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    A - Consideraes Gerais:

    1. Algumas anotaes da orelha, por Eneida Maria de Souza (UFMG):A lio que se depreende deste livro se volta para a ausncia de sucessoresdos tericos dos anos sessenta e setenta, representados por Barthes,

    Todorov, Genette, entre outros, atravs da sensao nostlgica do autor aoeleger o ano de 1975 como o fim da teoria na Frana. Todas as homenagensso, portanto, rendidas a Barthes, que se destacou pela resistncia aoslugares fixos do saber e pelo questionamento sobre a precariedade e aconstante transformao das teorias.

    2. Antoine Compagnon engenheiro formado pela Escola Politcnica deParis e doutor em Literatura. Atualmente professor da Sorbonne e dauniversidade de Columbia.

    3. Lgia Telles salienta a importncia de COMPAGNON para o curso deRepresentao literria. Acrescenta, dele: de Aristteles a Auerbach no houvedescontinuidade no uso conceito de MIMESIS no pensametno ocidental. Auerbachainda entende MIMESIS como Aristteles o fazia.

    4. ver ARISTTELES: Potica, que a primeira sistematizao (oprimeiro tratado) sobre o que hoje chamamos de literatura (poesia) que se

    conhece. No Dicionrio de Termos Literrios, de Massaud Moiss (editoraCultrix), um grande nmero de palavras explicado a partir dessa obra deAristteles; O que hoje conhecemos como gnerosera chamado de espciespor Aristteles (p. 68: Potica); Aristteles no prope simplesmente a artepela arte (a autonomizao da esttica): (...) o poeta deve ser maisfabulador que versificador, porque ele poeta pela imitao e porque imitaaes. (p. 79: Potica). Portanto, o contedo muito relevante.

    5. Mimesis:p. 8 > [O relato do sacrifcio de Isaac] certamente deveser considerado pico.

    6. Mimesis:p. 15-16... > contraste entre lenda e histria.

    7. Quanto mais mimese, mais literrio, mais literariedade (formalistasrussos)

    B - Termos basilares/vocabulrio:

    1. Crtica literria, histria literria, teoria literria, teoria da literatura,literatura,

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    2. Mimesis= imitao; relao entre literatura e realidade; representao.(Aurlio): Mimese: 1. Ret. Figura que consiste no uso do discurso direto eprincipalmente na imitao do gesto, voz e palavras de outrem. 2. Liter.Imitao ou representao do real na arte literria, ou seja, a recriao darealidade.

    3. Representao/Representar:o mesmo que mimesis/imitar?. (p. 78)

    4. Poesia (poisis):a arte em geral; a literatura em geral? (p. 68)

    5. Epopia: v. pica: Gregoepiks; pos,palavra narrativa, poema,recitao. P. 181 (Dicionrio de Termos Literrios, de MassaudMoiss): ainda que se venha a provar a existncia de realizaes picasanteriores a Homero, com os seus poemas (Odissiae Ilada, sculo IX a.C.)

    que principia a histria dessa espcie de poesia. (...) Os Lusadas (1572)constituem a mais alta realizao pica dos tempos modernos. P.181// Apoesia pica deve girar em torno de assunto ilustre, sublime, solene,especialmente vinculado a cometimentos blicos; deve prender-se aacontecimentos histricos, ocorridos h muito tempo (...). p.184 / ler emMassaud Moiss.

    6. Narrativa: ( Dicionrio de Termos Literrios, de MassaudMoiss):Em crtica literria, o termo s vezes usado como sinnimo dehistria, ao, mas parece uma abusiva extenso semntica. Melhor ser fixar

    o vocbulo narrativapara a denominao genrica, e reservar a palavranarrao como designativo de recurso expressivo da prosa de fico, lado alado com a descrio, o dilogo, e a dissertao. P.356

    7. VEROSSIMILHANA: Unidade ou coerncia dentro da obra:personagens e enredo plausveis. // (Aurlio): ou verosimilhana: 1.Qualidade ou carter de verossmil [ou verossimilhante: 1. Semelhante

    verdade; que parece verdadeiro. 2. Provvel.];2. Liter. Coerncia interna daobra literria no tocante ao mundo imaginrio das personagens e situaesrecriadas. Verossimilhana XVerdade.

    CTrechos extrados do texto:

    INTRODUO

    O que restou de nossos amores?

    p. 12-13 > Por volta de 1970, a teoria literria estava no auge exercia um

    imenso atrativo sobre os jovens da minha gerao. Sob vrias denominaesnova crtica, potica, estruturalismo, semiologia, narratologia , ela

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    brilhava em todo seu esplendor. [...] Naquele tempo, a imagem do estudoliterrio, respaldada pela teoria, era sedutora, persuasiva, triunfante. \\ Esseno mais exatamente o quadro. A teoria institucionalizou-se, transformou-seem mtodo, tornou-se uma pequena tcnica pedaggica, freqentemente torida quanto a explicao de texto, que Lea atacava, ento,energicamente. P. 14 > Muitos voltaram-se para a velha histrialiterria pelo vis da redescoberta de manuscritos, como revela a moda dacrtica dita gentica.

    Teoria e senso comum

    p. 16 > No a tratemos como uma religio. A teoria literria no teria senoum interesse terico? No, se estou certo ao sugerir que ela tambm, talvezessencialmente, crtica, opositiva ou polmica. \\ Porque no do lado

    terico ou teolgico, nem do lado prtico ou pedaggico, que a teoria meparece principalmente interessante e autntica, mas pelo combate feroz evivificante que empreende contra as idias preconcebidas dos estudosliterrios, e pela resistncia igualmente determinada que as idiaspreconcebidas lhe opem. P. 17 > Em teoria, passa-se o temo tentandoapagar termos de uso corrente: literatura, autor, inteno, sentido,interpretao, representao, contedo, fundo,valor, originalidade, histria,influncia, perodo, estilo etc. p. 18 > Vinte anos depois, o quesurpreende, talvez mais que o conflito violento entre a histria e a teorialiterria, a semelhana das perguntas levantadas por uma e por outra nosseus primrdios entusiastas, sobretudo esta, sempre a mesma: o que literatura? \\ Permanncia das perguntas, contradio e fragilidade dasrespostas: da resulta que sempre pertinente partir das noes populares quea teoria quis anular [...].

