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De ouro & AZuLejoS
Palácios reais de Portugal
Swan éditeur
José Alberto ribeiro / MAriA inês dA FrAncA sousA Ferro / MAriA de Jesus Monge
Mário PereirA / isAbel YglesiAs de oliveirA / António nunes PereirA
FotógrAFiA de MArc WAlter
Introdução Por José Alberto ribeiro
PALÁCIo NACIoNAL De SINTrAPor MAriA inês dA FrAncA sousA Ferro
PAÇo DuCAL De VILA VIÇoSA Por MAriA de Jesus Monge
PALÁCIo NACIoNAL De MAFrA Por Mário PereirA
e isAbel YglesiAs de oliveirA
PALÁCIo NACIoNAL De QueLuZ Por MAriA ines dA FrAncA sousA Ferro
PALÁCIo NACIoNAL DA PeNA Por António nunes PereirA
PALÁCIo NACIoNAL DA AjuDA Por José Alberto ribeiro
ourS
Sumario
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80
142
210
278
340
I N T r o D u Ção
13
stes palácios enobrecem um certo brilho na
paisagem portuguesa. Na sua edificação, além das influências dos fatores históricos, há os que
dependem da época em que os palácios foram construídos, da própria formação ou personali-
dade dos edificadores e do gosto dos artistas que intervieram na obra. Mas revela-se também a
influência propriamente local, quanto a condições em que ali se trabalhava e conforme a quali-
dade e aspetos dos materiais que o sítio ou a região oferecia.
Na sua maioria localizados na região de Lisboa, perto da capital, para onde a corte se deslo-
cava, à exceção do Paço de Vila Viçosa, que pertencia aos duques de Bragança, aclamados reis de
Portugal em 1640.
o Palácio Nacional de Sintra é dos palácios mais importantes de Portugal e um dos sítios favo-
ritos da mais antiga monarquia portuguesa. Mantem, até aos dias de hoje, uma estrutura com a
arquitetura medieval praticamente ainda intacta. o ar misterioso é dado pelo hibridismo do
complexo arquitectónico, com uma sugestão arabizante da parte mais antiga da edificação, do
reinado de D. joão I (1357-1433); e os corpos tardo góticos do tempo de D. Manuel I (1469-1521),
duas partes que abrangem não só o que há de mais importante e interessante do monumento
como das épocas mais brilhantes da nossa história. De insólita arquitetura, este Paço serviu de
residência real durante mais de 600 anos seguidos e as matas que cobriam a serra eram coutadas
onde os reis iam caçar veados, javalis, perdizes, coelhos… o poeta e dramaturgo Gil Vicente
referia-se à serra de Sintra como verdadeiro «jardim do Paraíso terreal», pelo que a localização do
palácio junto à serra de Sintra transmite-lhe uma aura poética.
É uma das moradas senhoriais mais célebres da europa medieval. Ali encontramos testemu-
nhos do palácio de meados do século XIV – com importantes obras impulsionadas pelo rei
D. joão I – e os sucessivos acrescentos que foi sendo objeto no século XV, já nos reinados de
D. Duarte e de D. Alfonso V. No entanto, é sobretudo no reinado de D. Manuel I que o palácio
recebeu várias melhorias e a configuração atual, que procedeu a grandes reformas de engrandeci-
mento. D. Manuel deu também particular atenção à arte mudéjar. e são as tonalidades mudejares
que fazem do Palácio de Sintra um edifício particular, contando inúmeras sugestões de arquite-
tura árabe na disposição dos espaços, na organização de interiores, na distribuição de espelhos de
água, fontes e repuxos e no seu recobrimento por grandes painéis de azulejos de caracter geomé-
trico. Com D. joão I, primeiro rei da dinastia de Aviz, a sua atenção a este palácio corresponde à
importância que, um pouco por toda a europa, a habitação dos reis e da nobreza estava a adquirir
Página 1
Palácio Nacional de Queluz.
Canal de Azulejos. Painel
interior da zona central,
1755.
Páginas 2-3
Palácio Nacional de Queluz.
Corredor dos Azulejos. Cena
de jardim (detalhe). Francisco
Jorge da Costa, 1784.
Página 4
Palácio Nacional da Ajuda.
Jardim de Inverno, Floreira
(pormenor).
Página 5
Palácio Nacional de Queluz.
Sala das Açafatas. Detalhe da
pintura mural.
Páginas 6-7
Paço Ducal de Vila Viçosa.
Sala de Medusa.
Pormenor do friso de azulejos
castelhanos de Talavera
de la Reina.
Página 8
Palácio Nacional de Sintra.
Gruta dos Banhos. Painel
de azulejos rococó com cena
de jardim (detalhe),
2ª metade do século XVIII.
Páginas 10-11
Palácio Nacional da Pena.
Vista do Pátio dos Arcos
para o Oceano Atlântico ao
pôr-do-sol
Página duPla anterior
Palácio Nacional de Sintra.
Vista parcial das fachadas
a sul, com as duas chaminés
monumentais.
e Palácios reais de Portugal
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como imagem do seu poder político e elevação social. Com
D. Manuel I, rei da época da grande expansão dos Descobrimentos,
entre 1497 e 1510, reformaram-se quase todos os vãos (portas e
janelas) – com um aparato e esplendor artístico do tardo gótico,
revestindo as paredes com composições azulejares.
Ainda no século XVI o cronista régio e humanista Damião de
Góis (Crónica do Felicíssimo rei D. Manuel) revela as preferên-
cias do rei pelo Paço de Sintra – «hu dos lugares da europa mais
frescos e alegre, para qualquer rei, Príncipe, e senhor poder nelle
passar o tal tempo»….«o grandioso e magnífico palácio dos reis
de Portugal, que se chama Sintra, tomando o nome da serra».
A mesma serra continuaria a atrair os reis de Portugal e no
século XIX recebeu uma das mais altas expressões arquitectónicas
do romantismo. em 1834, com a extinção das ordens religiosas, o
arruinado convento ficou deserto e, em 1838, foi comprado por
D. Fernando II (1816-1885), rei consorte da rainha de Portugal
D. Maria II (1819-1853). Ficou decidido que o rei teria que o
manter e restaurar, mantendo a traça quinhentista. D. Fernando
de Saxe Coburgo Gotha era um homem atualizado, com uma
cultura e sensibilidade europeia do seu tempo – um romântico. o
seu primeiro projeto foi restaurar o velho convento para moradia
de verão. Do seu bolso já tinha pago restauros no Mosteiro da Batalha, Palácio-Convento de Mafra,
Mosteiro dos jerónimos, Torre de Belém e Convento de Cristo, em Tomar. o arquiteto alemão
barão eschwege (1777-1855) propôs uma adaptação em estilo neogótico mas o rei reprovou o
projeto. o monarca quis um palácio profundamente português e bem integrado no ambiente -
também com revivalismos do Magrebe, Andaluzia e historicismos de monumentos portugueses.
