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ISSN: 1809-2950

FISIOTERAPIA e PESQUISAREVISTA DO CURSO DE FISIOTERAPIA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SO PAULO

Volume 13 nmero 1

Janeiro Abril 2006

Fisioterapia e Pesquisaem continuao a Revista de Fisioterapia da Universidade de So Paulo.

Publicao quadrimestral do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da USPFisioterapia e Pesquisa visa disseminar conhecimento cientfico rigoroso de modo a subsidiar tanto a docncia e pesquisa na rea quanto a fisioterapia clnica. Publica, alm de artigos de pesquisa originais, revises de literatura, relatos de caso/s, bem como cartas ao Editor. INDEXADA EM: LILACS Latin American and Caribbean Health Sciences; LATINDEX Sistema Regional de Informacin en Lnea para Revistas Cientifcas de Amricas; e CINAHL Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature. Tiragem: 1.000 exemplaresEDITORA CHEFE CORPO EDITORIAL

Profa. Dra. Amlia Pasqual MarquesEDITORAS ASSOCIADAS

Profa. Dra. Isabel de Camargo Neves Sacco Profa. Dra. Slvia Maria Amado JooCONSELHO CONSULTIVO (FOFITO/FM/USP)

Prof. Dr. Carlos Roberto R. de Carvalho Profa. Ms. Carolina Fu Profa. Dra. Celisa Tiemi N. Sera Prof. Dr. Celso Ricardo F. de Carvalho Profa. Dra. Clarice Tanaka Profa. Dra. Ftima Aparecida Caromano Profa. Dra. Raquel Aparecida Casarotto Profa. Dra. Maria Elisa Pimentel PiemonteSECRETARIA Patrcia Jundi Penha NORMALIZAO BIBLIOGFICA Servio de Biblioteca e Documentao da FMUSP e-mail: [email protected] EDIO DE TEXTO, PROJETO GRFICO E DIAGRAMAO Pixeletra ME IMPRESSO

Grfica UNINOVE

Alberto Carlos Amadio EEFE/ USP Antonio Fernando Brunetto DFisio/ UEL Armle Dornelas de Andrade DFisio/ UFPe Augusto Cesinando de Carvalho DFisio/ UNESP Pres.Prudente Carmen Silvia Benevides Fellippa CCS/ UFSM Cludia R. Furquim de Andrade FM/ USP Dbora Bevilaqua Grossi FM Ribeiro Preto/ USP Dirceu Costa FACIS/ UNIMEP Gil Lcio Almeida DFisio/ UNAERP Helenice Jane Cote Gil Coury DFisio / UFSCar Joo Carlos Ferrari Corra DCS/ UNINOVE Jos Rubens Rebelatto DFisio/ UFScar Marcos Duarte EEFE/ USP Maria Ignz Zanetti Feltrim INCOR /FMUSP Neide Maria Lucena DFisio/ UFPB Oswaldo Crivello Junior FO/ USP Patricia Castelucci ICB/ USP Ftima Correa Oliver TO/ FMUSP Rinaldo Roberto de J. Guirro FACIS/ UNIMEP Rosngela Corra Dias EEFFTO/ UFMG Srgio L. Domingues Cravo DFisiolog/ UNIFESP Srgio Teixeira da Fonseca EEFFTO/ UFMG Simone Dal Corso DCS/ UNINOVE Tnia de Ftima Salvini DFisio/ UFSCar Vera Maria Rocha CCS/ UFRN

Curso de Fisioterapia Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional FOFITO/FM/USP R. Cipotnea 51 Cidade Universitria 05360-160 So Paulo SPe-mail: [email protected]

http://medicina.fm.usp.br/fofito/fisio/revista.phpAPOIO INSTITUIES COLABORADORAS

FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SO PAULO

FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRO PRETO / USP

S UMRIOC ONTENTSEditorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 PESQUISA ORIGINALORIGINAL RESEARCH Editorial

Confiabilidade da medio da circunferncia de membros inferiores utilizando fita mtrica e Leg-O-Meter II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6Reproducibility of lower limb circumference measurement by using metric tape and Leg-O-Meter II Joo Paulo F. de Carvalho, Andr Maurcio B. de Carvalho, Danielle A. Gomes Pereira, Luciana Campanha Carvalho, Incio Teixeira da Cunha Filho Evaluation of a questionnaire on symptom severity and functional status of patients with carpal tunnel syndrome Thais M. Albani Lovo, Guilherme Borges, Yvens Barbosa Fernandes, Ricardo Ramina, Edmur Franco Carelli, Anamarli Nucci

Avaliao de questionrio sobre sintomas e estado funcional de pacientes com sndrome do tnel do carpo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

Respostas eletromiogrficas, funcionais e posturais a um tratamento fisioteraputico da sndrome femoropatelar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16EMG, functional and postural responses to a physical therapy treatment for patellofemoral syndrome Isabel C. Neves Sacco, Gil Kiyoshi Konno, Guilherme Benetti Rojas, Cristina M. Nunes Cabral, Anice de Campos Pssaro, Antonio Carlos Arnone, Amlia Pasqual Marques Impact of a physical therapy intervention on the quantity of urine loss among elderly women with urinary incontinence Elza L. L. Souza Baracho, Rosngela Corra Dias, Cristina Said Saleme, Mrcia Salvador Geo, Cludia L.Soares Laranjeira, Rachel S. B. Corra Lima

Impacto, sobre a quantidade de urina perdida, de uma interveno fisioteraputica em idosas com incontinncia urinria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

RELATO DE CASOSCASE REPORT

Evoluo clnica da marcha em um indivduo com leso medular incompleta: relato de caso . . . . . . 30Clinical evolution of gait in a subject with incomplete spinal cord injury: case report Wagner Monteiro, Fernanda Fregni da Silva, Ismael Fernando C. Fatarelli

REVISOREVIEW

Fundamentos da Fisioterapia dermato-funcional: reviso de literatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37Grounds for esthetic physical therapy: a review Giovana Barbosa Milani, Silvia M. Amado Joo, Estela Adriana Farah

Reabilitao pulmonar: treinamento de membros superiores em pacientes com DPOC . . . . . . . 44Pulmonary rehabilitation: upper-limb exercise training in patients with COPD; a review Vanessa Girard Severo, Viviane Viegas Rech

Distrbios osteomusculares relacionados ao trabalho em fisioterapeutas: reviso da literatura . . . . . 53Work-related musculoskeletal disorders among physical therapists: a literature review Rodrigo Luiz Carregaro, Celita Salmaso Trelha, Helen Zulian Mastelari Instrues para autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 Ficha de assinatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

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E DITORIALE DITORIALPersiste o debate sobre a regulamentao das profisses na rea da sade. O Ministrio da Sade (MS) criou em 2004 a Cmara de Regulao do Trabalho em Sade (CRTS), para propor a regulao de profisses e ocupaes da rea, sugerindo alteraes de leis e estimulando iniciativas para regulamentar o exerccio de novas atividades. Recente portaria do MS motivou reao da classe mdica no Estado de So Paulo. O Conselho Regional de Fisioterapia desse estado (Crefito3) considera oportuno manifestar sua posio a respeito. O trabalho humano digno e livre o grande motor da sociedade contempornea. Nossa Constituio cita como um dos valores fundamentais do Estado brasileiro a valorizao do trabalho e da livre iniciativa (art.1, inciso IV). Na mesma linha, estabelece em seu art.5, inciso XIII, que livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendidas as qualificaes profissionais que a lei estabelecer. Trata-se do direito fundamental ao livre exerccio de profisso, consagrado pelo legislador constituinte. Nenhum direito fundamental, porm, absoluto, encontrando seus limites nos demais direitos consagrados na prpria Constituio. Neste sentido, inegvel a relevncia valorativa que se deve atribuir questo da sade. No choque entre o direito fundamental ao livre exerccio profissional e o direito fundamental sade, a ser garantido pelo Estado para evitar que um cidado lesione a integridade fsica de outrem entendemos ser de grande relevncia que, no obstante a garantia liberdade do exerccio profissional, tratando-se de profisses da rea da sade no h que se falar em seu exerccio sem a competente regulamentao. Em nome da preponderncia do direito fundamental vida e sade, torna-se imprescindvel a tutela estatal de toda e qualquer atividade profissional que, de alguma forma, envolva a conservao ou restaurao das funes orgnicas, fsicas ou mentais do ser humano. portanto necessria a regulamentao e a fiscalizao de toda atividade ligada rea da sade, restringindo seu exerccio a pessoas devidamente habilitadas para tal, segundo normas editadas pelo Estado. Mister se faz ainda o reforo da legislao criminal no sentido de punir com veemncia condutas tendentes a lesar a incolumidade da populao, por meio do exerccio ilegal de profisso regulamentada da rea da sade. S assim estar-se- garantindo o livre exerccio profissional, sem desguarnecer o direito humano fundamental sade, integridade fsica e prpria vida. Roberto Angotti Jnior Procurador-Chefe do Contencioso Fiscal do Crefito3 Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Estado de So Paulo Prof. Dr. Gil Lcio Almeida Presidente do Crefito3

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Confiabilidade da medio da circunferncia de membros inferiores utilizando fita mtrica e Leg-O-Meter IIReproducibility of lower limb circumference measurement by using metric tape and Leg-O-Meter IIJoo Paulo Ferreira de Carvalho1, Andr Maurcio Borges de Carvalho2, Danielle Aparecida Gomes Pereira3, Luciana Campanha Carvalho3, Incio Teixeira da Cunha Filho41

Graduando em Fisioterapia no Centro Universitrio de Belo Horizonte (UNI-BH) Mdico; Prof. Dr. do UNI-BH Fisioterapeutas; Profas. do UNI-BH Fisioterapeuta; Prof. Dr. do UNI-BH

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ENDEREO PARACORRESPONDNCIA

Incio Teixeira da Cunha Filho Depto. de Fisioterapia UNI-BH Av. Prof. Mrio Werneck 1685 30455-610 Belo Horizonte, MG e-mail: [email protected]

