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An. 2. Congr. Bras. Hispanistas Oct. 2002 Velódromo de invierno: horror sem fronteiras Valeria De Marco Universidade de São Paulo O romance Velódromo de invierno de Juana Salabert, ganhador do Prêmio Biblioteca Breve de 2001, oferece para os estudiosos da literatura de testemunho e da literatura espanhola contemporânea a necessidade de refletir com vagar sobre alguns pressupostos teóricos do campo de pesquisa relativo a ''shoah'' bem como sobre os clássicos pilares de sustentação da historiografia literária. A aproximação ao texto solicita o exame de relações entre testemunho, verdade e ficção, de perfis novos para as formas narrativas, de modos de representar o horror. A obra trata da recomposição de histórias de vida enlaçadas na constituição da identidade de Herschel, um homem de trinta anos, nascido em Porto Rico, filho de Ilse, uma judia que, aos 13 anos, conseguira escapar do Velódromo de Inverno de Paris, onde, em julho de 1942, a polícia francesa e a Gestapo haviam internado os judeus residentes na cidade. Apesar de a matéria do romance ser um dos tantos eventos relacionados à ''shoah'', muitos estudiosos da literatura de testemunho não vacilariam em afirmar que o texto de Salabert não pode ser considerado como tal. E o juízo não viria de um exame da forma; ele seria sustentado pela evocação de duas frases que fundamentariam a impossibilidade de vincular testemunho e ficção, em nome de uma postura ética em defesa da ''verdade''. Uma delas é de Primo Levi: ''Repito, não somos nós, os sobreviventes, as autênticas testemunhas.'' (LEVI, 1990, p.47). Frequentemente, a frase é extraída de seu contexto para criar uma hierarquia de autoridade entre testemunhos. No entanto, a afirmação de Levi não tem esse objetivo. Ela é uma constatação da existência de um limite intransponível de seu próprio relato, pois,

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An. 2. Congr. Bras. Hispanistas Oct. 2002 Veldromo de invierno: horror sem fronteiras Valeria De MarcoUniversidade de So PauloO romance Veldromo de invierno de Juana Salabert, ganhador do Prmio Biblioteca Breve de 2001, oferece para os estudiosos da literatura de testemunho e da literatura espanhola contempornea a necessidade de refletir com vagar sobre alguns pressupostos tericos do campo de pesquisa relativo a ''shoah'' bem como sobre os clssicos pilares de sustentao da historiografia literria. A aproximao ao texto solicita o exame de relaes entre testemunho, verdade e fico, de perfis novos para as formas narrativas, de modos de representar o horror.A obra trata da recomposio de histrias de vida enlaadas na constituio da identidade de Herschel, um homem de trinta anos, nascido em Porto Rico, filho de Ilse, uma judia que, aos 13 anos, conseguira escapar do Veldromo de Inverno de Paris, onde, em julho de 1942, a polcia francesa e a Gestapo haviam internado os judeus residentes na cidade. Apesar de a matria do romance ser um dos tantos eventos relacionados ''shoah'', muitos estudiosos da literatura de testemunho no vacilariam em afirmar que o texto de Salabert no pode ser considerado como tal. E o juzo no viria de um exame da forma; ele seria sustentado pela evocao de duas frases que fundamentariam a impossibilidade de vincular testemunho e fico, em nome de uma postura tica em defesa da ''verdade''. Uma delas de Primo Levi: ''Repito, no somos ns, os sobreviventes, as autnticas testemunhas.'' (LEVI, 1990, p.47). Frequentemente, a frase extrada de seu contexto para criar uma hierarquia de autoridade entre testemunhos. No entanto, a afirmao de Levi no tem esse objetivo. Ela uma constatao da existncia de um limite intransponvel de seu prprio relato, pois, no mesmo texto, observa o autor que as ''testemunhas integrais'', as que vivenciaram o processo inteiro do extermnio nazista, os que morreram nas cmaras de gs e fornos crematrios, no voltaram para narrar. A frase demarca uma perspectiva da narrao e ancora sua origem no vivido. E, reiteradamente, considera Levi que, alm de responder a uma necessidade interior e a um movimento com