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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO COMISSÃO DE RELAÇÃO EXTERIORES E DE DEFESA NACIONAL EVENTO: Audiência Pública N°: 1619/03 DATA: 02/10/03 INÍCIO: 10h21min TÉRMINO: 12h20min DURAÇÃO: 01h59min TEMPO DE GRAVAÇÃO:01h59min PÁGINAS: 31 QUARTOS: 24 DEPOENTE/CONVIDADO – QUALIFICAÇÃO CLÁUDIO BARBOSA DE FIGUEIREDO – Comandante Militar da Amazônia. FÁBIO PANNUNZIO – Jornalista da Rede Bandeirantes de Televisão. SUMÁRIO: Informações sobre os resultados desenvolvidos pelo referido Comando Militar na operação para combater refluxos do narcotráfico e da guerrilha colombiana na fronteira entre o Brasil, Colômbia e o Peru. Investigações de matérias jornalísticas que tratam do envolvimento da guerrilha colombiana na fronteira brasileira com o narcotráfico. OBSERVAÇÕES Há exibição de imagens.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

COMISSÃO DE RELAÇÃO EXTERIORES E DE DEFESA NACIONALEVENTO: Audiência Pública N°: 1619/03 DATA: 02/10/03INÍCIO: 10h21min TÉRMINO: 12h20min DURAÇÃO: 01h59minTEMPO DE GRAVAÇÃO:01h59min PÁGINAS: 31 QUARTOS: 24

DEPOENTE/CONVIDADO – QUALIFICAÇÃO

CLÁUDIO BARBOSA DE FIGUEIREDO – Comandante Militar da Amazônia.FÁBIO PANNUNZIO – Jornalista da Rede Bandeirantes de Televisão.

SUMÁRIO: Informações sobre os resultados desenvolvidos pelo referido Comando Militar naoperação para combater refluxos do narcotráfico e da guerrilha colombiana na fronteira entreo Brasil, Colômbia e o Peru. Investigações de matérias jornalísticas que tratam doenvolvimento da guerrilha colombiana na fronteira brasileira com o narcotráfico.

OBSERVAÇÕES

Há exibição de imagens.

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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Declaro aberta a presente

reunião de audiência pública, que conta com a presença do Comandante Militar da

Amazônia, General-de-Exército Cláudio Barbosa de Figueiredo, para informar sobre

os resultados desenvolvidos pelo referido Comando Militar na operação para

combater refluxos do narcotráfico e da guerrilha colombiana na fronteira entre o

Brasil, Colômbia e o Peru. Também havíamos convidado o jornalista Fábio

Pannunzio, mas tive a informação de que ele não virá. Esta audiência atende ao

Requerimento nº 58/2003, do Sr. Luiz Carlos Hauly.

Concedo a palavra ao General-de-Exército Cláudio Barbosa de Figueiredo,

por até 30 minutos, sem interrupções. Posteriormente, concederei a palavra aos

Deputados, ao autor do requerimento em primeiro lugar.

O SR. CLÁUDIO BARBOSA DE FIGUEIREDO – Sra. Presidenta, Deputada

Zulaiê Cobra; Sras. e Srs. Deputados, é um grande prazer estar aqui, como

Comandante Militar da Amazônia, para discorrer sobre um tema ao qual me dedico

24 horas por dia: o trabalho das Forças Armadas, especialmente o Exército, na

Amazônia.

Preparei uma pequena exposição sobre a Operação Timbó. Trata-se de uma

operação combinada das Forças Armadas, realizada este ano na região amazônica,

na fronteira com a Colômbia e o Peru. Ela faz parte do treinamento das Forças

Armadas para sua capacitação no cumprimento de sua missão constitucional de

defesa da pátria e dos Poderes constitucionais.

Nosso objetivo é apresentar à CREDN os trabalhos desenvolvidos durante a

Operação Timbó. Logicamente, quando dos debates, estaremos à disposição para

responder a qualquer pergunta sobre o assunto Amazônia, particularmente sobre o

trabalho das Forças Armadas na região.

Seguiremos este sumário: introdução; propostas da Operação; planejamentos

que foram realizados; execução, como foi feita a operação; os principais resultados

obtidos e conclusão.

A título de introdução, vou discorrer sobre a composição atual das Forças

Armadas na Amazônia, começando com o Comando Militar da Amazônia.

(Há exibição de imagens.)

O Comando Militar da Amazônia abrange os Estados do Pará, Amapá,

Roraima, Amazonas, Acre e Rondônia. Para desenvolver suas atividades, ele está

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dividido na seguinte estrutura organizacional: 2 comandos logísticos e

administrativos, a 8.ª e 12.ª Regiões Militares, e o 2.º Grupamento de Engenharia e

Construção, destinado a cumprir as missões complementares do Exército na parte

de construção.

Temos 4 braços operacionais: a 1.ª Brigada de Infantaria de Selva; a 16.ª

Brigada de Infantaria de Selva; a 17.ª Brigada de Infantaria de Selva e a 23.ª Brigada

de Infantaria de Selva. Temos ainda organizações militares complementares, como

o Centro de Instrução de Guerra na Selva, que forma o combatente de selva; o 4.º

Esquadrão de Aviação do Exército, que dá mobilidade ao Comando Militar da

Amazônia; a 1.ª Companhia de Comunicações de Selva, que faz a interligação das

diversas organizações militares do CMA; a Companhia de Polícia do Exército; a 4.ª

Companhia de Inteligência, uma Companhia de Comando e uma Companhia de

Guardas. Temos ainda, ligados ao Comando Militar da Amazônia por guarnição,

mas subordinados diretamente a Brasília, a 4.ª Divisão de Levantamento; a 1.ª

ICFEX, que é controle interno e finanças; o Colégio Militar de Manaus e o 4.ª CTA,

que trata da parte estratégica das comunicações na Amazônia.

Estamos dispostos da seguinte maneira no terreno: a 12.ª Região Militar, com

sede em Manaus, abrange toda a Amazônia Ocidental — Estados do Amazonas,

Acre, Roraima e Rondônia — e a Amazônia Oriental é abrangida pela 8.ª Região

Militar, com sede em Belém, atendendo os Estados do Pará e Amapá.

Braços operacionais.

A 1.ª Brigada de Infantaria de Selva, sediada em Boa Vista, tem suas

organizações militares dispostas no Estado de Roraima e noroeste do Amazonas, na

região chamada “Cabeça de Cachorro”. Temos 7 pelotões de fronteira em Roraima e

7 na área da Cabeça do Cachorro.

A 16.ª Brigada de Infantaria de Selva, com sede em Tefé e jurisdição sobre a

fronteira da Colômbia e Peru na região oeste do Amazonas e noroeste do Acre,

tendo uma organização militar, um batalhão na linha de fronteira, em Tabatinga;

outro a 100 quilômetros da fronteira, em Cruzeiro do Sul, no Acre, e um terceiro

batalhão de infantaria em Tefé. Há 4 pelotões de fronteira, sediados

respectivamente em Vila Bittencourt, Ipiranga, Estirão do Equador e Palmeiras do

Javari. Detalhei um pouco mais a 16.ª Brigada exatamente porque em sua área é

que se desenvolveu a Operação Timbó.

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A 17.ª Brigada de Infantaria de Selva, com sede em Porto Velho e jurisdição

sobre o sudoeste do Acre até Santa Rosa do Purus e Estado de Rondônia, tem 5

pelotões de fronteira.

O último braço operacional é a 23.ª Brigada de Infantaria de Selva, com sede

em Marabá e suas unidades do longo da Transamazônica.

A Força Aérea Brasileira tem 2 comandos regionais na Amazônia: o 1.º

Comando Aéreo Regional, em Belém, com jurisdição na Amazônia Oriental, e o 7.º

Comando Aéreo Regional, com sede em Manaus e jurisdição na Amazônia

Ocidental. Vou detalhar um pouco o 7.º COMAR pois ele participou, dando apoio

logístico à Aeronáutica, da Operação Timbó.

Estrutura organizacional. O 7.º Comando Aéreo Regional é subordinado ao

COMGAR, em Brasília. Sua organização: temos as Bases Aéreas de Boa Vista e de

Porto Velho; o SRPV, que é o Serviço de Proteção ao Vôo; o SERAC, que trata da

parte de engenharia; a Base de Manaus; o Hospital de Manaus e o Núcleo de Base

de São Gabriel da Cachoeira.

Estas são as unidades aéreas que estão dispostas no 7.º COMAR: o 1.º/3.º

GA Cav; o 2.º/3.º GA – Grupo de Aviação; o 7.º/8.º Grupo de Aviação; o 1.°/9.º

Grupo de Aviação e o 7.º Esquadrão de Transporte Aéreo.

Toda essa organização do 7.º COMAR é de aviação de transporte. A aviação

de caça, na Operação Timbó, veio de fora da região amazônica.

Aí estão as unidades aéreas do 7.º Comando Aéreo Regional. Sua área de

jurisdição é a mesma da 12.º Região Militar, e os meios dispostos no terreno são as

Bases Aéreas de Manaus, Boa Vista, São Gabriel e Iauaretê — sendo que esta

última ainda está em início de construção e a de São Gabriel da Cachoeira em final

de construção.

A Marinha do Brasil é representada na Amazônia pelo 4.º Distrito Naval, com

jurisdição em toda a Amazônia, como o CMA, e tem como subordinados o Comando

Naval da Amazônia Ocidental, com sede em Manaus e jurisdição na Amazônia

Ocidental. Vamos detalhar um pouco o Comando Naval da Amazônia Ocidental

porque foi o que participou da Operação Timbó.