A implantação paisagística no alto da serra deram-lhe a geografia perfeita e, como todas as
obras orgânicas, o tempo climatológico é importantíssimo para a sua perceção. o Palácio da Pena
coroa arquitetonicamente o aspeto mágico da montanha. Quando o músico músico richard
Strauss visitou o local caracterizou a Pena de mágica: «este é o verdadeiro jardim de Klingsor ... e
lá no alto está o castelo do Santo Graal». o Palácio da Pena é um dos mais emblemáticos monu-
mentos portugueses. Pioneiro europeu das formas arquitectónicas que a sensibilidade romântica
desenvolveu – repositório de épocas e de gostos – combinadas e recompostas pela vontade de um
homem a quem o património português muito deve – D. Fernando II, o rei artista.
A poucos quilómetros de Lisboa e a meio caminho entre a capital e Sintra situa-se o Palácio
Nacional de Queluz, magnífica construção do século XVIII, reflexo de uma sociedade aristocrá-
tica e refinada de uma segunda corte vivendo paralelamente à corte das Luzes que se estava cons-
á esquerda
Palácio Nacional da Pena.
Túnel do Tritão.
Página da direita
Palácio Nacional da Pena.
Arcadas do século XIX
e Caminho da Ronda.
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truindo na Lisboa pombalina. o Palácio de Queluz deve-se à iniciativa de D. Pedro III (1717-1786)
a quem a quinta de Queluz pertencia, na sua qualidade de terceiro senhor da Casa do Infantado,
criada em 1654 por alvará do rei D. joão IV (1604-1656) em favor dos filhos segundos dos reis de
Portugal. A propriedade é incorporada em 1654 no estado do Infantado, instituído por D. joão IV
e dado ao seu filho, o Infante D. Pedro. Somente com o Infante D. Pedro, filho de D. joão V e de
Maria Ana de Áustria é que se iniciam grandes obras. A primeira fase de construção é de 1747 e
foi encarregado do projeto de alterações e acrescentos o arquiteto Mateus Vicente de oliveira
(1706-1785), então ajudante do arquiteto joão Frederico Ludovice (1673-1752) e colaborador do
arquiteto da Casa do Infantado, Manuel da Costa Negreiros (1701-1750). É em especial na segunda
fase de construção, entre 1758 e 1786, que o palácio se define tal como o temos hoje. D. Pedro
decidiu entregar o projeto a um arquiteto francês, jean Baptiste robillion, arquiteto, gravador e
escultor que trabalhava em Paris com Thomas Germain. o palácio passou a apresentar um aspeto
proveniente do gosto estético das várias fases de construção. De realçar a importante ligação aos
jardins de desenho geométrico, para onde todos os salões comunicavam diretamente.
Se até ao ano do terramoto de Lisboa, em 1755, se tratava da Casa de Campo de Queluz, a
partir de então passa a palácio de veraneio da corte, distraindo-se com fogos de artifício, touradas,
serenatas ao ar livre, concertos e representações de ópera por companhias italianas. o incêndio
do Palácio da Ajuda, em Lisboa, em 1794, fez de Queluz a residência oficial da família real até à
sua ida para o Brasil, aquando da primeira invasão das tropas napoleónicas, em 1807. Na rota dos
palácios reais portugueses Queluz ocupa um lugar especial. Antiga quinta de recreio às portas de
Lisboa, afastada da gravidade da vida da corte, aqui desapareceram os esplendores de um quoti-
diano galante e descontraído, entre o terramoto de Lisboa de 1755 e a fuga da família real para o
Brasil, em 1807.
o cenário é o de uma magnífica residência onde trabalharam os mais destacados artíficies da
época, numa bem estruturada linguagem «rocaille», entre fontes e jardins, entre aprimorados
ornatos de talha dourada, num digno contexto de excelentes coleções de mobiliário, pintura,
porcelana e ourivesaria setecentistas. Para engrandecimento de Queluz como palácio real foi
determinante o casamento de D. Pedro com a sobrinha e herdeira do trono, princesa D. Maria (I)
(1734-1816), que lhe trará o título de rei D. Pedro III. Até ao final do século XVIII Queluz viria
a sofrer ampliações e transformações sucessivas, conforme as necessidades da própria família
real. Todavia, manteria sempre o seu caracter de casa de veraneio, longe da rotina e protocolo
da corte, desde sempre prevalecendo uma íntima relação com os jardins, para onde estão viradas
as principais fachadas. Diferente do estilo pombalino de Lisboa, Queluz representa a leveza e
sofisticação do gosto aristocrático.
o Palácio e Convento de Mafra são a construção portuguesa mais monumental, erguidos nos
alvores do XVIII, de grande qualidade no desenho e construção arquitectónica.
em 1711, o rei D. joão V (1689-1750) casado há três anos com D. Maria Ana de Áustria (1683-
1754) não possuía descendência e fez a promessa de erigir em Mafra um convento franciscano se
Página da esquerda
Palácio Nacional de Queluz.
Jardim Pênsil. Vertumno
e Pomona, escultura em
chumbo de John Cheere,
1755.
Página duPla seguinte
Palácio Nacional de Mafra.
Fachada principal, escadaria
de acesso à Basílica.
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Deus lhe desse sucessão, fazendo o voto de construir um convento para a ordem de São Francisco.
A 17 de Novembro de 1717 realizou-se o lançamento da 1ª pedra.
o projeto inicial de um convento para 13 frades foi sucessivamente alargado para 40, 80 e
finalmente 300 frades, um Paço e uma Basílica – o ouro do Brasil permitiu ao monarca por em
pratica uma política mecenática e de afirmação do poder real. As sucessivas alterações ao projeto
primitivo, por determinação do rei, deram lugar a que mais tarde pudessem ser alojados no
convento 300 frades, tendo chegado a trabalhar na sua construção para cima de 50.000 operários.