    Teoria e prtica da literatura

    p. 21 > [...] a teoria contrasta com a prtica dos estudos literrios, isto , acrtica e a histria literrias, e analisa essa prtica, ou melhor, essas prticas,descreve-as, torna explcitos seus pressupostos, enfim critica-os (criticar separar, discriminar). A teoria seria, pois, numa primeira abordagem a crticada crtica, ou a metacrtica (colocam-se em oposio uma linguagem e ametalinguagem que fala dessa linguagem; uma linguagem e a gramtica quedescreve seu funcionamento). Trata-se de uma conscincia crtica (uma crticada ideologia literria), uma reflexo literria (uma dobra crtica, uma self-consciousness, ou uma auto-referencialidade), traos esses que se referem, narealidade, modernidade, desde Baudelaire e, sobretudo, desde Mallarm.

    Teoria, crtica, histria

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    p. 21-2 > Por crtica literria compreendo um discurso sobre as obras literriasque acentua a experincia da leitura, que descreve, interpreta, avalia o sentidoe o efeito que as obras exercem sobre os (bons) leitores, mas sobre leitoresno necessariamente cultos nem profissionais. P. 22 > Por histrialiterria compreendo, em compensao, um discurso que insiste nos fatoresexteriores experincia da leitura, por exemplo, na concepo ou natransmisso das obras, ou em outros elementos que em geral no interessamao no-especialista. A histria literria a disciplina acadmica que surgiu aolongo do sculo XIX, mais conhecida, alis, com o nome de filologia,Scholarship, Wissenschaft, ou pesquisa. \\ s vezes opem-se crtica ehistria literrias como um procedimento intrnseco e um procedimentoextrnseco: a crtica lida com o texto, a histria com o contexto. \\ Oparadoxo salta aos olhos: voc explica pelo contexto um objeto que lheinteressa precisamente porque escapa a esse contexto e sobrevive a ele.

    Teoria ou teorias

    p. 23 > Perguntar-me-o: qual a sua teoria? Responderei: nenhuma. E istoque d medo: gostariam de saber qual a minha doutrina, a f que precisoabraar ao longo deste livro. Estejam tranqilos, ou ainda mais preocupados.Eu no tenho f o protervus sem f e sem lei, o eterno advogado dodiabo, ou o diabo em pessoa [...]. p. 24 > A teoria da literatura umaaprendizagem da no-ingenuidade.

    Teoria da literatura ou teoria literria

    p. 24 > A teoria literria mais opositiva e se apresenta mais como umacrtica da ideologia, compreendendo a a crtica da teoria da literatura: elaque afirma que temos sempre uma teoria e que, se pensamos no t-la, porque dependemos da teoria dominante num dado lugar e num dadomomento. [...] Essas duas descries da teoria literria (crtica da ideologia,anlise lingstica) se fortalecem mutuamente, pois a crtica da ideologia uma denncia da iluso lingstica (da idia de que a lngua e a literatura soevidentes em si mesmas): a teoria literria expe o cdigo e a conveno alionde a teoria postulava a natureza. P. 25 > Como j se tercompreendido, utilizo-me das duas tradies. Da teoria da literatura: areflexo sobre as noes gerais, os princpios, os critrios; da teoria literria: acrtica ao bom senso literrio e a referncia ao formalismo. No se trata, pois,de fornecer receitas. A teoria no o mtodo, a tcnica, o mexerico. Aocontrrio, o objetivo tornar-se desconfiado de todas as receitas, de desfazer-se delas pela reflexo. Minha inteno no , portanto, em absoluto, facilitaras coisas, mas ser vigilante, suspeitoso, ctico, em poucas palavras: crtico ouirnico. A teoria uma escola de ironia.

    A literatura reduzida a seus elementos

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    p. 28 > [...] trata-se de resistir alternativa autoritria entre a teoria e o sensocomum, entre tudo ou nada, porque a verdade est sempre no entrelugar.Inbetween HOMI BHABHA STUART HALL

    CAPTULO I > A LITERATURA (a literariedade)

    A extenso da literatura

    p. 29 > O que torna esse estudo literrio? Ou como ele define as qualidadesliterrias do texto literrio? Numa palavra, o que para [o estudo literrio],explcita ou implicitamente, a literatura? P. 30 > O nome literatura ,certamente, novo (data do incio do sculo XIX; anteriormente, a literatura,

    conforme a etimologia, eram as inscries, a escritura, a erudio, ou oconhecimento das letras [...]. [...] Barthes renunciou a uma definio,contentando-se com esta brincadeira: A literatura aquilo que se ensina, e

    ponto final. Foi uma bela tautologia. Mas pode-se dizer outra coisa que noLiteratura literatura?, ou seja, Literatura o que se chama aqui e agora de

    literatura?. p. 31 > No sentido mais amplo, literatura tudo o que impresso (ou mesmo manuscrito), so todos os livros que a biblioteca contm(incluindo-se a o que se chama literatura oral, doravante consignada). Essaacepo corresponde noo clssica de belas-letras as quais compreendiamtudo o que a retrica e a potica podiam produzir, no somente a fico, mas

