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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
COMISSÃO DE RELAÇÃO EXTERIORES E DE DEFESA NACIONALEVENTO: Audiência Pública N°: 1619/03 DATA: 02/10/03INÍCIO: 10h21min TÉRMINO: 12h20min DURAÇÃO: 01h59minTEMPO DE GRAVAÇÃO:01h59min PÁGINAS: 31 QUARTOS: 24
DEPOENTE/CONVIDADO – QUALIFICAÇÃO
CLÁUDIO BARBOSA DE FIGUEIREDO – Comandante Militar da Amazônia.FÁBIO PANNUNZIO – Jornalista da Rede Bandeirantes de Televisão.
SUMÁRIO: Informações sobre os resultados desenvolvidos pelo referido Comando Militar naoperação para combater refluxos do narcotráfico e da guerrilha colombiana na fronteira entreo Brasil, Colômbia e o Peru. Investigações de matérias jornalísticas que tratam doenvolvimento da guerrilha colombiana na fronteira brasileira com o narcotráfico.
OBSERVAÇÕES
Há exibição de imagens.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Declaro aberta a presente
reunião de audiência pública, que conta com a presença do Comandante Militar da
Amazônia, General-de-Exército Cláudio Barbosa de Figueiredo, para informar sobre
os resultados desenvolvidos pelo referido Comando Militar na operação para
combater refluxos do narcotráfico e da guerrilha colombiana na fronteira entre o
Brasil, Colômbia e o Peru. Também havíamos convidado o jornalista Fábio
Pannunzio, mas tive a informação de que ele não virá. Esta audiência atende ao
Requerimento nº 58/2003, do Sr. Luiz Carlos Hauly.
Concedo a palavra ao General-de-Exército Cláudio Barbosa de Figueiredo,
por até 30 minutos, sem interrupções. Posteriormente, concederei a palavra aos
Deputados, ao autor do requerimento em primeiro lugar.
O SR. CLÁUDIO BARBOSA DE FIGUEIREDO – Sra. Presidenta, Deputada
Zulaiê Cobra; Sras. e Srs. Deputados, é um grande prazer estar aqui, como
Comandante Militar da Amazônia, para discorrer sobre um tema ao qual me dedico
24 horas por dia: o trabalho das Forças Armadas, especialmente o Exército, na
Amazônia.
Preparei uma pequena exposição sobre a Operação Timbó. Trata-se de uma
operação combinada das Forças Armadas, realizada este ano na região amazônica,
na fronteira com a Colômbia e o Peru. Ela faz parte do treinamento das Forças
Armadas para sua capacitação no cumprimento de sua missão constitucional de
defesa da pátria e dos Poderes constitucionais.
Nosso objetivo é apresentar à CREDN os trabalhos desenvolvidos durante a
Operação Timbó. Logicamente, quando dos debates, estaremos à disposição para
responder a qualquer pergunta sobre o assunto Amazônia, particularmente sobre o
trabalho das Forças Armadas na região.
Seguiremos este sumário: introdução; propostas da Operação; planejamentos
que foram realizados; execução, como foi feita a operação; os principais resultados
obtidos e conclusão.
A título de introdução, vou discorrer sobre a composição atual das Forças
Armadas na Amazônia, começando com o Comando Militar da Amazônia.
(Há exibição de imagens.)
O Comando Militar da Amazônia abrange os Estados do Pará, Amapá,
Roraima, Amazonas, Acre e Rondônia. Para desenvolver suas atividades, ele está
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dividido na seguinte estrutura organizacional: 2 comandos logísticos e
administrativos, a 8.ª e 12.ª Regiões Militares, e o 2.º Grupamento de Engenharia e
Construção, destinado a cumprir as missões complementares do Exército na parte
de construção.
Temos 4 braços operacionais: a 1.ª Brigada de Infantaria de Selva; a 16.ª
Brigada de Infantaria de Selva; a 17.ª Brigada de Infantaria de Selva e a 23.ª Brigada
de Infantaria de Selva. Temos ainda organizações militares complementares, como
o Centro de Instrução de Guerra na Selva, que forma o combatente de selva; o 4.º
Esquadrão de Aviação do Exército, que dá mobilidade ao Comando Militar da
Amazônia; a 1.ª Companhia de Comunicações de Selva, que faz a interligação das
diversas organizações militares do CMA; a Companhia de Polícia do Exército; a 4.ª
Companhia de Inteligência, uma Companhia de Comando e uma Companhia de
Guardas. Temos ainda, ligados ao Comando Militar da Amazônia por guarnição,
mas subordinados diretamente a Brasília, a 4.ª Divisão de Levantamento; a 1.ª
ICFEX, que é controle interno e finanças; o Colégio Militar de Manaus e o 4.ª CTA,
que trata da parte estratégica das comunicações na Amazônia.
Estamos dispostos da seguinte maneira no terreno: a 12.ª Região Militar, com
sede em Manaus, abrange toda a Amazônia Ocidental — Estados do Amazonas,
Acre, Roraima e Rondônia — e a Amazônia Oriental é abrangida pela 8.ª Região
Militar, com sede em Belém, atendendo os Estados do Pará e Amapá.
Braços operacionais.
A 1.ª Brigada de Infantaria de Selva, sediada em Boa Vista, tem suas
organizações militares dispostas no Estado de Roraima e noroeste do Amazonas, na
região chamada “Cabeça de Cachorro”. Temos 7 pelotões de fronteira em Roraima e
7 na área da Cabeça do Cachorro.
A 16.ª Brigada de Infantaria de Selva, com sede em Tefé e jurisdição sobre a
fronteira da Colômbia e Peru na região oeste do Amazonas e noroeste do Acre,
tendo uma organização militar, um batalhão na linha de fronteira, em Tabatinga;
outro a 100 quilômetros da fronteira, em Cruzeiro do Sul, no Acre, e um terceiro
batalhão de infantaria em Tefé. Há 4 pelotões de fronteira, sediados
respectivamente em Vila Bittencourt, Ipiranga, Estirão do Equador e Palmeiras do
Javari. Detalhei um pouco mais a 16.ª Brigada exatamente porque em sua área é
que se desenvolveu a Operação Timbó.
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A 17.ª Brigada de Infantaria de Selva, com sede em Porto Velho e jurisdição
sobre o sudoeste do Acre até Santa Rosa do Purus e Estado de Rondônia, tem 5
pelotões de fronteira.
O último braço operacional é a 23.ª Brigada de Infantaria de Selva, com sede
em Marabá e suas unidades do longo da Transamazônica.
A Força Aérea Brasileira tem 2 comandos regionais na Amazônia: o 1.º
Comando Aéreo Regional, em Belém, com jurisdição na Amazônia Oriental, e o 7.º
Comando Aéreo Regional, com sede em Manaus e jurisdição na Amazônia
Ocidental. Vou detalhar um pouco o 7.º COMAR pois ele participou, dando apoio
logístico à Aeronáutica, da Operação Timbó.
Estrutura organizacional. O 7.º Comando Aéreo Regional é subordinado ao
COMGAR, em Brasília. Sua organização: temos as Bases Aéreas de Boa Vista e de
Porto Velho; o SRPV, que é o Serviço de Proteção ao Vôo; o SERAC, que trata da
parte de engenharia; a Base de Manaus; o Hospital de Manaus e o Núcleo de Base
de São Gabriel da Cachoeira.
Estas são as unidades aéreas que estão dispostas no 7.º COMAR: o 1.º/3.º
GA Cav; o 2.º/3.º GA – Grupo de Aviação; o 7.º/8.º Grupo de Aviação; o 1.°/9.º
Grupo de Aviação e o 7.º Esquadrão de Transporte Aéreo.
Toda essa organização do 7.º COMAR é de aviação de transporte. A aviação
de caça, na Operação Timbó, veio de fora da região amazônica.
Aí estão as unidades aéreas do 7.º Comando Aéreo Regional. Sua área de
jurisdição é a mesma da 12.º Região Militar, e os meios dispostos no terreno são as
Bases Aéreas de Manaus, Boa Vista, São Gabriel e Iauaretê — sendo que esta
última ainda está em início de construção e a de São Gabriel da Cachoeira em final
de construção.
A Marinha do Brasil é representada na Amazônia pelo 4.º Distrito Naval, com
jurisdição em toda a Amazônia, como o CMA, e tem como subordinados o Comando
Naval da Amazônia Ocidental, com sede em Manaus e jurisdição na Amazônia
Ocidental. Vamos detalhar um pouco o Comando Naval da Amazônia Ocidental
porque foi o que participou da Operação Timbó.
Aí está a linha de comando do CNAO: está subordinado ao 4.º Distrito Naval,
que por sua vez está subordinado ao Comando de Operações Navais em Brasília. O
CNAO está subdividido nestas organizações: Capitania Fluvial da Amazônia
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Ocidental; Capitania Fluvial de Tabatinga; Comando da Flotilha do Amazonas;
Estação Naval do Rio Negro e Depósito Naval de Manaus. Parte operacional:
Comando da Flotilha do Amazonas.
Feita esta introdução para que V.Exas. tenham uma idéia de como estão
estruturadas as Forças Armadas na Amazônia, passaremos ao fulcro da nossa
exposição, a Operação Timbó. A origem foi a Diretriz Ministerial nº 01, de 2003, do
Ministério da Defesa. Mas houve antecedentes. Ano passado, a Operação Tapuru. A
concepção é uma ação combinada das 3 Forças Armadas e de órgãos federais,
estaduais e municipais. Faço um pequeno adendo para dizer que a Tapuru foi a
primeira operação combinada que as Forças Armadas do Brasil fizeram. Na guerra
moderna, a concepção de comando combinado é uma constante. Os países
centrais, todos, já desde o tempo de paz se organizam em comandos combinados.
