De Zeus a Varoufakis - CCB - Fundação Centro Cultural de ... · Carmelo Molina solista ... os...

27
DE ZEUS A VAROUFAKIS 1 De Zeus a Varoufakis A Grécia nos destinos da Europa

Transcript of De Zeus a Varoufakis - CCB - Fundação Centro Cultural de ... · Carmelo Molina solista ... os...

D E Z E U S A VA R O U FA K I S 1

De Zeus a VaroufakisA Grécia nos destinos da Europa

INTRODUÇÃODE ZEUS A VAROUFAKISA GRÉCIA NOS DESTINOS DA EUROPA

4 6CONCERTOORQUESTA SINFÓNICA DE CASTILLA Y LEÓN20 JAN — 21H

ÓPERAELEKTRA COM O TEATRO NACIONAL DE SÃO CARLOSORQUESTRA SINFÓNICA PORTUGUESA

1.7 FEV — 21H4 FEV — 16H

12

14MÚSICA DE CÂMARAGRANDES HEROÍNAS DA ANTIGUIDADE CLÁSSICAQUINTAS ÀS 7

8 FEV — 19H

17TEATROORESTEIAÉSQUILO AUTORTÓNAN QUITO DIREÇÃO

17.19.21.22.23.24 FEV— 21H 18 FEV — 16H

24DANÇATHE GREAT TAMER (O GRANDE DOMADOR) CONCEÇÃO E DIREÇÃO DIMITRIS PAPAIOANNOU

2 E 3 MAR — 21H

CAPA: THE GREAT TAMER (O GRANDE DOMADOR) DE D IMITR IS PAPAIOANNOU, SAPATOS, ©JUL IAN MOMMERT

29MÚSICA DE CÂMARASYRINX OU O ENCANTAMENTO GREGO DSCH – SCHOSTAKOVITCH ENSEMBLE

4 MAR — 17H

MÚSICAORQUESTRA DE CÂMARA PORTUGUESA 11 MAR — 17H

35FÁBRICA DAS ARTESPOETA, UM CIDADÃO DO MUNDO ANA SOFIA PAIVA EMARCO OLIVEIRA

22 A 28 JAN — 10H3O / 11H30 / 15H30

FORMAÇÃO27 JAN — 14H30

38FÁBRICA DAS ARTESSOMBRA ALDARA BIZARRO

22 A 25 FEV — 11H / 16H / 18H

41

FÁBRICA DAS ARTESOFICINAS DANÇA E FILOSOFIA28 FEV / 1 A 4 MAR — 10H / 15H

DANÇA E DESENHO7 A 11 MAR — 10H / 15H

42FÁBRICA DAS ARTESMERGULHO NA SOMBRAMESA REDONDA, EXERCÍCIOS DE ARTE E PENSAMENTO10 MAR — 14H

43LITERATURA E PENSAMENTOO PERENE E O BELO: ECOS DA ANTIGUIDADE CLÁSSICACONFERÊNCIA24 FEV / 3 MAR

45

CONFERÊNCIACONFERÊNCIA ULISSES 2018 DEMOCRACIA EUROPEIA: UMA IDEIA CUJO TEMPO CHEGOU?7 E 8 ABR

47A SEGUIR:TIRAI OS PECADOS DO MUNDOCICLO HIERONYMUS BOSCHABRIL E MAIO

50

Índice

4 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 5

por Oresteia, de Ésquilo, ou pelas peças de Debussy,

assistimos à revisitação dos temas mitológicos que foram

construindo a narrativa cultural do ocidente, onde o

tema da vingança, por exemplo, ganha hoje matizes e

declinações inquietantes, assim como a reflexão sobre a

natureza humana e o sagrado, que tem atravessado todo

o trabalho do coreógrafo Dimitris Papaioannou, que pela

convocação de várias referências históricas e performativas,

configura territórios habitados pelas mitologias do homem

contemporâneo.

Sob a evocação do fundador mítico da cidade de Lisboa,

Ulisses, reúnem-se algumas das personalidades mais

marcantes do pensamento político e social do panorama

nacional e internacional que se propõem discutir os

caminhos da Europa atual, tentando dar pistas e respostas

às questões da política europeia atual. Questões de direitos

humanos, em particular dos refugiados e dos apátridas,

questões da globalização e do cosmopolitismo, questões

da União Europeia e dos seus estados-membros estarão

entre os núcleos temáticos principais das abordagens desta

primeira edição da Conferência Ulisses 2018, comissariada

pelo historiador Rui Tavares.

Da Grécia Antiga à atualidade, este núcleo programático

percorre algumas das ideias e valores que a cultura

grega infundiu no solo cultural do Ocidente, moldado e

consolidado através das várias expressões artísticas que dão

corpo e estruturam um modo de ser, ver, sentir e pensar.

Se Zeus já não está no Olimpo, e todos os deuses nos

abandonaram, restam-nos as suas narrativas que, como

repositório de saber e ensinamento, souberam aproveitar os

séculos e os seus artistas como matéria de reflexão nas suas

variadas manifestações, da filosofia à poesia, da música ao

teatro, da dança à democracia.

Num momento em que a Europa, herdeira deste caldo

multímodo e multicultural, parece esquecer-se dos

fundamentos que lhe foram desenhando o rosto – onde os

confrontos e choques das suas várias línguas e modos de

pensar se foram adaptando e dando lugar à formação de

um continente aberto, tolerante e convivial – é altura de,

sem complexos, acolhermos pela arte o modo diverso de

sermos europeus, revisitando a Grécia do passado e a atual,

deixando-nos interpelar pela força da imaginação e das

várias expressões artísticas.

De Elektra, a ópera de Richard Strauss, passando

De Zeus a VaroufakisA Grécia nos destinos da Europa

O que esperamos na ágora reunidos? É que os bárbaros chegam hoje.Por que tanta apatia no senado?Os senadores não legislam mais? É que os bárbaros chegam hoje.Que leis hão de fazer os senadores? Os bárbaros que chegam as farão…

À ESPERA DOS BÁRBAROS, KONSTANDÍNOS KAVÁFIS

6 D E Z E U S A VA R O U FA K I S

C O N C E R T O

Orquesta Sinfónica de Castilla y LeónCoprodução CCB/Temporada Darcos

Nuno Côrte-Real direção musicalElisabete Matos soprano

PRIMEIROS VIOLINOS Miguel Borrego concertino

Elizabeth Moore concertino auxiliar

Wioletta Zabek concertino honorário

Malgorzata BaczewskaIrene FerrerIrina FilimonPawel HutnikVladimir LjubimovRenata MichalekDaniela MoraruDorel MurguMonika Piszczelok Óscar RodríguezPiotr Witkowski

SEGUNDOS VIOLINOSJennifer Moreau solista

Blanca Sanchis solista auxiliar

Marc Charles 1.º tutti

Csilla BiroAnneleen van den BroeckIuliana MuresanGregory SteyerJoanna ZagrodzkaTania ArmestoIván GarcíaLuis Gallego

VIOLASNestor Pou solista

Marc Charpentier solista auxiliar

Michal Ferens 1.º tutti

Virginia DominguezCiprian FilimonHarold HillDoru JijianJulien SamuelJokin UrtasunElena Boj

VIOLONCELOSMárius Díaz solista

Jordi Creus solista auxiliar

Victoria Pedrero 1.º tutti

Montserrat AldomáPilar CerveróFrederik DriessenDiego AlonsoMarta RamosVirginia del Cura

CONTRABAIXOSTiago Rocha solista

Juan Carlos Fernández solista auxiliar

Nigel Benson 1.º tutti

Emad KhanNebojsa Slavic

20 JANGrande Auditório21h / M/6

HARPAMarianne ten Voorde solista

FLAUTASPablo Sagredo solista

Jose Lanuza 1.º tutti / solista piccolo

OBOÉSSebastián Gimeno solista

Tania Ramos solista auxiliar

Juan M. Urbán 1.º tutti / solista corne inglês

CLARINETESCarmelo Molina solista

Laura Tárrega solista auxiliar

Julio Perpiñá 1.º tutti / solista clarinete baixo

FAGOTESSalvador Alberola solista

Alejandro Climent solista auxiliar

Fernando Arminio 1.º tutti / solista contrafagote

TROMPASCarlos Balaguer solista

Martin Naveira solista

Emilio Climent 1.º tutti

José M. González 1.º tutti

TROMPETASRoberto Bodí solista

Emilio Ramada solista auxiliar

Miguel Oller 1.º tutti

TROMBONESPhilippe Stefani solista

Robert Blossom solista auxiliar

Sean P. Engel solista

TUBAJose M. Redondo solista

TÍMBALESTomás Martín solista

EQUIPA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Jordi GimenoJuan Aguirre Silvia CarreteroJulio GarcíaJosé Eduardo GarcíaFrancisco López Mónica Soto

P R O G R A M A

Nuno Côrte-Real (1971-) Canções Helénicas de Sophia ESTREIA ABSOLUTA / ENCOMENDA CÍRCULO RICHARD WAGNER

I. O Búzio de Cós / II. A Hera / III. Beira Mar / IV. Orpheu

Ludwig van Beethoven (1770-1827) Abertura A Consagração da Casa, op. 124

Richard Wagner (1813-1883) Wesendonck Lieder (Mottl/Wagner)I. Der Engel / II. Stehe still! / III. Im Treibhaus / IV. Schmerzen / V. Träume

Hector Berlioz (1803-1869) Les nuits d’été, op.7I. Villanelle / II. Le spectre de la rose / III. Sur les lagunes: Lamento / IV. Absence V. Au cimetière: Clair de lune / VI. L’île inconnue

D E Z E U S A VA R O U FA K I S 9 8 D E Z E U S A VA R O U FA K I S

Um dos aspetos que melhor caracteriza a obra

de Nuno Côrte-Real (n.1971) é a sua relação

umbilical com a cultura e, sobretudo, com a

poesia portuguesa. São já inúmeros os poetas que

o compositor pôs em música ou dos quais tirou

inspiração. Uma parte significativa da sua produção

tem sido consagrada ao reportório vocal nos seus

vários géneros, sobretudo a ópera e o ciclo de

canções. Neste último domínio cabe destacar As

Mãos e os Frutos (2005), sobre poemas de Eugénio

de Andrade, Livro de Florbela (2012/2016), a partir

dos Sonetos de Florbela Espanca, e Agora Muda

Tudo (2017), um ciclo com poemas de José Luís

Peixoto escrito para a cantora Maria João. Depois

da ópera O Rapaz de Bronze (2007), com libreto

de José Maria Vieira Mendes a partir do conto

homónimo de Sophia de Mello Breyner Andresen,

Côrte-Real regressa às palavras da poetisa da

luz e do mar para compor Canções Helénicas de

Sophia, uma série de quatro canções para soprano

e orquestra, que serão apresentadas em estreia

absoluta.

Em 1822, por ocasião da reabertura do Theater in

der Josephstadt de Viena, L. V Beethoven (1770-

-1827) compôs a Abertura A Consagração da Casa,

que foi tocada a abrir a peça teatral As Ruínas de

Atenas, de Kotzebue, para a qual o compositor já

tinha escrito a música de cena em 1811. Como o

texto da peça era apresentado numa nova versão,

Beethoven achou que este já não se ajustava à

música e viu-se obrigado a alterar alguns números,

acrescentar outros, entre os quais a nova Abertura.

Escrita em Dó maior, a Abertura começa com uma

introdução lenta ao estilo de Händel, uma marcha

cerimonial que cresce progressivamente até à

entrada das brilhantes fanfarras. A segunda secção

rápida é uma fuga grandiosa, em contraponto

simples e duplo, exemplo típico do estilo

neobarroco que perpassa o último Beethoven.

Richard Wagner (1813-1883), o mestre do drama

musical, não se deixou tentar pela intimidade

do lied e mostrou-se pouco à vontade com um

tipo de melodismo contrário à sua conceção de

recitativo dramático e melodia infinita. Da sua

escassa produção neste domínio sobressaem

os Wesendonck Lieder, cinco canções sobre

poemas de Mathilde Wesendonck, escritas entre

1857 e 1858, no período em que o compositor

se encontrava «exilado» perto de Zurique.

Estas canções nasceram da relação apaixonada

e proibida com Mathilde, a mulher de Otto

Wesendonck, o mecenas na propriedade do qual

Wagner e sua mulher Minna se encontravam

hospedados. Esse amor impossível terá de algum

modo inspirado o poema da ópera Tristão e Isolda,

no qual Wagner trabalhava precisamente nessa

altura. Duas das canções – a n.º 3 e n.º 5 – foram

inclusive designadas como Estudos para o Tristão

e antecipam alguns aspetos da nova linguagem

que será desenvolvida nessa ópera. Aquela ânsia,

aquele desejo inapaziguável que perpassa no

Tristão é já percetível nestas páginas. As canções

foram originalmente compostas para voz feminina

com acompanhamento de piano, mas Wagner

orquestrou Träume para um pequeno ensemble,

a fim de ser cantado na manhã de aniversário de

Mathilde. As quatro restantes foram orquestradas

em 1890 por Felix Mottl, maestro pertencente

ao círculo íntimo do compositor. O conjunto não

constitui propriamente um ciclo, mas possui uma

certa coerência uma vez que Wagner os ordenou

segundo um plano poético: 1. Der Engel (O Anjo),

evoca a aparição do anjo consolador. 2. Stehe

still (Detém-te!), fala da renúncia ao desejo e à

vontade para alcançar a felicidade na fusão com o

grande Todo. 3. Im Treibhaus (Na Estufa), é uma

Notas ao programaAFONSO MIRANDA

meditação sobre a inconstância e a brevidade

da vida, simbolizada pelas plantas. 4. Schmerzen

(Dores), um hino ao sol, uma glorificação do dia

que morre para renascer. 5. Träume (Sonhos),

elogio ao mundo onírico.

Hector Berlioz (1803-1869), compositor de

grandiloquência romântica e dramática, não

costuma ser lembrado como autor de canções,

embora tenha escrito dezenas delas, sobretudo

no início da sua carreira. Neste domínio a sua

obra mais notória é, sem dúvida, Les nuits d’été

(op.7), uma coleção de seis canções sobre poemas

de Théophile Gauthier, compostas em 1841,

originalmente para meio-soprano ou tenor e

piano. Em 1843, Berlioz orquestrou Absence e

ofereceu-a à cantora Marie Recio, sua amante,

mas a orquestração do ciclo completo só foi

concluída em 1856. De uma versão à outra

o compositor operou algumas mudanças de

tonalidade, transformando o acompanhamento

pianístico extremamente simples e despojado

numa sumptuosa vestimenta orquestral, à imagem

das suas aberturas ou sinfonias. Mas, ao contrário

das suas obras mais emblemáticas, caracterizadas

pelo dramatismo exacerbado e o gigantismo dos

recursos, estas canções são íntimas e são tratadas

com grande subtileza. Nelas podemos encontrar

características típicas de Berlioz: melodias de longo

fôlego, frases de extensão irregular, intensidade

lírica, clareza da textura, o gosto pelo balanço

do compasso 6/8. É evidente o cuidado que o

compositor põe na caracterização musical da

atmosfera geral do poema, ou seja, há uma menor

preocupação em musicar a palavra do que em

interpretar musicalmente o sentido do poema. No

seu conjunto, estas canções não foram pensadas

como um ciclo, com uma linha narrativa ou

uma clara continuidade musical. Formam antes

uma antologia, unida pelo mesmo poeta, pela

temática semelhante e por uma certa atmosfera

musical delicada e subtil. O facto é que, ao decidir

orquestrá-las como uma coleção, Berlioz acabou

por criar uma nova forma musical, o ciclo de

canções orquestrais, que no final do século XIX

seria retomada por Mahler e outros. Os poemas

de Gauthier, extraídos da recolha La comédie de

la mort, cantam o amor, a primavera, a morte da

amada, a ausência, a viagem.

