Décimo Terceiro Boletim de Física e Espiritualidade 13 - Espaço...meu filho, qual vestibular...

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Décimo Terceiro Boletim de Física e Espiritualidade Espaço, Tempo e a Teoria da Relatividade de Einstein

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Décimo Terceiro Boletim de Física e Espiritualidade

Espaço, Tempo e a Teoria da Relatividade de Einstein

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A ESPIRITUALIDADE E O MEIO ACADÊMICO (minha experiência)

Quando meu irmão Rodolfo Damiano, do Departamento Acadêmico da Associação Médico-Espírita do Brasil, me escreveu solicitando para falar um pouco sobre o título acima confesso que veio em minha mente um turbilhão de sentimentos e pensamentos, de memórias, de angústias, de saudades, de anseios e frustrações, de realizações, também, claro, mas, sobretudo de um chamado. Um chamado que vem de minha tenra infância, que quando era perguntado para mim o que eu queria ser quando crescesse, e eu dizia que iria ser piloto de jato e médico! Resposta esta que muito agradava meu pai e minhas três mães (sim, eu tinha este privilégio: a minha mãe natural, que adorava aviões, minha avó materna e minha madrinha, que é prima de minha mãe e era formada como médica psiquiatra e espírita cuja qual nem preciso dizer qual era a sua torcida com relação ao meu futuro profissional...). Mas já havia algo dentro de mim esquisito que me colocava nesta sensação: de que alguma tarefa marcante para o aprendizado e a evolução do meu pobre espírito nesta encarnação havia no meu íntimo, sem saber o que direito ainda. Imaginem vocês se era possível levar estas duas carreiras concomitantemente... Somente mesmo uma criança para dar uma resposta assim tão lúdica e imaginária. Por questões de planejamento reencarnatório, nasci nesta vida numa família onde boa parte já era espírita, e que este bate-papo com o além era algo normal, o que a meu ver de hoje me facilitou e muito o entendimento de várias situações pessoais e do mundo. Bem, o tempo foi passando, mudei-me de cidade, por questões familiares, da capital paulista para o litoral, onde estou até os dias de hoje, e aqui fui levando minha vida, como qualquer família de classe média, misturada de momentos fáceis e outros nem tanto, filho único, com medos e esperanças de conquistas na vida para um futuro vindouro. Até que chegou um tempo, já na adolescência, finalizando o terceiro ano do colegial, atualmente conhecido como ensino médio, onde aquela famosa pergunta que requer uma escolha mais do que imediata e às vezes precipitada pela imaturidade da própria idade, que todos os pais fazem para seus filhos por volta desta fase da vida: “e aí, meu filho, qual vestibular você vai prestar?”. Eu recebi esta pergunta por parte da minha mãe, confesso, já estava de férias, pois sempre fui um aluno mediano, sem dar grandes trabalhos nos estudos, e já era o finzinho de novembro de 1989, acordando num sábado ensolarado de manhã, tomando ainda na cama aquele famoso achocolatado com leite fresco, meu hábito diário. Ainda meio que sonolento e preguiçoso, olhei para minha mãe, que tanto estimo e grande mulher guerreira na vida, e respondi inconscientemente ou impulsivamente, não sei até hoje, mas com uma verdade muito forte aqui dentro do peito, que faria o vestibular para medicina. A percepção que eu tive depois daquela noite de sono, foi de que logo depois que eu dei esta resposta a ela foi que se eu não fizesse isto, escolhesse este caminho de tentar ser médico, sairia desta história com a sensação de que estava devendo alguma coisa nesta vida. Percebi também que naquele momento primaveril o mundo estava acabando de perder um futuro piloto de jato. E assim foi. Candidatei-me à peneira do vestibular e não passei. Comentamos a época, que o meu colegial não havia sido tão forte assim, e parti no ano seguinte para o famoso cursinho. Ao fim de 1990, tentei, passei para a segunda fase de duas grandes universidades públicas no estado de São Paulo e mais nada além disto. Noutras seleções das faculdades particulares, longe classificação. Questionei comigo, com meus parentes e amigos, se naquele momento haveria feito a escolha certa e todos me reanimaram para seguir adiante no ano seguinte. Mas, refazer o cursinho no mesmo local, professores e suas piadas, era aquela sensação de haver repetido o ano, coisa que nunca havia acontecido na fase escolar, de eu estava assistindo ao mesmo filme, sabendo de antemão o seu epílogo, sem as garantias de um final feliz. Aquele ano se arrastou. Por fim, novas provas, novas expectativas. Não fui aprovado, como no ano anterior, naquelas duas universidades públicas às quais me referi algumas linhas atrás, daí logo pensei: o filme vai se repetir, nova frustração. Mas para surpresa minha e até da minha torcida, a boa notícia chegou, a tão esperada passagem para a faculdade de medicina. E em quatro cidades diferentes, poderia até escolher: interior, capital ou litoral, que luxo! Optei por questões financeiras, estudar na cidade onde morava e todos ficaram muito felizes! E 1992 começou. Assim, veio o trote, a cabeça raspada, passei