Aqui mesmo, na América do Sul, a Colômbia, que está há 40 anos em guerra, nos
últimos 5 anos criou seus comandos combinados. No Brasil, a criação do Ministério
da Defesa é o primeiro passo para a articulação das 3 Forças, para o entrosamento
das 3 Forças.
Todos nós sabemos que cada Força singular, em toda a história do Brasil,
sempre cumpriu muito bem a sua missão, mas isoladamente. A partir da criação do
Ministério da Defesa — que creio foi idealizado para isso, além de outros motivos —,
começou-se a trabalhar com operações combinadas, que deverão redundar, num
futuro de médio prazo, possivelmente, em comandos combinados já desde o tempo
de paz. Essa ação começou realmente na Amazônia, porque lá já havia um
comando combinado informal. As distâncias amazônicas levam as 3 Armas a somar
esforços. Nossos 25 pelotões espalhados ao longo da fronteira não conseguem
sobreviver se a Força Aérea não os apoiar, particularmente quando o regime de rios
está em águas baixas. Todo o apoio logístico é feito pela Força Aérea, portanto há
uma ação combinada.
Para formalizar essa situação, em 2002 o Ministério da Defesa organizou um
comando combinado para desenvolver a Operação Tapuru. Em 2003, esse trabalho
evoluiu para a Operação Timbó. O Ministério criou e organizou o Comando Militar
Amazônia, deixando o comando a cargo do Comandante Militar da Amazônia. Eu
tive a oportunidade de comandar as Forças combinadas por ocasião desse
exercício, com postos de força terrestre, força naval e força aérea, sendo a força
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terrestre, com exceção das forças especiais que vieram de fora da Amazônia,
composta de elementos militares sediados na Amazônia. A força naval foi
representada pelo Comando Naval da Amazônia Ocidental, e a força aérea foi
representada por uma força aérea numerada, que reúne meios de todo o Brasil para
dar suporte às operações aéreas, ficando a parte logística a cargo do 7º Comando
Aéreo Regional.
Também participaram a Operação Timbó instituições como a Polícia Federal,
o IBAMA, a FUNAI e o SIPAM. As Forças Armadas trabalham no adestramento com
hipóteses. A hipótese que o Ministério da Defesa sugeriu para que fosse planejada a
Operação Timbó é a que está aí.
O país amarelo é o Peru, o país vermelho, a Colômbia. As Forças Armadas
colombianas, contando com apoio externo, passaram a pressionar a FARC, os
elementos que estavam contra o regime colombiano. Pressionados, esses
elementos foram penetrando no Brasil através do Peru e do Javari, indiretamente na
fronteira Brasil-Colômbia. Essa é uma situação hipotética, criada pelo Ministério da
Defesa para o planejamento das operações.
Para ser ter idéia, América do Sul, Brasil, Amazônia e, dentro da Amazônia, a
área de operações. Aí está o mapa da área de operações da Operação Timbó. Essa
área, se comparada à última guerra dos Estados Unidos, é equivalente à área do
Iraque. Os planejamentos da Operação Timbó abrangiam uma área mais ou menos
do tamanho da área em que os Estados Unidos tiveram de executar a guerra no
Iraque, embora o teatro de operações seja completamente diferente. Lá, o emprego
de tanques e da aviação foi amplo. Na Amazônia a coisa é bastante diferente.
Esta área é totalmente de selva densa, nenhum quilômetro que não seja de
selva densa.
Aí está a área de operações, com as principais localidades envolvidas na
operação: Tefé, onde está o Comando da 16ª Brigada; Vila Bittencourt, onde temos
um pelotão; Ipiranga, onde temos outro pelotão; Tabatinga, onde está o 8º Batalhão
de Infantaria de Selva; Estirão do Equador, com outro pelotão; Palmeira do Javari,
outro pelotão; São Salvador, uma área ainda desguarnecida, mas que pretendemos
dotar de um pelotão, dependendo de recursos — hoje temos nessa localidade um
destacamento, criado para a Operação Timbó, e chegamos à conclusão de que ele
é muito importante, então continuará havendo revezamento a cada 30 dias, com 28
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homens —; Marechal Taumaturgo, que também não tem pelotão, mas a prática diz
que deveria ter; Foz do Breu; Santa Rosa do Purus, com um pelotão; e Sena
Madureira, já ao longo da BR-364.
De posse daqueles dados, o Estado Maior do Comando Combinado da
Amazônia formulou a situação hipotética e deu missão aos elementos subordinados.
A hipótese: violação da fronteira com o Peru, país em amarelo, e Colômbia nos
Estados do Amazonas e Acre, por guerrilheiros criminosos ou civis procedentes do
Peru e da Colômbia. A missão dada aos elementos subordinados, à força terrestre,
à força aérea e à força naval: impedir a entrada de guerrilheiros, criminosos e civis
não autorizados, através das fronteiras, nos Estados do Amazonas e do Acre, a fim
de contribuir para a manutenção da integridade do território nacional e garantir a lei
no Brasil (art. 142 da Constituição Federal).
Entre os principais objetivos propostos, cito o interesse em realizar a
Operação Presença e demonstrar força nas regiões de fronteira com a Colômbia e o
Peru, entre Bittencourt e Santa Rosa do Purus; e, o mais importante, adestrar as
Forças Armadas Brasileiras em ações combinadas.
Esta é a segunda operação combinada. Todos os erros que aconteceram na
Operação Tapuru foram corrigidos para essa operação, cujo relatório de erros temos
pronto. Quando da terceira operação, já estaremos em melhores condições. Durante
o treinamento, os acertos são apreendidos, para serem repetidos em outra
operação, e os erros corrigidos.
Planejamos operações de inteligência, de segurança, de combate e muita
operação psicológica. Foram três as fases.
Na primeira, desenvolveram-se operações de inteligência, operações
psicológicas de guerra eletrônica e concentração de meios, que tivemos de tirar de
outras áreas para colocar na de operações.
Na segunda, houve a ocupação da área de operações pelas Forças, com a
realização das missões propriamente ditas — aquelas de inteligência, segurança,
combate e psicológicas — e também, como parte das ações psicológicas, ações
cívico-sociais. Mais adiante vou dizer o número, mas foi bastante significativo.
Na terceira, deu-se a desmobilização e o retraimento dos meios, com o
prosseguimento das operações de inteligência e de guerra eletrônica.
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Chegamos à conclusão, após o término das operações, de que seria útil
mantermos as operações de inteligência e de guerra eletrônica por mais 10 dias, de
acordo com as possibilidades em termos de recursos alocados, para que tivéssemos
informações mais substanciadas depois que os elementos adversos pensassem que
as Forças Armadas já tivessem se retirado do local. Realmente, nesse período,
colheram-se muitos dados.
Essa foi uma missão hipotética, como disse, mas bem dentro da realidade das
ações ilegais que já estão acontecendo ao longo dessa fronteira. Foram
empregadas 42 aeronaves de tipos diferentes, entre aviação de transporte e aviação
de caça, consumidas 1.226 horas de vôo, utilizadas 73 viaturas, um efetivo de 4.245
homens, empregadas 21 embarcações de diferentes calados mais as pequenas
embarcações, as chamadas voadeiras. Essas foram utilizadas em número muito
grande. O Exército move-se na Amazônia através das voadeiras, barcos com
motores de popa de 25 ou 40 HP que levam de um grupo de combate a um pelotão.
Foram consumidos 175 mil e 600 litros de óleo diesel, 61 mil e 200 litros de gasolina
e 593 mil e 800 litros de querosene de aviação. Foi uma operação cara. Durou 10
dias, e gastamos quase 5 milhões de reais. Passamos 10 dias em operação, mas,
logicamente, desde a preparação se gastou dinheiro.
Quanto ao efetivo empregado, o Estado-Maior cedeu 32 oficiais e 23 praças,
num total de 55. Das forças terrestres, o Exército enviou 268 oficiais e 3.011 praças,
num total 3.279 militares; a Força Naval, 70 oficiais e 468 praças, num total de 538
militares; a Força Aérea, 155 oficiais e 218 praças, num total de 373 militares.
Portanto, aproximadamente 4.200 homens foram mobilizados. A Polícia Federal
contribuiu com 8 homens junto ao Exército em Tabatinga e em Cruzeiro do Sul —
dois em cada um desses lugares; a Agência Brasileira de Inteligência com três, que
permaneceram junto ao Estado Maior da Força Combinada; o Posto Naval de Saúde
teve um no navio de assistência hospitalar Carlos Chagas; a Receita Federal teve
um elemento, em Tabatinga, e a Polícia Militar seis, por ser do Estado do Acre, em
Cruzeiro do Sul.
Para concentrar os meios usamos transporte terrestre — muito difícil na
região, muito pouco inclusive —, hidroviário e aéreo, que são vitais.
As distâncias para concentração de meios na área, por avião e por
embarcação, não vou mencionar, porque podem ser vistas no gráfico.
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Vieram tropas de todos os lugares indicados por setas (apresenta mapa.)
