Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA LUMA NETO DO NASCIMENTO Democracia e liberdade econômica na América Latina: uma relação de bicausalidade? Recife-PE 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA

LUMA NETO DO NASCIMENTO

Democracia e liberdade econômica na América Latina:

uma relação de bicausalidade?

Recife-PE

2017

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LUMA NETO DO NASCIMENTO

Democracia e liberdade econômica na América Latina:

uma relação de bicausalidade?

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Ciência Política da Universidade

Federal de Pernambuco (UFPE) para obtenção do

título de Mestre em Ciência Política.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Borges Gama Neto.

Recife-PE

2017

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NASCIMENTO, Luma Neto do. Democracia e liberdade econômica na América Latina:

uma relação de bicausalidade? Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em

Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para obtenção do título de

Mestre em Ciência Política.

Aprovado em 16 de Fevereiro de 2017.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

Prof. Dr. Ricardo Borges Gama Neto – UFPE

_________________________________________________

Profª. Drª. Cinthia Regina Campos Ricardo da Silva – UFPE

_________________________________________________

Prof. Dr. José Alexandre Ferreira Filho – UNICAP

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Dedico esta dissertação aos meus pais, Carlos

e Grece, por todo o apoio e paciência, e ao

amor da minha vida, Leandro, por ser o meu

grande parceiro em toda essa trajetória.

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AGRADECIMENTOS

Antes de tudo agradeço a Deus, a quem devo minha vida, minha família e toda a sorte

que tenho nas minhas conquistas profissionais.

Ao meu pai, Carlos Alberto, que sempre me apoiou em tudo que escolhi fazer, que me

inspirou o interesse pela política e que me deu todo o suporte nos momentos que eu mais

precisei.

A minha mãe, Grece Neto, que sempre me dedicou tanto o seu tempo, caronas, comidas

gostosas, cuidado e paciência.

Ao meu namorado, Leandro Cavalcanti, que tanto me incentiva, cuida, trouxe- me para

conviver com sua família e me dedica seu amor, carinho e companheirismo.

Ao meu avô que está sempre torcendo por mim, José Olímpio do Nascimento, e aos

meus queridos avós que não estão mais nesse mundo: Dona Zita, Erinete e Manuel.

A minha tia e segunda mãe Maria do Socorro e ao meu primo-irmão Diogo, com quem

sempre posso conversar, desabafar e pedir conselhos.

Ao meu orientador, Ricardo Borges, obrigada por todo o apoio e dedicação.

A todos vocês dedico minha eterna gratidão e amor.

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RESUMO

Existe uma relação bicausal entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O

principal objetivo deste trabalho é testar a hipótese de que existe uma relação bicausal entre

democracia e liberdade econômica na América Latina, entre 1995 e 2014. A segunda hipótese

é que o impacto da democracia sobre a liberdade econômica é maior que o impacto da relação

contrária. Metodologicamente, realizou-se uma análise estatística descritiva e inferencial e

estimou-se um painel dinâmico pelos métodos Feasible Generalized Least Squares (FGLS),

proposto por Parks (1967) e o Generalized Method of Moments (GMM), proposto por

Arellano e Bond (1991). Para cada um dos estimadores foram testados três modelos com o

Polity IV como variável dependente e a liberdade econômica como independente; e outros 3

modelos com a liberdade econômica como variável dependente e Polity IV como variável

independente. O Modelo 1 incluiu todas as variáveis independentes de controle: a lag da

variável dependente (Polity -1 ou Liberdade Econômica -1); o PIB per capita; a taxa de

crescimento do PIB; a estabilidade política; e o capital humano. O Modelo 2 utilizou como

controles a lag da variável dependente e a estabilidade política. Finalmente, o modelo 3

incluiu somente a lag da variável dependente como controle. Os resultados sugerem que

existe uma relação bicausal entre democracia e liberdade econômica, mas o impacto da

democracia sobre a liberdade econômica é maior que o impacto da relação contrária.

Palavras-chave: Democracia. Liberdade econômica. América Latina.

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ABSTRACT

Does exist a bicausal relationship between democracy and economic freedom in Latin

America? The main objective of this study is to test the hypothesis that exists a bicausal

relationship between democracy and economic freedom in Latin America, between 1995 and

2014. The second hypothesis is that the impact of the democracy on economic freedom is

bigger than the impact of the contrary relation. Methodologically, it’s done a descriptive and

inferential statistical analysis and estimated a dynamics panel data by the method of Feasible

Generalized Least Squares (FGLS), proposed by Parks (1967) and the method of Generalized

Method of Moments (GMM), proposed by Arellano and Bond (1991). For each of the

mentioned methods three models will be tested with Polity IV as dependent variable and

Economic Freedom as independent variable, and another 3 models with the Economic

Freedom as dependent variable and Polity IV as independent variable. The Model 1 included

all the independent control variables: the lag of the dependent variable (Polity -1 or Economic

Freedom -1); GDP per capita; the rate of GDP growth; political stability; and human capital.

The Model 2 used as controls the lag of the dependent variable and political stability. Finally,

model 3 included only the lag of the dependent variable as control. The results suggest that

exists a bicausal relationship between democracy and economic freedom, but the impact of

the democracy on economic freedom is bigger than the contrary relation.

Keywords: Democracy. Economic freedom. Latin America.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Boxplot do Índice de Liberdade Econômica................................................. 76

Gráfico 2 Boxplot do Índice de Liberdade Econômica por ano.................................... 77

Gráfico 3 Boxplot do Polity IV..................................................................................... 80

Gráfico 4 Boxplot do Polity IV por ano........................................................................ 82

Gráfico 5 Correlação entre o Polity IV e a Liberdade Econômica............................... 88

Gráfico 6 Correlação entre o Polity IV e a Liberdade Econômica (sem outlier).......... 91

Gráfico 7 Estabilidade Política por País da América Latina......................................... 92

Gráfico 8 Boxplot do Índice de Estabilidade Política................................................... 93

Gráfico 9 Boxplot do Índice de Estabilidade Política por Ano..................................... 93

Gráfico 10 Correlação entre o Polity IV e a Estabilidade Política.................................. 95

Gráfico 11 Correlação entre Liberdade Econômica e Estabilidade Política................... 96

Gráfico 12 Capital Humano por País da América Latina............................................... 96

Gráfico 13 Boxplot do índice de capital humano............................................................ 97

Gráfico 14 Boxplot do índice de capital humano por ano............................................... 97

Gráfico 15 Correlação entre Polity IV e Capital Humano.............................................. 99

Gráfico 16 Correlação entre Liberdade Econômica e Capital Humano.......................... 99

Gráfico 17 Taxa de Crescimento do PIB por País da América Latina............................ 100

Gráfico 18 Boxplot da Taxa de Crescimento do PIB...................................................... 101

Gráfico 19 Boxplot da Taxa de Crescimento do PIB por Ano........................................ 101

Gráfico 20 Correlação entre Liberdade Econômica e Taxa de Crescimento do PIB...... 106

Gráfico 21 Correlação entre Liberdade Econômica e Taxa de Crescimento do PIB...... 106

Gráfico 22 PIB per capita por País da América Latina................................................... 107

Gráfico 23 Boxplot do PIB per capita............................................................................. 108

Gráfico 24 Boxplot do PIB per capita por ano................................................................ 108

Gráfico 25 Correlação entre o PIB per capita e o Polity IV............................................ 109

Gráfico 26 Correlação entre o PIB per capita e a Liberdade Econômica....................... 110

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Síntese das informações do desenho de pesquisa............................................ 62

Quadro 2 Síntese dos fatores de Liberdade Econômica.................................................. 63

Quadro 3 Síntese dos Componentes do Índice Polity IV................................................ 67

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Estatística Descritiva das Variáveis Estudadas............................................... 73

Tabela 2 Médias do Polity IV e da Liberdade Econômica por Ano............................... 74

Tabela 3 Médias do Polity IV e da Liberdade Econômica por País............................... 75

Tabela 4 Correlação entre o Polity IV e a Liberdade Econômica por País.................... 89

Tabela 5 Correlação entre o Polity IV e a Liberdade Econômica por Ano.................... 90

Tabela 6 Correlação entre Polity IV e Liberdade Econômica por Ano (sem outlier).... 91

Tabela 7 Resultados dos estimadores FGLS e GMM para o Polity IV………...…...… 111

Tabela 8 Resultados dos estimadores FGLS e GMM para a Liberdade Econômica...... 113

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SUMÁRIO

Introdução...................................................................................................... 12

1. Capítulo 1: O conceito de democracia......................................................... 17

1.1 Da concepção minimalista ao debate sobre a qualidade da democracia......... 17

1.2 A Qualidade da Democracia na América Latina............................................. 22

2. Capítulo 2: Uma breve revisão da literatura sobre democracia e

desenvolvimento econômico..........................................................................

31

2.1 A teoria da modernização................................................................................ 31

2.1.1 A teoria da modernização testada em âmbito regional.................................... 37

2.2 Os regimes políticos mantêm o crescimento econômico? .............................. 40

3. Capítulo 3: Democracia e liberdade econômica, uma revisão de estudos

empíricos........................................................................................................

50

3.1 A democracia e a liberdade econômica explicam o crescimento? ................. 50

3.2 A democracia causa a liberdade econômica? ................................................. 53

4. Capítulo 4: Procedimentos metodológicos.................................................. 62

4.1 Índice de Liberdade Econômica da Fundação Heritage.................................. 62

4.2 Polity IV.......................................................................................................... 65

4.3 Técnicas........................................................................................................... 67

4.4 Observações..................................................................................................... 71

5. Capítulo 5: Análise exploratória dos dados................................................ 73

5.1 Análise exploratória das variáveis de interesse............................................... 73

5.1.1 Análise exploratória do índice de liberdade econômica.................................. 76

5.1.2 Análise exploratória do índice Polity IV......................................................... 80

5.1.3 Correlações entre democracia e liberdade econômica..................................... 88

5.2 Análise exploratória das variáveis de controle................................................ 92

5.2.1 Estabilidade política........................................................................................ 92

5.2.1.1 Correlações...................................................................................................... 95

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5.2.2 Capital Humano............................................................................................... 96

5.2.2.1 Correlações...................................................................................................... 98

5.2.3 Taxa de Crescimento do PIB........................................................................... 100

5.2.3.1 Correlações...................................................................................................... 105

5.2.4 PIB per capita.................................................................................................. 107

5.2.4.1 Correlações...................................................................................................... 109

6. Capítulo 6: Resultados.................................................................................. 111

Conclusão....................................................................................................... 116

Referências Bibliográficas............................................................................ 118

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INTRODUÇÃO

Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na

América Latina? O presente trabalho tem como principal objetivo testar a hipótese de que

existe uma relação de bicausalidade entre essas duas variáveis, para uma amostra de 18 países

da América Latina entre 1995 e 2014. A segunda hipótese a ser testada afirma que a

democracia possui mais impacto sobre a liberdade econômica que a relação inversa.

Os laços entre liberdade econômica e liberdade política têm sido teorizados há muito

tempo. No entanto, talvez devido à tendência de unir os dois conceitos, existem limitadas

evidências empíricas para apoiar qualquer possível inter-relação (FARR et al, 1998: 248).

Em O Caminho da Servidão, Friedrich A. Hayek (1944) alertou os intelectuais

preocupados com as perspectivas para o liberalismo político na Europa. Hayek especulou que

o planejamento centralizado adotado pelo Reino Unido durante a guerra continuaria e se

espalharia e isso acabaria por ameaçar os valores democráticos liberais da Europa Ocidental.

Hayek escreveu:

Se o "capitalismo" significa aqui um sistema competitivo baseado na livre

disposição sobre a propriedade privada, é muito mais importante perceber que

somente dentro desse sistema é possível a democracia. Quando se torna dominada

por um credo coletivista, a democracia inevitavelmente se destruirá (HAYEK, 1944,

pp. 69-70, tradução livre).

Escrevendo 18 anos depois nos Estados Unidos, Milton Friedman ecoou Hayek em seu

livro de 1962, Capitalismo e Liberdade:

A evidência histórica fala com uma única voz sobre a relação entre a liberdade

política e um mercado livre. Não conheço nenhum exemplo no tempo ou no lugar de

uma sociedade que tenha sido marcada por uma grande liberdade política e que

também não tenha usado algo comparável a um mercado livre para organizar a

maior parte da atividade econômica (FRIEDMAN, 1962, p. 9, tradução livre).

Os argumentos de que a democracia pode levar a uma maior liberdade econômica são

geralmente semelhantes aos argumentos de que a democracia pode promover o crescimento

econômico (PRZEWORSKI e LIMONGI, 1993). Primeiro, somente os governos com alguma

legitimidade poderão implementar e sustentar políticas que podem suportar altos custos de

curto prazo. Segundo, muitas das características institucionais de uma democracia, como um

sistema jurídico independente, também são necessárias para uma liberalização bem-sucedida

(DE HAAN e STURM, 2003: 548). Como afirma North (1993: 1, tradução livre), "direitos de

propriedade bem especificados e aplicados, condições necessárias para o crescimento

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econômico, só estão seguros quando os direitos políticos e civis estão seguros; de outro

modo, a confiscação arbitrária é sempre uma ameaça".

Entretanto, há poucas evidências empíricas, especialmente para os países em transição,

sobre o papel da democracia na promoção da liberalização (DE HAAN e STURM, 2003:

548). De Haan e Sturm (2003) e Lundström (2005) mostraram que o nível de democracia de

um país, medido pela sua pontuação no Polity IV ou no Freedom House, exerce um impacto

positivo na liberdade econômica. Gwartney et al. (1999) mostraram que um alto nível de

democracia não prejudica a liberdade econômica. Similarmente, Dethier et al. (1999)

concluíram que a democracia tem facilitado a liberalização econômica. Mais recentemente,

Peev e Mueller (2012:398-9) encontraram que as liberdades econômicas são mais fortes e a

corrupção é mais fraca em antigos países comunistas com instituições democráticas fortes. E

os resultados de Rode e Gwartney (2012) indicaram que as transições para a democracia estão

associadas a aumentos subsequentes na liberalização da economia.

Esses estudos sugerem que as democracias não são prejudiciais à liberdade econômica,

mas sim o oposto. A tomada de decisão democrática parece fornecer legitimidade aos

governos, o que aumenta sua capacidade de implementar reformas institucionais liberais que

por vezes envolvem altos custos de transição (DE HAAN E STURM, 2003).

Naturalmente, se a democracia (ou a democratização) torna a liberalização econômica

mais provável, então devemos esperar que esses países também tenham um desempenho

econômico comparativamente melhor no futuro. Alguns autores abordaram essa interação de

instituições políticas, instituições econômicas e crescimento (RODE e GWARTNEY, 2012:

608). Scully (1988; 1992) e Barro (1996), por exemplo, apontaram que uma democracia afeta

o crescimento, mas de forma indireta, através da liberdade econômica. Um regime

democrático que garanta os direitos de propriedade e outras liberdades individuais e que,

consequentemente, gere um ambiente propício para a liberdade econômica e mercados abertos

favoreceria o investimento e o empreendedorismo, gerando crescimento econômico.

Mas como a democracia melhoraria o desempenho econômico de um país? Há uma

literatura substancial na ciência política investigando as ligações empíricas entre a democracia

e os resultados econômicos. Um dos primeiros trabalhos empíricos na economia para estimar

o efeito da democracia sobre o crescimento econômico é o de Barro (1996), que verificou que

a democracia tem um pequeno efeito negativo sobre o crescimento econômico, com alguma

evidência de que a democracia aumenta o crescimento em níveis baixos de democracia, mas o

reduz em níveis mais elevados.

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O artigo de Barro (1996) incitou uma literatura posterior empregando uma variedade de

estratégias para lançar luz sobre as mesmas questões. Trabalhos como o de Tavares e

Wacziarg (2001) relataram um fraco efeito negativo. Przeworski et al. (2000) não verificaram

um impacto significativo da democracia sobre o crescimento. Análises com regressões de

dados em painel incluem Rodrik e Wacziarg (2005) e Persson e Tabellini (2007), que

encontraram um efeito positivo da recente democratização para o crescimento. Entre os

trabalhos mais recentes, existem pesquisas como as de Papaioannou e Siourounis (2008),

Acemoglu (2008), Doucouliagos e Ulubasoglu (2008), Armijo e Gervasoni (2010), Wu

(2012), Nurtegin (2014), Acemoglu et al (2014), Madsen et al (2015), Sylwester (2015),

Magee e Doces (2015), Ma e Ouyang (2016) e Gründler e Krieger (2016).

Estudos que apontam a liberdade econômica causando a democracia também obtiveram

resultados significativos. Por exemplo, os resultados encontrados por Farr et al. (1998)

sugerem que a liberdade econômica e a renda per capita estão endogenamente relacionadas e

que a liberdade econômica tem um efeito positivo na liberdade política, mas indiretamente,

através do seu efeito sobre o crescimento econômico. Similarmente, Aixalá e Fabro (2009)

revelam um círculo virtuoso: a liberdade econômica gera crescimento econômico e este

crescimento promove liberdades políticas.

Já que existem evidências de que a liberdade econômica geraria crescimento e este por

sua vez aumentaria a democracia, é importante discutir a teoria da modernização, que teve

início com a afirmação de Lipset (1959: 75) de que quanto mais rica uma nação, maior a

probabilidade de se manter a democracia. Esta proposta foi verificada em vários estudos

empíricos (CUTRIGHT, 1963; CUTRIGHT e WILEY, 1969; JACKMAN, 1973;

HELLIWELL, 1994; BURKHART e LEWIS-BECK 1994). O argumento teórico é que o

crescimento acelera os processos de mobilidade social, o que leva a uma classe média mais

ampla e a um maior acesso à educação e à informação, gerando uma crescente demanda por

direitos políticos e liberdades civis.

Após a revisão da literatura, foi identificada uma lacuna existente entre estudos

regionais sobre a direção da relação causal entre democracia e liberdade econômica. Assim,

esse trabalho irá contribuir para a literatura da ciência política ao identificar a necessidade do

fortalecimento das instituições democráticas e da liberalização das economias latino-

americanas para gerar o crescimento econômico da região.

A presente pesquisa buscará testar a hipótese de Friedman (1962: 10) de que a relação

entre liberdade política e a liberdade econômica não é unilateral, verificando se existe uma

relação de bicausalidade entre as duas variáveis para uma amostra de 18 países da América

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Latina, entre 1995 e 2014. A segunda hipótese testará se o efeito da democracia sobre a

liberdade econômica é maior que o efeito inverso.

Para tanto será realizada a estatística descritiva e a posterior análise dos resultados dos

estimadores de dados de painéis dinâmicos Generalized Method of Moments (GMM),

proposto por Arellano e Bond (1991), e Feasible Generalized Least Squares (FGLS),

proposto por Parks (1967), para realizar os testes de hipótese. Para cada um dos métodos

mencionados foram testados três modelos com o Polity IV como variável dependente e a

liberdade econômica como independente; e outros 3 modelos com a liberdade econômica

como variável dependente e Polity IV como variável independente. O modelo 1 incluiu todas

as variáveis independentes de controle: a lag da variável dependente (Polity -1 ou Liberdade

Econômica -1); o PIB per capita; a taxa de crescimento do PIB; a estabilidade política; e o

capital humano. O modelo 2 utilizou como controles a lag da variável dependente e a

estabilidade política. Finalmente, o modelo 3 incluiu somente a lag da variável dependente

como controle.

Esta dissertação está divida em 6 capítulos e uma conclusão. No primeiro será

brevemente analisada a literatura sobre a qualidade da democracia, especialmente a que

promove o debate sobre a qualidade da democracia na América Latina. Os textos abordados

levam a compreender diversas perspectivas, que mostraram desde uma abordagem mais

simplista e com fins quantitativos da teoria democrática, como a abordagem de Przeworski

(1999), que enfatiza a competição eleitoral, até os pensamentos mais críticos e substanciais,

como os importantes apontamentos de Guilhermo O’Donnell (1973; 1994; 1998; 1999; 2002;

2005), autor que consegue identificar com clareza os problemas peculiares aos regimes

políticos da América Latina. Após a revisão desses trabalhos ficou mais claro entender em

que pontos estamos avançando ou retrocedendo no nosso desenvolvimento democrático e

quais aspectos institucionais e sociais são entraves para uma democracia de maior qualidade

na América Latina.

No capítulo 2 é abordada a vasta literatura sobre a relação entre democracia e

desenvolvimento econômico. A teoria da modernização, que aponta o crescimento econômico

melhorando indicadores democráticos, é abordada desde Lipset (1959) até estudos empíricos

mais recentes, que concentram suas análises para a América Latina (LANDMAN, 1999;

MAINWARING e PÉREZ-LIÑÁN 2003). A literatura que trata do efeito da democracia

sobre o crescimento econômico também é abordada, desde os trabalhos pioneiros, como o de

Barro (1996), até os trabalhos mais recentes, como o de Gründler e Krieger (2016).

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O capítulo 3 mostra os estudos empíricos que abordaram a relação entre democracia e

liberdade econômica e também aqueles que estudaram a relação dessas duas variáveis com o

crescimento econômico.

O capítulo 4 mostra os procedimentos metodológicos, com a descrição das variáveis e

das técnicas utilizadas para os testes de hipótese e tratamento dos dados, para viabilizar a

replicabilidade do trabalho (KING, 1995; JANZ, 2015).

O capítulo 5 mostra a análise da estatística descritiva para a visualização e exploração

dos dados. Medidas de tendência central e de dispersão são analisadas com o objetivo de

conhecer as distribuições das variáveis (FIGUEIREDO FILHO et al. 2011: 66).

O capítulo 6 mostra os resultados dos estimadores FGLS e GMM de dados de painéis

dinâmicos para realizar os testes de hipótese.

Finalmente, as conclusões do trabalho serão resumidas, mostrando os principais

resultados e agenda de pesquisa a ser estudada.

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CAPÍTULO 1: O CONCEITO DE DEMOCRACIA

1.1 Da concepção minimalista ao debate sobre a qualidade da democracia

A concepção de democracia passou por diversos paradigmas na ciência política. Os seus

valores já foram questionados a ponto de firmarem revoluções nos parâmetros de estudos

democráticos. O bem comum já foi o objetivo fundamental da democracia e esta já foi

reduzida apenas a um método para se chegar ao poder político. Posteriormente, questões

substanciais foram incorporadas ao conceito novamente e a complexidade das diferentes

sociedades gerou uma necessidade para o estabelecimento de instituições políticas cada vez

mais especializadas, como as Cortes Constitucionais e a revisão judicial.

As revoluções teóricas levaram a um questionamento sobre a qualidade do

funcionamento das instituições democráticas. Entretanto, ainda há um extenso debate sobre

quais modelos democráticos seriam benéficos ou maléficos levando em consideração

determinados valores.

Lijphart (2003), em seu trabalho sobre modelos institucionais democráticos, aponta dois

tipos básicos de regime democrático: o modelo majoritário e o modelo consensual de

democracia. No modelo majoritário, o poder político fica sob o controle do grupo que obteve

a maioria dos votos nas eleições, já o modelo consensual tenta compartilhar, dispersar e

limitar o poder de várias maneiras. Portanto, o modelo majoritário de democracia é exclusivo

e competitivo. A Nova Zelândia anterior à reforma eleitoral de 1996 é o mais claro exemplo

de regime majoritário. Já o modelo o consensual caracteriza-se pela negociação e a concessão,

e a Suíça seria um bom exemplo dessa espécie de democracia. Entre as instituições que

caracterizam um modelo majoritário estariam um governo centralizado, unitário, unicameral e

constituições flexíveis, enquanto que um modelo consensual possuiria um governo

descentralizado, federalista, bicameral, uma constituição rígida e um consequente sistema de

revisão judicial.

Diversos autores na ciência política contemporânea passaram então a escolher qual lado

defender: se a democracia funcionaria melhor em um arcabouço institucional guiado por

regras majoritárias ou por regras consensuais. Entretanto, existe uma tendência para que os

autores na política comparada defendam os princípios majoritários, principalmente com o

objetivo de colocar em primeiro plano a importância de se garantir mecanismos que facilitem

a accountability, ou seja, a responsabilização das ações dos agentes estatais (MELO, 2007).

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Ao dar mais importância à accountability como um valor para a qualidade democrática,

alguns autores enfatizam a concentração de poder. Um exemplo dessa defesa de princípios

majoritários para favorecer os meios de gerar a accountability está em Representação,

Soberania e Accountability, de Andrew Arato (2002). A separação de poderes, o

bicameralismo, a revisão judicial e o federalismo representam o compromisso da democracia

madsoniana de defender os direitos das minorias perante as maiorias (DAHL, 1989).

Entretanto, Arato (2002) desconfia da real eficácia das instituições consensuais, como o forte

constitucionalismo e a revisão judicial. O autor defende que instituições que centralizam o

poder facilitam a accountability, colocando a responsabilização no centro da análise de uma

qualidade democrática.

A revisão judicial é, portanto, um atributo essencial em desenhos constitucionais

consensuais. Contudo, existe um paradoxo: quanto mais fragmentado o poder, menor a

capacidade de responsabilização. Portanto, os modelos constitucionais que reforçam a

accountability não seriam compatíveis com a revisão judicial. Os juízes teriam menos

credenciais democráticas para resolver supostas injustiças cometidas pelo legislativo. A única

diferença para os cidadãos estaria em apelar para uma aristocracia judiciária, em vez de uma

aristocracia legislativa (ARATO, 2002).

Mas Arato não está sozinho no argumento da menor legitimidade da revisão judicial,

em relação às credenciais democráticas do legislativo. Jeremy Waldron (2006) critica

especialmente a revisão judicial de decisões legislativas sobre discordâncias a respeito de

direitos. Em seu conjunto de argumentos contra o controle constitucional dessa espécie, o

autor afirma, assim como Arato, que o poder legislativo possui uma legitimidade democrática

mais forte que a dos juízes e por esse e outros motivos, essas divergências não deveriam ter

como árbitro final os juízes de uma corte suprema.

Dahl (2012: 211-255) também é um autor que sai em defesa do princípio majoritário, já

que as alternativas ao domínio da maioria também seriam bastante problemáticas. Em outras

palavras: mesmo que o domínio da maioria seja ruim, pior é estar sem ele. Nenhuma outra

regra poderia ser um melhor substituto para o método da maioria. Portanto, não existiria uma

solução universal para o problema da proteção de direitos. As soluções dependeriam da

cultura política, de experiências históricas e das instituições de cada país, que seriam

discutidas na esfera pública, entre legisladores eleitos. A justiça seria uma consequência do

processo democrático, e não algo imposto externamente.

Para justificar uma partilha de poder entre diversas clivagens sociais, outros atores

defendem instituições que permitam a participação de representantes de vários segmentos

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sociais no processo decisório. A defesa do modelo consensual está presente nas avaliações

democráticas de Lijphart (1991). O autor defende instituições consensuais como o

federalismo, mas principalmente uma combinação de parlamentarismo e representação

proporcional. O autor conclui que diante de sociedades complexas, uma convivência pacífica

só é possível com a inclusão de minorias no processo decisório.

Como aponta Marcus Melo (2007), as democracias contemporâneas estão cada vez mais

heterogêneas, mas as defesas majoritárias pressupõem sociedades homogêneas. Lijphart

(2008) então propõe um conjunto de prerrogativas institucionais para sociedades com

profundas clivagens de diversos tipos. Esses diferentes segmentos sociais só poderiam

conviver pacificamente diante de uma partilha do poder. Portanto, o parlamentarismo, com a

composição de um gabinete e um sistema de representação proporcional aumentariam as

chances das minorias estarem representadas no poder central.

Lijphart (2008) sugere outros elementos desse arranjo institucional, como um sistema

com distritos menores, que favoreceria uma maior homogeneidade dentro desses distritos. O

que retifica a defesa de uma maior descentralização e divisão do poder, para que cidadãos de

diversas clivagens possam estar representados e protegidos dos desejos da maioria.

Bruce Ackerman (2000) por sua vez, retoma alguns argumentos de Lijphart (1991;

2008). O autor defende um Parlamentarismo Limitado, onde estão presentes instituições

consensuais como o federalismo e o bicameralismo, assim como defende Lijphart. Entretanto,

Ackerman propõe um bicameralismo assimétrico, com um Senado com menos poder

decisório.

Para Ackerman, o sistema parlamentar reduz o número de ataques ao Estado de Direito,

mas por outro lado, a revisão judicial também cumpriria esse papel. Por este motivo, o autor

inclui a revisão judicial no seu modelo de Parlamentarismo Limitado. Ackerman defende uma

maior limitação ao poder do Parlamento, através da presença de uma Constituição escrita e de

uma Corte Constitucional para promover um controle do poder, além de outras instituições

com o propósito de frear a força do Parlamento. A Corte Constitucional seria necessária para

o controle da supremacia constitucional, pois Ackerman acredita que se não houver esse tipo

de controle, os princípios presentes na Constituição não serão observados pela maioria

parlamentar ou pelo próprio plebiscito.

Os critérios para uma democracia procedimental são condições necessárias para a

existência de um regime considerado democrático. Schumpeter (1942), em Capitalismo,

Socialismo e Democracia, trouxe uma inovação na teoria democrática: a democracia seria um

método, um procedimento. O autor propôs que um regime democrático se resumiria apenas

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em eleições, a qual seria a única forma do votante interferir no governo. Portanto, a

importância da democracia estaria na competição eleitoral e o poder ficaria na mão das elites,

ou seja, daqueles que estariam preparados para governar.

Para Schumpeter, a democracia não é um tipo de sociedade, nem um conjunto de

normas morais, mas um sistema em que o poder do eleitor resume-se em simplesmente

sancionar ou não os nomes que lhe são oferecidos no mercado político, por meio de eleições

competitivas (GAMA NETO, 2011).

O’Donnell (1999), em Teoria Democrática e Política Comparada, adverte que ao

imaginar eleições livres e limpas, Schumpeter pressupõe que há algo para além do

minimalismo. Schumpeter compreende que para haver uma "livre competição por um voto

livre" é preciso que se cumpram algumas condições externas ao processo eleitoral. Em outras

palavras, para que o "método democrático" exista, algumas liberdades básicas, relacionadas

com "princípios morais e legais da comunidade", também devem existir ao alcance de todos.

O’Donnell (1999) conclui que a definição de democracia de Schumpeter, apesar de elitista,

não é minimalista, nem se concentra no "método" ou processo eleitoral, como supunham o

próprio Schumpeter e a maioria dos seus comentadores.

Adam Przeworski (1999) utiliza o conceito minimalista de democracia proposto

originalmente por Schumpeter, que seria o mais próximo do que conhecemos no senso

comum: a democracia como sinônimo de eleições. O método democrático seria aquele que

garantiria uma alternância no poder, através de eleições limpas que ocorreriam entre no

mínimo dois e no máximo cinco anos de intervalo.

