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DEMANDA EFETIVA EM MARX E KEYNES: uma crítica às tentativas de

assimilação1

Alexandre Possidente Taveira2

Leonel Toshio Clemente3

Ademir Clemente4

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo apresentar as principais tentativas de aproximação teórica entre Marx e Keynes relacionadas ao conceito de demanda efetiva para, posteriormente, elaborar uma crítica a tais tentativas a partir das semelhanças e divergências encontradas nas interpretações keynesiana e marxiana. Assim, são analisadas as aproximações efetuadas por Hung, Robinson, Sardoni e Carvalho. A seguir expõem-se as teorias de Marx e Keynes sobre a demanda efetiva para, então, formar uma apreciação crítica sobre os autores que tentam aproximá-las. Em geral, tais autores cometem equívocos e forçam semelhanças entre conceitos marxistas e keynesianos mas, como contribuição principal, compreendem o solo em comum que existe para a rejeição da Lei de Say e a centralidade do investimento. Não obstante, quando se trata dos determinantes do investimento, e portanto do modelo como um todo, a distância entre Marx e Keynes é irredutível e espelha as diferentes concepções metodológicas e sobre o funcionamento da economia.

Palavras-chave: Demanda Efetiva, Marx, Keynes Classificação JEL: B51,B22,E12

ABSTRACT

This paper aims to present the main theoretical approximation attempts between Marx and Keynes related to the concept of effective demand to, subsequently, develop a critique of such attempts from the similarities and differences found in Marxian and Keynesian interpretations. Thus, we analyze the approaches made by Hung, Robinson, Sardoni and Carvalho. Soon after, we expose the theories of Marx and Keynes on effective demand to then form a critical appraisal of the authors who try to bring them together. In general, these authors make mistakes and force similarities between Keynesian and Marxist concepts but, as major contribution, understand the common ground that exists for the rejection of Say's Law and the centrality of investment. Nonetheless, when it comes to the determinants of investment, and therefore the model as a whole, the distance between Marx and Keynes is irreducible and reflects the different methodological conceptions and about the functioning of the economy.

Key Words: Effective Demand, Marx, KeynesJEL Classification: B51,B22,E12

1 INTRODUÇÃO1 Agradecimentos a Eduardo Maldonado Filho e Giliad Souza pelas opiniões e indicação de textos. As opiniões e eventuais equívocos são de exclusiva responsabilidade dos autores.2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Economia – Economia do Desenvolvimento (PPGE-ED) da UFRGS e bolsista CAPES. Contato: [email protected] Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Economia – Economia do Desenvolvimento (PPGE-ED) da UFRGS e bolsista CAPES. Contato: [email protected] Professor adjunto da Universidade Federal do Paraná e leciona no Mestrado em Contabilidade.

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Tentativas de aproximação entre Marx e Keynes tem sido frequentes na Ciência Econômica, principalmente nos estudos acerca das funções do dinheiro, da demanda efetiva e do funcionamento do mercado financeiro. Tais tentativas foram realizadas tanto por autores marxistas quanto pós-keynesianos, como por exemplo Minsky (1975), Carvalho (2011), Robinson (1972) e Crotty (2001). Também heterodoxos de correntes variadas5, como Goldstein (2009) e Wolfson (2009), somam-se ao esforço.

A análise comparativa dos conceitos e dos agregados econômicos em Marx e Keynes tem grande importância para o desenvolvimento da economia política, pois, de modo geral, a contabilidade nacional dos países, fonte dos estudos empíricos, segue uma base teórica keynesiana (Shaikh, 1983, p.45). Por isso, os esforços de aproximação devem sempre levar em conta a questão sobre em que medida exata os conceitos de Marx e Keynes se assemelham ou divergem e se podem ser desenvolvidos sobre um solo comum (por exemplo um mesmo conjunto de variáveis agregadas). O conceito de demanda efetiva, objeto de uma dessas tentativas de síntese, espelha bem as vicissitudes a que estão sujeitos aqueles que empreendem o trabalho de mesclar teorias desenvolvidas a partir de fundamentos distintos.

Autores como Sardoni (1997) e Hung (1939) analisam os constructos lógicos de Marx e Keynes que formaram o conceito de demanda efetiva. Como afirma Hung (1939, p.111), “nas suas críticas aos economistas ‘clássicos’, J. M. Keynes veio a ocupar, se assim podemos dizer, um grande terreno em comum com Marx”. Na seqüência, o autor afirma que o princípio da demanda efetiva de Keynes tem numerosos pontos em comum com a possibilidade de desproporção entre departamentos e subconsumo em Marx. Além disso, Hung sentencia que os agregados econômicos marxistas têm profunda semelhança com os agregados keynesianos. Por exemplo, o investimento equivaleria à compra de meios de produção, e a renda em Keynes, à receita em Marx. Outros autores como o marxista Harvey (1990, p.97, 98) e Klein (1947, p.157) afirmam que a versão simples da teoria keynesiana é um caso particular da teoria marxista.

Dentre os pós-keynesianos, Joan Robinson foi uma das primeiras a aproximar o pensamento de Marx ao de Keynes. Para a referida autora, em ambos os pensadores, “o desemprego desempenha papel essencial. Mostram ambos que o capitalismo contém, em si mesmo, as sementes da própria decadência”. Mais recentemente, Carvalho (1986, p.6) argumenta que ao refutar a dicotomia entre fenômenos reais e monetários, Marx desenvolveu uma teoria monetária muito semelhante à de Keynes. Crotty (2001, p.3), por sua vez, coloca as teorias marxistas e keynesianas lado a lado por ambas criticarem a Lei de Say.

Tendo presente a relevância dessas análises comparativas para o desenvolvimento do pensamento heterodoxo, neste artigo é desenvolvida uma crítica às tentativas de assimilação dos conceitos marxiano e keynesiano de demanda efetiva. Para tanto, é realizada uma breve revisão bibliográfica de autores que discutem teoricamente a aproximação entre Marx e Keynes: Sardoni, Hung, Robinson, Carvalho e Crotty. Posteriormente, faz-se uma análise da construção do conceito de demanda efetiva em Marx e em Keynes, para, por fim, apresentar uma crítica aos autores citados.

2 AS TENTATIVAS DE APROXIMAÇÃO TEÓRICA: HUNG, ROBINSON,

SARDONI E CARVALHO

5 O termo heterodoxo é empregado para designar os não-neoclássicos que têm base teórica mesclada de Marx, Keynes, Kalecky e Schumpeter. O termo, portanto, inclui os marxistas e os pós-keynesianos.