No que se refere às operações desenvolvidas, houve intenso patrulhamento
fluvial, terrestre e aéreo, mediante planejamento centralizado — esta a diferença das
outras operações, porque tanto a Marinha quanto a Força Aérea e o Exército
estavam subordinados ao Comando Combinado e atendiam às suas determinações;
portanto, houve grande interação entre a ação das 3 Forças —; vigilância,
reconhecimento e patrulha, visando à localização de áreas de homizio de grupos
armados de guerrilheiros, paramilitares, narcotraficantes ou outros elementos
adversos. Ainda, foram desenvolvidas atividades de inteligência, que se
desenvolveram em todas as fases da operação, inclusive após o término da mesma,
por 10 dias.
A respeito dos períodos importantes que tivemos, a concentração estratégica
ocorreu de 1º a 21 de junho — nesses 20 dias, as Forças chegaram à área de
operação; a operação propriamente dita, de 23 a 28 de junho e a desmobilização
dos meios, de 29 de junho a 3 de julho. No dia 28 de julho, o Ministro da Defesa
esteve em Tabatinga e presenciou o final da operação.
Principais resultados obtidos: diminuição substancial da ocorrência de ilícitos
quanto da execução da operação; incremento da mentalidade da população quanto
à importância da defesa da Amazônia contra os interesses escusos; e aumento da
presença do Estado brasileiro nas fronteiras. Isso é a dissuasão e a projeção do
Poder.
Há que se entender que essa operação foi propositadamente divulgada de
maneira ampla, porque queríamos testar o grau de dissuasão que ela teria, e posso
dizer que foi de 100%. Nesses 10 dias que passamos lá — eu estive acompanhando
de perto; estive em Tabatinga, Cruzeiro do Sul, em toda área de operações — não
passou nada. Parou de passar navio, avião. Nada passava, porque se sabia que o
Exército estava lá. Então, houve a dissuasão, conforme pretendíamos. Assim sendo,
as Forças Armadas brasileiras têm poder de dissuasão, por sua ação em massa,
operando em conjunto. Alguns contestam, dizem que a ação deveria ser feita sem
aviso prévio, para se colher resultados significativos quanto aos ilícitos que ocorrem
na fronteira. Poderíamos ter feito assim, mas 10 dias é muito pouco. Creio que para
o ataque aos ilícitos teríamos que ter outras operações, talvez até menores, e elas
teriam os mesmos resultados. Esse foi um treinamento militar. A Operação Timbó foi
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um treinamento militar para adestramento das Forças, que agiam em conjunto. Isso
é o que se precisa entender.
Foram empregados vultosos recursos. Com a presença do Estado na fronteira
durante esses 10 dias a população sentiu-se segura, acreditou que a Amazônia
estava defendida, que as Forças Armadas estão em condições de defendê-la e dar
atendimento aos carentes — esse, especificamente, foi significativo.
Apresento-lhes agora um quadro sobre a operação de Assis, onde, no total,
foram atendidas 1.115 pessoas na área médica, odontológica e de higiene pessoal
— corte de cabelo —, além de no fornecimento de CPF, carteira de identidade,
carteira de trabalho, certidão de nascimento. Isso é cidadania; são as Forças
Armadas levando a cidadania àquela longínqua fronteira da Amazônia.
Considerações importantes.
Sigilo ou divulgação? Em sigilo, possivelmente teríamos apreendido alguma
quantidade de entorpecentes, prendido alguns contrabandistas de madeira, etc. No
entanto, com a divulgação, pudemos contar com o apoio da população, ficar
convictos de que a dissuasão existe. As Forças Armadas têm poder de dissuasão na
área. Como resultado da grande divulgação, tivemos um baixo número de
apreensões — todo mundo sabia que nós estávamos lá. Mas se tivéssemos agido
em sigilo, mantido desinformada a população, ela poderia achar que estava
acontecendo algo de anormal. E não estava havendo mais do que um treinamento
militar.
Por outro lado, a divulgação nos deu liberdade para atuar, com a população
civil e as autoridades municipais e estaduais nos ajudando.
Cabe perguntar: quem foi o maior beneficiário da Operação Timbó? O Brasil,
porque suas Forças Armadas tiveram oportunidade de, pela segunda vez,
realizarem um exercício conjunto, combinado, com comando central.
A título de conclusão, deixo algumas frases que nos inspiram quando
realizamos esses treinamentos:
Um Exército pode passar 100 anos sem combater, mas não pode passar 1
dia sem estar preparado — Clausewitz, grande general austríaco;
Quando a Pátria precisa ser defendida e o Exército tem por divisa a
independência ou morte, a Pátria descansa e os inimigos assustam-se; são
vencidos, e a glória da Nação redobra de brilho — nosso patrono, Duque de Caxias;
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Estar preparado para a guerra é um dos meios mais eficazes de preservar a
paz — George Washington.
Era o que tinha a expor.
Coloco-me agora à disposição, Sras. e Srs. Deputados, para os
questionamentos que puderem ser feitos.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Muito obrigada, Gen.
Figueiredo.
Passo a palavra agora ao autor do requerimento, Deputado Luiz Carlos Hauly.
O SR. DEPUTADO LUIZ CARLOS HAULY – Sra. Presidenta, Sras. e Srs.
Parlamentares, ilustríssimo General Cláudio Barbosa de Figueiredo, é uma honra,
uma satisfação recebê-lo aqui na nossa Comissão de Relações Exteriores e de
Defesa Nacional para apresentar a todo o Congresso Nacional missão tão nobre,
importante e fundamental para nosso País.
Lamentamos os problemas que motivaram a ausência do jornalista Fábio
Pannunzio, que poderia enriquecer este debate. De qualquer maneira, poderemos
ouvi-lo em outra oportunidade, ele que vem fazendo matérias a respeito da
Amazônia, das FARC, e até editou um livro. Mas as informações sobre a Operação
Timbó que V.Exa. apresenta dão efetiva demonstração de que as nossas Forças
Armadas estão preparadas para combater a invasão do nosso território.
Cabe aos Congressistas, enquanto representantes do povo brasileiro,
transmitir a V.Exa. a preocupação de toda a Nação, uma vez que V.Exa. tem como
lema defender a Pátria, o imenso território brasileiro, especialmente essa área de tão
difícil administração e de tão difícil acesso — como V.Exa. disse, o acesso terrestre
é quase que impossível. Os interesses na nossa Amazônia são muitos. A
biodiversidade enseja a biopirataria; as FARC ali atuam. Elas acabaram se
envolvendo com o narcotráfico — daí eu as considerar uma organização
“narcoguerrilheira” — e também com o tráfico de armas. Por que não? Onde há o
narcotráfico e a biopirataria há também tráfico de armas. As riquezas minerais que
temos na Amazônia são imensas e despertam grande interesse.
Para nós — o Congresso e o Brasil poderão estar presenciando a exposição
de V.Sa., através da TV Câmara — há a segurança e a certeza de que podem
passar uma vez impunes e incólumes pelas nossas fronteiras, no ir e vir, pessoas
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indesejadas, nocivas ao País, mas a qualquer momento poderão ser pegas, dada à
vastidão da Amazônia.
V.Sa. fez comparação da área com a Europa — pega quase toda a Europa —
; imaginem com condições inóspitas, de difícil trânsito. Então, o desejo do
Parlamentar era conhecer o inteiro teor da Operação Timbó, para combater os
refluxos do narcotráfico e da guerrilha colombiana e para que ela não interfira no
nosso território e na nossa gente. Que se limite ao território colombiano.
Há menos de 30 dias ocorreu a operação bufa que os franceses patrocinaram
no nosso território, a que chamo de legião estrangeira brancaleone bufa, um vexame
para a França, que tem tradição de amizade — e o Brasil tem tanto respeito por eles
—, não deveriam se permitir fazer o que fizeram em nosso território.
Independentemente da posição de Governo — se do Governo a ou b; do
partido a, b ou c, não importa —, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica têm o
compromisso de defender nosso território, mesmo se houver interesse ou não de
fazer entendimento com guerrilheiros narcotraficantes.
A posição brasileira é contra o narcotráfico e esse tipo de guerrilha que nós
abominamos — aliás, abominamos qualquer tipo de guerrilha desse nível. O Brasil
tem sua experiência, tem sua história, que também é difícil. Não queremos que isso
contamine nosso território.
V.Sa., na condição de Comandante do Comando Militar da Amazônia, tem
grande responsabilidade.
Há interesse por parte do Governo de conversar com a guerrilha — isso nos
preocupa muito. Estou falando suprapartidariamente. Se houvesse realmente boas
intenções, essas lideranças seqüestradas e presas, mantidas em cativeiro até hoje,
teriam sido libertadas.
Estive em um Congresso da FIPA no México, depois no Panamá, e conversei
com Parlamentares colombianos, que sofrem. Um deles recebeu uma carta-bomba
em seu gabinete e perdeu parte da mão e feriu parte do rosto. Queremos ter
tranqüilidade para nossas Forças Armadas, especialmente comandadas por V.Sa,
que faz grande trabalho e fez uma exposição didática, clara, nítida. Nós, desta
Comissão, devemos apoiar mais ainda o Exército, a Marinha, a Aeronáutica e a
Polícia Federal. Os demais órgãos devem se fazer presentes cada vez mais nessa
região.
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Temos de nos concentrar cada vez mais, com todo o nosso efetivo e o nosso
potencial, na região amazônica.
Agradeço a V.Sa. a presença e o parabenizo pelo trabalho que vem
desenvolvendo em defesa do nosso território, da nossa pátria.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Não foi feita pergunta
específica pelo Deputado Luiz Carlos Hauly, mas se o General quiser se referir às
manifestações feitas pelo autor do requerimento, Deputado Luiz Carlos Hauly,
poderá fazê-lo.