    tambm a histria, a filosofia e a cincia, e, ainda, toda a eloqncia. P.32 > No sentido restrito, a literatura (fronteira entre o literrio e o noliterrio) varia consideravelmente segundo as pocas e as culturas. [...] Desde[o sculo XIX], por literatura compreendeu-se o romance, o teatro e a poesia,retomando-se trade ps-aristotlica dos gneros pico, dramtico e lrico,mas, doravante, os dois primeiros seriam identificados com a prosa, e oterceiro apenas com o verso, antes que o verso livre e o poema em prosadissolvessem ainda mais o velho sistema de gneros. \\ O sentido moderno deliteratura (romance, teatro e poesia) inseparvel do romantismo, isto , daafirmao da relatividade histrica e geogrfica do bom gosto, em oposio doutrina clssica da eternidade e da universalidade do cnone esttico. P.33 > Mais restritamente ainda: literatura so os grandes escritores. Tambmessa noo romntica [...]. O cnone clssico eram obras-modelo, destinadasa serem imitadas de maneira fecunda; o panteo moderno constitudo pelosescritores que melhor encarnam o esprito de uma nao. [...] Nova tautologia:a literatura tudo o que os escritores escrevem. \\ [...] notemos apenas esteparadoxo: o cnone composto de um conjunto de obras valorizadas aomesmo tempo em razo da unicidade da sua forma e da universalidade (pelomenos em escala nacional) do seu contedo; a grande obra reputada

    simultaneamente nica e universal. \\ Todo julgamento de valor repousa numatestado de excluso. Dizer que um texto literrio subentende sempre que

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    um outro no . [...] A literatura, no sentido restrito, seria somente a literaturaculta, no a literatura popular (a Fiction das livrarias britnicas).

    Compreenso da literatura: a funo

    p. 37 > Num mundo cada vez mais materialista ou anarquista, a literaturaaparecia como a ltima fortaleza contra a barbrie, o ponto fixo do final dosculo [XIX]: chega-se assim, a partir da perspectiva da funo, definiocannica de literatura.

    Compreenso da literatura: a forma do contedo

    p. 38 > Da Antiguidade metade do sculo XVIII, a literatura sei que apalavra anacrnica, mas suponhamos que ela designe o objeto da arte

    potica

    foi geralmente definida como imitao ou representao (mimsis)de aes humanas pela linguagem.

    Compreenso da literatura: a forma da expresso

    p. 39 > A partir da metade do sculo XVIII [...], a arte e a literatura noremetem seno a si mesmas. Em oposio linguagem cotidiana, que utilitria e instrumental, afirma-se que a literatura encontra seu fim em simesma. [separao das esferas: Habermas] p. 40 > A literaturaexplora, sem fim prtico, o material lingstico. Assim se enuncia a definio

    formalista de literatura. \\ Do romantismo a Mallarm, a literatura, comoresumia Foucault, encerra-se numa intransitividade radical, ela se tornapura e simples afirmao de uma linguagem que s tem como lei afirmar [...]sua rdua existncia; no faz mais que se curva, num eterno retorno, sobre simesma, como se seu discuros no pudesse ter como contedo seno sua

    prpria forma. [As palavras e as coisas: p. 313] P. 40-1 > Os formalistasrussos deram ao uso propriamente literrio da lngua. Logo propriedadedistintiva do texto literrio, o nome de literariedade. Jakobson escrevia em1919: o objeto da cincia literria no a literatura, mas a literariedade, ouseja, o que faz de uma determinada obra uma obra literria [...].

    Literariedade ou preconceito

    p. 42 > Afastemos, antes de tudo, esta primeira objeo: como no existemelementos lingsticos exclusivamente literrios, a literariedade no podedistinguir um uso literrio de um uso no literrio da linguagem. [...][Jakobson], ento, denominou potica uma das seis funes que distinguiano ato de comunicao (funes expressiva, potica, conativa, referencial,metalingstica e ftica), como se a literatura (o texto potico) abolisse ascinco outras funes, e deixou fora do jogo os cinco elementos aos quais elaseram geralmente ligadas (o locutor, o destinatrio, o referente, o cdigo e o

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    contato), para insistir unicamente na mensagem em si mesma. P. 42-3> A literariedade (a desfamiliarizao) no resulta da utilizao de elementoslingsticos prprios, mas de uma organizao diferente (por exemplo, maisdensa, mais coerente, mais complexa) dos mesmos materiais lingsticoscotidianos. Em outras palavras, no a metfora em si que faria aliterariedade de um texto, mas uma rede metafrica mais cerrada, a qualrelegaria a segundo plano as outras funes lingsticas. [...] A publicidadeento o mximo da literatura, o que no , entretanto, satisfatrio. P. 44> Ora, [o] provisrio tem tudo para durar, porque no h essncia daliteratura, ela uma realidade complexa, heterognea, mutvel.

    Literatura literatura

    [h um trecho interessante p. 45]

    CAPTULO II > O AUTOR (a inteno)

    p. 47 > Sob o nome de inteno em geral, o papel do autor que nosinteressa, a relao entre o texto e seu autor, a responsabilidade do autor pelosentido e pela significao do texto. [...] A antiga idia corrente identificava osentido da obra inteno do autor; circulava habitualmente no tempo dafilologia, do positivismo, do historicismo. P. 49 > [...] ao afirmar que o

    autor indiferente no que se refere significao do texto, a teoria no terialevado longe demais a lgica, e sacrificado a razo pelo prazer de uma belaanttese? E, sobretudo, no teria ela se enganado de alvo? Na realidade,interpretar um texto no sempre fazer conjeturas sobre uma intenohumana em ato?

    A tese da morte do autor

    P. 52 > H sempre um autor: se no Cervantes, Pierre Mnard. \\ Notopos da morte do autor, confunde-se o autor biogrfico ou sociolgico,

    significando um lugar no cnone histrico, com o autor, no sentidohermenutico de sua inteno, ou intencionalidade, como critrio dainterpretao: a funo do autor de Foucault simboliza com perfeio essareduo.