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Nesta seção serão apresentadas, em ordem cronológica, as principais tentativas de aproximação Marx-Keynes no que diz respeito à demanda efetiva. São elas as de Hung (1939), Robinson (1948), Sardoni (1997), Carvalho (1982).

a) Fan-HungEm 1939 Fan-Hung buscou estabelecer um paralelo entre as teorias de Marx e de

Keynes, tratando das suas elaborações acerca da acumulação, da moeda e do juro. Segundo o autor, na crítica aos clássicos6, Keynes passou a ocupar um espaço em comum com Marx. A partir desta afirmação, Hung busca fazer uma leitura dos “volumes II e III d’O Capital à luz das Idéias Keynesianas” (Hung, 1939, p.111).

Após ilustrar o funcionamento dos esquemas de reprodução simples e ampliada de Marx, Hung identifica as condições em que toda a oferta é demandada nos esquemas de reprodução. No esquema de reprodução simples, há três condições a serem respeitadas: a) o valor dos meios de produção criados pelo departamento I (Dep.I) devem ser iguais ao volume demandado pelo departamento II. b) O valor dos bens de consumo demandados por trabalhadores e capitalistas deve ser igual a oferta de bens do departamento II (Dep. II). c) Como implicação das duas primeiras condições, os departamentos devem, forçosamente, vender um ao outro o restante do produto não demandado por si próprio. Desta forma, a condição de equivalência de oferta e demanda é a de que o valor do capital constante utilizado pelo Dep. II deve ser igual ao novo valor do Dep I. Em termos algébricos:

CII = vI + sI

Onde: CII é o valor do capital constante no Dep. II;

vI é o valor do capital variável no Dep. I;

sI é o valor da mais-valia no Dep. I;

Na acumulação, Hung identifica as condições de equivalência de oferta e demanda como: “quando os capitalistas se abstêm de consumir toda a renda (s) em bens de consumo, o hiato de demanda é imediatamente compensado por aumento equivalente dos investimentos” (Hung, 1939, p.114). Portanto, se não houver essa harmonia entre os departamentos, haverá excesso ou falta de demanda por bens de consumo ou meios de produção. Assim, em consequência da falta de planejamento da economia na esfera da produção, é provável a ocorrência de hiato entre oferta e demanda. Além disso, outra condição para o equilíbrio entre oferta e demanda é que as trocas ocorram pelos seus valores (Hung, 1939, p.114). Porém, no sistema capitalista, “uma vez que nada é empreendido segundo os planos sociais, mas tudo depende das condições, meios etc., infinitamente diferentes, com que operam os capitalistas individuais” (Marx7 apud Hung 1939, p.115) ocorrerão inevitavelmente superproduções relativas, como resultado do entesouramento ou aumento da poupança (Hung, 1939, p.115).

Hung (1939, p.115) afirma que o princípio da demanda efetiva apresenta numerosos pontos em comum com a análise de Marx mostrada anteriormente e que, 6 Keynes referia-se aos clássicos para designar a tradição de pensamento baseada na Lei de Say que perdurava desde Ricardo até os neoclássicos como Marshall e Pigou (GERRARD, 1995, p.2). Isso também fica claro em Keynes (1979, p.79).7 A referência presente em Hung (1939) não especifica a edição de O Capital de onde foi extraída a citação de Marx. Diz apenas “Capital, vol, II, cap. VIII, pág. 196”.

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para Keynes, assim como para Marx, o lucro do empresário depende da demanda efetiva. O preço da oferta total (Z) para Keynes consiste em fator de custo (F) e lucro do empresário (P), enquanto a demanda efetiva (D) é o volume que se espera que a comunidade gaste em consumo (C), somado ao volume que a sociedade reservará aos investimentos (I), de tal forma que a condição de equilíbrio de oferta de demanda resulta expressa por F + P = I + C. Considerando que se a demanda for insuficiente os capitalistas perderão dinheiro, Hung considera que os capitalistas perderão, não terão lucro se:

I< (F+P)-C.

Então, Hung afirma que Marx e Keynes convergem “à medida que ambos supõem que a realização das expectativas de lucro dos capitalistas depende da condição de que (...) os capitalistas devam ou consumir toda a mais valia ou consumir parte dela e investir diretamente o restante, de modo que poupar não crie defasagem.” (Hung, 1939, p.116).

Sobre os agregados econômicos, de Keynes, e as categorias d’O Capital, de Marx, Hung afirma que as principais equações de Keynes presentes no capítulo oitavo da Teoria Geral do Emprego, Moeda e Juro podem ser deduzidas a partir dos esquemas de reprodução ampliada de Marx presentes no livro II d’O Capital. O autor afirma que o preço de oferta bruto de Keynes (Preço da oferta bruto é o preço de oferta “F+P” somado ao custo do usuário (U) e ao custo suplementar (W), A=F+P+U+W) é exatamente o mesmo conceito de valor total do produto de Marx, ou seja valor total é a soma do capital constante com o capital variável e a massa de mais-valia, V=c+v+m (Hung 1939, p.117). Além disso, a Renda em Keynes (Preço de oferta bruto menos o custo do usuário e custo suplementar) é exatamente igual ao conceito de novo valor (capital variável mais mais-valia), que Hung chama de Receita. Fazendo estas analogias entre Marx e Keynes, Hung (1939, p.118) afirma que os conceitos de investimento de Keynes e compra de meios de produção em Marx são idênticos, assim como é equivalente o conceito de consumo.

b) Joan RobinsonPosteriormente a Hung, Robinson (1942, 1944, 1950) desenvolveu um paralelo

entre as teorias de Marx e Keynes. Para a autora, ambos rejeitaram a Lei de Say e chegaram a algumas conclusões semelhantes sobre desemprego e demanda efetiva. Assim como Hung, Robinson (1960) entende que o fato de Marx considerar a economia capitalista como caótica e, portanto, sem garantia de crescimento equilibrado de reprodução ampliada, seria uma antecipação da abordagem de Keynes sobre a demanda efetiva. Em trabalho publicado em 1950 e intitulado Marx e Keynes, Robinson admite ter exagerado na aproximação teórica entre os dois autores feita no seu An Essay on Marxian Economics, publicado anteriormente. Ainda assim, a autora mantém a convicção de que Marx teria antecipado Keynes na abordagem da demanda efetiva e, assim como em An Essay on Marxian Economics, a autora insiste na interpretação de que a concentração de renda em Marx (analisada pelos sistemas de reprodução) e em Keynes (analisada pela propensão a consumir) seria a fonte de crises de demanda efetiva. Em ambos os autores, “o desemprego desempenha papel essencial. Mostram ambos que o capitalismo contém, em si mesmo, as sementes da própria decadência” (Robinson, 1950). A autora, porém, considera que a teoria de Marx falhou ao considerar a taxa de lucro, que é a variável que regula a velocidade de acumulação, como uma variável independente da concentração de renda. Marx, segundo Robinson, teria avançado teoricamente se tivesse considerado que o consumo, em última instância, regula os investimentos (Baragar, p.474).

