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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CLÁUDIA CARLA MUNIZ DE PAI PARA FILHO: A CULTURA ORGANIZACIONAL COMO DETERMINANTE DO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO NA EMPRESA FAMILIAR Caxias do Sul 2014

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

CLÁUDIA CARLA MUNIZ

DE PAI PARA FILHO: A CULTURA ORGANIZACIONAL COMO DETERMINANTE

DO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO NA EMPRESA FAMILIAR

Caxias do Sul

2014

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CLÁUDIA CARLA MUNIZ

DE PAI PARA FILHO: A CULTURA ORGANIZACIONAL COMO DETERMINANTE

DO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO NA EMPRESA FAMILIAR

Monografia de Conclusão de Curso de

graduação em Comunicação Social,

habilitação em Relações Públicas da

Universidade de Caxias do Sul.

Orientadora: Profª. Drª. Marlene Branca

Sólio

Caxias do Sul

2014

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CLÁUDIA CARLA MUNIZ

DE PAI PARA FILHO: A CULTURA ORGANIZACIONAL COMO DETERMINANTE

DO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO NA EMPRESA FAMILIAR

Monografia de Conclusão de Curso de

graduação em Comunicação Social,

habilitação em Relações Públicas da

Universidade de Caxias do Sul.

Orientadora: Profª. Drª. Marlene Branca

Sólio

Aprovada em ___ de _________ de 2014.

Banca Examinadora

_______________________________________

Prof. Dra. Marlene Branca Sólio

Universidade de Caxias do Sul – UCS

_______________________________________

Prof. Dra. Ana Cristina Fachinelli

Universidade de Caxias do Sul – UCS

_______________________________________

Prof. Me. Silvana Padilha Flores

Universidade de Caxias do Sul – UCS

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Dedico este trabalho aos meus pais, João e Claudete, pelo apoio e estímulo incondicionais, por me ensinarem o valor do trabalho e por sempre me incentivarem a batalhar pelas minhas conquistas.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, aos meus pais, João e Claudete, por me

concederem a oportunidade de cursar o ensino superior para que, assim, eu possa

cumprir com suas expectativas quanto ao meu preparo profissional. Com eles, aprendi

o valor do esforço e do trabalho para alcançar meus objetivos. Espero poder retribuir

com toda minha gratidão e empenho, refletindo a forma que fui educada para encarar

o mundo.

A minha orientadora, Branca, por acreditar que, em tão pouco tempo, este

projeto pudesse se tornar algo concreto e muito mais complexo do que inicialmente

era, e por compartilhar sua vasta experiência em pesquisa.

Às empresas que permitiram esse estudo e aceitaram minha intervenção, com

o propósito de contribuir com melhorias no seu processo de trabalho.

Ao Lucas, pela paciência e apoio durante todo esse processo e por nunca

deixar de encorajar minha persistência.

Aos amigos e colegas de profissão, que acompanharam o crescimento dessa

ideia desde o início e me estimularam a desenvolvê-la.

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“Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de

percorrer os caminhos do mundo”.

José Saramago

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RESUMO

O presente trabalho busca abordar a relação entre cultura e comunicação organizacional no âmbito das empresas familiares de pequeno porte. A questão norteadora do trabalho foi: Qual é a relação entre a cultura organizacional e os processos de comunicação presentes nas empresas familiares de pequeno porte? No sentido de buscar a solução para esse problema, traçamos como objetivo geral: analisar a relação entre a cultura organizacional e os processos de comunicação existentes nas empresas familiares de pequeno porte. A partir daí, foram traçados quatro objetivos específicos, de acordo com as hipóteses levantadas acerca do problema de pesquisa. Temos: O1 - Estudar a cultura organizacional das empresas familiares e perceber suas particularidades em relação a outras formas de cultura organizacional; H1 - A cultura organizacional das empresas familiares é uma das variáveis determinantes para a pouca valorização da comunicação nessas organizações. O2 - Investigar o nível de conhecimento dos gestores quanto à função e aos processos de comunicação nas organizações; H2 - Os gestores de empresas familiares não têm conhecimentos sólidos sobre processos de comunicação organizacional e a importância dela na gestão de pessoas, produtos e processos. O3 - Conhecer os processos de comunicação já utilizados pelas organizações familiares estudadas, bem como quais ainda não são utilizadas; H3 - As empresas familiares adotam um leque pequeno de técnicas e processo de comunicação organizacional. O4 - Entender as demandas das empresas familiares no que tange à comunicação; H4 - Um estudo amplo, sobre as formas de gestão das empresas familiares poderá auxiliar na compreensão e diagnóstico de suas demandas de comunicação. Para cumprir nossos objetivos e validar ou refutar as hipóteses levantadas, a metodologia empregada foi uma pesquisa com abordagem qualitativa e indutiva, com o método fenomenológico. As técnicas empregadas para a coleta de dados deram-se por meio da revisão bibliográfica das palavras-chave, estudo de caso com duas empresas familiares e entrevistas em profundidade com os membros destas organizações. Palavras-chave: Empresa Familiar. Cultura Organizacional. Comunicação Organizacional.

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ABSTRACT

The present paper aims to address the relationship between organizational culture and communication within the family small businesses. The guiding question of the study was: What is the relationship between organizational culture and communication processes present in the family of small businesses? In order to seek a solution to this problem, we draw as a general objective: to analyze the relationship between organizational culture and the processes of communication existing in family small companies. From there, four specific objectives were set, according to the hypotheses about the research problem. We have: O1 - Studying organizational culture of family businesses and realize their characteristics in relation to other forms of organizational culture; H1 - The organizational culture of family businesses is one of the key variables for the low value of communication in these organizations. O2 - Investigate the level of knowledge of managers about the function and processes of communication in organizations; H2 - The managers of family businesses do not have solid knowledge about processes of organizational communication and its importance in managing people, products and processes. O3 - Meet communication processes already used by family organizations studied, as well as which are not yet used; H3 - Family businesses adopt a small range of technical and organizational communication process. O4 - Understand the demands of family businesses in relation to the statement; H4 - A broad study on ways of managing the family businesses can assist in understanding and diagnosing their communication demands. To meet our objectives and validate or refute the hypotheses, the methodology used was a survey of qualitative and inductive approach with the phenomenological method. The techniques used for data collection given by literature review of the key words, case study of two family companies and in-depth interviews with members of these organizations. Keywords: Family Business. Organizational Culture. Organizational Communication.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Os 4 estágios do ciclo de vida da empresa familiar.....................................48

Figura 2 – Círculos da cultura organizacional..............................................................61

Figura 3 – O composto da comunicação organizacional.............................................80

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Estudos comparativos das tipologias das organizações...........................37

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................13

2 O MÉTODO APLICADO..........................................................................................21

2.1 UNIDADE DE PESQUISA.....................................................................................25

3 EMPRESA...............................................................................................................29

3.1 A ORGANIZAÇÃO E SEU PAPEL SOCIAL..........................................................31

3.1.1 O contexto histórico........................................................................................32

3.1.2 A estrutura e as relações.................................................................................35

3.2 A EMPRESA DE GESTÃO FAMILIAR..................................................................40

3.2.1 A família como instituição...............................................................................43

3.2.2 O fundador........................................................................................................45

3.2.3 A sucessão.......................................................................................................47

3.3 O CENÁRIO ATUAL.............................................................................................49

4 CULTURA...............................................................................................................53

4.1 O CONCEITO ANTROPOLÓGICO.......................................................................53

4.2 A CULTURA ORGANIZACIONAL.........................................................................55

4.2.1 A cultura organizacional na empresa familiar...............................................59

4.3 O PODER DETERMINA A CULTURA? ................................................................61

5 COMUNICAÇÃO.....................................................................................................68

5.1 O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO....................................................................69

5.1.1 Comunicação e informação............................................................................72

5.2 A COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL..............................................................73

5.2.1 Os públicos......................................................................................................76

5.2.2 A comunicação interna....................................................................................78

6 ANÁLISE.................................................................................................................82

6.1 EMPRESA A.........................................................................................................84

6.1.1 Cultura..............................................................................................................86

6.1.2 Comunicação...................................................................................................89

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6.1.3 Empresa familiar..............................................................................................94

6.2 EMPRESA B.........................................................................................................96

6.2.1 Cultura..............................................................................................................98

6.2.2 Comunicação.................................................................................................103

6.2.3 Empresa familiar............................................................................................106

6.3 UMA ANÁLISE DOS CENÁRIOS........................................................................114

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................118

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................123

APÊNDICE A – PROJETO DE PESQUISA.............................................................129

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1 INTRODUÇÃO

De acordo com pesquisas apresentadas pelo Serviço Brasileiro de Apoio às

Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE, as empresas familiares representam 90%

das mais de oito milhões em funcionamento no Brasil. (SEBRAE, 2013). Este dado

mostra a importância da gestão familiar na manutenção da economia, uma vez que

ela é responsável por 12% do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, 34% da

indústria e 54% da prestação de serviços.

O estudo sobre esse tipo de empresa se mostra necessário, à medida em que

o maior problema da gestão familiar está na sucessão. A preocupação em manter uma

empresa familiar através das gerações é significante, considerando que de cada 100

empresas familiares brasileiras, 30% chegam à segunda geração e apenas 5% à

terceira. (SEBRAE, 2013). Dados dessa pesquisa apontam os conflitos entre os

gestores e a deficiência do profissionalismo como as principais causas de

encerramentos de negócios familiares. Os dados do SEBRAE também afirmam que a

gestão familiar é guiada mais pela confiança no parentesco do que no preparo

profissional. Com isso, é possível perceber que os valores são fortemente arraigados

na gestão familiar, dificultando a inovação e a aposta em novas estratégias.

A afirmação de que o principal problema das empresas familiares está no

processo de sucessão também é afirmada por meio de uma pesquisa da

PricewaterhouseCoopers – PwC (2014). Realizada com 100 representantes de

empresas familiares, a pesquisa mostra que 2/3 delas não possuem um plano de

sucessão para cargos seniores. Constatou-se, também, que somente 26% dos

entrevistados afirmam haver um cuidado gerencial de preparação dos herdeiros,

enquanto 35% dessas empresas afirmam que não há essa preparação.

No que diz respeito às mudanças no comando dos negócios, os dados da

PwC apontam que mais de metade dos entrevistados, cerca de 56,8%, planeja passar

o comando da empresa para a próxima geração da família. (PWC, 2014, p. 10).

Pensamos que esse fato se mostra alarmante, à medida em que esse percentual vai

contra o desinteresse de mais da metade das empresas em planejar a sucessão. Há

um conflito entre o que as empresas pensam em fazer no futuro e o que elas, de fato,

planejam com antecedência.

Considerando que a sociedade passou por inúmeras transformações,

destacamos a Revolução Agrícola, a Revolução Industrial, no final do século XVIII e,

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mais recentemente, a Revolução da Informação a partir dos anos 70, como

importantes rupturas no modo como enxergamos a própria sociedade e a economia.

Essa mudança mais recente foi chamada por Toffler (2005) de Terceira Onda, que

representa um novo mundo, baseado na informação e no conhecimento. Os avanços

tecnológicos vieram se intensificando desde então e, atualmente, a sociedade e as

organizações moldam-se a partir da necessidade das ferramentas de tecnologia e

informação.

As mudanças advindas da Revolução da Informação vieram refletindo nas

organizações, tanto nos processos quanto nas tecnologias, e passaram a exigir que

elas estejam atualizadas da mesma forma. Vieira (2004, p. 17) afirma que “o enorme

avanço tecnológico vem criando, sem dúvida, uma nova sociedade baseada na

disseminação rápida e ampla da informação”. Esses fatores modificam o

comportamento e as exigências do mercado, bem como o comportamento dos

públicos de interesse das organizações. Chiavenato (1998, p. 19) aponta que, com a

aceleração cada vez mais rápida da globalização e da evolução tecnológica,

“administrar a empresa e administrar a mudança tendem a ser quase a mesma coisa”.

O autor defende a ideia de que as empresas administrem as mudanças de maneira

positiva e proativa e não simplesmente de modo negativo e reativo.

De acordo com Sólio (2010, p. 76) “existe no homem uma tendência a se fixar

no passado, nas verdades postas e comprovadas, e uma tendência e refutar o novo,

o inaugural, por conta do medo da incerteza”. Com essa afirmação, podemos entender

que esse medo da incerteza pode ser ainda mais intenso quando relacionado à

responsabilidade da sucessão da empresa para a próxima geração da família, tanto

para o fundador quanto para o herdeiro. A autora ainda salienta que, na sociedade

contemporânea, o tempo entre os ciclos de mudança é cada vez menor, pois “vivemos

um processo de aceleração da História. Já não há tempo a perder, até porque as

categorias tempo e espaço, como nos foram apresentadas não existem mais”. (p. 76).

Lodi (1998, p. 4), a partir de um estudo de Robert G. Donnelley, salienta que,

dentre as fraquezas percebidas nas empresas familiares, consta a “resistência à

modernização do marketing, ficando a comercialização sujeita a alguns vendedores

antigos e ‘de confiança’ ou à falta de uma boa política de produtos e mercados”. Essa

afirmação mostra que, apesar da necessidade de adequação às mudanças sociais e

ambientais citadas anteriormente, as empresas familiares têm dificuldade em

adequar-se ao mercado e suas exigências.

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Gonçalves (2000, p. 98) afirma que um dos problemas mais comumente

presentes e aceitos nas empresas familiares é a falta de distribuição planejada dos

lucros. Segundo o autor, o destino do lucro é decidido pelo dono da empresa, onde o

que acontece é que o “reinvestimento dos lucros, necessário para investimentos e

desenvolvimento do empreendimento, deixa de ser feito, para ser distribuído aos

sócios, cumprindo-se o destino do ‘dono rico, empresa pobre’”. Esse pensamento, de

acordo com o autor, é derivado do fenômeno da tradição patrimonialista. O modelo

em questão mostra a empresa familiar gerida a partir de um poder doméstico, onde o

dono acaba por considerar um direito legítimo o fato de poder decidir sobre os lucros

da empresa.

Analisando os dois aspectos negativos das empresas familiares citados por

Lodi (1998) e Gonçalves (2000), pensamos que a negligência com a modernização

dos processos comerciais e a falta de investimento planejado dos lucros podem estar

relacionados à falta de preocupação com a comunicação. A comunicação

organizacional apresenta-se como “um conjunto complexo de atividades, ações,

estratégias, produtos e processos desenvolvidos para reforçar as ideias e a imagem

organizacional junto a seus públicos de interesse ou, até mesmo, junto à opinião

pública” (VIEIRA, 2004, p. 37); ou seja, é por meio da comunicação organizacional

que a empresa pode gerar credibilidade junto à sociedade e garantir o

desenvolvimento do negócio.

A preocupação com a comunicação organizacional surge antes mesmo da

revolução da informação, a partir de estudos teóricos, que datam a partir do começo

do Século XX. Scroferneker (2006, 2008) demonstra que de 1900 até os anos 70, as

pesquisas com ênfase na comunicação organizacional tomavam forma por meio de

teorias advindas da administração, como a Teoria das Relações Humanas1. Tavares

(2010, p. 12) afirma que até os anos 70, a comunicação existia nas organizações de

forma pouco agregada e sem capacidade para organizar e planejar suas ações de

comunicação. Os cursos voltados à área eram embrionários e a atividade era vista

como despesa e não como investimento.

1 Segundo Motta (2001), a Teoria das Relações Humanas surge com as ideias do psicólogo George Elton Mayo, a partir da década de 20, onde o homem passa a ser visto não só a partir de um comportamento mecanicista, mas como um indivíduo movido por necessidades de segurança, aprovação social, afeto, prestígio e auto realização.

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Com a evolução dos processos e das organizações, a visão teórica recebeu

novas concepções que acompanhavam o desenvolvimento dos meios e das técnicas,

como a Teoria Moderna ou Empírica2, a Teoria Naturalista3 e a Teoria Crítica4. Esse

processo de evolução vem aumentando largamente nas últimas décadas, devido à

crescente demanda por novos conceitos aplicados às novas tecnologias e novos

meios de comunicação.

Para entendermos a comunicação, primeiro precisamos analisar a cultura5 da

organização6. Como parte do universo simbólico7 das organizações, a cultura varia

conforme a sociedade em que está inserida e suas variáveis influenciam as relações

internas da organização. A comunicação necessita estar em sintonia com as

características específicas de cada cultura organizacional, a fim de desempenhar sua

função como importante variável no processo de gestão dos recursos, dos processos

e das pessoas, principalmente no que tange à empresa8 familiar.

Propomos pensar a comunicação como uma variável fundamental para a

solidificação e disseminação da cultura na organização e, também, como um

2 A Teoria Moderna ou Empírica vê a organização como uma máquina, com seus objetivos e fins voltados para o cumprimento das metas propostas. A comunicação é vista como uma ferramenta que viabiliza o cumprimento dessas metas organizacionais, ou seja, como a engrenagem de uma máquina, dentro de um modelo linear e mecânico. (SCROFERNEKER, 2006). 3 A Teoria Naturalista busca revelar a organização a partir de uma verdade que está fora dela, pois considera que a realidade organizacional é fruto da construção social. Nessa visão, a organização assemelha-se a um organismo, representada através de imagens, percebida como permeável em relação ao ser entorno e encarada como uma entidade cultural específica. A comunicação é parte integrante da organização, no sentido de que ela é uma condição necessária da organização. (SCROFERNEKER, 2006). 4 Para a Teoria Crítica, a organização é vista sempre como um campo de batalha, onde a realidade organizacional é o reflexo desses conflitos e atua como um instrumento de dominação e opressão. A comunicação assume um papel de mecanismo de mascaramento das realidades materiais da organização. (SCROFERNEKER, 2006). 5 De acordo com Schein (2009, p. 16), a cultura pode ser compreendida como “um padrão de suposições básicas compartilhadas, que foi aprendido por um grupo à medida que solucionava seus problemas de adaptação externa e de integração interna”. O autor considera que esse padrão funciona bem o suficiente para ser validado pelo grupo e, consequentemente, ensinado aos novos membros como o modo correto de perceber, pensar e sentir-se em relação a esses problemas. 6 Uma organização pode ser entendida como um arranjo sistemático de pessoas reunidas para alcançar algum propósito específico, sem que necessariamente haja interesse pelo lucro. (ROBBINS & DECENZO, 2004). 7 Bourdieu (2001) vê o poder simbólico como um poder invisível que só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem. Para o autor, “os símbolos são os instrumentos por excelência da integração social: enquanto instrumentos de conhecimento e de comunicação, eles tornam possível o consensus acerca do sentido do mundo social que contribui fundamentalmente para a reprodução da ordem social: a integração lógica é a condição da integração moral”. (BOURDIEU, 2001, p. 10). 8 Uma empresa constitui um sistema aberto, em constante intercâmbio com o meio ambiente externo que a envolve e do qual faz parte e que atua na produção de bens ou serviços, visando ao lucro. (CHIAVENATO, 1994).

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importante espaço para a transformação e aperfeiçoamento dessa mesma cultura, no

sentido de transformar as organizações em agentes produtivos de um novo modelo

de sociedade. Entender a importância dessa relação é primordial para o bom

aproveitamento da comunicação como uma ferramenta efetiva, em qualquer que seja

a matriz cultural. Por isso, esta pesquisa tem como tema central a cultura

organizacional como determinante do processo de comunicação na empresa familiar.

Mesmo com as mudanças tecnológicas e ruptura de antigos paradigmas,

entendemos, a partir das pesquisas do SEBRAE e da PwC e dos autores

referenciados, que a cultura organizacional de empresas de origem familiar de

pequeno porte oferece certa resistência em investir, como já foi dito, na modernização

do marketing, no processo de sucessão e no planejamento do futuro do negócio. De

acordo com a pesquisa da Pwc (2014, p. 7), as áreas prioritárias para receber

investimentos são: financeira, recursos humanos, infraestrutura de TI, marketing,

vendas, transporte e logística, estrutura de governança e operações via internet.

A comunicação de forma estruturada dentro da organização, bem como o

planejamento do processo de sucessão, são áreas em negligência e que podem ser

fundamentais para o sucesso da empresa familiar. A implantação de uma gestão de

comunicação integrada9 é uma alternativa, com a qual diversos fatores agem em

sintonia para que os resultados advindos deste processo gerem benefícios concretos

para a empresa. Esses fatores vão desde a capacitação de um profissional

especializado e sua equipe, até o alinhamento entre as ações de comunicação e o

planejamento estratégico da empresa.

Partindo do pressuposto de que nas empresas familiares de pequeno porte

ainda há pouco investimento em comunicação, fez-se necessário compreender a

percepção dos membros – tanto gestores quanto funcionários – dessas empresas

sobre a comunicação, bem como analisar os principais fatores associados às

dificuldades de comunicação percebidas nessas organizações.

Assim como a sucessão de pai para filho pode estar associada à falta de

adequação aos novos modelos de mercado e sociedade, os problemas de

comunicação dessas organizações podem estar associados à falta de

9 Por comunicação integrada, entendemos, a partir de Kunsch (2003, p. 150), uma filosofia que direciona a convergência das diversas áreas, permitindo uma atuação sinérgica entre a comunicação institucional, a comunicação mercadológica, a comunicação interna e a comunicação administrativa, que formam um mix, o composto da comunicação organizacional.

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reconhecimento do seu papel na melhoria que pode vir a gerar nos processos e nos

resultados da empresa. Para que empresas familiares entendam a importância da

comunicação na organização, parece-nos importante estudar se há, de fato, esse

desconhecimento e o porquê da falta de investimentos por parte da gestão familiar.

Nesse contexto, a questão que norteou esta monografia foi: Qual é a relação

entre a cultura organizacional e os processos de comunicação presentes nas

empresas familiares de pequeno porte? Para o desenvolvimento de tal pesquisa,

estabelecemos como objetivo geral analisar a relação entre a cultura organizacional e

os processos de comunicação interna existentes nas empresas familiares de pequeno

porte.

Para chegarmos até ele, os objetivos específicos foram considerados de

acordo com as hipóteses levantadas acerca do problema de pesquisa:

a) Objetivo específico 1: Estudar a cultura organizacional das empresas

familiares e perceber suas particularidades em relação a outras formas de cultura

organizacional. Hipótese 1: A cultura organizacional das empresas familiares é

uma das variáveis determinantes para a pouca valorização da comunicação

nessas organizações;

b) Objetivo específico 2: Investigar o nível de conhecimento dos gestores quanto

à função e aos processos de comunicação nas organizações. Hipótese 2: Os

gestores de empresas familiares não têm conhecimentos sólidos sobre

processos de comunicação organizacional e a importância dela na gestão de

pessoas, produtos e processos;

c) Objetivo específico 3: Conhecer os processos de comunicação já utilizados

pelas organizações familiares estudadas, bem como quais ainda não são

utilizadas. Hipótese 3: As empresas familiares adotam um leque pequeno de

técnicas e processo de comunicação organizacional;

d) Objetivo específico 4: Entender as demandas das empresas familiares no que

tange à comunicação. Hipótese 4: Um estudo amplo, sobre as formas de gestão

das empresas familiares poderá auxiliar na compreensão e diagnóstico de suas

demandas de comunicação.

Com vistas a levantar as informações requeridas pela questão norteadora e

pelas hipóteses, a metodologia foi baseada na construção do referencial teórico das

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palavras-chave do projeto. A literatura consultada veio respaldar os principais

conceitos que envolvem a definição de empresa familiar, cultura organizacional e

comunicação organizacional, bem como uma análise das relações de poder, do

contexto histórico e do cenário globalizado no qual o objeto de estudo está inserido.

O campo de investigação da nossa pesquisa exigiu entrevistas em

profundidade em duas empresas familiares de pequeno porte, que aceitaram que

fossem entrevistados em torno de dez de seus funcionários, entre gestores e

subordinados. A abrangência das entrevistas se deu pela particularidade de

percepções obtidas em cada entrevista, o que estabeleceu a necessidade da coleta

de informações de diversas áreas da empresa.

A monografia foi estruturada em 7 capítulos. No capítulo 2, consta a nossa

metodologia de forma detalhada, bem como um apanhado do universo pesquisado

sobre o assunto. São abordadas as técnicas utilizadas para o embasamento teórico e

levantamento de informações na pesquisa de campo, além de uma breve explanação

sobre as duas empresas estudadas.

No capítulo 3, diferenciamos os conceitos de empresa, organização e

instituição, além de abordar as particularidades da empresa familiar em relação a

outros tipos de empresas. Também neste capítulo, encontra-se um breve relato sobre

o contexto histórico e o cenário atual das organizações, bem como o modo como o

cenário mercadológico situa a gestão familiar. Os autores que nos respaldaram na

conceituação do universo organizacional foram de Chiavenato (1994, 2007, 2011),

Robbins & Decenzo (2004), Motta (2001), Srour (1998) e Clegg & Hardy (1998) no

que tange às teorias da administração e no entendimento da organização como um

todo. Werner (2004), Lodi (1998), Gonçalves (2000), entre outros, nos propiciam a

base teórica a respeito das empresas familiares e das empresas de pequeno porte.

Quando falamos no cenário atual da gestão das organizações, contamos com o

respaldo de autores como Drucker (2002), Chiavenato (1998), Sólio (2011), entre

outros já mencionados.

No capítulo seguinte, é possível entender o que é a cultura e diferenciá-la no

âmbito antropológico e organizacional. As ideias de Laraia (2004) e Srour (1998)

embasaram o modo como a cultura se forma na sociedade e como ela é fator

importante na concepção do ser humano. Autores como Schein (2009), Freitas (1999)

e Fleury (1996) nos auxiliaram no entendimento da cultura nas organizações e qual é

o seu impacto no relacionamento dos indivíduos nela inseridos. Gonçalves (2000),

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Flores (2001), Bornholdt (2007) foram de grande importância para o nosso

entendimento da cultura organizacional das empresas familiares e suas

particularidades em relação à cultura de outras organizações. Na sequência, partimos

para a questão do poder dentro das organizações e verificamos como ele é

determinante para a formação da cultura e vice-versa. Os autores que nos respaldam

nesse contexto foram Chalita (1998), Galbraith (1999), Krausz (1991), entre outros.

No capítulo 5, chegamos à questão da comunicação. Nele abordamos o

processo natural da comunicação e a comunicação organizacional, como prática de

gestão de informação e relacionamentos dentro das empresas. Autores como

Polistchuk & Trinta (2003), Rüdiger (1998), Berlo (1985), entre outros, embasam

teoricamente a questão da comunicação enquanto processo. Já quanto à prática da

comunicação organizacional, autores como Wolton (2003, 2010), Argenti (2011) e

Kunsch (2003) compõem a base teórica desse aspecto.

No capítulo 6, dedicamo-nos à análise dos dados coletados por meio do

estudo de caso das duas empresas familiares e das entrevistas em profundidade

realizadas com os funcionários e gestores. Os trechos de maior relevância foram

transcritos e analisados conforme a metodologia proposta. A partir disso,

interpretamos a relação entre cultura organizacional e comunicação organizacional

em empresas familiares.

O capítulo 7 é destinado às considerações finais dessa pesquisa, de forma a

refletir sobre os resultados obtidos. As hipóteses levantadas foram validadas ou

refutadas conforme as considerações adquiridas.

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2 O MÉTODO APLICADO

O problema de pesquisa que norteia a presente monografia se traduz na

seguinte questão: Qual é a relação entre a cultura organizacional e os processos

de comunicação presentes nas empresas familiares de pequeno porte? Para o

desenvolvimento do trabalho, estabelecemos como objetivo geral analisar a relação

entre a cultura organizacional e o desenho dos processos de comunicação interna

existentes nas empresas familiares de pequeno porte.

Para chegarmos até ele, foram traçados quatro objetivos específicos, de

acordo com as hipóteses levantadas acerca do problema de pesquisa. Temos:

a) Objetivo específico 1: Estudar a cultura organizacional das empresas

familiares e perceber suas particularidades em relação a outras formas de cultura

organizacional. Hipótese 1: A cultura organizacional das empresas familiares é

uma das variáveis determinantes para a pouca valorização da comunicação

nessas organizações;

b) Objetivo específico 2: Investigar o nível de conhecimento dos gestores quanto

à função e aos processos de comunicação nas organizações. Hipótese 2: Os

gestores de empresas familiares não têm conhecimentos sólidos sobre

processos de comunicação organizacional e a importância dela na gestão de

pessoas, produtos e processos;

c) Objetivo específico 3: Conhecer os processos de comunicação já utilizados

pelas organizações familiares estudadas, bem como quais ainda não são

utilizadas. Hipótese 3: As empresas familiares adotam um leque pequeno de

técnicas e processo de comunicação organizacional;

d) Objetivo específico 4: Entender as demandas das empresas familiares no que

tange à comunicação. Hipótese 4: Um estudo amplo, sobre as formas de gestão

das empresas familiares poderá auxiliar na compreensão e diagnóstico de suas

demandas de comunicação.

No presente trabalho, apresentamos uma pesquisa qualitativa, baseada em

uma lógica de investigação indutiva. A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural

como sua fonte direta e os dados coletados são predominantemente descritivos.

Conforme Denker & Viá (2002, p. 186), “esse tipo de pesquisa supõe o contato direto

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e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo

investigada, graças a um intenso trabalho de campo”. Para Cervo, Bervian & Silva

(2007, p. 44): “o argumento indutivo baseia-se na generalização de propriedades

comuns a certo número de casos até agora observados e a todas as ocorrências de

fatos similares que poderão ser verificadas no futuro”.

Para o trabalho em questão, a opção foi pela pesquisa qualitativa, já que

enfatiza a subjetividade dando espaço à interpretação da perspectiva individual do

objeto de estudo. Esse tipo de pesquisa preocupa-se mais com o contexto, uma vez

que o comportamento das pessoas e a situação estão ligados à formação da

experiência. No caso desse trabalho, a experiência é a relação entre cultura e

comunicação organizacional nas empresas familiares e a preocupação da pesquisa

está em investigar esse contexto. Também são características dessa modalidade de

pesquisa a flexibilidade quanto ao processo de condução da investigação e a ênfase

no entendimento e não no resultado, como ocorre nas pesquisas quantitativas.

(MOREIRA, 2002).

Segundo a base lógica de investigação do tema, o método empregado é o

fenomenológico, na medida em que “busca descrever e interpretar os fenômenos que

se apresentam à percepção”. (GIL, 2010, p. 39). Segundo o autor,

a pesquisa fenomenológica busca a interpretação do mundo através da consciência do sujeito, formulada com base em suas experiências. Seu objeto é, portanto, o próprio fenômeno tal como se apresenta à consciência, ou seja, o que aparece, e não o que se pensa ou se afirma a seu respeito. (GIL, 2010, p. 39).

Considerando que a fenomenologia, de onde vem o método fenomenológico

de pesquisa, é um movimento filosófico, seu objetivo principal é a investigação direta

dos fenômenos experimentados na consciência, bem como o estudo das aparências.

Trata-se de uma ciência que descreve fenômenos particulares e a aparência das

coisas, como experiência vivida. (MOREIRA, 2002).

Moreira (2002) explica que, no âmbito empírico, a pesquisa fenomenológica

tem como objeto o universo do outro, ou seja, ela é uma parcela do mundo vista pelos

olhos do sujeito e quem vive a experiência não é o pesquisador, mas, sim, o sujeito

da pesquisa. Esse mesmo autor salienta que o pesquisador precisará que os

envolvidos na pesquisa lhe relatem “suas experiências, suas compreensões, seus

sentimentos, suas impressões. Só assim poderá ele caminhar na direção da essência

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do seu objeto, que, no fim das contas, é a visão que o outro tem da própria

experiência”. (p. I). Ele define quais situações adaptam-se a esse tipo de pesquisa:

O método fenomenológico enfoca fenômenos subjetivos a crença de que verdades essenciais acerca da realidade são baseadas na experiência vivida. É importante a experiência tal como se apresenta, e não o que possamos pensar, ler ou dizer acerca dela. O que interessa é a experiência vivida no mundo do dia-a-dia da pessoa." (MOREIRA, 2002, p. 108).

Para a coleta empírica dos dados, as técnicas metodológicas empregadas

foram: estudo de caso de duas organizações familiares, revisão bibliográfica das

palavras-chave e entrevistas em profundidade com funcionários e gestores das

empresas familiares estudadas.

De acordo com Yin (2001), o estudo de caso diz respeito ao estudo

aprofundado de um objeto na busca dos detalhes que muitas vezes não são

percebidos em pesquisas superficiais. Essa modalidade vem ao encontro do tema

proposto, uma vez que as duas empresas familiares abordadas merecem um estudo

aprofundado de suas características e das percepções de seus membros quanto à

comunicação empregada. É ainda Yin quem salienta que “o estudo de caso é uma

inquirição empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto

da vida real, quando a fronteira entre o fenômeno e o contexto não é claramente

evidente e onde múltiplas fontes de evidência são utilizadas”. (p. 32).

Duarte (2005b) concorda com a ideia de Yin quanto ao estudo de caso,

quando afirma que esta é a estratégia ideal que o pesquisador deve seguir quando o

foco está em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real.

O autor salienta que o estudo de caso é um modo de olhar para a realidade social.

A revisão bibliográfica em livros e publicações nos serviu como base para a

investigação em campo, na medida em que o conhecimento já publicado sobre o tema

será confrontado com a percepção dos entrevistados. De acordo com Stumpf (2005),

a pesquisa bibliográfica é o planejamento de qualquer pesquisa, pois é quando o

pesquisador vai identificar, localizar e obter toda a bibliografia referente ao assunto,

para então fazer uso desse material de forma sistematizada. Nesse trabalho

sistematizado, o pesquisador deve evidenciar “o entendimento do pensamento dos

autores, acrescido de suas próprias ideias e opiniões”. (p. 51).

