Descartes.meditações Metafísicas
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RESUMO DA OBRA: Meditações sobre filosofia primeira
O projeto cartesiano tem como meta construir uma fundamentação filosófica com bases
sólidas e claras. Assim Descartes inicia suas Meditações defendendo a tese que para
empreender tal fundamentação deve-se ao menos obter uma certeza inabalável. Para
chegar a tal certeza Descartes lança como método a dúvida, ele diz:
“Era preciso, portanto, que uma vez na vida, fossem postas abaixo todas as coisas,
todas as opiniões que até então confiara, recomeçando dos primeiros fundamentos...”
Através do método da dúvida Descartes visa alcançar algo que seja sumamente
indubitável. Para desenvolver seu raciocínio Descartes leva sua dúvida ao extremo, ao
meditar:
“Suporei, portanto, que há não um Deus ótimo, fonte soberana da verdade, mas algum
gênio maligno, e ao mesmo tempo, sumamente poderoso e manhoso, que põe toda a sua
indústria e que me engane: pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras os
sons e todas as coisas extremas nada mais são do que ludíbrios dos sonhos, ciladas que
ele estende à minha credulidade.”
Acatando esse conceito do gênio maligno, Descartes, observa que por mais poderoso
que ele seja, se ele engana, engana alguém, se a existência se apresenta duvidosa, está se
apresentando assim para alguém. Descartes afirma:
“Não há dúvida, portanto, de que eu, eu sou, também se me engana: que me engane o
quanto possa, nunca poderá fazer, porém, que eu nada seja, enquanto eu pensar que eu
sou algo.”
Assim Descartes chega a primeira e fundamental certeza; cogito ergo sum - penso, logo
sou. Esse EU, Descartes afirma ser coisa pensante e existe independente do
conhecimento adquirido pelos sentidos e as coisas que se pensava serem percebidas
pelos sentidos ele nega, e defende que a mente é base de qualquer sensação:
“É, assim, que o que acreditava ver pelos olhos, só compreendo pela capacidade de
julgar que está em minha mente.”
Nessa primeira certeza, Descartes diz haver “uma percepção clara e distinta do que
afirmo”, então ele estabelece como regra geral, que “é verdadeiro tudo o que percebo
muito claro e muito distintamente”.
Mas ao afirmar isso Descartes sabe que muitas vezes assumiu certas coisas como claras
e distintas e depois veio tomar conta que eram duvidosas. O que Descartes vinha a
perceber claramente em tais coisas? “Percebia que as próprias idéias ou pensamentos
de tais coisas deparavam-se à minha mente.”
Essas idéias vêm a ser divididas em três: as inatas, as inventadas por mim, e as
adventícias, isto é as que derivaram de coisas fora de mim, coisas essas que Descartes
muitas vezes foi levado a tomar como claras e distintas. Segundo Descartes isso
aconteceu, pois “fui nisso instruído pela natureza, entendo apenas que sou levado a
nisso acreditar por um certo impulso espontâneo e não que alguma luz natural me
mostre que seja verdadeiro” e continua, “não pode haver nenhuma outra faculdade em
que confie tanto quanto nessa luz.” Sendo assim Descartes diz ser manifesto à luz
natural que na causa eficiente e total deve haver pelo menos tanto quanto há em seu
efeito, o de onde se segue não ser possível que algo resulte do nada e que o mais
perfeito resulte do menos perfeito.
Assim, Descartes afirma ser essa a primeira prova da existência de Deus, visto que
somos imperfeitos e finitos não poderíamos tirar de nós mesmos ou do nada a idéia de
um ser perfeito infinito. Assim tais idéias só poderiam vir deste que é perfeito e infinito,
Deus seria então uma idéia inata, toda percepção do infinito seria anterior à do finito, a
percepção de Deus é anterior a do eu pensante. “E, não é seguramente surpreendente
que, ao me criar, Deus me tenha imposto essa idéia, como se fosse a marca do artífice
impressa em sua obra.” Sendo assim a hipótese do gênio maligno enganador que
Descartes havia levantado para fins metódicos, ele mostra ser inválida, visto que Deus
concebe ao homem a capacidade cognoscitiva ele não quer enganar. Mais tarde, nas
resposta às objeções de Gassendi, Descartes voltaria atrás de certa forma, visto que ele
afirma que Deus poderia sim enganar, mais tal engano teria por fim um bem maior, não
um mal.