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c) Claudio SardoniSardoni (1997), em um artigo intitulado Marx e Keynes, busca verificar a

validade da afirmação de Robinson sobre Keynes, a saber, que se este tivesse desenvolvido sua teoria a partir de uma crítica a Marx, e não aos “clássicos”, então Keynes evitaria “muitos problemas” (Robinson8, 1964, apud Sardoni, 1997). Para alcançar este objetivo, Sardoni realiza várias aproximações e comparações entre Keynes e Marx.

Segundo Sardoni (1997), Keynes não reconhecia que Marx refutava a Lei de Say por se basear nos argumentos de McCracken9 (apud Sardoni, 1997), segundo o qual a tentativa de Marx de explicar crises de superprodução geral devido à deficiência de demanda efetiva era conflitante com a sua aceitação da teoria do valor-trabalho, tornando impossível uma superprodução geral de mercadorias. Contra isso, Sardoni argumenta que aceitar a teoria do valor-trabalho não implica aceitar a Lei de Say, por que:

“No quadro analítico de Marx, se a preferência dos capitalistas pela liquidez aumenta por causa de expectativas pessimistas sobre lucros, a demanda efetiva estará abaixo da oferta agregada e uma superprodução geral de mercadorias ocorrerá. É apenas no quadro de Ricardo que a possibilidade de demandar dinheiro ocioso é admitida à distância” (Sardoni, 1997, p.10)

A partir deste ponto de vista, a análise de Marx mostra semelhanças significativas para Keynes (Sardoni, 1997, p.9). Desta forma, para Sardoni (1997), ambos os economistas partem da crítica à Lei de Say, mas a versão da Lei de que Marx tratou é muito mais rudimentar do que a criticada por Keynes. A versão criticada por Marx é a de Ricardo, segundo a qual qualquer quantidade de capital pode ser empregada sem enfrentar qualquer obstáculo do lado da demanda (Ricardo 195110, apud Sardoni, 1997, p.12), mas isso não significa que a economia experimente pleno emprego do trabalho. Isso implica em que a moeda teria apenas a função de facilitar trocas e não haveria possibilidade de ocorrer superprodução geral. As implicações da versão ricardiana diferem da versão de Marshall, utilizada na crítica de Keynes. A principal implicação da versão marshalliana é o pleno emprego.

Assim, Marx e Keynes criticaram seus respectivos antecessores por estes terem tratado as economias capitalistas como se fossem essencialmente o mesmo que escambo, ou em termos de Keynes, cooperativas11 (Sardoni, 1997). Na concepção de ambos, a Lei de Say aplica-se a uma economia em que o dinheiro é apenas um meio de troca, enquanto em uma economia capitalista o dinheiro também é usado como reserva de valor. Desta forma, a rentabilidade da produção e dos investimentos é o fator essencial para definir como o dinheiro é usado: se as expectativas dos capitalistas sobre a rentabilidade forem pessimistas, aumentará a procura por dinheiro ocioso. Um aumento na demanda por moeda é diferente de um aumento na demanda por qualquer outro bem, pois, maior demanda por moeda determina menor demanda por investimentos. Sardoni (1997) ressalta que a distinção entre economia cooperativa e

8 Robinson, J. V. (1964) ‘Kalecki and Keynes’.9 McCracken, H. L. (1933) Value Theory and Business Cycles, New York: Falcon Press.10 Ricardo, D. (1951-73) Works and Correspondence of David Ricardo, 11 vols. (edited by Sraffa, P. and Dobb. M.), Cambridge: Cambridge University Press.11 Termo que também caracterizaria muito bem a crítica de Marx aos pensadores utópicos que pretendiam uma sociedade capitalista sem o dinheiro, ou seja, uma sociedade de trocas diretas.

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economia monetária perde importância na Teoria Geral, pois Keynes passa a focar as especificidades da versão marshalliana da Lei de Say.

Na crítica à Lei de Say, Marx teve maior facilidade em desenvolver seus argumentos contra Ricardo, pois Ricardo afirmava explicitamente que uma “economia capitalista é essencialmente o mesmo que uma economia de troca, em que tudo o que é poupado é sempre investido” (Sardoni, 1997). Keynes, por outro lado, teve maiores dificuldades em identificar trechos de aceitação explícita da Lei de Say em Marshall e Pigou12. A última evidência da proximidade de Keynes e Marx é o fato de Keynes (1979, p.80, 81) ter se referido explicitamente à análise de Marx e reconhecido que a fórmula D-M-D' (dinheiro se converte em mercadorias, força de trabalho e meios de produção, e valoriza-se no processo de produção gerando mais-dinheiro) continha a característica essencial das economias capitalistas, e criava o ambiente para tratar a questão da demanda efetiva (Sardoni, 1997). Desta forma, em se tratando de Marx e Keynes, segundo Sardoni (1997) “as definições fundamentais de uma economia capitalista são também muito próximas”.

d) Fernando J. Cardim de CarvalhoDe acordo com Carvalho (1986, p.10), a proximidade entre Keynes e Marx está

na rejeição à idéia de Ricardo segundo a qual produção se troca por produção e, portanto, as teorias marxista e keynesiana convergem ao refutarem a Lei de Say (Carvalho, 2000, p.3). Ambas as teorias rejeitam a Lei inclusive como uma aproximação grosseira da realidade, o que abriria espaço para a discussão teórica acerca das crises e do papel da moeda na economia.

É na centralidade da moeda para a compreensão do sistema capitalista que encontra-se a base para uma síntese possível. Assim, partindo de uma análise aprofundada da teoria monetária de Marx, Carvalho (1986) demonstra os vários pontos de convergência entre a abordagem marxiana e a de Keynes, numa perspectiva pós-keynesiana. Destaca-se a importância da liquidez como atributo do dinheiro que, na teoria de Marx é o equivalente geral de todas as mercadorias e, principalmente, o meio pelo qual o produto do trabalho individual torna-se social, é socialmente validado pelo mercado. A separação espaço-temporal dos atos de compra e venda e a incerteza (termo caro aos keynesianos) com relação a essa validação social do trabalho pelo mercado torna a moeda um ativo especial, cuja característica de liquidez (incorporação direta do trabalho social) faz com que seja demandada per se sem necessariamente precisar transformar-se em outra mercadoria. Com relação a esse desenvolvimento, com o qual estariam de acordo Marx e Keynes, é que torna-se possível a rejeição conjunta da Lei de Say afirmada acima.