Aí está a linha de comando do CNAO: está subordinado ao 4.º Distrito Naval,

que por sua vez está subordinado ao Comando de Operações Navais em Brasília. O

CNAO está subdividido nestas organizações: Capitania Fluvial da Amazônia

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Ocidental; Capitania Fluvial de Tabatinga; Comando da Flotilha do Amazonas;

Estação Naval do Rio Negro e Depósito Naval de Manaus. Parte operacional:

Comando da Flotilha do Amazonas.

Feita esta introdução para que V.Exas. tenham uma idéia de como estão

estruturadas as Forças Armadas na Amazônia, passaremos ao fulcro da nossa

exposição, a Operação Timbó. A origem foi a Diretriz Ministerial nº 01, de 2003, do

Ministério da Defesa. Mas houve antecedentes. Ano passado, a Operação Tapuru. A

concepção é uma ação combinada das 3 Forças Armadas e de órgãos federais,

estaduais e municipais. Faço um pequeno adendo para dizer que a Tapuru foi a

primeira operação combinada que as Forças Armadas do Brasil fizeram. Na guerra

moderna, a concepção de comando combinado é uma constante. Os países

centrais, todos, já desde o tempo de paz se organizam em comandos combinados.

Aqui mesmo, na América do Sul, a Colômbia, que está há 40 anos em guerra, nos

últimos 5 anos criou seus comandos combinados. No Brasil, a criação do Ministério

da Defesa é o primeiro passo para a articulação das 3 Forças, para o entrosamento

das 3 Forças.

Todos nós sabemos que cada Força singular, em toda a história do Brasil,

sempre cumpriu muito bem a sua missão, mas isoladamente. A partir da criação do

Ministério da Defesa — que creio foi idealizado para isso, além de outros motivos —,

começou-se a trabalhar com operações combinadas, que deverão redundar, num

futuro de médio prazo, possivelmente, em comandos combinados já desde o tempo

de paz. Essa ação começou realmente na Amazônia, porque lá já havia um

comando combinado informal. As distâncias amazônicas levam as 3 Armas a somar

esforços. Nossos 25 pelotões espalhados ao longo da fronteira não conseguem

sobreviver se a Força Aérea não os apoiar, particularmente quando o regime de rios

está em águas baixas. Todo o apoio logístico é feito pela Força Aérea, portanto há

uma ação combinada.

Para formalizar essa situação, em 2002 o Ministério da Defesa organizou um

comando combinado para desenvolver a Operação Tapuru. Em 2003, esse trabalho

evoluiu para a Operação Timbó. O Ministério criou e organizou o Comando Militar

Amazônia, deixando o comando a cargo do Comandante Militar da Amazônia. Eu

tive a oportunidade de comandar as Forças combinadas por ocasião desse

exercício, com postos de força terrestre, força naval e força aérea, sendo a força

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terrestre, com exceção das forças especiais que vieram de fora da Amazônia,

composta de elementos militares sediados na Amazônia. A força naval foi

representada pelo Comando Naval da Amazônia Ocidental, e a força aérea foi

representada por uma força aérea numerada, que reúne meios de todo o Brasil para

dar suporte às operações aéreas, ficando a parte logística a cargo do 7º Comando

Aéreo Regional.

Também participaram a Operação Timbó instituições como a Polícia Federal,

o IBAMA, a FUNAI e o SIPAM. As Forças Armadas trabalham no adestramento com

hipóteses. A hipótese que o Ministério da Defesa sugeriu para que fosse planejada a

Operação Timbó é a que está aí.

O país amarelo é o Peru, o país vermelho, a Colômbia. As Forças Armadas

colombianas, contando com apoio externo, passaram a pressionar a FARC, os

elementos que estavam contra o regime colombiano. Pressionados, esses

elementos foram penetrando no Brasil através do Peru e do Javari, indiretamente na

fronteira Brasil-Colômbia. Essa é uma situação hipotética, criada pelo Ministério da

Defesa para o planejamento das operações.

Para ser ter idéia, América do Sul, Brasil, Amazônia e, dentro da Amazônia, a

área de operações. Aí está o mapa da área de operações da Operação Timbó. Essa

área, se comparada à última guerra dos Estados Unidos, é equivalente à área do

Iraque. Os planejamentos da Operação Timbó abrangiam uma área mais ou menos

do tamanho da área em que os Estados Unidos tiveram de executar a guerra no

Iraque, embora o teatro de operações seja completamente diferente. Lá, o emprego

de tanques e da aviação foi amplo. Na Amazônia a coisa é bastante diferente.

Esta área é totalmente de selva densa, nenhum quilômetro que não seja de

selva densa.

Aí está a área de operações, com as principais localidades envolvidas na

operação: Tefé, onde está o Comando da 16ª Brigada; Vila Bittencourt, onde temos

um pelotão; Ipiranga, onde temos outro pelotão; Tabatinga, onde está o 8º Batalhão

de Infantaria de Selva; Estirão do Equador, com outro pelotão; Palmeira do Javari,

outro pelotão; São Salvador, uma área ainda desguarnecida, mas que pretendemos

dotar de um pelotão, dependendo de recursos — hoje temos nessa localidade um

destacamento, criado para a Operação Timbó, e chegamos à conclusão de que ele

é muito importante, então continuará havendo revezamento a cada 30 dias, com 28

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homens —; Marechal Taumaturgo, que também não tem pelotão, mas a prática diz

que deveria ter; Foz do Breu; Santa Rosa do Purus, com um pelotão; e Sena

Madureira, já ao longo da BR-364.

De posse daqueles dados, o Estado Maior do Comando Combinado da

Amazônia formulou a situação hipotética e deu missão aos elementos subordinados.

A hipótese: violação da fronteira com o Peru, país em amarelo, e Colômbia nos

Estados do Amazonas e Acre, por guerrilheiros criminosos ou civis procedentes do

Peru e da Colômbia. A missão dada aos elementos subordinados, à força terrestre,

à força aérea e à força naval: impedir a entrada de guerrilheiros, criminosos e civis

não autorizados, através das fronteiras, nos Estados do Amazonas e do Acre, a fim

de contribuir para a manutenção da integridade do território nacional e garantir a lei

no Brasil (art. 142 da Constituição Federal).

Entre os principais objetivos propostos, cito o interesse em realizar a

Operação Presença e demonstrar força nas regiões de fronteira com a Colômbia e o

Peru, entre Bittencourt e Santa Rosa do Purus; e, o mais importante, adestrar as

Forças Armadas Brasileiras em ações combinadas.

Esta é a segunda operação combinada. Todos os erros que aconteceram na

Operação Tapuru foram corrigidos para essa operação, cujo relatório de erros temos

pronto. Quando da terceira operação, já estaremos em melhores condições. Durante

o treinamento, os acertos são apreendidos, para serem repetidos em outra

operação, e os erros corrigidos.

Planejamos operações de inteligência, de segurança, de combate e muita

operação psicológica. Foram três as fases.

Na primeira, desenvolveram-se operações de inteligência, operações

psicológicas de guerra eletrônica e concentração de meios, que tivemos de tirar de

outras áreas para colocar na de operações.

Na segunda, houve a ocupação da área de operações pelas Forças, com a

realização das missões propriamente ditas — aquelas de inteligência, segurança,

combate e psicológicas — e também, como parte das ações psicológicas, ações

cívico-sociais. Mais adiante vou dizer o número, mas foi bastante significativo.

Na terceira, deu-se a desmobilização e o retraimento dos meios, com o

prosseguimento das operações de inteligência e de guerra eletrônica.

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Chegamos à conclusão, após o término das operações, de que seria útil

mantermos as operações de inteligência e de guerra eletrônica por mais 10 dias, de

acordo com as possibilidades em termos de recursos alocados, para que tivéssemos

informações mais substanciadas depois que os elementos adversos pensassem que

as Forças Armadas já tivessem se retirado do local. Realmente, nesse período,

colheram-se muitos dados.

Essa foi uma missão hipotética, como disse, mas bem dentro da realidade das

ações ilegais que já estão acontecendo ao longo dessa fronteira. Foram

empregadas 42 aeronaves de tipos diferentes, entre aviação de transporte e aviação

de caça, consumidas 1.226 horas de vôo, utilizadas 73 viaturas, um efetivo de 4.245

homens, empregadas 21 embarcações de diferentes calados mais as pequenas

embarcações, as chamadas voadeiras. Essas foram utilizadas em número muito

grande. O Exército move-se na Amazônia através das voadeiras, barcos com

motores de popa de 25 ou 40 HP que levam de um grupo de combate a um pelotão.

Foram consumidos 175 mil e 600 litros de óleo diesel, 61 mil e 200 litros de gasolina

e 593 mil e 800 litros de querosene de aviação. Foi uma operação cara. Durou 10

dias, e gastamos quase 5 milhões de reais. Passamos 10 dias em operação, mas,

logicamente, desde a preparação se gastou dinheiro.

Quanto ao efetivo empregado, o Estado-Maior cedeu 32 oficiais e 23 praças,

num total de 55. Das forças terrestres, o Exército enviou 268 oficiais e 3.011 praças,

num total 3.279 militares; a Força Naval, 70 oficiais e 468 praças, num total de 538

militares; a Força Aérea, 155 oficiais e 218 praças, num total de 373 militares.

Portanto, aproximadamente 4.200 homens foram mobilizados. A Polícia Federal

contribuiu com 8 homens junto ao Exército em Tabatinga e em Cruzeiro do Sul —

dois em cada um desses lugares; a Agência Brasileira de Inteligência com três, que

permaneceram junto ao Estado Maior da Força Combinada; o Posto Naval de Saúde

teve um no navio de assistência hospitalar Carlos Chagas; a Receita Federal teve

um elemento, em Tabatinga, e a Polícia Militar seis, por ser do Estado do Acre, em

Cruzeiro do Sul.