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mesmo! Agora sou o tal, com camisa da faculdade e de todas as cores, uma para cada dia da semana, agasalho com o nome, boné e tudo o mais que achava que tinha direito. O orgulho e a vaidade de fazer uma faculdade de medicina e de querer que todos saibam! Onde estava naquele momento, aquela espiritualidade pessoal que me instruiu junto à minha família ao longo do tempo? Talvez o trote, sem violência claro, aconteça para o calouro, recém-chegado como eu era, não ficar se achando o tal mesmo. Lembro-me do encantamento da primeira aula de anatomia, também confesso aqui nestas linhas, que tinha um pouco de medo dos cadáveres, ou medo de passar mal ao vê-los, ou até de incomodar aos seus espíritos, quanta neurose eu tinha. Lembro que a faculdade providenciou até uma missa (e não um culto ecumênico) na aula inaugural por respeito aos irmãos que emprestavam os seus corpos para os estudos e também para explicar o agradecimento que nós, estudantes, tínhamos que ter para com eles por estarem ali nas aulas teórico-práticas. Porém, logo após este ato, um dos professores da disciplina de anatomia em sua primeira frase junto à turma de 120 jovens alunos, com mil pensamentos na cabeça e com um caráter ainda em formação, solta a seguinte pérola, ou melhor, frase: “a partir de hoje vós sois Deuses!” e veio com outra logo depois: “vocês vão ter o poder nas vossas mãos, de decidir sobre a vida ou a morte de alguém”. Nossa, que impacto. Todos nós nos olhamos naquele momento e um silêncio se fez por alguns instantes. Eu não sabia se eu queria sair de lá correndo ou se encarava tudo o que estava por vir. Eu fiquei. Notava-se ali a semeadura da soberba nas mentes daqueles menos aptos a filtrarem o que estavam ouvindo naquele discurso da aula primeira. A magia de se vestir a famosa roupa branca, de um status, de um poder divino, ou quase, sobre a hierarquia de um hospital, como se todos os demais profissionais da área da saúde fossem de segunda categoria. E muito disto se sucedeu em muitas outras oportunidades ao longo daqueles seis anos. Lembro-me de que alguns colegas de turma já encarnavam este papel de “doutor” já ali tão precocemente. Claro que em outras disciplinas daquele primeiro ciclo e nos outros que se sucederam, ouvimos discursos maravilhosos humanitários de outros professores citando a importância da missão do médico em curar, amenizar dores, o fato de não poder falhar nunca, o que já nos causava o início de uma pressão psicológica, e aprender a atender e servir ao outro ser humano, fosse quem fosse, estivéssemos num hospital público ou particular. Porém, a necessidade do estudante era naquele momento, mais de aprender, ou decorar, ou colar, a matéria para se passar de ano, direto de preferência, sem exames de primeira ou segunda época no intenso calor de dezembro, pois se tratava de uma instituição particular e precisávamos das merecidas férias, e não de ficar prestando atenção num discurso humanístico ou de políticas públicas de saúde, cheio de blá-blá-blá. E como muitos tiravam sarro e faziam cara de pouca paciência, quando alguns heroicos e poucos professores que eram mais ousados, dividiam conosco suas experiências na prática médica fora dos muros da universidade. Enfim, as disciplinas foram se sucedendo naquele desfile de conhecimento sobre o corpo humano e nada sobre a alma humana. Questionava comigo e com a minha família a questão espiritual, sobre o viver e o morrer, e o intervalo de tempo entre estes verbos, o lado de cá e de lá, mas não havia percebido espaço para dividir com nenhum colega de turma que compartilhasse algum destes questionamentos. Primeiramente, as mais básicas matérias do curso vieram, como a já citada anatomia, junto com histologia, biologia, bioquímica, biofísica, a temível e fantástica fisiologia, patologia, propedêutica, farmacologia, etc. Depois, foram chegando todas as especialidades médicas que temos conhecimento e o meu encantamento e dificuldades com algumas delas. E a seguir, o início das experiências in loco no hospital universitário junto ao prédio da faculdade, a partir do terceiro ano, se intensificando no quarto ano, e logicamente no internato do quinto e sexto anos finais, o que também provocava em mim alegrias e frustrações. Fomos aprendendo com o tempo que nossa formação profissional estava preocupada somente em se fazer um diagnóstico médico, com muitos exames prévios, afinal de contas o paciente quer saber o que ele tem, precisa de um rótulo, chique de preferência. Depois teríamos que propor um tratamento clínico medicamentoso ou cirúrgico conforme cada caso e só. Pouco se falou sobre a importância da relação médico-paciente, a morte e o morrer, muito menos sobre espiritualidade e religiosidade. Parecia que a formação acadêmica se esquecia do