3 A ABORDAGEM DE MARX ACERCA DA DEMANDA EFETIVA

Marx (1985) no Livro II d’O Capital repartiu a produção geral em dois departamentos: O Dep.I, produtor de bens de produção e o Dep.II, produtor de bens de consumo. Para elaborar uma visão da demanda efetiva a partir dos esquemas de reprodução, considera-se o tempo no processo de produção e circulação do capital.

A formação da demanda efetiva é aqui exposta utilizando um exemplo de Shaikh (1991, pp.268-270). Supõe-se que o processo de produção tem duração de um ano e que

12 A crítica aos clássicos será melhor detalhada na seção 4.

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todo o capital é adiantado no início do ano. Assim, os meios de produção utilizados no processo como um todo somente poderão ser comprados no ano seguinte em forma de mercadorias. Da mesma forma, os trabalhadores empregados durante o ano não podem "comprar de volta" os bens de consumo resultantes de suas atividades atuais, porque esses bens não estarão prontos até o final do ano, e nem podem os capitalistas consumir o que ainda não está disponível (Shaikh, 1991, p.268). Como o adiantamento do capital foi realizado no início do ano, os trabalhadores e capitalistas irão consumir valores de uso produzidos ao longo do ano anterior.

Como consequência, “a demanda efetiva se origina inteiramente na classe capitalista: os salários dos trabalhadores são parte dos gastos em investimento bruto anualmente feito pelos capitalistas” (Shaikh, 1983, p.18). Os capitalistas decidem o nível de produção para o presente ano, de tal forma que demandam certa quantidade de meios de produção e empregam um determinado número de trabalhadores, os quais utilizam os seus salários para comprar os bens de que necessitam. A produção do ano anterior fornece à classe capitalista a oferta de mercadorias disponíveis para venda durante o ano seguinte, e o gasto dos capitalistas (investimento e consumo) no ano corrente determina a demanda efetiva para a oferta das mercadorias produzidas no ano passado.

É importante ressaltar que apesar de os capitalistas determinarem a oferta e a demanda efetiva, eles o fazem como classe, mas decidem como indivíduos. Isso significa que cada capitalista individual efetua sua decisão de investimento sem conhecer as decisões de todos os capitalistas e o nível global de investimento. Se ocorresse o caso de o investimento do presente ano acompanhar o crescimento da oferta do ano anterior, não haveria nem excesso nem falta de demanda. Porém, se o investimento crescer a uma velocidade inferior ao da produção prévia, então haverá falta de demanda, ao mesmo tempo em que os capitalistas estariam expandindo sua capacidade produtiva. Dada a desordem do sistema capitalista, é provável que tal situação ocorra com freqüência (Shaikh, 1983, p.25). Mas na visão de Marx13 “os capitalistas são impulsionados a acumular o mais rápido e objetivamente possível, de forma que uma discrepância tal como essa tende a se autocorrigir” (Shaikh, 1983, p.26). Se, por hipótese, a situação persistisse ano a ano, então a capacidade produtiva ultrapassaria a demanda e surgiria o hiato de demanda, a que se referem Paul Sweezy e Paul Baran (Shaikh, 1983, p.26). Tal concepção não pode derivar da análise marxiana, pois os subconsumistas, como Sweezy, recorrem, ainda que implicitamente, ao parâmetro keynesiano de antecipações subjetivas de lucro por parte dos capitalistas (Wright, 1975, p.127).

Os subconsumistas, como Rosa Luxemburgo e Sweezy, não aceitam que o modelo de reprodução ampliada, em que toda a mais-valia é investida período a período para expansão da produção, é representativo do capitalismo. No entanto, dentro do arcabouço teórico de Marx, não existem forças internas aos sistemas de reprodução que resultem em brecha de demanda. Como classifica Shaikh (1991, p.58), as crises de subconsumo são apenas uma possibilidade no capitalismo, mas não uma tendência. A análise marxista sobre reprodução ampliada mostrou, sem deixar dúvida, que esta produção motivada pelo lucro era inteiramente capaz de gerar seus próprios mercados

13 O impulso à acumulação é algo presente no cerne da visão marxiana sobre o capitalismo, encontrando-se na própria estrutura do sistema: trata-se da busca incessante pelo lucro através da geração de mais-valia e sancionada pela concorrência. Isso implica uma visão do capitalismo como um sistema inerentemente dinâmico, ainda que turbulento, e de forma alguma tendendo à estagnação.

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internos (Lênin, 189914 apud Shaikh, 1983, p.26), essa é, afinal, a conclusão a ser tirada do estudo dos esquemas de reprodução.

O fato de O Capital ser uma obra não concluída permitiu aos marxistas e não-marxistas inúmeras interpretações. McCracken15 (apud Sardoni, 1997), que influenciou o pensamento de Keynes, argumentava que aceitar a teoria do valor trabalho de Marx implica a aceitação da Lei de Say, como dito anteriormente. Mas na realidade, Marx mostra que o capitalismo é um sistema caótico e que nada garante a venda de toda a produção ao preço previsto pelo capitalista. O conceito marxista para compreender esse fenômeno é o “salto mortal da mercadoria”, apresentado no capítulo 3 do primeiro livro d’O Capital. Salto mortal da mercadoria ocorre na venda da mercadoria (M’-D’), porque a produção capitalista não é planejada, é caótica. Assim, no circuito M-D-M (venda da mercadoria por dinheiro para, posteriormente, comprar a mercadoria necessária ao consumo), que caracteriza qualquer sociedade mercantil, a separação espaço-temporal entre o ato de venda de uma mercadoria M-D e o ato de compra de outra mercadoria D-M permite a não realização dessa compra, que é a venda da segunda mercadoria, e sob o capitalismo significa a não realização da mais-valia. Pois é da essência da proposição de Marx sobre o dinheiro, como uma mercadoria equivalente universal, que nada no ato de venda provoca necessariamente uma compra posterior, já que o dinheiro pode ser retido como tal. Esse conceito implica que o valor, apesar de gerado na esfera da produção, apenas é realizado na circulação, sendo a demanda efetiva tão importante para o sistema capitalista quanto a produção de valor em si.

