DANIEL DANTAS VIANA MEDEIROS€¦ · Orientadora: Profa. Dra. María del Pilar Durante Ingunza...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA SANITÁRIA
DANIEL DANTAS VIANA MEDEIROS
AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO NO TRATAMENTO DE RESÍDUOS ESGOTADOS DE FOSSAS SÉPTICAS
NATAL 2009
DANIEL DANTAS VIANA MEDEIROS
AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO NO TRATAMENTO DE RESÍDUOS ESGOTADOS DE FOSSAS SÉPTICAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Sanitária da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia Sanitária.
Orientadora: Profa. Dra. María del Pilar Durante Ingunza Co-orientador: Prof. Dr. Cícero Onofre de Andrade Neto
NATAL 2009
Catalogação da publicação na fonte.
Medeiros, Daniel Dantas Viana. Avaliação da eficiência de lagoas de estabilização no tratamento de resíduos
esgotados de fossas sépticas / Daniel Dantas Viana Medeiros. – Natal, 2009. 96 f. : il.
Orientadora: Dra. María del Pilar Durante Ingunza. Co-orientador: Dr. Cícero Onofre de Andrade Neto. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Centro de Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Sanitária. 1. Lagoas de estabilização – Dissertação. 2. Esgotos sanitários – Tratamento –
Dissertação. 3. Fossas sépticas – Dissertação. 4. Saneamento básico – Dissertação. I. Durante Ingunza, Maria del Pilar. II. Andrade Neto, Cícero Onofre de. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título.
CDU 628.357(043.2)
DANIEL DANTAS VIANA MEDEIROS
AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO NO TRATAMENTO DE RESÍDUOS ESGOTADOS DE FOSSAS SÉPTICAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Sanitária da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia Sanitária.
Aprovada em 20 de agosto de 2009.
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________ Dra. María del Pilar Durante Ingunza
Universidade Federal do Rio Grande do Norte Orientadora
___________________________________________________________
Dr. Cícero Onofre de Andrade Neto Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Co-orientador
____________________________________________________________ Dr. Luiz Pereira de Brito
Universidade Federal do Rio Grande do Norte Examinador Interno
____________________________________________________________ Dr. Rui de Oliveira
Universidade Estadual da Paraíba Examinador Externo
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, quero agradecer a Deus pelo Dom da Vida e por me conceder
a graça de cursar um mestrado em harmonia e paz, livrando-me de qualquer
imprevisto ou contratempo que pudesse impedir a conclusão de mais uma etapa em
minha caminhada. Agradeço ainda por me manter persistente em minhas
determinações.
Ao PROSAB pela oportunidade de participação no projeto Caracterização e
Estudo de Alternativas de Tratamento de Lodos de Fossa Séptica da Cidade do
Natal/RN.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
pelo auxílio financeiro concedido.
Ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Sanitária da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (PPgES) por disponibilizar instalações adequadas e
um corpo docente de altíssimo nível.
Aos professores do PPgES, em especial os professores María del Pilar,
Cícero Onofre, André Calado, Luiz Pereira, Antônio Righetto, pelo conhecimento
técnico transmitido.
Aos funcionários, Leonor Barbosa, Sandro e Assis, pela ajuda prestada
durante todo o mestrado
Aos meus pais, Rui Medeiros e Silvina Dantas, e meus irmãos, Sarah Dantas
e Rui Medeiros Júnior, pelo amor, carinho, apoio, paciência, bem como toda
confiança depositada em mim.
À minha namorada Márcia Regina que esteve sempre ao meu lado, com
muito carinho, amor e dedicação, orientando-me nas decisões e dando-me forças
nos momentos de fraqueza.
Aos meus amigos do LARHISA, em especial Raulyson Araújo, Araceli Ratis,
Yannice Santos, Fernanda Lima, Dayana Torres, Jaidnara Alves, Carlindo Pereira, e
a todos os demais que, de alguma forma, me ajudaram com palavras ou ações.
RESUMO
Por causa da deficiência na elaboração de políticas públicas em atenção ao
atendimento às questões do esgotamento sanitário dos municípios, empresas
conhecidas como “limpa-fossa” surgiram propondo solucionar de forma simples a
coleta e o manejo dos efluentes líquidos produzidos em residências uni ou
multifamiliares, comércio, hospitais, etc. Em se tratando de uma atividade em que
não há preocupações quanto ao destino dos esgotos, surgiram questionamentos
referentes ao grau de segurança sanitária e ambiental nessas empresas.
Tradicionalmente, a maioria delas faz a disposição dos resíduos esgotados no solo
ou em áreas inundáveis, a céu aberto, normalmente localizadas na periferia das
cidades (MENESES, 2001). Por sua vez, o lodo esgotado de fossas sépticas,
disposto sem qualquer critério técnico – no solo, em rios e como adubo na
agricultura –, coloca em risco a saúde da população e a qualidade ambiental. O
presente trabalho, inserido na rede de pesquisa do Edital 5 do Programa de
Pesquisas em Saneamento Básico – PROSAB-5, objetivou o estudo do tema
‘Caracterização e estudo de alternativas de tratamento de lodos de fossa séptica na
cidade do Natal, RN’, propondo a avaliação do desempenho do uso das lagoas de
estabilização como sistema de tratamento dos resíduos esgotados das fossas
sépticas. A série de lagoas estudada pertence a uma das maiores empresas limpa-
fossa da cidade de Natal, composta por duas lagoas anaeróbias, uma facultativa e
uma de maturação, além de um tanque de desinfecção, sendo o efluente final
lançado no Rio Potengi. As coletas foram realizadas entre os meses de outubro de
2007 a outubro de 2008, em seis pontos previamente definidos e julgados como
mais adequados ao que se propôs estudar. Os resultados das análises em campo e
em laboratório apontaram remoções mais significativas de DQO (88,93%), sólidos
suspensos totais (94,87%), nitrogênio orgânico (66,87%) e coliformes
termotolerantes (99,88%). Alguns resultados obtidos não atingiram o esperado, pois
o sistema em estudo apresentou problemas de operação que prejudicaram a
eficiência dos reatores.
Palavras-chave: Lagoas de estabilização. Fossa séptica. Tanque séptico.
ABSTRACT
Because of disability in public policy development in mind to attend issues of
sanitation in the municipalities, companies known as "clean-blue" appeared
proposing to solve a simple collection and management of wastewater produced in
single or multifamily residences, commercial, hospitals, etc. In the case of an activity
in which there are no worries about the fate of sewage, emerged some doubts about
the degree of health and environmental safety in these companies. Traditionally,
most of them makes the provision of waste depleted soil or wetland, open, usually
located on the outskirts of cities (MENESES, 2001). In turn, the sludge from septic
tanks exhausted, provided no technical criteria - in the soil, rivers and as an
agricultural fertilizer – put in risk the health of the population and environmental
quality. This work was entered in the search network 5 of the Notice of the Research
Program in Sanitation - PROSAB-5, aimed to study the theme 'Characterization and
study of alternative ways of treating sludge from septic tanks in the city of Natal, RN',
proposing to evaluate the performance of the use of stabilization ponds as a system
to handle waste from septic tanks exhausted. A series of lakes studied belong to one
of the largest clean-pit of Natal, consisting of two anaerobic ponds, one facultative
and maturation, and a tank disinfection, the wastewater being released in the Potengi
River. Samples were collected between the months of October 2007 to October
2008, at six points previously defined and judged as more appropriate to what is
proposed study. The analysis results in field and laboratory showed the most
significant removal of COD (88.93%), total suspended solids (94.87%), organic
nitrogen (66.87%) and thermotolerant coliforms (99.88%). Some results have not
reached the expected because the system under study had operating problems that
have undermined the efficiency of the reactors.
Key words: Stabilization ponds. Cesspit. Septic tank.
LISTA DE FIGURAS Figura 1 Tanque séptico de câmara única 09 Figura 2 Tanque séptico de câmaras em série 09 Figura 3 Tanque séptico de câmara sobreposta 10 Figura 4 Desenho esquemático de uma lagoa anaeróbia 20 Figura 5 Desenho esquemático de uma lagoa facultativa 22 Figura 6 Desenho esquemático de uma lagoa maturação 24 Figura 7 Imagem aérea das lagoas de estabilização da Imunizadora
Potiguar 29
Figura 8 Dimensões de projeto das lagoas de estabilização da Imunizadora Potiguar
34
Figura 9 Croqui da ETE da Imunizadora Potiguar, destacando os pontos de coleta
35
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Distribuição das amostras por sistema de origem 12 Gráfico 2 Resultados do oxigênio dissolvido para a série de lagoas 42 Gráfico 3 Resultados da temperatura para a série de lagoas 43 Gráfico 4 Resultados do pH para a série de lagoas 44 Gráfico 5 Resultados da condutividade para a série de lagoas 45 Gráfico 6 Resultados da DQO para a série de lagoas 46 Gráfico 7 Resultados do nitrogênio orgânico para a série de lagoas 47 Gráfico 8 Resultados da amônia para a série de lagoas 48 Gráfico 9 Resultados do nitrato para a série de lagoas 49 Gráfico 10 Resultados do NTK para a série de lagoas 50 Gráfico 11 Resultados do ortofosfato para a série de lagoas 51 Gráfico 12 Resultados do fósforo para a série de lagoas 52 Gráfico 13 Resultados da clorofila para a série de lagoas 53 Gráfico 14 Resultados dos sólidos totais para a série de lagoas 54 Gráfico 15 Resultados dos sólidos suspensos totais para a série de lagoas 55 Gráfico 16 Resultados dos sólidos sedimentáveis para a série de lagoas 56 Gráfico 17 Resultados dos coliformes fecais para a série de lagoas 57 Gráfico 18 Variação da concentração de DQO ao longo do período de
coleta 59
Gráfico 19 Variação da concentração OD ao longo do período de coleta 60 Gráfico 20 Variação da concentração de sólidos totais e sólidos
suspensos totais ao longo do período de coleta 61
Gráfico 21 Correlação dos valores de sólidos totais e sólidos suspensos totais ao longo do período de coleta
61
Gráfico 22 Eficiência de remoção de nitrogênio orgânico, amônia e NTK ao longo do período de coleta
63
Gráfico 23 Eficiência de remoção de ortofosfato e fósforo total ao longo do período de coleta
64
Gráfico 24 Concentração de DQO medida ao longo da pesquisa na LF 69 Gráfico 25 Concentração de Sólidos Totais medida ao longo da pesquisa
na LF 70
Gráfico 26 Concentração de Fósforo Total medida ao longo da pesquisa na LF
71
Gráfico 27 Concentrações de Nitrogênio orgânico e NTK medidas ao longo da pesquisa na LF
71
LISTA DE FOTOGRAFIAS Fotografia 1 Tratamento Preliminar que antecede a série de lagoa 31 Fotografia 2 Lagoa Anaeróbia 1 (LA 1) 31 Fotografia 3 Lagoa Anaeróbia 2 (LA 2) 32 Fotografia 4 Lagoa Facultativa (LF) 32 Fotografia 5 Lagoa de Maturação (LM) 33 Fotografia 6 Tanque de Contato (TC) 33 Fotografia 7 Sólidos transportados do TP à LA 1 66 Fotografia 8 Ausência da grade de barras no TP 66 Fotografia 9 Excesso de escuma na LA 1 67 Fotografia 10 Limpeza realizada na LA 2 68 Fotografia 11 Lodo presente na superfície da LA 2 68 Fotografia 12 Formação de bancos de lodo na LF 69 Fotografia 13 Ausência de cloração ao efluente da LM 72 Fotografia 14 Tanque de contato 73
LISTA DE QUADROS Quadro 1 Tipos de fossas e suas respectivas características 08 Quadro 2 Relação das metodologias utilizadas na análise de cada parâmetro 36
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Caracterização do lodo de tanque séptico segundo diferentes
autores 12
Tabela 2 Divergências dos resultados obtidos quanto à caracterização do lodo de tanque séptico 12
Tabela 3 Características físico-químicas e microbiológicas dos resíduos esgotados de fossas e tanques sépticos 13
Tabela 4 Concentrações médias efluentes e eficiências típicas de remoção dos principais poluentes de interesse nos esgotos 16
Tabela 5 Resultados das variáveis analisadas nos seis pontos de coleta 40
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 01 2 OBJETIVOS E HIPÓTESES FORMULADAS 06 3 REVISÃO DE LITERATURA 07 3.1 FOSSAS E TANQUES SÉPTICOS 07 3.2 CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS ESGOTADOS DE FOSSAS
E TANQUES SÉPTICOS 10
3.3 LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO COMO ALTERNATIVA PARA O TRATAMENTO DOS RESÍDUOS ESGOTADOS
13
4 MATERIAIS E MÉTODOS 28 4.1 LOCALIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DO SISTEMA EXPERIMENTAL 28 4.2 MONITORAMENTO DO SISTEMA EXPERIMENTAL 35 4.2.1 Metodologia de análise 36 4.2.2 Metodologia de tratamento estatístico dos dados 37 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 39 5.1 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS 42 5.1.1 Oxigênio dissolvido 42 5.1.2 Temperatura 43 5.1.3 pH 44 5.1.4 Condutividade 45 5.1.5 DQO 46 5.1.6 Nitrogênio orgânico 47 5.1.7 Amônia 48 5.1.8 Nitrato (NO3
-) 49 5.1.9 NTK 50 5.1.10 Ortofosfato 51 5.1.11 Fósforo total 52 5.1.12 Clorofila “a” 53 5.1.13 Sólidos totais 54 5.1.14 Sólidos suspensos totais 55 5.1.15 Sólidos sedimentáveis 56 5.1.16 Coliformes termotolerantes 57 5.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 58 5.2.1 Influência do tratamento preliminar no desempenho das lagoas
de estabilização 58
5.2.2 Influência das características do esgoto bruto no desempenho das lagoas de estabilização
58
5.2.3 Análise da eficiência de remoção de nutrientes nas lagoas de estabilização
62
5.2.4 Influência da operação no desempenho das lagoas de estabilização
64
5.2.5 Influência do tanque de contato nas eficiências de remoção do efluente final das lagoas de estabilização
72
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 74 REFERÊNCIAS 76
1
1 INTRODUÇÃO
De acordo com a última contagem populacional realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (2007) a população brasileira recenseada e
estimada atingiu a marca de 183.987.291 (cento e oitenta e três milhões, novecentos
e oitenta e sete mil, duzentos e noventa e um) habitantes, significando um aumento
populacional de 7,71%, tendo como base o censo demográfico realizado pelo
mesmo Instituto no ano 2000.
No Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto realizado pelo Sistema
Nacional de Informações sobre Saneamento (2007), foi apresentado que o índice
médio nacional de atendimento urbano, em termos de abastecimento de água,
corresponde a 93,1%, ou seja, aproximadamente 10,5 milhões de habitantes não
são atendidos por rede de abastecimento de água. Quanto ao acesso a serviço de
rede coletora de esgotos sanitários, a Síntese de Indicadores Sociais, publicada em
2007 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, revelou que 33,2% dos
domicílios urbanos brasileiros são desprovidos de tal serviço.
Essas informações trazem consigo as tendências de crescimento da
população implicando em uma maior responsabilidade às empresas de saneamento,
quer sejam públicas, privadas ou mistas, no tocante ao fornecimento de serviços de
saneamento básico. De forma mais específica, o conjunto desses serviços se
resume num fornecimento de água de boa qualidade para o suprimento das
necessidades de abastecimentos doméstico e industrial, bem como a coleta,
tratamento e disposição final ou reúso dos esgotos gerados.
Devido à carência de grande parte das empresas de saneamento quanto à
expansão no atendimento e cobertura de novas áreas através de sistemas de redes
coletoras, atualmente, segundo dados do Programa de Pesquisa em Saneamento
Básico (PROSAB), cerca de 78 milhões de habitantes fazem a própria gestão dos
esgotos gerados, sendo o uso de fossas uma das alternativas técnicas mais
utilizadas (PROGRAMA..., 2007).
Apesar da operação e manutenção desse tipo de tratamento ser bastante
simples, consistindo basicamente na retirada do lodo e da escuma, em intervalos de
limpeza pré-determinados em projeto, é o tratamento e a destinação final desses
1
resíduos que gera grande preocupação, pois se dispostos de maneira incorreta,
trarão conseqüências negativas para a saúde pública, além de causar possíveis
danos aos mananciais. O lançamento de esgotos in natura em corpos aquáticos
causa sérios problemas à qualidade de vida e coloca em risco o abastecimento de
água da população (CHERNICHARO, 2001b).
Observa-se que nas cidades de médio e grande porte, o manejo da
disposição dos efluentes líquidos produzidos em residências uni ou multifamiliares,
comércio, hospital, dentre outros ramos de atividade, passou a contar, há algum
tempo, com o suporte dos serviços prestados por empresas limpa-fossas. O
surgimento destas justifica-se pela deficiência do serviço público de esgotamento
sanitário, obrigando grande parte da população à adoção de soluções individuais
para destinação final de águas servidas e dejetos. A prática da coleta dos esgotos
de diversas origens pelas empresas imunizadoras vem ganhando maiores
proporções, tornando-se atualmente, sem sombra de dúvidas, um serviço essencial
para a população urbana.
No momento em que se conclui o esgotamento de uma fossa séptica, a
imunizadora torna-se responsável pelo material que conduz, ou seja, pelo seu
transporte e destinação final adequado, devendo obedecer, para tanto, às
legislações civis e ambientais às quais a atividade esteja submetida. Em muitos
casos não há a preocupação por parte do usuário que contrata tal serviço em saber
qual será o destino daquele efluente, aonde o mesmo será depositado e se a
empresa possui licença dos órgãos ambientais municipais para desenvolver a
atividade. Perante esta realidade, surgem questionamentos referentes ao grau de
segurança sanitária e ambiental quanto ao manejo destes efluentes.
A maioria do lodo transportado pelas imunizadoras é disposto sem qualquer
critério técnico – no solo, em rios e, até, como adubo na agricultura –, colocando em
risco a saúde da população e a qualidade ambiental (PROGRAMA..., 2007).
Percebe-se, desta forma, que a disposição, de maneira imprópria, dos
efluentes líquidos e do lodo, oriundos de fossas sépticas, constitui uma grande
problemática vivenciada em todo o Brasil.
Em Natal, o percentual de cobertura de coleta por parte do sistema público de
esgotamento sanitário é de 32%, atendendo uma população aproximada de 240.000
habitantes (COMPANHIA DE ÁGUAS E ESGOTOS DO RIO GRANDE DO NORTE,
1
2008). Araújo, G. et al. (2005) revela ainda que, do total coletado, apenas 40% são
tratados, e a metade de forma ineficiente, face ao incremento de ligações sem a
correspondente ampliação das unidades, sendo o restante despejado “in natura” no
rio Potengi, principal rio do município.
Por causa da deficiência na elaboração de políticas públicas voltadas ao
saneamento municipal, 510.720 dos 712.317 habitantes de Natal adotam fossa
séptica, o que corresponde a 71,70% da população. Em termos de domicílios,
127.680 dos 177.783 utilizam a fossa, o que equivale a 71,82% das residências da
cidade (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2007).
Como visto, as soluções amplamente adotadas para as áreas sem sistema de
esgotamento sanitário são os sistemas individuais do tipo fossa séptica que, muitas
vezes, se encontram inadequados ao meio ambiente local, inclusive poluindo os
mananciais subterrâneos através de compostos químicos ou por contaminação
microbiana.
As primeiras evidências de alteração da qualidade das águas dos mananciais
subterrâneos em Natal pela presença do íon nitrato remontam ao ano de 1981,
através de um estudo hidrogeológico realizado pelo Instituto de Pesquisas
Tecnológicas de São Paulo (IPT-SP), mediante contrato com a Secretaria de
Planejamento (SEPLAN) do Governo do Estado. A pesquisa indicava que o
fenômeno era de abrangência localizada, estando a contaminação relacionada
diretamente com deficiências construtivas dos poços tubulares na área do município
(COMPANHIA DE ÁGUAS E ESGOTOS DO RIO GRANDE DO NORTE, 2001).
Atualmente, após análise físico-química completa das águas do aqüífero na
região de Natal, foi constatado que as mesmas se apresentam contaminadas,
principalmente com nitrato resultante da biodegradação de efluentes domésticos. A
maioria dos poços, localizados na periferia da cidade, não está afetada, enquanto
que em vários setores dos domínios urbanos os poços apresentam teores de nitrato
superiores ao permitido pela legislação (INSTITUTO DE GESTÃO DAS ÁGUAS DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, 2008).
No município de Natal existem nove empresas do ramo limpa-fossa em
operação. Segundo a Lei Ordinária Municipal nº. 4.867, de 27 de agosto de 1997,
essas empresas são obrigadas a manter e operar seus próprios sistemas de
tratamento de resíduos. De acordo com o Art. 1° (Parágrafo Único) – “Ficam
1
obrigadas as empresas imunizadoras que coletam despejos sanitários, residenciais
ou comerciais, públicos ou particulares, a manterem sistema próprio de lagoas de
estabilização” (NATAL, 1998, p. 364).
Para a realização desta pesquisa contou-se com a parceria de uma das
maiores empresas imunizadoras de Natal, quanto ao volume coletado e frota, cujo
modelo de tratamento condiz com a legislação vigente no município.
As imunizadoras que dispõem de sistema de tratamento geralmente o
gerenciam (manutenção e operação) a partir de critérios intuitivos, não havendo uma
permanente preocupação quanto à qualidade do efluente final a ser lançado em
corpo receptor, bem como do aspecto estético da área que abriga as unidades de
tratamento e adjacências. Esses sistemas privados de lagoas de estabilização, além
de atenderem à demanda das empresas proprietárias, contemplam, parcialmente,
empresas de terceiros, em geral as de pequeno porte, que através da cobrança de
uma taxa por “carrada” ou taxa mensal, tratam os efluentes destas.
Contudo, dificilmente pode-se contar com a ação sanitária dos caminhões
limpa-fossa, pois há casos em que os mesmos são descarregados nos principais
mananciais de água das cidades, tornando-os impróprios para uso da população.
Desta forma, fica clara a necessidade de um estudo que busque reverter o
quadro alarmante da realidade existente, visando não somente a solução da
problemática da gestão dos resíduos esgotados pelas imunizadoras, vivenciada em
quase todo o país, mas também a necessidade de instituir o conceito da
sustentabilidade nesse tipo de atividade.
Para tanto, a pesquisa desenvolvida avaliou o desempenho do uso das
lagoas de estabilização como sistema de tratamento dos resíduos esgotados das
fossas sépticas.
Esse trabalho faz parte de uma das linhas de pesquisa do Edital 5 do
Programa de Pesquisas em Saneamento Básico (PROSAB-5), constituindo uma
rede de pesquisa para estudar o tema “Lodo de fossa séptica: caracterização,
tecnologias de tratamento, gerenciamento e destino final”.
No âmbito da rede de pesquisa sobre o lodo de fossas sépticas participam
grupos de cinco instituições federais de ensino, de maneira a abranger as cinco
regiões do país. Dessa forma, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN) foi escolhida para integrar estes grupos e desenvolver dissertações
1
contemplando o tema “Caracterização e estudo de alternativas de tratamento de
lodos de fossa séptica na cidade do Natal, RN”.
1
2 OBJETIVOS E HIPÓTESES FORMULADAS
A pesquisa desenvolvida teve como foco a avaliação da utilização de lagoas
de estabilização para tratamento dos resíduos esgotados de fossas sépticas,
observando-se, para tanto, as qualidades física, química e microbiológica dos
efluentes nas diversas etapas do tratamento.
Objetivos específicos:
• Monitorar, através de visitas em campo, coleta de amostras e análises
laboratoriais, o sistema de lagoas de estabilização da imunizadora em estudo;
• Caracterizar, quanto aos parâmetros de qualidade física, química e
microbiológica, os afluentes e efluentes das lagoas monitoradas na pesquisa;
• Verificar e comparar se as eficiências de remoção (matéria orgânica, fração
de sólidos, nutrientes, agentes microbiológicos, dentre outros) das lagoas
estão condizentes com os resultados apresentados em normas técnicas, bem
como com a legislação ambiental vigente;
• Verificar como as condições operacionais podem afetar a eficiência do
sistema de lagoas de estabilização.
Hipóteses formuladas:
• O sistema de lagoas de estabilização tratando resíduos esgotados de fossa
séptica, quando bem projetado e executado, apresenta considerável
eficiência nas remoções de DQO, sólidos suspensos e coliformes;
• A operação precária de sistema de tratamento constituído por lagoas de
estabilização implica na produção de efluente final fora dos padrões de
qualidade estabelecidos em projeto, bem como estimula o colapso entre as
unidades do sistema.
1
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 FOSSAS E TANQUES SÉPTICOS
Dentre os diversos conceitos encontrados na literatura, as fossas podem ser
definidas como o local utilizado para detenção dos esgotos domésticos, por período
de tempo aleatório, sendo encontradas geralmente na forma cilíndrica ou prismática.
De acordo com o Manual de Saneamento (FUNDAÇÃO NACIONAL DE
SAÚDE, 2006) há diversas variações de fossas destinadas a receber os esgotos
domésticos. No Quadro 1 são apresentadas algumas categorias de fossas bem
como suas características.
Apesar de desempenharem funções de decantação dos sólidos e retenção de
material graxo, o termo “tratamento” não pode ser associado às fossas, uma vez que
sua principal função destas é infiltrar o esgoto no solo.
Já os tanques sépticos (decanto-digestores) são unidades que desempenham
funções múltiplas de sedimentação da matéria sólida e de remoção de materiais
flutuantes, além de comportar-se como digestor de baixa carga sem mistura e sem
aquecimento (MENESES et al., 2001). São amplamente utilizados em todo o mundo,
constituindo uma das principais alternativas para tratamento primário de esgotos de
residências e pequenas áreas não servidas por redes coletoras (CHERNICHARO,
1997).
Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (1992), o sistema de
tanque séptico é o conjunto de unidades destinadas ao tratamento e à disposição de
esgotos, mediante utilização de tanque séptico e unidades complementares de
tratamento e/ou disposição final de efluentes e lodo.
1
Quadro 1 – Tipos de fossas e suas respectivas características Fonte: Andreoli (2009), Fundação Nacional de Saúde (2006, p. 170) e Oliveira e Von Sperling (2006,
p. 6)
Os tanques sépticos ou decanto-digestores são muito práticos de serem
adotados. Andrade Neto (1997) cita que estes são de fácil execução e operação
sendo empregados largamente em diversas regiões habitadas. De acordo com
Campos et al. (1999) os tanques sépticos são largamente empregados, em termos
numéricos, em todo o país, sobretudo naquelas localidades que apresentam menor
infra-estrutura, ou seja, em regiões que não possuem sistema de esgotamento
sanitário. É aplicado para tratamento de esgotos em uma residência e em pequenas
comunidades.
1
De acordo com a NBR 7229/93 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 1993), o lodo e a escuma acumulados nos tanques sépticos devem ser
removidos em intervalos equivalentes ao período de limpeza do projeto, podendo ser
encurtado ou alongado desde que sejam verificadas alterações nas vazões efetivas
de trabalho com relação às estimadas. Esta norma recomenda uma remoção
periódica do lodo acumulado, em intervalos de limpeza que podem variar de 1 a 5
anos, e uma remoção mais freqüente da escuma.
Andrade Neto (1997) expõe algumas disposições estruturais de tanques
sépticos, classificando-os em câmara única (Figura 1), em câmaras em série (Figura
2) e em câmaras sobrepostas (Figura 3), além de informar sobre suas formas
geométricas cilíndrica ou prismática retangular.
Figura 1 – Tanque séptico de câmara única Fonte: Andrade Neto (1997)
Figura 2 – Tanque séptico de câmaras em série Fonte: Andrade Neto (1997)
1
A eficiência dos decanto-digestores depende de vários fatores,
principalmente: carga orgânica, carga hidráulica, geometria, compartimentos e
arranjo das câmaras, dispositivos de entrada e saída, temperatura e condições de
operação. Portanto, a eficiência varia bastante em função da qualidade do projeto.
Normalmente situa-se entre 40 e 70% na remoção da DBO.
Os dispositivos de entrada e saída (tês, septos, chicanas ou cortinas) são de
extrema importância para a eficiência do decanto-digestor, pois ajudam a controlar
as condições de mistura e o de saída é fundamental para a retenção de sólidos no
reator, propiciando a tomada do efluente no nível em que o líquido é mais clarificado
e retendo também a escuma (sólidos flotantes, gorduras, etc). Tanto as condições
de mistura e contato biomassa-esgotos, como as de retenção de biomassa e
clarificação do efluente dependem bastante dos dispositivos de entrada e saída dos
esgotos no reator (ANDRADE NETO, 2004).
3.2 CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS ESGOTADOS DE FOSSAS E TANQUES
SÉPTICOS
O lodo séptico é definido como o material líquido ou sólido removido de
tanques sépticos, banheiros químicos ou sistema similar que receba somente esgoto
sanitário (ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY, 2002). A composição do
Figura 3 – Tanque séptico de câmara sobreposta Fonte: Andrade Neto (1997)
1
lodo séptico é compreendida, na maior parte, por água, esgoto, material inorgânico
(areia) e material orgânico fecal (LEITE; INGUNZA; ANDREOLI, 2006).
A heterogeneidade de seus compostos é uma propriedade marcante, função
de alguns fatores como clima, hábitos dos usuários, tipo e tamanho do tanque ou
escavação, freqüência de limpeza e características do efluente.
Segundo Machado Júnior et al. (2008), os resíduos esgotados de fossas e
tanques sépticos possuem odor e aspectos repugnantes, tendência em formar
espumas se submetidos à agitação e oferecem resistência à sedimentação e à
desidratação. Caracterizam-se por serem pontos disseminadores de microrganismos
como vírus, bactérias e parasitas, resultando, portanto, em cuidados especiais no
seu manuseio e tratamento.
Rocha e Sant’anna (2005) compilaram dados, de diferentes autores,
referentes à caracterização do lodo de tanque séptico, como se observa na Tabela
1. Ratis et al. (2008) afirmam que existe uma grande divergência entre os resultados
apresentados pelos pesquisadores de diferentes regiões do país, bem como na
literatura estrangeira, conforme apresentado na Tabela 2.
Meneses (2001) caracterizaram físico-química e biologicamente os resíduos
de tanques sépticos e sumidouros coletados do descarregamento de caminhões
limpa-fossa da cidade de Natal. As amostras foram coletadas com freqüência
quinzenal, totalizando 15 (quinze) amostras. Ao final do estudo, os autores
constataram que tal efluente apresenta elevado grau de matéria orgânica, com DBO5
média de 2434 mg/L, e DQO média de 6892 mg/L. Quanto aos nutrientes o fósforo
total apresentou 18,0 mg/L, o nitrogênio orgânico 34,9 mg/L, o nitrogênio amoniacal
com concentração de 80,2 mg/L, o nitrito inexistente, e o nitrato com 1,8 mg/L.
Ratis (2009), também analisando os resíduos esgotados de fossas e tanques
sépticos na cidade de Natal, afirma que estes resíduos são bem mais concentrados
que o esgoto doméstico, no entanto, não apresentam características de lodos de
esgoto. Em sua pesquisa, a autora realizou 125 amostragens coletando o material,
dos canos de descarga de caminhões limpa-fossa, que iria ser descarregado na ETE
de uma Imunizadora da cidade.
1
Fonte: Adaptado de Ratis et al. (2008, p. 3)
A pesquisadora assegura ainda que o caso de ocorrência mais comum na
cidade é o esgotamento em conjunto da fossa + sumidouro ou do tanque séptico
+sumidouro, sendo menos comum o esgotamento individual do tanque séptico, da
fossa ou do sumidouro (Gráfico 1).
Parâmetros (mg/l) (min-máx)
USEPA (2002)
CASTILHO JR. et.al (2002)
TACHINI et.al (2006)
DBO 440-78.600 300-3.600 230-47.200 DQO 1.500-703.000 528-18.410 474-56.000 ST 1.132-130.475 516-31.580 655-162.660 CTT (UFC/100ml) - - - Helmintos (ovos/L) - - -
Fonte: Rocha e Sant’anna (2005, p. 2)
Tabela 1 – Caracterização do lodo de tanque séptico segundo diferentes autores
Tabela 2 – Divergências dos resultados obtidos quanto à caracterização do lodo de tanque séptico
Gráfico 1 - Distribuição das amostras por sistema de origem Fonte: Ratis (2009, p. 73)
Brandes 1978
USEPA 1977
Edeline 1983
Philip 1983
Sabatier 1983
Dérangère 1988
DQO 10383 - 8640 45000 30300 - 32000 -DQO filtrada 1028 - - - - - - -DBO5 2808 - 2300 5000 - - - -pH 6,69 6-8 6,5 6-9 - - 8,8 6,9Alcalinidade 994 - - - - - - -NH4 116 35 150 532 319 335Fósforo total 45 150-600 12 150 175 538 338 1221ST 9550 2000-4000 2800 40000 27900 33400 24000 45600SV 6172 1500-3000 24150 17200 31000SST 6896 - - - - - - -SSV 5019 - - - - - - -Óleos e Graxas 1588 - - - - - - -Detergentes 48 - - - - - - -
Parâmetros (mg/L) Cassini 2003
Fiúza Jr. 2003
Philippi, 1992
1
N° de dados Mediana MA MG Mínimo Máximo DP CV (%)Temperatura (°C) 124 29,3 29,1 29,1 23,2 32,7 1,83 6
pH 125 6,68 6,64 6,59 4,24 8,34 0,81 12Condutividade 125 964 1.797 1.034 231 37.300 4.307,89 239DBO (mg/L) 64 973 2.649 1.146 89 18.195 3.871,4 146DQO (mg/L) 120 3.549 5.056 2.921 211 33.846 6.276,21 124
Fósforo (mgP/L) 68 40,3 71,3 48,7 10,3 414,5 70,58 99Amônia total (mgN/L) 122 64,6 86,3 63,5 2,9 593,6 82,77 96
NTK (mgN/L) 122 92,6 139,4 103,3 23,1 1.009,1 133,98 96% Amônia 121 72,5 68,4 ‐ 1,2 99,9 ‐ ‐Alcalinidade
(mg CaCO3/L)124 391 528 408 96 3.827 534 101
Óleos e graxas (mg/L) 119 151 755 178 1,7 17.480 1.903,56 252Sólidos totais (mg/L) 124 3.557 7.034 3.821 399 43.563 8.324,56 118
ST fixos (mg/L) 124 955 2.135 1.060 95 20.395 3.442,85 161ST voláteis (mg/L) 124 2.480 4765 2.466 233 37.077 5.883,65 123
% STV 124 70,2 67,40 ‐ 6,3 98,6 ‐ ‐Sólidos suspensos (mg/L) 117 2.264 4.554 2.020 134 33.733 6.376,54 140
SS fixos (mg/L) 116 481 1.399 402 6,6 18.400 2.880,54 206SS voláteis (mg/L) 116 1.605 3.175 1.431 120 24.640 4.466,19 141
% SSV 116 77,5 73,4 ‐ 17,3 99,3 ‐ ‐Sólidos sedimentáveis
(mL/L)125 75 161,2 47,2 0,3 990 222,97 138
Coliformes termotolerantes (UFC/100) 86 1,38E+07 3,89E+07 1,22E+07 1,01E+02 8,50E+08 1,03E+08 263
Helmintos (ovos/L) 86 7 360 ‐ 0 14.819 1.749,13 486Helmintos (viabilidade %) 86 0 2,4 ‐ 0 48,83 7,35 300
Na Tabela 3 são apresentados dados referentes às características físico-
químicas e microbiológicas dos resíduos esgotados de fossas e tanques sépticos.
Tabela 3 – Características físico-químicas e microbiológicas dos resíduos esgotados de fossas e tanques sépticos
MA - Média Aritmética; MG - Média Geométrica; DP - Desvio Padrão; CV - Coeficiente de Variação; NTK - Nitrogênio Total Kjeldahl; ST - Sólidos Totais; STV - Sólidos Totais Voláteis; SS - Sólidos Suspensos; SSV - Sólidos Suspensos Voláteis. Fonte: Ratis (2009, p. 75)
3.3 LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO COMO ALTERNATIVA PARA O TRATAMENTO
DOS RESÍDUOS ESGOTADOS
O objetivo principal do tratamento de esgotos é corrigir as suas características
indesejáveis, de tal maneira que o seu uso ou a sua disposição final possa ocorrer
de acordo com as regras e critérios definidos pelas autoridades (VAN HAANDEL;
LETTINGA, 1994).
1
Várias técnicas de tratamento de esgotos vêm sendo utilizadas para promover
uma melhor qualidade ao efluente final a ser lançado num corpo receptor,
destacando-se: lagoas de estabilização, lagoas aeradas, filtro biológico, lodos
ativados, reator anaeróbio de manto de lodo, sistema de tanque séptico seguido de
filtro anaeróbio, disposição controlada no solo, dentre outros.
Em decorrência das várias opções e dos inúmeros condicionantes, são muitas
as variáveis a serem consideradas na escolha de alternativas tecnológicas mais
adequadas ao tratamento dos esgotos sanitários. Devem ser analisadas, avaliadas e
comparadas, no mínimo (ANDRADE NETO, 2007):
• a eficiência na remoção de sólidos, matéria orgânica, microrganismos
patogênicos e nutrientes eutrofizantes;
• a capacidade de absorver as variações qualitativas e quantitativas do afluente;
• a capacidade do sistema de se restabelecer de perturbações funcionais e a
estabilidade do efluente;
• os riscos de maus odores e de proliferação de insetos;
• a facilidade de modulação e expansão;
• a complexidade construtiva;
• as facilidades e dificuldades para manutenção e operação;
• potencial produtivo e os benefícios econômicos diretos e indiretos, inclusive o
destino final do dinheiro investido e seu retorno social;
• custos diretos na implantação, manutenção e operação.
Embora não exista uma solução que atenda integralmente a todos os
requisitos mencionados anteriormente, Andrade Neto (1997) e Oliveira et al. (2000)
consideram que as lagoas de estabilização constituem um sistema de tratamento
vantajoso por compor uma série de processos naturais, não necessitando de energia
elétrica, apresentam baixo custo de implantação, manutenção e operação.
Destacam ainda a simplicidade de construção e de operação, alta relação
benefício/custo e inexistência, em geral, de operador especializado e permanente.
Por definição, as lagoas de estabilização são reservatórios rasos, geralmente
delimitados por diques de terra, nos quais águas residuárias são tratadas por
processos naturais.
1
Essas lagoas são basicamente biorreatores, de águas lênticas, relativamente
rasas, construídas para armazenar resíduos específicos, como os domésticos e
industriais, devendo garantir elevados tempos de retenção. Isto resultará na
estabilização da matéria orgânica através de processos biológicos realizados pela
oxidação bacteriana e/ou redução fotossintética das algas (JORDÃO; PESSOA,
2005; PIVELI, 2004; SILVA FILHO, 2007).
Como diz o próprio nome, o objetivo principal de lagoas de estabilização é
estabilizar, ou seja, transformar em produtos mineralizados o material orgânico
presente na água residuária a ser tratada (CHERNICHARO, 2001a). Para atingir
este objetivo, utilizam-se processos de tratamento que se baseiam na atividade
metabólica de microrganismos, particularmente bactérias e algas.
Somente sistemas de lagoas de estabilização e de disposição controlada de
esgotos no solo, são capazes de propiciar, a baixo custo, o grau de tratamento
pretendido a nível terciário – remoção de patogênicos e nutrientes (ANDRADE
NETO, 2007).
Na Tabela 4 são apresentadas as características dos principais parâmetros
relacionados à eficiência de sistemas de lagoas de estabilização.
Segundo Ramadan e Ponce (2003), as lagoas de estabilização estão tendo
prioridade de escolha para o tratamento de esgotos sanitários também em muitas
partes do mundo. Na Europa, por exemplo, as lagoas são usadas frequentemente
em comunidades rurais pequenas, para populações de até 2000 habitantes, embora
maiores sistemas existam na França (quase 3000 lagoas de estabilização), Espanha
e Portugal. Nos Estados Unidos, local dos primeiros registros de uso desse tipo de
tratamento, um terço de todas as estações de tratamento de esgoto é composto por
lagoas de estabilização servindo geralmente a populações de até 5.000 habitantes
(VALE, 2007).
No Brasil, as lagoas de estabilização de esgotos vêm sendo empregadas com
sucesso devido ao baixo investimento necessário à implantação, operação e
manutenção aliadas às condições climáticas favoráveis e à disponibilidade de área
territorial na maioria das regiões (BENTO, 2005).
1
DBO5 DQO SS Amônia - N P Total N Total CF DBO5 DQO SS Amônia - N P Total N Total CF(mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (NMP/100mL) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (unid. Log)
Lagoa facultativa 50 - 80 120 - 200 60 - 90 > 15 > 4 > 20 106 - 107 75 - 85 65 - 80 70 - 80 < 50 < 35 < 60 1 - 2
Lagoa anaeróbia + lagoa facultativa 50 - 80 120 - 200 60 - 90 > 15 > 4 > 20 106 - 107 75 - 85 65 - 80 70 - 80 < 50 < 35 < 60 1 - 2
Lagoa aerada facultativa 50 - 80 120 - 200 60 - 90 > 20 > 4 > 30 106 - 107 75 - 85 65 - 80 70 - 80 < 30 < 35 < 30 1 - 2
Lagoa aerada de mistura completa + Lagoa de decantação
50 - 80 120 - 200 40 - 60 > 20 > 4 > 30 106 - 107 75 - 85 65 - 80 80 - 87 < 30 < 35 < 30 1 - 2
Lagoa anaeróbia + lagoa facultativa + lagoa de maturação
40 - 70 100 -180 50 - 80 10 - 15 < 4 15 - 20 102 - 104 80 - 85 70 - 83 73 - 83 50 - 65 > 50 50 - 65 3 - 5
EFICIÊNCIA MÉDIA ESPERADAQUALIDADE MÉDIA DO EFLUENTESISTEMA
A discussão sobre técnicas de tratamento de efluentes tem ressaltado o tratamento de esgoto por meio de lagoas de
estabilização como uma das técnicas mais bem aceitas na maior parte dos estados brasileiros, visto contemplar economia no custo e,
acima de tudo, simplicidade na operação e manutenção (SILVA FILHO, 2007).
Tabela 4 – Concentrações médias efluentes e eficiências típicas de remoção dos principais poluentes de interesse nos esgotos
Fonte: Adaptado de Von Sperling (2002, p. 14)
17
De acordo com Von Sperling (2002), as lagoas de estabilização são bastante
indicadas para as condições brasileiras, devido aos seguintes aspectos:
• suficiente disponibilidade de área em um grande número de localidades;
• clima favorável (temperatura e insolação elevadas);
• operação simples;
• necessidade de poucos ou de nenhum equipamento.
No estado do Rio Grande do Norte, a introdução do sistema de tratamento de
esgoto por meio de lagoas de estabilização iniciou-se na década de 80 do século
XX. Com o passar do tempo essa modalidade de tratamento vem mostrando
crescimento, passando das 12 Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs), na
década de 1980, para 43 em 1990 e 78 em 2006.
Dentre os fatores que possam vir a interferir no conjunto de reações inerentes
a essa modalidade de tratamento destacam-se os meteorológicos, também
conhecidos como fatores não-controláveis. A ação dos ventos, a temperatura, a
insolação e a intensidade de luz solar têm elevada influência na hora de projetar
lagoas de estabilização, pois regulam a atividade das algas e das bactérias
envolvidas no processo.
O sistema de tratamento composto por lagoas de estabilização resulta na
própria simplicidade dos procedimentos de operação e manutenção. Contudo, a
máxima eficiência, estimada em projeto, não será alcançada sem operação e
manutenção cuidadosas.
Muitas vezes, as etapas de manutenção de um sistema de lagoas de
estabilização confundem-se com sua operação, sendo, portanto, adequado definir
claramente esses dois termos: A manutenção do sistema visa conservar adequadamente, tanto o sistema de tratamento como o local de trabalho dos operadores, assegurando conforto e condições funcionais, tais como foram estabelecidas no projeto. A operação tem por objetivo garantir a funcionalidade do sistema como um todo, fornecendo aos operadores e responsáveis pelo sistema dados sobre a eficiência do conjunto, em especial sobre a redução da DBO e de organismos indicadores de patogênicos (KELLNER; PIRES, 1998, p. 147).
Segundo Jordão e Pessoa (2005) a manutenção resume-se em conservar as
características pré-estabelecidas em projeto e indispensáveis ao bom funcionamento
do processo, enquanto que a operação resume-se em controlar e favorecer os
fenômenos físicos, químicos e biológicos que caracterizam o processo,
considerados no projeto.
83
a) Classificação das lagoas de estabilização
As lagoas de estabilização são classificadas de acordo com a forma na qual a
matéria orgânica é estabilizada, bem como a atividade metabólica predominante na
degradação da matéria orgânica. Assim, pode-se classifica-las basicamente em
anaeróbias, facultativas e de maturação.
→ Lagoas Anaeróbias
As lagoas de estabilização anaeróbias são responsáveis pelo tratamento
primário dos esgotos, sendo dimensionadas para receber cargas orgânicas
elevadas, da ordem de 100 a 400 g DBO5/m³.dia, impedindo assim a presença de
oxigênio dissolvido no meio líquido e garantindo, dessa forma, condições
estritamente anaeróbias no interior da lagoa.
Esses reatores não dependem da ação fotossintética das algas e suas
condições ótimas ocorrem na ausência de oxigênio, podendo assim ser construídas
com maior profundidade, variando de 3,5 a 5,0 m (SILVA FILHO, 2007), e menor
área superficial de maneira a promover a condição de anaerobiose. O tempo de
detenção hidráulica nunca é inferior a 3 dias (KELLNER; PIRES, 1998). Tem sido
observado que lagoas anaeróbias dimensionadas para tempos de detenção maiores
que 5 dias funcionam como lagoas facultativas ao invés de anaeróbias (VIEIRA,
2003).
A sedimentação e a digestão anaeróbia são os principais mecanismos
envolvidos na remoção de matéria orgânica. A digestão anaeróbia é um processo
natural do ciclo do carbono, altamente complexo do ponto de vista microbiológico,
pelo qual é possível, na ausência de oxigênio, transformar substâncias orgânicas em
biomassa bacteriana e compostos inorgânicos, em sua maioria voláteis: CO2, NH3,
H2S, N2 e CH4 (ANDRADE NETO, 2004).
O envolvimento e a participação de bactérias facultativas e anaeróbias
estritas no processo podem ser descritos como ocorrendo em duas fases distintas:
fermentação ácida e fermentação metanogênica (ARAÚJO, 1993). Na primeira fase,
os compostos orgânicos complexos (proteínas, carboidratos e gorduras) são
hidrolizados por bactérias anaeróbias facultativas e transformados em compostos
orgânicos simples solúveis que serão convertidos em seguida a ácidos orgânicos,
principalmente ácido acético. A fermentação ácida tende a causar a diminuição no
valor do pH, já que há intensa produção de ácidos graxos voláteis e outros produtos
intermediários (PEDROZA, 2000).
83
Já na segunda fase ocorre o fenômeno de fermentação metanogênica, em
que os ácidos orgânicos produzidos anteriormente serão convertidos em metano e
dióxido de carbono por bactérias estritamente anaeróbias (VIEIRA, 2003), em
especial as archea metanogênicas (ANDRADE NETO, 2004).
Araújo (1993) descreve que as principais reações envolvidas no processo são
a conversão de carboidratos em células bacterianas com produção de ácido acético
(Equação 01) e a conversão de ácido acético em metano e dióxido de carbono
durante o crescimento das bactérias metanogênicas (Equação 02).
5 (CH2O)X (CH2O)X + 2CH3COOH + Energia
5/2 CH3COOH (CH2O)X + 2CH4 + 2CO2 + Energia
A Figura 4 esquematiza a dinâmica do funcionamento de lagoas anaeróbias.
A eficiência de remoção da DBO nas lagoas anaeróbias está intimamente
relacionada com a qualidade e natureza dos sólidos sedimentáveis presentes no
esgoto bruto afluente. Segundo Von Sperling (2002) a eficiência de remoção de
DBO nas lagoas anaeróbias é usualmente da ordem de 50% a 70%.
Os principais problemas operacionais observados com maior freqüência em
lagoas anaeróbias referem-se à exalação de maus odores, crescimento de
vegetação no seu interior e proliferação e presença de insetos.
Por apresentarem efluentes ainda com elevadas concentrações de matéria
orgânica e, particularmente, microrganismos, necessitam de tratamento
complementar, tratamento a nível secundário, geralmente realizado por lagoas
facultativas e de maturação.
→ Lagoas Facultativas
Segundo Silva e Mara (1979), o termo facultativa é designado à dualidade
ambiental que caracteriza esse tipo de lagoa, apresentando condição aeróbia na
superfície e condição anaeróbia em camadas próximas ao fundo da lagoa. Deste
modo, a estabilização da matéria orgânica se dá através da oxidação aeróbia e pela
redução fotossintética na camada superior, e na camada inferior através de
fenômenos típicos da fermentação anaeróbia (JORDÃO; PESSOA, 2005).
(Equação 02)
(Equação 01)
83
Figura 4 – Desenho esquemático de uma lagoa anaeróbia Fonte: Silva Filho (2007, p. 31)
83
Na zona aeróbia próxima à superfície da lagoa, a matéria orgânica é
degradada por bactérias aeróbias que são supridas de oxigênio por reações
fotossintéticas realizadas pelas algas e pela reaeração superficial. Nessa região, a
influência da luz solar juntamente com os nutrientes provenientes da mineralização
da matéria orgânica pelas bactérias, propicia o desenvolvimento de uma elevada
biomassa de algas, responsáveis pela liberação do oxigênio molecular que será
utilizado posteriormente pela população bacteriana com formação de novas células
(VIEIRA, 2003).
Na zona intermediária prevalecem as bactérias facultativas que possuem os
dois mecanismos de respiração, que podem crescer tanto em meio aeróbio quanto
em meio anaeróbio (KELLNER; PIRES, 1998).
A zona anaeróbia, no fundo da lagoa, é constituída da matéria orgânica
sedimentada formando o lodo, onde se desencadeiam as reações bioquímicas por
meio da digestão anaeróbia, produzindo gases como o CO2, CH4 e H2S, os quais se
deslocam para a superfície podendo se desprender para a atmosfera.
Grau (1991) afirma que nas lagoas facultativas são encontrados quaisquer
tipos de microrganismos, desde os anaeróbios restritos, no lodo de fundo, até os
aeróbios restritos, na zona intermediária adjacente da superfície. Entretanto, os
seres mais adaptados ao meio são os microrganismos facultativos, que podem
sobreviver nas condições de mudança de oxigênio dissolvido, típicas destas lagoas
ao longo do dia e do ano.
As lagoas facultativas são dimensionadas com grandes áreas superficiais,
pequenas alturas de lâminas de água (entre 1 m e 2 m) e períodos de detenção de
aproximadamente 10 dias (lagoas primárias) e 5 dias (lagoas secundárias) (MARA;
PEARSON, 1986). Jordão e Pessoa (2005) afirmam que para um melhor
desempenho em regiões tropicais são mais indicadas taxas de aplicação superficial
variando de 100 a 350 kg DBO5/ha.dia. A Figura 5 esquematiza a dinâmica do
funcionamento de lagoas facultativas.
A lagoa é denominada primária quando projetada para operar como única
unidade e/ou receber esgoto bruto. Quando projetada para receber efluente de lagoa
anaeróbia, aerada ou mesmo após uma estação de tratamento é chamada de lagoa
secundária (JORDÃO; PESSOA, 2005).
O efluente gerado por lagoas facultativas possui características bem
peculiares, devido aos processos que predominam no reator, a saber: cor verde, já
que a proliferação de algas é acentuada; elevado teor de oxigênio dissolvido, em
83
Figura 5 – Desenho esquemático de uma lagoa facultativa Fonte: Silva Filho (2007, p. 32)
83
virtude de reações fotossintéticas realizadas pelas algas; e, concentrações elevadas
de sólidos em suspensão, correspondendo à biomassa algal (VON SPERLING,
2002).
Essas lagoas podem atingir boas eficiências quanto à remoção de carga
orgânica, microrganismos patogênicos e sólidos suspensos (RODRIGUES, 2004).
Para Mendonça (1990) a redução de DBO5 é da ordem de 70 a 90%. Segundo Von
Sperling (2002) as lagoas facultativas têm eficiência nas remoções de DBO variando
entre 75 e 85%; coliformes termotolerantes com valores percentuais entre 90 e 99%;
nitrogênio inferior a 60% e fósforo inferior a 35%.
→ Lagoas de Maturação
A modalidade de lagoas de estabilização na qual a remoção de
microrganismos patogênicos apresenta-se como função principal denomina-se
lagoas de maturação e são empregadas como o último passo ou posteriores a
qualquer outro sistema convencional de tratamento de águas residuárias (FREITAS
et al., 2002).
Para Kellner e Pires (1998) o termo lagoa de maturação é dado àquela lagoa
em que a matéria orgânica está praticamente estabilizada e o oxigênio dissolvido se
faz presente em toda a massa líquida.
São construídas com menores profundidades, entre 0,60 e 1,50 m (SILVA
FILHO, 2007). Gloyna (1971) sugere a adoção de 1,0 m de profundidade.
Considera-se o tempo de detenção hidráulica de 7 dias para o seu
dimensionamento (KELLNER; PIRES, 1998). Em lagoas destinadas ao tratamento
de efluentes domésticos, o TDH situa-se entre 2 e 4 dias (JORDÃO; PESSOA,
2005).
Os raios ultra violeta da radiação solar apresentam um papel importante
nestas lagoas já que as baixas profundidades permitem que atuem em toda a massa
de água (RODRÍGUEZ; CABRERA; VILLACRÉS, 2006). Além do mais, favorece a
grande produtividade de algas e cianobactérias que, através da fotossíntese, geram
alta concentração de oxigênio, garantindo, dessa maneira, a redução de patógenos
(ARAÚJO, 1993).
A Figura 6 esquematiza a dinâmica do funcionamento de lagoas de
maturação.
83
Figura 6 – Desenho esquemático de uma lagoa maturação Fonte: Silva Filho (2007, p. 33)
83
O pH é o principal responsável pela morte dos organismos patogênicos,
acelerando o decaimento de coliformes termotolerantes, bem como da remoção de
nutrientes quando atinge valores iguais ou superiores a 9,0 (VON SPERLING, 2002).
O fósforo é removido principalmente através do mecanismo da precipitação química
na forma de hidroxiapatita desencadeado quando o pH supera valores de 8,2
(ARAÚJO, 1993). A amônia é removida principalmente através da volatilização em
faixas de pH superiores a 8,0 (SOARES et al., 1996).
A presença de luz também influencia bastante na eliminação de coliformes
termotolerantes. Segundo Curtis et al. (1992 apud KELLNER; PIRES 1998), a
existência de substâncias húmicas encontradas em todo o volume do líquido da
lagoa provocaria a absorção da luz solar e a utilização da energia para transformar o
oxigênio dissolvido em formas tóxicas, como peróxido de hidrogênio ou
provavelmente superóxidos e radicais hidroxil, danificando e matando os coliformes
fecais presentes na lagoa.
Dependendo das características climáticas do local e de projeto, a taxa de
remoção de coliformes termotolerantes, em uma série de lagoas de estabilização,
pode alcançar valores da ordem de 99,999%. Todavia, a eficiência de remoção de
DBO e DQO é geralmente baixa.
As lagoas apresentam excelente eficiência de tratamento. Em termos de
eficiência de remoção de DBO, a faixa típica situa-se entre 75 e 85 mg/L. Em
relação à remoção de nutrientes, pode-se encontrar uma razoável remoção de
nitrogênio amoniacal nas lagoas de maturação, rasas, através do processo de
volatilização da amônia livre (NH3), com pH elevado. É possível no caso de lagoas
de maturação rasas obter-se uma remoção de amônia livre da ordem de 70 a 80%
(JORDÃO; PESSOA, 2005).
b) Lagoas de estabilização no tratamento de resíduos esgotados de fossas e tanques sépticos
Como visto anteriormente, os resíduos esgotados, ou seja, o material líquido
e sólido removido de unidades como tanque séptico, fossa séptica ou sistema similar
que receba somente esgoto doméstico são definidos como lodo séptico. Sua coleta
geralmente apresenta dificuldade quanto ao acesso dos caminhões às residências e
ao transporte do lodo a grandes distâncias.
83
Devido ao fato dessas unidades não serem capazes de tratar eficientemente
o esgoto disposto nas mesmas, faz-se necessário destinar os efluentes para um
sistema de tratamento, capaz de adequá-los aos padrões do corpo receptor que
servirá como disposição final, evitando-se a ocorrência de possível degradação
ambiental.
As lagoas de estabilização, como opção no tratamento dos resíduos
esgotados de fossa séptica, são indicadas para as condições brasileiras,
considerando-se a disponibilidade de área em um grande número de localidades, o
clima favorável (temperatura e insolação elevadas), a operação simples e a pouca
necessidade de equipamento, acarretando uma redução no custo final.
Araújo, A. et al. (2005), estudando o mesmo sistema de tratamento desta
pesquisa, ou seja, fazendo uso de sistema de lagoas de estabilização aplicadas ao
tratamento de resíduos de tanques-sépticos, composto por duas lagoas anaeróbias,
uma facultativa, seguida de uma de maturação e um tanque de desinfecção,
obtiveram eficiência em torno de 95% para DBO, 97% para DQO e 99,9% para
coliformes termotolerantes.
Naval e Santos (2000) avaliaram um sistema de lagoas de estabilização para
tratamento de águas residuárias domésticas, oriundas de rede coletora de esgotos e
de fossas sépticas, na cidade de Palmas/TO. Os autores afirmam que o sistema de
lagoas apresenta boa eficiência no tratamento, obtendo redução da carga orgânica
de 70% e eficiência de 97,7% para remoção de coliformes termotolerantes, haja
vista que o sistema havia sido implantado a menos de um (01) ano.
Outros estudos também apontam a eficiência das lagoas de estabilização
tratando efluentes com elevada carga orgânica.
Campos et al. (2006), avaliaram o uso de lagoas de estabilização no
tratamento de resíduos líquidos de fecularia em Marechal Cândido Rondon/PR. O
tratamento dos efluentes da indústria foi realizado por uma seqüência de sete lagoas
de estabilização, sendo três anaeróbias e quatro facultativas. Apesar das águas
residuárias de fecularia apresentarem elevada carga poluidora, principalmente
elevadas concentrações de DQO e DBO, o sistema promoveu redução de 96,3% de
DQO e 96,4% de DBO, 93,5% de fósforo total e 67,0%; 58,3% e 72,3% para ST, SF
e SV, respectivamente.
Marques, Kato e Florencio (2007), avaliando a eficiência do tratamento de
efluentes de abatedouro avícola, composto por sete lagoas de estabilização em
série e vazão afluente estimada de 1.021m³/dia, observaram que a eficiência de
83
remoção do sistema de tratamento atingiu valores de 95,40%, para DQO bruta,
97,10%, para DBO bruta, 96,2%, para óleos e graxas, 78,23%, para sólidos totais,
57,78%, para nitrogênio total, e 7,89% para fósforo total.
Araújo et al. (2006) estudando o tratamento de dejetos suínos através de
lagoa facultativa aerada e lagoa de maturação, em escala real, concluíram que, ao
longo do monitoramento, nos diferentes períodos de operação, as faixas de
eficiência média de remoção foram de: 64-86% para DQO; 56-73% para P-PO4; 71-
90% para NTK e 45-93% para N-NH3.
Araújo (2007) avaliou lagoas facultativa aerada e de maturação, em série e
em escala real, tratando dejetos suínos provenientes de uma média propriedade
rural, no Estado de Santa Catarina. As eficiências de remoção foram de 41-55%
DQO; 49-70% DBO; 48-65% NTK; 26-73% N-NH3; 27-42% P-PO4; 0,7-0,9 Unidades
Log E. coli.
83
4 MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização da pesquisa foi necessário firmar parceria com uma das
empresas imunizadoras operantes em Natal, e esta deveria possuir um sistema
privado de tratamento (lagoas de estabilização) dos efluentes coletados das fossas
sépticas.
Dentre as empresas que fazem parte do ramo limpa-fossa, a Imunizadora
Potiguar foi a escolhida. Alguns fatores foram bastante relevantes nessa decisão,
dentre eles:
• Empresa autorizada pelo Instituto de Defesa do Meio Ambiente (IDEMA) para
transporte e descarga de efluentes orgânicos, em unidade apropriada ao
tratamento, cumprindo a legislação vigente;
• Empresa que há mais tempo atua na cidade do Natal (trinta e um anos);
• Uma das três imunizadoras que possuem sistema de lagoas de estabilização;
• Esgota mais da metade das fossas sépticas da cidade;
Desta forma, a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Imunizadora
Potiguar foi utilizada como campo experimental no desenvolvimento desta pesquisa.
4.1 LOCALIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DO SISTEMA EXPERIMENTAL
O sistema experimental está localizado no bairro de Felipe Camarão, zona
administrativa oeste da cidade de Natal, no Estado do Rio Grande do Norte, às
margens da antiga estrada Natal – Macaíba (RN 226) e do Rio Potengi – Jundiaí,
nas coordenadas geográficas 5º49’13”S e 35º16’30”O.
A área compreendida pela referida estação de tratamento está inserida na
Zona de Proteção Ambiental (ZPA-8) que compreende o Rio Potengi e o manguezal,
sendo esta considerada frágil, do ponto de vista ambiental, pois ainda não é
regulamentada legalmente (NATAL, 2007).
Na Figura 7 é mostrada a imagem aérea desta estação.
83
Leia-se: TP: tratamento preliminar; LA1: primeira lagoa anaeróbia; LA2: segunda lagoa anaeróbia; LF: lagoa facultativa; LM: lagoa de maturação; TC: tanque de cloração. Figura 7 – Imagem aérea das lagoas de estabilização da Imunizadora Potiguar Fonte: Torres (2008, p. 29)
TC
TP
LM
LF
LA 1
LA 2
10/06/08
83
O sistema de tratamento de efluentes, em escala real, pesquisado, é
composto de uma área de recepção e tratamento preliminar (gradeamento e
desarenação simplificados), um conjunto de quatro lagoas de estabilização, sendo
duas anaeróbias em série seguidas de uma facultativa secundária e uma lagoa de
maturação, e, por fim, um sistema de desinfecção com a utilização de cloro.
O tratamento preliminar é composto por três tanques cuja função é atuar
como desarenador, diminuindo os efeitos adversos da areia contida no esgoto,
reduzindo impactos quanto à eficiência das instalações a jusante, bem como reduzir
impactos negativos ao corpo receptor (estético, assoreamento). Após os tanques,
uma grade de barras complementa o tratamento preliminar, retendo os sólidos
grosseiros que não decantaram nos mesmos (Fotografia 1). Logo em seguida o
efluente segue por gravidade ao início da série de lagoas, passando antes por três
caixas de inspeção, as quais deságuam na superfície da primeira lagoa anaeróbia
(L1) (Fotografia 2).
Após a L1, o efluente é transferido para a segunda lagoa anaeróbia (L2), que
possui a mesma profundidade que sua antecessora porém com o dobro de sua área
(Fotografia 3). Dando continuidade à série de lagoas, apresentam-se uma lagoa
facultativa (L3) e, logo em seguida, uma de maturação (L4), ilustradas nas
Fotografias 4 e 5, respectivamente.
Por fim, o efluente desemboca em um tanque de alvenaria, provido de
chicanas, com dimensões de 5,30 x 3,00 m. No início desse tanque é realizada a
cloração, através de pastilhas, sendo o efluente, em seguida, encaminhado ao
medidor de vazão (calha Parshall) para posterior lançamento no Rio Potengi,
conforme Fotografia 6.
De acordo com o projeto de dimensionamento da ETE, as lagoas de
estabilização dessa imunizadora foram dimensionadas para receber uma vazão
afluente de 300.000 L/dia, o que equivale a 40 caminhões limpa-fossa, cada um com
capacidade para 7.500 L. A alimentação das lagoas é realizada com a introdução do
material proveniente dos caminhões limpa-fossa que coletam os resíduos sólidos e
líquidos gerados de atividades humanas ou industriais.
Esse sistema de tratamento não possui laboratório de apoio, apenas um
operador para retirar o lodo flutuante gerado no processo de tratamento
(desarenador, grade de barras e escuma). Na Figura 8 são detalhadas as
dimensões de projeto das lagoas de estabilização.
83
Fotografia 1 – Tratamento Preliminar que antecede a série de lagoa
Fotografia 2 – Lagoa Anaeróbia 1 (LA 1)
11/08/08
04/06/08
83
Fotografia 3 – Lagoa Anaeróbia 2 (LA 2)
Fotografia 4 – Lagoa Facultativa (LF)
20/03/08
04/06/08
83
Fotografia 5 – Lagoa de Maturação (LM)
Fotografia 6 – Tanque de Contato (TC)
20/03/08
11/08/08
83
Figura 8 – Dimensões de projeto das lagoas de estabilização da Imunizadora Potiguar
Perímetro (m) Área (m²) Profundidade (m) Volume (m³)Dimensões
3,00 3.807,00
3,00
1.269,00
Lagoa Anaeróbia 2
1.880,04
148,00
Lagoa Facultativa
Lagoa de Maturação
Lagoa Anaeróbia 1
14.181,00279,00 4.727,00 3,00
145,50 855,50 2,00 1.711,00
101,00 626,68
83
4.2 MONITORAMENTO DO SISTEMA EXPERIMENTAL
O período total de amostragem foi de outubro de 2007 a outubro de 2008,
totalizando 29 coletas, realizadas com freqüência semanal. As campanhas eram
realizadas por volta das 9 horas da manhã, em que alíquotas dos efluentes de cada
unidade de tratamento foram coletadas e armazenadas em frascos de 100 mL
(volume utilizado na análise de viabilidade de ovos de helmintos) e garrafas plásticas
de 3 L (volume utilizado nas demais análises). Foram feitas coletas em seis pontos,
demonstrados na Figura 9.
As amostras eram acondicionadas em caixas térmicas (isopor), a uma
temperatura aproximada de 4º C, preservando assim a representatividade das
mesmas.
Por não haver um sistema de medição de vazão no tratamento preliminar bem
como um controle preciso na quantidade de volume coletado pelos caminhões a
quantificação do material descarregado na série de lagoas não foi possível ser
realizada.
Em campo eram medidos pH, temperatura, condutividade e oxigênio
dissolvido. Já as análises laboratoriais foram realizadas nas dependências do
Laboratório de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN) e do Laboratório de Análise de Águas e Esgotos do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN).
Leia-se: Pontos de Coleta (efluente) Figura 9 – Croqui da ETE da Imunizadora Potiguar, destacando os pontos de coleta
83
4.2.1 Metodologia de análise O quadro 2 apresenta a relação de métodos empregados nas análises das
variáveis estudadas.
PARÂMETROS MÉTODOS REFERÊNCIAS
VARIÁVEIS FÍSICAS
American Public Health Association,
American Water Works Association,
Water Environment Federation
(1998) .
Temperatura (°C) Potenciométrico pH Potenciométrico Condutividade Elétrica (µS/cm) Condutivimétrico Sólidos Totais (mg/L) Gravimétrico com secagem a 103 - 105ºC
Sólidos Voláteis e Fixos (mg/L) Gravimétrico com secagem a 103 - 105ºC seguida de ignição a 500 - 550°C
Sólidos Suspensos Totais (mg/L)
Filtração a vácuo com membrana de fibra de vidro 0,45 µm de porosidade – Secagem a 103°C – 105°C
Sólidos Suspensos Voláteis e Fixos (mg/L)
Filtração a vácuo com membrana de fibra de vidro – Secagem a 103°C – 105°C seguida de Ignição a 500 - 550°C
Sólidos Dissolvidos Totais (mg/L) Cálculo
Sólidos Sedimentáveis (mL/L) Visualização em Cone de Imhoff VARIÁVEIS QUÍMICAS
Oxigênio dissolvido (mg/l) Eletrométrico DQO (mgO2/L) Titulométrico - Digestão por refluxação fechada Ortofosfato (mgP/L) Espectrofotométrico – Cloreto Estanhoso Fósforo Total (mgP/L) Espectrofotométrico – Cloreto Estanhoso
Nitrogênio Orgânico (mgN/L) Espectrofotométrico - Digestão e destilação seguida de Nesslerização
Amônia Total (mgN/L)
Espectrofotométrico - Destilação em Macro-Kjeldahl seguida de Nesslerização
American Public Health Association,
American Water Works Association,
Water Environment Federation
(1992) Nitrato (mgN/L) Espectrofotométrico – Salicilato de Sódio Rodier (1975)
VARIÁVEIS MICROBIOLÓGICAS
Coliformes Termotolerantes (UFC/100mL) Técnica da Membrana Filtrante com 0,45 µm de poro.
American Public Health Association,
American Water Works Association,
Water Environment Federation
(1998)
Clorofila “a” (µg/L) Extração com metanol Jones (1979) Quadro 2 – Relação das metodologias utilizadas na análise de cada parâmetro
83
Como observado, a grande maioria das análises foi realizada utilizando-se as
metodologias descritas no Standard Methods for the examination of Water &
Wastewaster (AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION; AMERICAN WATER
WORKS ASSOCIATION; WATER ENVIRONMENT FEDERATION, 1998). Para a
análise do nitrato optou-se pelo uso da metodologia de Rodier (1975) tendo em vista
que a do Standard Methods demanda tempo considerável de análise (filtrações e
remoção de nitrito) e é mais recomendada para água limpa.
No momento da coleta, os parâmetros pH (potencial hidrogeniônico) e
temperatura eram determinados através da sonda sension 156 da Hach, enquanto
que o oxigênio dissolvido foi obtido por meio do oxímetro portátil, modelo DM-4P.
Quanto aos equipamentos empregados nos experimentos realizados em
laboratório, utilizou-se o destilador da marca Tecnal, modelo TE-036/1, para extrair a
amônia e o nitrogênio orgânico e o espectrofotômetro Micronal, modelo B542, para
medição da absorbância das amostras submetidas aos ensaios. Este mesmo
espectrofotômetro foi utilizado para a quantificação de nitrato, fósforo total,
ortofosfato solúvel e Clorofila “a”. Também foi utilizado o aquecedor Quimis, modelo
Q-313A, para o nitrogênio orgânico, fósforo total e ortofosfato solúvel.
A filtração das amostras para Clorofila “a” e ortofosfato solúvel foi realizada
com um sistema de filtração a vácuo da Tecnal, modelo TE-0581. A centrifugação
das amostras para detecção dos níveis de Clorofila “a” foi realizada por meio do
equipamento centrifugador da Tecnal, CELM-COMBATE.
A refluxação das provas de DQO foi levada a efeito com o auxílio do digestor
Tecnal, modelo TE-021 Dry Block.
Na análise da série de sólidos, foi utilizada mufla da marca Quimis para
ignição das cápsulas e cadinhos à temperatura de 500 °C e estufa bacteriológica da
marca Marconi, modelo MA 032 para a secagem a 103 – 105 ºC. Para a
determinação dos pesos das cápsulas e cadinhos fez-se uso de balança da marca
Tecnal, modelo Mark 210A. O banho maria, utilizado em uma das etapas da análise
dos sólidos totais, foi o da marca Tecnal, modelo TE – 054. 4.2.2 Metodologia de tratamento estatístico dos dados
Para o tratamento estatístico dos dados foi utilizado o programa Statistica 6.0
para Windows. A estatística descritiva foi aplicada aos dados brutos de todas as
83
variáveis analisadas em cada amostra para obter as medidas de tendência central
(média e mediana) e as medidas de dispersão (desvio padrão, limites de confiança
de 95%, quartis, mínimos e máximos). Para determinar se os dados amostrais
apresentavam comportamento de distribuição normal foram aplicados os testes de
Kolmogorov-Smirnov e de Shapiro-Wilks a um nível de significância 0,05.
As análises de correlação ao nível de 0,05 (matrizes de correlação) foram
utilizadas dentro de cada grupo de variáveis medidas em cada amostra com vistas a
medir a relação entre duas ou mais variáveis, sendo obtidos como resultados para
interpretação as linhas de regressão (linha dos mínimos quadrados), assim como
dos seus respectivos coeficientes de correlação “r” (representa a relação linear entre
duas variáveis) e determinação “r²” (representa a proporção de variação comum
entre as duas variáveis ou a magnitude da relação). Com o objetivo de verificar
diferenças significativas ou não entre as médias das variáveis obtidas nas diferentes
amostras analisadas foram levadas a efeito análises de variância - ANOVA ao nível
de 0,05. Tal análise permite comparar ao mesmo tempo médias de dois (Teste-t) ou
mais grupos (Teste-F) analisados para uma mesma variável, ou diferenças
significativas entre determinados tipos de tratamentos realizados.
Com relação à análise gráfica dos resultados foram obtidos gráficos do tipo
“caixa” (Box-plot) que apresentaram, ao mesmo tempo, resultados da estatística
descritiva (medida de tendência central e medidas de dispersão). As correlações
foram analisadas através de gráficos de correlação (scatter-plots) que, além da linha
de regressão, incluíam as estatísticas “r” e “r²”. Toda a análise gráfica também foi
realizada com a utilização do programa Statistica 6.0.
83
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Nesta seção são apresentados e discutidos os resultados gerados no
monitoramento das lagoas de estabilização da Imunizadora Potiguar. Todos estes
foram obtidos através de análises em campo e em laboratório das 29 coletas
realizadas.
A etapa inicial do tratamento dos dados consistiu no uso de estatística básica
(estatística descritiva) com vistas à obtenção das medidas de tendência central
(médias aritméticas – Média e Mediana) e medidas de dispersão (faixas de variação
– Mín e Máx e Desvio Padrão) de todas as variáveis monitoradas no sistema de
tratamento composto pela série de lagoas.
Na Tabela 05 são apresentadas as médias e faixas de variação de todas as
variáveis analisadas no período de outubro de 2007 a outubro de 2008.
A nomenclatura que se adotou neste trabalho, quanto aos pontos de coleta,
segue a mesma metodologia apresentada na seção 3, em que o termo “EB” diz
respeito ao afluente, “L1” consiste no efluente da primeira lagoa anaeróbia, “L2”
equivale ao efluente da segunda lagoa anaeróbia, “L3” ao efluente da lagoa
facultativa, “L4” ao efluente da lagoa de maturação e, por fim, “ET” sendo o efluente
tratado (efluente final).
No item 5.1. - “Apresentação dos resultados” são expostos gráficos Box-Plots
de cada variável individualmente, para a série dos pontos de coleta das lagoas.
Na segunda etapa, correspondente ao item 5.2. – “Discussão dos resultados”,
buscou-se tratar os dados através de correlações e das suas influências quanto ao
desempenho da série de lagoas e da qualidade do efluente final do sistema.
83
Média 0,7 29,2 6,2 1004 2457 32,3 80,2 0,3 112,2 11,9 15,8Mediana 0,6 29,5 6,3 963 1793 27,9 74,0 0,3 117,7 10,5 14,5Desvio Padrão 0,6 1,9 0,7 409 1556 23,9 35,2 0,3 41,0 5,2 6,3Mín 0,0 25,1 5,0 220 504 1,0 33,0 0,0 55,8 3,6 7,0Máx 2,3 31,9 7,6 1783 6861 86,5 175,4 1,0 222,1 20,4 28,9N 24 29 29 28 27 27 27 26 27 25 24Média 0,7 28,7 6,4 1515 955 28,8 113,1 0,3 139,0 13,0 16,3Mediana 0,5 28,8 6,4 1422 909 19,6 113,9 0,3 135,1 13,2 15,1Desvio Padrão 0,6 1,8 0,2 423 298 26,7 20,8 0,2 36,6 3,9 3,3Mín 0,0 22,5 6,2 839 412 0,1 58,2 0,0 61,7 6,1 11,7Máx 2,2 31,6 7,0 2430 1468 82,1 155,1 0,7 204,5 24,3 24,7N 24 29 29 29 24 28 28 27 28 24 24Média 1,0 27,7 6,8 1269 511 12,2 105,8 0,3 118,0 12,0 14,1Mediana 0,8 27,9 6,8 1266 468 8,4 107,9 0,3 111,3 12,5 14,7Desvio Padrão 0,9 2,2 0,2 317 145 15,0 31,7 0,2 39,6 2,8 1,9Mín 0,0 21,5 6,4 820 306 0,3 55,8 0,1 64,0 6,9 10,3Máx 3,7 30,5 7,0 1794 806 60,3 180,7 0,8 198,7 15,8 17,1N 15 16 16 15 15 15 15 15 15 13 15Média 2,4 28,5 7,4 1271 336 11,4 76,6 0,3 87,5 9,3 12,7Mediana 2,4 28,6 7,4 1160 305 8,5 69,7 0,3 80,9 9,4 13,0Desvio Padrão 1,1 1,5 0,5 395 161 8,5 19,4 0,2 25,9 3,1 2,9Mín 0,5 25,6 6,0 747 109 2,1 45,6 0,0 54,1 3,8 8,8Máx 5,2 33,2 8,4 2040 831 31,6 106,2 0,7 137,8 16,5 17,8N 21 27 28 28 26 27 27 27 27 22 24Média 5,0 28,6 7,7 1319 256 9,7 68,7 0,3 77,4 9,5 12,2Mediana 4,1 28,4 7,6 1243 219 6,6 64,9 0,3 75,2 9,4 10,4Desvio Padrão 3,1 1,5 0,4 411 119 7,8 19,8 0,2 23,1 3,1 4,4Mín 0,2 25,8 6,9 743 84 0,1 36,7 0,0 36,7 4,1 7,0Máx 12,8 32,4 8,6 2180 577 26,2 112,1 0,9 117,7 15,5 26,0N 25 29 29 29 27 28 28 26 28 24 25Média 3,8 28,5 7,5 1362 272 10,7 70,9 0,3 81,5 10,3 12,8Mediana 3,6 28,1 7,5 1180 260 8,6 69,9 0,3 81,8 10,2 11,5Desvio Padrão 1,3 1,5 0,4 509 139 9,1 17,1 0,2 22,4 4,1 4,2Mín 1,3 25,9 6,5 811 105 0,0 45,6 0,0 46,0 4,1 8,2Máx 6,8 32,5 8,2 2800 692 38,2 96,3 0,8 115,8 21,2 24,4N 24 29 29 29 27 27 27 26 27 23 25
Ortofosfato (mgP/L)
Fósforo Total (mgP/L)
NTK (mgN/L)
L1
L2
L3
EB
T (ºC) DQO (mg/L)
Nitrogênio Orgânico (mgN/L)
Amônia (mgN/L)
NO3
(mgN/L)pH Cond. (μS/cm)
ET
AMOSTRAS O.D. (mg/L)
L4
Tabela 5 – Resultados das variáveis analisadas nos seis pontos de coleta. Leia-se pontos de coleta: EB: afluente; L1: primeira lagoa anaeróbia; L2: segunda lagoa anaeróbia; L3: lagoa facultativa; L4: lagoa de maturação; ET: efluente tratado.
83
Média 79 2728 869 2036 1639 328 1519 1058 23,9 1,88E+07Mediana 63 2625 839 1589 1305 271 1157 906 15,5 1,80E+07Desvio Padrão 78 1419 360 1496 1204 321 1356 600 22,1 1,22E+07Mín 0 912 364 457 202 16 182 56 0,1 3,00E+07Máx 272 6713 1777 6446 5571 1511 5736 2539 85,0 5,30E+07N 20 26 27 27 26 27 27 27 24 23Média 39 1966 1026 1199 967 280 847 1023 22,0 3,86E+06Mediana 30 1850 957 911 852 225 633 996 18,5 2,65E+06Desvio Padrão 39 670 439 826 675 219 870 453 17,8 3,54E+06Mín 0 1088 461 489 20 7 70 233 1,6 8,00E+05Máx 169 4007 2387 3604 3373 922 4133 2173 84,0 1,66E+07N 22 26 28 28 27 27 27 27 27 28Média 105 1117 657 568 339 186 238 776 1,9 2,46E+06Mediana 93 1068 696 450 268 80 204 731 1,2 2,20E+06Desvio Padrão 96 225 148 419 194 326 177 204 2,0 1,69E+06Mín 7 779 394 247 149 9 42 539 0,3 5,00E+05Máx 377 1506 898 1932 873 1221 767 1070 8,0 6,80E+06N 12 13 14 14 13 13 13 12 15 16Média 307 1067 683 385 214 67 149 854 1,0 4,39E+05Mediana 239 1079 677 365 162 50 115 860 0,5 3,00E+05Desvio Padrão 303 306 202 142 144 63 103 236 1,4 4,78E+05Mín 1 626 330 159 74 8 6 474 0,0 1,00E+04Máx 1092 1674 1025 718 573 306 377 1395 6,0 1,90E+06N 23 26 26 26 26 26 26 26 27 27Média 250 1023 733 597 105 32 70 926 0,4 1,02E+05Mediana 228 890 672 268 95 20 65 847 0,2 2,40E+04Desvio Padrão 171 254 191 1607 55 32 49 242 0,4 1,85E+05Mín 33 697 454 97 25 4 3 613 0,0 0,00E+00Máx 735 1719 1202 8779 208 158 200 1645 1,5 8,00E+05N 23 27 28 28 27 26 26 26 28 25Média 209 1065 734 332 84 33 66 967 0,1 2,26E+04Mediana 159 972 679 312 77 18 58 881 0,1 8,00E+03Desvio Padrão 137 307 227 126 52 39 58 291 0,1 3,12E+04Mín 21 678 318 111 17 2 8 540 0,0 0,00E+00Máx 491 1689 1154 677 240 180 226 1619 0,5 1,10E+05N 22 28 28 28 26 28 28 28 26 21
Clorofila (µg/L)
ST (mg/L)AMOSTRAS
SSV (mg/L)
SDT (mg/L)
SS (mL/L)
CF (UFC/100mL)
STF (mg/L)
STV (mg/L)
SST (mg/L)
SSF (mg/L)
L4
ET
EB
L1
L2
L3
Tabela 5 – Resultados dos parâmetros analisados nos seis pontos de coleta (continuação). Leia-se pontos de coleta: EB: afluente; L1: primeira lagoa anaeróbia; L2: segunda lagoa anaeróbia; L3: lagoa facultativa; L4: lagoa de maturação; ET: efluente tratado. (continuação)
83
5.1 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
5.1.1 Oxigênio dissolvido Analisando-se o Gráfico 2, tem-se uma idéia de como se comporta a
concentração do oxigênio dissolvido na série de lagoas.
Observa-se que os valores plotados encontram-se inseridos no intervalo de
0,0 a 12,8 mgO2/L. As concentrações mais elevadas foram observadas nos pontos
L3, L4 e ET, enquanto o inverso foi encontrado em EB e L1, com médias inferiores a
0,9 mgO2/L.
Percebe-se que a partir do quarto ponto, ou seja, na saída da lagoa
facultativa, a concentração de OD aumenta. Este fato é justificado devido esta lagoa
possuir uma menor profundidade e maior área superficial em relação às suas
antecessoras, estando assim mais propícia à realização da atividade fotossintética.
O quinto ponto, saída da LM, é o local onde a concentração de OD apresenta
maior valor, bem como a maior média.
Gráfico 2 – Resultados do oxigênio dissolvido para a série de lagoas EB (n=25) L1 (n=25) L2 (n=15) L3 (n=24) L4 (n=25) ET (n=25)
-2
0
2
4
6
8
10
12
14
Oxi
gêni
o D
isso
lvid
o (m
g/L)
Média Desvio Padrão Min-Max
83
5.1.2 Temperatura
As médias das temperaturas verificadas durante o período de monitoramento
das lagoas encontram-se coerentes com o clima do município, tropical chuvoso com
verão seco (INSTITUTO DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE, 2008).
Os valores médios obtidos mostram que as variações apresentadas entre os
pontos são pouco significativas. Mesmo assim, verifica-se que a temperatura no
esgoto bruto foi, em geral, ligeiramente mais alta que nos demais pontos.
Os picos de mínimo e máximo observados podem ser explicados em função
das diferentes condições climáticas ocorridas durante todo o período de coleta.
De acordo com o Gráfico 3, os valores médios encontrados para a
temperatura estão na faixa dos 27,7 ºC aos 29,2 ºC, considerando os seis pontos de
amostragem.
Gráfico 3 – Resultados da temperatura para a série de lagoas
EB (n=29)L1 (n=29)
L2 (n=16)L3 (n=28)
L4 (n=29)ET (n=29)
20
22
24
26
28
30
32
34
Tem
pera
tura
(ºC
)
Média Desvio Padrão Min-Max
83
5.1.3 pH
O pH na massa líquida da série de lagoas se manteve na faixa variando entre
os valores de 6,5 a 7,5.
A maior variação de pH foi verificada no EB, com média de 6,2, e mínimo e
máximo de 5,0 e 7,6, respectivamente. Por se tratar do primeiro ponto de coleta, o
valor deste parâmetro deve ser condizente com a caracterização dos resíduos
esgotados pelos caminhões limpa-fossa. Há pesquisa sendo realizada no LARHISA
– UFRN apontando que o pH médio do esgoto descarregado na ETE apresenta
valor de 6,64.
A partir do ponto L3 nota-se aumento do pH, devido à maior presença de
biomassa algal. Estas são responsáveis pelo aumento da variável devido aos íons
hidroxila (OH-) liberados durante o consumo de CO2 na fotossíntese realizada pelas
algas.
No Gráfico 4 são apresentados os valores de pH obtidos nos seis pontos de
coleta.
Gráfico 4 – Resultados do pH para a série de lagoas EB (n=29) L1 (n=29) L2 (n=16) L3 (n=28) L4 (n=29) ET (n=29)
4,5
5,0
5,5
6,0
6,5
7,0
7,5
8,0
8,5
9,0
pH
Média Desvio Padrão Min-Max
83
5.1.4 Condutividade
A medida da condutividade apontou que os valores mínimos situaram-se por
volta de 800 μS/cm, com diferença apenas em EB. No decorrer do sistema de
tratamento, o valor medido da condutividade foi bastante similar.
No Gráfico 5 estão contidas as informações referentes às concentrações
deste parâmetro ao longo das lagoas.
Gráfico 5 – Resultados da condutividade para a série de lagoas
EB (n=29)L1 (n=29)
L2 (n=16)L3 (n=28)
L4 (n=29)ET (n=29)
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
2200
2400
2600
2800
3000
Con
dutiv
idad
e (μ
S/cm
)
Média Desvio Padrão Min-Max
83
5.1.5 DQO
A Demanda Química de Oxigênio (DQO) está intimamente relacionada com a
presença de matéria orgânica, ou seja, está relacionada de maneira direta com o
potencial poluidor dos esgotos.
Nota-se que o esgoto bruto apresenta uma carga orgânica bastante elevada.
Uma evidência para este fato consiste na grande diversidade da origem do esgoto,
sendo este coletado de residências uni ou multifamiliares, hospitais, delegacias,
presídios, indústrias, shoppings e demais serviços, não havendo, assim, um padrão
de caracterização do efluente.
Dessa forma, as maiores concentrações médias de DQO encontram-se em
EB e L1, com valores de 2.457 e 955 mg/L, respectivamente. Mesmo operando em
condições precárias, a LA 1 foi responsável por grande parte da remoção da matéria
orgânica, através da redução da concentração dos sólidos em suspensão.
Observa-se no ponto ET uma descontinuidade de remoção, indicando um
acréscimo de MO.
Gráfico 6 – Resultados da DQO para a série de lagoas
EB (n=27) L1 (n=26) L2 (n=15) L3 (n=26) L4 (n=27) ET (n=27)-1000
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
DQ
O (m
g/L)
Média Desvio Padrão Min-Max
83
5.1.6 Nitrogênio orgânico
A concentração máxima de nitrogênio orgânico encontrada no esgoto bruto
(EB) foi de 86,5 mgN/L, e a concentração mínima de 1,0 mgN/L. Para o efluente final
foi obtida uma concentração máxima de 38,2 mgN/L e mínima de 0,0 mgN/L.
Os valores médios obtidos foram de 32,3, 28,8, 12,2, 11,4, 9,7 e 10,7 mgN/L
para os pontos EB, L1, L2, L3, L4 e ET, respectivamente. Estes valores indicam uma
remoção total de 66,92%.
A maior remoção ocorreu na saída da segunda lagoa anaeróbia, com taxa de
remoção de 57,50%, haja vista condições propícias inerentes aos processos
biológicos no interior da lagoa.
Através do Gráfico 7 observam-se as variações ocorridas nas séries de
lagoas, quanto às concentrações de nitrogênio orgânico.
Gráfico 7 – Resultados do nitrogênio orgânico para a série de lagoas
EB (n=27) L1 (n=28) L2 (n=15) L3 (n=27) L4 (n=28) ET (n=27)-10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Nitr
ogên
io O
rgân
ico
(mgN
/L)
Mediana 25%-75% Min-Max
83
5.1.7 Amônia
As concentrações de nitrogênio amoniacal apresentaram tendência de queda
ao longo da série de lagoas.
A maior concentração média em relação aos pontos de coleta ocorreu na
saída da lagoa anaeróbia 1, obtendo-se 113,1 mgN/L. Este fato se deve às
condições anaeróbias dentro da lagoa, dos níveis de pH levemente ácidos e da
espessa camada de lodo na superfície, impedindo a volatilização da amônia. A
menor foi encontrada no ponto de coleta L4, perfeitamente observado no Gráfico 7.
Comparando-se os Gráficos 7 e 8, observa-se que os altos valores de amônia
obtidos nos pontos L1 e L2 são justificados pela remoção, nos respectivos pontos,
da concentração de nitrogênio orgânico.
A remoção mais considerável foi observada no ponto L3 justificada pelo
mecanismo de volatilização, influenciado pela ação dos ventos e do alto tempo de
detenção hidráulica da lagoa facultativa, bem como pelos processos de nitrificação.
Gráfico 8 – Resultados da amônia para a série de lagoas
EB (n=27)L1 (n=28)
L2 (n=15)L3 (n=27)
L4 (n=28)ET (n=27)
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
Amôn
ia (m
gN/L
)
Média Desvio Padrão Min-Max
83
5.1.8 Nitrato (NO3-)
O Gráfico 9 apresenta as variações das concentrações de nitrato nos seis
pontos amostrados. Observa-se que houve uma similaridade nos valores das
concentrações em todos os locais de coleta, sendo possível determinar um padrão
de comportamento desse elemento nas lagoas de estabilização.
Os valores médios obtidos foram os mesmos para todos os pontos de
amostragem, apresentando valor de 0,3 mgN/L.
Gráfico 9 – Resultados do nitrato para a série de lagoas
EB (n=26) L1 (n=27) L2 (n=15) L3 (n=27) L4 (n=27) ET (n=27)-0,2
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
NO
3 (m
gN/L
)
Média Desvio Padrão Min-Max
83
5.1.9 NTK Os valores médios de NTK seguiram a mesma tendência de variação da
amônia. Isto se deve às elevadas concentrações de amônia nos pontos de coleta,
principalmente em L1, implicando no aumento da concentração média daquele.
A remoção total no sistema situa-se em torno de 27,5%, sendo a mais
expressiva após a lagoa facultativa, no ponto L3, com remoção de 25,85%.
No Gráfico 10 são apresentados os valores de NTK obtidos nos seis pontos
de coleta.
Gráfico 10 – Resultados do NTK para a série de lagoas
EB (n=27)L1 (n=28)
L2 (n=15)L3 (n=27)
L4 (n=28)ET (n=27)
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
220
240
NTK
(mgN
/L)
Média Desvio Padrão Min-Max
83
5.1.10 Ortofosfato O ortofosfato solúvel na série de lagoas apresentou valores médios máximo e
mínimo de 13,0 e 9,3 mgP/L, verificados nos efluentes das lagoas LA1 e LF,
respectivamente, correspondendo a uma redução de 28,46%.
O picos de máximo observado em L1 é devido às diversas origens do esgoto
afluente à ETE, tendo casos de descarga com elevada concentração de sólidos.
Este fato se justifica com a queda na concentração de ortofosfato no efluente da LA
2 associado à redução dos sólidos suspensos.
A partir do ponto L3 nota-se uma leve queda na concentração desta variável
tendo em vista a maior acentuação da assimilação biológica das algas nas lagoas
facultativa e de maturação.
No Gráfico 11 é demonstrada a dinâmica do ortofosfato nos locais onde eram
realizadas as coletas.
Gráfico 11 – Resultados do ortofosfato para a série de lagoas
EB (n=26) L1 (n=26) L2 (n=13) L3 (n=24) L4 (n=25) ET (n=23)2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
26
Orto
fosf
ato
(mgP
/L)
Média Desvio Padrão Min-Max
83
5.1.11 Fósforo total A faixa de variação na concentração de fósforo total observada se estendeu a
valores entre 7,0 e 28,9 mgP/L. A variação dos teores, representada pelos pontos de
mínimo e máximo, pode ser justificada por uma variação pluviométrica e de
temperatura no local de coleta, ocasionando uma maior ou menor diluição de
fósforo. Outro fator relevante é a heterogeneidade das características dos resíduos
esgotados que afluem no sistema de lagoas.
A presença de sólidos sedimentáveis e suspensos contribui para o aumento
dos níveis de fósforo em todas as lagoas analisadas, sendo a precipitação dos
mesmos um dos principais motivos que contribui para a redução de fósforo total em
praticamente todos os pontos.
No Gráfico 12 encontram-se os resultados e variações das concentrações
médias de fósforo ao longo dos pontos coletados.
Gráfico 12 – Resultados do fósforo para a série de lagoas
EB (n=25) L1 (n=27) L2 (n=15) L3 (n=26) L4 (n=27) ET (n=27)6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
Fósf
oro
Tota
l (m
gP/L
)
Média Desvio Padrão Min-Max
83
5.1.12 Clorofila “a” Comparativamente, a biomassa de algas apresentou concentrações bastante
superiores nas lagoas facultativa e de maturação, havendo o inverso desta
afirmação nas duas primeiras lagoas que são anaeróbias. O fato da LF propiciar o
desenvolvimento de algas se deve ao TDH, sendo este o maior dentre as demais
lagoas.
No ponto L4 nota-se uma queda na concentração de clorofila decorrente da
maior limitação de nutrientes na lagoa de maturação. Esta limitação justifica-se pela
gradativa redução da carga orgânica observada na série de lagoas.
O Gráfico 13 mostra que os valores médios encontrados estão situados na
faixa de 39 a 307 µg/L.
Gráfico 13 – Resultados da clorofila para a série de lagoas
EB (n=22)L1 (n=23)
L2 (n=13)L3 (n=24)
L4 (n=24)ET (n=24)
-200
0
200
400
600
800
1000
1200
Clo
rofil
a (µ
g/L)
Média Desvio Padrão Min-Max
83
5.1.13 Sólidos totais Os sólidos totais correspondem à soma dos sólidos voláteis e dos sólidos
fixos. As concentrações médias deste parâmetro foram de 2.728, 1.966, 1.117,
1.067, 1.023 e 1.065 mg/L para os pontos EB, L1, L2, L3, L4 e ET, respectivamente.
Os picos de máximo observados principalmente em EB e L1 devem-se aos
sólidos voláteis presentes na gordura do lodo flotante que chega a estas lagoas. A
grande variabilidade e as altas cargas orgânicas dos resíduos esgotados das fossas
sépticas contribuem nestas disparidades.
Devido sua natureza predominantemente orgânica, a remoção de sólidos no
tratamento biológico de águas residuárias está associada ao processo de
estabilização da matéria orgânica por meio da oxidação biológica. Verificou-se que a
remoção total do parâmetro analisado, no sistema de lagoas, foi de 60,96%. O
desempenho mais significante ocorreu na LA 2 com remoção de 43,18%.
No Gráfico 14 observa-se o comportamento da remoção dos sólidos totais no
decorrer do sistema de tratamento.
Gráfico 14 – Resultados dos sólidos totais para a série de lagoas
EB (n=26)L1 (n=27)
L2 (n=13)L3 (n=25)
L4 (n=27)ET (n=27)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
Sólid
os T
otai
s (m
g/L)
Média Desvio Padrão Min-Max
83
5.1.14 Sólidos suspensos totais No decorrer do sistema de lagoas de estabilização estudado as
concentrações de sólidos suspensos, apresentando natureza predominantemente
orgânica, foram gradativamente removidas numa tendência de remoção parecida
com a da DQO. Percebe-se que as grandes concentrações observadas em EB e L1
devem-se justamente às altas cargas de matéria orgânica presentes em LA 1 e LA
2.
Diferentemente do que se poderia esperar, a variação de clorofila “a” no ponto
L3, observada no Gráfico 13, não afetou consideravelmente o desempenho da
redução dos sólidos suspensos. Contudo, as parcelas observadas em L4 e ET
podem ser atribuídas à biomassa de algas presente nessas etapas.
A maior remoção deste parâmetro ocorreu na lagoa anaeróbia 2 com 64,9%.
A remoção total foi na ordem de 94,8%.
O comportamento da concentração dos sólidos suspensos totais dos seis
pontos coletados é ilustrado no Gráfico 15.
Gráfico 15 – Resultados dos sólidos suspensos totais para a série de lagoas
EB (n=25)L1 (n=26)
L2 (n=11)L3 (n=24)
L4 (n=25)ET (n=26)
-1000
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
Sólid
os S
uspe
nsos
Tot
ais
(mg/
L)
Média Desvio Padrão Min-Max
83
5.1.15 Sólidos sedimentáveis O comportamento dos sólidos sedimentáveis pareceu-se muito com as
demais frações de sólidos, principalmente dos sólidos suspensos totais. Os picos de
máximo observados em EB e L1 devem-se a esgotos com elevado nível de matéria
orgânica.
A remoção total do sistema atingiu patamar de 99,5%, sendo mais acentuado
na saída da lagoa anaeróbia 2, com remoção de 91,3%.
No Gráfico 16 nota-se a dinâmica das concentrações dos sólidos
sedimentáveis.
Gráfico 16 – Resultados dos sólidos sedimentáveis para a série de lagoas
EB (n=26) L1 (n=27) L2 (n=14) L3 (n=26) L4 (n=27) ET (n=27)-10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Sól
idos
Sed
imen
táve
is (m
L/L)
Média Desvio Padrão Min-Max
83
5.1.16 Coliformes termotolerantes Por meio do Gráfico 17, percebe-se que as concentrações de coliformes
foram reduzidas ao longo do sistema de lagoas, atingindo uma eficiência global de
99,87%. As concentrações médias deste parâmetro foram de 1,88E+07, 3,86 E+06,
2,46 E+06, 4,39 E+05, 1,02 E+05 e 2,26 E+04 UFC/100mL para os pontos EB, L1,
L2, L3, L4 e ET, respectivamente.
Em termos percentuais, a LM apresentou uma eficiência de remoção em torno
de 77,7% e, a lagoa que se destacou mais neste quesito foi a LF, com valor de
82,15%.
Gráfico 17 – Resultados dos coliformes fecais para a série de lagoas
EB (n=27)L1 (n=28)
L2 (n=16)L3 (n=27)
L4 (n=25)ET (n=22)
-1E7
0
1E7
2E7
3E7
4E7
5E7
6E7
Col
iform
es F
ecai
s (U
FC/1
00m
L)
Média Desvio Padrão Min-Max
83
5.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.2.1 Influência do tratamento preliminar no desempenho das lagoas de estabilização
O tratamento preliminar existente na ETE da imunizadora estudada apresenta
uma série de deficiências. Como visto, os tanques que compõem o tratamento
preliminar teriam a finalidade de atuar como desarenadores. Contudo, devido à
grande vazão de descarga dos caminhões, cerca de 6 m³/min, aqueles passam a
funcionar como caixas de passagem. Por não haver controle dessa vazão, não há
possibilidade de sedimentação da areia contida no esgoto afluente, pois em poucos
instantes os tanques já atingem seu volume máximo.
Além de não atender ao propósito idealizado, outro considerável agravante ao
sistema consiste em sua operação. Durante todo o período de coleta, a limpeza dos
tanques de desarenação se deu de maneira aleatória, ocorrendo em poucas
situações a remoção de areia do segundo e terceiro tanques. Com o passar do
tempo e apesar de baixa taxa de sedimentação, há uma redução no volume de
armazenamento dos tanques, levando-se à situação critica do ponto de vista
funcional.
Outra incompatibilidade notada foi quanto ao manejo da grade de barras.
Frequentemente observou-se sua ausência, e mesmo estando presente encontrava-
se com área de obstrução superior a 50%.
Assim, o afluente que se dirigia para a série de lagoas, em muitos casos era
praticamente o mesmo observado visualmente nas descargas dos caminhões, com
elevada concentração de sólidos.
5.2.2 Influência das características do esgoto bruto no desempenho das lagoas de estabilização
As características físicas, químicas e biológicas do esgoto bruto que adentra
no sistema de lagoas, iniciado pela lagoa anaeróbia 1, são determinadas com as
83
análises realizadas no ponto de coleta EB. Avaliando-se o Gráfico 18 observa-se
que as lagoas de estabilização estudadas recebem um aporte elevado de matéria
orgânica, possuindo uma média de DQO no esgoto bruto de 2457 mg/L, abrangendo
valores mínimos e máximos de 504 mg/L e 6861 mg/L, respectivamente.
Gráfico 18 – Variação da concentração de DQO ao longo do período de coleta
A causa da grande variabilidade de carga orgânica observada deve-se a
alguns fatores como origem do esgoto, diversas configurações utilizadas nos
sistemas individuais de tratamento e a diferenças no intervalo de tempo entre
esgotamentos realizados nas residências.
Como explorado no item 5.2.1., o tratamento preliminar, por ser operado de
forma precária, apresenta sua parcela de contribuição em não reter os sólidos
grosseiros por meio da grade de barras. Estes penetram no sistema e se depositam
na LA 1, reduzindo a vida útil da mesma e contribuindo para o aumento do lodo em
suspensão.
30/10/07 27/11/07 06/03/08 01/04/08 03/06/08 09/07/08 13/08/08 01/10/080
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
DQ
OE
B (m
g/L)
83
Quanto aos valores de OD, a predominância de baixos valores foi verificada
em praticamente todos os dias de coleta, o que reforça as afirmações de Jordão e
Pessoa (2005) e Kellner e Pires (1998) que o oxigênio dissolvido para esgoto bruto é
de praticamente zero. Observou-se valor médio de 0,7 mg/L desse constituinte, valor
mínimo de 0 mg/L e máximo de 2,3 mg/L, conforme ilustrado no Gráfico 19.
Gráfico 19 – Variação da concentração OD ao longo do período de coleta
As frações de sólidos no esgoto bruto apresentaram-se em concentrações
elevadas haja vista a enorme diversidade dos resíduos esgotados bem como a
ineficiência do tratamento preliminar.
Observa-se no Gráfico 20 e constata-se no Gráfico 21 a correlação existente
entre os sólidos totais e os sólidos suspensos totais. Isto se deve às elevadas
cargas orgânica presentes no esgoto e à mistura e turbulência ocorrida no tanque de
descarga do caminhão limpa-fossa e nos tanques de desarenação.
De acordo com a Environmental Protection Agency (2002) os materiais
removidos de tanques sépticos apresentam concentrações médias de sólidos totais
e sólidos suspensos totais de 34.106 mg/L e 12.862 mg/L, respectivamente. Para a
05/1
1/07
12/0
2/08
13/0
3/08
10/0
4/08
16/0
6/08
22/0
7/08
20/0
8/08
24/0
9/08
-0,2
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
1,6
1,8
2,0
2,2
2,4
OD
EB (m
g/L)
83
mesma fonte, a exata composição do resíduo de tanque séptico é altamente
dependente do tipo de atividade e cultura dos usuários.
Gráfico 20 – Variação da concentração de sólidos totais e sólidos suspensos totais ao longo do período de coleta
Gráfico 21 – Correlação dos valores de sólidos totais e sólidos suspensos totais ao longo do período de coleta.
ST SST
30/10/08 27/11/08 06/03/08 01/04/08 03/06/08 09/07/08 13/08/08 01/10/08-1000
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
Correl ação en tre Sól ido s Tota is e Sól id os Susp ensos To tai s
ST
SST
ST
SST
SST
83
5.2.3 Análise da eficiência de remoção de nutrientes nas lagoas de estabilização
Neste trabalho também foram abordadas as eficiências de remoção de
compostos nitrogenados (nitrogênio orgânico, NTK e amônia), como também fósforo
total e ortofosfato, para a série de lagoas estudada.
→ Nitrogênio
Na LA 1 o nitrogênio orgânico encontrou-se presente nas formas de sólidos
sedimentáveis e suspensos, oriundos do esgoto afluente, verificando-se remoção
média de 10,8%. As remoções de amônia e NTK foram mínimas pois as condições
de anaerobiose da lagoa não favoreceram a volatilização da amônia e, por
conseguinte, a de NTK.
A lagoa anaeróbia 2 apresentou a remoção de nitrogênio orgânico mais
considerável (57,6%). Este fato se justificou pela formação de um ambiente propício
à amonificação, ou seja, condições favoráveis de pH, pouca presença de lodo em
sua superfície e condições anaeróbias inerentes à lagoa.
Na LF, devido à incorporação das formas nitrogenadas na biomassa algal, a
remoção da fração orgânica nitrogenada foi de apenas 6,56%. A amônia obteve o
maior valor médio para remoção da série de lagoas (28,0%) por causa de condições
de pH mais favoráveis que a LA 2. Para NTK a remoção foi de 26,0%.
Na lagoa de maturação a remoção de nitrogênio orgânico foi de 14,91%,
nitrogênio amoniacal de 10,0%, e NTK de 12,0%. Tais valores foram obtidos em
função da reduzida profundidade da lagoa propiciando a atividade fotossintética em
que usualmente atingem-se valores de pH elevados. Como conseqüência da
fotossíntese houve aumento da população de determinadas espécies de algas,
promovendo a assimilação de nitrogênio.
Assim, a remoção total do sistema foi de 66,87% para nitrogênio orgânico,
12,0% para nitrogênio amoniacal, e 27% para NTK. Estes resultados são
apresentados no Gráfico 22.
83
Gráfico 22 – Eficiência de remoção de nitrogênio orgânico, amônia e NTK ao longo do período de
coleta
→ Fósforo
A remoção de fósforo na série de lagoas de estabilização monitorada não se
deu de forma homogênea, ficando concentrada, em sua maioria, nas lagoas
anaeróbia 2 e facultativa.
Nos esgotos as parcelas de fósforo encontradas são de fósforo orgânico e
fosfato, sendo estes últimos em quantidade mais expressiva (VON SPERLING,
2002). Dessa forma, a LA 1 possui maiores concentrações de fosfato. Contudo, por
não apresentar condições propícias de pH elevado (no mínimo 9), que levaria à
precipitação de fosfatos, a lagoa não apresentou eficiência na remoção das duas
formas de fósforo.
Devido ao fato de considerável sedimentação de sólidos, a LA 2 promoveu a
remoção de 7,69% para ortofosfato e 13,5% para fósforo. Na LF a remoção de
fósforo também se justificou pela sedimentação de sólidos, porém menos expressiva
que sua antecessora, ficando no valor de 9,93%. O grande diferencial da lagoa
facultativa foi quanto à remoção de ortofosfato ocorrida por meio da assimilação
Nitrog. Org. Amônia NTK
10,84%
57,64%
6,56%
14,91%
66,87%
6%
28%
10%12%
15%
26%
12%
27%
LA 1 LA 2 LF LM ET Total0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
83
deste constituinte por organismos aquáticos (algas) presentes na lagoa. A remoção
de ortofosfato foi de 22,5%.
As remoções observadas na lagoa de maturação não formam expressivas,
mesmo possuindo o maior pH médio na série de lagoas e apesar de ter existido
aumento na população de algas. O índice de remoção de fósforo total foi de apenas
4,2% enquanto que de ortofosfato não houve, justificado pelo desprendimento do
mesmo após degradação de organismos aquáticos.
Assim, o sistema removeu em sua totalidade 13,45% de ortofosfato solúvel, e
18,99% de fósforo total (Gráfico 23).
Gráfico 23 – Eficiência de remoção de ortofosfato e fósforo total ao longo do período de coleta 5.2.4 Influência da operação no desempenho das lagoas de estabilização
O sistema de lagoas de estabilização é caracterizado por apresentar, dentre
suas diversas vantagens, operação simplificada. No entanto, como destacado por
Ortofosfato Fósforo Total
7,69%
22 ,50%
13,45%13,50%
9,93%
3,94%
18,99%
LA 1 LA 2 LF LM ET Total0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
18%
20%
22%
24%
83
Von Sperling (2002), a simplicidade operacional desses sistemas não deve ser um
meio caminho para o descaso com a estação e com o processo.
Para se obter uma operação otimizada e eficiente de uma ETE, diversas
atividades devem ser programadas e implementadas. Dentre essas atividades
podem ser citadas como relevantes o dimensionamento da equipe de trabalho, a
programação de inspeção, coletas e medições e o estabelecimento de indicadores
para o monitoramento da operação adequada da estação.
O sistema de tratamento de efluentes da Imunizadora Potiguar apresenta
sérios problemas quanto à sua operação. Estes acarretam agravos que abrangem
desde os aspectos estéticos até interferências nas eficiências de remoção das
lagoas. Desta forma, neste item serão abordadas todas as não-conformidades
observadas durante a realização da pesquisa, agrupando-as nas respectivas
unidades de tratamento.
a) Tratamento Preliminar
Após descarga do caminhão limpa-fossa na estação de tratamento, o esgoto
passa inicialmente por uma série de três tanques que possuem a finalidade de
remover grande parte dos grãos de areia presentes no esgoto.
Por não haver um tanque de equalização antes dos desarenadores, os
mesmos são incapazes de trabalhar com eficiência satisfatória, pois com a elevada
vazão de descarga, atinge seu volume máximo em poucos instantes. Dessa forma, o
efluente escoa para o próximo tanque e assim sucessivamente até chegar à grade
de barras. Na Fotografia 7 nota-se a enorme quantidade de sólidos que deveriam
estar sendo retida nos tanques, mas acabam sendo transportados para a LA 1.
Durante visitas em campo pouco se observou o uso da unidade de remoção
de sólidos grosseiros (grade de barras). Sua utilização era controlada pelo operador
que, na maioria das vezes, esquecia de posicioná-la em local adequado, após retirá-
la quando a mesma estava obstruindo o fluxo. Em algumas situações a grade de
barras passou dias fora de seu local adequado, implicando na passagem dos sólidos
grosseiros para a LA 1. Na Fotografia 8 é ilustrada a situação em que a grade
encontra-se ausente.
83
Fotografia 7 – Sólidos transportados do TP à LA 1
Fotografia 8 – Ausência da grade de barras no TP
b) Lagoa Anaeróbia 1
Esta lagoa é caracterizada por apresentar as piores condições de operação
de toda a estação de tratamento. A junção de situações de sobrecargas orgânicas e
inadequada operação resultam em problemas operacionais tais como exalação de
maus odores, crescimento vegetal no interior da lagoa e espessa camada de
11/08/08
21/01/08
83
escuma.
A escuma presente na superfície da lagoa anaeróbia é desejável, pois
protege o volume líquido da lagoa das quedas bruscas de temperatura, que podem
provocar sua estratificação (KELLNER; PIRES, 1998). Todavia, por ser mal operada,
a LA 1 apresentou escuma em grande quantidade, como observado na Fotografia 9.
Este fato se justifica por admissão de afluentes com altas concentrações de
óleos e graxas, ineficiência do tratamento preliminar e ausência de medida que vise
retirar as placas de lodo sobrenadantes. Dessa forma, observam-se perdas quanto
às remoções das frações de nitrogênio e fósforo.
Mesmo assim, a LA 1 promoveu remoções satisfatórias de DQO e frações de
sólidos, comprovando sua eficiência no processo de estabilização da matéria
orgânica.
Fotografia 9 – Excesso de escuma na LA 1
c) Lagoa Anaeróbia 2
No início da pesquisa, a LA 2 se encontrava inoperante por motivos de
limpeza. Este processo implicou na paralisação da lagoa por 4 (quatro) meses, como
ilustra a Fotografia 10. Devido a este fato, o efluente da LA 1 passou a escoar para a
LF.
Em meados do mês de fevereiro do corrente ano a lagoa voltou a operar.
Contudo poucos meses depois, já se observou a formação de placas de lodo que se
20/03/08
83
desprende do fundo da lagoa, conforme Fotografia 11. Este lodo é composto por
matéria orgânica não digerida implicando no aumento da DQO, bem como na
concentração de sólidos suspensos na massa líquida.
Fotografia 10 – Limpeza realizada na LA 2
Fotografia 11 – Lodo presente na superfície da LA 2
d) Lagoa Facultativa
Devido à paralisação da LA 2 para limpeza, a LF passou a receber o efluente
11/08/08
05/11/07 05/11/07
83
oriundo da LA 1. O aporte de matéria orgânica na lagoa passou a ser mais intenso e
juntamente ao descaso com a operação observou-se a formação de grandes placas
de lodo no interior da lagoa, como pode ser visto na Fotografia 12.
Fotografia 12 – Formação de bancos de lodo na LF
Os Gráficos 24 e 25 demonstram os picos de concentrações de DQO e
Sólidos Totais na LF no período de limpeza da LA 2.
Gráfico 24 – Concentração de DQO medida ao longo da pesquisa na LF
30/10/0713/11/07
27/11/0719/02/08
06/03/0818/03/08
01/04/0806/05/08
03/06/0824/06/08
09/07/0831/07/08
13/08/0817/09/08
01/10/080,00
100,00
169,29
233,87
300,00
373,02
448,15
511,54
600,00
700,00
800,00
900,00
DQ
OLF
05/11/07 04/06/08
83
Gráfico 25 – Concentração de Sólidos Totais medida ao longo da pesquisa na LF
A formação de placas de lodo causou interferências principalmente no
desempenho da atividade fotossintética na lagoa. A camada de lodo age como uma
barreira que dificulta a passagem da luz na região logo abaixo dessa camada, como
também prejudica a ação dos ventos. Esse dois fatores inibem a realização da
fotossíntese pelas algas.
Outro fato a ser considerado consiste no decaimento da concentração de
oxigênio dissolvido tendo em vista a necessidade de estabilizar o lodo, sabendo-se
que o mesmo é composto por matéria orgânica não digerida.
Quanto à análise dos nutrientes observada no período de coleta, nota-se que
as remoções de fósforo total, nitrogênio orgânico e NTK foram abaixo da média no
intervalo de tempo correspondente à limpeza da LA 2, conforme Gráficos 26 e 27.
Ficou evidente que, por motivos de má operação, a lagoa facultativa sofreu
alterações quanto aos seus níveis de remoção mesmo possuindo a característica de
suportar choques hidráulicos e de cargas orgânicas.
30/10/0713/11/07
27/11/0719/02/08
06/03/0818/03/08
01/04/0806/05/08
03/06/0824/06/08
09/07/0831/07/08
13/08/0817/09/08
01/10/08
626
749
985
1084
1221
1351
1487
1674
ST L
F
83
Gráfico 26 – Concentração de Fósforo Total medida ao longo da pesquisa na LF
Gráfico 27 – Concentrações de Nitrogênio orgânico e NTK medidas ao longo da pesquisa na LF
30/10/0713/11/07
27/11/0719/02/08
06/03/0818/03/08
01/04/0806/05/08
03/06/0824/06/08
09/07/0831/07/08
13/08/0817/09/08
01/10/080,00
8,76
14,80
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00Fó
sfor
o To
tal L
F
Nitro.Org. LF
NTK LF30/10/0713/11/07
27/11/0719/02/08
06/03/0818/03/08
01/04/0806/ 05/08
03/06/0824/06/08
09/07/0831/07/08
13/08/0817/09/08
01/10/08-20,00
0,00
12,01
30,48
60,00
80,00
100,00
120,00
140,00
160,00
83
5.2.5 Influência do tanque de contato nas eficiências de remoção do efluente final das lagoas de estabilização
Após o sistema de lagoas de estabilização, o efluente da ETE da Imunizadora
Potiguar recebia cloração antes de ser lançado em corpo receptor, no caso o Rio
Potengi. Essa cloração se deu através de uma mistura diária de 900 litros de
efluente tratado com 40 litros de hipoclorito de sódio, sendo 20 litros acrescentados
no período da manhã e 20 litros no período da tarde. Todo esse volume era
armazenado em uma bombona de 1000 litros.
Por não haver um controle de vazão e da mistura efluente – hipoclorito de
sódio, a cloração era efetuada a uma diluição sem qualquer parâmetro técnico, pois
na parte da tarde havia um maior teor de cloro na mistura, adicionada ao efluente da
lagoa de maturação, que na parte da manhã. Além do mais, havia dias em que o
registro de sistema de dosagem encontrava-se fechado, não havendo dessa forma
cloração do efluente, conforme ilustra a Fotografia 13.
Fotografia 13 – Ausência de cloração ao efluente da LM
Com os resultados das análises laboratoriais, pode-se perceber que depois
da passagem pelo tanque de contato, houve um incremento nas concentrações de
20/03/08
83
DQO, como também de nutrientes como fósforo, ortofosfato, nitrogênio orgânico e
amônia.
Uma das justificativas dessa ocorrência se deve à falta de limpeza e
manutenção na qual o tanque de cloração estava submetido. Na Fotografia 14 nota-
se o completo descaso dessa unidade de tratamento que chegava a passar meses
sem limpeza.
Fotografia 14 – Tanque de contato
05/11/07 20/03/08
83
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Com base na análise dos resultados obtidos durante o monitoramento do
Sistema de Tratamento da Imunizadora Potiguar tem-se que:
• O efluente bruto apresentou grande variabilidade nos resultados dos
parâmetros estudados, justificada devido à constante contribuição de
caminhões de diferentes origens e volumes;
• As eficiências de remoção mais significativas do sistema de lagoas foram:
DQO: 88,93%; Sólidos suspensos totais: 94,87%; Nitrogênio orgânico:
66,87%; Coliformes termotolerantes: 99,88%.
• Alguns resultados obtidos não atingiram o esperado, pois o sistema em
estudo possui alguns problemas de operação que prejudicam a eficiência dos
reatores. Dentre os problemas detectados podem-se destacar a interrupção
do fluxo nas lagoas e o acúmulo de sedimento em bolsões que obstruem o
fluxo interno das lagoas.
• As remoções de nutrientes como fósforo, ortofosfato e amônia foram
inferiores às observadas na literatura, sendo 18,98%, 13,44% e 11,59%,
respectivamente;
• Apesar das más condições de operação constatadas, durante o estudo,
comprometendo a depuração dos esgotos, pode-se afirmar que as lagoas de
estabilização são indicadas para o tratamento de resíduos esgotados de
fossas sépticas.
Ao final desta pesquisa, as hipóteses outrora formuladas puderam ser
confirmadas mediante as análises e discussões apresentadas.
Para elevar o grau de confiabilidade desse sistema de tratamento, propõem-
se as seguintes medidas:
• Instalação de tanque de equalização antes do tratamento preliminar visando
homogeneizar o esgoto descarregado dos caminhões limpa-fossa;
• Controlar a vazão afluente aos desarenadores evitando-se sobrecargas;
• Elaborar e por em prática manual de operação e manutenção da estação de
tratamento, contendo atividades diárias de operação, manutenções
permanentes e periódicas, etc.;
83
• Adotar sistema de gestão da ETE, com parâmetros a serem analisados,
periodicidade das amostragens, objetivando avaliação e manutenção da
qualidade do efluente no percurso das lagoas;
• Aperfeiçoar sistema de cloração evitando dosagens de cloro ao efluente que
estejam divergentes ao que se estabeleceu nas especificações de projeto.
83
REFERÊNCIAS
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83
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