    Voluntas e actio

    p. 55 > Somos ns que, utilizando a expresso sentido literal de maneiraambgua, ao mesmo tempo para designar o sentido corporal oposto ao sentidoespiritual, e o sentido prprio oposto ao sentido figurado, confundimos umadistino jurdica (hermenutica) e uma distino estilstica (semntica).

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    Alegoria e filologia

    p. 56-7 > A alegoria uma interpretao anacrnica do passado, uma leiturado antigo, segundo o modelo do novo, um ato hermenutico de apropriao: inteno antiga ela substitui a dos leitores. [...] A alegoria um instrumentotodo poderoso para inferir um sentido novo num texto antigo. P. 59 >Como sempre, as duas posiesalegorista e originalistaso insustentveis,tanto uma quanto outra. Se cada gerao pode redefinir os primeiros pincpios,segundo lhe agrada, significa que no h Constituio. [...] Aos olhos demuitos literatos, hoje, e mesmo de historiadores, a idia de que um textopossui um nico sentido objetivo quimrica.

    Filologia e hermenutica

    p. 59 > A hermenutica, isto , a arte de interpretar os textos, antiga disciplinaauxiliar da teologia, aplicada at ento aos textos sagrados, tornou-se, aolongo do sculo XIX, seguindo a trilha dos telogos protestantes alemes dosculo XVIII, e graas ao desenvolvimento da conscincia histrica europia,a cincia da interpretao de todos os textos e o prprio fundamento dafilologia e dos estudos literrios. P. 63 > Para uma hermenutica ps-hegeliana, pois, no h mais primado da primeira recepo, ou do querer-dizer do autor, por mais amplo que seja o termo. De qualquer forma, estequerer-dizer e essa primeira recepo no restituiriam nada do real para ns.

    Inteno e conscincia

    p. 67 > Nada mais resta do crculo hermenutico nem do dilogo entre apergunta e a resposta; o texto prisioneiro de sua recepo aqui e agora.Passou-se do estruturalismo ao ps-estruturalismo, ou desconstruo.

    O mtodo das passagens paralelas

    Straight from the horses mouth

    p. 72 > Uma passagem paralela do mesmo autor parece ter sempre maiorpeso para esclarecer o sentido de uma palavra obscura que uma passagem deum autor diferente: implicitamente, o mtodo das passagens paralelas apela,pois, para a inteno do autor, se no como projeto, premeditao ou intenoprvia, pelo menos como estrutura, sistema e inteno em ato.

    Inteno ou coerncia

    p. 77 > A hiptese da inteno, ou da coerncia, no exclui as excees, assingularidades, os hpax. P. 78-9 > Nenhum crtico, parece, renuncia ao

    mtodo das passagens paralelas, que inclui preferencialmente, a fim deesclarecer uma passagem obscura, uma passagem do mesmo autor a uma

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    passagem de um outro autor, como coerncia textual, ou como contradioresolvendo-se num outro nvel (mais elevado, mais profundo) de coerncia.Essa coerncia a de uma assinatura, como entendemos em histria da arte,isto , como uma rede de pequenos traos distintivos, um sistema de detalhessintomticos repeties, diferenas, paralelismos tornando possvel umaidentificao ou uma atribuio.

    Os dois argumentos contra a inteno

    p. 80 > Os argumentos habituais contra a inteo do autor, como critrio devalidade da interpretao, so de duas ordens: 1. A inteno do autor no pertinente. 2. A obra sobrevive inteno do autor. P. 84 > Como otexto no tem conscincia, falar da inteno do texto ou de intentio operis reintroduzir, subrepticiamente, a inteno do autor como guardi da

    interpretao, com um termo menos suspeito ou provocador.

    Retorno inteno

    p. 85 > [...] os dois grandes tipos de argumento contra a inteno [...] sofrgeis e facilmente refutveis. [?]

    Sentido no significao

    p. 86 > [Segundo o terico americano de literatura, E. D. Hirsch] Quando

    lemos um texto, seja ele contemporneo ou antigo, ligamos seu sentido nossa experincia, damos-lhe um valor fora de seu contexto de origem. Osentido o objeto da interpretao do texto; a significao o objeto daaplicao do texto ao contexto de sua recepo (primeira e ulterior) e,portanto, de sua avaliao. P. 89 > A distino entre sentido e significao,ou entre interpretao e avaliao, no deve [...] ser levada longe demais.

    Inteno no premeditao

    p. 92 > [...] para muitos filsofos contemporneos, no cabe distinguir

    inteno do autor e sentido das palavras. O que interpretamos quando lemosum texto , indiferentemente, tanto o sentido das palavras quanto a intenodo autor.

    A presuno de intencionalidade

    p. 96 > [...] trata-se de sair desta falsa alternativa: o texto ou o autor. Porconseguinte, nenhum mtodo exclusivo suficiente.

    CAPTULO III > O MUNDO (a representao)

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    p. 97 > De que fala a literatura? A mimsis, desde a Potica de Aristteles, o termo mais geral e corrente sob o qual se conceberam as relaes entre aliteratura e a realidade. Na monumental obra de Erich Auerbach, [Mimsis...],a noo no era questionada. [...] Mas a mimsis foi questionada pela teorialiterria que insistiu na autonomia da literatura em relao realidade [...]. Oauge dessa doutrina foi atingido com o dogma da auto-referencialidade dotexto literrio, isto , com a idia de que o poema fala do poema e pontofinal. P. 98-9 > Um paradoxo mostra a extenso do problema. Em Plato, na

    Repblica, a mimsis subversiva, ela pe em perigo a unio social, e ospoetas devem ser expulsos da Cidade em razo de usa influncia nefasta sobrea educao dos guardies. NO outro extremo, para Barthes, a mimsis repressiva, ela consolida o lao social, por estar ligada ideologia (a doxa) daqual ela instrumento. Subversiva ou repressiva, a mimsis?