4 A ABORDAGEM DE KEYNES ACERCA DA DEMANDA EFETIVA

Em sua Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, Keynes (1986) prepara, já no segundo capítulo, o ambiente para a discussão sobre a demanda efetiva. Neste capítulo, Keynes (1996) inicia sua crítica à teoria clássica da determinação do emprego, que segue a tradição de Ricardo e J.S. Mill até Marshall, mas é desenvolvida principalmente na obra de Pigou, demonstrando que esta depende de dois postulados:

1) O salário (w/p) é igual ao produto marginal do trabalho (PmgL); e

2) Trabalhadores ofertam emprego igualando a utilidade do salário à desutilidade marginal do trabalho.

O primeiro postulado nos dá a curva de demanda por emprego (já que as empresas em condição de concorrência perfeita continuarão demandando mão-de-obra até que o produto marginal de um trabalhador adicional iguale seu custo como forma de maximizar os lucros). O segundo postulado nos dá a curva de oferta de trabalho, com os trabalhadores comparando a utilidade do salário real com a do “lazer”. Enquanto a curva de demanda por trabalho relaciona-se inversamente com os salários reais (devido à produtividade marginal decrescente), a sua curva de oferta relaciona-se em proporção direta aos salários (devido ao “efeito substituição” de lazer por salário). Assim, no ponto de intersecção das curvas determina-se o nível de emprego, que é um nível de pleno emprego, uma vez que em tal situação todos os trabalhadores que aceitam trabalhar ao salário real de equilíbrio encontram emprego.

14 O desenvolvimento do capitalismo na Rússia (1899).15 McCracken, H. L. (1933) Value Theory and Business Cycles, New York: Falcon Press.

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É dessa forma que, no modelo clássico (assim como nos modelos monetaristas ou novo-clássicos posteriores), dada a dicotomia aceita entre o lado real e o monetário, a determinação do emprego se dá pelos dois postulados que governam o mercado de trabalho. E aceitos os postulados da teoria clássica segue-se que a economia deve sempre encontrar-se em estado de pleno emprego. Qualquer desemprego existente é, desse ponto de vista, “friccional” – decorrente de reajustes setoriais de recursos e do intervalo temporal entre um emprego e outro – ou “voluntário” – decorrente da recusa dos trabalhadores em aceitarem o nível de salários reais de equilíbrio, especialmente no caso em que há rigidez dos salários nominais (acordos sindicais, etc.).

Tendo em vista os dois postulados descritos acima, Keynes ataca a teoria clássica nos seus pressupostos fundamentais. Ele aceita o primeiro postulado, admitindo os retornos decrescentes da mão-de-obra no curto prazo, e admitindo que um aumento do emprego se dá concomitantemente a um decréscimo dos salários reais (e vice-versa). A relação de causalidade, no entanto, não é a que professa a teoria clássica, ou seja, uma queda no emprego não se deve ao fato de os trabalhadores exigirem um maior salário real, e a flexibilização dos salários nominais não garante o pleno emprego como assumem os economistas clássicos. Isso porque Keynes rejeita o segundo postulado, abandonando assim a própria curva de oferta de trabalho.

Em sua rejeição ao segundo postulado da teoria clássica, Keynes levanta duas objeções contra este: a primeira “refere-se ao comportamento efetivo do trabalhador”, enquanto a segunda contesta a hipótese de que o nível de salários reais é que é determinado pelas negociações salariais. Vejamos.

A primeira objeção de Keynes, de caráter mais empírico, choca-se contra as “hipóteses especiais” da teoria clássica que levam a oferta de trabalho a ser função exclusiva do salário real, de forma que o nível corrente dos salários reais (sua utilidade) sempre seja equivalente à desutilidade marginal do trabalho, como nos indica o segundo postulado. Se esta relação for verdadeira então uma queda nos salários reais devido à diminuição dos salários nominais levaria uma parte da mão-de-obra a sair do mercado, e Keynes não rejeita tal possibilidade. Mas pode-se esperar o mesmo caso a redução do salário real deva-se a um aumento dos preços? Pela teoria clássica a resposta teria de ser afirmativa, mas a experiência demonstra de modo evidente que os trabalhadores não abandonam o emprego quando um aumento do nível de preços diminui o poder de compra de seu salário. De forma que, “sendo isso verdadeiro, os bens de consumo dos assalariados equivalentes ao salário nominal vigente não representam a verdadeira medida da desutilidade marginal do trabalho e o segundo postulado deixa de ter validez” (KEYNES, 1996, p.50).

A segunda objeção, considerada “teoricamente fundamental”, coloca em questão a consistência teórica do argumento da economia clássica. Se o segundo postulado subsiste pela idéia de que as negociações entre trabalhadores e empresários determinam o salário real, de forma que a mão-de-obra pode fixar o salário real ao nível da desutilidade marginal do trabalho, essa hipótese entra em contradição com o restante da teoria clássica. Pois essa teoria sustenta que os preços são determinados pelo custo marginal expresso em termos nominais, sendo que boa parte desse custo é dado pelos próprios salários. Assim uma variação dos salários nominais (por exemplo, se os trabalhadores aceitarem um corte salarial ou reivindicarem salários nominais mais altos) deveria ocasionar uma variação nos preços em proporção quase igual, de forma que o salário real e o nível de emprego praticamente não iriam variar. Dessa forma, é claro que nos próprios termos da teoria clássica, os trabalhadores não podem fixar seu nível de salários reais, pois não têm controle sobre o nível de preços.

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Ora, se as duas objeções ao segundo postulado refutam o papel ativo que a teoria clássica lega aos trabalhadores, não podendo garantir a equalização do nível de salários reais com a desutilidade marginal do emprego, então não subsiste a impossibilidade de desemprego involuntário, garantida por aquela igualdade. Keynes (1996, p.53) afirma então, ao lado do desemprego voluntário e friccional, admitidos pelos clássicos, a existência de desemprego involuntário. Passa a ser possível admitir a existência de uma parcela da mão-de-obra desempregada e disposta a trabalhar pelo salário nominal vigente, e de um desemprego que não pode ser eliminado pela flexibilização dos salários nominais como se estes fossem ajustar a utilidade e a desutilidade do emprego.

