Daisy Libório e Ana Paula Henrique Salvan Antropologia e cultura · A cultura é um fenômeno...

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Daisy Libório e Ana Paula Henrique Salvan Antropologia e cultura

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Daisy Libório e Ana Paula Henrique Salvan

Antropologia e cultura

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SumárioCAPÍTULO 1 – Diversidade cultural no mercado de trabalho ...............................................05

Introdução ....................................................................................................................05

1.1 Antropologia, cultura e diversidade cultural .................................................................05

1.1.1 A Antropologia como uma ciência que estuda a cultura .......................................06

1.1.2 O fazer antropológico......................................................................................08

1.1.3 Os conceitos de cultura ...................................................................................09

1.2 Dimensão simbólica do conceito de cultura .................................................................13

1.2.1 Aspectos simbólicos .........................................................................................13

1.2.2 Linguagem, reprodução cultural e significação ...................................................14

1.3 Conceitos de Etnocentrismo, Relativismo, Etnicidade e Alteridade ..................................14

1.3.1 Etnocentrismo .................................................................................................15

1.3.2 Relativismo cultural ..........................................................................................16

1.3.3 Etnicidade ......................................................................................................16

1.3.4 Alteridade .......................................................................................................17

1.4 Cultura e Relações de Trabalho .................................................................................18

Síntese ..........................................................................................................................20

Referências Bibliográficas ................................................................................................21

Capítulo 1

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IntroduçãoVocê já deve ter notado que as diferenças culturais sempre estão em pauta quanto se fala em mercado de trabalho. Como superar os conflitos, valorizar a aceitação das diferenças culturais dentro de um contexto de trabalho e ainda ser produtivo, apresentar as condições técnicas e competências exigidas em uma sociedade cada vez mais globalizada e acelerada?

Talvez o primeiro passo seja compreender o que é cultura e quais os seus desdobramentos sob o olhar de uma disciplina que por excelência busca a compreensão desse fenômeno desde o seu início: a Antropologia.

Neste capítulo, iremos compreender melhor o conceito de cultura a partir de diferentes linhas teóricas da ciência antropológica. Você verá também o que é Antropologia e como essa ciência compreende a cultura e os seus diferentes fenômenos. Veremos o que é diversidade cultural – desde o determinismo geográfico, biológico ao desenvolvimento do conceito de cultura e de suas teorias modernas. Abordaremos também a dimensão simbólica do conceito de cultura, enfatizando a análise sobre o comportamento humano.

Veremos como ocorre a construção das diferenças, tais como as acepções de etnocentrismo, re-lativismo, etnicidade e alteridade, ressaltando-os nas relações do mercado de trabalho. Por fim, buscaremos compreender o caráter essencialmente humano dos processos de produção cultural, enaltecendo as formas de articulação entre cultura e trabalho.

Tenha um bom estudo!

1.1 Antropologia, cultura e diversidade culturalA cultura é um fenômeno necessariamente social, partilhado pelas pessoas de determinado gru-po. Não é difícil supor que os grupos partilham valores, regras da vida, modos de agir, de falar, de se vestir etc. Portanto, tenha em mente que há diferenças e similaridades entre um grupo e outro.

A diversidade cultural refere-se aos diferentes modos de ser desses grupos de pessoas, que pre-cisam conviver e se relacionar nos mesmos espaços. O mercado de trabalho é um exemplo em que a diversidade cultural é bastante expressiva, em que precisa ser compreendida para transpor os conflitos.

A Antropologia é uma das ciências que busca compreender os fenômenos culturais e pode con-tribuir para a promoção da tolerância, mostrando, como afirma Da Matta (2001), que o dife-rente não tem a denotação de inferioridade, mas que indica alternativas e equivalências. Neste tópico, vamos compreender melhor as relações entre a Antropologia e os conceitos de cultura e diversidade cultural.

Diversidade cultural no mercado de trabalho

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Antropologia e cultura

1.1.1 A Antropologia como uma ciência que estuda a cultura

Desde os seus primórdios, o homem fez comparações entre a sua cultura e a de outras socieda-des, buscando compreender as diferenças e semelhanças, o que, por vezes, originou conflitos e confrontos entre os povos.

Contudo, conforme explica Laplantine (2003), o projeto de formar uma ciência do homem (ou Antropologia) é relativamente recente, datando do século XVIII. Foi nesse período que o homem passou a ser objeto de estudo, sendo analisado a partir do seu comportamento e de complexi-dades que não poderiam ser explicadas por sua biologia.

Saiba que o surgimento da Antropologia foi um marco importante, pois até então não havia uma área do conhecimento que estudasse o homem do ponto de vista da cultura segundo o olhar dessa ciência. Trata-se de um campo do saber que dialoga interdisciplinarmente com a História, Sociologia, Arte, Filosofia, entre outras. A Antropologia surgiu na Europa e ganhou legitimidade como saber acadêmico apenas na segunda metade do século XIX, quando foi definido seu objeto de estudo: o de explicar a existência de sociedades com costumes e hábitos diferenciadas, sob o parâmetro da cultura europeia tida como modelo de existência, de ser e estar no mundo.

