DANÇADEIRA A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CORPORAL DO DANÇARINO

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DANÇADEIRA- A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CORPORAL NA DANÇA Roberto Rodrigues 1 Viviana Fialho Alves 2 Universidade Estadual de Goiás RESUMO A dança como elemento da cultura corporal revela-se como arte autêntica que permite ao ser que dança conhecer e contemplar o mundo, de forma simbólica e celebrativa. Uma dança entendida numa perspectiva contemporânea que desperta as diversas potencialidades do corpo, dialogando com variadas formas de linguagens artísticas. A partir de um relato de experiências com o ¿por quá? Grupo Experimental de Dança através do espetáculo Dançadeira, o presente estudo visa discutir alguns aspectos da construção cênica enquanto possibilidade de construção da identidade corporal na dança. Palavras-chave: Corpo. Identidade. Dança contemporânea. Experimentação. INTRODUÇÃO O presente diálogo surge da necessidade de se ampliar as discussões acerca do movimento corporal e as relações dancísticas estabelecidas entre o ser humano e seu corpo. Os relatos aqui propostos partem de vivências em um grupo de pesquisa de dança contemporânea da ESEFFEGO-Universidade Estadual de Goiás UnU de Goiânia: o ¿por quá? grupo experimental de dança. A oportunidade de adentrar no mundo da dança, particularmente no âmbito acadêmico, nos surgiu como uma possibilidade de 1 Acadêmico do curso de Educação Física da Eseffego-UEG; Dançarino do ¿por quá? grupo experimental de dança. Endereço eletrônico: <[email protected]> 2 Acadêmico do curso de Educação Física da Eseffego-UEG; Dnçarina do ¿por quá? grupo experimental de dança. Endereço eletrônico: <[email protected]>

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Investigações acerca da construção da identidade do dançarino em um trabalho artístico de dança contemporânea.

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DANADEIRA-A EXPERIMENTAO CNICA COMO CONTEMPLAO DO SER E A

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DANADEIRA- A CONSTRUO DA IDENTIDADE CORPORAL NA DANARoberto Rodrigues

Viviana Fialho Alves

Universidade Estadual de Gois

RESUMO

A dana como elemento da cultura corporal revela-se como arte autntica que permite ao ser que dana conhecer e contemplar o mundo, de forma simblica e celebrativa. Uma dana entendida numa perspectiva contempornea que desperta as diversas potencialidades do corpo, dialogando com variadas formas de linguagens artsticas. A partir de um relato de experincias com o por qu? Grupo Experimental de Dana atravs do espetculo Danadeira, o presente estudo visa discutir alguns aspectos da construo cnica enquanto possibilidade de construo da identidade corporal na dana.

Palavras-chave: Corpo. Identidade. Dana contempornea. Experimentao.

INTRODUO

O presente dilogo surge da necessidade de se ampliar as discusses acerca do movimento corporal e as relaes dancsticas estabelecidas entre o ser humano e seu corpo. Os relatos aqui propostos partem de vivncias em um grupo de pesquisa de dana contempornea da ESEFFEGO-Universidade Estadual de Gois UnU de Goinia: o por qu? grupo experimental de dana.

A oportunidade de adentrar no mundo da dana, particularmente no mbito acadmico, nos surgiu como uma possibilidade de investigao e experincias acerca da nossa corporeidade a partir de um outro olhar sobre a dana, olhar este que se coloca numa relao dialtica entre corpo e movimento, partindo da pesquisa enquanto apropriao artstica.

O por qu? um grupo de pesquisa e extenso em dana que trs discusses acerca da realidade social e propem intervenes artsticas a partir da reflexo e pesquisa de movimentos dentro de uma compreenso crtico-social do processo na atualidade. Foi Criado pela professora Ms. Luciana Ribeiro no ano de 2000, e: (...) consiste no estudo do universo da gestualidade e do movimento inseridos e aplicados no processo de construo da dana, a partir do contato com suas vertentes artsticas, educacionais, teraputicas e sociais (RIBEIRO, 2007, p.2). O grupo busca, ainda, o dilogo com a comunidade no intuito de se ampliar e proporcionar o acesso construo e a troca do conhecimento em dana.

Partindo dessas consideraes propomos nas prximas pginas discusses acerca da experincia na dana a partir da pesquisa realizada atravs do processo de criao do espetculo DANADEIRA.REFLEXES ACERCA DA ARTE E A DANA CONTEMPORNEA

Refletir sobre o lugar da dana nas propostas aqui discutidas nos remete ao conceito de arte que permeia esse universo e, conseqentemente as relaes que esta estabelece entre o ser humano, o outro e o mundo.

A arte nasce dos desejos e vontades do ser humano de se expressar, expressar seus sentimentos, angstias, anseios. Assim ela , antes de tudo, uma forma de construo de um conhecimento que est centrada nas relaes que este ser estabelece entre o seu mundo prprio e o mundo que o cerca e tem como finalidade os seus sentimentos e sua essncia. Ter a essncia do ser humano como finalidade revela o seu carter singular e peculiar. Desta forma uma arte autntica aspira autonomia e possui um contedo de verdade e reflexo. No uma verdade nica ou esttica, mas uma possibilidade de construir vrios sentidos e significados a partir de sua apreciao.