Para concentrar os meios usamos transporte terrestre — muito difícil na

região, muito pouco inclusive —, hidroviário e aéreo, que são vitais.

As distâncias para concentração de meios na área, por avião e por

embarcação, não vou mencionar, porque podem ser vistas no gráfico.

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Vieram tropas de todos os lugares indicados por setas (apresenta mapa.)

No que se refere às operações desenvolvidas, houve intenso patrulhamento

fluvial, terrestre e aéreo, mediante planejamento centralizado — esta a diferença das

outras operações, porque tanto a Marinha quanto a Força Aérea e o Exército

estavam subordinados ao Comando Combinado e atendiam às suas determinações;

portanto, houve grande interação entre a ação das 3 Forças —; vigilância,

reconhecimento e patrulha, visando à localização de áreas de homizio de grupos

armados de guerrilheiros, paramilitares, narcotraficantes ou outros elementos

adversos. Ainda, foram desenvolvidas atividades de inteligência, que se

desenvolveram em todas as fases da operação, inclusive após o término da mesma,

por 10 dias.

A respeito dos períodos importantes que tivemos, a concentração estratégica

ocorreu de 1º a 21 de junho — nesses 20 dias, as Forças chegaram à área de

operação; a operação propriamente dita, de 23 a 28 de junho e a desmobilização

dos meios, de 29 de junho a 3 de julho. No dia 28 de julho, o Ministro da Defesa

esteve em Tabatinga e presenciou o final da operação.

Principais resultados obtidos: diminuição substancial da ocorrência de ilícitos

quanto da execução da operação; incremento da mentalidade da população quanto

à importância da defesa da Amazônia contra os interesses escusos; e aumento da

presença do Estado brasileiro nas fronteiras. Isso é a dissuasão e a projeção do

Poder.

Há que se entender que essa operação foi propositadamente divulgada de

maneira ampla, porque queríamos testar o grau de dissuasão que ela teria, e posso

dizer que foi de 100%. Nesses 10 dias que passamos lá — eu estive acompanhando

de perto; estive em Tabatinga, Cruzeiro do Sul, em toda área de operações — não

passou nada. Parou de passar navio, avião. Nada passava, porque se sabia que o

Exército estava lá. Então, houve a dissuasão, conforme pretendíamos. Assim sendo,

as Forças Armadas brasileiras têm poder de dissuasão, por sua ação em massa,

operando em conjunto. Alguns contestam, dizem que a ação deveria ser feita sem

aviso prévio, para se colher resultados significativos quanto aos ilícitos que ocorrem

na fronteira. Poderíamos ter feito assim, mas 10 dias é muito pouco. Creio que para

o ataque aos ilícitos teríamos que ter outras operações, talvez até menores, e elas

teriam os mesmos resultados. Esse foi um treinamento militar. A Operação Timbó foi

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um treinamento militar para adestramento das Forças, que agiam em conjunto. Isso

é o que se precisa entender.

Foram empregados vultosos recursos. Com a presença do Estado na fronteira

durante esses 10 dias a população sentiu-se segura, acreditou que a Amazônia

estava defendida, que as Forças Armadas estão em condições de defendê-la e dar

atendimento aos carentes — esse, especificamente, foi significativo.

Apresento-lhes agora um quadro sobre a operação de Assis, onde, no total,

foram atendidas 1.115 pessoas na área médica, odontológica e de higiene pessoal

— corte de cabelo —, além de no fornecimento de CPF, carteira de identidade,

carteira de trabalho, certidão de nascimento. Isso é cidadania; são as Forças

Armadas levando a cidadania àquela longínqua fronteira da Amazônia.

Considerações importantes.

Sigilo ou divulgação? Em sigilo, possivelmente teríamos apreendido alguma

quantidade de entorpecentes, prendido alguns contrabandistas de madeira, etc. No

entanto, com a divulgação, pudemos contar com o apoio da população, ficar

convictos de que a dissuasão existe. As Forças Armadas têm poder de dissuasão na

área. Como resultado da grande divulgação, tivemos um baixo número de

apreensões — todo mundo sabia que nós estávamos lá. Mas se tivéssemos agido

em sigilo, mantido desinformada a população, ela poderia achar que estava

acontecendo algo de anormal. E não estava havendo mais do que um treinamento

militar.

Por outro lado, a divulgação nos deu liberdade para atuar, com a população

civil e as autoridades municipais e estaduais nos ajudando.

Cabe perguntar: quem foi o maior beneficiário da Operação Timbó? O Brasil,

porque suas Forças Armadas tiveram oportunidade de, pela segunda vez,

realizarem um exercício conjunto, combinado, com comando central.

A título de conclusão, deixo algumas frases que nos inspiram quando

realizamos esses treinamentos:

Um Exército pode passar 100 anos sem combater, mas não pode passar 1

dia sem estar preparado — Clausewitz, grande general austríaco;

Quando a Pátria precisa ser defendida e o Exército tem por divisa a

independência ou morte, a Pátria descansa e os inimigos assustam-se; são

vencidos, e a glória da Nação redobra de brilho — nosso patrono, Duque de Caxias;

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Estar preparado para a guerra é um dos meios mais eficazes de preservar a

paz — George Washington.

Era o que tinha a expor.

Coloco-me agora à disposição, Sras. e Srs. Deputados, para os

questionamentos que puderem ser feitos.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Muito obrigada, Gen.

Figueiredo.

Passo a palavra agora ao autor do requerimento, Deputado Luiz Carlos Hauly.

O SR. DEPUTADO LUIZ CARLOS HAULY – Sra. Presidenta, Sras. e Srs.

Parlamentares, ilustríssimo General Cláudio Barbosa de Figueiredo, é uma honra,

uma satisfação recebê-lo aqui na nossa Comissão de Relações Exteriores e de

Defesa Nacional para apresentar a todo o Congresso Nacional missão tão nobre,

importante e fundamental para nosso País.

Lamentamos os problemas que motivaram a ausência do jornalista Fábio

Pannunzio, que poderia enriquecer este debate. De qualquer maneira, poderemos

ouvi-lo em outra oportunidade, ele que vem fazendo matérias a respeito da

Amazônia, das FARC, e até editou um livro. Mas as informações sobre a Operação

Timbó que V.Exa. apresenta dão efetiva demonstração de que as nossas Forças

Armadas estão preparadas para combater a invasão do nosso território.

Cabe aos Congressistas, enquanto representantes do povo brasileiro,

transmitir a V.Exa. a preocupação de toda a Nação, uma vez que V.Exa. tem como

lema defender a Pátria, o imenso território brasileiro, especialmente essa área de tão

difícil administração e de tão difícil acesso — como V.Exa. disse, o acesso terrestre

é quase que impossível. Os interesses na nossa Amazônia são muitos. A

biodiversidade enseja a biopirataria; as FARC ali atuam. Elas acabaram se

envolvendo com o narcotráfico — daí eu as considerar uma organização

“narcoguerrilheira” — e também com o tráfico de armas. Por que não? Onde há o

narcotráfico e a biopirataria há também tráfico de armas. As riquezas minerais que

temos na Amazônia são imensas e despertam grande interesse.

Para nós — o Congresso e o Brasil poderão estar presenciando a exposição

de V.Sa., através da TV Câmara — há a segurança e a certeza de que podem

passar uma vez impunes e incólumes pelas nossas fronteiras, no ir e vir, pessoas

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indesejadas, nocivas ao País, mas a qualquer momento poderão ser pegas, dada à

vastidão da Amazônia.

V.Sa. fez comparação da área com a Europa — pega quase toda a Europa —

; imaginem com condições inóspitas, de difícil trânsito. Então, o desejo do

Parlamentar era conhecer o inteiro teor da Operação Timbó, para combater os

refluxos do narcotráfico e da guerrilha colombiana e para que ela não interfira no

nosso território e na nossa gente. Que se limite ao território colombiano.

Há menos de 30 dias ocorreu a operação bufa que os franceses patrocinaram

no nosso território, a que chamo de legião estrangeira brancaleone bufa, um vexame

para a França, que tem tradição de amizade — e o Brasil tem tanto respeito por eles

—, não deveriam se permitir fazer o que fizeram em nosso território.

Independentemente da posição de Governo — se do Governo a ou b; do

partido a, b ou c, não importa —, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica têm o

compromisso de defender nosso território, mesmo se houver interesse ou não de

fazer entendimento com guerrilheiros narcotraficantes.

A posição brasileira é contra o narcotráfico e esse tipo de guerrilha que nós

abominamos — aliás, abominamos qualquer tipo de guerrilha desse nível. O Brasil

tem sua experiência, tem sua história, que também é difícil. Não queremos que isso

contamine nosso território.

V.Sa., na condição de Comandante do Comando Militar da Amazônia, tem

grande responsabilidade.

Há interesse por parte do Governo de conversar com a guerrilha — isso nos

preocupa muito. Estou falando suprapartidariamente. Se houvesse realmente boas

intenções, essas lideranças seqüestradas e presas, mantidas em cativeiro até hoje,

teriam sido libertadas.