Para Lévi-Strauss, o estudo da Antropologia ocorre em três etapas: a Etnografia, a Etnologia e a Antropologia. A Etnografia seria o correspondente aos primeiros estágios da pesquisa, tratando do trabalho de campo e da observação; a Etnologia seria mais aprofundada, a elaboração de conclusões mais extensas que não seriam possíveis no primeiro momento (síntese). E, por fim, a Antropologia seria o terceiro e último passo do estudo, no qual estão inclusas as conclusões da Etnografia e da Etnologia. Dessa forma, a Antropologia é o campo maior do conhecimento. Já a Etnografia incorpora o uso de detalhes descritivos na análise de uma sociedade, ao passo que a Etnologia emprega a explicação das organizações humanas, como clãs, tribos e nações etc.

Podemos estender as teorias de Lévi-Strauss ao mercado de trabalho característico do século XXI, ou seja, relacionar as três etapas propostas aos desafios encontrados pelos profissionais em um mundo globalizado e competitivo. A Etnografia corresponderia à busca por referências na área específica em que o profissional atua, isto é, à descoberta e ao contato com o novo, enquanto à Etnologia seria a interiorização dessas referências e familiarização com conceitos até então desconhecidos. Já a Antropologia representaria a elaboração de um posicionamento em relação às questões descobertas.

Qual a relação entre os conceitos de Antropologia, Etnografia e Etnologia? Bem, con-forme mencionamos, elas constituem as três etapas do estudo antropológico. O pes-quisador emprega a Etnografia e a Etnologia para poder investigar, compreender e tirar conclusões a respeito do seu objeto de estudo.

NÓS QUEREMOS SABER!

Saiba que os primeiros antropólogos buscaram compreender as sociedades a partir de infor-mantes e não tinham contato real com seu objeto de análise. O foco inicial era o estudo de so-ciedades consideradas exóticas, muitas vezes previamente taxadas como primitivas e selvagens, portanto inferiores, quando concebidas pelo olhar da superioridade eurocêntrica.

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Figura 1 – A cultura é um fenômeno necessariamente social.

Fonte: Shutterstock, 2015.

A Antropologia não estava focada apenas na compreensão das culturas diferenciadas da so-ciedade europeia. Saiba que se buscou observar também os agrupamentos culturais da própria realidade metropolitana ocidental, como os trabalhadores industriais e os grupos marginalizados urbanos. Foi nesse ponto que o antropólogo voltou o olhar para a sua própria sociedade e a descobriu digna de ser analisada como objeto de estudo.

NÃO DEIXE DE VER...

O campo antropológico possui uma produção cinematográfica efervescente. Confira o documentário experimental Baraka (1992), produzido por Ron Fricke, com imagens de 23 países que expressam a diversidade humana. Informações sobre o filme: <http://www.imdb.com/title/tt0103767/>.

É importante notar que o objeto da Antropologia passou a contemplar o homem como um todo, e não apenas o que o pesquisador europeu considerava exótico. Na verdade, podemos dizer que a Antropologia, como disciplina, passou a ser o estudo das nuances do homem em sociedade. Dessa forma, o pesquisador na atualidade se questiona sobre seus próprios procedimentos me-todológicos, pois reconhece seu papel extremamente subjetivo.

A Antropologia passou a estudar como são compostas as sociedades em suas diversidades histó-ricas, geográficas e culturais (LAPLANTINE, 2003). Nesse sentido, o objeto da ciência antropoló-gica incorporou a noção de que a humanidade não é singular, mas plural.

O projeto antropológico consiste, portanto, no reconhecimento, conhecimento, juntamente com a compreensão de uma humanidade plural. Isso supõe ao mesmo tempo a ruptura com a figura da monotonia do duplo, do igual, do idêntico, e com a exclusão num irredutível “alhures”. As sociedades mais diferentes da nossa, que consideramos espontaneamente como indiferenciadas, são na realidade tão diferentes entre si quanto o são da nossa. E, mais ainda, elas são para cada uma delas muito raramente homogêneas (como seria de se esperar) mas, pelo contrário, extremamente diversificadas, participando ao mesmo tempo de uma comum humanidade. (LAPLANTINE, 2003, p. 13)

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Antropologia e cultura

Por que a Antropologia começou estudando sociedades consideradas primitivas e sel-vagens quando comparadas com as sociedade dos antropólogos europeus? Por que não partiu logo em analisar os possíveis objetos mais próximos da realidade concreta do antropólogo? O imperialismo europeu, como iniciativa expansionista, permitiu con-tatos com culturas muito diversas, o que levou a uma grande mobilização em se estudar aquilo que era “diferente”. O “estranhamento” (termo comum em Antropologia) é uma condição que provoca perplexidade no encontro de outras sociedades, mas que nos faz modificar o olhar sobre nós mesmos. Ou seja, o contato com grupos diferenciados faz com que nos tornemos extremamente próximos daquilo que é longínquo e nos permite compreender a forma de viver de outros povos. Além disso, podemos visualizar os ges-tos, os modos de falar e o comportamento como produtos da cultura.

NÓS QUEREMOS SABER!

1.1.2 O fazer antropológico

A Antropologia possui muitas vertentes. Num primeiro momento, ela foi dividida entre Antropo-logia Cultural e Antropologia Biológica. Hoje, contudo, possui muitas correntes de pensamento, que não se anulam. Vale dizer também que as sociedades mais distantes da sociedade ocidental não deixaram de ser foco de interesse da ciência Antropológica, que pode tanto estudar um grupo de Papua Nova Guiné como questionar as complexidades culturais do ciberespaço na era da globalização.