RESUMO: A fita mtrica (FM) e o Leg-O-Meter II (LGM) so instrumentos utilizados para medir circunferncia dos membros inferiores (MMII) e estimar dimenso de edema. A confiabilidade desses mtodos ainda no foi testada em avaliadores sem experincia clnica. Este estudo visou contrastar a confiabilidade da medio de circunferncia de MMII intra e inter-avaliadores usando FM e LGM. Vinte indivduos saudveis participaram do estudo. Dois avaliadores mediram a circunferncia de ambos os membros inferiores utilizando os dois mtodos em duas ocasies consecutivas (teste e reteste). As circunferncias avaliadas em decbito dorsal com a FM foram medidas 20 cm acima da base da patela e 15 cm abaixo do plo inferior da patela. Com o LGM as circunferncias foram medidas a 20 e a 30 cm acima da plataforma do aparelho, na posio ortosttica. No foi encontrada diferena estatisticamente significante entre a mdia das circunferncias medidas com cada instrumento tanto intra quanto inter-avaliadores. O coeficiente de correlao de Pearson inter-avaliadores variou de 0,86 a 0,99 (p 0,05 *, ** valores estatisticamente significantes Tabela 3 Distribuio de porcentagens de alinhamento postural de arcos plantares, tornozelo e joelho dos grupos controle (GC) e com sndrome femoropatelar (GFP) Arco longitudinal Tornozelo plano frontal Joelho plano frontal Grupos normal rebaixado Varo Valgo Varo Valgo D E D E D E D E D E D E GC (n=5) 20 20 0 0 20 20 80 80 0 0 60 60 GFP pr (n=6) 0 0 33,3 33,3 50 66,6 66,6 66,6 0 16,6 50 50 GFP ps (n=6) 50 50 16,6 16,6 33,3 50 50 50 16,6 33,3 16,6 16,6

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Tabela 4 Mdias e desvios-padro das variveis de RMS da EMG dos msculos vasto lateral e vasto medial durante as tarefas locomotoras dos grupos controle (GC) e com sndrome femoropatelar (GFP) Movimento RMS (mV) GC (n=5) GFP pr (n=6) GFP ps (n=6) p Vasto medial 20,51 5,49 20,44 10,93 19,24 13,07 Plano Vasto lateral 25,13 13,10 18,53 16,58 * 26,00 11,09 * 0,0483* Vasto medial 44,3116,25 * 44,75 37,90 31,53 16,04 * 0,0449* Agachamento descida Vasto lateral 35,11 19,24 32,69 20,49 41,09 19,39 Vasto medial 37,07 14,04 42,80 35,83 28,77 14,78 Agachamento subida Vasto lateral 35,80 18,99 ** 31,62 20,81 * 49,45 19,35*,** 0,0407* 0,0452** *, ** valores estatisticamente significantes magnitude do valor de RMS do msculo VL nos indivduos do GFP-ps em relao ao GFP-pr (p=0,0483) sendo que a atividade do GFP-ps se assemelha ativao do GC. J em relao ao msculo VM, os grupos apresentaram um padro semelhante de ativao. Na tarefa de agachamento, foram considerados dois ciclos: descida e subida. Durante a descida o msculo VM do GC apresentou maior valor de RMS comparado ao GFP-ps (p=0,0449) e semelhante ativao em relao ao GFP-pr (p>0,05). J durante o ciclo de subida o msculo VL do GFP-ps apresentou maior valor de RMS em relao ao GFP-pr (p=0,0407) e ao GC (p=0,0452). funcionais utilizadas. Os resultados aqui obtidos, de aumento significativo dos valores das escalas funcionais de Lysholm e Karlsson aps o tratamento, esto de acordo com os de McConnell24 quando afirma que, na SFP, o alvio total das dores no obtido com freqncia, mas somente em 30% dos pacientes. Esse aspecto compreensvel pois, como a dor no intensa, os indivduos continuam a realizar atividades funcionais como agachar, caminhar etc. Em relao postura dos membros inferiores, no foi observada diferena significativa entre o GC e o GFP, tanto pr como ps-tratamento. Foram porm observadas diferenas entre o GFP quando comparamos o pr com o pstratamento, havendo uma diminuio importante nos arcos longitudinais rebaixados, tornozelos e joelhos valgos, proporcionando um melhor alinhamento dos segmentos inferiores. Caractersticas semelhantes s observadas neste estudo foram verificadas por Cabral7, que afirma que sujeitos com SFP apresentam algumas caractersticas de alinhamento postural tpicas tais como arcos longitudinais dos ps rebaixados, tornozelos valgos, joelhos rodados e valgos. Como o tratamento de fisioterapia foi composto em sua maioria por exerccios de alongamento, possvel supor que estes, pela melhora da flexibilidade que propiciam, tenham contribudo para a diminuio dos fatores envolvidos na gerao de dor e na funcionalidade, tendo como conseqncia o ganho de sarcmeros em srie 25. Embora no tenham sido encontrados trabalhos que investigassem exclusivamente o efeito de exerccios de alongamento na recuperao da SFP, estudos em que os exerccios de alongamento fizeram parte do tratamento mostraram-se efetivos na reduo da dor associada disfuno (Crossley et al.26, Clark et al.27). Nos valores da RMS dos msculos VL e VM nas atividades de andar no plano e durante o agachamento no foi encontrada diferena de ativao entre indivduos saudveis e indivduos com SFP, o que corroborado por alguns estudos9,10,16. Os valores de RMS do msculo VM na tarefa de andar no plano no apresentaram diferenas estatsticas entre o GC, GFP-pr e GFPps. J para o msculo VL, o GFP apresentou maior ativao durante o andar no plano quando comparadas as condies pr e ps-tratamento. A ativao muscular do VL dos sujeitos GFP-ps assemelhou-se ativao dos sujeitos do GC, indicando haver uma funo muscular normalizada em relao condio pr-tratamento. Esses dados mostram que o andar no plano no a tarefa ideal para ser realizada na reabilitao, uma vez que no houve alterao de msculo VM, um dos principais componentes estabilizadores ativos da patela28,29. Durante a fase de descida no agachamento, o valor do RMS do msculo VM no GFP-ps foi menor quando comparado ao GFP-pr e ao GC. Por se tratar de uma ao excntrica da musculatura extensora de joelho, um menor valor de RMS durante a descida do agachamento poderia representar menor recrutamento de unidades motoras, sugerindo que a tarefa seria realizada com maior eficincia no controle e gerao de tenso por esse msculo e, portanto, menor gasto energtico durante a sobrecarga30. J na

DISCUSSOA hiptese inicial deste estudo era que o tratamento reduzisse a dor, melhorasse o alinhamento postural dos membros inferiores e produzisse melhores e maiores respostas eletromiogrficas nos pacientes, aproximando-se daquelas encontradas no grupo controle. Os dados mostram que, embora tais respostas tenham melhorado, no houve diferena estatisticamente significante entre os grupos na funcionalidade, no alinhamento postural ou no aumento da atividade dos msculos vasto lateral e medial aps o tratamento de fisioterapia. No foi observada diferena estatisticamente significativa na intensidade da dor, apesar de esta apresentar mdias menores aps o tratamento (Tabela 2). A presena de dor durante ou aps a realizao de atividades uma das questes presentes nas escalas

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Sacco et al.

Fisioterapia para a sndrome femoropatelar

fase de subida do agachamento, os valores de RMS foram mais altos no msculo VL no GFP-ps em relao ao GFP-pr e ao GC. Tal achado pode estar relacionado maior tenso desse msculo na tentativa de corrigir o valgo de joelho, caracterstica muito presente nos indivduos com SFP. Estes achados diferem daqueles obtidos em trabalho realizado por Tang et al.16, que avaliaram a atividade eletromiogrfica dos msculo VL e VM durante agacha-

mento em indivduos com e sem SFP e no encontraram diferena estatisticamente significativa. Algumas limitaes foram observadas no decorrer do estudo, dentre as quais o fato de os indivduos terem realizado parte dos exerccios em casa aps as orientaes; e ainda, de a amostra ter sido reduzida, possivelmente induzindo a erro estatstico do tipo beta.

CONCLUSOFoi possvel identificar melhora na funcionalidade, no alinhamento dos joelhos e ps e aumento da atividade dos msculos vasto lateral e medial aps o tratamento fisioteraputico em indivduos com sndrome femoropatelar, principalmente na tarefa do agachamento. No foi constatada melhora na dor.

REFERNCIAS1 2 Hoppenfeld S. Propedutica ortopdica, coluna e extremidades. Rio de Janeiro: Atheneu; 1999. Reid DC. Sports injury assessment and rehabilitation. New York: Churchill Livingstone; 1992. p.345-98. Anterior knee pain and the patellofemoral pain syndrome. Fulkerson JP. Patologia da articulao patelofemoral. Rio de Janeiro: Revinter; 2000. Ficat RP, Hungerford DS. Disorders of the patellofemoral joint. Baltimore: Williams & Wilkins; 1977. Karst GM, Willet, GM. Onset timing of eletromyographic activity in the vastus medialis oblique and vastus lateralis muscles in subjects with and without patellofemoral pain syndrome. Phys Ther. 1995;75(9):813-23 Powers CM, Landel R, Perry J. Timing and intensity of vastus muscle activity during funcional activities in subjects with and without patellofemoral pain. Phys Ther. 1996;76(9):946-55. Cabral CMN. Efeito dos exerccios em cadeia cintica fechada realizados no step na atividade eltrica dos componentes medial e lateral do msculo quadrceps femoral. [dissertao Ufscar]. So Carlos; 2001. Monteiro-Pedro V, Vitti M, Brzin F, Bevilaqua-Grosso D. Eletromyographic activity of vastus medialis oblique muscle in step-up and step-down exercises. Braz J Morphol Sci. 1997;14(1):19-23. Souza AC, Molinero VR, Monteiro-Pedro V, Grossi DB. Atividade eltrica da relao vmo:vll em indivduos com disfuno femoropatelar. In:Anais do X Congresso Brasileiro de Biomecnica, Ouro Preto, 2003. Ouro Preto; 2003. p.244-7. 11 Fonseca ST, Cruz AB, Lima SS, Seixas AF. Anlise eletromiogrfica dos msculos vasto medial oblquo e vasto lateral em exerccios usados no tratamento da sndrome da dor patelofemoral. Rev Fisioter Univ So Paulo. 2001;8(1):1-10. 12 Monteiro-Pedro V, Lobato DF, Antonelo MC, Say KG, Santos GM, Grossi DB, et al. Avaliao isocintica da propriocepo do joelho em indivduos portadores de disfuno femoropatelar assintomticos. In: Anais do X Congresso Brasileiro de Biomecnica, Ouro Preto, 2003. Ouro Preto; 2003. p.352-5. 13 Kramer J, Handfield T, Kiefer G, Forwell L, Birminghan T. Comparisons of weight-bearing and non-weight-bearing tests of knee proprioception performed by patients with patello-femoral pain syndrome and asymptomatic individuals. Clin J Sports Med. 1997;7:113-8. 14 Baker V, Bennell K, Stillman B, Cowan S, Crossley K. Abnormal knee joint position sense in individuals with patellofemoral pain syndrome. J Orthop Res. 2002;20(2):208-14. 15 Wallace DA, Salem GF, Salinas R. Patellofemoral joint kinetics while squatting with and without an external load. J Orthop Sports Phys Ther. 2002;32(4):141-8. 16 Tang SF, Chen CK, Hsu R. Vastus medialis obliquus and vastus lateralis activity in open and closed kinetic chain exercises in patients with patellofemoral syndrome: an electromyographic study. Arch Phys Med Rehabil. 2001; 82(10):1441-5. 17 Escamilla RF, Fleisig GS, Zheng N. Biomechanics of the knee during closed kinetic chain and open kinetic chain exercises. Med Sci Sports Exerc.1998;30(4):556-69. 18 Kendall FP, McCreary EK, Provance PG. Msculos, provas e funes. 4a ed. So Paulo: Manole; 1995.