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mais óbvio: de que antes de sermos médicos, nós somos pessoas iguais a todos nesta terra, com qualidades e defeitos onde o tempo e as nossas escolhas perfazem o nosso futuro daqui e de lá. Porém, neste meio tempo, durante uma aula teórico-prática na disciplina de técnica cirúrgica, no terceiro ano, dois professores cirurgiões do aparelho digestivo, começaram a perguntar, talvez de uma maneira aleatória e muito discretamente, sobre estas questões de espiritualidade para alguns alunos da minha turma e na própria bancada onde éramos uns quatro ou cinco e estávamos aprendendo a fazer procedimentos de suturas ainda num pano verde, muito antes de se fazer num animal como cobaia ou num ser humano, o que mais cedo ou mais tarde aconteceria. Chegaram os dois perto de mim, os Drs. Fernando Augusto Garcia Guimarães e Décio Iandoli Júnior, como se não quisessem nada e perguntaram: “Flávio Braun, você tem alguma religião?”. Pensei, puxa, porque é que eles querem saber disso, mas respondi que sim e que era espírita, como minha família. Percebi que os olhinhos deles brilharam naquele instante com um sorrisinho de soslaio meio maroto. Ao final da aula vieram falar comigo e disseram que queriam abrir um grupo de estudos com acadêmicos de medicina sobre saúde e espiritualidade, onde estudaríamos alguns livros de Allan Kardec e Chico Xavier/André Luiz e a sua correlação com a medicina tradicional, faríamos até trabalhos com pesquisas no hospital universitário, e tudo o mais que quiséssemos. Naquele instante, senti aquele velho chamado da infância e da adolescência na escolha do vestibular se fazer presente dentro do meu coração mais uma vez. E, juntamente com uns dez ou doze amigos, fundamos ali o primeiro grupo de estudos de medicina e espiritismo da Faculdade de Ciências Médicas de Santos, o GEME, em 1994. Grupo este, que talvez tenha sido o primeiro do Brasil, não sei ao certo, desculpem-me sobre a falta desta informação mais precisa. Neste mesmo ano a Associação Médico-Espírita da Baixada Santista já estava formada, onde Fernando e Décio faziam parte e fomentaram a ideia de capitanear e atrair os futuros profissionais de saúde junto à este movimento. Nós alunos, nos reuníamos semanalmente com nossos orientadores e com muita empolgação, organizamos palestras, posteriormente jornadas e assim se fez e se faz até os dias de hoje, dezoito anos depois. Altos e baixos fizeram parte deste movimento sim. Oposições, sarros, disseram até que íamos tocar bumbo e evocar espíritos lá dentro da faculdade, fato que nunca aconteceu, eu juro! E num dia qualquer, destes anos que se passaram, não nos aceitaram como uma liga no diretório acadêmico e direção da faculdade, pois se alegava que não eram estudos científicos e o grupo foi literalmente proibido de se reunir das dependências da faculdade ou do hospital universitário. A ideia e a boa vontade não diminuíram e a turma, já com outros acadêmicos, pois o tempo passa e minha formatura profissional já havia chegado, continuou se reunindo dentro das instalações da Universidade Santa Cecília, na mesma cidade de Santos, que os abraçou prontamente, pois toda a sua direção também tinha orientação espírita. Enfim, este foi o nosso começo. Depois, muitos outros corajosos e empolgados movimentos acadêmicos universitários de várias associações médicos-espíritas de várias cidades e estados do Brasil surgiram engrossando este coro de amor na medicina, realizando planos e eventos de norte a sul. Para finalizar estas minhas rememorações, gostaria de dizer que a espiritualidade maior trabalha em várias frentes e este chamado interior é de cada um e cada um tem o seu tempo, tarefa e compromisso, sem julgarmos nada e ninguém. A semente de hoje é sempre o fruto do amanhã que deixaremos para os outros e para nós mesmos, afinal reencarnaremos sempre. Sou muito grato a Deus por aqueles que estavam e estão comigo, encarnados e desencarnados, e pelas oportunidades que tive nesta vida! Abraços fraternos!