O SR. CLÁUDIO BARBOSA DE FIGUEIREDO - Agradeço ao Deputado
Hauly a exposição.
Realmente as Forças Armadas estão preparadas para que elementos
estranhos não venham a tumultuar a vida da nossa Amazônia. No momento não
existe a iminência de que as FARC venham a atuar no nosso território. E digo o
porquê: eles estão sendo bastante pressionados pelas Forças Armadas
Colombianas. Não é interessante para eles abrir outro contencioso, que seria vir
atacar um pelotão nosso, ou vir ao nosso território, vamos dizer assim, aumentar sua
área de atuação.
Não acredito que isso esteja nos planos a curto ou médio prazos das FARC.
Logicamente temos de ficar alertas porque essa pressão é real. Inclusive converso
muito com os oficiais colombianos. Assisti a uma palestra em que diziam que
poderia estar dentro da estratégia das FARC criar um Estado na área fronteiriça
nossa. Isso foi dito numa palestra, em Letícia.
Também, a forte pressão que está sendo feita nos redutos centrais da
Colômbia faz com que o guerrilheiro vá procurar um espaço onde ele possa atuar
com mais desenvoltura. Não há duvida de que esse espaço é a área amazônica
colombiana. Acontecendo isso, eles estarão se aproximando mais da nossa
fronteira.
Por isso devemos estar alertas — e estamos. Os nossos pelotões, há mais de
3 anos, estão reforçados. Estamos constantemente fazendo reconhecimentos de
fronteiras, que são dissuasórios. Os nossos pelotões se interligam através da mata.
O Pelotão de Bittencourt sai pela linha geodésica rumo ao sul, e o Pelotão de
Ipiranga, em direção ao norte, se encontram no meio do caminho. Eles vão
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detectando tudo o que está ocorrendo ali, tais como garimpos, etc. Enfim, vão
tomando conhecimento do que está acontecendo na fronteira. Poderia surgir a
pergunta: o narcotráfico está passando? Está passando, mas a Operação Cobra tem
vigor.
Naquela área temos grande afinidade com o delegado da Polícia Federal que
comanda a Operação Cobra. Há um grau de confiança bastante elevado entre a
Polícia Federal local e o Comando do CMA. Com isso, é possível realizarmos
operações em conjunto. Eles, dando poder de polícia que não temos; e nós, dando a
força que eles não têm. Com isso, vamos fazendo, no dia-a-dia, muitas apreensões.
Estamos trabalhando.
Há muito tráfico por meio aéreo. Às vezes, sabemos as rotas, os dias, os
locais. Temos acesso disso através de operações de inteligência, mas não podemos
exercer o nosso poder porque não podemos abater aeronaves. Não é que
queiramos abater aeronaves. Se tivéssemos o poder de fazer isso, eles não
traficariam com tanta tranqüilidade, fechando as janelas e dizendo: “Pode seguir que
eles não vão abater”. Isso foi gravado com um avião da FAB de um desses PT, um
desses papa-tango que andam por ali.
Se pudéssemos fazer com que eles descessem, nós o faríamos descer em
um local onde o Exército e a Polícia Federal estariam prontos para fazer
apreensões, que seriam bem maiores.
Essa é uma política que não entendo, é internacional. Está um pouco fora da
minha área de percepção. Para mim, seria interessante que isso pudesse ocorrer.
Mas não posso dar opinião porque, como disse, está fora da minha área de atuação.
Trata-se de política internacional do Brasil. Sei que há tratados e outras coisas.
Temos de ficar resignados, mas teríamos condições de aumentar nosso trabalho, e
muito, se isso ocorresse, garanto aos senhores.
O SR. DEPUTADO LUIZ CARLOS HAULY – Apenas para uma colaboração,
Sr. Presidente. A legislação do abate de aeronaves estranhas foi aprovada pelo
Congresso Nacional, mas o Governo não encontrou condição política internacional
para implementá-la. É uma decisão difícil, que não foi tomada pelo Governo anterior
nem pelo atual.
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O SR. CLÁUDIO BARBOSA DE FIGUEIREDO - Por causa dos tratados
internacionais. A gente sabe disso, e compreende. Realmente, se se quiser fazer um
volume maior de apreensões, alguma alteração na legislação há de ser feita.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Obrigada, Deputado Luiz
Carlos Hauly. Obrigada, general.
Tem a palavra o Deputado Coronel Alves, do PL do Amapá.
O SR. DEPUTADO CORONEL ALVES - Sra. Presidenta, Deputada Zulaiê
Cobra, Sras. e Srs. Parlamentares presentes, General Cláudio Barbosa de
Figueiredo, MD. Comandante Militar da Amazônia, meus respeitos, extensivos a
todos que nos acompanham nesta jornada.
General, atentamente estive acompanhando a sua fala, que complementa o
nosso conhecimento sobre a região amazônica. Cada vez que ouço alguém falar
sobre esse tema, mais eu aprendo. Já começo a fazer alguns juízos.
Tive a oportunidade de visitar o seu comando militar, junto com outros
Parlamentares, entre eles o Deputado Jair Bolsonaro, aqui presente. Ouvimos lá
uma explanação belíssima sobre as condições de atuação do Exército Brasileiro na
região. Hoje o senhor nos dá mais informações sobre a tarefa realizada pelas Forças
Armadas Brasileiras naquela área inóspita, denominada Operação Timbó.
Eu já expliquei o que é o timbó, uma planta utilizada pelos indígenas para
fazer uma pesca um tanto quanto predatória. Eles mascam aquilo, fazem um sumo,
jogam nos riachos e igarapés, e o peixe, ao ingerir a substância, fica sem oxigênio,
emerge e é capturado. É uma atividade indígena, cabocla.
É isso mesmo o timbó, não é, general?
O SR. CLÁUDIO BARBOSA DE FIGUEIREDO - Isso mesmo.
O SR. DEPUTADO CORONEL ALVES - Foi o que me ensinaram no período
que eu passei no Exército. E me ensinaram corretamente, então. Lei da
sobrevivência. Vou aproveitar esse gancho para comentar o que disse o nosso
Deputado Luiz Carlos Hauly sobre o acesso à selva. O acesso é quase impossível,
porém o guerreiro de selva progride muito bem. O Exército Brasileiro está adestrado
para progredir via terrestre dentro da selva.
Bem, general, eu fiz algumas anotações durante a sua fala e gostaria que
V.Exa. me ajudasse a compreender melhor alguns pontos. Começo com um pedido
de esclarecimento sobre a guerra eletrônica, que não é da minha época. V.Exa.
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disse que o Exército Brasileiro ficou mais 10 dias na área junto com a inteligência. A
inteligência eu consigo entender o que é, mas sobre a guerra eletrônica eu queria
que o senhor falasse um pouco mais. É a primeira pergunta.
Outra. Nós fizemos na nossa região uma ação combinada entre Marinha,
Exército e Aeronáutica. Promovemos ações cívicas sociais nas comunidades.
Entendo que a opção das Forças Armadas de divulgar a atividade foi a mais
acertada. Já tive a oportunidade de participar de operações semelhantes. A
comunidade fica um pouco assustada quando se depara com movimentações
militares. Pode até entender que há um teatro de operações reais, mas na verdade
está sendo feito um treinamento. A divulgação é correta. Aqueles que não querem
entender querem é criticar por criticar, porque, se fizerem a leitura do cenário, verão
que se trata de um adestramento, com pesquisas e estudos de inteligência para
fazer um levantamento da região.
Então, também dentro dessa nossa linha de pergunta, gostaria que V.Exa.
esclarecesse se existe algum estudo para ações combinadas entre os países
daquela faixa de fronteira.
Sra. Presidenta, Srs. Parlamentares, é importante, no meu entender, que os
países envolvidos na faixa de fronteira, que estão sofrendo ação das famosas
FARC, as Forças Revolucionárias da Colômbia, que se pudesse — e acredito que
há um estudo do Ministério da Defesa — para que os países, que fazem a ligação
naquela faixa de fronteira, possam mostrar para os guerrilheiros: “Olha, nós estamos
aqui. Se vocês bobearem, nós estaremos agindo severamente em repressão às
suas ações.” Essa seria a segunda pergunta.
Também ainda em relação à pergunta, faço aqui o seguinte questionamento:
ainda não foram apreendidas grandes quantidades de drogas, madeiras derrubadas
clandestinamente de reservas indígenas, ou madeiras nobres que não poderiam ser
derrubadas, e aí eu até mesmo respondo. Se nós avisamos que não vamos estar lá,
é natural que o narcotraficante, o contrabandista, o criminoso, o que comete o ilícito
saia da área. Isso para mim, na minha visão, na minha leitura pessoal — e a
submeto à apreciação de todos os presentes —, quer dizer que o camarada lá teme
a ação das Forças Armadas. Porque se assim não o fosse eles estariam “botando”
(entre aspas), encarando as Forças Armadas era mais preocupante na minha
avaliação.