Como dissemos antes, o objeto de estudo da Antropologia é a humanidade em toda a sua com-plexidade. Dessa forma, trata-se de uma ciência que assume como paradigma o estudo realizado no contato real com as sociedades a serem estudadas e abre-se para compreender que a relação “eu–outro” pode levar à tolerância e ao respeito entre as diversas dinâmicas culturais, sem que os homens partam para o confronto com o diferente, mas enriqueçam-se a partir das interações entre os grupos sociais.

NÃO DEIXE DE VER...

O site Comunidade Virtual de Antropologia possui um acervo muito interessante de trabalhos no segmento antropológico. Há entrevistas, trabalhos acadêmicos, notícias, resenhas e muito mais. Vale a pena conferir! Disponível em: <http://www.antropologia.com.br/>.

Laplantine (2003) cita cinco áreas do fazer antropológico que mais se destacam:

• a Antropologia Biológica (conhecida antigamente sob o nome de antropologia física), que estuda as variações dos caracteres biológicos do homem no espaço e no tempo. A sua problemática está situada nas relações entre o patrimônio genético e o meio (geográfico, ecológico, social), e ela analisa as particularidades morfológicas e psicológicas ligadas a um meio e à sua evolução;

• a Antropologia Pré-histórica, que é o estudo do homem através dos vestígios materiais enterrados no solo (ossadas, mas também quaisquer marcas da atividade humana). Trabalha em conjunto com a arqueologia, reconstruindo as sociedades que já desapareceram, e com a História, de modo a analisar os artefatos encontrados;

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• a Antropologia Linguística analisa a linguagem como patrimônio cultural. Em outras palavras, seu objeto de estudo é a forma como os indivíduos de uma sociedade expressam seus valores, suas preocupações, seus pensamentos. Atua na interdisciplinaridade com diversas outras ciências, como dialetologia, a semiótica e a linguística;

• a Antropologia Psicológica, que consiste no estudo dos processos e do funcionamento do psiquismo humano. Aqui, o interesse do antropólogo está direcionado para o indivíduo e seus processos conscientes e inconscientes, e não necessariamente para a coletividade. A dimensão psicológica é absolutamente indissociável do campo antropológico, conforme Laplantine (2003);

• a Antropologia Social e Cultural (ou etnologia), em que o foco é tudo o que diz respeito a uma sociedade, ou seja, os seus modos de produção econômica, a moral, as suas técnicas, a sua organização política e jurídica, seus sistemas de parentesco, seus sistemas de conhecimento, a suas crenças religiosas, a sua língua, os seus valores, as suas criações estético-artísticas e a compreensão da realidade cultural produzida na era da sociedade informatizada.

Como a Antropologia Cultural abrange as nuances do convívio em sociedade, podemos destacar sua relevância no mercado de trabalho, posto que através dela é possível questionar e analisar o comportamento das empresas e dos profissionais frente à demanda intelectual e operacional da atualidade.

O que são a dialetologia, a semiótica e a linguística? Bem, vamos por partes: a linguís-tica é o campo do conhecimento que se decida ao estudo da língua como fenômeno comunicativo. Já a dialetologia é um ramo da sociolinguística que busca compreender as variações linguísticas em determinado território, os diversos dialetos, palavras, sons e sotaques, bem como sua relação com o espaço físico. A semiótica, por sua vez, se dedica ao estudo da utilização de símbolos e ao processo de produção de significados.

NÓS QUEREMOS SABER!

Entenda que as vertentes citadas são ramificações ou especializações do grande campo que constitui a Antropologia. Se levarmos em conta que a disciplina preocupa-se com o estudo do comportamento humano em todas as suas particularidades, o que é bastante amplo, é natural que tenhamos núcleos específicos que focalizam seus esforços investigativos em questões meno-res e mais direcionadas.

1.1.3 Os conceitos de cultura

Cultura é toda atividade física ou mental que não advém necessariamente da biologia, mas uma construção social, partilhada pelos membros de um grupo que possuem características comuns entre si. É algo aprendido, assimilado e em constante transformação.

“Possuidor de um tesouro de signos que tem a faculdade de multiplicar infinitamente, o homem é capaz de assegurar a retenção de suas ideias eruditas, comunicá-las para outros homens e transmiti-las para os seus descendentes corno uma herança sempre crescente.” Basta apenas a retirada da palavra erudita para que esta afirmação de Turgot possa ser considerada uma definição aceitável do conceito de cultura. (TURGOT, 1727-1781 apud LARAIA, 2001, p. 26-27).

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Antropologia e cultura

Figura 2 – A cultura não é inata nem depende exclusivamente dos limites geográficos.

Fonte: Shutterstock, 2015.

Podemos dizer que as diferenças hereditárias não são essenciais para entendermos a diversidade de grupos e culturas. A história cultural de cada grupo é o que explica as diferenças; isso contra-diz o determinismo biológico, que, de acordo com Laraia (2001), são as velhas teorias que atri-buem a “raças” habilidades inatas, ou seja, que explicam as diferenças pela herança genética. Já o determinismo geográfico considera que as características do espaço físico condiciona a variação cultural (ou seja, os diversos padrões comportamentais) (LARAIA, 2001, p. 21). Graças à Antropologia, entretanto, compreendemos tais variações de modo mais abrangente.