Analisamos questões como a cultura organizacional, a comunicação

organizacional, o conceito de organização e as especificidades da cultura de empresa

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familiar, além da definição de poder, dos públicos de interesse e da contextualização

histórica do tema. Esses conceitos foram estudados teoricamente por meio do

material bibliográfico existente e serviram de embasamento tanto para a formulação

das perguntas, quanto para a análise dos dados obtidos por meio das entrevistas em

profundidade.

A entrevista em profundidade caracteriza-se como um recurso metodológico

que busca recolher respostas a partir da experiência subjetiva de uma fonte,

selecionada por deter informações específicas que se deseja conhecer. (DUARTE,

2005a). Por meio dessa técnica, é possível “identificar as diferentes maneiras de

perceber e descrever fenômenos”. (p. 63). As entrevistas foram realizadas em

empresas de pequeno10 porte na cidade de Caxias do Sul, antecedidas de contato

com seus respectivos gestores. Procuramos duas empresas de setores diferentes,

porém com gestão familiar, para que fosse feita a comparação dos dados e dos fatores

culturais e comunicacionais empregados em cada uma.

A análise de discurso aparece para suprir a interpretação dos dados coletados

com as entrevistas em profundidade. A opção por esse tipo de análise se deu devido

à diversidade de enfoques advindos da conversa com pessoas de várias áreas e

níveis hierárquicos das organizações. Era importante interpretarmos além da palavra

dita e captar o que estava nas entrelinhas do discurso. A análise de discurso nos

oferece um olhar diferenciado sobre os dados coletados e, consequentemente, uma

interpretação mais subentendida.

Orlandi (2010, p. 15) diz que, na análise de discurso, “procura-se

compreender a língua fazendo sentido, enquanto trabalho simbólico, parte do trabalho

social geral, constitutivo do homem e da sua história”. Para a autora, o discurso é o

lugar em que se pode observar a relação entre língua e ideologia, compreendendo-se

como a língua produz sentidos por/para os sujeitos. Manhães (2005, p. 306)

complementa dizendo que analisar é o mesmo que dividir, isto é, “a análise de

discurso é, na verdade, a desconstrução do texto em discursos, ou seja, em vozes. A

técnica consiste em desmontar para perceber como foi montado”.

10 De acordo com os critérios estabelecidos pelo SEBRAE (2014), uma empresa é considerada de pequeno porte quando possui de 20 a 99 empregados e receita bruta anual de R$ 360.000,01 até R$ 3.600.000,00. O critério de classificação do porte das empresas é considerado para fins bancários, ações de tecnologia, exportação e outros.

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Orlandi (2010) salienta que, enquanto a análise de conteúdo questiona: “o que

esse texto quer dizer?”; a análise de discurso pergunta: “como esse texto significa?”.

Assim, a análise de discurso se preocupa com os aspectos da enunciação, ou seja,

em buscar o não dito, por meio das marcas impressas naquilo que foi dito.

2.1 UNIDADE DE PESQUISA

Para a pesquisa de campo dessa monografia, duas empresas familiares foram

estudadas. Realizamos as entrevistas em profundidade com cerca de dez membros

de cada organização, entre gestores, administradores e subordinados. O estudo de

caso se configurou na medida em que, além das entrevistas desenvolvidas,

pesquisamos o cenário da organização, por meio de observação em diversos setores,

pesquisa junto ao setor de Recursos Humanos sobre organograma e história,

pesquisa de documentos e observação das mídias de cada uma das marcas. Antes

de iniciarmos o processo de entrevistas em profundidade, fizemos um estudo que nos

permitiu uma análise acurada da organização, conversando inclusive com seus

proprietários.

Percebemos como cada empresa lida com o processo comunicação, por meio

do ponto de vista do seu público interno. Essas percepções nos serviram de base para

entender a relação entre a cultura de gestão familiar e a comunicação interna

empregada por ela. Por questões éticas, a identidade de ambas as organizações será

preservada. Por isso, as chamaremos de Empresa A e Empresa B.

A Empresa A pertence ao ramo alimentício, está localizada da cidade de

Caxias do Sul e atua com uma ampla estrutura que envolve indústria e comércio. A

empresa possui uma marca bastante consolidada no mercado regional, atuando para

todos os tipos de públicos.

Para a abrangência dessa pesquisa, utilizamos somente o ambiente da

fábrica, por ser onde a família fundadora encontra-se efetivamente. A estrutura familiar

caracteriza-se pela presença de dois fundadores sócios que apresentam um

parentesco como concunhados. As gerações seguintes estão concentradas em seus

respectivos filhos. Foram entrevistadas dez pessoas, sendo cinco membros da família

e cinco funcionários alocados em diversos setores.

A Empresa B é uma indústria de embalagens localizada na cidade de Caxias

do Sul. A marca não trabalha com uma forte divulgação de seus produtos, atuando de

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forma restrita e discreta. A estrutura é composta por um núcleo familiar central,

contando com o casal fundador no comando e dois filhos que já atuam no

desenvolvimento do negócio. Para a presente pesquisa, foram entrevistadas dez

pessoas, sendo quatro membros da família e seis funcionários lotados em diversos

setores.

As entrevistas em profundidade foram realizadas em um período de

aproximadamente duas semanas e individualmente. O tempo de duração de cada

entrevista variou de acordo com o aprofundamento dos assuntos em cada uma das

conversas. As entrevistas foram gravadas com o consentimento dos entrevistados e

das empresas. Os trechos mais importantes foram transcritos na análise, para servir

de referência para a interpretação dos resultados.

As questões que nortearam as entrevistas foram de estrutura aberta, ou seja,

sem respostas pré-definidas, o que permitiu maior liberdade aos entrevistados para

que expusessem suas percepções sobre o tema. As perguntas foram baseadas no

entendimento do indivíduo sobre o uso da comunicação, levando em conta o nível

intelectual de cada um e utilizando uma linguagem de acordo.

Levando em consideração a estrutura aberta das entrevistas, salientamos que

os questionamentos sofreram modificações conforme o desenvolvimento das

respostas e o conteúdo abordado pelo entrevistado. O roteiro de perguntas iniciais

para os funcionários de cargos operacionais e administrativos foi:

a) Como você considera o ambiente, o clima e a cultura da empresa?

b) Como você caracteriza os relacionamentos dentro da empresa?

c) Para você, o que é comunicação?

d) Como a empresa comunica as informações importantes?

e) Como você fica sabendo de novidades, comunicados, informações, eventos?

f) Você considera que a forma de comunicação é eficaz?

g) Todos ficam sabendo das informações de forma rápida e clara?

h) Quando precisa de alguma informação específica da empresa, de que forma

você busca?

i) Você acha que a empresa comunica a seus funcionários o que realmente

deveria comunicar?

j) Ou ela é mais fechada, tomando decisões que vêm de cima para baixo?

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k) Você acha que as pessoas têm espaço para se manifestarem e se

comunicarem dentro da organização?

l) Se você fosse classificar a comunicação da empresa, diria que ela é: formal,

informal, aberta ou fechada?

No caso das entrevistas com gestores ligados diretamente à família, as

perguntas foram direcionadas ao processo decisório do uso estratégico da

comunicação, sendo elas:

a) Como você considera o ambiente, o clima e a cultura da empresa?

b) Como você avalia os relacionamentos dentro da empresa?

c) Para você, o que é comunicação?

d) Quais as ferramentas de comunicação (interna e externa) utilizadas pela

empresa atualmente?

e) Como você avalia os resultados gerados pelo uso das ferramentas de

comunicação utilizadas atualmente?

f) Como você avalia o investimento em comunicação?

g) Qual a sua percepção sobre outras ferramentas de comunicação que

poderiam ser implantadas na empresa?

h) Na sua opinião, quais são os principais benefícios que uma comunicação

eficaz pode gerar para a empresa?

i) Hoje, você considera que a comunicação em sua empresa é boa ou eficaz?

j) Como você imagina que os funcionários da empresa veem a comunicação

dentro dela?

Apesar da estrutura já definida de perguntas que nortearam as entrevistas,

ressaltamos novamente que houve desvios de acordo com a receptividade e o

conhecimento de cada um dos entrevistados. À medida em que percebíamos que

determinado assunto era mais delicado e suscetível a maiores explicações, as

perguntas foram se aprofundando para garantir um enfoque mais específico quanto à

percepção do indivíduo.

Entendemos que foi justamente neste aprofundamento dos detalhes menos

explícitos que a análise do discurso nos auxiliou. Os problemas, defeitos e situações

que oportunizaram uma interpretação mais aprofundada foram os pontos em que a

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análise do discurso nos permitiu avaliar de fato como se dá a relação entre cultura e

comunicação organizacional na empresa familiar.

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3 EMPRESA

Antes de tudo, é importante que diferenciemos os conceitos de organização,

empresa e instituição, a fim de evitar usos inadequados de tais termos.

Para conceituar organização, Chiavenato (2011, p. 6) a descreve como

“unidades sociais ou agrupamentos humanos intencionalmente construídas e

reconstruídas, a fim de atingir objetivos específicos”. Com isso, entendemos que as

organizações não constituem unidades prontas, mas organismos vivos e sujeitos a

constantes mudanças e transformações no caminho do seu desenvolvimento e busca

da excelência.

Robbins & Decenzo (2004, p. 4) complementam essa definição ao afirmarem

que “uma organização é um arranjo sistemático de pessoas reunidas para alcançar

algum propósito específico”. Motta (2001, p. 12) vai um pouco além do conceito e trata

da organização como uma rede de tomada de decisões, respaldada pela teoria. Para

ele, a eficiência dessa rede dependerá da articulação de diversos fatores estruturais

e comportamentais, os quais são amparados pela teoria.

Já a empresa, a partir de Chiavenato (1994, p. 70), pode ser entendida como

“um sistema aberto, em constante intercâmbio com o meio ambiente externo que a

envolve e do qual faz parte”. Esse conceito, em nosso trabalho será aplicado a um

sistema focado na produção de bens ou serviços e que visa ao lucro, como, por

exemplo, uma indústria ou um estabelecimento comercial. Quando falamos em

organizações, partimos para um universo mais amplo, que inclui sistemas cujo

objetivo não inclui o lucro, a exemplo de ONGs e associações sem fins lucrativos.

Ressaltamos que a diferença primordial entre esses dois termos está na

objetivação do lucro; ambos são sistemas abertos que trabalham por uma finalidade,

mas a empresa tem o lucro como objetivo principal. Sendo assim, temos que todas as

empresas são organizações, mas nem todas as organizações são empresas, como é

o caso das Organizações Não Governamentais – ONGs.

Quanto à instituição, entendemos a partir de Srour (1998) que ela compreende

um conjunto de normas sociais. Kunsch (2003) concorda com essa afirmação, quando

conceitua instituição como uma organização que incorpora as normas e os valores

considerados valiosos para seus membros. Pereira (1988) conceitua instituição como

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produto de necessidades e pressões sociais, valorizada pelos seus membros e pelo ambiente, portadora de identidade própria, preocupada não somente com lucros ou resultados, mas com a sua sobrevivência e perenidade e guiada por um claro sentido de missão. (PEREIRA, 1988, p. 10).

Temos, então, que tanto empresas quanto organizações podem constituir

instituições, porém o sentido mais amplo de instituição está ligado ao fato de que as

pessoas constroem sua vida em torno delas, identificando-se e delas tornando-se

dependentes. Para que uma empresa ou organização se institucionalize, Kunsch

(2003), baseada nas ideias de Selznick (1972), diz que é preciso que ela passe por

um processo em que reflita sua história particular, os grupos que engloba com os

diversos interesses e a maneira como se adaptou ao ambiente. A autora define o

ponto de vista do autor como um processo que está na “infusão de valores que

ultrapassam as exigências técnicas das tarefas”. (SELZNICK, 1972 apud KUNSCH,

2003, p. 39). Entendemos que, para que uma empresa ou organização seja

considerada uma instituição, ela precisa ter seus valores e sua imagem fortalecidos

por meio de suas ações e, de fato, incorpore esse pensamento naquilo que ela realiza.

A partir da concepção de Lebrun (2009), é possível perceber a complexidade

do termo instituição, devido aos variados significados que ele assume no campo da

psicanálise. Para o autor, podemos considerar três definições:

No plural, as instituições designam o conjunto das formas ou estruturas fundamentais de organização social, como são estabelecidas pela lei ou pelos costumes. Ou, no singular, instituição remete ao conjunto de estruturas organizadas tendendo a se perpetuar em cada setor de atividade social: assim é a instituição jurídica, política, artística... Finalmente, a instituição também significa a ação de instruir e de formar pela educação. (LEBRUN, 2009, p. 13)

Parece-nos importante, nesse momento, trazer o conceito de instituição, na

medida em que no cotidiano das empresas familiares, principalmente de pequeno

porte, pode haver uma tendência ao sombreamento entre empresa (negócio) e família

(instituição), o que, certamente, marcará a cultura, a forma de

gerenciamento/administração e as relações de poder.

Esta breve definição das diferentes categorias se faz importante para elucidar

o conceito de cada um desses termos que enquadram o ramo organizacional e

enriquecer o desenvolvimento da nossa pesquisa. Partimos, agora, para o

aprofundamento do estudo das organizações, desde o seu contexto histórico até sua

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estrutura e seus relacionamentos internos, antes de entrarmos nas especificidades da

empresa familiar e, posteriormente, no universo das organizações no cenário atual.

3.1 A ORGANIZAÇÃO E SEU PAPEL SOCIAL

Chiavenato (2011, p. 5) afirma que "vivemos em uma sociedade composta de

organizações”. Entendemos essa colocação como uma visão da vida social dos

indivíduos permeada por relações organizacionais, das quais ele necessita para

sobreviver. O autor complementa dizendo que:

A organização é o mais eficiente meio de satisfazer um grande número de necessidades humanas. Em virtude de suas limitações físicas, biológicas e psicológicas, o ser humano busca, por meio da cooperação com seus semelhantes, a conjugação de esforços para atingir objetivos que sozinho não teria condições de atingir. [...] As organizações surgem dessa necessidade primária de cooperação. Afinal, a união faz a força. Toda organização é composta de duas ou mais pessoas que interagem entre si por meio de relações recíprocas para atingir objetivos comuns. (CHIAVENATO, 2011, pag. 5).

A ideia de que a sociedade é permeada por organizações e o ser humano

necessita delas para sobreviver nos mostra o valor social que elas possuem. A

importância das organizações em nosso cotidiano sobrepõe a necessidade do simples

consumo por produtos e serviços, ou do lucro por meio deles, e chega até a

necessidade de sobrevivência da espécie humana por meio do esforço conjunto.

Marchiori (2008) aborda a organização sob o ponto de vista do fenômeno

social, caracterizado pela interação humana. Para a autora, “os padrões de

comportamento são um fenômeno cultural distinto, visto que são o produto da

interação social e do discurso”. (p. 76). Assim como a cultura influencia os sistemas e

os comportamentos de uma sociedade, a organização também recebe influências do

meio ambiente, por ser um sistema aberto.

Ainda enquanto fenômeno social, Kunsch (2003) salienta que a organização

não pode ser considerada somente quanto ao seu âmbito interno, de forma estática.

Segundo ela, “temos que considerá-la vinculada ao ambiente em que ela vive,

incluindo os aspectos sociais, econômicos, políticos, tecnológicos, ecológicos e

culturais, variáveis que interferem enormemente na vida organizacional”. (p. 30).

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Em conjunto, trazemos a visão de Clegg & Hardy (1998), onde cada indivíduo

vê as organizações como um objeto diferente. Para os autores, “as organizações são

efeito da interação recíproca de conversações múltiplas” (p. 31), isto é, são objetos

empíricos e locais de ação social, abertos às práticas de conversações sobre temas

que permeiam a sociedade.

Mais do que entender a função social da organização, precisamos partir para

uma análise mais aprofundada de como funciona o interior desses sistemas e como

se fazem presentes as relações entre indivíduos e grupos. Porém, não sem antes

compreendermos qual o contexto histórico em que a figura da organização surgiu na

nossa sociedade e como esse modelo se firmou como um fenômeno social.

3.1.1 O contexto histórico

Com o propósito de situar o lugar das organizações no contexto da nossa

sociedade, propomos um resgate dos principais marcos históricos e culturais que

fizeram com que elas buscassem o desenvolvimento de suas técnicas e processos.

Sabendo da extensa jornada da evolução do sistema capitalista, a intenção aqui é

atermo-nos ao contexto histórico das organizações, desde o seu surgimento no final

do século XVIII, com a Revolução Industrial. O resgate é, portanto, factual e não

analítico, baseado no desenvolvimento da teoria da administração, e contempla

apenas alguns dos momentos mais significativos da evolução conceitual das

organizações, cronologicamente.

Motta (2001) afirma que os primeiros estudos sobre a teoria da administração

surgiram a partir da preocupação com o aumento da produtividade, que veio como

reflexo da Revolução Industrial, mudando radicalmente a cultura material do ocidente.

A partir dos anos 1860, a sociedade industrial imprimiu intensas mudanças nos

processos e nos mecanismos de produção, com, por exemplo, a substituição do ferro

pelo aço e da força a vapor pela eletricidade e pelo petróleo. Cada vez mais, a

sociedade tinha necessidade de transformar a administração em uma área do

conhecimento. (CHIAVENATO, 2007).

A Administração Científica de Taylor data do começo do século XX e foi a

primeira tentativa de aplicação de métodos científicos ao trabalho operacional das

indústrias, a fim de aumentar a produtividade. Essa teoria centrou-se nas tarefas do

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operário, medindo sua produtividade por peças produzidas e assim o remunerando

conforme a quantidade. (CHIAVENATO, 2007).

Próximo aos anos 1920, o advento da Escola Clássica levou autores como

Fayol, Urwick, Gulick, Gantt e Gilbreth, a introduzirem o pensamento de que a

organização deveria ser vista como um todo, a partir da sua estrutura para garantir

eficiência a todas as partes envolvidas. Motta diz que

as ideias desses pioneiros poderiam ser resumidas na afirmação de que alguém será um bom administrador à medida que planejar cuidadosamente todos os seus passos, organizar e coordenar as atividades de seus subordinados e comandar e controlar o seu desempenho. (MOTTA, 2001, p. 6).

Fayol contribuiu para esse pensamento, ao classificar as funções do

administrador: planejar, organizar, coordenar, comandar e controlar. (MOTTA, 2001).

Percebemos, assim, uma grande distância entre os postulados da teoria da

administração do início do século XX e os postulados da sociedade a partir da

segunda metade do mesmo século, quando ao lado da preocupação com métodos e

processo deverá estar, também, a preocupação com os indivíduos dessas mesmas

organizações. Até a primeira metade do século XX, a comunicação seria sinônimo de

informação, enquanto que a partir principalmente dos anos 60, ela estará vinculada a

processos de comunicação. Como esclarece Sólio (2010, p. 65), a comunicação

pressupõe uma “relação de quem informa e quem é informado, rumo à interpretação,

à produção de significação”.

A contribuição do psicólogo George Elton Mayo foi um dos primeiros passos

para o estudo da comunicação organizacional, mesmo que focado no campo da

administração. Segundo Motta (2001), a Teoria das Relações Humanas surge a partir

da década de 20, quando o homem passa a ser visto não só a partir de um

comportamento mecanicista, mas como um indivíduo movido por necessidades de

segurança, aprovação social, afeto, prestígio e auto realização. Em contrapartida, a

ideia de Max Weber, sobre a burocracia, também ganha força, ao abordar a

necessidade de um modelo racional de organização, que surge com a aumento de

tamanho e complexidade dos negócios. (CHIAVENATO, 2007).

Outras duas correntes ainda se intensificam na primeira metade do século XX:

a Teoria Estruturalista, proposta por Amitai Etzoni e se concentrava no estudo das

estruturas das organizações, tanto interna quanto na interação com outras

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organizações; e o Behaviorismo, baseado na ciência do comportamento e que

propunha o abandono de posições normativas e a adoção de posições explicativas e

descritivas, com ênfase nas pessoas, porém em um contexto organizacional mais

amplo. A perspectiva comportamental representa um desdobramento da perspectiva

humanística. (CHIAVENATO, 2007 e MOTTA, 2001).

A partir dos anos 60, surge a ideia do Funcionalismo, proposto por Talcott

Parsons e que trouxe primeiro a análise estruturalista e depois a concepção da teoria

dos sistemas abertos. Esse pensamento trata da organização como um sistema em

mudança contínua e encara os conflitos como um processo social básico,

determinante para a mudança. (MOTTA, 2001).

Pela Teoria da Contingência, Burns e Stalker introduziram um “conjunto de

conhecimentos, derivados de diversos empreendimentos de pesquisa de campo, que

procuraram delimitar a validade dos princípios gerais da administração e organização

a situações específicas”. (MOTTA, 2001, p. 25). Segundo essa teoria, existem dois

ideais de organização:

o sistema mecânico é adequado a condições relativamente estáveis de tecnologia e mercado, enquanto o sistema orgânico é adequado às condições opostas. Caracteriza-se por uma divisão de trabalho rígida, por uma nítida hierarquia de controle, pela concentração de autoridade de linha na cúpula administrativa [...] O segundo se caracteriza pelo ajustamento contínuo às mudanças ambientais e pela redefinição continuada de tarefas correspondentes, pela valorização do saber especializado e das comunicações horizontais e verticais exigida pelo processo de trabalho. (MOTTA, 2001, p. 25).

A partir dos anos 60/70, a principal mudança ocorrida na sociedade

caracteriza-se pelo momento em que as organizações foram pressionadas pela

sociedade com vistas a mudar de rumo, olhando para a Responsabilidade Social

Empresarial e para a cidadania empresarial, adotando conceitos de administração

participativa. Drucker (2002) aponta sobre a relação da organização com o

empregado, que ultrapassa os portões das fábricas e leva para uma concepção de

responsabilidade social. Segundo o autor,

essa nova concepção da responsabilidade social já não pergunta quais são as limitações, ou o que ela deveria estar fazendo em favor daqueles que se encontram sob sua autoridade imediata. Ela exige que as empresas assumam responsabilidades em relação aos problemas sociais, às questões sociais e às metas políticas e sociais, bem como que passem a ser as

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guardiães [sic] da consciência moral e as solucionadoras dos problemas sociais. (DRUCKER, 2002, p. 324-325).

Com este breve passeio pela Teoria da Administração, já é possível entrarmos

no estudo das estruturas e das relações que envolvem as organizações

contemporâneas. Percebemos que as atenções estiveram focadas em diversos

aspectos da organização ao longo da evolução das teorias. Ora na estrutura e nos

processos racionais, ora nas pessoas, sempre houve a preocupação em buscar o

desenvolvimento e o aprimoramento das técnicas e dos processos produtivos dentro

das organizações desde que a ciência se fez presente nesse campo.

Cientes de que as abordagens acerca da organização podem ir muito além do

que foi exposto, reafirmamos nosso desejo em buscar respaldo teórico de modo

sucinto, sem perder o foco de nosso objeto de estudo: a cultura e a comunicação nas

organizações familiares. É nesse âmbito que pretendemos nos aprofundar por todas

as perspectivas.

3.1.2 A estrutura e as relações

Ao falarmos sobre a organização, é importante mencionar algumas das

diferentes categorias que compõem sua estrutura. O estudo das relações que ocorrem

dentro dela também se faz necessário, principalmente, para as relacionarmos à

cultura organizacional que será abordada no capítulo seguinte. É fato que existe uma

grande diversidade de organizações em nossa sociedade capitalista. Sejam elas da

indústria, do comércio ou do setor de prestação de serviços, ONGs ou escolas; de

pequeno, médio ou grande porte, multinacionais, estatais; com dez ou mil

funcionários; com atuação em inúmeros mercados, enfim, a variedade de estruturas,

formatos e funções é grande.

Robbins & Decenzo (2004) colocam que são três as características comuns a

todas as organizações: propósito, pessoas e estrutura. O propósito de uma

organização é geralmente expresso em termos de uma meta ou de um conjunto de

metas. Esse conceito, imagina-se, pode abranger todo o universo simbólico para

obtenção de objetivos da organização, inclusive sua cultura. O segundo item, de

acordo com os autores, parte do pressuposto de que nenhum propósito ou meta pode

ser alcançado sem pessoas tomando decisões para estabelecer o propósito e

desempenhar várias atividades a fim de transformar a meta em realidade. Por fim,

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todas as organizações desenvolvem uma estrutura sistemática que define e limita o

comportamento de seus membros, como a criação e manutenção de regras e

regulamentos, contemplação de poder, etc.

Já, Srour (1998, p. 122) defende que as características comuns a qualquer

organização, além da infraestrutura material, estão no “sistema de poder, que se

traduz em centros específicos em que o mando se exerce, e no universo simbólico,

cujos padrões culturais são inculcados e praticados pelos agentes sociais”. Aqui já é

possível considerar os aspectos intangíveis que dão vida à organização visualizando-

a como um sistema efetivamente mais complexo.

Ainda levando em conta os aspectos abstratos da organização, Motta (2001,

p. 22) considera que “qualquer organização, ainda, apresenta uma cultura e um clima

organizacionais que dizem respeito aos valores dominantes e às formas pelas quais

esses valores se manifestam”. A cultura, conforme trataremos com mais profundidade

no próximo capítulo, é parte do universo simbólico da organização e atua como um

sistema compartilhado de valores da empresa (ROBBINS, 2005), enquanto o clima

organizacional refere-se às “influências do ambiente interno de trabalho sobre o

comportamento humano”. (SIQUEIRA, 2008).

Considerando a grande gama de classificações para os diferentes tipos de

organizações, trazemos a contribuição de Kunsch (2003) ao apresentar, de forma

clara e resumida, as principais tipologias organizacionais sugeridas por Parsons

(1974), Etzioni (1974), Blau e Scott (1979) e Katz e Kahn (1978), levando em conta o

indicativo predominante de cada classificação.

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Tabela 1 – Estudos comparativos das tipologias das organizações

Autores Indicativo predominante Organizações

Parsons Função ou meta 1. Econômicas 2. Políticas 3. Integradoras 4. De manutenção

Etzioni Poder e sujeição 1. Coercitivas 2. Utilitárias 3. Normativas

Blau e Scott Beneficiário principal 1. De benefícios mútuos 2. De negócios 3. De serviços 4. De bem-estar público

Katz e Kahn Função genotípica/processo de transformação

1. Produtivas ou econômicas 2. De manutenção 3. De adaptação 4. Gerenciais-políticas

Fonte: KUNSCH (2003, p. 48).

Embora haja algumas similaridades quanto às tipologias apresentadas, a

autora salienta que não há uma teoria universal que caracterize as organizações de

forma única. Essa pluralidade de tipologias nos leva a considerar novamente que as

organizações constituem diferentes formatos e estruturas, sendo imprescindível que

olhemos para elas conforme suas particularidades. O confronto de tipologias, pois,

vem ao encontro dessa diversidade, para facilitar a análise de cada caso, visto que as

empresas familiares também permitem diversos encaixes nesse universo.

Partimos, agora, para a explanação de como se dão as relações dentro da

organização e como essas relações são por ela influenciadas. Srour (1998) é quem

nos embasa a respeito das relações organizacionais, uma vez que sua obra “Poder,

cultura e ética nas organizações” nos fornece uma rica contribuição sobre seu

ambiente interno. Para o autor, “as relações que estruturam as organizações são

relações coletivas que abrangem e conectam coletividades”. (p. 109).

Srour (1998) classifica as relações organizacionais em relações de trabalho,

de propriedade e coletivas. As relações de trabalho definem “o modo como os agentes

se relacionam, a partir de sua atuação no processo de trabalho” (p. 110), ou seja,

essas relações articulam, no processo de produção, quem comanda e quem opera.

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As relações de propriedade, segundo o autor, abrangem “o modo como os

agentes se relacionam com base na capacidade efetiva de apropriar-se dos

excedentes econômicos que o trabalho gera”. (p. 110) Essas relações se dão de

acordo com a propriedade econômica gerada pelos meios de produção e abrangem o

aspecto patrimonial do processo de produção. Estamos, pois, na esfera das relações

capital x trabalho.

Já, as relações coletivas abrangem os públicos interno e externo da

organização e não se limitam às relações de produção, como as demais, pois “incluem

também relações de poder e de saber, de maneira que as organizações põem em

jogo uma teia complexa de relações, tais como as estabelecidas entre patrões e

empregados, chefes e subordinados e peritos e práticos”. (p. 111). O autor define dois

tipos de relações coletivas:

a) Relações estruturais: internas à organização, articulam classes e categorias

sociais, e dizem respeito aos processos de produção econômica, política e

simbólica;

b) Relações de consumo: externas à organização, ligam essas a seus públicos,

e remetem aos processos de transferência de produtos e serviços para

consumidores finais.

Srour também coloca que o indivíduo personifica outros agentes coletivos,

externos, ou seja, o funcionário possui outros grupos e organizações dos quais faz

parte, como igrejas, clubes, família, amigos, escolas, etc. Esses relacionamentos

precisam ser levados em conta, no momento de analisar as relações de trabalho, de

propriedade e coletivas do indivíduo com a organização. Segundo o autor:

Todo agente individual porta assim um conjunto preciso de relações coletivas: corporifica uma classe social como seu suporte vivo, personifica algumas categorias sociais e participa de determinados públicos. Embora seja meramente um indivíduo, no dia-a-dia das práticas sociais encarna ou dá vida a vários agentes coletivos. (SROUR, 1998, p. 113).

Para complementar a visão de Srour, Robbins & Decenzo (2004) tratam do

comportamento organizacional, como modo de analisar as ações das pessoas no

ambiente de trabalho. Segundo os autores, o comportamento organizacional abrange

duas áreas: o comportamento individual, que inclui elementos como personalidade,

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percepção, aprendizagem e motivação; e o comportamento em grupo, que aborda as

normas, papéis, formação de equipes e conflitos. A interpretação do comportamento

em grupo não está, de acordo com os autores, simplesmente, na soma dos

comportamentos individuais, visto que cada um age de maneira diferente quando está

sozinho e quando está inserido em um grupo.

Para analisar o comportamento e, consequentemente, como se dão as

relações organizacionais, os autores sugerem a visualização da organização por meio

da metáfora de um iceberg, onde existem aspectos visíveis, como estratégias,

objetivos, políticas e procedimentos, estrutura, tecnologia, autoridade formal e cadeias

de comando; e aspectos ocultos, como atitudes, percepções, normas do grupo,

interações informais, conflitos interpessoais e intergrupo. Neste último, encontram-se

subentendidas as relações dos indivíduos e o mote do seu comportamento.

Bion (1961) analisa o comportamento do indivíduo em grupo a partir de

pressupostos básicos de dependência, luta e fuga, e acasalamento. Esses elementos,

segundo o autor, expressam o conflito entre os desejos do indivíduo e a mentalidade

do grupo, traduzindo reações defensivas frente à ansiedade e aos dilemas vividos

dele. O autor caracteriza valência como a capacidade de o indivíduo combinar-se com

os outros, de acordo com os pressupostos.

Quando o pressuposto de dependência predomina, o líder detém poderes

onipotentes, capaz de satisfazer as necessidades dos subalternos. Já quando o

pressuposto de luta e fuga é o predominante, acontece um fenômeno que indica a

convicção de que existe um inimigo, onde os únicos caminhos possíveis são atacar

ou fugir, a partir de sentimentos de ódio e destruição. Por último, o autor caracteriza

que o pressuposto de conjugação ou acasalamento manifesta-se na imagem de um

líder salvador para o grupo, a partir de sentimentos de esperança e porvir. (BION,

1961).

Marchiori (2008) foca sua atenção nos públicos presentes no microambiente,

já que são eles os responsáveis por atingir os objetivos da organização. Segundo a

autora, “as organizações são compostas por uma rede de relações internas e tudo

depende de que maneira a empresa trata essas relações junto a seus públicos”. (p.

33). Concordamos com a sua interpretação, uma vez que é preciso que haja

relacionamentos efetivos dentro da organização com o intuito de buscar o

comprometimento e o entendimento dos objetivos tanto por parte dos públicos, quanto

da própria organização.

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Entendemos ser de total importância que os administradores considerem a

criação e a manutenção da rede de relações da organização, respaldada pela sua

estrutura, de forma a compreender os valores e as atitudes de cada indivíduo e assim

traçar o modo como o comportamento organizacional se forma. A comunicação, como

veremos mais adiante, tem o papel de suprir essa necessidade estratégica de manter

a rede em sintonia e interação.

3.2 A EMPRESA DE GESTÃO FAMILIAR

Se considerarmos o contexto histórico do Brasil no século XIX, veremos que

o café era o principal item de exportação do país na época e que dependia de trabalho

escravo negro. De acordo com Baer (2002)

as técnicas de produção eram rudimentares, baseadas no trabalho de escravos negros e mulatos, que geralmente viviam à parte da economia monetária. A fazenda era administrada pelo proprietário, o fazendeiro, que reinava como um patriarca poderoso sobre as questões sociais e políticas na área adjacente, além de controlar as atividades econômicas da fazenda em si. (BAER, 2002, p. 38).

Esse modelo escravocrata de produção podemos considerar como um marco

no surgimento do negócio familiar, onde o fazendeiro é o fundador e o comando da

fazenda é passado às gerações seguintes por direito. Podemos supor que tenha sido

partir dessa concepção que surgiu o embrião da empresa familiar no Brasil. As

mudanças sociais seguintes, como a abolição da escravatura e a imigração

contribuíram para a consolidação do modelo de industrialização do país.