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Repito — e aqui invoco a presença do Deputado Jair Bolsonaro — que temos
conversado muito. E o Deputado sempre fala das dificuldades que o Exército
brasileiro e as Forças Armadas passam, mas mesmo assim o Exército dá uma
resposta. Ora, se eu vou fazer uma ação numa área, a Marinha e a Aeronáutica dão
uma resposta. Se eu vou fazer uma ação numa área, e naquela área eu encontro
resistência, o camarada não recua, aí é mais preocupante ainda, como afirma o meu
colega Jair Bolsonaro, porque o Exército está realmente carente de muitos recursos,
todas as Forças Armadas, de orçamento, munição, armamento — nós sabemos
disso. Portanto, se não tivermos a apreensão, é por que os caras pelo menos
respeitam a presença da força militar brasileira lá.
E finalizo com outra pergunta: é sabido, e foi questionado na nossa Comissão
e em outros debates, que a fronteira na região amazônica principalmente é uma
faixa onde não há a presença maior e efetiva das Forças Armadas, especialmente
do Exército brasileiro. Nessa linha temos observado que o Exército brasileiro e o
Ministério da Defesa já vêm deslocando unidades militares de outros lugares do País
para a região-fronteira. A pergunta é: qual é a próxima? O que está havendo? Já
está em desdobramento? Já está sendo efetivada alguma outra unidade? Para onde
ela vai? E qual a linha de pensamento hoje do Ministério da Defesa e do Exército
brasileiro em relação, a cada vez mais, e mais célere, ao fato de trazer unidades do
eixo sul-sudeste, onde há grande concentração de unidades, para a região
amazônica, porque é a hora dela, digamos, é a bola da vez.
Antes de concluir, quero dizer a V.Exa. que a nossa Presidenta Zulaiê Cobra,
está sempre preocupada em destinar, cada vez mais, mais recursos para as Forças
Armadas. E ontem apresentamos a S.Exa. proposta, que deverá ser acatada e
avaliada, para a melhoria do orçamento das nossas Forças Armadas, mais
especialmente da força terrrestre. Apresentamos o Projeto Calha Norte e com
certeza a Deputada fará sua avaliação e usará de sua sensibilidade para atender
aos anseios da sociedade brasileira.
Obrigado, Sra. Presidenta.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Tem a palavra o Gen.
Cláudio Barbosa de Figueiredo.
O SR. CLÁUDIO BARBOSA DE FIGUEIREDO - Agradeço ao Deputado Cel.
Alves. Estivemos juntos em Manaus. Foi muito útil para nós.
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Essas 3 perguntas me dão a oportunidade de estender alguns pontos de vista
que eu gostaria que V.Exas. tomassem conhecimento. Um deles é a guerra
eletrônica. Guerra eletrônica é uma guerra moderna. É uma das áreas em que o
Exército está, vamos dizer assim, dentro daquela linha de modernidade como nosso
Comandante citou, quando esteve aqui na Comissão. O Exército se mantém, em
alguns pontos, próximo aos países de Primeiro Mundo. Uma dessas situações é na
guerra eletrônica.
O que é a guerra eletrônica? É a possibilidade de se pegar, de se entrar e
escutar o espectro eletromagnético. Então, tudo que está em volta dos postos, das
antenas de guerras eletrônicas é captado e transformado em informação, em dados.
Então isso é que é guerra eletrônica. Por isso 10 dias depois nós entramos nas
conversas e trocas de opinião lá.
Quanto às ações combinadas entre países, que é a segunda pergunta, as
temos há muito, porque tive a honra de chefiar o Centro de Inteligência do Exército
por 4 anos — de 1995 a 1999. E durante esse período tive a oportunidade de fazer
32 conferências bilaterais de inteligência entre países sul-americanos. Todos com
países vizinhos e mais o Equador e o Chile, que não são vizinhos, mas sul-
americanos. E daí são trocadas informações. São criadas inclusive ações que
podem ser feitas na fronteira. Isso existe. Não existe como operação combinada,
mas existe aquilo que se pode fazer, nas áreas de inteligência e de fronteira, ou
seja, ações que podem ser feitas.
Qualquer força armada para entrar no país vizinho precisa inclusive de
autorização do Congresso Nacional. Mas ali na área de fronteira há ações que se
podem fazer, como por exemplo, o Exército colombiano pegar um bandido brasileiro
e entregá-lo ao Exército brasileiro e vice-versa. Isso é feito. Agora uma ação
combinada, como essa das Forças Armadas, não há.
Na terceira pergunta eu gostaria de me estender um pouco mais. Realmente
a Amazônia é uma imensa floresta, densa, em que o meio operacional, que é a
floresta, pode ser uma inimiga ou amiga dos combatentes.
Desenvolvemos no Brasil a estratégia da resistência que transforma a floresta
em aliada, inimiga do nosso inimigo. Contra uma organização militar de maior porte
dos países centrais, por exemplo, não teríamos a menor chance de exercer uma
guerra convencional. Tanto que qual era a primeira ação de um país desse tipo?
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Seria acabar com nossos radares. CIPAM, SIVAM acabariam no primeiro minuto de
combate. A única chance que temos é levá-los para o chão. E nessas operações
terrestres temos a guerra de guerrilha, que seria a indicada. E precisamos ter a
formação de nossos reservistas em maior número na Amazônia, porque o melhor
homem para combater na Amazônia é o homem da floresta, é o homem da
Amazônia.
Em nosso centro de instrução de guerra na selva formamos os quadros de
oficiais e sargentos, que são de todo o País. Agora o soldado não temos como... Se
levarmos um soldado do Rio de Janeiro para a Amazônia será um desastre. Nós
temos de formá-lo lá. E para formá-lo lá precisamos ter organizações militares, maior
adensamento de organizações militares.
Então, estamos planejando — estamos planejando não, já está planejado.
A 2ª Brigada de Infantaria Motorizada de Niterói — o nosso Comandante falou
a esta Comissão e eu li o texto de sua palestra — já está com todos os estudos
realizados e até orçamentados de quanto vai custar essa transferência. Daí
levaríamos esta 2ª Brigada para São Gabriel da Cachoeira, na Cabeça do Cachorro,
e ali seria o comando da Brigada. E as 3 unidades principais, que são os batalhões
de infantaria de selva, ficariam situados em Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos.
Qual a vantagem? O 5º BIS, que é em São Gabriel, já existe. Teríamos maior
numero anual de formação de homens da floresta. E que serviriam ao Exército por 1,
2, 3, 4, 5 até 7 anos, que é o máximo que poderia, e depois voltariam para a
barranca do Rio. E num caso de conflito eles seriam os nossos homens para
preencher esse universo de floresta que temos. Então, isso é muito importante.
Como o Exército orçamentou isso? Orçamentou através do Calha Norte.
Então, pelo Plano Plurianual de Investimentos, se o Calha Norte não sofresse
nenhum corte — não precisaria nem aumentar —, nós, em 2006, estaríamos com
toda a Brigada lá elevando o efetivo do Exército da Amazônia de 22 mil homens
para 25 mil. Então, isso demonstra o quanto é importante o Calha Norte para nós.
Não só nisso, que seria investimento, mas também como custeio. Dependemos,
para a manutenção das nossas viaturas, particularmente das nossas embarcações,
dos nossos quartéis que são de madeira e precisam de constante conservação, em
muito dos recursos do Calha Norte.
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Está ali o Cel. Avelino, um dos responsáveis pelo Calha Norte, balançando a
cabeça. Mas é a pura verdade. O Exército vive na Amazônia praticamente com o
Calha Norte, porque a verba do Exército (o orçamento normal) está muito abaixo
daquilo que precisamos. Então é preciso se valer do Calha Norte parar manter, pelo
menos na Amazônia, a coisa funcionando bem.
Outro local que falei en passant na minha palestra é que entre Palmeira do
Javari, que fica no Rio Javari, no sul do Amazonas, até Santa Rosa do Purus,
vizinha do Acre, temos 3 direções estratégicas que se dirigem ao Brasil não sendo
guarnecido por nada. Então, precisamos colocar 3 pelotões ali. Fiz um estudo e o
enviei ao Estado Maior do Exército. Foi aprovado, mas não há recursos. E esse não
tem nem o Calha Norte, porque é sul e não existe o Calha Sul.
Então, precisávamos muito — a Deputada Perpétua hoje não está aqui, mas
ela conhece e sabe da necessidade da existência, porque anda muito por ali, —
desses 3 pelotões.
Não é que a gente vá barrar tudo que vá acontecer, mas a presença do
Exército inibe a ação de madeireiros — ali principalmente madeireiros peruanos
ilegais — que entram no Brasil para roubar madeira. E a nossa presença traz a
Polícia Federal, porque se não tivermos lá, a Polícia Federal não terá base nem
força para agir. A Polícia Federal tem muito pouca gente.
Enquanto a Polícia Federal tem 300 homens na fronteira, nós temos 5 mil
homens na fronteira. Temos a força de que a Polícia Federal precisa para poder
agir.
Então, exponho para as Sras. e Srs. Deputados a necessidade de que o
Projeto Calha Norte seja preservado e se invente um Calha Sul, para que partes do
Acre e Rondônia sejam também beneficiados.
O Deputado Coronel Alves quer fazer um reparo.
O SR. DEPUTADO CORONEL ALVES - É simples. Nós não conhecemos
nenhum outro segmento da sociedade brasileira, exceto nossos amigos dos povos
da floresta, que tanto preservam e amam a Amazônia como nossos amigos das
Forças Armadas.
Quando V.Exa. fala no aumento da presença militar em mais 3 mil homens,
V.Exa. se refere à estratégia militar, mas eu já fico pensando em mais 3 mil homens
que vão receber salários e fazer a movimentação da economia daquelas
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populações. Nós que somos da Amazônia sabemos o que a construção de um
quartel naquela região significa mais vendas no comércio. Além do desenvolvimento
estratégico e militar, há, portanto, que se considerar também o desenvolvimento da
economia daquelas localidades. Eu me sinto satisfeito e agradeço a V.Exa.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Tem a palavra o Deputado
Jair Bolsonaro.