o objetivo de evitar a repetio daquela barbrie, relatar sua vivncia uma forma de dar notcia dos que no puderam falar, caso do menino Hurbinek, em A trgua: ''Nada resta dele: seu testemunho se d por meio de minhas palavras.'' (LEVI, 1997, p. 31). inegvel que Levi, quase sempre fonte primeira dos estudiosos do testemunho, explicita ser o vivido a matria de seus textos. No entanto, talvez pela prpria violncia que a constitui, d-se menos ateno reflexo sobre a forma neles contida. Basta l-los atentamente para encontrar um narrador consciente de que rememorar e testemunhar exigem escolhas, arranjos, artifcios e trabalho sobre linguagem e formas de narrar. Some-se a nfase na natureza da matria -o vivido- ao fato de o autor usar com frequncia a palavra experincia para a ele se referir e chega-se base para que se atribua a Levi a concepo de que ningum pode falar pela testemunha. Transforma-se ela em imperativo tico e dela deriva um perfil nico de autor -o sobrevivente- e uma exigncia em relao obra -a de corresponder ''verdade dos fatos''.Na mesma linha de pensamento, a outra frase sempre evocada a que sublinho na citao seguinte:''A crtica cultural encontra-se diante do ltimo estgio da dialtica entre cultura e barbrie: escrever um poema aps Auschwitz um ato brbaro, e isso corri at mesmo o conhecimento de por que se tornou impossvel escrever poemas.'' (ADORNO, 1998, p. 26)Se por vezes a afirmao de Adorno chegou a ser usada para condenar a poesia contempornea, nos estudos da ''shoah'', ela aparece como argumento poderoso em defesa da tese relativa impossibilidade de representar a barbrie, impossibilidade de associar testemunho e fico. No entanto, a frase de Adorno est distante de sentidos de proibio. No ensaio de 1949, ela expressa uma das vrias perplexidades que o autor entende desafiarem o exerccio da crtica cultural na sociedade do ps-guerra. Ao longo de vrios anos, Adorno volta a discutir a frase e esse percurso1 interessa especialmente para o estudo da literatura de testemunho, pois chama a ateno para questes relativas forma: considerando a necessidade de impedir o esquecimento e a repetio de Auschwitz, alerta para o perigo de torn-lo assimilvel atravs da estilizao artstica; resistir barbrie exigiria imprimir na prpria forma marcas daquela violncia concebida pelo homem, marcas do mal-estar que aquele evento inscreveu na nossa conscincia.Cabe ainda ponderar que o uso dessas duas frases na defesa do vnculo entre testemunho e ''verdade'', e portanto da impossiblidade de representar o horror, sustenta-se sobre uma interessada confuso entre dois conceitos: vivncia e experincia. Postos lado a lado, j fica claro a dimenso individual do primeiro. Ele est na base da frase de Levi: refere-se ao vivido por um indivduo, ao factual, singularidade. Quanto ao segundo conceito, devemos lembrar aqui que os estudos da rea da psicologia no sculo XX so responsveis, em grande parte, pelo fato de que se estreite o conceito de experincia e se o identifique ao de vivncia. Mas no campo da reflexo esttica, que o nosso, devemos ter em mente o conceito de Hegel que exige no apenas envolver-se em uma ao mas sim a reflexo. A experincia no supe apenas a reflexo sobre o vivido, mas sim o movimento de reflexo sobre o conhecimento j construdo. E este o pressuposto subjacente frase de Adorno. Sem ter em conta a barbrie de Auschwitz no h conhecimento. Se a vivncia dos campos coube a alguns milhes de pessoas, a experincia do aniquilamento do outro racionalmente administrado herana de todos ns.A partir desse ponto de vista , entendo que Juana Salabert, nascida em Paris, em 1962, tem legitimidade para tomar como matria narrativa eventos relacionados ''shoah''. Uma parfrase do romance j indica um aspecto de seu modo de apropriar-se dela. O texto surge do encontro entre Herschel e Miranda em Madri, no ano de 1992. Herschel viaja de Porto Rico para receber a herana de Javier Dalmases, o homem que assumira sua paternidade atravs de papis e carimbos da embaixada. Dele recebera tambm a nacionalidade espanhola e presentes caros em todos os aniversrios acompanhados de um carto com uma