Pinheiro e Hall (1981) dizem que a imigração em grande escala, financiada

pelo Estado, começou em meados de 1880 e servia para aumentar a mão-de-obra na

agricultura e, mais tarde, para a indústria em ascensão de São Paulo. Os autores

afirmam que a partir dos anos 20, com a repressão policial, “algumas empresas

tentavam afirmar a imagem da fábrica como uma família e a personalidade do patrão

como um pai para os operários”. (p. 208). Daí, surge um indício de como a cultura da

empresa familiar, baseada na figura do líder, pode ter sido introduzida conforme o que

conhecemos.

De acordo com Werner (2004), a empresa familiar pode ser definida como:

aquela que nasceu de uma só pessoa, um empreendedor, que a fundou, a

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desenvolveu e, com o tempo, a compôs com membros da família a fim de que, na sua

ausência, a família suprisse o comando; e aquela que tem o controle acionário nas

mãos de uma família, a qual, em função desse poder, mantém o controle da gestão

ou de sua direção estratégica.

O autor defende que há uma diferença entre empresa empreendedora e

empresa familiar. A empresa empreendedora está na primeira geração e, portanto,

“sob o domínio direto do empreendedor11. Já, a verdadeira empresa familiar é aquela

que ultrapassou a primeira geração e convive com uma pleura [sic] de herdeiros e

sucessores”. (p. XX). Muitas empresas são conhecidas como familiares, porém ainda

estão sob o comando da primeira geração. Uma organização, pois, só se torna familiar

depois que passa a enfrentar o processo de sucessão do empreendedor para seu

herdeiro. Para complementar essa definição, Oliveira (2010, p. 3) afirma que “a

empresa familiar caracteriza-se pela sucessão do poder decisório de maneira

hereditária a partir de uma ou mais famílias”.

Bornholdt (2007, p. 33) define a empresa familiar como “qualquer organização

com vínculos que vão além do interesse societário e econômico”, ou seja, onde os

relacionamentos e a cultura abrangem valores emocionais, já que a empresa é o

projeto de vida de seu fundador. Esse autor trata da cultura organizacional como

reflexo da própria cultura da família empresária. Para entender e trabalhar a

governança das empresas familiares, segundo o autor, “é necessário compreender

esses traços culturais que se caracterizam por princípios e valores no convívio familiar,

na forma de fazer negócios e ao lidar com os apostadores no empreendimento”. (p.

23).

Werner (2004) enumera os pontos fracos e fortes de uma empresa familiar,

que, de acordo com ele, são comuns a qualquer empreendimento familiar. Segundo

ele,

as características positivas de um negócio familiar estão relacionadas, em geral, às qualidades do empreendedor. Pontos negativos costumam ser consequência das dificuldades dos processos sucessórios e da transferência do patrimônio e da gestão para as futuras gerações. (WERNER, 2004, p. 9).

11 De acordo com Drucker (2002), o empreendedorismo é uma prática que denota visão de mercado e evolução nos negócios. Entendemos, pois, como um processo pelo qual o negócio é iniciado e desenvolvido. Assim, o empreendedor é um sujeito que possui habilidade para perceber oportunidades, alcançar objetivos pretendidos e assumir riscos calculados. Já o empresário, para Souza (2011), é um líder, um agente de mudança e o quem adota e estipula novas combinações produtivas. O autor salienta que o empresário é definido pela sua função de pôr em prática as inovações do negócio.

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Os aspectos positivos compreendem os valores expressos na cultura e nas

atitudes e que são definidos na missão, como união, harmonia, senso de equipe, ética

e moral, um claro sentido de missão, estruturas bem dimensionadas, poder de

decisão, capacidade de reação, informalidade e conhecimento de mercado. Os pontos

negativos, em minoria, são a gestão centralizada, estruturas difusas, limites subjetivos

de autoridade e excesso de informalidade. (WERNER, 2004).

Ressaltamos a importância de discorrermos sobre o quesito “informalidade”,

tratado pelo autor como ponto positivo e negativo ao mesmo tempo. Trata-se de um

aspecto positivo quando relacionado aos processos que exigem agilidade e tomadas

ágeis de decisão, porém pode apresentar uma ameaça ao negócio quando em

excesso. Essa ameaça pode se fazer presente porque os empreendedores, por

portarem o controle quase total da empresa, desconsideram o planejamento

estratégico e não traçam objetivos a longo prazo.

A governança corporativa, termo cunhado por diversos dos autores aqui

mencionados, atua como um processo de preparação e planejamento, em que o

cenário da empresa familiar é considerado no seu decorrer evolutivo, a fim de prepará-

la para a sucessão. Para Bornholdt (2007, p. 21), o ato de governar as empresas

familiares trata de “normas e regras entre os diferentes interesses em torno de uma

cultura organizacional formada ao longo da história”.

De acordo com Moreira Junior & Bortoli Neto (2007), os principais problemas

enfrentados pela empresa familiar estão nos conflitos e no crescimento da família em

desordem com os cargos disponíveis. Lodi (1998, p. 3) também expõe sua visão sobre

o que atrapalha o desenvolvimento da empresa familiar, quando diz que “não é a

família em si que atrapalha a empresa, ou vice-versa, mas a ignorância dos problemas

desse relacionamento e a falta de um código de relações”. Nesse sentido, “a

governança tem importante papel, na medida em que pode reduzir conflitos e criar

espaço para que os familiares que não serão gestores tenham contato e poder de

decisão na empresa”. (MOREIRA JUNIOR & BORTOLI NETO, 2007, p. 5).

Frente ao exposto, percebemos a importância de que as empresas familiares

atuem de forma planejada e estratégica, tanto no seu posicionamento de mercado,

quanto na preparação para o futuro, quando o momento da sucessão chegar. A família

é uma realidade inegável para essas organizações e ela não pode ser desconsiderada

como fator de influência e de poder na formação do futuro da empresa. É sobre ela, a

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família e seu papel fundamental no cerne das empresas familiares, que nos

aprofundaremos a partir de agora.

3.2.1 A família como instituição

Quando falamos sobre a diferença entre organização e instituição, frisamos

que esta última abrange um conjunto de valores e normas sociais intimamente

atrelados aos seus membros. A família constitui uma instituição, à medida em que

reúne fatores de importância fundamental, social, política e econômica.

(GONÇALVES, 2000). Esse autor ressalta que o modelo herdado pela sociedade

ocidental foi o da família nuclear, que tem por base o casamento entre um homem e

uma mulher e que é tomado pela sua estabilidade.

A força da família no universo empresarial se consagrou aos poucos em nossa

sociedade, muito antes dessa instituição ser baseada no afeto e na livre escolha pela

união. Na Idade Média, o casamento era visto como um contrato, onde o homem

detinha poder central, tendo a necessidade de manter uma linhagem, exercer seu

poder e confirmar sua honra. De acordo com Gonçalves (2000, p. 9), “como no mundo

medieval não houve espaço para o privado, o homem não era visto como indivíduo,

mas como membro de uma família”, portanto, ele tinha o dever de manter a integridade

em nome do legado dela.

Além de manter os valores ancestrais, o homem tinha a obrigação de gerar

recursos com o objetivo de manter a família com dignidade e conforto. Dito isso, fica

claro que a busca pelo desenvolvimento e pela criação de um negócio era vista como

algo natural, principalmente, no que diz respeito a manter o sustento da família.

Gonçalves é quem nos indica esse caminho histórico das famílias como órgãos

econômicos e garante que elas, enquanto instituições, justificam eticamente a

propriedade privada e a busca por riquezas. (GONÇALVES, 2000).

A família nuclear assume, então, uma posição no sistema econômico, no qual

desempenha uma função que a torna parte de uma classe social, havendo diferenças

materiais e culturais entre famílias burguesas, operárias e de classe média. Esse

modelo de família nuclear, que alavancou o empreendedorismo familiar, foi motivado

pela privacidade, tanto de seus bens, quanto da sua força de trabalho. Segundo

Gonçalves (2000),

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a família nuclear, estruturada para servir aos seus objetivos, sempre foi vista como o porto seguro da privacidade, a guardião do 'privado', reivindicado pela nova ordem e reconhecido pelo novo Estado de Direito. A privacidade da família não poderia ser exposta, mas cabia a ela justificar-se perante a sociedade, que pregava dois imperativos: a família devia ser decente e obediente aos princípios da boa moral e os filhos deviam ser educados e preparados para enfrentar a vida com competência e dignidade – tudo isso num lar materializado numa casa limpa e adornada, sede do patrimônio familiar a ser construído e aumentado. (GONÇALVES, 2000, p. 18).

Ainda segundo o autor, mesmo quando o amor firmou-se como propósito para

o casamento, a instituição da família não perdeu sua finalidade econômica. O conceito

de família democrática, aquela advinda com os movimentos feministas, que

garantiram maior igualdade entre homem e mulher, foi surgindo muito vagarosamente

no decorrer do século XX, mas mesmo assim o modelo nuclear e patriarcal

permaneceu forte, trazendo um patrimônio, status e poder carregados no nome.

(GONÇALVES, 2000).

Na sociedade atual, entendemos que o formato da família já não é o mesmo

constituído no século XIX, mas, sim, uma “família mosaico”, composta por diversos

sujeitos e formações diferenciadas. Roudinesco (2003) aponta que, dentre as causas

da ruptura da família nuclear, bem como do casamento como contrato social, estão a

legalização do aborto, a independência da mulher, os procedimentos de gravidez

assistida, a homossexualidade, entre outros. Mesmo com as mudanças apontadas, a

autora afirma que o formato tradicional da família mantém-se vivo:

A família contemporânea, horizontal e em 'redes', vem se comportando bem e garantindo corretamente a reprodução das gerações. [...] o casamento, em constante declínio, tornou-se um modo de conjugalidade afetiva pelo qual cônjuges – que as vezes escolhem não ser pais – se protegem dos eventuais atos perniciosos de suas respectivas famílias ou das desordens do mundo exterior. (ROUDINESCO, 2003, p. 197).

Frente ao que já foi exposto sobre o poder da família, compreendemos que

ela seja fundamental na evolução do negócio como tal. A estrutura da família

desempenha um papel da maior importância na definição do objetivo da empresa

enquanto projeto de vida de seu fundador. É sobre essa figura, o eixo central da

empresa familiar, que nos ateremos por ora, antes de falarmos sobre o processo

sucessório e suas implicações na empresa familiar.

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3.2.2 O fundador

O fundador representa o coração da empresa familiar, pois é ele quem irá

imprimir uma personalidade ao seu projeto de vida, definindo, indiretamente, a base

para o desenvolvimento. A figura do fundador desenha seus anseios e objetivos dando

à empresa a sua cara e o seu temperamento.

De acordo com Gonçalves (2000), o fundador é mais do que empresário e um

empreendedor, pois vai transmitir seus valores e suas emoções a sua criatura. O

fundador tende a ser reverenciado pelos familiares e antigos funcionários, tendo um

espaço na memória pública e tornando-se inesquecível para quem teve seus valores

influenciados por ele, independentemente da longevidade da história da família.

(GONÇAVES, 2000).

O autor define os traços comuns do fundador de empresa familiar: possui

atração pelo risco, imaginação, criatividade e capacidade para perceber

oportunidades. É pragmático, marcado pelo dinamismo, tem disposição para decidir,

autoestima, vaidade, perseverança, carisma e discrição. (GONÇALVES, 2000). O

carisma, segundo ele, representa um aspecto fundamental para o fundador na busca

pela credibilidade.

O líder carismático, e isso é muito evidente no fundador, cria, com base na emoção, um grupo dos seus seguidores, de tal maneira que o seu 'quadro administrativo' não se constitui como uma burocracia e menos como uma burocracia profissional. (GONÇALVES, 2000, p. 240).

Quanto aos objetivos que motivam a visão empreendedora do fundador,

podemos caracterizar a necessidade de construir um patrimônio familiar, a obtenção

de poder econômico, tanto social quanto político, a vontade de competir e vencer e a

busca pela perenidade, ou seja, a intenção de continuar existindo após a morte, por

meio dos herdeiros e da empresa consolidada. (GONÇALVES, 2000).

Werner (2004) fala sobre a personalidade do fundador como fator de

influência nas decisões corporativas da empresa familiar, quando diz que

em função do crescimento da empresa, escolhe colaboradores com base em critérios subjetivos de competência, valorizando essencialmente a lealdade e a confiança. Na maioria das vezes, esses primeiros parceiros são encontrados na própria família. É em torno dessa pessoa que surge a empresa familiar. Os valores que a norteiam são profundamente pessoais,

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incorporam a personalidade do fundador, refletem sua cultura e seu modo de agir. (WERNER, 2004, p XXI).

Flores (2001) alerta para o problema da falta de identificação da ideologia do

fundador pelas gerações seguintes da família. Segundo a autora, “talvez o sonho do

fundador não encontre escopo na segunda geração pelo simples fato de se tratar de

duas gerações distintas, com formas de encarar o mundo, a vida e os negócios

diferentemente”. (p. 34). Isso significa que os motivos que concretizaram a realização

do sonho e os valores difundidos pelo fundador podem perder-se com o passar das

gerações, onde já não há mais a mesma utopia.

Parafraseando Bernhoeft (1989), Flores entende que

o que deve prevalecer no fundador é a tenacidade de saber levar à frente mais o seu legado ideológico do que a simples divisão e preservação dos bens patrimoniais, pois a dura luta para a conquista de uma imagem no mercado pode ser facilmente perdida. (FLORES, 2001, p. 35).

Entendemos, pois, que além de transmitir os processos e as estratégias para

que o negócio prospere com seus herdeiros, o fundador tem como função, também,

transmitir seus valores e suas motivações pessoais, que, de uma forma ou de outra,

ficaram arraigados no cerne da sua empresa.

Lodi (1998, p. 18) contribui para essa reflexão, quando trata da empresa como

uma “terapia do eu empresarial”, onde o fundador busca obter sucesso na vida porque

não o teve no passado, por motivos quase sempre relacionados à miséria, falta de

oportunidades, abandono, solidão e falta de incentivo. É evidente que os motivos

relacionados às necessidades financeiras sofridas no passado não serão problema

para seus filhos e netos, portanto, o ideal de buscar “vencer na vida” através do

trabalho e da prosperidade da empresa não se fazem presentes da mesma forma para

a segunda geração.

Da figura do fundador, partimos para a dissolução desse momento inadiável

na continuidade de qualquer empresa familiar: a sucessão. Geralmente, essa

“passada de bastão” representa um momento delicado do desenvolvimento da

empresa familiar, pois conflitos e desvios da visão precursora da empresa podem

sofrer abalos com mais facilidade.

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3.2.3 A sucessão

A sucessão representa um processo no qual o poder é transmitido à próxima

geração da empresa familiar. Segundo Lodi (1998, p. 21), o êxito desse processo

“depende da maneira como o pai preparou sua família para o poder e a riqueza”,

sendo de imprescindível importância que a sucessão seja trabalhada desde muito

cedo, no convívio e na interpretação das habilidades dos indivíduos destinados a

assumir a sucessão.

Flores (2001, p. 45) comenta o uso da palavra processo, no sentido de

caracterizar “a necessidade de atividades programadas, que exigem de cada parte

envolvida responsabilidade e um papel a desempenhar na continuidade do negócio”.

A ideia de processo, pois, deve estar presente no dia a dia da empresa familiar,

fazendo com que as mudanças sejam preparadas constantemente e encaradas como

uma realidade.

Na visão de Werner (2004), existem quatro estágios do ciclo de vida da

empresa familiar, contemplando todo o universo do empreendedor (esposa, filhos,

netos, familiares por opção e profissionais) e a necessidade posterior de sucessão.

Os quatro estágios da empresa familiar são, a partir de Werner (2004):

a) Fundação da empresa, quando o fundador está com idade entre os 25 e 40

anos;

b) O sucessor começa a participar do ambiente na empresa, enquanto o

fundador está na faixa dos 45 anos;

c) Pai e filho começam a se preparar para a sucessão e trabalham

características empreendedoras em comum;

d) O sucessor chega aos 40 anos e o fundador já está com mais de 60, quando

se dá, de fato, o processo sucessório.

Essa classificação de Werner, pode ser melhor entendida por meio do gráfico

abaixo, em que a linha do ciclo de vida, comparando as idades do fundador e do

sucessor, delineia o desenvolvimento do processo sucessório.

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Figura 1 – Os 4 estágios do ciclo de vida da empresa familiar

Fonte: John Davis OMBI, apud WERNER (2004).

O gráfico sugerido pelo autor mostra a relação entre a idade do fundador ou

empreendedor, comparada à idade do sucessor. É importante salientarmos que o

esquema apresentado não mostra o processo com início, meio e fim, mas um ciclo

que, ao concluir-se, começa novamente a partir da geração seguinte da família. Mais

do que compreender a importância do planejamento da sucessão desde o fundador e

a segunda geração da família, é preciso que esse planejamento também aconteça de

forma cíclica, reiniciando com a chegada de uma nova geração.

Assim, tanto a organização familiar quanto os indivíduos envolvidos no

processo podem encarar a realidade prevista para o desenvolvimento da empresa e

prepararem-se para a evolução do negócio. Depois de circularmos pelo contexto

histórico das organizações e entendermos como são dadas as particularidades da

empresa familiar, podemos partir para uma reflexão sobre o cenário econômico e

social dos dias atuais, a fim de entendermos como o mundo globalizado influencia o

desenvolvimento das organizações.

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3.3 O CENÁRIO ATUAL

Olhando para o cenário organizacional atual, percebemos as significativas

mudanças que ocorreram no século XX e que impactaram a formação do momento

presente. Robbins & Decenzo (2004) salientam as diferenças entre o pensamento

organizacional da geração passada, comparado ao das empresas de hoje. Para os

autores

na geração passada, os gerentes de sucesso valorizavam a estabilidade, a previsibilidade e a eficiência alcançadas mediante economias de grandes proporções. [...] As empresas fortes de hoje obtiveram sucesso porque são enxutas, rápidas e flexíveis. Elas são orientadas para a qualidade; organizam o trabalho ao redor de equipes, criam ambientes de trabalho éticos, minimizam despesas gerais hierárquicas e exibem habilidades empresariais quando enfrentam mudanças. (ROBBINS & DECENZO, 2004, p. 23).

A partir da industrialização do final do século XIX até os anos 60, a sociedade

saltou da produção agrária para a industrial. O grande passo para chegar ao mundo

globalizado no qual estamos se deu a partir dos anos 70, quando começa a onda da

informação e da tecnologia. (ROBBINS & DECENZO, 2004). Os autores afirmam que

a aldeia global proposta por McLuhan é uma realidade por meio do mercado global

existente nos dias de hoje. Esse pensamento é exaltado quando dizem que “o mundo

se tornou, de fato, uma aldeia global. E para ser eficazes nesse mundo sem fronteiras,

os gerentes precisam se adaptar às culturas, aos sistemas e às técnicas diferentes

das suas”. (p. 26).

Clegg & Hardy (1998) alertaram para o surgimento de novas formas de

organização, quando disseram que,

externamente, as fronteiras que antes delimitavam a organização estão sendo derrubadas, à medida que as entidades se fundem e se descaracterizam, passando a formas “cadeias”, “conglomerados”, “redes” e “alianças estratégicas”, questionando a relevância de um foco “organizacional”. Internamente, as fronteiras que antes delineavam a burocracia estão também desaparecendo, tornando as organizações pós-fordistas mais ágeis e flexíveis, com menor número de níveis hierárquicos e, para sermos mais rigorosos, menos formatadas. (CLEGG & HARDY, 1998, p. 39).

Essa nova visão é, também, abordada por Kunsch (2003), ao abordar o

conceito da organização aberta em rede, que transforma o modelo de gestão

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organização horizontal, adaptando-a às mudanças econômicas e tecnológicas

advindas principalmente nos anos 90. Para a autora,

essa nova organização desce do pedestal da burocracia verticalizada para atuar em rede, organizar-se em torno de um processo, e não de uma tarefa, promover gestões de equipe, mensurar os resultados pela satisfação do cidadão-consumidor e informar/formar seus empregados em todos os níveis. (KUNSCH, 2003, p. 57).

Essa visão da organização em rede se faz presente, também, à medida que

a tecnologia e as relações organizacionais estão cada vez mais difundidas e atuando

em sintonia. De acordo com Sólio (2011, p. 113), “hoje as organizações ocupam lugar

central. Os sujeitos definem seu espaço social, político e econômico a partir das

competências técnicas”, isto é, os indivíduos são moldados pela organização a qual

pertencem, fazendo com que diversos aspectos do seu convívio social e suas relações

de interesse estejam de acordo com a imagem e os valores da organização.

Conforme foi dito, a família constitui uma instituição, e, sob o nosso ponto de

vista, uma instituição em constante mutação, principalmente com as mudanças na sua

formação. Na sociedade capitalista atual, pensamos que a empresa se atualiza,

efetivamente, como uma instituição. Freitas (1999) diz que

A crise das instituições tradicionais, incluindo o Estado, fomenta essa preponderância do papel econômico. O Estado, falido e desacreditado, abre espaço para maior participação das empresas na vida social, começando ele próprio a ser visto como um causador de problemas no Mercado, motivo pelo qual se pede sua redução ou afastamento. (FREITAS, 1999, p. 58).

A partir dessa concepção, compreendemos que a sociedade capitalista

constitui, de fato, uma sociedade de organizações, com as quais as pessoas

constroem suas vidas em torno delas. Na mesma medida, a sociedade organizacional

gera responsabilidades sociais para os grupos de liderança não governamentais e

especialmente para o administrador de empresas, debilitando a supremacia da

posição e do papel do governo. (DRUCKER, 1984 apud SÓLIO & BALDISSERA,

2003).

A mudança, qualquer que seja, aparece como um fator constante e inegável

para as organizações. Chiavenato (1998) diz que a mudança é a passagem de um

estado para outro, a transição de uma situação para outra diferente, representando

transformação, perturbação e interrupção. Para as empresas, as mudanças ocorrem

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o tempo todo, tanto do lado de fora no que diz respeito a clientes, fornecedores,

prestadores de serviços, quanto do lado de dentro, no que tange aos processos de

trabalho, aos equipamentos, às matérias-primas, aos padrões de qualidade, às

pessoas, aos conhecimentos, aos produtos/serviços e às estratégias. O autor salienta

que “é extremamente necessário que as empresas administrem as mudanças de

maneira positiva e proativa e não simplesmente de modo negativo e reativo. No fundo,

administrar empresas nada mais é hoje do que administrar a mudança”. (p. 29).

Com a era da informação, o conhecimento passa a ser a nova riqueza para

os processos de administração dos negócios. Com essa ruptura, a hierarquia é

substituída pelas redes internas; há uma intensificação das equipes de trabalho e a

burocracia cede lugar à inovação e à criação de conhecimento. Diante de um mundo

instável e turbulento,

as pressões da competição global levam as empresas a uma busca frenética e incessante da inovação e da mudança para obtenção de novas formas de vantagem competitiva. [...] A velocidade da inovação tecnológica passa a atropelar a economia, a sociedade e a cultura, criando novas necessidades, ainda que desnecessárias e imprevistas, e novos padrões de comportamento e de negócios. (CHIAVENATO, 1998, p. 34-35).

Drucker (2002b, p. 172) fala em uma mudança quanto ao tamanho das

empresas, onde “o desempenho superior irá para quem tiver o tamanho certo”. Ele

afirma que essa mudança afeta o centro da gravidade econômica, passando da

grande para a média empresa. Isso se mostra uma reversão radical à tendência

predominante até então. Haverá um desafio eminente para as gerências, que terão

que “decidir a respeito do tamanho certo para uma empresa, aquele adequado a sua

tecnologia, sua estratégia e seus mercados”. (p. 5).

A inovação, pois, surge como uma necessidade frente às mudanças

inadiáveis nesse cenário. Drucker (2002b, p. 224) considera que a inovação é um

abandono organizado, em que “para conseguir o novo e melhor, você tem que jogar

fora o velho, cansado e obsoleto, não mais produtivo, assim como os erros, fracassos

e más orientações dos esforços do passado”. No entanto, ele coloca que é preciso

organizar esse abandono, o que torna o processo mais difícil, pois “a maioria das

organizações desenvolve uma forte ligação emocional com seus produtos”. (p. 225).

Isso significa que a inovação é necessária, e, ao mesmo tempo, ardilosa.

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Drucker (2002a) alerta para a necessidade de inovação nos processos e nas

estratégias das organizações, com o propósito de garantir o progresso na economia

atual. Segundo o autor,

a empresa já em funcionamento, que em época que exija inovação não se mostre capaz de consegui-la, está fadada ao declínio e à morte. E a administração que, em um período desses, não saiba dirigir suas inovações será incompetente e não se estará mostrando à altura do papel que lhe cabe. Gerir as inovações cada vez mais se apresentará como desafio à administração e como teste para sua competência. (DRUCKER, 2002a, p. 630).

Essa visão emergente quanto à preocupação constante com a inovação, se

deu pelo fato de que a globalização da informação atingiu a economia, de forma a

globalizar os processos econômicos. (DRUCKER, 2002a). As fronteiras já não

delimitam as relações, assim como não delimitam o alcance da produção econômica.

Sendo assim, o fator mudança e a necessidade de inovação andam juntos no

desenvolvimento das organizações. Essa deve ser uma característica a ser

considerada em qualquer processo de tomada de decisão da empresa, seja na

sucessão, no planejamento ou no posicionamento de mercado.

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4 CULTURA

Entendemos por cultura o conjunto de fatores que origina o comportamento

do indivíduo que vive em sociedade. Laraia (2004, p. 48) afirma que “a cultura, mais

do que a herança genética, determina o comportamento do homem e justifica as suas

realizações”. De acordo com o precursor da definição do termo, Edward Tylor, cultura

é todo o comportamento aprendido, que não depende da relação genética do

indivíduo, ou seja, a cultura é impregnada nas vivências do indivíduo conforme o

ambiente em que ele vive, compartilhando hábitos, crenças, valores e experiências.

(LARAIA, 2004).

Com Bourdieu (2008) entendemos a cultura através do termo Capital Cultural.

O autor define que o capital cultural é obtido por meio de dois ambientes específicos:

da herança do meio familiar e da instituição escolar. Para o autor, “cada família

transmite a seus filhos, mais por vias indiretas que diretas, um certo capital cultural e

um certo ethos, sistema de valores implícitos e profundamente interiorizados”. (p. 41).

Já, na visão de Geertz (1989), podemos compreender a cultura como uma

teia de significados tecida pelo homem e na qual ele está amarrado; é essa teia e a

análise dela que constituem, de fato, a cultura. O autor a considera a partir de uma

ciência interpretativa que atua à procura do significado e que deriva de um conceito

semiótico.

A partir desses contextos, podemos partir para um entendimento de como a

cultura influencia as ações do indivíduo e determina o seu comportamento social.

Torna-se indispensável estudar a cultura como um todo, desde sua base na natureza

humana até os conceitos da cultura aplicada às organizações, para que se perceba o

contexto no qual a empresa familiar está inserida e o que a diferencia de outras

organizações. Ao final deste capítulo, uma reflexão sobre como a cultura e o poder se

relacionam, também se fará importante a fim de entendermos esses dois fenômenos

no contexto organizacional.

4.1 O CONCEITO ANTROPOLÓGICO

Antes de partir para o entendimento do conceito de cultura organizacional e

sua influência no comportamento das organizações, será desenvolvida uma

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explanação sobre o conceito antropológico do termo, de acordo com as considerações

de Laraia (2004), para quem a cultura centra-se na natureza do ser humano. A partir

daí, o autor busca compreender quais fatores contribuem para a diversidade cultural

da espécie humana.

Primeiramente, o autor deixa clara a inexistência de uma relação entre a

genética e a formação da cultura do indivíduo, ou seja, o ser humano adquire sua

cultura, não nasce com ela. Com essa consideração, já é possível perceber a

amplitude de diferenças que englobam a formação da cultura de uma pessoa, desde

seu nascimento, criação, desenvolvimento e relacionamento com outras pessoas.

Diversos são os fatores que contribuirão para moldar a cultura do indivíduo. Esse

processo é chamado por Laraia (2004, p. 20) de “endoculturação” e representa a

capacidade de o ser humano de adquirir conhecimento e então aprimorar seu

comportamento conforme o que foi aprendido.

O ser humano se diferencia de todos os outros animais pela habilidade

intelectual e, também, pela capacidade de criar cultura. Laraia (2004, p. 58) afirma

que a cultura do homem “desenvolveu-se, pois, simultaneamente com o próprio

equipamento biológico e é, por isso mesmo, compreendida como uma das

características da espécie, ao lado do bipedismo e de um adequado volume cerebral”.

Em outras palavras, entendemos que o processo de evolução pelo qual o ser humano

passou, como o desenvolvimento do cérebro primata, o uso das mãos, a fala, o

bipedismo, o corpo em posição ereta, a criação de normas e regras e a geração de

símbolos são os principais fatores que reforçam que homem é diferente dos animais

e, por isso, digno de constituir uma cultura.

Keesing (1961, p. 551) afirma que “a linguagem é uma forma de

comportamento aprendido e, assim, é reconhecida pelos antropólogos como um

aspecto da cultura”. Isso quer dizer que o fato de que há um adestramento dos órgãos

fonadores para a produção de sinais sonoros e estes são compartilhado por um grupo

social como forma de comunicação, é uma característica exclusiva da raça humana.

Da mesma forma, Srour (1998) trata da cultura como algo aprendido,

transmitido e partilhado, sem herança genética. Além disso, também compartilha do

termo endoculturação, a que também chama de socialização. Para o autor, a

endoculturação consiste em um processo em que “os agentes sociais adquirem os

códigos coletivos e os internalizam, tornando-se produtos do meio sociocultural em

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que crescem; conformam-se com os padrões culturais, e, com isso, submetem-se a

um processo de integração ou de adaptação social”. (p. 174).

Laraia (2004) define o homem como um ser predominantemente cultural.

Segundo ele, “a sua herança genética nada tem a ver com as suas ações e

pensamentos, pois todos os seus atos dependem inteiramente de um processo de

aprendizado”. (p. 38). O próprio homem é considerado pelo autor como resultado de

um processo cultural, quando diz que “ele é um herdeiro de um longo processo

acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridos pelas numerosas

gerações que o antecederam”. (p. 45).

Outro aspecto considerado pelo autor, sobre a influência da cultura na

formação do comportamento, está na ideia de que a cultura condiciona a visão do

homem sobre o mundo, isto é, cada um enxerga determinada situação com uma lente

diferente, essa lente é a cultura que o indivíduo possui. (LARAIA, 2004).

Finalmente, Laraia encara a cultura como um processo dinâmico e que está

em permanente mudança, pois ela sofre mudanças e evoluções, principalmente

devido ao poder do homem de questionar e racionalizar suas atitudes. O autor enfatiza

que existem dois tipos de mudança cultural: uma interna, que é resultante da dinâmica

do próprio sistema cultural, e outra que é resultado do contato de um sistema cultural

com outro. (LARAIA, 2004).

Esse ponto de vista antropológico tem valor à medida em que se faz

necessário entender como a cultura particular do indivíduo se forma e quais serão os

impactos sobre ela quando confrontada com a cultura organizacional. Por isso,

partimos para a explanação do conceito da cultura que se desenha dentro das

organizações e dá forma às ideologias do negócio.

4.2 A CULTURA ORGANIZACIONAL

A partir das considerações de Laraia (2004), o conceito de cultura pode ser

melhor entendido quando alocado no ambiente organizacional. Apesar da mudança

de enfoque, o termo é compreendido como um aprendizado e um molde ao

comportamento, desta vez dentro da organização e compartilhando de suas

particularidades.

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Sendo a cultura o mecanismo que comporta um conjunto de padrões que

permitem a adaptação dos agentes sociais à natureza e à sociedade a qual

pertencem, Srour (1998) fala da cultura dentro da organização como aquela que

impregna todas as práticas e constitui um conjunto preciso de representações mentais, um complexo muito definido de saberes. Forma um sistema coerente de significações e funciona como um cimento que procura unir todos os membros em torno dos mesmos objetivos e dos mesmos modos de agir. [...] A cultura organizacional exprime então a identidade da organização. É construída ao longo do tempo e serve de chave para distinguir diferentes coletividades. (SROUR, 1998, p. 175).

Sob o ponto de vista administrativo e comportamental, Robbins (2005, p. 375)

considera a cultura organizacional “um sistema de valores compartilhado pelos

membros que diferencia uma organização das demais”. Para ele, a cultura tem origem

quando a empresa passa pelo processo de institucionalização, que é quando ela

assume vida própria e passa a ter um valor de si, independentemente dos bens e

serviços que produz, adquirindo imortalidade. Com a institucionalização, os modos

aceitáveis de comportamento se tornam amplamente evidenciados para os membros

da organização. (ROBBINS, 2005).

Somamos a isso o conceito de Freitas (1999) quanto à cultura organizacional,

quando descreve duas definições para o termo:

Primeiro como instrumento de poder; segundo, como conjunto de representações imaginárias sociais que se constroem e reconstroem nas relações cotidianas dentro da organização e que se expressam em termos de valores, normas, significados e interpretações, visando um sentido de direção e unidade, tornando a organização fonte de identidade e de reconhecimento para seus membros. (FREITAS, 1999, p. 97).

Para a autora, é por meio da cultura organizacional que é possível definir e

transmitir a maneira apropriada de pensar e agir e quais os comportamentos vistos

como aceitáveis. Ela também salienta que, por meio da cultura, a empresa define suas

virtudes, projetos e missão a realizar. (FREITAS, 1999).