    Contra amimsis

    p. 99 > Em Saussure, a idia do arbitrrio do signo implica a autonomiarelativa da lngua em relao realidade e supe que a significao sejadiferencial (resultando da relao entre os signos) e no referencial(resultando da ralao entre as palavras e as coisas). Em Peirce, a ligaooriginal entre o signo e seu objeto foi quebrada, perdida, e a srie dosinterpretantes caminha indefinidamente de signo em signo, sem nuncaencontrar a origem, numa smiosis qualificada de ilimitada. Segundo essesdois precursores [...], o referente no existe fora da linguagem, mas

    produzido pela significao, depende da interpretao. O mundo sempre jinterpretado, pois a relao lingstica primria ocorreu entre representaes,no entre a palavra e a coisa, nem entre o texto e o mundo. Na cadeia sem fimnem origem das representaes, o mito da referncia se evapora. P. 101 >[...] salvo se reduzirmos toda a linguagem a onomatopias, em que sentido elapode copiar? Tudo o que a linguagem pode imitar a linguagem: isso pareceevidente. P. 102 > A recusa da dimenso expressiva e referencial no prpria literatura, mas caracteriza o conjunto da esttica moderna, que seconcentra no mdium (como no caso da abstrao em pintura).

    Amimsis desnaturalizada

    p. 104 > [...] a mimsis seria a representao de aes humanas pelalinguagem, ou a isso que Aristteles a reduz, e o que lhe interessa oarranjo narrativo dos fatos em histria: a potica seria, na verdade, umanarratologia. P. 105 > [...] com o nome depotica, Aristteles queria falarda smiosis e no da mimsis literria, da narrao e no da descrio: aPotica a arte da construo da iluso referencial.

    O realismo: reflexo ou conveno

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    p. 107 > A crise da mimsis, como a do autor, uma crise do humanismoliterrio, e, ao final do sculo XX, a inocncia no nos mais permitida. Essainocncia relativa mimsis era ainda a de Georg Lukcs, que se baseava nateoria marxista do reflexo para analisar o realismo como ascenso doindividualismo contra o idealismo. \\ Em conflito com a ideologia damimsis, a teoria literria concebe, pois, o realismo no como um reflexo da

    realidade, mas como um discurso que tem suas regras e convenes como umcdigo nem mais natural nem mais verdadeiro que os outros. P. 108 > Ateoria estruturalista e ps-estruturalista foi radicalmente convencionalista, isto, ops-se a toda concepo referencial da fico literria. P. 109 > Porser o realismo a ovelha negra da teoria literria, ela quase s falou dele.

    Iluso referencial e intertextualidade

    p. 109 > [para Barthes, em S\Z] O referente um produto da smiosis, e noum dado preexistente. [...] A iluso referencial resulta de uma manipulao designos que a conveno realista camufla, oculta o arbitrrio do cdigo, e fazcrer na naturalizao do signo. Ela deve, pois, ser reinterpretada em termos decdigo. P. 110-11 > [...] para a teoria literria os outros textos tomamexplicitamente o lugar da realidade, e a intertextualidade que se substitui referncia. P. 111 > O termo intertexto ou intertextualidade foi compostopor Julia Kristeva, pouco depois de sua chagada a Paris, em 1966, noseminrio de Barthes, para relatar os trabalhos do crtico russo MikhailBakhtine e deslocar a tnica da teoria literria para a produtividade do texto,

    at ento apreendido de maneira esttica pelo formalismo francs [...]. Aintertextualidade est pois calcada naquilo que Bakhtine chama de dialogismo,isto , as relaes que todo enunciado mantm com outros enunciados. P.112 > A obra de Bakhtine, contrapondo-se aos formalistas russos, depoisfranceses, que fechavam a obra em suas estruturas imanentes, reintroduz arealidade, a histria e a sociedade no texto, visto como uma estruturacomplexa de vozes, um conflito dinmico de lnguas e de estilosheterogneos. A intertextualidade calcada no dialogismo bakhtiniano fechou-se, entretanto, sobre o texto, aprisionou-o novamente na sua literariedade

    essencial.Os termos da discusso

    p. 114-15 > Examinei at aqui as duas teses extremas sobre as relaes entreliteratura e realidade. [...] segundo a tradio aristotlica, humanista, clssica,realista, naturalista e mesmo marxista, a literatura tem por finalidaderepresentar a realidade, e ela o faz com certa convenincia; segundo a tradiomoderna e a teoria literria, a referncia uma iluso, e a literatura no falade outra coisa seno de literatura. [...] Mencionarei, em seguida, algumas

    tentativas mais recentes para repensar as relaes entre literatura e mundo demaneira mais flexvel, nem mimtica nem antimimtica.

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    Crtica da tese antimimtica

    p. 117 > [...] a posio de Barthes sempre a mesma: o realismo no nuncaseno um cdigo de significao que procura fazer-se passar por natural,pontuando a narrativa de elementos que aparentemente lhe escapam:insignificantes, eles ocultam a onipresena do cdigo, enganam o leitor sobrea autoridade do texto mimtico, ou pedem sua cumplicidade para a figuraodo mundo. A iluso referencial, dissimulando a conveno e o arbitrrio, ainda um caso de naturalizao do signo. P. 118-19 > [...] Barthes, paraafirmar que a linguagem no referencial e o romance no realista, defendeuma teoria da referncia h muito desacreditada, supondo que pelacumplicidade do signo com o referente, a expulso da significao, haveriauma passagem direta, imediata, do significante ao referente, sem a mediaoda significao, isto , que se alucina o objeto. O efeito de real, a iluso

    referencial, seria uma alucinao.