Das pedreiras de Pêro Pinheiro, descobertas nesse período, vieram os mais belos mármores,
chegando a empregar-se mais de mil juntas de bois e centenas de cavalos de transporte de mate-
riais, sendo a maior parte de encomendas vindas do estrangeiro. A direção da obra foi entregue a
johan Friedrich Ludwig ou joão Frederico Ludovice, ourives de formação.
em 22 de outubro de 1730, com as mais imponentes cerimónias litúrgicas, fez-se o oitavário e
sagração da basílica de Mafra, embora incompleta arquitetonicamente. A roma, Veneza, Milão,
Génova, França ou Flandres, encomendaram-se com antecedência todos os objetos litúrgicos, os
ricos paramentos de delicada composição…um número surpreendente de sinos e os dois admirá-
veis carrilhões, tudo o que de melhor a encomenda real pagava. o rei encomendou toda a esta-
tuária e a pintura para a Basílica e Convento em Itália aos nomes mais conceituados, de onde, a
par com França, vieram também os paramentos e alfaias religiosas.
A construção foi dada por concluída em 1735.
já em 1770 dá-se a transferência dos Cónegos regrantes de
Santo Agostinho de Lisboa para Mafra. Durante a permanência
destes em Mafra foram encomendas ao arquiteto Manuel Caetano
de Sousa (1738-1802) as estantes rocaille da Biblioteca, uma das
mais exuberantes a nível do património mundial. A este impo-
nente conjunto palácio e convento está também associado ao fim
da monarquia, pois foi onde D. Manuel II (1889-1932), o último
rei, passou a derradeira noite em Portugal de partida para o exílio,
a 5 de outubro de 1910.
o palácio da família real, em Lisboa, ficou destruído com o
terramoto de 1755. Após o cataclismo foi entregue ao cenógrafo
italiano joão Carlos Bibiena a planta e o risco do novo paço em
madeira, na zona da Ajuda. A «real Barraca» era ricamente deco-
rada com tapeçarias, pinturas, jardins, capela, um museu e biblio-
teca – até que ardeu numa noite de inverno de 1794. Desse
conjunto setecentista perdura o lindíssimo jardim Botânico e a
Torre da Capela real que chegou a ser Patriarcal.
Tornava-se necessário erguer um palácio em Lisboa com
grande dignidade e a 1ª pedra desse edifício foi lançada a 9 de
Página da esquerda
Palácio Nacional de Mafra,
Sala da Benção, em pedra
lioz policroma da região.
A Família Real assistia às
celebrações religiosas a partir
das janelas abertas sobre
a Basílica.
á direita
Palácio Nacional de Mafra,
Galilé com as esculturas
de S. Sebastião, de Carlo
Monaldi, e S. Bruno,
Giuseppe Lironi, século XVIII.
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22I N T r o D u Ção
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Novembro de 1795, um palácio sonhado pelo príncipe regente, D. joão (VI) (1767-1826).
Começou por ser o projeto do arquiteto Manuel Caetano de Sousa mas o seu desenho seria criti-
cado por dois artistas de formação neoclássica, o italiano Francisco Xavier Fabri (1761-1817) e josé
da Costa e Silva (1747-1819). em 1802, um decreto do príncipe regente veio dar a obra aos ante-
riores citados arquitetos. josé da Costa e Silva projetou, sem se realizar, a grandiosa fachada com
uma escadaria monumental voltada para o mar para albergar não só os aposentos da Casa real
mas todas as Secretarias de estado e grande parte dos serviços públicos de então, naquele que
deveria ser um dos maiores palácios da europa.
o interesse por aquele que seria um dos edifícios mais grandiosos de Lisboa diminuiu com
as invasões francesas e a morte de Fabri, em 1807, a partida da família real e corte para o Brasil,
e mais tarde, em 1812 do arquiteto responsável da Ajuda, substituído por António Francisco
rosa. Quando o rei D. joão VI regressou do Brasil, em 1821, as obras estavam muito atrasadas, o
que obrigou o soberano a ter que se acolher na Bemposta ou em Queluz. Com a morte do rei,
em 1826, a Ajuda recebe a corte da regente Infanta Isabel Maria (1801-1876) e começam os
destinos trágicos do novo paço, sucessor do Paço da ribeira e da real Barraca. Passou também
a albergar D. Carlota joaquina (1775-1830) e o seu filho D. Miguel I (1802-1866), que ali jura a
carta e é aclamado rei, em 1828. As obras prosseguiam lentamente e ficaram pelo caminho
vários artistas.
No entanto, só com a aclamação de D. Luís I (1838-1889), em 1861, e depois do seu casamento
com a princesa Maria Pia de Sabóia (1847-1911) – parte do palácio seria renovado e reformado e
um novo palácio ressurgiria. A jovem rainha e artista seria a decoradora e responsável de todos os
arranjos dos novos aposentos reais: o palácio deserto e inóspito tornou-se num autêntico museu
pela raridade das espécies, acolhedor e confortável com requinte e graciosidade. o Palácio da
Ajuda foi decorado pela nova rainha como a sua casa onde criou os filhos, tendo escolhido do
melhor que se produzia em França, Inglaterra, Itália, Bélgica ou Alemanha. Desde 1862 e até à
proclamação da república, vários foram os artistas nacionais e estrangeiros que passaram pela
Ajuda, com joaquim Possidónio da Silva (1806-1896), o escultor e entalhador Leandro Braga
(1839-1897) ou os pintores e cenógrafos italianos G. Cinatti (1808-1879) e A. rambois (c.1810-
1880) que renovaram grande parte dos aposentos reais; Foram os pintores e retratistas Layraud
(pintou os retratos da família real em 1874 e 1876), Carolus Duran (em Portugal em 1880) que
nos deixaram primorosos retratos da rainha e dos filhos, assim como os pintores portugueses
e. F. Condeixa (1857-1933), josé rodrigues (1828-1887) e josé Malhoa (1855-1933).
No reinado de D. Luís e D. Maria Pia o Paço da Ajuda foi teatro de grandiosas receções,
concertos, bailes, festas, casamentos, batizados, visitas principescas e reais. Sem a ação da rainha
D. Maria Pia e a sua incontida ânsia de engrandecer o Palácio da Ajuda, não nos poderíamos orgu-
lhar de possuir um dos mais notáveis palácios da europa que continua a manter a ambiência de
vivência quotidiana dos monarcas portugueses.