1. Villanelle: Berlioz abre o ciclo com uma canção

popular que evoca a chegada da primavera e do

amor. O poema evoca um casal de jovens que

passeia pelos bosques, colhendo morangos, e volta

para casa de mãos dadas. O carácter é fresco e

alegre, a contrastar com a atmosfera mais sombria

das canções seguintes.

2. Le Spectre de la rose: fala de uma jovem que vê

em sonhos o espectro da rosa que levou ao baile

na noite anterior. É uma das melhores canções da

recolha. As três estrofes do poema são variadas

de modo a formarem uma progressão e uma

continuidade dramáticas. Berlioz cria uma longa

e sumptuosa melodia que muda de carácter

consoante as alusões do poema, até atingir o

clímax. A orquestração é magnífica: os tremolos

das cordas e os arpejos da harpa surgem uma

única vez, para evocar a ascensão da rosa ao

paraíso.

3. Sur les lagunes: é o lamento dilacerante de um

barqueiro que chora a morte da sua amada. É a

única canção do ciclo notada em modo menor.

O ritmo de barcarola com o motivo repetido no

acompanhamento sugere o balanço do barco na

água. No fim, o grito desolado do barqueiro («Ah,

sans amour s’en aller sur la mer!») fica a ecoar

na vastidão do mar e a canção termina com uma

dissonância não resolvida.

4. Absence: como a canção anterior, também

evoca a dor da separação: o poeta implora o

regresso da amada ausente. A forma é estrófica

com refrão.

5. Au cimitière, Clair de lune: o amante enlutado é

visitado pela aparição fantasmática da amada.

6. L’Île inconnue: movimento de barcarola. O

poema é um convite à viagem, evocando uma ilha

desconhecida onde o amor é eterno. O carácter é

ligeiro, de ironia desiludida.

10 D E Z E U S A VA R O U FA K I S

Nuno Côrte-Real, compositor e maestroNascido em Lisboa em 1971, Nuno Côrte-Real

tem vindo a afirmar-se como um dos mais

importantes compositores e maestros portugueses

da atualidade. Das suas estreias destacam-se 7

Dances to the death of the harpist, na Kleine Zaal

do Concertgebouw, em Amesterdão, Pequenas

músicas de mar, na Purcell Room, em Londres,

Concerto Vedras na St. Peter’s Episcopal Church,

em Nova Iorque, e Novíssimo Cancioneiro,

no Siglufirdi Festival, em Reiquejavique. Dos

agrupamentos que têm tocado a sua música

destacam-se a Orquestra Sinfónica Portuguesa,

Coro do Teatro Nacional de São Carlos, Coro e

Orquestra Gulbenkian, Orquestra Metropolitana de

Lisboa, Remix Ensemble, Royal Scottish Academy

Brass, Orchestrutopica, e solistas e maestros como

Lawrence Renes, Julia Jones, Stefan Asbury, Ilan

Volkov, Kaasper de Roo, Cristoph Konig, David

Alan Miller, Paul Crossley, John Wallace, Mats

Lidström, Paulo Lourenço e Cesário Costa.

No mundo cénico, Nuno Côrte-Real trabalhou

com, entre outros, Michael Hampe, Pedro Cabrita

Reis, Maria Emília Correia, Victor Hugo Pontes,

André e. Teodósio, João Henriques, Rui Lopes

Graça, Paulo Matos e Margarida Bettencourt.

Como maestro, Nuno Côrte-Real tem dirigido

regularmente orquestras como a Orquestra

Sinfónica Portuguesa, Mahler Chamber Orchestra,

Orquesta Ciudad Granada, Real Filharmonía de

Galicia, Orquesta de Extremadura, Orquestra

Fundación Excelentia, Orquestra Metropolitana de

Lisboa, Orquestra do Norte, Orquestra do Algarve,

Orquestra Filarmonia das Beiras, Orchestrutopica. É

fundador e diretor artístico do Ensemble Darcos e

assina a Temporada Darcos.

Elisabete Matos, sopranoNasceu em Caldas das Taipas, Portugal. Estudou

canto e violino no Conservatório de Música

de Braga. Depois da sua estreia na Ópera de

Hamburgo como Alice Ford (Falstaff, de Verdi)

e Donna Elvira (Don Giovanni, de Mozart),

participou, em 1997, na inauguração do Teatro

Real de Madrid, interpretando Marigaila na estreia

mundial da ópera Divinas Palabras, de Antón García

Abril, ao lado de Plácido Domingo. Imediatamente

é convidada por Plácido Domingo para se estrear no

papel de Dolly na Washington Opera, numa nova

produção de Sly, de Wolf-Ferrari, com José Carreras

como protagonista. Após o seu grande sucesso

como Minnie (La Fanciulla del West, de Puccini) na

Metropolitan Opera House de Nova Iorque, voltou

em 2012 no papel de Abigaille e em 2013 como

Tosca, papel que interpretou recentemente no

Festival Internacional de Daegu (Coreia do Sul) com

a Ópera de Salerno, dirigida pelo maestro Daniel

Oren. Foi galardoada com um Grammy em 2000

pela gravação do papel titular de La Dolores, de

Bretón, com Plácido Domingo, para a Decca.

Elisabete Matos recebeu a condecoração de Oficial

da Ordem do Infante D. Henrique pelo então

Presidente da República, Jorge Sampaio, e foi

condecorada Grande-Oficial da Ordem do Infante

D. Henrique pelo Presidente da República Aníbal

Cavaco Silva.

É detentora da Medalha de Mérito Artístico,

outorgada pela Secretaria de Estado da Cultura.

Orquesta Sinfónica de Castilla y LeónA Orquesta Sinfónica de Castilla y León (OSCyL)

foi criada em 1991 pela Junta de Castilla y León,

e tem a sua sede, desde 2007, no Centro Cultural

Miguel Delibes, em Valladolid. O seu primeiro

maestro foi Max Bragado-Darman e, após este

período inicial, Alejandro Posada tomou posse

da gestão por sete anos, até a chegada de Lionel

Bringuier, que permaneceu no cargo até junho

de 2012. Desde 2016 tem o maestro britânico

Andrew Gourlay como titular. Além disso, a

OSCyL ainda tem o maestro Jesús López Cobos

como diretor emérito e Eliahu Inbal como principal

maestro convidado. Ao longo de mais de duas

décadas, a OSCyL deu centenas de concertos com

maestros e solistas como Semyon Bychkov, Rafael

Frühbeck de Burgos, Gianandrea Noseda, Masaaki

Suzuki, Ton Koopman, Josep Pons, David Afkham

ou Leopold Hager; cantores como Ian Bostridge,

Angela Denoke, Juan Diego Flórez, Magdalena

Kozena, Leo Nucci, Renée Fleming e Angela

Gheorghiu; e músicos como Daniel Barenboim,

Vilde Frang, Xavier de Maistre, Emmanuel Pahud,

Gordan Nikolic, Viktoria Mullova, Hilary Hahn e

Mischa Maisky, entre outros. Durante os seus 27

anos de existência, a OSCyL fez grandes estreias e

várias gravações para a Deutsche Grammophon,

Bis, Naxos, Trito ou Verso entre outras. A OSCyL

tem realizado digressões na Europa e nos EUA,

tendo, inclusivamente, tocado no Carnegie Hall,

em Nova Iorque.

AP

OIO

S

INS

TIT

UC

ION

AIS

PA

TR

OC

INA

DO

R

HO

TE

L O

FIC

IAL

AP

OIO

CALL IOPE ENSE IGNE LA MUSIQUE AU JEUNE ORPHÉE (1865) , AUGUSTE ALEXANDRE HIRSCH (1833-1912)FONTE: WIK IMEDIA COMMONS

12 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 13

Ó P E R A

Elektra Coprodução CCB/Opart

Leo Hussain direção musicalNicola Raab encenaçãoNuno Meira desenho de luz

Coro do Teatro Nacional de São CarlosGiovanni Andreoli maestro titularOrquestra Sinfónica PortuguesaJoana Carneiro maestrina titular

Elektra Nadja MichaelChrysotemisAllison OakesKlytämnestra Lioba BraunOreste James RutherfordAegisth Marco Alves dos SantosO Percetor de OresteMário RedondoConfidente Sónia AlcobaçaVelho servo Rui BaetaJovem servo João TerleiraVigilante Patrícia QuintaCriadasMaria Luísa de FreitasCátia MoresoPaula DóriaCarla SimõesFilipa van Eck

1.4.7 FEVGrande AuditórioDias 1 e 7 às 20h dia 4 às 16hM/6

P R O G R A M A

Richard Strauss (1864-1949) Elektra ÓPERA EM UM ATO, LIBRETO DE HUGO VON HOFMANNSTHAL (1874-1929) SEGUNDO SÓFOCLES

ELEKTRA INTERPRETADA POR NADJA MICHAEL

Elektra, de Richard Strauss (1864-1949), é, decerto,

o momento culminante – em termos de audácia

– de um dos compositores que mais contribuíram

para a modernidade do século XX.

Em 1909, quando Elektra se estreia em Dresden,

Strauss está a poucos meses de completar 45

anos e, embora já tenha atrás de si obras que

sujeitam a linguagem tonal a abusos pontuais,

em Elektra atinge níveis de audácia harmónica,

orquestral, vocal e dramatúrgica que chocaram,

e ainda hoje chocam, a audiência. O próprio

Strauss virar-se-á, logo de seguida (1911), para a

sedução e classicismo mozartianos da ópera Der

Rosenkavalier, afastando-se assim, em definitivo,

das tentações modernistas.

Colaborando pela primeira vez com Hugo von

Hofmannsthal (1874-1929), Strauss retoma, depois

de Salome, à Antiguidade Clássica como palco

para uma das tragédias mais difíceis de enfrentar

pelo que esta nos sugere sobre as nossas paixões

mais escandalosas: um pai que sacrifica uma das

filhas, uma esposa e o amante que assassinam o

marido desta, uma outra filha, Elektra, que, por

amar demais o pai – «complexo de Elektra»? – o

vinga através da morte da mãe (às mãos do irmão

também querido), acabando, ela própria, por

morrer. A «assinatura» musical deste conflito

é o «Acorde de Elektra», sobre o qual grande

parte da estrutura musical reside, e que consiste

na sobreposição de dois acordes que chocam

violentamente entre si: Mi maior e Ré bemol maior.

A ação é dominada pela figura de Elektra que,

entrando em cena ao fim de apenas seis minutos,

nela se mantém até ao fim, lutando com uma

orquestra colossal, ambos dominando a ópera

numa espécie de grande monólogo dramático

que só aumenta a sensação obsessiva que o

enredo propicia.

Neste aspeto, e só neste, Elektra pode ser

entendida – a posteriori – como epifania dos

conflitos políticos e sociais reprimidos que

resultarão na violência inaudita – esta sim, bem

real – da Primeira Guerra Mundial.

Notas ao programaSÉRGIO AZEVEDO

[...] Neste aspeto, e só neste, Elektra pode ser entendida – a posteriori – como epifania dos conflitos políticos e sociais reprimidos que resultarão na violência inaudita – esta sim, bem real – da Primeira Guerra Mundial.

14 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 15

M Ú S I C A D E C Â M A R A

Grandes Heroínas da Antiguidade Clássica Quintas às 7 Coprodução CCB/Antena 2

Sandra Medeiros soprano Francisco Sassetti piano

8 FEVSala Luís de Freitas Branco 19h / M/6

P R O G R A M A

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)

Zeffiretti lusinghieri (DA ÓPERA IDOMENEO, PERSONAGEM ILIA)

Idol mio se ritroso (DA ÓPERA IDOMENEO, PERSONAGEM ELECTRA)

Tutto nel cor vi sento (DA ÓPERA IDOMENEO, PERSONAGEM ELECTRA)

Henry Purcell (1659-1695) Thy hand Belinda…When I am laid (DA ÓPERA DIDO & AENEAS, PERSONAGEM DIDO)

George Frideric Handel (1685-1759) Endless pleasure (DA ÓPERA SEMELE, PERSONAGEM SEMELE)

Christoph Willibald v. Gluck (1714-1787) T’inganni… Va coll’amata in seno (DA ÓPERA PARIDE ED ELENA, PERSONAGEM PALLADE)

Lo temei…Lo potrò! (DA ÓPERA PARIDE ED ELENA, PERSONAGEM ELENA)

Mais d’ou vient qu’il persiste…Fortune ennemie (DA ÓPERA ORFEO ED EURIDICE, PERSONAGEM EURÍDICE)

António Leal Moreira (1758-1819)Ah! Cangiar non può d’affetto (DA ÓPERA GLI EROI SPARTANI, PERSONAGEM ISMENE)

Jerónimo Francisco de Lima (1743-1822)Rabia, furor, dispetto...Dal furor dall’odio accesa (DA ÓPERA TESEO, PERSONAGEM MEDEIA)

A ópera nasce num período de grande fervor com

os assuntos da antiguidade. Essa antiguidade

clássica redescoberta serve de modelo à

arquitetura, à pintura e à música. Os temas

recorrentes são ora bíblicos, ora mitológicos. Não

será pois de estranhar que quando Monteverdi

e os seus contemporâneos decidem pôr em

prática um novo género, que faz a fusão entre a

palavra declamada e a música, elejam os mitos

da antiguidade como tema, em particular o mito

de Orfeu. De L’Orfeu, de Monteverdi (1607), às

óperas de Gluck e de Mozart, são várias as óperas

que se inspiram nas histórias da Grécia Antiga. A

música abraça, assim, personagens como Eurídice,

Proserpina, Penélope, Alceste, Medeia, Dido, Juno,

Efigénia, Clitemnestra, Helena, Atena, Ártemis, Ília

e Electra. Estas são apenas algumas das grandes

personagens femininas que marcariam o repertório

da ópera durante os seus primeiros duzentos anos.

Assim, no âmbito de uma temporada dedicada

à Grécia, foi lançado o desafio à soprano Sandra

Medeiros para preparar um recital com algumas

destas personagens que tem levado aos principais

palcos de todo o mundo.

Notas ao programa THE MEET ING OF D IDO AND AENEAS , NATHANIEL DANCE-HOLLAND (1735-1811) , TATE BR ITA IN ( LONDRES, RE INO UNIDO)FONTE: WIK IMEDIA COMMONS

16 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 17

Sandra Medeiros, sopranoNasceu em S. Miguel, nos Açores, e estudou

no Conservatório Regional de Ponta Delgada,

com Imaculada Pacheco. É licenciada em Canto

pela Escola Superior de Música de Lisboa tendo

integrado a classe da professora Joana Silva.

Como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian e

do Centro Nacional de Cultura prosseguiu estudos

de pós-graduação em canto na Royal Academy of

Music (RAM), em Londres.

A sua atividade como solista distribui-se pela

música antiga, oratório, lied, melodie, canção

dos séculos XX/XXI e ópera, tendo atuado sob a

direção de ilustres maestros, tais como Michael

Corboz, Lawrence Foster, Marc Minkowski,

Philippe Herreweghe, Sir Charles Mackerras,

Laurence Cummings, Enrico Onofri, Olivier

Cuendet, Dennis Russel Davies, Gunter Newhold,

Jose Ramon Encinar, Giancarlo De Lorenzo, entre

outros. Também atuou com as mais destacadas

orquestras e grupos de música antiga portugueses,

nomeadamente Os Músicos do Tejo e Divino

Sospiro, e com as orquestras Barroca da RAM,

Camerata Lysy de Gstaad, Sinfonia Varsóvia e com

o grupo L’Avventura London.

