Das subculturas às pós culturas juvenis, João Freire Filho[1]

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Joo Freire FilhoContemporanea - Revista de Comunicao e CulturaJournal of Communication and Culture 138Das subculturas s ps-subculturas juvenis: msica, estilo e ativismo polticoJoo Freire Filho*O Centro de Estudos Culturais Contemporneos da Universidade de Birmingham conhgurou, nos anos 1970, um novo paradigma interpretativo para os estilos e as atividades das subculturas juvenis da classe trabalhadora surgidas no ps-guerra. Neste artigo, argumento que - a despeito de sua utilidade para o avano noentendimentodarelaoentrejovens,formaoidentitriaeculturado consumo - o aparato conceitual do CCCS (em particular, a noo de resistncia) necessita ser revisto e rehnado teoricamente, a hm de ajustar-se a proeminentes tendncias nas prticas polticas e culturais juvenis.Jovens, Msica, Estilo, Poltica, Estudos Culturais.In the 1970s the Birmingham Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS) developedanewandinfuentialparadigmforunderstandingtheactionsand symbolic creativity of post-Second World War working-class youth subcultures. Although it was a relevant contribution to the comprehension of the relationship between youth, identity formation and consumer culture, the CCCS theoretical frameworks (especially the notion of resistance) needs to be revised in order to take account of recent trends in youth cultural and political practices.Youth, Music, Style, Politics, Cultural Studies.*Joo Freire Filho jornalista e doutor em Literatura Brasileira pela PUC-RJ. Profes-sor-adjunto da Escola de Comunicao da UFRJ. ([email protected])Contemporanea, Vol. 3 - no 1 - p 138 - 166 - janeiro/junho 2005 139Das subculturas s ps-subculturas juvenisDanslesannes1970, LeCentredestudesCulturellesContemporainesde lUniversitdeBirminghamadveloppunnouveauparadigmeinterprta-tifpourlesstylesetactivitsdessous-culturesjeunesdelaclasseouvrire daprs-guerre.Malgrsoncaractreutilepourledveloppemententoutce qui concerne la relation parmis les jeunes, leur formation identitaire et la cul-ture de consommation, lapparat conceptuel do CCCS (en particulier, la notion de rsistance) a besoin dune revision et dun rafhnement thorique, pour quil puissesadapterauxtendancesdavangardedanslespratiquespolitiqueset culturelles des jeunes.Jeunes, Musique, Style, Politique, tudes Culturelles. En los aos 70, el Centro de Estudios Culturales Contemporneos de la Universi-dad de Birmingham desarroll un nuevo paradigma interpretativo para los estilos y las actividades de las subculturas juveniles de la clase trabajadora surgidas en la posguerra. Argumento en este artculo que - a pesar de su utilidad para el avance en la comprensin de la relacin entre los jvenes, la formacin identitaria y la cultura del consumo -el aparato conceptual del CCCS (principalmente la nocin de resistencia) necesita ser revisado y rehnado tericamente para ajustarse a las importantes tendencias en las prcticas polticas y culturales juveniles.Jvenes, Msica, Estilo, Poltica, Estudios Culturales.Joo Freire FilhoContemporanea - Revista de Comunicao e CulturaJournal of Communication and Culture 140H exatos 30 anos, o Centro de Estudos Culturais Contempor-neos da Universidade de Birmingham publicou a edio especial do seu Working Papers in Cultural Studies dedicada aos interesses e s prticas que, na Inglaterra do ps-guerra, arregimentavam os jovens dos meios populares. Relanada em 1976, com o emblemtico ttulo de Resistance through rituals (Hall & Jefferson, 1976), a coletnea de monograhas sobre teds, rockers, mods, rastafaris e skinheads almejava reformular, de maneira radical, o debate a propsito da chamada "cultura juvenil - epteto rotineiramente acionado, quela poca, por prohssionais da imprensa e do marketing, com intuito de qualihcar uma massa indiferenciada de pessoas de idade similar e de gostos e experincias ahns, distinta no s por sua juventude, mas tambm por seu estilo particular de consumo conspcuo, orientado para o lazer.AperspectivaedihcadapeloCCCS,noinciodosanos1970, ambicionava se manter eqidistante de duas representaes supina-mente estereotipadas da "cultura juvenil. Na tradio da Escolha de Chicago, seus formuladores tencionavam legitimar a vida subcultural juvenil, compreendendo-a como um comportamento social razovel e coerente, e no um sintoma de demncia ou iniqidade. Parale-lamente, os estudos culturais britnicos rechaavam a noo (em voga na retrica poltica, acadmica e jornalstica) de que a crescente afuncia do ps-guerra teria redundado na assimilao dos jovens da classe trabalhadora em uma cultura de consumo juvenil homog-nea - "um bloco social solidamente integrado (Laurie, 1965: 11), a nova classe juvenil do lazer cujo estilo de vida fulgurante (explorado, com freqncia, pelos publicitrios como smbolo de "modernidade e "prazer descomprometido) era o prenncio da prosperidade que logo, logo estaria ao alcance de todos.Na opinio amplamente compartilhada de Abrams (1964: 57-58), o estudo da sociedade em termos de classe havia se tornado, emtaiscircunstncias,cadavezmenosesclarecedor,comogap intergeracionalconstituindooprincipalmanancialdeconfitona Gr-Bretanha. Os pesquisadores da Escola de Birmingham ponde-ravam, contudo, que tais "interpretaes ideolgicas determinavam Contemporanea, Vol. 3 - no 1 - p 138 - 166 - janeiro/junho 2005 141Das subculturas s ps-subculturas juvenisa identidade da "cultura juvenil a partir, somente, de seus aspectos maisextraordinrios(msica,estilos,lazer),disfarandoerepri-mindo a relao do fenmeno com outras formaes culturais mais amplas da sociedade (a "cultura paterna, da qual os jovens eram umafrao,a"culturadominanteea"culturademassa)eas disparidades entre os diferentes estratos da juventude. Os estilos emergentes - ainda que, de fato, fossem indicativos de hbitos de consumo recm-adquiridos, intimamente ligados ao incremento das indstriasdolazeredamodaadolescente-simbolizavam,num nvel mais profundo, respostas (ou "solues) culturais dos jovens aos problemas ocasionados por sua experincia de classe (mediada pela gerao, pela etnia e - tal qual ser reconhecido mais tarde - pelo gnero). A proposta do CCCS era, em sntese, desconstruir e destronar o conceito mercadolgico de cultura juvenil e, em seu lugar, erigir umretratomaismeticulosodasrazessociais,econmicasecul-turais das variadas subculturas juvenis e de suas vinculaes com a diviso de trabalho e as relaes de produo, sem negligenciar as especihcidades de seu contedo e de sua posio etria e gera-cional (Clarke et al., 1976: 16). No se tratava meramente, pois, deproduzirinventriosdepadresdeconsumoeestilosdevida subculturais;eraimpretervelavaliarquefunoouso(criativo, inslito, espetacular) de artefatos da cultura de consumo, do tempo e de espaos territoriais assumia perante as instituies dominantes hegemnicas da sociedade.A partir da dcada de 1990, os estudos subculturais britnicos se tornaram alvo de sucessivas crticas (Bennett, 1999, 2000, 2002; Brown, 2004; Bennett & Kahn-Harris, 2004a; Carrington & Wilson, 2002; Gelder & Thornton, 1997; Harris, 1992; Hesmondhalgh, 1998: 303-310; Kahn-Harris, 2004; McGuigan, 1992: 89-123; Muggleton, 1997,2000;Negus,1996:12-35;Redhead,1990,1993,1997; Redhead et al, 1997; Skelton & Valentine, 1998; Thornton, 1995; Weinzierl & Muggleton, 2003a; Widdicombe & Woofhtt, 1995). Para alguns analistas, o relato pioneiro do CCCS a respeito do desenvol-vimento de subculturas juvenis claramente dehnidas e de sua pos-Joo Freire FilhoContemporanea - Revista de Comunicao e CulturaJournal of Communication and Culture 142terior incorporao pelos aparatos da cultura da mdia e do consumo se revela datado, frente a atual profuso e volatilidade de estilos, formaseprticas(sub)culturais;outroscrticosvomaisalm, argumentandoqueateoriasubculturalestavairremediavelmente enganada desde os seus primrdios.Astentativasderevisodostemas,dospressupostoseda metodologiadoCCCSresultaramnoestabelecimento,dentrodo contexto acadmico anglo-americano, de uma nova rea de inves-tigao - batizada, bem de acordo com a predileo hodierna por prehxos ambguos, de estudos ps-subculturais (Bennett & Kahn-Harris, 2004: 11-14; Muggleton, 1997, 2000; Weinzierl & Muggle-ton, 2003a). Seus principais marcos tericos: a sociologia do gosto de Bourdieu ([1979]1997), a teoria da performatividade de Butler (1990, 1993, 1997), o conceito de tribalismo de Maffesoli (1988) easnoescognatasdesociedadedoespetculoedeconsumo revisitadas por Baudrillard (1970, 1985, 2000) e Jameson ([1984] 1993, 1997). Combaseemumoumaisdosreferenciaissupracitados,os ps-subculturalistas aspiram, em linhas gerais, a reavaliar a relao entre jovens, msica, estilo e identidade, no terreno social cambian-te do novo milnio, em que fuxos globais e subcorrentes locais se rearticulam e reestruturam de maneira complexa, produzindo novas ehbridasconstelaesculturais(Weinzierl&Muggleton,2003b: 2). Como conseqncia deste esforo revisionista, proliferam novas terminologias (canais, subcanais; redes temporrias de subcorren-tes; cenas; comunidades emocionais; culturas club; estilos de vida; neotribos),emsubstituioaoconceitodesubcultura,cujovalor heurstico - alega-se - solapa diante das mutveis sensibilidades e mltiplas estratihcaes e interaes das culturas juvenis do ps-punk.No possvel, obviamente, contemplar, dentro da dimenso deste artigo, todas as objees (com variado grau de pertinncia) lanadascontraadoutrinasubculturaldaEscoladeBirmingham. Logo,entreasomisseseosequvocoscomumenteapontados, seleciono, para anlise mais pormenorizada no restante deste texto, Contemporanea, Vol. 3 - no 1 - p 138 - 166 - janeiro/junho 2005 143Das subculturas s ps-subculturas juvenisaquestobasilardaresistncianasociedadedoespetculoena cultura do consumo - qui, a mais controversa e afeita a interpre-taes distorcidas.Acrticaps-subculturalistaargumenta,emregra,queseus predecessoressuperestimaramosrituaisderesistnciajuvenil, conferindo-lhesimportnciapolticanodemonstradatericaou historicamente.Quemexamina,comateno,olegadodoCCCS encontra, todavia, um panorama mais complexo e nuanado.Conforme assinalei antes, a Escola de Birmingham situa a re-lao das subculturas juvenis com a cultura dominante num quadro terico de opresso, confito e luta. Clarke et al (1976: 45) faziam questo de frisar, no entanto, que nem todas as estratgias de luta tinhamomesmopeso;nemtodasseapresentavamcomouma soluo alternativa, potencialmente contra-hegemnica. Era o caso dasubculturasespetaculares:emborafossemformaessociais bastante concretas, identihcveis, possuam uma inegvel "dimenso ideolgica-acentuada,aindamais,naintrincadaconjunturado ps-guerra. Ao abordar a problemtica de classe do seu estrato de origem, forneciam, a segmentos da juventude da classe trabalhadora, uma estratgia para sobreviver e "conquistar espao cultural (tempo e lugares de diverso, circulao e manifestao). A forma deveras ritualstica e estilizada de suas respostas dominao social suge-ria, entretanto, que as subculturas constituam, tambm, tentativas de soluo para os dilemas da subordinao - expediente que, por encontrar-se ancorado fundamentalmente no nvel simblico, estava destinado ao fracasso.Os tericos do CCCS, sob infuncia da matriz althusseriana, aquilatavamopotencialsubversivodassubculturascomodrasti-camenteafetadopelono-reconhecimentodadiscrepnciaentre negociaes reais e resolues simbolicamente deslocadas - isto , pela incapacidade de hrmar suas "solues no terreno real onde as contradies de classe emergiam. Um tom de consternao marca orelatodecomoosjovensbuscavamresolver,deforma"imagi-nria,problemasque,noplanomaterialconcreto,permaneciam intocados:Joo Freire FilhoContemporanea - Revista de Comunicao e CulturaJournal of Communication and Culture 144Thus the "Teddy Boy expropriation of an upper class style of dress "covers the gap between largely manual, unskilled, near-lumpen real careers and life-chances, and the "all-dresses-up-and-nowhere-to-go experience of Saturday evening. Thus, in the expropriation and fetishisation of consumption and style itself, the "Mods cover for the gap between the never-ending-weekend and Mondays resumption of boring, dead-end work. Thus, in the resurrection of an archetypal and "symbolic (but, in fact, anachronistic) form of working-class dress,inthedisplacedfocusingonthefootballmatchandthe"occupation of the football "ends, Skinheads reassert, but "imaginarily, the values of a class, the essence of a style, a kind of "fan-ship to which few working-class adults any longer subscribe: they "re-present a sense of territory and locality which the planners and speculators are rapidly destroying: they "declare as aliveandwellagamewhichisbeingcommercialized,professionalizedand spectacularised (48).A convico de que as subculturas no consistiam num desaho efetivoformaosocialesualegitimidadeatravessa,tambm, outros textos cannicos da ortodoxia subculturalista. Adaptando as categorias de dominao, negociao e oposio cunhadas por Pa-rkin (1971), Clarke (1976) e Clarke & Jefferson (1976) asseveraram que a cultura juvenil no podia ter esperana de ser oposicionista, enquantooperasseunicamentenaesferadolazeredoconsumo - deslocamento que envolvia a supresso, em vez da transcendncia, de outras reas-chave (trabalho, famlia) em que as contradies eram geradas."Noamountofstylisticincantationcanaltertheoppressive mode in which the commodities used in subculture have been pro-duced, ratihcou Hebdige (1979: 130). Numa refexo posterior sobre o tema, o autor salienta as ambigidades congeniais da poltica da subculturas juvenis - construdas com os signos correntes, sob os discursos autorizados e em face das mltiplas disciplinas da famlia, da escola e do trabalho:The "subcultural response is neither simply afhrmation nor refusal, neither "commercial exploitation nor "genuine revolt. It is neither simply resistance against some external order nor straightforward conformity with the parent culture. It is both a declaration of independence, of otherness, of alien intent, a refusal of anonymity, of subordinate status. It is an insubordination. And at the same time it is also a conhrmation of the fact of powerlessness, a cele-bration of impotence. Subcultures are both a play for attention and a refusal, once attention has been granted, to be read according to the Book (Hebdige 1988: 35).Contemporanea, Vol. 3 - no 1 - p 138 - 166 - janeiro/junho 2005 145Das subculturas s ps-subculturas juvenisSem meta ou ao poltica mais generalizada e organizada, as subculturas juvenis da classe trabalhadora no podiam sustentar-se por longo perodo de tempo; no conseguiam crescer, convertendo-se em genunos movimentos de massa, aptos a produzir mudanas estruturais de larga-escala. As restries e a inviabilidade de tais formaesculturaishcavampatentes,quandoeramcomparadas com a carreira relativamente longa do movimento hippie. Naquela correntesubculturaldeclassemdia,emboraofocoprincipalde ateno fosse, igualmente, o lazer, irrompiam tentativas (limitadas, contraditrias)deprehgurarefomentarestratgiasalternativas para reas mais amplas da vida social - o trabalho, a produo e a sexualidade (Clarke, 1976: 191; Clarke et al., 1976: 57-71).J o potencial de resistncia dos estilos (originais e inquietantes) dassubculturasespetaculareseracontinuamenteesmaecidoem virtude de dois processos paralelos: a) reapropriao e comercializa-o, por agentes dos mercados publicitrio, fonogrhco e da moda; b) redehnio (consoante o quadro de referncias e interesses da cultura dominante), pela mdia de massa - seja por meio da estig-matizao e da criao de "pnicos morais (Cohen, [1972] 1980), nas primeiras pginas e nos editorais da imprensa, seja mediante aincorporaoquenormalizava,trivializava,domesticava(e,por vezes, saudava) determinados comportamentos como "tpicos dos jovens, "traquinagens passageiras, nos cadernos da famlia e de moda e nos suplementos culturais (Clarke, 1976: 185-189; Clarke & Jefferson, 1978: 157; Hebdige, 1979: 92-99).Resumindo:demasiadamenteinstveis,marginais,vulner-veis, as subculturas espetaculares causavam barulho, conquistavam espaosculturais,atraamosholofotesdamdiaeaatenodas instituies dominantes da sociedade, ocasionavam, eventualmen-te, mudanas repressivas na esfera judiciria, estabeleciam novas convenes, criavam modismos e... feneciam. O relato clssico dos tericos do CCCS a respeito da difuso-disperso-obliteraodassubculturasjuvenis(crnicadeuma morteanunciada...)contm,pelomenos,doispontosbastante problemticos.Aequao entreadivulgaodassubculturaseo Joo Freire FilhoContemporanea - Revista de Comunicao e CulturaJournal of Communication and Culture 146esmorecimento de seu carter insurrecional - a presumida tese da aceitao passiva e coletiva de estilos mercantilizados, destitudos de coerncia e substncia - despreza as inmeras possibilidades de reapropriao criativa e poltica (conservadora ou progressista) que o visual, a msica e o iderio subcultural original podem receber, em outros contextos temporais e espaciais. Uma subcultura pode ingressar no mainstream, apenas para, em seguida, retornar a ou-tros espaos subculturais (no seu foco primrio de propagao ou alhures), reinvestida com, pelo menos, parte do seu mpeto crtico inicial. No processo de irradiao e traduo da "matriz subcultural emdistintascondiessociaisepolticas,conotaescrticasori-ginrias so, por vezes, obscurecidas e novos focos de dissenso enfatizados. A viso unidimensional do circuito de difuso e incorporao das subculturas notabilizada pelo CCCS se fundamenta, em larga esca-la, numa interpretao equivocada da relao dinmica e refexiva entre os jovens e as vrias modalidades de mdia - responsveis por fornecer muitos dos recursos visuais e ideolgicos incorporados pelas identidades subculturais. Em sua pesquisa sobre as culturas club da Inglaterra, Thornton (1995) esboa um quadro mais internamente diferenciado deste com-plexo nebuloso chamado "mdia, distinguindo trs formas principais: a mdia de massa (jornais tablides; TV aberta; rdios nacionais); a mdia de nicho (imprensa musical, revistas de estilo, amide forma-das por prohssionais com ligaes anteriores ou ainda ativas com a arena subcultural); e a micromdia (fanzines, psteres, fyers). Cada uma delas contribui, sua maneira, efetiva e decisivamente para o signihcado, o agrupamento, a demarcao e o desenvolvimento das formaes sociais e ideolgicas dos jovens. Ainda que a autora delineie um perhl benevolente demais das indstrias culturais globalizadas, a nfase na multivascularidade da mdia , sem dvida, um bem-vindo corretivo para a viso monoltica cultivada pela teoria subcultural clssica. Sobressaem, todavia, no estudo de Thornton, algumas das mais caractersticas armadilhas da reviso ps-subculturalista. Contemporanea, Vol. 3 - no 1 - p 138 - 166 - janeiro/junho 2005 147Das subculturas s ps-subculturas juvenisAmparada numa releitura peculiar da obra de Pierre Bourdieu, a autora se dedicou a mapear relaes e hierarquias elitistas de gosto vigentes dentro da cena rave londrina, em vez de explicar, moda do CCCS, a lgica das escolhas estilsticas e musicais das culturas club em termos de sua oposio a "vagos corpos sociais (3) deno-minados "cultura paterna ou "cultura dominante. Tal abordagem tem o inegvel mrito de chamar a ateno para as sutilezas das interaes e dos confitos internos do universo subcultural. Ao mesmo tempo, porm, esta perspectiva analtica mina as subculturas juve-nis de qualquer dimenso macro-poltica, reduzindo todas as suas motivaes e prticas lgica da disputa entre clubbers e ravers pelo acmulo de capital subcultural1. Sob o eventual discurso poltico dos jovens, Thornton identihca, invariavelmente, a trama da distino social:These issues are clouded by the fondness that youth subcultures have for ap-propriating political rhetoric and frequently referring to "rights and freedoms, "equality and unity. This can be seen as a strategy by which political issues are enlisted in order to give youthful leisure activities that extra punch, that added je ne sais quois, a sense of independence, even danger. This is not evidence of the politicization of youth as much as testimony to the aestheticization of politics (167).No af de construir uma crtica das noes de oposio, desvio e resistncia do CCCS (ou pelo menos, da verso estereotipada que se conservou delas), Thornton radicaliza na direo oposta, suge-rindo ser possvel reinterpretar toda a histria das culturas juvenis dops-guerraemtermosdeembatesporcapitalsubcultural.A dinmicadadistinosetornara,segundoela,aindamaisbvia, nadcadade1990,caracterizadapeloextremoconservadorismo dos jovens - bem-versados nas virtudes da competio, venerando, comoherisculturais,osempreendedoresqueimpulsionaramos clubes e os novos selos da indstria fonogrhca, em vez de poetas e ativistas polticos.Quedamos, ao hnal de Club cultures e de outras apreciaes similares das ps-subculturas, com mais um retrato da submisso da juventude ao canto da sereia neoliberal e s foras do mercado Joo Freire FilhoContemporanea - Revista de Comunicao e CulturaJournal of Communication and Culture 148- todo resto sendo interpretado somente como mero jogo de cena... Relatos gramscinianos acerca dos embates subculturais se tornam - sentencia Redhead (1990: 2) - totalmente desmedidos, obsoletos, nestecontextoemquesupostamenteoprazersubstituiudevez a poltica, e a noo de contracultura evoca mais o consumo e os shoppings do que a resistncia e o desvio.Asahliaesculturaisjuvenisguardam,porm,contradies internas, nuanas diversas, toda uma srie de dubiedades intrigantes que s um ato de violncia terica pode forar homogeneidade de uma narrativa nica. Enquanto o foco dos tericos de Birmingham se concentrava nas estratgias estticas, nos rituais de consumo dos jovens da classe trabalhadora (fadadas, como vimos, ao fracasso), os ps-subculturalistas de hliao ps-moderna costumam enfati-zar o "hedonismo, o "individualismo, o "cinismo, o "pessimismo, o"niilismo,o"consumismoea"apatiapolticadosmembros futuantesdasneotribos,numcenrioderelativaindeterminao estrutural, amplihcada saturao miditica e mltiplas possibilidades de identihcao. Ambasaspartesnegligenciam,porrazesdistintas,tentati-vas de engajamento juvenil em atividades polticas muito alm da resistncia simblica ou da poltica do prazer, do desaparecimento, do gosto ou do corpo. Rehro-me, por exemplo, ligao - episdica ouduradoura-dediversosgruposetendnciaspunkscomuma srie (s vezes, incongruente) de organizaes polticas anarquis-tas, socialistas, comunistas e com campanhas e protestos contra o racismo, o sexismo, o autoritarismo, o imperialismo estaduniden-se, o neonazismo, a brutalidade policial, a violao dos direitos do presos e dos homossexuais, a proibio do aborto, a guerra civil na Nicargua, a Guerra do Golfo e no Iraque, o governo Bush, entre outras questes locais e/ou globais2. A partir de 1978, as letras de infuentes bandas inglesas como The Clash, The Gang of Four, The Jam, Tom Robinson Band e Stiff LittleFingerssetornaramostensivamentepolticas,deapoioa movimentos pacihstas, libertrios ou revolucionrios (como o dos sandinistas), passando a ser reproduzidas, com freqncia, na con-Contemporanea, Vol. 3 - no 1 - p 138 - 166 - janeiro/junho 2005 149Das subculturas s ps-subculturas juvenistracapa dos discos - caminho trilhado, posteriormente, por grupos comoBadReligion,LosCrudos,Pennywise,Rancid,Fugazi,entre outros.Conexesmaisexplcitasentrefacesedissidnciasdo movimento punk e bandeiras polticas se manifestam, tambm, direita, com jovens militantes adotando crenas e atitudes xenfo-bas, fascistas e nazistas, em vrios cantos do globo (Brown, 2004; Davis, 1996; Frith & Street, 1992; Goshert, 2000; Longhurst, 1995: 115-120; Negus, 1996: 19).No Brasil, desde a chegada do movimento, no hnalzinho dos anos1970,ospunkstendemaidentihcar-secompersonagens explorados e marginalizados, que expressam sua revolta contra o sistema e as autoridades por meio de greves, passeatas, quebra-quebras etc. No incio da dcada de 1980, bandas com os sugestivos nomes de AI-5, Desordem, Deteno, Guerrilha Urbana e Passeata circulavam pelo ABC; algumas gangues da regio trajavam, como roupa caracterstica, o macaco operrio. No meio de uma reunio de punks paulistas, em 1982, um grupo comeou a gritar: "Lula punk!; nas eleies daquele ano, quase todos votaram no PT. Os punks nativos participaram, ainda, de shows da Campanha Diretas-J e de arrecadao de fundos para a Nicargua (Abramo, 1994: 114-115; Bivar, 1988: 93-114). Assistimos,hoje,aoenvolvimentoativodepunkseanarco punksemmanifestaes,passeatas,protestos..."Atualmenteo movimento atua com outros oprimidos grupos como: homossexuais, por achar que todos tm o direito de opo sexual sem ser discrimi-nado; grupos de negros, feministas e outros grupos de atividades alternativas e libertrias, conhrma o site do Movimento Anarco Punk do Rio de Janeiro (www.maprj.org.br). Aoladodesem-teto,moradoresdefavelaseestudantes, ospunkscariocasparticiparam,emagostode2000,da"invaso pachca do Shopping Rio Sul - forma indita de protesto contra a desigualdade social e o consumismo idealizada pela Frente de Luta Popular (frum de entidades criado para elaborar "novas alternativas de luta). Durante o assim denominado "passeio de cinco horas pelo complexo de comrcio e lazer, os cerca de 150 manifestantes visita-Joo Freire FilhoContemporanea - Revista de Comunicao e CulturaJournal of Communication and Culture 150ram lojas, experimentaram roupas, ocuparam a praa de alimentao (comendopocommortadela),encenaramperformances,leitura de poesias, rodas de capoeira e representaes teatrais, diante de vendedores e compradores visivelmente constrangidos; no hm da tarde, o grupo seguiu, em passeata, at o palcio Guanabara, onde seusrepresentantesforamrecebidospelosecretriodeGoverno (Folha de S. Paulo, 05 ago. 2000. Cotidiano, p. 6; Jornal da Tarde, 05 ago. 2000. Geral, p. 2).Pouco tempo depois, as manifestaes nacionais do "Dia Mundial Contra o Capitalismo tambm contaram com a ruidosa adeso de grupos punks, acompanhados de ecologistas, estudantes, aposen-tados e sindicalistas. Em Braslia, integrantes do Movimento Punk AnarquistaedoMovimentoStraightEdgeportavamfaixascom mensagenscomo``Boicotedvidaexternae``Fora,Alca,Bird, OMC e multinacionais; em So Paulo, os protestos ``contra os fun-damentos do sistema vigente, como a globalizao e o capitalismo provocaramconfitocomapolciae17prises,apsumadzia de punks ter destrudo as placas comemorativas dos 110 anos da Bovespa (Correio Brasiliense, 27 set. 2000. Economia, p. 1; Folha de S. Paulo, 27 set. 2000. Dinheiro, p. 4; Jornal da Tarde, , 27 set. 2000. Economia, p. 1). Em 20 de abril de 2001, punks e anarco punks se sobressaam dentreoscercade2.000ativistasqueprotestavam,naAvenida Paulista, contra a Alca e a globalizao. Os manifestantes hzeram batucada, apitaos, performances, distriburam folhetos, bradaram palavras de ordem ("A rua do povo, vamos ocupar!), picharam eapedrejaramosprdiosdaFiesp,daCaixaEconmicaFederal, do Ita, as lojas do Bobs e do McDonalds; a tropa de choque da Polcia Militar interveio, com sua proverbial delicadeza e sagacidade - aps 40 minutos de tumulto, 69 pessoas foram presas e mais de 100 hcaram feridas (Folha de S. Paulo, 21 abr. 2001. Brasil, p. 13; O Estado de S. Paulo, 21 abr. 2001. Geral, p. 13; Folha de S. Paulo, 04 de jun. 2001. Folhateen, p.6-7). A marcha contra a corrupo e o apago, realizada em Bra-slia, em 26 de junho de 2001, foi o evento que, provavelmente, Contemporanea, Vol. 3 - no 1 - p 138 - 166 - janeiro/junho 2005 151Das subculturas s ps-subculturas juvenisdeu maior destaque miditico s aes polticas dos punks. O ato de protesto contra o governo Fernando Henrique Cardoso reuniu cerca de 70 mil pessoas, em frente Esplanada dos Ministrios. Punks e militantes de partidos de esquerda entraram em confito com o aparato de segurana da Polcia Militar. Os 4.200 soldados da cavalaria e do batalho de choque da PM usaram balas de borracha, bombasdegslacrimogneoeumcarroblindadoBrucutupara dispersar os manifestantes, que responderam com paus, pedras e garrafas. O confronto durou cerca de uma hora, deixando um saldo denoveferidoseseispresos.Oentopresidenteemexerccio, Acio Neves, responsabilizou os punks pelo tumulto: "Os partidos queorganizaramoprotestoeosmanifestantesagiramdeuma maneira adequada, ordeira e democrtica. O que fugiu do normal foi o ato de um grupo que no fazia parte da manifestao (Cor-reio Brasiliense, 28 jun. 2001. p. 1, 6-9; Folha de S. Paulo, 28 jun. 2001. p. 1 e A8; O Estado de S. Paulo, 01 jun. 2001. Cidades, p. 13; O Globo, 28 jun. 2001. p. 1 e 3).Mais exemplos? Em 8 de setembro de 2004, carregando faixas com os dizeres ``Falsa independncia e ``Mais armas, mais fome, os punks de Recife dividiram as ruas da cidade com quilombolas, ndios, violeiros, sem-terra e sem-teto, durante os protestos contra o desemprego e a desigualdade social que marcaram o 10. Grito dosExcludos(CorreioBrasiliense,08set.2004.p.2;OEstado de S. Paulo, 08 set. 2004. Nacional, p. 1). No ltimo Frum Social Mundial, em Porto Alegre, outro episdio digno de nota: 49 com-ponentesdeumgrupopunkformadoporbrasileiros,argentinos e uruguaios foram detidos pela polcia gacha - uma informao annima advertira que os jovens (seis menores) planejavam lan-ar coquetis molotov, numa ao denominada "Dia do Ajuste (O Estado de S. Paulo, 29 jan. 2005. Nacional, p. 1; O Globo, 23 jan. 2005. Economia, p. 23).Como sublinham Abramo (1994: 115) e Souza (1999: 185-186), em que pesem o estilo crepuscular, as letras niilistas e as declaraes escatolgicas, o movimento punk, em suas atividades e prticas co-tidianas, no se confunde com um grito de desistncia, um convite Joo Freire FilhoContemporanea - Revista de Comunicao e CulturaJournal of Communication and Culture 152 passividade ou um desejo de destruio absoluta da sociedade, conhgurando-se,porvezes,numchamadoaocombatecontrao sistema social e as formas de oposio institucionalizadas.Mesmo para jovens pouco ahnados com a msica ou o visual punk, a ndole antiestabelecimento e a hlosoha do "faa voc mesmo do movimento tem encorajado a constituio de novas comunidades instveis de dissenso artstico, social e poltico. Amlgama instigante de caractersticas das subculturas e das contraculturas tradicionais (tal qual dehnidas pelo CCCS), as chamadas "novas formaes de protesto subcultural (Muggleton & Weinzierl, 2003b: 13-16) se va-lem de modos de articulao e gerao de identidades subculturais, engajando-se,contudo,emquestesmacro-polticas;operando, ao mesmo tempo, ideolgica e hedonisticamente; compatibilizando abordagens e demandas particulares com uma dimenso de crtica e antagonismo universal.Emborapartilhemcomosnovosmovimentossociaisque emergiramapartirdosanos1960(arregimentadosemtornode vrios tipos de questes humanitrias, de cidadania e de "qualida-de de vida, de polticas culturais e de identidade) uma forma no convencionaldeparticipaopoltica,distinguem-seporvisarem explicitamente o cerne das polticas econmicas do turbocapitalismo, que imperam sobre mais de cem pases, intensihcando a explorao dos trabalhadores, exacerbando desigualdades sociais e diminuindo liberdades,emvezdedistribuirosbenefciosdaprosperidadee erradicar a pobreza, como haviam prometido seus arthces, porta-vozes e relaes pblicas (pensadores da rea comercial e econ-mica, ministros da fazenda, altos executivos de empresas, lobistas corporativos, jornalistas...). Os alvos dos novos contestadores so menos os Estados-Nao do que as instituies da globalizao cultural e econmica, como a Organizao Mundial do Comrcio, o Fundo Monetrio Internacional, oG-8easgrandescorporaestransnacionaisqueempunham a bandeirado"livrecomrcioepreconizamaagendadedesregu-lamentao governamental, privatizao, reduo de salrios e de investimentos pblicos em setores como educao e sade. Contemporanea, Vol. 3 - no 1 - p 138 - 166 - janeiro/junho 2005 153Das subculturas s ps-subculturas juvenisA exemplo das subculturas clssicas, as formaes de protesto ps-subcultural se dehnem em oposio cultura hegemnica dos pais. No caso, o "fundamentalismo ou "consenso de mercado neoli-beral - a crena inquebrantvel no carter dehco e intrinsecamente democrtico do Mercado, restando aos governos (democraticamente eleitos) parca margem de infuncia poltica legtima nas questes da economia domstica, alm do controle da infao e dos cuidados para que o capital possa circular, sem grandes amolaes. Cientes, no entanto, dos riscos da (cada vez mais clere) apro-priao mercadolgica do estilo e de que a ahrmao desabrida da autogratihcao, da ironia e do cinismo no mais contradiz a tica easestruturasdosistemacapitalista,tendosidoabsorvidapelo paradigma do branding ps-moderno (Frank, 1997, 2004: 306-333; Holt, 2003; Klein, 2002), os novos grupos de ahnidade juvenil se inclinam a favorecer a ao poltica direta, em detrimento da estra-tgia de resistncia por meio da "guerrilhas semiolgicas do estilo. "Contemporarypunksubculturesmaythereforechoosetoavoid spectacle-based interaction with dominant culture. (.) Post-punk, or contemporary punk has foregone these performances of anarchy and is almost synonymous with the practice of anarchism, observa, com perspiccia, Dylan (2003: 232, 233).Muito j foi escrito acerca da relao entre os avanos tecnolgi-cos na rea da comunicao e as novas modalidades de consumismo, asnovasformasdefetichismodamercadoria.Paralelamente,no entanto, promoo do comrcio e do mercado global no ciberes-pao, prospera o uso da comunicao baseada no computador como plataforma para elaborao e disseminao de estratgias contra-hegemnicas no espao fsico real. difcil exagerar, por exemplo, a importncia da Internet na organizao e divulgao dos atos de desobedincia civil e das aes coletivas de rua contra a globalizao capitalista(alcunhada,porseusopositores,de"corporarizao, "neocolonialismo ps-moderno ou "globaritarismo). Sites de or-ganizaes independentes, listas de discusso e e-mails se consoli-daram, ao longo dos anos 1990, como ferramentas essenciais para o estreitamento dos vnculos e o aprimoramento dos mtodos de Joo Freire FilhoContemporanea - Revista de Comunicao e CulturaJournal of Communication and Culture 154ao dos militantes, servindo para: 1) a divulgao de informaes acerca das prerrogativas e atividades das instituies econmicas e corporaes globalizadas (raramente discutidas, de forma crtica, na grande imprensa); 2) o intercmbio de experincias sobre a re-alizao de encontros e eventos; 3) a mobilizao e o recrutamento em massa de indivduos dispersos geograhcamente. Alm disso, a Internet oferece relatos, fotos, testemunhos e pontos de vista mais diversihcados sobre as motivaes e os des-dobramentos dos "carnavais anticapitalistas, em contraste com a cobertura da corrente central da mdia, que costuma enfatizar os "atos irracionais de desordem, o "caos no trnsito, a "destruio do patrimnio pblico, os "atentados contra a propriedade privada, minimizando a violncia policial e silenciando ou diluindo as pers-pectivas crticas dos insurgentes - ahnal, como levar a srio as rei-vindaes de um bando de vndalos e lunticos exticos, contrrios aos desgnios do mercado, este santurio da sensatez?Interligados pelas novas tecnologias da comunicao, membros e simpatizantes da cultura club vm lutando, em vrios pontos do mundo, por seu direito de festejar - e discordar. Um infame Ato de Justia Criminal promulgado em 1994 autorizou polcia britnica a,entreoutrasprovidncias,deter,revistareprender(supostos) promotores e participantes de raves (dehnidas, de forma canhestra, como eventos animados por "msicas total ou predominantemente caracterizadas pela emisso de uma seqncia de batidas repeti-das). As medidas draconianas levaram a cena da msica eletrnica a sedimentar alianas com subculturas mais politizadas e igualmente insatisfeitas com o aumento de prticas e espaos passveis de ser qualihcados(ecriminalizados)comohostisordempblica.Os ravers se aliaram a ocupantes ilegais de propriedades privadas, a "ecoguerreirosquebatalhavamcontraapavimentaodereas forestais e aos chamados viajantes da Nova Era (discriminados por seu estilo de vida nmade) - todos eles potenciais alvos da nova legislao repressiva (Huq, 1999; Klein, 2002: 340).Mescla inventiva e imprevisvel de contundncia e ludismo, de-sobedincia civil e festa, protesto e carnaval ("protestival), a rede Contemporanea, Vol. 3 - no 1 - p 138 - 166 - janeiro/junho 2005 155Das subculturas s ps-subculturas juvenisde ao direta Reclaim the Streets - possivelmente, "o movimento poltico mais vibrante e de mais rpido crescimento desde 68 em Paris (Klein, 2002: 340); "face contempornea da oposio pblica popular ao capital global (St John, 2004: 75) - despontou como principal foco de convergncia de DJs, militantes anticorporaes, artistaseambientalistaspreocupadoscomosefeitosruinososdo capitalismo na esfera local e global. Sob a inspirao de doutrinas e tticas anarquistas, situacionistas e ecolgicas radicais, armados de bonecos gigantes, cartazes, bandeiras, panfetos, pernas de pau, bicicletas, sofs, jatos de tinta, barracas de livros de poesia e poltica, megafones, apitos, tambores, palcos para shows de bandas e apresentaes de DJs, terminais de Internet e kits multimdia, os "artivistas interrompem teatralmente o trfego e o con-sumismo cotidiano das grandes cidades, tornando, a um s instante, visveis, execrveis e ridculos os agentes da lei e as operaes e as estruturas de poder. Em oposio ao livre-mercado, brota das ruas, parques e praas reconquistadas a prehgurao de uma sociedade livre e solidria, baseada na expanso, revitalizao e recriao do espao pblico como lugar de interao (no mediada pelo consumo de mer-cadorias) entre cidados conscientes e participativos. Notardouparaque"osatosdeimaginaoinsurrecional (Jordan, 1998: 139) do RTS ultrapassassem as fronteiras britnicas, irrompendo em paragens to remotas como Sidney, Helsinque e Tel Aviv. As mobilizaes pblicas so organizadas localmente; com a ajuda das novas mdia e tecnologias, porm, ativistas de diferentes localidades podem inteirar-se acerca de eventos mundo afora, tro-car estratgias de como ludibriar a polcia e bloquear rodovias, ler psteres, press releases e folhetos uns dos outros. Desde que as cmeras de vdeo digitais passaram a ser intensamente adotadas nos carnavais de protesto, possvel buscar inspirao, ainda, em documentrios de manifestaes distantes, realizados por produtoras de vdeos alternativos, como a londrina Undercurrents, e disponibi-lizados em diversos web sites da RTS (Klein, 2002: 343).SegundooFBI,ReclaimTheStreetseoutros"gruposanar-quistasesocialistasextremistas-comoWorkersWorldPartye Joo Freire FilhoContemporanea - Revista de Comunicao e CulturaJournal of Communication and Culture 156Carnival Against Capitalism - representampotencial ameaa ter-rorista aos Estados Unidos (www.fbi.gov/congress/congress01/ freeh051001.htm). Antes do pronunciamento, no congresso es-tadunidense, do diretor da agncia de investigao, um editorial do Estado de S. Paulo (28 set. 2000. p. 2) comparara os "extremistas do Resgate as Ruas aos hooligans ("bandos de torcedores ingleses que aterrorizam cidades inteiras), j que seus participantes empre-gavam "o vandalismo a pretexto de corrigir as injustias do capital; ojornalseapressou, todavia,emapaziguar osleitores:comose tratava de um "fenmeno espontneo, de "uma decorrncia natural do metabolismo da economia moderna, a globalizao sobreviveria aos seus inimigos da "Internacional dos hooligans. De maneira pouco sutil, nosso editorialista caracteriza a glo-balizao neoliberal como um fenmeno to espontneo e inevit-vel quanto, digamos, a garoa paulistana, porm de conseqncias certamentemaisjubilosas...Refutandotaisconceituaesque teimam em confundir Natureza e Histria, maneira dos mitos dissecados por Barthes ([1956] 1963), as mobilizaes anticapi-talistas atuais reivindicam outro tipo de globalizao - sinnimo de justia e igualdade social, efetiva cooperao entre os povos e respeito s culturas. Em busca da (difcil) harmonia entre poesia e pragmatismo, ensaiam a utopia de um mundo sem autoritarismo ehierarquias,enquantodemandamoperdodadvidaexterna dospasespobreseademocratizaodosprocessosdecisrios das instituies hnanceiras internacionais ou denunciam as con-seqncias da imposio generalizada das severas reformas eco-nmicas neoliberais e as normas de trabalhos antiticas adotadas, em pases do Terceiro Mundo, por corporaes transnacionais de indstrias e servios.A msica eletrnica e a sensibilidade inclusiva das raves pa-recem criar a trilha sonora e a ambincia ideais para congregar e animar as "comunidades espontneas de oposio (St John, 2004: 75). Gilbert (1997) argumenta, a propsito, que o prprio ime-diatismo e a ndole comunitria da dance music contempornea que a torna to idealmente propcia para a poltica de ao direta, ao Contemporanea, Vol. 3 - no 1 - p 138 - 166 - janeiro/junho 2005 157Das subculturas s ps-subculturas juvenispasso que o rock (com seu star system, seus lderes carismticos) estaria mais ahnado com a poltica representativa.So bastante precrias, ainda, as tentativas de maior politizao da cena eletrnica, em nosso pas. A AME (Associao dos Amigos da Msica Eletrnica, ONG criada por DJs, produtores, jornalistas erepresentantesdencleosderaveseclubesdacidadedeSo Paulo)procurou dar um "enfoque social sua Parada mais recen-te, realizada em 26 de outubro de 2003. Contando com apoio da Coordenadoria da Juventude da Prefeitura, o evento reuniu cerca de 170 mil pessoas, na regio do parque Ibirapuera. Foram montados postos de recolhimento de donativos para o Projeto Fome Zero e a Campanha do Agasalho e de fornecimento de orientaes a respeito da Coleta Seletiva Solidria, de doenas sexualmente transmissveis e do uso de drogas3. Mais instigantes, a meu ver, tm sido as intervenes da TEMP (Temporary Electronic Musik Party), ncleo de festas e "articulaes ativistas idealizado, em 2002, pelos paulistas Bruno Tozzini e Da-niel Gonzalez, com intuito de provar que a cena eletrnica no se restringe s "baladas burras e ao hedonismo dos eventos patroci-nados por grandes corporaes - "Essa movimentao que acontece agora uma voltaaos princpiosda eletrnica. Comotempo,as pistas se tornaram, em sua maioria, simples playgrounds, espao para diverso e alienao, explica Gonzles (Folha de S. Paulo, 09 maio 2003. Ilustrada, p. 1; ver, tambm, Folha de S. Paulo, 30 ago. 2003. Ilustrada, p. 15; Folha de S. Paulo, 09 mar. 2004. Folhateen, p. 3; Folha de S. Paulo, 16 out. 2004. Ilustrada, p. 11; BEATZ, n 3, 2003, p. 64-65; Outracoisa, n 5, 2004, p. 8-11). Com base no conceito de TAZ (Temporary Autonomous Zone), formuladopeloenigmticopoetasubversivoehlsofoanarquista norte-americano Hakim Bey (2004), e nos preceitos das Squat Parties (festaslivresdeocupaodeprdiosabandonados,freqentesna Europa, na dcada de 1990), as edies da TEMP ambicionam ser "um espao temporrio de diverso e informao multimdia, de "celebra-o da contracultura das ruas. Sem local nem periodicidade hxos, o projeto crtico-festivo j ocorreu em pontos to variados da cidade de Joo Freire FilhoContemporanea - Revista de Comunicao e CulturaJournal of Communication and Culture 158So Paulo como o clube underground Susi in Transe, o Pao das Artes (durante o FILE - Festival Internacional de Linguagem Eletrnica), o SESC Pompia (com parte do evento Territrio Anti-espetculo), aAvenida So Joo, esquina com Anhangaba (festa do badalado Mdia Ttica Brasil) e a quadra da escola de samba Tom Maior (cujo tema do carnaval 2003 era "As previses que o Mundo iria acabar). AsfestasitinerantesdaTEMPnocongregam,apenas,os amantes da cena eletrnica, mas, tambm, pessoas ligadas ao rock alternativo e industrial, ao hip hop e ao gtico. Todos eles seduzi-dospelavvidamisturadeperformances,teatrodeaodireta, ciberativismo,streetart,antiespetculos,intervenesvisuaise sensoriais multimdia (como projees de montagens desconcertan-tes de imagens extradas de noticirios, hlmes, comcios polticos, documentrios de passeatas) e msica eletrnica extrema (gneros hbridos e underground como o breakcore, hardcore, wonkytechno, drillnbass, que revelam ntida infuncia do punk na "atitude e do hip hop nas batidas mais quebradas; a esttica sonora suja, distor-cida foge das estruturas musicais incorporadas pelas vertentes mais institucionalizadas da msica eletrnica, com altos BPMs, breakbeats imprevisveis e distorcidos, complementados, em alguns casos, pelo uso sarcstico de samplers de dilogos de hlmes, cacofonia urbana e trechos de discursos polticos).Vestidos de terno e gravata, com a cabea inteiramente coberta por mscaras de ferro e lona de caminho, convidados como a dupla de Live PA (performance ao vivo) Gengivas Negras (Theo Cordeiro e Carlos Morevi) trazem mais estranheza cena, apresentando, em vez de msica, "artefatos sonoros - rudos e barulhos processados e propagados por pedais de distoro, softwares, baterias eletrni-cas, interrompidos, de vez em quando, pela leitura de manifestos do futurismo italiano (ecos da passagem dos dois amigos pela Escola de Msica e Belas Artes do Paran). As sesses de "noise experimental duram, em mdia, 40 minutos - muitos observam, com curiosidade, a desconstruo musical; uma minoria vai embora, irritada.O projeto da Temp no se limita, todavia, s pistas de dana - entre outros eventos, apenas no ano de 2003, seus integrantes Contemporanea, Vol. 3 - no 1 - p 138 - 166 - janeiro/junho 2005 159Das subculturas s ps-subculturas juvenisestiveram envolvidos com: a) protestos contra a guerra do Iraque; b) a coordenao do workshop Cultura Eletrnica contra a Hegemonia, realizado, em parceria com o Movimento Jovem Zapatista do Mxico, durante o Frum Social Mundial, em Porto Alegre; c) a ofensiva de street art que celebrou, no dia 28 de novembro, o Buy Nothing Day (Dia Internacional de Combate ao Consumismo), colando psteres estickerszombeteiros,ultrajantesnaportas,fachadasevitrines de bancos, joalherias, cadeias de fast-food, modihcando os cdigos visuaisdosoutdoorsedoscartazespublicitriosqueinfestama cidade de So Paulo; d) a interveno poltico-artstica no Prestes Maia - um complexo de dois prdios ocupado por 470 famlias do MSTC (Movimento dos Sem-Teto do Centro de So Paulo). Junto com os coletivos SHN (de street art) e Radioatividade (de ao direta), a TEMP promoveu, por l, um grande festival de multilinguagens, abarcando vdeo-interveno, teatro, msica, grahte, artes plsticas, ohcinas e debates. Alm de participar efetivamente das atividades do "levante artstico, os membros do MSTC forneceram importante apoiooperacional,atuandocomoseguranas,monitoreseeletri-cistas.Nostimoandardeumdosprdios,foiimprovisadauma estao de rdio, que tocava dub, breakcore, drillnbass, afora os CDs de reggae e hip-hop trazidos por um morador que trabalhava como ambulante no centro da cidade. Ao todo, estima-se que quase 1.200 pessoas participaram da Ocupao Prestes Maia, durante os dias13e14dedezembro(OEstadodeS.Paulo,16dez.2003. Caderno 2, p. 2; Global, n 2, jul. 2004, p. 38-41).Desdeoinciodadcadade1990,comoindicaopanorama acima (altamente seletivo, claro), testemunhamos, em contraste comacorriqueiraretricadadecadnciadandoletransgressora juvenil,inumerveismobilizaescoletivascontraoscrescentes contornosmercadolgicosdasociedadedoespetculo-isto, contraatendnciadocapitaldedominartodosaspectosdavida cotidiana, pondo em xeque "esferas extramercado das quais sem-pre dependeram a solidariedade social e a democracia ativa (Leys, 2004).Invases,ocupaes,sabotagens,marchas,bicicletadas, protestivais, contra-espetculos artsticos dramatizam o mal-estar de Joo Freire FilhoContemporanea - Revista de Comunicao e CulturaJournal of Communication and Culture 160setores da juventude mundial diante do consumismo incentivado pela mdia, do carter invasivo do marketing das marcas globalizadas, da destruio acelerada do meio-ambiente pela ganncia empresarial, do processo de privatizao e converso em mercadoria de idias, identidades, relaes sociais, gua, sementes e, at mesmo, material gentico humano4. No preciso compartilhar do otimismo dos manifestantes que grahtaram "Estamos vencendo!, nos muros de Seattle, para admirar a volta das lutas sociais ribalta pblica. Vai alm, obviamente, das pretenses de meu artigo, esmiuar as fragilidades e potencialidades deste engajamento poltico apartidrio, difundido, por importantes pontos do mapa mundial, aps os protestos de rua que atormenta-ram as reunies do G-8 e da OMC, em 1999. Ao enfocar os novos esquemas de resistncia e contestao juvenil, interessou-me, mais modestamente, chamar a ateno para um ativismo negligenciado ou marginalizado pelas jeremiadas acerca da apatia poltica da "ju-ventude ps-moderna, retratada (ou antes, caricaturada) em uma quantidade prodigiosa de hlmes, reportagens, romances e pesquisas patrocinadas pelo mercado ou por universidades. A audincia es-tupefata e hel de tais produes da indstria cultural ou acadmica no deixa dvida: ningum perder dinheiro, apostando em mais um relato alarmante sobre a gerao das compras, do xtase e das raves - um pressgio do apocalipse tantas vezes adiado... Seja na anlise das relaes entre o consumo miditico e as dinmicasidentitriascontemporneas,sejanainvestigaodo uso associativo e poltico das novas tecnologias da comunicao, preciso cautela para no se confundir polmicas culturais com pr-ticas concretas; pensamentos desejosos, com o vivido. As mltiplas ideologias, estratgias de vida, atividades e alianas da juventude no podem ser reduzidas s grandes narrativas do consumismo ou do ativismo anticapitalista (adjetivo, alis, ignorado, num notvel lapso de memria, pelo verihcador ortogrhco do Windows...). Abordagens informadas por metodologias etnogrhcas e qua-litativas,quevalorizemestudosdecasoespechcos,claramente localizados,podemprestarumainestimvelcontribuio,penso Contemporanea, Vol. 3 - no 1 - p 138 - 166 - janeiro/junho 2005 161Das subculturas s ps-subculturas juveniseu, para o exame crtico das tenses, dentro das formaes cultu-rais juvenis, entre desejo e represso, agenciamento e estrutura, criatividade e conformidade, contestao e reproduo do sistema econmico e da ordem social.Notas1Conhecimentos,comportamentoseestilosquemanifestam"autenticidade, "diferena, "singularidade diante do mainstream "homogneo, "comercial, "massihcado, "feminizado. Dehnidos e distribudos pela mdia, tais saberes ecompetnciassomaterializadosecorporalizadosnocortedecabelo,na disposio da coleo de discos, no uso correto das grias, no domnio "nato dos ltimos estilos de dana.2 Uma curiosidade acadmica: durante o confito no Golfo Prsico, em 1991, a lendria revista punk Maximum Rocknroll lanou o EP New World Order: War #1, contendo duas "msicas de resistncia do Bad Religion e a re-produo de uma anlise da conjuntura poltica internacional efetuada, em tom monocrdico e ominoso, por Noam Chomsky.3 Um estudante de 16 anos morreu afogado no lago do parque Ibirapuera, logo aps de ter participado da Parada da AME. Depois do incidente, a Polcia Militar sugeriu, ao Ministrio Pblico Estadual, que adotasse medidas legais para que festas daquele tipo fossem proibidas ou realizadas, somente, em locais fechados, "onde mais fcil ter controle do pblico (Folha de S. Paulo, 28 out. 2003. Cotidiano, p.1 e 3; Folha de S. Paulo, 29 out. 2003. Opinio, p.2). Pouco tempo antes, a Secretaria Estadual de Segurana Pblica de Santa Catarina proibira a emisso de alvars de funcionamento para raves (Florianpolis e o Balne-rio de Cambori eram um dos principais centros no Brasil das longas festas emlugaresabertos,embaladaspormsicaeletrnica).Amedidapretendia acabar com "situaes que favoreceriam a "prtica de atitudes ilcitas, como oconsumodedrogas;ascasasnoturnaspoderiamprosseguirfuncionando, normalmente. No Rio de Janeiro, embora no exista proibio legal contra as raves, as autoridades policiais tm criado obstculos sua realizao. Parte da luta dos organizadores de eventos desta natureza foi registrada no docu-mentrio Bad trip, dirigido por Felipe Sholl, Izabela Cardoso e Paulo Henrique Grillo, estudantes de jornalismo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) (Folha de S. Paulo, 20 out. 2003. Folhateen, p. 2; Folha de S. Paulo, 28 out. 2003. Cotidiano, p.1).4 Diligncias, nesse sentido, so reveladas, com detalhes espantosos, no do-cumentrio canadense The corporation (2004), dirigido por Mark Achbar e Jennifer Abbott, com base no livro The corporation: the pathological pursuit of proht and power (2004), de Joel Bakan, professor de direito da University of British Columbia. O hlme foi exibido, no Brasil, durante o festival tudo verdade e, posteriormente, pelo canal por assinatura HBO. Outros exemplos impactantes so oferecidos por Leyes (2004: 74) e Monbiot (2000).Joo Freire FilhoContemporanea - Revista de Comunicao e CulturaJournal of Communication and Culture 162BibliograhaABRAMO, Helena Wendell. Cenas juvenis: punks e darks no espetculo urbano. So Paulo: Scritta, 1994.ABRAMS, Mark. The teenage consumer. London: Routledge, 1959. ALVES, Adjair. Culturas juvenis na periferia de Caruaru: com os olhos voltados realidade social. In: ALVIM, Rosilene et al (eds). (Re)construes da juventu-de: cultura e representaes. 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