Estive em um Congresso da FIPA no México, depois no Panamá, e conversei

com Parlamentares colombianos, que sofrem. Um deles recebeu uma carta-bomba

em seu gabinete e perdeu parte da mão e feriu parte do rosto. Queremos ter

tranqüilidade para nossas Forças Armadas, especialmente comandadas por V.Sa,

que faz grande trabalho e fez uma exposição didática, clara, nítida. Nós, desta

Comissão, devemos apoiar mais ainda o Exército, a Marinha, a Aeronáutica e a

Polícia Federal. Os demais órgãos devem se fazer presentes cada vez mais nessa

região.

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Temos de nos concentrar cada vez mais, com todo o nosso efetivo e o nosso

potencial, na região amazônica.

Agradeço a V.Sa. a presença e o parabenizo pelo trabalho que vem

desenvolvendo em defesa do nosso território, da nossa pátria.

Muito obrigado.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Não foi feita pergunta

específica pelo Deputado Luiz Carlos Hauly, mas se o General quiser se referir às

manifestações feitas pelo autor do requerimento, Deputado Luiz Carlos Hauly,

poderá fazê-lo.

O SR. CLÁUDIO BARBOSA DE FIGUEIREDO - Agradeço ao Deputado

Hauly a exposição.

Realmente as Forças Armadas estão preparadas para que elementos

estranhos não venham a tumultuar a vida da nossa Amazônia. No momento não

existe a iminência de que as FARC venham a atuar no nosso território. E digo o

porquê: eles estão sendo bastante pressionados pelas Forças Armadas

Colombianas. Não é interessante para eles abrir outro contencioso, que seria vir

atacar um pelotão nosso, ou vir ao nosso território, vamos dizer assim, aumentar sua

área de atuação.

Não acredito que isso esteja nos planos a curto ou médio prazos das FARC.

Logicamente temos de ficar alertas porque essa pressão é real. Inclusive converso

muito com os oficiais colombianos. Assisti a uma palestra em que diziam que

poderia estar dentro da estratégia das FARC criar um Estado na área fronteiriça

nossa. Isso foi dito numa palestra, em Letícia.

Também, a forte pressão que está sendo feita nos redutos centrais da

Colômbia faz com que o guerrilheiro vá procurar um espaço onde ele possa atuar

com mais desenvoltura. Não há duvida de que esse espaço é a área amazônica

colombiana. Acontecendo isso, eles estarão se aproximando mais da nossa

fronteira.

Por isso devemos estar alertas — e estamos. Os nossos pelotões, há mais de

3 anos, estão reforçados. Estamos constantemente fazendo reconhecimentos de

fronteiras, que são dissuasórios. Os nossos pelotões se interligam através da mata.

O Pelotão de Bittencourt sai pela linha geodésica rumo ao sul, e o Pelotão de

Ipiranga, em direção ao norte, se encontram no meio do caminho. Eles vão

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detectando tudo o que está ocorrendo ali, tais como garimpos, etc. Enfim, vão

tomando conhecimento do que está acontecendo na fronteira. Poderia surgir a

pergunta: o narcotráfico está passando? Está passando, mas a Operação Cobra tem

vigor.

Naquela área temos grande afinidade com o delegado da Polícia Federal que

comanda a Operação Cobra. Há um grau de confiança bastante elevado entre a

Polícia Federal local e o Comando do CMA. Com isso, é possível realizarmos

operações em conjunto. Eles, dando poder de polícia que não temos; e nós, dando a

força que eles não têm. Com isso, vamos fazendo, no dia-a-dia, muitas apreensões.

Estamos trabalhando.

Há muito tráfico por meio aéreo. Às vezes, sabemos as rotas, os dias, os

locais. Temos acesso disso através de operações de inteligência, mas não podemos

exercer o nosso poder porque não podemos abater aeronaves. Não é que

queiramos abater aeronaves. Se tivéssemos o poder de fazer isso, eles não

traficariam com tanta tranqüilidade, fechando as janelas e dizendo: “Pode seguir que

eles não vão abater”. Isso foi gravado com um avião da FAB de um desses PT, um

desses papa-tango que andam por ali.

Se pudéssemos fazer com que eles descessem, nós o faríamos descer em

um local onde o Exército e a Polícia Federal estariam prontos para fazer

apreensões, que seriam bem maiores.

Essa é uma política que não entendo, é internacional. Está um pouco fora da

minha área de percepção. Para mim, seria interessante que isso pudesse ocorrer.

Mas não posso dar opinião porque, como disse, está fora da minha área de atuação.

Trata-se de política internacional do Brasil. Sei que há tratados e outras coisas.

Temos de ficar resignados, mas teríamos condições de aumentar nosso trabalho, e

muito, se isso ocorresse, garanto aos senhores.

O SR. DEPUTADO LUIZ CARLOS HAULY – Apenas para uma colaboração,

Sr. Presidente. A legislação do abate de aeronaves estranhas foi aprovada pelo

Congresso Nacional, mas o Governo não encontrou condição política internacional

para implementá-la. É uma decisão difícil, que não foi tomada pelo Governo anterior

nem pelo atual.

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O SR. CLÁUDIO BARBOSA DE FIGUEIREDO - Por causa dos tratados

internacionais. A gente sabe disso, e compreende. Realmente, se se quiser fazer um

volume maior de apreensões, alguma alteração na legislação há de ser feita.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Obrigada, Deputado Luiz

Carlos Hauly. Obrigada, general.

Tem a palavra o Deputado Coronel Alves, do PL do Amapá.

O SR. DEPUTADO CORONEL ALVES - Sra. Presidenta, Deputada Zulaiê

Cobra, Sras. e Srs. Parlamentares presentes, General Cláudio Barbosa de

Figueiredo, MD. Comandante Militar da Amazônia, meus respeitos, extensivos a

todos que nos acompanham nesta jornada.

General, atentamente estive acompanhando a sua fala, que complementa o

nosso conhecimento sobre a região amazônica. Cada vez que ouço alguém falar

sobre esse tema, mais eu aprendo. Já começo a fazer alguns juízos.

Tive a oportunidade de visitar o seu comando militar, junto com outros

Parlamentares, entre eles o Deputado Jair Bolsonaro, aqui presente. Ouvimos lá

uma explanação belíssima sobre as condições de atuação do Exército Brasileiro na

região. Hoje o senhor nos dá mais informações sobre a tarefa realizada pelas Forças

Armadas Brasileiras naquela área inóspita, denominada Operação Timbó.

Eu já expliquei o que é o timbó, uma planta utilizada pelos indígenas para

fazer uma pesca um tanto quanto predatória. Eles mascam aquilo, fazem um sumo,

jogam nos riachos e igarapés, e o peixe, ao ingerir a substância, fica sem oxigênio,

emerge e é capturado. É uma atividade indígena, cabocla.

É isso mesmo o timbó, não é, general?

O SR. CLÁUDIO BARBOSA DE FIGUEIREDO - Isso mesmo.

O SR. DEPUTADO CORONEL ALVES - Foi o que me ensinaram no período

que eu passei no Exército. E me ensinaram corretamente, então. Lei da

sobrevivência. Vou aproveitar esse gancho para comentar o que disse o nosso

Deputado Luiz Carlos Hauly sobre o acesso à selva. O acesso é quase impossível,

porém o guerreiro de selva progride muito bem. O Exército Brasileiro está adestrado

para progredir via terrestre dentro da selva.

Bem, general, eu fiz algumas anotações durante a sua fala e gostaria que

V.Exa. me ajudasse a compreender melhor alguns pontos. Começo com um pedido

de esclarecimento sobre a guerra eletrônica, que não é da minha época. V.Exa.

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disse que o Exército Brasileiro ficou mais 10 dias na área junto com a inteligência. A

inteligência eu consigo entender o que é, mas sobre a guerra eletrônica eu queria

que o senhor falasse um pouco mais. É a primeira pergunta.

Outra. Nós fizemos na nossa região uma ação combinada entre Marinha,

Exército e Aeronáutica. Promovemos ações cívicas sociais nas comunidades.

Entendo que a opção das Forças Armadas de divulgar a atividade foi a mais

acertada. Já tive a oportunidade de participar de operações semelhantes. A

comunidade fica um pouco assustada quando se depara com movimentações

militares. Pode até entender que há um teatro de operações reais, mas na verdade

está sendo feito um treinamento. A divulgação é correta. Aqueles que não querem

entender querem é criticar por criticar, porque, se fizerem a leitura do cenário, verão

que se trata de um adestramento, com pesquisas e estudos de inteligência para

fazer um levantamento da região.

Então, também dentro dessa nossa linha de pergunta, gostaria que V.Exa.

esclarecesse se existe algum estudo para ações combinadas entre os países

daquela faixa de fronteira.

Sra. Presidenta, Srs. Parlamentares, é importante, no meu entender, que os

países envolvidos na faixa de fronteira, que estão sofrendo ação das famosas

FARC, as Forças Revolucionárias da Colômbia, que se pudesse — e acredito que

há um estudo do Ministério da Defesa — para que os países, que fazem a ligação

naquela faixa de fronteira, possam mostrar para os guerrilheiros: “Olha, nós estamos

aqui. Se vocês bobearem, nós estaremos agindo severamente em repressão às

suas ações.” Essa seria a segunda pergunta.

Também ainda em relação à pergunta, faço aqui o seguinte questionamento:

ainda não foram apreendidas grandes quantidades de drogas, madeiras derrubadas

clandestinamente de reservas indígenas, ou madeiras nobres que não poderiam ser

derrubadas, e aí eu até mesmo respondo. Se nós avisamos que não vamos estar lá,

é natural que o narcotraficante, o contrabandista, o criminoso, o que comete o ilícito

saia da área. Isso para mim, na minha visão, na minha leitura pessoal — e a

submeto à apreciação de todos os presentes —, quer dizer que o camarada lá teme

a ação das Forças Armadas. Porque se assim não o fosse eles estariam “botando”

(entre aspas), encarando as Forças Armadas era mais preocupante na minha

avaliação.