Marchiori (2008, p. 94) contribui para a definição do termo, quando explica

que, “cultura organizacional é o reflexo da essência de uma organização, ou seja, sua

personalidade”. A cultura, por ser experimentada conjuntamente por seus membros,

afeta a realidade organizacional e a forma como os grupos se comportam e validam

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as relações. A autora ressalta que é preciso que haja “construção de

significado/comunicação para que haja culturas em uma organização”. (p. 94).

Na visão de Schein (2009), a cultura de um grupo pode ser definida como

um padrão de suposições básicas compartilhadas, que foi aprendido por um grupo à medida que solucionava seus problemas de adaptação externa e de integração interna. Esse padrão tem funcionado bem o suficiente para ser considerado válido e, por conseguinte, para ser ensinado aos novos membros como o modo correto de perceber, pensar e sentir-se em relação a esses problemas. (SCHEIN, 2009, p. 16).

Schein (2009, p. 21) considera primordial a relação entre cultura e liderança

dentro da organização, já que “os líderes primeiro criam culturas quando criam grupos

e organizações”. Segundo o autor, é por meio da cultura que será determinado quem

será ou não o líder. Com isso, faz-se necessário que os líderes se tornem conscientes

das culturas em que estão inseridos, ou elas os gerenciarão. O autor salienta, ainda,

que “o entendimento cultural é desejável para todos, mas é essencial aos que forem

liderar”. (p. 21).

Beppler & Pereira também compartilham do pensamento de Schein, quando

dizem que

a cultura organizacional pode ser definida como um conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionaram bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir em relação a esses problemas. (BEPPLER & PEREIRA, 2013, p. 59).

Segundo essa concepção, compartilhamento de um sistema de valores,

normas e ideais, rituais e crenças são termos que também ajudam a clarear a

definição de cultura organizacional, pois são importantes para moldar o ambiente

juntamente com a figura do líder. (BEPPLER e PEREIRA, 2013). Aqui, é importante

salientar a figura do líder ou fundador da empresa como principal meio de

concretização da cultura. No caso de empresas familiares, o papel do fundador

encontra-se ainda mais arraigado na cultura, pois ela é nada mais do que reflexo das

crenças, valores e ideologias da família, principalmente de seu fundador.

Com o propósito de irmos além da definição genérica do termo cultura,

contamos com a contribuição de Fleury (1996) sobre como desvendar a cultura

organizacional de uma empresa, por meio de uma metodologia própria. Segundo a

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autora, são seis os critérios que devem ser levados em conta no momento de analisar

a cultura de uma organização:

a) Histórico das organizações: Com o objetivo de compreender a

natureza da organização, bem como suas metas e objetivos, é

importante recuperar o momento da criação da empresa e sua

inserção no contexto político e econômico da época. Faz-se

necessário, também, entender o papel do fundador nesse contexto,

já que ele “detém a concepção global sobre o projeto da organização

e tem o poder para estruturá-la, desenvolvê-la e tecer elementos

simbólicos consistentes com esta visão”. (p. 23);

b) Processo de socialização de novos membros: É um momento crucial

para a reprodução do universo simbólico da organização, pois é

“através de estratégias de integração do indivíduo à organização que

os valores e comportamentos vão sendo transmitidos e incorporados

pelos novos membros” (p. 23), ou seja, esse processo ocorre por meio

de programas de treinamento e integração;

c) Políticas de Recursos Humanos: Enquanto mediadoras da relação

entre capital e trabalho, essas políticas participam da construção da

identidade da organização. Esse processo de análise leva em conta

as políticas implícitas e explícitas da política de Recursos Humanos,

que ajudam a interpretar os padrões culturais da organização;

d) Processo de comunicação: É um dos elementos essenciais no

processo de criação, transmissão e cristalização do universo

simbólico de uma organização. A análise pode ser feita a partir de um

mapeamento dos meios formais e informais de comunicação, como

contatos pessoais, reuniões, telefonemas, e-mails, jornais,

informativos, etc.;

e) Organização do processo de trabalho: Este item analisa a

organização existente no processo de trabalho, no que diz respeito a

sua competência tecnológica e social, a fim de identificar as relações

de trabalho. Com a análise, é possível obter subsídios, também, para

o mapeamento das relações de poder entre os empregados e áreas

da organização;

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f) Técnicas de investigação: Consistem em técnicas para investigar os

fenômenos culturais das organizações. Podem ser qualitativas ou

quantitativas e buscam adquirir dados e informações referentes à

cultura organizacional, por meio de entrevistas, questionários,

observação, etc.

Essa proposta metodológica de investigação da cultura organizacional

sugerida por Fleury (1996) nos será de grande importância para a análise dos casos

de empresas familiares, tanto no estudo de caso quando nas entrevistas em

profundidade. O roteiro de critérios nos guiará para um entendimento completo de

todos os aspectos que respaldam a formação da cultura em cada uma das

organizações analisadas.

Mais do que um posicionamento da empresa, a cultura mostra-se um fator

que influencia os relacionamentos internos e externos, delimita níveis de poder e ainda

define as premissas básicas com relação às crenças, valores e comportamentos

aceitáveis dentro da organização. É a cultura da empresa que poderá determinar

quem serão os indivíduos aceitos no âmbito social da organização, sejam eles

funcionários, fornecedores, clientes ou, até mesmo, concorrentes.

Frente ao exposto, entendemos que a comunicação processada pela

organização tem papel fundamental para desenvolver a cultura e fazer a empresa ser

vista e lembrada como tal. Pensamos que a comunicação pode e deve ser um

instrumento para revelar e, também, transformar a cultura e toda sua dinamicidade.

Fatores como imagem, identidade e reputação também são permeados pela cultura e

acabam por refletir o comportamento padrão. Ao avaliar a cultura de uma organização,

devemos levar em conta que tipo de comunicação está sendo desenvolvida por ela e

que impactos a cultura exerce nesse processo.

Com o intuito de afunilar ainda mais nossa percepção quanto ao tema central

dessa monografia, analisemos como se dá a cultura organizacional nas empresas

familiares e quais as suas particularidades. Para uma visão mais abrangente da

relação entre cultura e organização, seguimos, mais adiante, para uma reflexão sobre

as relações de poder dentro da empresa, considerando a questão de que tanto a

cultura pode influenciar o poder, como o poder também pode determinar a cultura

organizacional.

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60

4.2.1 A cultura organizacional na empresa familiar

A partir do que já foi dito sobre a empresa familiar e sobre cultura

organizacional, ao unirmos esses dois aspectos em um recorte, veremos que os

valores que compõem a cultura da empresa familiar são bastante singulares em

comparação às culturas de outras empresas. De acordo com Werner (2004, p. XX),

“a empresa familiar se caracteriza por refletir em sua cultura os aspectos que norteiam

as relações familiares”.

Gonçalves (2000) diz que a cultura familiar é definida a partir de valores e

procedimentos éticos, formas de comportamento social, ritos de passagem e hábitos

advindos da família fundadora.

A cultura da família nuclear, [...] limitada por padrões morais consagrados socialmente, estabelecerá os procedimentos, muito próprios da família, que irão regular a forma que se entende adequada ao relacionamento entre marido e mulher e entre pais e filhos. (GONÇALVES, 2000, p. 4).

Em outras palavras, esse mesmo padrão de relacionamento entre os

membros da família poderá ser visto nas relações com funcionários, parceiros e

pessoas ligadas diretamente à gestão familiar.

Pensamos que o que caracteriza a cultura organizacional da empresa familiar

está nos valores morais do fundador, nas relações próximas ao núcleo familiar e na

cooperação conjunta dos membros familiares pelo progresso do negócio. Segundo

Flores,

os valores estabelecidos pelo fundador devem ser transmitidos aos seus sucessores, quer sejam da família, da empresa, ou da sociedade. Tais valores, de certa forma, também estão impregnados na cultura empresarial de cada empreendimento familiar. (FLORES, 2001, p. 35).

Bornholdt (2007) nos traz o esquema proposto na Figura 2, em que ilustra os

círculos da cultura organizacional. Para o autor, esse processo é importante para

“identificar as relações de poder, as relações interpessoais e as atitudes e condutas

esperadas. Essas são geralmente informais, podendo ser observadas no processo de

tomada de decisões”. (p. 29).

Conforme a ilustração abaixo, podemos adequar o esquema de acordo com

a situação da empresa familiar. O círculo externo mostra as estruturas formais, visíveis

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e perceptíveis, da cultura organizacional e familiar; já o círculo intermediário ilustra as

atitudes e condutas frente a situações críticas, bem como as ameaças externas ou

pressões internas – é onde decorre o dia-a-dia da família e da organização; enquanto

o círculo interno esconde os tabus, os segredos coletivos inconscientes, além da alma

e da consciência profunda do grupo familiar, sendo esses fatores impenetráveis,

intangíveis e intocáveis.

Figura 2 – Círculos da cultura organizacional

Fonte: BORNHOLDT, 2007, p. 28.

A cultura organizacional familiar se mostra, pois, uma extensão da cultura da

família – principalmente de seu fundador, apresentando particularidades e valores

únicos a ela e partilhados com seus membros. Essa cultura acaba sendo transmitida

além dos laços familiares e respinga nos funcionários, que compartilham dos mesmos

valores da família empreendedora. A figura mítica do fundador, conforme já citado em

Schein (2009), mostra que o comportamento e os valores do fundador têm total

influência na formação da cultura organizacional.

Contudo, refletimos, a partir de agora, sobre qual é a influência que a cultura

organizacional exerce sobre as relações de poder existentes dentro da organização

familiar. Mais do que isso, questionamos também a relação inversa, onde o poder

oriundo da gestão familiar pode influenciar a formação da cultura organizacional.

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4.3 O PODER DETERMINA A CULTURA?

Entendendo claramente o que compõe e como se manifesta a cultura de uma

organização, pensamos agora como o poder atua sobre ela. Mais do que isso,

partimos da questão: O poder determina a cultura ou a cultura determina o poder?

Para avançarmos sobre esse questionamento, entendamos primeiramente no que

consiste esse fenômeno e como ele se mostra na sociedade.

Chalita (1998) nos diz que o princípio da noção de poder se encontra na

capacidade de impor a vontade própria em uma relação social. Para o autor, “o poder

é sempre a correlação entre duas ou mais vontades. Para existir, necessita de

vontades subentendidas. O poder não é uma coisa, e sim uma relação”. (p. 12).

Galbraith (1999, p. 2) cita Max Weber, quando também afirma que o poder é “a

possibilidade de alguém impor a sua vontade sobre o comportamento de outras

pessoas”.

A partir de Chalita (1998), consideramos que o poder é um fenômeno de força,

coação e coerção e surge da necessidade de o homem se organizar e ordenar a busca

pelo bem comum. Entendemos que o poder gera disputa, ação e reação, porém a

busca do bem comum nem sempre está a serviço do poder, como foi o caso do

Nazismo, por exemplo. O autor coloca que o poder

é, portanto, uma forma de controle social. Única forma eficaz, encontrada pelo homem, de viabilizar sua existência no planeta. [...] O poder sempre existiu entre os homens. Não existe na história qualquer forma de organização social que não se tenha dividido em dois grupos: o dos que mandam e o dos que obedecem, líderes e seguidores, governantes e governados. [...] A história insiste em demonstrar que a necessidade do poder vem da própria organização do homem em sociedade. (CHALITA, 1998, p. 22-23).

Para Krausz (1991, p. 15), o “poder é a capacidade potencial de influenciar as

ações de indivíduos ou grupos no sentido de atuarem de uma determinada maneira”.

Isso quer dizer que ele é onipresente na vida social, sendo que os sistemas de poder

sempre existiram e influenciaram a vida em sociedade e são parte da experiência de

cada ser humano. A autora defende que esse fenômeno é parte integrante da vida em

sociedade, já que vida social significa relacionamento entre pessoas e, também,

influências recíprocas.

Muitas são as classificações que podemos considerar quanto aos tipos de

poder. As concepções de Krausz (1991) e Galbraith (1999) serão a base para que

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63

entendamos como o poder se aplica nas relações sociais, em suas diferentes

manifestações. Krausz (1991) tipifica o poder em duas ramificações: poder pessoal e

poder contextual. O primeiro origina-se no próprio indivíduo, conforme suas

experiências, motivações, capacidades, competências, intuição, etc. É individual,

intransferível e inalienável, fruto de experiências que constituem um patrimônio único

de cada ser humano, se manifestando por meio do conhecimento, conexão e

competência interpessoal.

Já, o segundo tem base na organização ou no sistema em que o indivíduo

está inserido. Está ligado à função dentro da estrutura, é despersonalizado e

disfarçado sob a racionalidade, regras e normas. É distribuído e atribuído, assim como

pode ser retirado e entregue a outros, e se manifesta por meio da coerção/pressão,

posição ou recompensa. Segundo a autora, “o poder contextual tende a ser limitativo

e restritivo da ação humana, enquanto que o poder pessoal facilita a abertura, a

flexibilidade e a expansão dessa ação”. (KRAUSZ, 1991, p. 20).

Tanto Krausz (1991) quanto Robbins & Decenzo (2004) consideram as ideias

de French & Raven (1960), em relação a cinco tipos de poder:

a) Coercitivo: Baseado na capacidade de influenciar através de sanções,

punições ou até mesmo pelo medo;

b) De recompensa: Capacidade de influenciar pela perspectiva de distribuir

compensações, benefícios ou vantagens;

c) Legítimo: Poder baseado na posição ocupada numa estrutura hierárquica;

d) Perícia/conhecimento: Baseado no conhecimento, especialização ou

relevante numa determinada situação;

e) Referente: Poder baseado na identificação ou admiração por determinadas

pessoas que são tomadas como modelos.

Conforme Galbraith (1999), podemos considerar três instrumentos e três

fontes de poder. Os instrumentos de obtenção de poder são:

a) Poder condigno: Quando obtém-se submissão através da capacidade de

impor uma alternativa desagradável às preferências do indivíduo, fazendo

com que ele abandone-a. Um exemplo desse tipo de poder é quando, em

determinada situação, um indivíduo deixa de expor sua ideia e acaba

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aceitando o ponto de vista do outro por medo de uma reprimenda demasiada

áspera;

b) Poder compensatório: Baseia-se na conquista de submissão através de

recompensa positiva, com algo de valor em troca. Geralmente esse tipo de

poder está ligado a um pagamento pecuniário em troca de serviços

prestados;

c) Poder condicionado: É exercido mediante a mudança de uma convicção ou

de uma crença.

De acordo com o autor, o poder condigno e o compensatório são explícitos,

ou seja, o indivíduo submisso sabe que está sujeito a eles e o detentor do poder sabe

que está exercendo; já o poder condicionado é implícito na relação, isto é, em

determinadas situações, é possível que nem o indivíduo que exerce o poder e nem o

indivíduo que é sujeito à submissão estejam, necessariamente, cientes do poder.

(GABRAITH, 1999).

Quanto às fontes de poder determinadas por Galbraith (1999), temos:

a) Personalidade: Advém de qualidades físicas, mentais e características

pessoais que dão acesso ao poder. Nos tempos atuais, de acordo com o

autor, essa fonte está ligada ao poder condicionante de persuadir e gerar

crenças;

b) Propriedade: Provém a partir da riqueza que confere autoridade, firmeza de

propósito e compra de submissão Essa fonte é associada ao poder

compensatório;

c) Organização: Ligada ao poder condicionado, é a forma indispensável na

busca pelo poder, é dela que vem a persuasão necessária e a consequente

submissão aos seus propósitos.

Galbraith (1999, p. 189) comenta esse último item, dizendo que “a

manifestação mais marcante da organização [...] está em combinar uma grande

concentração de poder com uma grande multiplicidade de grupos organizados e uma

grande difusão de poder como ocorre entre organizações”. Daí surge a dificuldade em

combinar as forças presentes dentro da organização no objetivo principal do negócio.

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Em outras palavras, o desafio está em sintonizar as diversas personalidades com esse

objetivo e então usar o poder a favor da organização.

Para Motta (2001, p. 87) o poder burocrático atua como um forte sistema de

poder das organizações, sendo “a burocracia uma forma de dominação mediante

mando e subordinação”. Segundo o autor “a naturalização do poder burocrático é a

naturalização da forma burocrática de organizar e, portanto, da subordinação do

trabalho direto ao indireto, do trabalho manual ao intelectual, do saber comum ao

saber técnico”. (p. 89).

Krausz (1991) defende que, no território organizacional, o poder é usado como

forma de atingir os objetivos da empresa. Por meio de uma socialização

organizacional, termo definido pela autora, as organizações partilham de

características gerais de um sistema social, com normas, regras, valores e sistema de

controle. A empresa, então, ressocializa o indivíduo que vem a fazer parte dela,

atribuindo-lhe papéis e, consequentemente, inserindo-o em um sistema de poder, ora

como dele detentor, ora a ele submisso.

Consideramos que esse processo de socialização atua em conjunto com a

cultura organizacional. O poder delegado ao indivíduo dentro da estrutura estará de

acordo com os valores e o universo simbólico da organização. Esse processo de

adaptação ocorre em sintonia com o reconhecimento do território por parte do novo

membro da organização e, na medida que ele se familiariza com os costumes e a

maneira de se comportar no cotidiano da empresa, já irá incorporar determinados

instrumentos de poder.

Robbins & Decenzo (2004) atentam para a diferença entre os termos poder e

autoridade, errônea e frequentemente considerados sinônimos. De acordo com os

autores,

a autoridade é um direito, a legitimidade na qual é baseada a posição da figura de autoridade na organização. A autoridade faz parte do trabalho. O poder, por outro lado, refere-se à capacidade de um indivíduo em influenciar as decisões. A autoridade é parte de um conceito maior de poder, isto é, os direitos formais que vêm com a posição de um indivíduo na organização são apenas um meio pelo qual esse indivíduo pode afetar o processo de decisão. (ROBBINS & DECENZO, 2004, p. 102).

É possível que um indivíduo ou grupo exerçam poder dentro de uma

organização sem que lhes tenha sido atribuída autoridade para tanto. Exemplo disso,

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são operários de “chão de fábrica” que não têm autoridade, mas, em uma greve,

conseguem concentrar poder suficiente para paralisar a produção.

Quando pensamos no poder exercido dentro da empresa familiar, Julien

(2013) coloca que

em empresas familiares, nas quais mais da metade do capital está nas mãos da família, o poder de direção é geralmente outorgado a um de seus membros, mas o poder de decisão, nos níveis estratégicos, repousa geralmente na junta diretiva. O poder do dirigente poderia, desse modo, ser sutilmente questionado e suas decisões influenciadas pelos membros do clã familiar. (JULIEN, 2013, p. 197).

Já, Lodi (1998, p. 6) acredita que “para o fundador, as relações de poder

nasceram de sua iniciativa com seus colaboradores; para a geração seguinte, as

relações de poder nascem do direito de sangue”, ou seja, não podemos considerar o

poder pertencente à família empreendedora como único e soberano quanto a sua

fonte e seus instrumentos. Cada membro da família possui diferentes meios para

exercer o poder, apesar da sucessão e da entrega do poder entre as gerações no

controle da hierarquia total da empresa.

Frente ao exposto, podemos concluir que tanto a cultura quanto o poder das

organizações atuam em conjunto na socialização dos indivíduos nela inseridos, de

forma que eles ajudam a moldar o comportamento, os interesses e os objetivos desse

indivíduo. Suas relações, bem como os conflitos, as discrepâncias e as amizades

resultantes das relações, serão amplamente determinados pela posição que o

indivíduo ocupa na organização e isso implicará no seu posicionamento.

Entendemos ser de total importância que os fatores culturais e os

instrumentos de poder transmitidos aos novos membros estejam em sintonia com o

objetivo geral da organização. Como resposta ao questionamento inicial desse

capítulo, entendemos que não é evidente se é a cultura que influencia o poder, ou

vice-versa. No entanto, a influência está no propósito geral da organização,

consequentemente, vinda do fundador da empresa familiar, que vem a respaldar as

relações de poder e os valores culturais da estrutura interna da empresa.

De acordo com a concepção de Morin (2002) sobre o Princípio da

Recursividade, todo fenômeno é causa e efeito, formando um círculo recursivo no qual

os produtos e os efeitos são eles próprios produtores e causadores daquilo que os

produz. Assim, temos que o poder molda a cultura, que molda as relações de poder

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dentro de uma organização, assim como temos que o sujeito modifica a sociedade,

que também o modifica.

Para uma visão abrangente da relação entre cultura, poder e comunicação,

faz-se necessário, também, proceder com o embasamento teórico de comunicação, a

fim de entender claramente sua função, definição e aplicação na gestão de uma

organização familiar. É o que veremos a seguir, no próximo capítulo.

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5 COMUNICAÇÃO

É parte da vida social do ser humano o ato da comunicação. Neiva Júnior

(1991, p. 21) afirma que “os atos comunicacionais constituem - porque reproduzem,

produzindo – a vida social”. Polistchuk & Trinta (2003, p. 62-63) dizem que “a

comunicação compõe processo básico para a prática das relações humanas, assim

como para o desenvolvimento da personalidade individual e do perfil coletivo”. Isso

significa que é por meio da comunicação que o indivíduo se faz sujeito, onde deixa de

ser singular e entra para uma relação plural.

Rüdiger (1998) afirma a ideia da comunicação como uma importante fonte de

desenvolvimento social do ser humano, quando diz que

a comunicação sabidamente desempenha um papel fundamental na sociedade: o homem não vive sem comunicação. A capacidade de se relacionar com seus semelhantes representa para ele, desde os tempos primitivos, um elemento básico de sobrevivência e satisfação das necessidades, que há algumas décadas vem se tornando também um formidável campo de cuidado técnico e moral em nossa civilização. (RÜDIGER, 1998, p. 9).

Para o autor, a comunicação é um processo pelo qual o ser humano tenta

fazer com que seu mundo tenha sentido. A comunicação “faz parte do ser social do

homem, pela qual ele se relaciona com seu semelhante e elabora coletivamente seu

universo de conhecimentos”. (p. 34). Em outras palavras, ele acredita que a

comunicação não é compreensível sem o homem e precisa ser entendida como um

princípio de sociabilidade fundamental. (RÜDIGER, 1998).

Curvello (2005) a partir das ideias de Hall (1973) fala sobre a relação entre

cultura e comunicação e como uma é resultante da outra. Para o autor, cultura é

comunicação e comunicação é cultura. Ele justifica essa afirmação dizendo que

a cultura pode ser percebida como um fenômeno de comunicação, assim como a comunicação pode ser compreendida a partir da instância da cultura, pela qual seria possível captar as lógicas que regem as relações, as contradições, as mediações e os processos de construção e compartilhamento de sentidos. (CURVELLO, 2005, p. 253).

Melo (1971) conceitua a comunicação de forma a aproximá-la da formação da

cultura, quando expõe o conceito antropológico do termo, identificando a

“comunicação não apenas como veículo de aquisição de bagagem cultural por parte

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do indivíduo, mas também como instrumento formador de cultura”. (p. 23). Para o

autor, o significado pedagógico do termo também remete ao desenvolvimento da

cultura: “podemos dizer que a comunicação é a ação exercida pelas gerações adultas

sobre as gerações jovens para adaptá-las à vida social” (p. 18), ou seja, a

comunicação é o processo de transmissão de experiências e ensinamentos.

Entendemos a comunicação como uma mediadora dos relacionamentos. Seja

por meio da linguagem, de imagens, gestos, símbolos, meios e mensagens, a

comunicação se faz presente o tempo todo no cotidiano das pessoas, pautando as

relações sociais de cada uma delas com o mundo. Fundamental para o

desenvolvimento do ser humano em sociedade, a comunicação também é um

mecanismo que facilita o conhecimento das informações pertinentes a um

determinado grupo social, dispondo de técnicas e instrumentos de disseminação.

Partimos agora para um estudo teórico da comunicação, buscando esclarecer

como se dá o processo comunicacional. Na sequência, abordaremos a comunicação

no contexto organizacional, mostrando como ela atua no ambiente interno e quando

agregada a diferentes públicos.

5.1 O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO

Etimologicamente, para José Marques de Melo (1971, p. 14), comunicar

significa “tornar comum, estabelecer comunhão, participar da comunidade, através do

intercâmbio de informações”. Somamos a isso o conceito estrutural do mesmo autor,

quando diz que “comunicação é o processo de transmissão e de recuperação de

informações” (idem) e então percebemos que o ato de comunicar é, de fato, um

processo em constante movimento, em que os indivíduos envolvidos são emissores e

receptores ao mesmo tempo.

Podemos olhar para a comunicação como um processo que visa sempre à

persuasão sobre o receptor da mensagem. Para Berlo (1985, p. 22), o “objetivo básico

na comunicação é nos tornar agentes influentes, é influenciarmos outros, nosso

ambiente físico e nós próprios, [...] em suma, nós nos comunicamos para influenciar

– para influenciar com intenção”. O autor relaciona seu pensamento ao que foi

proposto por Aristóteles sobre o estudo da retórica como a procura de “todos os meios

disponíveis de persuasão”. (p. 18).

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Wolton (2003, p. 209) define a comunicação como “uma troca entre um

emissor, uma mensagem e um receptor. [...] Etimologicamente, esta palavra significa

‘pôr em comum, partilhar’. Este sentido de partilha remete ao que todos nós

esperamos da comunicação: compartilhar alguma coisa com alguém”. O autor confere

um duplo sentido à função da comunicação: primeiro como o “conjunto das

tecnologias, da televisão às novas mídias, e suas implicações econômicas, culturais

e sociais”; e, segundo, como sendo “os valores culturais, as representações e os

símbolos ligados ao funcionamento da sociedade aberta e da democracia”. (p. 208).

Em contraste, Rüdiger (1998) afirma que o termo deve ser usado somente

para nomear o processo básico de interação humana, desconsiderando os aparatos

tecnológicos utilizados para realizá-lo. Ao identificar esses aparatos, o autor usa o

termo comunicações, no plural. Segundo ele, “a comunicação representa um processo

social primário, com relação ao qual os chamados meios de comunicação de massa

são simplesmente a mediação tecnológica: em suas extremidades se encontram

sempre as pessoas, o mundo da vida em sociedade”. (p. 17).

Polistchuk & Trinta (2003, p. 66) também compartilham desse pensamento,

quando afirmam que “comunicação é ação de reciprocidade, [...] constitui prerrogativa

humana básica, regendo a vida de todo ser humano, seja em sua formação individual,

seja em sua imersão em meio social”. Entendemos a complexidade quanto à definição

da comunicação. Partimos do pressuposto de que, a priori, trata-se de um processo

de troca e compartilhamento de informações. Ademais, consideramos que suas

funções, ferramentas e discrepâncias ocorrem a partir do processo básico de

relacionamento humano, conforme proposto pelos autores acima citados.

Quando pensa nas razões que levam um indivíduo a comunicar-se, Wolton

(2010) afirma que são três, conforme as circunstâncias: por meio da necessidade de

compartilhamento/troca, pelo uso da sedução e pelo ato de convicção/argumentação.

Polistchuk & Trinta (2003) colaboram para o entendimento dessas razões do processo

comunicacional, quando dizem que

a comunicação envolve um ethos, que diz respeito à atitude de quem opina ou argumenta; um logos, que se refere à racionalidade inerente à opinião ou ao argumento apresentado; e um pathos, que tem a ver com a arte de tornar apaixonante o fato mesmo de opinar ou de argumentar. (POLISTCHUK &

TRINTA, 2003, p. 62-63, grifos dos autores).

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Segundo essa premissa, a comunicação está intimamente ligada à produção

de sentido, ou seja, é na troca de mensagens que está inserido o sentido. Pelas

palavras dos autores, “provido de sentido, todo ato comunicativo providencia (ainda

mais) sentido. Comunicar é estar em condições de atribuir um sentido – um quase

nada que é tudo, desfazendo-se para logo se reconstituir”. (POLISTCHUK & TRINTA,

2003, p. 63).

Baldissera (2009) afirma que todo sujeito participante de uma em relação

comunicacional interpreta e disputa significação, em busca de atribuir um sentido para

o que está sendo comunicado. O autor considera que “a comunicação é processo de

construção e disputa de sentidos” (p. 153), ou seja, o processo de significação não

constitui um processo pronto, mas em constante construção e transformação.

Berlo (1985, p. 24) considera o papel do receptor no objetivo da mensagem,

quando diz que “qualquer situação de comunicação humana compreende a produção

da mensagem por alguém, e a recepção dessa mensagem por alguém [grifos do

autor]”. Ele salienta que é preciso levar em consideração que a mensagem pode ser

recebida tanto pela pessoa a quem se destina como por pessoas a quem não se

destinava, ou até mesmo por ambas. No processo da comunicação, “objetivo e

audiência são inseparáveis”. (p. 26). Isso quer dizer que é necessário que os fatores

que englobam os receptores pretendidos e os não pretendidos sejam considerados,

para que o objetivo da mensagem seja atingido.

O autor detalha o entendimento da comunicação enquanto processo, uma vez

que não se pode falar em começo e fim da comunicação ou que a comunicação ocorre

apenas numa direção. Segundo ele, para analisarmos um processo é preciso paralisar

a sua dinâmica, pois nele, como numa fotografia, está apenas a representação do

acontecimento, não é o acontecimento em si. (BERLO, 1985). Eis um dos problemas

apontados pelo autor no estudo de um processo, em especial o da comunicação, que

envolve relações, interações e diferentes perspectivas em constante mudança.

Berlo (1985, p. 40) define alguns ingredientes em seu modelo de estudo do

processo de comunicação: fonte, codificador, mensagem, canal, decodificador e

receptor. No entanto, o autor reforça que, enquanto processo em movimento, não

podemos relatar uma ordem para o acontecimento dos fatores. “É perigoso pretender

que um venha antes, outro por último, ou que sejam independentes um do outro. Isso

nega o conceito de processo, e a comunicação é um processo”. (p. 46).

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A partir dessa visão processual, podemos perceber a dinamicidade e a

complexidade presentes na comunicação. Mais do que entender a definição desse

processo, é preciso que analisemos, também, os aspectos que abarcam a

comunicação através do contexto histórico da sociedade, principalmente no que tange

ao avanço das tecnologias na disseminação da informação no século XXI.

5.1.1 Comunicação e informação

Com frequência, os termos comunicação e informação são utilizados,

erroneamente, como sinônimos. Dominique Wolton (2010) dedica grande parte de sua

produção teórica à distinção dos dois termos. Para o autor, a informação é a

mensagem e a comunicação é a relação, portanto, muito mais complexa.

Partindo do pressuposto de que não existe comunicação sem informação,

Wolton (2010) afirma que a comunicação é sempre um processo mais difícil, pois

impõe a relação como fundamental, ou seja, a questão do outro. Nessa relação, é

preciso também considerar que o resultado é incerto, visto que “o emissor raramente

está em sintonia com o receptor e vice-versa”. (p. 11)

Para tanto, o autor salienta que “é falso pensar que basta informar sempre

mais para comunicar, pois a onipresença da informação torna a comunicação ainda

mais difícil. Além disso, a revolução da informação produz incerteza na comunicação.

O resultado é imprevisível”. (p. 12). O fato de o século XIX ser marcado pela revolução

da informação com a conquista das liberdades essenciais e o século XX pela vitória

da informação e da tecnologia graças à possibilidade da comunicação ao alcance de

todos, leva a crer, segundo Wolton (2010, p. 13), que “o século XXI será de

convivência no sentido da geração de condições para a coabitação possível entre

pontos de vista diferentes, num mundo cada vez menor onde os indivíduos sabem

tudo e do qual não se pode escapar”.

Wolton (2010, p. 16) argumenta que “a informação tornou-se abundante; a

comunicação, uma raridade. Produzir informações e a elas ter acesso não significa

mais comunicar”. O autor afirma ainda que

há uma contradição entre a legitimidade da informação e o descrédito da comunicação, pois nunca os homens passaram tanto tempo como nesse último meio século, tentando se comunicar. [...] Desvalorizar a comunicação, que é desesperadamente buscada por todos na vida privada, profissional, política e social, significa se autodesvalorizar. (WOLTON, 2010, p. 11).

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Imaginamos que o excesso de informação presente no cotidiano atual é um

dos fatores que provocam a incomunicação. Esse termo é compreendido por Wolton

(2010) como um problema de recepção e interpretação da mensagem no processo de

comunicação, o que acontece quando o receptor não está sintonizado ou discorda do

emissor. O processo e a própria compreensão da mensagem ficam comprometidos e

a comunicação perde força frente à informação que se faz presente; a unidade da

informação, portanto, não pode constituir a relação comunicacional plena.

A crítica quanto ao que a sociedade considera a comunicação, em detrimento

da informação, é abordada por Wolton (2003, p. 31) na seguinte afirmação: “a

comunicação está reduzida às técnicas, e as técnicas tornam-se o sentido, a ponto de

se chamar a sociedade do futuro de 'sociedade de informação e de comunicação',

pelo nome da técnica dominante”. Com isso, percebemos que a comunicação

enquanto processo é ignorada, dando lugar aos instrumentos e técnicas utilizadas

para intermediar a relação.

O autor defende que a comunicação está muito além das técnicas, pois ela

possui “um valor de emancipação no âmago da cultura ocidental. Desde o século XVI

ela é o complemento e a condição de todas as emancipações do indivíduo”. (p. 36),

Em outras palavras, entendemos essa importância social através daquilo que se viu

ao longo das gerações na luta pela liberdade de pensamento, liberdade de imprensa,

liberdade de participação política, democracia, entre outros. Entendemos, a partir das

concepções do autor, que a comunicação sempre esteve ligada a essas mudanças

sociais, que, sabe-se, relacionam-se, também, às organizações.