Sobre o determinismo geográfico, hoje sabemos que os fatores geográficos influenciam, mas não são suficientes para moldar completamente a concepção de mundo de um indivíduo, para determinar os fatores culturais. Ou seja, em um mesmo ambiente físico pode haver uma diversi-dade cultural gritante. No ambiente profissional, por exemplo, é possível observar esta afirma-ção, pois, a despeito de muitos indivíduos partilharem o mesmo ambiente, diferenças comporta-mentais significantes surgem diariamente. Tais diferenças precisam ser compreendidas e aceitas para que haja um ambiente de trabalho saudável.

A diferença entre homens e mulheres não se encerra nas diferenças fisiológicas em uma socieda-de, mas nos papéis sociais e nos comportamentos de cada um. Em outras palavras, verificamos que a atribuição de um comportamento específico a um gênero decorre da educação direciona-da que cada um recebe em cada cultura.

Se falamos em comportamento, portanto, é preciso dizer que ele é o resultado de aprendizado, o processo de endoculturação, isto é, do processo segundo o qual um indivíduo absorve os valores e significados do grupo ao qual pertence: de uma cultura já estabelecida. Os variados comportamentos existentes, portanto, são o resultado de educação diferenciada. Veja que não há hierarquização, não há culturas melhores ou piores nem processos de aprendizagem superio-res ou inferiores. Há modos culturais diferentes apenas.

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O livro Aprender Antropologia (Editora Brasiliense, 2003), de François Laplantine, faz parte da bibliografia básica de Antropologia e possui uma linguagem bem simples e direta sobre a história desta disciplina e os conceitos essenciais no entendimento do homem e da cultura.

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Segundo Edward Tylor (1832-1917), o primeiro pesquisador a inserir o termo cultura na pauta antropológica, podemos romper todos os laços que unem a cultura à biologia (LARAIA, 2001). O termo vem do Kultur (alemão), surgido em 1871, que significa aspectos espirituais de uma comunidade. Já civilization (inglês) significa as realizações materiais de um povo. Culture (inglês) refere-se a conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábito adquirido pelo homem como membro de uma sociedade.

Conforme os conceitos que vimos, destacamos que o termo “cultura” refere-se aos

[...] padrões de comportamento socialmente transmitidos que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos de organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças e práticas religiosas e assim por diante (KEESING, 1974 apud LARAIA, 2001, p. 59).

Saiba que, no século XVIII e início do século XIX, havia a Antropologia evolucionista. Os antro-pólogos que seguiam essa vertente defendiam a existência de uma escala evolutiva na qual todos os grupos poderiam ser encaixados, dos mais primitivos aos mais desenvolvidos. A sociedade europeia era o exemplo de sociedade mais evoluída e civilizada.

Esmagados sob o peso dos materiais, os evolucionistas consideram os fenômenos recolhidos (o totemismo, a exogamia, a magia, o culto aos antepassados, a filiação matrilinear...) como costumes que servem para exemplificar cada estágio. E quando faltam documentos, alguns (Frazer) fazem por intuição a reconstituição dos elos ausentes, procedimento absolutamente oposto, como veremos mais adiante, ao da etnografia contemporânea, que procura, através da introdução de fatos minúsculos recolhidos em uma única sociedade, analisar a significação e a função das relações sociais. (LAPLANTINE, 2003, p. 52).

Figura 3 – As civilizações podem desaparecer, mas os traços culturais se mantêm.

Fonte: Shutterstock, 2015.

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Bronislaw Malinowski (1884-1942) foi sem dúvida um dos grandes nomes para a An-tropologia e as ciências que buscam entender a cultura e a diversidade cultural. Ele contribuiu significativamente para o desenvolvimento metodológico das Ciências So-ciais, proporcionando um modelo de trabalho de campo até então inexistente. Na sua descrição científica, relata as dificuldades da época em relação à pesquisa científica. A sua obra mais significativa foi Argonautas do Pacífico Ocidental (1922), considerado o primeiro trabalho etnográfico.

VOCÊ O CONHECE?

Kroeber (1917 apud LARAIA, 2001) foi pioneiro em assumir que o homem é diferente dos demais animais por dois motivos: na possibilidade da comunicação oral e na capacidade de fabrica-ção de instrumentos além do seu aparato biológico. Dessa forma, cai por terra o determinismo biológico, pois o homo sapiens possui maneiras diversas de lidar com os desafios a que é sub-metido diariamente, independentemente de sua filiação ou status como cidadão. No ambiente do trabalho tal afirmação é fácil de constatar, especialmente se tivermos em mente os diferentes comportamentos dos indivíduos.

Em contrapartida à Antropologia evolucionista, Franz Boas defendeu que a Antropologia deveria reconstruir a história dos povos, comparando a vida social de grupos diferentes sem estabele-cer noções de superioridade ou inferioridade, evidenciando o particularismo histórico de cada cultura. Ele fundou a chamada Escola Cultural Americana, a qual abrangia a multilinearidade (abordagem segundo a qual cada grupo se desenvolve de forma única, rejeitando a ideia de que há apenas um modelo padrão ou linha evolutiva na qual todos os grupos podem ser encaixa-dos), o particularismo histórico, ou seja, a crença de que cada cultura teria sua própria história e evolução natural.

Clifford Geertz (2008), partindo das ideias de Schneider (este dizia que a cultura é um sistema de significados), e de Max Weber (que acreditava que o homem era um animal preso em uma teia de significados por ele mesmo produzida), afirma que cabe ao antropólogo trazer à tona os significados e as suas relações, fazendo a interpretação semiótica (ou seja, uma interpretação dos significados) do objeto estudado.