O SR. DEPUTADO JAIR BOLSONARO - Exmo. Sr. General Figueiredo, é
uma satisfação vê-lo. A única reclamação que eu tenho é que o Exército faz nesta
Casa algo semelhante à Operação Timbó: vem muito pouco para cá, deveria vir
mais vezes. No tempo do Gen. Zenildo, eu tinha uma certa liberdade com ele, e
sempre, modestamente, provocava. Eu perguntava por que, por exemplo, a
ESCEME não passava duas, três semanas aqui dentro, interagindo com o
Parlamento. O silêncio que vem das casernas faz parecer que com os senhores está
tudo muito bem. Parece que não existe problema de salário, problema de
alimentação, de nada. Essa é a imagem que se tem aqui. Na hora de cortar, o
pessoal pega a navalha e corta em cima dos verdes, dos azuis e dos cinzas sem dó
nem piedade. Só não cortam o que nós pagamos de juros.
Quando V.Exa. falou nos recursos da Operação Timbó, o senhor falou em
“vultosos recursos”: 5 milhões de reais. Eu reparei na fisionomia da Deputada Zulaiê
Cobra. Ela deve ter imaginado que o general talvez estivesse equivocado e quisesse
dizer 50 milhões. A importância é muito pequena para nós que estamos
acostumados a ver tanta coisa inútil ser feita com o dinheiro público. Ficamos até
preocupados com o montante tão irrisório despendido nessa operação.
Eu falei em silêncio. Não sei se O Globo chega lá no seu quartel, mas por
duas ou três vezes foi manchete de capa desse jornal a questão do desarmamento.
Diziam que o Exército era contra o Estatuto do Desarmamento, um carnaval. Pensei
até que nosso comandante fosse acreditar naquilo, dado o barulho da mídia. Então
eu lhe perguntaria: que país é este onde a relatora de um Estatuto do
Desarmamento não pode receber uma nota técnica do Comandante do Exército, ou
do comandante de uma região militar, de um general qualquer? Nós, os militares,
não estamos participando, pela hierarquia, pela disciplina — no meu entender,
disciplina exagerada —, do nosso Congresso Nacional. Aqui a gente não ganha
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guerra, a gente perde guerra. Sem a participação de V.Exas. nesta Casa, o Brasil
está fadado a perder a guerra.
Vejo muita humildade da parte do Exército. A Deputada falou sobre a
humildade dos perdedores e dos vencedores, mas, Zulaiê, nós podemos numa
futura eleição reconquistar isso aí, fazer parte do Executivo, de uma Prefeitura, do
Governo de um Estado. Com a nossa humildade, no meu entender nós vamos
acabar perdendo a Amazônia, ou pela força ou pela corrupção.
Voltando ao orçamento, general, agora quero me dirigir aos meus colegas,
em especial à Zulaiê Cobra, nossa Presidenta. Eu disse ontem que ela é uma
guerreira. Eu não queria que as Deputadas fossem iguais a ela, queria que os
Deputados fossem assim, que seguissem a maneira como ela pensa e se comporta
nesta Casa.
Ano passado, por exemplo, depois de 4 meses de serviço militar obrigatório, o
Exército dispensou praticamente todos os seus recrutas. Foi uma frustração muito
grande para aqueles garotos, que tiveram prejudicada a sua formação. Eles voltam
para suas comunidades, geralmente áreas pobres, e ali estão sujeitos a tudo quanto
é tipo de aliciamento.
Ontem, Deputada Zulaiê Cobra, contei aqui episódio triste e não temos de ter
vergonha de falar sobre ele porque o palco é este. Eu tenho conversado com a
Assessoria Parlamentar; eu tenho duas turmas. Alguns foram da minha turma na
Escola Preparatória de Cadetes. Mostramos esses problemas que nos deixam
envergonhados, mas, se não os colocarmos para fora, não há como buscar solução.
Por exemplo, alguns recrutas nossos, não por maldade, nem por má formação
familiar, visitam supermercados, como o Carrefour, para beliscar uma banana ou uva
que está dando sopa num canto ou em outro, para poder matar sua fome, porque
não têm recursos para um lanche à tarde nos quartéis. E este é o País que quer
levar o Fome Zero para o mundo! É algo bem esquisito. Esses recrutas miseráveis,
no bom sentido — e o Governo que sempre defendeu o maior valor possível para o
salário mínimo! —, continuam ganhando 153 reais, Deputada Maninha. Eu acho que
falta este fato chegar ao conhecimento do nosso Presidente. Acho que a equipe
econômica é que dá segurança a ele. Um dia, Deputada Maninha, precisamos dizer
ao Presidente que um recruta nosso não pode continuar ganhando 153 reais brutos
por mês. Esta quantia é usada em parte da alimentação dele. Ele não pode viajar,
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quem vem de Unaí, por exemplo, não pode viajar, fica no quartel e no quartel não há
comida. Se ele não vai para um lugar mais esquisito, fazer algum programa fora, vai
para o supermercado. Os donos de supermercados nos ligam e relatam o fato
constrangedor. Não querem punir, prender nem algemar o soldado. Nada disso. É
desagradável um soldado ao abrigo da nossa guarnição estar lá dentro fazendo isso.
No entanto, se um soldado chega a esse nível, imagino como está o orçamento das
nossas Forças Armadas!
Deputada Maninha, também faço um apelo a V.Exa. Desde o Governo
Fernando Henrique Cardoso até o Governo Lula, quase metade do dinheiro que
arrecadamos — descontamos no nosso contracheque — vai para o nosso fundo de
saúde passa a ser orçamentário e é contingenciado. Se a esposa de um colega
militar for fazer uma ultra-sonografia no Hospital Central do Exército, no Rio de
Janeiro, terá de marcar o exame para dezembro. No momento, não há meios para
atender essa pessoa.
Vemos o patriotismo dos colegas pensando no melhor para o nosso País,
brigando para obter recursos no Orçamento, ou melhor, para que seja aprovado algo
no Orçamento que não é concreto, que ainda vai depender de esforço para ser
liberado. A realidade é que o Parlamentar, Deputada Zulaiê Cobra — eu não quero
generalizar — quer liberar recursos para a sua comunidade, para a sua cidade, para
o seu Estado pelos mais variados motivos que não vou declinar aqui.
Quase não há recursos para o Calha Norte, para o Hospital Militar. Não
podemos colocar uma faixa lá comunicando que foi o Deputado Jair Bolsonaro que
obteve recursos para aquele hospital. As Forças Armadas acabam sendo
esquecidas.
General, faço uma pergunta óbvia para V.Exa.; talvez já a tenha respondido e
entendo as limitações de V.Exa. para respondê-la.
A Deputada Zulaiê falou que o Ministro pensa que pode tudo, vai ver que não
pode tanto assim, não. E V.Exa. pode muito menos. Sabemos das limitações, mas é
bom lhe darmos a oportunidade de falar, porque o mandato de V.Exa. infelizmente é
de apenas quatros anos improrrogáveis. Hoje em dia, quando os militares vão para a
reserva, não são mais absorvidos pelas corporações e praticamente terminam
esquecidos.
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A presença das Forças Armadas na nossa fronteira é importantíssima. A
Amazônia, que pode ser solução para o mundo, acaba sendo problema para nós,
brasileiros, por brigas de vaidade nossa. Então essa presença militar é importante
para realizar a ocupação, verificação, desenvolvimento, inibição de ações adversas,
dentre outros.
Qual a maior dificuldade que V.Exa. enfrenta no atual comando na Amazônia,
para exercer este comando com o que vem ao encontro do que está na alma de
V.Exa. como militar?
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Sr. General, como não
houve uma pergunta específica, só no final, vou dar a palavra também a duas outras
Deputadas inscritas. Após V.Exa. responderá as três indagações de uma só vez,
porque fazemos mais desabafos. Estamos aqui com a corda no pescoço, porque
esta Comissão de Defesa Nacional quer realmente ajudar as Forças Armadas.
Estamos num grande momento da Comissão, todos imbuídos dessa idéia.
Vou dar a palavra à Deputada Janete Capiberibe, que saiu
momentaneamente, e à Deputada Maninha.
A SRA. DEPUTADA JANETE CAPIBERIBE – Sra. Presidenta, Deputada
Zulaiê Cobra, Sr. Gen. Figueiredo, tive de me ausentar momentaneamente por
motivo de urgência, mas não poderia deixar de me manifestar nesta importante
audiência pública para nós, da Amazônia, já que sou do Estado do Amapá, e dizer
da fundamental presença do Batalhão de Selva na Amazônia.
No extremo norte do Amapá, em Clevelândia, o 3º Batalhão de Infantaria de
Selva - BIS presta também serviço social, pois na ausência de assistência médica
no Oiapoque, os médicos do 3º BIS se dirigem para o Centro de Saúde daquela
região, que faz fronteira com a Guiana Francesa, com extensão de 650 quilômetros,
muito próxima do Suriname, da República das Guianas e da Colômbia.