5.2 A COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL

Com a afirmação de que a comunicação é fundamental para o processamento

das funções administrativas internas e do relacionamento das organizações com o

meio externo, Kunsch (2003) sustenta a ideia de que

o sistema organizacional se viabiliza graças ao sistema de comunicação nele existente, que permitirá sua contínua realimentação e sua sobrevivência. Caso contrário, entrará num processo de entropia e morte. Daí a imprescindibilidade da comunicação para uma organização social. (KUNSCH, 2003, p. 69).

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A comunicação organizacional, pois, assume um papel imprescindível no

relacionamento dos indivíduos inseridos na organização. Ela alimenta as relações

sociais na medida em que envolve emissores e receptores, provocando efeitos e

transformações recíprocas. Trata-se, sob esse prisma, de um processo relacional

entre indivíduos, departamentos, unidades e organizações. (KUNSCH, 2003).

A autora critica os modelos teóricos comunicacionais utilizados no passado

pelas organizações, como a agulha hipodérmica e a bala mágica, pois, nesses casos,

não é possível confiar que o efeito desejado será alcançado igualmente, nem que as

mensagens sejam respondidas de forma positiva por todos os públicos. Ela defende

que

é preciso levar em conta os aspectos relacionais, os contextos, os condicionamentos internos e externos, bem como a complexidade que permeia todo o processo comunicativo. Daí a necessidade de ultrapassarmos a visão meramente mecanicista da comunicação para outra mais interpretativa e crítica. (KUNSCH, 2003, p. 72).

Argenti (2011), acredita que a comunicação organizacional tem como

principais funções determinar como a organização deseja ser percebida pelos

diferentes públicos e como ela escolhe a sua identidade. De acordo com o autor, a

identidade representa a realidade da organização, enquanto a imagem é o seu reflexo

para o público-alvo. Já a reputação é a soma das diferentes visões da organização

que os diferentes públicos possuem. (ARGENTI, 2011). O autor enfatiza que a

reputação não pode ser administrada, pois constitui um fator fora do seu alcance – os

públicos; enquanto “a imagem de uma empresa [...] pode ser melhorada ou modificada

por meio da comunicação”. (p. 65). Entendemos que a reputação, embora não possa

ser administrada, poderá ser objeto de atenção e escuta da organização.

Com esse objetivo em mente, entendemos que a organização pode melhorar

e modificar sua imagem por meio de campanhas de propaganda12, ações de

12 Os termos publicidade e propaganda são seguidamente usados como sinônimos, porém não o são. Segundo Kotler (1998, p. 554), propaganda é “qualquer forma paga de apresentação e promoção não-pessoal de ideias, bens ou serviços efetuados por um patrocinador identificado”. Já a publicidade pode ser entendida como um meio de tornar conhecido um produto ou um serviço, com objetivo não comercial de informar o público. De acordo com Zenone e Buairide (2003, p. 52), “a publicidade utiliza-se de estímulos não-pessoais para criar a demanda de um produto ou unidade de negócio pelos meios de comunicação, como o rádio, a televisão e outros veículos, teoricamente com materiais não pagos pelo patrocinador”. Os autores enfatizam que “a mensagem da publicidade possui características jornalísticas, ou seja, de prestação de serviços perante o público que tem acesso ao veículo. Em geral, o veículo prepara a mensagem e produz a comunicação, o que transmite maior credibilidade”.

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marketing e estratégias de comunicação com abrangência em todos os segmentos de

públicos. Na visão de Argenti (2011, p. 74), “o sucesso da estratégia de comunicação

de uma empresa depende em grande medida do elo entre a estratégia de

comunicação e a estratégica geral da empresa”.

Parafraseando Vieira (2004), a comunicação organizacional compreende um

conjunto de atividades, ações, estratégias, produtos e processos desenvolvidos para

reforçar as ideias e a imagem da organização junto a seus públicos de interesse e

junto à opinião pública. Sua importância, pois, está relacionada à possibilidade de

gerar credibilidade junto a seus públicos e à sociedade.

Frente às mudanças sociais já mencionadas, Vieira (2004) afirma que a

comunicação tem sido mais valorizada nas organizações. De acordo com o autor,

nos últimos anos, em função do esforço para o aumento da produtividade e da qualidade, a comunicação tem sido amplamente valorizada nas organizações, mas é preciso ainda derrubar uma série de tabus em sobretudo, democratizar as estruturas formais das organizações, que se caracterizam por uma hierarquia rígida e autoritária. O desafio é quebrar barreiras através da comunicação, especialmente a organizacional. [...] A comunicação é fundamental, não só nos possibilitando compreender o comportamento e a cultura organizacional, como também aumentando a força competitiva da organização. (VIEIRA, 2004, p. 26).

A comunicação pode, ainda, atuar como uma via de mão-dupla dentro da

organização, propiciando um entendimento mútuo entre organização e público. Vieira

(2004) afirma que é preciso considerar a bilateralidade como uma característica

fundamental do ato comunicacional. De acordo com suas palavras, “a organização

tem hoje responsabilidade comunicacional para com seus públicos. Deve funcionar

como sistema aberto e criar canais efetivos de comunicação que garantam à

sociedade o conhecimento das políticas por ela implementadas”. (p. 31).

Conhecer os públicos aos quais a comunicação se destina é tão importante

quanto conhecer as redes e os fluxos comunicacionais da organização. Entendemos

a importância de fazer uma breve conceituação de públicos, mas sem a intenção de

esgotar o tema, já que nosso foco está no público interno da organização.

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5.2.1 Os públicos

Amaral (2003) destaca que as organizações mudaram a visão sobre seus

públicos, de acordo com as mudanças sociais. Para o autor, as ações de

relacionamento entre organizações e públicos “mudaram da atitude de ‘o público que

se dane’ ou ‘que o público seja enganado’, preponderantemente no século XIX, para

‘que o público seja informado’, na virada do século, e finalmente para ‘que o público

seja compreendido’”. (p. 59).

Simões (2001) afirma que

os parceiros da organização no sistema são os públicos: pessoas, conjunto de pessoas, grupos ou organizações cujos interesses são afetados e afetam as ações da organização na consecução de sua missão. A composição dos públicos, além de variar de tamanho e complexidade, caracteriza-se, também, pelo potencial de poder que cada um pode exercer ante os interesses da organização, com variada probabilidade de bloquear sua missão. (SIMÕES, 2001, p. 54, grifos do autor).

Em complemento, concordamos com Nassar (2006, p. 28) quando diz que

“são muitas, e modernas, as ferramentas que podem ajudar na manutenção do bom

relacionamento”. O autor acredita ser importante entender que, apesar de toda a

sofisticação tecnológica, o processo comunicacional sempre começa ou acaba em

alguém. Nassar afirma que esse sujeito sempre “tem uma história social, econômica

e psicológica com a empresa e com a comunidade” (p. 29), caracterizando alguém

que possui direitos e deveres como cidadão e, também, como consumidor. Por isso,

o autor considera ser fundamental conhecer aqueles com os quais se quer comunicar.

De acordo com Grunig & Hunt (1984), há uma discrepância no uso comum do

termo “público” somente enquanto antônimo de “privado”. O uso errôneo também se

aplica quando consideramos o termo “público geral”. O autor afirma que “público geral

é impossibilidade lógica. Públicos são sempre específicos; têm sempre um problema

em comum. Portanto, não podem ser gerais”. (p. 138). Podemos considerar de

antemão que os públicos são sempre específicos e mutantes, de forma que nunca

haverá somente um “público geral” a atingir.

França (2008) define a classificação geral de públicos mais corriqueiramente

conhecida: público interno, externo e misto. O público interno é comumente conhecido

como aquele que apresenta ligações socioeconômicas e jurídicas com a empresa,

vivenciando suas rotinas e ocupando espaço físico. Já o público externo é entendido

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como aquele que não apresenta tais ligações como o público interno, mas que

interessa à empresa por motivos mercadológicos, políticos e sociológicos. Por último,

o público misto é o meio termo entre o interno e externo, pois apresenta relações

socioeconômicas e jurídicas com a empresa, mas não vivencia suas rotinas e nem

ocupa seu espaço físico. (FRANÇA, 2008).

Dadas as diversas transformações sociais já mencionadas, consideramos que

essa definição encontra-se defasada, já que os públicos assumem diferentes papéis

e contextos, que vão além do espaço físico e das relações de proximidade. O conceito

de “stakeholders” surge para suprir a complexidade de definição de públicos, que na

classificação padrão fica restrita ao espaço físico em que o indivíduo se encontra e

sua relação de proximidade com a organização. É preciso considerar sua posição na

estrutura da organização, bem como seu poder e sua influência nas relações

organizacionais. Entendemos que seja preciso considerar os aspectos intrínsecos ao

poder do indivíduo para, então, avaliar a importância dele como público formador de

opinião.

De acordo com Rocha & Goldschmidt (2010), os stakeholders podem ser

entendidos como públicos de interesse ou públicos estratégicos. A necessidade de

considerar essa diversidade de públicos, segundo as autoras, surge pela forma como

eles afetam e são afetados pelas atividades da organização. Para elas,

o termo stakeholder tem origem no termo stockholder (acionista), e amplia o foco da organização, que antes era satisfazer o acionista e passa a ser satisfazer seus públicos de interesse estratégicos, como clientes, funcionários, imprensa, parceiros, fornecedores, concorrentes, sindicatos e a comunidade local. (ROCHA & GOLDSCHMIDT, 2010, p. 6).

A partir dessa concepção, entendemos que o relacionamento com os

stakeholders começa no momento em que a organização ou empresa descobre o que

esse público estratégico procura, para que os objetivos dele também sejam

alcançados. Consideramos importante, pois, que a organização busque obter

credibilidade e sintonia com seus stakeholders, por meio de uma relação bilateral.

Entendendo a importância da comunicação organizacional e da

caracterização de seus públicos, partimos para a explanação da comunicação interna,

enquanto processo de valorização e relacionamento do público interno da organização

ou empresa. Mesmo denominando-o público interno, devido à localização espacial

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dos funcionários, não deixamos de considerá-lo como stakeholder, devido ao seu

papel estratégico na construção e manutenção da cultura organizacional.

Além disso, o público interno, ao ultrapassar os “portões” da empresa, é

também, um cidadão consumidor. Logo, ele integra o mercado, ao qual as

organizações, pelo menos teoricamente, dizem, cada vez mais, ouvir e respeitar.

5.2.2 A comunicação interna

Com as mudanças drásticas no cenário dos negócios na virada do século e

com a evolução tecnológica, entendemos que o ambiente de trabalho, bem como a

formação e a expectativa do funcionário sofreram mudanças. Por comunicação

interna, Argenti (2011) considera uma função comercial que impulsiona o

desempenho e o sucesso financeiro de uma empresa, que envolve desenvolver uma

cultura corporativa e ter o potencial de motivar a mudança organizacional. Segundo o

autor,

todos esses fatores estão fazendo com que os funcionários analisem mais criticamente a forma como a alta gerência está se comunicando, o que está sendo comunicado e se eles se sentem ou não envolvidos e alinhados com o direcionamento da empresa. [...] Os funcionários de hoje cada vez mais exigem participação nos processos que estão impulsionando a mudança organizacional. (ARGENTI, 2011, p. 222).

Sabemos ser comum o fato de muitas empresas não envolverem os

funcionários nas decisões, fazendo com que eles se sintam marginalizados e sem

disposição para aceitar as mudanças. Argenti (2011, p. 223) salienta que os gerentes

precisam reconhecer que, se fornecerem as informações aos funcionários e se

souberem ouvi-los, “eles se envolverão com o trabalho, estarão conectados com a

visão da empresa e serão capazes de levar adiante as metas da organização”. Com

essa afirmação, é possível embasar nossa concepção de que o público interno

constitui, de fato, um público de interesse estratégico, ou seja, stakeholder da

organização.

Vieira (2004) ressalta a importância de “começar em casa” no processo de

comunicação organizacional, a partir da valorização do indivíduo na organização,

como o primeiro passo para buscar credibilidade junto à opinião pública. O autor

defende que o funcionário exerce um importante papel no momento de mudança, pois

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ele passa a fazer parte de um contexto, podendo interagir nesse processo. Como um

investimento no relacionamento da organização com os públicos, o autor considera

que a comunicação interna significa a “integração, informação e conhecimento para o

exercício da cidadania na organização”. (p. 55).

Na concepção de Kunsch (2003, p. 154), a comunicação interna “seria um

setor planejado, com objetivos bem definidos, para viabilizar toda a interação possível

entre a organização e seus empregados, usando ferramentas de comunicação

institucional”, ou seja, ela ocorre paralelamente à circulação normal da comunicação

organizacional.

A autora aponta para a necessidade de considerarmos a comunicação interna

como “uma área estratégica, incorporada no conjunto da definição de políticas,

estratégias e objetivos funcionais da organização”. (p. 156). Para isso, ela afirma que

é preciso que a organização saia do capitalismo individualista e corporativista13, onde

o que importa é a vantagem própria e o sucesso do administrador, para um sistema

comunitário, que valorize a coletividade organizacional.

Entendemos, pois, que a comunicação interna deve atuar de forma a

contribuir para o exercício da cidadania, primando pela valorização do homem.

Kunsch (2003, p. 159) ainda diz que “o público interno é um público multiplicador” e

por isso seu engajamento deve ser considerado nas estratégias da organização como

fundamental. Ainda sobre a sua importância no escopo estratégico, a autora defende

que a “comunicação interna não pode ser algo isolado do composto da comunicação

integrada e dos conjuntos das demais atividades da organização”. (p. 160). Por

comunicação integrada, a autora define como

uma filosofia que direciona a convergência das diversas área, permitindo uma atuação sinérgica. Pressupõe uma junção da comunicação institucional, da comunicação mercadológica, da comunicação interna e da comunicação administrativa, que formam um mix, o composto da comunicação organizacional. (KUNSCH, 2003, p. 150).

13 O Toyotismo é um exemplo que se apresenta nesse sistema capitalista predatório de gestão, bem como o sistema de Qualidade Total. Alves (2011) define o Toyotismo como uma ideologia adequada às necessidades da acumulação do capital em uma época de superprodução e técnicas de produção capitalista, constituído por um complexo de regras, valores e dispositivos organizacionais, tais como o trabalho em equipe, programa de gerenciamento pela qualidade total, just-in-time/kanban, terceirização e novas formas de pagamentos capazes de promover a emulação do trabalho. (ALVES, 2011).

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O composto da comunicação integrada, proposto por Kunsch, compreende

tais aspectos dentro de uma organização:

Figura 03 – Composto da comunicação organizacional

Fonte: KUNSCH, 2003, p. 151.

Quanto às redes de comunicação presentes dentro da organização, Kunsch

(2003) considera que existe a rede formal e a rede informal. A primeira, de acordo

com a autora, consiste na comunicação administrativa, “que se relaciona com o

sistema expresso de normas que regem o comportamento, os objetivos, as estratégias

e conduzem as responsabilidades dos integrantes das organizações”. (p. 84). A rede

formal utiliza diferentes veículos de comunicação, como materiais impressos, visuais,

auditivos, e eletrônicos, expressando comunicados, ordens e recomendações em

geral vindos da administração.

Já, a rede informal é um sistema de comunicações que emerge das relações

sociais entre as pessoas. Kunsch (2003, p. 83) salienta que “um dos produtos mais

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conhecidos da rede informal é o boato ou rumor, que chega a constituir uma 'rede de

boatos', formada às vezes por interesses maldosos, mas em grande parte decorrente

da ansiedade, da insegurança e da falta de informação”. Para a autora, essa rede

deve ser canalizada para o lado construtivo, ajudando a organização a buscar

respostas mais rápidas para as inquietudes ambientais e facilitando o convívio das

pessoas, visando uma administração participativa.

Quanto aos fluxos comunicativos, Kunsch (2003) sustenta que são eles que

conduzem as comunicações dentro de uma organização. Esses fluxos podem ser:

a) Descendente: De cima para baixo – é a comunicação administrativa oficial;

b) Ascendente: De baixo para cima – as pessoas de níveis hierárquicos

inferiores enviam informações para a administração, como por meio de caixa

de sugestões, pesquisas ou reuniões, porém, essa abertura depende da

política da organização;

c) Horizontal: Ocorre no mesmo nível hierárquico dos indivíduos envolvidos no

fluxo – pode otimizar os recursos e ajudar no desempenho organizacional, já

que familiariza os setores em prol de interesses mútuos;

d) Transversal: Flui em todas as direções e em todas as posições da estrutura

organizacional;

e) Circular: Ocorre em organizações informais e favorece a efetividade no

trabalho; tem uma amplitude de conteúdo maior, conforme as relações

interpessoais dos indivíduos.

Veja-se, porém, que todos os exemplos dizem respeito a fluxos de trabalho,

não a situações pessoais, relacionadas ao sujeito. A partir dessas concepções, é

possível entender melhor como a comunicação interna ocorre dentro da organização

e, consequentemente, como ela pode ser melhor planejada e monitorada, visando a

alcançar os objetivos estratégicos.

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6 ANÁLISE

Partindo para a pesquisa de campo dessa monografia, analisamos duas

empresas familiares por meio de entrevistas em profundidade com seus funcionários

e membros da família, com o propósito de entender a cultura organizacional e o quanto

ela é determinante no processo de comunicação existente nessas empresas. A

identidade das empresas, bem como os nomes dos envolvidos serão preservados

nesse trabalho. Portanto, as consideraremos como Empresa A e Empresa B.

A partir da fundamentação teórica de empresa familiar, cultura e comunicação

organizacional, duas empresas foram contatadas para servirem de estudo nesse

trabalho. Fez-se um estudo de caso de cada uma das empresas, por meio de pesquisa

do cenário da organização e documentos junto ao setor de Recursos Humanos,

observação em diversos setores e nas mídias de cada uma das marcas.

As entrevistas em profundidade puderam captar a cultura da empresa de

forma ampla e subjetiva. As questões que nortearam as entrevistas foram focadas nos

processos de comunicação desenvolvidos em cada uma das empresas e como os

indivíduos a percebem. Quando direcionadas aos membros da família, as perguntas

abrangeram principalmente questões estratégicas do uso da comunicação e

percepções sobre a importância do uso e investimento em novas ferramentas. Já,

para os diversos setores, as questões focaram-se na percepção do funcionário sobre

a comunicação existente e seu sentimento de valorização/pertencimento dentro da

empresa familiar.

As questões foram feitas com estrutura aberta, o que permitiu maior liberdade

aos entrevistados para que expusessem suas percepções. Levando em consideração

a estrutura aberta das entrevistas, salientamos que os questionamentos sofreram

modificações conforme o desenvolvimento das respostas e o conteúdo abordado com

cada entrevistado. O roteiro inicial de questões voltadas aos membros da família foi:

a) Como você considera o ambiente, o clima e a cultura da empresa?

b) Como você avalia os relacionamentos dentro da empresa?

c) Para você, o que é comunicação?

d) Quais as ferramentas de comunicação (interna e externa) utilizadas pela

empresa atualmente?

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e) Como você avalia os resultados gerados pelo uso das ferramentas de

comunicação utilizadas atualmente?

f) Como você avalia o investimento em comunicação?

g) Qual a sua percepção sobre outras ferramentas de comunicação que

poderiam ser implantadas na empresa?

h) Na sua opinião, quais são os principais benefícios que uma

comunicação eficaz pode gerar para a empresa?

i) Hoje, você considera que a comunicação em sua empresa é boa ou

eficaz?

j) Como você imagina que os funcionários da empresa veem a

comunicação dentro dela?

Já, nas entrevistas com os funcionários de cargos operacionais e

administrativos, o roteiro inicial foi:

a) Como você considera o ambiente, o clima e a cultura da empresa?

b) Como você caracteriza os relacionamentos dentro da empresa?

c) Para você, o que é comunicação?

d) Como a empresa comunica as informações importantes?

e) Como você fica sabendo de novidades, comunicados, informações,

eventos?

f) Você considera que a forma de comunicação é eficaz?

g) Todos ficam sabendo das informações de forma rápida e clara?

h) Quando precisa de alguma informação específica da empresa, de que

forma você busca?

i) Você acha que a empresa comunica a seus funcionários o que

realmente deveria comunicar?

j) Ou ela é mais fechada, tomando decisões que vêm de cima para baixo?

k) Você acha que as pessoas têm espaço para se manifestarem e se

comunicarem dentro da organização?

l) Se você fosse classificar a comunicação da empresa, diria que ela é:

formal, informal, aberta ou fechada?

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À medida em que percebíamos que determinado assunto era mais delicado e

suscetível a maiores explicações, as perguntas foram se aprofundando para garantir

um enfoque mais específico quanto à percepção do indivíduo. Esse enfoque variou

conforme o nível intelectual e o cargo desempenhado pelo entrevistado.

A análise de discurso serviu de base para captar a percepção sobre como a

comunicação acontece em cada uma das empresas estudadas. As respostas são

comparadas entre os indivíduos da mesma empresa para detectarmos os conflitos e

percebermos a influência da família e da cultura no modelo de comunicação

apresentado. A identificação das falas dos entrevistados será destacada em itálico no

decorrer da análise.

6.1 EMPRESA A

A Empresa A pertence ao ramo alimentício e está localizada em Caxias do

Sul. Atua com uma ampla estrutura que envolve indústria e comércio e possui uma

marca bastante consolidada, voltada para os mais diversos públicos. Diferente da

Empresa B, que é estruturada em um núcleo familiar central, a Empresa A é composta

por dois núcleos familiares, o que constitui uma empresa multifamiliar. De acordo com

Gonçalves (2000, p. 108), uma empresa multifamiliar é aquela que “nasce da

associação entre duas ou mais famílias em torno de um empreendimento econômico

comum”. O autor aponta que uma das principais dificuldades enfrentadas por esse

tipo de empresa está na continuidade, pois a disputa de poder entre famílias será mais

complexa e conflituosa.

A estrutura familiar dessa empresa caracteriza-se pela presença de dois

fundadores sócios, concunhados, e as gerações seguintes estão presentes por meio

de seus filhos. Consideramos essa empresa como multifamiliar pelo fato de que os

fundadores não possuem parentesco de sangue, mas ainda assim, são membros de

uma mesma família. Os dois sócios atuam com responsabilidades distintas: um cuida

da produção e outro cuida da expedição. Dois filhos dos sócios, primos, portanto,

atuam na gestão administrativa e de recursos humanos, respectivamente. O terceiro

membro da nova geração da família, também filho de um dos sócios, atua em uma

função operacional.

A empresa opera com 23 funcionários, distribuídos em três setores:

administrativo, produção e expedição. Foram entrevistadas dez pessoas, sendo cinco

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membros da família – dois sócios concunhados, três filhos dos sócios (sucessores); e

cinco funcionários de diversas áreas da empresa. Ao retratarmos suas falas no

decorrer da análise, usamos as denominações Familiar A, Familiar B (fundadores),

Familiar C, Familiar D e Familiar E (sucessores), conforme a hierarquia dos

membros da família na estrutura de gestão, ao passo que os funcionários serão

retratados como Funcionário A, Funcionário B, Funcionário C, Funcionário D e

Funcionário E, sem respeitar qualquer hierarquia, para garantir sigilo a suas

identidades.

A partir do estudo de caso, percebemos que a Empresa A possui uma forte

presença no mercado, sendo conhecida, respeitada e valorizada pela sua marca e

seus produtos de tradição e qualidade. Os canais de comunicação utilizados por essa

empresa concentram-se em website, fanpage no Facebook, perfil no Twitter e

anúncios esporádicos em jornal impresso. A maior fatia de divulgação da empresa é

decorrente do contato informal, vulgo “boca a boca”, que faz com que seus produtos

sejam conhecidos e valorizados no ramo alimentício. Os investimentos em

comunicação externa são baixos, sendo impulsionados somente quando há

lançamento de produtos ou ocasiões especiais. Não há vínculo fixo com agência de

comunicação para criação de conteúdo ou monitoramento e todo o trabalho de

manutenção das mídias sociais é feito internamente pelo setor administrativo.

Não há um setor de comunicação dentro da empresa. A área de Recursos

Humanos não possui planejamento de comunicação interna, atuando somente com

questões trabalhistas e legais. De acordo com um dos filhos dos sócios, as

informações são repassadas aos funcionários somente por meio de reuniões e

comunicados repassados aos gerentes de produção. Existe um mural localizado no

refeitório, mas ele não é atualizado, devido à falta de uma pessoa responsável por

isso. A empresa não comemora datas especiais, nem presenteia os funcionários em

qualquer ocasião. O vínculo da empresa com seus funcionários é estritamente formal,

sem nenhuma ação de motivação ou recompensa, que não o salário e os direitos

trabalhistas.

A partir do estudo de como funcionam a estrutura de gestão e as ferramentas

comunicacionais com que a empresa trabalha, partimos para a análise dos resultados

obtidos com as entrevistas em profundidade. Para melhor analisar as respostas em

sua totalidade, separamos a análise em três subdivisões: cultura, comunicação e

empresa familiar, partindo do pressuposto de que a cultura reflete o ambiente interno;

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a comunicação engloba todos os processos comunicacionais; e os quesitos

relacionados à empresa familiar mostram o nível de vínculo e aceitação do indivíduo

com o modelo de gestão.

6.1.1 Cultura

Os fatores referentes à cultura da empresa puderam ser percebidos a partir

do que foi proposto por Fleury (1996) sobre a investigação das políticas de Recursos

Humanos, interpretação da organização dos processos de trabalho e de socialização

de novos membros, bem como sobre a análise da visão do fundador sobre sua

concepção global do projeto.

Os aspectos relacionados à cultura da empresa A podem ser interpretados a

partir das questões que focam o ambiente, o clima geral da organização e a forma

como se dá o relacionamento entre os funcionários. Quando questionados sobre o

ambiente, todos os entrevistados qualificaram como bom, com algumas ressalvas de

que ocorrem alguns conflitos, mas com raridade. Considerando os três setores

distintos da empresa, o Familiar C afirma que a produção tem alguns problemas de

clima entre pessoas, o administrativo é tranquilo e a expedição é 99% bem tranquilo.

O Familiar D avalia que, devido a períodos de oscilação no volume de

produção, a interação entre os funcionários varia conforme a época do ano. Segundo

esse entrevistado, em algumas épocas do ano, é meio tumultuado, a gente não

consegue conversar muito bem e decidir as coisas, porque é bem corrido. Ele avalia

que o problema está na falta de uma definição clara das funções de cada um, ao passo

que a solução estaria no diálogo e na maior aproximação das pessoas. De acordo

com suas palavras:

A gente não tem muito dividido a função de cada um. Então, a gente acaba se atrapalhando... Se um tenta ajudar o outro, acaba fazendo um pouquinho de cada coisa e atrapalha, porque a gente não é bem dividido. [...] Eu acho que a gente poderia conversar mais.

Já, quanto ao relacionamento entre os funcionários, a maioria dos

entrevistados respondeu que considera boa a convivência entre todos. O Familiar E

considera que o relacionamento entre os setores é bem separado, ou seja, não há

integração entre as pessoas de setores distintos. O Familiar C ressalta que a relação

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de convivência dos funcionários é extremamente profissional, não havendo vínculos

que não relacionados ao trabalho. Da parte dos funcionários, todos consideram que o

relacionamento, no geral, é bom. O Funcionário D considera que a sua relação com

os colegas é, praticamente, a mesma coisa com todos.

Sob o ponto de vista dos fundadores, não há qualquer problema no ambiente

ou no relacionamento dos funcionários dentro da empresa. De acordo com o Familiar

A: às vezes dá umas desavenças, mas é normal. Eu acho que está tudo bem. O

Familiar B também compartilha desse pensamento quando diz: De vez em quando

dá alguma coisa, mas é difícil. Pelo que eu vejo está tudo bem. Podemos perceber

que já nesse quesito há uma diferença no discurso dos fundadores em comparação

com os sucessores. Esses, da nova geração, já conseguem enxergar os pontos fracos

presentes na convivência do público interno. O posicionamento dos fundadores,

focado nesse sentimento de acomodação, pôde ser percebido em diversos momentos

das suas falas.

Outro fator considerado nas entrevistas, e que pode ser interpretado como

reflexo da cultura, é o nível de liberdade de expressão que os funcionários possuem

dentro da estrutura da empresa. As relações de poder também puderam ser

interpretadas nesse ponto. Para o Funcionário E, a empresa dá espaço para as

pessoas se manifestarem sobre algo negativo e ela oferece retorno sobre as questões

reclamadas sempre. Segundo ele: Sempre são os que estão há mais tempo que

acabam falando quando surge alguma coisa, tipo um erro na produção, alguma coisa.

Percebemos, então, que existe um poder maior vindo dos funcionários mais antigos,

que conseguem opinar e expressar críticas por terem mais confiança com a gestão.

O Funcionário D também considera que existe essa abertura por parte da

empresa para que os funcionários expressem sua opinião, porém, a falha está na

solução. De acordo com sua fala: Tem espaço, sim, mas o retorno... A pessoa até fala

e tudo, mas o retorno às vezes se perde por aí.

Para o Funcionário A, a empresa não fornece tanto espaço para a liberdade

de expressão. Para ele, as reivindicações são passadas, mas não são levadas até o

fim. De acordo com a sua fala: Eles tentam amenizar, levando até a pessoa esquecer

e muitas vezes é só o que acontece. Quando questionado se a empresa comunica o

que precisa ou o que ela quer, ele respondeu: Geralmente, acho que é o que a

empresa quer comunicar, o que é mais conveniente. Sobre sua percepção se todos

os funcionários sentem isso, ele afirma: Sim, vejo comentários de muitos que eles

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percebem. No meu ponto de vista, eu vejo que eles percebem que é comunicado mais

o interesse da empresa do que de todos.

A partir desses destaques, podemos entender que a cultura da empresa

mostra um ambiente de fronteiras entre as pessoas conforme a área de atuação, em

que os relacionamentos são pautados exclusivamente pela ação profissional. Esse

modelo mostra a predominância das relações de trabalho, proposto por Srour (1998).

As relações coletivas estruturais também se fazem presentes, mas não com tamanha

intensidade.

A falta de normas claras, procedimentos e um planejamento das rotinas

mostra que a cultura da família permanece arraigada no cotidiano da empresa. O

pressuposto da dependência, proposto por Bion (1961), mostra-se presente à medida

em que existem poderes onipotentes e subjetivos vindos da família, capazes de

satisfazer as necessidades dos subalternos.

A visão dos fundadores, de que o clima está perfeito, sugere que a situação

da empresa é vista como estática e estagnada nos seus processos. Conforme a

concepção de Lodi (1998) sobre a “terapia do eu empresarial”, os fundadores

buscaram e, agora, contemplam o sucesso do seu legado impresso na empresa

materializada. Analisando-se a visão dos sucessores, existe uma percepção de que

os procedimentos estão defasados e precisam de melhorias.

A ideia do líder carismático, proposto por Gonçalves (2000) se mostra

presente na percepção da cultura por parte do público interno, sendo o carisma fator

principal que motiva e estreita as relações de trabalho. Percebe-se uma transição do

pensamento estático dos funcionários mais antigos para os novos, onde acaba sendo

mantido o modo tradicional de agir e conviver dentro da empresa.

As relações de poder podem ser interpretadas a partir de diversos focos. Com

a ideia de Krausz (1991), percebemos que o poder pessoal dos fundadores é

predominante. Já, na concepção apresentada por French & Raven (1960),

entendemos que o poder referente é o que se mostra mais evidente, considerando

que é baseado na identificação e admiração por pessoas-modelo, no caso, os

fundadores.

Como fontes de poder dos fundadores, a partir de Galbraith (1999)

consideramos a personalidade e a propriedade como elementos principais.

Concordamos com o que foi dito por Lodi (1998) sobre a diferença de poder entre as

gerações. Enquanto o poder dos fundadores foi criado pela iniciativa, o poder dos

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sucessores é constituído pelo direito de sangue. Essa diferença é perceptível na fala

dos funcionários, pois eles exprimem sentimentos de gratidão para com a geração

fundadora, mas de aceitação entre os integrantes da segunda geração.

6.1.2 Comunicação

A comunicação empregada pela empresa A pôde ser verificada por meio de

questões que buscaram perceber quais os processos utilizados pela empresa no

momento de comunicar mudanças, decisões e informações importantes para todos os

funcionários. Percebemos que a empresa não possui um processo claro quanto aos

procedimentos de comunicação interna. O procedimento ocorre de dois modos,

conforme a situação: é realizada uma reunião pontual com os setores envolvidos no

assunto, ou a informação é comunicada aos encarregados de cada setor e esses

repassam-na aos subordinados.

A partir desta fala do Familiar C é possível compreender como a falta de

planejamento no processo de comunicação prejudica o entendimento das funções:

Tem bastante falhas, às vezes a gente se reúne, conversa, vamos direcionar as coisas, a partir de agora vai ser assim... Mas eu vejo que, principalmente os [cita os sócios], eles têm uma certa dificuldade. Não sei se na hora acham legal e depois acham que não dá para colocar em prática, então parece que não existiu a comunicação, a impressão que dá pra quem vê de fora é essa.