A garantia de que existem eleições limpas, livres e com um sistema multipartidário,

garantiria a alternância no poder. Todas as outras indagações acerca da democracia, como

violações das liberdades civis, por exemplo, seria uma discussão sobre a qualidade

democrática. Para fins de operacionalização, a concepção minimalista se mostraria mais

simples e objetiva, pois só haveria duas opções possíveis: democracia ou autoritarismo. Mas

diante disso, fica fácil questionar: seriam as eleições condições suficientes para definir um

país como democrático?

O’Donnell (1999) também ressalva que Przeworski (1999) propôs uma outra

caracterização da democracia, em um texto que reconhece a importância de outros fatores que

vão além das eleições para que haja uma democracia duradoura. Por exemplo, Przeworski

(1998: 16) concorda com a afirmação de Lipset (1959: 75) que países mais ricos têm mais

chances de manter a democracia. Przeworski (1999) também afirma que a concepção

minimalista não descarta os desenhos institucionais: para que as eleições fossem eficientes,

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elas deveriam ocorrer com um prazo mínimo de 2 a 5 anos de intervalo, e um único partido

não deveria assumir mais de 2/3 das cadeiras legislativas.

Mainwaring et. al. (2001) afirmam que tanto a concepção de Schumpeter quanto a de

Przeworski (1999) podem ser definidas como submínimas. Os autores defendem que uma

pequena dose de uma avaliação subjetiva é melhor do que não utilizar nenhum conhecimento

profundo acerca dos regimes:

Por “subjetivos” não queremos dizer arbitrários, mas julgamentos fundados no

conhecimento profundo dos casos e guiados por regras explícitas de codificação.

Uma avaliação que se limite às eleições deixa de fora elementos essenciais para uma

democracia, o que resulta numa definição submínima.

(MAINWARING et al., 2001, p. 646).

Os autores então propõem uma classificação tricotômica da democracia, onde haveria

regimes democráticos, semi-democráticos e autoritários. A metodologia de avaliação utilizada

indica que quatro perguntas devem ser feitas para obter a classificação: 1) Existem eleições

para o Legislativo e o Executivo? ; 2) O direito de voto é inclusivo? ; 3) As liberdades civis

são respeitadas?; 4) As autoridades eleitas têm reais condições de exercer o governo?

Se a resposta para todas as perguntas for “sim”, o regime em avaliação é considerado

“democrático”. Entretanto, se houver uma violação parcial em pelo menos um dos quatro

aspectos citados, o regime é considerado “semi-democrático”. Seguindo a mesma lógica, se

houver pelo menos uma violação grave de um dos critérios, o país é considerado

“autoritário”.

Daí então já se observa um avanço no debate sobre a democracia. Aos poucos o

conceito subminimalista vai perdendo a sua força. Além dos primeiros requisitos,

procedimentais, que se resumem em eleições inclusivas, os autores incluem duas dimensões

substanciais. A democracia também deve incluir as liberdades civis, pois em países onde há

eleições os direitos dos cidadãos podem ser frequentemente violados com pouca perspectiva

de punição, e o controle civil sobre os militares é essencial para verificar se quem é eleito de

fato tem autonomia para governar, já que as instituições coercitivas ou forças paramilitares

são capazes de limitar as decisões dos governantes.

Dahl (1989) foi um divisor de águas na teoria política contemporânea, ao adotar a

concepção procedimental de Schumpeter, mas adicionando questões substanciais ao conceito

democrático. Dahl aponta seis instituições de uma poliarquia (o mais próximo de um regime

democrático): representantes eleitos; eleições livres, justas e frequentes; liberdade de

expressão; fontes alternativas de informação; autonomia de associação; e cidadania inclusiva.

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A partir de então, Dahl inspirou toda uma agenda de pesquisa em torno de valores normativos

na democracia, que foram deixados de lado pela concepção minimalista, então vigente.

Diversas questões normativas foram incorporadas aos estudos democráticos. Questões

econômicas, tratando de igualdade social, desenvolvimento humano e estado de direito,

entraram para o debate normativo sobre a democracia, muitas vezes retomando argumentos de

autores clássicos.

Guillermo O’Donnell (2005), um expoente nos estudos democráticos na América

Latina, é um exemplo de autor que defende um valor normativo na democracia: um forte

Estado de direito. Um verdadeiro estado democrático de direito seria aquele com um Poder

Judiciário independente, com uma justiça que alcance a todos os cidadãos através de

processos que corram em um tempo razoável. Até então, nada de contrariante. Contudo, o

autor argentino defende a existência de uma instituição que gera bastantes controvérsias entre

os teóricos da democracia: a existência de uma corte constitucional e consequentemente, a

revisão judicial.

Portanto, a concepção minimalista mostrou ser uma condição necessária, porém não

suficiente para resumir o debate sobre a democracia. A ciência política tem avançado os seus

questionamentos sobre os valores morais, princípios normativos e arranjos institucionais que

seriam mais benéficos para um regime democrático.

Em termos de democracia procedimental, apenas a presença de eleições livres e justas

são suficientes para definir um regime como democrático. Mas é necessário compreender o

conteúdo da democracia latino-americana, já que as eleições podem ser apenas justificativas

para legitimar um regime com profundas desigualdades sociais, casos de corrupção em

diversas instituições, um judiciário lento e um alto grau de violência na sociedade, aliada a um

abuso da força letal pelas forças policiais.

1.2 A Qualidade da Democracia na América Latina

Muitas democracias na América Latina são o produto de eleições livres, mas poucas

delas resistem à tentação de abusar do poder político que foi conquistado através do processo

eleitoral. Escândalos de corrupção, redes de patronagem e clientelismo continuam crescendo

nos países latinos, o que levou a uma agenda na ciência política contemporânea sobre as

chamadas democracias de “baixa qualidade” (MAZZUCA, 2007).

Diamond e Morlino (2005) definem uma democracia de qualidade como aquela que

fornece aos seus cidadãos um alto grau de liberdade, igualdade política e controle popular

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sobre políticas e tomadores de decisão, através do funcionamento legal de instituições

estáveis. Mas como medir a qualidade de uma democracia? Os autores utilizam um conceito

multidimensional, onde a democracia é avaliada de forma procedimental, substantiva e por

fim, avaliam-se os seus resultados.

Enquanto autores como Levine e Molina (2011) descartam a análise dos resultados da

qualidade de uma democracia, a inclusão da avaliação dos resultados merece destaque no

trabalho de Diamond e Morlino (2005). A dimensão procedimental engloba cinco dimensões:

o estado de direito, a participação, a competição e as accountabilities vertical e horizontal. O

respeito às liberdades civis e políticas e a implementação de uma maior igualdade política são

as duas dimensões substantivas. Por fim, a dimensão onde se mediria os resultados de uma

qualidade democrática seria a da responsividade.

Seguindo os passos de O’Donnell (2005), os autores apontam que uma boa democracia

deve ter um forte Estado de Direito, onde ninguém está acima da lei. O sistema legal deve

estar ao alcance de todas as regiões de um país, não deixando espaço para o crime organizado

ou oligarquias locais. A corrupção deve ser detectada e punida em todos os poderes do

Estado. A força policial deve ser profissional, garantindo direitos e liberdades. Os cidadãos

devem ter igual acesso às cortes, o poder judiciário deve ser independente e deve haver uma

corte constitucional. Os crimes devem ser julgados em um tempo razoável e as decisões

acatadas pelas outras agências governamentais.

Morlino (2009) classifica cinco tipos de democracia de qualidade e outros cinco tipos de

democracias sem qualidade, e a primeira classificação que difere uma democracia de ser de

qualidade ou sem qualidade é também o Estado de Direito. A mais simples forma de

democracia de qualidade, a chamada democracia efetiva, é aquela onde há uma garantia real

de liberdade e uma considerável desigualdade, entretanto, há um forte Estado de Direito.

Entre as democracias sem qualidade o único fator que está ausente em todos os cinco tipos é o

Estado de Direito, logo se percebe que este é um fator crucial na diferenciação entre a

qualidade das democracias.

Levine e Molina (2011b) criticam a abordagem de Diamond e Morlino (2005), na

defesa de uma abordagem procedimental sobre a qualidade democrática. Os primeiros

também utilizam uma abordagem multidimensional, medindo a qualidade democrática através

de cinco dimensões: 1) decisão eleitoral, 2) participação, 3) accountability, 4) responsividade,

e 5) soberania. Entretanto, a responsividade estaria no procedimento e não nos resultados,

pois estes não estariam inclusos na avaliação da qualidade da democracia. Para os autores, se

há um arcabouço institucional que forneça mecanismos para o cumprimento das cinco

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dimensões acima citadas, os resultados seriam avaliações subjetivas de boa ou má

governança. Através dos mesmos mecanismos, resultados podem ser diferentes, mas por

questões de governança e não de qualidade democrática.

Charles Tilly (2007) inspira-se nas listas de requisitos para uma democracia formuladas

por Dahl (1989) para apresentar uma análise sistemática do processo que gera regimes

democráticos. Dahl (1989) aponta seis instituições de uma poliarquia (o mais próximo de um

regime democrático): representantes eleitos; eleições livres, justas e frequentes; liberdade de

expressão; fontes alternativas de informação; autonomia de associação; e cidadania inclusiva.

Tilly então as realoca em quatro dimensões: extensão, igualdade, proteção e consultas

mutuamente vinculadas. Uma evolução em cada uma das dimensões levaria à

democratização, e o detrimento de cada uma dela, levaria a uma de-democratização.

Tilly leva-nos a questionar quais fatores estariam levando a América Latina para o lado

da democratização e para o da de-democratização. Na dimensão da extensão, Tilly procura

medir a proporção da população que está incluída na jurisdição do Estado. Nessa medida

temos um avanço nos direitos políticos, já que atualmente, todos os países latinos, com

exceção de Cuba, realizam eleições para a escolha do chefe do Executivo.

Na dimensão da igualdade, sabe-se que a América Latina é uma região marcada por

uma intensa desigualdade socioeconômica. Guillermo O’Donnell (1998:44) descreve as

poliarquias (o autor usa a terminologia dahlsiana) latino-americanas como desiguais, onde

considerável parte de sua população vive na pobreza. De fato, hoje estima-se que a pobreza

represente 29,2% da população latino-americana.1.

O Estado de bem-estar nesses países são menos articulados e cresceram por meio de

intervenções paternalistas, que mal alcançam os muito pobres. Mas O’Donnell identifica

diferenças entre países da região. Na Costa Rica e no Uruguai existiriam Estados que há

muito tempo estabeleceram um sistema legal que, de forma geral, funcionam de um modo que

a lei alcance todo o seu território e em relação à maioria das categorias sociais. Esses são

países onde o princípio da lei é razoavelmente efetivo; seus cidadãos são plenos, no sentido de

que gozam de direitos políticos e civis. Mas esse não seria o caso dos outros países latino-

1 As taxas de pobreza e de indigência medidas pela renda mantiveram-se estáveis na América Latina em 2014

com relação ao ano anterior (situando-se em 28,2% e 11,8% da população da região, respectivamente), e se

estima que ambas teriam aumentado em 2015, segundo revela o relatório “Panorama Social da América Latina

2015” (CEPAL, 2016:18). Em termos absolutos, o número de pessoas em situação de pobreza cresceu em torno

de dois milhões em 2014 em comparação com 2013, alcançando 168 milhões de pessoas, das quais 70 milhões

estavam na indigência, informou a CEPAL. Segundo as projeções da CEPAL, em 2015 a taxa regional de

pobreza teria aumentado para 29,2% dos habitantes da região (175 milhões de pessoas) e a taxa de indigência

para 12,4% (75 milhões de pessoas).

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americanos como a Colômbia e Venezuela, marcados por grandes desigualdades na aplicação

e alcance das leis entre as categorias sociais.

Tilly ainda aponta a dimensão da proteção, onde se analisa em que medida o cidadão

está protegido de arbitrariedades do governo. Se agentes estatais usam o seu poder para punir

inimigos pessoais, este é um viés para a de-democratização. As consultas mutuamente

vinculadas seriam aquelas onde agentes estatais têm claras obrigações exigidas para fornecer

algum tipo de beneficio. O caminho contrário seria onde aqueles que buscam benefícios

estatais devem utilizar de propina, persuasão ou ameaças.

O caminho para a democratização ou para uma de-democratização também pode estar

na capacidade do Estado, como mostra o autor. Nenhuma democracia pode funcionar se o

Estado perde a sua capacidade de supervisionar as tomadas de decisão de uma democracia e

colocar em prática os resultados. Uma democracia de alta capacidade estatal seria aquela onde

sempre que agentes estatais atuam, suas ações afetam os recursos dos cidadãos, atividades e

conexões interpessoais.

Assim como Tilly, diversos autores passaram então a questionar quais outros fatores

seriam condições necessárias para a consolidação de um regime democrático. A

accountability então passa a ter um papel de destaque em muitas obras. Além da

accountability vertical, onde existe um controle eleitoral retrospectivo (PRZEWORSKI,

2002), a importância da accountability horizontal é abordada por O’Donnell (2002) em sua

crítica à “cultura do lamento” indagada por Przeworski (2002).

A accountability horizontal para O’Donnell (2002) consiste na existência de agentes

estatais que têm autoridade legal e estão de fato dispostos e capacitados para empreender

sanções em relação a atos ou omissões consideradas ilícitas cometidas por outras agências

estatais. A accountability horizontal prevê, portanto, a obrigação de se cumprir a lei.

Przeworski (2002) afirma que não há grandes diferenças entre os controles horizontais

entre os diversos países. O autor não encontra evidências de que na América Latina existem

problemas na accountability horizontal. O’Donnell (2002) critica essa afirmação, pelo fato de

Przeworski questionar apenas o número de atores com poder de veto e não se pergunta se de

fato essa autonomia entre os agentes funciona.

O’Donnell (2002) ressalta deficiências na chamada accountability horizontal, definida

como aquela onde os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – são independentes

entre si e estabelecem um equilíbrio de atribuições. Devido a essas deficiências, outras

instituições foram criadas, como as chamadas agências reguladoras no Brasil. Przeworski

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(2002) também deixou de lado a análise dessas agências e por isso também recebeu críticas

quanto à sua análise da accountability horizontal na América Latina.

O papel das agências reguladoras é de extrema importância para O’Donnell (2002).

Essas agências por serem técnicas e apolíticas, tenderiam a diminuir os conflitos entre os

poderes. Essas agências mudam de país para país, mas algumas delas têm jurisdições bastante

amplas e outras são mais especializadas.

Enquanto isso, outros apontam mais fatores como essenciais para o desenvolvimento

democrático. Munck (2007) coloca em seu trabalho a importância da literatura que coloca

fatores econômicos com estreita relação com a democracia. Uma interferência do poder

econômico no poder político, através da exclusão dos mais pobres ou dando um excessivo

peso às preferências dos mais ricos, é incompatível com um regime democrático.

Diante da influência de fatores econômicas na democracia, fica mais fácil entender

ditaduras ao redor do mundo, inclusive nos países árabes. Diamond (2012) coloca que há uma

base econômica estrutural para a ausência da democracia no mundo árabe e estaria na

“maldição do petróleo”:

Há, portanto, uma base econômica para a falta de democracia no mundo árabe. Mas

ela é estrutural. Tem a ver com as formas como o petróleo distorce o Estado, o

mercado, a estrutura de classes e toda a estrutura de incentivos. Principalmente em

uma era de alta global nos preços do petróleo, os efeitos da maldição do petróleo são

implacáveis: hoje, nenhum dos 23 países cuja maior parcela da receita de exportação

advém do petróleo e do gás é uma democracia.

(DIAMOND, 2012, p. 36)

Os países produtores de petróleo são fortemente centralizados e repressivos, porque a

riqueza do petróleo fica concentrada no Estado. O dinheiro vai para os cofres estatais como

renda, e não na forma de coleta de impostos, o que dificulta a accountability. O dinheiro é do

Estado e este é quem deve resolver como utilizá-lo.

Entretanto, existe uma outra fonte de dinheiro que cai diretamente nos estados árabes: o

apoio externo principalmente da Europa e dos Estados Unidos. Essas doações externas

conferem aos países árabes recursos econômicos, assistência no aparato da segurança e ainda

legitimidade política. Nem todos os países árabes são petrolíferos, portanto, países como o

Egito, Jordânia e Marrocos utilizam esse apoio externo como fonte de renda para a sua

sobrevivência. Portanto, ajudas externas acabam fornecendo meios para que estados

fortemente centralizados oprimam a sua população.

Mas talvez Diamond (2012) tenha negligenciado outros fatores em sua análise dos

autoritarismos árabes. A Tunísia é um país árabe que conseguiu, a seus moldes, desenvolver

um regime democrático. Mas por que isso ocorreu particularmente nesse país? Stepan (2012)

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então levanta a questão da mútua tolerância no país. A mútua tolerância tunisiana baseia-se

em dois princípios: 1) qualquer governo futuramente eleito teria de ser “baseado na soberania

do povo como única fonte de legitimidade”; e 2) o Estado, ao mostrar “respeito pela

identidade do povo e seus valores árabes-muçulmanos”, ofereceria “a garantia da liberdade de

todas as crenças a todos e a neutralização política de templos de adoração”.

Ao contrário de outros países árabes, a Tunísia tem um passado de tolerância entre a

religião e o Estado e também do Estado para a religião, o que de acordo com Stepan foi o

fator crucial para o desenvolvimento democrático na região. Sabe-se que a democracia é um

conceito ocidental, e como qualquer conceito ocidental, encaixa-se melhor nos contextos dos

países ocidentais. Portanto, as democracias árabes poderiam se adequar a sua cultura,

inclusive religiosa, para que haja uma confiança nas instituições e a partir disso uma

cooperação mútua.

Diante da análise de diversos contextos, avançamos na complexidade substancial da

democracia. As eleições agora são vistas como condições necessárias, porém não suficientes

para um regime democrático. Isso já nos leva a uma maior crítica sobre a democracia latino-

americana.

Ao questionar o conceito “subminimalista” de democracia vem à tona outra discussão:

as eleições poderiam ser apenas uma forma de legitimar medidas autoritárias? Após a Guerra

Fria, o Ocidente e especificamente os Estados Unidos, passaram a ser o centro econômico e

de poder militar. Com o desaparecimento da ameaça soviética, os Estados Unidos e outras

potências ocidentais intensificaram os esforços para incentivar e defender a democracia

através de uma combinação de assistência externa, pressão militar e diplomática, o que levou

muitos autocratas a adotarem instituições democráticas formais para competir

internacionalmente por recursos (LEVITSKY e WAY, 2010).

Entretanto, essa ligação com o Ocidente não levou necessariamente ao surgimento de

democracias. Na verdade, países como Camboja, Quênia, Malásia, México, Nigéria, Peru,

Rússia, Sérvia, Taiwan, Ucrânia e Zimbábue desenvolveram “eleições competitivas, mas

injustas” acompanhas de grandes violações de liberdade civis.

Diante dessas peculiaridades, Levitsky e Way (2010) classificaram 35 regimes entre

1990 e 1995 como autoritarismos competitivos:

Regimes autoritários competitivos são regimes civis nos quais instituições

democráticas formais existem e são amplamente vistas como o principal meio de

ganhar poder, mas o abuso do estado pelos incumbentes coloca-os em uma

significativa vantagem em relação aos seus oponentes. Tais regimes são

competitivos porque a oposição usa as instituições democráticas para contestar o

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poder, mas eles são não são democráticos porque o campo de jogo é fortemente

enviesado em favor dos incumbentes. A competição é assim real, mas injusta.

(LEVITSKY e WAY, 2010, p. 5).

Os autoritarismos competitivos passam então a ser um conceito de grande utilidade ao

examinar algumas ditas “democracias” ao redor do mundo. Alguns desses regimes

competitivos autoritários presentes entre 1990 e 1995 resultaram posteriormente em um

processo de democratização com o estabelecimento de eleições livres e justas, ampla proteção

das liberdades civis, e uma arena de jogos igualitária, assim como no México, onde Magaloni

(2003), em sua análise sobre a democracia mexicana, afirma que o estado de direito e a

independência do judiciário foram essenciais para o desenvolvimento democrático no país.

Entretanto, os autoritarismos competitivos podem tornar-se autoritarismos estáveis ou

não-estáveis. Os autoritarismos estáveis seriam aqueles em que o incumbente ou o seu

sucessor estariam no poder há pelo menos três mandatos e os não-estáveis seriam aqueles

onde o governo foi derrubado em algum momento (LEVITSKY e WAY, 2010). Mas o que

levaria um país a ser um regime autoritário tão forte ou o que o enfraqueceria?

A hipótese de Levitsky e Way (2012) é de que partidos que chegaram ao poder através

de lutas violentas estão mais propensos a se manter no poder, mesmo em momentos de fortes

crises econômicas. Os autores afirmam que a patronagem não é condição suficiente para a

manutenção do poder, pois países como Quênia e Zâmbia, com governos baseados apenas na

patronagem, tiveram ganhos da oposição nos momentos de crise econômica, enquanto que em

Moçambique e no Zimbábue, levantados como autoritarismos estáveis, mesmo diante de

crises, os regimes autoritários mantiveram-se no poder. O que diferenciou Moçambique e

Zimbábue foram os respectivos partidos que chegaram ao poder através de lutas de libertação

violentas. Essas lutas sangrentas teriam gerado uma coesão ideológica no partido, onde a

deserção seria muito custosa e o partido opositor seria visto como um inimigo do regime.

Diante de partidos com forte aparato militar, manifestações são fortemente reprimidas e

a oposição ameaçada. O custo de lutar pelo poder é o da própria vida e possivelmente a

própria população do país, por também acreditar na oposição como um inimigo do estado,

poderia dar suporte ao autoritarismo, fortalecendo o regime.

Analisar a trajetória desses quatro países africanos (Quênia, Zâmbia, Moçambique e

Zimbábue) leva à conclusão de que a permanência de regimes autoritários pode ter causas que

ainda não havíamos levado em consideração. Cuba por exemplo, se encaixaria nesse aspecto,

mesmo que não fosse anteriormente um autoritarismo competitivo, como nos países africanos

acima citados. A Revolução Cubana com a sua luta de guerrilha pela tomada do poder teria

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gerado uma coesão dentro do partido governista, onde os opositores do regime seriam vistos

como inimigos da luta pela libertação do país.

Contudo, analisar apenas quatro países africanos não leva em consideração outros

regimes autoritários estáveis, que poderiam ser contrafactuais do argumento dos autores. A

Rússia, por exemplo, classificada pelos autores como um autoritarismo estável, a princípio,

não possui um partido com origem em lutas violentas por libertação.

Mainwaring et. al. (2012) nos levam a questionar quais seriam as causas do colapso do

regime democrático venezuelano e o surgimento dessa competição autoritária. A hipótese

levantada seria que o baixo crescimento econômico aliado a escândalos de corrupção geraram

uma falta de identificação partidária nos venezuelanos, o que contribuiu para o colapso do

regime. Entretanto, decisões de atores políticos foram cruciais para que isso ocorresse.

Ao contrário de alguns autores, Mainwaring et. al. (2012: 959) criticam com firmeza o

argumento de que a Venezuela seria uma democracia participativa. Para o autor, o governo

chavista fornece oportunidades de decisão para a população, como a promoção de referendos,

entretanto, existe uma forte manipulação. O que vai ser referendado é aquilo que o governo

tem certeza que o resultado será a seu favor. O extenso controle do Estado permanece em

cada âmbito de decisão popular. As ideologias bolivarianas são colocadas em todos os

programas educacionais.

Consequentemente, haverá críticas sobre a literatura da qualidade democrática.

Mazzuca (2007), por exemplo, critica a metodologia e o conceito utilizados pelos estudiosos

da qualidade da democracia. O autor critica o método porque os estudiosos só analisam países

democráticos, o que seria lógico: já que se está estudando a qualidade da democracia,

estudam-se características apenas de regimes democráticos. Mas Mazzuca nega essa

proposição, pois acredita que ao ignorar casos de regimes autoritários, os acadêmicos perdem

fontes ricas de hipóteses.

Ao criticar o conceito, Mazzuca afirma que o processo da democratização, que é a base

para os estudos sobre a qualidade democrática, deveria ser refeito, isso porque, o conceito

trabalha de forma conjunta dois processos que deveriam ser analisados separadamente: o

acesso ao poder e o exercício do poder. O acesso ao poder se dá através de um regime que

liga a sociedade ao Estado. Este regime pode ser do tipo autoritário até um regime

democrático. O exercício do poder se dá através da administração, que liga o Estado à

sociedade. A administração pode ser através de um patrimonialismo, onde os recursos são

apropriados pelos os que estão no poder ou pode se dar através da burocracia, onde há uma

completa separação entre os administradores e os recursos.

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Os textos abordados nos levam a compreender diversas perspectivas. Tais trabalhos

mostraram desde uma abordagem mais simplista e com fins quantitativos da teoria

democrática, como a abordagem de Przeworski (1999) que enfatiza apenas a competição

eleitoral, até os pensamentos mais críticos e substanciais, como os importantes apontamentos

de O’Donnell, autor que consegue identificar muito bem os problemas peculiares à América

Latina.

Reitera-se a afirmação no início das análises: a democracia não deve ser reduzida à

presença de eleições. Os sufrágios frequentes não podem ser uma justificativa para a violação

de direitos civis e por isso ainda há muito que se avançar na literatura normativa sobre a

democracia brasileira. Escândalos de corrupção continuam permeando as instituições

democráticas, altos níveis de violência ainda continuam presentes e o Estado ainda não

consegue alcançar a todos. Todas as referências e suas respectivas críticas facilitaram a

compreensão da realidade da democracia latino-americana. Ficou mais claro entender em que

pontos estamos avançando ou retrocedendo no nosso desenvolvimento democrático e quais

aspectos institucionais e sociais são entraves para uma democracia de maior qualidade na

América Latina.

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CAPÍTULO 2: UMA BREVE REVISÃO DA LITERATURA SOBRE DEMOCRACIA

E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

2.1 A teoria da modernização

A teoria da modernização assume que o processo de desenvolvimento socioeconômico é

"uma acumulação progressiva de mudanças sociais que prepara a sociedade para o seu

ponto culminante, a democratização” (PRZEWORSKI e LIMONGI, 1997:158). O debate

tem como ponto de partida uma declaração feita por Lipset (1959: 75) que afirma: "quanto

mais rica uma nação, maior a chance de sustentar a democracia”.

Os testes estatísticos de Lipset (1959) estabeleceram índices de "desenvolvimento

político", "democracia política", ou "desempenho democrático" e os correlacionou com

índices de desenvolvimento econômico. Estudos mais recentes usam medidas de democracia

semelhantes, mas têm procurado usar análises estatísticas cada vez mais sofisticadas para

descobrir a verdadeira natureza da relação entre democracia e desenvolvimento econômico

(LANDMAN, 1999: 609). A seguir serão apresentadas as principais obras que, inspiradas em

Lipset (1959), contribuíram para a sofisticação metodológica da teoria da modernização.

A relação entre o desenvolvimento econômico e a democracia na literatura

quantitativista pode assumir diferentes formas funcionais, as mais comuns incluem as relações

linear, curvilínea, e de “função de grau” (step-function) (LADMAN, 2008: 101-102).

A relação linear positiva entre o desenvolvimento econômico e a democracia sugere que

na medida em que o nível de desenvolvimento econômico aumenta, a probabilidade de que

um país ser democrático também aumenta. A relação curvilínea sugere que uma mudança

positiva no desenvolvimento econômico é acompanhada por uma alteração positiva na

democracia, mas ao contrário de uma relação linear, o grau em que uma democracia aumenta

estabiliza-se com níveis mais elevados de desenvolvimento econômico. Finalmente, uma

relação de “função de grau” indica que existe um nível distinto de desenvolvimento

econômico após o qual a probabilidade de um país ser democrático não muda.

Lipset (1959), que foi um dos primeiros cientistas políticos a escrever sobre crescimento

econômico e democracia, tratou o crescimento econômico como a presença de alta renda per

capita, segurança econômica e altos níveis de educação, onde o aumento da riqueza afetaria

não apenas as condições sociais dos trabalhadores, mas também o papel político dos cidadãos.

Em seu artigo “Some Social Requisites of Democracy: Economic Development and

Political Legitimacy”, Lipset (1959: 75) considera que a democracia está relacionada com o

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crescimento econômico do país. Só em países com poucos pobres é que a maior parte da

população poderia participar inteligentemente do processo político, assim como seria capaz de

evitar sucumbir ao apelo de “demagogos irresponsáveis”. Lipset (1959: 75-77) constata,

através de correlações e testes simples, que alta riqueza, alto grau de industrialização e

urbanização, e alto nível de educação, são mais comuns em países mais democráticos.

O aumento da riqueza afetaria não apenas as condições sociais dos trabalhadores, mas

também o papel político da classe média, uma vez que ela se torna capaz de recompensar os

partidos democráticos e de penalizar os grupos extremistas. (LIPSET, 1959: 83-84).

O nível geral de renda também incidiria na receptividade das regras democráticas.

Países mais ricos tendem a desenvolver regras mais “universalísticas”, enquanto países mais

pobres tendem a manter o nepotismo, o que os impede de desenvolver uma burocracia

eficiente (LIPSET, 1959: 84).

Por fim, Lipset (1959: 84-85) destaca o papel das organizações e instituições

intermediárias, que atuam como uma forma de “contra-poder” e recrutam participantes no

processo político. O autor salienta que pessoas filiadas a alguma associação tendem a ter

opiniões mais democráticas em questões relativas à tolerância e ao sistema de partidos, além

de estarem mais aptas a participar do processo político.

Putnam (1996), cerca de 30 anos depois, também concluiu que a participação em

associações propicia a democracia. A vida associativa mais vibrante no Norte da Itália explica

o melhor desempenho institucional da região em relação ao sul italiano. Particularmente,

Putnam explica esta relação entre fortes redes de participação cidadã e desempenho

institucional positivo em termos de "capital social" – redes, normas de reciprocidade e

confiança que são promovidas entre os membros de associações comunitárias em virtude de

sua experiência de interação social e de cooperação.

Portanto, apesar de não dizer que o crescimento econômico realmente causa a

democracia, o trabalho de Lipset (1959) é o primeiro a estabelecer uma correlação, ou

provável associação, entre os dois, e, assim, abre o caminho para uma sucessão de estudos

construídos a partir dessa comparação original (LANDMAN, 2008: 105).

Cutright (1963), seguindo os passos de Lipset (1959), compara 77 países na América do

Norte, América do Sul, Ásia e Europa, usando escalas de desenvolvimento das comunicações,

crescimento econômico e democracia. A correlação entre o desenvolvimento das

comunicações e desenvolvimento político é maior do que entre o crescimento econômico, mas

ambos são altos o suficiente para Cutright concluir que existe uma interdependência entre as

instituições políticas e o nível de crescimento econômico e social (1963: 571).