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10 Boucher JP, King MA, Lefebvre R, Ppin A. Quadriceps femoris muscle activity in patellofemoral pain syndrome. Am J Sports Med. 1992;20(5):527-32.

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Referncias (cont.)19 Karlsson J, Thome R, Sward L. Eleven-year follow-up of patellofemoral pain syndromes. Clin J Sport Med. 1996;6(1):22-6. 20 Arajo RC. Utilizao da eletromiografia na anlise biomecnica do movimento humano. [tese Escola de Educao Fsica e Esporte, Universidade de So Paulo]. So Paulo; 1998. 21 De Luca CJ. The use of surface electromyography in biomechanics. J Appl Biomech. 1997;13:135-63. 22 Standards for Reporting EMG Data . J Electromyogr Kinesiol 1999;9 (1):3-4. 23 Winter DA. The biomechanics and motor control of human gait: normal, elderly and pathological. Waterloo: University of Waterloo; 1991. 24 McConnell J. The management of chondromalacia patellae: a long-term solution. Aust J Phys Ther. 1986;32:215-23. 25 Rosrio JL, Marques AP, Maluf AS. Aspectos clnicos do alongamento: uma reviso de literatura clnica. Rev Bras Fisioter. 2004;8(1):1-6. 26 Crossley K, Bnnell K, Green S, McConnell J A systematic review of physical interventions for patellofemoral pain syndrome. Clin J Sports Med. 2001;11:103-10. 27 Clark DI, Downing N, Mitchell J, Coulson L, Syzpryt EP, Doherty M. Physiotherapy for anterior knee pain: a randomized controlled trial. Ann Rheum Dis. 2000;59:700-4. 28 Morrish GM, Woledge RC. A comparison of the activation of muscles moving the patella in normal subjects and in patients with chronic patellofemoral problems. Scand J Rehabil Med. 1997;29:43-8. 29 Anderson R, Coutney C, Carmeli E. EMG analysis of the vastus medialis/vastus lateralis muscles utilizing the unloaded narrow-and-wide-stance squats. J Sports Rehabil. 1998;7(2):36-47. 30 Kisner C, Colby LA. Exerccios teraputicos: fundamentos e tcnicas. 2a ed. So Paulo: Manole; 1992.

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Impacto sobre a quantidade de urina perdida de uma interveno fisioteraputica em idosas com incontinncia urinriaImpact of a physical therapy intervention on the quantity of urine loss among elderly women with urinary incontinenceElza Lcia Lotti de Souza Baracho1; Rosngela Corra Dias2, Cristina Said Saleme3, Mrcia Salvador Geo4, Cludia Lourdes Soares Laranjeira5, Rachel Silviano Brando Corra Lima51

Fisioterapeuta do Hospital Mater Dei, Belo Horizonte; Profa. Assistente da Faculdade de Cincias Mdicas de Minas Gerais Fisioterapeuta; Profa. adjunta do Depto. de Fisioterapia da Universidade Federal de Minas Gerais Fisioterapeuta Mdica uroginecologista; Coordenadora da UROMATER Unidade de Urodinmica e Disfunes Miccionais do Hospital Mater Dei Mdicas uroginecologistas, membros da UROMATER

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RESUMO: Incontinncia urinria (IU) um problema de sade comum entre mulheres idosas, podendo afetar estruturas e funo do corpo, atividades e participao social. Tratamentos conservadores tm sido indicados como alternativa para melhorar os sintomas de IU. O objetivo deste estudo foi verificar o impacto nos sintomas de perda urinria de um protocolo de exerccios teraputicos para o assoalho plvico, associado a eletroestimulao vaginal. Participaram deste estudo quase-experimental 30 mulheres idosas (70,108,628 anos) com diagnstico de hiperatividade detrusora e incontinncia mista, confirmado por estudo urodinmico. Nas avaliaes foram utilizados pad test de 24 horas e dirio miccional. A interveno consistiu em 12 sesses de exerccios para o assoalho plvico associadas a eletroestimulao vaginal. Os resultados mostram diferena significativa na quantidade de urina perdida medida pelo pad test aps a interveno (p=0,001), nos episdios de perda (p=0,004) e na freqncia miccional (p=0,000). O protocolo de exerccios teraputicos para assoalho plvico associado a eletroestimulao vaginal teve pois impacto positivo sobre a perda urinria, os episdios de perda e a freqncia miccional, levando melhora clnica das pacientes. DESCRITORES: Incontinncia urinria; Soalho plvico; Terapia por exerccio ABSTRACT: Urinary incontinence (UI) is a common health problem among elderly women that may affect body structure, functions, activities and social participation. Conservative treatments are advocated as an alternative to improve UI symptoms. This pre-post-one-group experimental study assessed the impact onto urine loss of a protocol of pelvic floor exercises and vaginal electrical stimulation. Thirty elderly women (70.108.628 years old) with diagnosis of overactive bladder and mixed UI (confirmed by urodynamic exam) were submitted first to the 24-hour pad test and bladder diary, and subsequently to 12 therapeutic exercise sessions for pelvic floor muscles, associated to electrical stimulation. There were statistically significant differences between the quantity of urine loss as measured by the 24-hour pad test (p=0.001), as well as in loss episodes (p=0.004) and in mictional frequency (p=0.000). The protocol of therapeutic exercises and pelvic floor muscle electric stimulation had thus a positive impact over symptoms of urine loss, number of loss episodes, and mictional frequency, assuring patients clinical improvement. KEY WORDS: Exercise therapy; Pelvic floor; Urinary incontinence

ENDEREO PARACORRESPONDNCIA

Elza L. S. Baracho R. Padre Severino 103 Bairro So Pedro 30330-150 Belo Horizonte MG e-mail: [email protected]; 2 [email protected]; 3 [email protected]

ACEITO PARA PUBLICAOjan. 2006

FISIOTERAPIA E PESQUISA 2006; 13 (1): 23-9 FISIOTERAPIA E PESQUISA 2006; 12(3)

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INTRODUOA Sociedade Internacional de Continncia (ICS) define incontinncia urinria (IU) como qualquer perda involuntria de urina. Pode ocorrer em qualquer perodo da vida, acometendo igualmente homens, mulheres ou crianas1. Dentre os vrios tipos de IU a incontinncia urinria de esforo, incontinncia urinria de urgncia e incontinncia urinria mista (IUM) so as mais prevalentes em mulheres1. A prevalncia de IU na populao dos Estados Unidos est em cerca de 6%, variando de acordo com idade (acometendo mais idosos) e sexo (acometendo mais mulheres)2. No Brasil, apesar dos poucos estudos sobre prevalncia e incidncia de IU, estima-se que existam mais de 13 milhes de mulheres acometidas pelos diferentes tipos da doena3. A IU leva a sintomas que tm repercusses nas atividades dirias e na participao social das mulheres4. uma importante causa de constrangimento social, podendo lev-las a depresso, ansiedade e medo de se apresentar em pblico, limitando dessa forma seus papis profissional e social5. O tratamento da IU pode ser conservador ou cirrgico6. H cerca de 200 diferentes tcnicas cirrgicas descritas com ndices variados de cura e fatores de risco, mas nenhuma delas garante resultados confiveis em longo prazo7. O tratamento conservador inclui exerccios de fortalecimento do assoalho plvico e eletroestimulao vaginal, biofeedback, cones vaginais e orientaes bsicas comportamentais8, os quais apresentam benefcios potenciais e, portanto, devem ser considerados tratamentos de primeira escolha9. uma teraputica que se mostra eficaz principalmente quando avaliada, prescrita, conduzida e supervisionada adequadamente por um profissional da sade, neste caso o fisioterapeuta10. Sabe-se que a musculatura de assoalho plvico com funo deficiente ou inadequada um fator etiolgico relevante na ocorrncia de IU6,11.

Observa-se variabilidade quanto aos protocolos propostos para o tratamento de hiperatividade detrusora e incontinncia urinria mista, com durao do tempo de tratamento variando de 12 sesses a 6 meses12. Freqentemente, o tratamento compe-se de eletroestimulao transvaginal com freqncias de 4 a 20 Hertz por 20 minutos e exerccios de fortalecimento da musculatura do assoalho plvico, variando de 60 a 200 repeties dirias13. Portanto, a escolha do protocolo e tempo de tratamento podem interferir nos indicadores de cura e melhoras dos sintomas nas mulheres com incontinncia urinria por hiperatividade detrusora e incontinncia urinria mista12. A avaliao de IU complexa em funo do amplo espectro de alteraes geradas pelos sintomas de urgncia, freqncia e noctria. Pode ser avaliada considerando-se critrios subjetivos, semi-objetivos e objetivos14. Dentre as possibilidades para avaliar resultados de intervenes teraputicas o pad test ou teste do protetor um dos testes mais simples, objetivos e aplicveis na prtica clnica, sendo recomendado pela ICS (1988) para quantificao da perda urinria. Assim, juntamente com o dirio miccional, considerado um padro semi-objetivo para avaliar a eficcia de tratamentos clnicos. O dirio miccional de 24 horas fornece uma acurada medida do volume de urina, freqncia miccional, episdios de perdas urinrias, e tipo e volume dos lquidos ingeridos7. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito de um protocolo de interveno fisioteraputica, composto de exerccios para a musculatura do assoalho plvico associados eletroestimulao vaginal, sobre a quantidade de urina diria perdida por mulheres idosas com IU.