Na opinião do Familiar E, existe, também, um problema nessa maneira de

comunicar: Acho que ela poderia ser mais especificada, mais certinha, porque às

vezes alguém fala pra um e não fala pro outro, fica uma coisa não muito formal. Para

o Familiar D, as reuniões são feitas principalmente para organizar as ações do setor

administrativo, ignorando essa mesma preocupação com a produção. Segundo ele,

na produção não tem muito como planejar. As coisas vão acontecendo conforme vão

vendo que vai aumentando a produção. Quando questionado sobre a ocorrência de

disfunções nesse modelo, ele respondeu:

Tem falhas, sim. E acontece muito assim: eu acho que estou certo e o outro não concorda, acha que eu estou errado e não consegue mudar. Acho que por ser familiar é assim, né? Porque eu acho que cada um meio que se comanda... Acho que, de repente, é mais difícil de aceitar críticas, por ser uma empresa familiar.

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Para a maioria dos funcionários, porém, o modo de comunicar as decisões

está bom e acaba atingindo os objetivos propostos. As exceções ficam por conta dos

Funcionários A e D. O primeiro, quando questionado sobre a forma de comunicação

e se a considera uma forma eficaz, respondeu:

Acontece que um vai falando para o outro sabe... Tem tal coisa e vai mudar isso e a gente fala para um e vai passando um para o outro. Geralmente, nunca é feita uma reunião. [...] Acho que não é a forma mais eficaz, porque às vezes tu fala de um jeito e o próximo já fala de outro jeito. Acaba lá no fim sendo bem diferente, aquele que recebe por último nem entende direito a ordem.

Esse funcionário, quando questionado sobre a preocupação da empresa

sobre a comunicação, considera que faltaria mais integração entre os donos e os

funcionários, com mais reuniões para debater o que cada um tem mais dificuldade. O

Funcionário D considera que a comunicação é bastante deficiente na empresa, já

que ela não é planejada: Eu acho fundamental a comunicação e talvez falte um pouco

disso aqui, [...] às vezes o trabalho não flui por falta da comunicação. Ele considera

que uma das causas dessa falta de fluidez está na dificuldade de decidir as mudanças:

É complicado, porque é sempre uma decisão que se toma em conjunto. Ou seja,

percebemos que a presença de diversas fontes de poder em um clã familiar, de acordo

com o que foi proposto por Julien (2013), poderia ser um dos motivos pelo qual o

planejamento de comunicação inexiste, uma vez que as decisões não conseguem

encontrar seu escopo.

O Familiar C afirma que o investimento em comunicação é precário e acredita

que poderia ser ampliado. Ele considera que essa falta de planejamento da

comunicação mercadológica reflete a mesma situação da preocupação com a interna.

Quando questionado sobre o uso dos recursos em comunicação, ele diz:

O investimento em comunicação é bem direcionado sempre. Poderia ser bem maior do que é hoje. Existe uma grande resistência por parte dos proprietários, mesmo. Eles são um pouco resistentes, porque veem assim: se tem bastante procura não precisa anunciar, porque já está bom assim.

Na opinião desse familiar, o motivo dessa resistência está tanto na falta de

conhecimento quanto no aspecto financeiro, pois, segundo ele, às vezes, o que a

gente pensa que dá para fazer com um orçamento X, acaba sendo X mais Y, então o

financeiro trava, às vezes, um pouquinho. Quando questionado sobre a eficácia do

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modelo atual, ele comenta que não acha que está em um nível bom ainda: acho que

tem bastante para melhorar. Não está eficiente.

O Familiar D afirma que não existe setor específico que se preocupe com a

comunicação interna e, quando questionado se já havia sido pensado no assunto,

respondeu: A gente nunca comentou disso, não pensamos mesmo. Ao ser

questionado sobre como considera que a implantação de um planejamento de

comunicação interna seria recebida pelos funcionários, ele afirma que não. O motivo

estaria na falta de iniciativa e interesse deles, bem como na dificuldade de planejar.

De acordo com suas palavras: Eu acho que não [seria positivo]. Acho que teria que

ser bem trabalhada então, sabe? Explicar bem e tal, mas assim só criar um

informativo, por exemplo, acho que não daria certo, na minha opinião. Ele justifica sua

colocação exemplificando que um mural foi instalado no refeitório, mas as pessoas

não mostraram interesse em ler as informações.

Podemos interpretar esse posicionamento como consequência da falta de

uma pessoa que gerencie as ações de comunicação interna. Uma vez que o mural

tenha sido implantado, imagina-se que as informações e a dinâmica de conteúdo não

tenham sido atualizadas com frequência e nem pensadas de forma a captar a atenção

dos funcionários. Entendemos que esse pessimismo se dá pela própria falta de

motivação na implantação de um planejamento de comunicação, a partir de um

sentimento de conformismo sobre aquilo que não deu certo.

A incomunicação, proposta por Wolton (2010) pode ser um dos fatores que

causam esse conflito, pois existe um problema de recepção e interpretação da

mensagem no processo de comunicação. Nesse caso, o problema de recepção e

interpretação está presente dos dois lados: tanto na gestão que gerenciaria o

processo quanto no público alvo. Em outras palavras, entendemos que a

incomunicação atrapalha a percepção que a comunicação planejada poderia

proporcionar, em consequência de que pouco foi feito, sem gerar, assim, o resultado

esperado.

Considerar a bilateralidade, afirmada por Vieira (2004), como uma

característica fundamental do ato comunicacional pode ser um caminho para sanar

esse problema e compreender a comunicação como um todo. Essa preocupação

poderia evitar a negação daquilo que não é utilizado ou, sequer, conhecido pelos

gestores.

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Quando questionado sobre como percebe a visão da primeira geração sobre

uma possibilidade de investir em comunicação, esse familiar (D) afirma que eles

seriam bem receptivos, pois considera que eles são bem abertos à mudança. Porém,

ele avalia que o momento não é propício para isso, devido a outras demandas que

são prioritárias, como, por exemplo, melhorias na área financeira. Para ele, se fosse

para dar prioridade agora, seriam essas coisas. A comunicação seria para mais

adiante.

Em contraponto às críticas vindas tanto dos sucessores quanto dos

funcionários, percebemos que a visão dos sócios fundadores é completamente

oposta. Para eles, o modo como a comunicação interna acontece está bom e não há

problema na falta de planejamento. Para o Familiar A, a comunicação acontece

porque há conversa. Quando questionado sobre a possibilidade de haver outros

meios, que não só a conversa, ele responde: Olha, e achar um outro meio? Por

enquanto está bom assim, a gente conversa, faz reuniões de vez um quando... Tem

que ter, porque senão desanda. Sobre a possibilidade de investir em comunicação,

sua resposta foi bastante vaga: Se aparecer alguma coisa que a gente ache

interessante, pode ser. Ele complementa dizendo que não sabe que tipo de ideias

poderiam ser implantadas e que espera que os sucessores tenham as ideias e ele,

então, decidirá se aceita ou não. Esse posicionamento mostra a relação de poder

detida por esse familiar. Ele não tem conhecimento sobre o assunto, mas possui poder

de veto.

O Familiar B também afirma que o meio de comunicar o público interno da

empresa ocorre por meio de conversa. Para ele, esse é o meio mais eficaz: Eu acho

que está perfeito do jeito como está. Quando questionado sobre outros meios

possíveis, ele afirma que esse assunto ainda não foi pensado na gestão, mas que

seria positivo: A gente não pensou nisso, mas acho perfeito. Acho que seria bem-

vindo, com certeza. Talvez a empresa ainda não comporte isso, mas com certeza

seria importante. Parece-nos que o entrevistado não percebe que a transição de uma

cultura organizacional centrada nos fundadores passa pela qualificação da

comunicação organizacional.

Consideramos que a falta de conhecimento e o sentimento de acomodação

presente nos fundadores sejam os principais fatores que impedem que a comunicação

seja planejada e valorizada na empresa. As respostas vagas e a convicção de que a

situação está boa do modo atual mostram isso. Enquanto as falhas e as defasagens

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na comunicação mostram-se aparentes aos indivíduos que convivem diariamente com

problemas de interpretação, para os fundadores o que fala mais alto é a certeza de

que sempre foi feito dessa maneira e sempre houve resultado. Por haver resultado,

entendemos que esse fato desnuda a visão equivocada de que a cultura é algo da

ordem do estático, desvinculado de seu cenário.

Entendemos que essa realidade se confirma com o que foi exposto por

Gonçalves (2000) sobre a vaidade e a busca pela perenidade, presentes no âmago

dos fundadores. O autor afirmou, anteriormente, que a figura do fundador transmite

seus valores e suas emoções a sua criatura, no caso, a empresa. Por conta disso, ele

tende a ser reverenciado pelos familiares e antigos funcionários e tornando-se

inesquecível para quem teve seus valores influenciados por ele. A resistência quanto

a admitir as falhas e aceitar melhorias pode ser entendida como um desvio a sua

vaidade e uma negação a sua persistência. Interpretamos, pois, que esse pensamento

dos fundadores deriva da inegável convicção de que a empresa sobrevive ao longo

das décadas por não abrir mão de manter os processos tradicionais, que até então

deram certo.

Atentamos para um detalhe percebido, anteriormente, nas falas do Familiar

D, onde o seu posicionamento mostra-se um reflexo das falas dos fundadores. O

entrevistado deixa transparecer os mesmos valores do pai e do tio, onde vê, em muitos

momentos, a situação da empresa boa e inabalável do jeito que está. Diferentemente

da postura do outro sucessor, o Familiar C, ele mostra-se inclinado a manter a gestão

conforme os ensinamentos dos fundadores. Nisso percebemos que a necessidade

pela mudança, presente no outro, não se mostra no Familiar D. Entendemos que,

enquanto um possui um pensamento mais estratégico, voltado para o futuro e para as

mudanças no ambiente, o outro permanece arraigado às crenças da geração dos

fundadores, crente de que os processos podem ser perpetuados.

A partir de Flores (2001), entendemos que existe, naturalmente, uma falta de

identificação ideológica entre as gerações, com formas diferentes de encarar os

negócios. Isso se reflete na presença das duas gerações trabalhando juntas, onde há

discrepâncias no modo de administrar. A presença dos herdeiros e sua busca pela

implantação de novos modelos de comunicação é permeada por dois aspectos

contrários: a vontade de mudar e o medo de arriscar. Pensa-se que esses sentimentos

antagônicos atrapalhem o planejamento da comunicação de forma mais organizada,

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uma vez que o olhar do fundador ainda está presente na gestão e o risco de manchar

a tradição da família é grande.

6.1.3 Empresa familiar

Ao pensar na estrutura da empresa familiar, podemos analisar o grau de

motivação e envolvimento dos funcionários com esse modelo de gestão. Percebemos

que, ao passo em que todos os funcionários responderam que o ambiente e o clima

da empresa são bons, a maioria deles não se mostram motivados ou consideram que

a empresa poderia fazer algo que os motivasse mais. Considerando o fato de que a

empresa não comemora datas especiais, nem possui qualquer tipo de estratégia

planejada que envolva valorização por mérito ou premiação, entendemos que o

principal fator que demonstrou a falta de motivação dos funcionários está ligado ao

relacionamento estritamente formal e profissional. Os funcionários com mais tempo

de empresa mostram-se mais motivados por manterem laços mais estreitos com os

membros da gestão familiar, principalmente os fundadores.

Ao ser questionado sobre as diferenças na gestão entre a geração dos

fundadores e a sua, o Familiar D afirma que ocorreram muitas mudanças. A principal,

de acordo com ele, foi a implantação do setor administrativo:

Eles [fundadores] não tinham essa noção de administração que foi o [um dos sucessores] que implantou. Essa parte toda do administrativo foi ele. Não tinha escritório, não tinha função realmente. O [cita um dos sócios] ficava um pouco mais na produção e o [cita o outro sócio] mais na distribuição, mas volta e meia eles estavam se ajudando.

Para o Funcionário D, a ausência de ações de comunicação interna é algo

que faz falta no ambiente da empresa. Quando questionado sobre datas

comemorativas no calendário de ações da empresa, ele comenta: Isso é uma coisa

que eu sinto falta aqui, não tem. [...] Eu acho importante, os funcionários se sentiriam

mais valorizados. Na opinião desse funcionário, a empresa poderia alinhar a

comunicação interna com o que a marca representa para o mercado: Eu acho que

eles [funcionários] poderiam conhecer um pouco mais do que está acontecendo com

a marca, que ela está expandindo... Acho que falta esse conhecimento.

O Funcionário B, sobre sua motivação, respondeu: Para mim está tranquilo,

mas eu acho que a empresa deveria valorizar mais o funcionário. Questionamos se

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essa valorização viria somente por meio de estímulo financeiro e se a empresa faz

algo quanto a isso. Ele disse: Não, mas poderia ter alguma forma de o funcionário ser

valorizado. Eles até tentam, sabe? Mas nem sempre todos vão gostar, vai agradar a

todos. Acho que qualquer coisa simples já ajudaria.

Percebemos que o Funcionário C e o Funcionário E consideram-se

bastante motivados, qualificando todos os quesitos como positivos. O primeiro

considera que a empresa, por ser familiar, propicia uma maior abertura com os

funcionários. Na sua fala, ele comenta: Eles para mim são como uma família,

praticamente. Principalmente os patrões, porque é uma convivência de todos os dias.

Já, o segundo afirma que, mesmo sem qualquer ação específica de motivação do

público interno, gosta da postura da empresa e considera os gestores bastante

atenciosos e abertos ao diálogo.

No discurso dos familiares, notamos novamente uma discrepância entre o que

pensam as duas gerações. O Familiar B, quando questionado se percebe os

funcionários motivados, respondeu: Depende o dia. Eu acho que o ambiente deles é

bom, então pelo que eu vejo eles estão com tudo bem. Já, o Familiar E, sucessor da

gestão, considera que os funcionários não estão motivados no aspecto profissional,

mas ao mesmo tempo eles se sentem acolhidos pela empresa familiar. De acordo

com a fala dele:

Acho que não são motivados, até por ser uma empresa mais familiar, por verem que os cargos mais altos são ocupados pela família. Então eles não veem muita chance de crescer na empresa. [...] Sim, com certeza [sobre a empresa acolher os funcionários enquanto relação familiar]. Pelo jeito que os sócios tratam os funcionários dá para perceber. Tem funcionários que chegam para o [um dos sócios] e falam que ele foi um pai para eles, principalmente quando saem da empresa. Isso porque ele está sempre ali no meio e todo mundo se dá bem.

O Familiar D disse não saber se os funcionários estão motivados ou não. Ele

justifica que o contato direto com os funcionários seria um dos motivos da falta de

percepção sobre esse aspecto: Não sei te dizer se os funcionários estão motivados...

É que a gente tem contato direto com eles, então sempre que eles têm uma dúvida,

uma reclamação, eles vêm direto conversar. Referente a isso, a questão seguinte

buscou entender em que ponto o modelo familiar influencia nessa relação de

proximidade. A resposta dele foi a seguinte:

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Sim, se sentem [abraçados pela empresa]. Talvez até falte um pouco de hierarquia na empresa. Mas também eles se sentem mais acolhidos pela empresa. Não sei o que é melhor. Tem funcionários que são bastante antigos e eu acho que, se caso a gente fosse mudar e criar essa hierarquia, não sei se a maioria ficaria...

Em contrapartida, esse familiar ressalta que os funcionários não têm muita

oportunidade de crescer, porque a empresa é pequena. No entanto, ele diz que

acredita que a permanência e o vínculo criado dependem justamente dessa relação

de proximidade com a família.

Consideramos que essa incongruência de opiniões acontece devido à

diferença de gerações, como já foi dito anteriormente. Enquanto os fundadores

permanecem considerando que a situação da empresa é boa como está, os dois

sucessores (Familiares C e E) sentem a falta de motivação e se mostram certos de

que os funcionários poderiam estar mais motivados do que estão. Salvo o

posicionamento do Familiar D, que se aproxima do pensamento dos fundadores.

Entendemos, então, que o principal aspecto motivacional presente no convívio

dos funcionários está na relação próxima com os fundadores e com a cultura familiar,

que propicia um sentimento de empatia e acolhida sobre o público interno. Mais uma

vez, a figura do líder carismático, afirmado por Gonçalves (2000) se mostra fator

principal na criação de vínculos com os funcionários.

6.2 EMPRESA B

A Empresa B é uma indústria de embalagens, localizada na cidade de Caxias

do Sul, que possui 34 funcionários. A marca não trabalha com uma forte divulgação

de seus produtos, atuando de forma discreta. Esse modelo de trabalho, mais focado

no trabalho técnico, aparece devido ao fato de que seu ramo de atuação, produção e

comércio de embalagens, está em contato com seus clientes sob uma relação

empresa/empresa.

A estrutura é composta por um núcleo familiar central, contando com um casal

fundador no comando e dois filhos que já atuam no desenvolvimento da empresa. O

casal fundador compõe duas diretorias, sendo um o diretor geral e outro o diretor

financeiro. As duas diretorias são independentes entre si. Os dois filhos respondem

diretamente à direção geral e são responsáveis pelas gerências de produção e

comercial, respectivamente.

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Para a presente pesquisa, foram entrevistadas dez pessoas, sendo quatro

membros da família – o casal fundador e dois filhos, e seis funcionários lotados em

diversos setores. Ao retratarmos suas falas no decorrer da análise, usamos as

denominações Familiar A, Familiar B (fundadores), Familiar C e Familiar D

(sucessores), conforme a hierarquia dos membros da família na estrutura de gestão,

ao passo que os funcionários serão retratados como Funcionário A, Funcionário B,

Funcionário C, Funcionário D, Funcionário E e Funcionário F, sem respeitar

qualquer hierarquia, para garantir sigilo a suas identidades.

De acordo com o estudo de caso, a presença de mercado da Empresa B é

forte em seu setor de atuação, mostrando uma marca vista como confiável. A empresa

considera que os clientes a veem como um fornecedor responsável e que trabalha

com flexibilidade e agilidade no atendimento. Já na mídia, a marca se mostra tímida e

retraída, utilizando poucos canais de comunicação e marketing. As ferramentas de

divulgação da marca são compostas somente de website e contato direto entre os

clientes e a empresa, via telefone, e-mail ou visitas dos representantes. Nas redes

sociais, a empresa possui uma fanpage no Facebook, mas ela não tem conteúdo

próprio e possui um baixo número de curtidas.

A empresa não possui um setor de comunicação em sua estrutura. O setor

comercial responde somente a questões de pedidos e acompanhamento de vendas e

o setor de Recursos Humanos atende apenas questões trabalhistas. Para prospecção

de mercado, a empresa prioriza visitas ao cliente, pois o contato cara a cara com o

cliente demonstra segurança e garantia no atendimento. A área de produção é quem

desenvolve a principal função de integração com o público interno, por meio da

realização de reuniões. Essas reuniões ocorrem uma vez por mês, para toda a

empresa e servem para comunicar informações gerais, anunciar dados da produção

e, também, para dar espaço a críticas, sugestões e dúvidas dos funcionários. Nessa

ocasião, também são lembrados e comemorados os aniversários do mês.

Apesar dessa reunião ter uma frequência pré-estabelecida, não existe um

planejamento de como ela é guiada. Sua duração, dia da semana, a pauta de assuntos

e quem fala é decidido conforme a demanda. Quanto às informações do dia a dia,

também não há um procedimento padrão para repassar os comunicados aos

funcionários. De acordo com um dos sucessores, as informações referentes a

mudanças e decisões são repassadas de acordo com o setor envolvido no assunto.

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A cúpula diretiva toma decisões e as passa aos gerentes, que passam ao coordenador

de produção, que então repassa aos funcionários da determinada área atingida.

A empresa não possui um calendário de comemoração de datas especiais,

salvo algumas ações pontuais. Essas ações dependem do momento vivido na

empresa e da necessidade. O vínculo da empresa com seus funcionários não é

estritamente formal, pois a família se mostra presente no convívio com os funcionários,

inclusive ajudando em questões pessoais. Em relação à Empresa A, uma caraterística

mais humanizada e preocupada com o público interno pôde ser percebida na Empresa

B, mesmo que não haja um planejamento de comunicação interna e ações

motivacionais formalizadas.

A partir do estudo de caso de como funciona a estrutura de gestão, as

ferramentas comunicacionais com que a empresa trabalha e as relações de

convivência partimos para a análise dos resultados obtidos com as entrevistas em

profundidade. Conforme a análise da Empresa A, seguimos com a separação da

análise em três subdivisões: cultura, comunicação e empresa familiar. Considerando

da mesma forma que a cultura é um reflexo do ambiente interno; a comunicação

engloba todos os processos comunicacionais existentes dentro da empresa; e os

quesitos relacionados à empresa familiar mostram o nível de vínculo e aceitação do

indivíduo com o modelo de gestão.

6.2.1 Cultura

Analisando a cultura da Empresa B a partir do ponto de vista dos familiares,

percebemos que existem conflitos entre o núcleo familiar, ao passo que eles mantem

um bom relacionamento com os funcionários. O ambiente se mostra rígido quando o

assunto é relacionado ao trabalho, porém, ao mesmo tempo, há uma preocupação em

manter um bom convívio entre todos.

Os sucessores consideram que existe uma tensão no clima geral da empresa,

devido ao foco intenso no trabalho. De acordo com o Familiar C:

De certa forma, aqui eu me sinto em casa. Eu considero que a empresa já vem de uma cultura de ter que fazer muita coisa, correr atrás do trabalho e resolver problemas sem muito planejamento ou estratégia. Por isso, eu considero o ambiente um pouco tenso.

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Quanto aos relacionamentos, esse familiar afirma que não consegue ter uma

proximidade com os funcionários da fábrica, por trabalhar diretamente vinculado ao

escritório. De acordo com sua fala:

O relacionamento é estritamente profissional. Vejo que os guris da fábrica são mais quietos, não conversam muito. Eu vejo que não tem muita abertura para eles falarem com a família ou com a gestão. Mas sei que, entre eles, o relacionamento é muito bom tanto aqui dentro quanto fora da empresa.

Podemos evidenciar que essa percepção não se repete nas demais

entrevistas, com familiares ou empregados. É um ponto de vista desse familiar, que

lida com o ambiente restrito da administração, enquanto o irmão trabalha diretamente

com a produção.

Para o Familiar D, o ambiente é agradável, de uma forma geral, mas também

um pouco agitado. Segundo ele, os relacionamentos são bem divididos entre o

administrativo e a produção, porém a convivência entre as pessoas de cada setor é

boa. Ele afirma que nem sempre foi assim:

No passado a gente tinha muitos problemas de conflitos internos, fofocas, hoje em dia a gente tá conseguindo se dar melhor. O que mudou [entre outros pontos citados] é que tentamos estreitar cada vez mais o relacionamento com o pessoal da produção. Antes, era raro a gente sentar com o funcionário e pedir o que ele está achando da empresa ou conversar sobre remuneração, carreira, etc. Procuramos, no mínimo uma vez por ano, sentar com cada funcionário e fazer uma avaliação dele. Além disso ele tem muito mais contato com o supervisor e com o líder de cada setor, isso facilitou o relacionamento.

Sob o enfoque dos fundadores, existem duas visões contrárias. O Familiar B

considera que a empresa procura construir o melhor ambiente possível, sempre

olhando para o lado do funcionário. Os relacionamentos, sob o ponto de vista dele, se

mostram pautados pela relação familiar: todos pensam no conjunto. Já, para o

Familiar A, o ambiente pode ser classificado entre razoável e bom. Quanto aos

relacionamentos, esse familiar considera que o público interno atua de forma

integrada, mas pensa que ainda há o que melhorar. De acordo com ele:

Acho que ainda não está satisfatório, não. Existe um peso, a gente ainda não consegue administrar as conversas, os diálogos... Isso eu digo nos relacionamentos da administração familiar, entre pais e filhos. Pensando nos funcionários, eu acho que é um relacionamento ótimo, bem mais tranquilo, onde a gente tem mais limites.

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Percebemos, aí, um conflito entre o que a família busca ser e parecer aos

olhos do público interno e aquilo que ela de fato representa nos seus próprios

relacionamentos. Esses fatores deixam transparecer o círculo intermediário, conforme

proposto na Figura 2 por Bornhold (2007), em que atitudes e condutas frente a

situações críticas podem ser percebidas.

No ponto de vista dos funcionários, o ambiente e o clima se mostram

favoráveis. Para o Funcionário B: eu acho o ambiente bom, por que não me envolvo

com coisas que não têm nada a ver com o trabalho. O Funcionário A também

considera-o bom. Ele justifica dizendo: Acho um ambiente bem familiar. A gente

conhece todo mundo, é uma família mesmo. Quando questionado sobre como ele vê

o ambiente familiar, afirma que existe essa relação: Sim, é uma família, porque acaba

todo mundo se conhecendo e sendo amigos.

Os Funcionários A, E e F afirmam que os relacionamentos ocorrem como

uma relação familiar, onde todos se conhecem e convivem em harmonia. Os três

entrevistados consideram que as relações com os colegas e com a família são iguais.

O Funcionário B diz que acontecem alguns conflitos, mas nada que possa criar

problema. De acordo com ele, quando acontece alguma situação crítica, a solução é

sempre buscar o diálogo.

O Funcionário C considera que, com a mudança na gestão, os

relacionamentos melhoraram consideravelmente. Segundo sua fala: Hoje, nós

estamos no caminho. Acho que cerca de 80% [da empresa] já tem um bom

relacionamento. O Funcionário D reconhece que os relacionamentos não ocorrem de

forma integrada. De acordo com ele: São setores diferentes, então cada grupo

permanece no seu setor o dia inteiro. Então, eles podem ter contato com o pessoal,

mas é um contato mais reservado. Eu acredito que na fábrica é tudo separado, não é

bem integrado.

Os Funcionários C, E e F concordam que o ambiente é bom, mostrando-se

favorável para a convivência e para o andamento do trabalho. O Funcionário D

considera que existem momentos de tensão no clima com certa frequência,

principalmente no relacionamento entre os familiares. De acordo com ele: Tem

momentos que o ambiente é tenso, porque eles [familiares] tem opiniões um pouco

diferentes em relação ao trabalho. Tem muitas coisas que eles não concordam

totalmente um com o outro.

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Mesmo sendo minoritária, a percepção desse funcionário mostra que as

relações familiares transcendem o relacionamento profissional e os conflitos acabam

aparecendo. Pensamos que essa visão pôde ser percebida por outros funcionários,

mas que não tenham sido afirmadas por medo ou receio. Mais uma vez, vemos

resquícios da cultura invisível, presente do círculo intermediário de Bornhold (2007),

vindo à tona.

As relações de poder presentes na empresa mostram-se bem claras, uma vez

que há um poder referente na posição dos fundadores e um poder legítimo quanto

aos sucessores, de acordo com a concepção de French & Raven (1960). Nas

questões referentes à liberdade de expressão deferidas pela empresa, percebemos

que a família mostra cuidado em fornecer abertura para ouvir os funcionários. É

possível concluir que existe uma preocupação por parte da gestão em não manter a

comunicação somente em fluxo descendente, conforme vimos com Kunsch (2003).

De acordo com o Familiar C, a empresa dá espaço para que os funcionários

falem, principalmente, nas reuniões mensais. No entanto, ele afirma que a adesão é

pequena. De acordo com suas palavras: Vejo que tem muita gente que quer falar e

não tem coragem. Talvez, porque, às vezes, eles têm alguma coisa que estão com

vergonha, mas que seria interessante falar. Quando questionado sobre o retorno dado

às manifestações, ele afirma:

Sim, a gente vai atrás [de resolver o problema]. Como a reunião acontece por pouco tempo e só uma vez por mês, a gente se sente na obrigação de ir atrás, principalmente por que a pessoa falou na frente de todos os funcionários. E uma coisa, por mais simples que seja, mas que ele quer, todo mundo vai ficar observando qual que vai ser a nossa reação durante a próxima semana ou o próximo mês. Para ver se a gente vai resolver ou não.

O outro sucessor, o Familiar D, também diz que essa abertura existe. De

acordo com ele: Acredito que existe abertura, sim. Agora cabe avaliar se está sendo

usado da melhor forma. Sobre o retorno, ele avalia que, de uma forma geral é bom,

mas poderia ser melhor. A justificativa, segundo ele, seria:

Eu acho que o retorno é bom, mas poderia ser melhor. Eu observo que algumas vezes, terminada a reunião, começa uns burburinhos, sabe? Se eu vejo que é algo muito grave, a gente junta o pessoal e vê se ficou alguma dúvida. Eu vejo que ainda não existe aquela liberdade de tirar dúvida lá na hora, mesmo que seja uma crítica construtiva. [...] Pode ser que, em algumas outras empresas, eles não tiveram uma experiência positiva ou realmente eles tenham receio de alguma retaliação. Eu acho que estamos no caminho, mas ainda dá para melhorar.

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De acordo com esse familiar, por parte da gestão, a abertura é concedida e,

ainda, estimulada: Aqui na empresa a gente tenta fazer de uma forma mais dinâmica

possível, tentando deixar eles [funcionários] mais à vontade, para que a gente tenha

informações para ajudar. Quando aos retornos, ele avalia que a maioria tem resposta:

Eu sempre tento levar adiante, mas eu acho que ainda teria que dar mais alguns

passos. Acho que falta uma regra clara, para sanar essas dúvidas antes que elas

nasçam.

O Familiar A compreende que a liberdade de expressão da empresa não

esteja ocorrendo da forma correta. Quando questionado se a empresa dá abertura

para o funcionário, quando esse deseja se manifestar, sua resposta foi: Mais ou

menos. Talvez ele fique até receoso de vir falar alguma coisa, por medo de não

conseguir o que quer.

Os funcionários, de uma forma geral, reconhecem que a empresa fornece

espaço para manifestações e críticas. O Funcionário B concorda que existe

dificuldade para que as pessoas exponham em público sua opinião. Segundo ele: Às

vezes, no grupo, a pessoa tem vontade de falar, mas como é tudo junto não tem

coragem de se expressar. A gente percebe que tem alguns que teriam vontade de

falar, mas não têm autoridade de dizer no meio do pessoal. Esse funcionário, assim

como os Funcionários A, C, D, E e F, afirma que a empresa costuma dar retorno de

todas os assuntos solicitados e se mostra atenciosa para receber esse tipo de

intervenção.

O Funcionário C, especificamente, comentou que todos têm abertura para

falar diretamente com qualquer pessoa, inclusive com os diretores. Segundo ele,

existe essa facilidade, mas não é o que os funcionários fazem:

O respeito melhorou muito. Hoje eles têm abertura com todos, até com o [nome do fundador]. Mas eles não fazem isso, porque são bem doutrinados quanto a isso. São poucos que fazem. [...] Foi uma cultura que foi criada dentro da empresa, que não se tinha. [grifo nosso]

A partir da concepção geral da cultura da Empresa B, entendemos que o

processo de sucessão encontra-se bastante evoluído, de forma que as mudanças com

a chegada da segunda geração já são sentidas pelos funcionários. O público interno,

de uma forma geral, mostra-se ciente do processo de mudança e da profissionalização

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que está acontecendo na empresa. Mais do que isso, os funcionários mostram-se

otimistas com tais mudanças

Percebemos que, com os filhos assumindo cargos de gerência e posições de

poder na estrutura organizacional, diversos fatores que compõem a cultura

organizacional já se mostram modificados. Esse novo pensamento parece estar

integrado ao novo modo de gerir a empresa, baseado na juventude dos sucessores.

Atentamos para o detalhe que essa mudança parece estar sendo bem recebida pelos

funcionários, principalmente os da produção. No entanto, nos parece perceptível,

desde já, que exista um certo incômodo por parte dos fundadores, que percebem a

receptividade dos funcionários quanto à mudança e sentem que a cultura por eles

implantada está se esvaindo.

Outro fator que vale reflexão, desta vez no quesito das relações de poder, é

referente à dificuldade que os sucessores têm em fomentar a participação do grupo

em exprimir opiniões e críticas, durante as reuniões mensais. É possível afirmar que

existe aí a presença de um poder condigno, conforme propôs Galbraith (1999). Nesse

caso, existe uma submissão invisível entre os próprios funcionários, para que eles

abandonem suas preferências e não as exponham para o grande grupo,

principalmente por medo de repreensão.

Por meio da fala exposta, anteriormente, do Funcionário C podemos

perceber a presença do poder condigno. O entrevistado faz uso da palavra

“doutrinados” para caracterizar a liberdade de expressão que os funcionários têm para

falar com a diretoria. Da forma como ele expõe, considerando sua posição como

funcionário, deixa subentendido que a repressão vem do próprio grupo de

empregados e não, diretamente, da direção da empresa. O que chama atenção nesse

ponto é que o poder e a repreensão não vêm da cúpula familiar que detém o poder da

empresa, mas sim, do receio de retaliação por parte do grupo de colegas.

6.2.2 Comunicação

Os processos de comunicação na Empresa B mostraram-se a partir das

questões sobre como a gestão comunica mudanças e informações importantes a seus

funcionários. Conforme já mencionado no estudo de caso, a empresa não dispõe de

um setor ou de um planejamento de comunicação interna, de modo a formalizar os

processos comunicacionais. Os principais meios para a comunicação são o “telefone

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sem fio” e o contato “boca a boca”. As únicas ferramentas implementadas, e que

seguem uma certa periodicidade, são as reuniões mensais e a atualização de um

mural no refeitório.