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Cutright e Wiley (1969) comparam 40 países, no decorrer de 4 décadas: 1927-1936,

1937-1946, 1947-1956 e 1957-1966. A variável dependente é a representação política, que é

definida como “a medida em que os poderes Executivo e Legislativo do governo estão

sujeitos às demandas da população e não das elites” (CUTRIGHT e WILEY, 1969: 23-24).

As pontuações anuais sobre um índice de representação política foram compiladas para

cada uma das quatro décadas. O desenvolvimento econômico é medido usando a quantidade

de energia consumida em um determinado ano. A comparação dos 40 países ao longo das

quatro décadas revela uma relação significativa e estável entre o nível de desenvolvimento

econômico e a representação política. Além disso, uma vez que a análise utiliza quatro

períodos de tempo diferentes, Cutright e Wiley (1969: 29) concluem que o nível de

representação política é causalmente dependente do nível de desenvolvimento econômico.

Dahl (1971), em Poliarquia, procura formular uma classificação de regimes políticos e

depois usar essa tipologia para examinar as condições que favorecem a democracia. Dahl

(1971: 4-9) concebe a democracia como tendo duas dimensões: contestação e participação. Os

países que têm níveis elevados de contestação (ou seja, o grau em que os membros de um

sistema político estão livres para contestar a conduta do governo) e participação (ou seja, a

proporção da população que tem direito de participar no controle da condução do governo)

são consideradas “poliarquias".

Usando o PIB per capita como uma medida de desenvolvimento econômico, a sua

comparação de 118 países e 33 poliarquias revela um fraco efeito curvilíneo da democracia,

onde países que alcançam um certo nível de desenvolvimento econômico, entre 700 e 800

dólares do PIB per capita (com base em valores de 1957), tendem a ser poliarquias. Após esse

limite, o grau de democracia diminuiria com níveis mais elevados de desenvolvimento

econômico.

Mas Dahl (1971: 68-69, 74) é cauteloso sobre esta conclusão, uma vez que existem

muitos casos desviantes que têm baixos níveis de desenvolvimento e são poliarquias (por

exemplo a Índia), ou que têm altos níveis de desenvolvimento e não são poliarquias (por

exemplo, a União Soviética e a Alemanha Oriental). Além disso, a história mostra que os

Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Grã-Bretanha, Noruega e Suécia, entre

outros, foram poliarquias muito antes de eles alcançarem níveis elevados de desenvolvimento

econômico (DAHL, 1971: 69-70).

Com base nos estudos anteriores realizados por Lipset (1959) e Cutright (1963),

Jackman (1973) argumenta que a democracia é mais bem entendida como um processo

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contínuo em vez de um conceito dicotômico, e que ambas as relações curvilínea e linear

deveriam ser testadas.

Jackman (1973: 611) concentra sua comparação em 60 países não-comunistas. Sua

medida de democracia combina quatro indicadores, incluindo participação eleitoral, a

competitividade do sistema de votação do partido, o grau de irregularidade eleitoral e relativa

liberdade de imprensa. Como Cutright e Wiley (1969), sua medida de desenvolvimento

econômico é o nível de consumo de energia. Sua análise estatística revela que a relação

curvilínea é mais significativa do que a linear, acrescentando, assim, evidências comparativas

para a ideia de limite democrático de Dahl (1971).

Helliwell (1994) compara 125 países no período de 1960–1985. O autor utiliza

controles para diferentes efeitos regionais, incluindo os países da OCDE 2, os países

produtores de petróleo do Oriente Médio, os países africanos e os países latino-americanos

(HELLIWELL,1994: 228-229). O desenvolvimento é medido através da renda per capita e a

democracia é medida por um índice que combina duas medidas separadas de proteção das

liberdades civis e políticas, que varia de uma “não-democracia” a uma “democracia

completa”.

Sua análise estatística revela um forte efeito positivo da renda per capita no nível de

democracia. Além disso, sua análise mostra efeitos positivos para os países da OCDE e

América Latina, e os efeitos negativos para a África e Oriente Médio. Em geral, os resultados

estatísticos confirmam a relação entre desenvolvimento econômico e democracia estabelecido

pelos estudos comparativos já citados.

Burkhart e Lewis-Beck (1994) comparam 131 países de 1972 a 1989 e utilizam como

indicador de desenvolvimento econômico o consumo de energia, assim como Jackman (1973)

e Cutright e Wiley (1969). Entretanto, Burkhart e Lewis-Beck (1994) utilizam controles para

os efeitos de “outras forças sociais”, representadas pelos antigos valores da democracia e a

“posição mundial” dos países (centro, semi-periferia ou periferia). Os autores utilizam um

índice similar ao de Helliwell (1994) para medir a democracia, que pode ir de um nível mais

baixo (não-democracia) ao mais alto (democracia completa) (BURKHART e LEWIS-BECK,

1994: 904–995).

Os resultados da análise estatística revelam que o desenvolvimento econômico e outras

forças sociais estão associados positivamente com a democracia, enquanto as posições

2 Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, hoje os 35 países membros abrangem todo o

mundo, a partir da América do Norte e do Sul para a Europa e Ásia. Incluem muitos dos países mais avançados

do mundo, mas também países emergentes como México, Chile e Turquia (http://www.oecd.org/).

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mundiais periféricas e semi-periféricas diminuem esses efeitos positivos. Em outras palavras,

o efeito de desenvolvimento econômico na democracia é menor em países recém-

desenvolvidos e em desenvolvimento. Ao usar técnicas estatísticas mais avançadas do que os

empregados por Helliwell (1994), eles são capazes de reivindicar com confiança que o

desenvolvimento econômico causa a democracia (BURKHART e LEWIS-BECK 1994: 907).

Os estudos de Przeworski e Limongi (1997) e Przeworski et al. (2000) usam um

conjunto parecido de dados para o período de 1950 a 1990: 135 países no primeiro e 140 no

segundo estudo. Nos dois trabalhos os autores encontra uma relação estatisticamente

significativa entre o desenvolvimento econômico e a democracia. No entanto, eles não

encontraram nenhuma evidência de uma relação estatisticamente significativa entre o

desenvolvimento econômico e o surgimento da democracia. Além disso, os autores

argumentam que a probabilidade de colapso da democracia cai para perto de zero em níveis

elevados de desenvolvimento econômico.

O principal alvo da obra de Przeworski et al. (2000), “Democracy and development:

political institutions and well-being in the world, 1950-1990”, é a teoria da modernização, que

defende a ideia de que o desenvolvimento pode trazer a democracia (RAMOS, 2006). Os

autores buscam responder as seguintes perguntas: por que observamos uma maior incidência

de governos democráticos nos países mais desenvolvidos? Estão as nações subdesenvolvidas

menos suscetíveis a tornarem-se desenvolvidas sob a democracia que sob a ditadura? Os

autores concluem que, uma vez que democracias emergem, por quaisquer razões, elas estão

mais propensas a sobreviver nos países mais desenvolvidos. Por conseguinte, a emergência da

democracia não é uma consequência necessária do desenvolvimento econômico, mas pode

ajudar as democracias a sobreviver.

Os autores defendem que o melhor indicador de sobrevivência da democracia é a renda

per capita. Depois de uma extensa análise dos dados, os autores concluem que os países ricos

tendem a ser democráticos não por causa do desenvolvimento econômico, mas porque

democracias são muito mais propensas a sobreviver em sociedades mais prósperas,

independentemente das razões para seu surgimento.

Em suma, para Przeworski et al. (2000), uma vez que a democracia é estabelecida

dentro de um país rico, ela tende a não entrar em colapso e é esta estabilidade da democracia

nos países ricos que impulsiona a relação estatística geral. Przeworski et al. (2000) rotulam a

sua perspectiva teórica de democratização exógena, uma vez que postulam que é a presença

de outros fatores, e não o desenvolvimento econômico, que explica o surgimento da

democracia (LANDMAN, 2008: 109-110).

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Jan Teorell (2010: 57), assim como Przeworski et al. (2000) e Persson e Tabellini

(2009), argumenta que, durante a terceira onda de democratização, a modernização

socioeconômica não resultou em um avanço democrático nos países mais modernizados 3. Na

verdade, houve uma tendência dos países menos modernizados socioeconomicamente a

retrocederem a um autoritarismo. Entretanto, o autor conclui que as conquistas democráticas

sobrevivem mais facilmente em níveis mais elevados de modernização socioeconômica

(TEORELL, 2010: 76).

Para Teorell (2010: 67-68), nem o nível de educação, nem de industrialização,

urbanização ou renda nacional evitam um retrocesso ao autoritarismo. Um indicador que teria

impacto seria o nível de proliferação midiática, só que essa mídia não levaria à

democratização em um contexto autoritário, já que, em regimes autoritários, a mídia é

utilizada como instrumento político pelo líder. O que a proliferação midiática pode fazer é

evitar que as democracias se de-democratizem.

Em momentos de crise econômica, ao ver a capacidade estatal decair, o setor privado

que apoia o regime autoritário tende a começar a enxergar a democracia como uma melhor

alternativa. Em segundo lugar, em época de crise, o governo passa a não poder mais evitar a

oposição de setores populares, como através de empregos públicos e subsídios, o que faz com

que insurjam mobilizações e protestos populares. Por último, e concordando com Haggard e

Kaufman (1995), O’Donnell e Schmitter (1986) e Przeworski (1991), as crises econômicas

geram divisões dentro do próprio regime, o que é a principal causa de fim de regimes

autoritários (TEORELL, 2010: 70-71).

Przeworski et al. (1997b) defendem que, para que se possa ter um regime democrático,

são necessárias as seguintes condições: riqueza, crescimento com inflação moderada,

desigualdade decrescente, um clima favorável e instituições parlamentaristas. Os autores

argumentam que as ditaduras não oferecem nenhuma vantagem quando o objetivo é

desenvolvimento e democracia (PRZEWORSKI et al., 1997b: 116).

Przeworski et al. (1997b:116), no que diz respeito à riqueza, argumentam que o nível de

crescimento econômico tem forte efeito sobre a probabilidade de que a democracia

sobreviverá. Contrariamente a Huntington (1968) e O’Donnell (1973), que acreditam haver

um nível de desenvolvimento que, se ultrapassado, reduz a probabilidade de sobrevivência da

3 O conceito de democracia de Teorell é continuo e o de Przeworski é binário. Isto faz diferença no momento de

medir a relação entre democracia e crescimento econômico através de ajustes de modelos de regressão. Diante de

um modelo contínuo utiliza-se a regressão linear e no modelo binário, a regressão logística.

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democracia, Przeworski et al. (1997b) acreditam que em nenhum nível de desenvolvimento as

democracias se tornam mais frágeis do que elas eram quando mais pobres.

No que tange ao desempenho econômico, os autores acreditam que as democracias

podem sobreviver em países pobres, contanto que mantenham a taxa de inflação moderada e

gerem crescimento econômico. Contrariamente a Lipset (1959), Mancur Olson (1991) e

Huntington (1968), Przeworski et al. (1997b) acreditam que a democracia não se desestabiliza

quando um país cresce rapidamente, muito pelo contrário, as que crescem mais rápido

estariam mais propensas a sobreviver do que as que crescem lentamente. O fator que ameaça,

realmente, a estabilidade democrática, seriam as crises econômicas (PRZEWORSKI et al.,

1997b: 118).

Por fim, o último fator econômico apresentado pelos autores é a desigualdade de renda.

Os autores descobriram que a democracia estaria mais propensa a sobreviver em países nos

quais a desigualdade é declinante ao longo do tempo 4.

2.1.1 A teoria da modernização testada em âmbito regional

Trabalhos semelhantes na literatura sobre desenvolvimento econômico e democracia

examinam a relação com uma amostra menor de países confinados geograficamente para a

América Latina (LANDMAN, 1999; MAINWARING e PÉREZ-LIÑÁN 2003). Dezessete

países latino-americanos são comparados ao longo dos períodos 1972-1995 (LANDMAN,

1999), e por um período maior que remonta à década de 1940 (MAINWARING e PÉREZ-

LIÑÁN 2003). Os países nessas amostras estão geograficamente próximos e são

culturalmente semelhantes. Tomados em conjunto, estes estudos utilizam as técnicas

quantitativas dos estudos que comparam muitos países, mas limitam as suas comparações

para uma seleção menor de países. (LANDMAN, 2008: 112).

Landman (1999) fornece em seu artigo um teste empírico robusto da tese do

desenvolvimento econômico usando dados de séries temporais em dezessete países da

América Latina (n = 408). Ele especifica modelos semelhantes (linear e não-linear) àqueles

encontrados no literatura da política comparada sobre desenvolvimento econômico e

democracia, replicando as suas conclusões para o nível regional. A análise estatística mostra

que a relação positiva entre o desenvolvimento econômico e a democracia não foi mantida

4 Ibidem, p. 119.

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neste nível, mesmo quando se usa medidas alternativas de ambos e controla-se pela variação

sub-regional.

Landman (1999: 625) sugere que pesquisas futuras deveriam incluir variáveis omitidas,

tanto econômicas quanto políticas, para explicar o surgimento da democracia a níveis

regionais. As variáveis econômicas poderiam ser distribuição de renda e mudança dos padrões

de emprego nos setores secundário e terciário da economia; natureza da economia de

exportação (RUESCHEMEYER et al., 1992) e os padrões de dependência econômica entre os

países da região e do resto do mundo (BURKHART e LEWIS-BECK, 1994); o tempo e as

características do processo de industrialização; e a presença e a qualidade do investimento

estatal e das atividades econômicas (RUESCHEMEYER et al., 1992).

As variáveis políticas possivelmente relevantes, de acordo com Landman (1999),

seriam: se um país experimentou cedo ou tarde a consolidação do poder do Estado

(RUESCHEMEYER et al., 1992; LINZ e STEPAN, 1996); a magnitude e tamanho do

orçamento militar; a presença de partidos políticos fortes (RUESCHEMEYER et al., 1992;

MAINWARING e SCULLY, 1995); e a presença de mobilização social do trabalho e outros

movimentos sociais (FOWERAKER e LANDMAN 1997; 1999).

As variáveis sugeridas por Landman (1999) baseiam-se em obras específicas.

Rueschemeyer et al. (1992) argumentam que a natureza da economia de exportação

(agricultura versus mineral) tem implicações para o tipo de alianças de classe que se

desenvolvem, o que por sua vez pode ter um impacto subsequente no processo de

democratização. Burkhart e Lewis-Beck (1994) sugerem que a posição na economia mundial

pode afetar os padrões de desenvolvimento econômico e, por extensão, as possibilidades de

estabelecer e manter a democracia.

Rueschemeyer et al. (1992) também indicou a importância de variáveis sobre o processo

de industrialização na América Latina. Segundo o autor, grande parte da região latino-

americana passou por um período de substituição de importações para a industrialização, o

que exigiu a intervenção do Estado para proteger a indústria nascente. A industrialização

provocou profundas implicações para novas alianças de classe, políticas populistas, e novas

formas de intermediação de interesses, condicionando a emergência da democracia na região.

As variáveis políticas foram referências às obras de Rueschemeyer et al. (1992) e Linz e

Stepan (1996). Ambos argumentam que o Estado é uma variável explicativa fundamental para

o sucesso do estabelecimento e manutenção da democracia. Para Rueschemeyer et al., a

consolidação precoce do poder de Estado elimina desafios evidentes de grupos dissidentes.

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Linz e Stepan (1996) argumentam que a estatalidade 5 constitui a base física e imaginária

sobre a qual se funda uma democracia.

Em relação à influência dos partidos políticos para o surgimento da democracia,

Rueschemeyer et al. argumentam que a presença de dois partidos políticos fortes estão mais

suscetíveis a facilitar o estabelecimento da democracia e Mainwaring e Scully (1995) sugerem

que a presença de dois partidos institucionalizados, não ideologicamente polarizados, são as

melhores garantias de uma democracia estável.

Já Foweraker e Landman (1997, 1999) demonstram que a democracia é o resultado

direto da luta coletiva pelos direitos individuais, justificando a inclusão de variáveis sobre a

mobilização popular.

Landman (1999: 626) então conclui fazendo uma crítica à teoria da modernização por

suas consequências na sociedade de países em desenvolvimento. A associação entre

desenvolvimento econômico e democracia poderia criar expectativas dentro de cidadãos de

países em desenvolvimento com base em uma falsa equivalência entre a liberdade econômica

e a liberdade política. Uma vez que a democracia é instaurada, aumentam-se as expectativas

de uma distribuição justa dos bens advindos do crescimento econômico. Além disso, a falta de

um bom desempenho econômico no novo período democrático pode conduzir a uma certa

nostalgia de períodos anteriores de prosperidade econômica em condições de regime

autoritários.

Mainwaring e Pérez-Liñán (2003) analisam o nível de democracia alcançado por 19

países da América Latina a partir de 1977, no período entre as transições de governo

autoritário e o ano de 2004. O estudo mostra o efeito duradouro do legado do regime: apesar

das interrupções autoritárias no passado, o melhor preditor do nível atual da democracia é a

experiência do país com a política competitiva durante a primeira (1900-1944) e segunda

(1945-77) onda de democratização. Os autores documentam o impacto das heranças do

regime usando um modelo estatístico que decompõe o vetor de efeitos fixos.

Os resultados estatísticos mostram que o início da história dos regimes políticos afeta o

nível atual da democracia, mesmo controlando por uma ampla gama de outras variáveis que

muitas vezes afetam o nível de democracia. Na América Latina, a democracia precoce (antes

de 1977) levou a um nível substancialmente mais alto da democracia na contemporaneidade

(pós-1978), mesmo controlando por outras variáveis. Dois países semelhantes em todas as

5 O termo stateness, que, utilizando um neologismo poderia ser traduzido por estatalidade, significa a

centralidade institucional do Estado (DINIZ, 2013: 12).

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outras variáveis independentes têm hoje diferentes níveis de democracia, se um teve um

passado muito mais democrático do que o outro.

O argumento dos legados do regime está em contraste com as declarações de que a

democracia depende exclusivamente de variáveis estruturais, tais como o nível de

desenvolvimento. Os argumentos dos legados do regime diferem dos argumentos estruturais

porque neste último, se um país passa por um rápido crescimento econômico, a sua

probabilidade de se tornar uma democracia de alta qualidade deve aumentar

significativamente, independentemente da sua trajetória no regime passado. A análise

estatística incluiu duas variáveis estruturais (PIB per capita e o percentual da força de trabalho

em manufatura, mineração, construção e transporte), e o efeito do legado do regime não

desaparece com essas mudanças estruturais.

2.2 Os regimes políticos mantêm o crescimento econômico?

Estudos têm explicitamente levado em conta o impacto de várias liberdades políticas no

crescimento econômico. As evidências em geral apoiaram a crença de uma ligação positiva

entre liberdade política e crescimento, mas sempre houve dissidentes que acreditavam que a

liberdade política poderia estar negativamente relacionada ao crescimento (FARR et al., 1998:

248).

Há uma literatura substancial na ciência política investigando as ligações empíricas

entre a democracia e os resultados econômicos, parte do qual é resumida por Przeworski e

Limongi (1993). Estes autores buscam investigar se, de fato, existe relação entre o regime

político (democracia ou ditadura) e o crescimento econômico. Para tanto, eles revisam a

literatura teórica e o estudos estatísticos. Ao fim, chegam à conclusão de que falar em regime

político não é o meio mais válido de investigação e estratégia inferencial eficiente. Ou seja,

não é necessariamente uma democracia ou uma ditadura que ocasionará o crescimento ou

recrudescimento econômico, mas a natureza e a engenharia das instituições políticas

envolvidas em cada regime observado.

Em termos teóricos, os autores afirmam existir dois grupos na literatura: os que são a

favor da afirmação de que a democracia sustenta o crescimento econômico e os que são contra

tal afirmação. Antes de apresentar os argumentos dos dois grupos, os autores desmistificam a

afirmação de que a democracia necessariamente assegura os direitos de propriedade.

Portanto, os argumentos contra a afirmação de que a democracia é uma condição

necessária para o crescimento econômico, em resumo, são: a. A democracia abala o

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investimento por padecer da instabilidade de pressões consumo imediato (HUNTINGTON,

1968; HUNTINGTON, DOMINGUEZ, 1975) o que faz com que a ditadura assegure a fonte

maior de poupança (RAO, 1984); b. A ditadura isola o Estado das pressões de interesses

particulares, logo, as democracias são repletas dos problemas da ação coletiva (HAGGARD,

1990). Por outro lado, North (1990), Barro (1990), Findlay (1990), Olson (1991) e Przeworski

(1990) são adeptos do argumento de que os dirigentes autônomos são predatórios ao

crescimento, e não a democracia.

Perante esse debate, o texto, então, traz a evidência estatística. Assim, ao examinarem

dezoito estudos, os autores afirmam que:

Em certo sentido, os críticos e os defensores da democracia travam um diálogo de

surdos. Os críticos supõem que as ditaduras são melhores na mobilização de

poupança; os defensores, que as democracias são melhores na alocação de

investimento. Ambos os argumentos podem ser verdadeiros, mas, como veremos, a

evidência estatística é inconclusiva e os estudos que a produziram apresentam

graves problemas (PRZEWORSKI; LIMONGI, 1993, p. 183).

Desse modo, dos dezoito estudos que geraram vinte e uma conclusões: oito concluíram

em favor do autoritarismo, oito em favor da democracia e cinco não apontaram diferença.

Nesse ínterim, os autores do paper afirmam que o desenho de pesquisa desses estudos é

complexo, a regressão simples falha do mesmo modo que a comparação de médias e há vários

vieses de seleção. Os autores concluem com uma advertência de que os resultados são muito

sensíveis a alterações na equação do modelo de regressão afetando o sinal. Ou seja:

“Embora o recurso à simulação constitua ao menos uma garantia de que não se

atribuem a regimes efeitos que eles não produzem, ainda é possível que este recurso

se mostre incapaz de captar os efeitos que os regimes, de fato, exercem”

(PRZEWORSKI; LIMONGI, 1993, p. 187).

É, portanto, uma visão cética, que argumenta, basicamente, que há outras instituições,

não diretamente ligadas a um regime específico, que afetam o crescimento econômico.

Hirschman (1994), assim como eles, considera que liberdade política por si só não garante o

crescimento. Justamente por isso, os autores afirmam que a resposta para a pergunta de

investigação que eles tinham se proposto, que era a de saber se a democracia auxilia ou não

no crescimento econômico, não pode ser respondida e resta em aberto para discussões

maiores, como a que se propõe o presente trabalho.

Um dos primeiros trabalhos empíricos na economia para estimar o efeito da democracia

sobre o crescimento econômico é o de Barro (1996), que verificou que a democracia tem um

pequeno efeito negativo sobre o crescimento econômico, com alguma evidência de uma não-

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linearidade onde a democracia aumenta o crescimento em níveis baixos de democracia, mas a

reduz em níveis mais elevados.

O artigo de Barro (1996) incitou uma literatura posterior empregando uma variedade de

estratégias para lançar luz sobre as mesmas questões. Trabalhos como o de Tavares e

Wacziarg (2001), que se concentraram em regressões crosscountry e relataram um fraco

efeito negativo. Przeworski et al. (2000) não verificaram um impacto significativo da

democracia sobre o crescimento. Análises com regressões de dados em painel incluem Rodrik

e Wacziarg (2005) e Persson e Tabellini (2007), que encontraram um efeito positivo da

recente democratização para o crescimento.

Przeworski et al. (2000), analisando 141 países no período 1950–1990, procuram

responder as seguintes perguntas: as ditaduras são uma condição necessária para taxas mais

elevadas de crescimento econômico nos países em desenvolvimento? A democracia é hostil

ao crescimento econômico? A ditadura é o único regime capaz de implementar as reformas

necessárias para o crescimento econômico nos países subdesenvolvidos?

Muitos autores afirmam que os governos democráticos em nações subdesenvolvidas não

são fortes o suficiente para implementar as reformas necessárias para o crescimento, já que

essas reformas podem causar danos ao apoio eleitoral, necessário para a permanência no

poder. Os autores encontram que o total do crescimento da renda é maior sob ditaduras, no

entanto, parece que esse valor não é devido ao regime político, mas ocorre porque as ditaduras

aparecem com mais frequência em países pobres. De fato, países pobres geralmente têm

maiores taxas de crescimento e, por isso, essa parece ser a explicação para a diferença

observada.

Os autores também não encontram o apoio para a afirmação de que a democracia

prejudica o investimento (PRZEWORSKI et al., 2000: 146). Países muito pobres investem

pouco, independentemente do tipo de regime. Com efeito, regimes pobres não podem pagar

um Estado forte e assim, seus estados não são capazes de ter qualquer papel produtivo na sua

economia.

A diferença está no padrão de crescimento de cada regime. Como se poderia esperar, as

ditaduras utilizam mais a exploração de mão-de-obra. A força de trabalho cresce mais rápido

e ganha salários mais baixos. As democracias pagam melhor e permitem a livre associação

entre os trabalhadores. Isso ocorre porque as ditaduras permitem o Estado reprimir o trabalho.

Assim, a principal conclusão do trabalho está em desacordo com a afirmação de que a

democracia tem um impacto significativo sobre crescimento: de acordo com Przeworski et al.

(2000), os regimes políticos não promovem nem prejudicam o crescimento. No entanto, a

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43

sabedoria convencional é correta: a vida é muito mais difícil sob ditaduras (RAMOS, 2006:

351).

Tavares e Wacziarg (2001), estudando 65 países industriais e em desenvolvimento entre

1970 e 1989, apresentam uma nova metodologia para examinar a relação empírica entre

democracia e crescimento econômico. Os resultados sugerem que a democracia promove o

crescimento melhorando a acumulação de capital humano e diminuindo a desigualdade de

renda. Por outro lado, a democracia impede o crescimento através da redução da taxa de

acumulação de capital físico e elevando os gastos públicos em relação ao PIB.

Depois da introdução das variáveis de controle, o impacto da democracia sobre o

crescimento econômico é moderadamente negativo. Os resultados indicam que as instituições

democráticas são sensíveis às demandas dos pobres, expandindo o acesso à educação e

reduzindo a desigualdade de renda, mas faz isso gerando uma diminuição do capital físico. A

visão resultante é que instituições democráticas implicam em um trade-off entre os custos

econômicos e os benefícios sociais.

Rodrik e Wacziarg (2005), com uma amostra de 154 países para o período 1950–2000,

mostram que seus os dados não suportam a visão de que a democratização é ruim para o

desempenho econômico. A análise revela que as principais transições democráticas têm, no

mínimo, um efeito positivo sobre o crescimento econômico no curto prazo, o que é

especialmente verdadeiro para os países mais pobres do mundo e aqueles que são marcados

por divisões étnicas. Além disso, as transições democráticas estão associadas a uma

diminuição da volatilidade do crescimento. Portanto, a análise sistemática revela uma imagem

que é consideravelmente mais favorável à democratização.

Persson e Tabellini (2007) analisam dados de crescimento da renda per capita e níveis

de democracia através do índice Polity IV, para todos os países possíveis entre os anos de

1960 e 2000. Os autores estimam o efeito das transições de regime políticos no crescimento

com métodos semi-paramétricos, combinando métodos de difference-in-difference com

propensity-score matching.

Os autores mostram que as transições da autocracia para a democracia, em média, estão

associadas com uma aceleração de crescimento em cerca de 1%, produzindo um ganho de

renda per capita de cerca de 13%. Este efeito de 1% no crescimento é estimado

imprecisamente, mas é maior do que a maioria das estimativas na literatura utilizando

métodos de difference-in-difference. O efeito das transições na direção oposta é ainda maior:

uma volta da democracia à autocracia, em média, retarda o crescimento em 2% e implica uma

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diminuição na renda média em cerca de 45%. Estes efeitos também mostram-se maiores do

que os normalmente encontrados na literatura.

Entre os trabalhos mais recentes, existem trabalhos como os de Papaioannou e

Siourounis (2008), Acemoglu (2008), Doucouliagos e Ulubasoglu (2008), Armijo e

Gervasoni (2010), Wu (2012), Nurtegin (2014), Acemoglu et al (2014), Madsen et al (2015),

Sylwester (2015), Magee e Doces (2015), Ma e Ouyang (2016) e Gründler e Krieger (2016).

Papaioannou e Siourounis (2008) construíram uma nova medida de democratização

permanente e estimaram um efeito positivo da democratização no crescimento. O artigo dos

autores desafia resultados transversais de que a democracia tem um efeito insignificante sobre

o crescimento.

Papaioannou e Siourounis (2008) analisam a evolução do PIB real anual per capita

antes e depois de transições políticas durante a Terceira Onda de Democratização,

compreendo um recorte temporal para o período de 1960 a 2003.

Usando dados de frequência anuais e análise de dados em painel, que controlam por

características não observadas de cada país invariantes no tempo e tendências temporais

gerais, os autores mostram que a democratização leva a um aumento de quase 1% no

crescimento real do PIB per capita anual. A análise revela também que durante a transição o

crescimento diminui substancialmente. No entanto, após esta transição, o crescimento

estabiliza-se em níveis maiores.

Acemoglu (2008) argumenta que instituições democráticas podem criar distorções

devido a suas tendências redistributivas, mas podem ter um melhor desempenho que não-

democracias (oligarquias) no longo prazo, porque evitam as barreiras que esses outros

sistemas políticos tendem a erguer para proteger os incumbentes politicamente poderosos.

O autor desenvolve um modelo para analisar o desempenho econômico sob diferentes

regimes políticos. Uma sociedade oligárquica, onde o poder político está nas mãos de grandes

produtores, protege seus direitos de propriedade, mas também tende a erguer barreiras de

entrada significativas contra novos empreendedores.

Na democracia, onde o poder político é mais amplamente difundido, impõem-se

impostos redistributivos para os produtores, mas tende-se a evitar barreiras à entrada de novos

empreendedores. O padrão típico é uma ascensão e um consequente declínio das sociedades

oligárquicas: uma sociedade oligárquica pode primeiramente se tornar mais rica, mas depois

fica atrás de uma sociedade democrática. As democracias podem ser mais capazes de tirar

vantagens das novas tecnologias, já que conflitos dentro das elites, nas oligarquias, podem

Page 46: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

45

causar uma transição para a democracia, e a distribuição desigual de renda pode manter

instituições oligárquicas ineficientes.

A revisão de Doucouliagos e Ulubasoglu (2008: 62) de 483 estimativas de regressão de

84 estudos publicados sobre democracia e crescimento econômico analisa por que alguns

estudos encontraram uma associação positiva entre democracia e do crescimento, enquanto

que outros encontraram efeitos negativos ou nenhuma associação forte. Os autores examinam

em que medida os resultados diferem por causa das diferenças no recorte temporal, amostra

de países, fonte das variáveis de democracia, ou o conjunto de variáveis de controle.