Fica claro então que a crítica aos postulados clássicos é também uma crítica à Lei de Say na versão de Marshall e Pigou. Pois a Lei de Say, “equivale à proposição de que não há obstáculo para o pleno emprego” (Keynes, 1996 p.61). Mas não sendo o volume de produção e emprego determinados no mercado de trabalho, estes vão depender da Demanda Efetiva, especialmente relacionada ao “lado monetário” como veremos. É assim que, como demonstra Keynes as três hipóteses das quais a teoria clássica do emprego depende – igualdade entre salário real e desutilidade marginal do trabalho, inexistência de desemprego involuntário e a Lei de Say – “desmoronam juntas” (Keynes, 1996, p.58). Isso porque, como sempre lembram os pós-keynesianos a estrutura analítica de Keynes baseia-se em pressupostos inteiramente diversos sobre o funcionamento da economia que colocam em questão toda a visão de mundo dos clássicos (ver, por exemplo, Davidson, 1984)16.

Assim, tendo aberto o espaço para a existência de desemprego involuntário, a Lei de Say já não funciona como uma garantia do pleno emprego e o sistema clássico torna-se “indeterminado”. É o Princípio da Demanda Efetiva de Keynes que irá demonstrar como apenas por acaso o nível de emprego de equilíbrio, sob o capitalismo, será o nível de pleno emprego. Aqui é fundamental a rejeição keynesiana do axioma segundo o qual o dinheiro seria um ativo como qualquer outro e, portanto, perfeitamente substituível por qualquer bem produzível, o que significa, em última análise, que o dinheiro não serve como forma especial de retenção da riqueza. Isso nos leva de volta à Lei de Say em sua versão clássica e sua proposição da neutralidade do dinheiro.

Especificamente, a respeito da Lei de Say na versão ricardiana, Keynes desenvolve seus argumentos ainda no final do segundo capítulo da Teoria Geral e no artigo The distinction between a co-operative economy and an entrepreneur economy (1979), no qual parece desenvolver a crítica a Lei de forma análoga à de Marx. Nesse trabalho, Keynes distingue dois modelos de economia. O primeiro é a economia clássica, ou cooperativa. Esta reflete a visão dos autores clássicos, no qual a moeda apenas mediava as trocas e prevalecia a Lei de Say. Nos termos “emprestados” de Marx, Keynes expressa este tipo de economia como M-D-M’, ou seja, uma economia em que mercadoria é trocada por dinheiro para obter outra mercadoria, a qual tem valor de uso diferente, mas valor de troca igual. Na economia cooperativa, portanto, o objetivo final da transação é a mercadoria, e toda a oferta gera a sua própria demanda. O segundo modelo é a economia empresarial, ou monetária. Nesta, a Lei de Say não é valida e em seu lugar o que prevalece é o princípio da demanda efetiva. Na economia monetária, a moeda não é apenas mediadora de trocas, mas também reserva de valor. Keynes (1979, p.81) ilustra a economia monetária como D-M-D’, ou seja, troca-se dinheiro por

16 Davidson enumera os três axiomas dos quais depende toda a construção (neo)clássica: “o axioma da substituição bruta”, o “axioma dos reais” e a “ergodicidade”. Para a presente discussão sobre a demanda efetiva focaremos, seguindo Davidson, a rejeição do “axioma da substituição bruta” pois é o que tem relação direta com o Princípio da Demanda Efetiva.

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mercadoria para obter mais-dinheiro. Aqui, há preferência dos agentes por liquidez e as expectativas têm papel na determinação da demanda efetiva.

Resta então esclarecer o funcionamento do princípio da demanda efetiva para Keynes. Graficamente, a diferença entre a situação keynesiana e a da Lei de Say pode ser expressa do seguinte modo:

GRÁFICO 1 – DETERMINAÇÃO DO EMPREGO: KEYNES X LEI DE SAY

Fonte: Davidson (1984)

Os gráficos expressam as curvas de oferta e demanda agregadas relacionando o nível de emprego (N), no eixo das abscissas, ao valor das vendas esperadas ou do gasto planejado, no eixo vertical. Assim a figura 1(a) denota a curva de oferta agregada (Z), enquanto a figura 1 (b), a curva de demanda agregada (D). A função de oferta agregada representa a receita mínima que o empresário deseja obter com a venda de seus produtos (cobrindo os custos e o lucro normal) necessária para que ele produza àquele nível e ofereça tal quantidade de emprego. Reflete, assim, os custos (constituídos basicamente por salário), razão pela qual a curva é positivamente inclinada. A função de demanda agregada é um pouco mais complexa, mas basicamente expressa a receita estimada que o empresário espera receber a cada nível de emprego. Observe-se que apesar de a curva D relacionar nível de emprego ao gasto planejado pelos consumidores e pelas empresas

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inversoras, trata-se não dos planos de gasto reais ou correntes, mas da expectativa dos empresários acerca desses gastos ao longo do investimento (sobre isso ver Chick, 1993, pp. 71-74). A relação de ambas as funções nos dá o nível de emprego de equilíbrio.

Numa situação em que vige a Lei de Say as curvas de oferta e demanda são sobrepostas, uma vez que a cada nível de emprego a oferta gera uma renda equivalente que será revertida para compra dessa oferta, gerando a própria demanda, de modo que em qualquer nível de produção Z = D, conforme a figura 2(a). Nesse caso a situação é indeterminada possuindo infinitos pontos de equilíbrio e, como conseqüência, nenhum obstáculo ao pleno emprego.

Já na teoria keynesiana a função de demanda corta a função de oferta por cima, determinando um único ponto de intersecção que é o nível de emprego de equilíbrio. Esse ponto (E) é chamado de demanda efetiva. Demanda efetiva “é o ponto na relação de antecipação da demanda agregada das empresas que se ‘torna efetivo’ pelas decisões de produção das empresas” (Chick, 1993, p.72). Assim, é a demanda agregada esperada D que, dada uma relação de custos (Z), determina o volume de produção e emprego. Isso tem conseqüências fundamentais. Em primeiro lugar, a demanda cresce menos do que proporcionalmente do que N, porque um de seus componentes principais é o consumo e a propensão marginal a consumir é, por hipótese aceita, menor que a unidade, ou seja, os consumidores não gastam toda a parcela de sua renda, e como na economia monetária de Keynes a poupança pode ser mera retenção de riqueza na forma líquida (dinheiro), gera-se aí uma lacuna entre a renda proveniente da oferta gerada e a demanda. É por essa razão a importância dada por Keynes ao investimento e seus determinantes. Pois é o investimento, o outro componente da demanda que deve preencher essa lacuna.