Afastado da capital, na região do Alentejo, já próximo da fronteira com espanha situa-se o
Paço de Vila Viçosa. Destaca-se pela vastidão do complexo arquitectónico e conteúdo artístico,
testemunho da vida e cultura de uma família e esmerado gosto de alguns dos seus chefes – os
duques de Bragança. o Paço de Vila Viçosa está intimamente ligados aos duques de Bragança a
partir de princípios do século XVI. Com edificações mais recuadas, é sobretudo a D. jaime (1479-
1532) que cabem as mais importantes construções – que cria uma pequena corte humanista e o
á esquerda
Palácio Nacional da Ajuda.
Átrio abobadado da entrada.
á esquerda
Palácio Nacional da Ajuda.
Sala do Reposteiro, Bacante,
Giovanni Dupré, 1866.
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primeiro palácio já com novas formas renascentistas. Com os restantes duques segue-se um verda-
deiro «programa» construtivo e artístico, interrompido com o duque D. joão II quando é chamado
a restaurar, em 1640, a continuidade dinástica portuguesa, tornando-se no rei D. joão IV.
em 1646 o novo rei decide que o título e os bens da Sereníssima Casa de Bragança passam a
ser usufruídos pelo filho primogénito. Todavia, só a partir do reinado de D Luís I as visitas da
família real se tornam frequentes, obrigando a várias adaptações nos edifícios de forma a receber
as longas comitivas e a permitir condições de conforto. Com D. Carlos (1863-1908), o Paço é
frequentado anualmente pela família real e é dedicada uma atenção especial à atividade agrícola
e cinegética. Após a proclamação da república, o rei no exílio em Inglaterra, administra a Casa de
Bragança, cujo património por testamento deu origem à Fundação da Casa de Bragança.
A leitura dos inventários e descrições na corte ducal dos Bragança, até 1640, permite imaginar
o que seria o recheio do edifício, com inúmeros objetos, com particular destaque para os têxteis,
provenientes de outros países da europa e ásia. Para a instalação condigna do rei no Paço real de
Lisboa, na ribeira, seguiu para a capital a quase totalidade do património móvel do Paço de Vila
Viçosa. Até ao século XIX as visitas reais eram esporádicas e os móveis necessários e adereços trans-
portados na ocasião. D. Carlos quis equipar esta residência com os bens necessários a estadias
frequentes, mas é depois da república que a maioria dos objetos são recebidos no Paço. o patri-
mónio pessoal de D. Manuel II, que é entregue pelo novo regime, segue para o exílio em Inglaterra
ou, de acordo com ordens expressas do rei, recolhe à residência familiar, em Vila Viçosa. Após a
morte de D. Manuel, a 2 de julho de 1932, parte dos seus bens regressam a Portugal e são inte-
grados nas coleções do museu, em especial a coleção de incunábulos e livros quinhentistas.
os palácios reais portugueses aqui apresentados ilustram 600 anos da história de Portugal,
inúmeros acontecimentos históricos, vivências da família real e o gosto e a vontade dos monarcas
portugueses em deixar expresso o seu testemunho nos palácios que habitaram.
Página da direita
Páço Ducal de Vila Viçosa.
Sala de Hércules (detalhe).
P A L Á C I o N A C I o N A L D e S I N T r A
29
Página duPla anterior
Palácio Nacional de Sintra,
Sala dos Brasões decorada
com as armas das famílias
nobres portuguesas (séc. XVI)
e painéis de azulejos
com temas de caça (inícios
do séc. XVIII).
Página da esquerda
Sala dos Cisnes.
Revestimento de azulejos
enxaquetados da parede
sul (detalhe).
Página duPla seguinte
Palácio Nacional de Sintra,
vista geral. Em primeiro
plano, a ala nascente
adicionada por D. Manuel
no primeiro quartel
do século XVI e as duas
chaminés monumentais,
de inícios do século XV.
imos a esta vila de Sintra muitas vezes ter alguns Verões.
e assim cremos o farão os reis que depois de nós vierem, por acharmos a terra de muitos bons ares e
águas (…). e por termos em ela nobres paços de mui espaçadas vistas.
(rei D. Duarte, 1435)
o Palácio Nacional de Sintra é o único sobrevivente dos paços reais portugueses da Idade Média.
Teve uma fundação árabe e deve muito da sua originalidade ao gosto mourisco e à diversidade de
elementos arquitetónicos e artísticos, de que se destacam as suas gigantescas chaminés cónicas ou os
magníficos revestimentos azulejares.
No local da implantação do atual Palácio, construído em parte sobre um maciço rochoso, no
antigo “Chão da oliva”, existiu a primitiva alcáçova ou residência dos governadores mouros de Sintra,
de que hoje nada resta. em 1147, na sequência da conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques, o
primeiro rei português, dá-se a rendição dos almorávidas de Sintra, pondo fim a mais de três séculos de
domínio muçulmano. em frente ao Palácio, no alto da Serra de Sintra que os romanos apelidaram de
“Monte Sagrado” (Varrão) e “Promontório da Lua” (Columela), ergue-se o castelo árabe e medieval,
hoje conhecido por Castelo dos Mouros. Al-Bacrî, geógrafo árabe do século XI, filho do emir de Huelva,
é o primeiro que faz referência a Sintra e aos seus “dois castelos”, numa descrição chegada até nós
através de Al-Himyarî, que capta já muito da essência do lugar: É uma das vilas que dependem de
Lisboa no Andaluz, nas proximidades do mar. está permanentemente mergulhada numa bruma que
se não dissipa. o seu clima é são e os habitantes vivem longo tempo. Tem dois castelos que são de
extrema solidez. A coroa portuguesa habitou regularmente o Palácio durante mais de oito séculos,
devido ao clima ameno de Sintra, à sua proximidade de Lisboa, e à abundância de caça existente na
Serra. Ao longo dos séculos nobres e aristocratas edificaram em Sintra e nas suas proximidades um
conjunto de solares e quintas de recreio.
entre os séculos XIV e XVI, os reis D. Dinis, D. joão I e D. Manuel ordenaram sucessivas campanhas
de obras no Paço para a criação de novos espaços e adaptação de outros já existentes. o Palácio, cuja
configuração atual se mantém sensivelmente desde meados do século XVI, apresenta por isso um
circuito complexo, de permanente descoberta. Das suas múltiplas janelas apreciam-se deslumbrantes
vistas sobre a Serra, a vila histórica e o oceano Atlântico que, a poente, define a linha do horizonte.