Doucouliagos e Ulubasoglu (2008) concluem que a democracia não tem um impacto

direto no crescimento econômico. No entanto, a democracia tem efeitos indiretos positivos e

significativos no crescimento através de um maior capital humano, inflação inferior,

instabilidade política, e níveis mais elevados de liberdade econômica.

Armijo e Gervasoni (2010) investigam as implicações das duas dimensões da

democracia de Dahl (1971): contestação e participação. A hipótese é a de que o aumento da

competição democrática inspira a política incrementalista, diminuindo assim a volatilidade do

crescimento e gerando menos crises profundas. Enquanto isso, o aumento da inclusão

democrática substantiva – genuína voz política ou participação democrática na presença de

um mínimo de contestação – deve aumentar o peso político dos eleitores relativamente

pobres, que têm uma forte aversão a crises de crescimento profundas.

A análise estatística de 149 países para 1961-1998 encontra uma maior democracia

associada com menos anos de crescimento acentuadamente negativo, com ambas as

dimensões democráticas, contestação e inclusão, contribuindo substantivamente para este

resultado. As conclusões então questionam a prudência em se projetar políticas econômicas

que são intencionalmente isoladas do processo democrático.

Wu (2012) incorpora incentivos institucionais e estruturais em um modelo de dados em

painel para o máximo de países possíveis entre 1960 e 2001, e descobre que a força relativa

dos regimes políticos na condução do desenvolvimento econômico é dependente de fatores

estruturais, que exercem maior influência nas autocracias do que em democracias. A

democracia é superior à autocracia apenas quando os fatores estruturais, tais como ameaças

externas ou abundância de recursos naturais, não são favoráveis ao crescimento. Em

contrapartida, quando fatores estruturais são favoráveis ao crescimento, as autocracias estão

suscetíveis a ter um melhor ou igual desempenho que democracias.

Nurtegin (2014) tem como principal objetivo do seu trabalho ver como as empresas se

saem em autocracias politicamente estáveis em comparação com aqueles em países que são

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mais democráticos, mas menos estáveis. A fonte de dados para a variável dependente é o

Enterprise Surveys, uma pesquisa mundial (94 países) com de dezenas de milhares de

empresas de negócios, realizada pelo Banco Mundial e seus parceiros.

Nurtegin (2014) conclui que a democracia tem muitas vantagens sobre a autocracia,

especialmente quando a democracia é madura e o governo é estável. No entanto, a transição

de uma tradição profunda de governos autocráticos para uma democracia é quase

invariavelmente associada com um período de instabilidade política, que pode durar até várias

décadas e prejudica a atividade empresarial.

O trabalho é semelhante ao de Papaioannou e Siourounis (2008), que encontraram uma

diminuição significativa do crescimento antes e durante as transições de regime e ressaltaram

que a taxa de crescimento ultrapassa a média mundial depois da consolidação da transição

para a democracia. Entretanto, Nurtegin (2014: 415) discorda de Papaioannou e Siourounis

(2008) sobre o cenário econômico de novas democracias. O principal achado de Nurtegin é

que dentro de um período de tempo relativamente curto (até vinte anos) o ambiente

econômico é melhor em autocracias estáveis do que em novas democracias. A principal

conclusão de Nurtegin também contradiz o estudo de Rodrik e Wacziarg (2005: 55), que

relatam em seus resultados que a democratização não traz custos ao crescimento econômico.

Acemoglu et al. (2014: 6) constroem um painel anual que inclui 175 países para o

período 1960-2010, embora nem todas as variáveis estejam disponíveis para todos os países

em todos os períodos. A fim de abordar a questão do erro de medição nos índices de

democracia, Acemoglu et al. (2014: 6) desenvolvem uma medida dicotômica, seguindo

Papaioannou e Siourounis (2008). Este índice combina informações de várias bases de dados,

incluindo Freedom House e Polity IV, e só codifica um país como democrático se os vários

índices democráticos também concordam.

Acemoglu et al. (2014) fornecem evidências de que a democracia tem um efeito

positivo, significativo e robusto no PIB. A estratégia empírica controla por efeitos fixos por

país e para as dinâmicas do PIB, que de outra forma confundem o efeito da democracia sobre

o crescimento econômico. Os resultados indicam que as democratizações aumentam o PIB per

capita em cerca de 20% no longo prazo.

Os autores também investigam os canais através dos quais a democracia afeta o PIB. Os

resultados sugerem que a democracia contribui para o PIB futuro, aumentando o investimento

e a escolaridade, estimulando reformas econômicas, melhorando os serviços públicos e

reduzindo a agitação social.

Page 48: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

47

Usando dados de regimes políticos, renda e capital humano, para uma amostra de 141

países durante os períodos 1820-2000 e 1500-20006, Madsen et al. (2015) examinam a renda e

os efeitos do crescimento da democracia quando controlados pelo capital humano e outras

variáveis-chave. A democracia mostra-se como uma determinante importante da renda e do

crescimento. Quantitativamente, as estimativas sugerem que a evolução da democracia tem

sido um fator importante para o desenvolvimento econômico.

Madsen et al. (2015) verificam que cerca de 8% do aumento médio de renda na amostra

desde 1500 tem sido impulsionada pela democratização e que um país autocrático pode

aumentar sua receita em 47% se completar um processo de transição para a democracia.

Embora a melhora de 8% do nível de vida possa parecer baixa, Madsen et al. (2015)

argumentam que quase todos os países do mundo estavam vivendo perto ou em níveis de

subsistência em 1500, o que implica que quase todos os aumentos na renda em toda a história

da humanidade têm-se concentrado nos últimos 500 anos. As regressões no painel que cobrem

o período 1820-2000 sugeriu que uma transição da autocracia completa para uma democracia

plena aumenta a renda em 125% a 224%. Portanto, os resultados sugerem que reformas

democráticas podem melhorar substancialmente os padrões de vida.

Sylwester (2015), utilizando um painel de dados anuais para uma amostra global de

países no período de 1950 a 2007, conclui que os benefícios da democracia são maiores para

os países mais novos. Esse achado também ajuda a explicar os resultados de Rodrik e

Wacziarg (2005), como por que a democracia é mais benéfica para o crescimento econômico

na África subsaariana. A implicação política é que a comunidade global não deve, geralmente,

recuar da promoção da democracia nos países mais recentes, por medo de criar uma

instabilidade ainda maior, que prejudicaria o crescimento econômico.

Na verdade, os benefícios da democratização parecem diminuir com o passar do tempo,

no entanto, os termos "em breve" e "recentes" são relativos. Naturalmente, estes resultados

não implicam que os países mais velhos nunca devam se democratizar. A democracia oferece

benefícios que vão além de questões econômicas. Em vez disso, o autor meramente adverte

que democratizações nos países mais velhos geralmente não aumentam as taxas de

crescimento.

6 A democracia é medida através do índice Polity2, o mesmo utilizado no presente trabalho. No trabalho de

Madsen et al. (2015: 181) este índice foi utilizado para dados do século 19 para 52 países em sua amostra. O PIB

per capita (2006) foi medido utilizando os dados de Maddison (2006), atualizados e ampliados por Bolt e van

Zanden (2013), para aproximadamente metade da amostra. Fontes nacionais são usadas para países da OCDE,

Singapura, África do Sul e Uruguai. Os dados para as nações africanas depois de 1870 são baseados

principalmente no banco de dados de De La Escosura (2012). Os dados omissos de renda são retroativos usando

taxas de urbanização. A urbanização foi utilizada porque é estatisticamente um forte substituto para a renda per

capita (ACEMOGLU et al., 2002).

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Os resultados do trabalho também complementam os de Gerring et al. (2005), que,

assim como Sylwester (2015) encontram que o crescimento aumenta com o estoque da

democracia, onde o estoque é medido como a quantidade de anos desde que o país tornou-se

democrático.

Magee e Doces (2015) criticam a visão de autores como Huntington e Dominguez

(1975), que concluíram que os regimes autoritários têm um crescimento econômico mais

rápido que as democracias. Os autores argumentam que a literatura existente superestima o

impacto das ditaduras no crescimento econômico porque se baseia em estatísticas que são

relatadas a organizações internacionais e as ditaduras tendem a exagerar o seu crescimento,

pois têm menos limitações que as democracias na sua capacidade de fazê-lo.

Ao usar um novo conjunto de dados de imagens de satélite de luzes noturnas e

comparando o crescimento nas luzes com o crescimento do PIB de 153 países entre 1992 e

2008, Magee e Doces (2015) fornecem a primeira confirmação empírica da suspeita de que as

ditaduras mentem sobre o crescimento econômico.

Os dados utilizados neste estudo vêm principalmente da replicação dos dados de

Henderson, Storeygard e Weil (2012), que mostraram que os dados de satélite sobre luzes

noturnas podem ser usados para prever o nível do PIB de um país, porque existe uma

correlação muito forte entre o crescimento da intensidade média de luzes noturnas e o

crescimento do PIB. Magee e Doces (2015) estimam que as ditaduras exagerem o crescimento

do PIB real anual em seu país em 0,5 e 1,5 pontos percentuais, em média, quando comparado

com o crescimento das taxas de luzes noturnas em imagens de satélite.

Ma e Ouyang (2016) investigam o impacto da democracia sobre o crescimento,

considerando, simultaneamente, a experiência democrática de um país e o regime político, em

uma amostra de 61 países com dados quinquenais para o período entre 1960 e 2010. Os

resultados obtidos mostram que o efeito da democracia sobre o crescimento exibe um padrão

assimétrico, dependendo da experiência democrática do país: apenas países com experiências

prolongadas de regime democrático podem promover o crescimento.

Esta conclusão converge com a de Gerring et al. (2005), que empregam o conceito de

capital político – estoque democrático, que é acumulado ao longo do tempo através da

interação social e da aprendizagem dos cidadãos – para investigar a relação entre democracia

e crescimento. Para Gerring et al. (2005), um certo nível de capital político é necessário para

promover o crescimento. Se a democracia realmente importa para o crescimento, então a sua

influência é fruto da história do regime de um país, e não a partir do seu estado atual. É

implausível esperar que um elevado nível de democracia, em qualquer tempo, pode resultar

Page 50: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

49

imediatamente em um melhor desempenho econômico. A democratização precisa de muito

tempo para acumular capital político, como o Estado de Direito, um sistema político estável e

burocracias públicas eficazes, que têm um impacto direto e forte sobre o desempenho

econômico.

Gründler e Krieger (2016) apresentam uma nova abordagem para medir a democracia,

baseada no Support Vector Machines, um algoritmo matemático para reconhecimento de

padrões. O Support Vector Machines Democracy Index (SVMDI) é uma variável contínua em

um intervalo de 0 a 1, que permite uma medição muito detalhada e sensível da democracia

para 185 países no período entre 1981 e 2011. Os resultados destacam uma relação positiva

forte entre a democracia e o crescimento econômico. Os autores argumentam que a

ambiguidade em estudos recentes origina-se principalmente devido à falta de sensibilidade

dos indicadores de democracia tradicionais.

Gründler e Krieger (2016: 30-33) também analisam os canais através dos quais a

democracia exerce sua influência sobre o crescimento, seguindo Acemoglu et al. (2014), que

anteriormente suspeitaram que os direitos políticos exercem a sua influência sobre o

crescimento por meio de um número de canais de transmissão. Gründler e Krieger então

concluem que os países democráticos têm populações mais instruídas, porcentagens de

investimento mais elevadas e taxas de fertilidade mais baixas, mas os níveis de redistribuição

(medido pela diferença do índice de Gini antes e depois da aplicação de taxas e de

transferências de renda) não são necessariamente mais elevados em democracias.

Em conjunto, as análises anteriores sugerem que a democracia é mais propícia ao

crescimento econômico do que os seus críticos argumentaram, e há muitas

complementaridades entre as instituições democráticas e as causas imediatas do

desenvolvimento econômico. O presente trabalho buscará testar a hipótese de que a

democracia impacta positivamente na liberdade econômica, pois de acordo com autores como

Scully (1988; 1992) e Barro (1996), o efeito da democracia sobre o crescimento econômico se

daria indiretamente, através do impacto sobre a liberdade econômica.

Page 51: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

50

CAPÍTULO 3: DEMOCRACIA E LIBERDADE ECONÔMICA, UMA REVISÃO DE

ESTUDOS EMPÍRICOS

3.1 A democracia e a liberdade econômica explicam o crescimento?

A relação causal entre democracia e desenvolvimento econômico pode conter uma

variável interveniente: a liberdade econômica. A democracia incentivaria a liberdade

econômica ao garantir os direitos de propriedade e mercados livres, trazendo garantias que

criariam um ambiente propício para os negócios. Este capítulo irá mostrar os trabalhos

empíricos que estudaram a relação entre democracia, crescimento econômico e liberdade

econômica, especialmente como a democracia melhoraria os indicadores de liberdade

econômica.

Scully (1988; 1992) e Barro (1996) apontaram que a democracia afeta o crescimento,

mas de forma indireta, através da liberdade econômica. Um regime democrático ao garantir os

direitos de propriedades e outras liberdades individuais, seria um ambiente propício para a

liberdade econômica, e consequente, os mercados abertos favoreceriam o investimento e o

empreendedorismo, gerando crescimento econômico.

Scully (1988) estudou 115 economias de mercado durante o período 1960-1980. As

taxas de crescimento do PIB real per capita e uma medida de eficiência econômica foram

comparados com índices de liberdade política, civil e econômica.

Para medir as liberdades política, civil e econômica, Scully (1988: 656) usou o índice de

Gastil (1979), que mede a liberdade econômica em duas maneiras. Gastil (1979) categoriza os

sistemas econômicos como capitalista, capitalista misto, capitalista-estatista, socialista misto,

ou socialista. Ele também descreve o nível de liberdade econômica em nações. A liberdade

econômica é designada por ele como alta, média-alta, média, média-baixa e baixa.

Verificou-se que a escolha do quadro institucional tem profundas consequências sobre a

eficiência e crescimento das economias. Sociedades politicamente abertas, que se vinculam ao

Estado de direito, à propriedade privada e à alocação de recursos de mercado, crescem três

vezes mais e são duas vezes e meia mais eficientes que as sociedades onde essas liberdades

são reprimidas.

Scully (1992) confirmou os efeitos favoráveis da liberdade econômica no crescimento

da renda, e também verificou que o crescimento do setor público tem um efeito negativo

sobre o crescimento econômico. Scully (1992: 196-7) também determinou que a liberdade

econômica tem efeitos favoráveis sobre a distribuição de renda – um achado que estava

Page 52: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

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nitidamente em desacordo com a presunção comum de que o desenvolvimento econômico e a

igualdade são incompatíveis. O autor encontra que nas sociedades livres a desigualdade é

menor que nos países que reprimem direitos individuais.

O trabalho de Scully continua sua investigação mais aprofundada das questões teóricas

e estatísticas relacionadas com este tema. As relações empíricas que ele descobriu foram

confirmadas em estudos subsequentes, e seu trabalho confirmou a urgência e importância dos

esforços de maior escala para avaliar a extensão da liberdade econômica entre os países.

Barro (1996) analisa o crescimento econômico e a democracia em um painel de cerca de

100 países, de 1960 a 1990. Os efeitos favoráveis para o crescimento incluem a manutenção

do Estado de direito, mercados livres, baixo gasto público e capital humano elevado.

Os índices de democracia utilizados por Barro (1996) foram o Freedom House para a

maior parte do recorte temporal, de 1972 a 1994; e Bollen (1990), para os anos de 1960 e

1965.

O autor chega ao resultado de que a democracia tem um pequeno efeito negativo sobre

o crescimento econômico, com alguma evidência de uma não-linearidade, onde a democracia

aumenta o crescimento em níveis baixos de democracia, mas o reduz a níveis mais elevados.

Melhoras no padrão de bem-estar, representados pelo PIB e medidas de saúde e educação,

aumentam substancialmente a probabilidade de crescimento das liberdades políticas.

A principal conclusão de Barro (1996: 24) é que os países ocidentais mais avançados

contribuiriam de forma mais eficiente para o bem-estar das nações pobres exportando seus

sistemas econômicos, especificamente os direitos de propriedade e mercados livres, ao invés

de seus sistemas políticos, que normalmente são desenvolvidas depois que padrões de vida

razoáveis tenham sido atingidos. Se a liberdade econômica pode ser estabelecida em um país

pobre, então o crescimento será incentivado e o país tenderia a ser mais democrático por seus

próprios meios. Assim, no longo prazo, a propagação de estilo ocidental de sistemas

econômicos também seria a maneira eficaz para expandir a democracia no mundo.

Wu e Davis (1999) e Aixalá e Fabro (2009) argumentam que a liberdade econômica, e

não a democracia ou a liberdade política, é a principal determinante institucional do

crescimento.

Wu e Davis (1999) utilizam dados de um painel de 99, 102, 102 e 100 nações, em

quatro momentos: 1975, 1980, 1985 e 1990, respectivamente. Através de uma modelagem

log-linear, os autores concluem que, controlando pela liberdade econômica, o crescimento

econômico não tem nenhuma associação com a liberdade política e o nível de renda. Dado o

nível de renda, a liberdade política é independente da liberdade econômica e da taxa de

Page 53: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

52

crescimento da economia. Estas conclusões sugerem a hipótese geral de que a liberdade

econômica promove o desenvolvimento, e um aumento do nível de renda leva à liberdade

política.

Ao usar a metodologia Granger com dados em painel para 187 países e observações

quinquenais para o período de 1976-2000, Aixalá e Fabro (2009) revelam um círculo

virtuoso: a liberdade econômica gera crescimento e este crescimento econômico promove

liberdades políticas. O círculo chega ao fim quando essas liberdades políticas levam a maiores

níveis de liberdade econômica.

Fidrmuc (2003) considera o trade-off entre democracia e crescimento econômico. Os

resultados sugerem que a democracia reforça o crescimento em termos de liberalização

econômica, que, por sua vez, melhora o crescimento. Por isso, a democratização tem um

efeito positivo sobre o crescimento durante a transição do regime, ainda que indiretamente,

através da facilitação de liberalização econômica.

Alguns trabalhos empíricos (GIAVAZZI e TABELLINI, 2005; PERSSON e

TABELLINI, 2006) sustentam que a liberalização da economia deve ser o primeiro passo,

antes da extensão dos direitos políticos, para gerar o crescimento. Democracias jovens,

nascidas em economias fechadas, devem enfrentar conflitos de redistribuição, enquanto

democracias que são formadas em economias abertas são forçadas a prestar mais atenção à

eficiência econômica.

Stroup (2007) aponta que a expansão da liberdade econômica melhora

significativamente o bem-estar econômico. Stroup utiliza dados quinquenais de liberdade

econômica entre os anos de 1976 e 2000 de Gwartney et al. (1996) para uma análise de dados

em painel, em uma amostra de 121 países. A análise empírica observou a interação da

liberdade econômica e da democracia em medidas de saúde, educação e prevenção de doenças

na sociedade.

Xu e Li (2008) testam a hipótese de que o efeito de liberdade política na promoção do

crescimento econômico é realizado e detectado em fases posteriores do desenvolvimento

social e econômico. Usando dados de painel para uma amostra de 104 países entre 1970 e

2003, os autores encontram um forte apoio à hipótese.

Os resultados mostram os efeitos positivos da liberdade econômica sobre a

convergência de renda, mas efeitos negativos da liberdade política sobre convergência de

renda para os países fora da OCDE. Os resultados também mostram que a liberdade política,

bem como a liberdade econômica, promove a convergência entre os países da OCDE. Os

resultados sugerem que as liberdades econômicas desempenham um papel importante na

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promoção da convergência de renda em todos os estágios de desenvolvimento, enquanto que a

liberdade política tem efeitos significativos sobre a promoção da convergência de renda em

fases posteriores do desenvolvimento.

Os resultados de Xu e Li (2008) também apresentaram que uma maior liberdade

econômica aumenta consistentemente as medidas de bem-estar, mesmo entre os países mais

democráticos. Já a democracia tem uma menor influência positiva, que desaparece para

muitas medidas de bem-estar em países com mais liberdade econômica.

Em suma, os resultados dos estudos citados anteriormente sugerem que a liberalização

política encoraja a liberalização econômica. Assim, o efeito da liberalização política em

matéria de desempenho econômico é indireto, através do seu efeito sobre a liberalização

econômica.

3.2 A democracia causa a liberdade econômica?

Milton Friedman (1962:10) conjectura que a liberdade econômica e política estão

fundamentalmente relacionadas, ao afirmar que ''a relação entre liberdade política e a

liberdade econômica é complexa e de nenhuma maneira unilateral''. Apesar de as relações

entre a liberdade econômica e liberdade política tenham sido teorizadas, a tendência de alocar

juntos esses dois conceitos vem com evidências empíricas limitadas que comprovem essa

possível relação (FARR et al., 1998: 248).

Os argumentos para provar que a democracia pode levar a uma maior liberdade

econômica são geralmente semelhantes aos argumentos que demonstram que a democracia

pode promover o crescimento econômico (PRZEWORSKI e LIMONGI, 1993). Em primeiro

lugar, só os governos com alguma legitimidade seriam capazes de implementar e sustentar

políticas que podem gerar altos custos a curto prazo. Em segundo lugar, muitas das

características institucionais de uma democracia, como um sistema jurídico independente,

também são necessárias para uma liberalização bem sucedida (DE HAAN e STURM, 2003).

A maioria dos cientistas sociais concorda que as liberdades econômicas e os direitos

políticos têm um valor intrínseco na melhoria do bem-estar de indivíduos dentro de qualquer

sociedade. A maioria também concorda que há alguns benefícios que podem ser criados ao

permitir o exercício dos direitos políticos para criar políticas públicas que parcialmente

restrinjam as liberdades econômicas individuais, a fim de criar oportunidades para melhorar o

bem-estar de todos (STROUP, 2007: 52). Por exemplo, Rodrik (2000) argumentou que

instituições democráticas – como partidos, representantes eleitos e liberdade de expressão –

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54

podem ser vistas como instituições de gestão de conflitos, uma vez que permitem que as

diferenças entre os grupos sociais possam ser resolvidas de uma forma previsível, inclusiva e

participativa. Como a liberalização pode levar a conflitos distributivos, essa visão implica que

as democracias devam ser mais capazes de liberalizar suas economias do que regimes

autoritários.

É importante diferenciar a liberdade econômica e liberdade política em investigações

empíricas porque esses dois aspectos da liberdade têm naturezas bastante diferentes e,

portanto, têm diferentes implicações no crescimento econômico. A liberdade econômica

refere-se à qualidade das instituições do mercado livre. A essência da liberdade econômica é a

proteção da propriedade privada, a liberdade de escolha individual e a liberdade de comércio.

Ela exige um governo limitado que incide sobre a proteção dos direitos de propriedade e à

execução de contratos.

A liberdade política, por outro lado, refere-se à participação dos cidadãos nos processos

políticos. É constituída por dois componentes essenciais: direitos políticos e liberdades civis.

O primeiro refere-se, principalmente, ao processo eleitoral em um país. As eleições devem ser

livres e justas. Por livres, significa a presença de liberdade de imprensa, liberdade de

expressão, liberdade de crenças religiosas e o direito de protestar e se organizar, entre outras

liberdades (WU e DAVIS, 1999: 40-41).

O trabalho de North (1990) ilustrou como instituições de mercado na sociedade são

superiores para alcançar a prosperidade em relação ao planejamento econômico centralizado,

mas ele deu pouca atenção à função específica da democracia no desenvolvimento ou

impedimento das instituições do mercado descentralizadas.

North (1993) afirma que a existência e a garantia dos direitos de propriedade são

condições necessárias para o crescimento econômico, e que este só pode ser viabilizado

quando os direitos políticos e civis também estão presentes, pois diante de um autoritarismo a

ameaça aos direitos é constante.

Wittman (1989) e Stiglitz (1989) defendem a democracia como sendo inerentemente

eficiente na produção eficaz de políticas públicas na sociedade, assim como o mercado é

intrinsecamente eficaz na eficiente alocação de recursos, mas ambos deram pouca atenção ao

fato de, se a política pública fosse democraticamente determinada, se ela limitaria as

capacidades de instituições do mercado em promover o bem-estar humano na sociedade.

Desta forma, Wittman e Stiglitz descrevem como uma democracia representativa

diminuiria os custos de transação no mercado político. Assim como liberdades econômicas

poderiam ser esperadas para gerar benefícios sociais tangíveis através do mercado, uma

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democracia representativa, que permita a maior expressão de direitos políticos por parte do

eleitorado, também pode permitir que os indivíduos sejam capazes de explorar uma maior

gama de escolhas de políticas públicas que lhes permitam a: (1) viver mais tempo e mais

saudável; (2) alcançar níveis mais elevados de capital humano; e (3) gerar um maior nível de

provisão de bens públicos para um ambiente de vida mais seguro e mais produtivo, para todos

na sociedade desfrutarem.

Similarmente, Fukuyama (1992) explica que os países hoje abraçam a democracia como

instituição ideal para a criação de políticas públicas que melhor reflitam o interesse público e

o mercado como a instituição ideal para a alocação de recursos escassos.

A persistência de uma abordagem bifurcada ao longo do tempo é notável, dado que os

economistas proeminentes, como Friedman (1962: 7) há muito tempo advertiu: ''acredita-se

amplamente que a política e a economia são separadas e em grande parte alheias; que a

liberdade individual é um problema político e o bem-estar material é um problema

econômico... ''.

Friedman (1962: 7) chamou tais crenças ''uma ilusão", afirmando que há ''uma conexão

íntima entre a economia e a política'', advertindo ainda que as tentações de redistribuição da

riqueza para todos os governos democráticos colocaria a economia e as liberdades das pessoas

em um constante perigo de erosão. Em vez de a democracia ser o ideal da expressão da

liberdade política na sociedade, Friedman sentiu que uma maior liberdade econômica

individual era um ''meio indispensável para a conquista da liberdade política''

(FRIEDMAN,1962: 7).

Schumpeter (1942) também viu as instituições do capitalismo e da democracia na

sociedade como interdependentes e antagônicas, embora por razões diferentes. Ele via a

democracia nas sociedades capitalistas como um processo político dominado por capitalistas,

elites empreendedoras. Ele previu que o sucesso das instituições capitalistas desenvolvem

processos industriais de produção em massa, o que acabaria por deslocar o empreendedorismo

para sustentar a atividade econômica vital para a sociedade.

Os poderes políticos dos capitalistas de elite iriam diminuir como fonte de rendas, e

Schumpeter via a democracia como o veículo institucional que permitiria o capitalismo

“cavar a própria cova” e precipitar o início das instituições do socialismo que são tão

restritivas das liberdades econômicas individuais.

Bauer (1957) criticava políticas públicas em países em desenvolvimento que lutavam

por uma maior igualdade socioeconômica através da redistribuição de renda e de regulação do

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mercado. O autor acredita que a restrição de liberdades econômicas individuais sufoca os

processos mais empreendedores que são necessários para a criação de prosperidade.

Bauer (1957) acreditava que a maximização de liberdades econômicas maximiza a

oportunidade para melhorar o bem-estar humano em qualquer sociedade:

''Eu considero o alargamento da gama de escolhas, que é um aumento na gama de

alternativas eficazes abertas para as pessoas, como o objetivo e critério principais

para o desenvolvimento econômico; e eu julgo principalmente por seus prováveis

efeitos na gama de alternativas abertas para pessoas físicas”

(BAUER, 1957, p. 113, tradução livre).

Referindo-se a todos os tipos de liberdades na sociedade, Sen (1999) argumenta que

toda sociedade enfrenta um trade-off entre a adoção de instituições que preservam as

liberdades inatas exercidas por indivíduos para melhorar o seu bem-estar e a adoção de

instituições que restrinjam parcialmente essas liberdades inatas para produzir oportunidades

para todos os indivíduos melhorarem o seu bem-estar através do exercício de liberdades

recém-criadas.

Stiglitz (2002), por sua vez, argumenta que ''mercados amigáveis'' são instituições que

muitas vezes usurpam a dignidade e o bem-estar dos trabalhadores, que são tratados como

“peões” dentro do cálculo de maximização de lucros dos capitalistas de sociedade elitista. Ele

acredita que as liberdades econômicas individuais são, necessariamente, subservientes à

políticas públicas democraticamente determinadas a garantir a igualdade resultados

socioeconômicos.

Entretanto, existem poucas evidências empíricas, especialmente para os países em

transição, sobre o papel da democracia na promoção da liberalização (DE HAAN e STURM,

2003).

Usando dados de 26 países em transição, De Melo et al. (1996) encontraram uma

correlação de 0,8 entre seu índice de liberalização econômica com o índice Freedom House de

liberdade política. Posteriormente, De Melo et al. (1997) utilizaram dados em painel para

estimar os determinantes da liberalização econômica nos países em transição. A liberdade

política aparece com um coeficiente positivo e altamente significativo em sua equação.

Clague et al. (1996) concluem que autocratas que estiveram no poder por muito tempo

estão associados a melhores direitos de propriedade. No entanto, os autores constatam que,

em geral, as democracias proporcionam maior segurança para direitos contratuais e de

propriedade do que as autocracias. Ainda assim, esses direitos eram muitas vezes pobres em

democracias que duraram pouco tempo. Portanto, a estabilidade de um regime mostrou estar

positivamente associada à liberdade econômica.

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Clague et al. (1996) argumentam que não é a falta de direitos democráticos que afetam o

crescimento econômico, mas o período de tempo que um regime está no poder, não importa se

o regime é democrático ou autocrático. Um autocrata que se espera estar governando por um

longo tempo ganharia com o respeito dos direitos de propriedade dos indivíduos, em contraste

com um autocrata de curto prazo, que iria ganhar com a expropriação da riqueza de seus

súditos.

Além disso, as democracias transitórias podem facilmente sofrer com expropriações que

tenham os mesmos efeitos nocivos como a depredação de um autocrata. Em uma democracia

duradoura, no entanto, a situação:

"É totalmente diferente, não apenas a partir de democracias transitórias, mas

também de governos autocráticos. Embora democracias duradouras sofram de

acumulações esclerosadas de interesse especial, lobbying e (como todos os outros

tipos de governos) têm, frequentemente, políticas economicamente ineficientes, elas

necessariamente realizariam eleições dentro da lei e os líderes governamentais ou

partidos que são derrotados podem resgatar o poder também de acordo com a lei.

Não se pode haver eleições genuínas a menos que até mesmo os principais

oponentes do partido no poder tenham não só os direitos políticos, mas também os

direitos econômicos necessários para obter um meio de vida"

(CLAGUE et al., 1996, p. 245, tradução livre).