Flávio Braun.

Primeiro pres. GEME-1994 e atual pres. AME-Santos – outubro de 2012.

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BOLETIM 13 – FÍSICA E ESPIRITUALIDADE

Prof. MARCUS VINÍCIUS – AMEABC

[email protected] – Outubro/2012

Queridos irmãos, dando continuidade aos nossos estudos de fundamentos físicos para a

compreensão da espiritualidade e seus fenômenos correlatos, abordaremos nesse boletim discussões

iniciais sobre o problema do espaço e do tempo. Mesmo que essa discussão venha sendo abordada

desde a Antiguidade, tomaremos como ponto de partida de nossa análise a concepção que Newton

apresentou sobre espaço e tempo. Compreender essas ideias auxiliará muito o entendimento, no próximo

boletim, das ideias einsteinianas e isso formará o fundamento necessário para que compreendamos o

que os espíritos nos dizem sobre espaço e tempo. Espero que todos apreciem esse estudo!

RELATIVIDADE RESTRITA - ESPAÇO E TEMPO REVISITADOS

Há muito tempo, a humanidade tem se debruçado sobre os conceitos de espaço e tempo. Trata-

se de uma discussão muito longa e que é impossível de ser tratada da forma que merece. Faremos aqui

apenas um recorte, abordando uma discussão bem mais recente, mas que conduz a uma revolução dos

conceitos de espaço e tempo, a teoria da relatividade de Einstein.

1. O ESPAÇO NA MECÂNICA NEWTONIANA

Em 1687, quando da publicação da obra newtoniana Princípios Matemáticos da Filosofia Natural,

Newton apresenta, na introdução do livro (que ele chama de Escólio) as bases de sua concepção de

espaço e tempo.

De modo a compreender o problema, atentemo-nos para um ponto importante: no século XVII,

os filósofos naturais tratam o problema do espaço como decorrente do problema da distinção entre

extensão e matéria. Para alguns, como Descartes, matéria e extensão se confundem. A matéria ocupa

uma extensão com suas três dimensões (comprimento, largura e profundidade) e é a posição desse

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corpo, rodeado de matéria, que lhe garante atribuir a extensão. Se um corpo não possuir extensão, então

não há matéria o preenchendo e segue-se. daí, que não há matéria sem extensão e vice-versa. Muitos

desses filósofos eram partidários, à época, da teoria do horror ao vácuo, que afirmava que a "a natureza

tem horror ao vácuo".

Do outro lado, outro grupo de filósofos entendiam que era possível descolar matéria e extensão.