O essencial aqui é que nada, nesse modelo, garante que o nível de equilíbrio seja o de pleno emprego. Nesse caso, de desemprego involuntário, que é o mais provável, há uma insuficiência de demanda efetiva no nível de pleno emprego (lacuna entre J e K na Figura 2(b)), e é essencialmente essa a causa de desemprego para Keynes (cf. Davidson, 1984, p.43). A única solução keynesiana, então, é intervir nos determinantes do investimento (taxa de juros, eficiência marginal do capital, financiamento) para elevar as expectativas dos empresários e levar a demanda efetiva até o ponto de pleno emprego.

5 UMA CRÍTICA ÀS TENTATIVAS DE ASSIMILAÇÃO

Nesta seção, faz-se uma crítica às tentativas de assimilação entre Marx e Keynes apresentadas na seção 2. A crítica é baseada nas distinções presentes nos conceitos de demanda efetiva de Marx e Keynes, expostos nas seções 3 e 4, assim como nas especificidades técnicas de ambos os sistemas teóricos.

Primeiramente, Hung (1939) considera o lucro do empresário como correspondente à mais-valia em Marx. Porém, o autor desconsidera que para Marx o lucro empresarial é apenas uma parte da massa de mais-valia. A massa de mais-valia se divide em impostos, gastos improdutivos, juros, lucro industrial e lucro comercial. Além disso, Hung ao fazer as equivalências dos agregados keynesianos com os marxistas parece não considerar que a mais-valia em Marx é gerada somente pelo trabalho produtivo (em termos marxianos), enquanto o lucro empresarial de Keynes não faz distinção entre trabalho produtivo e improdutivo. Ao tratar dos outros agregados marxistas e keynesianos apresentados na seção 2, como investimento, consumo, preço de oferta, etc. o referido autor faz aproximações forçadas e equivocadas: omite as especificidades dos agregados marxistas e keynesianos, que, em especial, são

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construídas em bases distintas dada a divergência acerca da teoria do valor – que sustenta os conceitos marxistas – e a característica expectacional dos conceitos keynesianos, para forçadamente concluir que as variáveis são equivalentes.

Já Robinson (1950), ao apontar que as categorias de capital em Marx, por não serem facilmente percebidas na economia e por serem expressas em termos de valor, são inúteis para a análise econômica, parece, não ter compreendido o porquê de tais categorias. As categorias marxistas são divididas em capital constante e variável porque o capital constante apenas transfere trabalho morto (produzido anteriormente) para a nova mercadoria, enquanto o capital variável, trabalho vivo, é a fonte que agrega valor à mercadoria, fazendo-a “variar de valor”. Estas categorias, caso se assuma que análise de Marx é de alguma utilidade, são extremamente úteis para a compreensão do capitalismo e de suas tendências. De fato, elas são as únicas que se prestam a uma análise dentro do arcabouço teórico marxiano. São estas categorias que permitiram a formulação da Lei da queda tendencial da Taxa de lucro (nas palavras de Marx, a mais importante lei da economia política). Que Robinson abandone a teoria do valor e assuma um viés distributivista (ricardiano), não segue daí que uma análise econômica de base marxista possa fazer o mesmo a fim de se aproximar da tradição keynesiana. A razão da centralidade da teoria do valor em Marx é a razão da própria existência da crítica marxiana à economia política: captar a sorte a que se encontra submetido o trabalho humano em um sistema que o torna mercadoria.

Robinson aproxima as teorias de Marx e de Keynes pelo conceito de “brecha de demanda” (demand gap). Porém não há, na teoria marxiana, tendência à brecha de demanda por nenhum motivo, muito menos pela concentração de renda, como se deveria depreender dos inúmeros debates que ocorreram toda vez que o argumento subconsumista voltava à tona. Obviamente a concentração de renda não se encontra excluída da análise marxista, mas, no desenvolvimento teórico de Marx, não está presente nenhuma tendência de concentração de renda com reflexos nocivos sobre a demanda. Para Keynes e para os keynesianos, a concentração de renda é uma variável relevante para entender a demanda efetiva: “Como teoria e economia keynesiana entende-se a compreensão da dinâmica de economias monetárias contemporâneas em que falhas sistêmicas intrínsecas ao funcionamento destas levam freqüentemente a situações de concentração de renda e de desemprego” (AKB, 2008). Desta forma, o conceito de “brecha de demanda” distancia as teorias ao invés de aproximá-las. Não é de surpreender que em sua auto-crítica, Robinson (1950) afirme que O Capital é uma obra obscura, e diz: num poço escuro, é muito provável que se enxergue a sua própria imagem.

Sardoni (1997), afirma que Keynes e Marx definem as características fundamentais do capitalismo de forma muito próxima. Porém, como afirma Germer (2011, p. 57), Sardoni utiliza o termo capitalismo, mas refere-se à economia monetária. É emblemático que a caracterização do capitalismo de Keynes pela fórmula D-M-D’, de Marx, fixa-se exatamente naquilo que, para Marx, sem a análise do processo de produção, é uma fórmula irracional. Ela suprime exatamente a especificidade da produção capitalista: a exploração por meio da qual o dinheiro gera mais dinheiro. Sem esse entendimento, a fórmula expressa, mais do que o circuito do capital, um certo fetichismo do dinheiro que, de um ponto de vista marxista, transparece nas análises keynesianas.

Na tentativa de defender Marx da acusação de que a teoria do valor trabalho implica a Lei de Say, Sardoni (1997, p.10) afirma que pode haver falta de demanda no quadro analítico marxiano, porque a preferência pela liquidez aumenta quando as expectativas de lucros se tornam pessimistas. Obviamente, como se mostrou, a teoria do

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valor trabalho não implica a Lei de Say, mas o argumento de Sardoni não pode ser atribuído a Marx. Como se poderia atribuir ao fundador do materialismo histórico uma explicação a partir de uma variável subjetiva como as expectativas de lucro? No método empregado por Marx, são as condições materiais que, em última instância, causam as condições ideais. Desta forma, as expectativas de lucro (ideal) somente diminuirão se as condições materiais as condicionarem nesse sentido. As reduções de expectativas, definitivamente, não podem ser uma explicação marxista para a falta de demanda efetiva.

Por sua vez, Carvalho (1986), em A Teoria Monetária em Marx, demonstra grande conhecimento acerca dos conceitos de Marx e, além de identificar proximidades com a teoria de Keynes, enfatiza as divergências. Diferentemente de Hung, por exemplo, Carvalho não forçou aproximações teóricas e aparentemente não omitiu especificidades da teoria marxista para aproximá-la à de Keynes. Não se pode analisar adequadamente aqui suas conclusões acerca da teoria marxiana da moeda, em especial sua rejeição da “mercadoria-dinheiro”, necessidade óbvia para manter a coerência com sua abordagem pós-keynesiana. Mas deve-se destacar o fato de que Carvalho consegue perceber a centralidade da abordagem monetária para a rejeição conjunta da Lei de Say com base em uma correta apreensão do caráter social do dinheiro.