Há dois anos, a CPI do Narcotráfico esteve no Estado do Amapá e constatou
a existência de regiões completamente isoladas, sem condições de moradia, onde
só vivem os índios, e o 3º BIS também ajuda na defesa da fronteira. O caso mais
grave é o da entrada da droga no Estado, por meio do crime organizado, envolvendo
inclusive autoridades eleitas, como o Presidente da Assembléia Legislativa e a
Presidenta do Tribunal de Contas. Esse fato foi apurado pela CPI mas não sei o
resultado.
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Por outro lado, General, há convivência tranqüila na fronteira, entre os
oiapoquenses, do lado brasileiro, e os oiapoquenses de Saint Georges, do outro
lado, é um mundo diferente. Embora seja a Guiana, é a Europa. Podemos sentir
essa forte presença e a tranqüila relação de ir e vir, que considero demasiada e sem
controle. A Polícia Federal de lá não tem problemas, porque está presente, seja pela
sua estrutura montada, seja pela presença do 3º BIS. Podemos também observar no
nosso Estado a entrada de armas de grande calibre, compradas clandestinamente
do lado da Guiana Francesa, pois — repito — há um ir e vir muito tranqüilo, sem
nenhum problema. Então, com a entrada de armas, vem a droga, vem o tráfico de
crianças e de mulheres. Isso é considerado tão normal que fica difícil esta
Comissão, presidida pela Deputada Zulaiê Cobra, e a Comissão Mista, que investiga
a exploração sexual de crianças, adolescentes e mulheres, intervirem. Muitas
mulheres vão para a Guiana, seja para São Jorge, seja para Caiena. Inclusive houve
denúncias das rotas do tráfico de crianças, e a Rede Globo local divulgou também
em âmbito nacional.
Pergunto ao General o que 3º BIS e o Sistema de Segurança Pública do
Ministério da Justiça podem fazer nesse sentido, já que uma ação conjunta pode ser
eficiente em todos os sentidos? Não que venhamos a ser tomados territorialmente.
O conflito com a França terminou há um século e certamente não irá retornar
absoluta. Mas há esses outros males.
Fico preocupada porque estamos muito próximos do Suriname, há também
um ir e vir dos índios tiriós, no norte do Pará, ligados ao Amapá, onde há presença
da Aeronáutica, e onde se detectou a existência da AIDS em índios que se
relacionam com garimpeiros do Suriname.
Como o Exército vê a situação dessa importante fronteira da Região
Amazônica?
O SR. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Deputada, não se sinta tão
tranqüila em relação à França — desejo incluí-la na pergunta —, porque a entrada
daquele avião militar francês no País foi um absurdo, um horror. O Ministro da
Defesa e o das Relações Exteriores estiveram aqui, mas até hoje a situação não
ficou bem explicada.
Passo a palavra à Deputada Maninha.
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A SRA. DEPUTADA MANINHA – Sra. Presidenta, General Figueiredo, meus
cumprimentos. Como disse o Deputado Jair Bolsonaro, a presença das Forças
Armadas no Parlamento é sempre bem-vinda para que possamos ouvi-la, conhecê-
la melhor e poder ajudá-la.
Estamos passando por um novo momento no País, inclusive de dificuldades
econômicas. Ouvi atentamente o Deputado Jair Bolsonaro — não é a primeira vez
que o faço — relatar as condições de quem está na Marinha, no Exército e na
própria Aeronáutica e me somo inclusive às preocupações dele ao dizer que
realmente precisamos ter prioridade no Orçamento para manter nossas Forças
Armadas. O Brasil é um país continental e podemos constatar que a Amazônia é
cobiça de todos. Fala-se na internacionalização, em diversas situações, e sabemos
que não é apenas o falar. De fato, deve haver intenções e precisamos resguardar
nosso território de forma eficaz. Para tal, evidentemente, devemos ter não só o
contingente, mas equipamento e condições de funcionamento.
Por isso, General, V.Exa. poder ter certeza que nós, da bancada do Partido
dos Trabalhadores, somamo-nos a todas as preocupações e colocamo-nos à
disposição para ajudar na busca de mais recursos para nosso Exército, para nossa
Marinha e para nossa Força Aérea.
Mas desejo ressaltar 2 pontos. Ouvi o Deputado Luiz Carlos Hauly fazer sua
explanação e tenho algumas divergências de S.Exa. em relação nossa fronteira e os
países vizinhos. Essa visibilidade hoje das FARC, que aparecem nos noticiários,
inclusive numa discussão enviesada, em que se procura vinculá-la com o
narcotráfico, do ponto de vista de ação do Governo brasileiro, faz parte da nossa
política exterior. Não teremos nenhuma ação de fronteira que não seja colocada
dentro desse contexto. E o nosso Governo tem tratado com grande responsabilidade
o relacionamento com o Peru, com a Colômbia, com os países vizinhos de fronteira,
principalmente na Amazônia.
E digo mais, no momento em que o Presidente da República toma a iniciativa
de propor à Colômbia uma discussão em território brasileiro, território neutro, com a
presença da ONU do que hoje lá acontece em relação às FARC, significa que este
Governo tem clara e correta posição sobre a guerrilha colombiana. A Colômbia tem
sua autodeterminação. Não podemos entrar naquele país e dizer: “faça isso ou faça
aquilo”. Queremos ajudar a Colômbia a encontrar um caminho que dê solução ao
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movimento hoje lá existente, não de agora, mas de muito. Não existiam só as FARC,
mas outras guerrilhas que, ao longo do tempo, fizeram acordo com o governo
colombiano.
E contestando o Deputado Luiz Carlos Hauly, para mim, existem as mais
variadas interpretações. Estive em Quito, no Equador, em um debate sobre a ALCA
e o Senador Navarro, que já foi guerrilheiro, era chefe de uma guerrilha, que fez o
acordo, fez uma explanação sobre as FARC completamente diferente da visão
mostrada pelo Deputado Luiz Carlos Hauly. Ele sempre diz na sua exposição que a
FARC é um movimento guerrilheiro, mas tem organização, tem história e não é à-toa
que eles detêm parte do território colombiano, não é à-toa que parte da população
colombiana o aprova e não é à-toa que para se chegar a um resultado é necessário
desarmar 15 mil homens, não apenas depondo armas, mas se tratando de um
acordo entre as partes ali beligerantes.
Foi falado nesta Comissão sobre a operação da França. Desejo
esclarecimentos do General sobre o que aconteceu há poucos dias no Peru, onde
se noticiou que houve ação conjunta para se resgatar também prisioneiros do
Sendeiro Luminoso.
Há, por parte das Forças Armadas Brasileiras, alguma interface com a
operação Colômbia, que está sendo desenvolvida nos Estados Unidos, na
Colômbia? Qual a importância da ação da implantação de unidades militares na área
da Cabeça do Cachorro, fronteiriça com a Colômbia, através do Programa Calha
Norte para a manutenção da integridade e soberania do nosso território nacional?
Se possível, General, gostaria que V.Exa. me respondesse a esses
questionamentos.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – A Deputada Maninha é
conhecida, é do PT, do Distrito Federal; a Deputada Janete Capiberibe, do PSB, do
Amapá. Mas acho que o General está sabendo mais do que eu a origem dos
Deputados. V.Exa. deve ter um SNI muito bom.
Com a palavra o Deputado Amauri Robledo Gasques, do PRONA, de São
Paulo.
O SR. DEPUTADO AMAURI ROBLEDO GASQUES – Sra. Presidenta,
General Figueiredo, é uma satisfação estar aqui em nome do Deputado Dr. Enéas,
nosso Líder, que se solidariza com as Forças Armadas, cuja visão é a de todos nós
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do partido, visão extremamente nacionalista, preocupados com nosso território, que
tem sido aviltado e já de uma forma sublimiar sendo tomado até pelo Sistema
Financeiro Internacional. Preocupa-nos essa outra visão, a questão da tomada do
território do País, uma vez que, por via financeira, isso já tem sido feito.
Desejamos nos posicionar, mais uma vez, solidários com as Forças Armadas,
em especial com o Exército, pois acreditamos ser extremamente necessária sua
presença mais freqüente nesta Casa, e, de alguma maneira, podemos fazer pressão
para obter mais recursos e defender o País de forma mais efetiva.
Desejo saber do General qual o poder das Forças Armadas em relação à
chamada Disuasão Estratégica — sobre a qual sou leigo —, como o Exército, em
especial, sob seu comando, pode interagir no sentido de mostrar ao mundo que
existe possibilidade de controlarmos as eventuais tentativas de tomada do nosso
País?
Muito obrigado.
O SR. CLÁUDIO BARBOSA DE FIGUEIREDO – Agradeço aos Deputados
Jair Bolsonaro, Janete Capiberibe, Maninha e Amauri Robledo Gasques as
perguntas.
Vou começar a responder as perguntas pela ordem.
O Deputado Jair Bolsonaro mencionou a figura do Gen. Zenildo, por quem
tenho maior orgulho de ser amigo, e ao qual servi como assistente por 5 anos.
Então, o General Zenildo não é meu parente, mas é um amigo que considero quase
parente.
O Deputado Jair Bolsonaro, na sua exposição, falou sobre a atuação da
imprensa. Para mim, a atuação da imprensa é super importante. Não há a menor
dúvida de que um País democrático, livre, deve ter imprensa livre. Mas, às vezes,
em determinados assuntos, a imprensa transforma uma notícia simples em fricção
quase nacional. Há pouco tempo, ela divulgou uma cartilha produzida pelo Comando
de Operações Terrestres - COTER. Na realidade, não produziu, simplesmente
corrigiu uma que já existia.
As táticas militares vão evoluindo e temos de evoluir nossa documentação
que dá a uniformidade de execução em todo o Brasil. O que aconteceu com a
cartilha sobre a garantia da lei e da ordem nada mais é do que uma maneira de o
Exército cumprir sua missão constitucional, conforme o art. 142, da Constituição
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Federal, de garantir a lei e a ordem. Então, o COTER, órgão supremo de operações
do Exército, baixou essa cartilha para seus elementos subordinados — inclusive eu
— na Amazônia, alterando alguns conceitos já ultrapassados. Não houve nenhuma
novidade nisso e a imprensa divulgou como se fosse algo novo, que o Exército
estava criando naquele momento para agir em algum lugar. Não houve nada disso.
Simplesmente, o COTER, dentro da sua atribuição no Exército, de acompanhar a
execução nas operações, baixou algumas determinações sobre essa parte dessa
missão constitucional, que é a garantia da lei e da ordem. Então, foi isso o que
aconteceu em relação a esse fato. Aproveitei o gancho do Deputado para poder
esclarecer o que realmente aconteceu.
Fui perguntado sobre qual o principal problema que encontro para exercer
meu comando. A Amazônia é a Europa inteira. Temos uma transparência em que se
coloca a Europa mais as ilhas: Irlanda e Inglaterra juntas. Isso é a Amazônia. Então,
o meu grande problema é o de me deslocar dentro da área para exercer minha ação
de comando. Sou daqueles que comando com a presença. Preciso ver nos olhos
dos meus comandantes subordinados o que eles estão necessitando e eles tem
que, olhando nos meus olhos, saber o que estou querendo que eles façam.
Estou há 8 meses na Amazônia, já fui a todos os 25 pelotões de fronteira, só
não fui a 3 unidades da Transamazônica, e já estou com viagem programada para o
mês de outubro.
Então, vou ter a possibilidade de ter contato com todos meus comandantes
subordinados e poder exercer a minha ação de comando. Minha dificuldade é fazer
isso, porque a Força Aérea, que me transporta, às vezes está sem recursos para
voar.
Quando eu encontrar patrimônio do Exército, nas localidades que eu visitar,
deteriorado pelo tempo, desejaria dispor dos recursos para imediatamente recuperá-
lo, e não tenho, por causa das restrições orçamentárias. Nosso grande problema é
unicamente recurso, recurso humano não falta, a Amazônia está muito bem servida
desses recursos. Os praças que servem na Amazônia são de primeiríssima
qualidade e não tenho nenhuma dificuldade em conduzi-los para que cumpram sua
missão. Às vezes fazem as coisas antes mesmo de eu determinar, sempre na
direção desse patrimônio imenso, que é a Amazônia, legado que nossos
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antepassados nos deixaram e que não temos o direito de entregar ou não defendê-
lo. Temos de desenvolver e defender a Amazônia.
O grande problema daquela região é o desconhecimento. O maior risco que a
Amazônia corre, de ser internacionalizada, é uma constatação que existe,
pretendentes ninguém inventou, o Presidente Mitterrand falou, todos escutaram, Al
Gore e outros falaram da cobiça sobre a nossa Amazônia. O único risco que
corremos é se o Brasil não tiver a consciência de que a Amazônia é brasileira. E
todo o Brasil, não só os amazônidas, deve se preocupar com a Amazônia.
Creio que a Amazônia será mais defendida, do que já é, quando todos
brasileiros tiverem consciência do que a Amazônia precisa, que é desenvolvimento e
ocupação.
Quanto à Deputada Janete Capiberibe, S.Exa. referiu-se à fronteira do Brasil
no Amapá. Realmente, aquela fronteira nos preocupa um pouco porque divide com a
França, país de Primeiro Mundo, e ali está havendo uma inversão. Em todos a
Amazônia o lado brasileiro é mais desenvolvido que o outro, ali é ao contrário. Como
é ligada a um Pais de Primeiro Mundo, a Guiana francesa está com sua fronteira
mais vivificada que a nossa, o que é uma preocupação. O Exército como um todo já
constatou esse fato e em Tiriós estamos colocando um pelotão. Acredito que no
futuro teremos de colocar outro pelotão um pouco mais ao sul de Clevelândia do
Norte, em área em que a Guiana francesa desenvolve uma comunidade muito
grande e do lado brasileiro não tem absolutamente nada. Os reconhecimentos de
fronteira feitos pela companhia de Clevelândia do Norte são realizados uma vez por
mês, de dois em dois meses, o que é muito pouco, creio eu, para nossas
necessidades. Entendo que ali já cabe uma organização permanente.
A Polícia Federal no Amapá dispõe de 36 homens. O Exército, em relação a
esses crimes transnacionais tipificados por V.Exa., tem a responsabilidade de dar
apoio logístico e de inteligência para a Polícia Federa. Estamos fazendo isso, mas
com 36 homens a Polícia Federal tem muita dificuldade em pedir esse apoio porque
eles precisariam, em primeiro lugar, aumentar o efetivo
Agora, o apoio do 3º BIS será sempre dado quando a Polícia Federal pedir
porque com a sede em Macapá e a Companhia de Clevelândia do Norte dispomos
de 550 homens mais ou menos, número razoável para o Estado do Amapá hoje. O
problema maior está na dificuldade da Polícia Federal em elementos.
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Creio que respondi aos Deputados Jair Bolsonaro e Janete Capiberibe. Agora
vou responder à Deputada Maninha.
A cobiça pela Amazônia é uma constatação e já expus meu pensamento
sobre isso. Essa operação da França no Brasil nós acompanhamos, mas ela foi
frustrada. Ela se iniciou e já no seu segundo dia estava frustrada porque vazou
informações. Os elementos que estavam conduzindo a Senadora Bittencourt
também têm informações e ficaram sabendo que a Polícia Federal e o Exército já
tinham conhecimento da presença deles e abortaram a operação. Acredito que nem
entrou no Brasil porque o barco que conduzia a Senadora estragou um pouco antes
de Ipiranga. Vasculhamos toda a área em operação pente fino por mais de 10 dias,
junto com a Polícia Federal, e não encontramos nenhum elemento das FARC, claro
que ali tem muitos colombianos, é fronteira com a Colômbia, existe pescadores,
comerciantes, mas caracterizado como FARC não encontramos nada. Foi uma
operação frustrada no segundo dia da sua execução.
Também não chegou ao meu conhecimento a operação de seqüestro do
Sendero. As revistas Veja e Istoé chegam à Amazônia um pouco atrasadas, talvez
por isso não tomei conhecimento.
Sobre a transferência da 2ª Brigada de Infantaria para a Cabeça do Cachorro,
em São Gabriel da Cachoeira, é um conceito de emprego de brigada, de barrar uma
direção estratégica. A 1ª Brigada de Infantaria de Selva está barrando duas direções
estratégicas, uma que vem da Venezuela, através da BR-174, e outra que tem como
eixo básico o Rio Negro, a noroeste. Como está barrando duas direções estratégicas
está fora do nosso conceito de Brigada. A transferência da Brigada para São Gabriel
da Cachoeira atende a esse conceito de emprego de Brigada, além daquilo que já
falei de formar reservistas para a estratégia da resistência.
A pergunta do Deputado Amauri, a quem solicito seja portador de um abraço
ao Deputado Enéas, que esteve conosco na Amazônia, é um nacionalista que nos
empolga pelas suas convicções de nacionalismo, prende-se à questão da Disuasão
Estratégica das Forças Armadas.
Realmente, a estratégia da resistência prende-se exatamente a essa
Disuasão Estratégica. Pelo fato de ter sido criada há pouco mais de 5 anos, nossas
forças ainda estão agindo isoladas. Por enquanto essa estratégia da resistência está
no âmbito do Exército, mas terá de ser ampliada para a Marinha e particularmente
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para a Força Aérea, que poderá nos ajudar muito, assim como a Marinha com os
fuzileiros navais.
Precisamos dispor de uma estratégia que custará caro a qualquer sociedade
que tentar uma incursão na Amazônia. Qualquer país de Primeiro Mundo terá de ter
consciência de que se tentar alguma coisa contra a Amazônia terá perda de vidas
que talvez a sua sociedade não queira pagar. É mais ou menos dentro desse
conceito que desenvolvemos essa estratégia, que está bastante desenvolvida. Creio
que já sabem que pagarão uma moeda bastante cara se tentarem ocupar a
Amazônia. É a Disuasão Estratégica que usamos na Amazônia.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Muito obrigado, General
Cláudio Barbosa de Figueiredo, Comandante Militar da Amazônia, foi um prazer
muito grande recebê-lo na nossa Comissão e pode estar certo que atendeu a 11 mil
pessoas carentes nessa região da Amazônia, numa operação que custou apenas 5
milhões. Concordo plenamente com o Deputado Jair Bolsonaro, que é nossa grande
voz em defesa do Exército, e acho que estamos numa briga muito boa, general.
V.Exa. precisa vir mais vezes aqui, sua presença é por demais necessária, o
Exército brasileiro, assim como as outras forças que compõem as Forças Armadas,
e vamos recebê-lo sempre de braços abertos. Cumprimentamos V.Exa. pela beleza
de explanação e pelas pessoas que o acompanham, estamos aqui com muitos
generais, General de Divisão Jarbas Bueno, General de Brigada Renato Joaquim
Ferrarez, General de Brigada Ferrarese e o General de Brigada José Calazans de
Carvalho.
Agradeço a todos as presenças e convoco para o dia 7 às 16 horas reunião
ordinária.
Está encerrada a reunião.