De fato, um corpo possui extensibilidade como atributo devido ao fato de ocupar um ligar no espaço, mas

estes filósofos defendiam que mesmo que tudo fosse retirado, ainda permaneceria uma espécie de

extensão que permearia tudo e com potencialidade de ser ocupado de matéria. Newton era forte

partidário dessa ideia.

Aprendemos na escola que o movimento ou repouso de um corpo dependem de um referencial.

Assim, como estou sentando em frente ao computador nesse momento, estou em repouso em relação ao

chão do meu quarto, mas em movimento em relação a um avião que voa sobre mim. Outros exemplos

podem ser dados e eles conduzem à ideia de que o estado de movimento de um corpo depende da

escolha de referencial, não existindo movimento ou repouso absolutos. Sempre é possível

encontrar um referencial no qual determinado corpo esteja em repouso ou em movimento. Nesse

sentido, aquela velha discussão sobre se é a Terra que gira ao redor do Sol ou se é o Sol que gira ao

redor da Terra perde completamente o sentido, pois tudo dependerá de quem será escolhido como

referencial.

Figura 22: Terra ou Sol no centro?

(http://www.vestibulandoweb.com.br/fisica/teoria/fundamentos-cinematica.asp)

Esse assunto é razoavelmente conhecido por qualquer estudando iniciado no estudo das

ciências físicas. No entanto, Newton dispunha de um ponto de vista que não era exatamente esse. Para

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ele, de fato eu poderia determinar o movimento ou repouso de um corpo em múltiplos referenciais e

atribuía a qualquer desses referenciais a denominação de movimento relativo. No entanto, Newton

acreditava que existia um referencial absoluto, o qual poderia servir de referência para se determinar o

movimento verdadeiro de um corpo.

Esse referencial especial Newton chamava de espaço absoluto. Lembremos que Newton era

partidário da distinção entre matéria e extensão e, portanto, mesmo que não houvesse matéria, subjazia

ali a extensão, um espaço que independia da matéria.

Assim, caso desejasse determinar o movimento verdadeiro de um corpo, bastaria, para tanto,

determinar o movimento de um referencial usado qualquer em relação ao absoluto.1 Newton (1990) cita

que:

O espaço absoluto, em sua própria natureza, sem relação com qualquer coisa externa, permanece sempre similar e imóvel. Espaço relativo é alguma dimensão ou medida móvel dos espaços absolutos, a qual nossos sentidos determinam por sua posição com relação aos corpos, e é comumente tomado por espaço imóvel; assim é a dimensão de um espaço subterrâneo, aéreo ou celeste, determinado pela sua posição com relação à Terra. Espaços absolutos e relativos são os mesmos em configuração e magnitude, mas não permanecem sempre numericamente iguais. Pois, por exemplo, se a Terra se move um espaço de nosso ar, o qual relativamente à Terra permanece sempre o mesmo, em um dado tempo será uma parte do espaço absoluto pela qual passa o ar, em um outro tempo será outra parte do mesmo, e assim, entendido de maneira absoluta, será continuamente mudado. (Newton, 1990:7)

Assim, se conheço o movimento que um corpo possui em relação à Terra (������������), posso conhecer

o movimento verdadeiro do corpo ����������. , somando esse movimento com o movimento da Terra em

relação ao espaço absoluto (�����������. Em termos matremáticos:

������ � ������������ �����������

Naturalmente, Newton teve de mostrar como esse movimento, em relação ao absoluto poderia

ter sido medido e isso fica explícito em seu famoso experimento, conhecido como Balde de Newton. Não

o descreveremos aqui, mas o artigo exposto sugerido na página anterior mostra, em detalhes, esse

experimento. Mais tarde, exporei minha firme convicção de que Newton, ao falar do absoluto, intuía

1 Consultar para mais detalhes: http://www.nexos.ufsc.br/index.php/peri/article/view/41.

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fortemente suas lembranças anteriores à sua reencarnação e, na verdade, fazia menção ao fluido

cósmico universal.