Tem-se apresentado, também, em Macau,

Espanha, França, Luxemburgo, Alemanha,

Inglaterra, Bulgária, Brasil e Uruguai.

Paralelamente à sua atividade artística, tem vindo a

desenvolver atividade pedagógica. Presentemente

integra o corpo docente da Escola do

Conservatório Regional de Évora – Eborae Musica,

como professora das classes de canto e coro.

Francisco Sassetti, pianoNatural de Lisboa, iniciou os seus estudos musicais

com Maria Fernanda Costa.

Concluiu o Curso Geral de Piano do Conservatório

Nacional de Lisboa na classe de piano de Dinorah

Leitão, e a Escola Superior de Música de Lisboa,

na classe da pianista Tânia Achot. Ingressou no

College Conservatory of Music da Universidade

de Cincinnatti (EUA) onde obteve, em 1995, o

Mestrado em Piano Performance na classe de

Eugene Pridonoff.

Realizou ainda estudos com Olga Prats, Marie

Antoinette Levécque de Freitas Branco, Franck

Weinstock, Sequeira Costa, Dmitri Papemo e

Olivier Jacquon.

Iniciou a carreira de concertista no São Luiz Teatro

Municipal, em Lisboa, em 1988. Já atuou um

pouco por todo o país e, ainda, em Espanha,

Alemanha, França, Bélgica, EUA e Uruguai.

Gravou com a cantora alemã Ute Lemper para

o filme francês Aurelien. Apresentou-se com a

Orquestra Sinfonietta de Lisboa, Filarmonia das

Beiras, e ainda com o Coro do Teatro Nacional de

São Carlos, Coral Regina Coeli, Coral Luísa Todi,

Lisboa Cantat, Coro da Universidade de Lisboa e

Coro Públia Hortênsia, entre muitos outros.

Dirigiu com Helena Vieira o coro Jovens Vozes de

Lisboa, em 2011 e 2012, para o qual escreveu o

musical Muxima, com encenação de Rita Ribeiro

e coreografia de Kelly Maiolle, que contou com a

participação de Bernardo Sassetti.

Desde 1997 integra o corpo docente da Escola

Superior de Música de Lisboa, como pianista

acompanhador, e é ainda pianista acompanhador

na Escola Profissional de Música da Orquestra

Metropolitana de Lisboa.

T E AT R O

Oresteia Coprodução CCB/HomemBala

Ésquilo autorTónan Quito direção

17 A 24 FEV dias 17.19.21.22.23.24às 21h e dia 18 às 16hPequeno AuditórioM/12

Versão e dramaturgiaMiguel Castro Caldas(a presente versão teve como base a tradução de Manuel de Oliveira Pulquério e de José Pedro Moreira (Agamémnon) e foram consultadas as traduções e versões de Robert Fagles, Ted Hughs, Tony Harrison e Pier Paolo Pasolini)

InterpretaçãoCláudia GaiolasFrancisco CamachoIsabel AbreuMiguel BorgesTónan QuitoVera Mantero

Projeto financiado pela República Portuguesa/DGartes

CenografiaF. Ribeiro Desenho de luzDaniel WormFigurinos José António TenenteMúsica Dead ComboDesenho de somPedro CostaAssistência de encenaçãoOtelo LapaApoioO Espaço do Tempo

©BRUNO S IMAO

Consultadoria artísticaPatrícia Costa

18 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 19

Clitemnestra matou o seu marido Agamémnon

porque este sacrificou a filha para obter ventos

favoráveis na expedição militar contra Troia.

Orestes, filho dos dois, mata a mãe para vingar

o pai. Então, no plano dos deuses, as Irínias

vingadoras exigem que se castigue Orestes pelo

matricídio. Mas Orestes considera-se inocente,

porque matou a mãe com o patrocínio de Apolo.

Era legítimo vingar o pai. Isto seria uma história

de violência e de vinganças sangrentas que nunca

mais acaba se não viesse a deusa Atena instituir

um tribunal, no qual participam deuses e os

humanos são os jurados. As Irínias contra Orestes.

O tribunal dá Orestes por inocente porque afinal

é preciso pôr um fim nesta bola de neve. E pela

persuasão, as Irínias são acolhidas na cidade,

transformadas em Euménides. Trata-se aqui do

triunfo do direito da polis sobre o direito familiar,

ou seja, discute-se, literalmente, a politização do

direito. A afirmação de que o interesse da cidade

prevalece sobre o interesse do clã. Este é o início

da ideia de haver uma mesma lei para todos, e

de haver na cidade uma assembleia popular que

delibera sobre a lei. No plano religioso, aborda-se o

lento processo civilizacional que vai da supremacia

dos deuses telúricos e terríficos que exigiam

vinganças sangrentas, aos erros de cálculo dos

homens ao triunfo das divindades mais solares e

mais racionais, que convocam tribunais nos quais

os jurados são mortais.

Oresteia é a única trilogia trágica a chegar até nós

completa, composta pelas peças Agamémnon,

Coéforas e Euménides. Foi representada pela

primeira vez no festival das Dionísias Urbanas,

em 458 a.C., vencendo o primeiro prémio da

competição trágica.

Sinopse

Falar sem véus é uma metáfora para falar

directamente, sem rodeios, sem pudor, sem

enigmas. Em suma, é uma metáfora para falar

sem metáforas. É dizer exactamente a verdade

que se está a ver. Mas se fossemos até às

últimas consequências, falar sem véus seria uma

metáfora para falar sem linguagem, porque a

própria linguagem já é em si uma dificuldade para

comunicar a verdade de uma visão. E é esse o caso

aqui. Cassandra, a mulher que tem o dom de ver

a verdade do futuro e do passado chega à entrada

do palácio dos Atridas e vê literalmente os terríveis

crimes que se deram ali em gerações passadas.

Tiestes dormiu com a mulher de Atreu, e este, para

se vingar, matou os filhos daquele, e ofereceu-lhos

assados num banquete em sua honra. Tiestes

comeu os próprios filhos, sem se aperceber, sem ver

que aquele assado eram os filhos, saboreando-os.

São estes os terríveis crimes do pai de Agamémnon

e do pai de Egisto. Cassandra tem a visão destes

acontecimentos, e vai contá-la «agora sem véus»,

diante do palácio:

«Deste tecto aqui nunca se afasta um coro

que canta em uníssono mas sem harmonia –

pois não diz boas palavras.

E agora que, para maior ousadia, bebeu

sangue humano, o grupo da pândega

permanece na casa,

difícil de expulsar, as Erínias geradas na família.

«Agora falo-vos sem véus»MIGUEL CASTRO CALDAS*

Cantam o seu canto, instaladas na casa,

a loucura primeira; uma a seguir à outra

cospem de desdém

pelo leito do irmão, funesto para aquele que

o pisou.»

(TRADUÇÃO DE JOSÉ PEDRO MOREIRA)

Ou seja, a promessa de falar sem véus não se

cumpre, o que Cassandra diz que vê está repleto

de alegorias, de vocabulário denso e de sintaxe

intricada. Camadas e camadas de véus. Palavras,

palavras, palavras. Mas as palavras é que fazem a

realidade, porque a visão em si, só Cassandra tem

acesso, mais ninguém.

A dificuldade de fazer uma versão cénica da

Oresteia está, portanto, em oferecer o texto sem

lhe retirar a força poética nem a complexidade

alegórica de Ésquilo que remete para assuntos e

enredos que o espectador grego do séc. V a.C.

conhecia de ginjeira.

Outra possibilidade seria seguir a linha de Heiner

Müller: colocar o texto em cima do palco como se

fosse um corpo selvagem, indomável e ininteligível,

sem ser traduzido nem interpretado. Mas no caso

da Agamémnon, Coéforas e Euménides seria um

contrassenso fútil, porque a Oresteia é ela própria

uma tentativa (aliás, vitoriosa) de domar, trazer e

traduzir esse corpo selvagem, telúrico, perigoso e

vingativo à esfera da Pólis. Por outro lado também

não me parece profícuo o exercício de actualização

do texto a uma qualquer realidade histórica que

pudesse ser a minha (sei lá eu, que ainda estou

vivo, qual é a realidade histórica da minha época),

por exemplo, pensar a Oresteia do ponto de vista

do antropoceno. Talvez se possa fazer essa leitura,

mas é melhor que cada um a faça na sua cabeça,

sem ser preciso forçar as palavras. Mas o contrário

também não, tentar encontrar a genuína Grécia

do tempo da Oresteia, ou os genuínos deuses do

Olimpo. Seria uma empresa votada ao fracasso.

Em vez disso, esta versão tenta ser um gesto, à

semelhança do de Cassandra, de contar sem véus

aos seus contemporâneos o que vê. E o que vê

é uma pluralidade de traduções e versões que

nos foram chegando ao longo dos tempos para

várias línguas de um texto cuja fixação apresenta

também diferentes edições críticas na tentativa de

se aproximar do original perdido.

* O AUTOR ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA

[...] porque a Oresteia é ela própria uma tentativa (aliás, vitoriosa) de domar, trazer e traduzir esse corpo selvagem,

telúrico, perigoso e vingativo à esfera da Pólis. [...]

20 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 21

Cláudia Gaiolas É intérprete, criadora. Foi cofundadora do Teatro

Praga. Tem trabalhado com diversas companhias

e criadores, como assistente de encenação,

intérprete e criadora, dos quais destaca: Mundo

Perfeito, Mala Voadora, Truta, Má-Criação, Teatro

Meia Volta e Depois À Esquerda Quando Eu Disser,

Teatro da Garagem, e ainda António Mercado,

André Murraças, Joaquim Horta, Madalena

Victorino, Jean-Pierre Larroche, Rui Horta, Clara

Andermatt, Martim Pedroso, Àgnes Limbos,

Dinarte Branco e Guilherme Garrido. Encenou

os espetáculos A partir de amanhã e a Mulher

que Parou com texto de Tiago Rodrigues; para o

Festival Materiais Diversos encenou Os Terroristas

e criou os espetáculos Solo Doméstico e Não sou

só eu aqui. Leciona, desde 2001, um programa de

iniciação teatral na Academia de Música de St.ª

Cecília.

Dead Combo São Tó Trips e Pedro Gonçalves que encarnam

duas personagens que poderiam ter saído de uma

BD: um gato-pingado e um gangster. Formaram-se

em 2003, a convite de Henrique Amaro, da rádio

Antena 3, para a gravação de uma faixa, Paredes

Ambience, incluída no CD de homenagem ao

génio da guitarra portuguesa Carlos Paredes,

Movimentos Perpétuos – Música para Carlos

Paredes. Desde então já editaram cinco álbuns

de estúdio que receberam os maiores elogios da

crítica especializada. Vol.1, Vol.2 – Quando a Alma

não é Pequena e Lisboa Mulata foram galardoados

por várias publicações como disco do ano.

Lusitânia Playboys, o terceiro disco, foi eleito pelo

semanário Expresso como disco da década e como

um dos mais importantes discos dos últimos trinta

anos. A banda foi destaque no episódio sobre

Lisboa do programa televisivo norte-americano

No Reservations, de Anthony Bourdain. Três dos

cinco álbuns do grupo entraram para o top 10 do

iTunes norte-americano. Em 2016, duas músicas do

grupo integraram a banda sonora do filme norte-

-americano Focus, com Will Smith e Margot Robbie.

Miguel Castro Caldas Escreve para a cena e para o papel, traduz e dá

aulas de dramaturgia na licenciatura de Teatro

na Escola Superior de Artes e Design. Trabalhou

em teatro com Bruno Bravo, Jorge Silva Melo,

Gonçalo Waddington, Miguel Loureiro, António

Simão, Tiago Rodrigues, Teresa Sobral, Raquel

Castro, Pedro Gil, Lígia Soares, Gonçalo Amorim,

Rute Rocha, entre outros. Alguns dos seus textos

estão publicados na coleção Livrinhos de Teatro

dos Artistas Unidos, na editora Ambar, na Douda

Correria, na Mariposa Azual, na Culturgest, na

Primeiros Sintomas, e nas revistas Artistas Unidos,

Fatal e Blimunda. Traduziu Samuel Beckett, Harold

Pinter, Ali Smith, William Maxwell, Joyce Carol

Oates, Salman Rushdie, Senel Paz, entre outros.

Recebeu, em 2006, uma Menção Honrosa da

Associação de Críticos de Teatro pelo trabalho

de escrita dramática desenvolvido em 2005. Em

2017, foi distinguido com o prémio da SPA para

melhor texto representado em 2016, com Se eu

Vivesse tu Morrias, e foi nomeado no mesmo ano

e no mesmo evento para o mesmo prémio com o

espetáculo Terreno Selvagem.

F. RibeiroNasceu em Lisboa, em 1976. Iniciou a sua

formação artística na área da Pintura, com

Alexandre Gomes, em 1992, tendo completado o

Bacharelato em Realização Plástica do Espetáculo

(1998) e a Licenciatura em Design de Cena (2008)

na ESTC. Concluiu igualmente o curso de Pintura

da Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa

e o curso de Ilustração da Fundação Calouste

Gulbenkian. Na área do teatro, concebeu espaços

cénicos para Adriano Luz, Ana Luísa Guimarães,

Andrzej Sadowski, António Durães, António

Feio, António Fonseca, Carla Maciel, Cláudia

Gaiolas, Denis Bernard, Dinarte Branco, Gonçalo

Waddington, Inês Barahona, John Romão, José

Pedro Gomes, José Wallenstein, Manuela Pedroso,

Marcos Barbosa, Maria João Luís, Marina Nabais,

Miguel Fragata, Natália Luiza, Nuno Cardoso, Nuno

M Cardoso, Pedro Carraca, Rita Blanco, Paula

Diogo, Rogério Nuno Costa, Sara Carinhas, Tiago

Rodrigues e Tónan Quito e Victor Hugo Pontes.

Em março de 2015 recebeu a menção honrosa

pela APC de teatro.

José António TenenteApós ter iniciado a sua formação em arquitetura,

José António Tenente enveredou pela moda,

revelando, em 1986, a sua primeira coleção. O

universo da marca estende-se a vários projetos:

TENENTE escrita, TENENTE eyewear, Amor Perfeito

— perfume e perfumaria de casa. Em 2009, viu

editado um livro, JAT — Traços de União, sobre o

seu trabalho. Em 2010, comissariou a exposição

Assinado por Tenente no MUDE, em Lisboa.

Com um trabalho reconhecido e galardoado,

José António Tenente dedica atualmente a maior

parte do seu trabalho à criação de figurinos

para espetáculos. Tem trabalhado com diversos

encenadores e coreógrafos tais como Beatriz

Batarda, Carlos Avilez, Carlos Pimenta, Lúcia

Sigalho, Maria Emília Correia, Pedro Gil, Tónan

Quito, Benvindo Fonseca, Clara Andermatt, Paulo

Ribeiro, Rui Lopes Graça e Rui Horta.

Pedro CostaTem formação técnica em Som (Restart), Sound

System Design and Optimization (Meyer Sound

Labs), Captação e gravação de som com José

Fortes e Direção Técnica para salas de espetáculo

(Culturgest). A sua atividade divide-se entre

espetáculos de teatro, dança, performance, música

e cinema. Colaborou com diversos criadores,

entre os quais se destacam: Jorge Silva Melo,

João Brites, José Neves, Rui Horta, Ana Borralho

e João Galante, Renato Godinho, Rita Natálio,

Pedro Gil, Tónan Quito, Mirró Pereira, João Mota,

Elmano Sancho, Raquel Castro, João Grosso,

Fernanda Lapa, Filipa Matta, Miguel Moreira, Tiago

Rodrigues. Em 2007, integra a equipa de som do

Teatro Nacional D. Maria II, onde exerce atividade

até à data presente. No cinema fez som para

Miguel Carranca (Guimarães Capital da Cultura

2012), Pedro Gil, Gonçalo Amorim, Raquel Belchior

e Maria Joana.