Farr et al. (1998), utilizando dados em painel, analisam as relações de causalidade entre

as liberdades econômica e política e da renda per capita, utilizando uma amostra de 98 países

e dados quinquenais para o período de 1975-1990. Eles empregam o índice de liberdade

econômica do Instituto Fraser (GWARTNEY et al., 1996) e o índice global de liberdade

política (soma dos índices dos direitos políticos e das liberdades civis) da Freedom House. Os

resultados sugerem que a liberdade econômica e a renda per capita estão endogenamente

relacionadas, e que a liberdade econômica tem um efeito positivo na liberdade política, mas

indiretamente, através do seu efeito sobre o crescimento econômico.

Gwartney et al. (1999), também empregam o índice de liberdade econômica do Instituto

Fraser para medir a liberdade econômica. Os autores mostram que um alto nível de

democracia não prejudica a liberdade econômica. Similarmente, utilizando dados em painel

de 25 países pós-comunistas da Europa Central e Oriental e da antiga União Soviética entre

1992 e 1997, Dethier et al. (1999) concluem que a democracia tem facilitado a liberalização

econômica.

De Haan e Sturm (2003) mostram que a democracia aumenta a liberdade econômica em

países em desenvolvimento. Concentrando-se na relação entre a mudança nos indicadores de

liberdade econômica do Instituto Fraser, e agregando em um único índice 17 diferentes tipos

de avaliações de regimes, os autores descobriram que, em uma amostra de países em

Page 59: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

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desenvolvimento, o aumento na liberdade econômica entre 1975 e 1990 foi, em certa medida,

causado pelo nível de liberdade política.

Dawson (1998) utilizou uma análise de regressão padrão para investigar a relação entre

medidas de liberdade política, civil e econômica entre os países. A evidência suporta as

conjecturas de Friedman (1962) de que os vários tipos de liberdade estão relacionados, mas a

análise de regressão não pôde identificar a direção da causalidade no relacionamento.

Posteriormente, Dawson (2003) estudou as relações de causalidade entre a liberdade

econômica, a liberdade política e crescimento econômico, utilizando dados quinquenais para o

período 1970 – 2000 e os mesmos índices de Farr et al. (1998).

Utilizando a metodologia Granger, os resultados indicam que os níveis de liberdade

econômica são causados pelos níveis de liberdade política. Este resultado também converge

com os resultados obtidos por De Haan and Sturm (2003), que concluíram que os aumentos

na liberdade econômica são causados pelo nível de liberdade política em uma amostra de

países em desenvolvimento.

Lundström (2005) testa a hipótese de De Haan e Sturm (2003) replicando o trabalho

desses autores. Entretanto, diferentemente deles, a autora utilizou de forma desagregada os

componentes que formam o índice de liberdade econômica do Instituto Fraser.

Foi utilizada a desagregação em quatro componentes. Dinheiro e Inflação é uma medida

da disponibilidade de dinheiro. Uma alta liberdade econômica neste sentido significaria uma

lenta expansão monetária, a níveis de preços estáveis, e a ausência de restrições que limitam o

uso de moedas alternativas. A segunda categoria, Operações do Governo e Regulações,

consiste em que uma alta liberdade econômica prevalece se o governo funciona

principalmente como um fornecedor de Estado de Direito e bens públicos. A terceira

categoria, Receitas e Tributação Discriminatória, compreende que a liberdade econômica alta

é alcançada se o governo não se envolve em ações que favoreçam ou discriminem um grupo

de cidadãos. A última categoria, Restrições sobre o Comércio Internacional, indica que uma

liberdade econômica alta significa que existam baixas limitações ao comércio através das

fronteiras nacionais (LUNDSTRÖM, 2005: 969).

A autora chega ao resultado de que a democracia tem um efeito positivo sobre as

categorias de liberdade econômica: Operações do Governo e Regulações e Restrições sobre o

Comércio Internacional, mas nenhum efeito sobre as categorias Dinheiro e Inflação e

Receitas e Tributação Discriminatória. Isso significaria, portanto, que, se a democracia afeta

a liberdade econômica, dependeria do tipo de liberdade que é estudada. Aceitando a definição

das categorias, os resultados implicam que um nível mais elevado de democracia leva a uma

Page 60: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

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dependência crescente do mercado e diminui as restrições sobre o comércio internacional,

enquanto que não tem nenhum efeito sobre a disponibilidade de dinheiro ou a tendência do

governo em discriminar um grupo de cidadãos (LUNDSTRÖM, 2005: 977).

Jong-A-Pin e De Haan (2011) examinam se o regime político, as mudanças de regime e

a liberalização econômica estão relacionados com acelerações no crescimento econômico. O

conjunto de dados é composto por 106 países durante o período 1957-1993, dos quais 60

países sofreram uma ou mais acelerações de crescimento. Os autores utilizam o índice Polity

IV para identificar os regimes políticos e as mudanças de regime, e o indicador de liberdade

econômica (Economic Freedom Indicator) de Gwartney e Lawson (2008).

Os resultados mostram que as acelerações no crescimento são precedidas por

liberalizações econômicas. Jong-A-Pin e De Haan (2011) também verificam que as

acelerações no crescimento são menos prováveis de acontecer quanto mais durável é um

regime político, seja ele uma democracia ou uma autocracia. Além disso, Jong-A-Pin e De

Haan (2011) encontraram que as mudanças de regime em direção à democracia reduzem a

probabilidade de acelerações no crescimento. Embora esta descoberta esteja em contraste com

a noção de que a instabilidade política é, em média, prejudicial para o crescimento, ela está

em conformidade com as recentes descobertas de que uma mudança de liderança única (ou

regime) pode ser uma condição necessária para um país iniciar um período de crescimento

econômico (JONES e OLKEN, 2005; JONG-A-PIN e YU, 2010).

Peev e Mueller (2012) examinam a relação entre democracia, liberdades econômicas e

crescimento econômico. Os autores estudam 24 economias pós-comunistas ao longo do

período 1990-2007. Para medir a democracia os autores utilizam índice de democracia

Freedom House, e para medir a liberdade econômica utilizam o mesmo indicador utilizado no

presente trabalho, o índice de liberdade econômica da fundação Heritage.

Peev e Mueller (2012: 398-9) encontram uma correlação positiva entre a força da

democracia do país e a qualidade de suas instituições econômicas. As liberdades econômicas

são mais fortes e a corrupção é mais fraca em antigos países comunistas com instituições

democráticas fortes. Este resultado poderia refletir apenas a força da adesão à União Europeia,

que exige certa liberdade econômica e crítica à corrupção, mas também se dá devido ao efeito

da democracia sobre essas variáveis institucionais. Os eleitores exigem menos corrupção e

maiores liberdades econômicas e os políticos respondem a estas exigências em países com

instituições democráticas fortes.

Esta ligação entre democracia e liberdade econômica leva a uma ligação entre

democracia e crescimento econômico, porque a liberalização econômica produz um mais

Page 61: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

60

rápido crescimento econômico. Peev e Mueller (2012) apresentam provas de que mais

liberdade econômica produz um crescimento mais rápido. Os autores identificam a liberdade

de comércio, a liberdade monetária e a liberdade de corrupção como os indicadores mais

importantes de liberdade econômica para o crescimento nos países em transição durante o

período 1994-2007. As liberdades econômicas levariam a maiores taxas de crescimento, em

grande parte, estimulando o investimento, embora algumas liberdades econômicas (por

exemplo, liberdade de comércio, liberdade monetária e liberdade de corrupção) sejam mais

importantes para o crescimento econômico do que outros.

A democracia, no entanto, pode ter um efeito adverso no crescimento econômico,

produzindo maiores setores e déficits públicos, que levam a impostos mais altos e a um maior

ajuste fiscal sobre a economia. A democracia também parece estar associada com menos

liberdade no mercado de trabalho, o que provavelmente também levaria a um crescimento

mais lento. Portanto, embora os países ex-comunistas que se tornaram mais democráticos

tenham experimentado níveis mais elevados de crescimento, os resultados de Peev e Mueller

(2012) sugerem que a democracia também traz consigo algumas mudanças institucionais que

retardam o crescimento.

Por último, o trabalho de Rode e Gwartney (2012) emprega um novo conjunto de dados

de Cheibub et al. (2010) para examinar o impacto da transição para democracia na liberdade

econômica. O conjunto de dados identifica 48 transições políticas do autoritarismo para a

democracia desde meados da década de 1970, para o qual os dados sobre a liberdade

econômica estão disponíveis. Ambas as análises de cross-section e de painel são empregadas

para examinar estas transições no âmbito de modelos fixo e efeitos aleatórios.

Os resultados indicam que as transições para a democracia estão associadas a aumentos

subsequentes na liberalização da economia. Além disso, a liberalização econômica parece

seguir o caminho de um “U” invertido ascendente para cerca de 10 anos após a transição

democrática, mas recuando depois. Também se verifica a evidência de que democracias

estáveis alcancem maiores aumentos na liberdade econômica que os regimes autoritários,

enquanto que as transições democráticas instáveis prejudicam a liberalização econômica.

Durante os últimos 15 anos, vários estudos descobriram que a liberalização econômica

exerce um forte impacto positivo sobre os níveis de crescimento econômico (RODE e

GWARTNEY, 2012: 617). No entanto, as instituições e as políticas econômicas são

consequências do processo político. Isto eleva a importância das instituições políticas e o seu

impacto sobre a liberalização econômica. Em geral, estes estudos indicam que os países com

Page 62: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

61

mais instituições políticas democráticas tendem a seguir as políticas econômicas mais

consistentes com a liberdade econômica.

As pesquisas empíricas anteriores, em sua maioria, utilizam ou o Freedom House ou o

Polity IV como medidas de democracia para investigar a relação entre democracia e liberdade

econômica, o que justifica a escolha do Polity IV como índice de democracia utilizado no

presente trabalho. A grande maioria dos autores utiliza o índice de liberdade econômica do

Instituto Fraser, mas neste trabalho optou-se pelo índice da Fundação Heritage, seguindo

Peev e Mueller (2012: 377), que optaram por esse último índice devido à sua medição anual,

em vez da medição quinquenal do Instituto Fraser, e da consistência de sua metodologia em

todos os anos estudados.

Em suma, os estudos empíricos anteriores descobriram que as instituições e as políticas

democráticas são geralmente mais favoráveis à liberdade econômica que os regimes políticos

autoritários, revelando um impacto positivo da democracia sobre a liberdade econômica.

Entretanto, o efeito positivo da liberdade econômica sobre a democracia também foi

conjecturado: Hayek (1944: 69-70) afirmou que um regime democrático só sobreviverá em

um sistema que garanta a livre propriedade privada, assim como Friedman (1962: 9) não

encontrou nenhum país com uma grande liberdade política desacompanhada de um mercado

livre. Empiricamente, os resultados encontrados por Farr et al. (1998) sugerem que a

liberdade econômica e a renda per capita estão endogenamente relacionadas e que a liberdade

econômica tem um efeito positivo na liberdade política, mas indiretamente, através do seu

efeito sobre o crescimento econômico. Similarmente, Aixalá e Fabro (2009) revelam um

círculo virtuoso: a liberdade econômica gera crescimento econômico e este crescimento

promove liberdades políticas.

Portanto, a presente pesquisa buscará testar a hipótese de Friedman (1962:10) de que a

relação entre liberdade política e a liberdade econômica não é unilateral, verificando se existe

uma relação de bicausalidade entre as duas variáveis para uma amostra de 18 países da

América Latina, entre 1995 e 2014. A segunda hipótese testará se o efeito da democracia

sobre a liberdade econômica é maior que o efeito inverso.

Após esta breve revisão da literatura, foi identificada uma lacuna existente entre estudos

regionais sobre a direção da relação causal entre democracia e liberdade econômica. Assim,

esse trabalho irá contribuir para a literatura da ciência política ao identificar a necessidade do

fortalecimento das instituições democráticas e da liberalização das economias latino-

americanas para gerar o crescimento econômico na região.

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CAPÍTULO 4: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo descreve os principais procedimentos adotados de modo a permitir a

replicabilidade do trabalho (KING, 1995; JANZ, 2015). Primeiramente será feita uma análise

da estatística descritiva das variáveis independentes / dependentes de interesse. Logo após, as

variáveis de controle também receberão uma análise exploratória dos dados. Após a análise

descritiva, serão realizados os testes de hipótese da relação de bicausalidade entre o índice de

liberdade econômica da fundação Heritage e o índice de democracia produzido pelo Polity

IV. O quadro abaixo sumariza as informações acerca do desenho de pesquisa:

Quadro 1 – Síntese das informações do desenho de pesquisa

Variáveis independentes e

dependentes de interesse (teste

de hipótese da relação de

bicausalidade)

Democracia Liberdade Econômica

Variáveis de Controle

Polity -1

Liberdade Econômica -1

PIB per capita

Taxa de crescimento do PIB

Estabilidade Política

Capital Humano

Amostra 18 Países da América Latina (1995-2014)

Técnicas

Estatística descritiva e inferencial

Estimadores de dados de painéis dinâmicos

GMM e FGLS.

Fontes de dados

CEPAL

Índice de Democracia - Polity IV

Índice de Liberdade Econômica – fundação

Heritage (banco de dados do Instituto QOG)

The Worldwide Governance Indicators –

Banco Mundial (banco de dados do Instituto

QOG)

Fonte: Elaborado pela autora.

4.1 Índice de Liberdade Econômica da Fundação Heritage

A Fundação Heritage publica (em conjunto com a Wall Street Journal) Índice de

Liberdade Econômica, desde 1995, define a liberdade econômica como "a ausência de

coerção do governo ou restrição na produção, distribuição ou consumo de bens e serviços

além do grau necessário para os cidadãos protegerem e manterem a sua própria liberdade".

Em outras palavras, as pessoas são livres para trabalhar, produzir, consumir e investir das

maneiras que julguem serem as mais produtivas (BEACH e MILES, 2004).

Page 64: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

63

A maioria dos estudos citados na revisão dos trabalhos empíricos sobre democracia,

crescimento e liberdade econômica usa o índice de liberdade econômica do instituto Fraser

(GWARTNEY et al., 1996). Embora ambos os índices da fundação Heritage e instituto

Fraser se diferenciem na sua cobertura, alguns autores concluem que eles produzem

classificações semelhantes para os países abrangidos (DE HAAN e STURM, 2000).

Entretanto, para os propósitos do presente trabalho o índice da Fundação Heritage tem

algumas vantagens sobre o índice do instituto Fraser. A Fundação Heritage atualiza seus

dados em uma base anual, enquanto o índice do instituto Fraser apresenta dados quinquenais

para o período 1980-2000 e só a partir de 2001 publica dados anuais (RODE e GWARTNEY,

2012: 609). Além disso, a Fundação Heritage também tem mantido a mesma metodologia de

ranking ao longo do tempo (PEEV e MUELLER 2012: 377).

Os dados do índice de liberdade econômica da fundação Heritage foi coletado através

do banco de dados Quality of Government Dataset (QOG) do Instituto QOG da Universidade

de Gothenburg 7.

O índice de liberdade econômica elaborado pela fundação Heritage mede a liberdade

econômica com base em 10 fatores quantitativos e qualitativos, agrupados em quatro grandes

categorias de liberdade econômica, sumarizados no quadro 2 (MILLER e KIM, 2016: 467-

477). Cada uma das dez avaliações dentro dessas categorias é classificada em uma escala de 0

a 100, com valores maiores correspondendo aos melhores resultados. A pontuação geral do

país é dada pela média aritmética dessas dez liberdades econômicas, ou seja, com igual

importância a cada uma.

Quadro 2 – Síntese dos fatores de Liberdade econômica

Categoria Fator Descrição

Estado de Direito

Direitos de propriedade

Avaliação qualitativa do grau em que o quadro legal

de um país permite que os indivíduos acumulem

livremente propriedade privada, garantido por leis

claras que são efetivamente aplicadas pelo governo.

Liberdade da corrupção

Derivada diretamente do Índice de Percepção da

Corrupção produzido anualmente desde 1995 pela

ONG Transparência Internacional, que mede o nível

de percepção de corrupção em 175 países, em uma

escala de 0 para (altamente corrupto) a 100 (muito

limpo). A corrupção diminuiria a liberdade

econômica através da introdução de insegurança e

incerteza nas relações econômicas.

7 Link de acesso aos dados do Instituto QOG: http://www.qog.pol.gu.se/.

Page 65: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

64

Tamanho do

Governo

Liberdade fiscal

Mede a carga total de impostos exigida por todos os

níveis de governo, em porcentagem do PIB, e a taxa

marginal de impostos sobre os indivíduos e

empresas. A pontuação é calculada com uma função

quadrática (por exemplo, dobrar a quantidade de

impostos produz quatro vezes menos liberdade

fiscal).

Gastos governamentais

Mede o consumo estatal e todos os pagamentos de

transferência relacionados a programas

governamentais. É uma escala não-linear: gastos do

governo que estão perto de zero são levemente

penalizados, enquanto que os níveis de gastos do

governo que excedam 30% do PIB recebem

pontuações muito piores de uma forma quadrática

(por exemplo, dobrar gastos produz quatro vezes

menos liberdade). Maiores pontuações significam

um melhor controle dos gastos públicos.

Eficiência

Regulatória

Liberdade de negócios

Mede a extensão em que a regulação e infraestrutura

de um país não restringem o funcionamento

eficiente dos negócios.

Liberdade laboral

Considera vários aspectos jurídicos e regulatórios

do mercado de trabalho de um país, incluindo

regulações relativas ao salário mínimo, leis que

inibem demissões, exigências de indenizações e

restrições na contratação e nas horas trabalhadas,

mais a taxa de participação da força de trabalho

como uma medida de oportunidades emprego.

Liberdade monetária

Combina uma medida de estabilidade de preços com

uma avaliação dos controles de preços. Ambos os

controles de inflação e preço distorcem a atividade

do mercado. A estabilidade de preços sem

intervenção microeconômica é o estado ideal para o

mercado livre.

Mercados Abertos

Liberdade de comércio

Medida composta da extensão das barreiras

tarifárias e não-tarifárias que afetam importações e

exportações de bens e serviços. Quanto menos

barreiras, maior a liberdade comercial.

Liberdade de investimento

Avalia uma variedade de restrições regulatórias que

normalmente são impostas sobre o investimento.

Em um país economicamente livre, não haveria

restrições sobre o fluxo de capital de investimento.

Indivíduos e empresas seriam autorizados a

movimentar seus recursos dentro e fora das

atividades específicas, tanto internamente como

através das fronteiras do país, sem restrição.

Liberdade financeira.

É um indicador de eficiência bancária, bem como

uma medida da independência do controle e

interferência do governo no setor financeiro. Um

ambiente bancário e financeiro ideal é caracterizado

por um nível mínimo de interferência do governo,

supervisão de um banco central independente e

regulamentação das instituições financeiras limitada

à execução das obrigações contratuais e a prevenir

fraudes.

Fonte: elaboração da autora com base na descrição metodológica do índice de liberdade econômica da fundação

Heritage (MILLER e KIM, 2016: 467-477).

Page 66: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

65

Os países que possuem uma pontuação entre 80 e 100 são considerados “livres”.

Aqueles que obtiveram uma pontuação entre 70 e 79,9 são países de “boa liberdade”. Os

valores entre 60 e 69,9 representam países de “liberdade moderada”. As pontuações entre 50 e

59,9 são para países considerados “pouca liberdade”. Por fim, os países considerados

“repressores” são os que possuem a pontuação entre 0 e 49,9 (MILLER e KIM, 2016).

4.2 Polity IV

Munck e Verkuilen (2002:9), discutindo 9 medidas democráticas8, incluindo o Polity

IV, afirmam que as conceituações de democracia abordadas por estas avaliações são, em

diferentes medidas, influenciadas por Dahl (1971), em cuja obra a democracia consiste em

dois atributos: concorrência e participação.

Especialmente o Polity IV, possui alguns méritos. O Polity IV estabelece um elevado

padrão quanto ao registro e divulgação das regras de codificação, do processo de codificação,

e dos dados desagregados (MUNCK e VERKUILEN, 2002:21).

O Polity IV é um dos mais amplamente utilizados recurso de dados para estudar

regimes políticos. Registra características regime político e transições de 1800 a 2014, com

dados separados por países e anos, gerando informações para todos os países com população

total superior a 5000.000 habitantes (167 países em 2014) (DAHLBERG et al, 2016:91).

O índice de mensuração democrática Polity IV está disponível no próprio site do

projeto9. É uma variável quantitativa discreta, portanto não assume frações. O Polity IV

possui uma escala de -10 a +10, que se divide em: -10 “autocracias totalmente

institucionalizadas”; -9 a -6 “autocráticos”; -5 a 0 “anocracias fechadas”; +1 a +5 “anocracias

abertas”; +6 a +9 “democracias”; e +10 “democracias totalmente institucionalizadas”

(MARSHALL e COLE, 2014: 20-21).

Em uma “autocracia totalmente institucionalizada” (-10) a participação dos cidadãos é

fortemente restrita ou suprimida; chefes do Executivo são selecionados segundo critérios de

sucessão claramente definidos (geralmente hereditários) dentro da elite política estabelecida;

e, uma vez no poder, os chefes do Executivo exercem o poder sem nenhum freio ou

contrapeso significativo dos poderes legislativo e judicial ou da sociedade civil.

8 As 9 medidas analisadas por Munck e Verkuilen (2002): ACLP - Alvarez, Cheibub, Limongi & Przeworski

(1996); Arat (1991); Bollen (1980); Coppedge & Reinicke Polyarchy (1991); Freedom House (RYAN, 1994);

Gasiorowski Political Regime Change (1996); Hadenius (1992); Polity IV (MARSHALL & JAGGERS, 2001); e

Vanhanen (2000). 9 Link para acesso aos dados do índice Polity IV: http://www.systemicpeace.org/Polity/Polity4.htm

Page 67: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

66

Governos “autocráticos” (-9 a -6) são caracterizados pelo governo autoritário de líderes

personalistas, juntas militares, ou estruturas unipartidárias. Além de ter regras de sucessão

definidas menos claramente, as autocracias podem permitir algum espaço para a participação

política ou impor alguma limitação eficaz sobre autoridade do Poder Executivo.

As “democracias” (+6 a +9) possuem governos são que ficam aquém de uma

democracia perfeita (+10). Podem ter freios e contrapesos mais fracos sobre Poder Executivo,

algumas restrições sobre a participação política ou deficiências da aplicação do Estado de

Direito.

Uma “democracia totalmente institucionalizada” (+10) tem procedimentos

institucionalizados para a participação política competitiva, deliberativa e aberta; escolhe e

substitui o chefe do Executivo em eleições livres e competitivas; e impõe freios e contrapesos

substanciais sobre os poderes discricionários do chefe do Executivo.

Daí fica a curiosidade: o que seriam “anocracias”? Anocracias seriam regimes híbridos,

onde os governos não são nem totalmente democráticos nem totalmente autocráticos, mas

combinam traços e práticas democráticas e autocráticas. A anocracia é caracterizada pelo

Polity IV por instituições e elites políticas que são muito menos capazes de realizar tarefas

fundamentais e assegurar a sua própria continuidade. Regimes anocráticos são mais

vulneráveis para o aparecimento de novos eventos de instabilidade política, como focos de

conflito armado ou golpes de estado. Em uma “anocracia fechada” (-5 a 0), os concorrentes

são retirados das elites. Em uma “anocracia aberta” (+1 a +5), outros também concorrem

(MARSHALL e COLE, 2014).

Neste trabalho foi utilizado especificamente a variável Polity2, uma versão modificada

da variável Polity (ambas presentes no banco de dados desagregado do Polity IV) a fim de

facilitar a utilização do índice em análises de séries temporais. Ele modifica a pontuação anual

Polity através da aplicação de um tratamento simples, convertendo instâncias de "pontuações

padronizadas de autoridade" (ou seja, -66, -77 e -88) para pontuações do Polity convencional

(isto é, dentro da gama -10 a +10) (MARSHALL et al., 2014:17).

Os valores foram convertidos de acordo com o seguinte conjunto de regras: casos de

"interrupção" estrangeira (-66) são tratados como missing cases; casos de "interregno", ou

anarquia (-77) são convertidos para a pontuação 0 (zero); nos casos de "transição" (-88) os

valores de antes e depois da transição são somados e depois rateados para que substituam os

valores -88.

O único caso de pontuação padronizada no banco de dados desta pesquisa foi -88 para o

ano 2000 no Peru. Portanto, a pontuação revisada do Polity IV para o ano 2000 foi +5, um

Page 68: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

67

valor médio entre as pontuações dos anos 1999 (+1) e 2000 (+9). O índice de medição de

regimes Polity IV é composto por seis componentes sumarizados no quadro abaixo.

Quadro 3 – Síntese dos Componentes do Índice Polity IV

Componentes Descrição

1) Regulação do recrutamento do Executivo Corresponde ao grau em que um governo tem um

sistema de procedimentos institucionalizados para

a transferência de poder no Executivo.

2) Competitividade no recrutamento do Executivo Refere-se à em que medida há igualdade de

oportunidades entre os competidores.

3) Abertura no recrutamento do Executivo O recrutamento do chefe do Executivo é "aberto"

na proporção em que toda a população

politicamente ativa tem a oportunidade, em

princípio, de alcançar este poder através de um

processo regulamentado.

4) Restrições ao Executivo Refere-se à extensão das restrições

institucionalizadas na tomada de decisão no poder

Executivo, ou seja, em que medida os freios e

contrapesos funcionam em um determinado

governo, no que se refere às decisões do poder

central

5) Regulação da participação A participação é completamente regulada quando

nenhum problema, grupo significativo ou tipos

convencionais de ação política são regularmente

excluídas do processo político.

6) Competitividade de participação Compreende o quanto que as diferentes alternativas

e preferências podem chegar à arena política

Fonte: elaboração da autora com base no manual do Polity IV (MARSHALL et al, 2014:17).

4.3 Técnicas

Antes do teste de hipótese, é necessária a análise da estatística descritiva e inferencial. A

estatística descritiva fornece medidas de tendência central tal como N, a média e o desvio

padrão. Torna-se importante por indicar escores típicos da amostra e auxiliarem na análise

exploratória e visualização dos dados (DANCEY e REIDY, 2013). Medidas de tendência

central e de dispersão devem ser produzidas com o objetivo de conhecer as distribuições das

variáveis, é o que a literatura denomina de análise exploratória dos dados (Exploratory Data

Analysis - EDA) (FIGUEIREDO FILHO et al. 2011: 66).

Após a análise das variáveis independentes / dependentes principais será iniciada a

exploração dos dados das variáveis de controle, que possam ter efeito sobre a democracia e

sobre a liberdade econômica. De acordo Przeworski e Limongi (1993) os argumentos para

provar que a democracia pode levar a uma maior liberdade econômica são geralmente

semelhantes aos argumentos que demonstram que a democracia pode promover o crescimento

Page 69: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

68

econômico. Portanto, algumas das relações esperadas são baseadas em estudos que procuram

explicar o crescimento econômico.

As variáveis Polity -1 e Liberdade Econômica -1 medem o nível de democracia e de

liberdade econômica no ano anterior. É um artifício metodológico para resolver problemas de

autocorrelação serial.

O PIB per capita e a Taxa de Crescimento do PIB serão utilizados para medir o

desempenho econômico dos países estudados. Os dados estão disponíveis no site da Comissão

Econômica para a América Latina e Caribe – CEPAL 10

. As relações esperadas merecem

especial atenção. De acordo com Rode e Gwartney (2012: 613-614), baseados em Pitlik

(2008), espera-se que quanto menor o crescimento econômico de um país democrático, maior

será a sua tendência para uma maior liberalização da economia. Isto ocorreria porque as

democracias usariam medidas de liberalização econômica para superar momentos de crises na

economia. Entretanto, de acordo com os autores da teoria da modernização (LIPSET, 1959;

CUTRIGHT, 1963; CUTRIGHT e WILEY, 1969; JACKMAN, 1973; HELLIWELL,1994;

BURKHART e LEWIS-BECK, 1994) existe um efeito positivo do crescimento econômico

sobre a democracia, hipótese esta que também será testada.

Os dados sobre a estabilidade política também foi coletado através do banco de dados

do Instituto QOG, com base no índice “Estabilidade Política” (Political Stability) do The

Worldwide Governance Indicators do Banco Mundial. A Estabilidade Política combina vários

indicadores que medem a percepção da probabilidade de que o governo no poder será

desestabilizado ou derrubado por meios possivelmente inconstitucionais e/ou violentos,

incluindo a violência interna e o terrorismo. A pontuação situa-se entre -2,5 e 2,5, com a

maior pontuação correspondente a melhores resultados (DAHLBERG et al., 2016: 120-121).

O objetivo é testar a hipótese de Rode e Gwartney (2012: 610) de que a estabilidade de um

regime impacta positivamente da liberalização da economia. Também será testada a hipótese

de que a estabilidade política de um país da América Latina impacta positivamente na

qualidade de sua democracia.

O capital humano é medido através do Índice de Capital Humano 11

(Human Capital

Index) do Penn World Table (FEENSTRA et al., 2015), que por sua vez foi baseado nos anos

de escolaridade (BARRO e LEE, 2013) e em uma taxa assumida de retorno da educação, com

base na equação de Mincer estimada em todo o mundo (PSACHAROPOULOS, 1994).

10

Link de acesso aos dados da CEPAL: http://estadisticas.cepal.org/cepalstat/WEB_CEPALSTAT/Portada.asp 11

Link de acesso aos dados do índice de capital humano do Penn World Table:

http://www.rug.nl/research/ggdc/data/pwt/pwt-9.0

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69

Pretende-se testar a hipótese de Barro (1996) de que as melhorias no capital humano

aumentam a probabilidade de que as instituições políticas se tornarão mais democráticas ao

longo do tempo. A segunda hipótese a ser testada é a de que o capital humano impacta

positivamente na liberdade econômica, já que, de acordo com Barro (1996), a democracia

pode impactar positivamente no crescimento econômico através do seu efeito positivo sobre o

capital humano.

Para testar a hipótese de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica, serão

utilizados dois modelos econométricos: o primeiro utilizando a democracia como variável

dependente e a liberdade econômica como variável independente, juntamente com as

variáveis de controle apresentadas no quadro 1 acima apresentado. O segundo utilizará as

mesmas variáveis de controle, mas colocando a democracia como variável independente.

Além de testar a hipótese da bicausalidade, procura-se testar se o impacto positivo da

democracia sobre a liberdade econômica é maior que o impacto contrário.

Visando fornecer maior robustez à análise o banco de dados foi montado em formato de

painel, que fornece um significativo aumento do quantitativo de informações possibilitando

ganhos inferenciais, tendo em vista que a pesquisa lida com vários indivíduos ao longo de um

período não muito longo de tempo. Dentre as principais vantagens na utilização de dados de

painel destacam-se um maior controle da heterogeneidade individual e aumento do número de

informações sobre a amostra, permitindo assim maiores graus de liberdade e redução da

colinearidade entre as variáveis explicativas (GUJARATI, 2006), além de possibilitar a

identificação e mensuração de alguns efeitos que não seriam possíveis de verificação com o

uso de séries temporais ou dados de corte transversal (BALTAGI, 2005).

