, mais uma vez, o caloroso acolhimento

com que me recebestes e que continuo a experimentar nas

visitas às paróquias, como também as muitas cartas rece-

bidas, testemunhos sinceros da vossa simpatia e amizade.

A todos e a cada um, o meu muito obrigado!

Na primeira saudação que vos fiz chegar aquando da

minha nomeação, apresentei-me a vós com o lema do meu

ministério “servidor da vossa alegria”. Esta colaboração na

vossa alegria – que é a alegria do Evangelho – leva-me a

escrever-vos esta Carta Pastoral para vos ajudar a contem-

plar, com os olhos cheios de deslumbramento e o coração

cheio de gratidão, a beleza e a alegria da vocação cristã. A

razão da carta é o início do Ano Pastoral 2006-2007 que

é dedicado à Pastoral das Vocações na Igreja, com acento

particular nas vocações ao sacerdócio, sob o lema bíblico:

“Não fostes vós... fui Eu que vos escolhi” (Jo 15, 16).

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O tema situa-se na continuidade do ano transacto

dedicado ao acolhimento, a partir da frase de Jesus à Sa-

maritana: “Se conhecesses o dom de Deus...” (Jo 4, 10).

Esta palavra de Jesus é um convite a ir mais além de nós

mesmos, a encontrar o melhor de nós próprios, acolhendo

o dom de Deus que é Jesus Cristo e a vida nova e bela que

Ele nos oferece. Trata-se pois de cada um procurar com-

preender-se a si mesmo, à sua vida e ao seu projecto de

vida à luz de Jesus Cristo: a que me chama o Senhor? Qual

é o dom da minha vocação dentro do grande projecto da

salvação de Deus para os homens? Quando se perde isto

do horizonte surge a crise de vocações à vida matrimonial,

ao sacerdócio e à vida religiosa que hoje sentimos de modo

preocupante.

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1. Novo contexto vocacional hoje

A crise das vocações ao sacerdócio ou à vida religiosa

não pode ser compreendida de um modo isolado do con-

texto cultural da nossa época, nem do contexto da vivência

da fé nas nossas comunidades.

É antes de mais uma crise cultural. Hoje sente-se a

falta de uma “cultura vocacional” que se reflecte em vários

âmbitos: crise da vocação ao matrimónio, à vida política, à

vida sindical, à vida associativa. Isto é derivado da cultura

reinante da incerteza e da confusão causada pelo relati-

vismo e pelo vazio de ideais, de valores, de referências e

modelos fortes. Acresce ainda a cultura da distracção,

cada vez mais invasiva e evasiva, que perde de vista e até

sufoca as interrogações sérias acerca do sentido da vida.

Mais, sofre-se hoje de uma orfandade educativa nas famí-

lias e nos centros de educação. Quantos abortos vocacio-

nais – que impedem o desabrochar da semente da vocação

– por causa do vazio educativo!

Todo este clima suscita e alimenta a cultura da indeci-

são: os jovens têm receio e medo de fazer opções e assumir

compromissos fortes, exigentes e duradoiros. Basta pensar

na actual crise da opção matrimonial que, a meu ver, não é

menos grave do que a crise das vocações ao sacerdócio ou de

consagração. É dramático tudo isto que leva um jovem a pri-

var-se de uma das realidades mais belas da vida: formar uma

família com um vínculo de amor uno, fiel e para sempre.

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Esta crise cultural repercute-se também na Igreja. Em

tempos de cristandade, a vocação, tal como a fé, desper-

tava e transmitia-se como que por osmose ou contágio

do ambiente cristão das famílias e da figura e do estatuto

social do padre. Hoje, num mundo em constante mudança

e pluralista, a vocação, tal como a fé, requer uma interpe-

lação clara por parte da comunidade cristã e uma opção

consciente e madura da parte dos destinatários.

Acontece, porém, que nas nossas comunidades cristãs

reina uma amnésia vocacional. A maior parte dos nossos

cristãos pensa que a questão das vocações não lhes diz res-

peito; é assunto do bispo e dos padres.

A crise vocacional é, em última análise, crise de vivên-

cia e interpretação banal da fé, privada de toda a beleza, cia e interpretação banal da fé, privada de toda a beleza, cia e interpretação banal

frescura, encanto, paixão, alegria e entusiasmo por Jesus

Cristo e pelo evangelho, privada do sentido de responsabi-

lidade e de doação a Deus e aos outros.