    O arbitrrio da lngua

    p. 126 > [...] reintroduzir a realidade em literatura , uma vez mais, sair dalgica binria, violenta, disjuntiva, onde se fecham os literatos ou aliteratura fala do mundo, ou ento a literatura fala da literatura , e voltar aoregime do mais ou menos, da ponderao, do aproximadamente: o fato de aliteratura falar da literatura no impede que ela fale tambm do mundo. Afinalde contas, se o ser humano desenvolveu suas faculdades de linguagem, para

    tratar de coisas que no so da ordem da linguagem. [!!!!!]

    Amimsis como reconhecimento

    p. 131 > Tanto em Ricoeur como em Frye, a mimsis produz totalidadessignificantes a partir de acontecimentos dispersos. pois pelo seu valorcognitivo, pblico e comunitrio que ela reabilitada, contra o ceticismo e osolipsismo aos quais conduzia a teoria literria francesa estruturalista e ps-estruturalista.

    Os mundos ficcionais

    p. 134 > Se a proposio existencial no realizada, poderia, contudo, alinguagem da fico ser referencial? Quais seriam os referentes num mundode fico? Os lgicos analisaram esse problema. Num romance, responderameles, a palavra parece ter uma referncia; ela cria uma iluso de referncia; elaimita as propriedades referenciais da linguagem comum.

    O mundo dos livros

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    p. 137 > [...] a negao da realidade, proclamada pela teoria literria, no mais que uma negao, ou o que Freud chama de uma denegao, isto , umanegao que coexiste, numa espcie de conscincia dupla, com a crenaincoercvel de que o livro fala apesar de tudo do mundo, ou que ele constituium mundo, ou um quase-mundo, com falam os filsofos analticos a respeitoda fico. P. 138 > [...] ainda essa violenta lgica binria, terrorista,maniquesta, to a gosto dos literatosfundo ou forma, descrio ou narrao,representao ou significao que nos leva a alternativas dramticas e nos

    joga contra a parede e os moinhos de vento. Ao passo que a literatura oprprio entrelugar, a interface.

    CAPTULO IV > O LEITOR (a recepo)

    p. 139 > A abordagem objetiva, ou formal, da literatura se interessa pela obra;a abordagem expressiva, pelo artista; a abordagem mimtica, pelo mundo; e aabordagem pragmtica, enfim, pelo pblico, pela audincia, pelos leitores.

    A leitura fora do jogo

    p. 142 > A leitura [fechada, objetiva, descompromissada, como pregada peloNew Criticism], em geral, fracassa diante do texto: Richards um dos raroscrticos que ousaram fazer esse diagnstico catastrfico. A constatao desse

    estado de fato no o levou, no entanto, renncia. \\ Para a teoria literria,nascida do estruturalismo e marcada pela vontade de descrever ofuncionamento neutro do texto, o leitor emprico foi igualmente umintruso. \\ O leitor , ento, uma funo do texto, como o que Riffatterredenominava o arquileitor, leitor omnisciente ao qual nenhum leitor realpoderia identificar-se, em virtude de suas faculdades interpretativas limitadas.

    A resistncia do leitor

    p. 146 > Antes de analisar o retorno do leitor ao centro dos estudos literrios,

    falta, entretanto, elucidar o termo recepo, com o qual muitas vezes apesquisa sobre a leitura se disfara atualmente.

    Recepo e influncia

    O leitor implcito

    p. 148 > A anlise da recepo visa ao efeito produzido no leitor, individualou coletivo, e sua resposta [...] ao texto considerado como estmulo.[Ingarden e Iser: fenomenologia do ato individual de leitura; Gadamer e

    Jauss: hermenutica da resposta pblica ao texto. MONCLAR] P.149 > Como Ingarden, o texto literrio [para Iser] caracterizado por sua

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    incompletude e a literatura se realiza na leitura. [...] O objeto literrioautntico a prpria interao do texto com o leitor. P. 150 > [Em Iser, anoo de leitor implcito (foi) calcada na de autor implcito, que foraintroduzida pelo crtico americano Wayne Booth em The Rhetoric of Fiction[...]. Posicionando-se na poca contra o New Criticism, na querela sobre ainteno do autor (evidentemente ligada reflexo sobre o leitor), Boothdefendia a tese segundo a qual um autor nunca se retirava totalmente de suaobra, mas deixava nela sempre um substituto que a controlava em suaausncia: o autor implcito. P. 151 > O leitor implcito prope ummodelo ao leitor real; define um ponto de vista que permite ao leitor realcompor o sentido do texto. P. 152 > Para descrever o leitor, Iser recorreno metfora do caador ou do detetive, mas do viajante. [..] O leitor, dizIser, tem um ponto de vista mvel, errante, sobre o texto. \\ Enfim, Iser insistenaquilo que ele chama de repertrio, isto , o conjunto de normas sociais,

    histricas, culturais trazidas pelo leitor como bagagem necessria sua leitura.

    A obra aberta

    p. 154 > O leitor de Iser um esprito aberto, liberal, generoso, disposto afazer o jogo do texto. No fundo, ainda um leitor ideal: extremamenteparecido com um crtico culto, familiarizado com os clssicos, mas curiosoem relao aos modernos. P. 155 > A liberdade concedida ao leitor est naverdade restrita aos pontos de indeterminao do texto, entre os lugares plenosque o autor determinou. Assim, o autor continua, apesar da aparncia, dono

    efetivo do jogo: ele continua a determinar o que determinado e o que no o.