Para realizar os testes de hipótese estima-se um painel de dados dinâmicos por meio do

método Feasible Generalized Least Squares (FGLS), proposto por Parks (1967), e do método

Generalized Method of Moments (GMM), proposto por Arellano e Bond (1991). Os métodos

FGLS e GMM produzem boas estimativas para os coeficientes. Os resultados encontrados

corroboram os achados da literatura.

Para cada um dos métodos acima citados serão testados 3 modelos com o Polity IV

como variável dependente e a Liberdade Econômica como independente, e mais outros 3

modelos com a Liberdade Econômica como variável dependente e o Polity IV como variável

independente. O modelo 1 incluirá todas as variáveis independentes de controle: a lag da

variável dependente (Polity -1 ou Liberdade Econômica -1); PIB per capita; taxa de

crescimento do PIB; estabilidade política; e capital humano. O modelo 2 utilizará como

Page 71: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

70

controles a lag da variável dependente e estabilidade política. Por fim, o modelo 3 incluirá

apenas a lag da variável dependente como controle.

Parks (1967) desenvolveu um método de estimação baseado nos mínimos quadrados

generalizados (GLS) para lidar com alguns problemas comuns que ocorrem em dados cross-

section de séries temporais (time-series crossection - TSCS) (BECK e KATZ, 1995: 634).

Os dados TSCS são caracterizados por ter observações repetidas em unidades fixas, tais

como estados ou nações. O número de unidades analisadas varia tipicamente de cerca de 10 a

100, com cada unidade observada durante um período de tempo relativamente longo (muitas

vezes 20 a 50 anos). As propriedades temporais e espaciais dos dados TSCS tornam o uso de

mínimos quadrados ordinários (ordinary least squares - OLS) problemático. Em particular, os

modelos para dados TSCS permitem frequentemente erros correlacionados temporalmente e

espacialmente, bem como para heterocedasticidade 12

.

Parks (1967) propôs um método para lidar com esses problemas com base no GLS. Esse

método assume que a estrutura da covariância dos erros está corretamente especificada e que

os elementos da matriz de covariância dos erros são conhecidos. Quando o processo gerador

dos erros não é conhecido, os elementos da matriz de covariância dos erros devem ser

estimados, o que pode ser feito por meio do método FGLS 13

.

O método de Parks é FGLS para modelos TSCS onde os erros mostram

heterocedasticidade de painel, correlação contemporânea e correlação serial específica de

unidade. A correção para correlação contemporânea dos erros corrige automaticamente para

qualquer heterocedasticidade de painel 14

.

Wawro (2002:30) discutindo, no contexto da ciência política, diversos estimadores de

dados de painéis dinâmicos, relata que o GMM fornece uma estrutura unificadora sob a qual a

maioria dos estimadores encontrados na ciência política pode ser derivada. Wawro também

aponta que os estimadores GMM possuem características semelhantes às das técnicas de

mínimos quadrados generalizados (generalized least squares - GLS) e de mínimos quadrados

de dois estágios (two-stage least squares - 2SLS).

A idéia principal por trás do GMM é que, a partir de um conjunto de suposições básicas

sobre um DGP (data generating process), é possível estabelecer condições de momento da

população e, em seguida, usar análises de amostra dessas condições de momento para calcular

estimativas de parâmetros. As condições de momento da população tipicamente envolvem

12

Ibidem, p. 634. 13

Ibidem, p. 634. 14

Ibidem, p. 637.

Page 72: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

71

expectativas de funções do termo de perturbação e variáveis explanatórias, enquanto que as

amostras análogas das condições de momento de população assumem a forma de momentos

de amostra (WAWRO, 2002: 30).

Arellano e Bond (1991) propuseram uma regressão em painel dinâmico, na qual a

equação utilizada é diferenciada em primeira ordem, resultando em uma equação livre dos

efeitos fixos. Os ganhos em relação aos outros métodos são a ausência de viés oriundo dos

efeitos fixos temporalmente invariantes e a consistência do estimador diante de

endogeneidade (CRUZ et al, 2015: 173).

4.4 Observações

A amostra nesse trabalho é de 18 países latino-americanos, no período de 1995 a 2014.

A América Latina compõe-se de 20 países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa

Rica, Cuba, El Salvador, Equador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá,

Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Os países excluídos foram

Haiti e Cuba.

O Haiti foi retirado da amostra devido à sua avaliação durante o período de 2010 a

2014: o país recebeu a pontuação de -77, uma pontuação especial devido a sua

ocupação/ausência de governo nesse período. Portanto, em 5 dos 20 anos estudados não há

caracterização de nenhum regime neste país, segundo os critérios do Polity IV.

Como o presente estudo busca explicar o efeito da liberdade econômica nas

democracias, Cuba foi retirado por apresentar-se como uma ditadura em todos os anos

estudados.

O ano de 1995 foi utilizado como ponto inicial porque foi quando começou as

avaliações do índice de liberdade econômica da fundação Heritage, que foi escolhido por

possuir avaliações anuais, ao contrário do índice do instituto Fraser, que possui avaliações

quinquenais entre 1980 e 2000, e só depois desse período avalia anualmente. O ano de 2014 é

o último ano de avaliação, pois é o ano onde todas as variáveis possuem o máximo de

avaliações, já que o índice de estabilidade política e o de capital humano ainda não possuem

dados para o ano de 2015.

Os resultados deverão ser observados com cautela diante da limitação dos dados. O

índice de liberdade econômica, como foi descrito no início deste trabalho, é uma média

aritmética de fatores como direitos de propriedade, nível de corrupção, gastos de governo,

liberdade fiscal, comercial, de trabalho, monetária, financeira, de investimento, entre outros.

Page 73: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

72

Portanto, o índice da fundação Heritage utilizado neste trabalho dá o mesmo peso para

diferentes aspectos que contribuem para a liberdade econômica, o que pode superestimar ou

subestimar a importância de determinados critérios de avaliação.

O índice Polity IV, por sua vez, baseia-se numa regra de agregação de dados explícita,

porém bastante complicada. Cinco atributos do índice são ponderados de forma diferente,

usando diferentes escalas. Apesar de pontuações ponderadas fornecerem uma forma legítima

de reconhecer a maior ou menor importação teórica dos diferentes atributos, um problema já

surge ao passo em que nenhuma justificação é fornecida para o sistema de ponderação

(MUNCK e VERKUILEN, 2002: 26).

A qualidade redentora do índice Polity IV é que os dados desagregados estão

disponíveis publicamente, garantindo assim que os estudiosos independentes possam avaliar

as implicações de regras de agregação diferentes e sugerir regras de agregação mais

apropriadas 15

.

15

Ibidem, p. 26.

Page 74: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

73

CAPÍTULO 5: ANÁLISE EXPLORATÓRIA DOS DADOS

5.1. Análise exploratória das variáveis de interesse

No presente trabalho pretende-se testar a hipótese de que existe uma relação de

bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina. A segunda

hipótese a ser testada é a de que o efeito positivo da democracia sobre a liberdade econômica

é maior que o efeito positivo da liberdade econômica sobre a democracia.

Antes dos testes de hipótese, através do método Feasible Generalized Least Squares

(FGLS), proposto por Parks (1967), e do método Generalized Method of Moments (GMM),

proposto por Arellano e Bond (1991), é necessária a análise da estatística descritiva para a

visualização e exploração dos dados.

Medidas de tendência central e de dispersão devem ser produzidas com o objetivo de

conhecer as distribuições das variáveis, é o que a literatura denomina de análise exploratória

dos dados (Exploratory Data Analysis - EDA) (FIGUEIREDO FILHO et al. 2011: 66). Na

tabela 1 encontra-se a estatística descritiva das variáveis presentes neste trabalho:

Tabela 1 – Estatística Descritiva das Variáveis Estudadas

Variável N Mínimo Máximo Média Desvio

Padrão

Polity IV 360 -3 10 7,76 1,92

Lib. Econômica 360 36,10 79 62,03 7,82

Polity -1 360 -3 10 7,71 1,97

Lib. Econômica -1 342 36,10 79 62,13 7,66

Estabilidade Política 288 -2,39 1 -0,34 0,65

PIB per capita 360 1122,15 14369,53 5720,56 3242,10

Crescimento do PIB 360 -11,03 18,29 3,73 3,55

Capital Humano 360 1,58 3,05 2,37 0,34

Ao analisar a tabela 1, verifica-se que o número máximo de casos para as variáveis é

360, entretanto, algumas variáveis possuem alguns casos omissos (missing cases). O índice de

liberdade econômica da fundação Heritage começou a ser medido no ano de 1995, onde

começa o recorte temporal da presente pesquisa (1995-2014). Portanto, a variável “Liberdade

Econômica (-1)”, que mede o nível de liberdade econômica no ano anterior, não possui casos

Page 75: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

74

para o ano de 1994. Já o índice de estabilidade política do Banco Mundial não possui

avaliações para os anos de 1995, 1997, 1999 e 2001.

Como o principal objetivo deste trabalho é testar a hipótese da bicausalidade entre a

democracia e a liberdade econômica, é importante realizar uma análise mais aprofundada da

estatística descritiva dessas duas variáveis. Na tabela 2 são apresentas as médias do índice

Polity IV e do índice de Liberdade Econômica por ano estudado:

Tabela 2 – Médias do Polity IV e da Liberdade Econômica por Ano

Ano Polity IV Lib. Econômica

1995 7 61,32

1996 7,44 63,04

1997 7,50 63,32

1998 7,50 63,79

1999 7,61 64,77

2000 7,83 64,82

2001 8 64,47

2002 8 63,77

2003 8 63,39

2004 8 61,53

2005 8 60,47

2006 8,06 60,75

2007 8 60,96

2008 8 60,93

2009 7,56 60,78

2010 7,56 60,60

2011 7,56 60,95

2012 7,56 60,79

2013 8 60,04

2014 8 60,19

Relembrando a estratégia de medição dos índices em análise, o Polity IV é uma variável

quantitativa discreta que possui uma escala de -10 a +10, que se divide em: -10 “autocracias

totalmente institucionalizadas”; -9 a -6 “autocráticos”; -5 a 0 “anocracias fechadas”; +1 a +5

“anocracias abertas”; +6 a +9 “democracias”; e +10 “democracias totalmente

institucionalizadas” (MARSHALL e COLE, 2014:21).

No índice de liberdade econômica temos que os países que possuem uma pontuação

entre 80 e 100 são considerados “livres”. Aqueles que obtiveram uma pontuação entre 70 e

79,9 são países de “boa liberdade”. Os valores entre 60 e 69,9 representam países de

“liberdade moderada”. As pontuações entre 50 e 59,9 são para países com “pouca liberdade”.

Page 76: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

75

Por fim, os países considerados “repressores” são os que possuem a pontuação entre 0 e 49,9

(MILLER e KIM, 2016).

Verifica-se que não existem grandes variações entre os anos estudados. A menor média

do Polity IV é 7, no ano de 1995, e a maior, 8,06, no ano de 2006, ou seja, na média, os países

latino-americanos são considerados “democráticos”. Para a liberdade econômica temos a

menor média no ano de 2013, medindo 60,04 e a maior no ano 2000, com 64,82 pontos.

Portanto, em média, os países da América Latina são considerados de “boa liberdade”. Na

tabela 3 é possível encontrar que a grande variação está entre os países estudados:

Tabela 3 – Médias do Polity IV e da Liberdade Econômica por País

País Polity IV Lib. Econômica

ARG 7,80 58,99

BOL 8,10 58,57

BRA 8,00 57,58

CHL 9,20 76,51

COL 7,00 64,54

CRI 10,00 66,58

DOM 7,85 57,97

ECU 6,35 54,56

GTM 7,75 62,01

HND 6,80 57,60

MEX 7,30 63,75

NIC 8,40 57,86

PAN 9,00 67,50

PER 6,80 65,16

PRY 7,65 61,24

SLV 7,30 70,43

URY 10,00 68,12

VEN 4,35 47,65

Como pode ser observado na tabela acima, Costa Rica (CRI) e Uruguai (URY) são os

países de maior qualidade democrática na América Latina: receberam a nota máxima em todo

o período estudado e são considerados “democracias totalmente institucionalizadas”. Panamá

(PAN) e Chile (CHL) são os que vêm em seguida, com 9 e 9,2 pontos em média,

respectivamente, e são considerados “democracias”.

Os demais países também são democráticos em média, exceto a Venezuela (VEN). A

Venezuela possui o valor mais baixo e bem menor que os demais: 4,35 pontos em média, 2

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pontos a menos que o penúltimo colocado, Equador. A Venezuela é, portanto, o único país

que, em média, apresenta-se como uma “anocracia aberta”.

O país mais livre economicamente é também um dos mais democráticos: o Chile, com

76,51 pontos em média. El Salvador (SLV), apesar de não estar entre os mais democráticos,

possui 70,43 de liberdade econômica em média, ficando em segundo lugar. O Chile e El

Salvador foram os únicos países que, na média, podem ser considerados de “boa liberdade”.

A Venezuela, assim como tem o menor nível democrático, possui a pior liberdade econômica,

com uma média de 47,65 pontos, sendo o único país considerado como “repressor”.

5.1.1 Análise exploratória do índice de liberdade econômica

Visualizar os dados é um procedimento fundamental para garantir que o pesquisador

domine o banco de dados e explore a relação entre suas variáveis. Neste momento, também é

recomendável que o pesquisador tenha atenção aos pontos que estejam destoando do restante

da distribuição, os chamados outliers (FIGUEIREDO FILHO et al. 2011: 66-67). O gráfico 1

de box-plot ilustra a distribuição do índice de liberdade econômica:

Gráfico 1 - Box-plot do Índice de Liberdade Econômica

Após uma breve análise do gráfico 1 é possível identificar cinco casos destoantes, todos

ocorridos na Venezuela. O país possuiu avaliações abaixo da nota 4, sendo portanto, o único

país considerado “repressor” durante o período 1995-2014. O gráfico 2 a seguir mostra a

distribuição da liberdade econômica por país da América Latina.

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Gráfico 2 - Box-plot do Índice de Liberdade Econômica por Ano

Verifica-se que a Venezuela tornou-se um outlier durante o período 2009-2014, que

compreende os governos Hugo Chávez (2009-2012) e Nicolás Maduro (2013-2014). O Chile

mostrou ser o outro caso destoante. Durante dois anos do governo de Michelle Bachelet

(2007-2008) o Chile recebeu notas de aproximadamente 80 pontos, se distanciando dos

demais países que sequer alcançaram a nota 70.

A Venezuela parece dar credibilidade para a hipótese de Hayek (1944: 69-70) e

Friedman (1962: 9), que argumentaram que a liberdade econômica é uma condição necessária

para as liberdades políticas e civis. Os altos níveis de liberdade econômica (de acordo com o

instituto Fraser) durante o período 1920-1957 estimularam o advento da democracia. No

entanto, com o início da democracia em 1958 veio também a destruição das instituições de

promoção da liberdade econômica, o que minou as liberdades nas esferas política e civil

(FARIA e FILARDO, 2015: 395). Assim, ao privilegiar certos direitos políticos sobre a

liberdade econômica, os venezuelanos terminaram sem liberdade alguma (LAWSON e

CLARK, 2010).

Entre 1959 e 1999, uma série de medidas centralizadoras, coercitivas e excludentes na

Venezuela foi aos poucos destruindo a liberdade econômica. O presidente Rómulo Betancourt

(1959-1964) criou agências de intervenção estatal na economia como a CORDIPLAN16

, uma

agência estatal de planejamento econômico, e a CVP17

, companhia governamental para

16

Oficina de Coordinación y Planificación. 17

Corporación Venezolana del Petróleo.

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negócios petrolíferos. Durante a gestão de Betancourt a taxa marginal de imposto de renda

triplicou (de 12 a 36%) e ainda foi alterada a Lei do Banco Central para permitir empréstimos

para o governo pelo banco central (FARIA e FILARDO, 2015: 380-381).

Betancourt e o seu sucessor Raúl Leoni (1964-1969) promoveram uma política

econômica de controles de preços, que têm sido onipresente na economia venezuelana durante

o período democrático até o presente 18

. Sob a administração Chávez-Maduro, esses controles

de preços foram intensificados. Os resultados incluem escassez generalizada de bens de

consumo básicos, como creme dental e papel higiênico 19

.

A inflação foi alta e a moeda consequentemente desvalorizada no governo de Carlos

Andrés Pérez (1989-1993). Também foram estabelecidas regras para proibir a demissão de

trabalhadores e a indústria de ferro e do petróleo foram nacionalizadas. A corrupção se

desencadeou em todos os níveis de governo. Durante esse período também foram instituídas

leis complexas que dificultaram a formação de negócios, aumentaram o custo da demissão e

obrigaram os bancos a alocar empréstimos para setores considerados estratégicos pelo

governo 20

.

Políticas de controles cambiais foram utilizadas no final do governo Luis Herrera

(1979-1984) e por toda a presidência de Jaime Lusinchi (1984-1989). E desde o segundo

governo de Rafael Caldera (1994-1996) até o presente também são adotadas 21

.

Hugo Chávez (1999-2013) continuou com os vícios econômicos de seus antecessores

como a corrupção do sistema judicial, controle de preços, nacionalização de empresas,

inflação, desvalorização, opacidade fiscal nas áreas de tributação e dos gastos do governo,

grande carga regulatória da atividade empresarial, controles cambiais, aumentos de salário

mínimo, endividamento governamental e barreiras comerciais 22

.

A “revolução” Chávez-Maduro é melhor entendida como consequência do

desmantelamento das instituições econômicas liberais da Venezuela tal como existiam em

1957. A consequente ausência de crescimento econômico tem um papel importante na ampla

aceitação da retórica redistribucionista de Chávez, que listava o “capitalismo” e o

“neoliberalismo” como os culpados por trás do aumento da pobreza na Venezuela. A política

18

Ibidem, p. 380-381. 19

Ibidem, p. 385. 20

Ibidem, p. 380-381. 21

Ibidem, p. 380-381. 22

Ibidem, p. 394-395.

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econômica Chávez-Maduro é uma exacerbação do intervencionismo que estava saliente no

período 1960-2000 23

.

Como consequência, na avaliação de 2016 do índice de liberdade econômica da

Fundação Heritage foi avaliado que entre os 178 países avaliados a Venezuela ficou na 176ª

posição, só perdendo para Cuba e Coréia do Norte (MILLER e KIM, 2016: 8).

No Chile, os governos socialistas do presidente Ricardo Lagos (2000-2006) e Michele

Bachelet (2006-2010) são exemplos de governos de esquerda comprometidos com a adoção

do neoliberalismo na América Latina, mas um “neoliberalismo com rosto humano” 24

. Lagos

combinou a prática da social democracia com uma forte responsabilidade fiscal. Como sua

sucessora, Bachelet também foi em direção da política neoliberal, a marca registrada de sua

coalização de centro-esquerda, a Concertación, que estava no poder chileno desde o final da

ditadura de Pinochet, em 1990 (NAVIA, 2009).

A administração de Bachelet intensificou o neoliberalismo no Chile, pois teve respaldo

no crescimento econômico, na diminuição da pobreza e na consolidação da democracia

decorrentes da Concertación, especialmente no governo Lagos. Como resultado, a esquerda

anti-neoliberalismo, que havia crescido com força em outros países latino-americanos como

Venezuela e Bolívia, falhou em se desenvolver no Chile 25

.

Na avaliação de 2007, a economia do Chile recebeu a nota de 78,3, sendo a 11ª

economia mais livre do mundo e a 3ª mais livre das Américas (composta de 29 países). O

país recebeu pontuações altas em praticamente todas as dimensões de liberdade econômica,

em particular na liberdade fiscal (85,7), na liberdade ou tamanho do governo (87,6), liberdade

monetária (79,9), direitos de propriedade (90) e liberdade de trabalho (85,3) (KANE et al.,

2007: 137-138).

Em 2007, apesar de uma taxa marginal de imposto de renda elevada (chega a 40%), as

taxas de impostos sobre a sociedade são extremamente baixas (17%). A despesa total do

governo como proporção do PIB também é moderada. A inflação estava baixa, mas o Estado

mantinha certos controles de preços. A fundação Heritage indicou que o Chile poderia

melhorar sua liberdade empresarial e a liberdade de comércio. As barreiras não-tarifárias

também eram um problema, porque o governo restringia certas importações 26

.

23

Ibidem, p. 382. 24

Navia (2009:27) ressalva que não existe uma coerência na literatura sobre o conceito de “esquerda”.

Entretanto, pelo fato da própria coligação de partidos do governo Lagos/Bachelet declarar-se de esquerda e a

grande maioria dos atores políticos reconhecerem esse governo também como de esquerda, é apropriado defini-

lo desta maneira. 25

Ibidem. 26

Ibidem, p. 137-138.

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No ano seguinte, a economia do Chile foi 79,8 % livre, o que o tornou a 8ª economia

mais livre do mundo. A pontuação total é 0,8 pontos percentuais superior a do ano anterior, o

que foi resultado principalmente de um melhor clima de investimento: a medida de liberdade

de investimento subiu de 70% em 2007 para 80% em 2008. O Chile continuou como a 3º

economia mais livre dos 29 países das Américas e tem sido um líder regional por mais de uma

década (HOLMES et al., 2008: 137-138).

Em sua avaliação, a fundação Heritage ressalta que o crescimento econômico chileno

naquele momento devia-se aos investimentos estrangeiros e ao governo de coalizão da

presidente Michele Bachelet, que permaneceu comprometida com o sucesso das instituições

de livre mercado, apesar de sua retórica que enfatizava a igualdade de renda sobre a

liberdade27

.

5.1.2 Análise exploratória do índice Polity IV

O gráfico a seguir mostra a distribuição das avaliações dos regimes políticos dos 18

países da América Latina ao longo de todo o período estudado. Após a sua análise verifica-se

a presença de 4 casos destoantes: México, Guatemala, Peru e Venezuela.

Gráfico 3: Box-plot do Polity IV

27

Ibidem, p. 137-138.

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O caso destoante da Guatemala foi o de 1995, último ano do governo Ramiro de León

Carpio (06/06/1993 - 13/01/1996), com nota +3, sendo, portanto, uma “anocracia aberta”,

enquanto que nos demais anos a Guatemala recebeu a nota +8 (“democracia”).

Em 1995, Ramiro de León Carpio era o presidente eleito indiretamente para substituir o

presidente Jorge Serrano, que em 25 de Maio de 1993 havia fechado o Congresso e a Suprema

Corte da Guatemala e também suspendido a sua Constituição. Sem um partido sólido ou um

programa de governo para apoiar a sua administração, Serrano governava pela improvisação,

com uma personalidade autoritária, preferência pela confrontação em vez do diálogo, e

tendência a confiar nas forças armadas e nos serviços de inteligência. A corrupção no

Congresso e no Judiciário cresceu. Finalmente, enfrentando um grande escândalo de

corrupção que ameaçava a sua presidência, Serrano tentou um autogolpe (CAMERON, 1998).

O autogolpe guatemalteco foi oportunista e mal planejado. Serrano também não

assegurou o sólido apoio institucional das forças armadas, não consultou amplamente seus

principais comandantes e não pôde impedir que divisões emergissem entre oficiais de linha

dura e constitucionalistas. Por intermédio de civis – incluindo o então Defensor dos Direitos

Humanos Ramiro de León Carpio – os constitucionalistas ameaçaram com guerra civil se

Serrano permanecesse no poder 28

.

Na Guatemala, o Tribunal Constitucional emitiu dois acórdãos contra o autogolpe; o

Conselho Eleitoral se recusou a convocar uma nova eleição; a mídia desafiou a censura;

grupos civis saíram às ruas; coligações foram formadas para fazer oposição ao golpe; a reação

internacional (encorajada pela oposição interna) era fortemente hostil. A gota d’água foi a

retirada do apoio do militar, que estava dividido. No dia 1º de junho de 1993, Serrano foi para

o exílio (CAMERON, 1998).

Ramiro de León Carpio foi eleito pelo Congresso sob intensa pressão popular. Despediu

o ministro da Defesa e o chefe da inteligência, retirou os militares que haviam apoiado

Serrano e promoveu oficiais constitucionalistas. Expulsou membros corruptos do Congresso e

limpou a Suprema Corte, mas fez isso legalmente, usando pressão política e sem violar a

separação de poderes. O sistema judicial, especialmente o Tribunal Constitucional, começou a

gozar de sua mais alta legitimidade. Mas também houve alguns custos: o presidente do

Tribunal Constitucional foi morto a tiros na frente de sua família em Antígua pouco depois do

fracasso do autogolpe e o cunhado do presidente León Carpio foi morto em circunstâncias

igualmente misteriosas 29

.

28

Ibidem. 29

Ibidem.

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82

Muitos guatemaltecos esperavam que o aprofundamento da democracia levasse a

melhorias em suas vidas. León Carpio, no entanto, não buscou governar com a sociedade civil

que o ajudou a chegar ao poder, nem se concentrou em atender suas demandas. Em vez disso,

ele se concentrou em preservar o regime democrático e transferir o poder para seu sucessor

eleito, Álvaro Arzú 30

.

Como pode ser observado no gráfico 4 abaixo, o período de casos destoantes do Peru

(1995-1998) corresponde ao governo de Fujimori (28/07/1990 - 22/11/2000). O caso

destoante do México aconteceu em 1996, sob o governo de Ernesto Zedillo (01/12/1994-

01/12/2000). Após a desagregação dos dados por ano, foi possível identificar outro outlier: a

Costa Rica em 1997, que recebeu nota 10 em todos os anos estudados. O país que recebeu as

menores pontuações foi a Venezuela, assim como ocorreu com a liberdade econômica. O

período de menores notas também foi o mesmo: 2009-2012 (Hugo Chávez) e 2013-2014

(Maduro).

Gráfico 4 - Box-plot do Polity IV por Ano

Em 1992, o presidente Alberto Fujimori promoveu um autogolpe no Peru, apoiado

pelos militares, onde fechou o Congresso e suspendeu a Constituição. Depois de sete meses, o

30

Ibidem.

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83

governo de Fujimori realizou eleições para uma assembleia constituinte, em novembro de

1992. Em 1993, garantiu a aprovação, via referendo, de uma nova constituição. Dois anos

mais tarde, Fujimori, que foi eleito presidente originalmente em 1990, foi reeleito. Embora o

restabelecimento da Constituição e de eleições representassem um passo importante contra o

autoritarismo, o governo Fujimori foi acompanhado por um ataque sistemático a uma série de

instituições democráticas (LEVITSKY, 1999: 78).

Sua alegação de que o autogolpe era necessário para livrar o Peru de uma "falsa

democracia" (PAREDES CASTRO et al., 1992) dominada por facções partidárias foi aceita

pela maioria dos peruanos. A aprovação pública para Fujimori saltou de 53 % em março de

1992 para 81% após o autogolpe (TANAKA 1998: 219). A popularidade de Fujimori ajudou

a criar uma ampla base de apoio ao novo regime (LEVITSKY e CAMERON, 2003: 8).

O regime de Fujimori violou as normas “procedimentais” da democracia em vários

aspectos 31

. As liberdades civis foram violadas frequentemente. As linhas telefônicas da

maioria dos principais jornalistas e dos líderes da oposição foram grampeadas; muitos

jornalistas foram perseguidos e intimidados por ameaças de morte; e vários críticos do regime

foram forçados a fugir do país (LEVITSKY, 1999: 78).

Em segundo lugar, as instituições eleitorais foram corrompidas pelo governo Fujimori32

.

Os principais organismos responsáveis pela vigilância eleitoral, como o Conselho Eleitoral

Nacional e o Escritório Nacional de Processos Eleitorais, foram colocados nas mãos de

partidários do regime (BALBI e PALMER, 2001).

Em terceiro lugar, as forças armadas não estavam totalmente subordinadas às

autoridades civis (LEVITSKY, 1999: 79). Os militares emitiam regularmente suas próprias

proclamações políticas e em várias ocasiões enviaram tanques para as ruas de Lima para

reforçar as suas posições. Assim, embora Fujimori não fosse um fantoche dos militares, as

forças armadas eram mais parceiras da coligação do que uma instituição subordinada ao

presidente 33

.

31

Seguindo a tradição schumpeteriana, HUNTINGTON (1994: 16) afirma que “o procedimento central da

democracia é a seleção de líderes, através de eleições competitivas, pelo povo que governam”. Além de

competitivas, as eleições devem ser periódicas, imparciais e limpas; os candidatos, por sua vez, devem concorrer

livremente pelos votos. Nesse sentido, incluem-se mais dois aspectos essenciais ao processo democrático: a

contestação e a participação (DAHL, 1971; HUNTINGTON, 1994). Deve existir espaço para críticas ao atual

governo e para a inclusão de novas propostas. O povo deve ter direito a informações sobre os candidatos e de se

organizar. Assim, a existência das liberdades de expressão, publicação, reunião e organização são fundamentais

para o andamento das campanhas eleitorais e para os debates políticos (HUNTINGTON, 1994). 32

Ibidem, p. 78. 33

Ibidem, p. 79.

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84

Além de deixar de lado os requisitos processuais mínimos para a democracia, o governo

Fujimori também enfraqueceu sistematicamente o que Guillermo O'Donnell (1994: 61-62)

chamou de “accountability horizontal” ou a capacidade das instituições legislativas e jurídicas

autônomas para limitar o poder do Executivo. O Congresso tinha pouca funcionalidade,

tornando-se um cúmplice dos abusos de Fujimori, aprovando medidas de constitucionalidade

duvidosa, com o objetivo de enfraquecer outros organismos independentes. O Congresso

Nacional, o Tribunal de Garantias Constitucionais, o Conselho Nacional da Magistratura e a

Procuradoria Geral foram dissolvidos. Em seguida, os membros da Suprema Corte, do Júri

Nacional de Eleições e outros 150 juízes foram destituídos de seus cargos (MONTERO, 2001:

69).

Em suma, embora a persistência de eleições competitivas distinga o Peru de regimes

autoritários totalmente institucionalizados, o poder autônomo das forças armadas, os esforços

sistemáticos para intimidar a imprensa e opositores do regime, e a politização das instituições

eleitorais desqualificaram o Peru de ser rotulado como uma democracia (LEVITSKY, 1999).

Consequentemente, para o Polity IV, o Peru durante o período 1995-1999 é

caracterizado como uma “anocracia aberta” (+1), ou seja, um regime híbrido, onde os

governos não são nem totalmente democráticos nem totalmente autocráticos, mas combinam

traços e práticas democráticas e autocráticas (MARSHALL e COLE, 2014).

