DANIEL ACOSTA . TEKTONIKS + ANIMAIS LENTOS · PDF fileo arquitetônico, que se manifesta...

17
DANIEL ACOSTA . TEKTONIKS + ANIMAIS LENTOS

Transcript of DANIEL ACOSTA . TEKTONIKS + ANIMAIS LENTOS · PDF fileo arquitetônico, que se manifesta...

DANIEL ACOSTA . TEKTONIKS + ANIMAIS LENTOS

vista da exposição / primeiro andarexhibition view / first floor

vista da exposição / primeiro andarexhibition view / first floor

Tektoniks [relevo vertical], 2014 / MDF / 270 x 175 x 52 cmTektoniks [vertical relief], 2014 / MDF / 270 x 175 x 52 cm

Tektoniks [arquitetura], 2014 / MDF / 300 x 250 x 238 cmTektoniks [architecture], 2014 / MDF / 300 x 250 x 238 cm

Tektoniks [relevo horizontal], 2014 / MDF / 175 x 275 x 52 cmTektoniks [horizontal relief], 2014 / MDF / 175 x 275 x 52 cm

Tektoniks [relevo horizontal], 2014 / MDF / 175 x 275 x 52 cmTektoniks [horizontal relief], 2014 / MDF / 175 x 275 x 52 cm

vista da exposição / segundo andarexhibition view / second floor

vista da exposição / segundo andarexhibition view / second floor

Animais Lentos [Gorila], 2014madeira [louro-freijó] entalhada

edição de 353 x 38 x 15 cm

Animais Lentos [Gorilla], 2014carved wood [louro-freijó]

edition of 353 x 38 x 15 cm

Animais Lentos [Canguru], 2014madeira [louro-freijó] entalhada

edição de 358 x 19 x 51 cm

Animais Lentos [Kangaroo], 2014carved wood [louro-freijó]

edition of 358 x 19 x 51 cm

Animais Lentos [Veado], 2014madeira [louro-freijó] entalhada

edição de 373 x 53 x 23 cm

Animais Lentos [Deer], 2014carved wood [louro-freijó]

edition of 373 x 53 x 23 cm

Animais Lentos [Camelo], 2014madeira [louro-freijó] entalhada

edição de 366 x 77 x 33 cm

Animais Lentos [Camel], 2014carved wood [louro-freijó]

edition of 366 x 77 x 33 cm

Animais Lentos [Leopardo], 2014 / madeira [louro-freijó] entalhada / edição de 3 / 41 x 56 x 20 cmAnimais Lentos [Leopard], 2014 / carved wood [louro-freijó] / edition of 3 / 41 x 56 x 20 cm

Animais Lentos [Jacaré], 2014 / madeira [louro-freijó] entalhada / edição de 3 / 28 x 77 x 23 cmAnimais Lentos [Alligator], 2014 / carved wood [louro-freijó] / edition of 3 / 28 x 77 x 23 cm

Ocupando lugar indefinido entre a arquitetura, o design e a arte, o trabalho de Daniel Acosta (Rio Grande, Brasil, 1965) questiona a proverbial inutilidade desta última. Suas esculturas/recintos/móveis convidam o espectador a um exercício ativo de participação, interação e diálogo.

Acosta invoca uma longa tradição de arquitetura e design, que parte dos postulados modernistas (padronização, uso de materiais industriais, coordenação modular) e ao mesmo tempo escapa deles mediante linhas de fuga, onde o rigor geométrico é incitado a jogar (e é posto em jogo) por meio de formas orgânicas inesperadas. Em muitas de suas obras Acosta faz referências eruditas à história do design moderno; em seu trabalho podem ser vistos ecos de Charles e Ray Eames no uso criativo dos materiais industriais, como a madeira compensada (plywood) de Archigram, na ideia da arquitetura como organismo, de Joe Colombo, na criação de espaços-objeto, ao mesmo tempo móveis em escala arquitetônica e recintos que contém o espectador/usuário, propondo-lhe usos ou atividades múltiplas em seu interior. As referências de Acosta à história do design moderno ajudam a situar seu trabalho numa linha conceitual de corte utópico, onde o design e a arquitetura almejavam ter possibilidades reais de transformação da sociedade. A distância histórica permite que hoje vejamos os limites de tal pretensão. Nesse sentido, a aproximação de Acosta não está isenta de uma atitude crítica: o uso de certos materiais, como a Fórmica, já tem sua carga de anacronismo, vestígios de um passado recente, no qual progresso e tecnologia pareciam caminhar de mãos dadas.