    O horizonte de expectativa (fantasma)

    p. 156 > [...] Jauss chama de horizonte de expectativa o que Iser chamava derepertrio: o conjunto de convenes que constituem a competncia de umleitor (ou de uma classe de leitores) num dado momento; o sistema de normasque define uma gerao histrica. [mais trabalhado no cap. VII]

    O gnero como modelo de leitura

    p. 157 > O gnero, como taxinomia, permite ao profissional classificar asobras, mas sua pertinncia terica no essa: a de funcionar como umesquema de recepo, uma competncia do leitor, confirmada e\ou contestadapor todo texto novo num processo dinmico. [ver OMEROS] p. 158 >[...] a esttica da recepo mas ainda o que a torna demasiadoconvencional aos olhos de seus detratores mais radicaisno seria outra coisaseno o ltimo avatar de uma reflexo bem antiga sobre os gneros literrios.

    A leitura sem amarras

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    p. 160 > Para eliminar [o] resto de intencionalismo dissimulado numaapologia do leitor, evitando cair naquilo que os New Critics denominavamiluso afetiva, to vergonhosa quanto a iluso intencional e a iluso

    referencial, [Stanley] Fish, depois de ter substitudo a autoridade do autor e aautoridade do texto pela autoridade do leitor, julgou necessrio reduzir as trs autoridade das comunidades interpretativas. Seu livro de 1980, H umtexto nesta sala? [...] caminha para essa posio drstica e ilustra, por seumovimento niilista, a grandeza e a decadncia da teoria da recepo [...].Aqui, texto e leitor so prisioneiros da comunidade interpretativa qualpertencem, a menos que o fato de cham-los de prisioneiros lhes confiraainda mais identidade. P. 162 > Essas comunidades interpretativas, comoo repertrio de Iser ou o horizonte de expectativas de Jauss, so conjuntos denormas de interpretao, literrias e extra-literrias, que um grupocompartilha: convenes, um cdigo, uma ideologia, como quiserem. P.

    163 > Para resolver as antinomias levantadas pela introduo do leitor nosestudos literrios, seria suficiente anular a literatura. Posto que nenhumadefinio desta seja plenamente satisfatria, por que no adotar essa soluodefinitiva?

    Depois do leitor

    p. 164 > A experincia da leitura, como toda experincia humana, fatalmente uma experincia dual, ambgua, dividida: entre compreender eamar, entre a filologia e a alegoria, entre a liberdade e a imposio, entre a

    ateno ao outro e a preocupao consigo mesmo. A situao medianarepugna aos verdadeiros tericos da literatura. [ironia... Mas devo utilizarpara me posicionar!]

    CAPTULO V > O ESTILO (a relao do texto com a lngua)

    p. 165 > Foi com o nome de estilo que escolhi abordar [a questo da relaodo texto com a lngua], porque essa palavra pertence ao vocabulrio correnteda literatura, ao lxico popular do qual a teoria literria tenta em vo libertar-se. \\ Como aconteceu com as noes precedentes, apresentareiprimeiramente as duas teses extremas: por um lado, o estilo uma certeza quepertence ligitimamente s idias preconcebidas sobre a literatura, pertence aosenso comum; por outro, o estilo uma iluso da qual, como a inteno, comoa referncia, imperioso libertar-se. Durante um certo tempo, a teoria, sobinfluncia da lingstica, pensou ter acabado com o estilo. Esta noo pr-terica, que ocupara um lugar de destaque desde o fim da retrica, nodecorrer do sculo XIX, parecia ter cedido definitivamente o terreno

    descrio lingstica do texto literrio.

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    O estilo e todos os seus humores

    [faz um apanhado do significado de estilo em diferentes pocas e paradiferentes campos literrios]

    Lngua, estilo, escritura

    p. 174-6 > [...] quando um lado do estilo desconhecido, ele volta logo comum outro nome. \\ melhor pensar que Barthes no estava sabendo que carana velha noo retrica de estilo, com o nome de escritura. \\ A invenobarthesiana da escritura provaria, pois, o carter imbatvel da noo retricado estilo: dela no se escapa. [em O grau zero da escritura]

    Clamor contra o estilo

    Norma, desvio, contexto

    O estilo como pensamento

    p. 184 > A utopia da descrio lingstica objetiva e exaustiva do textoliterrio absorveu muitas inteligncias nos anos sessenta e setenta [...]

    O retorno do estilo

    Estilo e exemplificao

    Norma ou agregado

    p. 194 > Trs aspectos do estilo voltaram a ocupar o primeiro plano, ou narealidade nunca estiveram ausentes. Parece que so inevitveis e insuperveis.Em todo caso, resistiram vitoriosamente aos ataques que a teoria perpetroucontra eles: - o estilo uma variao formal a partir de um contedo (maisou menos) estvel; - o estilo um conjunto de traos caractersticos deuma obra que permite que se identifique e se reconhea (mais intuitivamente

    do que analiticamente) o autor; - o estilo uma escolha entre vriasescrituras.\\ S o estilo como norma, prescrio ou cnone vai mal e no foireabilitado. Mas feita essa ressalva, o estilo continua existindo.

    CAPTULO VI > A HISTRIA

    p. 195 > As duas noes que se seguem [histriao presente captulo evalorcaptulo VII] diferem ligeiramente das anteriores. Elas descrevem as

    relaes dos textos entre si, comparam-nos, seja levando em considerao otempo (a histria), seja sem leva-lo em conta (o valor), na diacronia ou na

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    sincronia. Tais noes so, portanto, de alguma forma, metaliterrias. p. 197> A iluso gentica, comparvel s outras iluses denunciadas pela teoria (asiluses intencional, referencial, afetiva, estilstica), consiste em acreditar que aliteratura pode e deve ser explicada por causas histricas. P. 198 > Oponto de vista diacrnico sobre a literatura (literatura como documento) e oponto de vista sincrnico (literatura como monumento) parecem inconciliveis[...].