Cenário de mil anos de história, nas suas salas foi primeiramente aventada por D. joão I a estratégia da
conquista de Ceuta (1415) que marcaria o início da expansão portuguesa pela costa de África; recebida
a notícia do descobrimento do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama (1498); planeada
pelo jovem rei D. Sebastião a trágica aventura de Alcácer Quibir (1578). o Palácio reflete um rico
encontro de culturas de que dão testemunho a sua arquitetura e património integrado onde sobres-
saem o gosto mudéjar – feliz associação entre a arte cristã e a arte muçulmana – e os exuberantes reves-
timentos azulejares hispano-mouriscos. A azulejaria mudéjar chegou a Portugal através da cultura árabe
presente na Península Ibérica. esta influência prolongou-se bem para lá da reconquista cristã do século
V
P A L Á C I o N A C I o N A L D e S I N T r A
32P A L Á C I o N A C I o N A L D e S I N T r A
33
XII, dando lugar, a partir dos séculos XV e XVI, a diversas tipologias de azulejos de diferentes técnicas
e decorações, aplicados a pavimentos e paredes. os revestimentos azulejares do Palácio proporcionam
uma visão global dessa tradição artística ainda hoje tão presente na cultura portuguesa. A coleção de
artes decorativas, composta por peças provenientes na sua maioria da casa real, dá também testemunho
de um ecletismo e exotismo artístico, bem patente nos objetos de torna-viagem, como o mobiliário
indo-português ou as porcelanas orientais.
A rainha D. Maria Pia foi a última monarca a habitar o Palácio. Após o duplo assassinato do rei D.
Carlos, seu filho, e do Príncipe Herdeiro Luís Filipe, ocorrido em Lisboa, em 1908, e a instauração da
república em 1910, o Palácio passa a pertencer ao estado. Abre regularmente ao público, sendo demo-
lidos os edifícios que ainda definiam o perímetro do terreiro medieval que lhe fazia face. Fiel à sua
tradição centenária, o Palácio da Vila, como foi sempre conhecido, continua hoje a ser cenário de
inúmeras funções protocolares, banquetes, concertos e outros eventos culturais, inserindo-se na
Paisagem Cultural de Sintra, classificada em 1995 pela uNeSCo como Património da Humanidade.
os interiores: uM circuito de PerMAnente descobertA
onde o AzuleJo é uMA PresençA constAnte
A Sala dos Cisnes é a maior sala do Palácio. Das suas janelas geminadas desfruta-se uma soberba vista
sobre o Terreiro, o casario do centro histórico e a serra, encimada pelo castelo. Construída por D. joão
I por volta de 1425 e atribuída ao arquiteto joão Garcia de Toledo, era a “Sala Grande” do Palácio. Deve
o seu nome atual à decoração ao gosto renascentista do teto, com uma composição de inspiração serliana
de finais do século XVI, de vinte e sete caixotões de madeira decorados com cisnes brancos, com gorjal
em forma de coroa invertida, símbolos de beleza e de fidelidade. Aqui tinham lugar as receções a várias
embaixadas, banquetes e outras celebrações. Foi aqui que D. joão I recebeu a embaixada de Filipe o
Bom, Duque da Borgonha, que veio negociar o seu casamento com a Infanta D. Isabel. Foi também em
Sintra que, conforme relata o cronista Gomes eanes de Zurara, este rei recebeu em grande segredo os
espiões enviados à Sicília com o objetivo de obter dados estratégicos sobre a cidade de Ceuta.
Nos finais do século XV, D. joão II autorizou a população de Sintra a celebrar nesta sala as festas do
culto do espírito Santo, que haviam sido introduzidas na Vila pela rainha Isabel de Aragão. No tempo
de D. Manuel, e de acordo com o seu cronista Damião de Góis, realizavam-se aqui os saraus de música
e dança que tinham lugar na corte aos domingos e dias feriados. Neles participava o próprio monarca,
acompanhado pelos seus músicos mouros, enquanto a corte dançava e assistia a representações que
incluíam os autos de Gil Vicente, o pai do teatro português. A Sala dos Cisnes, à semelhança de outros
espaços do Palácio, sofreu danos no terramoto de 1755, tendo o rei D. josé ordenado que os restauros
respeitassem a maneira antiga. Conservaram-se assim muitos dos azulejos originais do século XVI, em
padrão de enxaquetado (ou xadrez), verde e branco, de grande efeito cromático.
em volta do Pátio Central contíguo, de onde se obtém uma impressionante perspetiva sobre as
chaminés monumentais, D. joão I estruturou os seus aposentos na viragem do século XIV para o século
XV. A sua situação intimista, o som da água corrente e os revestimentos de azulejos quinhentistas, das
fachadas e do alpendre, parecem evocar ainda a tradição arquitetónica árabe. Ao centro do pátio,
á direita
Detalhe do teto da Sala
dos Brasões, 1º quartel do
século XVI.
ergue-se uma coluna manuelina torsa com as armas de D. Manuel I,
por onde brotava água. Na parede norte do pátio, através de um
portal manuelino, acede-se à Gruta dos Banhos, uma “casa de fresco”
com um rico programa decorativo rococó, de finais do século XVIII.
No teto, os estuques policromos em relevo atribuídos ao estucador
milanês Giovanni Grossi, representam a Criação do Mundo e as
Quatro estações. os painéis azulejares a azul e branco, que cobrem as
paredes representam fontes, jardins e cenas galantes. escondem um
engenhoso sistema de jogos de água que circunda todo o espaço: em
dias de maior calor, jatos cruzados de água, brotando subitamente de
dois níveis das paredes, refrescavam o ambiente e surpreendiam as
damas, num “jogo galante” bem ao gosto da época.
A Sala das Pegas aparece já assim referida em meados do século
XV pelo rei D. Duarte no manuscrito “Medições das Casas de Sintra”,
uma fonte documental fundamental para a interpretação do Palácio.