Vale mencionar que, nesse mesmo artigo, são apresentadas possíveis motivações para a

escolha newtoniana pelo absoluto centradas nas convicções teológicas de Newton (Newton era pastor da

igreja anglicana, fato comum a todos que frequentavam a Universidade de Cambridge no século XVII).

Este era representante da teologia natural e os adeptos dessa corrente de pensamento afirmavam que a

melhor forma de provar a existência de Deus era estudar sua criação. Compreender as leis da natureza

era, num certo sentido, uma evidência clara da existência de uma inteligência superior que nos conduz.

As leis da natureza eram como lapsos do funcionamento da mente do Criador. Newton, ao estudar a

natureza, acreditava, ao mesmo tempo que reverenciava Deus, estar se aproximando dele a partir de Sua

Obra.

Como os textos sagrados sugeriam a existência de Um Deus onipotente, onipresente e

onisciente, Newton via no absoluto uma forma de colocar Deus em permanentemente em contato com

suas criaturas. O absoluto, nesse sentido, era a manifestação da abundância divina. Deus estava sempre

ciente do que fazíamos porque Ele preenchia toda a extensão.

Disso tudo decorre, portanto, que espaços e tempos transcorrem independentemente de um

observador que as experiencie. Certamente é uma tese provocadora e que encontrou, desde sua

publicação, valiosos contestadores. À mesma época de Newton, Leibniz foi severo adversário de suas

ideias. Leibniz era um relativista e defendia, em linhas gerais, de que todos os movimentos só podiam ser

medidos relativamente a outros corpos. Também criticava a tese do absoluto como onipotência divina,

pois acreditava que ela, em algum sentido, materializava a divindade, algo que reduzia, em peso e

grandiosidade, a manifestação de Deus.2

Outros importantes nomes defenderiam concepções semelhantes: Berkeley se opõe à doutrina

newtoniana à mesma época, enquanto outros, como Ernst Mach, no século XIX, se colocam vigorosos

contra o absoluto. Para um estudo mais detalhado dessas críticas, ler a dissertação de mestrado

mencionada abaixo. 3

Outra forma interessante de discutir o problema do espaço e do tempo é apresentada no século

XVIII por Immanuel Kant, filósofo central, dado seu empreendimento de compreender a estrutura da

razão humana. Em sua obra Crítica da razão pura, Kant se coloca em uma tarefa nunca antes proposta

na história do conhecimento: muitos filósofos haviam tentado explicado as questões humanas, investiram

2 É importante perceber que, nessa época, era extremamente comum o debate acerca da natureza transitar por áreas teológicas. De fato, essa ruptura entre "ciência"e fé é algo que começa a se estabelecer no século XVII, mas que ainda se encontra fortemente presente, como se vê, em Newton e em outros filósofos da época. 3 http://www.usjt.br/biblioteca/mono_disser/mono_diss/2011/161.pdf

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em posturas empiristas ou mais racionalistas, mas nenhum antes buscou compreender quais as bases da

razão humana e em que ela se funda. Não pretendo aqui expor as alinhas gerais do pensamento

kantiano, assumindo sua extrema dificuldade e a dificuldade que tal empreitada me imporia, dados meus

parcos recursos intelectuais, mas é fato que Kant apresenta uma forma extremamente nova de olhar a

questão do espaço.

Num dos capítulos da Crítica, que Kant chama de Estética Transcendental, diz que "os objetos

nos são "dados" pelos sentidos, ao passo que são "pensados" pelo intelecto (2007, p.874). Façamos um

rápido levantamento dos fundamentos da doutrina kantiana. Sensação é algo que o objeto produz sobre o

sujeito. Sensibilidade é a capacidade que temos de sermos afetados pelos objetos a nossa volta. Quando

nos deparamos com um objeto, ocorre a intuição e essas intuições, por meio da sensibilidade,

constituem a matéria prima com o qual nosso intelecto capta o mundo a seu redor. Quando intuímos,

captamos o fenômeno, como o objeto aparece a nós. Kant afirma que não captamos as coisas como são,

mas como a sensibilidade as recebe. Como o objeto afeta o sujeito no momento da intuição, temos

acesso apenas a esse produto oriundo do movimento intuitivo. Os fenômenos possuem matéria e forma,

a matéria sendo dada pelo objeto e a forma, pela intuição. A intuição pode ser empírica ou pura. Em nível

basal, as intuições puras conferem a forma com que vemos os objetos ao redor e são propriedades do

intelecto. Aqui chegamos ao ponto que nos interessa: Kant sugere duas formas de intuição puras, o

espaço e o tempo.