Esta reflexão serve para compreender o contexto da crise

vocacional. Mas não ajuda a solucioná-la dizer que acontece

o mesmo na vida política e sindical, nem ficar nas lamenta-

ções acerca do nosso mundo. A crise representa um desafio

em ordem a assumir com novo ardor a pastoral vocacio-

nal e a encontrar novos caminhos. O que aqui está em jogo nal e a encontrar novos caminhos. O que aqui está em jogo nal

é, sobretudo, uma experiência de fé que leve a descobrir a

novidade e a beleza do encontro com Jesus Cristo.

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2. A beleza da vocação cristã

2.1. “E Deus viu que tudo era muito belo” (Gen 1,31):

Toda a vida é vocação

Quando contemplamos a nossa vida à luz da fé no mis-

tério da Criação, tomamos consciência de que “não somos

o produto do acaso irracional e sem sentido da evolução.

Cada um de nós é fruto dum pensamento de Deus. Cada

um de nós é querido, cada um é amado, cada um é neces-

sário.” (Bento XVI) O amor criador de Deus é o início de

cada vocação. Ele cria-nos com dons, talentos e capaci-

dades que somos chamados a desenvolver para a nossa

realização pessoal e para o aperfeiçoamento do mundo.

Chama-nos a colaborar com Ele no projecto criador e sal-

vador, para tornar o mundo bom e belo.

A vida humana não é pois um acaso nem um destino

cego. É uma obra-prima do amor criador de Deus e traz

inscrito dentro, em si mesma, um chamamento ao amor.

Não é uma aventura solitária, mas diálogo, dom de Deus

que se torna tarefa e missão para nós. Não vivemos ao aca-

so nem por acaso. O homem não está só no mundo: nem

no princípio, nem no meio, nem no fim da vida e da histó-

ria. Deus é o seu companheiro de caminho e este caminho

abre à vida verdadeira e plena, boa, bela e feliz. Cada dia

é-nos dado para responder à nossa vocação de criaturas de

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Deus, como um modo de conceber e projectar a nossa vida.

Em cada pessoa há um dom original de Deus que espera

ser descoberto, desenvolvido para dar frutos. A busca do

sentido da vida é um eco da “vocação” de Deus.

2.2. “Fala, Senhor; o teu servo escuta” (1Sam 3,10):

A vocação como diálogo

Mas Deus chama o homem não só à vida e ao seu de-

senvolvimento; chama-o também, de novo e sempre, na

sua história a colaborar com Ele numa história de salvação

e não de perdição, de graça e não de desgraça, formando

um povo que acolhe o dom da salvação. O povo de Deus

– outrora Israel, hoje a Igreja – é um povo de chamados

à fé e à salvação, a responder e corresponder à Palavra do

Senhor.

A história de Deus com os homens é uma história de

vocações. Através da sua Palavra, Deus chama e envia

alguns (patriarcas, profetas…) a realizar determinada mis-

são. Uma amostra exemplar é a vocação de Abraão, a quem

Deus chamou para dar início à história particular da sal-

vação, formando um povo, e a confiar somente na Palavra,

acolhida na fé e na esperança. Quando Deus chama, espera

uma resposta. Isto é claro na vocação de Samuel (1Sam 3),

que responde com a sua disponibilidade pronta: “Eis-me

aqui. Fala, Senhor, que o teu servo escuta”. Assim a história

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de cada homem, embora nos apareça como uma pequena

história, é sempre parte integrante e inconfundível duma

grande história da salvação, que vem de longe e leva longe

e que tem o seu momento culminante em Jesus Cristo.

2.3. “Vinde e vede” (Jo 1,39):

A vocação como encontro com Cristo

De facto, em Jesus, Filho de Deus feito homem, o Deus

vivo, no excesso do Seu amor, entra em pessoa na nossa

história, vem ao nosso encontro, aproxima-se de nós, tor-

na-se nosso amigo, partilha connosco o mistério do Seu

amor, para que tenhamos vida em abundância, vida ver-

dadeira, nova e eterna. Jesus traz-nos a Boa-Nova de que

somos amados por Deus como filhos; e dá-nos o Espírito

Santo no qual podemos acolher Deus como Pai e os outros

como irmãos. O Filho é enviado pelo Pai para chamar os

homens a esta comunhão divina e fraterna. O convite de

Deus chega até aos homens nas palavras, nos gestos, nos

sinais de salvação de Jesus. Não é uma fórmula ou uma

doutrina que nos salva, mas a Pessoa viva de Jesus.