22 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 23

Isabel AbreuÉ licenciada em teatro pela ESTC. Foi dirigida

por encenadores como Marco Martins, Tiago

Guedes, Tiago Rodrigues, Nuno Cardoso, Ana

Luísa Guimarães, Rui Mendes, João Mota, entre

muitos outros. Destaca-se a cocriação com a

companhia belga TG Stan. Além do seu percurso

premiado como atriz de teatro (já premiada com o

Globo de Ouro da SIC e nos prémios da Sociedade

Portuguesa de Autores), também ganhou

notoriedade e reconhecimento pelo seu trabalho

em televisão e cinema. Em 2015, foi premiada na

categoria de Melhor Atriz de Cinema Português

pelos Caminhos do Cinema Português. Entre as

várias distinções, foi também nomeada para o

prémio de Melhor Atriz no Festival de Televisão de

Monte Carlo, pela sua interpretação na minissérie

Noite Sangrenta. Em cinema, trabalhou com

realizadores como Sandro Aguilar, Tiago Guedes e

Frederico Serra, Mariana Gaivão, entre outros.

Miguel BorgesConcluiu o Curso de Formação de Atores, na ESTC.

Iniciou-se em teatro nos Netos do Metropolitano

e nas Marionetas de Lisboa. Posteriormente,

trabalhou com o Teatro da Cornucópia (sob a

direção de Miguel Guilherme, Stephan Stroux

e Luís Miguel Cintra), no projeto Olho (com

João Garcia Miguel), Depois da Uma – Teatro?,

Sensurround (direção de Lúcia Sigalho) e Artistas

Unidos (com Jorge Silva Melo, Joana Bárcia,

Américo Silva, Cláudio da Silva, João Fiadeiro e

António Simão). No cinema trabalhou com os

realizadores Teresa Villaverde, Edgar Pêra, João

Pinto, Florence Strauss, Tiago Guedes e Frederico

Serra, Manuel Mozos, José de Sá Caetano, Leonel

Vieira e João César Monteiro. Ganhou o prémio

Sophia para melhor ator 2017.

Francisco CamachoDesde 1988, os seus espetáculos têm sido

apresentados em diversos países europeus,

americanos, asiáticos e africanos. Membro

fundador e codirector artístico da EIRA, coreógrafo

e bailarino, foi galardoado em 1994/1995 com

o Prémio ACARTE/ Maria Madalena de Azeredo

Perdigão da Fundação Calouste Gulbenkian. Em

1995 e 1997 com o Prémio Bordalo da Casa

da Imprensa, na área da Dança. Coreografou e

interpretou vários solos. Dirigiu várias peças de

grupo, designadamente Primeiro Nome: Le (prémio

ACARTE 1994/95), Dom São Sebastião, RIP e

ANDIAMO!. Desenvolveu os projetos Performers

Anónimos e Danças Privadas para espaços

não-convencionais. Apresentou espetáculos em

coautoria com as coreógrafas Mónica Lapa, Vera

Mantero, Carlota Lagido, Vera Mota e Aldara

Bizarro. Dançou com Meg Stuart / Damaged

Goods, Alain Platel / les ballets C de la B, Paula

Massano e Carlota Lagido. Estudou dança, teatro

e voz em Portugal e em Nova Iorque, no Merce

Cunningham Dance Studio.

Tónan QuitoLicenciado em Formação de Atores/Encenadores

pela Escola Superior de Teatro e Cinema. Começou

o seu percurso como ator no 4.º Período – O do

Prazer, dirigido por António Fonseca. Trabalhou

com Luís Miguel Cintra, António Pires, Luís Assis,

Joaquim Horta, Christine Laurent, Lúcia Sigalho,

Paula Diogo, Nuno Cardoso, Carlos J. Pessoa,

Nuno M Cardoso, António Catalano, João Mota,

Tiago Rodrigues, Jorge Andrade, Patrícia Portela,

Fernando Gomes, Pedro Gil, João Garcia Miguel,

Marina Nabais, Giacomo Scalisi, Maria João

Luís, Gonçalo Waddington, Tiago Guedes e Alex

Cassals.

Foi cofundador da Truta, onde dirigiu Ivanov, de

Anton Tchekov, Histórias do Bosque de Viena, de

Ödön von Horváth, e Anatol, de Arthur Schnitzler.

Cocriou com Tiago Rodrigues Entrelinhas, texto do

mesmo; e com Pedro Gil Fausta, de Patrícia Portela.

Fundou a HomemBala com Patrícia Costa, em

2015, e dirigiu Um Inimigo do Povo, de Henrik

Ibsen, e Ricardo III de William Shakespeare.

Dirigiu ainda Sonho de uma Noite de Verão, de

W. Shakespeare, para a Companhia Maior.

No cinema teve pequenas participações em filmes

de Miguel Angél Vivas, Inês Oliveira, Jorge Silva

Melo, Simão Cayatte, Jacinto Lucas Pires e Manuel

Mozos.

Vera Mantero Estudou dança clássica com Anna Mascolo e

integrou o Ballet Gulbenkian entre 1984 e 1989.

Tornou-se um dos nomes centrais da Nova

Dança Portuguesa, tendo iniciado a sua carreira

coreográfica em 1987 e mostrado o seu trabalho

por toda a Europa, Argentina, Brasil, Canadá,

Coreia do Sul, EUA e Singapura. Desde 2000

dedica-se também ao trabalho de voz, cantando

repertório de vários autores e cocriando projetos

de música experimental. Em 1999 a Culturgest

organizou uma retrospetiva do seu trabalho até

à data, intitulada Mês de Março, Mês de Vera.

Representou Portugal na 26.ª Bienal de São Paulo

2004, com Comer o Coração, criado em parceria

com Rui Chafes. Em 2002 foi-lhe atribuído o

Prémio Almada (IPAE/Ministério da Cultura) e em

2009 o Prémio Gulbenkian Arte pela sua carreira

como criadora e intérprete.

24 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 25

D A N Ç A

The Great Tamer (O Grande Domador) Produção CCB

Conceção e direção Dimitris Papaioannou

Com Pavlina Andriopoulou, Costas Chrysafidis, Ektor Liatsos, Ioannis Michos, Evangelia Randou, Kalliopi Simou, Drossos Skotis, Christos Strinopoulos, Yorgos Tsiantoulas, Alex Vangelis

2 E 3 MAR Grande Auditório21h / M/16

Cenografia e direção de arte em colaboração com Tina TzokaColaboração artística para os figurinos Aggelos MendisDesenho de luz em colaboração com Evina VassilakopoulouColaboração artística para o som Giwrgos PouliosDesenho e operação de som Kostas MicholouposMúsica Johann Strauss IIAn der schönen blauen Donau, op. 314Adaptação musical Stephano Droussiotis Design de escultura Nectarios Dionysatos Pintura de figurinos e adereços Maria IliaProdutora criativa executiva e assistente de direção Tina Papanikolaou Assistente de direção Stephanos Droussiotis Assistente de direção e ensaiadora Pavlina AndriopoulouDireção técnica Manolis Vitsaxakis Direção de cena Dinos Nikolaou Engenheiro assistente de som Nikos Kollias

Assistente do cenógrafo e do pintor de cenários Mary AntonopoulouAssistentes do escultor Maria Papaioannou Konstantinos KotsisAssistente de produção Tzela ChristopoulouManager da digressão e relações internacionais Julian MommertAssistente executivo de produção Kali Kavvatha

Produção Onassis Cultural Centre – AtenasCoprodução CULTURESCAPES Greece 2017 (Suíça), Dansens Hus Sweden (Suécia), EdM Productions, Festival d’Avignon (França), Fondazione Campania dei Festival – Napoli Teatro Festival Italia (Itália), Les Théâtres de la Ville de Luxembourg (Luxemburgo), National Performing Arts Center-National Theater & Concert Hall | NPAC-NTCH (Taiwan), Seoul Performing Arts Festival | SPAF (Coreia do Sul), Théâtre de la Ville – Paris / La Villette – Paris (França)Produtor Executivo 2WORKSCom o apoio de Alpha Bank e Megaron - The Athens Concert HallPatrocinador de transporte aéreo AEGEAN Airlines

Há muito que os festivais têm estado à espera de

alguém como ele. Dimitris Papaioannou renasce

como a Fénix. Não das cinzas, mas da Grécia, a

suposta terra-de-ninguém da cena contemporânea.

O fundador do Edafos Dance Theatre e [criador]

das cerimónias olímpicas de Atenas 2004 vai ter,

não sem razão, a honra de criar uma nova peça

para o Tanztheater Wuppertal Pina Bausch em

maio de 2018. É um filósofo visual que lida com as

questões fundamentais da vida, da existência e da

existência humana. E esboça imagens surreais, com

uma elevada capacidade de síntese que confunde

os nossos sentidos. Deste modo, Papaioannou

cria numa só peça tantas experiências de epifania

quantas foram conseguidas por outros coreógrafos

numa década. Desmantela objetos e corpos para

recompô-los como um Picasso. Vira-os do avesso,

porque fazê-lo é simplesmente mais honesto. O

artista da ilusão Papaioannou pode deixar braços,

pernas e torsos moverem-se separadamente

no palco, ou criar uma pessoa quando vários

atores contribuem com um braço, uma perna

ou um torso. Todos se tornam marionetistas do

seu próprio corpo-parcial e interpretam Bunraku

[(teatro de marionetas japonês do seculo XVII)]

com o seu próprio corpo. Com Still Life (Natureza

Morta) Papaioannou apareceu nos grandes

palcos em 2014. The Great Tamer (O Grande

Domador), a sua nova produção, vem confirmar

agora aquilo que o público já tinha antevisto na

produção anterior: há um trabalho completo, uma

caligrafia, que é tão autêntica e pessoal quanto

imediatamente compreensível – porque confronta

as origens da filosofia europeia com o sentimento

da vida de hoje. Papaioannou combina o formato

grande ecrã de Pina Bausch com a exploração do

absurdo de Josef Nadj. Em O Grande Domador

existe uma maquinaria invisível para efeitos

especiais e mudanças de perspetiva, que revela

o abismo do inconsciente. Até então, só com

The Great Tamer (O Grande Domador) THOMAS HAHN*

©JUL IAN MOMMERT

26 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 27

Philippe Genty tínhamos visto tamanha capacidade

de síntese. Mas Papaioannou não copia. Vai

buscar as suas ideias diretamente às raízes da

sua própria cultura e aos seus estudos em dança

contemporânea e [dança] Butô.

Raízes na cultura não-orçamentadaDesde 1986, Papaioannou cria teatro. Estava

ainda a estudar na Escola de Belas Artes em

Atenas quando se tornou membro do círculo de

ocupantes. O seu primeiro grupo foi fundado

numa casa devoluta ocupada perto da academia.

«Mas a afirmação de que eu também lá vivi é um

mal-entendido. Em parte, fui um ‘ocupa’, [sim,]

mas noutro lugar. É verdade que lancei as minhas

raízes na cultura não-orçamentada. Transformámos

o piso térreo num pequeno teatro com as nossas

próprias mãos. Durante dez anos interpretámos as

nossas peças, com um núcleo de cinco pessoas. O

dinheiro não era importante para nós, queríamos

só fazer as nossas coisas. Mas também fomos

aparecendo gradualmente em teatros mais

oficiais, alguns dos quais até eram subsidiados.»

Chamámos a esse grupo Edafos Dance Theater

(Teatro de Dança Edafos), com o nome da terra,

que também voa em The Great Tamer no palco,

escavada do chão, escura e seca como cinzas

vulcânicas.

Para Still Life, Papaioannou usou apenas algum

plástico, fumo, gesso e um colchão. O fumo

enche o filme projetado em arco para baixo e

transforma-o num céu paradoxal, que se afunda

devagar na direção dos habitantes da terra. «O que

é engraçado é que nós o detemos com as nossas

pás, o que, ao mesmo tempo, nos serve para irmos

cavando as nossas sepulturas», afirma o autor,

com o ar de quem está a divertir-se. O facto de ele

não ter sido visto fora do seu país natal durante

muito tempo, tem também razões materiais. «As

minhas produções e encenações anteriores eram

simplesmente demasiadas para podermos encetar

uma digressão.»

É claro que Papaioannou despertou a curiosidade

quando encenou as cerimónias de abertura e

fecho dos Jogos Olímpicos de Atenas em 2004.

Ele até já tinha desmantelado a sua companhia,

Edafos, e tinha desaparecido de cena durante anos

para se dedicar ao projeto gigantesco com 8 000

intérpretes. As coreografias daquelas [cerimónias]

nada tinham em comum com o seu próprio

trabalho de encenação, porque Papaioannou não

se foca nas massas. Para essas, mobilizou outros

coreógrafos. Ele era o responsável pelo conceito.

Aqueles surgem a um nível puramente visual. Há

sempre uma imagem no início. Em vez de escrever,

ele está constantemente a fazer desenhos. A partir

das improvisações com os intérpretes, que ele

escolhe através da sua própria intuição, emergem

novos esboços que ele transforma em palco e vai

compondo devagar num grande todo. Só a um

mês da estreia é que ficou pronto para prestar

declarações sobre os conteúdos, o tema, o título,

ou a duração da nova peça, explicou. Tal como

aqui: The Great Tamer não é um herói antigo

ou um novo Grande Ditador à la Chaplin, mas o

humano enquanto tal, na tempestade das suas

próprias energias e instintos.

Olímpia como o ponto de partida da criseOs primeiros passos de Papaioannou como artista

foram dados no desenho, e até hoje ele pinta

e fotografa para além do seu trabalho como

encenador. O que também o liga a Josef Nadj.

Contudo, Atenas era [uma cidade] particularmente

liberal na década de 1980. Papaioannou fez

ilustrações para revistas da cena gay. E hoje? Ele

não revela tudo. «O que eu mostro às pessoas é

apenas uma parte da minha criatividade. A posição

do grão visual é, para mim, uma necessidade.»

Mas, precisamente, o modo como retrata o corpo

masculino em palco é extremamente sensível e

influenciado pela escultura da Antiguidade e pela

pintura do Renascimento. São envolvidas muitas

divindades, motivos de Botticelli a Rembrandt, de

El Greco a Magritte.

Na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de

2004 ele invocou Apolo, e, na de encerramento,

Dioniso. Hoje, o seu trabalho ainda vai buscar

inspiração à pesquisa realizada para esta

megaprodução, apesar do olhar crítico com que

encara as suas próprias origens. «É claro que

tive muita sorte ao conseguir aceitar tamanho

desafio e resumir o que o meu país significa

para mim. Pessoalmente, foi como que uma

libertação.» As Olimpíadas foram o momento

a partir do qual se deu o percurso descendente

da Grécia, com o seu sistema financeiro e o

seu desempenho económico, seguidos por um

corte no financiamento da cultura? «Os Jogos

Olímpicos foram como que o gatilho da crise, mas

as raízes desta são muito mais profundas, estão

assentes na corrupção e no mau funcionamento

da política e da organização estatal. A Grécia

teve de pedir emprestado cada vez mais dinheiro.