idioptica ou IU mista, diagnosticada em estudo urodinmico, avaliadas por um perodo de nove meses (maro a dezembro de 2003) no setor de fisioterapia aplicada a uroginecologia do Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte (MG). Foram excludas do estudo mulheres com idade inferior a 60 anos com IU de diagnstico diferente da hiperatividade detrusora idioptica ou incontinncia mista; realizando reposio hormonal ou usando medicamentos que interferem no tratamento da IU (anticolinrgicos, antidepressivos); pacientes com cardiopatias graves ou doenas que contra-indicassem a prtica do programa de exerccios; diabticas; com presena de alterao cognitiva que dificultasse a compreenso dos procedimentos; portadoras de doenas neurolgicas; e pacientes que no podiam ser submetidas ao uso de eletrodo vaginal por alguma doena presente e/ou pela integridade do hmen. Este estudo, categorizado como quase-experimental, foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa do Hospital Mater Dei. As pacientes foram esclarecidas sobre o tratamento e a pesquisa. As que concordaram em participar assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

ProcedimentosAs avaliaes inicial e final de todas as pacientes foram feitas pelo mesmo fisioterapeuta, que no participou do tratamento. O tratamento fisioterpico foi realizado por quatro fisioterapeutas familiarizadas e treinadas na aplicao do protocolo do estudo. O avaliador, as fisioterapeutas e as pacientes foram mascarados em relao aos resultados at o trmino do tratamento. Na avaliao fisioteraputica foi realizado levantamento da histria uroginecolgica pregressa, exame fsico constitudo por exame postural e classificao da atividade muscular do assoalho plvico, de zero a cinco, por meio da avaliao subjetiva10. Foi

METODOLOGIAParticiparam do estudo 30 pacientes do sexo feminino portadoras de IU de urgncia por hiperatividade detrusora

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feita uma nica sesso de conscientizao da contrao do assoalho plvico por meio do aparelho de biofeedback para que, nas sesses subseqentes, as pacientes pudessem executar os exerccios de forma adequada. Durante a contrao muscular, a eletromiografia de superfcie oferece informaes sobre as fibras fsicas, que produzem contraes de mxima amplitude e curta durao, e sobre as fibras tnicas, que produzem contraes de menor amplitude e maior tempo de durao15. A sesso consistia de uma nica contrao sustentada de 12 segundos, com tempo de repouso de 24 segundos, para conscientizao das fibras tnicas e, posteriormente, de 5 contraes rpidas para conscientizao das fibras fsicas. O aparelho de biofeedback utilizado (MyoTrac 3G EMG System de dois canais) tem as seguintes especificaes: fibra ptica conectada ao computador, resoluo de 0,1 microvolt; modo de rejeio e sinais de impedncia de um milho de MegaOhms. composto por sensores de superfcie ativa, eletrodo terra, uma sonda vaginal e um monitor de vdeo que amplifica a resposta fisiolgica, convertendo-a em informaes visuais, indicando pico mximo, mdia, desvio padro e coeficiente de variao da atividade eltrica registrada em mV. Os eletrodos de superfcie no requerem preparao da pele, porm neste estudo a pele foi limpa com algodo e lcool absoluto na regio da crista ilaca. Dois teros da sonda foi introduzida na vagina por meio de um gel lubrificante aquoso. Foi solicitada uma contrao do assoalho plvico, e essa era visualizada pelo monitor do computador gerando um aprendizado e conscientizao desses msculos. Um segundo canal tambm foi ativado. Trs eletrodos de superfcie foram colocados na parede abdominal, a fim de certificar que essa musculatura no era recrutada com a mesma intensidade durante a contrao do assoalho plvico. Antes de iniciar a interveno, as pacientes submeteram-se ao dirio miccional e ao pad test de 24 horas, que informa a quantidade objetiva da

perda urinria no perodo; alm de permitir a confirmao das queixas, o pad test parmetro para controle do tratamento. Os protetores, escolhidos individualmente pelas pacientes, foram encaminhados para pesagem junto com um absorvente seco, referencial para comparaes. Os protetores usados foram guardados em recipientes hermeticamente fechados, mantidos sob temperatura ambiente, fora do alcance da luz solar, e ao fim das 24 horas foram pesados em uma balana digital de alta preciso (Pelouse model-PE-5) e comparados a um modelo idntico. No dirio miccional, a paciente anotava durante 24 horas o horrio e o volume de cada ingesto lquida (copo padro de 240 ml) e de cada mico (bquer milimetrado de 1000 ml), os sintomas apresentados e nmero e tipo de episdios de incontinncia. Com os dados, calculou-se a mdia funcional da capacidade vesical

(soma dos volumes urinados em 24 horas, dividida pelo nmero de mices ocorridas no dia). Aps a primeira avaliao, as pacientes seguiram o protocolo de cinesioterapia para musculatura do assoalho plvico. Eram realizados seis exerccios (Quadro 1), sendo cinco em decbito dorsal e um sentado, uma srie de dez repeties para cada exerccio. Inicialmente foi solicitado que sustentassem a contrao por seis segundos; de acordo com a tolerncia da paciente, progrediu-se at o tempo mximo de 12 segundos. As pacientes foram orientadas a seguir um programa domiciliar que constava dos trs primeiros exerccios do protocolo. Esses exerccios deveriam ser feitos diariamente durante o perodo de tratamento. Foi orientado um tempo de relaxamento de duas vezes o tempo de contrao entre cada repetio, tanto nos exerccio supervisionados quanto nos exerccios domiciliares.

Quadro 1 Descrio do protocolo de exerccios teraputicos Posio Exerccio* 1 Decbito dorsal 2 Decbito dorsal Quadril e joelhos fletidos, ps apoiados no cho, contrair a musculatura do assoalho plvico. Quadril e joelhos fletidos, apoiados sobre uma almofada, contrair a musculatura do assoalho plvico. Quadril e joelhos fletidos, colocar uma bola de tnis entre os joelhos e comprimi-la levemente. Contrair a musculatura do assoalho plvico. Repetir esse exerccio com a bolinha posicionada entre o tero mdio e depois proximal da coxa. Ps apoiados na parede com os membros Inferiores em abduo, flexo e rotao externa, contrair a musculatura do assoalho plvico Quadril e joelhos fletidos com pequena almofada entre os joelhos, apert-la levemente, contraindo a musculatura do assoalho plvico Bem posicionado em uma cadeira, contrair a musculatura do assoalho plvico

3 Decbito dorsal

4 Decbito dorsal

5 Decbito dorsal

6 Sentada

* Em todos os exerccios a contrao mxima da musculatura era sustentada durante 12 segundos, com 24 segundos de relaxamento. Na primeira semana, foram feitas 10 repeties de cada exerccio e, nas semanas seguintes, 20 repeties.

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O programa de eletroestimulao vaginal foi realizado utilizando o aparelho Dualpex 961 (Quarck Produtos Mdicos), com uma sonda com quatro anis de metal, que era introduzida com auxlio de gel lubrificante aquoso. As pacientes foram submetidas estimulao durante 20 minutos, utilizando-se os seguintes parmetros: 10 minutos utilizando freqncia(f) de 50Hz, durao do pulso(t) 500 ms, tempo de sustentao da contrao muscular de seis segundos, tempo de repouso igual a duas vezes o tempo de sustentao. Nas pacientes com hiperatividade detrusora, seguiam-se 10 minutos de aplicao de corrente de baixa freqncia (4Hz) para inibir a musculatura detrusora. O aparelho especfico para tratamento de incontinncia urinria e as freqncias utilizadas foram baseadas na literatura8. A periodicidade das sesses, tanto de cinesioterapia quanto de eletroestimulao vaginal, foi de duas vezes semanais, totalizando 12 sesses, realizadas durante um perodo de um ms e meio. Terminado o protocolo, as pacientes foram reavaliadas pelos mesmos procedimentos da avaliao

inicial. Para manter o controle das variveis, todas as pacientes foram reavaliadas at no mximo 48 horas aps a ltima sesso. Estatsticas descritivas foram realizadas para as variveis do estudo. Foi utilizado o teste t de Student, para amostras pareadas no tratamento das variveis que tiveram distribuio normal (volume mximo, volume urinado e freqncia miccional), e o Wilcoxon Rank Test para as variveis episdios de perda urinria, ingesto lquida, quantidade de urina perdida (pad test) e volume mdio. As anlises estatsticas foram feitas no programa SPSS 12.0 e conduzidas no nvel de significncia = 0,005.

detrusora idioptica ou incontinncia urinria mista, confirmada por exame urodinmico. Quatro das avaliadas foram excludas por razes de sade, por no se enquadrar nos critrios de incluso aps a avaliao urodinmica, ou por no desejarem participar da pesquisa, e trs por terem idade inferior a 60 anos. Como as perdas foram pequenas e o clculo prvio para determinar o tamanho da amostra indicou que seriam necessrias 14 pacientes para se obter uma diferena estatstica significante aps a interveno, optamos por no realizar anlise da inteno de tratar. A mdia das idades das participantes foi de 70,10 8,63 anos, variando entre 60 e 87 anos. Quanto ao nvel de escolaridade, 46,9% tinham o 2 grau completo (n=15), 40,6% o 1 grau completo (n=13) e 12,4% o 3 grau completo (n= 2). A Tabela 1 mostra a estatstica descritiva dos dados relativos perda de urina medida pelo pad test antes e aps a interveno fisioteraputica; a percentagem de mulheres com perda urinria que tiveram pad test negativo (=4g) passou de 6,7% (n=2) para 30,0% (n=9) aps a interveno. O teste no-paramtrico de Wilcoxon para amostras pareadas indicou diferena significativa entre as medidas inicial e final do pad test (Z= -2,951; p=0,003). Os resultados obtidos, como ilustra o Grfico 1, permitem afirmar que as medidas dessa varivel antes do tratamento so maiores do que as obtidas aps o mesmo: a mdia inicial de 23 g passou para 8 g aps o trmino das 12 sesses de interveno. No foi encontrada diferena entre a ingesto lquida (z= -0,357; p=0,721) e entre a mdia do volume de urina em 24h (z= -1,635; p=0,102) antes e aps o tratamento. Porm, a diferena do nmero de episdios de perda urinria antes e aps o tratamento foi significativa (z= -2,877; p=0,004). O teste t para amostras pareadas demonstrou tambm no haver diferena significante entre o volume mximo de urina antes e aps o tratamento

RESULTADOSCaractersticas da amostraDas 37 pacientes avaliadas no Setor de Fisioterapia do Hospital Mater Dei no perodo estipulado, 30 foram includas no estudo por terem incontinncia urinria por hiperatividade

Tabela 1 Estatstica descritiva e distribuio dos resultados para o pad test inicial e final (n=30) Pad test (g) MdiaDP Mediana > 4 g* =4 g* Min/Max n (%) n (%) Inicial 39,1741,33 23,00 28 (93,3) 21 (70,0) 2 / 151 Final 33,0367,34 8,00 2 (6,7) 9 (30,0) 0 / 270* Pontos de corte da Sociedade Internacional de Continncia (ICS); DP = desvio padro; Min/Max= valores mnimos e mximos