simples assinatura. Era o desconhecido que escrevia, com obstinada regularidade, uma carta por semana a sua me, Ilse. Miranda um sobrevivente de Auschwitz, o prisioneiro tatuado no antebrao com o nmero 78798. o elo de ligao entre o espanhol Dalmases, o judeu alemo Arvid Landerman e sua mulher Annelies Landerman, pais de Ilse, a me de Herschel.Mas sobre esse antigo e ingnuo enredo romanesco o filho procura do pai arma-se a forma do romance, dando densidade ao texto. Herschel vai em busca de sua identidade e esta vai se mostrando ao leitor como uma rede de complexas relaes entre o eu e o mundo, como a formao do indivduo na ''era da catstrofe'', expresso usada por Adorno, Hobsbawm e Shoshana Felman para interpretar o sculo XX. Trata-se de uma histria de acesso ao conhecimento de uma identidade que no se revela inteiramente, fraturada que por perguntas sem respostas. Uma identidade do nosso tempo: tempo do horror sem fronteiras; tempo marcado pela barbrie do ''assassinato administrativo'' de que nos fala Hannah Arendt. Esse horror sem fronteiras polticas, geogrficas ou lingusticas; o horror que explodiu os limites da razo, desafiando as fronteiras do inteligvel e do explicvel, e que molda a trajetria das personagens do romance de Salabert.Ilse, a me de Herschel, uma criana que escapou do Veldromo de Inverno de Paris em 1942, dirigiu-se ao metr vestindo o agasalho que cobria a estrela amarela costurada no peito do vestido. Deixara para trs a me Annelies e o irmo menor Herschel; o pai estava h meses no campo de Drancy. Dirigira-se a um endereo Rue Varnnes em busca do senhor Sebastin Miranda, referncias que a me a fizera decorar na semana anterior. Insiste ela em que o senhor Miranda a acompanhe de volta ao Veldromo para tentar ajudar a me e o irmo. Mas ele, que sabia do que se tratava, integra-a em um grupo de crianas que sairia da Frana pelos Pirineus com uma suposta professora e seu coral infantil. O grupo encontraria Dalmases e seus homens e passaria Espanha. Dalmases recolhe em sua casa a menina de treze anos que aguarda o final da Guerra para procurar sua famlia. Mas todos haviam desaparecido na mquina de morte nazista. Ento, ela sai da Europa por Lisboa, vai viver na Amrica e jamais poria os ps no velho continente. Quando ela morre de um derrame, Herschel j era pai de uma menina. Ele s conhece a voz de Dalmases quando tem que lhe dar a notcia da morte da me. Desde ento conversam com frequncia pelo telefone at que recebe um dia, tambm pelo telefone, a notcia do falecimento do pai .Assim, o romance traz para um pblico amplo no especialista em Histria ou em holocausto mais uma das grandes monstruosidades cometidas pela Frana de Ptain cujos rastros muitos outros governos ajudaram a deixar na gaveta ou destruir, quando derrubam o Veldromo de inverno. S recentemente o Estado francs reconheceu sua responsabilidade sobre aquele crime. Este consistiu na priso de treze mil judeus que a polcia francesa e a Gestapo foram buscar de casa em casa no grande arrasto da noite daquela quinta-feira negra, 16 de julho de 42; uma operao de inteligncia cuidadosamente planejada desde janeiro daquele ano sobre os dados organizados pelos franceses em um fichrio incomparavelmente melhor que os elaborados pelos alemes, segundo as palavras do comandante da SS na Frana. A maioria dos prisioneiros era constituda por velhos, doentes, mulheres e crianas menores de 16 anos, pois a maior parte dos pais ou homens aptos ao trabalho j haviam sido presos e levados aos campos de Pithiviers, Beaune-la-Rolande e Drancy, onde estava Arvid Landerman, o pai de Ilse. Todos foram levados em nibus da companhia de transportes urbanos de Paris ao Veldromo de inverno. Sem gua, comida, medicamentos, a massa humana espalhava-se pelas arquibancadas e pela pista. Havia a mais de 4000 crianas2. Nessa estufa do horror, muitos enlouqueceram, outros morreram por falta de socorro, alguns se suicidaram. A maioria foi transferida a partir do dia 23 aos campos de concentrao prximos, previamente evacuados, e da saram nos vages de trem franceses para Auschwitz. Poucas mulheres e homens foram