Por fim, ocorreu uma reação em cadeia. Acima

de tudo, porém, nós ainda não sabemos como é

que a máquina pode voltar a tornar-se funcional

e racional. A Olímpia foi um efeito de ilusão final

e um grande insuflador de ego para o país. Mas a

ideia de que um país possa ser anfitrião de jogos

tão caros é caricata. Deixem-nos pôr o desporto no

centro das atenções da Olímpia!» Neste sentido,

Papaioannou queria, com as suas imagens de cena

tecnicamente mais simples, dar um sinal claro

perante a crise.

Circo absurdoO artista não questiona, de modo algum, o facto

de, ao mesmo tempo, ter obtido um bom lucro.

De todas as vezes [anteriores] ele tinha conseguido

encontrar fundos suficientes para uma produção

agendada. Quem mais pode alegar tê-lo feito

na Grécia? «O número de atores que posso usar

depende do orçamento [de que disponho].» Se

é essa a proporção, atualmente é impeditiva.

Papaioannou já não é uma companhia no sentido

artístico do termo, mas fundou uma empresa de

produção, a 2Works. E a empresa não conhece

a crise. Um grande camião está estacionado por

detrás do teatro La FabricA, em Avignon, para

descarregar o cenário de The Great Tamer: um

deserto lunar cinzento-negro feito de painéis de

madeira rígidos e de borracha flexíveis. Sobre

ele e entre aqueles, cruzam-se onze pessoas,

cujos corpos parecem, às vezes, ser feitos de

aço, e, outras [vezes] ser feitos de borracha,

coexistindo. Atualmente o realizador tem dinheiro

suficiente para se sustentar. Assim, coloca um

alter ego absoluto em palco, no papel que ele

próprio interpretou em Still Life: uma espécie de

protagonista, que permanece imóvel no prólogo,

uma estátua, que tem o público ao alcance do

olhar. Então o homem retira-se em silêncio e vira

uma chapa escura, que agora serve de toalha de

praia. Mas o banho de sol transforma-se num

funeral, sob um pano mortuário tão leve que

é afastado sem esforço pela deslocação de ar

causada por uma laje em queda. Uma cena que

interpretam vezes sem conta, como num ritual –

uma imagem que nos persegue nos nossos sonhos.

Um outro motivo recorrente: dois homens,

dispostos um sobre o outro, que dançam uma

valsa horizontal ao som de Johann Strauss.

Mais adiante, a peça joga com o nosso medo

de que outro buraco na terra possa engolir-

nos. Papaioannou chama às suas peças «o circo

absurdo», ou a sua versão sonhada. O ponto de

partida das fantasias e dos pesadelos em The Great

Tamer foi o suicídio de um adolescente. Perseguido

pelos seus falsos amigos, escavou um buraco na

terra para si próprio. As composições paradoxais,

perturbadoras e surreais são como distorções desse

trauma. É também uma metáfora da presente

situação na Grécia, tal como em Still Life. Mas

o coreógrafo só está satisfeito com o seguinte:

«A chamada arte política é arte reduzida. Eu não

gosto disso. Mas é inevitável que a arte, que está

ligada ao seu tempo, também intervenha no plano

político. As minhas peças contêm uma lista de

perguntas pessoais que eu formulo acerca da vida.

Está claro que essas perguntas também afetam o

meu país, o seu presente e a sua história. Não se

trata de comentários, mas do reflexo da atmosfera

em que temos vivido nestes últimos anos.»

*TEXTO ORIGINALMENTE PUBL ICADO NA REVISTA TANZ. DER THEATER VERLAG, 2017. TRADUÇÃO DE HELENA GUBERNATIS

28 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 29

Dimitris Papaioannou Nascido em Atenas, em 1964, e tendo um

percurso profundamente enraizado nas belas artes,

Dimitirs Papaioannou foi desde cedo reconhecido

pelo seu trabalho como pintor e autor de banda

desenhada, antes de passar a concentrar-se nas

artes performativas como encenador, coreógrafo,

intérprete e designer de cenários, figurinos e luz.

Em 1986 fundou o Edafos Dance Theatrer, como

veículo para as suas próprias produções de palco,

híbridos de teatro físico, dança experimental e

performance. A companhia Edafos durou 17 anos,

até 2002, e teve uma marca indelével na cena

artística grega. Papaioannou tornou-se conhecido

em 2004, como criador das Cerimónias de

Abertura e de Encerramento dos Jogos Olímpicos

de Atenas. As suas 23 produções abrangem desde

peças mais íntimas até espetáculos de massas

que envolvem milhares de intérpretes, tendo

sido apresentadas numa grande variedade de

salas, desde o célebre teatro que o próprio criou

numa casa ocupada em Atenas até ao antigo

Teatro de Epidauro, passando pelos estádios

Olímpicos, pelo Théâtre de la Ville, em Paris, e

pelo Teatro Olimpico, em Vicenza. Entre 2015 e

2017 andou em digressão na Europa, América do

Sul, Ásia e Austrália com dois dos seus trabalhos

mais recentes, Still Life (2014) e Primal Matter

(2012). Em 2017 criou o seu primeiro trabalho

cocomissariado a nível internacional, The Great

Tamer, que estreou em maio de 2017, em Atenas.

DIMITR IS PAPAIOANNOU ©JUL IAN MOMMERT

M Ú S I C A D E C Â M A R A

Syrinx ou o Encantamento Grego Produção CCB

DSCH – Schostakovich EnsembleFilipe Pinto-Ribeiro piano e direção artísticaAngelica Cathariou meio-sopranoEmily Beynon flautaRosa Maria Barrantes piano

4 MAR Pequeno Auditório17h / M/6

PAN ET SYR INX (C . 1636) , PETER PAUL RUBENS (1577–1640) , MUSÉE BONNAT EM BAYONNE ( FRANÇA)

FONTE: WIK IMEDIA COMMONS

30 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 31

CLAUDE DEBUSSY (1862-1918)

SyrinxEscrita em Novembro de 1913 para uma cena do

drama em verso Psyché, de Gabriel Mourey, ela

teve por título original La flûte de Pan. É dedicada

a Louis Fleury, que a estreou num concerto

doméstico, a 1 de Dezembro de 1913. Muito breve

e muito bela, ela ilustra a capacidade de Debussy

de gerar arcos melódicos e ambientes poéticos a

partir de simples arabescos, quase meras vibrações,

espelhando o deleite nocturno experimentado pelas

ninfas, seduzidas pelo som da flauta do deus Pã.

6 Épigraphes AntiquesEstas breves peças para piano a quatro mãos

reutilizam cerca de metade do material escrito

por Debussy 14 anos antes como música de cena

para as Chansons de Bilitis, de Pierre Louÿs, mas

aqui sujeito à linguagem do Debussy da plena

maturidade. Elas datam de Julho de 1914 e

estrearam em Genebra, a 2 de Novembro de 1916,

por Marie Panthès e Roger Steimetz. Musicalmente,

Debussy reutiliza na 6.ª peça material da 1.ª, num

processo semelhante ao de Beethoven no ciclo de

6 canções À bem-amada distante. Ouviremos neste

recital as n.º 1, n.º 4 e n.º 6.

Notas ao programaBERNARDO MARIANO*

Danseuses de DelphesEste é o 1.º Prelúdio do I Livro de Prelúdios. Data

de 7 de Dezembro de 1909 e estreou-o o próprio

autor a 25 de Maio de 1910, junto com outros

3 Prelúdios. Trata-se de uma sarabanda (dança

lenta, grave e solene), em Si bemol maior. Apesar

do título sugerir movimento, a música nega-o por

completo, tal o hieratismo. Ela organiza-se numa

parte A (com 2 segmentos) e numa B, regressando

breve reminiscência de A para concluir. Domina

a pentatonia e o tratamento de sonoridades e

ressonâncias com valor motívico.

Prelúdio à sesta de um faunoUma das mais famosas obras de Debussy, esta

partitura orquestral (versão original) teve longa

gestação: entre 1891 e 1894. Foi a posteriori

considerada como a certidão de nascimento da

música moderna, já que utilizando linguagem e

processos que se subtraem às regras da harmonia

romântica todo-dominante e de matriz germânica,

de que a França se tentava libertar nessa época.

A estreia ocorreu a 22 de Dezembro de 1894, em

Paris, sob a direcção de Gustave Doret.

Destaque para a flauta, à qual cabe o inesquecível

solo inicial, com o motivo que será recorrente.

Uma obra pastoral, onírica, sensual, cálida

e «mediterrânica», mas matematicamente

controlada, já que rigorosamente regida pela

secção áurea.

Canções de BilitisDatadas de 1897-98, elas tomam três textos da

colectânea Chansons de Bilitis de Pierre Louÿs, de

1894, fruto típico da Belle Époque. Estrearam em

Março de 1900, na Sala Pleyel, por Blanche Morot,

com o compositor ao piano. O ambiente «grego»

– sereno, sensual, onírico e evasivo – é criado pelo

tratamento do piano, uso de modalismos, ritmo

harmónico e atenção à prosódia. A 3.ª canção,

de texto marcadamente diferente, reforçado

pelos ostinati do piano, explora terrenos mais

dramáticos, mas a conclusão do piano pacifica e

unifica o todo.

MAURICE RAVEL (1875-1937)

5 Melodias Populares GregasRavel escreveu primeiro 5 canções, em 1904, sobre

textos gregos traduzidos por Michel Calvocoressi

para ilustrar uma conferência de um amigo seu,

e cerca de dois anos depois comporia outras três.

O que hoje conhecemos sob o presente título são

essas três canções, a que Ravel juntou duas do

quinteto de 1904 (n.ºs 3 e 4 na ordem final).

Apresentam caracteres muito diversificados: a n.º

1 é uma serenata, a n.º 2 é toda ela contemplativa

e fúnebre, a 3.ª é cheia de garbo masculino, a

4.ª é plena de encantamento ante a beleza e a

5.ª é a mais extrovertida. A estreia do conjunto

ocorreu no quadro de duas conferências-recital de

Calvocoressi durante a temporada 1905-06.

DMITRI SHOSTAKOVITCH (1906-75)

4 Canções GregasSituadas entre o 5.º Quarteto de cordas e a

10.ª Sinfonia, estas canções constituem uma

homenagem aos heróis da resistência grega, em

concreto, ao movimento comunista ELAS (Exército

de Libertação do Povo Grego) – do qual foi

partisan Iánnis Xenákis – quer durante a II Guerra,

quer depois, na Guerra Civil Grega (1945-49). As

1.ª e 4.ª são mesmo canções da guerrilha, ao passo

que as 2.ª e 3.ª são canções tradicionais (a 2.ª de

Creta), ligadas à resistência histórica dos gregos ao

secular domínio Otomano. Elas foram estreadas em

1991, em França, pelo tenor Aleksandr Naumenko.

ANDRÉ CAPLET (1878-1925)

Viens! Une flûte invisible soupireDatada de 1900, é a canção mais antiga que se

conhece de Caplet. A versão com flauta apareceu

só em 1924. O poema de Hugo apresenta 3

quadras, cujo 2.º dístico tem função de refrão.

Caplet varia o acompanhamento do piano de

estrofe para estrofe, assim como a interacção

da flauta com a voz. O último dístico, corolário

da mensagem poética, é preparado por uma

suspensão. Com o amours final da voz, a flauta

reentra e conclui com o piano, em suma suavidade.

P R O G R A M A

I PA R T E

Claude Debussy (1862-1918) Syrinx, para flauta solo; Danseuses de Delphes, para piano solo (DO PRIMEIRO LIVRO DE PRELÚDIOS); 3 Chansons de Bilitis, para meio-soprano e piano1. La flûte de Pan / 2. La Chevelure / 3. Le Tombeau des naïades

André Caplet (1878-1925) Viens! Une flûte invisible soupire, para meio-soprano, flauta e pianoMaurice Ravel (1875-1937) 5 Melodias Populares Gregas1. Chanson de la mariée / 2. Là-bas, vers l’église / 3. Quel galant m’est comparable / 4. Chanson des cueilleuses de lentisques / 5. Tout gai!

I I PA R T E

Claude Debussy (1862-1918) Prélude à l’après midi d’un Faune, versão para flauta e piano; 3 Epígrafes Antigas, para piano a quatro mãos (DAS 6 EPÍGRAFES ANTIGAS)

1. Pour invoquer Pan, dieu du vent d’été / 2. Pour la danseuse aux crotales / 3. Pour remercier la pluie du matin

Camille Saint-Saëns (1835-1921) Une flûte invisible, para meio-soprano, flauta e pianoDmitri Schostakovich (1906-1975) 4 Canções Gregas, para meio-soprano e piano1.V Period! / 2. Penthosalis / 3. Zolongo (canção popular) / 4. Hellas

32 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 33

Filipe Pinto-Ribeiro, piano e direção artísticaUm dos músicos portugueses de maior prestígio

nacional e internacional, Filipe Pinto-Ribeiro

é considerado um «poeta do piano» e as

suas interpretações musicais, caracterizadas

por profunda emoção e intelectualidade, são

reconhecidas como ímpares pelo público e

pela crítica especializada. Nasceu no Porto e,

após estudos em diversos países, foi discípulo

de L. Roshchina no Conservatório Tchaikovski

de Moscovo, onde se doutorou com as mais

elevadas classificações em 2000. É frequentemente

convidado como solista pelas principais orquestras

portuguesas e de outros países, como Rússia,

Espanha, Cuba, Eslováquia, Arménia ou Bélgica,

tendo colaborado com os maestros J. Nelson, D.

Liss, E. Pomàrico, M. Agrest, C. Olivieri-Munroe,

R. Gökmen, M. Tardue e M. Rachlevsky, entre

outros. Apaixonado pela música de câmara,

tem-se apresentado em parceria com alguns dos

maiores nomes do panorama internacional, como

R. Capuçon, G. Hoffman, B. Schmid, L. Tomter,

M. Portal, J. Liebeck, C. Poltéra, C. Cerovsek, P.

Moraguès, E. Nebolsin, G.Caussé, A. Brendel,

A. Samuil e J. van Dam. É fundador e diretor

artístico do DSCH – Schostakovich Ensemble. O seu

último álbum, Piano Seasons, gravado em França

para a Paraty, foi distribuído mundialmente pela

Harmonia Mundi. É frequentemente solicitado

como diretor de vários projetos, destacando-se

atualmente Festival Verão Clássico – Academia

Internacional de Música de Lisboa. Foi Professor

durante a última década em algumas universidades

portuguesas e orienta frequentemente

masterclasses, em Portugal e no estrangeiro.

É Steinway Artist.

Angelica Cathariou, meio-soprano A meio-soprano grega Angelica Cathariou recebeu

os seus diplomas em canto e solista de piano,

concedidos unanimemente com distinção pelo

Conservatório Athenaeum-Maria Callas. Enquanto

bolseira da Fundação Onassis, prosseguiu os seus

estudos em Itália, sob a orientação de Arrigo Pola

e Renata Scotto, bem como no Reino Unido, onde

concluiu o seu Doutoramento em Música. Angelica

canta um variado repertório de obras sinfónicas e

operáticas – Eurípides, de Peri, Carmen, de Bizet,

Falstaff, de Verdi, Trouble in Tahiti, de Bernstein,

Phaedra e Beggar’s Opera, de Britten, Sinfonia

n.º 9, de Beethoven, e Requiem, de Mozart –

em salas como o Carnegie Hall de Nova Iorque,

Concertgebouw, Opéra National du Rhin, Megaron

Athens Concert Hall, Freiburg’s Konzerthaus,

Budapest Spring Festival, Festival de Marseille,

Ferrara Festival e Festival de la Roque d’Anthéron.