Por isso, não existe uma passagem do Evangelho, um

diálogo ou encontro que não tenha um significado voca-

cional: um convite – chamamento de Jesus a segui-Lo,

que põe o homem diante da interrogação fundamental:

que quero fazer da minha vida? Qual o meu caminho?

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É verdadeiramente iluminante a narração da vocação

dos primeiros discípulos de Jesus no Evangelho segundo

S. João 1, 35-39. O amor divino é o acontecimento de um

encontro que muda a vida, a experiência de uma hora ines-

quecível que revive, de novo e sempre, no coração de quem

aceita entregar-se a este amor em Jesus.

Quando João Baptista indica Jesus como o “Cordeiro

de Deus que tira o pecado do mundo” – isto é, como Sal-

vador do mundo –, os dois (João e André) não hesitaram

em segui-l’O, sem dizer nada. E Jesus faz-lhes uma única

pergunta: “Que procurais?” Pode parecer uma pergunta

banal, mas ela vai ao fundo da pessoa, como quem diz:

o que vos move? Que anseios estão no interior do vosso

coração? De que andais à procura na vida? Que vos inte-

ressa acima de tudo? E que esperais de Mim? É pois uma

pergunta cheia de sentido, um convite a olhar-se dentro, a

advertir o que há de mais profundo em nós.

Por sua vez, eles respondem com outra pergunta: “onde

moras?” que exprime o desejo de ficar com Ele. Morando

juntos, convivemos, compreendemo-nos, partilhamos algo

em comum, sentimo-nos da família. Eles compreenderam

pois que seguir Jesus é encontrar a verdadeira morada da

própria vida. A resposta do Mestre é um convite a confiar e

a fazer uma experiência de vida com Ele: “vinde e vede”. E

assim fizeram. É tão grande a impressão daquele encontro

que vai marcar para sempre a sua vida, que S. João recorda

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a hora precisa, típico da memória de um grande amor: “era

a hora décima” que, para os hebreus, significava a hora das

grandes decisões da vida. A vocação é o encontro com Al-

guém, não com alguma coisa; é a recordação de uma hora

que muda a vida quando se aceita estar com Ele e viver

d’Ele, reconhecendo-O como “meu Senhor e meu Deus”.

“O encontro com Jesus abre um novo horizonte e imprime

um rumo decisivo à vida” (Bento XVI), dá origem a uma um rumo decisivo à vida” (Bento XVI), dá origem a uma um rumo decisivo à vida”

existência nova na comunhão com Cristo.

2.4. “É belo estarmos aqui” (Mat 17,4):

A vocação como vida bela em Cristo

A vida em comunhão com Cristo é uma experiência de

beleza a saborear e a testemunhar, tal como nos é dado

contemplar no mistério da Transfiguração de Jesus, no

monte Tabor. É um episódio misterioso, um acontecimen-

to de revelação em que o Filho de Deus vivo deixa trans-

parecer a profundidade da Sua vida divina, do Seu Amor

eterno, da Sua bondade que irradia em forma de luz tão

intensa que transfigura o Seu rosto – expressão da pessoa

– e as Suas vestes, símbolo de tudo o que é quotidiano e se

desgasta. Uma experiência tão maravilhosa que extasia os

discípulos e leva Pedro a exclamar: “Senhor, como é belo

estarmos aqui”: é belo estar contigo, contemplar a beleza

do Teu rosto, pertencer a Ti, dedicarmo-nos a Ti!

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E depois escutam a voz do Pai que ilumina este aconte-

cimento: “Este é o meu Filho muito amado: escutai-O”. É

o chamamento do Pai a seguir Jesus: recebei-O, acolhei-O,

ponde n’Ele toda a confiança, fazei d’Ele o centro da vida,

deixai-vos transfigurar por Ele.

A Igreja vê na Transfiguração de Jesus o próprio ca-

minho de transformação da existência humana. Para o

cristão, é sinal e apelo da transformação baptismal: um

convite a dar nova figura, novo rosto, nova beleza à vida

com Cristo que nos é comunicada no Baptismo. O Baptis-

mo é pois o início de todo o caminho cristão para ser filhos

de Deus como Jesus. Por isso dizemos que a primeira e

fundamental vocação comum a todos os cristãos é a bap-

tismal. Nela somos chamados à santidade que é a expres-

são da beleza espiritual e moral da nossa vida com Cristo.