Segundo o Familiar C, o modo informal de comunicar gera desvios na

comunicação. Ele afirma que quando se trata de alguma questão mais geral, os

comunicados são repassados por meio dos murais ou reunião. Ele afirma que a ideia

da reunião mensal surgiu após a entrada do irmão na gestão, quando os dois puderam

começar a atuar em maior sintonia na implementação das mudanças. De acordo com

sua fala: Antes não tinha reunião, nem nada disso. Aí com a vinda do [nome do irmão],

implantamos essa reunião. Nela a gente conversa sobre como foi o mês, algum

problema que vale passar para todo mundo, etc. O principal problema nesse

procedimento, de acordo com esse entrevistado, está na imprevisibilidade dos

assuntos que podem vir à tona nas reuniões mensais:

Eu acho que seria interessante observar bem o caso dessas pessoas que estão com medo de falar e não falam. Talvez fazer uma caixinha de sugestões, para tentar perceber o que pode estar prestes a estourar e então já irmos para a reunião preparados. A gente não tem um conhecimento teórico sobre qual seriam as melhores formas de lidar. Eu não saberia te dizer qual a forma mais adequada de lidar com esse tipo de situação.

Quanto à questão de investimento, esse familiar (C) avalia que ele não é tão

fácil quanto gostaria e tudo é feito com soluções caseiras. No entanto, ele afirma que

entende a importância de haver uma preocupação com a satisfação do funcionário.

De acordo com a sua fala: Se a gente quer as pessoas aqui dentro para produzir da

forma que a gente precisa e da forma mais adequada, sei que para isso as pessoas

precisam estar de bem, elas precisam estar felizes. Quando questionado sobre a

resistência da família no investimento, ele acredita que haveria ainda mais resistência

em investir em comunicação interna, do que já existe com o investimento em

marketing e publicidade. Segundo ele, a comunicação é difícil de mensurar os

resultados e justificar um investimento.

O Familiar D confirmou o modo como o procedimento das reuniões e do

contato informal acontecem. Segundo ele: Se é uma grande mudança a gente faz uma

reunião. A gente para todos os setores ou passamos em cada setor, comunicando em

cada um. Se forem avisos menores daí passamos para o supervisor e ele vai

estendendo aos demais. Sobre a eficácia desse método, o entrevistado considera que

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o resultado é atingido, na maioria das vezes. O problema estaria na falta de

participação dos funcionários, gerada pela dúvida e pelo desconforto em questionar:

Eu observo que, nas reuniões com toda a empresa, o pessoal fala pouco. Quando se

faz reuniões com grupos menores, é diferente. As pessoas falam mais, dão uma

opinião mais sincera.

Os fundadores reconhecem que não há procedimento padrão de

comunicação na empresa e que seus resultados não difíceis de mensurar. O Familiar

B afirma que não existem ações planejadas: Hoje é tudo pontual e algumas coisas

estão atrasadas por causa da sucessão. Ele entende que a comunicação poderia ser

melhorada, mas deve vir com a maturidade da gestão: Devemos primeiro organizar a

casa, para depois ir além. Esse assunto está caminhando devagar, mas é importante.

O Familiar A aponta que o processo de comunicação depende da situação

para ocorrer e a direção procura não ultrapassar a cadeia de comando na hora de

comunicar os funcionários. Segundo ele: Tem processos que são bem informais e tem

outros que são bem formalizados. O problema desse modelo estaria na falta de

percepção do entendimento dos funcionários:

Às vezes a gente pensa que a pessoa já sabe e ela não sabe. Acha que é óbvio saber, mas infelizmente acaba tendo problemas para entender: Ela [a informação] sai do superior e vai indo para as outras pessoas. A gente tenta não ultrapassar as barreiras do chefe. Se assim é eficaz eu não sei, mas eu acho que é a forma correta.

Em relação ao investimento em melhorias na comunicação, esse familiar diz

que vê isso de forma positiva. De acordo com sua fala: Eu vejo isso muito bem,

inclusive está sendo feito isso. Estão fazendo um manual de procedimento e de

conduta. Também, foram montados quadros murais. Quando questionado sobre sua

visão no investimento em melhorias específicas em comunicação interna, com foco

no funcionário, ele responde: Sim, acho que é interessante.

Sob o ponto de vista dos funcionários, as respostas foram unânimes em

considerar que a reunião mensal é o principal meio que a empresa utiliza para

comunicar decisões importantes. Todos entendem como funciona o andamento da

reunião, sabem que há espaço para manifestações e que qualquer mudança será

anunciada naquele momento. A maioria considera que é um modo eficaz, pois assim

todos ficam sabendo ao mesmo tempo. Quanto ao mural, somente os Funcionários

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A e F comentaram sobre sua existência, dizendo que ele serve para avisos gerais de

férias, cardápio do refeitório e aniversariantes.

O Funcionário D alega que acontecem falhas na comunicação, mesmo com

as reuniões mensais. De acordo com sua fala: Nunca é 100%. Tem certas coisas que

eles decidem e a gente fica sabendo. Às vezes, a gente fica sabendo depois do

pessoal de outro setor; outras situações é o contrário. Então, não é uma coisa que

acontece para todo mundo ao mesmo tempo.

Percebemos que o fluxo de comunicação da Empresa B mostra-se,

principalmente, descendente, indo de cima para baixo, conforme a ideia de Kunsch

(2003). No entanto, nota-se que existe uma preocupação por parte dos sucessores

em modificar esse sistema por meio de canais de comunicação que permitam fluxos

ascendentes e horizontais. O trabalho desenvolvido nas reuniões mensais mostra

essa ideia da nova geração. Apesar dessa tentativa de implantar uma comunicação

mais democrática, existe dificuldade em estimular os funcionários a exprimirem suas

opiniões em público, conforme o que foi analisado, anteriormente, quanto à liberdade

de expressão.

Mesmo com a falta de planejamento nas ações de comunicação, podemos

perceber que a segunda geração possui uma forte tendência a valorizá-la, pois

entende sua importância na gestão. A abertura de canais de participação e a

preocupação com o entendimento do trabalho, de uma forma geral, demonstram que

os sucessores possuem uma visão ampla daquilo que pode melhorar na empresa.

6.2.3 Empresa familiar

No que tange à empresa familiar, analisamos a visão dos membros da família

quanto à motivação dos funcionários e quanto à facilidade de mudança no

pensamento da primeira geração. Posteriormente, trazemos a visão da relação

familiar e da motivação sob o ponto de vista dos próprios funcionários.

Para o Familiar C avalia que a visão da sua geração é diferente da visão dos

pais. De acordo com sua fala:

Eu acho que meus pais não se preocupavam muito em tentar remediar as situações, tentar prevenir que algumas situações ocorressem. Eles eram mais dessa história de trabalhar, trabalhar, trabalhar. E eu acho que o que a nova gestão pensa é tentar estar um passo à frente, para não precisar parar a fábrica, não precisar se incomodar. [...] Para isso, a gente tenta mostrar que

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estamos abertos a conversar e aptos a melhorar. Até porque, se a gente quer ter uma eficiência produtiva, a gente precisa das pessoas.

Esse familiar afirma que a gestão fundadora oferece grande resistência sobre

a implantação de novas ideias no processo de trabalho. Segundo ele, sempre que ele

ou o irmão sugerem algo novo, os pais questionam a necessidade daquilo: É bastante

difícil apresentar para a gestão novas ideias e dizer que a gente precisa de tal

ferramenta. O entrevistado exemplifica que, geralmente, a desconfiança vem devido

à visão dos pais, que não entendem a necessidade da mudança e consideram que a

situação atual está boa.

A visão que eu e meu irmão temos é que as empresas podem ser grandes e podem fazer realmente o que elas querem, mas para a direção... Eles levavam tudo na mão e começou a pesar isso. Eles não conseguiram mais carregar esse fardo. Então, eles têm medo desse estresse. Imagina gastar dinheiro para se estressar, sabe?

O irmão, Familiar D, acredita que o relacionamento com a gestão fundadora

é bastante fechado. Para ele, o motivo está na desconfiança dos pais se as ideias

sugeridas vão dar certo ou não. De acordo com sua fala:

Até são dadas as oportunidades, mas são vistas com bastante receio, calma e cautela. Outra coisa que eu vejo bastante diferente é a visão de prioridades. Às vezes, uma coisa para a geração do meu pai e da minha mãe é uma prioridade, já para mim e para o meu irmão, não. A gente tem outras prioridades para o negócio. Então, às vezes, ocorre alguns conflitos. Acho que poderia ter um pouco mais de abertura. Acho que ainda está fechado.

Ele considera o relacionamento um pouco conflituoso, porque mistura um

pouco a parte familiar com a profissional, então, às vezes, o diálogo não é tão simples.

Quando questionado se o motivo dessa resistência estaria na falta de investimento ou

na falta de conhecimento, ele respondeu: Acredito que é um pouco por falta de

conhecimento, de avaliar algumas questões. Acho que tem muita coisa para melhorar

em conhecimento, sim. Ele considera que a dificuldade de mensuração no resultando

também atrapalha: Aí, entra de novo a desconfiança, que até faz sentido, se a pessoa

não conhece uma coisa. [...] Meus pais buscam mais segurança e nós procuramos

algo mais arrojado. Tem essa divergência.

Para ganhar a confiança dos pais e, ao mesmo tempo, tentar que as suas

ideias sejam aceitas, os irmãos consideram que é preciso avaliar e saber apresentar

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a ideia da forma como os pais desejam. Para o Familiar C: A gente tenta botar no

papel todas as ideias que a gente tem e, por mais que a gente saiba que é qualitativo,

a gente tenta quantificar a situação para termos mais garantia. Apesar desse cuidado,

ele avalia que tudo tem que ser muito bem explicado, principalmente quanto ao

dinheiro e, mesmo assim, dificilmente a ideia é aceita.

O Familiar D também pensa que a ideia precisa ser planejada com cuidado,

devido à resistência prévia dos fundadores. Segundo ele:

Antes de trazer uma novidade, uma mudança, eu tento ver como ela vai se encaixar na rotina da empresa. [...] Quem sabe a gente não acaba deixando alguma oportunidade para trás, simplesmente, pela resistência à mudança? De repente, tem ideias boas que ficam no final da fila, porque eu sei que vou sofrer resistência aqui dentro na diretoria. Isso porque sempre vou estar tentando trazer uma prioridade que é a preferência deles.

Essa questão pode ser melhor entendida com aquilo que Galbraith (1999)

coloca sobre o poder condicionado, onde existe uma mudança de convicção ou

crença. Nesse caso, é um poder exercido pelos fundadores sobre os sucessores, que

através do seu poder de veto, conseguem moldar as expectativas dos filhos e regrar

os procedimentos de mudança.

Para o Familiar B, a implementação da mudança ocorre com algumas

incompatibilidades. O entrevistado avalia que o que acontece na maioria das vezes, é

que os filhos querem comprar algo novo, simplesmente, e os pais estudam a

viabilidade, o momento e a estabilidade do negócio. De acordo com ele: Nós

pensamos por eles, pelos herdeiros. Já são feitas mudanças, mas precisamos fazer

gradualmente. O nosso papel é questionar: É necessário fazer isso agora mesmo? E

na maioria das vezes não é. No entanto, de uma forma geral, esse familiar considera

que os filhos estão indo bem no processo de sucessão, agindo em sintonia entre eles.

Ele espera que a relação familiar seja mantida apesar das desavenças, pois acredita

que os bastidores também fazem parte do show.

O Familiar A afirma que a postura dos filhos de tentar buscar novas ideias é

um ponto positivo. No entanto, ele diz haver muitas diferenças entre o pensamento

das duas gerações. Segundo ele: Eles fazem coisas que a gente ainda não admite,

então nós rejeitamos muito. Quando questionado se o motivo da resistência estaria

na falta de investimento ou no desconhecimento da ação, ele respondeu: No nosso

caso não é por causa de investimento. É porque eu acho que não precisa, não é

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necessário. O entrevistado diz que o problema estaria no modo como os filhos querem

chegar ao resultado, desconsiderando a orientação dos pais: A gente vê que tem que

ir em tal lugar e eles vão para lá, mas querem ir por outros caminhos. Caminhos mais

sinuosos e mais complicados. Esse descontentamento do fundador tem a ver com a

ideia de Flores (2001), sobre a perda da identificação da ideologia com a geração

seguinte. Mesmo não considerando o posicionamento dos filhos negativo, ele ainda

considera que não é o ideal, simplesmente pelo fato de não ser o modo como ele fez.

Apesar das discordâncias entre pais e filhos, esse familiar (A) acredita o

processo de sucessão está indo bem: Eu penso que é ótimo meus filhos estarem aqui.

Eles querem a empresa, eles dão valor para o trabalho e dão valor para o que a gente

faz. Eles gostam disso. Então, acho que está tudo bem. Tenho certeza que eles

também gostam e estão no caminho certo. Essa fala do fundador exprime com clareza

a ideia de Werner (2004) sobre o critério emocional que define os cargos de gestão

na empresa familiar. O que ocorre, nesse caso, é que o fundador busca manter vivos

seus valores, sua personalidade, sua cultura e seu modo de agir. Para isso, ele

exprime suas expectativas nos filhos, pois eles representam o mais próximo possível

da sua própria personalidade.

No que diz respeito ao envolvimento da relação familiar com os funcionários,

o Familiar C considera que a empresa é mais acolhedora, em comparação a outras

empresas. De acordo com ele:

Tanto meu pai, minha mãe e a gente, nós tratamos muito bem os funcionários. Tem bastante aquela tensão do trabalho, mas tem algumas liberdades que eu não sei se uma empresa grande, uma empresa mais profissional e menos familiar que a nossa, teria. Nossa família está bem dentro da produção, então nós estamos sempre muito próximos das pessoas.

O Familiar D concorda que a relação familiar está presente na relação com

os funcionários. Para ele: A gente tenta manter um relacionamento próximo. [...] Acho

que o pessoal se sente um pouco incluso na família e se sentem em casa. A gente

tenta sempre preservar o emprego, porque a gente sabe que tem um envolvimento

emocional. Apesar disso, ele avalia que a empresa ainda precisa se profissionalizar,

inclusive para manter a confiança do público interno: Essa questão de definir regras

claras é importante para o funcionário ganhar confiança e ao mesmo tempo ele ter

claros os limites aqui dentro.

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Para o Familiar B, a empresa procura atuar como conselheira dos

funcionários, orientando sobre questões pessoais, porém com limites impostos. Ele

afirma que existe uma relação familiar com os funcionários: Sim, tem essa relação

coletiva em família, onde todos pensam no conjunto. Existe, também, uma relação de

vínculo com a família inclusive com funcionários mais jovens, como se eles fossem

filhos nossos.

Já, o Familiar A não vê dessa forma. Ele afirma que muita coisa mudou com

a vinda dos filhos:

Antes, eu chegava mais lá na produção e eu convivia com os trabalhadores mais na hora do desespero, na hora que tinha um problema sério pra ser resolvido. Agora, como o [cita o nome de um dos filhos] fica 100% do tempo lá, acho que eles se sentem mais protegidos, com pessoas que ouvem eles o tempo todo. Eu acho que eles estão aceitando bem [a mudança de gestão], veem que é diferente e que está sendo feita uma mudança. Eles veem que é uma linguagem mais apropriada e que são pessoas que estão mais do lado deles, apoiando e ouvindo.

Além disso, ele considera que existem problemas entre os funcionários e os

setores financeiro e departamento pessoal: Eles cobram muito, descontam minutos

do salário, se precisar. Assim, a pessoa não se sente valorizada e recompensada.

Como os fundadores respondem a diretorias diferentes e independentes, o

entrevistado comenta que um não pode interferir na decisão do outro. Nesse quesito,

entra a questão das divergências familiares, onde o entrevistado deixa transparecer o

desconforto por não concordar com a rigidez sobre os funcionários.

Aqui, percebemos como a presença de múltiplas fontes de poder entram em

divergência. No caso da Empresa B, os fundadores convivem com conflitos frequentes

nesse sentido, onde um não pode sobrepor o poder do outro. Consideramos o fato de

que ambos possuem poderes sobre os filhos, o que vem a gerar ainda mais conflitos

de opinião e autoridade. Essa ideia se confirma com a concepção de Julien (2013),

em que o poder de decisão de um dirigente pode ser questionado pelo clã familiar,

que possui igual ou maior poder de decisão.

Referente à motivação dos funcionários, a duas gerações avaliam de formas

diferentes. O Familiar D considera que, de uma forma geral, os funcionários estão

mais motivados do que no passado. Na opinião dele, a empresa ainda peca em não

se preocupar em oferecer benefícios que casem com a necessidade dos funcionários:

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Eu acho que a gente tinha que começar a pensar nas necessidades deles e criar estratégias de Recursos Humanos. Isso ainda nunca foi feito, não somos pró ativos nesse ponto. A gente só age depois que problema surgiu. Então, se fosse feita uma pesquisa, a agente entenderia melhor quais benefícios seriam bons para eles. Isso ajudaria a aumentar a motivação deles.

Esse familiar avalia que a relação familiar mudou com a chegada da nova

geração: Vejo que a relação familiar existe mais com os funcionários mais antigos.

Hoje, os funcionários mais novos estão mais interessados em ter uma amizade, um

relacionamento com o chefe. Apesar da mudança aparente, ele considera que existe

um vínculo coletivo, como se a empresa fosse uma grande família: Eu percebo um

vínculo emocional, porque todos sabem que a gestão é feita por uma família. Então,

acho que, naturalmente, existe esse vínculo.

Para o Familiar C, a motivação dos funcionários é boa, mas poderia ser

melhor. A diferença, para ele, está na nova gestão, que está começando a se

preocupar com essa questão, até então ausente: Na gestão antiga, dos meus pais, há

3 ou 4 anos atrás, era mais aquela questão do peão e do capataz. Não tinha muito

essa questão da motivação, sabe? O pessoal fazia porque tinha que fazer. O

entrevistado considera que o que já é feito atualmente, e têm dado resultado, são as

metas estipuladas: A implantação das metas dentro da empresa criou uma motivação,

uma competição. E eu acho que isso motiva de certa forma. Mas claro que tem formas

melhores, até para motivar mais ainda.

O Familiar B acredita que a vida pessoal do funcionário é capaz de motivar

mais do que a empresa. Ele afirma que são feitas algumas ações de motivação, como

premiação por tempo de empresa e mérito, porém, sem seguir um planejamento

padrão: Tudo o que você der para o funcionário, ele vai cobrar depois. Então, é melhor

não fazer sempre igual, para ele não cair na rotina e não se acostumar.

O Familiar A diz que vê a motivação bastante negativa, nos últimos tempos:

Às vezes eles nos dão a impressão de que estão fazendo um favor, que estão na

obrigação, nada mais que a obrigação. Ele faz essa comparação com base em uma

época onde os funcionários eram mais engajados com a equipe. O motivo dessa falta

de motivação, de acordo com ele, pode estar na cobrança excessiva do setor de

departamento pessoal que, conforme já citado anteriormente, mantém uma cobrança

rígida dos horários de trabalho. Isso, sob o ponto de vista do fundador, é visto como

uma desconfiança no trabalho do funcionário, que faz com que ele não se sinta

motivado.

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Esse familiar afirma que com a vinda dos filhos para a gestão, a preocupação

com a motivação começou a ser pensada. No entanto, ele considera que o público já

não é mais o mesmo de outros tempos: É que o funcionário nunca está contente.

Passamos vinte anos tentando fazer isso, mas agora deixamos quieto. Esse pessoal

novo, esses jovens... A maioria tem uma criação muito diferente da nossa. É possível

perceber um sentimento de pessimismo presente na fala desse fundador:

Eu acho que não estamos muito satisfeitos com o negócio, sabe? A gente conseguiu uma solidez na empresa, as contas em dia, tudo OK. E agora, a gente começa a pensar nela como um passatempo, mas eu vejo que é um passatempo que poderia ser melhor.

Mais uma vez vemos o descontentamento do fundador frente às mudanças

na empresa. Isso está em sintonia com a ideia de Gonçalves (2000), de que o

fundador transmite seus valores e suas emoções a sua criatura. Quando ele percebe

a mudança e vê que tais valores estão se desfazendo, com a entrada dos valores da

nova geração, ele tem seu pragmatismo e sua vaidade arranhados. A busca pela

perenidade acaba se confrontando com a vivência da segunda morte, proposta por

Miller (2004). A concepção do autor parte da ideia de Lacan, de que o indivíduo não

lida só com a “morte pura e simples, mas com uma segunda morte. Uma relação com

o que ele é enquanto representado por um significante”. (MILLER, 2004, p. 132).

A vivência da empresa sendo modificada pela gestão dos filhos representa,

para o fundador, uma morte prematura daquilo que ele tomou como projeto de vida.

Trata-se de uma situação delicada, pois a empresa precisa passar pela

profissionalização e enfrentar o processo sucessório de maneira efetiva, e isso,

inegavelmente, vai implicar na mudança. O fundador vê que a empresa está

crescendo, mas já não a reconhece como sua criatura.

Analisando o ponto de vista dos funcionários sobre a motivação, percebemos,

de uma forma geral, que a maioria se sente motivada, salvo algumas exceções. Os

Funcionários A e F afirmam que se sentem motivados. O Funcionário E diz não se

sentir motivado pela empresa, pois avalia que ela não dá um foco para que o

funcionário cresça: Se eles oferecessem cursos, alguma coisa para a gente se

especializar, mas não tem muito disso aqui. Ele considera que mais da metade dos

funcionários não são motivados, possivelmente, pelo mesmo motivo.

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O Funcionário C ressalta que a motivação não é muito forte entre os

funcionários, pois, de uma forma geral, eles não veem formas de crescer

profissionalmente. Isso se dá, segundo ele, principalmente, pela empresa ser pequena

e familiar: Acho que a gente não tem muito crescimento dentro de uma empresa

pequena. Não tem pra onde tu ir. Por esse motivo, ele avalia que a motivação deve

vir de outras formas: Motivação é tentar, da melhor forma possível, saber da vida dos

funcionários e tentar ajudar da melhor forma possível, porque eu vejo que com

dinheiro não tem como toda hora estar melhorando.

Sobre a relação familiar, esse funcionário avalia que, de certa forma, existe

uma relação conjunta, como se a empresa fosse uma grande família. Fora daqui não

tem isso, mas enquanto família [cita o nome da empresa], sim. A gente acaba

aprendendo muito um com o outro. Ele comenta que admira muito o posicionamento

e a liderança do fundador, o que demonstra a presença da ideia do líder carismático,

sugerido por Gonçalves (2000): Considero ele um grande exemplo. Ele tem uma forma

fantástica de saber mandar sem ofender. Comparando com outras empresas, o

entrevistado diz: Essa é uma das empresas de pequeno porte que eu mais vejo

cobrança. Penso que isso retrai um pouco, porque é um público muito jovem que

trabalha aqui.

O Funcionário D afirma que gosta muito do seu trabalho e da equipe: O grupo

é pequeno, então, enquanto a empresa é menor, todo mundo conhece todo mundo e

se dá com todo mundo. Ele avalia que existe uma relação familiar com toda a

empresa, pois como a empresa é familiar e menor, o contato é mais direto. Quando

questionado sobre motivação, ele respondeu:

Eu acredito que contentamento geral nunca vai existir. Se tiver descontentamento do pessoal não é do lado pessoal, porque todo mundo se dá bem. Se tiver descontentamento, o principal motivo talvez seja a questão salarial, porque, por ser uma empresa pequena, o salário não é muito alto.

No que diz respeito à postura da empresa em desenvolver ações de

motivação, o entrevistado avalia que muito pouco é feito: Eles não fazem nada de

muito diferente. Então, acho que o que falta é que talvez não tenha valorização do

funcionário. Não vejo ações nesse sentido.

De uma forma geral, podemos considerar que a Empresa B, assim como na

Empresa A, propicia uma motivação baseada, principalmente, na relação familiar.

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Apesar da falta de ações padronizadas que busquem engajar e motivar os

funcionários, a empresa mostra-se constantemente preocupada com cada indivíduo,

de forma a tentar criar um ambiente favorável para todos.

6.3 UMA ANÁLISE DOS CENÁRIOS

A partir do que foi analisado, podemos formar uma comparação dos cenários

das duas empresas estudadas, a fim de estabelecer algumas conclusões para a

presente pesquisa e, assim, auxiliar na validação das hipóteses. Analisamos,

inicialmente, os fatores comuns em ambas, bem como os diferenciais de cada uma.

Posteriormente, levamos em consideração o modelo de gestão familiar e como o

processo de sucessão se apresenta em cada uma. Aspectos já considerados na

análise, como a cultura e a comunicação organizacional, também são comparados

com o propósito de estabelecer uma interpretação dos dois cenários.

As duas empresas analisadas possuem uma proximidade quanto ao tempo

de existência14 da gestão familiar e quanto à ocasião em que os herdeiros entraram

na gestão. Ambas empresas estão na fase C dos 4 estágios do ciclo de vida da

empresa familiar, conforme a Figura 1, proposta por Werner (2004). A fase C

contempla o período onde pai e filho começam a se preparar para a sucessão,

trabalhado juntos e analisando características empreendedoras em comum.

Conforme já mencionado, o modelo familiar das duas empresas difere-se,

sendo uma com estrutura multifamiliar – Empresa A, e outra com um núcleo familiar

central – Empresa B. A Empresa B mostra-se um pouco mais avançada no processo

de sucessão, em que os filhos já possuem um certo poder na hierarquia e já são

aceitos na cultura da empresa, nela interferindo e por ela sendo modificados por ela.

Ao mesmo tempo, os fundadores começam a sentir seu afastamento com o público

interno, que toma, aos poucos, os sucessores como seus líderes.

A Empresa A mostra-se um pouco mais retraída no processo de sucessão.

Percebemos que os fundadores ainda são detentores do poder de decisão e da

aceitação dos funcionários como líderes. Os sucessores, mesmo ocupando cargos de

gestão, aparentam ocupar cargos inferiores aos fundadores, uma vez que os

funcionários não os veem como decisores e formadores de opinião. A cultura

14 Em ambos os casos, optamos por omitir o tempo de existência, a fim de evitar a identificação das empresas pesquisadas.

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impregnada pelos fundadores ainda mostra-se bastante presente no cotidiano da

empresa e, mesmo com a tentativa dos sucessores de implantar mudanças, a

resistência se mostra mais forte. Essa resistência parece vir tanto dos fundadores

quanto dos próprios funcionários.

As duas empresas também mostram uma diferença quanto ao perfil dos

sucessores. Enquanto os sucessores da Empresa B mostram-se otimistas quanto à

implementação de mudanças e sofrem com o veto dos pais, os sucessores da

Empresa A lidam com uma discrepância de pensamento entre eles. Os primos/irmãos

sucessores possuem pensamentos diferentes quanto ao modo e gerir a empresa e

implantar mudanças. Mostrou-se bastante evidente que o Familiar C e D da Empresa

A percebem as defasagens no ambiente e nos processos da empresa, sugerindo uma

visão propícia à mudança, enquanto o Familiar D apresenta um comportando ligado

ao pai/tio fundador. Essa postura mostra uma colagem desse familiar com o

antecessor, com o objetivo de sustentar a posição dele e perpetuar o modelo de

gestão.

Entendemos que a cultura de ambas as empresas mostra-se, sob alguns

aspectos, parecida. As duas empresas possuem relacionamentos estritamente

profissionais e normas subentendidas a partir do poder dos líderes/fundadores.

Consideramos que existem normas subentendidas pelo fato de que as empresas não

possuem procedimentos rígidos e engessados de se relacionar com os funcionários.

O poder acaba sendo intrínseco à figura do fundador. Existe respeito pelo clã familiar,

bem como um consentimento em aceitar o espírito de coletividade, proposto pelas

empresas aos seus respectivos funcionários. Os novos membros parecem absorver o

pensamento dos mais antigos, no sentido de manter a visão do respeito e do poder

familiar como predominante.

A comunicação também apresenta algumas similaridades nos dois casos.

Como já foi mencionado, nenhuma das empresas possui setor de comunicação ou um

planejamento que guie as ações nesse sentido. Os processos são informais,

dependendo da situação e da necessidade, pautados, principalmente, pelo contato

interpessoal “boca a boca”. O fluxo de comunicação descendente, conforme a

concepção de Kunsch (2003), é predominante nas duas empresas. Quanto ao

investimento, ambas não consideram como prioridade o setor de comunicação,

entendendo que outras áreas merecem atenção antes da comunicação.

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A relação familiar atrelada à empresa é vista, praticamente nos dois casos,

como positiva para os relacionamentos e a boa convivência entre todos. A

informalidade, nesse caso, mostra-se um ponto positivo na proximidade que os

funcionários têm com os membros da família. Ambas empresas percebem que, a partir

de uma maior profissionalização do negócio, esse aspecto de relação próxima da

família com os funcionários, pode ficar em risco.

A resistência à mudança pode ser analisada como um quesito à parte, pois,

mostra-se presente tanto na cultura e nos processos de comunicação quanto no

processo sucessório. Vemos com clareza a visão vaidosa dos fundadores ao retratar

sua obra, no caso, a empresa, como uma organização em perfeito estado, que não

precisa passar por mudanças, pois sobreviveu há décadas de tal forma. Já, sob o

ponto de vista da maioria dos sucessores, percebemos a ânsia pela comprovação do

direito de sangue a partir da responsabilidade de manter a empresa. Advindos de uma

geração diferente, com visões de mundo diferentes de seus pais/tios, esses

sucessores buscam a chance de modernizar o negócio, mas ainda lutam com a tarefa

de fazer por merecer o direito sucessório, aos olhos dos fundadores.

Através das diferenças e similaridades encontradas, percebemos que o

fenômeno tido como tema central dessa monografia – a relação entre cultura e

comunicação organizacional na empresa familiar, se mostra de diferentes formas,

conforme diversos fatores inerentes em cada uma das empresas. Não podemos, pois,

tomar o recorte fenomenológico como único, pois, como já enfatizamos a partir de

Werner (2004), Flores (2001) e Lodi (1998), a sucessão constitui um processo em

constante mudança. Mesmo assim, consideramos que o fenômeno apresenta-se

recorrente em outras empresas, onde as mesmas concepções poderão ser

encontradas, em maior ou menor escala.

Pensa-se que aquilo que os fundadores veem como estático e tradicional na

sua empresa seja, na verdade, um longo processo de evolução pelo qual a empresa

passou para chegar à solidificação. Quando os herdeiros assumem um papel na

estrutura da empresa, ocorre uma ruptura que estremece as bases da organização.

Isso pode levar a essa visão pessimista de que “tudo está mudando”, conforme vimos

na fala do fundador da Empresa B. Apesar disso, essa empresa mostra-se preparada

para a sucessão, de forma que os filhos já estão alocados em posições estratégicas

que permitirão que eles sigam com a administração do negócio.

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117

Quanto à Empresa A, que mostra-se mais retraída no processo de sucessão,

podemos prever que ela ainda chegará ao lugar onde encontra-se a Empresa B. No

entanto, o tempo pode ser determinante para a forma como esse processo

acontecerá. De acordo com o tempo de permanência dos fundadores no poder e com

a posição de liderança a ser assumida ou não pelos sucessores, poderemos dizer

como a empresa vai se comportar no futuro. No entanto, a empresa ainda terá outros

dois desafios pela frente, após o processo sucessório se completar: enfrentar a

relação de poder entre os primos, vindos de famílias distintas; e lidar com a diferença

na visão desses dois gestores, onde um é inclinado à mudança e à modernização e o

outro, em manter os processos tal como ensinados pelos fundadores.

De uma forma geral, consideramos que a pequena empresa familiar, tal como

ela se apresenta a nossa percepção, tem um longo caminho até a profissionalização

do negócio, mantendo, ao mesmo tempo, a permanência de seus valores. Apesar das

desigualdades entre os casos estudados, percebemos aspectos em comum que

podem ser trabalhados e, inclusive, servir de exemplo um para o outro. A Empresa A

pode aprender com o exemplo da Empresa B como profissionalizar-se, assumindo

uma postura estratégica por parte dos seus sucessores. Já, a Empresa B pode vir a

perceber, a partir da Empresa A, como não perder de vista a relação aproximada que

a família constitui.

Ao contrário do que reza o pensamento popular, que a empresa familiar está

fadada ao fracasso, pensamos que ela possui uma vantagem competitiva que, desde

que bem trabalhada, pode destacar-se das demais: a humanização dos seus

relacionamentos. Diferentemente do que foi proposto na Administração Científica,

onde o trabalhador é avaliado de acordo com aquilo que ele produz, a empresa familiar

vê no seu funcionário muito mais do que uma simples engrenagem dentro de uma

máquina. Ela consegue perceber as necessidades dele, adotando-o como se, de fato,

fosse um membro da família. Esse diferencial pode ser crucial para a consolidação ou

fracasso de uma empresa familiar, onde o fator de preocupação humana e o

desenvolvimento de seus processos produtivos devem permanecer em equilíbrio e

sinergia.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A empresa familiar representa um importante marco na economia ocidental,

principalmente, brasileira. Com valores e crenças únicas, a empresa familiar é capaz

de transmitir a personalidade do seu fundador para sua obra e repassar seus ideais

às gerações seguintes. Na mesma medida, existe dificuldade na transição dos

pensamentos entre as duas gerações, principalmente, no que tange a mudanças e

implementação de novos processos. Dentre as dificuldades enfrentadas entre

fundadores e sucessores, encontra-se a comunicação, que acaba restrita às

ferramentas informais e não-planejadas. Movidos por esse pensamento, guiamos

essa pesquisa com o propósito de desvelar a importância da cultura nos processos

de comunicação empregados pela empresa familiar.

O processo de profissionalização de uma empresa familiar mostra-se

complexo e desgastante, mas não é impossível e fadado ao fracasso como muito se

pensa. Uma vez que haja essa preocupação desde cedo por parte da família e que o

processo ocorra de forma intensa e ininterrupta, a empresa pode evoluir e modernizar-

se, mesmo sem abandonar os ideais e os valores arraigados pelo seu fundador.