O presidente mexicano Ernesto Zedillo assumiu a presidência em dezembro de 1994,

fazendo parte do PRI, o Partido Revolucionário Institucional, que teve o poder hegemônico

sobre o México de 1929 até 2000. Todos os presidentes do México foram deste partido, até

que foi derrotado nas eleições do ano 2000 pelo candidato do Partido da Ação Nacional,

Vicente Fox Quesada.

Zedillo enfrentou confrontos políticos dentro da elite governante, agitação em massa e

violência crescente. Neste contexto, o governo de Zedillo concordou em negociar com a

principal oposição do país uma série de reformas políticas abrangentes. Entre outras coisas,

essas medidas (conhecidas coletivamente como "Reforma do Estado") garantiram a

autonomia do Instituto Nacional Eleitoral, um órgão do governo encarregado de supervisionar

eleições. Assim, abriram caminho para a vitória eleitoral da oposição em nível nacional

(LAWSON, 2000: 274).

Zedillo assumiu o poder com um país marcado por uma grave crise financeira, o que

limitou a capacidade da administração de responder às demandas da população. Além da

ausência de recursos fiscais para acomodar demandas econômicas específicas, a nova

administração ignorou muitas das demandas internas do partido governista e concentrou-se

Page 86: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

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em reordenar a economia como um todo, na negociação de uma transição democrática com a

oposição e na ruptura de laços entre o partido e a presidência (DAVIS e BRACHET-

MÁRQUEZ, 1997: 105).

A administração de Zedillo aceitou relutantemente demandas da oposição por reformas

políticas. De fato, um presidente mexicano mais intimamente ligado aos piores elementos do

antigo regime poderia ter tomado uma decisão diferente (LAWSON, 2000: 274). Em vez

disso, o compromisso da elite levou à democratização. Para Lawson (2000: 274-275), o

México tornou-se procedimentalmente democrático a partir das eleições de 1997. Nesta

eleição e também na de 2000, os eleitores mexicanos passaram a escolher os seus

representantes em eleições livres, justas e inclusivas. O partido no poder competiu, perdeu e

reconheceu os resultados.

Nas eleições de 1997, a primeira realizada sob as novas regras do jogo, os partidos da

oposição tiraram o controle do PRI da câmara baixa (LAWSON, 2000: 274). Três anos

depois, o candidato da oposição Vicente Fox venceu as eleições presidenciais, garantindo o

controle da oposição no Poder Executivo, bem como no Legislativo. Sua vitória ocorreu quase

setenta anos depois de um governo de partido único e conduziu a uma nova era de

multipartidarismo. Por isso, a partir de 1997 as notas do Polity IV para o México subiram de

+4 para +6, ou seja, o país passou de uma “anocracia aberta” para uma “democracia”.

A Costa Rica é um Estado social democrático bem desenvolvido e estável, onde o

governo é visto como um ator legítimo pela maioria dos segmentos da sociedade. A

constituição moderna de 1948 estabeleceu um governo de Poderes divididos, que compõem

um Poder Executivo, um Poder Legislativo relativamente forte e unicameral, um Poder

Judiciário e uma comissão eleitoral independentes (SCHULER e BROWN, 1999:456-457).

Ao contrário de muitos outros países da América Latina, os militares não desempenham

um papel central no governo. A imprensa livre defende todos os pontos de vista. Os projetos

educacionais e de saúde pública formam a maior parte das despesas governamentais 34

.

A vigorosa democracia da Costa Rica é liderada por dois partidos nacionais, o Partido

Liberación Nacional (PLN) e o Partido Unidad Social Cristiana (PUSC), embora muitos

pequenos partidos também estejam ativos. Apesar do domínio do PLN desde 1948, as

eleições são competitivas e os resultados são percebidos como legítimos e promovendo o bem

da sociedade. Cada um dos principais partidos apoia, em alguma medida, o modelo

socialdemocrata de desenvolvimento 35

.

34

Ibidem, p. 456-457. 35

Ibidem, p. 456-457.

Page 87: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

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A partir de 1958 até 1998 a Venezuela era democrática, com sua política dominada por

dois partidos políticos: o Acción Democrática (AD) e o Comité de Organización Política

Electoral Independiente (COPEI). No entanto, o mau desempenho econômico na década de

1990 criou uma agitação popular. A eleição de 1993 de Rafael Caldera – que havia

abandonado o COPEI para concorrer por outra coalizão – apresentou uma crescente abstenção

eleitoral, indicando o descontentamento dos eleitores com os partidos tradicionais. A vitória

de Hugo Chávez nas eleições de 1998, candidato do Polo Patriótico (PP), evidenciou ainda

mais o repúdio dos eleitores venezuelanos ao AD e ao COPEI (HILLMAN e D'AGOSTINO,

2000: 56-57; GRIER e MAYNARD, 2016: 4).

Hugo Chávez era um oficial militar que lançou um golpe sem êxito em 1992. Foi

perdoado em 1994, pelo então presidente Rafael Caldera. Em 1998, Chávez ganhou a

presidência e lançou sua "Revolução Bolivariana" em 1999, com a formação de uma

assembleia constitucional que produziu uma nova Constituição, colocando muita ênfase no

progresso social. Chávez também converteu a legislatura de bicameral para unicameral e

aumentou os poderes do Poder Executivo. Aumentou o mandato presidencial de 5 para 6 anos

e permitiu que o presidente se mantivesse no cargo por 2 mandatos consecutivos. Em 2000

realizou uma super eleição à presidência, à nova assembleia nacional e a outros cargos.

Chávez venceu e seu partido ganhou 101 das 165 cadeiras na Assembleia, o que concedeu a

Chávez o direito de governar por decreto. Em 2004, Chávez e a Assembleia Nacional

aumentaram o número de juízes da Suprema Corte de 20 para 32, supostamente lotando o

tribunal com seus seguidores. Chávez venceu a reeleição em 2006, e em 2007 foi concedido o

direito de concorrer novamente em 2012, em um referendo 36

.

Na variável “Restrições no Executivo”, do projeto Polity IV, a Venezuela obteve um

valor médio de 6,0 nos 14 anos anteriores a Chávez (1985-1998), mas de apenas 4,2 nos 14

anos (1999 - 2012) do governo de Chávez (queda de 30%). A variável “Competição Política”

caiu 26% entre os dois períodos e a média da pontuação total da Venezuela caiu 45% entre os

dois períodos (de 8,5 para 4,5). Em suma, quaisquer que sejam suas virtudes, a revolução de

Chávez concentrou o poder no Executivo, e enfraqueceu os freios e contrapesos que existiam

no sistema anterior (GRIER e MAYNARD, 2016:4).

A Venezuela é classificada como uma “anocracia aberta” no período 2006-2008 e passa

a ser uma “anocracia fechada” a partir de 2009, período onde ocorre os casos destoantes da

amostra. Anocracia é o sinônimo de “regime híbrido”, que são às vezes chamados

36

Ibidem, p. 456-457.

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"autoritarismos competitivos" porque, enquanto o partido no poder compete nas eleições

(geralmente ganhando), o presidente dispõe de poderes autocráticos que corroem os controles

e o equilíbrio entre os poderes. Tais regimes são comuns em todo o mundo em

desenvolvimento (CORRALES, 2015: 37).

A Venezuela sob Hugo Chávez (1999-2013) é um caso de um regime híbrido que se

moveu rapidamente para o aumento do autoritarismo. O caminho da Venezuela para uma

maior autocracia se acelerou ao longo dos anos, atingindo maiores níveis no governo do

sucessor de Chávez, Nicolás Maduro (2013-presente) 37

. Hoje, a Venezuela é classificada

como o menos livre de todos os regimes parcialmente livres na América Latina.

O governo de Maduro está empenhado em continuar a política de expansão da imprensa

pública. Já estabeleceu jornais públicos nas cidades de Valência, Maracay, Cojedes, Guárico e

Petare, e em 2014 o presidente declarou que queria ter um jornal em cada cidade

venezuelana38

. Além disso, em abril de 2015 a Sociedade Interamericana de Imprensa acusou

o governo Maduro de perseguir e discriminar os seus críticos, ao afirmar que a administração

do presidente atingia os jornais independentes dificultando a importação de papel. Em

decorrência disto, vários jornais importantes como El Correo del Caroní, El Impulso, El

Carabobeño, El Nacional e El Regional de Zulia estavam ameaçados de fechar as portas por

falta de papel 39

(O GLOBO, 2015). Em novembro de 2016, três jornais venezuelanos, La

Verdad, El Regional e Qué Pasa deixaram de circular por falta de papel 40

(G1, 2016).

A intensificação do legalismo autocrático sob Maduro tem se desestabilizado. No início

de 2014 a oposição passou a responder ao processo eleitoral defeituoso e à recusa do governo

para resolver essas irregularidades através de protestos de rua. A manifestação popular levou

à pior repressão sob o chavismo e talvez sob qualquer governo eleito na história do país

(CORRALES, 2015: 44).

Dado que Chávez já havia erguido o arcabouço e as ferramentas para facilitar a

repressão do governo, a administração de Maduro – porque tinha as instituições necessárias,

os instrumentos legais e uma ideologia política – naturalmente as usou para reprimir mais a

oposição 41

.

37

Ibidem, p. 37. 38

Ibidem, p. 41. 39

Link da notícia: http://oglobo.globo.com/mundo/sip-alerta-para-possiveis-fechamentos-de-jornais-na-

venezuela-15895689#ixzz4UAeyBRh3 40

Link da notícia: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/11/tres-jornais-venezuelanos-param-de-circular-por-

falta-de-papel.html 41

Ibidem, p. 45.

Page 89: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

88

5.1.3 Correlações entre democracia e liberdade econômica

O próximo passo na presente análise é examinar o padrão de relacionamento entre o

índice de democracia do Polity IV e a liberdade econômica. O gráfico abaixo ilustra essa

relação. A correlação 42

entre o índice de democracia Polity IV e a liberdade econômica é de

0,515 (p-valor <0,000), totalizando 360 casos analisados. O coeficiente de determinação (R2)

mede 0,265, sugerindo que 27% da variância da variável dependente (Polity IV) pode ser

explicada pela variação da variável independente (liberdade econômica). Em particular, a

cada 1% a mais de democracia espera-se, em média, um incremento de 0,27% no nível de

liberdade econômica.

Gráfico 5 - Correlação entre o Polity IV e a Liberdade Econômica

A tabela 4 sumariza o valor do coeficiente, o p-valor e o número de casos analisados por

país da América Latina. Entre os 18 países estudados, 5 não apresentaram correlação

significativa entre democracia e liberdade econômica, ou seja, apresentaram um p-valor maior

que 0,05. São eles: República Dominicana (DOM) (p-valor=0,296); Guatemala (GTM) (p-

valor=0,995); Honduras (HND) (p-valor=0,057); Nicarágua (NIC) (p-valor=0,341); e Peru

(PER) (p-valor= 0,321).

Não foi possível determinar a correlação entre democracia e liberdade econômica em 5

países, pelo fato de terem a variável Polity IV constante. A Colômbia recebeu a nota 7 em

42

O coeficiente de correlação de Pearson é uma medida de associação linear entre variáveis. Ele varia entre -1 e

1. A direção (positiva ou negativa) indica o sentido em que as variâncias estão associadas. Por sua vez, a

magnitude (tamanho do coeficiente) indica a força da associação. Quanto mais perto de 1, mais forte é a

correlação (FIGUEIREDO FILHO e SILVA JÚNIOR, 2009).

PO

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LIBERDADE ECONÔMICA

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89

todos anos estudados, o Brasil a nota 8, Panamá a nota 9, e Costa Rica e Uruguai receberam a

nota 10.

Três países apresentaram coeficientes negativos, o que não era esperado: Argentina

(ARG) com -0,658 (p-valor=0,002); Paraguai (PRY) com -0,506 (p-valor=0,023); e El

Salvador (SLV) com -0,558 (p-valor=0,011).

O país que possui a maior correlação entre democracia e liberdade econômica é a

Bolívia (BOL) com 0,875 (p-valor<0,000), seguido do Chile com 0,835 (p-valor<0,000) e

Equador (ECU) com 0,819 (p-valor<0,000).

Tabela 4 – Correlação entre o Polity IV e a Liberdade Econômica por País

País r p-valor N

ARG -0,658** 0,002 20

BOL 0,875** 0,000 20

BRA a a

20

CHL 0,835** 0,000 20

COL a a

20

CRI a a

20

DOM 0,246 0,296 20

ECU 0,819** 0,000 20

GTM 0,001 0,995 20

HND 0,432 0,057 20

MEX 0,547* 0,012 20

NIC 0,225 0,341 20

PAN a a

20

PER 0,234 0,321 20

PRY -0,506* 0,023 20

SLV -0,558* 0,011 20

URY a a

20

VEN 0,779** 0,000 20

** Correlação é significante a nível de 1%

* Correlação é significante a nível de 5%

a Não pode ser computado porque a variável Polity IV é

constante

A tabela 5, a seguir, mostra a correlação entre o Polity IV e a liberdade econômica

desagregada por ano. Nela se observa que os anos no período 1995 - 2000 não possuem

correlações significativas. Entretanto, para os demais anos houve correlações com

Page 91: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

90

coeficientes altos e significativos. A partir de 2001, o menor valor encontrado foi em 2005,

com 0,580 (p-valor=0,012) e o maior em 2009, medindo 0,797 (p-valor<0,000).

Tabela 5 - Correlação entre o Polity IV e a Liberdade Econômica por Ano

Ano r p-valor N

1995 0,134 0,595 18

1996 0,062 0,806 18

1997 0,092 0,717 18

1998 0,111 0,661 18

1999 0,037 0,883 18

2000 0,276 0,268 18

2001 0,662** 0,003 18

2002 0,630** 0,005 18

2003 0,603** 0,008 18

2004 0,599** 0,009 18

2005 0,580* 0,012 18

2006 0,696** 0,001 18

2007 0,664** 0,003 18

2008 0,666** 0,003 18

2009 0,797** 0,000 18

2010 0,785** 0,000 18

2011 0,785** 0,000 18

2012 0,762** 0,000 18

2013 0,767** 0,000 18

2014 0,754** 0,000 18

** Correlação é significante a nível de 1%

* Correlação é significante a nível de 5%

O gráfico a seguir mostra a correlação entre democracia e liberdade econômica

excluindo-se o outlier de ambas as variáveis: a Venezuela. Depois da exclusão da Venezuela,

a correlação caiu de 0,515 (p-valor <0,000), em 360 casos, para 0,354 (p-valor <0,000), em

340 casos, uma diminuição de cerca de 69%. O coeficiente de determinação (R²) foi de 0,125,

sugerindo que 13% da variância da variável dependente (Polity IV) pode ser explicada pela

variação da variável independente (liberdade econômica). Em particular, a cada 1% a mais de

democracia espera-se, em média, um incremento de 0,13% no nível de liberdade econômica.

Page 92: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

91

Gráfico 6 - Correlação entre o Polity IV e a Liberdade Econômica (sem outlier)

A tabela 6 sumariza o valor do coeficiente, o p-valor e o número de casos analisados por

ano, mas sem o outlier Venezuela. Após a sua análise, verifica-se que além das correlações

sem significância estatística do período 1995-2000, o que também ocorreu com a Venezuela

(tabela 5), os anos 2004 e 2005 também não mostraram correlações significativas. Os valores

dessas correlações também foram menores. O menor coeficiente foi 0,530 (p-valor=0,029) em

2003, e o maior 0,709 (p-valor=0,001), em 2011. Esses resultados indicam que a Venezuela,

por ser um outlier, aumenta os coeficientes de correlação entre essas variáveis.

Tabela 6 - Correlação entre Polity IV e Liberdade Econômica por Ano (sem outlier)

Ano r p-valor N

1995 0,140 0,591 17

1996 0,086 0,742 17

1997 0,122 0,642 17

1998 0,142 0,586 17

1999 0,012 0,964 17

2000 0,241 0,351 17

2001 0,596* 0,011 17

2002 0,563* 0,019 17

2003 0,530* 0,029 17

2004 0,484* 0,049 17

2005 0,466 0,060 17

2006 0,543* 0,024 17

2007 0,556* 0,021 17

2008 0,535* 0,027 17

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LIBERDADE ECONÔMICA

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92

2009 0,705** 0,002 17

2010 0,683** 0,003 17

2011 0,709** 0,001 17

2012 0,685** 0,002 17

2013 0,640** 0,006 17

2014 0,622** 0,008 17

** Correlação é significante a nível de 1%

* Correlação é significante a nível de 5%

5.2 Análise exploratória das variáveis de controle

5.2.1 Estabilidade política

A Estabilidade Política combina vários indicadores que medem a percepção da

probabilidade de que o governo no poder será desestabilizado ou derrubado por meios

possivelmente inconstitucionais e/ou violentos, incluindo a violência interna e o terrorismo. A

pontuação situa-se entre -2,5 e 2,5, com a maior pontuação correspondente a melhores

resultados (DAHLBERG et al., 2016:120-121). O gráfico abaixo mostra a média da

estabilidade política por país da América Latina.

Gráfico 7 – Estabilidade Política por País da América Latina

O país com a maior média é o Uruguai (URY), seguido da Costa Rica (CRI) e do Chile

(CHL), todos eles com médias acima de 0,50. Os demais países apresentam médias bem

Page 94: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

93

menores. A Colômbia (COL) mostrou ser o país com a maior probabilidade de que o governo

no poder será desestabilizado.

O gráfico 8, a seguir, ilustra a distribuição do índice de estabilidade política. Após sua

análise verifica-se a presença de 3 casos destoantes, todos ocorridos na Colômbia. Logo após,

o gráfico 9 mostra a distribuição da estabilidade política desagregada por ano. Nele é possível

verificar a presença de mais um caso destoante da Colômbia e um outlier na Costa Rica, em

1998. Os casos destoantes na Colômbia ocorreram em 1998, 2003, 2004 e 2008.

Gráfico 8 - Box-plot do Índice de Estabilidade Política

Gráfico 9 - Box-plot do Índice de Estabilidade Política por Ano

Como Schuler e Brown (1999: 456-457) afirmaram, a Costa Rica é uma democracia

bem desenvolvida e estável. O único momento do século passado em que houve uma

Page 95: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

94

considerável instabilidade política foi em 1948, durante uma breve, mas violenta guerra civil

(SELIGSON, 2000:12). Em um survey, Seligson (2000: 12) verifica que 96% da população

costa-riquenha se orgulham do sistema político de seu país, dando suporte ao argumento da

presença de uma forte tradição democrática.

A Colômbia começou a passar por uma guerra civil desde o lançamento de uma

insurgência comunista na década de 1960. Oficialmente, trata-se de um conflito de três lados:

envolvendo o governo, insurgentes comunistas e grupos paramilitares de direita, embora

frequentemente o governo e os grupos paramilitares tenham sido aliados contra a guerrilha

(DUBE e NAIDU, 2014: 6).

O conflito permaneceu em baixa intensidade ao longo dos anos 80, mas aumentou

fortemente durante a década de 1990, por uma série de razões diferentes, incluindo a derrota

da guerrilha dos narcotraficantes e o aparecimento de grupos paramilitares. Tanto a guerrilha

como os paramilitares buscaram o domínio territorial através da guerra e de assassinatos

políticos. Eles são financiados por sequestros, extorsão e do comércio de cocaína. Assim, o

comércio de drogas é intrinsecamente ligado aos conflitos internos 43

.

Grupos paramilitares independentes surgiram em diferentes regiões da Colômbia,

compartilhando a mesma visão de opor-se violentamente aos guerrilheiros, bem como aos

políticos. Como tal, começaram a realizar assassinatos de candidatos políticos durante a

década de 1980 (DUDLEY, 2004).

No entanto, só em 1997 esses grupos se tornaram uma organização de força política

nacional, formando uma organização chamada Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), que

chegou a possuir 15.000 membros. Nesse ano houve um forte aumento da violência

paramilitar, assim como a expansão de suas atividades em âmbito nacional (DUBE e NAIDU,

2014: 7). Também foi quando se deu o início da parapolitica – intervenção paramilitar mais

direta na política eleitoral – financiando políticos pró-paramilitares, assassinando civis para

coagir as populações locais a votar nesses políticos, dissuadindo candidatos para não entrar

em disputa, ou simplesmente os assassinando (ACEMOGLU et al., 2013).

Em 2003, a AUC declarou um cessar-fogo parcial, e alguns blocos paramilitares

concordaram em participar de programa de desmobilização. No entanto, a desmobilização não

desativou efetivamente todos os paramilitares: grupos de defesa dos direitos humanos têm

documentado a continuação da violência paramilitar (DUBE e NAIDU, 2014: 8).

43

Ibidem, p. 6.

Page 96: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

95

5.2.1.1 Correlações

Nesta seção serão analisadas as correlações da estabilidade política com a democracia e

com liberdade econômica. Como um dos objetivos desse trabalho é testar a hipótese de um

impacto positivo da estabilidade sobre a democracia e a liberdade econômica, é importante

verificar como se dá o padrão de relacionamento entre essas variáveis.

O gráfico 10 (abaixo) mostra a correlação entre estabilidade política e democracia. A

correlação entre o índice de democracia Polity IV e a estabilidade política é de 0,530 (p-valor

<0,000), totalizando 288 casos. O coeficiente de determinação (R²) foi 0,281, sugerindo que

28% da variância da variável dependente (Polity IV) pode ser explicada pela variação da

variável independente (estabilidade política). Em particular, a cada 1% a mais de democracia

espera-se, em média, um incremento de 0,27% no nível de estabilidade política.

Gráfico 10 - Correlação entre o Polity IV e a Estabilidade Política

O gráfico 11 (abaixo) mostra a correlação entre estabilidade política e liberdade

econômica. A correlação entre essas variáveis é de 0,418 (p-valor <0,000), totalizando 288

casos. O coeficiente de determinação (R²) foi 0,174, sugerindo que 17% da variância da

variável dependente (liberdade econômica) pode ser explicada pela variação da variável

independente (estabilidade política). Em particular, a cada 1% a mais de liberdade econômica

espera-se, em média, um incremento de 0,17% no nível de estabilidade política.

Page 97: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

96

Gráfico 11 - Correlação entre Liberdade Econômica e Estabilidade Política

5.2.2 Capital Humano

O capital humano no presente trabalho é medido através do Índice de Capital Humano

do Penn World Table (FEENSTRA et al., 2015), baseado em anos de escolaridade (BARRO e

LEE, 2013) e em uma taxa assumida de retorno da educação (PSACHAROPOULOS, 1994).

O gráfico 12 mostra a média do capital humano por país da América Latina.

Gráfico 12 – Capital Humano por País da América Latina

Page 98: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

97

Após a visualização do gráfico 12, percebe-se que o Chile é o país com a maior média

de capital humano na América Latina. O país com o pior capital humano é a Guatemala.

Na distribuição geral dos dados de capital humano não é possível verificar nenhum

outlier (gráfico 13), entretanto, na desagregação por ano (gráfico 14), é possível verificar a

presença de 11 casos destoantes na Guatemala, entre 2004 e 2014.

Gráfico 13 - Box-plot do Índice de Capital Humano

Gráfico 14 - Box-plot do Índice de Capital Humano por Ano

Page 99: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

98

Chamarbagwala e Morán (2011) argumentam que o baixo capital humano da Guatemala

é uma das consequências dos 36 anos de guerra civil sofridos pelo país. Os autores combinam

dados do Censo Nacional de População de 2002 e da distribuição do número de violações de

direitos humanos e vítimas nos 22 departamentos (espécie de distrito ou estado da federação)

para examinar como essa guerra civil afetou o acúmulo de capital humano. O ano de

nascimento e o departamento de nascimento determinam conjuntamente a exposição do

indivíduo durante a idade escolar em três períodos diferentes da guerra civil, ou seja, o

período inicial (1960-1978), o pior período (1979-1984) e o período final (1985-1996).

Chamarbagwala e Morán (2011) encontram um forte impacto negativo da guerra civil

na educação dos dois grupos mais desfavorecidos: os homens e mulheres de origem Maia, que

vivem na zona rural 44

. Os resultados foram robustos mesmo com a inclusão de indicadores

para o departamento de residência, ano de nascimento e controles para diferentes tendências

em educação e desenvolvimento humano em departamentos afetados pela guerra e os

pacíficos. Os resultados sugerem que a guerra civil do país pode ter aprofundado as

desigualdades regionais, étnicas e de gênero em relação ao nível de escolaridade.

5.2.2.1 Correlações

Agora é a vez de examinar o padrão de relacionamento entre o capital humano e as

variáveis de interesse. O gráfico 15 mostra a correlação entre capital humano e democracia. A

correlação entre capital humano e democracia é bem menor que entre estabilidade e

democracia, medindo 0,135 (p-valor=0,011), totalizando 360 casos. O coeficiente de

determinação (R²) também foi baixo, medindo 0,018, sugerindo que aproximadamente 2% da

variância da variável dependente (Polity IV) pode ser explicada pela variação da variável

independente (capital humano). Em particular, a cada 1% a mais de democracia espera-se, em

média, um incremento de aproximadamente 0,02% no nível de capital humano.

44

Os resultados para os homens maias rurais foram: 0,27 menos anos de escolaridade para aqueles que tinha

idade escolar no período inicial da guerra civil (1960-1978); 0,71 para os que estudaram pior período (1979-

1984); e 1,09 para período final da guerra civil (1985-1996) (CHAMARBAGWALA e MORÁN, 2011).

Page 100: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

99

Gráfico 15 - Correlação entre Polity IV e Capital Humano

A correlação entre capital humano e liberdade econômica está presente no gráfico

abaixo. A correlação com a liberdade econômica é ainda menor do que a correlação com a

democracia: 0,119 (p-valor=0,024), totalizando 360 casos. O coeficiente de determinação (R²)

também foi menor, medindo 0,014, sugerindo que 14% da variância da variável dependente

(liberdade econômica) pode ser explicada pela variação da variável independente (capital

humano). Em particular, a cada 1% a mais de liberdade econômica espera-se, em média, um

incremento de 0,14% no nível de capital humano.

Gráfico 16 - Correlação entre Liberdade Econômica e Capital Humano

Page 101: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

100

5.2.3 Taxa de Crescimento do PIB

De acordo com os autores da teoria da modernização (LIPSET, 1959; CUTRIGHT,

1963; CUTRIGHT e WILEY, 1969; JACKMAN, 1973; HELLIWELL,1994; BURKHART e

LEWIS-BECK, 1994) existe um efeito positivo do crescimento econômico sobre a

democracia, hipótese esta que também será testada no presente trabalho.

Entretanto, Rode e Gwartney (2012: 613-614), baseados em Pitlik (2008), esperam que

quanto menor a taxa de crescimento de um país democrático, maior será a sua tendência para

uma maior liberalização da economia. Isto ocorreria porque as democracias usariam medidas

de liberalização econômica para superar momentos de crises na economia. O gráfico 17,

abaixo, demonstra as médias de crescimento do PIB por país da América Latina. O Panamá

possui a maior média de crescimento econômico no período estudado (1995-2014). El

Salvador foi o que menos cresceu, em média.

Gráfico 17 - Taxa de Crescimento do PIB por País da América Latina

O gráfico 18 examina a distribuição geral da taxa de crescimento do PIB. A Venezuela

possui o outlier de maior crescimento econômica, assim como tem o maior número de casos

destoantes abaixo do intervalo (4 casos). Além da Venezuela, apenas Paraguai, Uruguai e

Panamá apresentam valores acima da média. O baixo crescimento possui mais casos

destoantes. Argentina e México possuem 2 outliers cada. E Paraguai, Uruguai e Colômbia

Page 102: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

101

possuem um outlier cada. No gráfico 14 é possível verificar 3 outliers a mais que no gráfico

19, onde a distribuição da variável é desagregada em anos.

Gráfico 18 - Box-plot da Taxa de Crescimento do PIB

Gráfico 19 - Box-plot da Taxa de Crescimento do PIB por Ano

O México no gráfico 18 possui 2 outliers, já no gráfico 19 apresenta apenas um. O

primeiro caso destoante do México, observável no gráfico 19, ocorreu em 1995. O segundo

ocorreu em 2009, com um crescimento negativo de -4,74%. A Colômbia só aparece no

gráfico 18, quando obteve um crescimento negativo de -4,20% em 1999. O Panamá aparece

no gráfico 19 apenas uma vez, com uma alta taxa de crescimento, 11,80% em 2011. O gráfico

14 também apresenta o caso destoante do ano de 2007, com um crescimento de 12,11. A

Page 103: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

102

Venezuela possui 4 casos destoantes no gráfico 15: em 2002, 2003, 2004 e 2014. O gráfico 14

incluiu mais um outlier: uma retração de -5,97% em 1999. Os casos destoantes que se

repetiram nos gráficos 18 e 19 foram: Argentina, em 2001, 2002, 2003 e 2014; Paraguai em

2000 e 2013; e Uruguai em 2001 e 2002.

Calderón e Sánchez (2012: 135-136) apontam que, no longo prazo, existiu um processo

de estagnação ou de baixas taxas de crescimento do PIB mexicano. Embora tenha havido

aumentos significativos nos anos de 1996, 1997, 1998, 2000 e 2006, estes vieram

acompanhados de momentos críticos, especialmente em 1995 e 2009 (onde ocorreram os

casos destoantes nos gráficos 18 e 19).

O baixo crescimento econômico do México em 1995 pode ser explicado pela grave

crise econômica que o país sofreu em 1994. A crise criou uma conjuntura interna de grande

instabilidade, comprometendo a economia mexicana, e resultando em uma imensa fuga de

capitais estrangeiros de seu mercado financeiro, após a queda do Peso em dezembro de 1994

(BASTOS, 2009: 88).

Após a metade da década de 1990, o país enfrentou sérias dificuldades para controlar a

economia, com déficit na balança comercial, déficit em conta corrente e grande dependência

de Investimento Direto Estrangeiro (IDE). Com grau acentuado de abertura econômica,

mostrava-se pouco favorável ao crescimento e ao desenvolvimento econômico, fazendo com

que o país enfrentasse sérias dificuldades para sanar seus compromissos internacionais 45

.

A retração mexicana de 2009 foi resultado da crise financeira que começou nos EUA,

onde mais de 433 mil empregos foram perdidos no setor privado, a maioria deles na indústria

e serviços (CALDERÓN e SÁNCHEZ, 2012: 140-142).

Bastos (2009: 109) observou que nos primeiros anos de adesão ao Mercosul (1991-

1995) a Argentina e o Uruguai obtiveram aumentos expressivos no PIB 46

. Contudo, entre

1996 e 2005 houve uma queda no crescimento do PIB de todos os países fundadores do

Mercosul – Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai –, o que converge com o período de alguns

casos destoantes abaixo da média: Argentina, de 2001 a 2003; Uruguai, em 2001 e 2002; e o

Paraguai no ano 2000 47

.