Figura 23: Capa original da obra "Crítica da razão pura" de Kant

Isso significa que, em Kant, captamos o mundo sob certas formas que são limitadas pela

condições de nosso intelecto. Se o espaço nos parece tridimensional, é porque nosso intelecto nos limita

a essa percepção. Fossemos espíritos dotados de um intelecto mais expandido, talvez pudéssemos ver

espaços multidimensionais, algo importante em tempos, como os nossos, em que a Física estuda a

cosmologia falando em universos múltiplos e multidimensionais.

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Oportunamente, abordaremos como a doutrina espírita parece concordar com a tese kantiana,

ao mostrarmos o mecanismo de captação da realidade via intuição e sua respectiva tradução pelo

aparato corporal de que dispomos. André Luiz trata disso de forma bastante completa em sua obra

Mecanismos da Mediunidade.

Voltando ao problema do espaço e tempo, vemos que Kant sugere que nossas percepções de

espaço e tempo estão limitadas por nosso intelecto. Kant se alinhou, no início de sua vida, com as ideias

newtonianas de espaço e tempo, rompendo, em certa medida, mais tarde com elas, quando do

desenvolvimento de sua epistemologia.

Conforme mencionado, Ernst Mach, na segunda metade do século XIX, apresenta suas ideias

de espaço e tempo, contrárias ao absoluto newtoniano. Elas guardam, em seu âmago, as sementes do

que seriam as bases da teoria da relatividade de Einstein. Mach é um relativista quanto ao espaço e

tempo e, usando de ideias um tanto similares às de Berkeley, dado seu alinhamento fenomenalista com o

primeiro, lança importantes bases da nova mecânica que eclodiria no início do século XX, a Teoria da

Relatividade e a Mecânica Quântica.

Figura 24: Bala se deslocando em estudos de Mach sobre o som

(http://www.aerospaceweb.org/question/history/q0149.shtml)

CONCLUSÃO

A discussão do espaço ganha contornos importantes na segunda metade do século XIX e um

estudo mais detalhado mostra como várias correntes filosóficas da época se debruçam sobre o tema.

Não coincidentemente, matemáticos estudam as geometrias não-euclidianas, abrindo a possibilidade de

compreensão de realidades multidimensionais que, a essa época, pareciam apenas serem curiosidades

teóricas. Se verificarmos que também nessa época a codificação espírita nos é apresentada,

apresentando liames da vida espiritual, em que espaço e tempo são conceitos inexistentes, vemos, mais

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uma vez, a atuação da engenharia espiritual, colocando-nos em condição de entender, mesmo que

superficialmente, tais problemas, por termos conquistado, por nossos esforços, a condição de ascender,

mais um pouco, na senda espiritual, alargando nossa compreensão da realidade. Como sabemos, esse

processo é sem fim e que possamos ser, dia após dia, ser digno de tais ensinamentos, sob a égide

abençoada de Jesus.

Até o próximo boletim!

Bibliografia

Luiz, André. Mecanismos da Mediunidade: a vida no mundo espiritual. 26ª edição. Rio de Janeiro: FEB,

1959.

Ferreira, Paulo Antonio. Universo dual: a estrutura da matéria segundo os espíritos. Apostila

psicografada.

Eisberg, R. & Resnick, R. Física Quântica. 14a Edição. Rio de Janeiro: Campus Editora, 1979

Jammer, Max. Concepts of Space: the History of theories of space in Physics. Nova Iorque: Dover

Publications, 1993.

Disalle, Robert. Understanding Space and Time. 3a edição. Cambridge: Cambridge University Press,

2008.

Koyré, Alexandre. Do mundo fechado ao universo infinito. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária,

1979