Mas, na quarta meditação Descartes defende que Deus nunca engana, portanto o erro
não pode provir dele. Na sinopse da referente meditação Descartes já adverte que erro
“ali não se trata de modo algum, do pecado ou erro cometido na busca do bom e do
baú, mas tão somente do erro que ocorre no juízo, ao discernir o verdadeiro do falso.”
Segundo Descartes eu possuo uma faculdade de julgar concedida por Deus. O erro pode
ocorrer de duas formas. Uma é graças à falta de algum conhecimento isso torna a
faculdade de julgar falha. A outra forma de erro ocorre quando o homem sobrepõe a
vontade, que o homem possui graças a faculdade de escolher dada por Deus, ao
intelecto.
Descartes diz que não se deve questionar por que Deus não fez o homem imune aos
erros, pois “entendê-lo (Deus), não me autoriza, porém a supor que devesse ele pôr, em
cada obra sua, todas as perfeições que pode pôr em algumas delas.”
Sendo o erro a sobreposição da vontade ao intelecto, Descartes conclui que o caminho
para evitá-lo (o erro), esta em “toda vez que julgar, eu contiver minha vontade dentro
dos limites de meu conhecimento.” Assim Descartes diz ter aprendido o que deve evitar,
afim de nunca errar, com isso ele buscara encontrar algo de certo nas coisas materiais e
para isso ele diz ser a existência de Deus garantidora das certezas que se percebe clara e
distintamente.
Descartes diz que “antes de indagar se tais coisas existem fora de mim, devo considerar
as suas idéias na medida em que estas estão em meu pensamento, para ver quais delas
são distintas e quais confusas.” Descartes vê como idéias distintas: quantidade,
extensão, largura, profundidade. Tais idéias distintas não precisam condizer com algo
externo a elas para serem verdadeiras.
“Por exemplo, quando imagina um triângulo, mesmo que tal figura não exista talvez e
nunca tenha existido, em parte alguma do mundo fora de meu pensamento, é seguro
que há uma sua natureza, essência ou forma determinada, imutável e eterna, que não
foi inventada por mim e nem depende de minha mente” e conclui “é patente que tudo o
que é verdadeiro é algo e já demonstrei amplamente que, tudo o que conheço
claramente, é verdadeiro.”
Descartes nos previne de pensar Deus um inexistente, a existência pertence a essência
de Deus tal como pertence a essência do triângulo que a grandeza de seus três ângulos é
igual à de dois retos. Pensar Deus falto de existência também seria contraditório, visto
que isso ao qual lhe faltaria é uma perfeição.
A existência das coisas exteriores se torna clara e distinta para Descartes à medida que
essa se contrapõe a mente, ele explica:
“Embora talvez (ou melhor, certamente, como logo direi) eu tenha um corpo a que
estou ligado de modo muito estreito, tenho, porém, de uma parte, a idéia clara e
distinta de mim mesmo como coisa pensante inextensa e, de outra parte, tenho a idéia
distinta do corpo, como coisa apenas extensa não pensante.”
Descartes também defende que é pela a “alma que sou o que sou, e sou deveras distinto
do corpo e posso existir sem ele.”
A união entre o corpo e alma seria antão algo que Deus concebeu para o bem do
homem, visto que esse possui um corpo sujeito a dor, fome, prazer. Assim no parágrafo
abaixo Descartes conclui falando a respeito da existência das coisas materiais e a
possibilidade dada por Deus de buscarmos o cômodo e evitarmos o incômodo.
“Em verdade, como já sei que todas as sensações acerca das coisas, que se referem ao
que é cômodo ou incômodo para o corpo, indicam muito mais frequentemente o
verdadeiro do que é falso; e como, posso servir-me quase sempre de várias delas, -
para examinar uma mesma coisa, - bem como da memória – que estabelece o nexo
entre as coisas presentes e as precedentes, - e do intelecto – que já reconheceu todas as
causas do erro, - já não devo recear que as coisas que os sentidos quotidianamente me
mostram sejam falsa.”