Podemos dizer que Geertz se interessa pela teia de significados tecida através da convivência dos indivíduos que compõem os diversos grupos humanos, isto é, o autor se dedica a interpretar a cultura como uma rede de significados. O autor afirma que a cultura é algo público, sem criado-res identificáveis, cujo movimento é espontâneo e adaptado. Para ele, a cultura é um fenômeno social (GEERTZ, 2008).

Para ampliar a discussão sobre a cultura, Laraia (2001, p. 60-61) cita Roger Keesing, que propõe uma divisão para o termo:

• cultura como um sistema cognitivo, ou seja, em relação à habilidade que o ser humano tem de aprender e assimilar novos conhecimentos. Podemos observar tal sistema quando um colaborador novo é introduzido à cultura solidificada de uma empresa; ele precisará aprender o jeito como os outros funcionários se portam para se adaptar ao ambiente;

• cultura como sistema simbólico (no sentido de que o se humano tem a capacidade de simbolizar, ou seja, fazer uma ligação entre um conhecimento específico e o símbolo que o representa), em que a cultura não é um complexo de comportamentos fixos, mas um conjunto de mecanismos de controle para direcionar o comportamento. Todo homem é geneticamente programado para receber um programa, que é chamado de cultura e

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produzido socialmente. Inclusive, o próprio Geertz exemplifica como o piscar dos olhos pode ser uma questão biológica e, ao mesmo tempo, um ato cultural da paquera em algumas sociedades.

Você já ouviu alguém dizer que “Fulano não tem cultura”? Esta expressão é muito comum quando uma pessoa busca depreciar outra por ter uma tendência cultural dife-rente da sua. Tenha certeza de que todas as pessoas possuem cultura. Essa expressão quer muitas vezes dizer que a pessoa em questão não tem erudição ou conhecimento específico sobre algo. Erroneamente, os conceitos de erudição e cultura são usados como sinônimo.

NÓS QUEREMOS SABER!

1.2 Dimensão simbólica do conceito de culturaVocê viu que a cultura possui múltiplas definições. A Antropologia moderna concebe a cultura a partir de sua dimensão simbólica. Neste tópico, vamos analisar a dimensão simbólica do concei-to de cultura, enfatizando a análise sobre o comportamento humano e o seu simbolismo.

1.2.1 Aspectos simbólicos

A dimensão simbólica do conceito de cultura está ligada ao fato de que é inerente aos seres hu-manos a capacidade de simbolizar. Mas o que isso significa? Bem, simbolizar significa represen-tar questões materiais através da linguagem ou de símbolos abstratos. Quando erguemos nosso polegar, por exemplo, estamos simbolizando que algo está certo, ou seja, estamos representando uma situação concreta com um gesto.

A cultura, de acordo com essa perspectiva, se dá pelos símbolos comuns que ela possui. O ho-mem utiliza muitos meios para acessar a cultura de sua sociedade e interagir com ela: as línguas, os valores, as crenças, o modo de fazer as coisas etc. Assim, é possível dizer que toda ação hu-mana é socialmente construída através de símbolos, que integram redes de significados e variam conforme os diferentes contextos sociais e históricos (GEERTZ, 2008).

A dimensão simbólica possui aspectos subjetivos e objetivos da cultura, já que a produção ma-terial humana possui um caráter simbólico e é repleta de significações. Assim, como já vimos, a Antropologia moderna concebe a cultura como um sistema simbólico (GEERTZ, 2008), que se refere ao aspecto fundamental da humanidade de atribuir, de forma sistemática, racional e estruturada os significados e sentidos a tudo.

O livro A interpretação das culturas (2008), de Clifford Geertz, publicado pela editora Brasiliense, é uma referência para o entendimento da cultura em sua dimensão simbó-lica. Trata-se de um estudo que demonstra a importância da etnografia para o estudo das culturas. A etnografia é, entre os ramos da Antropologia, a melhor opção na com-preensão da relação entre o indivíduo e a sociedade.

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1.2.2 Linguagem, reprodução cultural e significação

Você deve estar se perguntando “mas o que insere um homem em determinada cultura e como ele consegue assimilar as regras gerais da cultura em que vive?”. A resposta, segundo Berger e Berger (1978, apud FLEURY, 1987), é categórica: é a linguagem que permite esta assimilação e serve para orientar a conduta individual imposta pela sociedade. A linguagem é essencial no desenvolvimento da cultura, já que é um universo de significados construídos e que só existem por meio da própria sociedade. Pense em como uma criança absorve a linguagem e a habilida-de de se comunicar aos poucos; à medida que ela amadurece essas habilidades, fica mais fácil compreender o que ela está pensando e sentindo.

O compartilhamento de uma mesma língua une um grupo de pessoas. Não é à toa que há movi-mentos separatistas que enfatizam que há dialetos ou polilinguismo (capacidade de compreender e falar mais de um idioma) dentro da fronteira de um país, o que justificaria o desmembramento de territórios políticos: a Catalunha, por exemplo, luta há décadas para se separar da Espanha com alegação de que possui língua e cultura diferentes (G1, 2014). A língua, portanto, é um sis-tema simbólico, ou seja, uma organização de significados, que organiza a percepção de mundo e diferencia uma cultura de outra (CUNHA, 1987).

O homem participa dos processos culturais de sua sociedade por meio de uma socialização, que ocorre pela linguagem, e esta possui um papel ideológico através da coerção exercida sobre este indivíduo. A linguagem terá um padrão e organização próprios e será cheia de significações.

O site da Associação Brasileira de Antropologia possui notícias de publicações, pre-miações, eventos oficiais pelo Brasil e em outros países e informações sobre o fazer antropológico. Disponível em: <http://www.portal.abant.org.br/>.

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Cunha (1987) afirma que a cultura não é algo dado, posto ou dilapidável, mas algo constante-mente reinventado. O ser humano, quando partilha de uma cultura, não é passivo a ela exclu-sivamente: ele atua como agente de mudanças, ou seja, transforma o ambiente em que vive e constrói significados através daquilo que lhe é passado. O homem se torna um reprodutor social, o que também está diretamente relacionado à sua vivência e à sua experiência social.

1.3 Conceitos de Etnocentrismo, Relativismo, Etnicidade e AlteridadeMas o que acontece quando um grupo ou um indivíduo valoriza a sua cultura e visão de mundo em relação às demais? O que acontece quando há a identificação de outra proposta de cultura ocupando o mesmo espaço? E qual a diferença do conceito de raça e o de etnia? O que, afinal, é alteridade? Estas são algumas questões que pretendemos discorrer neste tópico. Vamos lá? Es-ses conceitos estão intrinsecamente relacionados à forma como determinada cultura é percebida.

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1.3.1 Etnocentrismo

Vimos que a cultura se refere aos valores e às visões de mundo de um grupo social. Esta é a constituição essencial do indivíduo, já que ressalta os parâmetros de comportamento, valores e modos de compreender o mundo que o cerca etc. Quando um indivíduo ou grupo toma a sua cultura pela perspectiva do juízo de valor, depreciando ou ignorando às demais variações cultu-rais, damos o nome de etnocentrismo.

Para conseguir visualizar as variações culturais, pense em um ambiente de trabalho no qual há colaboradores de culturas diversas. Alguns colaboradores seguem uma crença que lhes deter-mina uma vestimenta específica uma vez por mês, ao passo que outros cantam canções e falam com sotaque e trejeitos específicos de sua cidade natal.

A visão etnocêntrica desconsidera a lógica de funcionamento de outra cultura ou mesmo com-preende os mecanismos do processo cultural, limitando-se à sua visão e referência cultural. Tudo o que é diferente, para a visão etnocêntrica, é errado, inoportuno, diferente, e deve ser rejeitado.

CASOPedro foi enviado à Inglaterra para fechar um negócio por sua empresa. Quando chegou ao ho-tel, decidiu revisar seu discurso e ensaiar novamente seu possível diálogo com os representantes da organização colaboradora de sua empresa. Após ter se certificado de que tudo estava em ordem, pegou um taxi e foi até o local do encontro, atrasando-se cerca de uma hora.

Quando chegou ao local marcado para o encontro, estava muito nervoso, pois sabia que os ingleses prezavam a pontualidade. No início da reunião, sentiu-se um pouco acanhado e des-culpou-se de forma assertiva pelo atraso. Os representantes ficaram um pouco desapontados in-cialmente, dizendo que consideravam esse tipo de falha uma tremenda falta de respeito, porém, à medida que a reunião e os negócios procederam de forma favorável, um clima de cordialidade estabeleceu-se e Pedro pôde negociar com a mesma organização inúmeras vezes.

O etnocentrismo pode ser expresso em diversas nuances culturais – o jeito de falar, na forma de se vestir, no repertório culinário etc. E se de um lado há o etnocentrismo, por outro é preciso buscar uma forma de constatar as diferenças e aprender a lidar com elas. Este é um dos desafios do mercado de trabalho atualmente, ou seja, lidar bem com a diversidade cultural.

Em suma, o etnocentrismo surge quando um indivíduo ou grupo considera a sua cultura como mais sofisticada e superior do que as culturas dos demais. Este é um fenômeno tão complexo e amplo que se pode dizer que foi esta lógica que direcionou as ações de estratégia geopolítica das nações que originaram o capitalismo como modo de produção. Através do Imperialismo, essas nações se viram na missão de proporcionar ao restante do mundo o modo de vida do eu-ropeu de “homem civilizado”, e com isso garantir dominação e hegemonia sobre outros povos considerados inferiores (COUCHE, 2004).

Ao etnocentrismo há outros tipos de preconceitos relacionados, como a xenofobia (preconceito contra estrangeiros ou pessoas de outras localidades) e a intolerância de uma forma geral. Por intolerância, denota-se qualquer hostilidade contra um hábito ou comportamento diferente, ou seja, a incapacidade de aceitar algo que destoe do conhecido e aceito. Nota-se que, apesar da aceleração da tecnologia e do acesso à informação, o etnocentrismo não recuou em escala global, evidenciando um retrocesso mesmo com tamanha modernização.

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1.3.2 Relativismo cultural

Nas primeiras décadas da Antropologia como ciência e disciplina, predominou a corrente evo-lucionista, ou seja, uma vertente que presumia uma linha evolutiva na qual todas as sociedades poderiam ser encaixadas; da mais bárbara e primitiva à mais civilizada. Mas será que dá para criar critério de análise para comparar uma cultura com outra de modo hierárquico cientifica-mente? É claro que não, e é aqui que entra o relativismo cultural! O relativismo cultural refere-se à incapacidade de mensurar a cultura de um grupo.

A ideia de relativismo social tem origem com a Antropologia social, buscando comparações e cri-térios independentes. Pense bem: relativizar significa conceber uma cultura dentro de seu próprio contexto cultural. Quando um pesquisador se propõe a ir a campo, precisa se despir de qualquer parâmetro externo que possa ser considerado etnocêntrico. Parte-se em realizar a avaliação sem privilegiar os valores de um só ponto de vista (COUCHE, 2004).

O relativismo cultural poderia ser uma prática para membros de qualquer cultura ou estaria li-gado ao fazer científico da Antropologia e de outras ciências do homem? O relativismo cultural é uma atitude necessária para aceitar a diversidade cultural em qualquer contexto, pois permite compreender que toda cultura é única. Grave bem: os costumes e as regras sociais de determi-nado grupo devem ser interpretados de acordo com as funções que possuem naquele grupo/contexto específico.

O relativismo cultural, como premissa teórico-metodológica da Antropologia, surgiu a partir do século XX como uma espécie de regra de conduta contra a atitude etnocêntrica, que impli-cava em uma visão muitas vezes evolucionista, em que a cultura do cientista servia de base às comparações. Pense aqui não numa linha evolutiva, mas em um espaço em que cada cultural é representada de acordo com suas próprias interpretações, sem qualquer escala hierárquica.

1.3.3 Etnicidade

Etnicidade é outro conceito muito discutido em Antropologia. Trata-se de um conjunto de carac-terísticas comuns a um grupo de pessoas que as diferenciam de outro grupo. Pode ser composto de língua, cultura, aspectos biológicos e origem comum. Pode ser definida como uma espécie de autoconsciência da condição cultural e social de determinado grupo, ao pertencimento a uma cultura. Refere-se à percepção do papel social do indivíduo no seu próprio grupo e fora dele.

A etnicidade envolve distinção de grupos e indivíduos pelo estilo das vestimentas, da língua, da religião e de outras características que são culturalmente percebidas e aprendidas. Todas as pes-soas em sociedade possuem etnicidade, mas o conceito é mais evidentemente percebido entre os grupos que sofrem preconceitos. Conforme Bobbio et al. (2000, p. 449), estas são as premissas que caracterizam o conceito:

[...] falar a mesma língua, estar radicado no mesmo ambiente humano e no mesmo território, possuir as mesmas tradições são fatores que constituem a base fundamental das relações ordinárias da vida cotidiana. Marcam tão profundamente a vida dos indivíduos, que se transformam num dos elementos constitutivos da sua personalidade e definem, ao mesmo tempo, o caráter específico do modo de viver de uma população. Por outro lado, as relações sociais que derivam do fato de pertencer a mesma etnia criam interesses coletivos e vínculos de solidariedade caracteristicamente comunitários.

A etnia refere-se às diferenças socioculturais aprendidas. Podem possuir similaridades biológicas (parentesco), mas isso não é uma regra. O conceito de raça pode ser confundido com etnia, porém trata-se de algo cada vez mais criticado na atualidade, posto que é menos abrangente.

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A etnicidade possui as seguintes características gerais:

• a etnicidade é construída a partir da relação com o outro (alteridade);

• os grupos que possuem similaridades são considerados cultural ou socialmente distintos;

• as diferenças podem ser determinadas pelo outro e incorporadas pelo grupo;

• as diferenças étnicas são legitimadas por aspectos históricos, sociais e políticos;

• cada grupo étnico elabora um discurso sobre o outro;

• os grupos étnicos estão em constante mudança – há um processo dinâmico;

• é importante ressaltar que não é a diferença cultural que está na origem da etnicidade, mas a comunicação cultural que sugere a ideia de diferença.

Imagine que a etnia diz respeito ao conjunto de informações orais, escritas e comportamentais que absorvemos durante nossa convivência com determinado grupo. Um grupo étnico, portanto, refere-se a um alinhamento entre seres que convivem no mesmo espaço. Esse conjunto de in-formações é passado adiante e adaptado durante gerações, formando o que podemos entender como a “teia de significados” (ou rede de significados) de Geertz, mencionado anteriormente.

1.3.4 Alteridade

Para Laplantine (2003, p. 13), a alteridade é a descoberta proporcionada pela distância em re-lação a nossa sociedade, ou seja, “[...] aquilo que tomávamos por natural em nós mesmo é, de fato, cultural; aquilo que era evidente é infinitamente problemático”. Para o autor, a alteridade nos leva à experiência da “diferença”, em aceitar no outro aquilo que acabamos descobrindo em nós mesmos, já que os seres humanos têm em comum a capacidade para se diferenciar uns dos outros, para elaborar valores, costumes, línguas, conhecimento etc.

Assim, é também objeto da Antropologia o reconhecimento e conhecimento da compreensão de humanidade plural, ou seja, se a ciência antropológica estuda o homem e suas pluralidades e se a alteridade é o estudo das diferenças e o estudo do “outro”, é tarefa essencial da Antropologia discuti-la.

É preciso decentralizar o olhar para perceber as diferenças e similaridades que nos cercam. Des-sa forma, a alteridade implica em deixar de rejeitar as peculiaridades dos outros, isto é, daqueles que são diferentes de nós, reconhecendo esses aspectos em nós mesmos.

NÃO DEIXE DE VER...