Referindo-se ao seu trabalho, Acosta fala em disponibilidade funcional, no sentido de que, ainda que seus objetos permitam uma interação, não necessariamente a demandam. Muitos destes trabalhos resultam de encomendas, e nesse sentido tentam resolver a partir do design uma situação funcional e espacial específica. São espaços de inclusão, abertos ao público, que incentivam uma utilização não normatizada nem controlada. Muitos desses projetos estão em lugares públicos, com acesso completamente livre. No seu interior é comum que aconteçam conversas entre pessoas que não se conhecem, pois a situação de intimidade estabelece um entorno propício para esse tipo de interação espontânea. Muitas das obras de Acosta são utilizadas para conversar, fumar, ou descansar, e o publico nem sempre tem a certeza de que se trata de uma das obras da exposição ou do mobiliário urbano. Esta ambiguidade não preocupa Acosta; pelo contrário, a situação da peça no espaço público foi essencial, uma vez que no interior do espaço expositivo a obra teria sido lida como escultura e provavelmente sua utilização teria sido mais próxima do ritual próprio da visita de arte (entrar, experimentar, sair) do que do uso que lhe foi dado.

DANIEL ACOSTAESPAÇOS DE INCLUSÃO

A presente exposição põe em relação dois aspectos paralelos no trabalho de Acosta: o arquitetônico, que se manifesta em estruturas que contêm o espectador ou definem o espaço no qual ele se move, e um aspecto mais claramente escultórico, visível, por exemplo, em seu interesse pelos brinquedos de plástico para crianças. Acosta já tinha trabalhado com os brinquedos da marca Gulliver, muito conhecidos no Brasil, em obras como Mono1mento ao grande topological (2006), que incluía leões de brinquedo. Freestandupmonkey (2010), um grande macaco em resina, réplica em escala monumental de um pequeno boneco de plástico, ou Imagens Transportadas (2011), imagens coladas numa camionete que transitavam no espaço público.

Em ambos os casos, o arquitetônico e o escultórico, Acosta identifica “as diferentes experiências de uma natureza artificial, industrial, padronizada, que está presente em nosso cotidiano, seja nos materiais e padrões de madeira (tektoniks), seja na representação dos animais (brinquedos)”. Tomando como modelo os pequenos animais de brinquedo, Acosta realiza modelos em grande escala, talhados em madeira, mudando por completo a percepção do objeto e sua materialidade ao converter um objeto em série muito popular numa peça única, fina e preciosa. No contexto artificial que referencia o natural, a peça de mobiliário começa a funcionar de forma mais alegórica, transformando-se em jardim que serve de preâmbulo à instalação com os animais.

Acosta é consciente do potencial transformador da arte quando faz o trânsito à esfera do design, cuja incumbência de resolver em termos estéticos uma prioridade funcional necessariamente o aproxima mais do uso por parte das pessoas. Sobre esse assunto, disse Acosta: “Todos estes trabalhos, além de ter uma situação, mais escultórica, ou seja, que apresentam uma visualidade interessante, materiais, estruturação..., também podem ser vistos como pequenas arquiteturas em função de seu uso. A possibilidade de que a gente possa se sentar os aproxima do mobiliário urbano e do design. Estando sentadas, as pessoas podem, entre outras coisas, observar o ambiente à sua volta. Então (estes trabalhos) são como dispositivos que potenciam o ambiente, indicando por contraste, no caso da cidade, os espaços de exclusão”. A arquitetura escultórica de Acosta representa justamente o oposto, estabelecendo espaços de inclusão onde o espectador exerce seu direito cidadão de expressão.

José RocaCurador Adjunto Estrellita B. Brodsky de Arte Latinoamericana, Tate Modern, Londres e

Diretor Artístico de FLORA ars+natura en Bogotá.