Para além das especificidades existe, no entanto, um solo em comum no qual podem ser analisadas as várias tentativas acima descritas de síntese entre Keynes e Marx, e que nos permite divisar bem tanto as virtudes como as lacunas desse empreendimento. O que é presente em todos os autores expostos, e que, como se viu, tem fundamento nas teorias de Marx e Keynes, é a rejeição por ambos da Lei de Say, como passo decisivo para a compreensão da demanda efetiva. Viu-se como em Marx a possibilidade de falta de demanda surge pela separação dos atos de compra e venda e pela natureza especial do dinheiro, e não é acaso que a rejeição de Keynes da versão ricardiana da Lei se utilize da fórmula de Marx D-M-D’. A não neutralidade da moeda é certamente o mais importante fator de convergência entre keynesianos e marxistas em matéria monetária. Também é clara a preponderância do investimento na determinação do volume de produção e emprego, que é, afinal, a essência da teoria da demanda efetiva. Esses pontos tornam possível a aproximação teórica e, principalmente, tornam possível um diagnóstico compartilhado sobre a questão do nível de emprego. É bastante claro, tanto para marxistas como para keynesianos, que não há força econômica alguma que faça o sistema convergir para o pleno emprego, que é possível o equilíbrio em um nível abaixo deste, mas que ao mesmo tempo não há obstáculos intrínsecos caso se direcione o investimento a um nível adequado.

A partir daí, no entanto, transparecem divergências fundamentais que põem em questão o método e o arcabouço teórico dentro do qual foram construídas as visões de Marx e Keynes sobre a demanda efetiva. Isso porque a análise keynesiana da demanda efetiva é essencialmente uma análise estática e de curto prazo17. E essa provavelmente é sua força. Como se concentra na decisão de investimento por parte do empresário, Keynes dá grande importância à formação das expectativas, assim como à taxa de juros e o financiamento (funding). Esses fatores afetam o investimento pela efeito sobre o comportamento dos empresários que é em grande parte ditado por suas estimativas (incertas) e pelo seu estado de confiança. Apesar disso, permanece a falta de uma explicação satisfatória dos determinantes do investimento a longo prazo, mesmo entre os “sucessores” da tradição keynesiana como Robinson, Kalecki e Steindl (Cf. Shaikh, 1991, pp.277-278).

17 Como admite Chick (1993, p.74).

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Bem diversa é a análise marxiana. De fato, pode-se considerar uma de suas deficiências a falta de uma teoria clara sobre os determinantes do investimento. Mas a estrutura teórica de Marx não se pauta por análises estáticas e, em geral, preocupa-se muito mais com os movimentos de longo prazo do sistema do que com situações conjunturais (embora não as exclua). Além disso, não é um mero debate filosófico a rejeição dos aspectos psicológicos e comportamentais que transparecem nas análises keynesianas. Ocorre que o marxismo busca as características estruturais da economia capitalista que se impõem à revelia da vontade consciente dos indivíduos, muitas vezes sem o conhecimento destes. Isso significa que as expectativas, cujos determinantes no modelo keynesiano são sempre obscuros, não é uma explicação teórica aceitável para uma análise marxista macrodinâmica de longo prazo. Para tal, os determinantes do investimento devem ser considerados em conjunto com as demais forças impulsoras do sistema capitalista, em que há clara preponderância dos movimentos da taxa de lucro. A taxa de lucro é a variável fundamental da teoria marxiana e não é um mero epifenômeno da distribuição de renda.

6 CONCLUSÃO

Este artigo expõe e apresenta crítica às principais tentativas de assimilação teórica do conceito de demanda efetiva em Marx e em Keynes.

A aproximação entre Marx e Keynes decorre de seus objetos de estudo: o capitalismo como um sistema dinâmico, incerto, e que não converge para o pleno emprego. Desta forma, a crítica à Lei de Say, o princípio da demanda efetiva, as funções da moeda, a incerteza em Keynes e o caos em Marx, o conceito de capitalismo e de economia monetária, em Marx e em Keynes, podem parecer conceitos próximos e assimiláveis. Essa semelhança aparente decorre do simples fato de tais conceitos serem necessários para compreender o mesmo objeto de estudo, porém, na essência, são distintos porque resultam do emprego de diferentes métodos que emergem de objetivos opostos.

Marx e Keynes, por empregarem métodos distintos, divergem acerca da teoria do valor. Enquanto Marx é adepto de uma teoria objetiva do valor, em que o valor é dado pelo trabalho socialmente necessário, Keynes adota (ao menos implicitamente) uma teoria subjetiva do valor, na qual o valor é baseado na escassez e na utilidade marginal (GERMER, 2011). Obviamente, esta divergência em relação às teorias do valor nas quais os autores se baseiam, gera diferenças inconciliáveis nos outros níveis de suas teorias.

Observou-se que Keynes e Marx refutaram a Lei de Say em versões diferentes. O objeto de crítica de Marx era a Lei de Say ricardiana, enquanto Keynes tratou também da Lei em sua versão marshalliana/neoclássica (com pleno emprego). Para a versão ricardiana, Marx e Keynes, respectivamente, apoiaram-se na diferença entre economia mercantil e capitalista, e entre economia cooperativa e monetária. Para a versão neoclássica, Keynes rejeitou totalmente o segundo postulado neoclássico, o que implica a possibilidade de desemprego involuntário, determinado pela falta de demanda efetiva.

Ao rejeitarem a Lei de Say, ambos os autores abrem espaço para a discussão sobre a demanda efetiva, o desemprego involuntário, crises econômicas e o papel da moeda na economia. Resta, no entanto, uma distância fundamental entre eles quando se trata de situar as forças econômicas que regem os fenômenos em questão. Isso significa que, se por um lado é possível estabelecer um diálogo entre as tradições marxista e keynesiana, dado a existência de problemas em comum, por outro lado, a resposta

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teórica a esses problemas é necessariamente diversa caso se queira manter a coerência geral com ambas as teorias, as quais servem de base a tais escolas de pensamento. Este trabalho tratou apenas da questão da demanda efetiva em Marx e em Keynes, mas poderia se estender à análise de crises e do papel da moeda e do crédito na economia. Avançar nessas questões não abordadas é de suma importância para o desenvolvimento de um pensamento heterodoxo coerente.

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