    Histria literria e histria da literatura

    p. 199 > A crtica histrica, filha do romantismo, , em sua origem, relativistae descritiva. Ela se ope tradio absolutista e prescritiva, clssica ouneoclssica, julgando toda obra em relao a normas intemporais. Ela fundaao mesmo tempo a filologia e a histria literria, que compartilham a idia de

    que o escritor e sua obra devem ser entendidos em sua situaohistrica. P. 201 > A histria literria , pois, um ramo da filologiaentendida como cincia total de uma civilizao passada, a partir do momentoem que se reconhece e se aceita a distncia que nos separa dos textos dessacivilizao.

    Histria literria e crtica literria

    p. 202 > [...] a distino entre monumento e documento. Ora, a obra de arte eterna e histrica. Paradoxal por natureza, irredutvel a um de seus aspectos,

    um documento histrico que continua a proporcionar uma emoo esttica.

    Histria das idias, histria social

    A evoluo literria

    O horizonte de expectativa

    p. 211-12 > Segundo Jauss, fiel aqui esttica fenomenolgica, masconferindo-lhe uma inflexo histrica, a significao da obra repousa na

    relao dialgica(para no dizer dialtica, termo excessivamente carregado)que se estabelece em cada poca entre ela e o pblico [...]. Nem documento,nem monumento, a obra concebida como partitura, maneira de Ingarden eIser, mas essa partitura atualmente tomada como ponto de partida para umareconciliao da histria e da forma, graas ao estudo da diacronia de suasleituras. P. 212 > A fim de descrever a recepo e a produo das obrasnova, Jauss introduz, unidas, as duas noes, horizonte de expectativa (vidatambm ela de Gadamer) e desvio esttico (inspirada nos formalistas russos).O horizonte de expectativa, como o repertrio de Iser, mas novamente comuma tonalidade mais histrica, o conjunto de hipteses compartilhadas quese pode atribuir a uma gerao de leitores [...]. p. 214 > Para Jauss, [...]

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    nenhuma obra clssica em si, e s se compreende uma obra quando seidentificaram as perguntas s quais ela respondeu ao longo da histria.

    A filologia disfarada

    p. 215 > A esttica da recepo busca estabelecer a historicidade da literaturaem trs planos solidrios:

    (1) A obra pertence a uma srie literria na qual ela deve ser situada. Essadiacronia concebida como uma progresso dialtica de perguntas erespostas: cada obra deixa em suspenso um problema que retomado pelaobra seguinte. (2) A obra pertence igualmente a um corte sincrnico quedeve ser recuperado, levando-se em conta a coexistncia de elementossimultneos e elementos no simultneos, em qualquer momento da histria,

    em qualquer presente. (3) Finalmente, a histria literria se liga aomesmo tempo passiva e ativamente histria geral: ela determinada edeterminante, segundo uma dialtica a ser refeita. P. 217 > Graas [aoleitor], a histria literria parece novamente legtima, mas ele continua,surpreendentemente, ignorado. Jauss nunca estabelece distino entrerecepo passiva e produo literria (a recepo do leitor que se torna, porsua vez, autor), nem entre leitores e crticos. [...] O leitor continua sendo umaentidade abstrata e desencarnada em Jauss, que tampouco nada diz sobre osmecanismos que ligam, na prtica, o autor e seu pblico. P. 218 > Aesttica da recepo foi a filologia da modernidade.

    Histria ou literatura?

    p. 221-2 > A descrio da literatura como bem simblico, maneira deBourdieu, ou o estudo da cultura como produto do jogo do poder, no rastro deFoucault, sem romper com o programa prescrito por Lanson, Febvre e Barthespara a histria da instituio literria, reorientaram essa histria num sentidofrancamente mais engajado, a partir do momento em que a objetividade considerada um engodo.

    A histria como literatura [ver HUTCHEON?]

    p. 222 > Mas para que procurar ainda conciliar literatura e histria, se osprprios historiadores no crem mais nessa distino? [...] Que pode vir a sera histria literria, se o contexto nunca seno outros textos? P. 223 > Nomais nos permitida a conscincia tranqila em termos de histria e dehermenutica, o que no motivo para desistir. Uma vez mais, a travessia dateoria uma lio de relativismo e uma desiluso.

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    CAPTULO VII > O VALOR [no fichado]

    Na sua maioria, os poemas so ruins, mas so poemas

    A iluso esttica

    O que um clssico?

    Da tradio nacional em literatura

    Salvar o clssico

    ltima defesa do objetivismo

    Valor e posteridade

    Por um relativismo moderado

    CONCLUSO [no fichada]

    A aventura terica

    Teoria ou fico

    Teoria e bathmologia

    Teoria e perplexidade

    NOTAS [no fichadas]

    Resumos e resenhas de Isaas Carvalho no

    http://pt.shvoong.com/writers/sort-popular/estesinversos/
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    poticos acadmicos parentticos

    2009 [email protected]

    Itabuna/Ilhus, Bahia, Brasil

    Ilustraes dos temas na base da pgina por: Wellington Mendes da Silva Filho

    http://sites.google.com/site/estesinversos/Homehttp://sites.google.com/site/estesinversos/parenteticoshttp://sites.google.com/site/estesinversos/academicoshttp://sites.google.com/site/estesinversos/poeticoshttp://sites.google.com/site/estesinversos/Homehttp://sites.google.com/site/estesinversos/parenteticoshttp://sites.google.com/site/estesinversos/academicoshttp://sites.google.com/site/estesinversos/poeticoshttp://sites.google.com/site/estesinversos/Homehttp://sites.google.com/site/estesinversos/parenteticoshttp://sites.google.com/site/estesinversos/academicoshttp://sites.google.com/site/estesinversos/poeticoshttp://sites.google.com/site/estesinversos/Homehttp://sites.google.com/site/estesinversos/parenteticoshttp://sites.google.com/site/estesinversos/academicoshttp://sites.google.com/site/estesinversos/poeticos