25 Mdia (g) 20 15 10 5 0Pad Pad test inicial inicial Pad test final Pad test final Grfico 1 Mdia das medidas do pad test antes e aps a interveno fisioteraputica (n=30)

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Tabela 2 Episdios de perda urinria e volume mdio urinado, obtidos pelo dirio miccional de 24 h no incio e no final do tratamento (n=30) Item do dirio miccional MdiaDP p Episdios de perda urinria (vezes/24h) Inicial 2,331,97 Final 1,231,65 0,004 Volume mdio urinado (ml) Inicial 180,8159,53 Final 200,8583,31 0,000 (t= -1,454; p=0,157). Mas mudanas significativas (t= -4,785; p=0,000) ocorreram na comparao da freqncia miccional em 24h antes e aps o tratamento (Tabela 2). A mdia inicial do nmero de vezes que a paciente urinou em 24h foi de 10,963,35 e a final, de 9,002,44. veno, variando a percentagem de melhora entre 40 e 80%. As medidas utilizadas para demonstrar eficcia tambm no seguem um padro17,18. Soroka et al.2 realizaram uma reviso sistemtica com estudos clnicos sobre tratamentos de incontinncia em mulheres tendo como medida do desfecho primrio o pad test. O objetivo foi verificar se os estudos seguiam ou no as recomendaes da ICS. Concluram que a variedade de pad tests utilizados para quantificar o grau de perdas urinrias dificultava a comparao dos estudos selecionados. Observaram que testes de curta durao (pad test de uma hora), apesar da fcil aplicao, rapidez dos resultados, facilidade para monitorar as pacientes e risco menor de erros devido evaporao da urina acumulada, no fornecem evidncias das perdas durante todo o dia, o que pode ser verificado em testes mais longos, como o de 24 horas. Apontaram tambm vantagens do pad test como instrumento de medida por no ser invasivo, ter baixo custo e ser de fcil realizao. Entretanto, a falta de padronizao especfica quanto freqncia da troca dos protetores, durao do teste inicial e final, volume urinado relevante, mtodos estatsticos adequados para analisar os resultados constitui um problema metodolgico em sua realizao. Brubaker et al. 19, em um estudo experimental, aleatrio e duplo-cego objetivaram determinar a eficcia objetiva e subjetiva da eletroestimulao transvaginal para o tratamento de IU de esforo, de urgncia e mista. Concluram que a eletroestimulao

transvaginal pode ser efetiva para o tratamento da hiperatividade detrusora com ou sem IU de esforo, sendo mais indicada que o cirrgico para as pacientes com diagnstico de hiperatividade detrusora. No presente estudo, mesmo tendo sido associadas eletroestimulao vaginal e cinesioterapia para assoalho plvico, percebemos a eficcia dessa alternativa de tratamento na reduo dos sintomas de perda urinria, o que refora sua utilizao. Lose et al.20 demonstraram haver 90% de correlao do pad test de 24 horas com histria de incontinncia urinria por esforo em 31 mulheres. Esse resultado foi melhor quando comparado com estudos de outros autores. Tal correlao um dado importante, pois os resultados do nosso estudo demonstram que o pad test se mostrou sensvel, conseguindo detectar a melhora dos sintomas aps a interveno teraputica. O pad test apresenta limitaes que podem influenciar os resultados, como a existncia de diversas marcas do absorvente e a diferena de peso entre eles em um mesmo pacote. No presente estudo alguns critrios foram adotados para controlar essas falhas. As pacientes foram orientadas a utilizar, tanto no teste inicial quanto no final, a mesma marca de absorvente e os pesos dos mesmos foram conferidos em todo o pacote, sendo excludos aqueles com pesos diferentes. Mesmo o pad test sendo sensvel s mudanas clnicas aps interveno, algumas falhas ocorreram em nosso estudo. A falta de padronizao do tempo do uso do absorvente pode ter influenciado os resultados, pois a evaporao de urina e perdas de lquido na roupa deveriam ter sido consideradas. Suspeita-se tambm de falhas pela falta de comprometimento das pacientes, incompreenso na execuo do teste e at mesmo de aumento da ingesto hdrica, por mudanas climticas ou distrbios emocionais. No presente estudo, 9 (30%) pacientes obtiveram cura e 21 (70%) dimi-

DISCUSSOEste estudo investigou o impacto, sobre a quantidade de urina perdida, da aplicao de um protocolo fisioteraputico de 12 sesses, baseado em exerccios teraputicos para a musculatura do assoalho plvico e eletroestimulao vaginal de mulheres portadoras de IUM e IU por hiperatividade detrusora idioptica. As medidas utilizadas foram o pad test e o dirio miccional de 24 horas. Os resultados indicaram melhora significativa (p=0,003) no pad test de 24 horas, evidenciando o impacto positivo do protocolo de tratamento proposto sobre os sintomas de perda urinria na populao investigada. Os dados referentes aos episdios de perda urinria (p= 0,004) e freqncia miccional em 24 horas (p= 0,000) colhidos pelo dirio miccional tambm indicaram significativa reduo. A heterogeneidade dos relatos na literatura, com diversos tratamentos, protocolos, medidas de eficcia e de avaliao dificultam comparaes com nossos resultados. H uma grande variabilidade quanto ao tempo de tratamento e nmero de sesses 4,14,16. Estudos encontrados apresentam desde protocolos de 10 sesses (um ms de fisioterapia) a seis meses de inter-

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nuram ou mantiveram a quantidade de urina perdida, de acordo com o ponto de corte de quatro gramas, o que se traduz em melhora dos sintomas clnicos. Quanto anlise semi-objetiva de sintomas feita pelo dirio miccional, pde-se perceber que houve melhora significativa em algumas variveis. Esses resultados so corroborados por algumas pesquisas que consideram o dirio miccional uma medida importante16,21. Al-Mulhim et al.5, utilizando cinesioterapia, eletroestimulao e treino da bexiga por meio do dirio miccional em mulheres idosas com hiperatividade detrusora, observaram diferenas (p=0,0001) no aumento dos intervalos de mico, na diminuio do volume residual e na freqncia miccional. Concluram que a realizao adequada de exerccios durante oito semanas, combinados com eletroestimulao vaginal, treino da bexiga e restries de lquidos, modalidade efetiva de tratamento para pacientes idosas com hiperatividade detrusora.

Payne22 demonstrou a efetividade da terapia comportamental por meio de exerccios do assoalho plvico, educao e mudanas de hbitos, defendendo a implementao dessas medidas em programas de tratamento tanto de IU por hiperatividade detrusora como de IUM. Segundo Wilson23, a cinesioterapia e a eletroestimulao vaginal produzem uma melhora substancial ou at mesmo cura nas mulheres com incontinncia urinria de esforo, hiperatividade detrusora e IUM, corroborando alguns achados do presente estudo. Existem controvrsias na literatura quanto ao tempo ideal para o tratamento conservador utilizando exerccios e eletroterapia para IU4,14,16. So porm considerados fatores importantes para o sucesso do tratamento a motivao da paciente para continuidade do programa em nvel domiciliar. Neste estudo a taxa de adeso ao tratamento por parte das pacientes foi

de 100% em nvel ambulatorial. Contudo, no foi possvel quantificar a adeso no nvel domiciliar.

CONCLUSOA incontinncia urinria uma afeco de grande prevalncia em mulheres idosas, para a qual existem variadas formas de tratamentos fisioteraputicos, medicamentosos e cirrgicos. O presente estudo confirma os achados da literatura, no que se refere ao benefcio do tratamento conservador fisioteraputico, baseado em cinesioterapia e eletroestimulao vaginal em mulheres com IU sobre a perda urinria, tendo como medida de resultado da interveno o pad test de 24 horas. Com o impacto positivo obtido pelo tratamento, pode-se inferir que a utilizao de um tratamento fisioteraputico em mulheres idosas um procedimento no invasivo, prtico e de baixo custo e eficaz, mesmo em um curto espao de tempo.

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Evoluo clnica da marcha em um indivduo com leso medular incompleta: relato de casoClinical evolution of gait in a subject with incomplete spinal cord injury: case reportWagner Monteiro1, Fernanda Fregni da Silva2, Ismael Fernando de Carvalho Fatarelli3

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Fisioterapeuta do Laboratrio de Biodinmica da Univap (Universidade do Vale do Paraba, SP); Prof. MSc em Engenharia Biomdica da FAPI (Faculdade de Pindamonhangaba, SP) Fisioterapeuta; Profa. MSc do Curso de Fisioterapia da Univap e da FAPI Fisioterapeuta; Prof. Dr. do Laboratrio de Controle Motor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas, SP)

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RESUMO: apresentada a evoluo clnica da marcha de um indivduo com histria de leso medular incompleta, de etiologia traumtica em nvel vertebral C-5, aps 10 sesses de reabilitao durante um perodo de 22 dias em esteira rolante instrumentada. A evoluo foi analisada quantificando-se a fora vertical resultante de reao do solo, produzida durante a marcha do indivduo. Na comparao entre os dados coletados dos membros inferiores antes e depois do tratamento, verificaram-se alteraes positivas nos valores referentes s variveis segundo pico de fora e centro de presso, revelando que o tratamento permitiu uma otimizao na capacidade de projeo corporal em relao ao prximo passo e melhora do equilbrio, em virtude da diminuio da oscilao corporal durante a marcha. DESCRITORES: Marcha/ Biomecnica; Reabilitao; Traumatismos da medula espinhal

ENDEREO PARACORRESPONDNCIA

Wagner Monteiro R. Dr. Orlando Feirabend Filho 51 apto. 73 Jardim Aquarius 12246-190 So Jos dos Campos SP e-mail: [email protected]

ACEITO PARA PUBLICAOjul. 2005

ABSTRACT: This article reports the clinical evolution of gait in an individual with history of incomplete spinal cord injury, with traumatic etiology in vertebral level C-5, after 10 sessions of rehabilitation along a period of 22 days in an instrumented treadmill. The gait evolution was analyzed quantifying the vertical resultant of ground reaction force produced during the subjects gait. When comparing data collected from the lower limbs before and after treatment, positive changes were noticed in the variables second force peak and center of pressure. These results show that the proposed treatment brought about an improvement in the capacity of corporal projection in relation to the next step, as well as an improvement in balance, due to reduction of corporal oscillation during gait. KEY WORDS: Gait/ Biomechanics; Rehabilitation; Spinal cord injuries

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Monteiro et al.