Ser cristão é um modo belo de viver a vida!

2.5. “Fui eu que vos escolhi” (Jo 15, 16):

A vocação como eleição de amor

Há ainda uma palavra muito bela de Jesus, em que Ele

desvela o segredo e o sentido mais profundo e último da

vocação cristã: “não fostes vós que Me escolhestes; fui Eu

que vos escolhi a vós e vos constituí para que vades e deis

fruto e o vosso fruto permaneça”. Esta frase é pronunciada

num contexto em que Jesus como que entoa uma cantata

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ao Amor infinito do Pai dado a conhecer e partilhado pelos

discípulos. E assim coloca o chamamento dos discípulos

no coração do mistério, isto é, no desígnio do Amor eterno

de Deus, que nos precede e acompanha, ao qual respon-

demos pela aceitação da fé. Sem negar a opção pessoal

dos discípulos, sublinha-se o primado da iniciativa de

Cristo, reconhecido como Senhor da nossa vida. Na ori-

gem da vocação cristã está a iniciativa da Sua graça, do

Seu amor, da Sua misericórdia, da Sua atracção. Há um

Amor que está antes da nossa resposta. A vocação aparece

então como um dom, uma eleição de Amor.

Esta eleição não é só para eles, mas para a missão:

“para que deis fruto”, para que através da irradiação da

fé e do amor os homens tenham a vida eterna. Através da

comunidade dos discípulos, o Filho de Deus continuará a

revelar-Se e a comunicar-Se ao longo da história. A nossa

vocação tem como horizonte o mundo inteiro. O chama-

mento do Senhor é pessoal e apostólico.

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3. Vocação e vocações na Igreja

Tudo o que foi dito refere-se à vocação comum a todos

os cristãos. O nosso ser com Cristo pelo Baptismo insere-

nos na comunhão de vida íntima com Deus e na comunhão

de irmãos que é a Igreja. No Baptismo está pois a origem

da vocação comum de todos os fiéis cristãos. Todos somos

chamados a viver a nossa existência humana em comu-

nhão com Cristo: a crescer na relação filial com Deus, no

amor fraterno, na vida nova segundo o Espírito de san-

tidade, a participar na edificação da Igreja, a anunciar e

testemunhar o Evangelho no mundo. É uma vocação em

ordem a realizar uma vida boa, bela e feliz com Cristo e

com os outros para o mundo.

3.1. Variedade de dons e chamamentos

A vocação cristã, porém, especifica-se numa multifor-

me variedade. Todos os baptizados são alcançados pela luz

da Transfiguração, pela beleza da vida nova, todos igual-

mente chamados a seguir o mesmo Cristo; mas cada um,

de um modo próprio, segundo os dons e os apelos de Deus

nas diversas situações.

O Espírito Santo alimenta a vida e a missão da Igreja

com dons, carismas e ministérios diversos e complemen-

tares, que se configuram numa grande variedade de voca-

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ções. Podemos sintetizá-las em três tipos: a vocação à vida

laical, ao ministério ordenado e à vida consagrada. Estas

“podem-se considerar paradigmáticas, uma vez que todas

as vocações particulares, sob um aspecto ou outro, se ins-

piram ou conduzem àquelas… Todos na Igreja somos con-

sagrados no Baptismo e na Confirmação; mas o ministério

ordenado e a vida consagrada supõem, cada qual, uma

vocação distinta e uma forma específica de consagração,

com vista a uma missão particular” (VC 31).

Assim, a vocação dos fiéis leigos é caracterizada pelo

seu compromisso cristão no mundo: na vida matrimonial,

na família, no trabalho, na economia, na política, na edu-

cação…; a dos ministros ordenados (bispos, padres e diá-

conos) distingue-se pelo ministério de representar Cristo,

Pastor que guia o Seu povo; a dos consagrados consiste

na entrega total, de alma, coração e sentimentos, a Jesus

Cristo, pelo caminho da pobreza, da virgindade e da obe-

diência como testemunho profético e serviço ao Reino de

Deus no mundo e à esperança do mundo novo, em que

quem reina é o Deus – Amor.

As diversas vocações são comparáveis a raios da úni-

ca luz da Beleza de Cristo que resplandece no rosto da

Igreja e fazem dela um jardim embelezado com as mais

diversas flores.