É também intérprete de música contemporânea,

onde se destaca em Le marteau sans Maître, de

Boulez, Pierrot Lunares, de Schoenberg, ou Stabat

Mater, de Pärt. Enquanto solista, atuou sob a

direção musical de Claudio Abbado, Theodore

Antoniou, Steuart Bedford, Vassilis Christopoulos,

Roland Hayrabedian, Jan Latham-Koenig, com

várias orquestras, como a Orquestra Estatal de

Atenas, Orchestre Philarmonique de Strasbourg,

Mahler Chamber Orchestra, I Pomeriggi Musicali.

A sua discografia inclui a estreia mundial de 16

melodias, de N. Skalkottas (BIS), El Amor Brujo,

de De Falla, Messe Es-Dur, de Schubert, obras

de M. Adamis (Naxos), bem como a música de

Alexandre Desplat para o filme 11’9”01 – New

York September 11.

CAMILLE SAINT-SAËNS (1835-1921)

Une flûte invisibleA versão de Saint-Saëns do poema de Victor Hugo

data de 1885, podendo ter sido uma homenagem

ao grande poeta, falecido em Maio desse ano.

Ambiente calmo, repousado num tratamento

estrófico, piano sempre presente e cabendo

à flauta prelúdio (com um arabesco que será

recorrente), interlúdios modulantes e poslúdio,

além de breve diálogo com a voz na 3.ª estrofe.

*O AUTOR ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA

Emily Beynon, flautaConsiderada uma das importantes flautistas da

atualidade, Emily Beynon é 1.ª Flauta Solo da

Royal Concertgebouw Orchestra de Amesterdão.

Nascida no País de Gales, Emily Beynon começou

os seus estudos de flauta no Royal College of

Music com Margaret Ogonovsky, antes de estudar

com William Bennett na Royal Academy e com

Alain Marion em Paris. Emily apresentou-se

como solista com grandes orquestras, como a

Royal Concertgebouw Orchestra, Philharmonia

Orchestra, Orquestras da BBC, NHK Symphony,

Orquestras de Câmara de Viena, Praga, Países

Baixos e Inglesa, e a Academy of St. Martin-

-in-the-Fields. No âmbito da música de câmara,

colabora regularmente com a sua irmã, a harpista

Catherine Beynon, e com o pianista Andrew

West. Também já tocou com o Nash Ensemble,

Skampa Quartet, Steven Isserlis, Dame Felicity

Lott, Jean-Yves Tibaudet, Kungsbacka Trio e

Brodsky Quartet. Emily Beynon é uma protagonista

entusiasta da música contemporânea e teve várias

obras recentes compostas para si por alguns dos

principais compositores do Reino Unido: John

Woolrich, Sally Beamish, Jonathan Dove, Errollyn

Wallen e Roxanna Panufnik. Em 2008, a Universal

Edition lançou um livro de obras contemporâneas

intitulado Flute Project: new pieces for flute

solo, no qual Emily colaborou com Matthieu

Dufour (Chicago Symphony), Kazushi Saito

(Tokyo Philharmonic) e Emmanuel Pahud (Berlin

Philharmonic). Emily Beynon é uma professora

apaixonada e dedicada e é regularmente convidada

para lecionar masterclasses em todo o mundo. Em

2009 criou a Netherlands Flute Academy.

ANGEL ICA CATHARIOU

34 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 35

DSCH – SCHOSTAKOVICH ENSEMBLEDireção artística de Filipe Pinto-RibeiroO DSCH – Schostakovich Ensemble é um projeto

português de dimensão internacional, sedeado

em Lisboa, sob a direção artística do pianista Filipe

Pinto-Ribeiro. Agrupamento musical de geometria

variável, constitui uma plataforma de encontro e

interação de músicos de excelência no panorama

internacional. Foi criado por Filipe Pinto-Ribeiro

em 2006, ano do centenário do nascimento do

compositor Dmitri Schostakovich, a quem deve o

nome. Aborda um vasto repertório que integra

obras de compositores de diversas épocas e estilos

musicais, de Bach a Schumann, de Mozart a

Messiaen, de Haydn a Webern, de Brahms a Ravel,

de Beethoven a Dvořák, incluindo contemporâneos,

como Sofia Gubaidulina, com a qual o ensemble

estabeleceu uma estreita colaboração. Desde a

sua estreia, o Schostakovich Ensemble apresentou

concertos de norte a sul de Portugal e em países

como Espanha, França, Bélgica, Alemanha, Estónia,

Suécia ou Rússia. Ao longo da primeira década de

existência, o Schostakovich Ensemble tem contado

com a participação de músicos de excelência como

Corey Cerovsek, Renaud Capuçon, Benjamin

Schmid, Jack Liebeck, Isabel Charisius, Gérard

Caussé, Adrian Brendel, Christian Poltéra, Gary

Hoffman, Kyril Zlotnikov, Pascal Moraguès,

Michel Portal, José van Dam, Anna Samuil e Eldar

Nebolsin. 2018 marca o início da discografia do

Schostakovich Ensemble, com a primeira gravação

mundial da integral de música de câmara para

piano e cordas de Dmitri Schostakovich, num CD

com a chancela da Paraty e distribuição mundial da

Harmonia Mundi.

Rosa Maria Barrantes, pianoA pianista luso-peruana Rosa Maria Barrantes

nasceu em Lima, Peru, onde iniciou os estudos

de piano e, desde muito cedo, se apresentou

em diversas salas de concerto. Estudou no

Conservatório Tchaikovski de Moscovo, sob a

orientação da Professora Natalia Troull, tendo

concluído com as mais altas classificações o

doutoramento em Performance Musical – Piano.

Em Moscovo, estudou ainda Música de Câmara

com Alexander Bakhchiev. Anteriormente,

graduou-se na Pontifícia Universidade Católica do

Chile, concluindo com distinção a Licenciatura em

Música – Piano, na classe de Maria Iris Radrigán.

Como solista ou integrada em agrupamentos

de música de câmara, tem atuado em vários

países europeus e americanos, participando

frequentemente em festivais internacionais de

música e colaborando com músicos como Filipe

Pinto-Ribeiro, Anna Samuil, Marcelo Nisinman,

Ramón Ortega Quero, Tatiana Samouil, Natalia

Tchitch, Yuri Kissin, Lara Martins, Tiago Pinto-

Ribeiro, Justus Grimm, Zlata Rubinova, Chen

Halevi, entre outros. Colabora frequentemente

com o DSCH – Schostakovich Ensemble e tocou

recentemente como solista com a Orquestra

Camerata Romeo, em Cuba. Gravou um CD em

duo com Filipe Pinto-Ribeiro, interpretando obras

de Gabriel Fauré, Erik Satie, Claude Debussy,

Francis Poulenc e Maurice Ravel (Numérica 1119).

Rosa Maria Barrantes foi Professora de Piano e

Música de Câmara na Licenciatura em Música

do Instituto Piaget, em Almada. Atualmente,

é docente de Piano e Música de Câmara no

Conservatório Metropolitano e na Escola

Profissional Metropolitana, em Lisboa.

M Ú S I C A

Orquestra de Câmara Portuguesa Produção CCB

Pedro Carneiro direção musical e percussão*

11 MAR Grande Auditório17h / M/6

P R O G R A M A

Wofgang Amadeus Mozart (1756-1791) Abertura de Idomeneu, Rei De CretaIánnis Xenákis (1922-2001) Psappha *Ludwig van Beethoven (1770-1827) As Criaturas de Prometeu, op. 43

CHAINED PROMETHEUS, JACQUES DE L ’ANGE (1630-1650)FONTE: WIK IMEDIA COMMONS

36 D E Z E U S A VA R O U FA K I S

Um dos aspetos mais fascinantes do fenómeno

musical é a capacidade que tem para relacionar-se com

ideias e narrativas sem dispor da representação

simbólica. Esta carência, ao invés de se traduzir

numa limitação, acrescenta-lhe qualidades que

afetam profundamente a nossa experiência de

vida, quer sentimental quer intelectual. Assim,

é possível associar à música estados de alma,

expressão de afetos, estórias, mitos, crenças,

referenciais políticos, identidades sociais, e até a

dinâmica própria das ações. Apesar de a criação

artística ter uma aparência etérea, é com estas

realidades que dialoga, seja como fonte de

inspiração, como propósito para intervir, ou de

tantas outras maneiras. Este programa reúne

três composições que espelham esta diversidade,

mas converge na evocação de imaginários que

reportam à Grécia Antiga.

Estreada em 1781, a ópera de Mozart Idomeneu,

rei de Creta resultou de uma encomenda do

Príncipe-Eleitor de Munique e está baseada no

mito de Idomeneu, o qual se lê na Odisseia de

Homero. Idomeneu, quando regressava da Guerra

de Tróia, enfrentou com as suas tropas uma terrível

tempestade. Prometeu então ao Deus do Mar que,

caso sobrevivesse, mataria o primeiro homem que

encontrasse em terra. Ao deparar com o seu filho,

viu-se incapaz de cumprir a promessa e despertou

a vingança divina. A abertura instrumental da

ópera antecipa o ambiente trágico da ação. Tem

início com uma introdução lenta, seguida de rasgos

orquestrais intensos e um tema melódico que

aponta à expectativa de três horas de espetáculo.

Beethoven compôs a música do bailado As

Criaturas de Prometeu poucos anos mais tarde, em

1800. Da coreografia de Salvatore Viganò não

nos chegou registo. Mas conhece-se o libreto,

baseado no mito de Prometeu, o Titã que pegou

no barro e criou o Homem à semelhança dos

deuses, dando-lhe vida com a alma dos animais. A

deusa Atena concedeu-lhe o Espírito, e o próprio

Prometeu encarregou-se do Conhecimento. Faltava

o Fogo, que tinha sido negado à Humanidade

por Zeus. Este zangou-se quando Prometeu lho

roubou, e determinou vingança. Mandou construir

a estátua de uma jovem muito bela e chamou-lhe

Pandora, aquela que possuiu todos os dons… e

uma caixa cheia de maldições. Pandora desceu à

terra, e a Humanidade, que não conhecia a doença

ou o sofrimento, passou a sujeitar-se à perversão

da existência. Entretanto, a caixa fechou-se

antes que dela saísse a única graça que trazia, a

Esperança. Zeus castigou Prometeu acorrentando-o

ao cume do monte Cáucaso. Aí, todos os dias um

abutre devorava-lhe o fígado, o qual sempre se

regenerava. Hércules acabaria por libertá-lo. Com

tal enredo, adivinhava-se música plena de vigor

e excessos expressivos. Surpreende, no entanto,

com uma fluência discursiva que contraria o

estereótipo do artista atormentado e irreverente

que associamos a Beethoven.

Pelo meio, revisitamos a música de um compositor

de origem grega, mas que ainda viveu no nosso

século. Xenákis compôs Psappha em 1975, e

também ele recuou no tempo, até ao século VII

a.C. A palavra «Psappha» é a versão arcaica do

nome de Safo, a poetisa grega nascida na ilha de

Lesbos, referência histórica da homossexualidade

feminina. A inspiração decorre, todavia, dos padrões

rítmicos característicos da sua poesia. Trabalhadas

em diferentes escalas, estabelecem-se analogias

estruturais numa partitura com sonoridades

acutilantes. Está escrita para seis grupos de

instrumentos, três de pele esticada ou de madeira

e três metalofones. Ao intérprete, confia-se uma

importante margem de liberdade, já que os timbres

servem, acima de tudo, a inteligibilidade rítmica da

composição.

Notas ao programa RUI CAMPOS LEITÃO

Pedro Carneiro, direção musical e percussãoÉ cofundador, diretor artístico e maestro titular

da Orquestra de Câmara Portuguesa e da

Jovem Orquestra Portuguesa. Considerado pela

crítica internacional um dos mais importantes

percussionistas e dos mais originais músicos

da atualidade, toca, dirige, compõe e leciona.

Estudou piano, trompete e violoncelo, foi bolseiro

da Fundação Calouste Gulbenkian na Guildhall

School, em Londres, em percussão e Direção

de Orquestra. Seguiu os cursos de Direção de

Emilio Pomàrico, na Accademia Internazionale

della Musica de Milão. Em colaboração com

a Companhia Nacional de Bailado, dirigiu a

Orquestra de Câmara Portuguesa, na produção

Giselle, e a Orquestra Sinfónica Portuguesa, na

produção A Bela Adormecida. Enquanto solista,

colabora com algumas das mais prestigiadas

orquestras internacionais como Los Angeles

Philharmonic, a BBC National Orchestra of Wales,

Vienna Chamber Orchestra, sob a direção de

maestros como Gustavo Dudamel, Oliver Knussen,

John Neschling ou Christian Lindberg.

Pedro Carneiro é solista/diretor com diversas

orquestras nacionais, como a Orquestra

Gulbenkian, Orquestra Sinfónica Portuguesa, e

internacionais, como a Orquestra Sinfónica da

Estónia, e no Round Top Festival, no Texas, EUA.

É professor convidado do Zeltzman Festival,

colabora regularmente com o realizador João

Viana e com o encenador Jorge Silva, enquanto

compositor. Recebeu vários prémios, destacando-se

o Prémio Gulbenkian Arte 2011.

Orquestra de Câmara PortuguesaA direção artística da OCP é assegurada por Pedro

Carneiro, que lidera a mais recente e virtuosa

geração de instrumentistas de Portugal. O Centro

Cultural de Belém acolheu a OCP, primeiro como

Orquestra Associada, e entre 2008 e 2015 como

Orquestra em Residência. A OCP fez o Concerto

Inaugural das temporadas CCB 2007/08, logo na

sua estreia, e em 2010/11. A presença nos Dias

da Música em Belém é uma constante, abrindo

espaço a novos solistas como: Pedro Lopes, Ricardo

Gaspar, Miguel Costa ou Tamila Kharambura; e

maestros, Jan Wierzba, José Gomes, Pedro Amaral,

Pedro Neves, Luís Carvalho e Alberto Roque. A

OCP já trabalhou com os compositores Emmanuel

Nunes e Sofia Gubaidulina, e tocou com solistas

internacionais como Jorge Moyano, Cristina Ortiz,

Sergio Tiempo, Gary Hoffman, Carlos Alves,

Heinrich Schiff, Thomas Zehetmair, António Rosado,

Artur Pizarro, Filipe-Pinto Ribeiro, entre outros.

A internacionalização deu-se em 2010, no City of

London Festival, com 4 estrelas no The Times.

A OCP já atuou em Almada, Castelo Branco, Lisboa,

Portimão, Vila Viçosa; em festivais em Alcobaça,

Coimbra, Leiria, Paços de Brandão e Setúbal; no

Festival ao Largo e no ciclo Música nos Mosteiros,

em Alcobaça, Batalha, Jerónimos e Convento

de Cristo. A OCP tem por visão tornar-se numa

das melhores orquestras do mundo, afirmando-

se como um projeto de cidadania proactiva

contribuindo para uma sociedade inclusiva, através

da sua credibilidade artística, pertinência social e

cultural. A OCP é pioneira em modelos de ação

estratégica, com os programas de promoção Social

e Pedagógica: Jovem Orquestra Portuguesa, a

OCPsolidária e OCPdois.P

AR

CE

IRO

S

JOP

P

AR

CE

IRO

S

OC

PS

OL

IDÁ

RIA

PA

TR

OC

INA

DO

R

OC

PS

OL

IDÁ

RIA

N

A C

ER

CIO

EIR

AS

PA

RC

EIR

OS

IN

ST

ITU

CIO

NA

IS

PA

RC

EIR

OS

D

E S

ET

OR

ME

DIA

AP

OIO

38 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 39

F Á B R I C A D A S A R T E SPA R A T O D A S A S I N F Â N C I A S

Poeta, um cidadão do mundo E S P E TÁ C U L O D E P O E S I A , T E AT R O E M Ú S I C A

Ana Sofia Paiva criação, dramaturgia e interpretação Marco Oliveira música, espaço acústico e apoio à dramaturgiaUma encomenda CCB/Fábrica das Artes

22 A 28 JANEspaço Fábrica das Artesdias 22 a 26 às 10h30,dia 27 às 11h30 e dia 28 às 15h30Duração: 45 minutosM/8

A palavra poesia vem do grego antigo e significa

fazer. Poesia... é acção. Ser poeta é fazer,

criar, pensar, construir um mundo novo. Este

espectáculo é um ponto de encontro para mudar

o mundo; um convite para uma grande assembleia

de poetas livres, criadores de vida, que se reunirão

para semear ideias, palavras e tomar as decisões

mais importantes para o futuro da humanidade.

O mundo acaba sempre por fazer o que sonharam os poetas.AGOSTINHO DA SILVA IN CONVERSAÇÃO COM DIOTIMA

Inspirados na definição platónica de poesia, unem-se

dois poetas que partilham distintas formas de

expressão artística (teatro, música, dança, escrita,

fotografia) para criar um espaço-útero de diálogo

onde todos são convidados a edificar, pedra a

pedra, sonhos concretos para um novo mundo.

A tentativa de criar um espectáculo-assembleia

(partindo, sim, de uma ideia de eclésia alargada

a todos os cidadãos e não só a homens, claro

está, mas a pessoas comuns de todos os géneros

e idades), aspira mais ao apogeu de um Concílio

dos Deuses, a uma conferência de pássaros

que se juntam para fintar o tempo e inventar

soluções para o futuro da humanidade. Em

ambiente de tertúlia, vamos evocar, conversar,

ler, ouvir, sentir a passagem das horas, a música

do coração, respirar palavras e provocar várias

ideias. Como vai o mundo? Onde nos dói? O

que gostaríamos de transformar? Está ao nosso

alcance essa mudança? Todos seremos actores,

poetas e deuses neste encontro. Vários materiais

concretos e simbólicos estarão à disposição, como

vestígios de viajantes, para serem tocados, vividos,

entendidos com a razão e os sentidos, amados e

questionados colectivamente. Um espaço-útero tão

cheio quanto vazio, simultaneamente ordenado

e caótico, acumulado de mapas, livros, ideias,

memórias, canções, propício à criação poética.

Simultaneamente introspecto e aberto ao mundo.

Porque o Poeta. Ai, o Poeta… Cabeça de nuvem,

pés de raiz, olhos e mãos de compromisso com o

mundo à sua volta.

ANA SOFIA PAIVAA AUTORA ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA

Não sou ateniense nem grego: sou um cidadão do mundo.SÓCRATES (470 A. C.-399 A. C.)

O foco desta oficina será o processo de

procura e reconhecimento do eu poético, num

trabalho imersivo nas práticas da escrita, da

intertextualidade, da música, da performance oral e

da narrativa enquanto processo de representação e

alteridade, numa tentativa de desconstrução dessa

ideia equivocada de que a criação poética impõe,

entre si e a maioria dos comuns mortais, um

umbral intransponível. Para tal, provemos os efeitos

delicados e pungentes da poesia, evoquemos

musas e suas mitologias para nos provocarmos

27 JANEspaço Fábrica das Artes14h30Duração: 4 hAdultos

num caminho de pensamento ambrosíaco, liberto e

antónimo a qualquer preceito normativo. Sejamos

deuses por um instante. Sentemo-nos no Olimpo:

ressuscitemos para o mundo que nos impele, mais

do que nunca, a desenvolver e manifestar o nosso

universo interior. Tragam calçado confortável: o

poeta é um caminhante. Tragam um livro e um

caderno: o poeta é um leitor e toma notas. Tragam

os olhos bem abertos: o poeta faz o mundo, não

aceita descansar.

ANA SOFIA PAIVA

Formação

©ANA LAZARO

40 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 41

Ana Sofia PaivaAtriz, aprendiz e outras coisas. Nasceu em Lisboa,

em 1981. O seu primeiro amor, as palavras.

Depois, a música. Por fim, o palco. Formada pela

Escola Superior de Teatro e Cinema, graduou-se em

Teatro e mais tarde especializou-se em Promoção

e Mediação da Leitura na Universidade do

Algarve. Paralelamente ao seu trabalho de atriz,

dedica-se, desde 2008, à narração de contos

de tradição oral, dentro e fora de Portugal. É

membro do Instituto de Estudos de Literatura e

Tradições da Universidade Nova de Lisboa e da

cooperativa Memória Imaterial, trabalhando como

investigadora, transcritora e recolectora de folclore

poético e narrativo.

Marco OliveiraNasceu em Lisboa, em 1988. É um cantor e

compositor com raízes no fado que se move entre

o fado e outros universos da música popular e

urbana. Enraizado na cultura e na vivência da

música tradicional da sua cidade, estudou guitarra

clássica no Conservatório Nacional e frequentou

Estudos Clássicos na Faculdade de Letras da

Universidade de Lisboa. É de todo este cadinho

de ensinamentos que desponta a sua pluralidade

artística enquanto autor, cantor e músico. O

amor, a cidade, a despedida, ou a melancolia, são

algumas das temáticas que aborda na sua música,

registada em dois álbuns: Retrato (2008) e Amor é

água que corre (2016).

F Á B R I C A D A S A R T E SPA R A T O D A S A S I N F Â N C I A S

Sombra E S P E TÁ C U L O D E D A N Ç A

Aldara Bizarro conceção e direçãoManuel Henriques e Michel de Roubaix intérpretes cocriadoresCoprodução CCB - Fábrica das Artes / Centro de Artes de Ovar / Centro de Artes de Sever do Vouga / Aldara Bizarro

22 A 25 FEVSala de Ensaiodias 22 e 23 às 11h, dia 24 às 18h e dia 25 às 16hM/12Duração: 60 minutos

Música e tecnologiaSimão CostaCenografiaMadalena MatosoRegisto vídeo e apoio à dramaturgia Catarina SantosDesenho de luzManuel AlãoSessão de filosofiaDina Mendonça

Apoios Opart / Companhia Nacional de Bailado / SMUP oficinas de pesquisa artística Materiais DiversosAgradecimentos Mário Melo Costa

Sombra é um espetáculo de dança que pretende investigar sobre a sombra, enquanto luz, ou a ausência dela, bem como a sombra, o lado escuro das pessoas e da natureza que muitas vezes é mal visto e posto de lado mas que pode ser necessário abordar ou até mesmo aceitar para atingir determinado equilíbrio na natureza. É um projeto criado para jovens e público em geral que apela à participação do público, através da utilização de uma ferramenta a que os jovens estão muito habituados a utilizar e que tem uma enorme expressão no quotidiano deste grupo: a tecnologia.Por outro lado, é um espetáculo com uma forte componente musical, porque prevê a manipulação da música, por parte do público, em determinados momentos do espetáculo, com o objetivo de cativar este grupo de pessoas, ao mesmo tempo que

estabelece um diálogo, sensível e artístico, com os jovens. Para a equipa deste projeto convidei o bailarino tap dancer Michel de Roubaix, cujo sapateado tornou-se um recurso muito importante do espetáculo, bem como o músico Simão Costa, conhecido por associar o seu trabalho de pianista à tecnologia, procurando sons e vibrações singulares, a ilustradora Madalena Matoso, do Planeta Tangerina, que pelo seu trabalho de linhas simples cria um ambiente cenográfico singelo, e ainda Catarina Santos, no registo vídeo e no apoio à dramaturgia através da utilização do vídeo, a filósofa Dina Mendonça, que fez uma sessão sobre o tema para toda a equipa, e, por último, Manuel Alão, que trabalha a luz, aspeto muito importante neste trabalho poético sobre a sombra.

ALDARA BIZARRO©ANA LAZARO

©MÁRIO MELO COSTA

42 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 43

A partir da alegoria da Caverna da República de

Platão e das suas várias interpretações iremos

explorar o significado das sombras, através de

uma composição de exercícios que se situam no

cruzamento de Dança com Filosofia, de modo

a criar uma experiência de reflexão sobre como

interagimos com as sombras, as nossas e as dos

outros, e o que fazemos com elas.

Uma encomenda CCB / Fábrica das Artes

28 FEV1 A 4 MAREspaço Fábrica das Artesdia 28, 1 e 2 às 10hdias 3 e 4 às 15hDuração: 2h30M/8

O F I C I N A D E D A N Ç A E F I L O S O F I A

Pensar Faz Sombra

É uma oficina que cruza a dança e o desenho,

aprofundando técnicas e sugestões de exploração,

que pretende investigar sobre a sombra, enquanto

luz ou a ausência dela, bem como sobre a sombra,

do ponto de vista filosófico: o lado escuro das

pessoas e da natureza. É uma oficina de pesquisa

que se desenvolve no âmbito da criação do

espetáculo Sombra, que procura materializar ideias

a partir destas expressões artísticas.

Uma encomenda CCB / Fábrica das Artes

7 A 11 MAREspaço Fábrica das ArtesDias 7 a 10 às 10h, dia 11 às 15hDuração: 2h30M/8

O F I C I N A D E D A N Ç A E D E S E N H O

Alinha com a Sombra

Com Aldara Bizarro e Dina Mendonça

I LUSTRAÇÕES ©MADALENA MATOSO

«Quem dança pensa»: esta é a premissa que

lançamos para partilhar a nossa experiência de

como a dança faz pensar e de como isso se torna

visível quando se faz trabalho colaborativo. O

acontecimento que aqui ativamos será dirigido a

um público misto e terá um caráter teórico-

-prático: propostas de ação e partilha da

experiência de trabalho de equipa e apropriação

de um entendimento de como a Arte produz e

potencia o pensamento crítico e criativo. Quem

dança pensa, quem pensa dança.

Com Aldara Bizarro e Dina Mendonça

10 MAREspaço Fábrica das Artes14hDuração: 4hAdultos

M E S A R E D O N D A , E X E R C Í C I O S D E A R T E E P E N S A M E N T O

Mergulhona Sombra

Aldara BizarroEstudou dança em Luanda, Lisboa, Nova Iorque

e Berlim. Como intérprete, trabalhou com Paula

Massano, Rui Horta, Paulo Ribeiro, Francisco

Camacho e Madalena Victorino. Começou a

coreografar em 1990, com a peça Me, Myself and

Influências, premiada no IV Workshop coreográfico

da Companhia de Dança de Lisboa. Desde então,

assina as suas peças, que têm sido apresentadas

nas melhores salas do país, destacando a trilogia

Love Series, O Encaramelado, Uma Bailarina...,

A Preguiça Ataca?, A Casa, Projecto Respira, Cara,

O Baile e A Nova Bailarina, a última distinguida

pelo jornal Público como uma das melhores

peças de 2011. Como formadora, trabalha

com o Fórum Dança, com a Escola Superior de

Dança, com o Centro Cultural de Belém, com a

Fundação Calouste Gulbenkian, com o Centro

Cultural Vila Flor, com a ArtemRede, com a SMUP

e outros teatros nacionais. Foi diretora artística

de Jangada, uma estrutura de dança financiada

pela Direção Geral das Artes durante 16 anos.

Atualmente, desenvolve projetos para jovens e

para a comunidade, cruzando a dança com outras

artes, com enfoque na componente artística, social

e pedagógica.

Com Aldara Bizarro e Madalena Matoso

44 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 45

Michel de RoubaixDe nacionalidade francesa, vive em Portugal desde

1979. É um artista transversal conhecido pelo seu

trabalho de sapateado e pelas suas composições

para acordeão. Participa em programas de

televisão e espetáculos vários. Atualmente, é

professor na Escola de Dança do Conservatório

Nacional e ator na Companhia Maior.

Manuel HenriquesNasceu em Lisboa, em 1986. Desde 2008

trabalha profissionalmente como ator e intérprete

colaborando com diversos criadores nas áreas do

teatro, dança e performance.

Como autor e encenador, criou O Mensageiro

(2011), Brumário (2014) e O Bardo (2016).

Entre 2012 e 2016, integrou a equipa de seleção

de espetáculos do Festival Panos – Culturgest.

Madalena MatosoNasceu em Lisboa, em 1974. Estudou Design

de Comunicação na Faculdade de Belas-Artes

de Lisboa e pós-graduou-se em Design Gráfico

Editorial pela Faculdade de Belas-Artes de

Barcelona. Em 1999, criou com três amigos o

Planeta Tangerina, ateliê de ilustração e design

gráfico onde desenvolve projetos na área do livro

ilustrado e do design de comunicação.

Catarina SantosNasceu em Paris, em 1965. Fez o curso de dança

do Conservatório Nacional de Lisboa. Como

profissional, foi estagiária do Ballet Gulbenkian e

bailarina do Grupo Experimental de Dança Jazz.

Mais tarde, ingressou no mundo de produção

de cinema onde trabalhou intensamente com

Edgar Pêra. Estudou pós-produção audiovisual

e atualmente dedica-se a fazer vídeo na área da

dança e de vídeo arte.

Simão CostaNasceu em 1979. É músico, pianista. O seu

trabalho está focado no som, na sua dimensão

plástica, física, fenomenológica, percetiva e

cultural. Desenvolve, desde 2004, trabalho de

autor a solo e em colaboração com outros artistas.

O seu trabalho está registado em diversos meios

e apresentou-se em Portugal, Espanha, França,

Bélgica, Polónia, Holanda, Reino Unido, Grécia,

Itália, Brasil, Chile e Uruguai. É diretor artístico

e membro fundador da associação cultural

MãoSimMão. Vive e trabalha em Lisboa.

Manuel AlãoNasceu em 1978, no Porto. Licenciado no

ano 2001/2002 em Design de Iluminação e

Sonoplastia, pela Escola Superior de Música e Artes

do Espetáculo do Instituto Politécnico do Porto,

foi bolseiro de ERASMUS em Bergen, na Noruega,

onde colaborou com o Bergen International

Theater. Colabora regularmente com encenadores

portugueses e foi Diretor Técnico da Companhia

Olga Roriz, entre 2013 e 2017. Atualmente, exerce

funções de Diretor Técnico no Centro de Artes de

Águeda.

Dina MendonçaInvestigadora do Instituto de Filosofia da Linguagem da Universidade Nova de Lisboa, onde trabalha sobre a Filosofia das Emoções (www.mendoncaemotion.com). Mestre em Filosofia para Crianças (Montclair State University, EUA) e doutorada em Filosofia com tese no

filósofo e pedagogo John Dewey – A Anatomia da Experiência (University of South Carolina, EUA). Tem trabalhado em vários projetos pedagógicos introduzindo a filosofia para crianças, nomeadamente em relação com o processo

artístico.