Evoluo da marcha em leso medular incompleta

INTRODUOA marcha humana uma tarefa que exige coordenao e sincronismo entre as estruturas musculoesquelticas e neurossensoriais, para que os movimentos sejam realizados de maneira harmoniosa e sinrgica1. Cavagna et al.2 formularam que, durante cada passo da marcha humana, o centro de massa corporal (CMC) projetado sobre o membro de suporte, tal como um pndulo invertido. Durante a locomoo, os movimentos podem ser comparados mecanicamente aos de um pndulo invertido 3, porm no aspecto neural existem mecanismos de modulao bastante complexos, responsveis pelo controle desses movimentos1,4. A automatizao da marcha ocorre por uma rede neural denominada Gerador de Padro Central (GPC)5,6,7. Esse gerador responsvel por padres motores rtmicos resultantes de processos excitatrios e inibitrios dos membros inferiores durante os movimentos3. Basicamente, h uma excitao da musculatura agonista e uma inibio da antagonista em um membro, o contrrio ocorrendo simultaneamente no contra-lateral8,9,10. Alm da participao do GPC, o ato locomotor tambm conta com um refinado processo de integrao de informaes sensoriais perifricas e supra-espinhais4,11. Portanto, se existe um controle bastante sofisticado para a realizao da marcha, certamente disfunes neurolgicas provenientes de leses na medula espinhal podem desencadear importantes comprometimentos nas caractersticas neuromecnicas da locomoo12. De fato, em casos de leses medulares, isso ocorre principalmente pelo dficit da capacidade de modulao da atividade muscular aps a seco medular. Ento, se a leso medular pode desencadear importantes comprometimentos locomoo humana, estudos recentes demonstram respostas efetivas ao treinamento em esteira rolante, com suporte de peso corporal, resultando na melhora dos padres locomotores, tanto em animais 13,14 como em seres humanos15 com leso medular incompleta. Para determinar

as alteraes funcionais, mtodos de aferio precisos tm possibilitado a anlise dos aspectos quantitativos das variveis cinemticas e cinticas durante o movimento humano 16. No presente estudo, devido s alteraes locomotoras geradas em razo de leso medular, foi quantificada a evoluo da marcha em um indivduo tetrapartico, decorrente de uma leso medular incompleta, submetido ao tratamento fisioteraputico. A finalidade deste foi investigar as alteraes cinemticas e cinticas na marcha, aps um programa de reabilitao em esteira rolante. A hiptese centrou-se na possvel otimizao das variveis cinemticas e cinticas, seja decorrente da reabilitao da marcha estruturada no treinamento em esteira rolante, seja pela evoluo temporal.

pelo paciente, consistindo a reabilitao em treinamento da marcha em esteira rolante instrumentada. Foram realizadas 10 sesses de fisioterapia, durante 22 dias. Nesse perodo, no foram institudos protocolos convencionais de reabilitao de marcha, preconizando-se apenas a reabilitao da marcha em solo mvel (esteira rolante instrumentada). O indivduo foi orientado a no realizar quaisquer exerccios domiciliares, a fim de controlar o protocolo de reabilitao proposto, para que suas atividades em casa no influenciassem os resultados do experimento. Em cada sesso, o indivduo deambulou por um perodo de aproximadamente 45 minutos em velocidade fisiolgica predefinida.

InstrumentosPara a coleta dos dados referentes marcha foi utilizada uma esteira rolante instrumentada do sistema Gaitway. Essa esteira tem duas plataformas de fora com um sistema de sensores piezoeltricos da marca Kistler Inc. O equipamento possibilita controlar a velocidade e a inclinao da esteira durante a marcha, bem como registrar as variveis relacionadas fora vertical resultante de reao do solo (FVRRS) em um computador interligado.

METODOLOGIAForam investigados os parmetros cinemticos, temporais e cinticos da marcha em um indivduo com histria de leso medular incompleta por mecanismo de compresso vertebral em C-5, classificado como ASIA D de acordo com a American Spinal Injury Association17. Tambm foram analisados os deslocamentos ntero-posteriores e mdio-laterais do centro de presso (CP). A primeira anlise da marcha foi realizada 150 dias aps a histria inicial do trauma medular. O paciente seguiu um programa de interveno fisioteraputica durante 10 sesses, sendo uma reavaliao conduzida aps essas sesses. Na anlise inicial, o indivduo tinha marcha independente. Entretanto, ao exame clnico pde-se detectar incoordenao e dficit de equilbrio. A avaliao fisioteraputica foi conduzida no Setor de Reabilitao Neurofuncional Adulto da Faculdade de Cincias da Sade da Universidade do Vale do Paraba (UNIVAP). No momento da avaliao inicial, o indivduo tinha 20 anos, altura de 1,80 m e peso de 679 N. De modo geral, o protocolo de reabilitao visou o tratamento dos dficits de equilbrio, coordenao e fora muscular em membros inferiores, apresentados

Procedimento experimentalPara a realizao do experimento, foi obtida a aprovao do Comit de tica em Pesquisa da UNIVAP. Com o consentimento esclarecido do paciente, foram realizadas as coletas de dados. O procedimento experimental durante a coleta consistiu primeiramente de uma fase de adaptao do indivduo durante a marcha na esteira. O tempo de adaptao foi estipulado em 10 minutos de caminhada na esteira antes da coleta18. Foi realizada uma coleta com cinco aquisies de dados. A freqncia de amostragem utilizada foi 1000 Hz, sendo cada aquisio realizada durante 10 segundos. Os dados foram coletados a uma velocidade de 1,1 m/s,

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MIE MID

240

f 90%

g

Deslocamento anterior (cm)

800

MARCHA a 1,1 m/s (padro normal)

CINEMTICA

MI

FVRRS (N)

120MIE

400

a

hi

bMID

e

0

10%

c b a d

0 - 60 Lateral

0 Linha mdia

- 60 Lateral

Tempo (s)

Oscilao mdio-lateral (cm)

Figura 1 Representao do padro normal das variveis da marcha a 1,1 m/s1a Variveis temporais: a. tempo da passada (durao entre contato inicial de um dos ps para o prximo contato inicial do calcanhar do mesmo p); b. tempo do passo (contato inicial do calcanhar de um dos ps at o prximo contato inicial do calcanhar do p oposto); c. tempo de contato (contato do p at sua retirada da superfcie); d. tempo de duplo apoio (durao do suporte corporal por ambos os ps); e. tempo de apoio simples (momento em que o corpo est apoiado em apenas um dos ps); Variveis cinticas so representadas pelas letras: f. primeiro pico de fora (que representa o impacto do p com o solo); g. segundo pico de fora (que representa a propulso do corpo para frente); h. taxa de aceitao de peso (taxa de variao da inclinao na primeira metade da curva de fora em funo do tempo; i. impulso (integral da curva de fora em funo do tempo). 1b MIE = Membro Inferior Esquerdo; MID = Membro Inferior Direito. Variveis cinemticas: a. comprimento da passada (distncia percorrida do contato inicial de um dos ps at o prximo contato inicial do calcanhar do mesmo p); b. comprimento do passo (distncia percorrida do contato inicial do calcanhar de um dos ps at o prximo contato inicial do calcanhar do p oposto).

que foi a velocidade mdia descrita como fisiolgica para o paciente. O clculo da velocidade de coleta foi realizado pela equao Vm = S/t, aps o indivduo ter caminhado em linha reta num espao de 20 metros. Esse procedimento repetiu-se por trs vezes, sendo obtida a mdia aritmtica dessas tentativas. Todas as etapas do procedimento experimental, como coletas, tratamentos e anlises dos dados, foram realizados no Laboratrio de Biodinmica da UNIVAP. O experimento consistiu em duas etapas. A primeira, de uma anlise da marcha, onde o paciente foi avaliado e os dados processados e interpretados (em abril de 2003). Foram investigadas as caractersticas temporais, cinemticas e cinticas da marcha do indivduo. A segunda etapa consistiu em uma reavaliao, aps 10 sesses de reabilitao (em maio de 2003), com o objetivo de quantificar as possveis modificaes ao longo do perodo investigado.

Padres da FVRRS e do Centro de PressoNo que se refere FVRRS Fora Vertical Resultante de Reao do Solo , foram analisadas as variveis temporais, cinemticas e cinticas como: tempo da passada, tempo do passo, tempo de contato, tempo de duplo apoio, tempo de apoio simples, cadncia, comprimento da passada, comprimento do passo, primeiro pico de fora, segundo pico de fora, impulso e taxa de aceitao de peso (Figuras 1a e 1b). Classicamente a curva da FVRRS apresenta um comportamento peculiar durante a marcha, sendo composta por dois picos e um vale entre os picos. Ao fragmentar a curva da FVRRS em trs partes, evidencia-se que o tero inicial representado por um aumento linear da fora, momento este que representa a fora de impacto do p do indivduo com o solo (primeiro pico

de fora). O tero central da curva, em forma de um vale, corresponde ao momento em que apenas um dos ps est em contato com o solo (apoio simples), enquanto o membro contralateral se encontra em fase de balano (fase area). Por fim, h um segundo incremento da fora, representando o momento de propulso do corpo para frente (segundo pico de fora). Os valores do centro de presso (CP) fornecem as informaes advindas dos deslocamentos p-tornozelo influenciados pelos deslocamentos do centro de massa corporal do sujeito. Estes so representados pelos valores do deslocamento do ponto de presso central da FVRRS exercida sobre o p durante o apoio. Note-se na Figura 2a o padro normal do deslocamento bilateral do centro de presso: possvel identificar a simetria entre os lados esquerdo (MIE) e direito (MID) no deslocamento do CP corporal. Num primeiro momento na fase do contato inicial, a parte

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lateral do p est em contato com o solo (CP deslocando-se medialmente). Nesse mesmo momento, tambm se evidencia o contato da parte posterior do p (retro-p) com o cho. medida que ocorre a propulso do corpo para frente, h uma tendncia de a regio lateral do p aumentar a presso exercida no solo durante a fase que o mdio-p tem maior presso com o solo. No final da fase de apoio, o contato se concentra na regio do antep, com a propulso ocorrendo em nvel medial concentrando-se no primeiro metatarsiano.