Tradução/English version: John Mark Norman

Occupying an indefinite place between architecture, design and art, the work of Daniel Acosta (Rio Grande, Brazil, 1965) questions the latter’s proverbial uselessness. His sculptures/shelters/furniture invite the spectator to an active exercise of participation, interaction and dialogue.

Acosta invokes a long tradition of architecture and design, based on the modernist postulates (standardization, use of industrial materials and modular coordination) while escaping from them through unique perspectives where geometric rigor is prodded into playfulness (and is put into play) by means of unexpected organic shapes. In many of his works, Acosta makes erudite references to the history of modern design; his work presents echoes of Charles and Ray Eames in the creative use of industrial materials like the plywood of Archigram, in Joe Colombo’s idea of architecture as an organism, in the creation of object-spaces that are simultaneously furniture on an architectural scale and shelters/places that contain the viewer/user, proposing multiple uses or activities in their interior. Acosta’s references to the history of modern design help to situate his work on a conceptual line of a utopian bent, where design and architecture aspired to have real possibilities for the transformation of society. Today, the historical distance allows us to see the limits of this pretension. In this sense, Acosta’s approach also involves a critical attitude: the use of certain materials, such as Formica, already bears a sense of anachronism, vestiges of a recent past, where progress and technology seemed togo hand-in-hand.

Referring to his work, Acosta talks about functional availability, in the sense that even though his objects allow for interaction, they do not necessarily demand it. Many of these works have resulted from commissions, and therefore resort to design to come up with a solution for a specific functional and spatial situation. They are spaces of inclusion, open to the public, that encourage a nonstandard and uncontrolled use. Many of these projects are in public places, with completely free access. It is common for strangers to engage in conversations within them, since the situation of intimacy establishes a setting conducive to this sort of spontaneous interaction. Many of Acosta’s works are used to talk, smoke, or rest, and the public is not always sure whether it was one of the artworks in the exhibition or an urban fixture. This ambiguity does not concern Acosta; on the contrary, his situating the piece in a public space was essential, since within the exhibition space the work would have been read as a sculpture and its use would have been closer to the ritual of visiting an art show (enter, experience, leave) than to what it was actually used for.

DANIEL ACOSTASPACES OF INCLUSION

The present exhibition places into relation two parallel aspects of Acosta’s work: the architectural side, which is manifested in structures that contain the spectator or define the space in which he or she moves, and a more clearly sculptural aspect that is visible, for example, in the artist’s interest in plastic children’s toys. Previously, Acosta had already used toys of the Gulliver brand (a famous Brazilian toymaker) in his works, as he did in Mono1mento ao grande topological (2006), which includes toy lions. Freestandupmonkey (2010), a large monkey made of resin, replicates a small plastic doll on a monumental scale, while Imagens Transportadas (2011) features adhesive pictures stuck to the sidewalls of trucks driven through the public space.

In both cases – architectural and sculptural – Acosta identifies “the different experiences of an artificial, industrial, standardized nature, which is present in daily life, whether in the materials and patterns of wood (tektoniks), or in the representation of animals (toys).” Taking these small toy animals as a model, Acosta reproduces them on a large-scale, carved in wood, completely changing the perception of the object and its materiality by converting a mass-produced and popular object into a unique, refined and precious artwork. In the artificial context that refers to the natural, the piece of furniture begins to operate in a more allegorical way, transforming into a garden that serves as the preamble to the installation with the animals.

Acosta is aware of the transformative potential of art when he crosses over to the realm of design, where the task of giving an aesthetic treatment to a functional priority involves the notion of its being used by people. Concerning this subject, Acosta states: “all of these works, besides having a more sculptural situation – that is, they look interesting and involve materials, structuring… – can also be seen as small architectures in function of their use. The possibility for people to sit down approximates them to urban fixtures and design. When seated, the people can do various things, including taking a look at their surroundings. Thus, (these works) are like apparatuses that empower the environment, indicating by contrast, in the case of the city, the spaces of exclusion.” Acosta’s sculptural architecture represents precisely the opposite, establishing spaces of inclusion where the spectator exercises his or her civic right of expression.

José RocaEstrellita B. Brodsky Adjunct Curator of Latin American Art, Tate Modern, London and artistic

director of FLORA ars+natura in Bogota.