Nesta sala eram recebidos os notáveis do reino e os embaixadores
estrangeiros. No teto, 136 pegas seguram nos bicos uma tarja com o
mote ou divisa de D. joão I, “por bem” e nas patas uma rosa. Trata-se
provavelmente de uma alusão à rosa vermelha, símbolo da casa de
Lencastre, à qual pertencia a rainha D. Filipa de Lencastre, filha de
joão de Gante e irmã de Henrique IV de Inglaterra. A lareira renas-
centista em mármore de Carrara, uma oferta do Papa Leão X ao rei
D. Manuel I em 1515, pertenceu ao desaparecido paço de Almeirim, sendo para aqui transferida em
1898. os azulejos hispano-árabes de corda seca que revestem as paredes, com motivos estrelados de
grande impacto decorativo, datam de inícios do século XVI e provêm de Sevilha, o grande centro de
produção da época, tendo sido fabricados com a chamada técnica da “corda-seca”. esta técnica consistia
em isolar as áreas com as diferentes cores através da incisão de sulcos mais ou menos profundos que se
preenchiam com uma substância gordurosa, à base de óleo de linhaça e manganês, que se identifica
facilmente pelo traço escuro. esta barreira impedia a mistura e as escorrências dos esmaltes durante os
processos de aplicação e cozedura. A Sala das Pegas confina a sul com o Pátio de Audiência real, onde
sobressai o harmonioso alpendre renascentista, que tem como fundo a Serra de Sintra e o Castelo dos
Mouros. Diz a tradição que foi aqui que, em 1572, D. Sebastião ouviu ler a Luís de Camões os “Lusíadas”,
o grande poema épico português que narra a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco
da Gama e cuja publicação o jovem rei patrocinara.
o Quarto D. Sebastião evoca este jovem rei e as suas frequentem estadias em Sintra, para onde
vinha praticar jogos equestres e caçar, ao mesmo tempo que planeava a sua imprudente e extempo-
rânea cruzada ao norte de África. A batalha de Alcácer-Quibir (atual Marrocos) ocorrida em 1578,
ceifou a vida ao rei a grande parte da jovem nobreza portuguesa. A morte de D. Sebastião, aos 24 anos,
sem descendência, desencadearia uma crise dinástica e a perda da independência nacional durante 60
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35
anos. No manuscrito de D. Duarte, este espaço é referido como Câmara de ouro, numa eventual
alusão a uma decoração dourada do teto ou das paredes. A riqueza decorativa de Sintra é aliás o termo
de comparação utilizado por Afonso de Albuquerque, governador da Índia (1509-1515) na carta ende-
reçada a D. Manuel I: “há mais ouro e azul em Malaca que nos Paços de Sintra”. A presente decoração
parietal data do século XVI e apresenta exemplares únicos de azulejos em relevo com motivo de parra
e de maçarocas de milho em forma de flor-de-lis, e de esfera-armilar, o emblema de D. Manuel I.
A Sala das Sereias deve o seu nome à decoração setecentista do teto, onde sereias tocam vários
instrumentos. De acordo com a descrição de D. Duarte, no reinado de D. joão I era aqui que se situava
o guarda-roupa real, espaço onde se guardavam as peças de vestuário, joias e objetos pessoais de maior
valor. o espaço exibe um rico repertório de azulejos de várias técnicas: os silhares altos de azulejos em
relevo, com motivos de parra e gavinha; a moldura da porta numa composição em técnica de alica-
tado com desenho de encanastrado nas cores branca, negra e turquesa; e os arabescos em técnica de
esgrafitado que decoram os alfizes da mesma porta.
No magnífico portal manuelino que dá acesso à Sala dos Brasões, por onde passaram tantos
monarcas e dignitários, são visíveis as siglas ou marcas deixadas nas pedras, em jeito de assinatura, pelos
mestres pedreiros que as trabalharam. Construída no primeiro quartel do século XVI por ordem de
D. Manuel I, esta sala ergue-se no local onde anteriormente existiu uma outra edificação, legendada
como “Meca” no desenho de 1509 de Duarte de Armas, autor de três vistas de Sintra fundamentais para
o estudo do Palácio. esta designação parece evocar uma pré-existência ainda muito conotada com a
presença árabe. A mais importante sala heráldica da europa e também a sala palaciana mais ocidental,
dela se avista o Atlântico e outrora as armadas. Nas palavras do escritor contemporâneo Virgílio Ferreira
Página da esquerda
Sala dos Archeiros. Fonte
com revestimento de azulejos
do século XVI.
em baixo
Cozinha medieval do
primeiro quartel do século XV,
com revestimento azulejar
dos séculos XVIII-XIX. Em
primeiro plano, os espetos
utilizados para assar grandes
peças de caça.
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36
“Sintra é o mais belo adeus da europa quando enfim encontra o
mar”. Durante séculos o perfil da sua serra constituiu uma referência
para os marinheiros que partiam ou chegavam nas naus, conforme
referiu Camões no canto V dos “Lusíadas”. Poucos anos antes da cons-
trução desta sala, em 1494, D. joão II, primo direito e protetor de D.
Manuel, assinara com espanha o Tratado de Tordesilhas, definindo o
meridiano pelo qual as terras descobertas e a descobrir eram divididas
entre Portugueses e espanhóis. No teto da Sala, as armas portuguesas
de D. Manuel I, encimadas pelo timbre com o dragão alado da Casa
de Avis, fecham a cúpula oitavada. rodeiam-nas os brasões dos oito
filhos que este rei teve com a sua segunda mulher Maria de Aragão e
Castela. No nível inferior, os brasões das setenta e duas famílias
nobres mais influentes do reino constituem ainda hoje uma refe-
rência heráldica essencial para portugueses e luso-descendentes de
todo o mundo. Baseiam-se nos livros de armas mandados fazer por
D. Manuel I para fixar e normalizar as representações dos diferentes
brasões. Na sanca que percorre toda a sala, uma inscrição alude às
armas representadas: “pois com esforços leais serviços foram ganhadas
com estas e outras tais devem de ser conservadas”. os grandes painéis
panorâmicos de azulejos a azul e branco que revestem as paredes,
datam de cerca de 1710 e são atribuídos ao misterioso Mestre PMP.
representam caçadas e cenas bucólicas e cobrem integralmente as
paredes, tomando o lugar anteriormente ocupado por ricas tapeçarias.