As relaes que uma obra de arte estabelece com o prprio artista e com o espectador constroem significados e sentidos que lhe confere um lugar prprio, autntico. Nesse sentido a dana como arte autntica estabelece estas relaes: entre o danarino e sua prpria dana, entre o danarino e o espectador e entre o danarino e o mundo que o cerca. Relaes estas que permitem transformaes na prpria dana e, por sua vez na maneira como esta vista e compartilhada.

Temos o entendimento de que as relaes sociais tanto revelam a dana que se tem (ou que no se tem), quanto fomentam a dana que ser construir. No existe um conceito (rtulo) de dana universal, exterior realidade histrica, nem se quer um padro nico que mensure e valore todas as manifestaes de dana existentes. (RIBEIRO, 2003, p.35)

A dana contempornea desencadeada a partir das dcadas de 60 e 70 veio como uma proposta de um novo olhar sobre a dana. Longe de representar uma negao aos outros estilos ou propostas de dana como o ballet clssico ou a dana moderna, ela prima pela investigao focada no corpo humano resultando em uma materializao dos movimentos e o que eles podem gerar. Nesse sentido, a dana contempornea tornou-se uma proposta onde o corpo e os movimentos so aproveitados em toda a sua completude. Desse modo:

No h modelo/padro de corpo ou movimento. Portanto, a dana no precisa assombrar por peripcias virtuosas e nem partir da premissa de que h corpos eleitos. Na dana contempornea, a mxima repetida por pedagogos ortodoxos de que no tu que escolhes a dana, mas a dana que te escolhe no tem sustentao. E, dessa forma, pode-se reconhecer a diversidade e estabelecer o dilogo com mltiplos estilos, linguagens e tcnicas de treinamento (TOMAZZONI, 2006).

As pesquisas em dana contempornea estabelecem, assim, o dilogo com outras formas de manifestaes artsticas como o teatro, a msica, o cinema, as artes plsticas, dentre outras. Apesar das contribuies destas diversas reas a dana tem suas especificidades que so expressas pelo prprio corpo.

Os movimentos cotidianos, a gestualidade trazida por cada ser, frutos da histria de cada indivduo, transforma-se em possibilidades de pesquisa na construo cnica legitimando-as enquanto dana. Assim a dana no precisa apresentar algo racional ou linear. Ela em si mesma tem a sua razo de ser. No necessrio caractersticas formalmente expressivas para dar significado numa dana, uma vez que o movimento j intrinsecamente significante, nos seus ossos (BANES apud STUART, 1999, p.198).

A CONSTRUO CNICA

O espetculo Danadeira nasceu da pesquisa realizada no projeto DANcidade iniciado no final do ano de 2007. A partir de uma pesquisa de carter qualitativo, o grupo buscou identificar as gestualidades e movimentaes presentes em espaos informais de dana na cidade de Goinia: duas casas de dana e o movimento hip hop ,interagindo de forma direta com o pblico destes locais.

Pesquisaram-se diversos vocabulrios de movimentos presentes nas danas e, ainda, estabeleceu-se uma troca de conhecimentos entre os campos acadmico e popular, a partir de oficinas e laboratrios de experimentao que, posteriormente deram vida criao cnica.

Tendo essa relao estabelecida, ou com o outro, ou eu e o ambiente, uma grande evaso de expresso pelo corpo era concretizada, tornava-se fator de comunicao e afirmao do ser (corpo-dana) naqueles locais, notava-se que era remetida ao prazer pelo movimento. [...] O organismo atravs de atitudes, gestos e posturas, fala uma linguagem que antecede e transcende a expresso verbal. (BRITO, 1996 p. 44,45).

A interao com a comunidade se deu, tambm, na prpria construo cnica com a participao de alguns dos indivduos pesquisados e outros participantes das oficinas de experimentao que se identificaram com a proposta do grupo.

Inicialmente partimos do cruzamento entre o que foi visto na pesquisa e aquilo que j trazamos enquanto movimentao na dana. A proposta de construo do espetculo nos trouxe a possibilidade de pesquisar nossa prpria identidade de movimentos e como apropriarmo-nos da gestualidade e da dana do outro.Nessa perspectiva a dana no nos remete regras e padres pr-estabelecidos. Qualquer movimento pode ser considerado dana, o que vale a expresso individual e o reconhecimento prprio desta movimentao enquanto possibilidade de manifestao artstica.

Com esta iniciativa, democratizava-se a dana: no limite, qualquer um podia ser bailarino, e a dana deixava de atrelar-se a uma escola para pertencer ao corpo de quem estivesse se movimentando. (STUART, 1999, p.199)

Pesquisar a nossa prpria dana nos surge como novas possibilidades de ao, e vai tornando-se um revelar e um (re) construir de nossa identidade de dana. Caminhos ainda obscuros a trilhar, mas que o corpo anseia em conquistar. Como eu dano? Por que eu dano? Para quem eu dano? Perguntas que ainda nos remetem reflexo e incorporao de possibilidades de movimentaes e outras gestualidades at ento no reveladas.