L I T E R AT U R A E P E N S A M E N T O

ciclo de conferências

O Perene e o Belo: Ecos da Antiguidade Clássica Centro Cultural de Belém em parceria com o Museu Nacional de Arqueologia

Organização Rui Morais & Delfim Leão

24 FEV3 MAR Centro Cultural de Belém, 10h

23 FEVInauguração da exposição no Museu Nacional de Arqueologia

P R O G R A M A 2 4 F E V

O Perene e o Belo: Ecos da Antiguidade Clássica

1 0 HSessão de Abertura

1 0 H 3 0Projeto Iberia Graeca

1 1 HClaudia Wagner UNIVERSIDADE DE OXFORD

Gemas e Camafeus na Antiguidade Clássica

1 2 HRui Morais UNIVERSIDADE DO PORTO

Vasos Gregos de Belém

O legado indelével de Vasco Graça Moura

1 5 HTeresa Carvalho UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Tema: Vida e Obra

1 6 HFernanda Ribeiro UNIVERSIDADE DO PORTO

1 7 HAntónio Mega Ferreira DIRETOR EXECUTIVO DA AMEC/METROPOLITANA

O legado de Vasco Graça Moura

P R O G R A M A 3 M A R

«Eu vivo com os Gregos e sei disso. Mas vocês vivem com os Gregos e não sabem» — Evocação de Maria Helena da Rocha Pereira

1 0 HSessão inaugural: Guilherme d’Oliveira Martins JURISTA / ADMINISTRADOR EXECUTIVO DA FUNDAÇÃO GULBENKIAN

1 0 H 3 0José Ribeiro Ferreira UNIVERSIDADE DE COIMBRA

1 1 HFrancisco de Oliveira UNIVERSIDADE DE COIMBRA

1 1 H 3 0Hélia Correia ESCRITORA

1 2 HManuel Alegre ESCRITOR

1 2 H 3 0Delfim Leão UNIVERSIDADE DE COIMBRA

1 5 H – 1 7 HMESA REDONDAA Grécia Antiga e Moderna COORDENADORES Delfim Leão e Rui MoraisCOM Frederico Lourenço UNIVERSIDADE DE COIMBRA Eduardo Lourenço PROFESSOR E FILÓSOFO

Ana Margarida Arruda UNIVERSIDADE DE LISBOA

José Pacheco Pereira HISTORIADOR

Hélia Correia ESCRITORA

46 D E Z E U S A VA R O U FA K I S D E Z E U S A VA R O U FA K I S 47

A exposição, a ter lugar no Museu Nacional de

Arqueologia (MNA), visa mostrar a importante

coleção de vasos gregos do MNA, da Presidência

da República, da Coleção D. Manuel de Lencastre,

e homenagear o poeta Vasco Graça Moura,

antigo Presidente do CCB, e a Professora

Doutora Maria Helena da Rocha Pereira.

Paralelamente, no Centro Cultural de Belém terá

lugar um ciclo de conferências, organizadas por

Rui Morais e Delfim Leão.

A cerâmica produzida na Grécia Antiga,

especialmente os vasos áticos, constituíram

sempre, ao longo dos séculos, um motivo de

atração. Ninguém fica indiferente à perenidade

da sua beleza, alguns dos quais verdadeiras obras

de arte. Vários são os motivos representados, com

destaque para as ilustrações alusivas a cenas de

natureza mitológica e religiosa, ou mesmo da vida

quotidiana. São, assim, verdadeiros mensageiros

de arte e de cultura, dignos de qualidade estética

mas também como substituto da grande pintura,

perdida na sua quase totalidade. No Museu

Nacional de Arqueologia conserva-se uma das mais

importantes coleções públicas de vasos gregos

em Portugal, resultante de doações várias e de

achados realizados em contextos arqueológicos

portugueses, apresentada ao público em 2007,

no âmbito de uma exposição que apresentava

exemplares de várias coleções intitulada Vasos

Gregos em Portugal. Aquém das colunas de

Hércules, comissariada pela Professora Doutora

Maria Helena da Rocha Pereira.

ANTÓNIO CARVALHO

KRATÊR-DE-S INO ÁT ICO DE F IGURAS VERMELHAS - L ISBOA, MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA.GRUPO DE V IENA 1025, C . 400-375 A.C.

C O N F E R Ê N C I A

Conferência Ulisses 2018 Democracia Europeia: uma ideia cujo tempo chegou?Parceria Representação da Comissão Europeia em Portugal

Comissário Rui Tavares, historiador

7 E 8 ABR Centro Cultural de Belém

As Conferências Ulisses destinam-se a fazer

de Lisboa uma capital produtora de reflexão que

marque a agenda europeia e global de acordo

com os valores associados à figura do fundador

mítico da cidade: a aventura, a amizade, a

errância, a hospitalidade e o diálogo. Questões de

direitos humanos, em particular dos refugiados

e dos apátridas, questões da globalização e do

cosmopolitismo, questões da União Europeia

e dos seus estados-membros estarão entre os

núcleos temáticos principais das abordagens das

Conferências Ulisses. Estas destinar-se-ão a um

público misto, especialista e generalista, das artes

e das ciências, apenas observador ou participante,

Há uma coisa mais forte do que a força de todos os exércitos do mundo: uma ideia cujo tempo chegou. ATRIBUÍDO A VICTOR HUGO

D E Z E U S A VA R O U FA K I S 49 48 D E Z E U S A VA R O U FA K I S

contando com oradores consagrados e com

jovens entusiastas. Ao contrário de outros ciclos

de conferências realizados em solo nacional, a

ideia não é trazer para Portugal o pensamento

que se faz lá fora, mas irradiar a partir de Portugal

pensamento de relevância global. Para garantir

que o produto da reflexão criada em torno das

Conferências Ulisses não se esgota após o

encerramento de cada edição, é nosso objetivo

estimular a criação e edição de material escrito

ou audiovisual que prolongue a memória da

conferência, e criar um concurso de ensaios

aberto a jovens que prolongue as reflexões das

Conferências Ulisses por novas gerações.

O tema do ano 2018Para a primeira edição das Conferências Ulisses,

propomos para 7 e 8 de abril de 2018 uma

conferência internacional sobre «Democracia

Europeia: uma ideia cujo tempo chegou?». O

tópico justifica-se pelo lançamento em simultâneo

de diversos processos de reflexão sobre o futuro

da União Europeia: o processo do Livro Branco

sobre o futuro da UE, lançado pela Comissão

Europeia nas comemorações do Tratado de Roma

em março de 2017; o Processo de Bratislava,

lançado pelo Conselho Europeu na sequência do

referendo do Brexit no Reino Unido; e o processo

das «Convenções democráticas da UE», sugerido

pelo Presidente de França Emmanuel Macron em

discursos recentes em Atenas e Paris, prometido

para o primeiro semestre de 2018 e que não

parece ter um formato fixo. A realização de uma

Conferência Ulisses dedicada ao tema da reforma

da União Europeia tem assim a dupla vantagem

de permitir uma participação portuguesa num

debate que se arrisca a ser feito sem nós, ao

mesmo tempo em que se convocam para o debate

alguns dos mais importantes intelectuais públicos

europeus para dar mais amplitude e ousadia aos

processos lançados pelos decisores políticos e pelas

instituições comunitárias.

Após mais de dez anos de várias crises — a recusa

do Tratado Constitucional Europeu pelos eleitores

franceses e holandeses foi em 2005, logo sucedida

pela crise financeira em 2007-8, a crise do euro

em 2010-11, e a chamada «crise dos refugiados»

a partir de 2015 — é chegada a União Europeia a

um momento decisivo: com os seus estados-

-membros, ela é um «clube de democracias», mas

só com os seus cidadãos a UE se tornará numa

verdadeira Democracia Europeia. Se falhar nesse

desígnio, a UE pode muito bem desaproveitar o

atual momento de respiração e repensamento e

cair de novo numa crise existencial que se arriscaria

a ser a sua derradeira.

A questão da criação de uma Democracia Europeia

é, no entanto, profundamente difícil. Séculos de

filósofos, escritores e visionários, de Erasmo de

Roterdão a Kant e a Victor Hugo, sonharam com

os fundamentos de uma república europeia, uma

federação de estados pacíficos ou uma utopia

cosmopolita e, no último caso, uns Estados Unidos

da Europa, a tal ideia «mais forte que os exércitos»

no momento em que «o seu tempo» tivesse

chegado. Mas o que é uma democracia? Quando

sabemos que deixámos de ser uma democracia

ou que passámos a ser uma? Ou será impossível,

como afirmam alguns, construir uma democracia

para lá das fronteiras do estado-nação? Se há

momento para fazer essa discussão que pode

salvar o projeto europeu, é agora, após dois

anos em que a vaga nacional-populista parecia

ir submergir qualquer esperança de cooperação

internacional e em que uma contra-vaga em França

e na Alemanha pareceu deixar todos os europeus

à espera de uma reforma e na disposição de dar

mais uma oportunidade à UE. Essa oportunidade

teremos de ser nós, os cidadãos europeus e de

todo o mundo preocupados com a causa da paz e

dos direitos humanos e empenhados em entender

e moldar o processo de globalização para corrigir

os seus vícios e injustiças.

A estrutura Os dois dias de debates serão organizados de

forma a permitir a interação entre os especialistas

ou oradores consagrados e o público generalista

ou os jovens entusiastas. Em cada um dos dois

dias, duas sessões plenárias num auditório grande,

onde será dada palavra a alguns dos pensadores

nacionais e estrangeiros que mais têm refletido

sobre o projeto europeu, acompanhados pela

intervenção de artistas, escritores ou políticos

que resgatem a discussão do risco de se tornar

demasiado técnica. Intercalando as sessões

plenárias, teremos mesas redondas centradas

principalmente na participação jovem, e em

que os especialistas e convidados estrangeiros

terão principalmente um papel de catalisadores

do debate. Os jovens que participam nestas

mesas redondas serão escolhidos através de um

concurso de ensaios curtos a realizar entre janeiro

e março de 2018, e deles será também a missão

de atuarem como relatores das sessões plenárias

e prepararem uma publicação (em jornal e/ou

website) com as conclusões da conferência, a

lançar um mês depois da realização desta, no Dia

da Europa, a 9 de maio de 2018. Do trabalho

realizado nas sessões plenárias sairá o esboço de

uma Carta 2020 com os vinte exemplos de bens

públicos que a UE deverá garantir até ao fim da

década de 2020 (nos domínios dos direitos cívicos

e políticos, sociais, ambientais e económicos).

Painéis7 ABRIL — SÁBADO

PAINEL 1. DemocraciaPAINEL 2. Economia e Sociedade

MESAS REDONDAS

8 ABRIL — DOMINGOPAINEL 3. Direitos Humanos e Ambientais

PAINEL 4. Encerramento: o Futuro da EuropaMESAS REDONDAS

EM BREVE SERÃO DIVULGADAS MAIS INFORMAÇÕES. FIQUE ATENTO AO NOSSO SITE WWW.CCB.PT

AP

OIO

S

PA

RC

EIR

OS

M

ED

IA

CENTRO CULTURAL DE BELÉM

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Elísio Summavielle PRESIDENTE / Isabel Cordeiro VOGAL / Luísa Taveira VOGAL

ASSESSOR DO PRESIDENTE João Caré / SECRETARIADO Luísa Inês Fernandes / Ricardo Cerqueira

DIREÇÃO DE ARTES PERFORMATIVAS PROGRAMAÇÃO André Cunha Leal / Fernando Luís Sampaio / DEPARTAMENTO DE OPERAÇÕES

/ COORDENADORA Paula Fonseca / PRODUÇÃO Inês Correia / Patrícia Silva / Hugo Cortez / João Lemos / Vera Rosa / DIREÇÃO

DE CENA Pedro Rodrigues / Patrícia Costa / José Valério / Tânia Afonso / Catarina Silva / Francisca Rodrigues / Sofia Santos / SECRETARIADO DO DEPARTAMENTO DE OPERAÇÕES Sofia Matos / DEPARTAMENTO TÉCNICO / COORDENADOR Mário Caetano / CHEFE

TÉCNICO DE PALCO Rui Marcelino / ADJUNTO DA COORDENAÇÃO TÉCNICA Pedro Campos / TÉCNICOS PRINCIPAIS Luís Santos / Raul Seguro / TÉCNICOS EXECUTIVOS F. Cândido Santos / César Nunes / José Carlos Alves / Hugo Campos / Mário Silva / Ricardo Melo / Rui Croca / Hugo Cochat / Daniel Rosa / João Moreira / Fábio Rodrigues / CHEFE TÉCNICO DE AUDIOVISUAIS Nuno Grácio / CHEFE DE EQUIPA DE AUDIOVISUAIS Nuno Bizarro / TÉCNICOS DE AUDIOVISUAIS Eduardo Nascimento / Paulo Cacheiro / Nuno Ramos / Miguel Nunes / CHEFE DE MANUTENÇÃO Paulo Santana / TÉCNICOS DE MANUTENÇÃO Luís Teixeira / Vítor Horta / SECRETARIADO DO DEPARTAMENTO TÉCNICO Yolanda Seara

FÁBRICA DAS ARTES COORDENADORA/PROGRAMADORA Madalena Wallenstein / ASSISTENTES DE PROGRAMAÇÃO Manuel Moreira / Marta Azenha / Helena Maia / RECEÇÃO E APOIO À PROGRAMAÇÃO Filomena Rosa

LITERATURA E PENSAMENTO COORDENADORA Maria Pinto Basto / CICLOS E CONFERÊNCIAS Paula Catita / APOIO ADMINISTRATIVO

José Silva / ARQUIVO DA MEMÓRIA CCB Isabel Rocha

PARCEIRO MEDIA TEMPORADA 2018APOIO INSTITUCIONAL

C I N E M A15 ABRILGRANDE AUDITÓRIO17H30

EL BOSCO. EL JARDÍN DE LOS SUEÑOS DE JOSÉ LUIS LÓPEZ-LINARESPATROCÍNIO: FUNDAÇÃO BBVA

ABRIL PEQUENO AUDITÓRIO21H

DIA 10 — A GULAA FESTA DE BABETTE DE GABRIEL AXEL

DIA 12 — A LUXÚRIADE OLHOS BEM FECHADOSDE STANLEY KUBRICK

DIA 14 — A IRAO ÓDIODE MATHIEU KASSOVITZ

DIA 16 — A INVEJAQUE TERIA ACONTECIDO A BABY JANE?DE ROBERT ALRICH

DIA 18 — A PREGUIÇAAS FÉRIAS DO SR. HULOTDE JACQUES TATI

DIA 20 — A SOBERBAO QUARTO MANDAMENTODE ORSON WELLES

DIA 21 — A AVAREZAO LOBO DE WALL STREETDE MARTIN SCORSESE

L I T E R A T U R A E P E N S A M E N T O20 E 27 MARÇO / 3, 10 E 17 ABRIL 18H

CICLO: O SOBRENATURAL E A MÚSICACONCEÇÃO E ORIENTAÇÃO DEMIGUEL SANTOS VIEIRA

M Ú S I C A26 A 29 ABRIL DIAS DA MÚSICA EM BELÉMCASTIGOS, CULPAS E GRAÇAS DIVINAS

D A N Ç A18 E 19 MAIOGRANDE AUDITÓRIO 21H

HIERONYMUS BOSCH: O JARDIM DAS DELÍCIASCOMPAGNIE MARIE CHOUINARD

F Á B R I C A D A S A R T E S7 A 17 ABRILESPAÇO FÁBRICA DAS ARTES10H30 / 11H30

AS ESTRELAS LAVAM OS TEUS PÉSSARA ANJOESPETÁCULO DE DANÇA + FORMAÇÃO PARA ADULTOS (DIA 14)

C O N F E R Ê N C I A S15 ABRILSALA LUÍS DE FREITAS BRANCO15H

PILAR SILVA MAROTOMUSEU DO PRADO

JOAQUIM OLIVEIRA CAETANOMUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA

TIRAI OS PECADOS DO MUNDOCICLO HIERONYMUS BOSCH

— ABRIL E MAIO —

CIC

LO

SE

TE

PE

CA

DO

S M

OR

TAIS

[...] A questão da criação de uma Democracia Europeia é, no entanto, profundamente difícil. Séculos de filósofos, escritores e visionários, de Erasmo de Roterdão a Kant

e a Victor Hugo, sonharam com os fundamentos de uma república europeia, uma federação

de estados pacíficos ou uma utopia cosmopolita e, no último caso, uns Estados Unidos da Europa,

a tal ideia «mais forte que os exércitos» no momento em que «o seu tempo» tivesse chegado. [...]