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Repito — e aqui invoco a presença do Deputado Jair Bolsonaro — que temos

conversado muito. E o Deputado sempre fala das dificuldades que o Exército

brasileiro e as Forças Armadas passam, mas mesmo assim o Exército dá uma

resposta. Ora, se eu vou fazer uma ação numa área, a Marinha e a Aeronáutica dão

uma resposta. Se eu vou fazer uma ação numa área, e naquela área eu encontro

resistência, o camarada não recua, aí é mais preocupante ainda, como afirma o meu

colega Jair Bolsonaro, porque o Exército está realmente carente de muitos recursos,

todas as Forças Armadas, de orçamento, munição, armamento — nós sabemos

disso. Portanto, se não tivermos a apreensão, é por que os caras pelo menos

respeitam a presença da força militar brasileira lá.

E finalizo com outra pergunta: é sabido, e foi questionado na nossa Comissão

e em outros debates, que a fronteira na região amazônica principalmente é uma

faixa onde não há a presença maior e efetiva das Forças Armadas, especialmente

do Exército brasileiro. Nessa linha temos observado que o Exército brasileiro e o

Ministério da Defesa já vêm deslocando unidades militares de outros lugares do País

para a região-fronteira. A pergunta é: qual é a próxima? O que está havendo? Já

está em desdobramento? Já está sendo efetivada alguma outra unidade? Para onde

ela vai? E qual a linha de pensamento hoje do Ministério da Defesa e do Exército

brasileiro em relação, a cada vez mais, e mais célere, ao fato de trazer unidades do

eixo sul-sudeste, onde há grande concentração de unidades, para a região

amazônica, porque é a hora dela, digamos, é a bola da vez.

Antes de concluir, quero dizer a V.Exa. que a nossa Presidenta Zulaiê Cobra,

está sempre preocupada em destinar, cada vez mais, mais recursos para as Forças

Armadas. E ontem apresentamos a S.Exa. proposta, que deverá ser acatada e

avaliada, para a melhoria do orçamento das nossas Forças Armadas, mais

especialmente da força terrrestre. Apresentamos o Projeto Calha Norte e com

certeza a Deputada fará sua avaliação e usará de sua sensibilidade para atender

aos anseios da sociedade brasileira.

Obrigado, Sra. Presidenta.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Tem a palavra o Gen.

Cláudio Barbosa de Figueiredo.

O SR. CLÁUDIO BARBOSA DE FIGUEIREDO - Agradeço ao Deputado Cel.

Alves. Estivemos juntos em Manaus. Foi muito útil para nós.

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Essas 3 perguntas me dão a oportunidade de estender alguns pontos de vista

que eu gostaria que V.Exas. tomassem conhecimento. Um deles é a guerra

eletrônica. Guerra eletrônica é uma guerra moderna. É uma das áreas em que o

Exército está, vamos dizer assim, dentro daquela linha de modernidade como nosso

Comandante citou, quando esteve aqui na Comissão. O Exército se mantém, em

alguns pontos, próximo aos países de Primeiro Mundo. Uma dessas situações é na

guerra eletrônica.

O que é a guerra eletrônica? É a possibilidade de se pegar, de se entrar e

escutar o espectro eletromagnético. Então, tudo que está em volta dos postos, das

antenas de guerras eletrônicas é captado e transformado em informação, em dados.

Então isso é que é guerra eletrônica. Por isso 10 dias depois nós entramos nas

conversas e trocas de opinião lá.

Quanto às ações combinadas entre países, que é a segunda pergunta, as

temos há muito, porque tive a honra de chefiar o Centro de Inteligência do Exército

por 4 anos — de 1995 a 1999. E durante esse período tive a oportunidade de fazer

32 conferências bilaterais de inteligência entre países sul-americanos. Todos com

países vizinhos e mais o Equador e o Chile, que não são vizinhos, mas sul-

americanos. E daí são trocadas informações. São criadas inclusive ações que

podem ser feitas na fronteira. Isso existe. Não existe como operação combinada,

mas existe aquilo que se pode fazer, nas áreas de inteligência e de fronteira, ou

seja, ações que podem ser feitas.

Qualquer força armada para entrar no país vizinho precisa inclusive de

autorização do Congresso Nacional. Mas ali na área de fronteira há ações que se

podem fazer, como por exemplo, o Exército colombiano pegar um bandido brasileiro

e entregá-lo ao Exército brasileiro e vice-versa. Isso é feito. Agora uma ação

combinada, como essa das Forças Armadas, não há.

Na terceira pergunta eu gostaria de me estender um pouco mais. Realmente

a Amazônia é uma imensa floresta, densa, em que o meio operacional, que é a

floresta, pode ser uma inimiga ou amiga dos combatentes.

Desenvolvemos no Brasil a estratégia da resistência que transforma a floresta

em aliada, inimiga do nosso inimigo. Contra uma organização militar de maior porte

dos países centrais, por exemplo, não teríamos a menor chance de exercer uma

guerra convencional. Tanto que qual era a primeira ação de um país desse tipo?

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Seria acabar com nossos radares. CIPAM, SIVAM acabariam no primeiro minuto de

combate. A única chance que temos é levá-los para o chão. E nessas operações

terrestres temos a guerra de guerrilha, que seria a indicada. E precisamos ter a

formação de nossos reservistas em maior número na Amazônia, porque o melhor

homem para combater na Amazônia é o homem da floresta, é o homem da

Amazônia.

Em nosso centro de instrução de guerra na selva formamos os quadros de

oficiais e sargentos, que são de todo o País. Agora o soldado não temos como... Se

levarmos um soldado do Rio de Janeiro para a Amazônia será um desastre. Nós

temos de formá-lo lá. E para formá-lo lá precisamos ter organizações militares, maior

adensamento de organizações militares.

Então, estamos planejando — estamos planejando não, já está planejado.

A 2ª Brigada de Infantaria Motorizada de Niterói — o nosso Comandante falou

a esta Comissão e eu li o texto de sua palestra — já está com todos os estudos

realizados e até orçamentados de quanto vai custar essa transferência. Daí

levaríamos esta 2ª Brigada para São Gabriel da Cachoeira, na Cabeça do Cachorro,

e ali seria o comando da Brigada. E as 3 unidades principais, que são os batalhões

de infantaria de selva, ficariam situados em Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos.

Qual a vantagem? O 5º BIS, que é em São Gabriel, já existe. Teríamos maior

numero anual de formação de homens da floresta. E que serviriam ao Exército por 1,

2, 3, 4, 5 até 7 anos, que é o máximo que poderia, e depois voltariam para a

barranca do Rio. E num caso de conflito eles seriam os nossos homens para

preencher esse universo de floresta que temos. Então, isso é muito importante.

Como o Exército orçamentou isso? Orçamentou através do Calha Norte.

Então, pelo Plano Plurianual de Investimentos, se o Calha Norte não sofresse

nenhum corte — não precisaria nem aumentar —, nós, em 2006, estaríamos com

toda a Brigada lá elevando o efetivo do Exército da Amazônia de 22 mil homens

para 25 mil. Então, isso demonstra o quanto é importante o Calha Norte para nós.

Não só nisso, que seria investimento, mas também como custeio. Dependemos,

para a manutenção das nossas viaturas, particularmente das nossas embarcações,

dos nossos quartéis que são de madeira e precisam de constante conservação, em

muito dos recursos do Calha Norte.

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Está ali o Cel. Avelino, um dos responsáveis pelo Calha Norte, balançando a

cabeça. Mas é a pura verdade. O Exército vive na Amazônia praticamente com o

Calha Norte, porque a verba do Exército (o orçamento normal) está muito abaixo

daquilo que precisamos. Então é preciso se valer do Calha Norte parar manter, pelo

menos na Amazônia, a coisa funcionando bem.

Outro local que falei en passant na minha palestra é que entre Palmeira do

Javari, que fica no Rio Javari, no sul do Amazonas, até Santa Rosa do Purus,

vizinha do Acre, temos 3 direções estratégicas que se dirigem ao Brasil não sendo

guarnecido por nada. Então, precisamos colocar 3 pelotões ali. Fiz um estudo e o

enviei ao Estado Maior do Exército. Foi aprovado, mas não há recursos. E esse não

tem nem o Calha Norte, porque é sul e não existe o Calha Sul.

Então, precisávamos muito — a Deputada Perpétua hoje não está aqui, mas

ela conhece e sabe da necessidade da existência, porque anda muito por ali, —

desses 3 pelotões.

Não é que a gente vá barrar tudo que vá acontecer, mas a presença do

Exército inibe a ação de madeireiros — ali principalmente madeireiros peruanos

ilegais — que entram no Brasil para roubar madeira. E a nossa presença traz a

Polícia Federal, porque se não tivermos lá, a Polícia Federal não terá base nem

força para agir. A Polícia Federal tem muito pouca gente.

Enquanto a Polícia Federal tem 300 homens na fronteira, nós temos 5 mil

homens na fronteira. Temos a força de que a Polícia Federal precisa para poder

agir.

Então, exponho para as Sras. e Srs. Deputados a necessidade de que o

Projeto Calha Norte seja preservado e se invente um Calha Sul, para que partes do

Acre e Rondônia sejam também beneficiados.

O Deputado Coronel Alves quer fazer um reparo.

O SR. DEPUTADO CORONEL ALVES - É simples. Nós não conhecemos

nenhum outro segmento da sociedade brasileira, exceto nossos amigos dos povos

da floresta, que tanto preservam e amam a Amazônia como nossos amigos das

Forças Armadas.