A criao das coreografias surge tanto da experimentao de movimentaes prprias, como da incorporao da dana do outro, buscando o despertar de novas sensaes a serem acordadas e construdas no corpo. Danar o que outro dana revela-se, neste sentido, como possibilidades de construo de conhecimentos. Assim cada indivduo torna-se capaz de experimentar novas movimentaes de acordo com as especificidades do seu prprio corpo, buscando transformar e (re) significar a todo o momento a sua dana.

Buscar a dana do outro, tornar isso uma nova identidade de movimentos, enquanto proposta cnica causa um estranhamento e a necessidade de um vazio que a liberte das representaes sociais, criando assim novos sentidos para as nossas movimentaes.A construo do espetculo , ainda, norteada pelos seguintes questionamentos: Onde foi que voc aprendeu a danar assim? O que se v quando dana?e O que se dana quando v?que nos levam ao resgate das nossas movimentaes construdas ao longo da nossa histria e o dilogo a partir do estranhamento da nossa prpria dana, possibilitando assim a identificao com a dana do outro.Observar, estranhar, apropriar, incorporar. Essas possibilidades de pesquisa nos vm como desafios ao nosso corpo, ao nosso ser. Deixar aquilo que socialmente representamos com a nossa dana para torn-la um lugar prprio de celebrao, de prazer e deleite. Assim o danarino [...] desaparece enquanto indivduo para aparecer enquanto sujeito de sua dana (LAUNAY, 1999, p.83).A construo cnica vai estabelecendo, assim, uma nova realidade. A pesquisa sempre contnua e sempre transformada em busca desse reconhecimento das possibilidades de construo de uma identidade prpria de cada danarino. Nesta perspectiva o constante processo de produo e (re) significao da dana busca o amadurecimento da problematizao dos conceitos inerentes pesquisa e o prprio despertar do corpo-cnico. E como nos fala Oliveira (2008, p.4):[...] A obra, portanto no se fixa. Seu fim sem fim, transforma-se. Na busca, o trabalho obriga a afastar o fim, ele infinito, se expe como processo e procura representar o prazer por meio de algo. Este o gesto potico da dana contempornea [...] CONSIDERAES FINAIS

O presente estudo buscou relatar e compartilhar nossas experincias na dana a partir de vivncias com por qu? grupo experimental de dana. A pesquisa aqui relatada trouxe e, ainda nos trs, muitas revelaes e possibilidades de construo de conhecimento acerca da nossa identidade na dana.

Pesquisar nossa prpria dana uma experincia mpar em nossas vidas. Nossos corpos to acostumados a mover-se sem a reflexo de seus atos partem agora para o desconhecido, para um desnudar de si prprio. A cada instante vamos descobrimos novas formas, novas expresses. Nossa dana nos remete a quem realmente somos e o que construmos ao longo da nossa histria.

Longe de apresentar certezas absolutas ou verdades estticas, o que aqui se props foi o compartilhar de nossas experincias no universo da dana, a difuso de possibilidades de um outro olhar acerca da dana, do corpo, de suas relaes e de mundo. A todo o momento estamos construindo conhecimentos, seja no ambiente acadmico ou fora dele. Nosso corpo constri nossa histria. Nossa dana nos revela.REFERENCIAL TERICOFIALHO, A. P. V. Sensibilidade da conscincia corporal: ao para o movimento consciente. Trabalho de concluso de curso. (Graduao em Educao Fsica)-Instituto Luterano de Ensino Superior de Porto Velho. Rondnia, 2006.LAYNAY, Isabelle. Laban, ou a experincia da dana. In : SOTER, Silvia (Orgs). Lies de dana 1. Rio de Janeiro: UniverCidade, 1999.OLIVEIRA, Lara S. de. A sutileza do dilogo. Disponvel em: Acesso em: 11/07/2008.RIBEIRO, Luciana Gomes. Os sentidos da dana: construo de identidades de dana a partir da experincia com o Por Qu? grupo experimental de dana. Dissertao de mestrado. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educao Fsica, Campinas: SP, 2003.STUART, Isabel. A experincia do Judson Dance Theater. In SOTER, Silvia (Orgs). Lies de dana 1. Rio de Janeiro: UniverCidade, 1999.TOMAZZONI, Airton. Esta tal de dana contempornea. Revista Aplauso (n 70), 2006. Disponvel em Acesso em: 01 de out.2008. Acadmico do curso de Educao Fsica da Eseffego-UEG; Danarino do por qu? grupo experimental de dana. Endereo eletrnico:

Acadmico do curso de Educao Fsica da Eseffego-UEG; Dnarina do por qu? grupo experimental de dana. Endereo eletrnico: