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DEMO&RAPHIA E HY&IEN E DA
CIDADE DS BRAGA (BREVE ESTUDO)
DISSERTAÇÃO INAUGURAS APKE8ENTAPA Á
JCSCOLA MEIHCO-CIliUUGICA DO PORTO
/nh 3MC
BRAGA I M f K B N S A C O M M E R C I A L
Jíiia NOVÍI de Sousa, 117
1902
I H N M N t t l HïlilEI M GfDAD» I BRAGA
( B R E V E E S T U D O )
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ESCOLA MEDÍCO CIRÚRGICA DO PORTO DIRECTOR
A n t o n i o J o a q u i m d e M o r a e s C a l d a s
LENTE SECRETARIO
C L E M E N T E JOAQUIM DOS SANTOS PINTO
LENTES OATHEDRATICQS
1." Cadeira—Anatomia descriptiva c geral Carlos Alberto de Lima.
2." Cadeira—Physiologia . . . . Antonio Placido da Costa. 8." Cadeira—Historia natural dos me
dicamentos o matei ia medica. . Illydio Ayres Pereira do Vallc. &.' Cadeira—Pathologia externa c the-
rapeutica externa Antonio J. de Moraes Caldas. 5." Cadeira—Medicina operatória . . Clemente J. dos Santos Pinto. 6.* Cadeira—Partos.doenças das mulhe
res de parto e dos recem-nascidos Cândido Augusto C. de Pinho. ?»* Cadeira—Pathologia interna e the-
rapeutica interna Antonio de Oliveira Monteiro. 8." Cadeira—Clinica medica . . . Antonio de Azevedo Maia. 9.* Cadeira—-Clinica cirúrgica . . . Roberto 15. do Rosário Frias .
30." Cadeira—Anatomia pathologica . Augusto H. d'Almeida Brandão. i l . " Cadeira—Medicina legal c toxico
logia . . . . . . . . Maximiano A. d'Olivoira Lemos. 12.* Cadeira—Pathologia geral, semeio-
tica e historia da medicina . . Alberto Pereira Pinto d'Aguiar. Ï3 . a Cadeira—Hygieneprivadaepublica João Lopes da Silva M. Junior. Pharmacia Nuno Freire Dias Salgueiro.
LENTF.S JUBILADOS
•e„„„s„ v l José de Andrade (íramaxo. heeçao medica r» i • << i T 1 I l)r. Josc Carlos Lopes» c„ „» \ Pedro Augusto Dias. heceao cirúrgica T» » £ i A J U .
! Dr. Agostinho A. do Souto. LKNTES SCBSTITUTOS
o « „ i- _ I José Dias d1 Almeida Junior. Secção medica . , , . . Ma(y9l,,3pa
Alfredo Magalh »es. o i Luiz de Freitas Viegas. Secção cirúrgica , , ò
v D ( vaga. LENTE DEMONSTRADOR
Secção cirúrgica Vaga.
A Escola não responde pelas doutrinas expendidas na dissertação o enunciadas nas proposições.
(Regulamento da Escola, de 23 de abril de 1810, artigo 155."J
AS MINHAS TIAS
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Jà*íl myihpSi i r m ã s i ^ «BR) "■& «ÈS ~í&L mk W"
AOS M E U S I R M Ã O S
AOS MEUS CUNHADOS
, MIGUEL ALVES COSTA
MANOEL CARVALHO
A. S I O E M O B K * TOTE, TtUXZXr X » A W B X J I Í I I O
ANTOHIO JOAQUIM DE MATTOS .
Á MINHA MADRINHA
B. Josefa das geres jporeira de jjattos
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ÁS' MINHAS PRIMAS
Aos meus primos
AOS MEUS PKIMOS
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>°J E Ex . pMR.
ISCONDE DE T R A 1 A O
ASS M i l l 4HIê®
AO MEU PRESIDENTE DE THESE
O Tr.L.'110 E Ex . m n S N R .
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Cedendo á imposição inquisitorial d'uni regulamento, linha de escrever um trabalho; mas, como não ha medes que bens não traga, na dureza de tal lei, deparei com um ponto sym-
pathico, uma scenlelha fulgurante de liberdade: faculdade ampla em escolha d'assumpto. Pensei em coisas que interessassem á terra que me deu o ser, e logo, sem me occorrer a lembrança, sequer, de dífficiãdades que desde logo apparecenam, agarrei-me, como um naufrago, a um trabalho nunca feito: a demographia e hygiene da cidade de Braga que seria, pois, a minha taboa de salvação.
Mãos á obra e, com a leviandade, mas boa vontade, de quem pela primeira vez escreve, cego pela fascinação dum trabalho que se me afigurava interessante, não vi, que, logo de começo, tal assumpto se me antolharia complexo.
Percorro as residências parochiaes da cidade, paços do concelho, secretaria do cemitério etc., á busca d'estatística, e só passado um mez, pela analyse difficil dos livros de registro onde os lançamentos são feitos ao arbítrio de quem os registra, consegui estar de posse de grande amontoado d'algarismos. A boa vontade tudo venceu. Com, simplesmente vinte dias mais-para submetter á technica a estatística, longe de homens, experimentados n'este assumpto, que me guiassem e, ainda para requinte de dífficuldade, alguns afazeres clínicos, vê bem o illus-tradissimo jury que vae julgàr-me, quão deficiente e mal amanhado deve estar o meu trabalho. E não é isto modéstia, é unies a consciência nítida do que vale tal dissertação.
Terá quando muito o valor de chamar a attenção dos competentes, para este assumpto, e mostrará a minha boa vontade em servir esta terra.
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Postas estas refle-eões cu-npre-me patentear o meu profundo reconhecimento perante os exc.""" snrs.: José Gomes da'Silva Mattos, muito illustrado ex-secretario da camará, revs, parochos das freguezias da cidade, João Pereira de Castro, diqno e intelligente guarda-mór do cemitério, Br. Gaspar Vilhena, intelligente e zeloso secretario actual da nossa camará e Visconde de FraiSo, muito digno e hábil administrador do concelho, que tão bizarramente puzeram á minha disposição todos os livros de que carecia para a feitura d'esté trabalho e muito em especial o meu querido mestre, notável mathcmatico e eminente professor decano do nosso hjceu, o em.m snr. Dr. Pereira Caldas, que, apezar de se achar um pouco doente, acolheu sempre com. a melhor vontade os meus pedidos d'explicaçao de vários pontos; sobre os quaes me deu noções das mais valiosas.
Tratei ele fazer a estatística de casamentos, nascimentos e óbitos do período dennal 91—900, colhendo, ao mesmo tempo em materia obituária, o rol das doenças infecciosas que fizeram victimas no quadrennio 94—97, e, soccorrendo-mc dos censos do reino de 78 e 90, consegui confeccionar um trabalho dividido em quatro capítulos: composição censitária-demographia estática:—, movimento da população—ãemograph ia dynamica—, mortalidade e hygiene. O primeiro capitulo dá a anatomia do' agregado, o segundo a sua ph/siologia e o quarto a sua paralogia, d'onde se tiram illações que conduzem á pista da prophij-laxia. Tencionava apresentar um capitulo sobre meteorologia da cidade de Braga e para isso me dirigi ao collegia do Espirito Santo, único logar em Braga onde se fazem observações; infelizmente essas Observações não foram enviadas á data em qjte mandei imprimir este trabalho, não podendo porisso apresen-
ta-lqs. Aqui deixo firmado o meu reconhecimento aos illustres professores do mesmo collegio padre Kenf e irmão Ireneo, que, muito obsequiosamente, se prestaram a satisfazer tal pedido.
Sem a estatística demologica não pôde avaliar-se com segurança do hem ou mal estar dfum povo, do seu crescimento phj-siologico, da sua illustração, emfim, do seu estado social e sanitário. Só a hygiene é capaz de mostrar qual o mal de que enferma um povo, qual a causa ou causas d'essa enfermidade e qual o remédio. Ficam assignaladvs no meu trabalho pontos interessantes, que sem a estatística passavam despercebidos e que só ella era capaz de fazer vir a lume, taes como: o anal-
phabetismo mais restricto em. Braga que no Porto, uma mortalidade muito acima da natalidade d'onde resulta um deficit annual que a immigração tem de cobrir, uma baixa de 91 para cá nos três elementos demoticos, mípcialidade, natalidade e mortalidade etc. Supponho que a impressão de toda a gente, como a minha, era de que succedia precisamente o contrario.
Quer dizer, um povo que queira ter-se na conta de civilisa-do, tem de fechar contas de quando em quando com a estatística.
Setembro de 1002.
3
Composição censuaria-l
O recenseamento cia população em Braga dado pelo censo cie 78 foi cie 20:258; o censo de 90 accusa a cifra 23:089, marcando assim uma differença positiva de 2:831 habitantes, <o que reparte uma media annual de 2G4 almas. Calculando a taxa de crescimento por um processo que adiante exporei, esta sae-nos egual a 11,4 no período intercensnário. Com quanto abaixo de Lisboa o muito mais do Porto, cujas taxas furam no mesmo período respectivamente 17,0 e 21,2, estamos comtudo acima do continente, cuja taxa foi de 8,8, e muito acima do districto, cuja taxa foi apenas de 4,6. ÈdQ deve pensar-se porém, que esta taxa relativamente elevada seja devida a um auto» crescimento cia população bragueza, deve antes crêr-se ser ella em parte obra de uma immigração que accorre â cidade pôr os seus braços ao serviço do commercio e industrias. A cidade, em regra, é um núcleo d attracção sobre a zona suburbana e mesmo extra-suburbios; é o que se dá com a cidade de Braga- a ta-bella abaixo, dando conta do agrupamento da população por naturalidades, abona o asserto atraa.
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F o g o s . - O numero de fogos dado pelo censo de 90^é de 4-760 o que dá uma media de 5 habitantes por casa; nâ> ha empilhamento. E ' verdade qne a destrinça daria nra numero muito acima da media n'alguns bairros pobres da cidade; comtudo esse numero fica, de certo, muito aquém do que do calculo gaitaria para idênticos bairros do Porto, aonde o syste-ma antigo de construcções operarias, excepcional em Braga, e o das ilhas. Agrupe-se a população da cidade de Braga segundo o sexo, estado civil e instruoç&o, e obteremos assim a tabeliã I.
S e x o - — Pela leitura da tabeliã I constatasse que o numero de fêmeas 6 superior ao dos varões, o que de resto 8 regra no reino e tem sido já assignalado para todas as nações em que se faz estatística ; a proporção de varões por mil fêmeas é em Braga de 860.
E s t a d o o i v i l . —- A distribuição dos habitantes da cidade"segundo o estado civil, é no censo de 90 a seguinte: o grande peïotao é dado pelos solteiros e solteiras ; os casados estão para os solteiros na relação de 1|3; os viúvos são em muito menor numero: por mil habitantes 1(5,1 varões e 4G,8 fêmeas; quer dizer, quem esteve no segundo estado não pôde viver celibatário ; por isso os viúvos ou casam novamente ou saltam ao quarto estado. As viuvas coitadas tem muito menos procura._
Merece comparar-se Braga com o Porto, Lisboa e Continente em materia de estado civil, para d'ahi inferir suas condi-cções de desenvolvimento, pois um povo quanto mais casa mais cresce. O quadro que segue, apresenta as taxas roíeridas a mil habitantes.
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cima, e viúvos. perde.
Braga tem pois mais solteiros e menos casados que o Continente. Lisboa e Porto; este facto que briga com o feitio religioso da cidade, colioca esta em condicções muito inferiores de desenvolvimento. Se não fosse a taxa satisfactory da immigraySo que adianteapresento, Braga estacionaria ou mais certo definharia. Vitivos tem menos que Lisboa e Porto, e um pouco mais que o reino.
_ Não posso fazer, como intentava, um; distribuição por eclades, dado fundamental em demographia sanitaria, em virtude do censo abarcar, sob este ponte de vista, a população do concelho não fazendo destrinça por freguezias.
Este facto é tanto mais para lamentar, quanto é certo que o agrupamento dos habitantes segundo o estado civil e a instrucção, combinado com a distribuição por edades, resultava em dados muito mais interessantes e sobretudo taxas muito mais rigorosas, pois a referencia era então feita a habitantes em condicções idênticas. Assim a taxa do casados, em vez de avaliada em referencia a mil habitantes solteiros, seria comparada a mil habitantes solteiros mas casadoiros, isto é, de 15 anhos
Mas. . . reza o dictado : onde não ha, el
I n s t r u c ç ã o . — Attenta a circumsfancia de ser Braga a terceira cidade do reino, e portanto em condicções d'influxo civihsador abaixo das duas capitães, o seu analphabetismo c relativamente pequeno, pois somos um pouco menos letrados que Lis
86
boa, é verdade (525 por mil habitantes), mas um pouqvvito mais que o Porto onde só lêem 448 por mil. Em Braga por mil habitantes sempre lêem 460. No grupo dos que lêem mas não escrevem a taxa é respectivamente para varões e fêmeas de 8,4 e 15,5 ; aquelles devem corar perante o numero quasi dobrado das suas irmãs ; mas como desforço lêem e escrevem 248,8 varões por 187,4 fêmeas, o estas n.o grupo dos analphabètes avan-tajam-se ao macho. Em instrucçao a estatistica bracarense sur-prehendeu-me agradavelmente.
N a t u r a l i d a d e . — O maior numero d'habitantes é do concelho 782,8. O districto dá numero rasoavel 121,1; o paiz e o estrangeiro dão pouco: 90,5 e 14,0. Comparem-se estas taxas com as do Continente :
Por OjOO hab. (Naturaes do próprio conccího de residência . 890 iD'outro concelho, do mesmo districto . . . 42
Continentew)c qualquer outra procedência do paiz. . . CO (Estrangeiros 8
Vemos qtie a iramigração do districto é muito superior a idêntica taxa do continente; este. elemento, característica das cidades de comtnercio largo e industria activa, faz aproximar Braga dos grandes centros. A sua potencia d'attraeçao faz-se sentir de preferencia no districto ; a cidade tem condicyões de progresso; os estrangeiros é que afluem pouco.
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M o v i m e n t o d a p o p u l a ç ã o —II
«Toda a communidade ê um turbilhão em continuo moto, & semelhança da roda nutritiva d'uni organismo vivo. Todos os dias se geram novas partículas do aggregado, assim como todos os dias se destroem. Tal é a funcção radical e primordial da physiologia popular—nascimento e morte, por sua natureza registráveis estatisticamente.» (D&mogra-phia e. hygiene da cidade do Porto—Ricardo JorgeJ.
Como muito bem diz o illustre professor, se o óbito abate o nascer levanta e como este só medra nos paizes civilisados com a febre do casar, nascimento casamento e óbito serão os elementos basilares da demographia clynamica.
C o m p u t o d a p o p u l a ç ã o . — Estancio publicado o censo de 90 o ainda em confecção o de 900, incidindo
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a minha investigação estatística no período décennal de 91 ;i 000 tinha, para avaliar as taxas referidas a mil habitantes, de calcular a população annual de Braga para cá do anno de 90. Ora, como as populações crescem em progressão geométrica e não arithmetica á maneira do juros simples, mas de juros compostos, soccorrime da formula (1fr) =— adoptada hoje em estatística demographies e d'onde se deduz com facilidade £' , conhecidos jr_ população do ultimo censo o _» indice do crescimento. Este modus facienii suppòe que o crescimento se mantém a partir de 900 na media de 78 a 90. Tal não succède e só o censo de 1900 virá corrigir o erro. A tabeliã II dá o resultado obtido.
TABELLA II
População media annual de Braga calculada sobre os censos
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Censos Taxa geométrica \ por ÒjOO almas I
1—1—78 20258, í 1—12—90 23089 11,4 j
I 1891 . . . 23352 1896 . . . 24723 j 1 1892 . . . 23618 1897 . . . 25005 § I 1893 . . . 23893 1898 . . . 25290 I I 1894 . . . 241G7 1899 . . . 25578 S I 1895 . . . 24444 1900 . . . 25870 I
As cifras censuarias adoptadas, e consequentemente todos os números d'esta serie que sobre ellas foram calculados, representam o que em linguagem demologica se chama população de facto. Esta é o total das pessoas presentes no logar do recenseamento no próprio momento, em que elle se réalisa.
As estatísticas sobre casamentos nascimentos e óbitos foram por mim directamente colhidas dos respectivos livros de registro, trabalho árduo bastante para quem, pela primeira vez,
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compulsa trabalhos d'esta ordem. Emfim o resultado colhido, com quanto pequeno pela exiguidade de tempo e deficiência d'espirito de quem escreve, vale bem o sacrifício dispendido.
C a s a m e n t o s . — O modo habitual de fazer a estimativa dos casamentos consiste em reduzir as cifras do respectivo rol annual á proporção de mil habitantes ; esta relação dá o que se denomina taxa nupcial bruta. A tabeliã III apresenta as cifras nupciaes de Braga e respectivas taxas do decennio 91 a 900.
, T A B E L L A I I I
Casamentos e taxas nupciaes
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A taxa mais elevada foi de 7,7 em 1892, e a mais baixa 5,7 em 1899. De resto a nupcialidade em Braga, á face da tabeliã, baixa de 91 para cá.
Este phenomeno demographico encontrase também nas taxas nupciaes do Porto, Lisboa e Continente, e já Bodio_ no seu Confronti de 94 o assignala para a maior parte dos paizes
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europeus no ultimo quinquénio da década passada, Comparemos a tabeliã III com tabeliã idêntica do Porto, Lisboa e Continente e obteremos :
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Constatase pela leitura da tabeliã IV que o Porto 6 no paiz a terra mais casamenteira, vinclo depois Braga, a seguir o Continente e por ultimo Lisboa.
No paiz já oceupamos lugar bonito. Lisboa, terra de população fluctuante muito grande, e onde, em homenagem á etiqueta e ao andar bem posto, se sacrifica o menáge domestico, casa pouco. O confronti de 94 dá muito acima de nós os povos slavos, germânicos e bretões ; ainda a França e a Italia, e abaixo de nós só a Escandinaria e a He^panha 5,6. A nossa taxa nupcial bruta precisava para ser correcta de referirse a mil habitantes mandáveis, isto é solteiros dos 15 annos para cima e viúvos pois que só estes, é que podem casar ; mas como o censo não dá a distribuição etária dos habitantes de Braga em separado, facto que apontei já atraz, a correcção da taxa não pôde ser feita. Não posso em virtude da lacuna apontada calcular também o que se chama em linguagem demologica probabilidade de casamento.
E s t a d o c i v i l d o s N u b e n t e s . — Os nubentes em Portugal podem ser solteiros ou viúvos ; podem pois formarse quatro espécies d'unioes, consoante sao solteiros ou viúvos o noivo ou a noiva. A minha estatística discremina o estado anterior dos" nubentes, resultando na tabeliã IV comum total de 499 casamentos, referente ao triennio 93 —95. As cifras absolutas reduzoas a mil uniões.
TABELLA V Casamentos segundo o estado civil
E 1 " 1 " " " ' " " " ' " " " ' " " " 1 " " " " " U " '
Solteiros com Viúvos com i 1 ^ — — — " * ■ *
^, _. —'' 1
I SOLTEIRAS VIUVAS SOLTEIRAS VIUVAS
7 8 4
TOTAL i
! 1893 I 1894 1 1895
122 132 130
19 6
12
14 25 20
VIUVAS
7 8 4
162 171 166 1
37 59 19 499 1 j Por 0[00 Casamentos. 769,6 74,1 118,2 38,1 1000 1 Iluminura, : H mi iniiiiunmii .., ,,, :, . „„,„, ,,,,...-,, „„ ,.:,,.., ; , HUllilUfflltllHIIIIIMIIIIIHI UM II lllli II MU Will Hl III
44
O maior numero de casamentos è de solteiros com solteiras ; a seguir vem o. de viuves com solteiras ; o contingente de-nubentes ambos viúvos é o menor.
TABELLA VI
Nubentes segundo o estado civil
NOIVOS
De 1000 noivos, são
De 1000 solteiros, casaram-sc com
De 1000 viúvos, casaram-sc com.
NOIVAS
De 1000 noivas, são. . . . .
De 1000 solteiras, casaram-se com
De 1000 viuvas casaram-sc com .
i Solteiros. . 843,<> Viúvos . . 156,3
i Solteiras . 912,1 1 Viuvas . 87,8 \ Solteiras . . 7G9,2 j Viuvas . . . ' 2-13,5
j Solteiras . 887,7 ( Viuvas . . . 112,2 1 Solteiros . . 86(i,8 j Viúvos . . . 133,1 \ Solteiros . 6G0,7 ) Viúvos . . 339,2
Comparando as taxas da tabeliã V com as taxas nupciaes do Porto e continente obtivemos a tabeliã VII onde se nota uma discordância grande entre algumas das taxas nupciaes de Braga, e das do reino e Invicta.
45
T A B E L L A V I I
Taxas nupclaes segundo o estado civil e referidas a mil casamentos, de Braga, Porto e Continente
Porto. . Continente Braga.
SOLTEIROS COM VIÚVOS COM ROLTEIHAS
Por OfiO cas. VIUVVS
Por OfiO cos. S01.TKIIIA8
Pur OfiO cas. VIUVAS
Por OfiO cas.\
820.2 8503 769,6
64 4 49 8 74.1
85,6 712
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29.8 28.7 38,1
O Continente vem pois no alto em uniões d'ambos solteiros ; a seguir o Porto e no fundo Braga ; mas esta vem no alto nos outros três grupos de casamentos; o ponto em que mais se afasta do Porto e Continente é na ligação do viúvos com solteiras que attinge numero elevado ; a união d'ambos viúvos é aqui também mais farta do que no Porto e Continente ; em assumpto casamenteiro Braga é pois mais equitativa para os seus do que o resto do paiz.
É c l a d o f i o s I V i i h o n t c s . — Não se tem aproveitado na colheita estatística do paiz a edade dos noivos, dado demagraphico aliás muito interessante. O illustre professor Ricardo Jorge , ligando uma certa importância a esto elemento que introduziu o no seu Boletim, a partir de 94 , refere as edades dos nubentes do Porto. A edade dos noivos que se casaram em Braga, tratei de investiga-la no triennio 93—95 no respectivo livro de registro, e na tabeliã V I I I comsigo apresentar, sob tal ponto de vista, os nubentes braguezes.
46
TABELEA VIII
Máaãe dos Nubentes em Braga (18Í)31S!)5)
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TABELLA IX
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Muito mais d'uni terço dos noivos casa entro os 20 e 25 an-nos ; depois vem os de 25 a 30, e a seguir os de 30 a 35. E' pois entre os 20 e 35 annos que a maior parte dos noivos, mais de dois terços, se une pelos laços do matrimonio. Abaixo dos 20 casam muitíssimo poucos, como acima dos 50. São estas duas edades que fazem menos casamentos.
Das noivas quasi um terço casa dos 20 aos 25 ; até aos 20, casam quatro vezes mais fêmeas nubentes do que varões ; dos 25 aos 30, o pelotão das noivas é quasi um quinto ; a partir dos 30, decresce até para além dos 50, eJado e:n que casam apenas 22,0. Até aos 30 é pois que os casamentos de noivas mais abundam. Bodio formulou a regra de que nos Estados da Europa setentrional e central noivos e noivas são mais novos que nos paizes meridionaes, embora n'estes o desenvolvimento physiologico do organismo seja mais precoce. Com o Porto, que o illustre professor Ricardo Jorge observa não se avassal-lar a tal regra, está Braga. A casa Jynoiada da tabeliã é constituída por viúvos d'ambos os sexos que, nos livros d'assen-to da maior parte das freguezias, apparecem sem designação d'edade. Compare-se a tabeliã IX com idêntica do Porto, e teremos a tabeliã X.
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Os noivos d'ambos os sexos d'edade ignorada não influem na casados menores de 20, pois taes noivos sendo viúvos são mais velhos que 20 annos. As tabeliãs VII tí VIII estão lançadas de
m modo a jpèrmittir que se avalie a edade relativa clos contrahen-tes ; vejamos pois taes combinações. Os noivos de menos de 20 annos procuram as raparigas da mesma edade e depois as de 20 a 25 ; os de 20 a 25 dão preferencia ás noivas da mesma edade também, e depois ás menores de 20 annos. Dos 25 aos 30 os noivos procuram as fêmeas de 20 a-25; e d'alii para ci-ma a preferencia é dada sempre ás noivas de 20 a 30 annos, excepto além dos 59, edade em que os noivos procuram as maiores de 35 annos.
As noivas, antes dos 20, abandonam se aos noivos de 20 a 25, e depois aos menores de 20 ; dos 20 aos 25 as noivas procuram os varões da mesma edade, e depois escolhem os de 25 a 35 ; as trintonas entregam se aos noivos de 20 a 25 annos ; dos 35 aos 40 as moças ainda procuram os noivos de 25 a30; dos 40 annos em diante procuram antes os da mesma- edade ; comtudo, além dos 50, os noivos procuram 2,0 noivas menores de 20 annos. As mulheres, em edade tão madura, não procuram Jioivos abaixo de 25 annos.
N a s c i m e n t o s . — A estatística dos. nascimentos é fornecida pelo rol dos baptisados. Como estes em Braga se fazem em geral a partir de 8 dias a contar do nascimento, se-gue-se que tal lista apresenta números inferiores aos verdadeiros, pois que todos os nados que falleceram durante os primeiros oito dias da sua existência, não pesam no rol dos baptisados. D'ahi um erro na confecção da estatística de natalidade que, para ser correcta, teria de addiccionar-se de todos os nados fal-lecidos sem ir á egreja, o que se conseguiria só á custa de aturadissimo vasculho no rol da mortalidade. Pela minha parte, faltando me tempo para trabalho de tão demorada analyse, limito-me a apresentar uma estatística natal que se confunde com a lista baptismal. Lá fora o erro está remediado em virtude de lei que obriga a denunciar ao official do estado civil, sob comminação de pena, n'iira determinado praso, a nascença da creança.
Na tabeliã XT apresento as cifras natalicias e respectivas taxas de Braga, Porto, Continente o Lisboa para confronto.
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O i f r a s e t a x a s - — Em Braga a media natalícia annual no quinquennio 91—95 foi de 758,2 ; no quinquennio seguinte 96—900 a media annual foi de 7(38,4; este accresci-mo é apenas apparente, pois as taxas medias annuaes são, respectivamente para os dois quinquennios, 31,8 e 30,3 ; ha pois uma difforença negativa de 1,5 no segundo quinquennio o que denota que a natalidade baixou, ou que a população diminuiu, tendo sido o computo da população de Braga avaliado alto. Só depois da publicação do censo de 900 é que hade vêr-se qual das hypotheses prevalece.
De resto tal phenomeno demographies observa-se também no Porto e Continente, e só Lisboa apresenta phenomeno inverso : 2(3,6 no quinquennio 87—91, e 20,7 no de 92—-9(3. Besta saber, se esta ultima cidade mantém augmente de taxa no quinquennio 93—930.
Confrontando as taxas medias natalícias annuaes no quinquennio 91 — 95, de Braga, Porto, Continente e Lisboa, tabeliã XI , vê-se que a taxa media annual mais elevada ó a do Porto ; seguam depois em ordem decrescente Braga, 31,8, Continente, 30,5 e no fundo Lisboa, 20,8 apenas. Para esta ultima cidade já observamos atraz que a taxa nupcial era lambem a mais baixa ; ha pois concordância entre os dois phenomenos de-mographicos. As taxas medias annuaes da tabeliã, para ser correctas, deviam ser referidas a mil mulheres de 15—50 annos, única parte da população que pôde, como toda a gente sabe, conceber. Em virtude de.dehciencia nos censos do reino em materia etária de Braga, tal correcção que dava a taxa natalícia especifica não' pôde fazer-se.
I V a t a l i d a d o p o r s e x o s . — Em Braga, como no reino e em todos os paizes on le ha registro natalicio, nascem mais varões que fêmeas.
52
Portugal no quinquennio 86—90 dá a modia do 1076 varões por mil fêmeas; de 90 a 96 dá 1067. O Porto no quin-quennio 86—90 accusa 1083 varões por mil fêmeas; depois de 9 0 desce a 1057. Lisboa dá 1040 de 8 7 — 9 0 , 1 0 2 3 de 90 a 96. Braga no quinquennio 91—95 dá uma media cie 1052 varões por mil fêmeas, e no quinquennio seguinte sobe a 1057. O Porto, Lisboa e reino accnsam para o fim da década 86 a 96 uma quebra na nascença varonil; veremos se tal quebra se mantém depois do 96; Braga, pelo contrario, accusa para o final da década 91 — 900 um crescente de varões.
T A B E L L A X I I
Nascença comparada áos sexos
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/ 91-95—1052 Braga (91-900) 96-900-1057
N a d o s l e g f i t i m o s e í l l e g - i t í m o s . — A destrinça dos nados em legítimos e naturaes impõe-se, desde que o casamento em todas as nações civílisadas se poz como instituição social fundamental. O numero dos legítimos é sempre muito superior aos dos illegitimos. Aprecia se a relação da ille-gitimidade por comparança dos naturaos ao numero total dos nascimentos.
53
No Continente houve, no período 86—96, 128 illegitinios por mil nados. Esta proporção é superior á da maior parte da Europa. O Porto dá 252 illegitimos por mil nados; Lisboa dá 327; acima ainda da devassa Paris! Bragada no quinquennio 91—95, 148 naturaes em mil nados; no seguinte 96—900 sobe a 162.
Em rigor de teclinica estatística, legitimidade e ilegitimidade não devem exprimir-se em funcção uma da outra. Por i:so Bertillon propõe que os legítimos se confrontem ao total das mulheres casadas até aos 50 annos, e os naturaes ao total de solteiras o viuvas até á mesma edade. De novo lamento não poder fazer tal confronto, por o censo do paiz não dar a distribuição por edades dos habitantes de Braga.
TABELLA XII I
Nascimentos por sexos e legitimidade em Braga
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E' costume em demographia apresentar um grupo onde se encaixem todas as creanças que nascem mortas e que se de-
54
signam por nado-viortos, e outro onde se enquadrem todas as creanças que, nascidas vivas, apenas vivem instantes ou horas, e ás quaes Bertillon chama frnstra-niddas ou nado-movtos falsos. Comecei a vasculhar o registro do obituário infantil do anno de 18'JO, e deparei com um cabos de tal ordem que me foi impossível apurar alguma coisa de relativamente seguro sequer.
Desisti immediatamente.
Ó b i t o s . T i a l a n ç o d a p o p u l a ç ã o . — Ao terminar este capitulo do vwvimcnio depojmlnção apresentarei, duma maneira summaria, a mortalidade em Braga. E só assim, do confronto dos nascimentos com a lista obituária em qualquer região, se poderá avaliar o saldo positivo ou negativo, o lucro ou deficit. Este saldo positivo, é o que se chama crescimento physiologico. Umpaiz, qualquer cidade ou povoação crescem pois quando o saldo é positivo, e definha quando negativo, a não ser que o factor migratório intervenha depondo o que faltou em crescença physiologica. Tal 6 Lisboa. Outras vezes a lista natal excede muito a obituária mas parte do lucro emprega se na immigração, o crescimento é pequeno; 6 o que succède ao Continente. Mas ainda, se a nascença excede a mortalidade e a immigração depõe mais habitantes, o povoado cresce então enormemente; é o que se dá no Porto. Em Braga morrem mais do que nascem, tendo pois a immigração de tributar bastante á mantença e crescença da sua população. .
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1891-
1896-
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A tabeliã XIV dá os óbitos, nascimentos e respectivos saldos no Continente-, Lisboa, Porto e Braga. No Continente nasceram em media por anno no período do 1)1—95, 145:8(52 e morreram apenas 100:222 por anno também, o que dá um saldo annual de 45:640. Ora como o augmente annual medio deve ser de 33:516, isto depois do calculo da população annual computada sobre os censos de 78 e 90, a difference 12:124 gastou se na emigração.
A taxa obituária media do quinquennio é de 20,9 e a natalícia de 30,5; a difference 9,6 representa a taxa de crescimento natural.
No Porto a media natalícia annual no mesmo quinquennio foi de 5:202 e a mesma media obituária de 4:233; o saldo annual foi pois do 969; sendo a media animal de crescimento 2:408, veja-se qual não foi-o tributo da immigrayão ao Porto; nada menos de 1:499 em eada anno. A sua taxa obituária do quinquennio é 28,8, a sua taxa natalicia 35,4; a differenca 0,6 exprime a taxa do seu crescimento natural.
Em Lisboa a media annual natalicia ainda no mesmo quinquennio foi de 8:470, e a media obituária annual 8:538, o que dá um saldo negativo annual de — 68. Sendo a sua crescença annual de 4:244, toda esta cifra foi coberta pela immigrayao ! Lisboa custa em habitantes ao paiz os olhos da cara. A sua taxa obituária é de 27,0 por anno e a natalicia annual ê 26,8, o que dá uma difference negativa de—0,2 que representa a taxa do seu crescimento natural.
Braga teve no mesmo quinquennio uma media natalicia annual de 758 e uma media obituária de 839, o que' dá um saldo negativo de—81, superior ainda ao de Lisboa! Sendo a sua crescença annual de 218, custou a cidade ao paiz, n'este quinquennio, 299 habitantes por anno. A taxa obituária media annual foi no quinquennio 9Í—95, 35, 1; a sua taxa natalicia foi no mesmo période 31,8; o seu crescimento physiologico foi pois -3,3. Abaixo ainda de Lisboa! Horrorisa.
Em crescimento physiologico está no alto o Continente 9,6, vem depois o Porto 6,6, a seguir Lisboa—0,2 e por ultimo Braga—3,3! No quinquennio 96—900, a taxa de crescimento physiologico desce em Braga a—4,3. O crescimento physiologico em Braga é ainda inferior ao que eu presumia atraz, perante o numero elevado de solteiros.
57
O professor Ricardo Jorge assignai» na sua Demographia do Porto, que de 90 para cá as três parcellas demogenicas, casamentos, nascimentos e óbitos, teem soffrido quebra, d'onde infere que a população não tem avolumado na proporção indicada pelo censo de 90, peccando, por excesso, o computo da população calculado pela velocidade demogenica intercen-suaria.
Essa quebra que elle indica no Continente, Porto e Lisboa, constato-a eu também para Braga, onde, do quinquennio 91—95 para o de 9G— 900, a baixa foi a seguinte: a taxa na-talicia baixou de ,31,8 a 30,3; a nupcial de G,9 a G,G e a obituária de 35,1 a 34,G.
E ' lógico pois concluir, que o computo da população do Braga para cá de 90, é representado por numéros bastante elevados, não se tendo desenvolvido a população com a intensidade de 78 a 90; ou melhor a taxa de crescimento 11,4 do período intercensuario é elevada, pois presumo, que o censo de 78 dá cifras muito inferiores á realidade, porque ao fazer-se o censo, a que me refiro acima, uma boa parte da população de Braga, e naturalmente do resto do paiz, sem o menor vislumbre das vantagens sociaes e hygienicas da estatística foi sonegada, com o receio de que o recenseamento fosse medida do fisco tendente a lançar-lhe novos impostos. Por isso, tal censo não merece confiança absoluta.
Antes de concluir este capitulo convém frisar bem o seguinte ponto: as tabeliãs que o professor Ricardo Jorge na sua Demographia apresenta sobre natalidade e mortalidade, differem um pouco das que eu apresento. Assim as tabeliãs de mortalidade do Dr. Ricardo Jorge excluem os naclo-mortos; as da mortalidade em Braga não fazem tal exclusão. A's da natalidade adiccionou o mesmo professor as creanças mortas que não tinham passado pelo sacramento do baptismo, e que tinham fal-lecido desde o primeiro dia do seu nascimento ; as tabeliãs idênticas do meu trabalho exprimem apenas o rol dos baptisa-dos. D'aqui resulta que as taxas da natalidade em Braga, apresentadas atraz são um pouco inferiores ás que seriam se a correcção se fizesse; e as da mortalidade um poucochito superiores. Se tal correcção fosse feita o crescimento phyxiologico com quanto negativo, ainda, seria em Braga representado por números mais elevados.
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Qnizera fazer tal correcção, mas os livros da registro em Braga são de tão difticil analyse, e o tempo de que dispunha era tão pouco, que desisti.
Mortalidade-HI
Referindo as cifras obituárias a mil habitantes, obtem-se a taxa obituária bruta ou mortalidade rjeral. JE' o que consta da tabeliã abaixo aonde ponho em confronto as taxas obituárias de Braga, Porto, Lisboa e Continente.
A leitura da tabeliã XV dá-nos as taxas o cifras obituárias para o Porto, de 91—97, para o Continente, de 91 a 96, para Lisboa, de 91 a 96, e para Braga, de 91 — 900. Para o Porto a media annual de 91—95 foi de 4:233, que dá uma taxa media de 28,8 e a de 96—97 foi de 4:67õ que dá a taxa media de 24,4, inferior de 4,4 á primeira. Lisboa dá em 91—95 a media annual 8:538 d'onde resulta a taxa media 27,0; Braga dá em 91—95 a media annual 839 e a taxa media 35,1, e no quinquennio 96—900 dá a media annual 876 que redunda na taxa media 34,6, inferior á do quinquennio pretérito. O Continente dá a media annual 100:222 com a taxa media 20,9. Os Confronti de Bodio de 97 gizam as taxas obituárias medias das nações europeas no periodo 84—93. Russia 34,7, Hungria 32,2, Hespanha 31,9, a Romania 30,0, a Austria 28,8, a Baviera e a Saxonia 27,3, a Servia 27,2, a Italia 26,9, a Ailema-nha 24,6, a Prussia 24,1. Sendo a taxa media do Continente no periodo 86—96 21,6, (demographia do Porto) todas estas nações estão acima de nós e ainda a França 22,4, a Bulgaria 22,1, e a Grécia 21,7; estão abaixo a Bélgica, Suissa e Hollan-da 20,5, a Inglaterra 19,2, e a Suécia e Noruega 16,9. Estamos pois ao lado da Grécia. Braga em mortalidade está muito acima do Continente, e mesmo de Lisboa e Porto. A sua mortalidade c desbragada.
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Á tabeliã XV foi confeccionada com o total dos óbitos d'individuos residentes em Braga, e forasteiros; o mesmo succède aos grupos Porto, Lisboa e Continente. Ora o facto c que muitos dos mortos são, uns, indivíduos estranhos á cidade, e que a ella vêem, doentes já, procurar o hospital onde falleeom, outros, forasteiros endinheirados que, em especial no verão, aqui fazem estação de alguns dias ou mezes. E' verdade quo a mortalidade deve abranger estes dois grupos de mortos, pois só assim é comparável n população de facto que é a que se adopta hoje em estatistica, e como tal a que figura nos nossos censos; não obstante, não posso furtar-me á tentação de apresentar uma tabeliã onde risque as cifras e taxas obituárias da mortalidade em Braga, excluindo os d'outra residência.
Subtrahindo ao obituário taes estranhos, obtemos cifras mais reduzidas d'onde se extraliem as taxas da mortalidade residencial.
TAB ELLA XVI
Óbitos e taxas de Draga excluídos os estranhos á cidade
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39,8 \ 26,8 31.2 \ 31,0 28.3 \ 29,1 I
Esta taxa é pois muito inferior á que se refere á população ejfectiva ou de facto.
Depois de termos apresentado a mortalidade em Braga d'uma maneira geral, vamos fazer agora a distribuição das cifras obituárias por sexos, estado civil e edades, constituindo assim um capitulo de mortalidade especial. A tabeliã XVII giza a distribuição' dos finados segundo o sexo.
A unos Óbitos dos estranhos á Total dos óbitos A unos população da cidade. feita a svbtracção
1891 101 930 1892 79 633 1893 97 746 U91 115 686 1895 98 712
62
TABELLA XVII
Obituário de liraga por sexos (ÍSÍH-IÍ)OO)
1891 1892 1893 1891 1895 189C) 1897 1898 1899 1900
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VAItÒKS FÊMEAS 'TOTAL Media annual do 1."
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VARÕES FÊMEAS TOTAL VAHOES FEMF.A8 TOTAL g
513 3(58 412 430 380 4G5 551
518 344 431 305 430 439 518
1031 712 843 801 810 904
1069'
421,8
Media <n
417,6 839,4
annual do 2." inipieniiio
501,5
Poi
496,7 998,2 j
OjOO óbitos
471 371 379
398 382 409
809 753 788
VAllOES FEME AS TOTAL VAKOES FÊMEAS TOTAL | 471 371 379
398 382 409
809 753 788 447,4 429,2 876,6 509,9 489,3 999,2 I
S o x o . — M o r r e m mais varões que fêmeas; assim no quin-quennio 91—900 a mortalidade em Braga foi por anno de 421,8 varões e 417,6 fêmeas prefazendo um total animal de 839,4. Quer dizer, por mil fêmeas que falleeem, enterram-se 1008 varões. Reduzindo as cifras ao total dos óbitos, obtem-se 501,5 varões e 498,7 fêmeas, por mil mortos. No quinquennio seguinte, por mil, morreram 509,9 varões e 489,3 fêmeas. Por mil fêmeas morreram varões, no Porto 1012, no reino (86—90) 1034, em Lisboa (87—90) 1129.
K s t r u l o c i v i l . —• A distribuirão dos finados consoante o seu estado toi em Braga no anno de 1890 a seguinte:
Solteiros
Casados ,
Viúvos .
Fêmeas . . . 304 . . 127 |
Fêmeas Varões
. . 75
. . 51 1 Fêmeas 95 |
554
202
140
63
Os solteiros contribuem pois, com perto de dois terços; ós casados não chegam a um quarto, e os viúvos mal ultrapassam um sexto. Entre solteiros e viúvos morrem mais fêmeas que varões, e nos casados o inverso: mais varões que fêmeas.
E d a d e . — E' dado fundamental em estatistica apartar todos os mortos por edades. Em Braga esta apartaçao pôde fazer se, pois que o livro do registro obituário no lançamento das defiincções nota não só o estado civil como vimos atraz, mas também a edade dos finados. Infelizmente que a investigação etária pude fazela apenas para o anno de 1890, devido a exiguidade de tempo. A minha estatistica marca logar á parte ao primeiro anno de vida que é, como se sabe, o mais morrodoiro.
Em seguida conta de cinco em cinco, até aos vinte an nos o d'esté numero em diante o arrumo é feito por décadas.
TABELLA XVIII
Obituário de Braga por edades (18i)0) i i ini! í i !ntuin: : ini i i i ! i in[ i ; ! i » »" ' ""» ' " " " " " " i " 1 " ' » » '* i »'"■ » » ' " l < " Mlllllllllil mm n » mumiiíiitimufHuwinii
1 Varões Fêmeas Total
Poi • 0[00 óbitos
1 Edades Varões Fêmeas Total Varões Fêmeas Total :
01 117 120 237 121,6 124,7 246,3 5 15 64 63 127 66,4 65,4 131,8! 510 15 15 30 15,5 15,5 31,0"
I 1015 5 6 11 5,1 6,2 11,3. 1 1520 11 9 20 11,4 9,3 20,7 ;
I 2030 33 29 62 34,3 30,1 04,4 ! 1 3040 38 24 62 39,5 24,9 64,4 ! 4050 32 40 72 33,2 41,5 74,7 ! 5060 28 52 80 29,1 54,0 83,1 « I 6070 48 59 107 49,8 61,3 111,11 I 7080 44 53 97 45,7 55,0 100,7 I I 8090 20 30 50 20,7 31,1 51.81 I 90100 2 5 7 2,0 5.1 7
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A analyse da tabeliã XVIII mostra-nos que a morte ceifa de preferencia as creanças no primeiro anno da sua existência, e d'estas, mais fêmeas qua varões. Em seguida escolhe as de um a cinco annos onde mata mais varões. Vae depois aos velhos de sessenta a setenta annos onde mata mais fêmeas que varões.
D'aqui caminha direito aos velhos de setenta a oitenta annos onde melhor se entende com as fêmeas. As edades mais poupadas sâo entre cinco e dez annos, entre os dez e os quinze, e entre os quinze e os vinte. Os que vão a caminho do centenário deram no anno de 90 o contingente de sete mortos apenas. E' claro que a tabeliã XVIII , para dar cifras comparáveis entre si, devia ser pintada d'uma maneira muito différente.
Isto 6, os mortos de cada um dos períodos otários mencionados deviam ser referidos a todos os vivos da mesma edado d'oncle se tiravam então taxas perfeitamente confrontáveis que noS" mostravam qual o tributo pago á campa por cada edado. E' evidente. Se a tabeliã acima me diz que dos noventa aos cem annos morreram apenas sete individuos, não quer dizer que em proporção seja esta a edade mais poupada. Não. E' que n'esta edade os individuos são raros.
As cifras da tabeliã aproximam-se da verdade apenas nas creanças e nos adultos. Se d'estes morrem menos do que creancas, c que realmente estas são proporcionalmente aquellés, as que pagam maior tributo mortuário, teem menos resistência que aquellés.
A lacuna censuaria que atraz apontei já mais d'uma vez não me permittiu confeccionar tal tabeliã.
Vou agrupar todos os mortos em três grandes fileiras: creanças até aos quinze annos, adultos dos quinze aos sessenta, e velhos dos sessenta para cima. Eis o resultado:
Sendo 920 o total das defuncções no anno do 90, as creanças concorreram com muito mais d'um terço, os adultos não chegaram lá, e os velhos.ultrapassaram pouco o quarto. Em todos os três grupos os varões foram os mais poupados. Este quadro, com quanto não seja rigorosamente comparável com o do Porto que apresenta medias annnaes d'um quinquennio 93—97, merece comtudo confronto.
No Porto a mortalidade infantil é mais de metade, supe-
65
rîor portanto á de Braga; a dos adultos, com quanto pouco, ainda é superior á de adultos bracarenses. A dos velhos em Braga sobreleva á dos velhos no Porto. Em Braga como já disse os varões foram nos três grupos os mais poupados; no Porto os varões entre creanças e adultos soffreram mais monda que as fêmeas; entre os velhos deu-se o inverso.
C a l e n d á r i o c i a m o r t e . —A minha estatística de mortalidade foi feita de molde a vêr-se qual o numero de mortos em cada mez do atino. Desta maneira vê se com facilidade a influencia benéfica ou maléfica das varias'estações do anno sobre a nossa saúde. A tabeliã XIX dá a distribuição mensal do obituário em Braga.
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Braga, paga pois uma mensalidadi media de 73,7, correspondendo a uma diária de 2,4. O Dr. Ricardo Jorge, ao fazer o calendário da morte no Porto na sua Demographia, egtiala a media mensal a 100 correspondente a um obituário annual de 1200. Isto para melhor apreciação das cifras.
Servindo-medo mesmo engenho a respeito de Braga obtenho o que segue: mezes de maxima Agosto, 130, Julho, 120, e logo depois Janeiro com 107; estão ainda acima da media Outubro e Novembro ambos com 101; todos os outros estão abaixo, sendo os mais poupados Fevereiro, Abril w Maio. Dividindo o anno em trimestres, vemos que o 3.°, Julho, Agosto e Setembro, é o mais mortífero, 352; vem depois o 4.°, Outubro, Novembro e Dezembro com 298; a seguir o 1.°, Janeiro, Fevereiro e Março com 284, e por ultimo Abril, Maio e Junho com 264, o mais saudável portanto. A ordem mensal para a morte é a seguinte em escala descendente: Agosto, Julho, Janeiro, Setembro, Outubro, Novembro, Dezembro, Março, Junho, Maio e Fevereiro. Se traçássemos a curva da morte, o fastígio tocava em Agosto, e logo após descia em lysis até Fevereiro. O período estival é o mais mortífero. Sendo os decessos n'este período, obra de doenças de preferencia epidemicas, salta bem á vista, o atrazo hygienico da cidade. Sim, porque attente-se bem no seguinte: no inverno as doenças sãododominio do frio que attinge o apparelho respiratório d'onde a irrupção de pneumonias, bronchites, etc., portanto um pouco fora do alcance benéfico da hygiene.
Mas o mesmo não succède no verão; n'este período as doenças affectando de preferencia o tubo digestivo, dando lugar a febres typhoïdes, gastro-enterites etc., etc., dependem mais do contagio que do clima, resultam em problema cuja solução está dentro do campo da hygiene. Em materia sanitaria uma terra tem tanto mais progresso, quanto menor é o numero de victimas de doenças infecciosas. Haja em vista Londres onde a mortalidade n'um periodo d'annos relativamente curto baixou d'um numero muito elevado á taxa de 18,1, tal é a dada pela estatística de 1897. O Porto que está longe ainda de receber os emboras da hygiene, apresenta o seu fastígio mortuário só no periodo hibernal. O Continente apresenta o seu máximo de mortandade no periodo que vae de Outubro a Janeiro. A sua baixa mais intensa é nos mezes de Maio e Junho.
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A tabeliã XX numera os óbitos pelos différentes mezes do anno, durante o quinquennio 93—97. As creaneas são tributadas em uma mensalidade media de 32,5, correspondente a uma diária de 1,08. Egualando a nudia mensal a 10, que corresponde á annualidade 120, estão acima da media os mezes de Jullio, Agosto e Setembro, ficando os restantes abaixo. Quer dizer, em creanças, como na estatística de mortalidade geral, em Braga o período estivale o que mais caro fica em vidas. As cifras obituárias infantis, conquanto inferiores ás do Porto como vimos atraz ao distribuirmos os mortos por edades, seriam muito inferiores se as mães, tendo um bocadito mais d'amor aos filhos, os soccorressem da medicina. Mas não quasi toda a creançada pobre em Braga morre sem assistência medica; os soccorros são em geral o isto faz bem da visinhança. Vão para o ceu, dizem, e assim se livram d'um estorvo. Muito filho faz o pae pobre resa o dictado, e a dôr no momento da perda do filho é compensada com grande vantagem por futuro mais desafogado. Comtudo, se consta que autopsia vae ser feita ao pequenino cadaver pelo corpo de saúde, a revolta é imminente. Entendam-nos lá. E' um amor depois da morte. Sinceridade ou bypocrisia?
í\ão sei.
Hygiene- I V
Afisrurou-se-me interessar deveras este trabalho a conte-cção cl'uma lista, oncle chancellasse as doenças que fizeram a despeza dofunccional, n'um periodo de annos mais ou menos longo. Procurei recrutar no qnadrennio 94—97 todos os mortos por doenças infecto-contagiosas, em vista de só estas interessarem directamente a hygiene. A tabeliã que segue, abrange apenas mortos maiores de 8 annos, havendo contingente vasto, cuja doença não foi firmada no livro de registro por falta d'assistencia medica. Os menores d'aquella edade morrem de tal modo ao abandono, que em 1891 de 412 creanças, só morreram assistidas da medicina 1G0. Não figuram pois na tabeliã abaixo.
72
TABKLLA XXI
Obituário por doenças infecciosas (!tdí)7)
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1893 140 27 6 2 8 — —
1897 124 40 28 27 47 — — |
São estas as doenças prinoipaes de typo infeccioso que por vezes irrompem sol) forma epidemica, dizimando barbaramente bairros inteiros. Podia apontar ainda outras taes como orysipela, infecção purulenta, infecção puerperal etc., etc., mas sendo taes doenças, complicações de feridas, etc., não attíligiram nunca foros de doenças epidemicas—salvo a erysipela em enfermarias de cirurgia , o em vista de tal facto, e pela sua raridade actual em Braga, supprimias. De todas as doenças infecciosas da tabeliã acima, a mais mortífera em Braga é incontestavelmente a tuberculose. As outras emparelham se bem, nao no mesmo anno, ma^ em annos diversos. O anno de 9? foi o mais attingido pelas epidemias, figurando todas as doenças da tabeliã atraz, excepto a grippe e a diphteria, com numero elevado: 40 por mil para a febre typhoide; a gastroenterite figura com 28 por mil; a dysenteria com 27, e a variola com 47! Notese que estas taxas são avaliadas muito por baixo,
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desde que se attente em que orça por cerca de 300 por mil, o numero d'inclividuos que no quadrennio considerado morreram annualmente sem assistência medica. Uma grande parte d'estes, a maior talvez, vae pesar na casa da tuberculose. E' verosímil; basta pensar que tendo esta doença, o condão de povoar o cérebro de suas victimas, desperanças e projectos por vezes os mais arrojados, o desgraçado tuberculoso, tomando a sua doença á conta d'uma bronchite teimosa, é apanhado de chofre pela morte. Morre sem dar por ella; o resultado é pesar na casa dos fallecidos sem assistência. Mas ha mais. Um grande numero de mortos por bronchite, enterite chronica, pleure-sias, nao seriam tuberculosos? Inclino-me a admitti-lo. Não vieram a histologia e bacteriologia demonstrar que a quasi totalidade dos pleureuticos eram tuberculosos? Por certo que sim.
A autopsia dos mortos por bronchite e enterite chronicas não apresentaria d'uma maneira frisante lesões cuja natureza em seguida o microscópico iria desvendar, cancellando de tuberculosa? Tenho essa convicção. Lastimo não possuir tabeliãs da mortalidade distribuída segundo as doenças, do Porto e Lisboa para estabelecer o confronto. Tenho apenas a impressão de que a tuberculose no Porto faz um numero de victimas incomparavelmente superior ao de Braga, o que de resto não surprehende; é antes a derivada lógica do meio portuense, onde o aglomerado operário é denso, vivendo e m condicçSes as mais miseráveis de subsistência, e respirando constantemente umaatmosphera húmida epovoadad e germens mórbidos. Braga não tem a visinhançad'um rio a borrifar-lhe o ar, nem tampouco uma industria tão larga que empilhe o operariado em pequenos bairros, e todavia a tuberculose faz aqui annualmente um numero elevado de victimas sendo sobre o operariado que ella ceva de preferencia. E' que a desmoralisação, consequência lógica d'uma ignorância crassa porque saber 1er não significa ser illustrado, é tamanha que as noções sociaes as mais rudimentares de honestidade e hygiene não toparam ainda no cérebro fechado de tão retrogada populaça o menor reducto a que se acolhessem; e em abono d'isto, siga-se o operário desde o seu nascer até que presta o seu braço ao trabalho, e ver-se-ha como tal desmoralisação é a principal senão a única causa de tão horrorosa miséria. O filho do operário, quando nasce, traz escripto em lesões orgânicas bem evidentes o vicio physico e
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moral do sen progenitor. Sobre elle desce como o cutello assassino d'uma guilhotina o peso medonho d'uma heriditariedade mórbida. Oriundo, d'individiios que substituem ao bem estai' domestico e á escola a vida euebriante dá taverna, ondejogain, bebem e discutem por veies a dentro da sua ignorância os mais alevantados problemas sociológicos, oriundo de taos indivíduos dizia eu, sae oivado dos mesmos vicios, degenerado cada vez mais nasuecessão das gerações, acorrentado por tanto a grilheta do terrível morbus tuberculoso. Junte-se, a estadesmoralisa-ção das baixas camadas, a que campeia infrene nas altas camadas sociaes; o desprezo revoltantemente absoluto que os nossos poderes públicos teem sentulo sempre pelo operariado o senhor authentico, de direito mas não de facto, do bem estar das classes ricas; a protecção escandalosa que os mesmos governantes dispensam ao falsificador do género alimentício e ter-se-lia encontrado, a meu vêr, a causa do galopar vertiginoso da mortífera tuberculose. E' claro que, quando me refiro, em termos um pouco severos ao operariado, não abranjo o numero absoluto dos seus componentes; pois d'entre elles ha muitos que são trabalhadores conscienciosos e honestos, sacrificando o seu bem estarão de sua familia. Infelizmente esse numero que credita os mous mais rasgados encómios, comquanto grande em absoluto, é, relativamente á massa collossal do operariado, restrictamente pequeno.
C a l e n d á r i o « Ias ; d o e n ç a s i n f e c c i o s a s . — Nas tabeliãs d'esté sub-capitulo apresento uma distribuição mensal dos mortos por doenças infecciosas da cidade cie Braga, de maneira a saltar á vista, qual a epocha do anno em que taes doenças surgem e irrompem com mais violência.
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No anno de 1894 a tuberculose fez victimas em cifra egnal a l l 9 por mil; teve o sen apogeo em Fevereiro, e no resto do anno sobe e desce na serie mensal a seu bel prazer, de modo irregular, não se subordinando a regra alguma que lhe marque nma marcha definida; assim nas estações frias marca baixas como 7,1 em Janeiro, e altas como 25,5 em Fevereiro; na estacão quente sobe a lõ em Julho, e desce logo a fi,5 em Agosto. Ainda assim a tendência para alta parece fazer-se de preferencia nas mudanças estacionaes. Esta irregularidade obser-va-se de resto para as outras doenças chronicas.
As outras doenças infecciosas que n'este anno de 94 fizeram victimas são: febre typhoïde, gastro-enterite, dysenteria e variola; todas ellas fizeram victimas só na epocha estival e começo da outomnal, excepto a febre typhoide que fez victimas mesmo no inverno. A influenza apenas fez 2,1 por cento de victimas em Janeiro.
Em 1895 observa-se ainda irregularidade bastante, na linha do obituário por tuberculose, mas n'este période tal doença assignalou-se por um crescente de victimas desde Jnndio com 11,1, até Setembro com 28,5, afrouxando logo em Outubro, 20 por cento. A sua taxa annual referida a mil óbitos foi de 131. A sua sympathia este anno foi pela epocha estival. A febre typhoide fez victimas em Janeiro e Novembro apenas; a gastro-enterite reinou todo o anuo; a dysenteria escolheu a epocha outomnal assim como a grippe. A variola não victimou, e a diphteria matou apenas 2,7 isolados em Junho.
Em 1896 a tuberculose apresenta-se regularmente moderada de Fevereiro a Abril, e regularmente mortífera no resto do anno, com quebra muito sensivel somente em Julho e Novembro. A febre typhoide victimou todo o anno, menos em Fevereiro, Junho e Setembro, e apresenta a sua maxima em Março; a gastro-entorite deiiuncia-se por óbitos em Fevereiro, Março e Maio. A dysenteria dá casos esporádicos em Junho, e a variola mata em Fevereiro, Setembro e Dezembro.
Em 1897 a tuberculose mantendo-se um pouco alta na serie mensal, soffre duas quebras: uma notável em Janeiro 1,7, e a outra um pouco menor em Setembro G,G;oseu fastígio foi em Julho. "A febre typhoide é ininterrupta de Agosto a Dezembro com alta em Setembro, e tem baixas aO em Março, Abril, Junho e Julho. A gastro-enterite foi mortifera no verão e ou-
go tomno; a dysenteria foi n'este anno doença estival, com 1,8 desgarradas em Novembro. A variola teve quebra absoluta apenas em Fevereiro e Maio, e maxima mortuária em Dezembro.
No periodo 94—97 encontro pois a tuberculose sempre como mortifera durante todo o anno; a febre typhoïde encon-tra-se também sempre no calor, frio e estações intermédias; a gastro-enterite duas vezes no calor e no frio, uma só no calor, e outra no frio; a dysenteria não apparece em nenhum dos quatro annos nos periodos invernal e primaveral; é pois doença só do verão; a variola apparece também em todas as epochas fazendo comtudo o seu finca pé de preferencia no verão. A grippe é doença ao que parece só do ontomno; isto, bem entendido, no quadrennio considerado. As taxas mensaes são referidas a L00, e ao numero mensal de óbitos.
As illações que derivam do exposto atraz, suggerem-me apresentar de modo suceinto e maneira synthetica os desiderata que a hygiene tem a realisar em tão malfadada terra. A cidade de Braga está em condicções inferiores de desenvolvimento, como o patenteiam cl'um modo evidentemente triste a sua alta mortalidade e as taxas relativamente médiocres de nu-pcialidade e consequentemente natalidade. Falia alto a estatística em cifras tristemente eloquentes. Uma cidade que se ufana de ser a terceira capital do paiz, não tem para pejo nosso crescimento próprio. Tem, para fazer face á despeza com a campa e emigração, de soccorrer se parasitariamente do estranho. Se não importar gente, terá de descer á condicção intima d'al-deia, terá de ser riscada amanhã da lista cidadina. Dir-se-ha que importa, Lisboa como agregado humano vive só d'uma importação larga de vidas. Não, a comparança não lhe assiste. Se Lisboa não cresce á sua custa, não precisa de tal. Como centro de primeira ordem, terra de burocracia, commercio e industrias de grande actividade, é iman poderoso a exercer acção irresistível no resto do paiz. Sobejam-lhe os de fora. Os seus encantos de capital são tão bellos que fascinam o estranho a arder em febre de fortuna e prazer; porisso o provinciano procura com afan a cidade de Lisboa; e assim ahi se fixa, cria raizes que descem tão fundo, em solo tão feiticeiro, que não ha engenho ou sofisma que de lá o arranque. A immigra-ção é rio farto em curso vertiginoso a abastecer Lisboa. Não assim em Braga; terra pequena, sem encantos, com um com-
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mercio pequeno e uma industria frouxa, tem de contar consigo simplesmente, e não de ater-se aos de fora. Se a sua natalidade é baixa, eleve-a; se a mortalidade é alta cerceie-a. Se isto fizer, amanhã será terra de primeira ordem, verá o com-mercio e industria desenvolverem se vertiginosamente, sentirá correr-lhe nas veias um liquido apto a dar-lhe uma nutrição farta; crescerá emfim com uma pujança á altura de reparo e consideração. E como solver o problema? D'um modo extremamente fácil, e adoravelmente simples; soccorrer se da hygiene, e do bafejo quente e vivificador da caridade orientada pela ci-vilisação moderna, para prevenir e remediar o mal; e, de tal modo, a sua mortalidade baixará como por encanto, a sua natalidade subirá immediatamente. Para isso faça, mas a sério, a drenagem do seu solo por meio d'uma canalisação segura e moderna que conduza longe da cidade todas as escorrencias e immundieies que lhe inquinam o solo; acabe com o systema velho e retrogrado das fossas sem saída que fizeram epocha em tempos medievaes e que hoje são absolutamente condemnaveis pela infiltração do sub-solo a que dão lugar; faça um projecto para a area da cidade, de edifícios modernos, janellas rasgadas, luz a jorros, não permiltindo a nenhum proprietário, como se faz lá fora, edificar etn condições diversas das estatuídas em tal plano, de maneira a transformar Braga em uma cidade moderna; arraze bairros immundos e velhos da cidade, cujos moradores a morte arrasta impiedosamente de levada em epochas epidemicas; dê-lhe emfim grande copia de ar, agua é luz, olhando sempre com attenção para o viver miserável do operário, que as gerações vindouras abençoarão o seu sacrifício, usufruindo obra de tamanho vulto dos seus antepassados. Assim é que a doença se evita; será esta a obra grandiosa da hygiene.
Por outro lado crie a cidade de Braga creches e institutos aonde interne a creançada que em vagabundagem criminosa percorre as ruas da cidade, de maneira a fazer d'esses pequeninos germens do crime, cidadãos robustos de corpo e espirito para a espinhosa e árdua lucta pela vida; convém notar que em Braga alguns estabelecimentos de beneficência existem já.
Kemodele o ensino das suas escolas de maneira a infiltrar o cérebro das creanças dos princípios basilares da hygiene, amanhando-lhes o espirito com noções benéficas,
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que d'ellas faça esteios fortes do trabalho; crie um sanotorio para os seus tuberculosos de maneira a sequestra los á sociedade, com vantagem para esta que se furta ao contagio e para elles que lá so tratam; organise-se o operariado em associações com caixas de soccorros que garantam assistência medica aos associados doentes, provendo-os ao mesmo tempo de todos os moios que exige a sua subsistência, e d'esta maneira conseguirá amedrontar o morbus expulsando-o do seu seio. Tal a obra da civilisação. No dia em que isto realisar terá empolgado com justiça a consideração da sciencia; emqnanto o não fizer, não.
mM.
NOTA—As freguezias que deraíil «uUsidío estatístico paca o rfietí trabalho são ao tudo: S. Victor, S. Lazaro, IS.Jaàodo Souto, Sé, 8. Thia-go da Cividajae, Maximinos o Gondi/.alves, m seis primeiras formam o aggregado urbano, e a ultima, rural, ó annexa ;í penúltima.
PROPOSIÇÕES
A n a t o m i a - — A glândula mammaria do homem ó. um órgão representativo e não um órgão rudimentar.
I * h i s » i o l o g - i a . — 0 appendice ileo-cecal é um órgão rudimentar que aproveita só á cirurgia.
I * a t h o l o g - i a g e r a l . — O filho responde pelos vícios (lo pae.
A n a t o m i a p a t l i o l o g i o a . — Em psyehiatria conhece-se pouco das lesões causaes.
M a t e r i a m e d i c a . — Só viso o tonus.
P a t h o l o j í i a i n t e r n a . - Tremo perants uma autópsia.
P a t h o l o g i a e x t e r n a . — 0 carcinoma diffuse do seio não deve operar-se.
I V f e d i c i n a o p e r a t ó r i a . — A cura radical do hydrocelo pela reseccão da tunica vaginal só se impõe quando esta é carnitícada.
H . y g i e n e . — A estatística é o elememento basilar do seu critério.
O b s t e t r í c i a . — Podem prevenir-se, na maioria dos casos, as ophtalmias dos recem-nascidos.
M e d i c i n a l e g a l . — 0 substracto anatómico do nosso ideal d'honra, em assumpto mulheres, é o hymen d'estas.
Visto Pôde imprirair-so O IHrector
fitas cViãlmeida •. Moraes ioaldas