Quando V.Exa. fala no aumento da presença militar em mais 3 mil homens,

V.Exa. se refere à estratégia militar, mas eu já fico pensando em mais 3 mil homens

que vão receber salários e fazer a movimentação da economia daquelas

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populações. Nós que somos da Amazônia sabemos o que a construção de um

quartel naquela região significa mais vendas no comércio. Além do desenvolvimento

estratégico e militar, há, portanto, que se considerar também o desenvolvimento da

economia daquelas localidades. Eu me sinto satisfeito e agradeço a V.Exa.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Tem a palavra o Deputado

Jair Bolsonaro.

O SR. DEPUTADO JAIR BOLSONARO - Exmo. Sr. General Figueiredo, é

uma satisfação vê-lo. A única reclamação que eu tenho é que o Exército faz nesta

Casa algo semelhante à Operação Timbó: vem muito pouco para cá, deveria vir

mais vezes. No tempo do Gen. Zenildo, eu tinha uma certa liberdade com ele, e

sempre, modestamente, provocava. Eu perguntava por que, por exemplo, a

ESCEME não passava duas, três semanas aqui dentro, interagindo com o

Parlamento. O silêncio que vem das casernas faz parecer que com os senhores está

tudo muito bem. Parece que não existe problema de salário, problema de

alimentação, de nada. Essa é a imagem que se tem aqui. Na hora de cortar, o

pessoal pega a navalha e corta em cima dos verdes, dos azuis e dos cinzas sem dó

nem piedade. Só não cortam o que nós pagamos de juros.

Quando V.Exa. falou nos recursos da Operação Timbó, o senhor falou em

“vultosos recursos”: 5 milhões de reais. Eu reparei na fisionomia da Deputada Zulaiê

Cobra. Ela deve ter imaginado que o general talvez estivesse equivocado e quisesse

dizer 50 milhões. A importância é muito pequena para nós que estamos

acostumados a ver tanta coisa inútil ser feita com o dinheiro público. Ficamos até

preocupados com o montante tão irrisório despendido nessa operação.

Eu falei em silêncio. Não sei se O Globo chega lá no seu quartel, mas por

duas ou três vezes foi manchete de capa desse jornal a questão do desarmamento.

Diziam que o Exército era contra o Estatuto do Desarmamento, um carnaval. Pensei

até que nosso comandante fosse acreditar naquilo, dado o barulho da mídia. Então

eu lhe perguntaria: que país é este onde a relatora de um Estatuto do

Desarmamento não pode receber uma nota técnica do Comandante do Exército, ou

do comandante de uma região militar, de um general qualquer? Nós, os militares,

não estamos participando, pela hierarquia, pela disciplina — no meu entender,

disciplina exagerada —, do nosso Congresso Nacional. Aqui a gente não ganha

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guerra, a gente perde guerra. Sem a participação de V.Exas. nesta Casa, o Brasil

está fadado a perder a guerra.

Vejo muita humildade da parte do Exército. A Deputada falou sobre a

humildade dos perdedores e dos vencedores, mas, Zulaiê, nós podemos numa

futura eleição reconquistar isso aí, fazer parte do Executivo, de uma Prefeitura, do

Governo de um Estado. Com a nossa humildade, no meu entender nós vamos

acabar perdendo a Amazônia, ou pela força ou pela corrupção.

Voltando ao orçamento, general, agora quero me dirigir aos meus colegas,

em especial à Zulaiê Cobra, nossa Presidenta. Eu disse ontem que ela é uma

guerreira. Eu não queria que as Deputadas fossem iguais a ela, queria que os

Deputados fossem assim, que seguissem a maneira como ela pensa e se comporta

nesta Casa.

Ano passado, por exemplo, depois de 4 meses de serviço militar obrigatório, o

Exército dispensou praticamente todos os seus recrutas. Foi uma frustração muito

grande para aqueles garotos, que tiveram prejudicada a sua formação. Eles voltam

para suas comunidades, geralmente áreas pobres, e ali estão sujeitos a tudo quanto

é tipo de aliciamento.

Ontem, Deputada Zulaiê Cobra, contei aqui episódio triste e não temos de ter

vergonha de falar sobre ele porque o palco é este. Eu tenho conversado com a

Assessoria Parlamentar; eu tenho duas turmas. Alguns foram da minha turma na

Escola Preparatória de Cadetes. Mostramos esses problemas que nos deixam

envergonhados, mas, se não os colocarmos para fora, não há como buscar solução.

Por exemplo, alguns recrutas nossos, não por maldade, nem por má formação

familiar, visitam supermercados, como o Carrefour, para beliscar uma banana ou uva

que está dando sopa num canto ou em outro, para poder matar sua fome, porque

não têm recursos para um lanche à tarde nos quartéis. E este é o País que quer

levar o Fome Zero para o mundo! É algo bem esquisito. Esses recrutas miseráveis,

no bom sentido — e o Governo que sempre defendeu o maior valor possível para o

salário mínimo! —, continuam ganhando 153 reais, Deputada Maninha. Eu acho que

falta este fato chegar ao conhecimento do nosso Presidente. Acho que a equipe

econômica é que dá segurança a ele. Um dia, Deputada Maninha, precisamos dizer

ao Presidente que um recruta nosso não pode continuar ganhando 153 reais brutos

por mês. Esta quantia é usada em parte da alimentação dele. Ele não pode viajar,

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quem vem de Unaí, por exemplo, não pode viajar, fica no quartel e no quartel não há

comida. Se ele não vai para um lugar mais esquisito, fazer algum programa fora, vai

para o supermercado. Os donos de supermercados nos ligam e relatam o fato

constrangedor. Não querem punir, prender nem algemar o soldado. Nada disso. É

desagradável um soldado ao abrigo da nossa guarnição estar lá dentro fazendo isso.

No entanto, se um soldado chega a esse nível, imagino como está o orçamento das

nossas Forças Armadas!

Deputada Maninha, também faço um apelo a V.Exa. Desde o Governo

Fernando Henrique Cardoso até o Governo Lula, quase metade do dinheiro que

arrecadamos — descontamos no nosso contracheque — vai para o nosso fundo de

saúde passa a ser orçamentário e é contingenciado. Se a esposa de um colega

militar for fazer uma ultra-sonografia no Hospital Central do Exército, no Rio de

Janeiro, terá de marcar o exame para dezembro. No momento, não há meios para

atender essa pessoa.

Vemos o patriotismo dos colegas pensando no melhor para o nosso País,

brigando para obter recursos no Orçamento, ou melhor, para que seja aprovado algo

no Orçamento que não é concreto, que ainda vai depender de esforço para ser

liberado. A realidade é que o Parlamentar, Deputada Zulaiê Cobra — eu não quero

generalizar — quer liberar recursos para a sua comunidade, para a sua cidade, para

o seu Estado pelos mais variados motivos que não vou declinar aqui.

Quase não há recursos para o Calha Norte, para o Hospital Militar. Não

podemos colocar uma faixa lá comunicando que foi o Deputado Jair Bolsonaro que

obteve recursos para aquele hospital. As Forças Armadas acabam sendo

esquecidas.

General, faço uma pergunta óbvia para V.Exa.; talvez já a tenha respondido e

entendo as limitações de V.Exa. para respondê-la.

A Deputada Zulaiê falou que o Ministro pensa que pode tudo, vai ver que não

pode tanto assim, não. E V.Exa. pode muito menos. Sabemos das limitações, mas é

bom lhe darmos a oportunidade de falar, porque o mandato de V.Exa. infelizmente é

de apenas quatros anos improrrogáveis. Hoje em dia, quando os militares vão para a

reserva, não são mais absorvidos pelas corporações e praticamente terminam

esquecidos.

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A presença das Forças Armadas na nossa fronteira é importantíssima. A

Amazônia, que pode ser solução para o mundo, acaba sendo problema para nós,

brasileiros, por brigas de vaidade nossa. Então essa presença militar é importante

para realizar a ocupação, verificação, desenvolvimento, inibição de ações adversas,

dentre outros.

Qual a maior dificuldade que V.Exa. enfrenta no atual comando na Amazônia,

para exercer este comando com o que vem ao encontro do que está na alma de

V.Exa. como militar?

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Sr. General, como não

houve uma pergunta específica, só no final, vou dar a palavra também a duas outras

Deputadas inscritas. Após V.Exa. responderá as três indagações de uma só vez,

porque fazemos mais desabafos. Estamos aqui com a corda no pescoço, porque

esta Comissão de Defesa Nacional quer realmente ajudar as Forças Armadas.

Estamos num grande momento da Comissão, todos imbuídos dessa idéia.

Vou dar a palavra à Deputada Janete Capiberibe, que saiu

momentaneamente, e à Deputada Maninha.

A SRA. DEPUTADA JANETE CAPIBERIBE – Sra. Presidenta, Deputada

Zulaiê Cobra, Sr. Gen. Figueiredo, tive de me ausentar momentaneamente por

motivo de urgência, mas não poderia deixar de me manifestar nesta importante

audiência pública para nós, da Amazônia, já que sou do Estado do Amapá, e dizer

da fundamental presença do Batalhão de Selva na Amazônia.

No extremo norte do Amapá, em Clevelândia, o 3º Batalhão de Infantaria de

Selva - BIS presta também serviço social, pois na ausência de assistência médica

no Oiapoque, os médicos do 3º BIS se dirigem para o Centro de Saúde daquela

região, que faz fronteira com a Guiana Francesa, com extensão de 650 quilômetros,

muito próxima do Suriname, da República das Guianas e da Colômbia.

Há dois anos, a CPI do Narcotráfico esteve no Estado do Amapá e constatou

a existência de regiões completamente isoladas, sem condições de moradia, onde

só vivem os índios, e o 3º BIS também ajuda na defesa da fronteira. O caso mais

grave é o da entrada da droga no Estado, por meio do crime organizado, envolvendo

inclusive autoridades eleitas, como o Presidente da Assembléia Legislativa e a

Presidenta do Tribunal de Contas. Esse fato foi apurado pela CPI mas não sei o

resultado.

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Por outro lado, General, há convivência tranqüila na fronteira, entre os

oiapoquenses, do lado brasileiro, e os oiapoquenses de Saint Georges, do outro

lado, é um mundo diferente. Embora seja a Guiana, é a Europa. Podemos sentir

essa forte presença e a tranqüila relação de ir e vir, que considero demasiada e sem

controle. A Polícia Federal de lá não tem problemas, porque está presente, seja pela

sua estrutura montada, seja pela presença do 3º BIS. Podemos também observar no

nosso Estado a entrada de armas de grande calibre, compradas clandestinamente

do lado da Guiana Francesa, pois — repito — há um ir e vir muito tranqüilo, sem

nenhum problema. Então, com a entrada de armas, vem a droga, vem o tráfico de

crianças e de mulheres. Isso é considerado tão normal que fica difícil esta

Comissão, presidida pela Deputada Zulaiê Cobra, e a Comissão Mista, que investiga

a exploração sexual de crianças, adolescentes e mulheres, intervirem. Muitas

mulheres vão para a Guiana, seja para São Jorge, seja para Caiena. Inclusive houve

denúncias das rotas do tráfico de crianças, e a Rede Globo local divulgou também

em âmbito nacional.

Pergunto ao General o que 3º BIS e o Sistema de Segurança Pública do

Ministério da Justiça podem fazer nesse sentido, já que uma ação conjunta pode ser

eficiente em todos os sentidos? Não que venhamos a ser tomados territorialmente.

O conflito com a França terminou há um século e certamente não irá retornar

absoluta. Mas há esses outros males.

Fico preocupada porque estamos muito próximos do Suriname, há também

um ir e vir dos índios tiriós, no norte do Pará, ligados ao Amapá, onde há presença

da Aeronáutica, e onde se detectou a existência da AIDS em índios que se

relacionam com garimpeiros do Suriname.

Como o Exército vê a situação dessa importante fronteira da Região

Amazônica?

O SR. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Deputada, não se sinta tão

tranqüila em relação à França — desejo incluí-la na pergunta —, porque a entrada

daquele avião militar francês no País foi um absurdo, um horror. O Ministro da

Defesa e o das Relações Exteriores estiveram aqui, mas até hoje a situação não

ficou bem explicada.

Passo a palavra à Deputada Maninha.

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A SRA. DEPUTADA MANINHA – Sra. Presidenta, General Figueiredo, meus

cumprimentos. Como disse o Deputado Jair Bolsonaro, a presença das Forças

Armadas no Parlamento é sempre bem-vinda para que possamos ouvi-la, conhecê-

la melhor e poder ajudá-la.

Estamos passando por um novo momento no País, inclusive de dificuldades

econômicas. Ouvi atentamente o Deputado Jair Bolsonaro — não é a primeira vez

que o faço — relatar as condições de quem está na Marinha, no Exército e na

própria Aeronáutica e me somo inclusive às preocupações dele ao dizer que

realmente precisamos ter prioridade no Orçamento para manter nossas Forças

Armadas. O Brasil é um país continental e podemos constatar que a Amazônia é

cobiça de todos. Fala-se na internacionalização, em diversas situações, e sabemos

que não é apenas o falar. De fato, deve haver intenções e precisamos resguardar

nosso território de forma eficaz. Para tal, evidentemente, devemos ter não só o

contingente, mas equipamento e condições de funcionamento.

Por isso, General, V.Exa. poder ter certeza que nós, da bancada do Partido

dos Trabalhadores, somamo-nos a todas as preocupações e colocamo-nos à

disposição para ajudar na busca de mais recursos para nosso Exército, para nossa

Marinha e para nossa Força Aérea.

Mas desejo ressaltar 2 pontos. Ouvi o Deputado Luiz Carlos Hauly fazer sua

explanação e tenho algumas divergências de S.Exa. em relação nossa fronteira e os

países vizinhos. Essa visibilidade hoje das FARC, que aparecem nos noticiários,

inclusive numa discussão enviesada, em que se procura vinculá-la com o

narcotráfico, do ponto de vista de ação do Governo brasileiro, faz parte da nossa

política exterior. Não teremos nenhuma ação de fronteira que não seja colocada

dentro desse contexto. E o nosso Governo tem tratado com grande responsabilidade

o relacionamento com o Peru, com a Colômbia, com os países vizinhos de fronteira,

principalmente na Amazônia.

E digo mais, no momento em que o Presidente da República toma a iniciativa

de propor à Colômbia uma discussão em território brasileiro, território neutro, com a

presença da ONU do que hoje lá acontece em relação às FARC, significa que este

Governo tem clara e correta posição sobre a guerrilha colombiana. A Colômbia tem

sua autodeterminação. Não podemos entrar naquele país e dizer: “faça isso ou faça

aquilo”. Queremos ajudar a Colômbia a encontrar um caminho que dê solução ao

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movimento hoje lá existente, não de agora, mas de muito. Não existiam só as FARC,

mas outras guerrilhas que, ao longo do tempo, fizeram acordo com o governo

colombiano.

E contestando o Deputado Luiz Carlos Hauly, para mim, existem as mais

variadas interpretações. Estive em Quito, no Equador, em um debate sobre a ALCA

e o Senador Navarro, que já foi guerrilheiro, era chefe de uma guerrilha, que fez o

acordo, fez uma explanação sobre as FARC completamente diferente da visão

mostrada pelo Deputado Luiz Carlos Hauly. Ele sempre diz na sua exposição que a

FARC é um movimento guerrilheiro, mas tem organização, tem história e não é à-toa

que eles detêm parte do território colombiano, não é à-toa que parte da população

colombiana o aprova e não é à-toa que para se chegar a um resultado é necessário

desarmar 15 mil homens, não apenas depondo armas, mas se tratando de um

acordo entre as partes ali beligerantes.

Foi falado nesta Comissão sobre a operação da França. Desejo

esclarecimentos do General sobre o que aconteceu há poucos dias no Peru, onde

se noticiou que houve ação conjunta para se resgatar também prisioneiros do

Sendeiro Luminoso.

Há, por parte das Forças Armadas Brasileiras, alguma interface com a

operação Colômbia, que está sendo desenvolvida nos Estados Unidos, na

Colômbia? Qual a importância da ação da implantação de unidades militares na área

da Cabeça do Cachorro, fronteiriça com a Colômbia, através do Programa Calha

Norte para a manutenção da integridade e soberania do nosso território nacional?

Se possível, General, gostaria que V.Exa. me respondesse a esses

questionamentos.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – A Deputada Maninha é

conhecida, é do PT, do Distrito Federal; a Deputada Janete Capiberibe, do PSB, do

Amapá. Mas acho que o General está sabendo mais do que eu a origem dos

Deputados. V.Exa. deve ter um SNI muito bom.

Com a palavra o Deputado Amauri Robledo Gasques, do PRONA, de São

Paulo.

O SR. DEPUTADO AMAURI ROBLEDO GASQUES – Sra. Presidenta,

General Figueiredo, é uma satisfação estar aqui em nome do Deputado Dr. Enéas,

nosso Líder, que se solidariza com as Forças Armadas, cuja visão é a de todos nós

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do partido, visão extremamente nacionalista, preocupados com nosso território, que

tem sido aviltado e já de uma forma sublimiar sendo tomado até pelo Sistema

Financeiro Internacional. Preocupa-nos essa outra visão, a questão da tomada do

território do País, uma vez que, por via financeira, isso já tem sido feito.

Desejamos nos posicionar, mais uma vez, solidários com as Forças Armadas,

em especial com o Exército, pois acreditamos ser extremamente necessária sua

presença mais freqüente nesta Casa, e, de alguma maneira, podemos fazer pressão

para obter mais recursos e defender o País de forma mais efetiva.

Desejo saber do General qual o poder das Forças Armadas em relação à

chamada Disuasão Estratégica — sobre a qual sou leigo —, como o Exército, em

especial, sob seu comando, pode interagir no sentido de mostrar ao mundo que

existe possibilidade de controlarmos as eventuais tentativas de tomada do nosso

País?

Muito obrigado.

O SR. CLÁUDIO BARBOSA DE FIGUEIREDO – Agradeço aos Deputados

Jair Bolsonaro, Janete Capiberibe, Maninha e Amauri Robledo Gasques as

perguntas.

Vou começar a responder as perguntas pela ordem.

O Deputado Jair Bolsonaro mencionou a figura do Gen. Zenildo, por quem

tenho maior orgulho de ser amigo, e ao qual servi como assistente por 5 anos.

Então, o General Zenildo não é meu parente, mas é um amigo que considero quase

parente.

O Deputado Jair Bolsonaro, na sua exposição, falou sobre a atuação da

imprensa. Para mim, a atuação da imprensa é super importante. Não há a menor

dúvida de que um País democrático, livre, deve ter imprensa livre. Mas, às vezes,

em determinados assuntos, a imprensa transforma uma notícia simples em fricção

quase nacional. Há pouco tempo, ela divulgou uma cartilha produzida pelo Comando

de Operações Terrestres - COTER. Na realidade, não produziu, simplesmente

corrigiu uma que já existia.