No Quarto D. Afonso VI, permaneceu encarcerado este rei por ordem do irmão D. Pedro, na
sequência do seu afastamento do trono. D. Afonso sofrera em criança de uma “febre maligna”, que o
deixara hemiplégico e intelectualmente incapaz. Na conspiração para o afastar do trono tomara parte
ativa a rainha, D. Maria Francisca Isabel de Saboia, com quem D. Afonso VI se casara em 1666. um ano
depois, na sequência do golpe de estado perpetrado pelo irmão do rei e após obtida a anulação do
casamento, que nunca chegara a consumar-se, a rainha casa-se com o cunhado, D. Pedro II. Quanto
ao infeliz monarca deposto, acabaria por morrer neste quarto em 1683, após nove anos de cativeiro.
Nesta divisão encontra-se um dos pavimentos mudéjares mais antigos do país, possivelmente de
produção sevilhana e datável ainda da campanha de obras de D. Afonso V, de meados do século XV.
A Sala Chinesa situa-se numa das zonas mais antigas do Palácio, onde se localizavam os
aposentos reais de D. Dinis, anteriores às obras de D. joão I. Nela se exibe um pagode chinês em
marfim, dos finais da Dinastia Qing, construído na China na viragem do século XVIII para o
século XIX. Com cerca de dois metros e meio de altura, é uma peça notável, quer pela sua
dimensão e complexidade, quer pela elevada qualidade técnica da sua decoração. o conjunto
encontra-se inserido numa maquineta ou vitrina de madeira, de época. Terá sido oferecido à
rainha D. Maria I pelo Senado de Macau, sendo referenciado pela primeira vez no Palácio do
á esquerda
Naga, divindade aquática.
Detalhe de mesa indo-
portuguesa do século XIX,
Índia.
Página da direita
Detalhe do portal manuelino
da Sala dos Cisnes. Séc. XVI.
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ramalhão, antiga residência da rainha Carlota joaquina, mulher
de D. joão VI, daí transitando em 1850 para o Palácio de Sintra.
A Capela palatina foi fundada por D. Dinis nos finais do
século XIII ou inícios do séc. XIV, sob invocação do espírito Santo,
conforme o padrão decorativo das paredes, representando pombas.
o culto do espírito Santo foi introduzido em Portugal pela rainha
Santa, D. Isabel de Aragão, mulher de D. Dinis, a quem este rei fez
doação, em 1287, do Palácio e da Vila de Sintra. em 1470, D. Afonso
V acrescenta à capela a zona do altar-mor, para o qual encomendou
um retábulo com o tema do Pentecostes, hoje desaparecido, ao
célebre pintor Nuno Gonçalves. Apesar de ser um espaço religioso
cristão, toda a capela se encontra fortemente marcada pelo mude-
jarismo. Importa referir que já em 1281, uma carta-régia de D. Dinis
confiara aos mouros livres da vila de Colares, perto de Sintra, a
manutenção do Palácio, em troca da redução de impostos, dando
assim continuidade à presença de artesãos mouros no Palácio. o
teto de madeira de alfarge, termo que deriva da palavra árabe
“al-harj”, que significa “teto de madeira lavrada”, apresenta motivos
de “laço” ou “de laçarias”, caracterizados por complexos padrões
geométricos de composição radial ou estrelada, que tão próximos
estão também dos motivos azulejares. o brasão das armas reais
portuguesas sobreposto à cruz de Avis, data do século XV. estes
tetos, hoje muito raros, eram muito comuns na Península ibérica nos séculos XV e XVI. Da mesma
época é também o raro tapete cerâmico, em técnica de alicatado, palavra que deriva do árabe
“al-liqât”, que significa tenaz. esta técnica consiste na associação de pequenas placas de azulejo, de
diferentes formas e cores, previamente cortadas e vidradas.
A Sala Árabe, é a provável localização da câmara ou quarto de dormir de D. joão I. Através de
uma graciosa escada em caracol, com um gradeamento em ferro forjado, esta câmara comuni-
cava com o guarda-roupa do rei, hoje Sala das Sereias. Da rica decoração atual, já do reinado de
Dom Manuel I, destacam-se os silhares de azulejos geométricos que criam uma ilusão de ótica
tridimensional. É porventura o espaço do Palácio em que a presença do gosto arabizante mais se
sente. D. Manuel e a sua primeira mulher, Isabel de Aragão e Castela, visitaram as cidades de
Granada, Guadalupe, Toledo, Guadalajara e Saragoça, durante a viagem que ambos efetuaram a
espanha em 1498. o mudejarismo aí encontrado influenciou fortemente D. Manuel, e refletiu-se
na redecoração do Palácio de Sintra. A fonte central da sala, de modelo árabe, acentua o exotismo
deste espaço.
A Cozinha do Palácio foi construída por D. joão I e D. Filipa de Lencastre, nos inícios do século XV,
como um corpo independente, de modo a prevenir os incêndios, tão frequentes nesta época. As suas
duas chaminés cónicas, de trinta e três metros de altura, marcam pela sua monumentalidade a paisagem
Página da esquerda
Revestimento de azulejos
de corda-seca com motivo de
estrela, e remate de azulejos
relevados e recortados
com maçarocas em forma
de flor-de-lis, inícios do
século XVI. Sala da Coroa
(detalhe).
À direita
Alpendre maneirista do Pátio
de Audiência. Segundo
a tradição, foi neste local que
Luís de Camões leu o seu
poema épico “Os Lusíadas”
ao jovem rei D. Sebastião.
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de Sintra e constituem um dos traços mais emblemáticos e identitários do Palácio. Apresenta uma
série de fornalhas, e dois grandes fornos de cariz medieval, para além de uma grande estufa de
ferro a lenha, do século XVIII, em forma de armário, que tinha como função manter quentes os
pratos. um reservatório de água, ainda hoje ativo, faz parte do complexo sistema de captação e
adução de águas e serve para armazenar a água proveniente das nascentes da Serra, que continua
ainda hoje a alimentar o Palácio. o revestimento das paredes, em azulejo branco, de finais do
século XIX, é contemporâneo da composição heráldica com as armas reais de Portugal e de
Saboia aqui colocadas em 1889 e pertencentes à rainha Maria Pia.
A Sala Manuelina, à qual se acede por um magnífico portal com cordas entrelaçadas, enci-
mado pelas armas de D. Manuel, era a Sala Grande da ala de aposentos que este rei acrescentou
a nascente do Palácio. Na fachada exterior sobressai a exuberante decoração das suas janelas
geminadas. A obra foi concluída em 1519 por joão rodrigues, que foi Mestre dos Paços de
Sintra de 1490 até 1526, servindo assim três monarcas: D. joão II, D. Manuel e D. joão III. A sua
provável “assinatura”, uma sigla em forma de “Y”, pode ver-se na ombreira do lado direito do
portal desta sala.
Nas obras de restauro realizadas nos anos trinta do século XX pelo arquiteto raul Lino, esta
sala recuperou a sua dimensão original, uma vez que no século XIX se encontrava dividida em
três compartimentos. Aqui se situavam então os aposentos do rei D. Luís, confinantes com os da
rainha D. Maria Pia que, já viúva, foi a última monarca a habitar o Palácio, daqui partindo para
o exílio em 1910, encerrando um ciclo de oito séculos de habitação real no velho Paço da Vila.
á esquerda
Vista geral da Sala
Manuelina, a Sala Grande
da ala de aposentos
erguida a nascente pelo
rei D. Manuel I.
Página da direita
Busto de jovem. Madeira
policromada. Florença,
século XVI. Sala das Pegas.
Página duPla seguinte
Vestíbulo e portal da Sala
dos Cisnes.
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47
Página duPla anterior
Sala dos Cisnes. A maior sala
do Palácio, construída
no reinado de D. João I
pelo arquiteto João Garcia
de Toledo (c. 1425).
Página da esquerda
Sala dos Cisnes, topo poente.
Composição de azulejos
enxaquetados dos inícios
do século XVI. Em primeiro
plano grande arca em
sucupira (séc. XVII) e três
terrinas em porcelana
chinesa, representando
cabeças de animais (reinado
Qianlong, c. 1760).
á direita
Sala dos Cisnes, topo
nascente (detalhe).
Página duPla seguinte
Teto da Sala dos Cisnes.
A pintura ao gosto
renascentista apresenta
cisnes brancos com gorjal
em forma de coroa invertida
em molduras octogonais
e composição em talha
inspiradas em Serlio.
Século XVI (detalhe).
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50
á esquerda
Sala das Pegas. Deve o seu
nome à composição do teto
pintado (séc. XV). Ao centro
da sala, a lareira em mármore
de Carrara oferecida pelo
papa Leão X ao rei D. Manuel
e originalmente pertencente
ao desaparecido Paço de
Almeirim (séc. XVI).
Página da direita
Detalhe da lareira da Sala
das Pegas e do revestimento
azulejar de azulejos
hispano-mouriscos de
produção sevilhana (séc. XVI).
Página duPla seguinte
Sala Árabe. Provável
localização do quarto de
dormir de D. João I.
Os azulejos que revestem as
paredes dando uma ilusão
tridimensional, assim como
a fonte central, de influência
árabe, datam já da campanha
de obras de D. Manuel
(séc. XVI).
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55
Página da esquerda
Sala Árabe, detalhe da
decoração azulejar de uma
porta.
á direita
Porta de passagem do
Quarto D. Sebastião para a
Sala das Sereias.
Página duPla seguinte
Sala das Sereias, detalhe
de porta e decoração mural
onde coexistem diversas
técnicas azulejares:
em esgrafitado nos alfizes
(cantos) da porta,
em alicatado na cercadura
encanastrada negro
e turquesa e relevados
no padrão de folha de parra
e gavinha.
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Página da esquerda
Capela. Altar direito da
nave com imagem de Santa
Bárbara em madeira
policromada e dourada,
séc. XVIII.
á direita
Capela. Topo poente
e tribuna.
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Página da direita
Vista geral da Capela,
edificada por D. Dinis (início
do séc. XIV). Teto em alfarge
mudéjar do século XV, com
composição geométrica de
motivos de laçaria. As
pinturas a fresco das paredes
evocam o Espírito Santo, a
que a capela é dedicada.
Página duPla seguinte
Sala dos Brasões, Apresenta
no teto as armas das 72
famílias nobres portuguesas
mais influentes (século XVI).
As paredes estão cobertas
por grandes painéis de
azulejos com temas de caça
(inícios do séc. XVIII).
em cima
Pavimento cerâmico da
Capela, em forma de tapete,
composto por vários
fragmentos cerâmicos
de várias formas e cores
(alicatado), século XV.
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á esquerda
Sala dos Brasões. Painel de
azulejo atribuído ao Mestre
PMP, c. 1710 (detalhe).
Página da direita
Sala dos Brasões. Painel
de azulejo com cena de caça
atribuído ao Mestre PMP,
c. 1710 (detalhe).
Página duPla seguinte
Sala dos Brasões. Fecho da
cúpula do teto decorado com
as armas reais portuguesas
de D. Manuel I, rodeadas
pelas armas dos oito filhos
que este rei teve com a sua
segunda mulher, Maria de
Aragão e Castela.
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em cima
Contador indo-português.
Ébano, sissó, marfim e latão.
Decoração embutida e
entalhada, com figuras de
nagas (divindades indianas).
Índia, século XVII-XVIII.
Quarto dos Padres.
Página da esquerda
Brasão das Armas Reais
Portuguesas encimadas pelo
timbre da serpente alada
da Casa de Avis. Detalhe da
parte central de uma
tapeçaria de Bruxelas de
finais do século XV ou inícios
do século XVI, provável
encomenda ou presente real.
Corredor da Sala dos Brasões.
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á esquerda
Maquineta (vitrine) de época
contendo um pagode
chinês monumental em
marfim. Finais do século XVIII
ou inícios do século XIX.
Sala Chinesa.
Página da direita
Pagode chinês (detalhe).
Sala Chinesa.
á esquerda
Gruta dos Banhos. Espaço
arquitetónico manuelino
com decoração posterior
rocócó de estuques e painéis
de azulejos, 3º quartel
do século XVIII.
Página duPla seguinte
Detalhe do teto da Gruta
dos Banhos representando a
Criação do Mundo (centro),
as Quatro Estações (cantos) e
figuras alegóricas. Decoração
em estuque ao gosto rococó,
atribuída a Giovanni Grossi.
3º quartel do século XVIII.
Página duPla 76-77
Gruta dos Banhos. Painel
de azulejos rococó com tema
de jardim e fontes (detalhe).
Página 78
Gruta dos Banhos. Painel
de azulejos (detalhe).
Página 79
Gruta dos Banhos. Painel
de azulejos (detalhe).