45

Ibidem, p. 89. 46

A Argentina cresceu em média -2,1% no período anterior ao Mercosul (1980-1990) e 4,4% em média nos

cinco anos depois da entrada no bloco (1991-1995). O Uruguai cresceu de- 0,6% (1980-1990) para 3.4% (1991-

1995). Enquanto que o Brasil cresceu de -0,4% (1980-1990) para 1,5% (1991-1995) e o Paraguai obteve 0% em

ambos os períodos (BASTOS, 2009: 109). 47

A média de crescimento econômico da Argentina caiu de 4,4% (1991-1995) para 1,4% (1996-2005). A do

Uruguai caiu de 3.4% (1991-1995) para 1% (1996-2005). A do Brasil caiu de 1,5% (1991-1995) para 0,7%

(1996-2005). E a do Paraguai caiu de 0% (1991-1995) para -1,3% (1996-2005) (BASTOS, 2009: 109).

Page 104: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

103

De acordo com Bastos (2009: 109), a queda no crescimento econômico dos países do

Mercosul é uma das consequências das fortes crises econômicas internacionais da década de

1990, a saber: a Crise Mexicana (1994), a Crise Asiática (1997) e a Crise Russa (1998). Essas

crises desestimularam novos investimentos e limitaram a capacidade de crescimento da

produção no bloco, fomentando políticas cambiais de desvalorização das moedas nacionais.

Em 1999 a Colômbia experimentou uma das recessões mais profundas na América

Latina, com uma redução de 4,5% no PIB. Em termos reais, o rendimento per capita em 1999

era inferior a 7% em relação ao nível em 1997 (VILLAR e RINCÓN, 2000: 1).

É possível identificar dois processos distintos por trás dessa crise. O primeiro foi um

rápido aumento da despesa pública após a Reforma Constitucional de 1991. Durante a

primeira parte desse processo, o aumento dos gastos do governo foi acompanhado por um

aumento semelhante nas receitas fiscais. Mais tarde, esses gastos elevados levaram o déficit

do governo central a níveis que nunca tinham sido observados na economia colombiana 48

.

Em segundo lugar, houve um ciclo profundo de endividamento do setor privado, que

financiava um boom de consumo e investimento sem precedentes. Os níveis de despesas

privadas aumentaram muito entre 1992 e 1994. Entre 1995 e 1997, devido a um aumento nas

taxas de juros reais, a despesa privada começou a declinar. Entretanto, os níveis de dívidas

privadas continuaram a crescer e em 1999 os credores estrangeiros e nacionais perceberam, de

forma abrupta e dramática, que a dívida privada tinha ido muito mais longe do que a

capacidade de pagar 49

.

O Panamá em 2014 foi a economia que cresceu mais rápido na América Central

(TARAJIA e GOODRIDGE, 2014:286). Esse crescimento foi possível devido à expansão do

Canal do Panamá e aos enormes investimentos em infraestrutura por parte dos setores público

e privado. O investimento estrangeiro também aumentou devido ao forte sistema bancário do

Panamá e a sua posição estratégica como um centro comercial com os principais ativos

logísticos, incluindo portos e zonas livres de impostos. O crescimento médio anual do PIB

para o período entre 2007 (primeiro outlier) e 2011 (segundo outlier) foi de 9% 50

.

Segundo o relatório do Banco Mundial, o Paraguai teve em 2013 o terceiro maior

crescimento econômico do mundo: 14,1%. Segundo apurou a BBC Brasil, o crescimento

econômico no país esteve ligado a uma série de fatores, entre os quais a maior diversificação

de suas exportações (tentando diminuir sua dependência do Brasil) e uma maior abertura

48

Ibidem, p. 1. 49

Ibidem, p. 1-2. 50

Ibidem, p. 286.

Page 105: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

104

econômica, que incluiu uma legislação tributária definida como "simples" em relação a outros

países, incluindo o Brasil 51

(CARMO, 2014).

O crescimento negativo da Argentina em 2014 pode ser explicado pela intensificação da

crise internacional, com a queda no crescimento da China e o baixo crescimento nos Estados

Unidos e na União Europeia, bem como no Brasil. O crescimento do PIB no país caiu muito,

indo a aproximadamente 3%, em 2013, e a -2,56%, em 2014 (SCHINCARIOL e

FERNANDEZ, 2014:64).

A Venezuela apareceu com 4 outliers de crescimento econômico negativo, nos anos de

1999, 2002, 2003 (governo Chávez) e 2014 (governo de Nicolás Maduro). Entretanto, no ano

2004 (governo Chávez) apresentou um caso destoante bem acima da média.

Desde o início do seu governo, em 1999, a agenda de Hugo Chávez encarnou um

projeto de transformações radicais inevitavelmente associadas a uma intensificação do

conflito político. Assim que foi eleito presidente, Chávez convocou uma assembleia

constitucional para introduzir mudanças profundas no sistema político da Venezuela. A nova

constituição resultante de 1999 foi concebida com o objetivo de aprofundar os direitos sociais

e econômicos, mas também os poderes presidenciais 52

. Em novembro de 2000, a maioria do

governo na Assembléia Nacional concedeu ao presidente Chávez poderes de decreto de um

ano e assim ele avançou com sua agenda de reformas radicais. Um conjunto de 49 leis que

pretendiam trazer o quadro jurídico da Venezuela atualizado com a nova Constituição e

reformas econômicas e empresariais de longo alcance foi apresentado um ano depois

(VERAS, 2015: 6-7).

As reformas levantaram questões sobre futuros direitos de propriedade e execução de

contratos, e o protesto contra essas leis foi imediato. A Fedecamaras, a maior câmara de

comércio do país que une a maior parte das grandes empresas da Venezuela, queixou-se de

que as leis eram antiempresariais e prejudicava os direitos de propriedade privada. A principal

federação sindical venezuelana, a Confederação de Trabalhadores Venezuelanos (CTV),

rapidamente se juntou à briga, argumentando que as leis também eram prejudiciais para os

trabalhadores. O resultado da forte oposição ao governo por parte dos trabalhadores sindicais

51

Link da notícia: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/01/140119_paraguai_economia_pai_mc 52

A Constituição de 1999 reforçou o poder do Executivo, estendendo o mandato presidencial de 5 a 6 anos,

possibilitando a reeleição por mais um período e fortalecendo o poder do presidente sobre as Forças Armadas.

Houve uma maior centralização com menor autonomia para os poderes regionais e municipais e o Banco Central

(VERAS, 2015: 7).

Page 106: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

105

(em torno da CTV) e da comunidade empresarial (em torno de Fedecamaras) foi uma greve

geral em 10 de dezembro de 2001 53

.

Vera (2015: 28) relata que durante 2002 e 2003, ou seja, durante dois casos destoantes

de crescimento negativo no país (gráficos 18 e 19), houve o primeiro colapso da economia da

Venezuela. Colapso este que ocorreu devido às inconsistências políticas e econômicas das

reformas radicais e duradouras realizadas logo no início de seu governo, inconciliáveis com

um sistema de livre convertibilidade e de uma taxa de câmbio fixa com o equilíbrio externo.

Isso em conjunto com um golpe de Estado frustrado e uma série de greves que ocorreram

durante os primeiros anos de governo 54

.

Em 2004, a Venezuela apresentou um caso destoante positivo, aparecendo com um alto

crescimento de 18,3%. O sucesso dos programas redistribucionistas e os anos de recuperação

do governo Chávez foram muito apoiados pelo espectacular aumento dos preços do petróleo.

O desempenho macroeconômico foi, assim, influenciado pelo aumento das receitas públicas

do petróleo, que serviu para financiar o aumento das despesas públicas. Os preços do petróleo

(e as receitas de exportação) quase triplicaram em cinco anos e a partir de 2004 a economia

começou a progredir de forma estável.

Finalmente, o ano de 2014, último caso destoante da Venezuela, pode ser

contextualizado na análise de Vera (2015: 29). O autor identifica em fevereiro de 2015 o que

já é observado no presente trabalho: um fraco desempenho no ano de 2014. Vera relata que a

economia venezuelana está sob uma tensão considerável. Com uma inflação de 70%, escassez

de bens e uma economia entrando em recessão, Vera aponta que a acumulação de má

governança, políticas equivocadas e distorções induzidas ao longo dos anos do governo

Nicolás Maduro levaram à erosão da estabilidade macroeconômica. Um governo que até

então não mostrava estar pronto para tomar as medidas necessárias para recuperar a

estabilidade macroeconômica do país e melhorar suas perspectivas de longo prazo 55

.

5.2.3.1 Correlações

Nesta seção pretende-se identificar o padrão de relacionamento entre a taxa de

crescimento do PIB e as variáveis de interesse. O gráfico abaixo mostra a correlação entre

democracia e crescimento.

53

Ibidem, p. 6-7. 54

Ibidem, p. 28. 55

Ibidem, p. 29.

Page 107: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

106

Gráfico 20 - Correlação entre Polity IV e Taxa de Crescimento do PIB

A correlação entre taxa de crescimento do PIB e democracia foi positiva (r=0,93), mas

não foi estatisticamente significante, pois obteve um p-valor maior que 0,05 (p-valor=0,078),

totalizando 360 casos 56

. O gráfico abaixo mostra a correlação entre taxa de crescimento do

PIB e liberdade econômica.

Gráfico 21 - Correlação entre Liberdade Econômica e Taxa de Crescimento do PIB

A correlação entre taxa de crescimento do PIB e liberdade econômica foi negativa, (r= -

0,062), mas também não foi estatisticamente significante (p-valor=0,239), totalizando 360

casos 57

.

56

O coeficiente de determinação (R²) foi 0,009. 57

O coeficiente de determinação (R²) foi 0,004.

Page 108: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

107

5.2.4 PIB per capita

Lipset (1959: 75) chegou à conclusão de que quanto mais rico um país, maior a

probabilidade dele ser democrático. A variável PIB per capita foi introduzida para medir a

riqueza dos países da América Latina e verificar se esta riqueza de fato impacta positivamente

na qualidade da democracia na região. Além disso, espera-se que países mais pobres tendam a

liberalizar mais a economia, a fim de gerar crescimento econômico. O gráfico abaixo mostra

as médias do PIB per capita dos países latino-americanos.

Gráfico 22 - PIB per capita por País da América Latina

O Chile e o Uruguai aparecem em primeiro e segundo lugar, respectivamente. Esses

dois países também são os mais democráticos da região, pois recebeream a nota máxima do

Polity IV em todos os anos estudados. O resultado também foi parecido com o do índice de

liberdade econômica: o Chile tem a maior liberdade econômica da América Latina e o

Uruguai a terceira maior.

A Venezuela, apesar de possuir as piores avaliações da democracia e da liberdade

econômica e a segunda menor média de crescimento econômico, está entre os 6 maiores PIB

per capita da região. De forma parecida acontece com o Brasil: o país possui o terceiro maior

PIB per capita, mas ficou apenas em 14º lugar no crescimento do PIB e tem a terceira pior

liberdade econômica na região.

A Nicarágua é o país mais pobre da região. Ao longo da década de 1990 os novos

presidentes da Nicarágua engajaram-se em políticas neoliberais para tentar melhorar a

Page 109: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

108

economia, mas não obtiveram sucesso (NEGY,2013: 42). O desemprego atingiu cerca de 50%

em meados da década de 90, a desigualdade de renda aumentou e a ajuda e assistência externa

constituíram a maior entrada de capital (VANDEN, 2012). Na década passada, a economia

nicaraguense ainda dependia muito da agricultura, que atingiu em média cerca de 19% do PIB

no período de 2002 a 2010 (NEGY,2013: 43).

Como pode ser observado no gráfico 23, não foi possível encontrar casos destoantes

entre os casos da variável PIB per capita. Assim como não foram encontrados casos

destoantes após a desagregação por ano, no gráfico 24.

Gráfico 23 – Box-plot do PIB per capita

Gráfico 24 – Box-plot do PIB per capita por ano

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109

Após a análise do gráfico 24 percebe-se que a América Latina passou por um aumento

do PIB per capita na última década. De acordo com Santos (2014: 10), o período entre 2004 e

2012 foi de grande favorecimento às economias com maior exposição a commodities. Nesse

período o mundo passou por um cenário de elevado aquecimento da demanda por

commodities, em grande parte motivado pelo consumo chinês. Com a economia global

aquecida, grande parte dos países se beneficiaram deste movimento de urbanização na China.

Contudo, os países latino-americanos foram talvez os mais favorecidos diante da abundância

de recursos naturais e do perfil exportador das economias desta região.

5.2.4.1 Correlações

O gráfico de correlação abaixo mostra o padrão de relacionamento entre o PIB per

capita e a democracia.

Gráfico 25 - Correlação entre o PIB per capita e o Polity IV

A correlação entre PIB per capita e democracia é de 0,187 (p-valor<0,000), totalizando

360 casos. O coeficiente de determinação (R²) mede 0,035, sugerindo que aproximadamente

4% da variância da variável dependente (Polity IV) pode ser explicada pela variação da

variável independente (PIB per capita). Em particular, a cada 1% a mais de democracia

espera-se, em média, um incremento de aproximadamente 0,04% no nível do PIB per capita.

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110

O gráfico 26, a seguir, mostra a correlação entre o PIB per capita e a liberdade

econômica. A correlação com a liberdade econômica é ligeiramente maior que a correlação

com a democracia, medindo 0,201 (p-valor<0,000). O coeficiente de determinação (R²) mede

0,040, sugerindo que aproximadamente 4% da variância da variável dependente (liberdade

econômica) pode ser explicada pela variação da variável independente (PIB per capita). Em

particular, a cada 1% a mais de liberdade econômica espera-se, em média, um incremento de

aproximadamente 0,04% no nível do PIB per capita.

Gráfico 26 - Correlação entre o PIB per capita e a Liberdade Econômica

Após a análise exploratória dos dados foi possível identificar os padrões de

relacionamento entre as variáveis, os países que possuem os melhores rankings, os casos

destoantes que possam enviesar os resultados, e o mais importante: os resultados da estatística

descritiva foram contextualizados através de diversas citações de trabalhos científicos nas

áreas de ciência política, economia e história, para que o leitor possa entender quais eram as

características dos governos e de suas políticas socioeconômicas que geraram esses

resultados.

O capítulo a seguir será dedicado as testes de hipótese, através dos estimadores de dados

de paineis dinâmicos FGLS e GMM.

Page 112: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

111

CAPÍTULO 6: RESULTADOS

Este capítulo é dedicado aos testes de hipótese através dos estimadores de dados de

painéis dinâmicos Generalized Method of Moments (GMM), proposto por Arellano e Bond

(1991), e Feasible Generalized Least Squares (FGLS), proposto por Parks (1967), para

realizar os testes de hipótese.

Para cada um dos estimadores foram testados três modelos com o Polity IV como

variável dependente e a liberdade econômica como independente; e outros 3 modelos com a

liberdade econômica como variável dependente e Polity IV como variável independente. O

modelo 1 incluiu todas as variáveis independentes de controle: a lag da variável dependente

(Polity -1 ou Liberdade Econômica -1); o PIB per capita; a taxa de crescimento do PIB; a

estabilidade política; e o capital humano. O modelo 2 utilizou como controles a lag da

variável dependente e a estabilidade política. Finalmente, o modelo 3 incluiu somente a lag da

variável dependente como controle. A tabela abaixo mostra os resultados dos estimadores

para o Polity IV como variável dependente.

Tabela 7 – Resultados dos estimadores FGLS e GMM para o Polity IV

Variável Dependente: Polity IV

FGLS GMM

1 2 3 1 2 3

Polity -1 0,626*** 0,634*** 0,138*** 0,721*** 0,734*** 0,742***

(0,041) (0,041) (0,043) (0,056) (0,056) (0,047)

Liberdade Econômica 0,039*** 0,037*** 0,063*** 0,062*** 0,062*** 0,059***

(0,010) (0,010) (0,017) (0,018) (0,017) (0,012)

Estabilidade Política 0,350*** 0,336*** 0,453* 0,424*

(0,132) (0,123) (0,263) (0,255)

Crescimento do PIB 0,031** 0,034**

(0,013) (0,014)

PIB per capita -1,41E-06 -0,000

(0,000) (0,000)

Capital Humano -0,184 -0,418

(0,270) (0,641)

Nota: Erro-padrão entre parênteses; * Significativo a 10%; ** Significativo a 5%; *** Significativo a 1%; Todas

as regressões incluem um termo constante.

Na tabela 7 os coeficientes do PIB per capita e do capital humano não mostraram

significância estatística. A maioria dos demais coeficientes mostraram uma significância a

nível de 1%. As exceções foram a taxa de crescimento do PIB, significante a nível de 5% para

Page 113: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

112

ambos os estimadores, e a estabilidade política, significante a 10% para o estimador GMM

(modelos 1 e 2).

A lag da variável dependente possui resultados semelhantes para ambos os estimadores.

Os coeficientes do estimador FGLS são 0,626 e 0,634, para os modelos 1 e 2,

respectivamente. Resultados estes que foram próximos aos do estimador GMM: 0,721 e

0,734, também para os modelos 1 e 2, respectivamente. O modelo 3 obteve resultados mais

diferentes entre os estimadores, mas manteve o sinal positivo: no FGLS possui um coeficiente

de aproximadamente 0,138, enquanto que no GMM possui um de aproximadamente 0,742, o

maior de todas as regressões presentes na tabela 7.

O crescimento do PIB mostrou coeficientes positivos e significativos, ou seja, não

rejeitou a hipótese dos autores da teoria da modernização de que um maior crescimento

econômico gera mais democracia (LIPSET, 1959; CUTRIGHT, 1963; CUTRIGHT e

WILEY, 1969; JACKMAN, 1973; HELLIWELL, 1994; BURKHART e LEWIS-BECK,

1994). Particularmente, para cada ponto adicional de crescimento do PIB, quando controlado

pelas demais variáveis, existe um aumento de aproximadamente 3% no nível de democracia.

Em ambos os estimadores, a liberdade econômica apareceu com coeficientes positivos e

significativos, rejeitando assim a hipótese nula. Entretanto, ocorreu um resultado não

esperado: a estabilidade política mostrou ter um maior impacto positivo sobre a democracia

que a liberdade econômica.

A liberdade econômica possui coeficientes de aproximadamente 0,04 nos modelos 1 e 2

no estimador FGLS e de aproximadamente 0,06 no modelo 3 do FGLS. Isso significa que a

cada ponto adicional de liberdade econômica, quando controlada por todas as variáveis ou

apenas pela lag da variável dependente e pela estabilidade política, é gerado um aumento em

torno de 4% na qualidade da democracia na América Latina. Quando controlada apenas pela

lag da variável dependente, cada ponto adicional de liberdade econômica aumenta em 6% a

democracia. No estimador GMM, cada ponto adicional de liberdade econômica represemta

um aumento em torno de 6% na democracia, para todos os diferentes controles nos 3 modelos.

A estabilidade política possui um impacto sobre a democracia de aproximadamente

0,350 e 0,336 nos modelos 1 e 2, respectivamente, do estimador FGLS; e 0,453 e 0,424, nos

modelos 1 e 2, respectivamente, do estimador GMM. Esses resultados sugerem que a cada

ponto adicional de estabilidade política, quando controlada por todas as variáveis, ocorre um

aumento em torno de 34% (no estimador FGLS) e 45% (no estimador GMM) na democracia

latino-americana. Quando controlada apenas pela lag da variável dependente e pela liberdade

Page 114: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

113

econômica, cada ponto adicional de estabilidade gera um aumento em torno de 35% (no

estimador FGLS) e 43% (no estimador GMM) na democracia.

Os resultados sugerem que, apesar de existir um impacto positivo da liberdade

econômica sobre a democracia, ao controlar pelas demais variáveis, a estabilidade política

possui maiores coeficientes. A tabela abaixo mostra os resultados das regressões para a

liberdade econômica como variável dependente.

Tabela 8 – Resultados dos estimadores FGLS e GMM para a Liberdade Econômica

Variável Dependente: Liberdade Econômica

FGLS GMM

1 2 3 1 2 3

Liberdade Econômica -1 0,947*** 0,831*** 0,931***

0,895*** 0,950*** 0,998***

(0,021) (0,031) (0,022)

(0,049) (0,045) (0,038)

Polity IV 0,106 0,176 0,186**

0,456*** 0,392*** 0,248**

(0,090) (0,124) (0,087)

(0,106) (0,106) (0,098)

Estabilidade Política 0,563** 0,842**

0,648 0,977**

(0,263) (0,386)

(0,487) (0,487)

Crescimento do PIB 0,007

-0,051

(0,035)

(0,032)

PIB per capita -5,06E-06

0,000**

(0,000)

(0,000)

Capital Humano -0,817

-2,119*

(0,526)

(1,193)

Nota: Erro-padrão entre parênteses; * Significativo a 10%; ** Significativo a 5%; *** Significativo a 1%; Todas

as regressões incluem um termo constante.

Na tabela 8 os coeficientes da taxa de crescimento do PIB não mostraram significância

estatística em ambos os estimadores. A lag da variável dependente mostrou resultados

positivos e significativos a 1% tanto no FGLS, quanto no GMM. No estimador FGLS não

houve significância para o PIB per capita e nem para o capital humano, o Polity IV foi

significante apenas no modelo 3 a nível de 2%, e a estabilidade política também foi

significante a 2%, nos modelos 1 e 2. O estimador GMM mostrou mais coeficientes

significativos: o Polity IV foi significante a 1% nos modelos 1 e 2, e a 2% no modelo 3; a

estabilidade política foi significativa apenas no modelo 2, a nível de 2%; o PIB per capita

também também foi significante ao nível de 2%; e o capital humano obteve um resultado

significante a nível de 10%.

Page 115: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

114

O capital humano mostrou um efeito negativo sobre a liberdade econômica no

estimador GMM, o que não era esperado. Uma possível explicação seria a de que um baixo

capital humano estaria associado a países menos desenvolvidos, que por sua vez tenderiam a

liberalizar mais a economia a fim de gerar crescimento econômico.

O impacto positivo da democracia sobre a liberdade econômica ocorre em todos os

modelos no estimador GMM, mas no FGLS ocorre apenas no modelo 3, ou seja, quando

controlada apenas pela lag da variável dependente.

A segunda hipótese também não foi rejeitada, ou seja, o impacto da democracia sobre a

liberdade econômica é maior que o impacto da relação inversa. A democracia no estimador

GMM mostra coeficientes de aproximadamente 0,456, 0,392 e 0,248 nos modelos 1, 2 e 3,

respectivamente. No modelo 3 do estimador FGLS o impacto da democracia sobre a liberdade

econômica é de aproximadamente 0,186. Enquanto que o impacto da liberdade econômica

sobre a democracia, na tabela 7, não chega a 0,065 em nenhum dos estimadores.

Os resultados sugerem que, controlando por todas as variáveis propostas, a cada ponto

adicional de democracia tem-se um aumento de 46% na liberdade econômica. Quando

controlada pela lag da variável dependente e pela estabilidade política, seu impacto cai para

39% a mais de liberdade econômica para cada ponto adicional de democracia. Quando

controlada apenas pela lag da variável dependente, seu impacto é de 25% a mais de liberdade

econômica para cada ponto adicional de democracia.

Entretanto, o resultado inesperado presente nas regressões com o Polity IV como

variável dependente ocorre de forma similar com a liberdade econômica como dependente. A

estabilidade política mostra ter um impacto maior sobre a variável dependente que a variável

de interesse no estimador FGLS: a estabilidade possui coeficientes de aproximadamente 0,563

e 0,842 nos modelos 1 e 2, respectivamente, enquanto que o Polity IV não mostra resultados

significativos nas mesmas regressões.

No estimador GMM, a estabilidade possui coeficientes maiores que os do Polity IV,

entretanto, no modelo 1 a estabilidade não mostra um resultado significativo, ou seja, o

modelo 1 do estimador GMM mostra a democracia com um resultado melhor que o da

estabilidade em termos de significância estatística. Nesse modelo o Polity IV aparece com um

coeficiente de 0,456 (p-valor<0,01), significando que, controlando por todas as variáveis, para

ponto adicional de democracia existe um aumento de aproximadamento 46% na liberdade

econômica. Já no modelo 2, a estabilidade mostra um coeficiente maior e significativo: 0,977

(p-valor<0,05), enquanto que o Polity IV possui apenas 0,392 (p-valor<0,01).

Page 116: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

115

Os resultados mostram que as duas hipóteses da presente pesquisa não foram rejeitadas:

existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América

Latina e o impacto da democracia sobre a liberdade econômica é maior que o impacto do

efeito inverso. Entretanto, os resultados devem ser interpretados com cautela, pois a

estabilidade política, variável de controle, mostrou maiores coeficientes que as variáveis de

interesse tanto no impacto sobre a democracia, quanto no impacto sobre a liberdade

econômica (com exceção da ocorrência de um caso sem significância estatística no modelo 1

do estimador GMM com a variável dependente liberdade econômica). A outra ressalva é que

não houve resultados significativos para a segunda hipótese nos modelos 1 e 2 do estimador

FGLS para o impacto da democracia sobre a liberdade econômica (tabela 8).

Esses resultados sugerem que países com maior estabilidade política possuem maiores

chances de terem democracias de qualidade e mais liberdade econômica, corroborando a

hipótese de Clague et al (1996) de que a estabilidade de um regime, seja ele democrático ou

autoritário, mostrou estar positivamente associada à liberdade econômica. Entretanto, os

coeficientes positivos da democracia sobre a liberdade econômica também convergem com o

outro achado de Clague et al (1996), o de que as democracias proporcionam maior segurança

para direitos contratuais e de propriedade do que as autocracias. Por sua vez, os coeficientes

positivos da liberdade econômica sobre a democracia converge com os achados de Farr et al

(1998) de que a liberdade econômica tem um efeito positivo na liberdade política.

Page 117: Democracia e liberdade econômica na América Latina · Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América Latina? O presente trabalho tem como

116

CONCLUSÃO

Existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na

América Latina? Aixalá e Fabro (2009) revelaram um círculo virtuoso: a liberdade econômica

gera crescimento econômico e este crescimento promove liberdades políticas. Seguindo este

caminho, o presente trabalho buscou testar se a democracia promove a liberdade econômica

na América Latina e se esta liberdade promove a democracia na região, para o período de

1995 a 2014.

Antes da análise da estatística descritiva foram discutidos trabalhos de ao menos três

vertentes da literatura: qualidade da democracia, democracia e crescimento econômico e

democracia e liberdade econômica.

Os estudos de teoria democrática foram discutidos mostrando a evolução do conceito de

democracia, sobre a concepção minimalista e os conceitos de regimes híbridos. Como o

presente trabalho insere-se entre os estudos regionais de política comparada, a inclusão do

debate sobre a qualidade da democracia na América Latina foi de suma importância. A

América Latina foi escolhida para ser estudada porque, nas palavras de Mazzuca (2007),

muitas democracias na América Latina são o produto de eleições livres, mas poucas delas

resistem à tentação de abusar do poder político que foi conquistado através do processo

eleitoral.

Portanto, é importante discutir em que pontos a democracia latino-americana está

avançando principalmente no âmbito da garantia dos direitos de propriedade e liberdade de

investimento, pois de acordo com Hayek (1944: 69-70) e Friedman (1962: 9) uma democracia

não se sustenta sem a livre disposição sobre a propriedade privada e um mercado livre.

A literatura sobre democracia e crescimento econômico foi debatida desde a teoria da

modernização de Lipset (1959) aos diversos estudos mais recentes que apontavam a

democracia impactando no desenvolvimento econômico. Os estudos mostraram que os

aspectos dos desenhos de pesquisa nessa literatura são muito próximos aos que tratam da

relação entre democracia e liberdade econômica. Foi verificada uma lacuna existente entre os

estudos regionais sobre o tema, especialmente sobre a direção da relação entre democracia e

liberdade econômica.

Neste trabalho foi proposta, além da análise dos resultados da estatística descritiva, uma

contextualização econômica e política. Cada caso destoante foi descrito não só pelos números,

mas também pelas medidas econômicas dos governos e pelos abusos de poder durante

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117

avaliações ruins do regime. Em suma, foi mostrado o que a comunidade acadêmica

denunciava que estava acontecendo naquele país no momento em que os resultados foram

excelentes ou desastrosos.

Através da análise da estatística descritiva ficaram evidentes indícios de que existe um

padrão de relacionamento positivo entre democracia e liberdade econômica na América

Latina. O Chile, por exemplo, recebeu a nota máxima na avaliação do Polity IV em todos os

anos estudados e é hoje o país mais economicamente livre da América Latina, o que mostrou

ser consequência da redemocratização e dos governos da coalização de esquerda

Concertación, especialmente durante o governo de Michelle Bachelet (2006-2010),

comprometidos com o neoliberalismo (NAVIA, 2009).

No outro extremo está a Venezuela: a pior avaliação de regime e a economia mais

repressora da região. A “revolução” Chávez-Maduro é melhor entendida como consequência

do desmantelamento das instituições econômicas liberais da Venezuela (FARIA e FILARDO,

2015:382). Nas palavras de Lawson e Clark (2010), ao privilegiar certos direitos políticos

sobre a liberdade econômica, os venezuelanos terminaram sem liberdade alguma.

Os resultados mostram que as duas hipóteses da presente pesquisa não foram rejeitadas:

existe uma relação de bicausalidade entre democracia e liberdade econômica na América

Latina e o impacto da democracia sobre a liberdade econômica é maior que o impacto do

efeito inverso. Entretanto, os resultados devem ser interpretados com cautela, pois a

estabilidade política, variável de controle, mostrou maiores coeficientes que as variáveis de

interesse tanto no impacto sobre a democracia, quanto no impacto sobre a liberdade

econômica (com exceção da ocorrência de um caso sem significância estatística no modelo 1

do estimador GMM com a variável dependente liberdade econômica). A outra ressalva é que

não houve resultados significativos para a segunda hipótese nos modelos 1 e 2 do estimador

FGLS para o impacto da democracia sobre a liberdade econômica (tabela 8).

Esses resultados sugerem que países com maior estabilidade política possuem maiores

chances de terem democracias de qualidade e mais liberdade econômica, corroborando a

hipótese de Clague et al (1996) de que a estabilidade de um regime, seja ele democrático ou

autoritário, mostrou estar positivamente associada à liberdade econômica. Entretanto, os

coeficientes positivos da democracia sobre a liberdade econômica também convergem com o

outro achado de Clague et al (1996), de que as democracias proporcionam maior segurança

para direitos contratuais e de propriedade do que as autocracias. Por sua vez, os coeficientes

positivos da liberdade econômica sobre a democracia convergem com os achados de Farr et al

(1998) de que a liberdade econômica tem um efeito positivo na liberdade política.

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