Entendemos ser um caminho árduo, principalmente com as mudanças cada vez mais

rápidas do Século XXI. No entanto, é um processo que, se completado e reiniciado

(contínuo), pode trazer bons frutos e gerar prosperidade não somente para a família,

mas a todos os envolvidos.

Os pontos positivos da empresa familiar, sugeridos por Werner (2004):

informalidade na medida certa, união, harmonia, senso de equipe, ética e moral,

podem sobreviver a um processo de sucessão e garantir que a empresa perpetue

suas relações próximas e seus valores familiares, mesmo com a profissionalização.

Entendemos que o diferencial que pode fazer com que uma empresa familiar se

destaque frente à outra está justamente nos valores humanos e morais por ela

enraizados.

A partir da questão que norteou essa monografia: Qual é a relação entre a

cultura organizacional e os processos de comunicação presentes nas empresas

familiares de pequeno porte? e do nosso objetivo geral: Analisar a relação entre a

cultura organizacional e os processos de comunicação interna existentes nas

empresas familiares de pequeno porte, podemos entender que a cultura

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organizacional na empresa familiar mostra-se arraigada nos valores da família,

principalmente no seu fundador.

Os processos de comunicação são rudimentares e não são considerados

estratégicos na manutenção do trabalho. Interpretamos que a cultura particular na

empresa familiar e seus processos informais de comunicação tenham relação íntima

com o modelo de relação que salta do núcleo familiar e contempla todo o público

interno. Dessa forma, acaba por existir uma cultura caseira de produção e

disseminação da informação, baseado na confiança e no relacionamento próximo.

A informalidade acaba sendo repassada aos sucessores, que, geralmente,

não possuem a mesma carga ideológica dos fundadores. Manter vivos os valores do

passado e, ao mesmo tempo, modernizados os processos de trabalho, mostram-se

os maiores desafios às novas gerações. A comunicação planejada conforme a

estratégia da empresa nos parece um caminho viável para lidar com essa

discrepância. Outro desafio, no entanto, acaba surgindo, com a notável resistência

que a cultura da empresa familiar demonstra ao aprimoramento de ferramentas de

comunicação.

No início desse trabalho, propusemos quatro objetivos específicos, com a

finalidade de validar ou refutar quatro hipóteses. O primeiro deles – estudar a cultura

organizacional das empresas familiares e perceber suas particularidades em relação

a outras formas de cultura organizacional, partiu da hipótese de que a cultura

organizacional das empresas familiares é uma das variáveis determinantes para a

pouca valorização da comunicação nessas organizações. Consideramos que essa

hipótese é validada, pois a presença da relação familiar e de múltiplas fontes de poder

permeia a cultura e transforma o ambiente e as relações dentro da empresa, fazendo

com que ela atue de forma caseira e informal. O conflito de gerações também mostrou-

se uma variável que agrava essa pouca valorização da comunicação.

O segundo objetivo específico buscou investigar o nível de conhecimento dos

gestores quanto à função e aos processos de comunicação nas organizações, a partir

da hipótese de que os gestores de empresas familiares não têm conhecimentos

sólidos sobre processos de comunicação organizacional e a importância dela na

gestão de pessoas, produtos e processos. Essa hipótese é validada, já que os

fundadores das empresas pesquisadas mostraram possuir pouco conhecimento e

grande resistência à implementação de processos de comunicação. Os sucessores

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mostram-se mais inclinados à mudança e à implementação de novas políticas e

processos de gestão, entre eles a comunicação.

O terceiro objetivo específico trouxe o desafio de conhecer os processos de

comunicação já utilizados pelas organizações familiares estudadas, bem como quais

ainda não são utilizadas. A hipótese que norteou essa questão baseou-se na ideia de

que as empresas familiares adotam um leque pequeno de técnicas e processo de

comunicação organizacional. Essa hipótese também é validada, pois as empresas

familiares não mostram interesse prioritário no planejamento de ações de

comunicação e ignoram os resultados que elas podem gerar. Na maioria das vezes,

elas acabam utilizando somente ferramentas informais de modo pontual e não-

planejada.

O último objetivo específico buscou entender as demandas das empresas

familiares no que tange à comunicação, a partir da hipótese de que um estudo amplo,

sobre as formas de gestão das empresas familiares poderá auxiliar na compreensão

e diagnóstico de suas demandas de comunicação. Essa hipótese é validada, por

entendermos que as demandas e as falhas no processo de comunicação podem

indicar o melhor caminho para implantar um planejamento de comunicação e assim

gerir ferramentas e processos de forma mais pró-ativa.

Por meio do estudo de caso de duas empresas familiares e da realização de

entrevistas em profundidade com seus membros, tanto gestores quanto funcionários,

conseguimos obter uma análise de como a cultura familiar interfere nos processos e

na valorização da comunicação. Antes disso, estudamos teoricamente as palavras

chave: empresa familiar, cultura organizacional e comunicação organizacional. Com

cada um desses conceitos desenvolvidos, partimos para o campo a fim de desvendar

a relação entre a cultura e a comunicação nas empresas familiares.

As entrevistas foram de grande importância para que entendêssemos como

ocorrem os relacionamentos, a convivência, as relações de poder, a tomada de

decisão, a liberdade de expressão e o vínculo familiar dos gestores com os

funcionários. Apesar de, no início, parecer que as duas empresas tivessem uma

mesma postura, no desfecho encontramos posições diferentes. Obtivemos duas

situações distintas quando ao processo de sucessão e a relação familiar. Esse

contraponto mostrou-se bastante enriquecedor para nossa análise, já que, assim,

pudemos perceber como os momentos diferentes em que cada empresa se encontra

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no processo de sucessão, podem acarretar em mudanças na cultura e no

posicionamento dos fundadores, sucessores e funcionários.

Analisando os resultados obtidos com essa pesquisa, consideramos que a

metodologia empregada cumpriu com as nossas expectativas. A pesquisa qualitativa

foi essencial para evidenciar os dados descritivos, por meio de um contato direto com

a situação investigada. A lógica de investigação indutiva mostrou-se apropriada para

generalizar as propriedades comuns do fenômeno e, assim, estabelecer uma

conclusão. O método fenomenológico, buscou interpretar os fenômenos que se

apresentam à percepção, tomando como base a cultura organizacional das empresas

familiares de pequeno porte e sua resistência em investir em processos de

comunicação.

As técnicas metodológicas também cumpriram com o resultado esperado. A

revisão bibliográfica, o estudo de caso e a entrevista em profundidade foram

adequados, porque forneceram uma visão ampla do conhecimento teórico do tema,

do cenário de cada uma das empresas e das percepções de cada indivíduo nela

inserido. Assim, o tripé empresa familiar, cultura organizacional e comunicação

organizacional pôde ser estudado com amplitude, levando em consideração o

conhecimento teórico e a pesquisa de campo. A análise de discurso mostrou-se

apropriada para interpretar as emoções e as percepções dos indivíduos inseridos na

cultura da empresa familiar e analisar suas concepções sobre a comunicação interna.

Com ela, também, foi possível observar, em algumas situações, as “dobras do texto”,

ou seja, o sentido que não foi explicitado em algumas afirmações, mas posto ali.

Acreditamos que essa monografia foi de grande serventia para o nosso

enriquecimento intelectual, enquanto pesquisadores, assim como nos propiciou uma

visão mais ampla do mercado profissional das Relações Públicas e de como o

profissional pode se colocar a serviço das empresas familiares. Esse trabalho

mostrou-se, também, uma pesquisa de grande importância para as duas empresas

pesquisadas, que podem, a partir desse estudo, melhorar seus processos e avaliar

suas condições no cenário organizacional.

De uma forma geral, parece-nos que os resultados obtidos com a pesquisa

foram prósperos para o tema central, porém, sem que ele fosse esgotado em sua

totalidade. Entendemos que esse trabalho pode vir a servir de base para outros

enfoques, expandindo-se, assim, o entendimento do universo nas empresas

familiares.

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Os resultados obtidos com a presente pesquisa demonstram que o conflito de

gerações é uma característica que pode ser generalizada em quaisquer empresas ou

organizações familiares semelhantes às estudadas. Nosso estudo sobre a cultura

como determinante do processo de comunicação na empresa familiar buscou

entender como a relação familiar influencia os processos de comunicação e quais as

barreiras impostas ao planejamento comunicacional. Guiamos nossa pesquisa com o

intuito de analisar e compreender essa relação cultura/comunicação.

Pensamos que o ponto de partida para futuros estudos acerca do tema esteja,

inicialmente, na resolução dos conflitos presentes no núcleo central da família e na

busca por sincronia de pensamentos entre as gerações distintas. Podemos considerar

o conflito de gerações como uma característica presente em todas as empresas

familiares, sendo necessário que ele seja trabalhado e minimizado muito antes do

processo de sucessão, de forma permanente e ininterrupta. A partir disso, pode-se

partir para o planejamento das ações e estratégias que venham a aprimorar e

organizar os processos de comunicação da empresa familiar.

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APÊNDICE A – PROJETO DE PESQUISA

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

CLÁUDIA CARLA MUNIZ

DE PAI PARA FILHO: A COMUNICAÇÃO PERCEBIDA PELA EMPRESA

FAMILIAR DE PEQUENO E MÉDIO PORTE

Caxias do Sul

2013

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131

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

CENTRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

HABILITAÇÃO EM RELAÇÕES PÚBLICAS

CLÁUDIA CARLA MUNIZ

DE PAI PARA FILHO: A COMUNICAÇÃO PERCEBIDA PELA EMPRESA

FAMILIAR DE PEQUENO E MÉDIO PORTE

Projeto de Trabalho de Conclusão de

Curso apresentado como requisito para

aprovação na disciplina de Monografia I.

Orientadora: Prof.ª. Me. Shirley Ortiz da

Silva

Caxias do Sul

2013

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SUMÁRIO

1 TEMA........................................................................................................................ 4

2.1 Delimitação do tema....................................................................................... 4

2 JUSTIFICATIVA........................................................................................................5

3 QUESTÃO NORTEADORA...................................................................................... 7

4 HIPÓTESES ............................................................................................................. 8

5 OBJETIVOS ............................................................................................................. 9

5.1 Objetivo geral ................................................................................................. 9

5.2 Objetivos específicos .................................................................................... 9

6 METODOLOGIA..................................................................................................... 10

7 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................... 12

8 ROTEIRO DOS CAPÍTULOS.................................................................................. 18

9 CRONOGRAMA..................................................................................................... 19

10 ROTEIRO DE PERGUNTAS .................................................................................21

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................... 22

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1 TEMA: Cultura Organizacional e Comunicação

A cultura, como parte do universo simbólico das organizações, varia conforme

a sociedade em que a empresa está inserida e suas variáveis influenciam nas relações

entre todos os ambientes da empresa. A comunicação necessita estar a par das

características específicas de cada cultura organizacional, a fim de encontrar-se

dentro do perfil proposto e desempenhar sua função conforme a demanda.

Tanto cultura quanto comunicação devem estar em sintonia dentro de uma

organização, para que os fluxos de informação e relacionamento funcionem

efetivamente, de acordo com os valores da empresa. Entender a importância desta

relação é primordial para o bom aproveitamento da comunicação como uma

ferramenta efetiva, em qualquer que seja a cultura organizacional empregada.

1.1 Delimitação do tema

A cultura organizacional de empresas familiares de pequeno e médio porte de

Caxias do Sul e região e a percepção de seus gestores sobre a comunicação.

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2 JUSTIFICATIVA

As empresas de origem familiar, que passam de geração em geração, têm a

tradição de manter os processos que lhe foram ensinados e tendem a resistir a novos

métodos e novas ferramentas de gestão. Trata-se de um processo visto como natural,

já que o modo como a empresa era administrada fez surtir bons resultados no

passado. No entanto, entende-se que a sociedade passa por transformações, tanto

em questões ideológicas, processuais e tecnológicas, fazendo com que as

organizações precisem estar a par destas mudanças. O mercado também é

modificado por estes fatores externos, assim como o pensamento dos públicos de

interesse das organizações.

Com este pressuposto, a empresa familiar deve repensar sua forma de manter

os negócios, buscando acompanhar as mudanças na sociedade na qual está inserida.

Faz-se necessário compreender estas transformações e entender as consequências

de manter a gestão conforme o que foi ensinado por seus antepassados.

A preocupação com a comunicação é um dos pontos que vieram com as

transformações sociais do século XXI e que agora merece destaque no planejamento

estratégico e nas decisões que envolvam a organização como um todo. Até então, a

comunicação não era vista como uma ciência e com fundamentação teórica, fazendo

com que as empresas a ignorassem como uma ferramenta de facilitação dos

relacionamentos.

Mesmo com as mudanças tecnológicas e rupturas de antigos paradigmas,

empresas de origem familiar de pequeno e médio porte ainda resistem em investir na

comunicação de forma pensada e estruturada dentro da organização. A implantação

de uma gestão de comunicação integrada requer que diversos fatores estejam em

sintonia para que os resultados advindos deste processo gerem benefícios concretos

para a empresa. Estes fatores vão desde a capacitação de um profissional

especializado e sua equipe, até o alinhamento entre as ações de comunicação e os

objetivos estratégicos da empresa.

Partindo do pressuposto que nas empresas familiares de pequeno e médio

porte ainda há pouco investimento em comunicação, faz-se necessário entender os

motivos que contribuem para essa realidade. Para tanto, é importante compreender a

percepção dos gestores dessas empresas sobre a comunicação. Esse entendimento

pode permitir que as barreiras que a comunicação enfrenta em algumas empresas

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sejam superadas, e, ao mesmo tempo, pode elucidar fatores que fortalecem a

comunicação em outras empresas.

Assim como a tradição de pai para filho sofre com a falta de adequação aos

novos modelos de mercado e sociedade, a comunicação também sofre com a falta de

reconhecimento do seu papel na melhoria que pode gerar nos processos e nos

resultados da empresa. Para que empresas familiares entendam a importância da

comunicação na organização, é preciso estudar as reais causas deste

desconhecimento e o porquê da falta de investimentos por parte da gestão familiar.

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3 QUESTÃO NORTEADORA

Como a comunicação é percebida pelos gestores de empresas familiares de

pequeno e médio porte?

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4 HIPÓTESES

A sucessão familiar propicia uma maior dificuldade na mudança do pensamento

estratégico da empresa, principalmente quanto às modificações sociais e

tecnológicas;

Existe pouco conhecimento sobre o uso das ferramentas de comunicação

organizacional por parte dos gestores de empresas familiares;

Devido à dificuldade de mensuração dos resultados obtidos, as empresas

familiares resistem ao investimento em ferramentas estratégicas de comunicação.

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5 OBJETIVOS

5.1 Objetivo geral

Analisar a percepção dos gestores de empresas familiares de pequeno e médio

porte sobre a comunicação organizacional.

5.2 Objetivos específicos

Avaliar a cultura organizacional das empresas familiares e perceber suas

particularidades em relação a outras formas de cultura organizacional;

Perceber o nível de conhecimento dos gestores quanto à função e às

ferramentas da comunicação nas organizações;

Conhecer as ferramentas de comunicação já utilizadas pelas organizações

familiares, bem como quais ainda não são utilizadas;

Entender as demandas das empresas familiares no que tange à comunicação.

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6 METODOLOGIA

No presente trabalho, será apresentada uma pesquisa qualitativa, baseada

em uma lógica de investigação indutiva. A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural

como sua fonte direta e os dados coletados são predominantemente descritivos.

Conforme Denker & Viá (2001, p.186), “esse tipo de pesquisa supõe o contato direto

e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo

investigada, graças a um intenso trabalho de campo”.

Já o caráter indutivo da pesquisa caracteriza-se pela conclusão estar nas

premissas como o todo está para as partes, assim, de verdades particulares conclui-

se verdades gerais (CERVO, 2007). Segundo o autor, “o argumento indutivo baseia-

se na generalização de propriedades comuns a certo número de casos até agora

observados e a todas as ocorrências de fatos similares que poderão ser verificadas

no futuro” (CERVO, 2007, p.44).

A pesquisa em questão, pois, será guiada por meio de uma investigação

qualitativa e indutiva, por tratar-se de um tema referente ao contexto organizacional e

que envolve uma cultura específica. O objeto de estudo encaixa-se nos quesitos que

pedem por uma pesquisa aprofundada e que envolva o pesquisador em um trabalho

de campo. A indução se faz presente à medida em que, através da investigação de

quatro ou cinco empresas familiares quanto à sua percepção sobre a comunicação,

buscar-se-á uma conclusão em comum aos casos estudados.

Segundo o objetivo geral da pesquisa, a metodologia empregada será a

pesquisa exploratória, devido ao caráter de observação do objeto de estudo,

percepção dos fatores que caracterizam tal fenômeno e planejamento flexível, pois

interessa considerar os mais variados aspectos relativos ao fato estudado (GIL, 2010).

A pesquisa exploratória tem por objetivo familiarizar-se com o fenômeno ou obter uma

nova percepção dele e descobrir novas ideias. Com ela, é possível realizar descrições

precisas da situação e descobrir as relações existentes entre seus elementos

componentes (CERVO, 2007, p.63).

Segundo o objetivo proposto, a pesquisa será considerada como um

diagnóstico, pois servirá de parâmetro para o entendimento da percepção do

problema proposto. Quanto ao procedimento utilizado, serão empregadas entrevistas

em profundidade e revisão bibliográfica do tema. A entrevista em profundidade

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caracteriza-se como um recurso metodológico que busca recolher respostas a partir

da experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações específicas

que se deseja conhecer (DUARTE, 2005). Por meio desta técnica, é possível

“identificar as diferentes maneiras de perceber e descrever fenômenos” (DUARTE,

2005, p. 63).

A revisão bibliográfica servirá de base para a investigação em campo, onde o

conhecimento já publicado sobre o tema será confrontado com a percepção dos

entrevistados. Questões como a cultura organizacional, a cultura de empresa familiar

e a comunicação organizacional serão estudados teoricamente por meio do material

bibliográfico existente e servirão de embasamento tanto para a formulação das

perguntas, quanto para a análise dos dados obtidos por meio das entrevistas em

profundidade.

As entrevistas em profundidade serão realizadas em empresas de pequeno e

médio porte na cidade de Caxias do Sul, através do contato prévio com gestores

destas empresas. Procurar-se-á uma média de quatro a cinco empresas, de diferentes

setores, porém com a gestão familiar em comum, para que seja feita a comparação

dos dados e dos fatores empregados em cada uma.

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7 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

CULTURA

Entende-se por cultura o conjunto de fatores que determina o comportamento

do indivíduo que vive em sociedade. Kroeber (apud LARAIA, 2004, p. 48) determina

que “a cultura, mais do que a herança genética, determina o comportamento do

homem e justifica as suas realizações”. De acordo com o precursor da definição do

termo, Edward Tylor, cultura é todo o comportamento aprendido, que não depende da

relação genética do indivíduo, ou seja, a cultura é impregnada nas vivências do

indivíduo conforme o ambiente em que ele vive e compartilha hábitos, crenças, valores

e experiências (LARAIA, 2004).

O Dicionário Online Michaelis define, sociologicamente, cultura como “sistema

de ideias, conhecimentos, técnicas e artefatos, de padrões de comportamento e

atitudes que caracteriza uma determinada sociedade”. Antropologicamente, a mesma

publicação define o termo como “estado ou estágio do desenvolvimento cultural de

um povo ou período, caracterizado pelo conjunto das obras, instalações e objetos

criados pelo homem desse povo ou período; conteúdo social”.

A partir desses contextos, pode-se traçar um entendimento de como a cultura

influencia as ações do indivíduo e determina o seu comportamento social. Torna-se

indispensável estudar a cultura como um todo, desde sua base na natureza humana

até os conceitos da cultura aplicada às organizações, para que se perceba o contexto

a qual as empresas familiares estão inseridas e o que as diferenciam de outras

organizações.

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CONCEITO ANTROPOLÓGICO

Antes de partir para o entendimento do conceito de cultura organizacional e

sua influência no comportamento das organizações, será desenvolvido uma

explanação sobre o conceito antropológico do termo, de acordo com as considerações

de Laraia (2004). O autor explica o termo cultura a partir de uma visão antropológica,

ou seja, centrada na natureza do ser humano, buscando compreender quais fatores

contribuem para a diversidade cultural da espécie humana.

Primeiramente, o autor deixa claro a inexistência de uma relação entre a

genética e a formação da cultura do indivíduo, ou seja, o ser humano adquire sua

cultura, não nasce com ela. Com essa consideração, já é possível perceber a

amplitude de diferenças que englobam a formação da cultura de uma pessoa, desde

seu nascimento, criação, desenvolvimento e relacionamento com outras pessoas.

Diversos são os fatores que contribuirão para moldar a cultura do indivíduo. Este

processo é chamado por Laraia de “endoculturação” e representa a capacidade do

ser humano de adquirir conhecimento e então aprimorar seu comportamento

conforme o que foi aprendido (LARAIA, 2004, p. 20).

O autor define o homem como um ser predominantemente cultural, pois “a

sua herança genética nada ter a ver com as suas ações e pensamentos, pois todos

os seus atos dependem inteiramente de um processo de aprendizado” (Laraia, 2004,

p. 38). O próprio homem é considerado pelo autor como resultado de um processo

cultural, quando diz que “ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que

reflete o conhecimento e a experiência adquiridos pelas numerosas gerações que o

antecederam” (LARAIA, 2004, p. 45).

Outro aspecto considerado pelo autor sobre a influência da cultura sobre a

formação do comportamento, está na ideia de que a cultura condiciona a visão do

homem sobre o mundo, isto é, cada um enxerga determinada situação com uma lente

diferente, essa lente é a cultura que o indivíduo possui (LARAIA, 2004).

Finalmente, Laraia encara a cultura como um processo dinâmico e que está

em permanente mudança, pois ela sofre mudanças e evoluções, principalmente

devido ao poder do homem de questionar e racionalizar suas atitudes. O autor enfatiza

que existem dois tipos de mudança cultural: uma interna, que é resultante da dinâmica

do próprio sistema cultural, e outra que é resultado do contato de um sistema cultural

com outro (LARAIA, 2004).

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Este ponto de vista antropológico tem valor à medida em que se faz

necessário entender como a cultura particular do indivíduo se forma e quais serão os

impactos sobre ela quando confrontada com a cultura organizacional. Por isso, parte-

se para a explanação do conceito da cultura que se forma dentro das organizações e

dá forma às ideologias do negócio.

CULTURA ORGANIZACIONAL

A partir das considerações de Laraia (2004), o conceito de cultura pode ser

melhor entendido quando alocado no ambiente organizacional. Apesar da mudança

de enfoque, ainda assim o termo é compreendido como um aprendizado e um molde

ao comportamento, desta vez dentro da organização e compartilhando de suas

particularidades.

Robbins (2005, p. 375) considera cultura organizacional “um sistema de

valores compartilhado pelos membros que diferencia uma organização das demais”.

Para ele, a cultura tem origem quando a empresa passa pelo processo de

institucionalização, que é quando ela assume vida própria e passa a ter um valor de

si mesma, independentemente dos bens e serviços que produz, adquirindo

imortalidade. Com a institucionalização, os modos aceitáveis de comportamento se

tornam amplamente evidenciados para os membros da organização (ROBBINS,

2005).

Soma-se a isso o conceito de Freitas (1999) quanto à cultura organizacional,

quando descreve duas definições para o termo:

Entendo a cultura organizacional primeiro como instrumento de poder; segundo, como conjunto de representações imaginárias sociais que se constroem e reconstroem nas relações cotidianas dentro da organização e que se expressam em termos de valores, normas, significados e interpretações, visando um sentido de direção e unidade, tornando a organização fonte de identidade e de reconhecimento para seus membros. (FREITAS, 1999, p. 97)

Para a autora, é através da cultura organizacional que é possível definir e

transmitir a maneira apropriada de pensar e agir e quais os comportamentos vistos

como aceitáveis. Ela também salienta que, por meio da cultura, a empresa define suas

virtudes, projetos e missões a realizar (FREITAS, 1999).

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Marchiori (2008) contribui para a definição do termo, quando explica que, para

ela, “cultura organizacional é o reflexo da essência de uma organização, ou seja, sua

personalidade” (p. 94). A autora define que a cultura, por ser experimentada

conjuntamente por seus membros, afeta a realidade organizacional e a forma com que

os grupos se comportam e validam as relações. Ela ressalta que é preciso que haja

“construção de significado/comunicação para que haja culturas em uma organização”

(MARCHIORI, 2008, p. 94).

Em sua obra “Cultura e Comunicação Organizacional” (2008), Marchiori

considera dois conceitos de cultura organizacional, a partir das ideias de Schein

(1997) e Martin (1992). Ambos autores buscam respostas para o entendimento da

cultura organizacional, porém Martin está mais ligada a questões de mudança cultural,

contribuindo para a visão global da cultura em organizações, enquanto Schein

trabalha na identificação e no detalhamento de como desvendar a cultura

organizacional (MARCHIORI, 2008).

Na visão de Edgar Schein (apud MARCHIORI, 2008, p. 106), “a cultura é o

resultado de um processo complexo de aprendizado grupal, o qual é parcialmente

influenciado pelo comportamento do líder”, ou seja, o papel do fundador da empresa

ou do líder vigente é crucial para o desenvolvimento e a adequação da cultura. O autor

acredita que cultura e liderança são conceitos relacionados quando explica que foram

os primeiros líderes que desenvolveram formas próprias de solucionar os problemas

de estrutura, deixando impressas suas concepções de mundo aos demais.

Já para Martin (apud MARCHIORI, 2008) a definição de cultura passa pela

particularidade de cada grupo organizacional, que possuem diferentes percepções.

Segundo ela:

As manifestações da cultura são explicadas e identificadas apenas pelos membros da própria organização que, ao interpretarem os significados, apresentam diferentes percepções, crenças, experiências e valores, mesmo sob a luz de um fenômeno idêntico. Os padrões ou configurações dessas interpretações e os caminhos pelos quais são representados constituem cultura. (MARTIN apud MARCHIORI, 2008, p.114)

A autora salienta a ideia de Martin ao englobar construção, conhecimento,

desenvolvimento, experiência, narrativa e história, como conteúdos importantes para

a formação da cultura de uma organização. Além disso, Marchiori (2008) enfatiza que

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é preciso considerar a comunicação e a interação social que dão suporte a estes

aspectos.

De uma forma geral, ela busca demonstrar “a dependência e o relacionamento

entre cultura e Comunicação Organizacional” (MARCHIORI, 2008, p. 137), ou seja, a

partir da visão ampliada destes dois aspectos, mostrar como cada um deles acontece

influenciado pelo outro, levando em consideração a diversidade cultural que abrange

cada indivíduo que faz parte da organização.

Beppler e Pereira (2013) baseiam-se nas ideias de Schein, Fleury e Fischer

quando dizem que

a cultura organizacional pode ser definida como um conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionaram bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir em relação a esses problemas. (BEPPLER e PEREIRA, 2013, p. 59)

Segundo os autores, compartilhamento de um sistema de valores, normas e

ideais, rituais e crenças são termos que também ajudam a clarear a definição de

cultura organizacional, pois são importantes para moldar o ambiente juntamente com

a figura do líder (DEMUNER; SCHEIN apud BEPPLER e PEREIRA, 2013).

Neste ponto, é importante salientar a figura do líder ou fundador da empresa

como principal meio de concretização da cultura. No caso de empresas familiares, o

papel do fundador encontra-se ainda mais arraigado na cultura, pois ela é nada mais

do que reflexo das crenças, valores e ideologias da família.

Mais do que um posicionamento da empresa, a cultura mostra-se um fator

que influencia os relacionamentos internos e externos, delimita níveis de poder e ainda

define as premissas básicas com relação às crenças, valores e comportamentos

aceitáveis dentro da organização. É a cultura da empresa que determinará quem

serão os indivíduos aceitos no âmbito social da organização, sejam eles, funcionários,

fornecedores, clientes ou, até mesmo, concorrentes.

A comunicação processada pela organização tem papel fundamental para

desenvolver a cultura e fazer a empresa ser vista e lembrada como tal. Fatores como

imagem, identidade e reputação também são permeados pela cultura e acabam por

refletir o comportamento padrão. Ao avaliar a cultura de uma organização, deve-se

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levar em conta que tipo de comunicação está sendo desenvolvida por ela e que

impactos a cultura pode exercer nesse processo.

Para uma visão abrangente da relação entre cultura e comunicação, faz-se

necessário, também, proceder com o embasamento teórico de comunicação, a fim de

entender claramente sua função, definição e aplicação no planejamento de uma

organização familiar.

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8 ROTEIRO DOS CAPÍTULOS

1 INTRODUÇÃO

2 CULTURA

2.1 Conceito antropológico

2.2 Cultura organizacional

3 COMUNICAÇÃO

3.1 Conceito teórico

3.2 Comunicação organizacional

3.3 Percepção

4 EMPRESA FAMILIAR

4.1 Características e particularidades

4.2 Gestão familiar

4.3 Cultura organizacional da empresa familiar

5 PESQUISA DE CAMPO

5.1 Metodologia

5.2 Universo Pesquisado

6 ANÁLISE

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANEXOS

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9 CRONOGRAMA

Considerando a conclusão da presente pesquisa para o final do primeiro

semestre de 2014, foi traçado um cronograma contendo todas as etapas a serem

cumpridas para a finalização dos objetivos propostos. Com essa organização do

tempo, pretende-se aprimorar o desenvolvimento da pesquisa e otimizar o tempo

utilizado em cada fase do trabalho.

O detalhamento das atividades e o tempo determinado para cada uma delas

estão discriminados no quadro abaixo.

ETAPAS

Mês Fevereiro

1ª quinzena

Março

2ª quinzena

Março

1ª quinzena

Abril

2ª quinzena

Abril

1ª quinzena

Maio

2ª quinzena

Maio

1ª quinzena

Junho

2ª quinzena

Junho

Levantamento de dados e embasamento teórico

X X X

Contato prévio com as fontes de entrevista

X X

Agendamento e realização das entrevistas

X X X

Transcrição e análise dos resultados

X X

Comparação e conclusão dos resultados

X X

Considerações finais e revisão

X

Entrega da monografia

X

Tomando como base o tempo disponível, a cronologia foi separada em

quinzenas, para melhor aproveitamento de cada etapa da pesquisa. O mês de

fevereiro e março está destinado ao levantamento de dados e embasamento teórico

dos focos de pesquisa bibliográfica. Ainda durante o mês de março, será feito contato

prévio com as empresas familiares alvos da pesquisa, para verificar a disponibilidade

para a entrevista.

A partir da segunda quinzena de março, juntamente com o mês de abril, dar-

se-á início ao agendamento e realização das entrevistas em profundidade. O tempo

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estendido dá-se pela provável instabilidade de agendamentos com os gestores das

empresas, visando os imprevistos de tempo e local.

Durante o mês de maio, considerando que todas as entrevistas foram

devidamente executadas, será dado início à transcrição e análise dos resultados

obtidos com a pesquisa de campo. Já a partir da segunda quinzena de maio, pretende-

se iniciar as comparações e conclusões da pesquisa conforme os objetivos e

hipóteses traçados. Esta fase pode estender-se até a primeira quinzena de junho,

onde serão feitas as considerações finais e revisão do trabalho. A entrega final da

monografia será realizada no final do mês de junho.

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10 ROTEIRO DE PERGUNTAS

Para a realização da pesquisa de campo, serão realizadas entrevistas em

profundidade, com os gestores das empresas familiares de pequeno ou médio porte,

contatados antecipadamente para tal finalidade. O roteiro de perguntas para a coleta

de informações consiste em tais questionamentos:

Para você, o que é comunicação?

Na sua opinião, qual é o papel da comunicação na empresa?

Quais as ferramentas de comunicação utilizadas pela empresa, tanto interna

quanto externamente?

Como você avalia os resultados que o uso dessas ferramentas de

comunicação gera para a empresa atualmente?

Qual a sua percepção sobre outras ferramentas de comunicação que

poderiam ser implantadas na empresa?

Como você avalia o investimento em comunicação?

Na sua percepção, quais são os principais benefícios que uma comunicação

eficaz pode gerar para a empresa?

As perguntas elaboradas para o roteiro de entrevistas buscarão coletar

informações sobre a percepção dos gestores quanto à comunicação, tanto a que já é

utilizada na empresa, quanto a que ainda enfrenta resistência. Buscar-se-á, por meio

do aprofundamento das questões, os motivos para tal resistência, seja por

desconhecimento ou falta de investimento.

É importante salientar que as perguntas enfocam somente a questão da

percepção sobre a comunicação, considerando que a cultura organizacional de

empresa familiar é intrínseca ao seu gestor, ou seja, estará subjetivamente ligada às

suas respostas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DENCKER, Ada de Freitas Maneti; VIÁ, Sarah Chucid da. Pesquisa empírica em ciências humanas: com ênfase em comunicação. 2.ed. São Paulo: Futura, 2002.

DUARTE, Jorge. Entrevista em profundidade. In: Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação / Jorge Duarte, Antônio Barros org. São Paulo: Atlas, 2005.

FREITAS, Maria Ester de. Cultura Organizacional: identidade, sedução e carisma? Rio de Janeiro: Editora FGV, 1999.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2010.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 17. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

MARCHIORI, Marlene. Cultura e Comunicação Organizacional: um olhar estratégico sobre a organização. 2. ed. São Caetano, SP: Difusão Editora, 2008.

MICHAELIS, Dicionário Online. Site da web. Acesso em 15/11/2013. Disponível em http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=cultura

ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. 11. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.