Cada vocação nasce num contexto preciso e concreto: a

Igreja, mãe e berço de vocações. Não existem vocações de

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primeira ou segunda categoria. Todas vêm de Deus e têm

um único objectivo: anunciar o reino de Deus na história,

tornar visível e testemunhar o mistério de Cristo Salvador.

Numa palavra, na comunidade cristã há muitas vocações,

mas uma única missão.

3.2. Necessidade urgente de sacerdotes e consagrados

Todas as vocações colaboram na edificação da Igreja,

Corpo de Cristo, e na obra de salvação. Mas hoje sente-

se uma necessidade urgente de ministros ordenados e de

fiéis de vida consagrada. Os sacerdotes, na continuidade

do ministério dos Apóstolos, servem, em nome de Cristo

Pastor, a fé, o amor e a esperança de todos os fiéis e das co-

munidades cristãs, através do anúncio da Palavra de Deus,

da celebração da Eucaristia e dos outros sacramentos, e da

orientação da comunidade na comunhão fraterna.

Os fiéis de vida consagrada, movidos pelo Espírito San-

to, tendem à perfeição da caridade seguindo radicalmente

a Cristo mediante os chamados “conselhos evangélicos”,

dando testemunho daquele Amor único que é Deus e do

serviço aos irmãos em variadas expressões. São uma ri-

queza inestimável para a vitalidade da Igreja!

A atenção prioritária, na actual situação da nossa dio-

cese, vai sobretudo para o ministério ordenado. Ele é a

garantia permanente da presença sacramental de Cristo

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nos diversos tempos e lugares, sobretudo através da Euca-

ristia. É pois fundamental e indispensável para a vida da

Igreja, da sua edificação e do seu crescimento!

Neste contexto, não há dúvida de que deve ser reser-

vada hoje uma singular e específica atenção às vocações

sacerdotais. Trata-se de “um problema vital para o futuro

da fé cristã”, como dizia João Paulo II. Sem vocações ao

sacerdócio será mais difícil o serviço ao Evangelho e não

será possível uma renovada evangelização da nossa Igreja

e do nosso território.

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4. Novo ardor da pastoral vocacional: da alegria de ser chamado à coragem de chamar

O problema vocacional põe-se, em primeiro lugar, a

cada fiel cristão: a exigência de discernir a vocação espe-

cífica que Deus nos reserva na tarefa de anunciar o Evan-

gelho, de colaborar na edificação da Igreja de Cristo e na

transformação do mundo. Isto significa não só saber o que

Deus quer de nós, mas também o compromisso de fazer

o que Ele nos pede. É uma responsabilidade pessoal que

recebe aquele que é chamado: manter sempre viva, grata

e alegre a consciência da própria vocação e dar uma res-

posta livre, generosa e cheia de amor a Deus que chama:

“Eis-me aqui; envia-me!” (Is 6, 8).

Mas o problema vocacional diz também respeito a

toda a vida e acção pastoral da Igreja, chamada a susci-

tar, discernir, acompanhar e apoiar todas as vocações na

sua variedade e complementaridade. As vocações na Igreja

surgem dum apelo que vem de Deus, mas que se realiza

normalmente através da mediação humana, com uma pe-

dagogia e metodologia próprias.

Por isso, “é necessário estruturar uma vasta e capilar

pastoral das vocações, que envolva as paróquias, os cen-

tros educativos, as famílias, suscitando uma reflexão mais

atenta sobre os valores essenciais da vida, cuja síntese

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decisiva está na resposta que cada um é convidado a dar

ao chamamento de Deus, especialmente quando este pede

total doação de si mesmo e das própria energias à causa do

Reino de Deus” (NMI 46).

Resulta pois que a pastoral vocacional não é um aspec-

to isolado, sectorial. Está vinculada à pastoral global da

comunidade cristã e, particularmente, à pastoral juvenil e

familiar. Trata-se duma pastoral transversal e refere-se a

todas as vocações.

Neste momento, quero indicar apenas alguns caminhos

que me parecem elementares e de fácil concretização.

4.1. A comunidade cristã, casa e escola vocacional

Suscitar vocações é uma responsabilidade de todo o

povo de Deus e de cada comunidade cristã. Na Exortação

Apostólica “Dar-vos-ei Pastores”, João Paulo II insiste

especialmente neste ponto de que devemos começar a

preparar nas paróquias um terreno fértil para que a ac-

ção de Deus se desenvolva e o Seu apelo possa ser ouvido

e seguido. Para que estes primeiros passos possam ter

possibilidades de sucesso é preciso estar convicto de que

todos os membros da Igreja, sem excepção, têm a graça e a

responsabilidade do cuidado pelas vocações” (nº 41).