Assista ao curta Ilha das Flores (1989), de Jorge Furtado, que mostra as relações de-siguais entre os seres humanos de forma atual e pertinente. Disponível em: <http://portacurtas.org.br/filme/?name=ilha_das_flores>.

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Antropologia e cultura

1.4 Cultura e Relações de TrabalhoA cultura não é um objeto exclusivo da Antropologia e de outras ciências sociais. Trata-se de um tema transversal que atinge diversas áreas do conhecimento. A sua complexidade deve ser trata-da também na prática diária de diferentes profissões e espaços de interação social. Por exemplo, no espaço escolar, o professor deve compreender a diversidade cultural, valorizá-la e propor discussões entre os seus alunos para diminuir distâncias e distorções.

Um administrador de empresas deve propor um ambiente em que a diversidade cultural seja con-cebida como elemento positivo, agregador e que promova o respeito e a criatividade. Isso já é uma tendência em muitas empresas no Brasil e principalmente em países como os Estados Unidos.

Miguez (2009) afirma que o estímulo à diversidade de manifestações culturais, como um ele-mento na nova compreensão do desenvolvimento humano, é muito importante. Na economia globalizada em que vivemos, a diversidade faz com que dialoguemos com outras perspectivas sociais, o que promove o desenvolvimento dos indivíduos e o crescimento econômico.

Estes elementos são inseparáveis, o que torna fundamental uma compreensão mais abrangente da relação entre cultura e economia. Em um ambiente profissional, tais elementos se complemen-tam e podem proporcionar aos indivíduos uma melhor compreensão da realidade profissional.

Os profissionais devem estar atentos à promoção da diversidade cultural nas organizações, es-timulando a criatividade, a inovação e o ser humano como agente ativo da era da informação (FLEURY, 1987). Isso vale para o microcosmo do ambiente de trabalho, no sentido de que pro-porciona possibilidades de aprendizado e de aperfeiçoamento contínuos.

Figura 4 – O ambiente de trabalho é também um espaço de diversidades culturais.

Fonte: Shutterstock, 2015.

Conforme Laraia (1986, p. 70), a cultura é o “[...] modo de ver o mundo, às apreciações de ordem moral e valorativa, e aos diferentes comportamentos sociais e posturas”. Dessa forma, podemos dizer que a cultura está ligada tanto a processos de absorção de informações e padrões comportamentais quanto à interpretação dos movimentos e das transformações sociais.

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O ambiente de trabalho é apenas mais um espaço em que há interações culturais de todos os tipos. Essas interações podem se traduzir em trocas, hibridismo, conflitos, etnocentrismo e outros fenômenos culturais. As mudanças, por sua vez, também esbarram em resistências advindas de valores e padrões culturais diferentes e até mesmo padrões culturais dominantes neste espaço. Assim, a atitude da alteridade é pertinente em todas as relações sociais e também no ambiente profissional.

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SínteseNeste capítulo, você pôde:

• compreender que a Antropologia é por excelência uma ciência que busca compreender o homem, a cultura e a diversidade cultural;

• constatar que a Antropologia possui diferentes tendências desde a sua origem e que a cultura sempre foi o seu objeto de estudo;

• concluir que a cultura é toda atividade física ou mental que não advém necessariamente da biologia, mas uma construção social, partilhada pelos membros de um grupo que possuem características comuns entre si;

• entender que a linguagem é um aspecto muito importante, pois permite que haja a assimilação cultural e serve para orientar a conduta individual imposta pela sociedade;

• perceber que o ambiente de trabalho é apenas outro espaço em que as diferenças culturais são percebidas e que estas devem ser compreendidas e até mesmo valorizadas.

Síntese

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ReferênciasAssociação Brasileira de Antropologia – ABA. Disponível em: <http://www.portal.abant.org.br>. Acesso em: 15 jun. 2015.

BARAKA. Documentário dirigido por Ron Fricke. Estados Unidos, Mark Magidson, 1992. Disponí-vel em: <https://www.youtube.com/watch?v=19uks0YagCY>. Acesso em: 29 abr. 2016.

BOBBIO, Noberto et al. Dicionário de Política. Brasília: UnB, 2000.

BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1998.

G1. Catalunha faz consulta popular sobre independência da Espanhã. 2014. Disponí-vel em: < http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/11/catalunha-faz-consulta-popular-sobre--independencia-da-espanha.html>. Acesso em: 21 jun. 2015.

COUCHE, Denys. A noção de cultura em Ciências Sociais. Lisboa: Fim de Século, 2004.

COMUNIDADE Virtual de Antropologia. Disponível em: <http://www.antropologia.com.br/>. Acesso em: 15 jun. 2015.

CUNHA, Manuela Carneiro da. Antropologia do Brasil: mito, história, etnicidade. São Paulo: Brasiliense, 1987.

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

ILHA das flores. Curta-metragem produzido por Jorge Furtado. Casa do Cinema de Porto Ale-gre, Porto Alegre, 1989. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8mpywFb0alU>. Acesso em: 15 jun. 2015.

FLEURY, Maria Tereza Leme. Estória, mitos, heróis: cultura organizacional e relações de trabalho. Revista de Administração de Empresa. São Paulo, out./dez. 1987.

LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 14. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.

MIGUEZ, Paulo. Os estudos em Economia da Cultura e Indústrias Criativas. In: WOO

R JR, Thomaz et al. (Orgs.). Indústrias Criativas no Brasil. São Paulo: Atlas, 2009.

Bibliográficas