RESULTADOSApesar dos dficits de equilbrio e coordenao apresentados pelo indivduo inicialmente, ele realizou as tarefas solicitadas durante o procedimento experimental em todas as etapas do processo de reabilitao. A Figura 3 mostra as diferenas entre o comportamento da marcha, evidenciado entre as anlises antes (16/ 04/2003) e depois (08/05/2003) em um indivduo com leso medular incompleta. Nota-se que houve um aumento do segundo pico de fora quando comparado ao primeiro. Na anlise visual das diferenas entre as curvas da FVRRS do membro esquerdo em relao ao membro direito, foi possvel detectar um desequilbrio entre as foras resultantes de impacto e propulso. Os valores mdios e de significncia estatstica referentes anlise da marcha, bem como a srie temporal, representando o comportamento da curva da FVRRS encontrada para esse indivduo antes e depois da reabilitao, podem ser observadas na Tabela 1 e na Figura 3. Em relao anlise quantitativa da varivel segundo pico de fora, foi possvel identificar um aumento bila-

teral significativo na varivel aps o programa de reabilitao (MIE p=.0.00; MID p=0.01). Esse aumento foi mais acentuado nessa fase da marcha para o membro inferior esquerdo. J as informaes obtidas pela anlise da varivel CP revelam que, aps o perodo de reabilitao, houve uma diminuio da oscilao mdio-lateral (MIE p=0.00; MID p=0.01) e um aumento do deslocamento nteroposterior (MIE p=0.04; MID p=0.00) (Tabela 1 e Figura 2b).

Variveis analisadas e procedimentos estatsticosCom base nos valores da FVRRS e do CP, foi possvel identificar e quantificar os possveis dficits referentes marcha do indivduo. Para anlise estatstica da evoluo clnica do paciente, utilizou-se a anlise comparativa pela distribuio T de Student (pareado). Foram comparadas as mdias das cinco aquisies de dados antes e depois do programa de reabilitao para o mesmo indivduo. Os valores de significncia foram estabelecidos em p 0.05.

DISCUSSOEm animais, sabemos que os padres motores caractersticos da locomoo presentes na marcha podem ser readquiridos mesmo aps seco medular incompleta19. Apesar de o sistema nervoso central (SNC) dos gatos diferir, em muito, do SNC dos humanos3, a melhora dos padres locomotores tm sido observada em indivduos com leso medular completa e incompleta, aps a realizao de um intenso treinamento em esteira rolante, utilizando suporte de peso corporal15, 20. Wernig et al.21 analisaram 11 in-

MIE MIE MID MID

Coleta 16/04/2003 Coleta 16/04/2003 Coleta 08/05/2003

Deslocamento ntero-posterior (cm)

60 55 50 45 40 35 30 25 20-10

CENTRO DE PRESSO(padro normal)MIE MID

60 55 50 45 40 35 30 25

CENTRO DE PRESSO(lesado medular)MIE MID

Deslocamento ntero-posterior (cm)- 15 -10

Lateral

-5

0 Linha mdia

5

20 10 Lateral

-5

Lateral

0 5 Linha mdia

10

15 Lateral

Oscilao mdio-lateral (cm)

Oscilao mdio-lateral (cm)

Figura 2 Representaes do padro normal (a) e do indivduo estudado (b) da varivel centro de presso durante a marcha a 1,1 m/sEm 2b Nota-se, na segunda coleta de dados (aps o perodo de reabilitao), diminuio significativa da oscilao mdio-lateral e aumento do deslocamento ntero-posterior, que implicam, respectivamente, melhora no equilbrio e aumento da propulso durante a marcha.

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Tabela 1 Valores mdios e de significncia (Teste T de Student pareado) das variveis da FVRRS: anlise comparativa para os dois membros, entre os dados iniciais (16.04.2003) e aps o perodo de reabilitao (08.05.2003) Variveis analisadas * Antes Depois Teste T E D E D E D Primeiro pico de fora 712,2 646,57 704,63 644,52 0,37 0,76 Segundo pico de fora 746,2 738,55 769,39 763,10 0,00* 0,01* Taxa de aceitao de peso 3623,5 3207,0 3591,6 3376,1 0,81 0,23 Impulso 375,50 401,45 367,13 389,48 0,24 0,17 Tempo de contato 0,74 0,78 0,71 0,75 0,14 0,15 Tempo de apoio simples 0,26 0,27 0,27 0,27 0,49 0,91 Comprimento da passada 138,47 138,05 138,15 138,28 0,88 0,92 Comprimento do passo 60,90 77,61 62,36 76,38 0,44 0,44 Centro de presso (M-L) 6,99 -7,26 4,48 -5,41 0,00* 0,01* Centro de presso (A-P) 44,85 42,88 47,59 46,13 0,04* 0,00* Antes Tempo da passada Tempo do passo Tempo de duplo apoio Cadncia Comprimento da passada Comprimento do passo 1.22 0.61 0.50 102.79 1.38 0.60 Depois 1.20 0.59 0.45 102.54 1.38 0.62 Teste T 0.10 0.15 0.09 0.86 0.88 0.44

divduos com leso medular incompleta crnica que deambulavam independentemente. Aps a realizao um programa de reabilitao em esteira rolante, durante um perodo que variou de 3 a 20 semanas, esses indivduos apresentaram melhora na velocidade do movimento e na resistncia muscular. Esse aumento da resistncia foi representado pela capacidade de manterem a deambulao por um tempo maior, em relao ao incio do tratamento. Os resultados desses autores demonstram claramente uma melhora no padro locomotor dos indivduos analisados. As justificativas para esses achados baseiam-se no fato de que o treino de marcha em solo mvel possibilita otimizar a melhora da modulao da atividade eletromiogrfica (EMG) dos msculos das extremidades inferiores, promovendo a melhora dos padres motores rtmicos durante o ato locomotor6. Neste estudo obtivemos melhoras significativas na fora de projeo do corpo para a frente durante a fase de apoio, aps 22 dias de reabilitao. Os dados aqui apresentados referemse melhora da fora muscular e equilbrio do indivduo durante a marcha. Aps a instituio do programa de reabilitao, houve uma diminuio nos valores das oscilaes mdiolaterais e um aumento dos deslocamentos ntero-posteriores do centro de presso. Esses resultados suportam a idia da recuperao da estabilidade, equilbrio e coordenao durante a marcha no indivduo analisado. Entretanto, o fato de os deslocamentos ntero-posteriores apresentarem um incremento em seus valores est fundamentado na lgica de que, para haver um aumento da fora de projeo do corpo para frente, h necessidade de que o indivduo aumente os deslocamentos corporais na mesma direo (refletido no aumento do segundo pico de fora). possvel tambm que ocorra uma melhora generalizada dos mecanismos de sinergia muscular. Essa sinergia pode estar

* Variveis temporais, cinemticas e cinticas expressas em s (segundos), m (metro) e N (Newton), respectivamente. Varivel cadncia: representa o nmero de passos por minuto expresso pela equao: cadncia = 120/tempo da passada em segundos.

Coleta 16/04/2003 Coleta 16/04/2003 Coleta 08/05/2003 Coleta 08/05/2003

MARCHA 1,1 m/s 800p=0.00* p=0.01*

FVRRS (N)

400 MIE MID

0

0

0.5

1 Tempo (s)

1.5

2

Figura 3 Srie temporal referente Fora Vertical Resultante de Reao do Solo (FVRRS) no indivduo com histria de leso medular incompleta: comportamento da marcha a 1,1 m/s, antes (linha contnua) e depois (linha tracejada) do programa de reabilitao.

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refletida na otimizao das diferenas entre as variveis cinticas analisadas. Apesar dessa sinergia muscular no ter sido analisada pelos sinais eltricos musculares (eletromiografia), os dados referentes FVRRS refletem a resultante das foras (externas e internas) atuantes sobre a plataforma. Essa resultante altamente influenciada pela somatria das foras musculares solicitadas durante o processo locomotor. Outro fator que deve ser considerado est relacionado aos mecanismos de

plasticidade neural. Estes podem ter influncia direta na melhora locomotora do indivduo analisado7,22.

CONCLUSOO aumento do segundo pico de fora, entre as duas anlises, indica, uma melhora no momento da projeo do corpo para frente durante a marcha. Essa melhora pode estar relacionada com a melhora da fora da musculatura flexora plantar. Os dados do CP permitiram identificar melhora do equilbrio e coor-

denao do indivduo com histria de leso medular parcial. H de ressaltar que a possibilidade da quantificao e anlise dos dficits neuromotores apresentados por esse indivduo permitiu um planejamento mais objetivo no que diz respeito conduta fisioteraputica empregada, no tratamento das desordens da marcha. Com essa quantificao, o prximo passo ser a aplicao desta proposta reabilitacional em uma amostra representativa de indivduos com leso medular incompleta, visando a validao deste protocolo.

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2

3 4

5 6

7

8

9

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Referncias (cont.)18 Matsas A, Taylor N, Mcburney H. Knee joint kinematics from familiarised treadmill walking can be generalised to overground walking in young unimpaired subjects. Gait & Posture. 2000;11(1):46-53. 19 De Leon RD, Hodgson JA, Roy RR, Edgerton VR. Locomotor capacity attributable to step training versus spontaneous recovery after spinalization in adult cats. J Neurophysiol. 1998;79:1329-40. 20 Wernig A, Mller S. Laufband CE. Locomotion with body weight support improved walking in persons with severe spinal cord injuries. Paraplegia. 1992;30:229-38. 21 Wernig A, Mller S, Nanassy A, Laufband CE. Therapy based on rules of spinal locomotion is effective in spinal cord injured persons. Eur J Neurosci. 1995;7(4):823-9. 22 Dietz V, Colombo G, Jensen L. Locomotor activity in spinal man. Lancet. 1994;344:1260-3.

Agradecimentos Agradecemos em especial ao Professor MSc. Charli Tortoza pelo suporte tcnico; Capes-Prosup e Univap, pelo apoio para desenvolvimento da pesquisa.