destinados aos trabalhos forados. A maioria deles e as crianas morreram nas cmaras de gs. Do veldromo parece que apenas umas dez pessoas, entre crianas e adultos, conseguiram escapar por alguma distrao dos guardas.Como vimos, Juana Salabert ancora o enredo de seu romance em uma dessas meninas. E, na trajetria dos demais personagens importantes incorpora referncias a outros conhecidos dados histricos, que marcaram a ascenso do nazismo na Europa e que se manisfestaram na exploso da II Guerra Mundial, mas no apenas nela. Arvid Landerman, um judeu alemo, e Miranda estudaram juntos em Berlim. Ambos haviam deixado a Alemanha em 33, quando da eleio de Hitler, e haviam se instalado em Madri onde viveram os anos cosmopolitas e libertrios da II Repblica. Depois dos bombardeios a Madri, a famlia de Ilse vai se instalar em Paris, pois a me no aceita a sugesto de Arvid de emigrar para a Amrica. Assim, a vida das personagens do romance atravessada pelo compasso de grandes conflitos histricos: a ascenso do nazismo, a Guerra Civil Espanhola, a II Guerra Mundial e, em particular, a ocupao da Frana, o governo colaboracionista de Ptain, Auschwitz e a racional poltica de extermnio de natureza no apenas tnica, mas tambm poltica de judeus, ciganos, comunistas de toda Europa ocidental e oriental e de ''rojos'' espanhis.Se a matria da narrativa constituda por rastros e estilhaos de vidas esparramados pelo mundo ou aniquilados pelos planos da ''soluo final'', necessrio examinar o perfil esttico do texto de Salabert, a coerncia de seus procedimentos estruturadores, seu modo de representar o horror. O primeiro consiste na alternncia de tempo, espao e voz narrativa. O romance se abre em 16 de julho de 1942, no Veldromo de Inverno em Paris, com um narrador distanciado, com uma sintaxe enxuta e informativa. A seguir esse narrador se move e se apropria da perspectiva de Annelies e de Ilse para contar o arrasto. Aps esses dois breves textos referentes ao acontecimento de 42, atravessamos uma pgina em branco e entramos no ano de 1992, no encontro entre Herschel e Miranda que abre a perspectiva para a narrao da vida de cada um deles. Alternadamente, aparecem textos de 42 e de 92. Assim, a linearidade da leitura se faz com a intercalao de textos referentes a dois momentos. E essa intercalao feita pela justaposio de relatos, sem mediaes de frases de um narrador que delimite os contornos da matria narrada, que amenize para ns leitores o impacto do confronto com tantos estilhaos. Cria-se uma aparente linearidade, pois a quebra da continuidade das histrias de vida no desagua na possibilidade de que se desenvolvam elas em linhas paralelas, de modo a permitir o encaixe de passado e presente e a recomposio da fluncia do passar do tempo. A justaposio silenciosa reproduz ausncias de vnculos entre episdios de vida e resulta em um incmodo que mimetiza, nessa continuidade da descontinuidade, o impacto da ruptura da trajetria das personagens provocada pela violncia de Estado bem como a intensidade de sua repercusso no indivduo, ou melhor, em indivduos de trs geraes.Cada um desses momentos so construdos com procedimentos narrativos semelhantes mas cujo efeito esttico distinto. Vejamos: O resgate dos acontecimentos de quatro dias de 42 a priso de Ilse, de seu irmo Herschel de oito anos e da me, depositados no veldromo, e a fuga da menina entrelaa-se a fios de rememorao do passado, feita a partir da perspectiva da me, Annelies, contaminada pela culpa. Culpava-se ela por ter escolhido a Frana, e no a Amrica, em 38; culpava-se por no ter ido antes procurar Sebastin Miranda para entregar-lhe suas crianas e o dinheiro da viagem para a Espanha, agendada agora inutilmente para o dia 23. A lucidez sobre a fera nazista chegara tarde demais, frase que ela repete vrias vezes. Acrescente-se que essa concentrao temporal que tem por matria os acontecimentos de julho de 42 se lastreia na concentrao espacial: Paris, o Veldromo. Some-se ainda a brevidade ou agilidade da sintaxe narrativa em que a frase de tom informativo do narrador em terceira pessoa pressiona, interrompe e suspende a necessidade da