As táticas militares vão evoluindo e temos de evoluir nossa documentação

que dá a uniformidade de execução em todo o Brasil. O que aconteceu com a

cartilha sobre a garantia da lei e da ordem nada mais é do que uma maneira de o

Exército cumprir sua missão constitucional, conforme o art. 142, da Constituição

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Federal, de garantir a lei e a ordem. Então, o COTER, órgão supremo de operações

do Exército, baixou essa cartilha para seus elementos subordinados — inclusive eu

— na Amazônia, alterando alguns conceitos já ultrapassados. Não houve nenhuma

novidade nisso e a imprensa divulgou como se fosse algo novo, que o Exército

estava criando naquele momento para agir em algum lugar. Não houve nada disso.

Simplesmente, o COTER, dentro da sua atribuição no Exército, de acompanhar a

execução nas operações, baixou algumas determinações sobre essa parte dessa

missão constitucional, que é a garantia da lei e da ordem. Então, foi isso o que

aconteceu em relação a esse fato. Aproveitei o gancho do Deputado para poder

esclarecer o que realmente aconteceu.

Fui perguntado sobre qual o principal problema que encontro para exercer

meu comando. A Amazônia é a Europa inteira. Temos uma transparência em que se

coloca a Europa mais as ilhas: Irlanda e Inglaterra juntas. Isso é a Amazônia. Então,

o meu grande problema é o de me deslocar dentro da área para exercer minha ação

de comando. Sou daqueles que comando com a presença. Preciso ver nos olhos

dos meus comandantes subordinados o que eles estão necessitando e eles tem

que, olhando nos meus olhos, saber o que estou querendo que eles façam.

Estou há 8 meses na Amazônia, já fui a todos os 25 pelotões de fronteira, só

não fui a 3 unidades da Transamazônica, e já estou com viagem programada para o

mês de outubro.

Então, vou ter a possibilidade de ter contato com todos meus comandantes

subordinados e poder exercer a minha ação de comando. Minha dificuldade é fazer

isso, porque a Força Aérea, que me transporta, às vezes está sem recursos para

voar.

Quando eu encontrar patrimônio do Exército, nas localidades que eu visitar,

deteriorado pelo tempo, desejaria dispor dos recursos para imediatamente recuperá-

lo, e não tenho, por causa das restrições orçamentárias. Nosso grande problema é

unicamente recurso, recurso humano não falta, a Amazônia está muito bem servida

desses recursos. Os praças que servem na Amazônia são de primeiríssima

qualidade e não tenho nenhuma dificuldade em conduzi-los para que cumpram sua

missão. Às vezes fazem as coisas antes mesmo de eu determinar, sempre na

direção desse patrimônio imenso, que é a Amazônia, legado que nossos

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antepassados nos deixaram e que não temos o direito de entregar ou não defendê-

lo. Temos de desenvolver e defender a Amazônia.

O grande problema daquela região é o desconhecimento. O maior risco que a

Amazônia corre, de ser internacionalizada, é uma constatação que existe,

pretendentes ninguém inventou, o Presidente Mitterrand falou, todos escutaram, Al

Gore e outros falaram da cobiça sobre a nossa Amazônia. O único risco que

corremos é se o Brasil não tiver a consciência de que a Amazônia é brasileira. E

todo o Brasil, não só os amazônidas, deve se preocupar com a Amazônia.

Creio que a Amazônia será mais defendida, do que já é, quando todos

brasileiros tiverem consciência do que a Amazônia precisa, que é desenvolvimento e

ocupação.

Quanto à Deputada Janete Capiberibe, S.Exa. referiu-se à fronteira do Brasil

no Amapá. Realmente, aquela fronteira nos preocupa um pouco porque divide com a

França, país de Primeiro Mundo, e ali está havendo uma inversão. Em todos a

Amazônia o lado brasileiro é mais desenvolvido que o outro, ali é ao contrário. Como

é ligada a um Pais de Primeiro Mundo, a Guiana francesa está com sua fronteira

mais vivificada que a nossa, o que é uma preocupação. O Exército como um todo já

constatou esse fato e em Tiriós estamos colocando um pelotão. Acredito que no

futuro teremos de colocar outro pelotão um pouco mais ao sul de Clevelândia do

Norte, em área em que a Guiana francesa desenvolve uma comunidade muito

grande e do lado brasileiro não tem absolutamente nada. Os reconhecimentos de

fronteira feitos pela companhia de Clevelândia do Norte são realizados uma vez por

mês, de dois em dois meses, o que é muito pouco, creio eu, para nossas

necessidades. Entendo que ali já cabe uma organização permanente.

A Polícia Federal no Amapá dispõe de 36 homens. O Exército, em relação a

esses crimes transnacionais tipificados por V.Exa., tem a responsabilidade de dar

apoio logístico e de inteligência para a Polícia Federa. Estamos fazendo isso, mas

com 36 homens a Polícia Federal tem muita dificuldade em pedir esse apoio porque

eles precisariam, em primeiro lugar, aumentar o efetivo

Agora, o apoio do 3º BIS será sempre dado quando a Polícia Federal pedir

porque com a sede em Macapá e a Companhia de Clevelândia do Norte dispomos

de 550 homens mais ou menos, número razoável para o Estado do Amapá hoje. O

problema maior está na dificuldade da Polícia Federal em elementos.

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Creio que respondi aos Deputados Jair Bolsonaro e Janete Capiberibe. Agora

vou responder à Deputada Maninha.

A cobiça pela Amazônia é uma constatação e já expus meu pensamento

sobre isso. Essa operação da França no Brasil nós acompanhamos, mas ela foi

frustrada. Ela se iniciou e já no seu segundo dia estava frustrada porque vazou

informações. Os elementos que estavam conduzindo a Senadora Bittencourt

também têm informações e ficaram sabendo que a Polícia Federal e o Exército já

tinham conhecimento da presença deles e abortaram a operação. Acredito que nem

entrou no Brasil porque o barco que conduzia a Senadora estragou um pouco antes

de Ipiranga. Vasculhamos toda a área em operação pente fino por mais de 10 dias,

junto com a Polícia Federal, e não encontramos nenhum elemento das FARC, claro

que ali tem muitos colombianos, é fronteira com a Colômbia, existe pescadores,

comerciantes, mas caracterizado como FARC não encontramos nada. Foi uma

operação frustrada no segundo dia da sua execução.

Também não chegou ao meu conhecimento a operação de seqüestro do

Sendero. As revistas Veja e Istoé chegam à Amazônia um pouco atrasadas, talvez

por isso não tomei conhecimento.

Sobre a transferência da 2ª Brigada de Infantaria para a Cabeça do Cachorro,

em São Gabriel da Cachoeira, é um conceito de emprego de brigada, de barrar uma

direção estratégica. A 1ª Brigada de Infantaria de Selva está barrando duas direções

estratégicas, uma que vem da Venezuela, através da BR-174, e outra que tem como

eixo básico o Rio Negro, a noroeste. Como está barrando duas direções estratégicas

está fora do nosso conceito de Brigada. A transferência da Brigada para São Gabriel

da Cachoeira atende a esse conceito de emprego de Brigada, além daquilo que já

falei de formar reservistas para a estratégia da resistência.

A pergunta do Deputado Amauri, a quem solicito seja portador de um abraço

ao Deputado Enéas, que esteve conosco na Amazônia, é um nacionalista que nos

empolga pelas suas convicções de nacionalismo, prende-se à questão da Disuasão

Estratégica das Forças Armadas.

Realmente, a estratégia da resistência prende-se exatamente a essa

Disuasão Estratégica. Pelo fato de ter sido criada há pouco mais de 5 anos, nossas

forças ainda estão agindo isoladas. Por enquanto essa estratégia da resistência está

no âmbito do Exército, mas terá de ser ampliada para a Marinha e particularmente

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para a Força Aérea, que poderá nos ajudar muito, assim como a Marinha com os

fuzileiros navais.

Precisamos dispor de uma estratégia que custará caro a qualquer sociedade

que tentar uma incursão na Amazônia. Qualquer país de Primeiro Mundo terá de ter

consciência de que se tentar alguma coisa contra a Amazônia terá perda de vidas

que talvez a sua sociedade não queira pagar. É mais ou menos dentro desse

conceito que desenvolvemos essa estratégia, que está bastante desenvolvida. Creio

que já sabem que pagarão uma moeda bastante cara se tentarem ocupar a

Amazônia. É a Disuasão Estratégica que usamos na Amazônia.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Muito obrigado, General

Cláudio Barbosa de Figueiredo, Comandante Militar da Amazônia, foi um prazer

muito grande recebê-lo na nossa Comissão e pode estar certo que atendeu a 11 mil

pessoas carentes nessa região da Amazônia, numa operação que custou apenas 5

milhões. Concordo plenamente com o Deputado Jair Bolsonaro, que é nossa grande

voz em defesa do Exército, e acho que estamos numa briga muito boa, general.

V.Exa. precisa vir mais vezes aqui, sua presença é por demais necessária, o

Exército brasileiro, assim como as outras forças que compõem as Forças Armadas,

e vamos recebê-lo sempre de braços abertos. Cumprimentamos V.Exa. pela beleza

de explanação e pelas pessoas que o acompanham, estamos aqui com muitos

generais, General de Divisão Jarbas Bueno, General de Brigada Renato Joaquim

Ferrarez, General de Brigada Ferrarese e o General de Brigada José Calazans de

Carvalho.

Agradeço a todos as presenças e convoco para o dia 7 às 16 horas reunião

ordinária.

Está encerrada a reunião.