Toda a comunidade cristã normal deve ser, pois, por

natureza, “casa e escola vocacional” que faz despertar e natureza, “casa e escola vocacional” que faz despertar e natureza, “casa e escola vocacional”

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crescer, de modo normal, as vocações normais a partir

da fé vivida e testemunhada como apelo. A casa evoca o

ambiente vivencial; a escola evoca a aprendizagem, a for-

mação. Assim, o clima de fé, oração, comunhão, alegria,

maturidade espiritual, caridade e testemunho faz da co-

munidade o terreno propício não só ao desabrochar de vo-

cações, mas também à criação duma cultura vocacional.

Em ordem à consciencialização das comunidades e à

sua maior corresponsabilidade nesta tarefa, peço ao Secre-

tariado Diocesano da Coordenação Pastoral a elaboração

de algumas catequeses que poderão ser feitas quer nas

paróquias, quer a nível de vigararia, durante a Quaresma.

Mas, como num jogo em equipa, há que ter animado-

res. Por isso, em cada paróquia ou vigararia será desejável

a criação de um “Grupo de Animadores Vocacionais”. É

um ministério novo que se vai configurando dentro da

comunidade, ao qual se confia o mandato da animação

vocacional.

4.2. Acompanhamento vocacional em cada idade

É preciso animar e acompanhar vocacionalmente cada

idade, desde o começo da iniciação cristã até aos anos da

juventude madura, através de vários itinerários. Em pri-

meiro lugar, os itinerários da fé. Os caminhos da pastoral

vocacional são, antes de mais, os do crescimento da fé e

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dos seus dinamismos. Como nos adverte João Paulo II

“o convite de Jesus, “vinde e vede” (Jo 1, 39) permanece,

ainda hoje, a regra de ouro da pastoral vocacional. Trata-

se de apresentar o fascínio da Pessoa do Senhor Jesus e a

beleza do dom de si à causa do Evangelho” (VC 64). Neste

aspecto há que investir energias precisas no itinerário

da catequese oferecendo uma leitura vocacional da vida.

Também a idade do crisma poderia ser, precisamente, a

“idade da vocação” para a descoberta e o testemunho do “idade da vocação” para a descoberta e o testemunho do “idade da vocação”

dom recebido e das diversas vocações, proporcionando

aos crismandos o encontro com homens e mulheres cren-

tes que vivem com coragem e alegria a sua vocação.

Neste percurso de animação e acompanhamento

inserem-se, eficazmente, os itinerários vocacionais es-

pecíficos para grupos de jovens, rapazes e raparigas, que

querem fazer uma reflexão séria e pessoal em ordem ao

discernimento da sua opção e projecto de vida. Trata-se

dum caminho programado para um ano, com um encontro

mensal de um dia ou fim-de-semana de reflexão, oração e

partilha.

Temos ainda o “pré-seminário” ou “seminário em “pré-seminário” ou “seminário em “pré-seminário”

família”, como itinerário vocacional específico de acom-

panhamento, orientação e discernimento para os que se

propõem entrar para o Seminário Maior em ordem ao

sacerdócio.

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DESCOBRIR A BELEZA E A ALEGRIA DA VOCAÇÃO CRISTÃ

Menciono ainda os retiros ou exercícios espirituais que

são momentos especiais de graça para que a fé seja perso-

nalizada, interiorizada e vivida como apelo, chamamento

de Deus.

Em todos estes percursos é de fundamental importân-

cia a chamada direcção ou orientação espiritual. É uma

forma privilegiada de acompanhamento personalizado e

de discernimento vocacional. De facto, cada pessoa e cada

vocação é única, tem uma história singular e problemas

e interrogações próprias, que ela precisa de confrontar

com alguém adulto na fé, para um discernimento sério e

maduro.

Como podemos ver – e é já um dado adquirido – uma

escolha vocacional não amadurece, em regra, através de

experiências episódicas de fé, mas através de um mais ou

menos longo e paciente caminho espiritual.

4.3. Testemunho vocacional contagiante

Hoje, o povo cristão é mais sensível às testemunhas do

que aos mestres. O que atrai os jovens não é o estatuto ou

papel social de uma determinada vocação. Eles são cati-

vados pelo fascínio do testemunho. Seguem e escolhem o

que é significativo para a sua existência pessoal. Têm um

sexto sentido para reconhecer as pessoas que são ponto de

referência para uma vida de fé e doação, que dão testemu-

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nho da beleza de uma vida que se realiza, de modo alegre e

feliz, segundo o projecto de Deus.

Uma comunidade de testemunhas é o ambiente neces-

sário para a fecundidade vocacional. Todo o adulto na fé

sentirá a alegria de ser chamado e, por sua vez, a cora-

gem de chamar com o testemunho de vida, a palavra e a gem de chamar com o testemunho de vida, a palavra e a gem de chamar

interpelação directa.

As famílias cristãs são chamadas a testemunhar o

amor na abertura às necessidades da Igreja e do mundo, a

promover um clima de fé e a oferecer o ambiente próprio

para uma saudável educação humana, afectiva e cristã, em

que os jovens aprendam a usar a liberdade e a projectar a

vida segundo o coração de Deus.

De modo particular, os padres e os religiosos são cha-

mados a deixar transparecer, na sua vida pessoal e comu-

nitária e na sua missão, a beleza e a alegria do sacerdócio e

da vida consagrada. Nenhum jovem poderá, de facto, sen-

tir um chamamento, se os seus olhos não puderem ver ao

vivo na pessoa, na vida e no ministério dos padres a alegria

contagiante de alguém que é feliz.

Neste sentido é de aproveitar a celebração de ordena-

ções, profissões de religiosos e respectivos aniversários

jubilares como ocasiões preciosas de evangelização e pro-

posta vocacional, envolvendo os jovens na preparação e na

celebração.

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4.4. Grande Oração pelas Vocações

Sabemos pela fé que toda a vocação é dom de Deus

como aliás toda a vida e vitalidade da Igreja. Por isso

devemos implorar também este dom. É um compromisso

que se deve estender a todo o povo de Deus e ser assumido

por cada comunidade. Por este caminho passa o processo

misterioso de toda a vocação apostólica. A vocação nasce

da invocação, isto é, da oração.

A oração, se inserida num caminho de fé, abre os co-

rações a Deus, põe-nos à escuta e torna-os disponíveis a

qualquer solicitação da graça. Feita a nível comunitário,

cria o ambiente propício para qualquer semente que o

Senhor aí queira semear. Assim, a cultura da oração gera

também uma cultura vocacional.

Faço pois um sentido apelo a toda a Diocese e a todas as

comunidades e movimentos para dar vida a uma “Grande

Oração pelas Vocações”: uma oração vivida com intensa

confiança e perseverança, capaz de envolver pessoalmente

todos os membros do povo de Deus e a realizar com opor-

tunas modalidades comunitárias, de modo programado e

calendarizado ao longo do ano e não episódico ou pontual.

Neste aspecto existem algumas propostas concretas: a

quinta-feira vocacional, em cada mês, com celebração da

Eucaristia ou uma hora de adoração eucarística, a inclu-

são de uma prece pelas vocações em todas as celebrações

comunitárias, fomentar grupos de oração pelas vocações.

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Além disso, podem promover-se tempos fortes de oração

no Dia Mundial das Vocações, no Dia do Seminário, na

semana vocacional paroquial.

Em cada vigararia haverá uma vigília de oração pelas

vocações que espero seja preparada por uma equipa de

padres e leigos e bem participada pelos fiéis.

4.5. Serviços de apoio e dinamização

Sendo a pastoral vocacional algo que diz respeito a todo

o povo de Deus, são todavia necessários serviços de apoio e

animação como o Secretariado Diocesano da Pastoral Vo-

cacional, que ao longo deste ano nos propomos reactivar. É

um organismo de comunhão e instrumento ao serviço da

pastoral vocacional na Diocese. Nele devem estar represen-

tadas todas as vocações desde os esposos aos consagrados.

Compete-lhe promover itinerários vocacionais específicos

e coordenar as iniciativas de pastoral vocacional existentes

na Diocese; formar os animadores vocacionais e cuidar que

no povo de Deus se crie uma cultura vocacional; participar

na elaboração do programa pastoral diocesano e colaborar

particularmente com a pastoral familiar e juvenil.

Quero aqui recordar que todos os sectores da pastoral

diocesana são chamados a terem presente a dimensão

vocacional. Peço pois a colaboração cordial de todos em

espírito de comunhão.

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5. A vós jovens: levantai-vos e não tenhais medo!

A vós, jovens, reservo uma palavra amiga de encoraja-

mento. Sei como é difícil a um jovem orientar-se e orientar

a própria vida em sentido diverso e melhor, segundo o pro-

jecto de Deus, neste mundo que se assemelha a uma grande

feira em que são oferecidos os mais variados projectos e

modelos, cada qual na embalagem mais sedutora. Quero

dizer-vos, por experiência própria, que em Jesus Cristo en-

contramos tudo o que torna a vida verdadeira, digna, livre,

nobre, grande e bela. Não vos deixeis cair na indiferença,

na superficialidade e na mediocridade de vida.

Procurai dar à vossa vida um projecto belo. Se, no

mais íntimo, sentirdes o chamamento do Senhor ao sacer-

dócio ou à vida religiosa, sede generosos, não o recuseis!

Cultivai os anseios próprios da vossa idade, mas não

fecheis o coração aos apelos de Deus. E se vos assaltar

o temor, ouvi a palavra de encorajamento de Cristo aos

apóstolos após a contemplação da Transfiguração e que

faço minha: “levantai-vos e não tenhais medo”!

Com palavras de João Paulo II quero expressar a mi-

nha confiança em vós: “O terceiro milénio aguarda a con-

tribuição de uma multidão de jovens consagrados, para

que o mundo se torne mais sereno e capaz de acolher Deus

e, n’Ele, todos os Seus filhos e filhas” (VC 106).

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Ouso mesmo oferecer-vos uma breve oração:

Senhor Jesus,

Torna-me atento e vigilante

No discernimento da vontade do Pai,

Para que eu possa em tudo realizar a vocação

Com que Ele, desde sempre, me quis e amou.

Na hora da dúvida e da provação

Dá-me a certeza de não estar só

Mas de saber e querer-Te próximo,

Para viver contigo a minha oferta,

Seguindo-Te humilde e confiadamente

No serviço da Tua Igreja e do mundo.

Para terminar, quero fazer um pedido premente a to-

dos, irmãos e irmãs na fé desta Igreja de Leiria – Fátima:

acolhei esta carta como impulso para uma meditação

sobre a vocação cristã, para uma mais intensa correspon-

sabilidade de todos os cristãos na promoção das vocações,

sobretudo sacerdotais; fazei tudo o que seja possível, em

particular através da oração, para que este Ano Pastoral

dedicado às vocações dê muitos frutos. Seria a melhor e

mais bela prenda que me poderiam oferecer neste primei-

ro ano como vosso bispo.

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DESCOBRIR A BELEZA E A ALEGRIA DA VOCAÇÃO CRISTÃ

Mesmo nos momentos difíceis da história, o Espírito

Santo trabalha e encoraja-nos a semear com confiança,

sobretudo no coração das novas gerações. É uma certeza

da fé.

Contemplando Maria, a cheia de graça, a mulher do

“sim” a Deus, compreenderemos e ajudaremos a com-

preender a beleza de uma existência entregue ao pro-

jecto de Deus. Com Ela seremos capazes de fazer opções

vocacionais para que esta beleza se torne vida e irradie

para o mundo.

Saúda-vos afectuosamente,

† António Marto

Bispo de Leiria-Fátima

8 de Setembro de 2006

Festa da Natividade de Nossa Senhora

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Índice

[Introdução] ...... P.5

1. Novo contexto vocacional hoje ...... P.7

2. A beleza da vocação cristã ...... P.92.1. “E Deus viu que tudo era muito belo” (Gen 1,31): Toda a vida é vocação2.2. “Fala, Senhor; o teu servo escuta” (1Sam 3,10): A vocação como diálogo2.3. “Vinde e vede” (Jo 1,39): A vocação como encontro com Cristo2.4. “É belo estarmos aqui” (Mat 17,4): A vocação como vida bela em Cristo2.5. “Fui eu que vos escolhi” (Jo 15, 16): A vocação como eleição de amor

3. Vocação e vocações na Igreja ..... P.163.1. Variedade de dons e chamamentos3.2. Necessidade urgente de sacerdotes e consagrados

4. Novo ardor da pastoral vocacional: da alegria de ser chamado à coragem de chamar ..... P.20

4.1. A comunidade cristã, casa e escola vocacional4.2. Acompanhamento vocacional em cada idade4.3. Testemunho vocacional contagiante4.4. Grande Oração pelas Vocações4.5. Serviços de apoio e dinamização

5. A vós jovens: levantai-vos e não tenhais medo! ..... P.28