rememorao vivida pela personagem frente a constatao de ser tarde demais. A violncia da priso no veldromo impe personagem a paralisia fsica, sucessivas interrupes da rememorao e a tortura de traduzir o contacto com a objetiva impotncia coletiva em ntimo sentimento de culpa. As frases rasas e entrecortadas da narrao aludem dor das personagens, bloqueiam a fluncia da leitura, quebram o ritmo da respirao do leitor e a ele transferem a angstia. Os textos referentes a 92, ao encontro entre o filho de Ilse e Miranda, pautam-se tambm pela concentrao de espao e tempo. Novamente encontra-se a um espao que no tem as marcas das personagens; so hotis, ruas e cafs. Esse fio de ao tambm se entrelaa com o da rememorao, mas a para dar conta de um passado mais amplo, que se abre em espiral cujas lacunas no so quebras provocadas pela urgncia frente a morte; so reticncias impressas pelo pudor que resguardam as personagens de narrar vergonhosas situaes vividas. Em meio a lacunas acompanhamos a descontinuidade de histrias de trs geraes. Miranda, Ilse e Herschel. Miranda evoca Berlim, Espanha, Paris ocupada, Auschwitz, o retorno, as filas de informao sobre os deportados, a dor e a solido desse velho sozinho que no pde reconstruir sua vida. o sobrevivente de no 78798. A voz de Ilse nos chega pela reproduo de trechos de seu dirio que ela havia depositado em uma caixa de segurana de um banco; a herana que deixou ao filho. O amor culpado de Dalmases pela adolescente Ilse est registrado nas cartas semanais enviadas Amrica, no ato de doar seu nome a Herschel, nas conversas telefnicas entre ambos depois da morte dela. O passado de Herschel contm muitos vazios: vem em cenas silenciosas de sua vida e em perguntas para as quais no tivera nem encontra agora respostas como, por exemplo, a referente a seu pai biolgico que, pela suposio de Miranda, seria um dos tantos homens que a me encontrava em noites desesperadas de insnia ou sonferos.Assim a descontinuidade da vida de cada personagem se repe nessa desordem de fragmentos, na ausncia de espaos personalizados, nos vazios ou reticncias que ocupam o lugar das respostas. A dificuldade de acesso ao auto-conhecimento das personagens e a limitao da compreenso imposta ao leitor se aloja na tenso permanente entre concentrao e disperso de espaos, na impossibilidade de encaixar restos do passado com o presente, nas pausas mltiplas de silncio imposto pelas circunstncias da vida de cada um e nas quais incidem as circunstncias do prosesso histrico. Faces sem contornos precisos atravessam pases, oceanos e dcadas e oferecem as marcas deste sculo de horror sem fronteiras. Esse o legado que Herschel recebe e a herana que o romance nos transmite.REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:ADORNO, T.W. Crtica cultural e sociedade. In Prismas. Trad. Augustin Wernet e Jorge Mattos Brito de Almeida. So Paulo: tica, 1998.ARENDT, H. Eichmann em Jerusalm. Um relato sobre a banalidade do mal. Trad. Jos Rubens Siqueira. So Paulo: Companhia das Letras, 1999.GAGNEBIN, J.M. A (im)possibilidade da poesia. Cult, So paulo, n. 23, p.48-51, jun.1999.HEGEL, G.W.F. Fenomenologa del espritu. Trad. Wenceslao Roces. Mxico: Fondo de Cultura Econmica, 1991.LEVI, P. Os afogados e os sobreviventes. Trad. Luiz Srgio Henriques. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.LEVI, P. A trgua. Trad. Marco Lucchesi. So Paulo: Companhia das Letras, 1997.LEVY, C. et TILLARD, P. La grande rafle du vel d''hiv. (16 juillet 1942). Paris: Robert Lafont, 1992.SALABERT, J. Veldromo de invierno. Barcelona: Seix Barral, 2001.1 Uma anlise esclarecedora desse percurso da reflexo de Adorno sobre a questo encontra-se em: GAGNEBIN, J. M. A(im)possibilidade da poesia . Cult, So Paulo, n. 23, p.48-51, jun.1999. 2 Alguns documentos e depoimentos sobre esse acontecimento encontram-se em: LVY, C. et TILLARD, P. La grande rafle du vel d'hiv (16 juillet 1942).Paris: Robert Lafont, S.A., 1992. Juana Salabert agradece os autores desse livro cuja primeira verso foi publicada em 67. 2008 Associao Brasileira de Hispanistas

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