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Fundamentos da Fisioterapia dermato-funcional: reviso de literaturaGrounds of aesthetic physical therapy: a reviewGiovana Barbosa Milani1; Silvia Maria Amado Joo2; Estela Adriana Farah3

1

Fisioterapeuta; Esp. em Fisioterapia DermatoFuncional, mestranda em Cincias da Reabilitao no FOFITO/FMUSP (Depto. de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo) Fisioterapeuta; Profa Dra. do Curso de Fisioterapia do FOFITO/FMUSP Fisioterapeuta pela Universidade Estadual de Londrina

2

3

RESUMO: A fisioterapia esttica, recentemente renomeada como fisioterapia dermato-funcional, est cada vez mais em evidncia. Afim de melhor definir essa rea de atuao profissional, procedeu-se a uma reviso bibliogrfica das patologias nas quais o fisioterapeuta pode atuar, como fibroedema gelide (celulite), estrias, linfedema, no pr e ps-operatrio de cirurgia plstica, queimaduras, cicatrizes hipertrficas e quelides, flacidez, obesidade e lipodistrofia localizada. Apresentam-se tambm os recursos que podem ser utilizados para tratamento e preveno dessas patologias, sendo muitos deles j de uso rotineiro na fisioterapia. Sendo esse campo recente, ainda h muito a ser explorado e novas pesquisas devem ser realizadas na busca de evidncias cientficas para o melhor embasamento dos recursos e tcnicas disponveis ao fisioterapeuta, possibilitando assim a articulao desse rea com as demais da fisioterapia, como a ortopedia, respiratria, entre outras. DESCRITORES: Celulite; Esttica; Estrias; Fisioterapia/dermato-funcional; Reviso ABSTRACT: Aesthetic physical therapy (which in Portuguese has been renamed dermatho-functional) has recently gotten more attention. In view of a better definition of the area, this paper reviews related literature to list pathologies that the physical therapist can treat such as cellulitis, stretch marks, obesity, lymphedema, burn care, hypertrophic scar and keloids, flaccid skin and muscles, and local fat accumulation as well as the resources used for treating and preventing such pathologies, most of which are common to the physical therapist practice. Since this is a new area, research is still to be done in order to better ground the use of resources and techniques by physiotherapists, thus allowing for further interaction of this area to others, such as orthopedic or respiratory physical therapy. KEY WORDS: Cellulitis; Physical therapy/aesthetic; Review; Stretch marks

ENDEREO PARACORRESPONDNCIA

Giovana B. Milani R. Paracatu 494 apto. 61 Pq. Imperial 04302-021 So Paulo SP e-mail: [email protected]; 2 [email protected]

ACEITO PARA PUBLICAOmaio 2005

FISIOTERAPIA E PESQUISA 2006; 12(3) FISIOTERAPIA E PESQUISA 2006; 13 (1): 37-43

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INTRODUOA definio de fisioterapia dada pelo Coffito Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional1, obtida no site oficial do rgo em 2004, diz: Fisioterapia uma cincia que estuda, previne e trata os distrbios cinticos funcionais intercorrentes em rgos e sistemas do corpo humano. Apesar do campo de atuao do fisioterapeuta abranger ortopedia, cardiologia, respiratria, pediatria e esttica, dentre outras2, esta ltima rea ainda pouco reconhecida. Recentemente a especialidade fisioterapia esttica teve a denominao substituda por fisioterapia dermatofuncional, em uma tentativa de ampliar a rea, conferindo-lhe a conotao de restaurao de funo, alm da anteriormente sugerida, que era apenas de melhorar ou restaurar a aparncia 3. No Guide to physical therapist practice, publicado pela Associao Norte-americana de Fisioterapia (APTA) em 20014, essa rea referida como responsvel pela manuteno da integridade do sistema tegumentar como um todo, incluindo as alteraes superficiais da pele. Para a APTA4, a responsabilidade do fisioterapeuta est no somente em manter e promover a tima funo fsica, mas tambm o bem estar e a qualidade de vida. O objetivo deste artigo apresentar uma reviso de trabalhos sobre esse campo de atuao profissional, buscando melhor delimitao de conceitos e prticas. Para essa reviso foram pesquisadas as bases eletrnicas de dados Medline, Lilacs e Cochrane, com busca no perodo de 1983 a 2003. Dentre os estudos encontrados mediante os descritores fisioterapia, esttica, celulite, estrias, linfedema, obesidade, quelide, queimaduras e seus correspondentes em ingls foram selecionados e consultados cerca de 60 documentos, alm de trs sites oficiais de fisioterapia 1,2,5, consultados em 2004.

BASES MORFOLGICAS E PATOLGICASNesse mbito dermato-funcional, a fisioterapia pode atuar em diversas patologias3,5, descritas a seguir.

variados e complementares, incluindo completa orientao ao indivduo tratado, pois se o FEG for abrandado e os hbitos continuarem os mesmos (alimentao inadequada, lcool, fumo, sedentarismo etc.), os resultados sero transitrios3. Para melhor resultado, a escolha do tratamento ideal fundamental, podendo este variar desde cirurgia, chamada de subciso (subcision), pela qual se tratam as depresses do relevo cutneo por seco dos septos fibrosos 11,12, passando por mesoterapia, onde medicamentos so administrados via derme3,6,13, at a complementao alimentar e a atividade fsica3,6,13,14. Como o FEG est associado estase linftica, a drenagem linftica um dos recursos que podem ser utilizados3,6,8. Outra forma de massagem tambm muito utilizada aquela conseguida pelo mtodo Endermologie, que utiliza um aparelho com roletes dirigidos mecanicamente, encontrados no cabeote, com uma presso negativa causada por suco e uma positiva obtida pela aproximao dos roletes 8,14,15,16,17. Esse tipo de massagem, tambm referida na literatura por outros nomes, alm da melhora do fluxo sangneo e linftico permite o aumento da oxigenao cutnea, melhora da nutrio celular, auxlio na eliminao de produtos do metabolismo, melhora do tnus da pele, dentre outros8,16,18,19. A corrente galvnica pode ser utilizada em sua forma pura, buscando a nutrio do tecido afetado decorrente do aumento de circulao local; mas com a iontoforese que essa corrente tem maior aplicabilidade no tratamento do FEG. A medicao introduzida busca promover a despolimerizao da substncia fundamental por enzimas combinadas ou no a outros frmacos3,13. A hialuronidase uma dessas enzimas, responsvel pela hidrlise do cido hialurnico, reduzindo sua viscosidade, por isso tendo boa indicao para reduo de edemas20. O uso do ultra-som para FEG pode ser indicado tanto pelos seus efeitos j conhecidos, como o aumento da

Fibroedema gelide (FEG)Erroneamente conhecida como celulite, uma das patologias mais comuns, caracterizada por edema no tecido conjuntivo, causado principalmente pelo acmulo de proteoglicanas no meio extracelular, que levam consigo grande quantidade de gua3,6,7,8,9. Pode ocorrer tambm um aumento do tamanho e nmero de adipcitos, o que causa uma compresso no sistema venoso e linftico, no afetando o arterial9. O aparecimento do FEG tambm pode ser explicado devido organizao do tecido adiposo areolar em septos interlobulares fibrosos de tecido conjuntivo10. Esses septos so finos, com projees perpendiculares nas mulheres, e grossos com projees oblquas nos homens 3,6,7,8,9. A disposio perpendicular dos septos nas mulheres favorece a expanso desse tecido para a superfcie da derme, ficando assim mais evidentes3,6,7,8. Observa-se ainda rompimento das fibras elsticas e o aumento e proliferao das fibras colgenas, o que gera crescente espessamento do tecido, at se tornar fibrtico3,6. Nesse estgio pode ocorrer comprometimento nervoso, podendo causar um quadro lgico3. O FEG pode ser causado por fatores predisponentes (hereditariedade, sexo, desequilbrio hormonal), determinantes (estresse, fumo, sedentarismo, desequilbrios glandulares e metablicos, maus hbitos alimentares e disfunes hepticas) ou condicionantes (perturbaes circulatrias)3. Tem pois causa multifatorial e, para que se consiga bom resultado em seu tratamento, este deve ser feito com procedimentos

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FISIOTERAPIA E PESQUISA 2006; 12(3)

Milani et al.

Fisioterapia dermato-funcional

circulao, com conseqente neovascularizao e relaxamento muscular, por seu efeito mecnico com a micromassagem, o rearranjo e extensibilidade das fibras colgenas e melhora das propriedades mecnicas do tecido, como por seus efeitos de veiculao de substncias por fonoforese3. Pode ser utilizado ultra-som teraputico nas freqncias de 1 ou 3 MHz; para tratamento do FEG, a mais alta mais indicada por apresentar maior atenuao, sendo portanto mais superficial. Porm, devido freqncia mais elevada, a produo de calor nos tecidos superficiais tambm maior. Para a fonoforese, substncias que facilitam a penetrao de outras substncias devem ser usadas, como por exemplo o carbopol, fitossomas ou lipossomas3. Como princpio ativo, a cafena e a aminofilina so muito usadas por serem estimuladores beta-adrenrgicos e aumentarem a liplise8,13,21.

Seu tratamento varia de acordo com a evoluo. Aplicaes de substncias tpicas devem ser especficas para cada fase; por exemplo, o uso de tretinona tpica efetivo para a estria rubra, mas no para a alba22,24,26,27. Um mtodo muito utilizado para o tratamento da estria madura a aplicao de corrente galvnica filtrada3. O estmulo desencadeia um processo de reparao, por meio de uma inflamao aguda localizada, que visa restabelecer de forma satisfatria a integridade dos tecidos tratados3. H tambm descrio do uso de luz intensa pulsada (IPL) para o tratamento da estria alba23 e do Dye laser3,24-28. A microdermabraso, procedimento com finalidade de destruio da camada epidrmica e/ou drmica superficial3,29-31, podendo ser feito por microcristais com vcuo 3,29,30,32 ou dermabrasor com ponteiras impregnadas de diamantes31, tem o objetivo de estimular a regenerao da estria pela instalao de um processo inflamatrio, com conseqente estmulo da atividade fibroblstica3,29,31.

ou simplesmente o sexo, pois se acredita que em mulheres ocorra maior depsito de gorduras35. Pode ser favorecida pelo sedentarismo, pela falta de regularidade e controle na alimentao3 e por ingesto de drogas como antidepressivos, corticosterides, anticoncepcionais, bloqueadores -adrenrgicos ou insulina, entre outros35. Est associada a inmeras doenas crnicas, como as cardiovasculares (hipertenso arterial, insuficincia cardaca congestiva e doena vascular perifrica), doenas articulares degenerativas (gota, osteoartrite), esteatose heptica, apnia do sono, alm de alteraes posturais como aumento da lordose lombar e anteverso da pelve, entre outras16,34. H diversas formas de tratamento da obesidade. A tentativa inicial em geral a de promover o bem-estar do paciente e diminuir o risco de doenas futuras34. O tratamento medicamentoso indicado para pacientes com dificuldade em emagrecer, podendo consistir em drogas que afetam a absoro de gordura, redutoras de apetite, adrenrgicas, entre outros34,35. A atividade fsica e o controle alimentar so os mais importantes recursos para o tratamento da obesidade3,34,38-40. Porm, ambos devem ser controlados. A maioria dos obesos no est preparada para suportar grandes programas de exerccios fsicos, podendo desenvolver alteraes em articulaes39,40, ou mesmo apresentar riscos, no caso dos que tm alteraes coronarianas associadas40. O exerccio aerbico o mais indicado por promover perda de peso e de massa adiposa 34,39,40; e acredita-se que a prtica de atividade fsica tambm estimule o controle alimentar38.

EstriasSo regies de atrofia de pele. Possuem aspecto linear,